convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma,...

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0 Governo do Estado do Ceará Universidade Estadual do Ceará UECE Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu FECLI Curso de Ciências Biológicas DENIS JUVENÇO ANDRADE Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758): CONVIVÊNCIA COM HUMANOS E O RISCO IMINENTE DE TRANSMISSÃO DE DOENÇAS NA COMUNIDADE DE VILA NEUMA IGUATU/CE. IGUATU-CEARÁ 2012

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Page 1: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

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Governo do Estado do Ceará

Universidade Estadual do Ceará – UECE

Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu – FECLI

Curso de Ciências Biológicas

DENIS JUVENÇO ANDRADE

Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758): CONVIVÊNCIA COM HUMANOS E O RISCO IMINENTE DE TRANSMISSÃO DE DOENÇAS NA COMUNIDADE DE

VILA NEUMA – IGUATU/CE.

IGUATU-CEARÁ

2012

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DENIS JUVENÇO ANDRADE

Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758): CONVIVÊNCIA COM HUMANOS E O RISCO IMINENTE DE TRANSMISSÃO DE DOENÇAS NA COMUNIDADE DE

VILA NEUMA – IGUATU/CE.

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu, da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Ciências Biológicas. Orientação: Prof. Ms. Ricardo Rodrigues da Silva

IGUATU-CEARÁ 2012

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Sua influência e sua dedicação foram as bases do meu conhecimento e da minha vontade de trilhar nos caminhos para o saber. Dedico todo o meu esforço e trabalho a senhora minha avó, Dona Eva, sem ela nada disso seria possível.

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AGRADECIMENTOS

De todas as buscas por um sentido que se fizesse real e concreto na

vida, o estudo foi o principal protagonista para alcançar uma ascensão pessoal.

A sabedoria não seria possível se o detentor de todas as coisas não a

concebesse. Sou grato a Deus pela oportunidade e por me acompanhar na

longa estrada da vida constituindo o alicerce na construção do saber.

O destino: sempre acreditei na teia da vida, mas moldada por

nossas atitudes. Em uma dessas teias, minha família foi gentilmente

entrelaçada nos fazendo compartilhar a mesma herança genética. Com todo

amor sublime agradeço a minha mãe e aos meus irmãos em especial ao meu

irmão Dionathan, por está ao meu lado com seu carinho e delicadeza, a minha

avó Eva por toda a sua devoção e o exemplo de que a educação é à base de

uma vida melhor, sem ela essa ascensão não seria possível.

Família também são aqueles que conquistamos. Fora de casa, nos

momentos mais difíceis, o apoio e o “ombro amigo” foram de grande ajuda para

que eu permanecesse firme durante esses quatro anos e meio. Sou grato a

vocês, Dos Anjos e Thais por partilharem de momentos tão difíceis, e George

(“Bela”) por dividir aluguel. A alegria de vocês foi necessária!

Aprendi bastante ao longo de toda a graduação. Meus novos irmãos

de faculdade me ensinaram que ter amigos é necessário e ao lado deles vivi o

que hoje chamamos de família da biologia. Meus agradecimentos a Maiara

(“Fazendeira de diamantes”), Lucilane (“A estudiosa compulsiva”), Thamires

(“Ex. garota expresso Guanabara”), Nikaelly (“Pió”), João Victor (“O

consumista”), Jessika (“A garota redes sociais”), Heryman (“ A inocente”),

Marlúcia (“A guerreira”), Lívia (“A adoradora do Ébano”), Kemilly (“A genitora”),

Jamili (“Concurseira”), Elvis (“Biólogo marinho”) e Aila (“ A garota TELEMAR”),

minha grande amiga, por me escutar e compartilhar todos os sonhos, pela

confiança e pelas caronas.

Aos mestres, pela colaboração no ensino- aprendizagem e pela

contribuição na formação de Biólogo. Sou grato a Ana Kelen, Irismaura

Cordeiro, Carmem Rogélia, Ana Cristina, Môngola Keila, Mayle Alves, Kelen

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Rejane, Fernando Roberto, Ricardo Rodrigues, Alana Cecília, Claita e

principalmente a Sdena Oliveira, com quem pude conviver e me tornar amigo.

Sou muito grato a você Sdena por acreditar que somos capazes, pelos

conselhos, orientações e por me fazer enxergar o caminho acadêmico.

Ao PIBID, sem essa bolsa não conheceria o verdadeiro sentido da

docência, também ao apoio das Supervisoras do PIBID, Clarice Cartaxo e

Lucicleide Alves, pela grande contribuição na minha vida profissional, e aos

colegas de bolsa, pela companhia nas horas de execução. Agradeço a todos

vocês.

Conhecer a biologia de forma prática é essencial para a nossa

formação. Sou grato a Dra. Sueli Bezerra por me conceder um estágio e um

espaço no seu tempo, tão diminuto, em seu laboratório, onde aprendi e conheci

pessoas dispostas a ajudar.

Dona Ana, por gentilmente abrir as portas e permitir a minha entrada

em sua casa para observar os saguis. Sem ela minha pesquisa seria

incompleta.

Agradeço a todos que colaboraram e estão presentes em minha

vida, direta ou indiretamente, me auxiliando a ser quem hoje sou: BIÓLOGO.

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Até o ultimo momento manter-me-ei firme

e com vontade de viver. “Agora vou

dormir para ser mais forte amanhã”. Olga

Benário.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: A espécie: Callithrix jacchus..........................................................

14

Figura 2: Mapa de localização da Vila Neuma, Iguatu/CE. FONTE............. 25

Figura 3: Distribuição das porcentagens de respostas dos moradores da

Vila Numa, Iguatu/CE, 2012, à pergunta “Quais os horários em que eles

“saguis” se aproximam das suas residências?”.............................................

30

Figura 4: Rotas potenciais de transmissão de doenças infecciosas entre

animais e humanos (Adaptado de FRIEND,

2006)..............................................................................................................

32

Figura 5: Distribuição das porcentagens de respostas dos moradores, à

pergunta “Eles (saguis) deixam você se aproximar com facilidade?”. n=30.

NS/NR= não sabe, não

respondeu......................................................................................................

33

Figura 6: Distribuição das porcentagens de respostas dos moradores da

Vila Neuma Iguatu/CE, 2012, à pergunta “Já ouviu algum caso que os

saguis podem transmitir doenças para humanos? Quais doenças?”.

n=30...............................................................................................................

36

Figura 7: Palestra realizada na Escola de Ensino Fundamental Alba

Araújo sobre a transmissão de doenças por Callithrix jacchus na

comunidade de Vila Neuma, Iguatu- CE. Foto: Glaucia Maria, novembro

de 2012..........................................................................................................

37

Figura 8: Conhecendo os ciclos urbanos e silvestres das zoonoses na

palestra apresentada para pais e alunos da comunidade de Vila Neuma,

Iguatu- CE......................................................................................................

38

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição das porcentagens de idade por classe, para 30

pessoas e número de moradores por residência na Vila Neuma Iguatu/CE,

2012................................................................................................................

29

Tabela 2: Registro de raiva humana no Estado do Ceará oriundo de

saguis e cães no período de 2005 a 2012.....................................................

35

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 11

2 OBJETIVOS.............................................................................................. 13 2.1 Objetivo geral........................................................................................... 13 2.2 Objetivos específicos............................................................................... 13

3 REFERENCIAL.......................................................................................... 14 3.1 A espécie Callithrix jacchus..................................................................... 14 3.2 A relação humana com o ambiente, zoonoses e saúde.......................... 18 3.3 Um pouco sobre a história da descoberta das zoonoses........................ 21 3.4 Educação à promoção de saúde............................................................. 21

4 METODOLOGIA......................................................................................... 24 4.1Do tipo da pesquisa.................................................................................. 24 4.2 Da Caracterização da Área de Estudo.................................................... 25 4.3 Delimitação da pesquisa.......................................................................... 25 4.4 Do instrumento de coleta de dados......................................................... 26 4.5 Da população amostral............................................................................ 26 4.6 Do levantamento das informações.......................................................... 27 4.7 Da realização da palestra........................................................................ 27 4.8 Análise de dados..................................................................................... 27 4.9 Aspetos Éticos e Legais da Pesquisa...................................................... 27 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................. 29 5.1 Caracterização dos entrevistados............................................................ 29 5.2 Proximidade dos saguis no entorno residencial...................................... 29 5.3 Conhecimento sobre alimentação dos saguis e a oferta de alimentos pelos moradores............................................................................................

31

5.4 Conhecimento dos moradores sobre doenças transmitidas por saguis.. 31 5.5 O comportamento dos saguis e a relação com os moradores................ 36 5.6 Atividades de interações registradas....................................................... 36 5.7 Divulgação dos resultados da pesquisa para a comunidade................... 37 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 41 APÊNDICES.................................................................................................. 47 Apêndice A..................................................................................................... 48 Apêndice B..................................................................................................... 49 Apêndice C.................................................................................................... 51

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Resumo

Durante anos, a expansão dos centros urbanos tem aumentado de forma acelerada, fazendo com que o pouco espaço de matas seja reduzido a quase nada. Devido a essa expansão, animais silvestres perdem seu hábitat natural e consequentemente procuram abrigos nos centros urbanos. Essa migração traz graves prejuízos, facilitando a disseminação de agentes infecciosos e parasitários para novos hospedeiros, estabelecendo novas relações e também novos nichos ecológicos na cadeia de transmissão de zoonoses. Entre os animais silvestres que são potenciais transmissores de zoonoses o Callithrix jacchus, conhecido como sagui, soim ou sagui-de-tufo-branco, é um dos principais vertebrados que albergam agentes etiológicos comuns aos homens. O sagui é um primata não humano, vive em grupos, gastando seu tempo com forrageio e catação, possui hábitos diurnos e pode facilmente adaptar-se ao meio urbano. A presença de saguis no cotidiano da comunidade de Vila Neuma, zona periurbana da cidade de Iguatu/CE, é grande. O projeto trouxe para o meio comunitário questões que englobaram a compreensão do convívio espécie humana x C. jacchus, com base na desmistificação de que o contato direto com esta espécie de sagui não acarreta prejuízos à saúde humana. Esta pesquisa objetivou-se avaliar o grau de aproximação entre animais da espécie C. jacchus e humanos moradores da Vila Neuma, bem como as relações entre os saguis e o meio ambiente. Realizaram-se 30 entrevistas com os moradores das residências onde o grupo de saguis foi identificado e 70 horas de observação dos símeos. A presença de C. jacchus é frequente (93%), onde 43% dos moradores afirmaram que os saguis permitem o contato direto, tornando esse convívio perigoso em face de os saguis serem suscetíveis a doenças comuns ao homem, estabelecendo um risco a saúde pública. A pesquisa procurou trazer à tona algumas consequências do convívio dos moradores da Vila Neuma, Iguatu/CE, com os saguis, relutando no contexto social e na interação entre eles. É fundamental uma cadeia explicativa dos problemas de saúde que a população venha a sofrer, estabelecendo campanhas educativas sobre a ecologia do comportamento dos saguis, que visem à associação da educação ambiental com a educação em saúde usadas como ferramentas de prevenção.

Palavras-chave: Sagui. Callithrix jacchus. Zoonoses. Vila Neuma. Contato.

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1 INTRODUÇÃO

O constante desmatamento para a expansão dos territórios urbanos

e avanços das cidades interferiu diretamente no hábitat de alguns animais

silvestres, acarretando e intensificando a presença deles em ambientes

urbanizados. Muitos permanecem durante fases ou a vida inteira em contato

com os homens.

Essa falta de espaço natural somado as características particulares

de cada animal, influencia tanto no padrão de atividades da fauna silvestre

como interfere no cotidiano humano. Desse modo, esses ambientes

urbanizados podem exercer diferentes tipos de pressões para esses

organismos. A urbanização somada as suas características, como a restrição

de áreas arborizadas, podem causar mudanças de hábitos na fauna silvestre,

caracterizando o estresse e outros tipos de distúrbios nesses organismos

(MILLSAP; BEAR, 2000).

Nesse contexto, a proximidade da população humana com a fauna

silvestre devido a essas pressões, ainda existe o risco eminente de surtos de

infecções, podendo acontecer contaminações desses animais para o homem.

Isso porque a proximidade permite e facilita o trânsito de microorganismos,

que, podem ou não serem encontrados em ambientes urbanos (VERONA,

2008).

Desta forma, animais silvestres também são transmissores de

doenças para os humanos, caracterizando as zoonoses. Dentro desse

processo, percebe-se que o número de Callithrix jacchus, Linnaeus, 1758,

(Callitrichidae, Primates), vulgarmente conhecido como sagui, ou sagui-de-tufo-

branco que se fixaram em regiões totalmente urbanizadas, tem aumentado

significativamente, se adaptando e sobrevivendo de forma expressiva nessas

regiões (OLIVEIRA, 2008).

O Callithrix jacchus é um pequeno primata neotropical, de hábitos

diurnos e de cauda não preênsil. Sua nutrição natural é bem diversificada na

qual inclui uma dieta desde folhas, flores, frutos, a artrópodes e pequenos

vertebrados. Vivem em grupos territorialistas em que o centro das atividades

diárias e a área nuclear é ativamente defendida pelo grupo, com o propósito de

evitar a permanência de outros grupos (ÁVILA- PIRES, 1969).

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A relação entre saúde pública, saúde ambiental e zoonose torna o

estudo comportamental de Callithrix jacchus ainda mais relevante, uma vez que

eles podem ser transmissores e estão expostos à diversas enfermidades

infectoparasitárias, à diversos grupos de bactérias e de vírus (POTKAY, 1992).

Também são susceptíveis à doenças comuns ao homem como Trypanosoma

cruzi (LISBOA et al., 2000) Toxoplasma gondii (CATÃO-DIAS, 2003) e algumas

espécies de enteroparasitos (XIMENES, 1997). O caso ainda torna-se mais

preocupante quando se percebe a falta de conhecimento da população em

relação a esse risco eminente à contaminação de doenças.

No município de Iguatu/CE, identificam-se casos semelhantes. Na

comunidade de Vila Neuma, por exemplo, o contato de Callithrix jacchus com a

população humana é expressivo e constante. Como a presença de saguis no

cotidiano da comunidade é grande, o projeto trará para o meio comunitário

questões que englobarão a compreensão do convívio espécie humana x C.

jacchus, com base na desmistificação de que esta espécie de sagui pode ser

domesticada sem acarretar prejuízos à saúde humana. Isso poderá contribuir e

subsidiar no manejo de informações da transmissão de doenças e montar um

perfil epidemiológico, uma vez que não existem trabalhos no município

relacionados com a preocupação de transmissão de doenças desta maneira.

Mediante essas questões o projeto apresentará uma relação entre educação

em saúde pública, ambiente e zoonoses.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Avaliar o grau de aproximação entre animais da espécie Callithrix

jacchus e humanos moradores da Vila Neuma, zona periurbana do município

de Iguatu/CE.

2. 2 Objetivos específicos

Pesquisar as principais doenças e os mais comuns agentes

etimológicos transmitidos pelo Callithrix jacchus para humanos;

Verificar os tipos de aproximação, contato físico e interação entre

o Callithrix jacchus e humanos moradores de Vila Neuma, zona periurbana do

município de Iguatu/CE;

Averiguar, através de entrevistas semi-estruturadas, a opinião

sobre o comportamento de aproximação e contato físico entre o Callithrix

jacchus e moradores da Vila Neuma, zona periurbana do município de

Iguatu/CE, bem como o conhecimento da comunidade sobre casos de doenças

transmitidas pelo Callithrix jacchus;

Realizar uma palestra sobre a transmissão potencial de doenças

pelo Callithrix jacchus em humanos, associando a educação ambiental à

educação em saúde.

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3 REFERÊNCIAL TEÓRICO

3.1 A espécie Callithrix jacchus

Classificação taxonômica do sagui-de-tufo-branco segundo

Schneider (1996):

Classe Mammalian

Ordem Primate

Infraordem Platyrrhini

Família Cebidae

Subfamilia Callitrichinae

Tribo Callitrichini

Gênero Callithrix (Erxleber, 1777)

Espécie Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758)

Figura 1: A espécie: Callithrix jacchus FONTE: Sdena Nunes

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Os Callithrix jacchus, conhecidos como saguis ou sagui-de-tufo-

branco apresentam tufos circum-auriculares presentes, de cor branca, o que se

explica o nome popular, mancha branca mediana presente na testa, bochechas

e gargantas castanho-escuro com pelos cinza-claros esparsos, manto distinto,

o dorso apresenta padrão estriado de coloração de cor castanho-escuro, pés

castanho-escuros agrisalhados e mãos cinza-claro a cinza-castanho, coxa

castanho-escuro fortemente agrisalhado (NEVES, 2008). Os calitrix são símios

neotropicais de narinas apontadas lateralmente e septo nasal largo (SILVA;

MONTEIRO DA CRUZ,1993). Com peso ao nascer de 22-38g chegando ao

desmame com 60-150g que em geral caracteriza o fim da infância (STRIER,

2003). Na fase adulta a fêmea pode chegar a 261g e o macho a 323g. A idade

do desmame é geralmente entre 40 a 120 dias após o nascimento, entrando na

puberdade entre o 8º e 12º mês e na maturidade sexual entre o 14º e 24º mês.

Sua expectativa de vida é em geral de 8 a 12 anos (CLARKE, 1994; VERONA,

2007).

Vivem em uma diversidade de habitats, desde matas secundárias,

perturbadas e fragmentadas à florestas primárias (RYLANDS et al., 2000).

Devido a algumas características morfofisiológicas e comportamentais

inerentes à espécie, estão largamente distribuídos por toda a região do

Nordeste do Brasil, habitando praticamente todos os tipos de formações

vegetacionais, desde dunas, restingas, mangues; passando pelas várias

formas de matas (úmida, seca, serrana) e pelas zonas do Agreste e das

Caatingas do Sertão (SILVA; MONTEIRO DA CRUZ,1993). Não são macacos

de lugares frios e não estão distribuídos nos estados de Santa Catarina e Rio

Grande do Sul (FERRARI, 1996).

São basicamente frugívoros e insetívoros, privilegiando o consumo

de goma e podendo ocupar nichos alimentares diferentes dependendo da

importância relativa de cada item na dieta. Os insetos são complemento

alimentar para eles em tempos de escassez de frutos (MIRANDA; FARIA,

2001). Acumulando essas características alimentares flexíveis, os saguis

conseguem sobreviver em ambientes evitados por outros macacos e por essa

característica conseguem perfazer grandes populações (FERRARI, 1996).

Os saguis, de um modo geral, têm vida social bastante complexa.

Os grupos podem conter de um a vários machos e fêmeas adultas (SILVA;

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MONTEIRO DA CRUZ, 1993). Vivem em grupos sociais, contendo de 3 até 15

indivíduos adultos reprodutores e não reprodutores, sub adultos, juvenis e

infantes (STEVESSON; RYLANDS, 1988) e apenas uma fêmea do bando é

capaz de gerar prole, inibindo a ovulação de outras fêmeas por um mecanismo

baseado em feromônios, bem estudado em cativeiros (FERRARI, 1996;

CORRÊA; COUTINHO, 2000). Porém, foi observado um caso em que havia

duas fêmeas reprodutoras no grupo (DIGBY; FERRARI, 1994). Na gravidez e

lactação, os saguis criam cooperativamente os filhotes, carregando-os e

partilhando alimentos com eles. Eles também dependem dos benefícios

oferecidos pela vida em grupo, como o acesso a recursos alimentares e a

proteção contra predadores (FERRARI, 1996) existindo a cooperação de quase

todos os indivíduos em que também auxiliam a mãe a transportar os filhotes no

qual podem nascer gêmeos fraternos sendo normal na sub família Callitrichinae

(SILVA; MONTEIRO DA CRUZ,1993)

São territorialistas, sua área de uso varia de 0,1 a 50 hectares

(SUSSMAN; KINZEY, 1984), sendo esse espaço utilizado na gomivoria,

atividade imprescindível para a sua sobrevivência. Apresentam glândulas de

cheiro, cuja marcação é uma forma de comunicação química (LAZARO-

PEREA; SNOWDON; ARRUDA, 1999). Dessa forma a marcação pode indicar

que fêmeas subordinadas podem está em contato com potenciais parceiros

durante encontros e competições quando o grupo estiver sem fêmea

reprodutora (LAZARO-PERA; SNOWDON; ARRUDA, 1999).

Em encontro com outros grupos ocorrem disputas com

comportamentos relativamente pacíficos, raramente em confronto direto –

havendo vocalização específica e atividade de display (em que os animais

levantam suas caudas e exibem repetidamente suas genitálias para os

adversários) (FERRARI, 1996; CORRÊA; COUTINHO; FERRARI, 2008).

Apresentam hábitos matutinos, no qual os horários de atividades se

iniciam no levantar do sol. Mantêm uma média de 10 horas diárias de

atividades em que forrageiam (procuram, escavam por alimento), locomovem,

se alimentam, descansam e têm atividades sociais (CORRÊA; COUTINHO;

FERRARI, 2008) como catação, que é bem frequente entre os indivíduos, a

brincadeira social, que é uma sequência de movimentos rápidos, repetitivos,

exagerados e sem objetivos aparentes, com participação de pelo menos 2

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indivíduos. A brincadeira é um comportamento mais frequente entre infantes,

ou entre infantes e adultos e o contato corporal que em geral ocorre no

momento de descanso em que os animais ficam encostados uns aos outros

(YAMAMOTO 1991 apud MARTINS, 2007).

É considerada uma espécie invasora, em que coloniza e circula

largamente áreas de floresta e unidades de conservação, como em áreas

urbanas competindo por alimento e abrigo com espécies nativas que já vivem

sob a pressão da perda crescente de habitat provocada pelas ações humanas

(MOONEY et al., 2005).

No sentido de promoção à saúde, a espécie de Callithrix jacchus,

caracterizando-se por ser um mamífero cujo gênero apresenta a maior

biomassa e comportamentos nômades facilitam a dispersão de parasitos sendo

considerados reservatórios de zoonoses em que a adaptação com o convívio

humano favorece o contínuo ciclo de transmissão entre o ambiente silvestre e

doméstico (BRASIL, 2009).

Especialmente, por se tratar de animal domesticável como o sagui e

por ser uma espécie de primata hospedeira e reservatório de zoonoses

totalmente adaptada ao convívio com a espécie humana, com quem muitas

vezes, mantém contato direto para receber alimentação, tornam-se alvos de

muitos estudos sobre o tema (VERONA, 2008).

Algumas bactérias já foram descritas tanto no gênero Callithrix como

no homem. Entre elas podemos citar: Achromobacter anitratus, Achromobacter

lwoffi, Actinomyces spp, Alcaligenes foecalis, Bacterioides corrodens,

Bacterioides fragilis, Bacterioides melaninogenicus, Bacterioides oralis,

Corynebacterium SP, Enterobacter aerogens, Enterobacter cloacae,

Escherichia coli, Flavobacterium aquatile, Fusobacterium fusiform,

Lactobacillus spp, Leptotrichia buccalis, Leuconostoc spp, Mycoplasma spp,

Neisseria flavescens, Neisseria flava, Paracolobacterum coliforme,

Staphilococcus epidermidis, Streptococcus anginosus, Streptococcus bovis,

Streptococcus mitis (BROWN, 1973 apud VERONA, 2008) que determina sua

importância no ciclo epidemiológico de algumas doenças infecciosas comuns

aos homens.

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3.2 A relação humana com o ambiente, zoonoses e saúde

O conceito saúde consiste em um tema complexo, uma vez que a

preocupação não deve ser tratada só pela “ausência” ou “presença” de doença,

mas por vários fatores inerentes da condição humana.

A "Organização Mundial de Saúde" (OMS) define a saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades, concentrando-se na procura da equidade em saúde. (SEGRE, FERRAZ, 1997 P. 1).

Assim, a ausência de doença não quer dizer que o homem esta em

plena saúde, uma vez que a relação em comunidade leva a um amplo

envolvimento com o meio em que estão inseridos. É preciso que se tenha,

também, um ambiente saudável envolvendo desde condições físicas

individuais e coletivas, aos aspectos sociais, ambientais e culturais (ROSEN,

1958). Nessa perspectiva, o ambiente se torna um forte determinante

biossocial e vai desde o estilo de vida a serviços básicos de saúde como: o

envolvimento da sociedade de forma crítica e participativa e a capacitação de

serviços de saúde para a melhoria de ambientes saudáveis (OMS, 2011).

Dentre o último aspecto, de melhoria de ambiente saudáveis, pode-

se destacar as zoonoses, isto é todas as doenças e infecções transmitidas

naturalmente entre animais vertebrados e o homem. Etimologicamente a

palavra é originária do grego, sendo que seu prefixo "zoon" significa animal e o

sufixo "nosos", doenças, traduzindo-se literalmente por doenças animais. O

vocábulo ficou consagrado pelo uso e passou a ser, naturalmente, utilizada nas

ciências médicas (MIGUEL, 2005). Nos últimos anos, vários casos de doenças

transmitidas por animais têm emergido, seja como novas entidades patológicas

ou como agentes já conhecidos em regiões endêmicas ou ainda com espécies

nas quais não havia registro anterior naquele local. As razões são diversas,

mas a maior parte envolve, principalmente, as alterações ambientais.

[...] alterações ambientais afetam o tamanho e distribuição de algumas espécies de animais, vetores e transmissores de agentes infecciosos para seres humanos; aumentam a população humana e alguns animais em áreas urbanas, favorecem um contato crescente entre humanos e animais infectados e doentes; incentiva o comércio de animais e diminui as ações de vigilância e controle da maioria das zoonoses (VIANNA, 2003, Pag. 3).

Page 20: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

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De acordo com Ávila-Pires (1989), os hospedeiros não-humanos

constituem fontes exógenas de infecções e são capazes de alterarem os

índices de morbidade e mortalidade da população humana. Ainda mais, sua

presença influi, consideravelmente, nos padrões epidemiológicos das

zoonoses.

Desde primórdios que o homem mantém contatos a fauna, seja os

que vivem em zona urbana ou rural:

O homem cuja habitação é no meio rural, onde habitam roças, sítios, chácaras, fazendas e freguesias está sujeito a contatos com a fauna ruderal e doméstica e, ao mesmo tempo, com elementos silvestres cuja aproximação e convívio os fazem vítima dos ciclos sazonais de epidemias muitas vezes resultantes de surtos epizoóticos. Já as populações marginais ou periféricas, no sentido ecológico, incluem os moradores de favelas, malocas, mocambos, núcleos periurbanos, suburbanos e "invasões", cujo aspecto econômico e social é precário, e o número de animais domésticos sem controle é grande devido a aglomeração e à inexistência ou deficiência dos serviços de engenharia sanitária (AVILA-PIRES, 1989, P 89).

Desta forma, pode-se citar uma gama de zoonoses e das doenças

que os afetam, como: arboviroses, pausteurelose (P. Multocida),

pseudotuberculose, estreptococoses, tinhas, toxoplasmose, dermatite cercária,

clonorquíase, opostorquíase, esperganose, larva migrans, tungíase, miíase,

pentastomíase e os primatas com grande relevância na transmissão de

zoonoses como, arboviroses diversas, como a febre amarela silvestre, doença

por vírus, herpes, hepatite B, doença de Yaba, doença de Chagas, dengue,

coriomeningite linfocitária, tuberculose, amebíases, esquistossomose

mansônica, bartielose, filariose, bouba, oesofagostomíase, estrongiloidíase,

ternidíase (AVILA-PIRES, 1989).

Fazendo um levantamento sobre os principais agentes etiológicos

das zoonoses de acordo com os seus reservatórios animais, obteve-se

(TORTORA; FUNKE; COSE, 2005):

VÍRUS: Influenzavírus com seus reservatórios suínos, aves

aquáticas, transmitida pelo contato direto. Lyssavírus causador da raiva

transmitido pelo contato direto através de mordidas por morcegos, gambás,

raposas, cães, gatos e outros mamíferos. Alphavírus com seus reservatórios

como cavalos e aves transmitida através da picada do mosquito Culex,

Hantavírus transmitida pelo contato direto com saliva, fezes ou urina de

roedores tendo como principal reservatório ratos veadeiros.

Page 21: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

20

BACTÉRIAS: Bacillus anthracis transmitido pelo gado através do

contato direto com couros ou animais contaminados; ar e alimentos. Yersinia

pestis, pela picada de pulgas são parasitas de roedores, Bartonella henselae

transmitida pelo contato direto com gatos domésticos. Ehrlichia spp, pela

picada de carrapatos parasitas de cervos e roedores, Leptospira sua

transmissão se da pelo contato direto com urina, solo e água em que

mamíferos selvagens, cães e gatos domésticos infectados estão em contato.

Borrelia burgdoferi em que a picada de carrapatos parasitas de camundongos à

transmiti, Chlamydia psittaci através do contato direto com aves, em especial o

papagaio, Rickettsia rickttsii pela picada de carrapatos parasitas de roedores.

FUNGOS: Trichophyton, Microsporum, Epidermophyton transmitidos

pelo contato direto com objetos inanimados e reservatório animal como

mamíferos domésticos.

PROTOZOÁRIOS: Plasmodium spp cuja picada do mosquito

Anopheles transmite o protozoário para mamíferos, principais reservatórios,

Toxoplasmose gondii transmitido por gatos e outros mamíferos.

HELMINTOS: Taenia solium transmitida pela ingestão de carne de

porco contaminada malcozida e Trichinella spiralis que também é transmitida

por porcos e ursos.

Percebe-se, então, que as doenças podem ser transmitidas dos

seus reservatórios ao homem por diferentes níveis de integração com o meio e

com o contato com diferentes tipos de animais. O que vai determinar a

exposição ao risco é a dependência do comportamento social envolvido na

localização geográfica, saneamento das comunidades, crenças, hábitos,

família, profissão, ocupações ou atividades lúdicas, entendimento sobre fatores

ecológicos e conhecimento sobre o perigo eminente (ÁVILA-PIRES, 1989). Por

isso é que os métodos de prevenção devem ser associados a questões sociais,

culturais, econômicas e ecologicamente aceitáveis.

Page 22: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

21

3.3 Um pouco sobre a história da descoberta das zoonoses

No decorrer da evolução humana e desde os primórdios da história,

o homem começou a perceber que ele era suscetível de adquirir doenças dos

animais. Os hebreus da época de Moisés (séc. XV, a. C.) por exemplo, já

conheciam a raiva e sabia-se que existia entre eles um dito popular que dizia:

"Ninguém acreditará no homem que disser ter sido mordido por um cão raivoso

e ainda esteja vivo". Citações sobre a transmissão de doenças ao homem

existem nos escritos de Aristóteles e Hipócrates, que viveram no século IV a.C.

Virgílio, poeta romano do século I a.C., reconheceu ser o carbúnculo hemático

mais conhecido como antrax no homem transmitido pelo tosquiamento de

carneiros que chegavam a óbito devido a doença (MIGUEL, 2005).

Mas foi somente depois da descoberta de algumas espécies de

bactérias e de outros organismos, que se percebeu a analogia de muitas

doenças contagiosas entre homem e animais. Mais precisamente no século

XIX entre 1857 e 1974, quando Pasteur e o médico alemão Robert Koch

desenvolveram trabalhos sobre bactérias no qual os agentes de muitas

doenças, o papel da imunidade, a química de microorganismos e o

aperfeiçoamento de novas técnicas apontaram várias bactérias. Descobriu-se,

conjuntamente que, várias doenças especificas causadas por essas bactérias

se apresentavam em animais e eram transmitidas aos homens, estabelecendo

assim as vias de contaminação (TORTORA; FUNKE; COSE, 2005).

No mesmo século, surgiu o termo Zoonose na literatura médica.

Foi assim batizado pelo médico alemão Rudolf Wirchow e que conceituou

como doenças comuns entre os homens e outros animais, sendo transmitida

sob condições naturais. Dessa forma, enfatizou que “tanto o homem como os

animais desempenham e cumprem, enquanto hospedeiros ou reservatórios ou

como fonte de infecção, importantes e fundamentais papeis na manutenção e

persistência desses agravos na natureza” (BRASIL, 2009). Ainda no século

XIX os programas de saúde pública se efetivaram esclarecendo a transmissão

de doenças por animais. Posteriormente, no século XX, a interação entre o

agente e o hospedeiro foi propostas na perspectiva ecológica de doenças

infecciosas (PIGNATTI, 2004).

Page 23: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

22

No decorrer dos últimos 50 anos o conhecimento disponível sobre

zoonoses foi abordoado em reuniões de especialistas internacionais que

envolviam aspectos técnicos específicos sobre a etiologia de zoonoses

(VASCONCELLOS, s/d) e mesmo passando tantos anos, continua-se com a

necessidade de implementar ações educativas que possam vir a contribuir

como recurso prático direcionado a comunidade, com base nas informações

precisas sobre os riscos da contração de zoonoses e as formas de preveni-las

contribuindo para evitá-las (LIMA et al., 2010).

3.4 Educação à promoção de saúde

Ensinar saúde, quando se referencia a transformação de atitudes e

hábitos de vida, é um desafio para a educação. Transmitir o conhecimento

aleatoriamente não desenvolve atitudes de vida saudável, sendo necessário o

envolvimento dos aspectos relacionados à promoção e à proteção a saúde e à

mecanismos que determinam as condições de vida com o meio físico, social e

cultural para a conquista dos direitos de cidadania (BRASIL, 1996). As

premissas que levam à educação a promoção da saúde é um processo através

dos quais indivíduos são capacitados para ter maior controle sobre a sua

própria saúde, o que significa o reconhecimento da importância do poder e do

controle de sua consciência em que poderão refletir e buscar a identidade de

sua realidade podendo assim alterá-la (OLIVEIRA, 2005).

No contexto das zoonoses, se faz necessário o conhecimento sobre

os fatores que estão relacionados com a sua transmissão e os agentes que

estão envolvidos com a sua disseminação (CAVALCANTE, s/d). O repasse das

informações deve tentar sensibilizar para evitar agravantes futuros e isso tende

a ser uma mediação bastante adequada para o cuidado do ser humano

saudável. Na sua própria essência ela se volta para o futuro sendo atuante

para mediação e construção de uma vida saudável (LUCKESI, s/d). É

importante que as informações sejam repassadas constituindo um método

educativo para a formação das pessoas de forma crítica a respeito dos

problemas que eles enfrentam no seu cotidiano, estimulando a busca de

Page 24: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

23

soluções para agirem e serem atuantes de forma individual e coletiva (BRASIL,

2007).

A Educação em Saúde utiliza métodos e processos participativos e problematizadores, buscando práticas a partir da realidade num processo dialógico e horizontalizado de construção e reconstrução compartilhada do conhecimento e na ação coletiva para a transformação social. [...] e à medida que vão transformando-a, os sujeitos se transformam dentro deste processo, num respeito mútuo de saberes (científico e popular) que não sobrepõe um ao outro, mas, se reconstroem (BRASIL, 2007, pag. 19-21).

O trabalho em comunidade permite conhecer a realidade e as

potencialidades do meio em que essa relação com o meio entre as espécies

animais e os seres humanos tende a ser favorável ou desfavorável da

ocorrência de zoonoses e suas consequências. O estímulo à participação da

população ajuda a encontrar estratégias coletivas dos problemas vividos pela

comunidade, atuando de forma preventiva para a manutenção do bem-estar da

comunidade (SOUZA et al., 2005). Portanto, a educação em saúde vem a ser

uma necessidade de todos. Individual ou coletiva ela deve satisfazer as

necessidades sociais e então organizar as práticas para assim melhor atendê-

las (STOTZ, s/d).

Page 25: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

24

4 METODOLOGIA

4.1 Do tipo da pesquisa

A metodologia como ferramenta para pesquisa abrange itens que se

fazem necessário para responder questões do projeto: Como? Com que?

Onde? Quando? Correspondente a sua finalidade, a sua ação de investigação

e ao momento em que se situam (MARCONI; LAKATOS, 2001).

Neste trabalho, a pesquisa foi do tipo exploratória, o que

proporcionou maior familiaridade com o problema, consistindo o passo inicial

do estudo, buscando informações e novas contribuições de idéias sobre o

estudo em questão (PINTO, 2010). A pesquisa também foi do tipo qualitativa,

uma vez que os dados serão analisados em seu conteúdo social considerando

que há uma relação dinâmica entre a comunidade e o Callithrix jacchus e que

foi analisado em seus dados indutivamente, no ambiente natural. Também,

quantitativa cuja coleta de informações e o tratamento dos dados foram

caracterizados pelo uso da quantificação, isto é, de técnicas estatísticas

(MARCONI; LAKATOS, 2001).

Uma vez que foi feito estudo de campo e observações em que os

dados foram registrados, analisados e ordenados, sem que não aconteça

interferência classificando e explicando os dados espontaneamente, a pesquisa

foi de cunho descritivo e documental no qual os dados foram pesquisados em

órgãos públicos para subsidiar o projeto (PINTO, 2010). As informações

contidas nesses documentos consistiram a preponderância para a discussão

dos resultados do projeto.

4.2 Da Caracterização da Área de Estudo

A pesquisa de campo foi realizada na comunidade de Vila Neuma

área urbana localizada na região periférica da cidade de Iguatu/CE às margens

do Rio Jaguaribe, sendo uma região arborizada com árvores frutíferas situadas

nos quintais residenciais (Figura 2).

A cidade de Iguatu apresenta 96.495 habitantes, com área territorial

de 1.017,089 Km², densidade demográfica de 94,87 hab/Km² (IBGE, 2010),

Page 26: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

25

área de 1.029,002, altitude 217m, longitude 39º18, latitude 6º22, mesorregião

Centro Sul, fazendo limites com Norte: Quixelô; Sul: Cedro; Leste: Orós, Icó e

Cedro; Oeste: Cariús, Jucás e Acopiara, acidentes geográficos com o Rio

Jaguaribe, Riacho Antônio e fazendo parte as lagoas Iguatú, Baú, e Barro Alto.

Apresenta uma média pluviométrica anual de 805, 3 mm. Está a uma distancia

de 380 km da capital Fortaleza e tem como vias de acosso a capital a BR 116,

BR 122, CE 060, CE 359 (IGUATU, 2010).

Figura 2: Mapa de localização da Vila Neuma, Iguatu/CE. FONTE: Google Maps

4.3 Delimitação da pesquisa

O estudo teve como foco principal o convívio das pessoas da

comunidade com o Callithrix jacchus de vida livre e qual o grau de proximidade

e a relação existente entre eles. As observações sobre comportamentos de

aproximação do Callithrix jacchus com a população humana foram realizadas

das 6h às 17h, durante 07 dias, escolhidos entre os meses de julho e agosto de

2012. As observações foram feitas através de visualizações e anotadas em

Page 27: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

26

planilha de acordo com o apêndice A. Terminado o levantamento foi aplicado

um questionário aos membros da comunidade de acordo com o apêndice B.

4.4 Do instrumento de coleta de dados

Depois do período de observação, foram escolhidas as residências

para aplicação do questionário, que levou em consideração as casas que a

presença de saguis foi mais observada. Foi aplicado um questionário por

residência. Vale salientar que foi feito a observação de um grupo de Callthrix

jacchus, que vive nas proximidades da Rua Tomé de Souza no bairro Vila

Neuma.

O questionário era composto de 15 perguntas e teve como

investigação principal a relação entre a presença de Callithrix jacchus nos

quintais dos moradores da Vila Neuma, hábitos alimentares dos saguis, o grau

de proximidade entre esses dois grupos e o conhecimento sobre a transmissão

de doenças por esses animais. Na abordagem, foi explicado para os

moradores o objetivo do projeto e que se trata de uma participação anônima,

voluntária, de fins científicos não havendo a identificação de nenhum dos

entrevistados.

4.5 Da população amostral

Esse trabalho teve duas populações amostrais:

01 – O grupo de Callithrix jacchus, composto de 10 indivíduos e que

vive nas proximidades da Rua Tomé de Souza;

02 - Os moradores que moram na circunvizinhança da Rua Tomé de

Souza, Vila Neuma, Iguatu/CE.

Quanto ao Callithrix jacchus, o trabalho foi realizado em

observações comportamentais, sem haver contato físico, direto ou indireto,

com esses animais.

O segundo grupo foi composto pela comunidade da Vila Neuma,

Iguatu/CE que responderam a um questionário de forma anônima de acordo

com as normas do comitê de Ética com humanos da UECE. Todos os

Page 28: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

27

moradores da Vila Neuma foram convidados à participarem de uma palestra

sobre os riscos iminentes à doenças ocasionado pelo contato humano-saguis.

4.6 Do levantamento das informações

Durante os meses de julho, agosto e setembro de 2012 foram

realizadas pesquisas bibliográficas e documentais sobre a transmissão de

doenças de saguis para seres humanos e dados estatísticos de casos de

transmissão de doenças e epidemiológicos no Ceará. Foram feitas pesquisas

na Secretarias de Saúde do Estado do Ceará como também no Centro de

Zoonoses e Epidemias do município de Iguatu/CE, que contribuíram para o

desenvolvimento do trabalho.

4.7 Da realização da palestra

Toda a comunidade da Vila Neuma foi convidada para assistir uma

palestra sobre a transmissão de doenças através do contato com Callithrix

jacchus. Houve divulgação através de convites distribuídos nas casas dos

moradores entrevistados e na Escola de Ensino Fundamental Alba Araújo. A

palestra ocorreu no mês de novembro de 2012, na Escola de Ensino

Fundamental Alba Araújo, conforme descriminado no apêndice C. A população

foi informada sobre os resultados do projeto na palestra.

4.8 Análise de dados

Todo procedimento estatístico foi realizado, predominantemente,

através da análise descritiva dos dados.

4.9 Aspetos Éticos e Legais da Pesquisa

Toda a pesquisa foi desenvolvida de acordo com a Resolução nº

196/96, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) - Ministério da Saúde (MS), que

adota, no seu âmbito, a pesquisa envolvendo seres humanos e seguindo as

Page 29: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

28

normas da lei 11794 de 8 de outubro de 2008 em que estabelece os

procedimentos para o uso científico de animais.

O estudo foi submetido à análise do Comitê de Ética e Pesquisa

(CEP) da Faculdade Estadual do Ceará, localizada em Fortaleza. Como

procedimento ético, os participantes da pesquisa receberam explicações sobre

a finalidade e objetivos do estudo.

Page 30: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

29

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Caracterização dos entrevistados

Foram realizadas 30 entrevistas com moradores da Rua Tomé de

Sousa no bairro Vila Neuma Iguatu/CE. Evidenciou-se pouco interesse dos

entrevistados em participar da entrevista, havendo relutância e incômodo por

parte de alguns moradores.

Do total dos entrevistados, 97% eram do sexo feminino e 3% do

sexo masculino. O fato da maioria dos entrevistados ser do sexo feminino

provavelmente seja devido ao horário em que foram realizadas as entrevistas:

matutino–horário em que as mulheres estavam nos afazeres domésticos.

Em relação à idade, os entrevistados pertenciam, em maior parte, à

faixa etária com idade média entre 17-27 anos (Tabela 1).

Tabela 1: distribuição das porcentagens de idade por classe, para 30 pessoas na Vila Neuma Iguatu/CE, 2012.

Classe

por idade Frequência

Idade

(em %)

17├ 27 7 23,3

27├ 37 6 20

37├ 48 6 20

48├ 58 2 6,6

58├ 68 4 13,3

68├ 78 5 16,6

Total N= 30 N= 100

5.2 Proximidade dos saguis no entorno residencial

Para análise do comportamento dos símios, foram executadas

observações durante uma semana no mês de agosto de 2012, das 06h00min

às 17h00min. No que se refere às observações, foram percebidos

comportamentos referentes à proximidade com os humanos e o grau de

relação entre eles.

Callithrix jacchus mostrou-se presente próximo às residências dos

moradores abordados de acordo com a afirmativa de 93% dos entrevistados,

Page 31: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

30

enquanto 7% não consideram que estejam próximos às suas residências.

Pode-se evidenciar essa proximidade por serem animais de fácil adaptabilidade

e pela conectividade com espaços verdes (MIRANDA et al., 2006), entre as

margens do Rio Jaguaribe e a zona urbana. Essa proximidade das matas a

centros urbanos também podem gerar conflitos que colocam em risco a própria

saúde do ambiente, como a dispersão de vetores e adaptação de patógenos a

novos hospedeiros, como o sagui (DASZAK, CUNNINGHAM, HYATT, 2000).

Quando interrogados sobre os horários de aproximação dos saguis,

79% dos entrevistados relataram que o período de maior intensidade era pela

manhã.

A presença de saguis vistos pela manhã está relacionada com o seu

comportamento, uma vez que são animais diurnos (AURICCHIO, 1995), que

deixam seus locais de pernoite nas primeiras horas da manhã, onde gastam

seu tempo à procura de alimento e o intenso forrageio, o que pode ter

contribuído para a visualização desses animais. Neves et al. (2007)

observaram que C. jacchus tem maior atividade durante o período da manhã.

Figura 3: Distribuição das porcentagens de respostas dos moradores da Vila Numa, Iguatu/CE, 2012, à pergunta “Quais os horários em que os saguis se aproximam da sua residência?”

79%

14%

4% 3%

Manhã

Tarde

Noite

NS/NR

Page 32: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

31

5.3 Conhecimento sobre alimentação dos saguis e a oferta de alimentos

pelos moradores

Quando interrogados sobre o tipo de alimento dos saguis no

ambiente natural, 70% dos participantes afirmaram que a predileção desses

animais é por frutas, talvez pela preferência dos moradores de ofertarem esse

tipo de alimento e 30% não sabem do que eles se alimentam. Essa

predominância de afirmações confirma que os moradores não têm nenhum

conhecimento sobre a alimentação desses animais em ambientes sem a

influência direta do homem. As opiniões não correspondem às preferências

alimentares dos saguis, que são animais onívoros, necessitando de proteínas e

cálcio, visto que se alimentam de goma de árvores (CORRÊIA; COUTINHO,

2008) e suplementam sua dieta com frutos (RICHARD, 1995).

O hábito alimentar dos saguis é bastante diversificado, o qual inclui

pequenos animais, como pererecas (Anura, Hylidae), gafanhotos (Orthoptera,

Caelifera), minhocas (Haplotaxida), aranhas (Araneae), borboletas

(Lepidoptera) e besouros (Coleoptera) (CAINE, 1996; MIRANDA, FARIA, 2001;

PASSAMANI, 2001; VILELA, 2007; VILELA, FARIA, 2002).

Quando interrogados sobre a oferta intencional de alimentos para os

saguis, uma gama de itens diversificados foi mencionado. Os mais citados

foram: banana, manga, goiaba, arroz, tomate, feijão, carne, ração para gato,

biscoito e pão. O ato de alimentar o C. jacchus contribui para uma interferência

no seu comportamento, na sua nutrição e reprodução, tornando-os

dependentes desse abastecimento, acarretando a não procura por alimentos

em grupo e interferindo no processo de aprendizagem dos mais jovens quanto

ao conhecimento de alimentos adequados para a sua nutrição (FERRARI,

1996; VOELKL et al., 2006). Também, com essa oferta, aumenta o contato

direto desses animais com humanos, o que pode provocar acidentes como

ataques em atos de defesa.

5.4 Conhecimento dos moradores sobre doenças transmitidas por saguis

A transmissão de doenças por animais silvestres é advinda de vários

fatores, que vão desde a expansão de áreas urbanas às informações da

Page 33: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

32

população sobre a dinâmica da transmissão de zoonoses e sua exposição a

que estejam sujeitos, seja de forma de transmissão direta, como as mordidas

que transmitem a raiva e as mais difíceis de reconhecer que estão ligadas a

relações entre o ser humano, animais selvagens e o meio-ambiente (figura 4)

(FRIEND, 2006).

Figura 4: Rotas potenciais de transmissão de doenças infecciosas entre animais e humanos (Adaptado de FRIEND, 2006).

Page 34: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

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Dos entrevistados, 44%, afirmam que os saguis deixam os

moradores se aproximarem com facilidade, ocorrendo contato direto, o que

torna esse convívio perigoso em face de os saguis serem suscetíveis a

doenças comuns ao homem, estabelecendo um risco a saúde pública

(FOWLER, 1986).

O contato mais próximo dos moradores com animais silvestres

facilita a disseminação de agentes infecciosos e parasitários para novos

hospedeiros, estabelecendo novas relações e também novos nichos ecológicos

na cadeia de transmissão de doenças (CORRÊA, PASSOS, 2001).

Figura 4: Distribuição das porcentagens de respostas dos moradores, à pergunta “Eles (saguis)

deixam você se aproximar com facilidade?”. n=30. NS/NR= não sabe, não respondeu. .

Quando abordados sobre a transmissão de doenças, 63% dos

entrevistados mostraram reconhecer o risco sobre a transmissão de doenças

por esses animais e 37% acham que eles não transmitem nenhum tipo de

zoonose.

Nesse contexto, desde 1930, casos de doenças transmitidos por

primatas não humanos foram descritos, sendo provocados por Herpesvirus

simiae e também doenças causadas por bactérias, fungos e helmintos foram

verificadas (JOSLIN, 2003). As várias formas de contágio por agentes

patológicos em primatas não humanos podem estar correlacionadas com

44%

53%

3%

Sim

Não

NS/NR

Page 35: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

34

ambiente, demografia, comportamento e alterações do ambiente, causadas

pela ação antrópica (STUART, STRIER, 1995).

As zoonoses, doenças transmitidas por animais, vem sendo

distribuídas por todo o globo. Entre os animais vertebrados que albergam os

agentes etiológicos, os saguis são uns dos principais e estão cada vez mais

próximos da população. Uma grande amostra dessa gama de doenças comuns

aos homens e aos saguis foi descrita por Verona (2008), (tabela 2) e mostra

que a população desconhece essa interação ecológica das doenças de cunho

zoonótico, afirmando a importância da prevenção de acidentes causados por

animais silvestres.

Brawm (1976) , quando pesquisava sobre o perfil da microbiota da

boca em saguis, fez um levantamento sobre as principais espécies patogênicas

de bactérias comuns aos homens e aos saguis. Essa gama de bactérias

comuns entre essas duas espécies reforça a eminência da transmissão de

doenças, estabelecendo uma cadeia de transmissão de patógenos.

O conhecimento da população sobre os casos de transmissão de

doenças por saguis na Vila Neuma, em Iguatu/CE, ficou limitado às seguintes

porcentagens: 7% da população afirma que esses animais transmitem a raiva;

13% que eles transmitem doenças, mas não sabem o tipo; 80% afirma nunca

ter ouvido falar sobre a transmissão de doenças por esses animais e que eles

não transmitem nenhum tipo de enfermidade (figura 5).

Figura 5: distribuição das porcentagens de respostas dos moradores da Vila Neuma Iguatu/CE, 2012, à pergunta “Já ouviu algum caso que os saguis podem transmitir doenças para humanos? Quais doenças?”. n=30.

13%

80%

7%

Sim/Não sabe quais doenças

Não

Raiva

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35

Assim sendo, a raiva foi citada talvez em virtude das campanhas de

vacinação para gatos e cães, que informam com mais ênfase à população dos

riscos dessa patologia. Apesar disso, a grande maioria desconhece o fato de

que outros animais possam transmitir a raiva e diversos agentes etiológicos

transmissores de zoonoses. Desse modo, a população corre sérios riscos, uma

vez que desconhecendo os fatores de transmissão das doenças, a sociedade

está mais susceptível a não procurar assistência médica e os devidos cuidados

quanto a acidentes envolvendo animais silvestres, em especial os saguis.

A raiva é classificada pela saúde pública conforme o seu ciclo de

transmissão (ROLIM et al, 2006), que pode envolver além de animais

domésticos, animais silvestres, sendo o sagui um dos reservatórios de maior

relevância para o Brasil (SODRÈ, GAMA, ALMEIDA, 2010).

Quando indagados sobre possíveis ataques de saguis em algum

morador da comunidade, todos os entrevistados disseram que não ouviram

nem viram esse tipo de acidente, mas não estão isentos de incidentes

envolvendo humanos e os calicitrídeos, visto que no Ceará, foram identificados

onze casos de raiva humana transmitida por saguis no período de 1990 a 2010.

No mesmo período, foram relatados trinta e cinco casos de raiva nesses

primatas (SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ, 2012). A tabela

5 mostra as cidades em que foram registrados casos de raiva humana no

Estado do Ceará. Dos cinco casos registrados, quatro foram oriundos de

saguis.

Tabela 2: Registro de raiva humana no Estado do Ceará oriundo de saguis e cães no período

de 2005 a 2012.

Ano Município Animal agressor Total

2005 São Luís do Curu Sagui 1

2006

2007

2008 Camocim Sagui 1

2009

2010 Ipu¹, Chaval² Sagui¹, Cão² 1, 1

2011

2012 Jati Sagui 1

Fonte: Secretaria de saúde do Estado do Ceará (2012)

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36

5.5 O comportamento dos saguis e a relação com os moradores

As observações tiveram inicio às 06h00min h e término às 17h00min

h, durante uma semana, tendo a interação de Callithrix jacchus com humanos o

ponto focal da observação. Durante este período foram registrados o convívio

dos saguis com a população da Vila Neuma, Iguatu/CE, e o grau de interação

entre eles. Os registros comportamentais foram feitos em um quintal de uma

residente da comunidade. O grupo era composto por 10 indivíduos, sendo

esses, 2 infantes, 1 macho reprodutor e 1 fêmea reprodutora, e o restante do

grupo, subordinados.

As observações totalizaram em 70 h durante uma semana, tendo

seu inicio no dia 20 de agosto de 2012 e término 26 de agosto de 2012.

5.6 Atividades de interações registradas

O padrão de atividade do grupo de C. jacchus ao longo das

observações, apresentou variação quanto à interação com humanos durante a

semana de observações, mudando de 8 indivíduos a 6. Não se observou

contato direto, como a aquisição de alimentos pelos infantes.

A interação com a população foi registrada somente no período da

manhã e vespertino, condizente com as entrevistas, que afirmaram os mesmos

horários de aproximação dos saguis.

Percebeu-se que esse padrão de atividade é mais frequente nesses

horários devido à doação de alimentos ofertados ocorrerem nesse período.

Castro et al. (2000) evidenciaram que a disponibilidade e a distribuição espacial

de fontes de alimentos têm um importante papel em determinar a área de

vivencia dos primatas e que o padrão de uso no espaço para o forrageio

influencia diretamente na presença dos saguis em determinados locais.

No grupo observado, a área de vivencia e procura por alimentos

limitou-se aos quintais residenciais. Os saguis não precisaram percorrer longas

distâncias a procura de alimentos, devido às ofertas serem diárias pelos

moradores do entorno do habitat desses animais.

No momento das observações, foram registrados todos os adultos

do grupo em contato direto com humanos, recebendo alimentos ofertados na

mão e a invasão dos saguis dentro da residência em contato também com

Page 38: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

37

animais domésticos. Essa oferta direta de alimentos, o estabelecimento dos

saguis nos espaços urbanos, o contato com animais domésticos e as pessoas

facilita a disseminação de doenças em novos ambientes e hospedeiros, tais

como varíola, sífilis, raiva, herpes (FIGUEIREDO, 2009), causando graves

prejuízos à saúde da população.

Devido a essa relação de proximidade estabelecida, houve repercussão

negativa em Jati, sul do estado do Ceará, em fevereiro de 2012, um menino de

9 anos levou um sagui para casa, foi mordido por esse animal e internado com

raiva num hospital, chegando a óbito (SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO

DO CEARÁ, 2012).

Nesse contexto, esses fatores de risco que compreendem as

circunstâncias do ambiente e os hábitos das pessoas, conferem maior ou

menor probabilidade de acometimentos de danos à saúde, sendo necessário

um conjunto de ações de saúde pública, que se volte para a proteção e o

controle sanitário dos processos do bem estar e da educação da sociedade

(PEREIRA, 2003).

5.7 Divulgação dos resultados da pesquisa para a comunidade

A apresentação dos resultados da pesquisa para os moradores da

Vila Neuma, Iguatu/CE, ocorreu através de uma palestra (figura 6). Estes foram

convidados pessoalmente com a ajuda de docentes da Escola Alba Araújo, que

cedeu um espaço para a realização da palestra em uma reunião que ocorreu

na escola.

Figura 6: palestra realizada na Escola de Ensino Fundamental Alba Araújo sobre a transmissão de doenças por Callithrix jacchus na comunidade de Vila Neuma, Iguatu- CE. Foto: Glaucia Maria, novembro de 2012.

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Figura 7: conhecendo os ciclos urbanos e silvestres das zoonoses na palestra apresentada para pais e alunos da comunidade de Vila Neuma, Iguatu- CE. Foto: Glaucia Maria, novembro de 2012.

Foi apresentada aos moradores a relação de proximidade com os

saguis e a relação entre eles, o que os entrevistados mostraram saber sobre a

alimentação e a transmissão de doenças. Também foi feita uma abordagem

sobre a biologia do saguis, com aspectos voltados para o seu comportamento,

hábitos alimentares e as principais doenças transmitidas por esses animais.

Houve um momento de interação com os participantes, que puderam tirar

dúvidas sobre os saguis.

Durante a explanação dos resultados obtidos na pesquisa, os

participantes puderam entender mais sobre a relação de proximidade dos

moradores da Vila Neuma com os saguis e a relação entre eles, o que os

entrevistados mostraram saber sobre a alimentação e a transmissão de

doenças.

Durante o momento de conversa com os ouvintes surgiram dúvidas

sobre a transmissão de doenças e a aproximação dos saguis na comunidade.

Os alunos presentes participaram ativamente da palestra fazendo com que o

objetivo do trabalho contribua de forma positiva para a comunidade em

questão.

Page 40: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

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As perguntas mais frequentes foram os tipos de doenças que

Callithrix jacchus pode transmitir e qual o risco que esses animais podem trazer

à população mesmo sem o contato direto. As dúvidas foram esclarecidas de

acordo com os resultados obtidos enfatizando a importância dos saguis para a

natureza e que nenhum risco oferecem a comunidade se tratados como

animais silvestres e não como de estimação.

Page 41: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

40

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa procurou trazer à tona algumas consequências do

convívio dos moradores da Vila Neuma, Iguatu/CE com os saguis, relutando no

contexto social e na interação entre eles.

De modo geral, a falta de informação sobre os saguis faz com que

as pessoas aproximem-se de maneira direta desses animais. A oferta diária de

alimentos é um fator primordial para esse contato, havendo interação entre o

homem e os calitricídeos e a confirmação do risco de transmissão de doenças

advindas de Callithrix Jacchus por esse elo epidemiológico.

Nesse contexto, a dinâmica de interação do homem com a natureza

é muito complexo, envolvendo fatores que podem desencadear modificações

no ambiente em que vivem. A transmissão de doenças por animais silvestres é

um fator de grave alteração no espaço modificado pelas ações do homem.

Intervenções baseadas nos elos conhecidos sobre a transmissão de

doenças e a cadeia epidemiológica são capazes de interrompê-la, havendo a

necessidade da observação sistemática do comportamento dos procedimentos

de prevenção e controle das evoluções dos elos de transmissão de doenças.

Para conhecer mais detalhadamente as condições de saúde da

população é necessário trabalhar com meios que permitam observar a

distribuição desigual de situações de risco e dos problemas de saúde, com

dados demográficos, socioeconômicos e ambientais, promovendo a integração

dessas informações.

Nesse sentido, é fundamental que as informações sejam

contextualizadas fornecendo elementos para construir uma cadeia explicativa

dos problemas de saúde que a população venha a sofrer, estabelecendo

campanhas educativas sobre a ecologia do comportamento dos saguis,

importantes focos por conta da transmissão de doenças e programas de

educação atrelados a contextos de interesse local que visem à associação da

educação ambiental com a educação em saúde usadas como ferramentas de

prevenção.

Page 42: Convivência com humanos e o risco iminente de transmissão de doenças na comunidade de vila neuma, iguatu ce - denis juvenço andrade

41

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APÊNDICES

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Governo do Estado do Ceará

Universidade Estadual do Ceará – UECE

Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu – FECLI

Curso de Ciências Biológicas

APÊNDICE A - Planilha de campo para a utilização nos registros de

informações referentes à interação dos saguis com humanos.

PLANILHA DE OBSERVAÇÃO

DIA DA OBSERVAÇÃO ____ / _____/ ______

HORÁRIO

Nº DE

INDIVÍDUOS

OBSERVADOS

QUANTOS DO

GRUPO

INTERAGEM

COM OS

HUMANOS

TIPO DE

INTERAÇÃO

COM

HUMANOS

AQUISIÇÃO

DE ALIMENTO

OFERECIDO

PELOS

HUMANOS

CONTATO

COM ANIMAIS

DOMÉSTICOS

ACIDENTES

ENVOLVENDO

MORDIDAS

OU

ARANHÕES

POR Callithrix

jacchus

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Governo do Estado do Ceará

Universidade Estadual do Ceará – UECE

Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu – FECLI

Curso de Ciências Biológicas

APÊNDICE B - Roteiro de entrevista para os moradores da Vila Neuma.

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Eu, Denis Juvenço Andrade, aluno do Curso de Ciências Biológicas da

Universidade Estadual do Ceará- UECE, Faculdade de Educação Ciências e

letras de Iguatu- FECLI, estou realizando um estudo monográfico sobre

Callithrix jacchus, conhecido popularmente como saguis/soim à respeito dos

hábitos, comportamento, contato com humanos e possível transmissão de

doenças por causa do convívio com esses animais, sob a orientação do

Professor Ms. Ricardo Ridrigues da Silva. Vale salientar que esta entrevista

será anônima, voluntária, de fins científicos e não haverá a identificação de

nenhum dos entrevistados.

N° do questionário: ____

Idade: _______________ sexo: ( ) F ( ) M N° de moradores

da residência: _______

1 É comum a presença de saguis próximo a sua residência? ( ) Sim ( ) Não

2 Eles deixam você se aproximar com facilidade?

( ) Sim ( ) Não

3 Quais os horários em que eles se aproximam?

Durante o dia? ( ) Durante a tarde? ( ) Durante a noite? ( )

4 Você sabe do que eles se alimentam? Se sim, cite.

5 Você costuma deixar alimentos para eles? Se sim, quais?

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6 Ouviu algum relato de ataque de saguis em algum morador da comunidade?

( ) Sim ( ) Não

7 Você acha que eles podem transmitir doenças para humanos?

( ) Sim ( ) Não

8 Já ouviu algum caso que os saguis transmitiram doenças para humanos? Se sim,

quais doenças.

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Governo do Estado do Ceará

Universidade Estadual do Ceará – UECE

Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu – FECLI

Curso de Ciências Biológicas

APÊNDICE C - Termo de autorização para realização da palestra

Eu Denis Juvenço Andrade graduando do Curso de

Ciências Biológicas- Universidade Estadual do Ceará- UECE, Faculdade de

Educação Ciências e Letras de Iguatu- FECLI estou realizando um estudo com

o intuito de ampliar o conhecimento acerca da possível transmissão de

doenças por Callthrix jacchus e o contato dos seres humanos com esses

animais.

Trata-se de um estudo quali-quantitativo, exploratória, descritiva e

documental que tem como finalidade identificar os itens acima citado bem

como discutir os resultados.

Desse modo solicitamos, por meio deste, a autorização para a

realização de uma palestra, à Coordenação da Escola de Ensino Fundamental

Alba Araújo.

Eu, __________________________________________________ RG n°

__________________________________ ciente das informações recebidas,

concordo com a realização da palestra que será realizada sob responsabilidade

de Denis Juvenço Andrade graduando do Curso de Ciências Biológicas-

Universidade Estadual do Ceará- UECE, Faculdade de Educação Ciências e

Letras de Iguatu- FECLI, pois estou informando de que em nenhum momento,

a instituição estará exposta a riscos causados pela liberação da palestra.

Tendo exposto concordo voluntariamente em autorizar a execução da

palestra na Escola de Ensino Fundamental Alba Araújo.

__________________________________

Francisco Elielson Gonçalves Diretor Escola de Ensino Fundamental Alba Araújo

__________________________________

Denis Juvenço Andrade Pesquisador

__________________________________

Profº. Ms. Ricardo Rodrigues da Silva Orientador