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CONTROLE GERENCIAL PARA ENTIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA JOSÉ FRANCISCO RIBEIRO FILHO Monografia submetida à Comissão Julgadora do 2° Prêmio STN de Monografia (1997) - Ministério da Fazenda Escola de Administração Fazendária ESAF - Diretoria de Cooperação Técnica e Pesquisa. Setembro 1997

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CONTROLE GERENCIAL PARA ENTIDADES DA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

JOSÉ FRANCISCO RIBEIRO FILHO

Monografia submetida à ComissãoJulgadora do 2° Prêmio STN deMonografia (1997) - Ministério daFazenda Escola de AdministraçãoFazendária ESAF - Diretoria deCooperação Técnica e Pesquisa.

Setembro 1997

SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO..................................................................................... 03

1.1-Definição do Problema................................................................ 05

1.2-Metodologia................................................................................ 09

1.3-Justificativa................................................................................. 09

2 - REVISÃO DA LITERATURA................................................................ 11

2.1-Entidades da Administração Pública.............................................. 11

2.2-Contabilidade Gerencial................................................................ 16

2.3-Sistemas de Informações Gerenciais............................................... 25

2.4-Apuração e Interpretação do Resultado Operacional........................ 30

2.5-A Abordagem da Gestão Estratégica de Custos................................. 38

2.6-A Abordagem do Sistema de Informação de Gestão Econômica ...... 42

3 - PROPOSIÇÃO PARA UM AMBIENTE DE CONTROLE GERENCIAL.. 49

3.1-O Sistema SIAFI............................................................................ 51

3.2-Indicadores de Produtividade de Projetos/Atividades....................... 58

3.3-Definição do Sistema não Formal de Informações........................... 63

3.4-Sistema de Informações de Gestão Econômica-GECON.................. 65

4 - CONCLUSÕES......................................................................................... 68

5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................ 72

1-INTRODUÇÃO

MUITAS SÃO, Ó SENHOR MEU DEUS, AS MARAVILHAS QUE TENSOPERADO PARA CONOSCO. OS TEUS PENSAMENTOS NÃO SEPODEM CONTAR DIANTE DE TI; EU QUISERA ANUNCIÁ-LOS, EMANIFESTÁ-LOS, MAS SÃO MAIS DO QUE SE PODEM CONTAR. SALMO 40:5

A Administração Pública brasileira sofreu modificações significativas, quanto à

sistemática de captação, modelagem de dados e evidenciação de informações com a

operacionalização do SIAFI-Sistema Integrado de Administração Financeira do

Governo Federal, desde 1986.

As mudanças de paradigmas passam a influenciar, positivamente, também o

controle da execução orçamentária e financeira de Estados e Municípios com a

implantação do SIAFEM. Parte-se de uma visão de auditoria, acompanhamentos e

análises normalmente defasados e sem possibilidades efetivas de correções e

aperfeiçoamentos, para uma perspectiva de gestão integral das finanças públicas em

tempo real.

Temas antes pouco prováveis na Administração Pública como Planejamento e

principalmente Controle Gerencial, assumem uma dimensão de praticabilidade para o

curto-prazo e já demandam respostas urgentes na disponibilização de ferramentas

conceituais, cristalizadoras das hipóteses de mensuração da eficiência, eficácia,

produtividade e efetividade, da gestão de recursos públicos no Brasil.

O mandamento Constitucional da Economicidade, quando das análises das

ações de ordenadores de despesas públicas, encontra sentido prático e objetivo na

construção de uma visão de accountability para as Prestações de Contas: o

Cidadão/Usuário/Cliente colocado como foco de interesse - sua satisfação, fidelidade

e demanda por serviços - dos Sistemas de Informações Contábeis Gerenciais das

Entidades da Administração Pública no Brasil.

Outros condicionantes, além do amadurecimento dos sistemas informatizados

com a oferta de informações em vários níveis como é o caso do SIAFI e SIAFEM,

que orientam as mudanças profundas vivenciadas pela nossa sociedade na

estruturação de uma nova postura de gestão pública, estão presentes nestes anos 90.

Como exemplo e na tentativa de melhor caracterizar o ponto focal deste estudo, cita-

se:

a) O possível esgotamento de um modelo de Estado provedor em larga escala de

necessidades e demandas sociais sempre crescentes e em nível cada vez mais

sofisticado, levando à uma redefinição de papel;

b) A Globalização, enquanto fenômeno indutor da busca de alternativas para a

redução de Custos de atividades e processos das Organizações, na medida em que

evidencia ineficiências e desperdícios de Entidades que não se orientam pelo

princípio do menor custo para a máxima qualidade de serviços prestados ou

produtos vendidos; e

c) A estabilidade da nossa moeda recolocando o conceito de valor e unidade de

conta, além de internalizar uma atitude óbvia, porém quase esquecida nos últimos

30 anos pelos agentes econômicos no Brasil, que imprimir dinheiro simplesmente é

ilusório pois nada é gratuito e depende da velha combinação de fatores de

produção para se materializar e, assim, ser consumido.

É neste ambiente econômico de oferta limitada de recursos, centrado na

excelência da prestação de serviços, que consolida procedimentos de Prestação de

Contas de Gestores Públicos em bases mais efetivas, que busca a construção do

Estado Gerencial como novo paradigma de gestão pública, que este estudo se insere.

Uma discussão sobre modelos de Sistemas de Informação sobre a

Administração Financeira Pública com enfoque na Contabilidade Pública Gerencial,

que permita lançar luzes sobre alternativas praticáveis para a mensuração e avaliação

do desempenho de entidades da administração pública, como forma de garantir a sua

continuidade em uma economia aberta, é o interesse maior desta monografia.

1.1-Definição do Problema

Os sistemas de informações contábeis são estruturados com o objetivo de

prover informações úteis e tempestivas aos usuários, auxiliando-os no processo de

tomada de decisões. Todos os eventos econômicos de receitas, despesas, custos,

investimentos, perdas, etc. que afetam o patrimônio de determinada entidade, são

sistematicamente captados, mensurados, tratados e evidenciados, especialmente para:

a) Permitir o conhecimento da evolução patrimonial da entidade, aos usuários

externos;

b) Viabilizar a comparabilidade de categorias de eventos econômicos, entre entidades

distintas; e

c) Construir e evidenciar indicadores e medidas do desempenho econômico-financeiro

da entidade, funcionando com um painel de controle para o gestor, permitindo a

avaliação de sua performance e consolidando o caminho da continuidade

organizacional.

As técnicas contábeis voltadas aos objetivos a e b, na medida em que o

interesse seja os usuários que não participam do dia-a-dia dos negócios da entidade,

aqui considerados usuários externos, são tratadas no campo da Contabilidade

Financeira. Já as técnicas contábeis destinadas à construção dos objetivos agregados

na letra c, considerando que visam os Gestores da entidade, assim considerados

usuários internos, são tratadas no campo da Contabilidade Gerencial.

A propósito desta distinção, assim se expressa GARRISON(1988, p. 3):

Contabilidade Gerencial está voltada para oferecerinformações para os gerentes - isto é, aqueles que estão do ladode dentro da organização e estão dirigindo e controlando suasoperações. Contabilidade Gerencial pode ser contrastada com aContabilidade Financeira, que objetiva prover informaçõespara acionistas, credores, e outros do lado de fora daorganização.

Controlar, no sentido de acompanhar indicadores de performance das

atividades organizacionais e implementar correções eventualmente necessárias de

procedimentos, é parte relevante das funções de Gestores. Oferecer elementos que

possam traduzir a performance e o desempenho da Organização, a partir das decisões

tomadas pelos Gestores, é missão da Contabilidade Gerencial.

DOMINIAK & LOUDERBACK(1994, p. 7), oferecem uma estrutura que

retrata esse elo de interesses entre os Gestores e a Contabilidade, identificado como

Processo Contábil:

1-Formalizar Planos de Resultados

2-Desenvolver Orçamentos e Demonstrações Contábeis

3-Coletar os resultados de Receitas, Despesas, Ativos, Lucros

4-Relatar a Performance

O relato da performance, no sentido de desempenho organizacional, retro-

alimenta o ciclo oferecendo elementos para o Gestor orientar novos planos de

resultados ou refazer os existentes.

A produção de indicadores de desempenho, o desenho de sistemas de

informações contábeis-gerenciais, a confecção de cadernos de resultados e

performance da gestão, a mensuração e o relato da eficiência, eficácia, produtividade

e efetividade, visando à definição de um ambiente de Controle Gerencial praticável e

útil, é o desafio presente da Contabilidade, quando o alvo são as Entidades da

Administração Pública.

O painel de controle proposto para as Entidades da Administração Pública,

deve ser tal que permita uma organização e visualização, como em um mapa ou

fotografia, do trabalho que se processou no período de um ano, por exemplo, bem

como de acontecimentos que se sucederam em uma velocidade e desagregação

impossíveis de leitura e interpretações individuais.

Nas entidades com fins lucrativos ou onde seja possível a apuração de uma

linha de resultado esta capacidade de síntese informacional atinge seu ponto mais

elaborado, com a evidenciação da linha de lucro ou prejuízo operacional.

Com a mensuração e evidenciação do resultado operacional, a Contabilidade

consegue conceber um elemento de comparação de fácil leitura, para que as decisões

sobre as medidas de sucesso da gestão sejam estruturadas.

Os Sistemas de Informações Contábeis estruturados e mantidos para as

Entidades da Administração Pública, com fulcro na lei 4.320 de 17/03/64, não

fornecem indicadores de desempenho gerais fruto da convergência de várias

informações da execução orçamentária da gestão, que propicie um panorama da

eficiência, eficácia, e produtividade, orientadores e definidores de um Controle

Gerencial efetivo.

ANTHONY e HERZLINGER(1980, p. 35) observam a importância das

medidas-síntese para a gestão, nos seguintes termos:

Em uma organização orientada para o lucro, a sua quantiafornece uma medida geral da eficiência e eficácia. Em muitasnão voltadas, no entanto, os outputs não podem ser medidos emtermos quantitativos, em razão de muitas organizações sem finslucrativos terem múltiplos objetivos, e não existir umaalternativa praticável de se combinar as medidas de muitosoutputs, cada um dos quais voltados para acompanhar umdaqueles objetivos, expresso em um número simples que traduzaa eficácia geral da organização. A ausência de uma medidasatisfatória, simples e geral da performance, comparável àmedida do lucro é o mais sério problema do controle gerencialnas entidades sem fins lucrativos. O problema não é aausência do motivo do lucro e sim a ausência da medição dolucro.

A idéia de Controle Gerencial para entidades da Administração Pública, sem

fins lucrativos, concebido como um sistema necessário à avaliação do desempenho e a

estruturação desse sistema a partir de indicadores agregados que facilitem a leitura e

interpretação dos rumos organizacionais, surge das próprias peculiaridades dessas

entidades quando se relacionam com o meio externo.

Ainda segundo ANTHONY e HERZLINGER(1980, p. 34), as entidades sem

fins lucrativos apresentam as seguintes características:

1-A ausência do lucro como uma medida;2-A sua tendência para serem organizações prestadoras deserviços;3-Confronto entre as metas e as estratégias;4-Menor dependência de clientes para um suporte financeiro;5-A dominação de profissionais;6-Atuação do Conselho de dirigentes;7-Descontinuidades administrativas;8-Importância de Influências políticas;9-Uma tradição de Controle Gerencial inadequado

Com a operacionalização do SIAFI-Sistema Integrado de Administração

Financeira do Governo Federal e do SIAFEM para os estados e municípios, a

disponibilização dos dados da execução orçamentária e financeira dos projetos e

atividades a cargo das entidades da Administração Pública, já se encontra

equacionada.

A questão, portanto, estaria na estruturação conceitual de indicadores do

desempenho econômico, financeiro, físico e de produtividade para essas entidades,

calculados e evidenciados a partir do ambiente SIAFI/SIAFEM, de maneira a

viabilizar os seguintes aspectos inerentes ao Controle Gerencial:

a) Oferecer ao Gestor da entidade elementos que traduzam o cumprimento de metas;

b) Permitir o estabelecimento de medidas, de fácil leitura e interpretação, que

traduzam a eficiência e eficácia da gestão;

c) Oferecer um caderno de desempenho por área de responsabilidade, permitindo ao

gestor a construção de cenários de decisão para otimização na alocação de

recursos;

d) Permitir o cálculo e evidenciação da produtividade de projetos e atividades,

incentivando a concepção de práticas de gestão inovadoras;

e) Introduzir e manter um ambiente interno de avaliação permanente que seja

mantenedora da continuidade organizacional.

Este estudo, a partir de levantamento na literatura técnica sobre sistemas de

informações contábeis, modelo conceitual de gestão econômica, indicadores de

desempenho e avaliação de performance, mensuração de resultados, estrutura e

funcionamento do sistema SIAFI, visa, portanto, identificar alternativas conceituais

praticáveis e úteis voltadas à construção de um ambiente de Controle Gerencial para

Entidades da Administração Pública, em um contexto de contribuição para a

estruturação da Contabilidade Pública Gerencial, como campo de aplicação

profissional novo e desafiador.

1.2-Metodologia

Considerando os propósitos da pesquisa já caracterizados na definição do

problema, será feito um estudo exploratório na bibliografia sobre sistemas de

informações gerenciais e contábeis, indicadores de desempenho, contabilidade

gerencial, contabilidade governamental, estrutura e funcionamento do SIAFI, de

forma a identificar informações sugestivas, estruturadoras de um modelo de

contabilidade gerencial passível de aplicação nas entidades da administração pública.

Será considerada a perspectiva do ambiente SIAFI, como a base de dados

geradora dos elementos necessários à definição de um painel de controle gerencial,

que possa ser utilizado pelos gestores das entidades, na sua missão de otimizar

recursos escassos com prestação de serviços de qualidade.

1.3-Justificativa

A Folha de São Paulo de 06 de maio de 1997 trouxe um artigo de opinião

assinado por Herbert de Sousa, intitulado Balanço Social nas Empresas Públicas,

que traduz muito das expectativas e do cenário representativo que justificam este

estudo.

Escreve Betinho:

O lançamento do Balanço Social já tem data marcada: 18 dejunho. (...) A idéia é demonstrar quantitativa e qualitativamenteo papel desempenhado pelas instituições no plano social. Issoinclui os aspectos internos e as relações da empresa com acomunidade local. Vários são os itens de verificação: educação,saúde, atenção à mulher, preservação do meio ambiente,contribuições para a melhoria da qualidade de vida e detrabalho dos funcionários, desenvolvimento de projetoscomunitários, erradicação da pobreza, geração de renda ecriação de postos de trabalho. (...) O Balanço Social foi,inicialmente, idealizado para a iniciativa privada. (...) Agora, échegado o momento de orientar a proposta para as empresaspúblicas - municipais, estaduais e federais. Enfim, todas asinstituições públicas que atuam na sociedade: as prefeituras,governos estaduais e respectivas secretarias, universidades eorganizações não-governamentais. O modelo para a coleta dedados de atuação social é o mesmo das privadas. A diferençaestá na cobrança, inevitavelmente maior na esfera pública. (...)

A sociedade, proprietária e cliente das entidades públicas colocada, também,

como usuária externa das informações sobre a gestão, demanda um aperfeiçoamento

constante da efetividade dessas organizações. Por outro lado, os Gestores Públicos

precisam contar com elementos de informação sobre o andamento da gestão, de

forma a poder implementar correções que visem a economicidade crescente, no

cotidiano da entidade.

A Contabilidade, enquanto Ciência Social, dispõe de repositório conceitual

bastante avançado, que permite inferências e proposições para campos de aplicação

específicos, de acordo com a necessidade ditada pela evolução da sociedade.

A manutenção de um sistema de informações gerenciais em bases contábeis

para as entidades da administração pública, com a possibilidade de construção e

evidenciação de indicadores internos de desempenho econômico, financeiro, físico e

de produtividade, é condição indispensável para o aperfeiçoamento contínuo das

entidades em consonância com os requisitos da continuidade com qualidade.

Este estudo busca justificativa, também, na possibilidade de abrir um campo de

discussão técnico-profissional com todos os envolvidos com a Contabilidade,

Orçamento, Controle Interno e Externo, Finanças e Gestão das Entidades da

Administração Pública, criando as condições para o amadurecimento de ferramentas

técnicas úteis, colocadas à disposição dos gerentes daquelas entidades.

2-REVISÃO DA LITERATURA

Este capítulo objetiva uma exposição sistemática de abordagens conceituais

necessárias à estruturação de uma possível proposta de modelo de Controle Gerencial,

direcionado às entidades da administração pública.

Inicialmente, procurar-se-á delimitar o campo de aplicação com a

caracterização da entidade; em seguida, são considerados os propósitos da

Contabilidade Gerencial, da Controladoria e dos Sistemas de Informações Contábeis;

são elencadas, também, as contribuições de modelos de avaliação do desempenho

para entidades da administração pública.

2.1-Entidades da Administração Pública

A Administração Pública compreende os meios de que se serve o Estado,

entendido como ente soberano, organizado sobre um território para fins de defesa,

bem-estar, ordem e progresso social, para efetivar o atendimento das necessidades

públicas. Todo o conjunto da estrutura patrimonial de bens, equipamentos,

tecnologias e servidores públicos, distribuídos sistematicamente em funções,

programas, projetos e atividades, submetidos à lógica da captação e aplicação de

recursos e organizados sob a égide da legalidade, impessoalidade, moralidade e

publicidade dos atos, traduz a macro-entidade denominada de Administração Pública.

Antes da Constituição Federal(CF) de 1988, concebia-se a Administração

Pública como o conjunto de todas as entidades que desenvolvem os serviços do

Estado, excluídos o Legislativo e o Judiciário. Segundo MUKAI(1989, p. 46):

Por Administração Pública visualiza-se, no entendimento damaioria dos autores (Fritz Fleiner, Otto Mayer, Adolf Merkl),“toda atividade (do Poder Público) que não ficar compreendidadentro da legislação e da justiça”. Por essa razão, quando sefala em Administração Pública, “deve-se compreender todos osórgãos que executam os serviços do Estado, excluídos oLegislativo e o Judiciário”.

No entanto, o artigo 37 da atual CF emana um mandamento mais genérico

quando menciona “A administração pública direta, indireta ou fundacional, de

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios...”.

Para a execução das atividades afetas às entidades da administração pública, os

gestores públicos devem, obrigatoriamente, se guiar por princípios definidos

inequivocamente. MUKAI(1989, p. 48), auxilia nesse entendimento:

Explicamos. A Administração Pública está sujeita (segundo adoutrina comparada) à observância de princípios básicos que,segundo Hely Lopes Meirelles, “estão consubstanciados emquatro regras de observância permanente e obrigatória para oadministrador: legalidade, moralidade, finalidade epublicidade”. Segundo Hely Lopes Meirelles, “constituem, por

assim dizer, os fundamentos de validade da açãoadministrativa”. Outros princípios, no entanto, existem, quecomumente são citados em direito administrativo, que hão deser observados na administração pública.

Precisamente delimitado, as ações dos Gestores Públicos, filtradas pelos

quatro princípios mencionados, ocorrem em um ambiente econômico-administrativo

objetivamente caracterizado, chamado de entidade.

A visão que se pretende construir se cristaliza, portanto, nas idéias expostas na

Resolução do Conselho Federal de Contabilidade-CFC no. 750/93, artigo 4o. :

O Princípio da ENTIDADE reconhece o Patrimônio comoobjeto da Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, anecessidade da diferenciação de um Patrimônio particular nouniverso dos patrimônios existentes, independentemente depertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, umasociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade,com ou sem fins lucrativos. Por conseqüência, nesta acepção, opatrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ouproprietários, no caso de sociedade ou instituição.

Colocar esta gama de entidades em marcha, de forma a atenderem às

necessidades públicas de justiça, comunicações, estradas, hidrelétricas, aeroportos,

penitenciárias, segurança, portos, cemitérios, educação, saúde, etc., demanda uma

estrutura de fazer aqui colocada como administração.

Mesmo considerando as especificidades inerentes, as ações de obter e aplicar

recursos escassos parece ser uma regra presente para qualquer entidade pública ou

privada e se inscrevem no ato de administrar.

Neste sentido, assim se expressa BARROS(1990, p. 28 e 29):

O Estado, como o homem, exerce várias atividades, váriasfunções, a fim de que possa concretizar os seus fins. O Estadoassim exerce uma atividade política, jurídica, de segurança,etc., da mesma forma o homem mantém inúmeras atividades:sociais, de lazer, culturais, etc. Entre todas estas atividades nósexercemos uma função comum, que é a ATIVIDADE

FINANCEIRA. A Atividade Financeira do Estado resume-se,portanto, em: obter, despender, gerir e criar, que correspondemà Receita Pública, Despesa Pública, Orçamento e CréditoPúblico, respectivamente.

Uma entidade da administração pública, portanto, está submetida à regra da

escassez de recursos de forma que otimizar esses recursos no cumprimento das ações,

é tarefa fundamental do gestor.

Os atos praticados pelos Gestores Públicos, visando a consecução da missão

da entidade sob sua responsabilidade, são passíveis de controle quanto à legalidade,

legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, pelo

Congresso Nacional através do controle externo e pelo sistema de controle interno de

cada poder (artigo 70 da CF/88).

Assim entendido, cada entidade que compõe a macro-entidade Administração

Pública se particulariza, em função da missão a cumprir, em um mercado de prestação

de serviços específico, com demandas e necessidades de clientes passíveis de

avaliação permanente.

Nas entidades da administração pública as ações de obter, despender, gerir e

criar recursos, inerentes à atividade financeira, são registradas em Sistema de

Contabilidade Pública com base na lei federal 4.320 de 17/03/64. Assim comanda o

artigo 85 da mencionada lei:

Os serviços de contabilidade serão organizados de forma apermitir o acompanhamento da execução orçamentária, oconhecimento da composição patrimonial, a determinação doscustos dos serviços industriais, levantamento dos balançosgerais, a análise e a interpretação dos resultados econômicos efinanceiros.

Para a área federal o Decreto 93.872 de 23/12/86 estabelece em seus artigos

130 e 136, o seguinte:

A contabilidade da União será realizada através das funções deorientação, controle e registro das atividades de administraçãofinanceira e patrimonial, compreendendo todos os atos e fatos

relativos à gestão orçamentário-financeira e da guarda ouadministração de bens da União ou a ela confiados.

A contabilidade deverá evidenciar, em seus registros, omontante dos créditos orçamentários vigentes, a despesaempenhada e a despesa realizada à conta dos mesmos créditos,as dotações disponíveis e os recursos financeiros programados.

Todos os eventos derivados da execução orçamentária, financeira e

patrimonial da União, se processa através do SIAFI-Sistema Integrado de

Administração Financeira do Governo Federal, implantado de acordo com as

Instruções Normativas da Secretaria do Tesouro Nacional/MF números 022 e 024 de

22 e 29 de dezembro de 1986, respectivamente.

A propósito do SIAFI, comentam PISCITELLI et al.(1990, p. 159):

No que se refere à contabilidade, é objetivo do SIAFI criar ascondições para que os órgãos de contabilidade analíticarealizem seus trabalhos de forma mais efetiva, permitindo queos recursos humanos disponíveis sejam alocados na análise econtrole das saídas contábeis, e não no registro das entradas(escrituração).(...)Constitui ainda objetivo permitir que a Contabilidade Públicaseja fonte segura e tempestiva de informações gerenciais paratodos os níveis da Administração. (o grifo não está no original).

Assim o sistema de contabilidade das entidades da administração pública,

mantido através do SIAFI, permite o processamento em larga escala de uma grande

massa de dados referentes à entidade União Federal sem, contudo, descaracterizar a

disponibilização para cada entidade(Unidade Gestora) em particular, seja uma

Universidade Pública ou uma Agência de Desenvolvimento Regional, com a grande e

importante possibilidade de se desenvolver medidas do desempenho gerencial de cada

entidade, de acordo com suas características.

A esse respeito, comenta SILVA(1992, p. 327):

Na seqüência do uso do sistema as UG [Unidades Gestoras]devem manter um setor capaz de realizar esse tipo de

acompanhamento, ou seja a análise puramente contábil, pois acada dia se terá uma posição atualizada da Contabilidade dessaUG e se porventura algum lançamento for realizadoincorretamente deve ser imediatamente procedido seu acerto, deforma a possibilitar uma informação gerencial correta e útil.

SIAFI poderá se tornar, rapidamente, em um sistema utilizado por todas as entidades

da administração pública a nível dos poderes da União, Estados e Municípios. A

experiência de operacionalizar um sistema de processamento eletrônico de dados em

um país de dimensões continentais como o Brasil, com as operações de execução

orçamentária sendo registradas on-line e em tempo real, com visíveis

benefícios no exercício das funções de controle das finanças públicas, é um capítulo

muito importante e especial na história recente da administração pública brasileira.

Nos últimos 11 anos operou-se uma alteração substancial dos paradigmas

estruturadores do controle nas entidades da administração pública. De uma

perspectiva apenas remota de controle, consolidou-se uma possibilidade gerencial do

controle.

Todo esse cabedal de experiências de desenvolvimento e manutenção de

sistemas, que constitui patrimônio da nação, a cargo de entidades da administração

pública federal, está sendo colocado à disposição de Estados e Municípios através do

SIAFEM-Sistema Integrado de Administração de Estados e Municípios, com a

mesma possibilidade de se estruturar o controle gerencial nas entidades da

administração pública estaduais e municipais.

2.2-Contabilidade Gerencial

A expressão Contabilidade Gerencial pretende traduzir a função da

contabilidade envolvida com a produção de informações que possam auxiliar os

gerentes nas suas atividades de alocação de recursos, identificação de processos

ineficientes, eleição de mix de serviços ou produtos, avaliação do desempenho de

unidades, maximização do retorno dos recursos alocados enfim, auxiliar no processo

de tomada de decisões dos gerentes.

O contador gerencial portanto, é o profissional responsável pela identificação

do perfil decisório do gerente, sua necessidade por informações sob medida, de forma

que possa estruturar e oferecer um rol de indicadores que traduzam, de forma

resumida e sistemática, os procedimentos complexos que decorrem da movimentação

dos recursos da entidade na busca dos seus objetivos.

É importante tornar claro que o papel da contabilidade é manter o sistema de

informações contábeis produzindo informações úteis e tempestivas, sendo que o papel

de tomar decisões é exclusividade do gerente. O Contador Gerencial, enquanto tal,

não é o tomador de decisões com relação aos negócios da entidade.

A propósito desta separação de papéis, comenta CHAMBERS(1969, p. 3 e 4)

É muito importante, no meu ponto de vista, que haja umarelação independente de autoridade. Informações disponíveis eadequadas são apenas uma parte das condições para decisõesem negócios ou ações corretivas; contabilidade seria entendidacomo um serviço que disponibiliza informações segurasofertadas aos executivos sobre os problemas queenfrentam.Contabilidade não é uma função de tomada-de-decisão, e os Contadores não são tomadores-de-decisões comrelação ao conjunto da entidade, seriam com relação asoperações de seus próprios departamentos.

Nesse sentido, se referir a uma Contabilidade Gerencial poderia causar um

certo embaraço na identificação de funções. São ainda de CHAMBERS(1969, p. 5),

os seguintes comentários:

O que poderia ser considerado um exemplo clássico daconfusão entre gerência e contabilidade é a concepção geral de“contabilidade gerencial” e “contador gerencial”. Autores que

têm utilizado os termos nos últimos cinco anos, mostraram-serelutantes em discutir as implicações do uso do adjetivo“gerencial”; eles preferiram usar algum outro adjetivointeiramente livre de potenciais desentendimentos e insinuações.

A questão relevante seria caracterizar o termo em função da atitude do

profissional envolvido. IUDÍCIBUS(1991, p. 17), faz o seguinte comentário:

Se nos perguntassem qual os quais as características quedistinguem o bom contador gerencial de outros profissionaisligados à área de contabilidade, diríamos que a fundamental ésaber “tratar”, refinar e apresentar de maneira clara, resumidae operacional dados esparsos contidos nos registros dacontabilidade financeira, de custos etc., bem como juntar taisinformes com outros conhecimentos não especificamente ligadosà área contábil, para suprir a administração em seu processo

decisório. Um contador de custos tradicional, por exemplo, quenão tenha sido exposto à ênfase da contabilidade gerencial, aoapurar as variações entre custo orçado e real, limitar-se-ia ainformar tais variações e a incluí-las ou não na demonstraçãode resultados. Um contador “com mentalidade gerencial” vaiutilizar tais variações, até o extremo grau possível de detalhe,para tentar enveredar um início de contabilidade porresponsabilidade ou, pelo menos, para discernir quais as áreasque merecem uma investigação maior, por causa das variaçõesapuradas.

Imagina-se, portanto, profissionais com atitude de contador gerencial

integrando um setor de Controladoria na entidade, destinado à combinação criativa

de dados contábeis com outros dados, para a montagem e oferecimento de

informações interessantes e úteis, que permitam aos Gestores imprimir a direção

adequada nas relações entre a Entidade e os seus Usuários/Clientes.

Cabe à Controladoria da entidade uma identificação de possíveis Centros de

Responsabilidade ou de Resultados, como que mapeando as funções da entidade, para

uma adequada estruturação do processo de avaliação do desempenho organizacional.

A questão se vincula às especificidades desses Centros, segundo concepção de

CAMPLIGLIA & CAMPIGLIA(1994, p. 367):

Faz-se mister acompanhar e medir o desempenho de cada umadessas unidades separadamente, para que possam isolarinformações que permitam corrigir desvios na atividadeespecífica que deva sofrer ação corretiva, no ponto certo dessaatividade e da forma mais adequada. De nada adianta somenteavaliar a empresa como um TODO e chegar à conclusão geralde que ela vai bem ou de que não vai bem.

Raciocinando com uma entidade da administração pública, um hospital por

exemplo, poder-se-ia imaginar Centros de Resultados em enfermarias, centros

cirúrgicos, clínicas especializadas, etc., de forma a estabelecer indicadores específicos

tradutores da eficiência e eficácia da unidade.

O Controller - talvez um designativo mais adequado do que Contador

Gerencial - de uma entidade da administração pública, enfrenta uma dificuldade

adicional pois a avaliação de um Centro de Resultado passa pelo confronto da receita

obtida com os gastos efetivados no esforço de prestação de serviço.

Enquanto nas entidades de fins lucrativos a despesa é a quantificação do

esforço despendido na obtenção da receita, nas entidades da administração pública a

receita não se vincula com a despesa, que é aplicada visando atingir benefícios de

natureza social.

São de FERNANDES(1996, p. 440) as observações seguintes:

Quando se fala em avaliação do resultado social, a tendêncianatural - principalmente advinda de nossos administradorespúblicos - é utilizar-se de parâmetros totalmente subjetivos,embora mensurados quantitativamente: criou-se tantos milempregos diretos e outros tantos mil indiretos; a incidência detal doença reduziu-se em tantos por cento, etc.Existe uma resistência natural a modelos quantitativos paramensuração do resultado social. Entretanto, embora aavaliação, aqui, se prenda a aspectos subjetivos, e portanto, denatureza qualitativa, medidas quantitativas devem ser aferidas.A avaliação do resultado social é a medida de como a entidadeou o órgão desenvolve a sua atividade fim. São medidas que

buscam quantificar até que ponto os meios desempenhamsatisfatoriamente suas funções a fim de se atingir a eficácia.A partir de dados extraídos dos demonstrativos contábeis e deoutros dados complementares, de natureza interna, mas tambémdisponíveis na Contabilidade, deve-se levantar indicadoresnesses dois sentidos:

- mensuração da eficiência; e - mensuração da eficácia.

Nesse ponto, torna-se relevante estabelecer precisamente o entendimento em

bases conceituais, da idéia de controle gerencial necessária para a configuração dos

sistemas de informações gerenciais em bases contábeis para entidades da

administração pública.

O entendimento, aqui considerado relevante, é colocado por

GOMES(1983, p. 29) nos seguintes termos:

Na literatura relativa ao comportamento organizacional há umaambigüidade no uso da palavra Controle. A confusão torna-se

muito grande porque controlar pode significar também dirigir.Precisamente definido Controle refere-se somente à tarefa deassegurar que as atividades produzam os resultados desejados(o grifo não está no original); controle nesse sentido é limitadoa monitorar o produto das atividades revendo o “feedback” dainformação a respeito deste produto e se necessário, tomandoação corretiva.

A Controladoria , entendida como unidade da estrutura administrativa da

entidade responsável pela concepção e operacionalização dos sistemas de informações

gerenciais a partir da utilização de ferramentas oferecidas no âmbito de atuação da

Contabilidade Gerencial, quando define o arcabouço das técnicas a serem manuseadas

na produção das informações ao nível das entidades com fins lucrativos, normalmente

trabalha com alternativas que dependem de:

a) Análise de Custos - com enfoque nos sistemas de acumulação; custo padrão e

análise de variâncias de custos. O objetivos visam: formação competitiva de

preços; subsidiar decisões do tipo produzir ou comprar; estabelecer indicadores da

variabilidade dos custos visando subsidiar decisões referentes ao comportamento

de itens de custos; estabelecer indicadores de ponto de equilíbrio de serviços ou

produtos e de mix visando subsidiar decisões referentes à política de preços

competitivos; estabelecer indicadores de margens de contribuição visando subsidiar

decisões referentes ao monitoramento de fatores limitantes e rentabilidade de

serviços e produtos; identificar gastos que não agregam valor aos serviços ou

produtos visando subsidiar decisões referentes à eliminação de atividades

ineficientes; estimar itens de custos visando ao planejamento do lucro da empresa

para subsidiar decisões sobre alternativas de mercado e políticas de promoção de

produtos.

b) Orçamento Empresarial - com enfoque no orçamento de disponibilidades;

orçamento de vendas; orçamento de investimentos; orçamento de compras. Os

objetivos visam: estabelecer cenários prospectivos e possíveis impactos futuros

sobre o resultado da empresa; estabelecer níveis de responsabilidades sobre

alocação de recursos com o intuito de parametrizar comportamentos nos centros

de resultado; caracterizar metas a serem alcançadas com o intuito de subsidiar

decisões sobre política de incentivos e elaboração de alternativas; parametrizar o

comportamento desejado de fornecedores de produtos e serviços visando subsidiar

decisões na política de compras; formular níveis de demanda esperado visando

orientar ações na política de vendas.

c) Análise de Investimentos - com enfoque no cálculo da taxa interna de

retorno(IRR); cálculo de séries de pagamentos, valores presente e futuro; cálculo

de taxas de juros; cálculo do retorno sobre o investimento(ROI); análise de fluxo

de caixa de investimentos. O interesse é subsidiar decisões na escolha de

investimentos mais atrativos financeiramente.

d) Análise Financeira - com enfoque no cálculo de índices de liquidez, estrutura de

capital, rentabilidade; análise vertical e horizontal; análise do ciclo financeiro;

alavancagem financeira; relatório de análise. A missão, aqui, é: subsidiar decisões

referentes à capacidade financeira da empresa; concessão de crédito; remuneração

de recursos próprios; remuneração do ativo operacional.

e) Mensuração do Resultado - com enfoque na mensuração do lucro ou prejuízo da

empresa; consideração da teoria contábil do lucro com alternativas de avaliação a

custo histórico, histórico corrigido e corrente; tratamento da contabilidade a nível

geral de preços. O interesse é: orientar os gerentes quanto ao lucro passível de

distribuição sem afetar a manutenção do capital físico e financeiro da empresa;

evidenciar o reflexo das variações do nível preços no patrimônio da empresa;

traduzir a eficiência e eficácia da empresa através de medida única.

Este conjunto de técnicas estão à serviço da continuidade organizacional, na

medida em permite um monitoramento constante das relações da empresa com o seu

mercado.

O sucesso da eficiência informacional dos indicadores produzidos a partir do

ferramental mencionado e colocado em relatórios gerenciais, feitos sob medida para o

tomador de decisões na empresa, é dependente da capacidade de se produzir

indicadores que funcionam como um resumo de operações complexas. As transações

reais são representadas em medidas, que são uma representação visível de eventos

econômicos invisíveis.

A Controladoria prepara um painel de controle da empresa, de forma que o

gerente como que acompanha a “rota”, “velocidade” e “combustível” da sua entidade.

Por outro lado, a possibilidade de se calcular outros indicadores que retratam

as várias áreas da empresa é, sem dúvida, viabilizada pela possibilidade de se calcular

uma medida com as características do lucro.

Considerando as características e o ambiente de atuação das entidades da

administração pública, as sugestões recentes para o cálculo de indicadores do seu

desempenho passam pela necessidade de se combinar medidas físicas com medidas

financeiras, permitindo a concepção de indicadores mistos. Esta perspectiva não será

nem poderá ser descartada. No entanto e considerando o espectro de possibilidades

oferecidas pela Controladoria aplicada às entidades de fins lucrativos, como sugerido

anteriormente, pensa-se a possibilidade de se estabelecer uma medida operacional-

financeira agregadora da eficiência e eficácia da entidade, como forma de tornar mais

completo um possível painel de controle para estas entidades.

ANTHONY e HERZLINGER(1980, p. 5), assim definem eficiência e eficácia:

Eficiência - é a taxa de produto por unidade de insumo, ou aquantidade de produto por unidade de insumo. A unidade Aserá mais eficiente do que a unidade B se: (1) ela usa menosrecursos do que a unidade B, mas apresenta o mesmoproduto...; ou (2) ela usa os mesmos recursos que a unidade B,mas apresenta um maior produto.Eficácia - é a relação entre os produtos de uma unidade e seusobjetivos. Quanto mais aqueles produtos contribuem para seusobjetivos, mais eficaz será a unidade (...).

Considerando a agregação da eficiência e eficácia da gestão em medidas

evidenciadoras da performance gerencial em entidades da administração pública,

pensa-se que o painel de controle deverá permitir, no mínimo, a leitura de:

a) Aderência às Normas - Se as leis e regulamentos foram cumpridos;

b) Viabilidade Financeira - A capacidade da entidade em continuar provendo os

mesmos níveis de recursos;

c) Níveis de atividade - O grau de atividade sob vários programas incluindo o custo

dos inputs e o valor dos outputs.

No entanto observam BERRY e HARWOOD(1984, p. 134):

O objetivo primário da Contabilidade Governamental e seusrelatórios é prover informações úteis par a avaliação daperformance gerencial do gestor. (...)Certas limitações da Contabilidade e seus relatórios financeirosem atingir com plenitude os objetivos de informação, precisamser identificados. As três limitações abaixo foram notadas:

1) Existência de imprecisão na informação financeira(particularmente nos demonstrativos devido ao inevitável uso deestimativas);

2) O custo de prover todas as informações necessárias parasatisfazer as necessidades de usuários individuais seguramenteexcederia o total de benefícios. Como conseqüência osdemonstrativos não satisfaria as necessidades de cada e de

todos os usuários individualmente, mas a necessidade dosusuários coletivamente.

3) O total de informações necessárias para aqueles tomadores dedecisões acerca do governo, se estende além daqueles que asinformações financeiras podem suprir. As informaçõesfinanceiras estão limitadas ao fornecimento de dados de origemeconômica e estas são apenas uma fonte do total da informaçãonecessária ao processo de tomada de decisão sobre o governo.

É interessante observar que o momento vivido pela Contabilidade de

entidades da administração pública com o SIAFI, já aponta na superação de boa

parte das limitações 1 e 2 citadas. Superar a terceira limitação, a partir de uma

concepção de sistema integrado gerencial oferecido para cada usuário

individualmente ao nível de unidades gestoras, é o desafio colocado.

Sugerindo uma aperfeiçoamento identificado como Execução Orçamentária

Gerencial da Despesa, afirma SILVA JÚNIOR(1996, p.452-3):

Sob a ótica da contabilidade gerencial no setor público, aapropriação da despesa prevista, dentro de um contexto deprograma de trabalho e centro de custo, é de fundamental

relevância para obtenção dos dados da programaçãoorçamentária. Deve-se ter disponível, para fins de registrocontábil gerencial, as seguintes informações, dentre outras:- classificação econômica da despesa, à nível de item dosprogramas de trabalho, contendo o valor solicitado, adequado(ajustado) e aprovado pelo poder legislativo;- detalhamento do programa de obras, com previsão daexecução física, prazo legal, finalidade e populaçãobeneficiada;- mensuração das metas físicas detalhadas por programas detrabalho, à nível de unidade administrativa prestadora deserviços públicos ligada a finalidade do gasto;- identificação físico-financeira de todas as alteraçõespropostas no projeto de lei, na fase de aprovação e sanção pelopoder legislativo e executivo respectivamente;- mensuração financeira a preços constantes e nominais, bemcomo série histórica, para fins de comparação das metas evalores propostos e realizados dos exercícios financeirosanteriores;

- identificação de valores, metas e programas de trabalhosvetados pelo poder executivo, objetivando reavalia-los e propormodificações para uma possível inclusão em propostasorçamentárias futuras.

Avaliar a oferta de dados da execução orçamentária já disponibilizada pelo

SIAFI, na medida em que este sistema funciona como uma base de dados de acordo

com as concepções da contabilidade financeira (que procede os registros contábeis),

parece ser um caminho natural.

Mas, considerando que o interesse maior deste estudo vincula-se à

possibilidade de se definir concepções de uma Controladoria Governamental, é

necessário, ainda, discutir conceitos de sistemas de informações gerenciais em bases

contábeis, de maneira que uma avaliação da base de dados SIAFI permita aflorar

informações sugestivas, na indicação de medidas de desempenho úteis e praticáveis

para o controle gerencial nas entidades da administração pública.

2.3-Sistemas de Informações Gerenciais

O foco de interesse neste capítulo tem sido a discussão das bases conceituais

para a estruturação dos Sistemas de Informações Contábeis voltados às necessidades

gerenciais.

Na base desta abordagem está uma concepção, algo recente, da

Contabilidade enquanto mantenedora de um processo de comunicação na

organização. O IBRACON-Instituto Brasileiro de Contadores(1988, p. 24) retrata

esta abordagem, com o seguinte conceito:

A Contabilidade é, objetivamente, um sistema de informação eavaliação destinado a prover seus usuários com demonstraçõese análises de natureza Econômica, Financeira, Física e de

Produtividade, com relação à entidade objeto de contabilização.

A adoção de tal conceito na Contabilidade Governamental implicará no

aperfeiçoamento e na ampliação dos limites da informação gerada pela contabilidade,

com a incorporação de outras dimensões do fenômeno patrimonial, até então não

contemplados.

Em realidade, a idéia de sistema implica em processo de comunicação, com

pelo menos três elementos obrigatórios:

a) Transmissor de informações;

b) Canal - demonstrações, quadros, tabelas, relatórios, gráficos, etc. e

c) Receptor de informações - usuários.

SULLIVAN(1983, p. 10-1) elabora da seguinte forma este prisma que deverá

se constituir em ferramenta para a estruturação de sistemas de informações contábeis:

As funções principais da Contabilidade são a mensuração e acomunicação. A obtenção e o fornecimento de informações.

Leitor/Ouvinte Leitor/Ouvinte Leitor/Ouvinte Leitor/Ouvinte

Julgamento do Percepção da Percepção da Percepção dasdesempenho do = comunicação do X Capacidade do Dificuldades deContador como Contador. Contador como comunicaçãoum Comunicador ESFORÇO um Comunicador

A fórmula descreve o processo em que um Leitor/Ouvintedecide sobre o desempenho de comunicação do Contador Notarque ESFORÇO, sendo multiplicado por cada uma das outras

duas variáveis, é o mais importante elemento no julgamento deuma pessoa acerca da performance de comunicação de umContador. Assim, não seria apenas o compromisso do Contadorcom uma melhor comunicação, mas o reconhecimento dosusuários da melhora.

O grau de entendimento do receptor (usuário), irá determinar a performance

da comunicação. Necessita-se, assim, do conhecimento do modelo de decisão do

usuário, para que o emissor e o canal de comunicação se estruturem no sentido de

tornar o processo de comunicação um sucesso.

Consideradas as bases mais relevantes que traduzem as idéias de informação e

comunicação, comenta-se alguns subsídios para cristalizar a expressão sistema de

informações. CUSTÓDIO(1981, p. 25), menciona:

Colocado de uma maneira inicialmente bem genérica, pode-sedizer que o processo de transformação de dados em informaçãose caracteriza como um sistema de informação. Quando esseprocesso está voltado para a geração de informações que sãoutilizadas no processo decisório na empresa, diz-se que essesistema é um sistema de informação gerencial.

Cabe ressaltar a estreita relação entre sistema de informações e o processo de

decisão gerencial. A condução efetiva da organização aos seus objetivos, função

principal da gerência estratégica, depende principalmente de um sistema de

informações simples, operativo e de baixo custo.

No entanto, a definição o desenvolvimento e a operacionalização de sistemas

de informações contábeis gerenciais, além dos requisitos técnicos, de procedimentos e

equipamentos, tem um forte componente comportamental (humano) decisivo para o

sucesso efetivo.

BIO(1987, p. 113-7), estudando o desenvolvimento de sistemas contábeis

gerenciais, observa:

(...) o fenômeno da mudança - como de resto o fenômenoorganizacional - é um fenômeno humano e não um fenômeno“técnico”. Duas hipóteses seguem-se a esta premissa:

(1) a implantação de um sistema de informação contábil-gerencialrequer um amplo processo de mudança, que envolve tarefas,planos e desempenhos de diferentes áreas e níveis hierárquicosda empresa;

(2) toda mudança organizacional (...) é um processo psico-sócio-cultural-político. É político porque afeta diferentes concepçõese relações de poder. É cultural porque lida com crenças evalores, existentes ou pretendidos. Afeta a estrutura dasrelações sociais estabelecidas e pode produzir incômodos einseguranças nos indivíduos, sendo, portanto, de naturezapsicológica e social.

Obviamente que a motivação primordial condicionadora de ações concretas

que levem ao aperfeiçoamento ou desenvolvimento de sistemas de informações

gerenciais em entidades da administração pública, passa tanto pela necessidade de

continuidade social dessas entidades, agora submetidas ao um processo globalizante

de qualidade no que fazem ou se propõem a fazer, quanto pela lógica vigente em

sociedades democráticas de que recursos escassos buscam o melhor e maior retorno

ou remuneração.

Uma concepção de sistema de informações que poderá ser útil na maturação

dos marcos teóricos aqui buscados, é apresentada por WILKINSON(1989, p. 4):

(...) o AIS (accounting information systems) - sistema deinformações contábeis é um importante sistema de informaçõesem uma organização, mas não é o único ambiente provedor deinformações. Um outro igualmente importante sistema formal éo MIS (management information system) - sistema deinformações gerenciais. Existe, também, um sistema informal deinformações. (...) esses três sistemas de informações seinteragem, com respeito a ambos os tipos de informaçõesoferecidos aos usuários. O AIS serve aos usuáriosinternos(gerentes) e externos(outros) informações“financeiras”. O MIS serve somente aos usuáriosinternos(gerentes) da organização, mas prover informações“não financeiras” tão bem quanto prover informações“financeiras”. Em razão de oferecer um mais completo espectrode informações, o MIS assiste gerentes de várias áreas

(marketing, finanças, produção, etc.,) em suasresponsabilidades de controle e tomada de decisões. O sistemainformal de informações adiciona dados de fontes informais (por exemplo, convenções, publicações, debates, etc.) para abase de dados mantida pelos sistemas formais. As informaçõesde fontes não formais podem ser financeiras (...) ou não (...).Em essência, no entanto, as interrelações entre os sistemasestruturam somente um sistema integrado de informações. Umaorganização não pode construir e manter dois ou mais sistemasseparados para informações.(...)

Pensando nas entidades da administração pública usuárias do SIAFI/SIAFEM,

percebe-se a extrema proximidade da realidade vivida por essas entidades com esta

descrição apresentada acima, pelo menos no que diz respeito à comparação do AIS

(sistema de informações contábeis) com o Sistema Integrado de Administração

Financeira do Governo Federal e da versão para Estados e Municípios.

As informações financeiras para o controle formal da execução orçamentária e

preparação de prestação de contas, com o objetivo de suprir o controle externo

(Tribunais de Contas) com subsídios para a verificação da legalidade da execução

orçamentária, bem como para os gestores (usuários internos), já são mantidas e

oferecidas normalmente.

O avanço pretendido se refere à uma concepção de MIS (sistema de

informações gerenciais) alimentado, também, por dados específicos de cada entidade

(sistema não formal de informações), a partir da base de AIS (sistema de informações

contábeis), em direção a um verdadeiro Sistema Integrado de Informações.

Esta concepção poderia ser representada graficamente, como segue:

SISTEMA INTEGRADO DE INFORMAÇÕES

AISSIAFI/SIAFEM

MISSIAFI/SIAFEM

GERENCIAL

INFORMAÇÕESexecução orçamentariaavaliação desempenhoresultado operacional

usuários em geral

O sistema integrado SIAFI/SIAFEM em bases Gerenciais resultaria da

agregação e combinação criativa de dados mantidos pelo SIAFI/SIAFEM, com dados

de fontes não formais característicos de cada entidade, de forma a oferecer

indicadores de desempenho e resultado operacional para um conjunto de usuários,

tanto internos quanto externos, além dos demonstrativos de evidenciação obrigatória.

Retomando as bases essenciais da questão formulada neste estudo, sobre a

necessidade de se estabelecer indicadores que agreguem, de forma resumida, o

desempenho e o resultado operacional nas entidades da administração pública,

permitindo a estruturação de um painel de controle gerencial, papel fundamental da

Controladoria, cabe uma tentativa de identificação das bases teóricas que possam

subsidiar uma concepção de indicadores e medidas do resultado operacional em

entidades da administração pública.

Considerando que o Sistema Integrado de Informações, anteriormente

apresentado, concebe a necessidade de se agregar dados de fontes não formais e

entendendo esta como uma alternativa a ser considerada, na medida em que procura

otimizar as bases de sistemas já existentes na administração pública brasileira, o

próximo passo será uma revisão conceitual das alternativas para a análise dos

resultados apurados pelo sistema de informações contábeis (AIS), visando-se

informações sugestivas para uma concepção de sistema de informações gerenciais

(MIS), em um ambiente de sistema integrado de informações.

2.4-Apuração e Interpretação do Resultado Operacional

Os Sistemas de Informações Contábeis(AIS) aplicados às entidades da

administração pública, deverão evidenciar os fatos oriundos da gestão orçamentária,

SISTEMA NÃO FORMAL DE INFORMAÇÕES

financeira, patrimonial e industrial, de acordo com o mandamento do artigo 89 da lei

4.320 de 17/03/64.

Todos os fatos resultantes ou independentes da execução orçamentária, são

registrados e evidenciados em quatro estruturas denominadas:

a) Sistema Orçamentário;

b) Sistema Financeiro;

c) Sistema Patrimonial e

d) Sistema de Compensação.

O conjunto de relatórios de evidenciação obrigatória, de acordo com a lei

4.320/64, se constitui do Balanço Orçamentário, Balanço Financeiro, Balanço

Patrimonial e Demonstrações das Variações Patrimoniais, além dos Anexos previstos.

Sobre o conteúdo e objetivos destas demonstrações contábeis, comenta

VIEIRA(1988, p. 198-9):

O Balanço Orçamentário demonstra as receitas e despesasprevistas em confronto com as realizadas; o Balanço Financeirodemonstra a receita e a despesa orçamentárias, bem como osrecebimentos e pagamentos de natureza extra-orçamentária,congregadas com os saldos em espécie provenientes doexercício anterior e os que se transferem para o exercícioseguinte (fluxo de caixa); a Demonstração das VariaçõesPatrimoniais evidencia as alterações verificadas no patrimônio,resultantes ou independentes da execução orçamentária, eindica o resultado patrimonial do exercício; o BalançoPatrimonial demonstra o ativo financeiro, o ativo permanente, oresultado patrimonial e finalmente, as contas decompensação.(...)

Se considerarmos que para a Contabilidade flui o resultado daintervenção do administrador na entidade, se quisermos medir a“performance” dessa administração, não há dúvidas que omelhor lugar para se colher os dados é na Contabilidade. Dessaforma a Contabilidade é extremamente relevante para aferirmoso “desempenho” de um administrador. (...)

Este é precisamente o ponto. Os resultados apurados através dos Balanços

Orçamentário, Financeiro e Patrimonial e da Demonstração das Variações

Patrimoniais, resultantes da execução do orçamento de entidades da administração

pública, refletem o desempenho do gestor, entendido este como a ação gerencial para

se atingir objetivos propostos? Ou melhor, a eficiência, eficácia e produtividade do

gestor público, a exemplo da linha de resultado operacional apurada na

Demonstração do Resultado do Exercício nas entidades de fins lucrativos, está

retratada nos resultados expressos nos balanços e demonstrativo citados?

A importância destas questões reside no fato da possibilidade de se analisar

tais resultados e se pronunciar sobre graus de desempenho da administração, em um

ambiente de controle gerencial efetivo.

A ausência de medidas com capacidade de evidenciação semelhantes à medida

do lucro, como saída dos sistemas de informações contábeis nas entidades da

administração pública, já foi comentado na formulação inicial deste estudo.

Com o objetivo de se buscar a estruturação de uma opinião, cita-se algumas

conclusões do estudo de REIS(1988, p. 122) sobre a transparência das

demonstrações contábeis de um Município:

A isso tudo acrescente-se a falta de clareza nas regrasestabelecidas pela lei, o descompasso existente entre estas e osprincípios contábeis e o desinteresse de certos administradorespor assuntos que digam respeito à Contabilidade, que de certamaneira contribuem para o insucesso como instrumento deapoio à administração na tomada de decisão, no controle e naavaliação de desempenho. A realidade indica também que acontabilidade está preocupada com os aspectos formais daexecução orçamentária e em demonstrar a composição dopatrimônio, sem contudo fazer a consolidação dos balanços

das autarquias com a entidade central e as análises eavaliações de desempenho da organização e de seus agentes( o grifo não está no original).

Conclusão bastante significativa sobre este ponto é o de

PETRI(1987, p.12-3):

(...) Pode-se por conseguinte afirmar que, sob o aspectocontábil o lucro está para as entidades de Direito Privado, damesma forma que a execução orçamentária está para asentidades de Direito Público.A estrutura do Balanço Patrimonial, da Demonstração dosResultados e as demais peças contábeis das entidades de DireitoPúblico, objetivam exatamente refletir seu comportamento emtermos de execução orçamentária em seus aspectosrespectivamente estáticos e dinâmicos.

A questão sempre em mente, refere-se à possibilidade dos resultados apurados

através dos demonstrativos contábeis, evidenciarem cumprimento de programas de

trabalho resultantes da execução orçamentária, vinculados à realização do objeto da

entidade como uma declaração sucinta das realizações em termos dos serviços

oferecidos.

Com o objetivo de permitir uma visualização mais consistente dos possíveis

resultados apurados em uma entidade da administração pública, será elaborado um

pequeno exemplo numérico.

Concebe-se uma Entidade Pública Transparente que iniciou suas atividades

em 01/01 de um ano qualquer, para cumprir três programas de trabalho: PROG 01,

PROG 02, PROG 03. A sua infra-estrutura foi obtida através de doações, assim

identificadas:

a) Bens Imóveis, avaliados em $ 50.000,00;

b) Bens Móveis, avaliados em $ 30.000,00;

c) Equipamentos Especiais, avaliados em $ 70.000,00.

Em seu orçamento inicial foi prevista uma receita de $ 10.000,00 sendo $

7.000,00 correspondentes a transferências de governos e $ 3.000,00 referentes à

convênios com empresas privadas. Os três programas têm metas vinculadas às áreas

de saúde, educação e limpeza pública.

É possível apurar, portanto, as seguintes rubricas no Sistema Orçamentário:

Receita PrevistaReceitas Correntes

Transferências Governamentais $ 7.000,00Convênios $ 3.000,00Total $ 10.000,00

Despesa FixadaDespesas Correntes

PROG 01 $ 6.500,00PROG 02 $ 3.000,00PROG 03 $ 500,00Total $ 10.000,00

Ao final do exercício, 31/12, foram elaboradas as seguintes Demonstrações

Contábeis, nos moldes da Lei 4.320/64:

BALANÇO ORÇAMENTÁRIO

Entidade Pública Transparente

Receita - em $

Títulos Previsão Execução Diferença

Receitas Correntes 10.000,00 15.000,00 + 5.000,00

SOMA 10.000,00 15.000,00 + 5.000,00

Déficit - 3.000,00 - - 3.000,00

Total 13.000,00 15.000,00 + 2.000,00

Despesa - em $

Títulos Fixação Execução Diferença

Créditos Orçamentários e 13.000,00 12.000,00 - 1.000,00SuplementaresSOMA 13.000,00 12.000,00 - 1.000,00

Superávit - 3.000,00 +3.000,00

Total 13.000,00 15.000,00 +2.000,00

Analisando-se este Demonstrativo, ressalta-se: de uma Receita inicialmente

prevista de $ 10.000,00, se arrecadou $ 15.000,00. De uma Despesa Fixada também

de $ 10.000,00, se executou $ 12.000,00. Pelo lado da receita, apurou-se um

chamado déficit de previsão, que resultou da diferença entre a receita prevista

inicialmente e a despesa fixada. Normalmente, esta diferença ocorre, apenas, em razão

de créditos suplementares abertos para cobrir defasagens do Orçamento Inicial. Pelo

lado da despesa, apurou-se um superávit de execução, resultante da diferença entre a

receita efetivamente arrecadada e a despesa efetivamente executada. O termo

superávit sugere ponto positivo para a administração, quando o fato relevante não

está refletido nesta diferença, e sim no que se conseguiu realizar com este volume de

recursos despendido. Ocorre, também, analisando-se o resultado de execução, uma

diferença entre a despesa fixada e a executada, de $ 1.000,00. Tal diferença, chamada

de economia orçamentária, sugere, também, um ponto positivo para a

administração. O fato, novamente aqui, não evidencia o atingimento de metas

expressas nos programas de trabalho. Só seria pertinente se falar em economia

orçamentária, caso se realizasse os programas de trabalhos previstos, em termos de

produto esperado, com um nível de recursos menor do que o fixado inicialmente e

suplementado, de acordo com o conceito de eficiência.

Pensa-se, portanto, que o chamado resultado orçamentário do exercício de

$ 3.000,00 (Receita Arrecadada de $ 15.000,00 menos Despesa Realizada de $

12.000,00) fica desprovido de sentido, quando desvinculado das informações

referentes às realizações físicas dos programas. A mesma conclusão é válida par a

chamada economia orçamentária (Despesa Fixada de $ 13.000,00 menos Despesa

Executada de $ 12.000,00). Deixou-se de executar $ 1.000,00 da despesa, sendo

razoável só se falar em economia, na medida em que as metas físicas dos programas

de trabalho forem atingidas, com um volume sempre menor de recursos financeiros

traduzidos no orçamento. No caso, falar-se-ia na Produtividade (eficiência+eficácia)

dos recursos financeiros alocados no cumprimento dos programas de trabalho.

BALANÇO FINANCEIRO

Entidade Pública Transparente

Receita - em $ Despesa - em $

Orçamentária Orçamentária

Receitas Correntes $ 15.000,00 PROG 01 $ 8.000,00

PROG 02 $ 2.000,00

PROG 03 $ 2.000,00

Saldo p/ExercícioSeguinte $ 3.000,00

Total $ 15.000,00 $15.000,00

Este demonstrativo poderia ser bastante útil, principalmente porque sugere um

fluxo dos recursos financeiros, ainda mais se fornecesse a receita analisada por fontes,

de forma descritiva. No caso, a especificação do montante das transferências

governamentais e o montante vinculado à convênios. No entanto, tal demonstrativo

aparece, sempre, com um nível de agregação, correspondente à classificação

econômica, que dificulta um conhecimento mais pormenorizado da execução

orçamentária.

Outra questão se refere ao saldo de caixa apurado, como reflexo de um

superávit financeiro. Novamente, o único argumento defensável para a manutenção

e conseqüente avaliação positiva desse fato, de saldos de caixa nessas entidades, se

vincula à noção de produtividade dos recursos aplicados. Isto é, as sobras financeiras

não devem ocorrer em detrimento do cumprimento dos programas, em termos do

produto final esperado.

Portanto, termos como economias, sobras, superávit, só poderiam assumir a

conotação de algo positivo e salutar para uma gestão, após o cumprimento das metas

para se chegar ao objeto.

BALANÇO PATRIMONIAL

Entidade Pública Transparente

Ativo Passivo

Financeiro

Disponível

Caixa $ 3.000,00

Permanente

Bens Móveis $ 30.000,00Bens Imóveis $ 50.000,00 SaldoEquipamentos $ 70.000,00 Patrimonial $ 153.000,00

Total $153.000,00 Total $ 153.000,00

DEMONSTRAÇÕES DAS VARIAÇÕES PATRIMONIAIS

Entidade Pública Transparente

Variações Ativas Variações

Passivas

Resultante da Execução Orçamentária

Receita Orçamentária Despesa Orçamentária

Receita Corrente $ 15.000,00 Despesa Corrente $ 12.000,00

Independente da Execução Orçamentária

Doações

Móveis $ 30.000,00 Resultado PatrimonialImóveis $ 50.000,00 Superávit $ 153.000,00Equipamentos $ 70.000,00

Total $165.000,00 $ 165.000,00

Veja-se o Resultado Patrimonial. No caso do chamado Resultado

Econômico da Execução Orçamentária, a diferença entre as receitas orçamentárias

efetivas e as despesas efetivas no total de $ 3.000,00, que somadas às variações ativas

independentes da execução orçamentária e subtraídas das variações passivas também

independentes da execução orçamentária, totaliza $ 153.000,00. Mesmo neste

exemplo simples, percebe-se a relevância desse valor face aos montantes da receita e

despesa. No entanto, considerá-lo uma medida da performance da administração

apenas sob a ótica da variação positiva do patrimônio sem responder a questões

concernentes ao atingimento de metas assumidas e retratadas pelos programas de

trabalho, a partir da ótica do usuário/cliente, sugere uma distorção das finalidades das

entidades da administração pública. Mesmo as doações, só foram realizadas a partir

de uma expectativa dos doadores para a realização de projetos.

Pelo até aqui exposto, os resultados apurados através das Demonstrações

Contábeis básicas das entidades da administração pública, poderiam ganhar maior

relevância informativa na medida em que fossem complementados com informações

de natureza física, indicadores compostos de atividades ou mesmo medidas tradutoras

do custo de oportunidade da prestação do serviço, referentes às medidas de

cumprimento dos objetivos propostos nos programas de trabalho.

Em debate recente sobre as limitações dos sistemas de contabilidade, calcados

predominantemente na idéia de atender às necessidades primárias dos níveis de alta

gerência e usuários externos como fisco e analistas financeiros, ROEHM e

HUGHES(1997, p. 37-8) propõem uma alteração de postura na concepção dos

sistemas, a partir do enfoque do Prof. W. Edwards Deming e seus 14 pontos para a

Qualidade, nos seguintes termos:

Nesses sistemas, as necessidades dos clientes internos -informações, políticas e procedimentos necessários para queeles façam suas tarefas e melhorem o sistema - geralmente estãosubordinados ao atendimento das necessidades dos clientesimpostos [mais influentes](...)O novo paradigma do modelo Deming considera os clientesinterno e externo como os principais clientes do sistema decontabilidade gerencial. Todos na empresa devem estarcomprometidos com o atendimento das necessidades deles.Na abordagem convencional, o gerenciamento de custos é feitodepois de o produto ser oferecido ao cliente. No novoparadigma, faz parte da fase de planejamento edesenvolvimento. Essa mudança traduz-se na participação de

um profissional da contabilidade na equipe de desenvolvimentode produtos ou serviços e enfatiza a importância de acontabilidade estar integrada a toda organização.Uma última mudança de paradigma é a necessidade deestabelecer um maior uso de mensurações operacionais dedesempenho, no lugar de mensurações financeiras. Esse novoparadigma concentra-se no desempenho total do sistema e nasatividades gerenciais.Para considerar a possibilidade de qualquer paradigma novo,devemos estar dispostos a desacreditar de outros conjuntos decrenças, principalmente aqueles que nos são mais caros. Umconjunto de crenças que “nos é caro” pode facilmente se tornarmuito rígido.

O próximo ponto procurará verticalizar a apresentação e discussão de

modelos que auxiliem a formulação das bases do sistema integrado de informações

no âmbito das entidades da administração pública, especialmente no que se refere à

estrutura conceitual para as informações de fontes não formais, procurando dar

mais consistência às medidas do resultado operacional passíveis de apuração.

2.5-A Abordagem da Gestão Estratégica de Custos

O autor de Strategic Cost Analysis: The Evolution from Managerial to

Strategic Accounting, JONH SHANK(1997, p 40-5), um dos especialistas mundiais

em uso estratégico das informações de custos e considerado criador da Gestão

Estratégica de Custos, coloca de forma muito percuciente o problema central do

gerenciamento dos gastos em uma entidade:

É preciso primeiro estudar quanto o cliente está disposto apagar por um produto para depois, com base nessa informação,determinar os custos.(...)Os custos devem ser baseados no valor e não vice-versa. Não secomeça pelo custo para chegar ao preço; ao contrário, parte-sedo preço para chegar ao custo. Esse não é um pensamentonovo. A única coisa nova é a idéia de analisar as melhorespráticas empregadas por um grupo de empresários-líderes e ver

qual a razão de fazerem as coisas de modo melhor.(...) é precisocriar a noção de que essa gestão pode ser uma parte valiosa daestrutura gerencial de uma empresa.

Imaginar o ambiente médio de funcionamento das entidades da administração

pública no Brasil atualmente e conceber uma perspectiva como a acima indicada, pode

sugerir, no mínimo, um certo descolamento da concepção histórica dessas

organizações.

No entanto, um efetivo gerenciamento dos recursos à disposição do

administrador público é aderente a um anseio mais do que latente. TEIXEIRA e

SANTANA(1995, p.7), Remodelando a Gestão Pública, comentam:

A Administração Pública tem como característica específicauma relação de responsabilidade direta com o processohistórico global que se dá no desenvolvimento da sociedade; daía necessidade de continuamente redefinir a sua missão em facedos novos imperativos, sob pena de comprometer a suacapacidade sinérgica.Neste momento, em que a sociedade brasileira necessitafortalecer os seus mecanismos societários, o modelo de gestãopública vigente no país demonstra toda a sua fragilidade.Introduzir mudanças na administração pública, propor novasdiretrizes e mecanismos de gestão, representa sempre ir deencontro a interesses estabelecidos, ultrapassados pelas novasexigências da sociedade e adequar-se a novos anseios eprocedimentos, interferindo na cultura organizacional doaparelho administrativo do Estado.

Conhecer as relações que guiam o funcionamento e as demandas da

entidade, seu mix de serviços, ameaças e oportunidades, bem como a valorização

da relação recurso alocado e qualidade do serviço obtido, se constituem nos

motivadores da abordagem da Gestão Estratégica de Custos.

Alguns princípios são elencados por NAKAGAWA(1991, p. 52-3):

• Identificação dos custos das atividades que não adicionam valor, para melhorar

o uso dos recursos;

• Reconhecimento dos custos de manutenção de ativos como uma atividade que

não adiciona valor apropriável diretamente ao produto;

• Os custos relevantes devem ser diretamente apropriáveis, tendo em vista os

objetivos dos relatórios gerenciais;

• Centros de custos independentes devem ser estabelecidos, com base em cada

grupo homogêneo de atividades consistente com a responsabilidade

organizacional;

• A acumulação e o relato de custos com base no sistema de custeio por

atividades (ABC) deverá melhorar o processo de apropriação;

• Devem ser desenvolvidas bases independentes de alocações que reflitam

adequadamente as relações causais entre os custos das atividades e os objetivos

dos relatórios gerenciais;

• Os custos devem ser consistentes com as necessidades de se suportar a gestão

do ciclo de vida;

• Os custos de tecnologia devem ser atribuídos diretamente aos produtos;

• O custo real do produto deve ser mensurado contra o custo meta, a fim de dar

suporte ao processo de eliminação de desperdícios;

• O controle interno deve ser desenvolvido e aperfeiçoado à medida que a

empresa se automatiza, mas segundo abordagens eficazes em termos de custo.

Nesta direção o ABC-Activity Based Costing, enquanto método de rastrear

os custos de um negócio ou departamento para as atividades realizadas, se propõe

permitir o entendimento do equilíbrio entre o fornecimento e a demanda de

recursos. CHING(1995, p. 41), sugere um lista de procedimentos para se entender

os benefícios:

Selecione um centro de custo ou um departamento e resolva asseguintes questões:

1) Quais são os recursos que este centro de custos/departamentoutiliza? Esses recursos podem ser constituídos por materiais,pessoas, instalações, equipamentos, e não somente pelosrecursos contábeis debitados nessa área.

2) Em seguida, liste as principais atividades (não mais que quatroou cinco) que ocorrem nessa área.

3) Estime quantos desses recursos são consumidos por essasatividades.

4) Finalmente, pense nos fatores que geram a demanda dessasatividades. O que gera demanda é o volume de alguma coisa?(número de unidades fabricadas, número de desenhosproduzidos ou clientes visitados). Ou o que gera demanda éconstituído por fatores como: complexidade, qualidade, rapideze variabilidade?

No âmbito da administração pública já ocorrem esforços e contribuições no

sentido do gerenciamento de custos. CRUZ(1996, p. 348 e 350), propondo um

método de custeamento ABC adaptado ao controle da despesa orçamentária no setor

público, expõe:

O avanço técnico, experimentado nos últimos vinte anos,conseguiu associar a função com programas subprogramas e aeles vincular os projetos e as atividades. Definiu, também, oconceito de tipicidade e a ele associou a possibilidade deatipicidades internas. (...) Nosso objetivo é mostrar apossibilidade de mensuração dos custos baseados em funções nonível das atividades e utilizando o método de custeamento ABC.(...)Para cada projeto, atividade, obra ou tarefa deve ser criado umcódigo obrigatoriamente citado no histórico da nota deempenho e o histórico (ou discriminação) deverão ser melhordirecionados, via treinamento terminologico para conter osdados suficientes. Isto, permitirá, que posteriormente sejalevantado o custo individualizado de cada atividade, no nível deespecificação desejado de maneira a permitir que sejamestabelecidos parâmetros para determinação da economicidadee eficácia.

Esta é uma aproximação bastante interessante porque chama atenção para uma

necessária preocupação com o caminho percorrido pelos recursos, retratados nos

programas de trabalho das entidades públicas. Permite, também, uma avaliação crítica

de possíveis desperdícios, incentivando uma postura de economicidade efetiva.

No entanto, para a viabilização de um ambiente de controle gerencial nas

entidades da administração pública é necessário equacionar a mensuração da receita

econômica de forma a permitir o confronto com os gastos, estes sim sistematicamente

acompanhados, em uma concepção de Centro ou Unidade de Resultado.

2.6-A Abordagem do Sistema de Informação de Gestão Econômica

A questão central deste ponto é a mensuração e evidenciação do resultado.

Receber recursos, combiná-los e produzir algo é a essência de qualquer organização,

seja de fins lucrativos ou não. Representar simbolicamente, em forma de números,

índices, gráficos, mapas, resumos, demonstrativos, etc., aquele ambiente complexo

permitindo intervenções para otimizá-lo, é missão do Sistema de Informação de

Gestão Econômica.

O Sistema de Informação de Gestão Econômica-GECON é um modelo de

sistema de informação contábil desenvolvido nos últimos 15 anos, no Departamento

de Contabilidade da Universidade de São Paulo, sob a coordenação de pesquisa do

Professor Armando Catelli.

Em razão de ser um modelo desenvolvido considerando os aspectos

comportamentais de sistemas de informações tipicamente brasileiros sem, contudo,

desconsiderar o padrão informacional vigente em sistemas de informações

internacionais, sugere uma alternativa bastante factível para o equacionamento do

problema de mensurar o resultado operacional em entidades da administração pública,

indicando um caminho para a formulação de um ambiente de sistema integrado e

controle gerencial.

CATELLI e GUERREIRO(1992, p. 439), definem:

O sistema de informação de gestão econômica GECON,objetiva dar suporte ao Sistema de Gestão Econômica e estávoltado à mensuração dos resultados econômicos das atividadesempresariais(...).

O GECON está estruturado em um conjunto de premissas

(Catelli e Guerreiro, 1992, p.439-42):

• Medida da Eficácia da Empresa - A empresa é constituída sob o pressuposto da

continuidade. A garantia da continuidade da empresa só é obtida quando as

atividades realizadas geram um resultado líquido no mínimo suficiente para

assegurar a reposição de todos os seus ativos consumidos no processo de

realização de tais atividades.

• Processo de Geração do Lucro - Tendo em vista a importância do conceito de

lucro, uma questão fundamental que se coloca é como o lucro é formado. O lucro

é gerado a partir da execução do conjunto de atividades da empresa. O GECON

parte da premissa que as atividades não geram somente custos, mas sim resultados

(custos e receitas).

• Responsabilidade pela Geração do Lucro - O lucro é gerado pelas diversas

atividades e a responsabilidade pela geração do lucro é exatamente dos

responsáveis pelas diversas atividades, ou seja, dos gestores.

• Papel dos Gestores - Com base nas premissas que o lucro é a melhor medida da

eficácia da empresa e que os gestores são os responsáveis pela geração do lucro,

entendemos que os gestores são os responsáveis pela eficácia da empresa.

• Informação para Gestão - Os gestores tem uma grande dependência do recurso

“informação”. A informação é a matéria-prima do processo de tomada de decisão.

A informação útil é aquela que atende as necessidades específicas dos gestores,

segundo as áreas que atuam, operações que desenvolvam e conceitos que lhes

façam sentido lógico. Os sistemas de informações contábeis devem ser

configurados de forma a atender eficientemente as necessidades informativas de

seus usuários, bem como incorporar conceitos, políticas e procedimentos que

motivem e estimulem o gestor a tomar as melhores decisões para a empresa.

• Aspectos Operacionais, Financeiros e Econômicos das Atividades - Em cada

atividade desenvolvida pela empresa observa-se três aspectos interdependentes. O

GECON contempla esses aspectos mensurando o resultado financeiro e o

resultado operacional das diversas atividades empresariais inclusive o resultado da

própria área financeira.

A partir de uma visão sistêmica da organização, GUERREIRO(1989, p. 226)

propõe os seguintes subsistemas empresariais:

1) Sistema Institucional: crenças, valores e princípios.

2) Sistema de Gestão: processo de administração.

3) Sistema de Informação: processo de geração de informações.

4) Sistema Social: pessoas.

5) Sistema Físico: elementos físicos e tecnológicos.

6) Sistema Formal: estrutura de organização.

O tratamento apresentado é de uma visão de sistema integrado. Normalmente,

a percepção inicial quando se aborda o problema da geração de informações para

auxiliar o processo decisório ocorre uma ênfase muito intensa no Sistema de

Informação, quase que considerando-o como um fim em si mesmo, em razão dos

complexos relacionamentos entre máquinas, tecnologias e pessoas.

O Sistema de Informação é fortemente impactado por definições ao nível do

Modelo de Gestão especialmente quanto às definições de prioridade para alocação de

recursos em desenvolvimento de sistemas, procedimentos de obtenção da informação

(se por sistemas formais ou não) adoção de conceitos de mensuração e níveis

decisórios a serem atendidos.

Quanto ao Sistema de Gestão, é dependente da abordagem que se faz do

horizonte de administração. A cultura de planejamento estratégico e operacional, no

que diz respeito à forma de fazer este planejamento, níveis de controles estabelecidos,

responsabilidades das áreas, comportamento da gestão quanto a ser centralizada ou

participativa e critérios para avaliação do desempenho.

Esta idéia de interdependência está bem caracterizada em

LIBONATI(1996, p. 64) como segue:

O modelo GECON apresenta o resultado de cada transação(ação realizada ou planejada), dos eventos e das atividadesempresariais. Para isso, possui como premissa que os eventosgerem receitas e custos, que devem ser mensurados einformados adequadamente para suportar as decisões dosgestores. Os gestores serão informados dos resultados dastransações, dos eventos, das atividades, dos departamentos e daempresa.(o grifo não está no original).

Mas, qual a matriz cultural, histórica e estrutural vigente nas entidades da

administração pública? Esta verdadeira personalidade organizacional permite uma

estrutura conceitual de sistema integrado de informações como o delineado através do

modelo GECON? Seria possível a apuração do resultado econômico de programas de

trabalho a cargo das entidades da administração pública? Qual o nível de

fidedignidade informacional, para efeito de tomada de decisões gerenciais, do

possível resultado apurado?

Muitos enfoques poderiam ser abordados numa discussão sobre as perguntas

colocadas anteriormente. Talvez o atrativo maior, para uma possível discussão, gire

em torno de questões comportamentais, de resistência a mudanças, ou de poder

político.

No entanto, o ponto que pretende-se como suporte vincula-se à idéia de que

em qualquer organização que pretenda combinar recursos escassos para obter um

produto ou serviço, são tomadas decisões econômicas.

Essa perspectiva implica na necessidade de um sistema de informações que

oriente e suporte ações racionais do gestor, principalmente porque é uma realidade

que impõe a existência de custo de oportunidade para toda e qualquer aplicação de

recursos realizada. Alocar recursos em um Programa de Trabalho “A”, pressupõe

observar a não aplicação daqueles mesmos recursos no Programa de Trabalho “B”,

por exemplo.

Dessa forma, portanto, considerar as opções oferecidas pelo GECON para as

entidades da administração pública, tem sustentação conceitual bastante consistente.

As contribuições de SLOMSKI(1996, p. 48), propondo uma formulação de

modelo conceitual de mensuração do resultado econômico em entidades públicas, são

muito relevantes:

Para a mensuração do resultado em entidades públicas,certamente será importante se ter presente alguns pressupostos,pois:

• se não existisse o serviço público, num país capitalista, ocidadão buscaria o menor preço de mercado a vista, para acontratação de serviços;

• a entidade pública tem como missão prestação de serviços parao desenvolvimento e bem-estar social da coletividade;

• o cidadão compõe o corpo contribuinte das fontes de recursos,para a manutenção da entidade pública.(...) Dessa forma, os recursos recebidos através dos impostos,transferências, etc., devem ser considerados como meios parafazer frente ao consumo de insumos capazes de gerar receitaeconômica (...) Receita Econômica, para a entidade pública,deveria ser a multiplicação do custo de oportunidade, que ocidadão desprezou ao utilizar o serviço público, pelos serviçosque ela tenha efetivamente executado, e que sejam faturáveis.

A proposição implica na seguinte formulação: RE = NSP X CO

onde:

RE = Receita Econômica

NSP = Número de Serviços Prestados

CO = Custo de Oportunidade

Em conseqüência, o resultado econômico seria apurado a partir da

confrontação da receita econômica com a despesa orçamentária realizada. Um esforço

gerencial para minimizar as despesas e aumentar o NSP(número de serviços

prestados), mantendo-se o valor do CO(custo de oportunidade), redundaria em

aumento do resultado econômico denotando aumento da eficiência e eficácia da

entidade, de acordo com os conceitos formulados.

Retomando o exemplo formulado no item 2.4-Apuração e Interpretação do

Resultado Operacional, considere-se o seguinte (ao final do exercício financeiro):

O custo de oportunidade para cada unidade de prestação de serviço, seria o

menor preço à vista que o usuário pagaria para obter o serviço. Para cada tipo

apresentado, obteve-se os seguintes valores alternativos hipotéticos:

01 Atendimento Clínico - tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) - $ 10,00

01 Cesta de Merenda - considerada uma cesta com produtos da região - $ 8,50

01 Depósito Recolhido - considerada uma oferta de prestação de serviço, por uma

cooperativa da localidade, não aceita pelo administrador - $ 5,00

O Resultado Econômico poderia ser assim apurado:

Receita Econômica (-) Despesa Realizada = Resultado

PROG 01 ( 1.500 x $ 10,00) $ 15.000,00 $ 8.000,00 $ 7.000,00

PROG 02 ( 140 x $ 8,50) $ 1.190,00 $ 2.000,00 $ (810,00)

PROG 03 ( 220 x $ 5,00) $ 1.100,00 $ 2.000,00 $ (900,00)

TOTAL $ 17.290,00 $12.000,00 $ 5.290,00

As atividades desenvolvidas pela entidade, a título de exemplo, podem ser

avaliadas a partir de preço alternativo existente em potencial no mercado. Uma análise

dos três Programas de Trabalho revela que os usuários/clientes da entidade estão

pagando mais caro por uma cesta de merenda e para terem seu lixo recolhido. Já com

ATIVIDADE META REALIZADOPROG 01 atendimento 1.200 1500

clínicoPROG 02 fornecer cestas

de merenda 200 140PROG 03 recolher depósitos

de lixo 2 vezes/mês 50 220

relação a obtenção de um atendimento clínico, a estrutura montada pela entidade

oferece um preço menor.

Dessa perspectiva é possível inferir sobre a remuneração do capital total

empregado na entidade, de um ponto de vista de sua aplicação alternativa. Mesmo

considerando possíveis amarras determinadas pelos aspectos da legalidade, a exemplo

dos procedimentos licitatórios obrigatórios para as entidades da administração

pública, não se poderá fugir da evidência em torno da eficiência dos recursos

aplicados sob responsabilidade do gestor da entidade.

A despesa orçamentária alocada em Programas de Trabalho e distribuída em

Departamentos de uma Entidade, terá um custo de oportunidade alternativo, de

forma a permitir análises críticas em torno da eficiência no uso dos recursos.

Nesse sentido uma preocupação com a formulação orçamentária, definição de

metas praticáveis e gerenciamento sistemático dos custos, passaria a ser uma realidade

também do administrador público. Além disso, a partir do acompanhamento

sistemático dos preços alternativos, as entidades da administração pública tratariam de

centrar o gerenciamento com foco no cliente, procurando se guiar pelos indicadores

de satisfação como diferencial competitivo.

A questão central aqui discutida não é se o usuário/cliente poderia ter uma

outra opção real de substituição do serviço oferecido pela entidade pública. Em

alguns casos poderia existir opção alternativa, como no caso de uma escola ou

hospital e em outros casos não como no caso de uma delegacia, por exemplo. A

questão é a possível evidenciação da eficiência e eficácia dos recursos alocados na

entidade, a partir de uma comparação alternativa, mesmo em tese.

Imagine-se o exemplo de uma delegacia. Um delegado titular, um substituto,

dez agentes, três viaturas, armamento, imóvel, etc. Um orçamento anual incluindo

todas as despesas de, por exemplo, $ 240.000,00. Um possível caderno de

desempenho dessa entidade pública, incluiria indicadores dos processos encaminhados

à justiça, crimes solucionados e responsáveis presos, sem dúvida. Mas incluiria,

também, preços alternativos referentes a salários de dois advogados, dez agentes de

segurança de uma empresa de vigilância, além de valores cobrados por oficinas

particulares para fazer a manutenção das viaturas e do armamento. Na medida em que

for possível associar indicadores físicos estritos com indicadores financeiros, ocorreria

uma avaliação mais consistente da atuação da entidade.

Na base de dados de fontes não formais, segundo o modelo de sistema

integrado de informações apresentado, estaria uma tabela de preços alternativos

associados a cada programa de trabalho, departamento ou entidade, de forma a

permitir o cálculo do resultado econômico respectivo.

Por outro lado deve-se considerar, também, que do exercício de uma entidade

pública pode resultar benefícios não mensuráveis, mesmo de forma alternativa. Neste

caso os valores de resultado econômico apurados não seriam totalmente fidedignos.

Seria o caso, por exemplo, de uma pesquisa científica em andamento que necessitaria

ter identificados todos os gastos associados como aplicação diferida(apropriável no

futuro), até o término dos trabalhos. Se ocorrer um sucesso a entidade pública

incorporará um ativo. Se ocorrer um insucesso considerará uma perda.

A questão delicada é a avaliação do sucesso ou insucesso. O possível

insucesso não agrega valor em forma de conhecimento para outras possíveis linhas de

pesquisa? Como mensurar esse valor?

Sem dúvidas que seria necessário como que planilhar as várias funções,

programas e atividades a cargo de entidades públicas, a fim de delinear indicadores

não financeiros, centrados na percepção dos usuários e especialistas, que

complementariam os indicadores financeiros do resultado econômico. No entanto,

mesmo a atividade mais complexa se subordina à lógica da escassez de recursos.

3-PROPOSIÇÃO PARA UM AMBIENTE DE CONTROLE GERENCIAL

Este capítulo objetiva estabelecer, a partir da estrutura conceitual

problematizada no capítulo anterior, uma proposta de direcionamento que permita

estruturar e, efetivamente, implantar o Sistema de Informações para controle gerencial

nas entidades da administração pública no Brasil.

O papel da Contabilidade se configurou como responsável pela geração de

informações para o controle gerencial. O esforço de representar de forma sintética,

resumida, os eventos econômicos complexos que ocorrem ao longo de um exercício

social, de forma a garantir o monitoramento constante das ações gerenciais

permitindo necessárias correções de rumo, se constitui no cerne dos Sistemas de

Informações Gerenciais.

A partir deste direcionamento, entende-se que um ambiente de controle

gerencial é totalmente dependente de uma base de dados contábeis. As entidades da

administração pública da União, Estados e Municípios organizam seu sistema de

registros contábeis (orçamentários, financeiros e patrimoniais) , a partir dos

mandamentos da Lei 4.320 de 17/03/64. A base conceitual contida nos procedimentos

de organização de orçamentos e balanços dessas entidades, encontra-se já bastante

consolidada. Todo este conjunto de procedimentos e técnicas contábeis está

disponível em ambiente de processamento eletrônico de dados ao alcance de toda e

qualquer entidade da administração pública seja da União, dos Estados, dos

Municípios e Distrito Federal, ao nível dos Poderes Executivo, Legislativo e

Judiciário, através do SIAFI-Sistema Integrado de Administração Financeira do

Governo Federal e SIAFEM-Sistema Integrado de Administração Financeira para

Estados e Municípios.

A construção de um ambiente propício ao controle gerencial das entidades da

administração pública, nas bases discutidas e encontradas neste estudo, deverá

considerar os seguintes pontos:

• Utilização dos Sistemas SIAFI ou SIAFEM;

• Utilização de Indicadores de Produtividade de Projetos/Atividades, a partir do

acompanhamento analítico da execução da despesa orçamentária;

• Definição do Sistema não Formal de Informações, para a geração de indicadores

físicos que possam refletir a percepção dos usuários/clientes acerca do serviço

prestado;

• Adoção da base conceitual do Sistema de Informações de Gestão Econômica-

GECON.

3.1-O Sistema SIAFI

Pode-se afirmar que os sistemas SIAFI e SIAFEM, em razão de sua

integração em larga escala, pleno atendimento aos procedimentos de registros

contábeis estabelecidos na lei 4.320/64 e parametrização no acompanhamento da

execução orçamentária, se constituem em opção técnica imbatível em termos de uma

possível análise alternativa com outros sistemas.

Estes sistemas já oferecem, em si mesmos, uma ampla perspectiva de acesso à

informações analíticas sobre todos os passos da execução orçamentária da despesa

permitindo o atendimento pleno do aspecto da legalidade, além de preservar a

veracidade e tempestividade dos dados registrados, fatores essenciais para o controle

gerencial.

Adicione-se a esses aspectos, o fato de que o SIAFI é utilizado por todos os

Órgãos da Administração Direta (Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário), além

de grande parte da Administração Indireta do Governo Federal. O SIAFEM (para

Estados e Municípios), já começa a ser implantado em alguns Estados da Federação

com ampla aceitação à nível técnico. O suporte para funcionamento desses sistemas,

no que se refere ao sistema computacional, é oferecido pelo SERPRO.

Para avançar, em termos de oferecer dados para o controle gerencial, estes

sistemas deverão incorporar um controle dos bens móveis e imóveis, de forma a

evidenciar valores de amortização, depreciação e exaustão desses bens.

O SIAFI/SIAFEM funciona a partir de duas tabelas principais: o plano de

contas e a tabela de eventos. Todos os lançamentos são associados à eventos

codificados que refletem os registros nas contas contábeis próprias.

A estrutura funcional está organizada a partir dos seguintes subsistemas:

• Subsistema Administra - Administração do Sistema

• Subsistema Auditoria - Auditoria

• Subsistema Conform - Conformidade

• Subsistema Contábil - Contabilidade

• Subsistema Convênio - Convênios

• Subsistema Documento - Documentos do SIAFI

• Subsistema Estmun - Estados e Municípios

• Subsistema MANUALMF - Manual

• Subsistema Obrigação - Controle de Obrigação

• Subsistema ORCFIN - Orçamentário e Financeiro

• Subsistema O2C - Operações Oficiais de Crédito

• Subsistema TABADM - Tabelas Administrativas

• Subsistema TABAPOIO - Tabelas de Apoio

• Subsistema TABAOBRIG - Tabelas do Cadastro de Obrigação

• Subsistema TABORC - Tabelas Orçamentárias

• Subsistema TABRECEITA - Tabelas de Receita

Estes subsistemas oferecem módulos que disponibilizam transações de

registro, alterações e consultas, ao longo do exercício social e a qualquer momento na

medida da necessidade informacional dos executores.

Além da disponibilização dos dados da execução orçamentária, o

SIAFI/SIAFEM oferecem os demonstrativos contábeis previstos na Lei 4.320/64.

De acordo com a codificação 02.03.19 itens 2.1, 2.2 e 2.3 do Manual SIAFI

(Ministério da Fazenda - Secretaria do Tesouro Nacional), as Demonstrações

Contábeis são instrumentos de análise e controle em nível gerencial (tomada de

decisão), demonstrando as situações econômico-financeira e patrimonial do

exercício, estando as informações disponíveis nos Balanços Orçamentário,

Financeiro, Patrimonial, Demonstração das Variações Patrimoniais e

Demonstração das Disponibilidades Financeiras por Fonte de Recursos. As

Demonstrações Contábeis representam o resultado das operações relacionadas a

origens e aplicação de recursos pelos Órgãos da Administração Pública Direta e

Indireta. Através das Demonstrações Contábeis torna-se possível o conhecimento

dos valores dos bens, dos direitos e das obrigações dos Agentes que arrecadam

receitas, efetuam despesas, administram ou guardam os bens pertencentes à União.

Uma Avaliação de Gestão a partir das Demonstrações Contábeis e segundo

idéias básicas contidas no Manual SIAFI (código 02.03.19) serão aqui transcritas,

pois oferecem um resumo bastante útil e contribuem para as reflexões subsequentes

na exposição de um modelo de controle gerencial, que segundo indicações colhidas

neste estudo, poderá agregar algum avanço conceitual.

Balanço Orçamentário

A Avaliação refere-se à organização, aos critérios e trabalhos destinados a julgar o

nível dos objetivos fixados no orçamento e às modificações nele ocorridas durante a

execução. A eficiência com que se realizam as ações empregadas para tais fins fornece

o grau de racionalidade na utilização dos recursos correspondentes.

A constatação do que realizar e o que deixar de fazer não pode restringir-se somente

ao julgamento “a posteriori”. A avaliação deve ser ativa, desempenhar um papel

importante como orientadora da execução e fixar em bases consistentes as futuras

programações; por isso, esta fase é simultânea à execução, e a informação que fornece

deve estar disponível, quando dela se necessitar.

A avaliação impõe a necessidade de um sistema estatístico cuja informação básica se

obtém nos Órgãos e Entidades. (o grifo não está no original). De posse dos dados

deve-se elaborar tabelas, calcular indicadores e apresentar informes periódicos para

uso e tomada de decisões por parte dos gestores.

No caso de déficit ou superávit referentes à execução orçamentária, pode-se observar

o seguinte:

a) se a execução da receita apresentar-se menor que a execução da despesa, pode-se

deduzir que o superávit financeiro do exercício anterior deixou de ser realizado no

corrente exercício;

b) se a execução da receita apresentar-se maior que a execução da despesa, a

avaliação poderá afirmar que houve um excesso de arrecadação que não foi

utilizado no corrente exercício.

É interessante observar que a proposta de Avaliação de Gestão através do

Balanço Orçamentário ao mesmo tempo aponta em direção ao avanço conceitual

discutido neste estudo quando afirma a necessidade de dados de fontes não-formais a

serem obtidos nas entidades, mas ao mesmo tempo ainda se vincula de fato a uma

proposta de análise das situações de superávit e déficit que, isoladamente, não

permitem inferência sobre o resultado econômico, nas bases conceituais discutidas,

além de não contemplar a inserção e parametrização desses dados na própria base

SIAFI/SIAFEM, de forma a incrementar a feitura dos quadros de análise propostos.

Balanço Financeiro

Deve-se observar a necessidade de alocar recursos nas Disponibilidades para o

Exercício Seguinte, destinados aos pagamentos das despesas não pagas no exercício

corrente; se não houver esta alocação, esses pagamentos irão onerar a receita do

exercício seguinte.

A movimentação dos recursos referentes ao balanço financeiro pode ser sintetizada

pela seguinte equação: saldo inicial (anterior) + entradas (ingressos orçamentários e

extra-orçamentários) - saídas (dispêndios orçamentários e extra-orçamentários) =

saldo atual.

A avaliação da gestão financeira é realizada a partir da correspondência dos valores

do Balanço Financeiro com os índices percentuais que possibilitem a análise do seu

conteúdo sob o enfoque gerencial.

Aqui, novamente, percebe-se a mesma inquietação conceitual quando se

concebe um pensamento para a análise da gestão financeira muito mais avançado do

que é possível fazer através do formato do balanço financeiro, na medida em que se

coloca um parâmetro de eficiência na captação de disponibilidades para a cobertura

dos dispêndios do exercício, sugerindo uma possível medida de capacidade

financeira, mas se conclui com a efetiva possibilidade de análise oferecida pelo

balanço financeiro com a inclusão de valores percentuais, como alternativa à ausência

da conjugação das dimensões da execução financeira e da prestação do serviço na

perspectiva de determinação da receita econômica da entidade.

Balanço Patrimonial

A avaliação de gestão, a partir do Balanço Patrimonial, tem como ponto fundamental

demonstrar a situação de liquidez, a estrutura de capitalização, rentabilidade (o grifo

não está no original) e outros indicadores econômico-financeiros utilizados para um

adequado gerenciamento.

A composição do Balanço Patrimonial tem, como um dos aspectos mais relevantes, a

apuração do Superávit Financeiro, devendo ser excluídos do Ativo e Passivo

Financeiros os saldos de estoques e outros realizáveis não financeiros, para evitar

suplementações orçamentárias indevidas.

O Ativo e Passivo Compensados devem ser iguais, de forma que a situação líquida

não seja afetada.

Novamente, a expectativa em torno do oferecimento de elementos para um

julgamento da rentabilidade e outros indicadores econômico-financeiros para auxiliar

um gerenciamento adequado, a partir do Balanço Patrimonial das entidades da

administração pública, é bem superior e ocorre não ser atendida porque não existe a

disponibilidade de uma linha ou de um indicador do resultado econômico, que possa

ser confrontado com recursos aplicados ou investimentos realizados produzindo,

assim, algum índice de rentabilidade ou de retorno do investimento.

Além disso, todo o ativo permanente (bens móveis principalmente) das

entidades da administração pública estão registrados por valores históricos sem a

consideração dos montantes de depreciação, distorcendo consideravelmente os

elementos necessários à montagem e interpretação dos indicadores econômico-

financeiros.

Demonstração das Variações Patrimoniais

Nesta Demonstração, estão reunidos grupos de contas que têm por finalidade a

identificação das causas que produzem variações positivas e negativas ocorridas no

período, no patrimônio, resultantes ou independentes da execução orçamentária, e a

indicação do resultado patrimonial do exercício.

Pela Demonstração, pode-se avaliar os resultados orçamentários e extra-

orçamentários, observando os itens mais relevantes que interferem no superávit ou

déficit.

Uma interpretação relevante relaciona-se ao superávit do orçamento corrente

(Receitas Correntes maiores que Despesas Correntes). Essa apuração se traduz em

Receitas Correntes aplicadas em Despesas de Capital, significando capitalização, ou

em Receitas de Capital financiando as Despesas Correntes, significando

descapitalização. (os grifos não estão no original).

Quando ocorre a ausência de uma medida de resultado econômico ou não se

analisa ao mesmo tempo a execução orçamentária, nos seus aspectos financeiros e de

efetivo serviço prestado, confrontando-a com indicadores de qualidade obtidos da

percepção do usuário/cliente das entidades da administração pública, se dispor de

toda uma demonstração das variações patrimoniais unicamente para uma inferência da

possível movimentação de origens correntes para aplicações não-correntes ou vice-

versa é opção gerencial bastante limitada.

Uma variação patrimonial positiva, gerencialmente desejável, de uma entidade

da administração pública não poderá excluir uma demonstração do valor adicionado,

de serviços efetivamente oferecidos e sistematicamente avaliados pelos usuários, em

confronto com as rubricas financeiras alocadas.

Avaliar a gestão, a partir da atual demonstração das variações patrimoniais e o

conseqüente resultado patrimonial do exercício, verificando apenas variações

resultantes ou independentes da execução orçamentária não permite nenhuma

visualização da melhor alternativa gerencial para os gestores, no sentido de

identificarem a melhor combinação de aplicação diante da necessidade de atender a

prestação de um serviço demandado e avaliado pelos usuários, seja de receitas

correntes para despesas de capital ou de receitas de capital para despesas correntes.

Regra geral e como foi possível expor na revisão da literatura, os resultados

apurados através das demonstrações contábeis previstas para as entidades da

administração pública na Lei 4.320/64 e elaboradas pelo SIAFI/SIAFEM, não são

compatíveis com necessidades de informações gerenciais que envolvam medidas de :

resultado econômico da entidade, de setores ou de programas e projetos; retorno do

investimento; e análise de liquidez, rentabilidade e estrutura de capital.

A adoção e utilização do SIAFI/SIAFEM atende a outros aspectos, também

fundamentais, para a cristalização de um efetivo ambiente de controle gerencial nas

entidades da administração pública brasileira, quais sejam: a) o controle da execução

orçamentária, a produção de relatórios e a padronização de procedimentos em um

ambiente seguro de processamento eletrônico de dados com a possibilidade de

estruturação de tabelas de dados físicos (fontes não-formais) específicos para cada

entidade; b) a viabilização do pleno atendimento à legalidade da execução

orçamentária; e em conseqüência, c) a confiabilidade e disponibilidade tempestiva dos

dados básicos para a construção do caderno de desempenho específico para cada

entidade.

Nesse sentido, é possível imaginar todos os benefícios da comparabilidade

entre entidades e entre departamentos de uma mesma entidade, produção de

estatísticas sobre atividades e serviços disponíveis, além quadros de desempenhos

específicos sobre programas e projetos dirigidos ao usuário externo.

3.2-Indicadores de Produtividade de Projetos/Atividades

Tratando-se de entidades da administração pública voltadas,

fundamentalmente, para a prestação de serviços, o estabelecimento de indicadores

mistos como resultado de uma combinação de indicadores financeiros estritos e físicos

estritos, são bastante úteis para o controle exercitado pelo gestor.

Um conhecimento aprofundado do produto da gestão é condição

indispensável para a formulação desses indicadores. Nesse sentido, deve ser elaborado

um Quadro Resumo da Produção, com o estabelecimento das metas, no mínimo,

organizadas por:

a) Programas de Trabalho

a.1) Coluna de Unidades Físicas de Serviços Previstos

a.2) Coluna de Despesa Fixada

a.3) Coluna de Unidades Físicas de Serviços Prestados

a.4) Coluna de Despesa Realizada

b) Agregação por Departamento ou Unidade de Resultado

c) Demonstrativo da Qualificação Técnica do Pessoal

c.1) Formação Escolar

c.2) Horas de Treinamento Recebidas em Procedimentos Específicos

c.3) Participação em Programas de Educação Continuada

A partir desses elementos, seria formulada uma análise da Produtividade dos

Recursos Financeiros alocados em cada Projeto ou Atividade. Isto é, uma apreciação

da medida do atingimento das metas da gestão.

A idéia seria calcular Indicadores de Execução da Despesa-IED, Indicadores

de Execução Física-IEF e Indicadores de Produtividade-IPPA para cada

projeto/atividade.

Em resumo:

QDRIEF = ---------

QDP

onde:

IEF - Indicador de Execução Física do Projeto/Atividade

QDR - Quantidade Física Realizada do Projeto/Atividade

QDP - Quantidade Física Prevista do Projeto/Atividade

DRELIED = ---------

DAUT

onde:

IED - Indicador de Execução da Despesa do Projeto/Atividade

DREL - Despesa Realizada no Projeto/Atividade

DAUT - Despesa Autorizada do Projeto/Atividade

IEFIPPA = -------

IED

onde:

IPPA - Indicador de Produtividade dos Recursos Financeiros do Projeto/Atividade.

O IEF seria do tipo, no sentido de sua interpretação, quanto maior melhor.

Já o IED seria do tipo quanto menor melhor. Em conseqüência, o IPPA seria do

tipo quanto maior melhor.

Assim, um aumento no IPPA seria alcançado por:

a) Um aumento do IEF, com o cumprimento do previsto, podendo este ser até

excedido, com o IED mantido constante; ou

b) Uma redução do IED, com o IEF constante.

Um ambiente de análise gerencial seria incrementado a partir de reuniões de

resultado, com a comparação dos IPPA de dois ou mais períodos de gestão, ao nível

de cada área de resultado.

Os dados da despesa realizada e fixada estão disponíveis nas contas contábeis

do SIAFI/SIAFEM, tanto com a possibilidade de agregação por célula orçamentária

como na opção de Unidade Gestora por Responsabilidade, com uma perspectiva de

tratamento semelhante a uma Unidade de Resultado.

Os dados de metas físicas devem estar disponibilizados no módulo

orçamentário, sendo que a sua formulação deve obedecer procedimentos bastante

pormenorizados de forma a garantir sua fidedignidade.

Um indicador de produtividade traduz a relação entre as saídas, representadas

em serviços prestados, atendimentos, etc., e os insumos ou entradas envolvidas na

elaboração (produção) do serviço. O espectro de possibilidades para a construção de

indicadores de produtividade é bastante amplo e passa pelo conhecimento

aprofundado da entidade, sua missão, usuários e mercado de atuação.

Pode-se pensar na elaboração de indicadores de produtividade totais, parciais,

por cada tipo de insumo, por programa de trabalho (como sugerido acima com o

IPPA), por unidade de resultado (centro, departamento, escritório, setor, seção,

divisão, etc.).

A proposição e formulação dos indicadores de produtividade tradutores do

desempenho das entidades, seria conduzido por um setor de Controladoria que

coordenaria a gestão da informação na entidade, atividade atualmente tão estratégica

quanto a própria gestão dos fatores mais tradicionais como a força de trabalho, os

recursos financeiros e os bens móveis e imóveis.

Além do trabalho interno, conduzido no sentido de envolver todos os setores

de uma entidade pública na formulação dos seus indicadores de desempenho, deverá

ser considerado os instrumentos de captação da percepção do usuário/cliente/cidadão,

acerca do trabalho da entidade. Tais percepções seriam transformadas em indicadores

que integrariam o conjunto dos indicadores de produtividade, para uma orientação

gerencial sistematicamente internalizada e incorporada à cultura organizacional.

O padrão gerencial esperado será o da competitividade. Uma reflexão sobre

quais indicadores a entidade passará a ser gerenciada (lida, interpretada, conhecida,

acompanhada e também dirigida) é tarefa simplesmente fundamental nos cenários

possíveis.

Mais do que formular previamente outros tantos indicadores com a intenção

de uma possível aplicação ampla para várias entidades, tarefa obviamente de eficácia

bastante reduzida, procurar-se-á estabelecer um mecanismo técnico a ser utilizado

pelos setores de Controladoria nas entidades públicas, para a formulação de um

caderno de desempenho desenhado sob medida para cada entidade.

A idéia passa pela possibilidade de elaboração de um sistema de medição total,

sistemática, com interrelação entre os indicadores e estimuladores de ações gerenciais

percucientes.

O procedimento apresentado pela Professora Doutora Ilse Maria Beuren em

trabalho defendido no XV Congresso Brasileiro de Contabilidade (Fortaleza/Ceará-

outubro de 1996) intitulado A Informação como Suporte ao Processo de Avaliação

do Desempenho da Estratégia Empresarial, é bastante sugestivo e será apresentado.

METODOLOGIA GERAL DE MEDIÇÃO

----------------------------------------------------------------------------------------------------

FASE 0:PREPARAÇÃO

Formar equipes de mediçãoCriar o clima adequado

METODOLOGIAGERAL DEMEDIÇÃO

Definição

----------------------------------------------------------------------------------------------------

-

Operacionalizar Validade e

Avaliação

É importante garantir uma articulação entre as várias etapas, cujo enfoque

deverá ser sempre o incentivo à melhoria das atividades da entidade, para uma

posterior medição, acompanhamento e avaliação das mesmas.

FASE 1:O QUE MEDIR?

1 - Desenvolver Medidas2 - Auditar as Medidas3 - Subdividir as Medidas

Reciclar,Modificar/Melhorarprocesso de modo

apropriado

FASE 2DESENVOLVER PROCESSO

DE MEDIÇÃO1-Escolher a técnica2-Formar uma equipe de projeto3-Assegurar a Disponibilidadedos requisitos do modelo4-Adaptação técnica

FASE 5VINCULAÇÃO COM A

MELHORIA1-Interpretar output2-Vinculação com oestabelecimento de metas3-Vinculação com recompensa4-Criar quadros de visibilidade

FASE 3COLETAR OS DADOS

NECESSÁRIOS1-Identificar as fontes de casos2-Eliminar as medidas inviáveis3-Elaborar formulários e logística4-Verificar responsabilidades5-Começar a coleta de dados

FASE 4VALIDAÇÃO DO OUTPUT

1-É preciso?2-Formulário correto?3-Informações úteis?4-Informações em tempo?

A parte mais relevante de todo o processo é, sem dúvida, um incentivo

permanente à criação de equipes de desenvolvimento, onde os aspectos

comportamentais devem ser bastante enfatizados a partir de uma abordagem de

educação permanente e desenvolvimento.

3.3-Definição do Sistema não Formal de Informações

Cabe lembrar que uma concepção de sistema integrado de informações,

entendido a partir da ligação lógica entre o sistema de informações contábeis (AIS)

com dados de fontes não formais, é aderente à idéia do sistema de informações

gerenciais (MIS). A geração de informações úteis para auxiliar no controle gerencial

das entidades da administração pública depende, segundo as bases teóricas expostas

neste estudo, de uma coleta sistemática e extremamente criteriosa de dados físicos ou

monetários que espelhem as fases relevantes de todas as etapas percorridas para a

prestação de um serviço público idealmente concebido como de qualidade e que não

são normalmente gerados em decorrência da execução orçamentária registrada no

sistema de informações contábeis (AIS).

O conjunto desses dados físicos e/ou monetários, oriundos de fontes não

formais, devem guardar uma relação com o processo percorrido pela entidade para

desempenhar sua missão. São indicadores fidedignos dos procedimentos e

movimentos gerenciais adotados, mas que não dependem da vontade dos gestores

nem quanto à sua ocorrência propriamente dita nem quanto aos valores, níveis ou

graus que possam expressar.

Uma alternativa para a garantia da fidedignidade desses indicadores de fontes

não formais, passa pelo estabelecimento e normatização de alguns critérios para sua

obtenção e utilização.

O Gestor, a partir de um conhecimento aprofundado de sua entidade, deverá

orientar o setor de Controladoria para considerar os seguintes aspectos:

• A fonte dos indicadores Gerais

Preferir agências, organizações, órgãos e outros, tanto nacionais como

internacionais, que detenham já uma reputação técnica reconhecida na formulação e

mensuração de índices, valores e outros dados sobre serviços de saúde, educação,

construção, segurança, legislação, e outras atividades públicas;

• A produção de indicadores Específicos

Pensar uma estrutura de controle interno na entidade que permita o

surgimento de um setor de ouvidoria responsável pelo contato com o

usuário/cliente/cidadão, para captação e tratamento da sua percepção sobre a

qualidade dos serviços prestados pela entidade, desde aspectos do atendimento

oferecido pelos funcionários, instalações físicas, material utilizado, eficácia do

encaminhamento sugerido, até aspectos de demanda espontânea e preferencial pelo

serviço público;

• A produção de indicadores sobre Recursos Humanos

Pensar uma estrutura de auditoria interna de Recursos Humanos, considerando

ser o principal ativo das entidades prestadoras de serviços, que evidenciem um

avaliação sistemática do desempenho, níveis de satisfação, percepção das condições

de trabalho, auto-avaliação, avaliação pelos pares, avaliação pela chefia, necessidades

de capacitação e treinamentos específicos. Além disso, um sistema de incentivos

deverá ser estruturado. Talvez, um dos maiores obstáculos ao efetivo

comprometimento das entidades da administração pública com desempenhos de

qualidade, resida na inexistência de um ambiente que evidencie a performance das

pessoas, como parte integrante de um ambiente de controle gerencial mais amplo;

• A produção de indicadores sobre Racionalização de procedimentos

A preocupação sistemática da entidade em formular sempre a questão de

Como é possível fazer mais barato e melhor determinado procedimento para

prestação do serviço, buscando eliminar fases ou processos irracionais ou não-

razoáveis, deve ser cristalizada em indicadores para divulgação em todos os níveis de

gerência. Medidas de tempo de tramitação, atendimento a pedidos, liberação e

desembaraço de requerimentos, cumprimento de prazos, e outras relacionadas com o

esforço cotidiano pela redução do tempo de resposta, integram este conjunto que

poderia ser considerado, em seu todo, como um painel tradutor do nível de

comprometimento da entidade com o pronto atendimento. Pronto atendimento não

apenas no sentido de rapidez mas, principalmente, de cumprimento de prazos prévia e

amplamente divulgados.

A identificação e utilização desses indicadores de fontes não formais deverá

ser uma tarefa concebida na perspectiva do aperfeiçoamento contínuo, em busca do

conjunto mais adequado a cada entidade. Em seguida, a garantia da integridade dessas

medidas, no sentido de veracidade, passa por uma parametrização e controle externo.

Um avanço considerável seria, em direção à formulação de sistema gerencial

integrado proposto neste estudo, a definição e manutenção de tabelas e bancos de

dados relacionais dessas medidas, no ambiente SIAFI/SIAFEM.

Tais medidas integrantes dessas tabelas seriam correlacionadas com outras

medidas decorrentes da execução orçamentária, para a formulação de padrões em um

painel de controle gerencial útil, porque indutor sistemático de uma prestação de

serviços que concilie baixo custo e qualidade reconhecida.

3.4-Sistema de Informações de Gestão Econômica-GECON.

A definição de uma tabela, também mantida a partir do ambiente

SIAFI/SIAFEM, com valores representativos de custo de oportunidade (preços de

serviços disponíveis de forma alternativa), representa um passo muito importante para

suprir essa lacuna da ausência de um indicador de resultado econômico para cada

projeto, setor, departamento, unidade e da entidade como um todo, de forma a

possibilitar a construção de cadernos de desempenho mais atrativos do ponto de vista

de uma análise econômico-financeira.

A concepção geral seria aquela já apresentada e discutida na revisão da

literatura. A questão aqui colocada se refere à possibilidade desses valores se

constituírem em dados de fontes não formais também integrada ao sistema gerencial,

a partir de um processo de identificação sistemática de valores com consistência

lógica, porque vinculados a cada serviço oferecido pela entidade pública.

O setor de Controladoria da entidade passaria a estabelecer, calcular e

evidenciar os vários resultados econômicos de cada unidade relevante para o controle

gerencial. Essas medidas seriam analisadas juntamente com os outros indicadores

sugeridos no item anterior, em uma perspectiva de monitoramento da entidade em

suas várias unidades de resultado.

Considerando a experiência já disponível do Cadastro de Fornecedores

(SICAF) do Governo Federal, uma matriz nacional de preços de produtos e serviços,

sempre atualizada, estaria disponibilizada para se considerar os menores preços à

vista dos fatores utilizados pela entidade, para um efetivo cálculo da Receita

Econômica que confrontada com a Despesa Realizada (obtida no sistema formal de

contabilidade SIAFI/SIAFEM), produziria o mencionado Resultado Econômico.

Procedimentos técnicos, ao nível do SIAFI/SIAFEM, podem ser adotados

com o objetivo de estabelecer uma vinculação lógica entre os vários menores preços

de serviços e produtos disponíveis no mercado e evidenciados nas Tabelas de

Preços, com a natureza de cada entidade pública integrante e participantes do

ambiente de Sistema Integrado, a partir do código de Unidade Gestora(UG) e os

vários Programas de Trabalho sob responsabilidade dessas entidades.

Em seguida cada entidade, sempre a partir de um diagnóstico bastante

analítico sobre a natureza de cada Unidade de Resultado conduzido pelo Setor de

Controladoria da entidade, procederá à escolha dos vários valores alternativos

identificados com a necessidade de controle gerencial estabelecida.

Em um hospital público, por exemplo, seriam considerados os vários preços à

vista para procedimentos estabelecidos pelas entidades de associações médicas,

Sistema Único de Saúde(SUS), hospitais privados, etc.

No caso de uma Universidade Pública seriam utilizados preços alternativos

para atividades de ensino obtidos em Escolas Privadas e Universidades Estrangeiras;

para as atividades de pesquisa poderia ser utilizada uma perspectiva de mensuração

baseada no fluxo descontado de caixa esperado para o término da pesquisa, a partir

de uma concepção de análise do retorno do investimento, para o caso das pesquisas

contratadas e/ou financiadas por entidades privadas. Para as aquelas realizadas nas

áreas das ciências básicas, poderia ser utilizada uma medida padrão baseada em

experiências internacionais. No caso de pesquisas e/ou projetos culturais e artísticos,

medidas de custo de oportunidade devem retratar a expectativa de pagar do

consumidor final. As atividades de extensão universitária devem considerar a própria

disposição do cliente/usuário desses bens a exemplo de treinandos, telespectadores,

ouvintes, consumidores, etc., de efetivamente pagarem pelo benefício.

No caso de atividade policial, poderia ser considerado como custo de

oportunidade, valores que seriam pagos por unidade ou posto de vigilância ostensiva

ou preventiva, nas empresas privadas de vigilância, considerando uma relação lógica

com os custos indiretos de utilização de viaturas, armamento, unidades físicas, etc.

Em um Prefeitura, por exemplo, deve-se estabelecer uma estrutura de

Unidades de Resultado, atentando-se para uma vinculação adequada com a prestação

de serviços municipais de coleta de lixo, postos de saúde, escolas, manutenção de

prédios e logradouros públicos, segurança (guardas municipais), e outros serviços

pertinentes.

É importante ressaltar que quanto maior for o conhecimento sobre a entidade

prestadora de serviço público com destaque para o entendimento o mais claro

possível de sua missão, clientela a ser atendida, variáveis do macro-ambiente que

possam gerar ameaças e oportunidades, a tarefa de selecionar alternativas de custo de

oportunidade para cada unidade a ser mensurada será cada vez mais fácil.

Cabe lembrar, como já enfatizado na revisão da literatura inclusive com a

ilustração de exemplos numéricos, que o Modelo Conceitual do Sistema de

Informações de Gestão Econômica-GECON, tem uma preocupação fundamental com

a comunicação e o processo de tomada de decisões gerenciais. Para cada atividade a

cargo das entidades prestadoras de serviço público que consomem recursos (implicam

em gastos) e que são desenvolvidas no processo de fornecer serviços, é oferecida uma

medida alternativa (custo de oportunidade) representativa de sua Receita Econômica.

Este é um esforço para sinalizar aos Gestores Públicos que existe um limite definido

acima do qual a prestação daquele serviço público seria proibitivo, porque muito

oneroso para os usuários/clientes/cidadãos, que poderiam obtê-lo pagando menos.

Esta perspectiva do GECON poderá internalizar um comportamento gerencial

para as entidades prestadoras de serviços públicos, que considere pelo menos três

dimensões atualmente pouco perceptíveis:

1) uma preocupação com a forma como a despesa orçamentária ocorre, desde

volume aplicado, essencialidade do gasto, procedimentos de otimização,

eliminação de desperdícios;

2) qualidade do serviço prestado a partir de uma atenção maior com o

usuário, na medida em que um possível diferencial de qualidade poderá

justificar eventuais resultados econômicos negativos; e

3) estabelecimento de um clima interno que incentive e mantenha em níveis

elevados a auto-estima dos funcionários, em fazer uma entidade prestadora

de serviço público que valoriza o dinheiro público que gerencia.

4-CONCLUSÕES

Um ambiente de Controle Gerencial aplicável às entidades da administração

pública brasileiras, consideradas no âmbito dos Poderes Executivo, Legislativo e

Judiciário, bem como nos níveis de governo da União, dos Estados e Distrito Federal

e dos Municípios, encontra uma sólida perspectiva de viabilidade com a oferta dos

Sistemas SIAFI/SIAFEM.

Os aspectos de cumprimento e observância da dimensão da legalidade dos

atos da execução orçamentária, o acompanhamento analítico das despesas e receitas

de custeio e capital, a elaboração das Demonstrações Contábeis e confecção da

Prestação de Contas nos moldes da Lei 4.320/64, são atendidos a partir da

operacionalização dos eventos, documentos e opções de acesso do Sistema Integrado

de Administração Financeira do Governo Federal(SIAFI) e sua versão para Estados e

Municípios(SIAFEM).

No entanto, as necessidades de informações referentes à dimensão da

economicidade da execução orçamentária, com destaque para os indicadores de

eficiência, eficácia e produtividade dos gastos, caracterizando aspectos indispensáveis

para um efetivo Controle Gerencial daquelas entidades, na medida em que atuam em

um ambiente de oferta limitada de recursos e demanda exigente por serviços de

qualidade, ainda não se encontram atendidas.

Das informações sugestivas obtidas ao longo deste estudo, entende-se a

necessidade de haver uma incorporação/evolução conceitual dos Sistemas

SIAFI/SIAFEM, no sentido de considerar uma concepção de base de dados de fontes

não formais sobre a entidade, tradutores da percepção que os

usuários/clientes/cidadãos têm sobre os serviços prestados pela entidade. Uma análise

conjunta de tais indicadores com indicadores financeiros da despesa, aproximam o

entendimento da essencialidade dos gastos, orientando os Gestores na seleção de

alternativas de combinações mais efetivas.

Conclui-se, também, que os resultados apurados nos Balanços Orçamentário,

Financeiro e Patrimonial e na Demonstração das Variações Patrimoniais, apesar de

utilizarem expressões como economia orçamentária, déficit, superávit e

assemelhadas, não traduzem uma síntese da eficiência, eficácia e produtividade da

gestão, de acordo com a abordagem conceitual tratada na revisão da literatura, pois

está ausente valores confirmados pelo mercado em uma perspectiva de realização da

receita. Entendendo ser esta uma limitação bastante significativa para a elaboração de

indicadores de desempenho financeiro e conseqüente consolidação do controle

gerencial , sugere-se a adoção da abordagem do Modelo Conceitual do GECON na

mensuração da receita econômica que confrontada com a despesa orçamentária

realizada em cada programa de trabalho, departamento, setor ou entidade, permite o

cálculo do resultado econômico, ensejando amplas possibilidades de utilização de

ferramentas gerenciais, a exemplo de margens de contribuição, ponto de equilíbrio e

índices de retorno do investimento, além de internalizar uma preocupação salutar com

o volume de gastos.

Os valores de custo de oportunidade para efeito do cálculo do resultado

econômico, também devem integrar uma tabela no sistema não formal de informações

cuja estrutura, manutenção e funcionamento ocorreria a partir do ambiente

SIAFI/SIAFEM, caracterizando o que o estudo concebeu como Sistema Gerencial

Integrado.

A partir de um cuidado renovado com as metas físicas estabelecidas em cada

Projeto/Atividade, buscando um refinamento técnico para as suas estimativas,

conclui-se também pela possibilidade de cálculo do Índice de Produtividade de cada

Projeto/Atividade, oriundo da relação entre os índices de execução física e os índices

de execução da despesa. Esses indicadores comporiam um ambiente de análise

complementado pelo Quadro Resumo da Produção de cada entidade, com a

identificação e descrição quantificada dos serviços prestados.

A possibilidade de se dispor de medidas com características informacionais

semelhantes à medida do lucro, quanto à evidenciação da eficiência e eficácia da

gestão, para a construção de um caderno de desempenho típico das entidades da

administração pública, pode sugerir novos paradigmas no processo de tomada de

decisões relativas à alocação de recursos para o oferecimento de serviços públicos de

qualidade.

Conclui-se, finalmente, que os sistemas SIAFI/SIAFEM representam uma

conquista extremamente relevante para a implantação definitiva do Controle

Gerencial, na medida em que incorporem medidas financeiras e não financeiras

centradas na leitura dos usuários e concebidas em bases semelhantes às encontradas

neste estudo, e desde que passe a disponibilizar essas informações com o desenho e

características de cada Gestor, considerando que estes mesmos devem acessar o

sistema e confeccionar os relatórios gerenciais desejados.

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