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homeschooling

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Conhecida nos Estados Unidos e na Europa há mais de 30 anos, a educação doméstica (ou homeschooling, como é chamada por lá) ainda é proibida no Brasil. Mesmo assim, o país tem mais de 400 famílias adeptas do método e que lutam pelo direito de escolher a forma como educam seus filhos. Especialistas em educação não chegam a um consenso: o direito de doutrinar intelectualmente as crianças é dos pais ou do Estado? POR THIAgO RIzAN

“Se eu pudesse ir no meu próprio ritmo e estar com pessoas diferentes, numa escola alternativa, eu gostaria, sim. Mas essa é uma escola imaginária. Diante de tudo o que conheço, prefiro ficar do jeito que estou”. Com tanto ceticismo e sem as doces utopias comuns à idade, é curioso descobrir que a autora da frase é uma delicada adolescente de 15 anos. Beatriz Tanese Nogueira é carioca e mora na Flórida, nos Estados Unidos, desde os oito anos de idade. Talvez, a precoce constatação de que seu ideal de escola não passe de imaginação seja resultado das aulas de filosofia que teve aos onze anos de idade. A decisão foi da mãe, a psicanalista pós-junguiana Adriana Tanese Nogueira que, após sucessivos casos de bullying na escola da garota, resolveu tirá-la do ambiente escolar, adotar o método de homeschooling e montar a grade curricular da própria filha.

Conhecido como educação doméstica nos países de língua portuguesa, o homeschooling é um método de ensino muito aceito por famílias norte-americanas e europeias, pelo qual a criança não frequenta a escola. Neste caso, toda a sua construção de conhecimento se dá dentro de casa (ou de outro local), tendo como professor o pai e/ou a mãe, ou, ainda, um tutor, também chamado de preceptor – uma

Quem educasou eu

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figura comum em filmes que mostram a educação do século XIX, como em Jane Eyre (2011), que retrata a paixão da protagonista pelo pai da garota que educa.

Apesar da educação doméstica ser legalizada e normatizada em mais de 60 países, o assunto gera polêmica no Brasil e pode, inclusive, tipificar crime de abandono segundo o artigo 246 do Código Penal, que julga com pena de detenção – de quinze dias a um mês ou multa – “Deixar, sem justa causa, de prover a instrução primária de filho em idade escolar”. Contudo, o homeschooling não é estranho à história da educação no país.

Segundo a doutora em Educação Maria Celi Chaves Vasconcelos, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, era comum aos brasileiros da elite do século XIX contratarem a preceptora para educarem seus jovens filhos. A essa figura, geralmente mulheres estrangeiras ou filhas bastardas enviadas para estudar na Europa, era dada a tarefa de ensinar diversas habilidades: idiomas, caligrafia, religião, música, piano, gramática, matemática, história, pintura e, para as meninas, bordado, costura, dança e outros trabalhos manuais. O declínio da educação doméstica no Brasil, ainda segundo Maria Celi, começou nas décadas de 1870 e 1880, quando o Brasil Império adotou como “estratégia de afirmação do poder central sobre as elites dominantes [grandes proprietários de terra] interferir em algumas esferas, entre elas a educação”.

“Pouco a pouco, a escolaridade propagada por todas as possibilidades midiáticas daquele tempo, especialmente os periódicos impressos, vai seduzindo as elites que, seja pelo modismo, seja pela preocupação com a propaganda dos perigos da contratação de preceptores, acaba rendendo-se à escola emergente”, explica a pesquisadora, que estudou as possibilidades de homeschooling no Brasil e em Portugal em seu pós-doutorado na Universidade de Minho (Portugal).

Por aquiAinda que proibido no país, alguns pais decidem correr os riscos

em prol de uma educação que julgam coerente com seus valores e expectativas para os filhos. Os números não são exatos, mas a Associação Nacional de Ensino Domiciliar (ANED) divulga que há mais de 400 famílias educando seus próprios filhos no Brasil. O mapa do homeschooling nacional, disponibilizado no site da ANED, aponta que há sete famílias adeptas do método na região de Sorocaba, interior de São Paulo (três na cidade, duas em Tatuí, uma em Votorantim e

uma em Boituva).“A educação doméstica constitui uma das formas de educação alternativa a que as famílias, sob a influência de condições específicas, recorrem quando, entre outros motivos, a escola não alcança as expectativas de suas demandas”, justifica a pós-doutora Maria Celi

Chaves Vasconcelos. A psicanalista Adriana Tanese Nogueira concorda. Além dos episódios de bullying contra sua filha, Beatriz, outro motivo para ter escolhido a educação doméstica foi julgar os métodos tradicionais “como uma repetição da cultura de massa e bastante limitados no conteúdo didático e cultural”.

Seja qual for o motivo da decisão dos pais, o Instituto Nacional de Pesquisas em Educação Doméstica americano (National Home Education Research Institute, em inglês – veja entrevista na pág. 74) aponta a ascensão do homeschooling nos Estados Unidos:

Independentemente dos números lá fora, por aqui, não falta opositores ao tema.

Para a coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade de Cuiabá, Edirles Mattje Backes, “a educação doméstica pode ser uma alternativa para complementar as atividades de leitura, escrita e estudo, mas não para substituir a escola, que é um lugar que propicia a interação, a troca e a aprendizagem colaborativa.” De acordo com a educadora, fazer parte de um grupo é muito importante para o crescimento e desenvolvimento da construção das crianças como pessoas. “A escola em casa oferecerá bem menos alternativas para esta construção”, contesta. Já a colega pedagoga e mestre em Educação Lucy Mara Conceição, coordenadora de curso da Universidade Norte do Paraná, é mais taxativa: a educação doméstica “promove um ensino individualizado, talvez com mais afeto, só! Ela retira o direito da socialização, promove o individualismo, torna-se parcial.”

A mãe de Beatriz discorda e garante que a escola não é o único local em que as crianças podem socializar. “Nenhum de nós, adultos, se submete a qualquer ambiente. Por que fazemos isso com as crianças? Já atendi vários jovens cujo desenvolvimento intelectual e emocional foi prejudicado pela escola”, revela a psicanalista. Adriana faz questão de pontuar as atividades sociais que a filha participa: aulas de piano, ginástica olímpica e rítmica, voluntariado como assistente de uma professora de artes e monitoria de ginástica para crianças. A psicóloga e doutoranda em Psicologia Clínica Ana Paula Piccoli, coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, afirma que diversas instituições são, sim, importantes para a construção psicossocial das crianças, porém a escola possui papel fundamental nesse processo. “Lá é dada à criança a oportunidade de conhecer novos grupos sociais e ampliar ainda mais sua observação e contato com o mundo externo. Como consequência existe, a partir daí, o aprendizado de saber lidar com grupos sociais diferentes dos seus, ampliando sua socialização.” A pedagoga Sandra Raimundo de Souza Amaral complementa, dizendo que a educação exclusiva no ambiente familiar é pobre não apenas à formação cultural, mas à intelectual e social do educando.

homeschooling

o país registra uma população de 2,04 milhões de estudantes

educados em casa e um crescimento estimado de 2% a 8%,

por ano.

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“A educação vai além dos conteúdos. Conviver com a diversidade de pessoas, colegas, professores e funcionários faz parte do sistema. A interação criança-criança é fundamental”, finaliza.

Pais ou professores?Quando decidiu retirar a filha Beatriz da escola norte-

americana, Adriana Tanese não encontrou nenhuma dificuldade. Nos EUA, todas as crianças em idade escolar são registradas em um distrito educacional, de acordo com a região em que moram. “Quando você inscreve seu filho como homeschooler, eles mandam, entre outros documentos, uma folha com referências de professoras reconhecidas para o exame final”, explica. Depois de determinado tempo, o pai ou tutor liga para uma das referências e agenda um encontro, no qual o profissional conversa com a criança, analisa o material produzido durante o ano acadêmico, aplica um teste e envia os resultados para o distrito escolar. “Qualquer mãe ou pai pode se tornar o professor do filho”, afirma Adriana.

A frase não é vista com bons olhos pelos pedagogos. Para Edirles Backes, da Universidade de Cuiabá, “a formação de um ser humano é um pacote extenso de competências, habilidades e atitudes, que precisam ser olhadas com muita seriedade. Pai e mãe têm lugar fundamental, mas o lugar do professor, da escola, também é muito importante para esta caminhada.” E ilustra com um exemplo: imagine uma pessoa, sem formação em engenharia, que resolve assumir, sozinha, a construção de uma casa. Ela sabe que é capaz, mas não fez nenhum curso preparatório, tendo somente muita vontade que dê certo. A casa poderá sair perfeita, mas o risco é bem maior do que se tivesse contratado alguém que estudou e se preparou durante alguns anos para fazer isso. A pedagoga, filósofa e mestre em Educação Dinara Occhiena Menezes não para por aí. “Em nenhuma realidade educacional, formal ou não, o pai ou a mãe sem formação ou preparação pedagógica serão os indicados para ensinar com a competência técnica, didática e a dimensão filosófica que se exige para que se efetive a aprendizagem de modo significativo”, sentencia.

Adriana Tanese conta que, nos EUA, é possível encontrar sites que disponibilizam, por 38 dólares anuais, material para os pais de homeschoolers. São conteúdos já organizados por disciplina e série, que vêm com texto, perguntas e respostas. “Por um tempo, usei esse material, mas acrescentei um livro sobre religiões e outro sobre filosofia.

detalha a psicanalista. Beatriz concorda: “Como minha mãe me conhece melhor do que uma professora, ela podia me dar

tarefas que c o m b i n a v a m mais comigo e meus interesses, como coisas de arte e história da arte que eu gostei muito de fazer”, exemplifica.

Focar mais nos assuntos de interesse da criança, contudo, é uma questão delicada que requer equilíbrio. Sandra Amaral, coordenadora do curso de pedagogia da Faculdade Pitágoras, elogia o incentivo às aptidões dos alunos, mas sem deixar que estudem áreas de menos afinidades, uma vez que o interesse pelos assuntos depende da forma como eles são apresentados. “Penso que o erro da escola na atualidade, contudo, está no fato de que os alunos devem ser bons em todas as áreas, indistintamente, e isso é verificado nos processos avaliativos”, reconhece.

os resultadosO Instituto Nacional de Pesquisas em Educação Doméstica

americano divulga que os estudantes educados em casa, normalmente, pontuam de 15% a 30% mais do que alunos de escolas públicas em testes de desempenho acadêmico. Esses resultados, continua o instituto, são independentes do nível educacional dos pais ou da renda familiar, assim como nada tem a ver com o fato dos tutores serem ou não certificados como professores.

LegislaçãoA legislação brasileira já viu três projetos de deputados federais tentarem legalizar a educação doméstica, mas nenhum obteve êxito. O mais novo deles é de autoria do deputado Lincoln Portela (PR). “O projeto está na Comissão da Educação com parecer favorável, aguardando para ir para análise e votação da Câmara”, informa o deputado. Mas, na opinião da pesquisadora de homeschooling Maria Celi Chaves Vasconcelos, pós-doutora pela Universidade de Minho (Portugal), o Brasil não verá esse projeto ser aprovado tão cedo. “Existem muitas resistências a qualquer projeto de desescolarização em nosso país, até porque é muito recente a afirmação de que estamos alcançando a universalidade da educação escolar. Romper isso, com as atuais condições econômicas e sociais, seria bastante complicado, pois muitas crianças poderiam ficar fora da escola e sem educação na casa. Não haveria como controlar, ainda”, analisa.

A gente não precisa ter formação. O material já vem pronto, você vai

destrinchando-o com seu filho”,

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Como o senhor o avalia o sistema educacional bra-sileiro? A resposta consiste na visão de mundo de cada um. De um ponto de vista livre e amoroso, os pais são livres, a princípio, para educar seus filhos como assim escolherem. Os pais têm o direito e dever de escolher o local (escola ou casa), material curricular (livros, pontos de vista), associações e tudo aquilo referente à educação da criança. E o governo não deve ter poder algum para intervir, a menos que haja evidências que o jovem está sendo lesado. Esses pontos de vista são consis-tentes com o pensamento da comunidade adepta à educação doméstica, da maioria dos advogados de escolas particula-res, pensadores liberais e cristãos americanos – além de con-sistentes com a minha visão de mundo. Mesmo que o Estado decida que tem a autoridade de intervir, ele não pode garantir que uma criança será “bem educada”. Aqueles que aderem a um ponto de vista estatal, elitista, fascista, socialista, marxis-ta, neomarxista, moderno, pós-moderno ou democrático, por outro lado, acreditam que o Estado deve ter a autoridade sobre

Cientes desses números, por que, então, há tanto receio com a educação doméstica no Brasil? A pesquisadora em homeschooling Maria Celi Chaves Vasconcelos responde: “A educação doméstica não é uma simples mudança metodológica ou de modalidade, mas envolve um imenso deslocamento de certezas e dúvidas, além de uma transformação radical na escolaridade vigente.” Segundo ela, seria, talvez, a primeira vez, desde que o sistema escolar foi configurado, que ele iria se modificar, de fato. “Embora durante muito tempo ainda fosse tomar os antigos modelos como parâmetro para sua organização, como ocorre em Portugal, por exemplo, onde o ensino doméstico é permitido, mas as crianças têm que ser matriculadas na escola e, ao final do ano, prestam provas presenciais para passar à série seguinte”, complementa a pesquisadora.

Já Dinara Occhiena Menezes, coordenadora do curso de Pedagogia da Faculdade Anhanguera, acredita que a resistência ao homeschooling tem muito mais a ver com uma questão cultural. Está intrínseco à mentalidade brasileira que, ao ter acesso à educação pública ou privada, os conhecimentos ensinados “garantem o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais plenas e esta capacidade assegura a realização pessoal e profissional”. É a ideia de que as crianças que atingem os níveis acadêmicos satisfatórios construirão mais facilmente suas práticas sociais e sua inserção no mercado de trabalho.

uma ideia que se torna familiarSejam quais forem os motivos para a escolha – ou ferrenha batalha,

no caso do Brasil – a educação doméstica não pode ser comparada com a tradicional no sentido de apontar qual é melhor ou pior. Trata-se de indicar quais são os pontos positivos e negativos em ambos os métodos. De qualquer modo, aos poucos, o país já começa, pelo menos, a questionar o homeschooling.

Além do recente caso dos irmãos Davi e Jonatas, de 19 e 18 anos, que saíram da escola antes de concluir o ensino fundamental, foram educados em casa pelos pais e ganharam, só no ano passado, conforme divulgado por jornais da época, mais de 30 mil reais como prêmio em concursos de conhecimento, já há uma forma de homeschooling muito mais próxima que parece passar invisível a alguns olhos – a educação a distância.

Ela está intimamente ligada à educação doméstica brasileira, uma vez que foi a educação a distância a responsável por resgatar a imagem da casa como ambiente de estudo (assim como já foi no final do século XIX) e porque serve de ferramenta de aprendizagem para o homeschooling. “Em todos os contextos de educação básica que eu observei, sempre havia livros, programas, módulos, aulas, chats de educação a distância sendo usados pelas crianças e jovens, seja acompanhando uma programação formal e integral de EaD, seja complementando a aprendizagem ou tirando dúvidas”, revela a pós-doutora no tema Maria Celi Chaves Vasconcelos.

Mas se tem um ponto em comum entre pedagogos e outros profissionais da educação, contra ou favor, é como a educação doméstica se aplicaria a uma realidade que tem 12,9 milhões de analfabetos e 30,5 milhões de analfabetos funcionais, 8,6% e 20,4%, respectivamente, da população com mais de 15 anos do país. Esta, porém, é uma pergunta que nem os especialistas sabem responder exatamente.

Há mais de 30 anos sendo discutida nos Estados Unidos, a educação doméstica é legalizada nos 50 estados americanos, ainda que cada um tenha suas próprias regras a respeito. Um dos maiores pesquisadores do tema é o Ph.D. em Ciências da Educação Brian D. Ray. Presidente do Instituto Nacional de Pesquisas em Educação Doméstica americano (National Home Education Research Institute, em inglês), Dr. Ray estuda o tema há 25 anos. Nesta entrevista exclusiva à BIANCHINI, ele fala pela primeira vez com uma publicação brasileira e discute o sistema educacional no país, assim como a possível implantação do homeschooling.

governa o mundo”

“A mão que balança o berço é a mão que

homeschooling

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a educação infantil. O que digo a seguir é para ser histórico, ainda que muitos vão considerar polêmico: nações como a Alemanha de Hitler e, posteriormente, a Itália de Mussolini, a China de Mao e a União Soviética de Lenin e Stalin queriam/querem muito que o Esta-do fosse/seja a principal autoridade sobre a educação das crianças. De forma geral, os líderes políticos e acadêmicos que gostam de po-der e controle sabem – e muitos cidadãos comuns esqueceram – a verdade de que “...a mão que balança o berço/ É a mão que gover-na o mundo”. [Referência ao poema do escritor americano William Ross Wallace que glorifica a maternidade como a força capaz de mudar o mundo]

Muitos educadores brasileiros são contra a educação doméstica por diferentes razões. Por que os especialis-tas têm resistência ao método? Muitos profissionais e educa-dores do Estado, provavelmente, são contra a educação conduzida pelos pais pelos mesmos motivos que muitos nos Estados Unidos eram 30 anos atrás e alguns ainda são. Primeiro – Eles desconhe-cem a história da educação, da filosofia e da efetividade do homeschooling. Por exemplo: 1. Eles não sabem que todas as formas de educação, seja pública, privada ou domés-tica, são baseadas em ensino, treinamento e doutrinação das crianças. 2. Por milha-res de anos, a humanidade progrediu e teve muitas sociedades e culturas que eram, rela-tivamente, felizes e bem sucedidas sem a ins-titucionalização do ensino. 3. Trinta anos de pesquisas mostram que crianças educadas em casa apresentam desempenho acadêmi-co, social, emocional e psicológico acima da média, ou na média, quando comparadas a crianças que estuda-ram em escolas convencionais. Segundo – Os profissionais preferem que as crianças estejam em suas salas de aula para doutriná-las de acordo com seus valores, crenças e pontos de vista. Terceiro – Muitos educadores se sentem insultados que pais típicos – sem treinamento universitário ou certificados pelo Estado – possam desempenhar o ensino tão bem quanto eles. Quarto – Muitos profissionais temem perder patrocínio para suas escolas particulares e perderem seu em-prego, se mais famílias aderirem à educação doméstica.

Como foi o processo de legalização do método nos Esta-dos Unidos? Na primeira metade dos 200 anos de nossa história re-cente, os pais americanos eram livres para educarem seus filhos como quisessem. Era seu direito e dever. No final dos anos 1800, algumas pessoas influentes (de diferentes pontos de vista) começaram a promo-ver a ideia de que “profissionais e especialistas em educação” deveriam controlar a educação infantil e que o Estado deveria estar no controle do processo. Eles queriam implantar leis que forçassem a presença obri-gatória nas escolas, criassem instituições de ensino público e assim por diante. Essa visão estatal/socialista/elitista/humanista chegou a pre-gar que a única forma de educar fosse em escolas públicas do Estado. Isso chegou à Suprema Corte dos Estados Unidos e, em 1925, a Corte de-cidiu que o Estado não poderia obrigar as crianças a frequentarem suas

escolas. Em alguns dos 50 estados americanos, a educação doméstica nunca chegou a ser ameaçada. A meu ver, o direito dos pais educarem seus filhos sempre foi um direito reconhecido por Deus e honrado pela Constituição dos Estados Unidos.

Como a educação doméstica pode ajudar um país em de-senvolvimento como o Brasil? Veja todas as minhas pesquisas e as de outros. O Brasil deveria receber bem crianças e jovens educados em casa que, em geral, estão acima da média acadêmica, social, emocional e psicológica, e em termos de envolvimento cívico, com a comunidade e na obediência da lei. Todas as evidências mostram que educados em casa se tornam cidadãos mais felizes, trabalhadores, produtivos, bons vizinhos e obedientes à lei do que aqueles que frequentaram a escola pública. Pessoas educadas em casa, em média, são mais motivadas, pró-ativas e parecem ter um aproveitamento um pouco melhor na uni-versidade. Os pais americanos adeptos do homeschooling economizam cerca de 23 bilhões de dólares, anualmente, para o Estado.

É possível ter educação doméstica em um país com baixos níveis educacio-nais e, consequentemente, com pais defasados culturalmente? Primeiro, a grande maioria dos pais que não são capazes de educar os próprios filhos, ou não quise-rem, não escolherão a educação doméstica, portanto, ninguém deve temer essa falácia. Segundo, minhas pesquisas e experiência (como professor em escola e universidades) mostram que o filho de um pai com baixo nível educacional, mas que seja alfabetizado e, deliberadamente, escolhe educar a criança

em casa, será melhor acadêmica e socialmente do que se o jovem fosse colocado em uma escola pública média ou ruim. Muitos pais americanos com baixo nível educacional e orçamentário educam seus filhos em casa com sucesso.

Há algo negativo na educação doméstica, em sua opi-nião? Por um lado, essa é uma pergunta filosófica, por outro, em-pírica. Começarei pelo último. Não há nenhuma pesquisa que sugira qualquer efeito negativo associado ao ensino doméstico. Não há nem mesmo evidências de correlação negativa, quem dirá de evidências de causa-efeito. Mas aqui está o aspecto filosófico e mais importante: se o Estado quiser que todos os jovens adultos, depois do ensino mé-dico, façam parte dos índices de analfabetismo, bullying e uso ilegal de álcool, drogas e pornografia, então, deverá forçar todas as crianças a frequentar a escola pública. Caso ache que seus cidadãos podem se sair melhor que a média, então o Estado deveria encorajar seus pais a escolher livremente a melhor forma de educar seus filhos. Centenas de milhares de pais e professores de alunos de escola pública (assim como de escolas particulares) negligenciam ou abusam de suas crianças. Isso acontece, e é muito triste e trágico, mas leva a outra discussão: geral-mente, onde a criança está mais segura, junto a suas famílias ou nas instituições de ensino? A maioria dos educadores e pessoas envolvidas no sistema de ensino não querem investigar ou falar sobre isso.

Nações como a Alemanha de Hitler queriam muito que

o Estado fosse a principal autoridade

sobre a educação das crianças