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COOPERATIVISMO E EDUCAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO
DA COOPER CRIS
Daniel Basso Polezi1
Marcos Francisco Martins2
Resumo
Partindo da historicidade que nos leva à compreensão das mudanças no modo de
organização da sociedade, nossa pesquisa tem o intuito de auxiliar na compreensão do
cooperativismo como estrutura alternativa para a realização da educação para a vida e
formação para o trabalho no ambiente capitalista contemporâneo. Mesmo com as
limitações impostas por esse contexto político-social, a hipótese é a de que as
cooperativas têm potencial de ser um instrumento promotor da emancipação humana.
No mundo da hegemonia liberal, os trabalhadores, para viver, são submetidos a
explorações de muitas espécies, com destaque para exploração econômica e para a
alienação. Enquanto isso, as classes dominantes economicamente conseguem manter a
direção da coletividade social. Nesse jogo entre dominantes e dominados, a alternativa
que sobra aos trabalhadores é conjuntamente lutar por uma sociedade mais igualitária. E
é neste cenário que se apresenta o cooperativismo: por um lado servindo como
instrumento a serviço do capital e, por outro, com potencial para ser uma opção de
sobrevivência mais digna dos trabalhadores na realidade dominada pela burguesia.
A metodologia do trabalho articula a pesquisa bibliográfica e de campo.
Inicialmente nos preocupamos em conhecer a história do cooperativismo e a questão
sócio–política respectiva ao seu desenvolvimento. Autores como Marx, Hobsbawm e
Huberman nos indicam o macro caminho, enquanto outros como Pinho e Noronha nos
colocam em proximidade com o eixo central de nossa temática. Buscando a
proximidade com uma cooperativa de confecção, oferecemos voluntariamente um curso
de modelagem básica do vestuário aos cooperados da COOPER-CRIS, localizada na
cidade de Hortolândia-SP. A experiência possibilitou-nos desenvolver, através de
entrevistas, uma análise da rotina do dia-a-dia de trabalhadores dos cooperados,
1 Graduado em Administração, é aluno do Programa de Mestrado em Educação Sócio-Comunitária do Unisal – Centro Universitário Salesiano de São Paulo. 2 Graduado em Filosofia e com Mestrado e Doutorado em História e Filosofia da Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp, é Coordenador do Programa de Mestrado em Educação da Unisal.
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sobretudo focando seu aprendizado dentro do grupo, suas necessidades e suas
potencialidades.
Essa vivência como voluntário possibilitou-nos perceber dentro de cada mente
uma história e em sua interioridade o infinito abarcamento de sonhos, pulsões e desejos,
possivelmente frustrados pelos impedimentos impostos pela desfavorecida condição
social. A premente vontade dos cooperados pela modificação de sua condição de vida
vem nos mostrar a necessidade da revisão do modelo societário neoliberal destes
tempos, bem como a força social transformadora que há por ser despertada.
1 – Introdução Histórica
Voltam Adão e Eva os olhos para trás e vêem tôda a parte do Paraíso que fica ao oriente,
até há tão pouco sua venturosa habitação. (John Milton)
Fundada na historicidade que nos possibilita compreender o devir da sociedade e
de seus modos de organização, somos levados a refletir sobre as formações primitivas e
o seu desenvolvimento ao longo dos séculos.
Em seu início, a sociedade primitiva reflete a vivência de indivíduos livres, dentro
dos princípios de iguais direitos e fraternidade coletiva destas antigas gens. Este modo
de vida é também identificável nos modos de vivência da sociedade, inclusive na
arquitetura de suas habitações. Por milhares de anos estas comunidades trabalharam
com autonomia completa na caça e colheita, buscando o suficiente para sua
sobrevivência, com independência e sem acumulações de longo prazo. Também não
havia a divisão de classes, Estado e formas humanas de exploração do homem. O uso
dos recursos naturais e sociais era comum e a propriedade de qualquer coisa somente
existia para artigos pessoais. Quando havia líderes, estes eram somente representantes
“eleitos” num processo de decisão essencialmente coletivo. Estes povos não tinham
habitação fixa, ou seja, eram nômades e mudavam à medida que os recursos naturais se
esvaeciam. Conheciam a natureza pela proximidade que com ela tinham; viviam em
harmonia uns com os outros, tirando proveito dos recursos naturais sem esgotá-los, da
mesma forma que o grupo exercia sua defesa contra outras tribos de forma conjunta. Em
alguns momentos, havia divisões de especialidades, como por exemplo, os homens
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caçavam e as mulheres educavam as crianças, mas isso ocorria de maneira natural e
nunca tão limitada e sistematizada como no período da sociedade capitalista.
Além de tudo isso, não devemos deixar de lembrar também que no período pré-
histórico houve o início das evoluções no desenvolvimento técnico de ferramentas e
trabalho, mas que em seu princípio não representava os interesses de ganho de alguns
poucos e nem, muito menos a diferenciação social.
No período chamado de Paleolítico, os homens dividiam cavernas para se proteger
do frio. Para facilitar o trabalho e a vida do grupo, criaram-se instrumentos de osso e
madeira para suas defesas como também para cortar e esmagar alimentos.
Posteriormente, utilizou o marfim e a pedra, produzindo machados e objetos cortantes
que facilitavam sua caça. Descobriu o fogo, que era usado principalmente para seu
aquecimento, proteção e cozimento dos alimentos. Descobriu formas de construir
armadilhas para caçar animais de grande porte, que eram divididos entre os membros da
comunidade. No final do período Paleolítico existia certa organização familiar e os
rituais de magia eram realizados.
No período Neolítico a história mostra sinais de mudança de curso. Descobrindo a
agricultura, o homem torna-se sedentário, fixando-se em torno de rios como o Nilo,
Tigre e Eufrates. Nestas aldeias, ele cria animais que agora são domesticados, como o
boi, a cabra e o cachorro. Trabalha seus instrumentos com maiores minúcias e melhor
lapidação, desenvolvendo trabalhos em cerâmica, que passam a ser sua significação e
representação, codificando peças que agora podem ser decorativas. Desenvolve roupas
de algodão, lã e linho, que substituem as peles de outrora. Sua comunicação ocorre
principalmente através destes objetos, nas imagens impressas em cavernas e
provavelmente em outros locais onde não foram conservadas. São obras que precedem o
início da escrita. Na medida em que exerce tais funções, distingue valor para utensílios e
como sistema de mensuração para trocas, passa a utilizar variados tipos de sementes.
Assim se dá o início da propriedade privada, da escravidão e a primeira divisão
social do trabalho, tendo como conseqüência a distinção social, exercida com bases no
sexo e na idade. Os homens agora caçavam e as mulheres cuidavam da produção
agrícola e atividades domésticas. Outras divisões e subdivisões começavam a ocorrer,
principalmente relacionadas ao fato da população estar crescendo. A divisão social se
deu quando as tarefas mais importantes para a manutenção da sociedade começaram a
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realizadas por aqueles que eram os mais fortes em suas áreas específicas, que passavam
a ter maior autoridade sobre seus contemporâneos.
Também ocorre o início da "produção de mercadorias", onde peças não são mais
produzidas para o uso de seu construtor, e sim para sua troca, não tendo para ele o valor
de uso e sim o valor de mercado – “valor de troca”. Este modo inicia-se no Neolítico,
postergando-se e evoluindo até os dias contemporâneos. Futuramente, a produção
capitalista e seus meios de produção viriam, então, a ser ditadas pelos senhores que
coordenam o assalariamento de homens que trabalham vendendo a única coisa que
possuem - sua força de trabalho.
O capitalista dominador deste modo de produção comercializa o produto do
trabalhador e apropria-se do valor que produziu aquele que se dedicou à elaboração do
objeto tornado mercadoria. Surge, assim, a dualidade que coloca a igualdade no passado
e a pobreza, exploração e a competitividade no presente, tomando o lugar da
fraternidade solidária, que uma vez serviu de base aos processos de ajuda mútua.
Antes da Idade Média, tivemos o surgimento do Estado, delimitado em
fronteiras nacionais de administração de diversas cidades. Ocorreu também o
surgimento da Igreja, que viria influenciar com grande força o modo de vida dos feudos.
A escravidão existia como situação bem aceita e era considerada essencial para a
economia de muitas civilizações antigas. Com a desintegração da escravatura romana
surge o modo de produção feudal. As terras eram doadas pelos reis aos senhores, que
cediam espaços aos camponeses explorados e pagadores de impostos. Estes eram
protegidos pelos próprios senhores e seus soldados, mercadoria valiosa no período. A
injustiça social parte do Estado e das classes dominantes que o dominavam. O homem
que trabalha realiza o serviço necessário para sua sobrevivência e para o luxo das
classes “superiores”.
Paralelamente à vida camponesa, existiam certas cidades que eram livres de
relações servis e domínio da nobreza. Estas cidades eram denominadas burgos, que
eram conjunto de habitações protegidas por fortalezas. Os habitantes destes locais eram,
por sua vez, chamados de burgueses, que por motivos políticos recebiam apoio da
realeza. Estes homens passaram a dedicar-se ao comércio e os tais burgos tornaram-se
uma espécie de bancos. Assim inicia a acumulação de capitais no longo prazo, que em
período posterior seria a base do capitalismo.
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Com o desenvolvimento das cidades, estes comerciantes e os artesãos criam
corporações chamadas de guildas, que vinham ser associações de profissionais de uma
mesma área. Elas visavam a garantia dos interesses da classe e também auxílio
financeiro. Posteriormente também classificavam os profissionais segundo suas classes.
Os mestres eram os sábios proprietários das oficinas. Os oficiais jornaleiros eram os
profissionais especializados. O aprendiz, futuramente se tornaria mestre ou jornaleiro
nas produções artesanais. As associações eram respeitadas pela sociedade. Um outro
tipo de associação que se desenvolveu no período foram as hansas, que cuidavam do
monopólio comercial em regiões circunscritas.
A partir da Idade Média existem três períodos distintos da produção industrial.
São eles a indústria artesanal, que citamos anteriormente, a manufatura e a indústria
moderna. A indústria artesanal é a organização na qual os mestres artesãos trabalham
com os oficiais jornaleiros e aprendizes, em processo que elaboravam o
desenvolvimento de peças completas. Esta foi a forma de produção que é característica
da baixa Idade Média. Era desenvolvida em família e o artesão era proprietário de sua
oficina e de suas ferramentas. Em geral, trabalhavam em suas próprias casas. Quando
necessitavam de ajuda, tinham de não-assalariados, que eram pagos com a possibilidade
de realizarem a utilização das ferramentas do artesão proprietário.
Após este período de organização, ocorre o surgimento da manufatura. Do ponto
de vista da produção, em seu início, a “manufatura quase não se distingue do ponto de
vista do modo produtivo, do artesanato das corporações, a não ser através do número
maior de trabalhadores simultaneamente ocupados pelo mesmo capital”. (MARX, 2003,
p. 375). A técnica é a mesma do período pré-capitalista. A diferença inicial se deu pela
quantidade e pelo crescimento da oficina do artesão e também no ponto em que ocorre a
divisão do trabalho, sendo que cada trabalhador assim realiza a operação fracionada da
confecção do produto.
Socialmente, acontece uma grande divisão. Na medida em que os mestres de
ofícios das corporações medievais se convertiam em burgueses modernos, os oficiais
jornaleiros e os aprendizes viraram proletários. Estes proletários realizam o trabalho em
um mesmo local de trabalho, regrados por certo controle na quantidade de material
utilizada assim como no horário do seu trabalho. É a partir destas circunstancias que
podemos facilmente compreender “os pólos da tensão que determinará o movimento do
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desenvolvimento das forças produtivas: a persistente inadequação entre a forma social e
a base técnica para os objetivos da acumulação capitalista” (ROSELINO, 2003, p. 211).
Na lógica de desenvolvimento da manufatura e divisão do trabalho se dá o crescimento
do que se é produzido por cada trabalhador sem alterações do montante de trabalho
necessário. Posteriormente se reduz o tempo de trabalho social necessário para produzir
a mesma quantidade de mercadoria. Neste aspecto, é importante trazer que este
desenvolvimento trouxe o dinamismo, a metodologia e o constante incremento de
inovações tecnológicas ao capitalismo. Mesmo assim, na manufatura temos a produção
ainda não ajustada às bases técnicas necessárias ao desenvolvimento monstruoso da
acumulação capitalista e da expansão do capital.
Com o processo de otimização da produção realizado através da indústria
moderna e o surgimento da maquinaria, o capitalismo encontra seu frutífero campo para
a insaciável expansão. Neste momento, o produto passa a ser fabricado pela máquina
movida pela força motriz e o trabalho do operário é limitado a vigiar e corrigir as
operações do sistema. Assim, o conhecimento se torna domínio do capital, que vem
ditar as regras, expandindo seus limites através da associação direta com a ciência e a
tecnologia possível. A principal mudança, neste instante, é relativa aos instrumentos de
trabalho, que é ligado à energia proveniente da natureza que transfere ao instrumento a
força para a transformação, que em alguns casos exigiria muitas almas humanas para
realizar. A partir deste momento o trabalho tem suas alterações impressas em alto
relevo. Estas transformações são socialmente irrestritas e inqualificáveis à primeira
visão, vindo acompanhadas de alterações nas ferramentas, introdução das máquinas,
materiais de trabalho, sua força e seus produtos.
Os instrumentos inovadores da produção, transportes e comunicações, não foram
alterados somente em sua potência, velocidade e qualidade de execução, mas operam de
maneira totalmente diferentes dos empregados no modo de produção da manufatura. Os
próprios produtos agora podiam ser criados de acordo com os desejos dos consumidores
do mercado. A durabilidade dá lugar à efemeridade e os produtos da produção moderna
passam a ser reavaliados em todos seus aspectos, desde a velocidade de produção até a
qualidade do produto fabricado frente aos gostos do mercado consumidor.
O processo de desenvolvimento da maquinofatura se deu primeiramente na
Inglaterra em razão de fatores ligados à facilidade existente naquele país para o
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desenvolvimento capitalista. Dentre elas, podemos citar a existência de uma grande
poupança acumulada pela burguesia e a conseqüente existência de juros baixos que
possibilitavam alavancagens financeiras para investimentos e compra de matérias
primas. A política liberal favoreceu a exploração do trabalhador e não havia controle
nem limitações para os excessos do trabalho. Acordos comerciais internacionais forma
realizados para que fosse facilitada a inserção dos produtos ingleses. Não devemos nos
esquecer também de citar a exploração das riquezas do solo, como o ferro e o carvão
mineral, que existiam em abundância na Inglaterra e eram as bases de desenvolvimento
da Revolução Industrial, uma vez que o primeiro era a matéria das máquinas e o
segundo o seu combustível.
Se a Inglaterra contribuiu para o capitalismo com a Revolução Industrial, a
França o fez com a Revolução Francesa, consumando a voracidade do sistema pela sua
própria expansão. A primeira constrói as bases da economia do século XIX e a segunda
traz ao novo regime a política e a ideologia que também abarca o nacionalismo.
No século XVIII a França possuía três classes, sendo elas o clero, que era o
Primeiro Estado, a nobreza, chamada de Segundo Estado e a burguesia, camponeses e
os sans-culottes, que eram artesãos e trabalhadores, denominados Terceiro Estado. O
clero e a nobreza eram em torno de 2% da população, que oprimia o grupo menos
favorecidos desprovidos de propriedades. Devido a problemas climáticos, deu-se uma
onda de falta de alimentos na França, sendo que grande parte da população, que era
agrícola, migrou para a cidade, tornando-se miserável e sem condições básicas de
sobrevivência. A riqueza era mal distribuída e a burguesia não estava satisfeita. A
França havia apoiado a Independência dos Estados Unidos em uma guerra que
consumiu grandes somas dos cofres públicos. Sua monarquia, que tinha na frente Luís
XVI, realizava altos gastos com o luxo desnecessário, representado pela estética
suntuosa do Palácio de Versailles. Com este direcionamento, o Rei deixou o povo em
absoluto regime de fome e abandono. O Iluminismo trazia à burguesia pensamentos
sobre a necessidade de reformas. De fato, a principal conquista da Revolução Francesa
foi a queda da monarquia.
Após o pleno desenvolvimento da maquinaria e a constituição dos novos valores
na França, é também dado o processo de agrupamento de produção entre máquinas. Este
pode agora ser dividido pelo agrupamento entre as máquinas ou o sistema de máquinas.
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Em primeiro caso, todo o produto é beneficiado por uma única máquina. O sistema de
máquinas ocorre quando o objeto de trabalho passa por vários processos parciais em um
conjunto de máquinas diferentes, que são unidas para completar o desenvolvimento do
produto final. Posteriormente o sistema de máquinas é automatizado. Estas são
agrupadas e as etapas de sua produção são interligadas, ocupando galpões inteiros das
fábricas. A produção passa a ter capacidade monstruosa e o trabalhador ganha como
adversário os gigantes demoníacos que causarão as freqüentes substituições das mãos
do humano proletário.
Curiosamente, com o advento da tecnologia não se viu, em primeiro instante,
reduções satisfatórias na carga horária de trabalho. As futuras reduções, em sua grande
maioria, foram conquistadas pelos trabalhadores em incessantes protestos que visavam a
minimizar o grande sofrimento do trabalho alienatório e excessivo. O desenvolvimento
da mecânica foi proporcionado pela mesma tecnologia que veio também permitir o
emprego de mulheres e crianças, uma vez que a força muscular em muitos casos tornou-
se desnecessária no novo modo de produção. O tempo de trabalho ultrapassava as 14
horas diárias e o salário era sofrível. Com a contribuição das atrativas inovações
tecnológicas, ocorreu a fuga rural e a superlotação das cidades. Ao observar o exemplo
de Londres, vemos que a cidade teve sua população praticamente quintuplicada em
menos de 100 anos, sendo que em 1880 possuía em torno de 5 milhões de pessoas.
A sustentação teórica para o desenvolvimento liberal havia sido dada, entre
outros, por Adam Smith, que dizia que o egoísmo é algo útil para a sociedade, de forma
que quando o ser humano busca o bem para si, mais benefícios a coletividade passa a
ter. Pregava que o trabalhador realiza seu trabalho pensando somente nos resultados aos
seus benefícios próprios. O Estado, por sua vez, atrapalhava a sociedade e deveria
deixar que o mercado flutuasse livremente, sem intervenções. Desta maneira,
menosprezava a questão social e humana, valorizando as classes superiores através da
não regulamentação e total despreocupação com as classes oprimidas.
É importante lembrar que nesta triste época, (não dizendo que hoje possa ser um
momento mais feliz ao trabalhador) a exploração acontece em graus extremos. O
trabalho proposto pelo burguês invadia as casas portando sua bandeira liberal e
arrancava crianças que vinham trabalhar das seis da manhã até o mesmo horário do
período vespertino. Os adultos faziam jornadas que ultrapassavam às 14 horas diárias.
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Os direitos trabalhistas eram voltados ao jargão da “liberdade do trabalho”, onde não
havia segurança no emprego e até a associação profissional era proibida, sendo que
haviam sérias penas previstas em lei aos que ousassem a contestação.
As primeiras organizações de associações operárias surgem, então, de modo
clandestino. Segundo Rios, na Inglaterra o direito de associação vem ser reconhecido
em 1826, mas o direito de greve só o será em 1875. Na França, isso só ocorre em 1884.
As associações operárias surgiram como sociedades de ajuda mútua. Com o
fortalecimento dos burgueses e a opressão aos trabalhadores, houve diversos atos de
revoltas contra o sistema explorador. Surgiram dúvidas e enfrentamentos à maquinaria e
as conseqüências de sua utilização. Na metade do século XIX, Marx descreve sobre a
necessidade da luta, união e a busca de valores de artesãos da Idade Média, pois para
ele, logo que o trabalhador
nasce começa sua luta contra a burguesia. Em princípio, empenham-se na luta operários isolados, mais tarde, operários de uma mesma fábrica, finalmente operários do mesmo ramo de indústria, de uma mesma localidade, contra o burguês que os explora diretamente. Não se limitam a atacar as relações burguesas de produção, atacam os instrumentos de produção: destroem as mercadorias estrangeiras que lhes fazem concorrência, quebram as máquinas, queimam as fábricas e esforçam-se para reconquistar a posição perdida do artesão da Idade Média. (MARX; ENGELS, 2005, p.60)
Em face de sua revelação, aumenta-se a conscientização do povo europeu.
Movimentos artísticos vêm expressar a problemática que envolve o ser humano e seu
interior no momento que é abarcado pela indústria moderna. O movimento “Arts &
Crafts” – Artes e Ofícios em português – surge na Inglaterra na segunda metade do
século XIX e vem defender e incentivar a produção do artesanato em sua forma
alternativa à produção massificada. Confrontando a indústria, visava trazer aos móveis e
objetos a aura do artesão que daria a introdução ao que seria hoje o “designer”. Como
líder, tinha William Morris, que em seus traços precedeu os movimentos orgânicos da
“Art Nouveau”.
2 – O surgimento do Cooperativismo
Sob um céu sem estrêlas, ouviam-se ali queixas, suspiros e soluços. (Dante Alighieri)
A burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros. (Marx & Engels)
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O cooperativismo contemporâneo surgiu no ambiente capitalista como um dos
modos de busca de sobrevivência neste sistema, articulando meios de abrandar os
nocivos efeitos do regime vigente sobre o proletariado, grande vítima deste modo
social. A princípio, pode ser entendido como um ponto de enfrentamento, força reativa e
estabelecimento de barreiras às espertas práticas individualistas da doutrina liberal
burguesa, mas de forma geral vem expressar a necessidade de sobrevivência dentro do
sistema do capital competitivo, levando em seu espectro a possibilidade de um
direcionamento que é capaz de trazer novas possibilidades ao sistema econômico a que
pertence, participa e que, ao mesmo tempo, questiona.
Com caráter associativo, o movimento se firma sob a estrutura modelada nos
meios de partidos políticos operários e sindicatos. O relacionamento entre os proletários
dá base ao surgimento das cooperativas, que nascem de estatutos, protocolos e
documentos previamente estabelecidos, formando grupos sociais que visam fins
especificamente econômicos.
Sistematizadas formalmente, as cooperativas podem ser entendidas como
“sociedades de pessoas, organizadas em bases democráticas, que visam não só a suprir
seus membros de bens e serviços como também realizar determinados programas
educativos e sociais” (PINHO, 1961, p. 18). Este modo de sociedade nasceu em
decorrência da insatisfação perante o regime capitalista e assim surgiram pensamentos
utópicos voltados à construção de uma sociedade cooperativista, em um caminho
através do qual se buscava atingir tal república:
a. na primeira etapa seriam organizadas cooperativas de consumo nas quais o
lucro seria abolido, isto é, eliminar-se-ia qualquer aumento sobre o custo de produção a fim de se obter o “justo preço”;
b. na segunda etapa seriam criadas cooperativas de produção industrial, com os fundos necessários acumulados pelas cooperativas de consumo;
c. na terceira etapa seriam organizadas cooperativas de produção agrícola. Tanto nestas cooperativas como nas de produção industrial, abolir-se-ia o assalariado (PINHO, 1961, p. 21, sem grifo no original).
Na medida em que se desenvolveram as cooperativas e o cooperativismo,
ocorreu também a evolução em dois caminhos distintos ligados ao ambiente em que o
permeia. Em uma vertente, a continuidade do cooperativismo capitalista, que passou a
ter necessidade de se alinhar cada vez mais aos ideais desenvolvimentistas. Em outro
ponto o desenvolvimento do cooperativismo do ambiente socialista, inserido em um
sistema onde o fator humano é considerado importante, tanto nos limites da cooperativa
quanto fora dela.
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2.1 – Cooperativas históricas
Os grupos de cooperativas podem ser divididos, segundo PINHO, em
cooperativas de produção, de empreendedores ou de trabalhadores, cooperativas de
consumo de venda ou compra, cooperativas de crédito ou cooperativas mistas.
As Cooperativas de Produção tem em seu objetivo a fabricação de produtos e/ou
aquisição de matérias primas usadas no desenvolvimento de seu trabalho. Ela pode ser
constituída por empreendedores que se unem buscando melhor competitividade na
negociação de compras ou por trabalhadores que juntos buscam forças para vencer as
dificuldades impostas pelo cotidiano. Estas cooperativas podem ser industriais ou
agrícolas.
As Cooperativas de Consumo são formadas pela reunião de pessoas que em
conjunto buscam uma situação de melhor posicionamento estratégico em relação à
negociação de compras. Estas cooperativas podem comprar, vender ou realizar ambas as
atividades.
As cooperativas de crédito buscam fomentar o financiamento de negócios ou
consumo a um baixo custo operacional, ou ao custo real.
As cooperativas mistas integram as confluências de atividades das citadas
anteriormente. Desta forma, uma cooperativa de crédito pode também exercer as
funções de cooperativa de consumo.
No período contemporâneo o cooperativismo pode ser encontrado nos mais
diversos tipos de negócios, desde os tradicionalmente conhecidos como cooperativas de
produção, agricultura, pesca, cooperativas de consumo, crédito, assim como nos setores
de serviços, como em planos médicos, odontológicos, assistência social, funeral,
música, escolas, turismo, transportes e esportes.
A primeira iniciativa secular sistematizada e precursora ao cooperativismo
contemporâneo foi a Nova Harmonia, que teve como patrono Robert Owen. Nascido em
1771, era filho de um humilde seleiro. Antes dos dez anos de idade abandonou os
estudos e em menos de uma década, se tornou gerente de uma indústria algodoeira em
Manchester. A fábrica em questão foi a primeira da Inglaterra a se dedicar à produção
de fibras longas de algodão de alta qualidade, e buscava também o conforto de seus
trabalhadores. Com o sucesso de sua gestão, Owen convenceu seus agora sócios a
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ampliar os negócios, comprando uma outra fábrica e tornando-se a maior empresa
cotonifícia da Inglaterra.
As preocupações de Owen eram muitas vezes voltadas à redução de jornada de
trabalho e estabelecimento de limite de idade dos trabalhadores, que muitas vezes eram
crianças de 5 a 6 anos de idade. Posteriormente muda-se para os Estados Unidos para
empregar seus ideais voltados à transformação do homem através de seu meio social de
produção. Seus importantes entusiasmos, como a eliminação do lucro influenciou os
Pioneiros de Rochdale na construção de seus princípios doutrinários. As Colônias
Icarianas foram uma tentativa semelhante a de Owen, de introduzir nos Estados Unidos
uma sociedade cooperativista utópica. Este modelo foi idealizado por Étienne Cabet,
francês radicado no Missouri que foi secretário geral do ministério da justiça,
procurador geral da Córsega e deputado, que não pode continuar sua carreira de homem
público em razão de suas idéias revolucionárias confrontarem o sistema de poder da
época.
O Falanstério foi uma iniciativa para organizar uma sociedade comunitária
aonde as pessoas viriam trabalhar especificamente no que desejam sem, no entanto,
deixar de colaborar com os colegas que ali viviam. Organizado nos formatos de uma
espécie de hotel comunitário, as refeições eram divididas, os trabalhos eram realizados
por todos os participantes, e as experiências culturais eram compartilhadas através de
freqüentes reuniões. Este ambiente de vivência comunitária foi idealizado por François
Marie Charles Fourier, que nasceu em 1772. Sua motivação provavelmente partiu dos
acontecimentos decorrentes da Revolução Francesa, onde sua família perdeu seus bens,
sendo ele acometido pelos fatos decorrentes das injustiças sociais resultantes da
concentração de riquezas. Seus ideais eram voltados para a produção agrícola e
desenvolvimentos produtivos nas falanges, que deveriam possuir de 1500 a 1800
pessoas.
A primeira cooperativa de consumo inglesa foi fundada em 1827, em Brighton.
Esta cooperativa foi organizada por William King. Em 1932, havia cerca de 300
cooperativas como esta naquele país, que foram influenciadas justamente pela
divulgação sobre a cooperação, realizada principalmente por King.
Com o objetivo de “encontrar um meio para melhorar sua precária situação
econômica” (PINHO, 1961, p. 35), 28 tecelões se reúnem e discutem sobre diversas
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propostas, como a emigração, abstinência de álcool, e a montagem de uma cooperativa
de consumo. Escolhida a última alternativa, partem para a reunião de economias,
somadas em 28 libras esterlinas. Com este pequeno montante, adquirem bens de
consumo para serem revendidos em seu armazém. Os Pioneiros possuíam planos
maiores, ligados à construção de residências, aquisição de terras para agricultura,
constituição de colônia auto-suficiente, etc. Formalizaram um estatuto, que décadas
depois passaram a constituir os fundamentos da doutrina escrita por Charles Gide3. A
experiência positiva dos Pioneiros levou-os a serem exemplo que viria a ser seguido em
associações cooperativistas futuras.
Quanto às cooperativas de crédito, inicialmente a maioria era destinada para a
agricultura. Schulze-Delitzsch surge em 1849 com caráter econômico destinado ao
auxílio à classe média urbana e não admitia auxílio do estado. Com o objetivo de
socorrer agricultores através de cooperativas fechadas, Raiffeisen organiza a partir de
1847, cooperativas de crédito que ficaram conhecidas como raiffeiseanas e se
preocupavam com o caráter ético e cristão dos cooperados. Diferentemente da anterior,
admitia o auxílio filantrópico e do estado. Estes dois modelos serviram de base para o
desenvolvimento das cooperativas de crédito posteriores, que chegam a criar sistemas
de bancos populares como os de Luzzatti na Itália, que concediam empréstimos
baseados na palavra de honra do contratante. Wilhelm Haas buscava através do
cooperativismo o aumento de crédito, busca de melhor qualidade, preços e aquisição de
máquinas em conjunto, procurando a emancipação dos agricultores.
O Movimento Católico-democrata, iniciado na França e liderado pelo Abade
Lamennais trazia, através da Igreja, a formação de associações cooperativas de
trabalhadores. Em sua evolução, buscou-se a constituição de cooperativas de produção
industrial, com livre associação do trabalho e talento, repressão ao surgimento da
concorrência desordenada e pedido de ajuda do governo, liderados neste momento por
Buchez, de 1832 a 1873. Neste período foi organizado alguns princípios fundamentais
relacionados as cooperativas de produção, precedendo pontos da constituição elaborada
pelos Pioneiros de Rochdale em 1844. Dentre outros pensamentos de Buchez estão
aqueles relacionados à necessidade dos associados serem os próprios empresários com
representantes eleitos no grupo, sendo que se forem trabalhadores, tornariam sócios 3 Charles Gide foi importante economista que trazia a preocupação da questão da solidariedade à teoria econômica. Inúmeros cursos de direito e economia trazem seu pensamento com clássico necessário.
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após um ano e meio de trabalho. A remuneração do grupo deveria ser de acordo com os
critérios da profissão e deveria haver uma reserva a qual 80% seria distribuída no final
do ano aos trabalhadores e 20% continuaria no fundo.
A Bélgica foi provavelmente o primeiro país a organizar cooperativas de
consumo baseado nos serviços públicos. As chamadas “régies cooperativas” eram
formadas pelo poder público e objetivavam o auxílio em sua organização, mas gozavam
de total autonomia no seu dia-a-dia de trabalho.
Se os desenvolvimentos cooperativistas foram humildes nos séculos anteriores
ao XX, após esta data tornam-se mais numerosos e possivelmente mais fortificados
diante da necessidade de sobrevivência frente à concorrência crescente frente aos
grandes grupos que se desenvolvem no meio capitalista, principalmente após a primeira
guerra mundial.
Com atuação semelhante ao Movimento Católico-democrata, porém com a
liberdade de intervencionismo estatal, o Movimento Católico-social situa-se em uma
política centralista, resultando em grande expansão na França, Áustria, Alemanha,
Itália, etc. Partindo da Universidade de Louvain na Bélgica é originada a Liga dos
Camponeses, que passou a ser o organismo de evolução de obras sociais, religiosas,
econômicas, morais formadas pelos agricultores europeus. Na década de 50 do século
XX este organismo abarcava cerca de 3800 organizações filiadas e suas realizações
eram voltadas a reunir pessoas economicamente desfavorecidas intuindo suas
transformações nos limites dos valores do movimento. Charles Gide reúne as
associações protestantes na década de 20, constituindo uma federação e divulgando seu
pensamento de condenação do assalariamento e a superação da necessidade do lucro
através das cooperativas.
O ambiente confessional se mostra suscetível ao desenvolvimento do
cooperativismo e também no judaísmo ocorreram inúmeras iniciativas de caráter
transformador. A sociedade “Amantes do Sião” foi formada para a reconstrução de
Israel e os kibbutzim vem a ser as cooperativas destinadas à produção agrícola.
As cooperativas de produção industrial reúnem trabalhadores que buscam obter
vantagens da cooperação de trabalhadores e sua concentração. Seu desenvolvimento no
século XX é lento e o motivo está relacionado com as mesmas dificuldades do século
passado, que eram as dificuldades de obtenção de capital e de crédito, necessidades
15
grandes em ambiente industrial que é carente de tecnologia para sua evolução.
Capitalistas, em geral não vêem grandes oportunidades de investimentos em
cooperativas de produção uma vez que estas crescem mais lentamente e também não
irão lhes render o mesmo tanto proporcionado pelas empresas onde os trabalhadores são
assalariados. Este fato se deve pelos juros serem baixos nas cooperativas e o direito é de
apenas um voto, limitando assim a decisão que lhe é importante para sua exploração ao
capital e aos trabalhadores. Neste ponto, é importante a participação e o incentivo do
Estado, dos municípios, das organizações e possivelmente das associações de
coletividades públicas como Câmaras de Comércio, indústrias interessadas como fator
de apoio ao cooperativismo.
As organizações mais recentes de produção industrial encontram-se na França e
Itália. Ambas representam uma retomada ao fourierismo de propriedade comum da
produção, gestão comunitária com representantes do grupo, modos de vida que não
interferem na família tradicional e a possibilidade de algum mutualismo, como os
planos de vida, bibliotecas, creches, colônias de férias etc. Com o apoio idealista do
sindicato cristão da região de Bordeaux cidades cooperativistas foram construídas na
França, partindo da organização de uma cooperativa de trabalho para a construção das
casas. A partir de 1948 foram construídas a Cidade Castor e Bâticoop, dentre outras.
Ambas funcionam como cooperativas de produção e são abastecidas pelo
cooperativismo de consumo. Na Itália, os Centros Comunitários de Canavese vem
representar, próximo de Turim, as experiências das cooperativas de produção industrial
e agrícola. Com o intuito de resolver problemas sociais, Adriano Olivetti, em 1948,
visava diminuir o desemprego, descentralizar a concentração industrial e preparar a
autogestão através do controle liberado aos operários, recorrendo para isso ao
cooperativismo para reunir forças de camponeses e artesãos.
2.2 – Aliança Cooperativa
Na última década do século XIX houve o surgimento da “International Co-
operative Alliance (ICA)” ou Aliança Cooperativa Internacional (AIC), que é uma
16
organização não governamental dedicada a unir e representar as cooperativas das
diversas nações, sendo hoje a maior organização não governamental existente4.
Os participantes desta rede são compostos por variados tipos de cooperativas,
possuindo 220 filiais em 85 países, representando mais de 800 milhões de indivíduos.
As atividades da Aliança Cooperativa Internacional (AIC) possui foco voltado a
promover e defender a identidade Cooperativista, entendida neste momento como um
negócio com possibilidades competitivas no mercado capitalista.
Preocupada com a sustentabilidade e crescimento das cooperativas no ambiente
capitalista, esta associação iniciou, em 1937 uma revisão dos princípios cooperativistas
propostos pelos pioneiros de Rochdale, sendo que estes dados foram também alterados
em 1966, conforme vemos abaixo:
PRINCÍPIOS DO COOPERATIVISMO5
Textos de Rochdale Estatuto de
1844 Modificação em 1854 Congresso da ACI 1937 Congresso da ACI 1966
1 - Adesão livre 1 - Adesão livre
1 - Adesão livre (neutralidade social,
política, religiosa e racial)
2 - Gestão democrática 2 - Gestão democrática 2 - Gestão democrática
3 - Retorno "pro rata" das
operações
3 - Retorno "pro rata" das
operações
3 - Distribuição de sobras: a) ao
desenvolvimento da cooperativa b) aos serviços
comuns c) aos associados "pro rata" das
operações
4 - Juros limitados ao capital
4 - Juros limitados ao
capital 4 - Taxa limitada de juros ao capital
5 - Vendas a dinheiro 5 - Vendas a dinheiro
5 - Constituição de um fundo para
educação dos cooperados e do público em geral
6 - Educação dos membros
6 - Desenvolvimento da
educação em todos os níveis
6 - Ativa cooperação entre as
cooperativas, em plano local, nacional e
internacional
7 - Cooperativização global
7 - Neutralidade política
religiosa e racial
7 - Neutralidade política religiosa e
racial
A última revisão dos princípios Cooperativistas deu-se em 1995 e estão assim
ilustrados6:
4 Vide site http://www.ica.coop/ica/index.html para maiores informações. 5 Maiores informações sobre o quadro disponível em PAGOTTO, Claudete.
17
1 - Adesão voluntária e livre - As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como membros, sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas e religiosas.
Observamos neste primeiro item, a problemática que circunda o universo das
pessoas com menores poderes econômicos, onde os que eventualmente possuam divisas
podem aqui ser favorecido, se objetivarmos um universo mais amplo.
2 - Gestão democrática - As cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões. Os homens e as mulheres, eleitos como representantes dos demais membros, são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau os membros têm igual direito de voto (um membro, um voto); as cooperativas de grau superior são também organizadas de maneira democrática.
A democracia proposta pode vir carregada de poderes de influência e até
opressão por parte de alguns membros da associação.
3 - Participação econômica dos membros - Os membros contribuem eqüitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente. Parte desse capital é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os membros recebem, habitualmente, se houver, uma remuneração limitada ao capital integralizado, como condição de sua adesão. Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades:
• Desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente através da criação de reservas, parte das quais, pelo menos será, indivisível.
• Beneficios aos membros na proporção das suas transações com a cooperativa.
• Apoio a outras atividades aprovadas pelos membros. Lembramos que o capitalismo é inaugurado por uma série de processos, muitos
dos quais geraram a acumulação de capital. Há aqui a necessidade da manutenção de
mesmos padrões por parte dos membros, que integram o capital da cooperativa.
4 - Autonomia e independência - As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros. Se firmarem acordos com outras organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle democrático pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa.
6 Ver http://www.brasilcooperativo.com.br/Cooperativismo/Princ%C3%ADpiosCooperativistas/tabid/335/Default.aspx
18
O voto e a decisão em conjunto são aspectos positivos no sentido organizacional,
social e humano, mas a ajuda de capital externo vem carregada de riscos para o controle
da associação.
5 - Educação, formação e informação - As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas. Informam o público em geral, particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação.
Sugerimos que as formas de educação devem estar voltadas para a formação do
cidadão e não somente ao universo do trabalho dentro da cooperativa.
6 - Intercooperação - As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão mais -força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, através das estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais.
Este item é intrinsecamente ligado à proposta de desenvolvimento da Aliança
Cooperativa Internacional (AIC).
7 - Interesse pela comunidade - As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas pelos membros.
Este item, sendo seguido, pode representar sensíveis alterações no cenário social
e educacional da sociedade onde atua, de modo que a interatividade e comunicação com
a sociedade pode promover a “formação para o trabalho e educação para a vida” da
população e o crescimento exponencial do crescimento cooperativista.
A ACI promete fornecer assistência técnica aos associados, suporte financeiro e
uma proposta para a redução da pobreza através de programas de micro financiamentos
ao redor do mundo. Constantemente financia a publicação de textos e livros sobre o
universo do Cooperativismo. Dentro da hierarquia da Aliança Cooperativa Internacional
(AIC), existem subdivisões especializadas em tipos específicos de cooperativas, como
por exemplo:
International Co-operative Agricultural Organisation (ICAO) – Destinada a
organizar a união das cooperativas do setor da agricultura
Banking and Credit: International Co-operative Banking Association (ICBA) –
Preocupada com as cooperativas de crédito.
Consumer: Consumer Co-operatives Worldwide (CCW) – Voltada às
cooperativas de consumo.
19
Fisheries: International Co-operative Fishery Organisation (ICFO) – Dedicada às
cooperativas de pesca.
Health: International Health Co-operative Organisations (IHCO) – Comprometida
com o desenvolvimento das cooperativas ligadas à área da saúde.
Housing: International Co-operative Housing Organisation (ICA Housing) –
Organiza as cooperativas de construção.
Industry and services: International Organisation of Industrial, Artisanal and
Service Producers' Co-operatives (CICOPA) – Destinada a auxiliar as cooperativas de
produção.
Insurance: International Co-operative and Mutual Insurance Federation (ICMIF) –
Auxilia ao cooperativismo de seguros.
Travel: International Association of Tourism (TICA) – Promove o
desenvolvimento das cooperativas de turismo.
3 – O cooperativismo no Brasil
As idéias sobre cooperativismo foram trazida ao Brasil por um pequeno grupo
de intelectuais. Em 1889 Santana Nery representou o Brasil no Congresso
Cooperativista que foi realizado na França. A exemplo da Europa e Estados Unidos, no
Brasil surgiram algumas sociedades baseadas no fourierismo, como no Rio de Janeiro o
Falanstério do Saí, em 1842, e no Paraná, a Colônia Cecília, em 1891. Também nos fins
do século XIX, mais especificamente em 1891, foi fundada a Associação Cooperativa
dos Empregados da Companhia Telefônica em Limeira – SP, em 1894, a Cooperativa
de Consumo de Camaragibe no Distrito Federal e em 1897, a Cooperativa dos
Empregados da Companhia Paulista em Campinas – SP.
Alguma cultura cooperativista era trazida através da imigração e alguns estímulos
federais e estaduais foram realizados. Em 1932, no cenário de crise decorrente da
quebra da bolsa de 1929, do arrasto de problemas decorrentes da primeira guerra
mundial e os problemas relacionados também com a crise do café, o Estado recorreu à
possibilidade de buscar no cooperativismo a saída para os problemas sociais e
econômicos da população. Buscou-se estimular o cooperativismo criando instituições
encarregadas de divulgar a doutrina e promover a assistência aos interessados na
20
questão. A regulamentação das cooperativas também surgiu em 1932 com o decreto
22.239.
Tais ações não foram o bastante para difundir o plano cooperativista no Brasil e
isto possivelmente se deve às características próprias da formação econômica de nosso
país. Diferentemente da Europa, que minimizou através do cooperativismo os
problemas decorrentes do liberalismo, o Brasil não conseguiu fazê-lo, pois a indústria
brasileira não havia sofrido o mesmo impacto da Revolução Industrial, e aqui, na
maioria dos casos, nós não tínhamos uma população consciente dos problemas de classe
e em condições para resolver sua própria situação. Em uma estrutura latifundiária, a
propriedade privada de pequeno porte não existia suficientemente, sendo que a
população vivia em torno de um senhor em um espaço de baixa concentração
populacional, onde no passado a escravidão se encarregou de impedir formas de
associação e educação. A comunicação entre áreas e as dificuldades de transporte eram
demasiadamente sofríveis e tais aspectos perduram até as últimas décadas e em algumas
regiões, até os dias de hoje. Estes diversos fatores elucidam a necessidade da evolução
de um movimento que parte de cima para baixo, com forças provenientes especialmente
dos setores públicos, diferentemente do caso europeu, que nasceu dos anseios do povo
baseado na sua consciência de necessidade de libertação.
4 – Pólo Têxtil da região de Americana
Com o objetivo de reunir as empresas, profissionais e cooperativas da região das
cidades de Sumaré, Santa Bárbara D´Oeste, Nova Odessa, Hortolândia e Americana foi
fundado no ano de 2002, o Pólo Tectex (Pólo Tecnológico da Industria Têxtil e da
Confecção), que visa representar economicamente, politicamente e institucionalmente, o
setor têxtil da região em limites nacionais e internacionais. As alianças são realizadas
em toda a cadeia de desenvolvimento, como as empresas de materiais crus, fiação,
tecelagem, beneficiadoras, tinturarias, confecções e comércio de produtos da área. Com
o intuito de promover o enriquecimento do setor, a direção do Pólo e seus
representantes de cada área buscam aproximações com entidades como o Sebrae
(Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Fiesp (Federação das
Industrias do Estado de São Paulo), Sesi (Serviço Social da Indústria), CNI
21
(Confederação Nacional da Indústria), Prefeituras, Sindicatos, Associações, Bancos,
Universidades, etc.
Buscando os benefícios necessários à sobrevivência no ambiente capitalista,
foram formados os comitês de negócios, competitividade, comunicação e
responsabilidade social, propondo o desenvolvimento e crescimento sustentável. Em
reuniões e entrevistas com os associados, entidades públicas e privadas, foi identificada
a necessidade do desenvolvimento de cooperativas de trabalho, visando contribuir para
o desenvolvimento das empresas locais. Na avaliação dos 5 municípios, foi identificado
o processo de formação de cooperativas de trabalho na cidade de Hortolândia, sendo
constituído um comitê para o desenvolvimento de cooperativas de trabalho na região,
com representantes destas, empresários da área têxtil e enviados de sindicatos de
trabalhadores.
No presente momento, está sendo criado uma estrutura de apoio técnico para o
desenvolvimento da ação, buscando especialistas no desenvolvimento de cooperativas
de trabalho dentro das áreas jurídicas, técnicas, comerciais e administrativas, onde é
objetivado o fornecimento de suporte técnico e a busca de preparação dos cooperados
para se tornarem empreendedores. Estão sendo discutidos com o setor público e privado
a necessidade de financiamento, qualificação e crédito para as associações, buscando o
fornecimento da mão de obra e a terceirização produtiva das empresas da região7.
5 – Estudo do caso da COOPER-CRIS
5.1 – Considerações acerca da metodologia da pesquisa utilizada
A pesquisa bibliográfica em desenvolvimento percorre a história do
cooperativismo e a questão sócio–política respectiva ao seu crescimento. Autores
marxistas nos trazem a reflexão sobre a problemática que envolve o indivíduo no
mercado de trabalho desde o surgimento do capitalismo.
Com o intuito de buscar proximidade com uma cooperativa de confecção,
oferecemos voluntariamente um curso de modelagem básica do vestuário aos
cooperados da Cooper Cris, localizada na cidade de Hortolândia-SP. Inicialmente, a
7 Maiores informações podem ser consultadas em http://www.polotectex.com.br
22
observação empírica das pessoas, seus trabalhos e do local através da vivência nos
momentos das aulas assolaram o caminho que percorremos neste momento.
Estão em desenvolvimento, entrevistas com as participantes da Cooper Cris e com
àquelas que desistiram da sociedade desde o momento em que esta foi fundada. A
análise dos dados dar-se-á com três diferentes preocupações. Buscamos compreender
inicialmente os fatores que levaram cada uma delas a ingressar na cooperativa. Em
segundo momento visamos o entendimento dos processos educativos e a transformação
de cada uma das participantes no ambiente da Cooper Cris, nos limites da formação
para a vida e educação para o trabalho neste local considerado alternativo por nós.
Como decorrência, em terceiro instante, nos propomos a pesquisar sobre a hipótese de a
Cooper Cris ser um instrumento com potencial promotor da emancipação humana.
5.2 – História e memória da Cooper Cris
Fundada em 22/07/2005, a Cooper Cris nasceu da proposta de campanha política
do então vereador Gervásio Batista Pozza. Foi sua esposa Marlene Félix Antunes que
tomou a frente das reuniões iniciais, abertura da empresa, mobilização de pessoal e das
pesquisas introdutórias para o desenvolvimento da sociedade que ela preside desde sua
fundação. No período de campanha, procurou realizar diversas reuniões com a
comunidade, em chás da tarde promovidos com o patrocínio do candidato. Nestas
reuniões, falava sobre a proposta de fundar cooperativas em vários bairros e a
necessidade de apoio público à população de baixa renda, visando buscar as
possibilidades de transformação social naquela região. Com a eleição de Gervásio à
câmara municipal daquela cidade, Marlene reuniu as interessadas em participar da
cooperativa que se propunha a fundar. As integrantes decidiram o nome, que seria
formado pelas siglas iniciais do cooperativismo, “cooper”, em união com o sufixo
“cris”, proveniente do nome do bairro “Carmem Cristina”, onde se localizaria a primeira
sede da cooperativa. Como incentivo, o vereador cedeu um salão de sua propriedade a
título de empréstimo às cooperadas, que ganharam também por um ano os direitos de
utilização de água, luz e telefone do local, além de auxílio e ajuda de custo em papelaria
e xérox necessários ao negócio.
23
As dificuldades iniciais foram marcadas pela falta de capital e conhecimento
necessários à constituição da cooperativa. Na comemoração de 2 anos da fundação da
associação, realizada em 23/07/2007 na Câmara Municipal de Hortolândia, sua
presidenta discursou sobre as dificuldades do grupo e a incansável busca de auxílio por
parte delas. Naquela época, procuraram a sede do desenvolvimento econômico daquela
prefeitura, onde foram auxiliadas por pessoas que tinham conhecimento relacionado à
economia solidária e desenvolvimento cooperativista. Dimas Correa de Pádua, então
secretário da área, foi quem liderou os primeiros encontros das mulheres com o
departamento, assim como auxiliou no que era necessário para a realização do grupo.
As primeiras máquinas da cooperativa eram de propriedade das próprias cooperadas,
que se encarregaram de levá-las da própria casa. O desejo pelo trabalho e a busca pela
transformação social trouxe ao grupo a expectativa da possibilidade de um grande
crescimento através das próprias mãos.
Os custos relativos aos honorários do contador que cuidaria da abertura da
empresa foram financiados a título de doação pela MJ Contabilidade, e as taxas pagas à
JUCESP (Junta Comercial do Estado de São Paulo) e outras despesas foram custeadas
por 2 festas de arrecadação promovida pelas cooperadas sob a liderança de dona
Marlene. A iniciativa trouxe o dinheiro proveniente da venda de cartelas de bingo,
pastel e refrigerantes que foram suficientes para os pagamentos das taxas iniciais. Para a
aquisição dos primeiros cortes de tecido, destinados aos testes iniciais, foi realizado
uma arrecadação livre entre o grupo, em valores que variavam de R$ 5,00 a R$ 10,00.
Em uma das reuniões das fundadoras, obteve-se a informação de que seria
realizada uma licitação para a confecção de 69.813 uniformes escolares para a prefeitura
de Hortolândia. A regulamentação da cooperativa e a proposta de menor preço trouxe à
Cooper Cris o seu primeiro trabalho de confecção para as cooperadas. As negociações
facilitadas pelo envolvimento político de Gervásio e Marlene facilitaram a aquisição de
15 toneladas de malha diretamente da Advance Têxtil, que seriam pagas com o futuro
recebimento do pagamento que seria realizado pela prefeitura. Com a mesma estratégia,
foram compradas as máquinas que eram necessárias para o trabalho, em crédito
concedido pela Camp-Máquinas.
As dificuldades de produção devido ao grande volume, levou a Cooper Cris a
propor a terceirização do trabalho a outras 2 cooperativas de Hortolândia. A Cooperfem
24
e a Lance se disponibilizaram a trabalhar em conjunto, suprindo a carência das mãos
necessárias ao cumprimento do prazo estabelecido.
Com a falta de conhecimento sobre a questão técnico-administrativa, ocorreram
algumas deficiências relativas ao custeio e as taxas de impostos que foram pagas
levaram os ganhos iniciais da Cooper Cris, gerando descontentamento por parte do
grupo, que lucrou somente com as máquinas que foram compradas para o trabalho e a
sobra de 500 kilos da malha utilizada na confecção.
5.3 – As ações desenvolvidas
Com o surgimento da Cooper Cris e a aproximação do Pólo à prefeitura de
Hortolândia, a presidenta Marlene foi convidada para representar as cooperativas da
cidade nos limites do Pólo. Através deste ajuntamento, foram realizados contatos da
presidenta com confecções que seriam clientes em potencial da cooperativa.
As reuniões realizadas na sede do Pólo na cidade de Americana visam identificar
as necessidades para o melhor aproveitamento das cooperativas e o crescimento
econômico das empresas da região. A parceria do Pólo com o Senai e Sebrae favoreceu
o fornecimento do curso “Aprendendo a Empreender” às cooperadas e um curso de
corte e costura realizado no Senai de Americana, onde foi destinada uma Kombi para
transportar 2 representantes de cada cooperativa de Hortolândia semanalmente. Outros
cursos foram propostos como o de “Marketing” e também de “Comércio Exterior”, mas
não houve interesse por parte das mulheres, que disseram se interessarem mais pelo
desenvolvimento técnico relacionado à costura, uma vez que estes são elementos
essenciais à associação.
5.4 – A formação para o trabalho e a educação para a vida dos cooperados
da Cooper Cris
As reuniões oficiais realizadas mensalmente na cooperativa expõem os desejos e
anseios das participantes da cooperativa que levam em suas palavras os problemas
vivenciados no dia-a-dia de trabalho, dificuldades e expectativas. Os iguais direitos e
valores dentro da cooperativa trazem a possibilidade da exposição da importância de
25
cada uma em igual nivelamento hierárquico, o que vem favorecendo o aprendizado no
novo local de trabalho.
Para a cooperada Cleide8, o ambiente favorece o crescimento e aprendizado
contínuos, citando: “aprendi muito nesse tempo, acho que nunca aprendi tanto”. A
necessidade de convívio em sociedade traz aos cooperados a reflexão sobre a tolerância
à multiplicidade e o entendimento e consideração ao pensamento do próximo. Como
conta dona Marlene, na cooperativa “aprendemos a conviver com os outros e ajudar
quando precisar. Quando uma briga com outra, sabe que vai ter que voltar a trás e
conversar para se acertar”.
A educação informal em uma sociedade cooperativa é favorecida pelos mesmos
interesses do grupo. A busca da sustentabilidade econômica tão desejada faz com que a
solidariedade seja desenvolvida diariamente, pois no momento em que o grupo produz
mais e com melhor qualidade todos serão beneficiados economicamente. Como nos
ensina Gadotti, a educação sócio-comunitária não vem existir sem a associação do
desenvolvimento econômico e no momento em que se consegue maior conhecimento
sobre o negócio e o cooperativismo, maiores resultados financeiros são alcançados e,
conseqüentemente, maiores investimentos são feitos na educação do grupo pelo grupo.
Os fatores citados nos indicam que, provavelmente, o ambiente da Coopercris está
circunscrito nos ideais voltados à emancipação do indivíduo e o desenvolvimento de
uma sociedade igualitária e solidária, onde a criação conjunta favorece a associação
como um todo. Se a questão da problemática econômica ainda não foi totalmente
resolvida na Cooper Cris, a liberdade dos indivíduos nos limites da fraternidade e
reciprocidade ilustra um caminho onde o desenvolvimento humano é o grande
vencedor. As conversas das cooperadas, suas confissões e trocas de experiências,
favorecem o desenvolvimento de uma educação informal em uma temática próxima a
existente no ambiente familiar, com a diferença que na cooperativa, as pessoas estão
próximas através de um laço profissional que as une. O interesse pela costura, tecidos e
roupas dão às associadas um eixo norteador e um caminho para seguirem de braços
dados. A maleabilidade oferecida pelos direitos iguais do cooperativismo traz um
exemplo de que há modos diferentes e muitas vezes melhores de se viver no ambiente
8 A associada faz parte da cooperativa desde seu início e é considerada líder no desenvolvimento de costura na Cooper Cris.
26
capitalista, trabalhando, desta maneira, com a possibilidade utópica da superação deste
modo social.
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27
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