controle social e mediação de conflitos: as delegacias da mulher e a violência doméstica

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    Sociologias, Porto Alegre, ano 10, n 20, jul./dez. 2008, p. 138-163

    DOSSI

    ContrContrContrContrControle Social e Mediaoole Social e Mediaoole Social e Mediaoole Social e Mediaoole Social e Mediaode Conflitos: as delegaciasde Conflitos: as delegaciasde Conflitos: as delegaciasde Conflitos: as delegaciasde Conflitos: as delegaciasda mulher e a violnciada mulher e a violnciada mulher e a violnciada mulher e a violnciada mulher e a violncia domsticadomsticadomsticadomsticadomstica

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    MARIA TERESA NOBRE*MARIA TERESA NOBRE*MARIA TERESA NOBRE*MARIA TERESA NOBRE*MARIA TERESA NOBRE*

    CSAR BARREIRA**CSAR BARREIRA**CSAR BARREIRA**CSAR BARREIRA**CSAR BARREIRA**

    Resumo

    O artigo discute modos de funcionamento institucional das Delegacias daMulher e dos Juizados Especiais Criminais no atendimento aos casos de violnciadomstica, antes da Lei Maria da Penha, tomando como contraponto a apresen-tao de uma experincia desenvolvida em uma DEAM do Estado de Sergipe, naqual se implantou, por dois anos, em carter experimental, um Ncleo de Medi-

    ao de Conflitos. O trabalho discute a funo social da Polcia e da Justia, paraalm da represso criminalidade, problematizando, por um lado, os limites dasaes penais e, por outro, a aplicao do instrumento jurdico de mediao deconflitos em espaos policiais, voltada ao enfrentamento da violncia contra amulher. Por fim, faz algumas consideraes sobre a nova legislao brasileira parao atendimento a mulheres em situao de violncia domstica.

    Palavras-chave: Delegacias da Mulher. Violncia domstica. Mediao de conflitos.

    * Professora Adjunta do Depto. de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe, doutora emSociologia. E-mail: [email protected]** Professor Titular em Sociologia do Depto. De Cincias Sociais da Universidade Federal do Ceare pesquisador do CNPq. E-mail: [email protected] Este artigo resultado da Tese de Doutorado defendida junto ao Programa de Ps-Graduao emSociologia da Universidade Federal do Cear, em 2006, pela primeira autora, sob orientao dosegundo autor, intitulada: Resistncias femininas e ao policial: (Re) pensando a funo social dasDelegacias da Mulher e foi elaborado, conjuntamente, pelos dois autores.

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    N

    Introduo

    os ltimos anos, com a escalada da violncia e dacriminalidade difusas na sociedade brasileira, a reivindica-o da populao por mais segurana tornou-se um temacentral na agenda poltico-partidria do Pas. Os discursosda Segurana Pblica, do Poder Judicirio e do Poder Exe-

    cutivo, em torno da necessidade de mais represso, passaram, ento, a sercada vez mais incisivos e apoiados por muitos setores da populao, que sesente ameaada, aterrorizada e desprotegida. A insegurana e aintranqilidade configuram um quadro com veemente apelo social, dandomargem a solues mirabolantes que tm como referncia o aumento daspunies e o maior controle de prticas delituosas. Este quadro avoca ordem do dia ou instiga uma discusso sobre a necessidade de mudanasna Lei Penal Substantiva, na diminuio da maioridade penal, nas condies

    dos presdios e na defesa de uma prtica policial, dentro dos princpios datolerncia zero. As prticas repressivas, no entanto, longe de apresenta-rem uma soluo eficaz ao problema, tm produzido, em parte pela violn-cia policial, mais insegurana e medo.

    Mudanas nesse contexto tm sido lentamente observadas e efetiva-das medida que se estabelece um controle das aes policiais pelos movi-mentos sociais e por outros atores sociais que lidam com a violncia policial,mediante a construo de espaos pblicos, envolvendo a participao de

    representantes das polcias e de setores da sociedade civil organizada. Ocontrole social exercido pela sociedade na fiscalizao das aes do Estado edas condutas dos agentes pblicos, que se d mediante a participao diretade grupos sociais, indica que a funo policial est para alm da necessidadede represso criminalidade, voltando-se no s defesa da cidadania e proteo dos direitos humanos, mas tambm construo desses direitos.

    neste embate da sociedade com a polcia, viabilizado pela constitui-

    o de espaos pblicos, aqui entendidos como espaos simblicos, que

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    pode torn-la capaz, no s de refletir sobre suas prticas, mas tambm deredefinir suas funes sociais. Nessa perspectiva, esse confronto entre po-lcia e sociedade constri um espao de visibilidade poltica, como analisaHannah Arendt (1983), que permite a apresentao e tematizao de con-tedos e idias, de circulao de opinies e tomadas de deciso coletivas,que norteiam a ao social (HABERMAS, 1997).

    Uma das experincias de prticas de aproximao da polcia com os

    grupos vulnerveis e com os movimentos sociais, no Brasil, deu-se, explici-tamente, com a criao de Delegacias Especiais de Atendimento Mulher(DEAMs). Com essa ao, resultado da luta do movimento feminista contraa violncia de gnero, as delegacias especializadas passaram a ser respons-veis pelo registro e apurao de crimes contra a mulher, pelo seuenfrentamento e preveno, representando, assim, o incio dadesnaturalizao e do controle dessa ao violenta, que passou, ento, aser considerada como um problema de interesse pblico.

    O objetivo deste artigo , fundamentalmente, apresentar uma discus-so dos problemas que atravessam o enfrentamento pblico da violnciade gnero, no campo da Polcia e da Justia, a partir de uma prtica desen-volvida em uma DEAM em Aracaju, capital do estado de Sergipe, na qual seimplantou, por dois anos, uma experincia de mediao de conflitos. Otrabalho pretende, assim, fazer uma reflexo em torno da funo social daPolcia, problematizando os limites da sua ao repressiva violncia de

    gnero. Por fim, faz algumas consideraes acerca da nova legislao sobreviolncia domstica contra a mulher, prescritas pela Lei 11.340, Lei Mariada Penha, de 2006, que altera os modos de funcionamento institucional daPolcia e da Justia referentes ao trato dessa matria.

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    Entre a conciliao na Polcia e a impunidade na Justia:percalos de um projeto

    A institucionalizao das prticas sociais contra a violncia de gnero queresultou na criao das Delegacias da Mulher, pode ser entendida, segundoDebert (2002), como parte do processo de consolidao da democracia emcurso no Pas, no qual as mulheres passaram a ter, em princpio, garantia dedireitos sociais, proteo policial e acesso Justia. Nesse cenrio, a violncia

    contra a mulher, como foi dito anteriormente, passou a ser considerada umproblema de interesse pblico e uma questo de Direitos Humanos.

    Inmeros estudos e pesquisas sobre a violncia de gnero e as aesdas Delegacias da Mulher, no Brasil, revelam que, durante 20 anos, o aten-dimento policial s mulheres em situao de violncia nessas unidades co-meava, em geral, com um pedido de informaes visando ao registro deum Boletim de Ocorrncia e terminava com uma audincia com a delega-

    da ou com um atendimento de natureza psicossocial, na forma deaconselhamento ou orientao mulher e ao agressor. No caso de separa-o conjugal, havia outras expectativas das mulheres, voltadas garantia dedireitos, como pagamento de penso, partilha de bens, dentre outras.

    Assim, desde a sua criao, mais do que espaos de investigao erepresso aos crimes de violncia de gnero, as DEAMs foram identificadascomo lugares de escuta exclusiva das denncias das mulheres contra a vio-

    lncia sexual, contra a violncia das leses corporais e contra as ameaas deviolncia (MACHADO, 2001, p.34). Isso implicava, fundamentalmente, odesenvolvimento de muitas prticas, executadas pelas delegadas e agentespoliciais no atendimento s mulheres denunciantes, que extrapolavam asatribuies da Polcia Civil no sistema de segurana pblica, como: a inves-tigao criminal, destinada apurao de delitos, a fim de comprovar-lhes amaterialidade e autoria; a seleo das aes, que devem ser tratadas pelo

    sistema penal e o indiciamento dos culpados com seu encaminhamento

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    Justia. Esse desvio desencadeava uma insatisfao nas policiais que exe-cutavam o trabalho, visto como extrapolicial , tendo como corolrio umabaixa qualidade no atendimento.

    Alm desses problemas, que produziram um distanciamento da mis-so inicial de controle e administrao da violncia de gnero, para a qualas DEAMs foram criadas, os prprios modos de funcionamento dessas De-legacias acabaram por impor a necessidade de refletir sobre a impunidade

    que marca historicamente o problema. Este se tornou o ponto nevrlgico edesafiador do enfrentamento da violncia domstica, uma vez que essescrimes acontecem no interior das relaes interpessoais, envolvendo ques-tes afetivas, o que configura uma singularidade diante de outros crimesendereados ao Poder Judicirio.

    No Brasil, os Juizados Especiais Criminais (JECRIMs) foram, entre 1995e 2006, as instncias que receberam a grande maioria das denncias sobreos crimes de violncia contra a mulher. Criados em 1995, esses juizadostm o objetivo de ampliar o acesso da populao Justia, garantindo maiorsimplificao dos procedimentos jurdicos, com base na busca da concilia-o entre as partes envolvidas, tendo como limite, como prev a Lei 9.099/95, que os crimes a serem julgados no ultrapassem 2 anos de pena derecluso ao condenado.

    No obstante a celeridade desse procedimento, os JECRIMs no seefetivaram como instncia adequada e resolutiva no julgamento dos casos

    de violncia domstica contra a mulher. A pesquisa realizada por Carrara,Vianna e Enne (2002), no Rio de Janeiro, mostrou que os pareceres queconstam nos processos eram destitudos de uma poltica judicial sobre oassunto, ficando a critrio de cada Promotor ou Juiz a interpretao dosfatos dentro de uma rede de significados e valores, que acabavam poresvaziar o carter pblico da violncia domstica. Os processos eram,grande parte, arquivados por insuficincia ou precariedade de provas capa-

    zes de conferir um carter propriamente criminoso aos atos violentos de-

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    nunciados. Isto decorria principalmente pelas interpretaes jurdicas dofato, que chegavam, em muitos casos, a atribuir uma co-responsabilidade mulher, sugerindo que ela prpria teria contribudo para as prticas violen-tas. Alm disso, muitas mulheres desistiam da acusao, e o processo aca-bava arquivado por falta de representao da reclamante (CARRARA,VIANNA, ENNE, 2002).

    Nos poucos casos que chegaram a julgamento, as penas atribudasaos autores dos crimes de violncia domstica foram mercantilizadas naesfera desses juizados, reduzidas, quase exclusivamente, ao pagamento demultas ou de cestas bsicas por um perodo de 10 anos. O fato produziuuma banalizao desse tipo de criminalidade e o descrdito, nas aes daSegurana Pblica e da Justia, tanto por parte das mulheres que sofremviolncia quanto da sociedade. (MACHADO, 2001).

    O que esse cenrio revela que as prticas dos operadores do Direito,no julgamento dos casos de violncia domstica, assentadas nos valores de

    uma cultura jurdica conservadora, esto diretamente relacionadas ao dficitde cidadania das mulheres no Brasil, processo que atinge tambm outrosatores sociais, que dependem, em grande parte, da sua filiao a gruposvistos historicamente como inferiores na pirmide da hierarquia de classes,gnero e raa/etnia. Essas prticas culturais e jurdicas contribuem para produ-zir e acirrar a excluso social e o esvaziamento da noo de igualdade ejustia, engendrando prticas classificadas por Cardoso de Oliveira (2002)como desconsiderao cvica e que seriam pautadas no no reconheci-mento do valor ou da dignidade daqueles que reivindicam direitos iguais.

    Polcia e mediao de conflitos: a funo policial para almda represso criminalidade

    Bayley (2001) afirma que o trabalho policial definido por 3 ativida-des interdependentes: pelasatribuieslegais, que cabe polcia desem-

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    penhar; pelas situaesque enfrenta e pelos resultadosque produz. Otrabalho da Polcia se efetiva pelo que ela designada para fazer (patrulhar,investigar, controlar o trfego, etc.); pelas situaes com as quais ela temque lidar (desordens pblicas, crianas perdidas, conflitos domsticos, mor-tes no-naturais, etc.) e pelas aes que ela deve executar ao se depararcom essas situaes (prender, interromper, relatar, mediar, aconselhar, tran-qilizar, advertir, prestar socorro, etc.). As situaes envolvem tanto a ao

    proativa da polcia quanto as aes reativas, ou seja, aquelas predetermina-das pela organizao policial em relao populao e aquelas nas quais aao policial uma resposta produzida pelas demandas do pblico, envol-vendo casos que dizem respeito, ou no, a violaes da lei.

    A responsabilidade central da polcia zelar pela aplicao da lei epelo estabelecimento da ordem, possuindo, para tanto, a prerrogativa douso autorizado da fora. Estas so as caractersticas definidoras da funopolicial. Entretanto, a preponderncia da evidncia mundial parece apoiar,no entanto, a concluso de que assuntos no-criminais dominam o trabalhoda polcia, como afirma Bayley (2001, p.143), pelo fato de que o interessepblico envolve a participao da Polcia em torno da sua intermediao nasrelaes interpessoais, envolvendo ajuda, apoio, proteo e orientao. Destemodo, a anlise das situaes com as quais a Polcia trabalha e no apenasa execuo das suas atribuies - so os modos privilegiados para serementendidas as prticas policiais em toda sua complexidade.

    O fato de desempenhar atividades e executar aes que extrapolamas suas atribuies formais no descaracteriza, em princpio, a natureza dotrabalho policial. Este entendimento permite evitar contrapor as aes rea-lizadas pela Polcia, entre o que classificado como trabalho policial ecomo trabalho extrapolicial. A possibilidade de superar essa dicotomia,portanto, no decorrente da natureza dessas atividades policiais, mas doscontextos sociais e culturais, dos valores que pautam as sociabilidades e dos

    percursos histricos das sociedades. Pases como o Brasil, com uma longa

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    histria de culto represso e punio, tendem a valorizar as atribuiesformais da Polcia como garantia de ordem e segurana, descaracterizando asdemais atividades como fora do mbito do seu exerccio. Portanto, para mu-dar as atitudes dos policiais, necessrio que seja colocada, publicamente, anecessidade de mudar as representaes sociais do que a Polcia.

    As mulheres denunciantes e a populao, em geral, ao demandaremda Polcia Civil outras aes que extrapolam sua competncia formal e le-

    galmente constituda (ou suas atribuies), demandam, ao sistema de segu-rana pblica, novas expectativas. Com isso, a Polcia chamada a se tornarpartcipe de um amplo projeto de educao para a cidadania, reivindica-do por diferentes atores sociais, nos ltimos anos, superando a idia desegurana pblica como restrita ao combate criminalidade e aos proces-sos de educao formal ou tradicionalmente concebidos.

    A presena da conciliao, mediao e renegociao2 dos pactos pri-vados nas prticas policiais das DEAMs, antes da Lei Maria da Penha, foiapontada por vrios pesquisadores. Rifiotis (2004), ao analisar os processosde judiciarizao na DEAM de Joo Pessoa, capital do Estado da Paraba,identifica a figura da delegada como eixo central das atividades policiais e asua atuao como conselheira ou autoridade que faz mediao policial.O autor, entretanto, diferencia essa ao, do procedimento prprio damediao que exige autonomia das partes e a presena de um terceironeutro, o mediador, o qual tenta fomentar o dilogo entre os envolvidos

    num conflito, auxiliando-os a encontrarem suas prprias solues. Reco-nhece, no entanto, que o diferencial dessa Delegacia de Polcia, em rela-

    2 A negociao um instrumento amplamente utilizado nas relaes afetivas, profissionais, familia-res, que dispensa a presena de um terceiro para que as partes em conflito cheguem a um acordo.Trata-se de uma autocomposio(SALES, 2003) na qual os interesses so barganhados, em buscada resoluo das contendas. As denncias dirigidas ao espao policial, porm, revelam umasituao em que a negociao espontnea fracassou e h uma demanda pela presena de ummediador terceirizado. A interveno da autoridade policial indica, nesses casos, uma

    renegociao dos interesses em jogo, embora a expresso no seja utilizada em termos jurdicos.

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    o s demais, o acolhimento das demandas das mulheres, sendo seumecanismo bsico de funcionamento, o de criar as condies para a reso-luo de conflitos conjugais . (RIFIOTIS, 2004, p.115).

    A diferena bsica entre a conciliao e a mediao de conflitos resi-de no papel do mediadorem cada um dos casos, no objetoe nosobjetivosda sua ao. O objeto da conciliao o acordo realizado entre as partesque, mesmo sendo adversrias, celebram-no a fim de ser evitado um

    processo judicial. Na mediao, as partes no devem ser entendidas comoadversrias, e o acordo pode ou no ser celebrado. Llia Sales (2003) esta-belece algumas distines entre os dois instrumentos, demarcando bem opapel do mediador: na conciliao, diz ela, o mediador sugere, interfere eaconselha, apontando uma soluo consensual entre as partes oponentes,mas sua ao superficial, pois as razes do conflito permanecem inalteradas.Na mediao, o mediador no interfere na deciso nem induz o acordo,apenas facilita a comunicao entre as partes, permitindo que decidamlivremente. Ele deve analisar, em profundidade, o contexto do conflito,permitindo sua ressignificao e, conseqentemente, novas formas de con-vivncia e preveno de novos conflitos.

    Outra diferena fundamental entre a mediao e outro instrumentoconsiste na presena de um terceiro imparcial, que no opera, em princ-pio, com base em julgamentos de valor, mas permite, pelo manejo da suainterveno, que as partes oponentes reflitam e cheguem a encontrar um

    caminho para a superao do conflito, identificando suas razes ereorientando atitudes e aes na busca de uma superao. Com isso, pre-tende-se transcender o modelo punitivo para um modelo de justia pe-nal diferenciado , pautado no restabelecimento do dilogo, na construode pactos e acordos diante de interesses divergentes e na ressignificao decontendas, proporcionando a retomada da autodeterminao das pessoas.

    O objetivo principal da mediao de conflitos no , na viso de

    Cardoso de Oliveira (2002), fazer justia, mas encontrar uma soluo

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    satisfatria para as partes, de modo a promover a reparao moral ou mate-rial dos danos sofridos e a resoluo ou administrao mais duradoura dosconflitos. Nesse sentido, h uma distino entre a apurao das responsabi-lidades ante o desrespeito dos direitos infringidos que geralmente no privilegiada, porque vista como agravadora das tenses - e a busca poruma soluo equnime, que amplie o horizonte das alternativas na realiza-o do acordo. Posteriormente, retomaremos a discusso acerca das impli-

    caes da mediao de conflitos que envolvem violncia de gnero.

    Mediao de conflitos e violncia domstica:relato de uma experincia

    Em 2001, o Governo do Estado de Sergipe realizou concurso paraDelegados de Polcia, tendo em vista o dficit existente destes profissio-

    nais, pois, na poca, havia apenas 18 delegados de carreira no Estado.Foram aprovados cerca de 60 candidatos, com uma mdia de idade de 25anos e, na sua maioria, sem experincia de trabalho na Polcia. Muitos dosmembros do novo grupo revelavam o desejo de serem um marco derenovao e mudanas das prticas policiais no Estado, demonstrando o interesse e empenho de incorporarem as discusses sobre direitos huma-nos s suas prticas como delegados e cidados, bem como a tentativa decriar outro perfi l da Polcia Civil sergipana (Comisso, 2002).

    A perspectiva da construo dessa nova polcia, almejada pelos de-legados e delegadas recm-concursados e por alguns policiais mais antigos,suscitou, logo aps o processo de formao policial ao qual foram submeti-dos antes do ingresso na corporao, a elaborao de um projeto de cons-truo de um Centro de Atendimentos a Grupos Vulnerveis, formado portrs delegacias especializadas: Delegacia Especial de Atendimento Mulher,Delegacia Especial de Atendimento Criana e ao AdolescenteeDelegacia

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    Especial de Atendimento a Grupos Vulnerveis(idosos, homossexuais e profis-sionais do sexo, portadores de necessidades especiais e pessoas vtimas dediscriminaes em razo de raa, cor, etnia, religio e procedncia nacional).

    Os servios prestados pela Delegacia da Mulher, atendendo as de-mandas das mulheres e desenvolvendo atividades que eram identificadascomo extrapoliciais pela corporao da Polcia Civil, pela maioria dos po-liciais lotados na DEAM e pelo movimento feminista, apontavam a necessi-

    dade de mudanas das suas prticas ou uma ressignificao do trabalho alidesenvolvido. Assim, a especificidade dos atendimentos s demandas dasmulheres e a predominncia das aes policiais, ao longo de quase duasdcadas, como prticas de renegociao de interesses, conciliao entre aspartes e mediao de conflitos, levou o grupo de delegadas, que estavaparticipando do processo de construo do Centro de Atendimento a Gru-pos Vulnerveis, a propor a instalao de um Ncleo de Mediao de Con-flitos no novo complexo policial.

    importante destacar que, no Brasil, existem dois modelos de medi-ao de conflitos. Um, que utiliza como instrumento jurdico da mediaoum profissional qualificado para este fim, por meio de cursos especficos,com formao na rea das cincias humanas e relaes sociais, podendoadvir do campo do Direito, da Psicologia, do Servio Social, entre outros(MARQUES, TELES, 2005). O outro, a mediao comunitria, pode ser re-alizado por uma pessoa sem formao de nvel superior, mas reconhecido

    pela comunidade e submetido a uma capacitao em mediao de confli-tos por instituio habilitada (SALES, 2003). No Centro de Atendimento aGrupos Vulnerveis, adotou-se a primeira modalidade de mediao, sendoa equipe de mediadores formada pela Delegada Titular da Delegacia daMulher, pela delegada Coordenadora do Centro de Atendimento a GruposVulnerveis, por dois Bacharis em Direito e por uma assistente social.

    O novo modelo de funcionamento da DEAM, com a instalao do

    Ncleo de Mediao de Conflitos, atribuiu desse modo, novas funes

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    Polcia Civil, reconhecendo como sendo da sua competncia legtima e legala mediao de conflitos privados. Nesse nterim, foram criadas condiespara o seu exerccio como prtica policial. Redefiniu-se, desse modo, o queest configurado como fazer polcia no imaginrio policial, determinandonovas atribuies aos policiais lotados nessas delegacias, como quadro efeti-vo de Polcia Judiciria. Essa nova concepo implicou tambm uma tentativade modificar a imagem da Polcia junto populao, sendo essas delegacias

    concebidas como espaos de construo de cidadania (Comisso, 2002).Primeiramente, foi-se desconstruindo a idia de delegacia como espao es-sencialmente repressivo; e, posteriormente, a polcia foi colocada comointerlocutora dos problemas da comunidade e formadora de novas atitudes eopinies. Tal prtica pressupe o dilogo como base da administrao dosconflitos. A experincia do Ncleo de Mediao de Conflitos na DEAM deAracaju aconteceu durante dois anos e teve um carter experimental , sen-do as audincias agendadas em horrios especialmente destinados para estefim e as aes incorporadas na rotina dos procedimentos dessa delegacia.

    A partir desta experincia, alguns aspectos so delimitados. O primei-ro que a fronteira que separa a conciliao da mediao, embora sejalarga do ponto de vista terico, muito tnue do ponto de vista prtico. Osegundo que a conciliao tem sido amplamente criticada por algunsjuristas e, sobretudo, pelo movimento feminista, quando aplicada violn-cia de gnero. Nesta perspectiva, destacamos a seguir, com base no traba-

    lho de Marques e Teles (2005), alguns aspectos norteadores da concepode mediao que inspirou a experincia na DEAM de Aracaju.

    O primeiro que a interveno judicial no suficiente para a resolu-o dos conflitos e inibio da violncia domstica. Desse modo, as DEAMs,como rgos intermedirios entre a populao e a Justia, podem interferirna reduo da violncia domstica, considerando que a eficcia da media-o de conflitos est relacionada possibilidade de fomentar nos casais a

    importncia da regulao das relaes familiares. Isto pode ser impulsiona-

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    do pelo ressurgimento da comunicao e pelo dilogo, capazes de reforaro exerccio da cidadania, conferindo aos prprios protagonistas o poder deelaborar os preceitos e as regras que passaro, em princpio, a reger suasrelaes cotidianas.

    Outro aspecto importante que a mediao, para atingir os objetivospretendidos, teria que contemplar a formao do mediador, a definioformal de suas atribuies e das suas rotinas e o monitoramento das suas

    aes, com fins de aferio da sua efetividade e eficcia.O terceiro ponto que o foco prioritrio de qualquer iniciativa deresoluo de conflitos familiares deve ser a segurana das mulheres, visan-do ao fortalecimento individual, o que supe a recuperao da autonomia ecapacidade de autodeterminao, em grande parte comprometidas pelarelao violenta. Neste sentido, no basta mediar o conflito, mas fazer doaparelho policial uma porta de entrada para outros servios na rea da sa-de, assistncia social, profissionalizao, entre outros.

    Um dado importante que o tratamento ao agressor poderia ser feitopor instrumentos que o auxiliassem a compreender a gravidade da sua con-duta; as causas que desencadearam o seu comportamento e a possibilidadede mudana, a partir da adoo de novos comportamentos. Neste sentido,surge a necessidade de um acompanhamento posterior em que se pesquisea observncia ou quebra do pacto celebrado durante a audincia de me-diao. A aferio da eficcia resolutiva do mtodo aponta para a necessi-

    dade de visitas peridicas, a fim de se verificar o cumprimento do acordopactuado e o levantamento de dados referentes reincidncia.

    Por ltimo, a mediao de conflitos s se aplica aos casos que envol-vem os chamados direitos disponveis. Esta, no entanto, est excluda nasseguintes situaes: a) quando vislumbrada uma grande desproporo depoder entre as partes, sobretudo de ordem econmica, capaz de inviabilizara consecuo de acordos satisfatrios; b) quando h cronicidade da violn-

    cia; c) quando o conflito possuir uma importncia que supera os atos violen-

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    tos, ou seja, se a convivncia litigiosa necessria para manter a prpriarelao afetiva do casal.

    Aps um ano da criao do Centro de Atendimento a Grupos Vulne-rveis e da instalao do Ncleo de Mediao de Conflitos, realizamos umapesquisa na qual ouvimos alguns depoimentos de delegadas e agentes po-liciais lotadas na Delegacia da Mulher. Para elas, a mudana do formato daDEAM e sua vinculao a um complexo policial, localizado no mesmo espa-

    o fsico, com uma coordenao unificada e com setores comuns, garantiumelhores condies de trabalho e produziu um aumento no nvel de satis-fao e valorizao profissional. Registraram, contudo, um acmulo e so-brecarga das atividades sobre o contingente policial, pois o novo modeloaumentou o nmero de queixas, proporcionado pela maior visibilidade namdia, o que facilitou o acesso da populao.

    Por outro lado, de acordo com os depoimentos, houve uma preocupa-o maior com a qualidade do atendimento e com um maior acolhimento smulheres. Nesse sentido, foi enfatizado, por um lado, a superao de umaviso estigmatizada da mulher que registra uma ocorrncia e depois retira aqueixa, e a importncia da escuta e acolhimento s mulheres. Por outro lado,houve uma ressignificao do trabalho policial, percebido como algo impor-tante, que tem valor social e produz resultados, o que tambm estava vincu-lado execuo de um trabalho em equipe, dentro de um fluxograma quepermitia uma continuidade das aes executadas. Os objetivos das audinci-

    as eram, neste sentido, alcanados, permitindo s pessoas envolvidas na situ-ao de violncia uma reflexo acerca das suas relaes cotidianas como, porexemplo: o que produz o conflito e o que poderia ser mudado? Um dosdados que confirmam essa anlise foi a diminuio dos casos reincidentes.

    Segundo os profissionais que compunham o Ncleo de Mediao deConflitos, ao contrrio do que acontecia nos JECRIMs, que julgavam oscasos de violncia domstica, no havia, nas audincias de mediao na

    DEAM, a tentativa de dissuadir a mulher da sua inteno de levar o agressor

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    a julgamento, considerando sua queixa ftil ou sem gravidade. Esta mudan-a se deu em decorrncia do abandono do instrumento jurdico da concili-ao e sua substituio pelo da mediao de conflitos. Ganha destaque ofato de que, quando os mediadores percebiam, durante a audincia, que ocaso no era passvel de mediao ou no havia interesse ou possibilidadede um acordo entre as partes, a reclamante se dirigia, geralmente, aoscartrios das Delegacias para que o caso fosse encaminhado Justia. Ou-

    tro ponto avaliado como positivo foi o fato de alguns agressores, aps teremsido julgados e condenados por crimes de violncia contra a mulher, passa-rem a prestar servios na DEAM, como medida de cumprimento de penasalternativas. Enfim, embora ainda se tratasse de uma experincia embrion-ria, havia uma avaliao positiva das mudanas realizadas, pois no conjunto,a formalizao desses procedimentos policiais imprimiu maior racionaliza-o e resolutividade s aes da DEAM.

    Um dado inquietante que, a partir de setembro de 2006, a experi-ncia foi interrompida pela Lei Maria da Penha, que impossibilitou a conti-nuidade do trabalho que vinha sendo desenvolvido pelo Ncleo de Media-o de Conflitos. A interrupo, em parte, inviabilizou, tanto uma possvelavaliao da aplicao do instrumento jurdico de mediao de conflitos violncia domstica, quanto como em que medida ele possibilitaria umareviso de valores; a mudana de comportamento; o desencadeamento deuma reflexo acerca das causas do conflito, das divergncias dos interesses

    dos sujeitos nele envolvidos e do uso da violncia nas relaes de gnero.Algumas questes surgem: teria o instrumento da mediao garantido, comopretendido pelas autoras do projeto do Ncleo de Mediao de Conflitos, ofortalecimento das mulheres, a recuperao da sua autonomia e da suacapacidade de autodeterminao? O recurso mediao, nos casos emque esse instrumento se aplicava, era suficientemente potente para confe-rir s mulheres denunciantes, um maior coeficiente de poder nas relaes

    conjugais ou, ao contrrio, neutralizava essa condio?

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    A nova legislao brasileira sobre violnciadomstica: a Lei Maria da Penha

    A Lei 11.340 contra a violncia domstica, denominada de LeiMaria da Penha, aponta alteraes do Cdigo de Processo Penal, do

    Cdigo Penal Brasileiro e da Lei de Execues Penais e cria os Juizados

    Especiais contra a Violncia Domstica e Familiar. Estes aspectos re-

    presentam inmeros avanos em relao legislao anterior, com a

    correo de graves distores referentes s medidas de proteo s

    mulheres em situao de violncia domstica.

    A nova legislao tem um alcance que no se restringe ao DireitoPenal, mas abrange questes pertinentes ao Direito Cvel e que compemgrande parte das demandas das mulheres que se dirigem s DEAMs, taiscomo: partilha de bens, reconhecimento de paternidade, penses alimen-tcias, guarda dos filhos, etc.. Alm disso, a lei prev uma srie de medidas

    preventivas e de assistncia mulher em situao de violncia, por meiode aes integradas do Poder Judicirio, Ministrio Pblico, Defensoria P-blica, Polcias e outros rgos da Segurana Pblica, assistncia social, sa-de, educao e trabalho. Essas medidas conferem ao Estado e sociedadecivil novas responsabilidades pelo enfrentamento da violncia domstica,apontando a necessidade de uma mudana de mentalidades, atitudes eprticas culturais na produo de novas formas de sociabilidade entre ho-

    mens e mulheres. Contudo, algumas questes em relao sua aplicaoprecisam ser problematizadas.

    Em relao s medidas policiais, ficam restringidas sobremaneira, se-no impossibilitadas, as aes de conciliao e mediao de conflitos, oque caracterizou o trabalho das DEAMs ao longo de duas dcadas. Dessemodo, a Lei 11.340 restitui s DEAMs e s demais unidades policiais, queprestam atendimento s mulheres em situao de violncia, como ativida-

    des prioritrias, o exerccio das atribuies de investigao e represso. Este

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    parece ser um ponto nevrlgico, uma vez que esta impossibilidade podeacarretar uma possvel reduo na procura das mulheres pelas DEAMs.

    Em relao s aes da Justia, a Lei Maria da Penha determina oabandono do sistema consensual, retornando ao sistema penal retributivoclssico (ou conflituoso). Para os juristas Luiz Flvio Gomes e Alice Bianchini(2006), este sistema no adequado para a soluo dos conflitos familiaresque envolvem o uso da violncia. Os autores apontam os inmeros proble-

    mas do sistema retributivo, que vo desde a falta de conexo entre a Polciae a Justia at a dificuldade de punir os autores dos atos criminosos, umavez que muitos dispositivos podem ser largamente acionados para poster-gar e recorrer das decises judiciais. H, ainda, a indstria da prescrio eoutros mecanismos que podem, at, levar absolvio o ru. Por meiodesse sistema, dizem os juristas, dificilmente se conseguir condenar omarido agressor. Sendo um sistema fechado e moroso, que gera medo eopresso, seu papel ser o de garantir a continuidade da impunidade ,uma vez que o sistema penal punitivo clssico no constitui meio hbilpara a soluo desse tenebroso conflito humano que consiste na violncia

    que(vergonhosamente)vitimiza, no mbito domstico e familiar, quase umtero das mulheres brasileiras.

    A Lei Maria da Penha expressa, em boa medida, o compromissopblico assumido pelo Estado brasileiro com o fim da impunidade aos cri-mes de violncia domstica e familiar, com impacto direto sobre as prticas

    do sistema judicirio e da polcia. Decerto, as alteraes substanciais nanova lei e no funcionamento do sistema judicirio, referente ao trato dessetipo de violncia, expressam a retomada do projeto poltico do movimentofeminista, que resultou na criao das DEAMs. Expressam tambm os anseiosdas mulheres diante da necessidade de uma ampla reviso no julgamento epunio dos agressores, nos casos em que pretendem a sua criminalizao,bem como na adoo de medidas preventivas, protecionistas e inibidoras

    da violncia de gnero.

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    justamente a punio aos agressores que surge como o ponto maisdelicado da aplicao da nova lei. importante considerar que, se, emalguns casos, de fato preciso aplicar penalidades mais rgidas para reter abanalizao da violncia domstica, em muitos outros se faz necessria aadoo de formas diferenciadas de enfrentamento, capaz de coibir a vio-lncia e reparar os danos sofridos. H ainda outros casos em que a interrup-o da violncia no passa pela criminalizao do seu autor, como revela o

    desejo da maioria das denunciantes que procuraram as DEAMs, duranteduas dcadas. Parece-nos que a Lei Maria da Penha se aplica bem ao pri-meiro caso, mas enfraquece as possibilidades de resoluo dos demais,sobretudo dos ltimos, nos quais as DEAMs desempenhavam um importan-te papel, e impede que experincias alternativas, como o uso da mediaode conflitos, sejam aplicadas.

    Como pano de fundo dessa discusso, temos a questo do sistemapenal. Nas sociedades ocidentais modernas a pena tem, teoricamente, duasfunes: em primeiro lugar, reparar o dano e restabelecer a justia e, emsegundo, prevenir ou coibir a ocorrncia de atos semelhantes. Dentro des-sa proposio, ela pretende ser repressiva e pedaggica ao mesmo tempo.Entretanto, sendo organizadas a partir de uma ordem social pautada nadominao, as estratgias de disciplinarizao e controle sobre os corpos,fundadas na violncia e que regem as prticas de confinamento, atestam ofracasso da pena de priso, uma vez que ela no reforma ou recupera o

    indivduo, mas, ao contrrio, fabrica crime e criminosos (FOUCAULT, 1997).Desse modo, ancorada na idia de recluso, a priso, como as demaisinstituies totais (GOFFMAN, 1984), no podem ser humanizadas. Pelasua prpria razo de ser e existir, so inerentemente incapacitadas paraisso. Portanto, defender, diante da experincia histrica, que a pena depriso tem tido funo reabilitadora, insustentvel. Considerando o siste-ma penal brasileiro, poderamos afirmar que sua funo tem sido to so-

    mente produzir o apartamento do indivduo da vida social e sua submisso

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    violncia institucional praticada pela Polcia no sistema prisional, sendoesta uma das reas na qual o Estado brasileiro mais viola os direitos humanos.

    Frente a uma legislao que pune com rigor crimes contra o patrimnio,num pas de grandes desigualdades econmicas e sociais e com um sistemapenal que iguala, na prtica, dentro das unidades prisionais, grandes cri-minosos e pequenos infratores, temos, como resultado, prises abarrota-das, em condies subhumanas de sobrevivncia, com alto ndice de

    corrupo e com o uso da prtica da tortura, que funcionam como escolasdo crime. As prises retroalimentam a violncia; aumentam as desigualda-des e produzem efeitos diametralmente opostos ao que, em tese, seuprojeto, gerando a revolta e reincidncia do apenado, sustentadas pelodesejo de vingana, que se volta contra o Estado, a sociedade e a prpriamulher que foi vtima de violncia.

    A falncia da pena de restrio de liberdade tem levado constituiode outros dispositivos de punio aos agressores, entre os quais a criaodas penas alternativas e outros mecanismos de resoluo consensual doslitgios. Segundo Faleiros (2002), as penas alternativas representam um novoparadigma jurdico e sociolgico de reparao de danos e educao docondenado: do ponto de vista do sujeito, permite a reflexo sobre o crime/delito cometido e aponta a perspectiva de mudana de atitude; do pontode vista social, indica a possibilidade de se implementar um processointegrador do apenado sociedade, sem desvincul-lo dos seus laos afetivos

    e da sua vida familiar.Apesar de considerar que o sistema das penas alternativas possa ser

    uma soluo ao problema da impunidade, na medida em que evita a con-denao dos autores de atos criminosos a uma morte-antecipada nas pri-ses, possibilitando, potencialmente, uma reflexo sobre a ao cometida,a execuo dessas medidas conta com as falhas do funcionamento do Siste-ma Judicirio no acompanhamento dos apenados e com a falta de capacitao

    das instituies conveniadas para que essas aes sejam, de fato, educativas.

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    Porm, h uma questo anterior: o que esse quadro de dificuldades demons-tra que o sistema de penas alternativas parte de um mesmo sistema penalinjusto, repressivo, estigmatizante e repressivo e, por isso, acaba seguindoa mesma tendncia do sistema como um todo (WUNDERLICH, 2004).

    Nessa perspectiva, em relao aos crimes de violncia domstica, importante pensar na necessidade de uma reviso das formas de julgar epunir, bem como na formao dos policiais e dos operadores do Direito.

    Cabe indagar: em que medidas as aes da Polcia e da Justia fortalecemas resistncias femininas, reforam a autonomia das mulheres e contribu-em para transformar relaes de gnero marcadas pela violncia, permitin-do s mulheres uma participao mais igualitria nas relaes de poder? Oaumento da punio aos agressores garante esses efeitos?

    Consideraes Finais

    Aps duas dcadas de funcionamento das DEAMs no Brasil, a anlisedas suas prticas institucionais ressalta a necessidade de reviso e mudananas aes policiais e jurdicas no trato da questo da violncia de gnero.Para o movimento feminista, esse quadro decorre, tanto do sucateamentoe abandono em que as Delegacias se encontravam, quanto do lugar queocupavam dentro da corporao policial, por produzirem um baixo rendi-mento , em termos de inquritos instaurados e casos encaminhados Jus-tia. Esse cenrio tambm apontava a necessidade de redefinir as funessociais das DEAMs, tendo em vista o distanciamento da misso para a qualforam criadas, decorrente das prprias demandas das mulheres que as ele-geram, prioritariamente como espao de mediao do conflito privado eno como lugar de investigao policial. Por outro lado, fazia-se necessriauma mudana profunda nas aes da Justia, ancoradas em uma legislaoinadequada aos crimes de violncia domstica, que acabava por revitimizar

    a mulher e reprivatizar seus dramas.

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    O que se observava na legislao anterior era uma benevolncia daprpria lei e, mais ainda, de muitos dos operadores do Direito, no julga-mento dos agressores, revelando a presena de valores que reproduzem olugar da mulher como inferior, submissa, dependente e portadora de umacidadania limitada. Embora tenham ocorrido avanos neste campo, comoresultado da ao poltica do movimento feminista, de outros movimentossociais, de entidades de defesas de direitos humanos, de categorias profis-

    sionais e de organismos internacionais, importante demarcar que estamosainda muito longe de conquistar uma condio de isonomia entre homense mulheres perante a lei, nas relaes de trabalho, na famlia e nas relaesafetivas. No nos parece, porm, que isso seja conquistado apenas pormedidas legais, tais como: a instituio de normas, regulamentos, sanesou o recrudescimento das aes punitivas. Os principais atores deste movi-mento destacam a importncia de politizar esta temtica para ampliar econsolidar as principais conquistas.

    A Lei Maria da Penha pode ser uma resposta s muitas contradies,distores, impasses e dilemas que tornaram as polticas pblicas de segu-rana voltadas ao trato da violncia domstica contra a mulher. Entretanto,muitas das disposies dessa lei recrudescem as aes da Justia, com asmedidas punitivas ao agressor, e enfraquecem as aes da Polcia, comrestries e impedimentos ao trabalho que vinha sendo realizado pelasDEAMs, no atendimento a uma grande parte das demandas das mulheres

    que contavam com a intermediao da autoridade policial para reduzir asprticas de violncia contra si. Nesse sentido, importante considerar, comoafirma Rifiotis (2004), que os baixos ndices de casos encaminhados Justi-a que caracterizavam o trabalho das DEAMs, no expressavam, principal-mente, a morosidade ou a ineficincia da Polcia, mas a existncia de umaexperincia singular de mediao de conflitos, a qual permitia, pela inter-veno da autoridade policial, que valores e prticas cristalizados nas rela-

    es familiares passassem por um processo de ruptura ou descontinuidade,

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    contribuindo para a sua desnaturalizao.Narrativas de mulheres que registram queixas nas DEAMs, no Brasil,

    revelam que, em se tratando de violncia domstica, o ato da dennciarepresenta o coroamento de uma longa trajetria de lutas encerradas noespao da vida privada. Utilizando como estratgia denunciar a violncia,mesmo sem a pretenso de criminalizar seu autor, as mulheres construamrelaes de gnero a partir de outro lugar, que no era o da submisso e

    passividade. Como a nova legislao prev, via de regra, o encaminhamen-to das denncias Justia, para julgamento e punio, leva as mulheres,com outras demandas, a perderem a possibilidade de contar com a ajudapolicial para a resoluo dos seus conflitos.

    Tentamos apresentar, ao longo deste artigo, que a atividade policial secaracteriza no s pela sua funo repressiva e pelas suas atribuies tcni-cas, mas pelo seu papel no ordenamento e regulao da vida social. Otrabalho policial inclui, na nossa perspectiva de anlise, as aes deintermediar relaes, mediar conflitos, orientar, aconselhar, fazer concilia-es, dentre outras. Entretanto, apontamos a seguir alguns pontos que nosparecem merecer uma ateno especial, referentes mediao de confli-tos realizada pela Polcia, quando aplicada violncia de gnero.

    O instrumento jurdico da mediao, bem como a mediao comuni-tria coloca, como condio primeira da sua efetividade, a presena de umterceiro imparcial, que no opera com base em julgamentos de valor.

    Uma primeira questo se coloca: em que medida essa condio de impar-cialidade pode ser atribuda Polcia? O ordenamento da vida social, quecompete Polcia entre outras instituies sociais, deve estar pautado norespeito aos direitos e garantias individuais e sociais. O desempenho dessafuno leva a Polcia identificao de pessoas que tm esses direitos lesa-dos e de pessoas que os lesaram. Seja desenvolvendo aes repressivas,preventivas ou educativas, a funo policial est investida de uma autoridade

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    que a afasta de um lugar imparcial ou neutro. Assim, em decorrncia da auto-ridade conferida pela funo, suas prticas no tm o mesmo cunho de umaao semelhante realizada por outros profissionais ou lderes comunitrios.

    Outro ponto que deve ser questionado em relao ao uso do instrumen-to jurdico da mediao num espao policial, diz respeito s demandas dasmulheres. O ato da denncia coloca a mulher, em princpio, numa condiode superioridade diante do agressor. A interveno da autoridade policial a

    favor da mulher indica para o agressor que as relaes de poder entre ambos seinverteram, colocando limite no uso da violncia. Os seus atos esto sendocoibidos pela fora policial, numa primeira instncia, mas podero ser coibidospela lei. At que ponto, colocando-se como um terceiro imparcial diante doconflito, o mediador, no espao policial, enfraquece essa posio de poder naqual as mulheres se encontram momentaneamente?

    Nas prticas de mediao, ganham destaque as diferenas entre umapostura de imparcialidade e de neutralidade. Surge, nesta perspectiva, anecessidade de acoplar ao manejo da mediao, alguns elementos da arbi-tragem, no no sentido do julgamento dos casos por um terceiro e imposi-o de uma deciso exterior que determinaria a resoluo do conflito, masno sentido da explicitao dos direitos que foram infringidos e da gravidadedos atos cometidos pelo infrator, para que essa ao favorea uma mudan-a de atitudes e prticas.

    O grande desafio posto aos mediadores, parece-nos, o de deixar

    que o conflito possa emergir na sua dimenso mais ampla e profunda. Isso possvel se o conflito for encarado na sua produtividade, como elementoestruturante das relaes sociais, no sentido proposto por Simmel. Confli-tos devem ser administrados, na perspectiva simmeliana, quando a violn-cia se torna o caminho para a soluo dos antagonismos ou quando a situa-o conflituosa leva os grupos sociais ou os indivduos paralisao de suasprprias foras, impossibilitando as negociaes entre interesses opostos.

    Desse modo, no se trata, necessariamente, de eliminar o conflito, mas de

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    reduzir as tenses produzidas por ele, que impedem o entendimento entreas partes, transformando-o, assim, numa contraposio objetiva , na qualpaixes e volies individuais do espao ao entendimento mtuo, proces-so que levaria ao equilbrio das relaes entre os indivduos e os grupos(SIMMEL, 1986, p.121).

    No caso da violncia domstica, o explicitar o conflito, em algunscasos, significa buscar uma soluo que possa resultar em uma separao

    conjugal, a partir da revelao das suas razes. O sucesso da mediao seria,nesse caso, favorecer o dilogo entre as partes para que essa deciso sejaviabilizada, sendo este o acordo possvel ou desejvel, com a definio deregras que garantam sua efetivao. Alm disso, para ser bem-sucedida, amediao supe uma eqidade entre as partes, o que, geralmente, no severifica nos casos de violncia de gnero. Isso implica a necessidade de ummanejo muito cuidadoso da mediao, a fim de que ela possa, efetivamen-te, constituir-se como uma medida de proteo s mulheres, apontandosolues para sua erradicao.

    Todo esse processo passa necessariamente pela desnaturalizao daviolncia, o que nos parecer ser um grande desafio posto sociedade brasi-leira, quando se pensa em polticas pblicas nessa rea. O que se impecomo desafio no apenas a adoo de medidas concretas e aes pontuaispara coibir e prevenir a violncia de gnero nas suas mltiplas formas, mas,sobretudo, a modificao de crenas, valores e prticas, consolidadas no mbito

    da cultura e das sociabilidades, que produzem e reproduzem a violncia nasrelaes de gnero como fato naturalizado e banal, inclusive dentro das orga-nizaes sociais responsveis pela execuo das polticas pblicas.

    Neste sentido, mais do que recrudescer a legislao, preciso identi-ficar e fortalecer as formas de enfrentamento da violncia que as mulheresutilizam no espao da vida privada, refletindo acerca dos mecanismos pelosquais a dominao se exerce e se mantm nessas relaes, identificando os

    valores, as crenas e as lgicas que as mulheres utilizam quando perma-

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    necem em um convvio violento, sobretudo, nos seus movimentos de rup-tura, que se configuram como produo de contra-dominao. Fortaleceressas resistncias, pelas redes comunitrias que j existem e, sobretudo,pela constituio de redes formais que articulem a assistncia policial, jur-dica, educacional, social e no campo da sade parecem ser medidas capa-zes de garantir um enfrentamento mais estrutural violncia de gnero,com efeitos mais profundos e duradouros.

    Social Control and Conflict Mediation: womens policestations and domestic violence

    Abstract

    The article argues ways of institutional functioning of the Women s PoliceStations and the Criminal Special Courts in the attendance to the cases of domestic

    violence, before the Maria da Penha Law, taking as counterpoint the presentationof an experience developed in one Women s Police Station of Sergipe State, inwhich was implanted, during two years, in experimental character, a Nucleus ofMediation of Conflicts. The work argues the social function of the Police and ofJustice, for beyond the repression to crime, debating, on a hand, the limits of thepenal actions, and on the other hand, the application of the legal instrument ofmediation of conflicts in police spaces, faced to the confrontation of the violenceagainst the woman. Finally, it makes some appreciations on the new Brazilianlegislation for the attendance to the women in situation of domestic violence.

    Keywords: Womens Police stations. Domestic violence. Mediation of conflicts.

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    Recebido: 19/03/2008Aceite final: 25/06/2008