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CONTROLE DE VELOCIDADE EM VEÍCULOS ROBÓTICOS ELÉTRICOS ACIONADOS POR DOIS MOTORES CC INDEPENDENTES MAURO F. KOYAMA 1 , JOSÉ R. AZINHEIRA 2 , RAFAEL A. CORDEIRO 3 , JOSUÉ J. G. RAMOS 1 , ELY C. DE PAIVA 3 , LUIZ G. B. MIRISOLA 1 , HELIO AZEVEDO 1 , SAMUEL S. BUENO 1 1. Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer DRVC / CTI Rod. D. Pedro I, km 143,6 13081-970 Campinas SP Brasil [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] 2. Instituto Superior Técnico - IDMEC / IST Av. Rovisco Pais ,1 - 1049-001 Lisboa Portugal [email protected] 3. Universidade Estadual de Campinas DPM / FEM Rua Mendeleiev, 200, Cidade Universitária Zeferino Vaz 13083-970 Campinas SP Brasil [email protected], [email protected] Abstract This article addresses the problem of speed control of a robotic all-terrain vehicle, driven by two DC electric motors that act independently on the rear wheels. From the observation and explanation that two speed control loops are not able to en- sure the desired behavior of the electric motors ( there are situations where a motor continues to run as a driver while the other one starts to act as a generator) two strategies are presented to solve this problem. Both strategies seek to equally distribute the torque between the motors, working on the relationship between the respective currents. One is based on heuristics, while the se- cond one involves a PI regulator. The article presents these strategies and experimental results. Keywords Robotic land vehicles, electric vehicles, speed control, motor control. Resumo Este artigo aborda o problema de controle de velocidade de um veículo robótico todo-terreno, acionado por dois mo- tores elétricos de corrente contínua (CC) que atuam de forma independente nas rodas traseiras. A partir da constatação e explica- ção de que duas malhas de controle de velocidade não são capazes de assegurar o comportamento desejado dos motores elétricos (há situações onde um motor continua a funcionar como propulsor enquanto que outro passa a atuar como gerador) são apresen- tadas duas estratégias para a solução do problema. Ambas buscam distribuir igualmente o torque entre os motores, atuando na re- lação entre as respectivas correntes. Uma delas é baseada em heurística, enquanto que a segunda envolve um regulador PI. O ar- tigo apresenta essas estratégias e os resultados experimentais obtidos. Palavras-chave Veículos robóticos terrestres, veículos elétricos, controle de velocidade, controle de motores. 1 Introdução Têm crescido o interesse e as pesquisas em veículos robóticos terrestres ver por exemplo (Berger and Rumpe, 2012), motivado por pelo menos dois gran- des cenários de aplicação. O cenário que vem rece- bendo maior ênfase diz respeito ao uso desses veícu- los em ambientes urbanos, seja como unidades de transporte sem condutor, seja no âmbito de sistemas de apoio à condução de veículos (i.e. sistemas de auxílio ao motorista) ou ainda visando sua movimen- tação por “estradas inteligentes”. Outro importante cenário de aplicação corresponde às diferentes possi- bilidades de uso desses veículos em campo - por exemplo, em robótica agrícola, veículos fora de es- trada em mineração, dentre outras. Nesse trabalho, considera-se a classe de veículos robóticos terrestres acionados nas rodas traseiras por dois motores de corrente contínua independentes, e direcionamento determinado pela orientação das duas rodas dianteiras montadas segundo mecanismo tipo Ackerman. É essa a configuração da plataforma experimental do Projeto VERO - Ve ículo Ro bótico de Exterior (Bueno et al., 2009), (Mirisola et al. 2011), mostrada na Figura 1. Figura 1. A plataforma robótica VERO.

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  • CONTROLE DE VELOCIDADE EM VECULOS ROBTICOS ELTRICOS ACIONADOS POR DOIS

    MOTORES CC INDEPENDENTES

    MAURO F. KOYAMA1, JOS R. AZINHEIRA

    2, RAFAEL A. CORDEIRO

    3, JOSU J. G. RAMOS

    1, ELY C. DE PAIVA

    3,

    LUIZ G. B. MIRISOLA1, HELIO AZEVEDO

    1, SAMUEL S. BUENO

    1

    1. Centro de Tecnologia da Informao Renato Archer DRVC / CTI Rod. D. Pedro I, km 143,6 13081-970 Campinas SP Brasil

    [email protected], [email protected],

    [email protected], [email protected],

    [email protected]

    2. Instituto Superior Tcnico - IDMEC / IST Av. Rovisco Pais ,1 - 1049-001 Lisboa Portugal

    [email protected]

    3. Universidade Estadual de Campinas DPM / FEM Rua Mendeleiev, 200, Cidade Universitria Zeferino Vaz

    13083-970 Campinas SP Brasil [email protected], [email protected]

    Abstract This article addresses the problem of speed control of a robotic all-terrain vehicle, driven by two DC electric motors that act independently on the rear wheels. From the observation and explanation that two speed control loops are not able to en-

    sure the desired behavior of the electric motors ( there are situations where a motor continues to run as a driver while the other

    one starts to act as a generator) two strategies are presented to solve this problem. Both strategies seek to equally distribute the torque between the motors, working on the relationship between the respective currents. One is based on heuristics, while the se-

    cond one involves a PI regulator. The article presents these strategies and experimental results.

    Keywords Robotic land vehicles, electric vehicles, speed control, motor control.

    Resumo Este artigo aborda o problema de controle de velocidade de um veculo robtico todo-terreno, acionado por dois mo-

    tores eltricos de corrente contnua (CC) que atuam de forma independente nas rodas traseiras. A partir da constatao e explica-

    o de que duas malhas de controle de velocidade no so capazes de assegurar o comportamento desejado dos motores eltricos (h situaes onde um motor continua a funcionar como propulsor enquanto que outro passa a atuar como gerador) so apresen-

    tadas duas estratgias para a soluo do problema. Ambas buscam distribuir igualmente o torque entre os motores, atuando na re-

    lao entre as respectivas correntes. Uma delas baseada em heurstica, enquanto que a segunda envolve um regulador PI. O ar-tigo apresenta essas estratgias e os resultados experimentais obtidos.

    Palavras-chave Veculos robticos terrestres, veculos eltricos, controle de velocidade, controle de motores.

    1 Introduo

    Tm crescido o interesse e as pesquisas em veculos

    robticos terrestres ver por exemplo (Berger and

    Rumpe, 2012), motivado por pelo menos dois gran-

    des cenrios de aplicao. O cenrio que vem rece-

    bendo maior nfase diz respeito ao uso desses vecu-

    los em ambientes urbanos, seja como unidades de

    transporte sem condutor, seja no mbito de sistemas

    de apoio conduo de veculos (i.e. sistemas de

    auxlio ao motorista) ou ainda visando sua movimen-

    tao por estradas inteligentes. Outro importante

    cenrio de aplicao corresponde s diferentes possi-

    bilidades de uso desses veculos em campo - por

    exemplo, em robtica agrcola, veculos fora de es-

    trada em minerao, dentre outras.

    Nesse trabalho, considera-se a classe de veculos

    robticos terrestres acionados nas rodas traseiras por

    dois motores de corrente contnua independentes, e

    direcionamento determinado pela orientao das duas

    rodas dianteiras montadas segundo mecanismo tipo

    Ackerman. essa a configurao da plataforma

    experimental do Projeto VERO - Veculo Robtico

    de Exterior (Bueno et al., 2009), (Mirisola et al.

    2011), mostrada na Figura 1.

    Figura 1. A plataforma robtica VERO.

  • A arquitetura de controle do VERO composta

    por dois nveis. O nvel mais baixo, baseado em

    microcontroladores interligados via rede CAN,

    responsvel pelas malhas de controle de movimenta-

    o do veculo e tambm pela sua utilizao em mo-

    do manual de operao. Ele executa a leitura dos

    encoders e o envio dos comandos para os sistemas de

    potncia que acionam os motores das rodas e da

    direo. O nvel hierarquicamente superior suporta as

    funes mais complexas de controle e navegao

    (Bueno et al., 2009), (de Paiva et al. 2010), (Mirisola

    et al. 2011), (Martins et al. 2011), (Cordeiro et al.,

    2012), (Cordeiro et al., 2013). Ele congrega um

    conjunto sensorial (GPS, cmeras, lasers, central

    inercial, etc.) e dois processadores no padro mini-

    ITX, interligados via barramento TCP/IP, alm da

    funcionalidade de comunicao com uma estao de

    operao remota.

    O presente artigo aborda a regulao das veloci-

    dades dos motores de trao do veculo, que reali-

    zada no baixo nvel segundo a arquitetura geral apre-

    sentada na Figura 2, implementada em microcontro-

    ladores PIC 18F4580 fabricados pela Microchip.

    Figura 2. Arquitetura de controle bsico de velocidade dos moto-

    res para a locomoo do veculo.

    Primeiramente, so relembradas as restries ci-

    nemticas e as expresses que, dada uma velocidade

    desejada vR e em funo do ngulo de direo, medido por encoder, determinam as referncias de

    velocidade para as rodas traseiras esquerda e direita,

    vE e vD respectivamente; essas expresses compem

    o Mdulo Ackerman da figura. Essas referncias

    vE e vD , convertidas em velocidade angular pela

    diviso pelo raio das rodas (R), constituem as entra-

    das para os controladores PI de velocidade dos moto-

    res, cujas sadas acionam os respectivos sistemas de

    potncia para a alimentao de cada motor assegu-

    rados por controlador Roboteq HDC2450 de dois

    canais independentes. Essas duas malhas utilizam,

    para realimentao, as rotaes das rodas traseiras

    esquerda e direita - E e D respectivamente, forne-cidas por encoders montados junto s rodas.

    Mostra-se ento que essas duas malhas de con-

    trole de velocidade no so capazes de assegurar o

    comportamento desejado dos motores eltricos, pois

    h situaes onde um motor continua a funcionar

    como propulsor enquanto que o outro passa a atuar

    como gerador; embora as duas velocidades permane-

    am reguladas. Esta situao, indesejvel para o

    funcionamento do veculo, foi detectada quando

    trafegando em terreno plano em boas condies de

    aderncia; uma situao mais complexa seria a do

    veculo se locomovendo em terrenos de baixa ade-

    rncia, sujeitos a escorregamentos (longitudinais) nas

    rodas motrizes.

    Esse comportamento indesejado e o cenrio de

    maior complexidade em baixa aderncia, demons-

    tram a necessidade de estratgias de controle mais

    elaboradas, que utilizem mais informaes para as

    malhas fechadas do que as simples velocidades de

    rotao das rodas. Uma informao adicional, candi-

    data a ser utilizada, a corrente de cada motor, a qual

    caracteriza o torque em motores CC.

    Assim, como um primeiro passo na busca de es-

    tratgias de controle de velocidade para veculos

    acionados independentemente nas duas rodas trasei-

    ras (o que poder ser extrapolado para veculos com

    acionamentos eltricos individuais em cada uma das

    quatro rodas), proposta a arquitetura de controle da

    figura 2, a qual se distingue pelo acrscimo do bloco

    Mdulo Corrente, que introduz uma funcionalida-

    de adicional, constituindo o tema principal desse

    artigo.

    Esse mdulo parte das correntes iE e iD, dos mo-

    tores esquerdo e direito respectivamente (medidas

    pelo controlador Roboteq HDC2450), para gerar um

    termo de correo vi que visa distribuir igualmente o torque entre os motores.

    Considerando-se que as solues devam ser

    simples o suficiente em termos de carga de proces-

    samento (para implementao nos microcontrolado-

    res PIC 18F4580 que compem o baixo nvel de

    arquitetura de controle do VERO), so apresentadas

    duas estratgias para este mdulo: uma baseada em

    formulaes heursticas e outra implementada por

    um controlador PI. Resultados experimentais, utili-

    zando a plataforma robtica mostrada na Figura 1,

    ilustram as situaes descritas e validam as estrat-

    gias desenvolvidas.

    Aps essa seo introdutria, as sees subse-

    quentes desse artigo esto organizadas segundo os

    temas e sequncia explicitados anteriormente.

    2 O Mdulo Ackerman

    Para uma velocidade desejada vR e ngulo de direo

    , as relaes cinemticas que determinam as refe-rncias de velocidade esquerda (vE ) e direita (vD )

    para as rodas traseiras do veculo foram apresentadas

    em (Martins et al., 2011).

    Considerando a distncia L entre os eixos e a

    distncia D entre as rodas, essas relaes compem o

    Mdulo Ackerman da Figura 2 e so dadas pelas

    equaes:

    vR

    vD / R

    vE / R

    D

    E

    -

    +

    -

    + -

    +

    +

    +

    vi

    iD

    iE

    -

    + Mdulo

    Ackerman

    Mdulo Corrente

    Motor Esquerdo

    Motor Direito

    Encoder Roda D

    Encoder Roda E

    PI Esquerdo

    PI Direito

  • )tan(

    21

    L

    Dv=v RE (1)

    )tan(

    21

    L

    Dv=v RD (2)

    As velocidades fornecidas por essas equaes

    asseguram, em condies ideais de aderncia e pela

    configurao cinemtica do veculo, a inexistncia de

    escorregamentos (longitudinais) nas rodas motrizes:

    se o ngulo de direo nulo, as duas velocidades

    so iguais, pois o veculo desloca-se em linha reta;

    para curvas esquerda a roda direita (externa cur-

    va) gira mais rpido que a esquerda (interna curva)

    e para curvas direita a situao recproca ocorre.

    3 Descrio do Problema

    Em algumas das movimentaes do veculo em cam-

    po, foram observadas situaes inesperadas, em que

    ele passava a locomover-se inclinado para um dos

    lados. Foi realizado ento um minucioso procedi-

    mento de testes com a plotagem e anlise do conjun-

    to de dados registrados do VERO, visando identificar

    e compreender o que se passava.

    A causa do problema deve-se a um acoplamento

    entre os controles de cada motor, que ocorre atravs

    da estrutura mecnica do veculo e do contato pneu-

    solo das rodas de propulso. Isso fazia com que o

    controlador que alcanasse primeiro a referncia de

    velocidade desejada (vE ou vD, segundo (1) e (2)) se

    acomodasse e comeasse a diminuir a potncia for-

    necida roda de seu lado. Com isso, o outro contro-

    lador era forado a aumentar a sua potncia, pois

    ainda no tinha atingido a referncia de velocidade

    especificada. O processo continuava at que um dos

    motores exercesse praticamente todo o esforo de

    trao e o outro fosse carregado, funcionando s

    vezes como gerador, (i.e., produzindo uma corrente

    negativa) pelo efeito regenerador adotado no sis-

    tema de energia do veculo.

    Figura 3. Evoluo das correntes dos motores e dos erros de

    velocidades das rodas (*10)

    A Figura 3 apresenta um transitrio no controle

    de velocidade do veculo que ilustra o problema.

    Observa-se o crescimento das correntes e das potn-

    cias at o ponto indicado pela seta. A partir desse

    instante ocorre uma divergncia: a corrente do motor

    direito (roxo) continua crescendo e a do motor es-

    querdo (azul claro) cai, embora as velocidades con-

    virjam para valores em torno da referncia especifi-

    cada (amarelo). Ou seja, o erro de velocidade do

    controlador esquerdo (preto) est sempre abaixo do

    direito (azul escuro), o que significa que o canal

    esquerdo atinge a referncia de velocidade antes.

    Quando esta referncia atingida o sinal de controle

    vai sendo diminudo e tem-se como consequncia a

    rpida queda da corrente desse motor esquerdo. Ele

    passa ento a funcionar como carga, passando o

    outro motor (direito) a assegurar a propulso do

    veculo.

    4 Soluo: o Mdulo Corrente

    O fato de que, com o modelo original de controle,

    poder haver um desequilbrio de torque entre os

    lados do veculo durante seu deslocamento, certa-

    mente impacta na dirigibilidade do mesmo e em sua

    capacidade para executar as misses que lhe forem

    atribudas. Conforme apontado por (Cordeiro et al.

    2012) ao formular um modelo dinmico para o VE-

    RO, a utilizao de modelos puramente cinemticos

    pode no ser suficiente para veculos robticos de

    utilizao em ambientes externos. Outros trabalhos

    tambm apontam a necessidade de uma modelagem

    da dinmica dos veculos robticos (Pepy et al.

    2006), (Sampaio et al. 2011) e a equipe do projeto

    VERO j vem trabalhando nesse sentido.

    No entanto, solues de controle baseadas em

    dinmica so mais complexas e precisariam ser im-

    plementadas no nvel superior de controle, de maior

    capacidade de processamento, e no no nvel opera-

    cional bsico. A soluo do problema est ento

    constrangida, no contexto desse trabalho, aos recur-

    sos computacionais disponveis nos subsistemas

    herdados, baseados em microcontroladores.

    So aqui apresentadas duas estratgias para a so-

    luo do problema descrito na seo precedente.

    Ambas partem do conceito geral adotado nos dife-

    renciais mecnicos dos veculos automotivos usuais,

    que buscam distribuir igualmente entre as rodas

    tracionadas o torque advindo do motor. No nosso

    caso, como a propulso feita por dois motores el-

    tricos de corrente contnua independentes, essas

    estratgias resultam na atuao sobre a relao entre

    as correntes dos motores. Assim, a partir da diferena

    das correntes e dos motores, o mdulo Corren-te da Figura 2 gera um termo de correo que visa igualar os torques entre eles.

    Para implementar as estratgias foi utilizado um

    mdulo microprocessado j existente e que fazia a

    interface entre o mdulo de potncia Roboteq e o

    restante do nvel operacional do VERO.

    Uma estratgia baseada em heurstica, enquan-

    to que a outra envolve um regulador PI, como deta-

    lhado a seguir.

  • 4.1 Estratgia heurstica

    Nas equaes seguintes os subscritos (E) e (D)

    denotam os lados esquerdo e direito do veculo.

    Considerando-se o veculo movendo-se em ve-

    locidade constante no plano e sem movimento da

    direo, razovel supor uma distribuio uniforme

    de potncia entre os lados esquerdo ( ) e direito ( ). Considera-se que h uma distribuio uniforme de cargas entre os dois lados do veculo, de forma a

    que cada conjunto, controlador de velocidade e mo-

    tor, seja responsvel por mover metade da carga.

    (3)

    Como Potncia = Torque x Velocidade Angular,

    tem-se:

    (4)

    O Torque fornecido pelos motores pode ser des-

    crito (simplificadamente) pela equao (5), onde a constante de torque do motor e sua corrente.

    (5)

    Assim, pode-se escrever:

    = (6)

    A relao entre as velocidades pode ento ser

    explicitada como:

    =

    (7)

    Assumindo a hiptese que os motores sejam

    idnticos, = e ento:

    =

    (8)

    Verifica-se que, nesse caso, a relao entre as

    velocidades proporcional ao inverso da relao de

    correntes.

    Considerando-se que o controlador deveria ser

    implementado em um mdulo microprocessado, com

    restries na capacidade de processamento e de ar-

    mazenamento, a utilizao direta dessa relao de

    diviso de correntes no interessante, devido aos

    problemas na passagem por zero das variveis. Foi

    ento proposta uma heurstica baseada em diferena

    de correntes, com o mesmo propsito de manter as

    correntes prximas. Essa heurstica, de carter pro-

    porcional ponderado, dada por:

    =

    (9a)

    Se motor esquerdo, = Se motor direito, =

    Se < 1 =

    (9b)

    onde iMAX o valor mximo da corrente, o valor do controle enviado para o mdulo de potncia (es-

    querdo ou direito), a sada do controlador de

    velocidade (esquerdo ou direito), o adicional de controle de velocidade devido heurstica.

    Esta heurstica foi implementada no mdulo mi-

    crocontrolado e testada em trajetos que incluam

    rampas, trechos planos e curvas.

    Na Figura 4 h uma comparao entre o veculo

    Figura 4. Acima: PIs de velocidade; Abaixo: PIs de velocidade +Controle Heuristico de Corrente.

    -800

    -600

    -400

    -200

    0

    200

    400

    600

    800

    300 400 500 600 700 800 900 1000

    Tempo (s)

    dirG*10 corrE corrD velE velD

    joyStick

    -800

    -600

    -400

    -200

    0

    200

    400

    600

    800

    200 300 400 500 600 700 800 900

    Tempo (s)

    dirG*10 corrE corrD velE velD

    joyStick

  • com dois controladores de velocidade PI e sem m-

    dulo de correntes (parte superior) e do veculo com

    os mesmos controladores de velocidade PI e com o

    mdulo de correntes (parte inferior). Este trajeto de

    aproximadamente 500 metros. Primeiramente ele foi

    executado com os controladores PI e em seguida o

    controlador de correntes foi ativado, em conjunto

    com os controladores de velocidade PI, e o trajeto foi

    repetido.

    Nesta figura e nas subsequentes o eixo das abs-

    cissas refere-se ao tempo em segundos e o eixo das

    ordenadas est normalizado com valores entre -1000

    e 1000, para representar as diversas variveis, sendo

    que os fatores de converso e valores mximos so

    os seguintes: correntes em ampres (1/10, 100A),

    velocidades das rodas em rpm (1/12,5, 80 rpm),

    ngulo de direo em graus (1/10, 25).

    Nota-se que sem o controle de correntes h uma

    diferena acentuada de correntes entre os lados direi-

    to (vermelho) e esquerdo (verde). Essa separao

    surge especialmente durante grandes manobras da

    direo, por exemplo virar esquinas, e em outras

    situaes de carga maior (como rampas).

    Com a heurstica proposta o comportamento di-

    nmico do veculo melhora significativamente. Du-

    rante as manobras de direo h uma pequena sepa-

    rao de correntes, conforme esperado devido s

    correes feitas de acordo com o clculo do Mdulo

    Ackerman, mas o controle retorna as correntes ao

    equilbrio.

    4.2 Estratgia baseada em controlador PI

    Como a heurstica descrita acima apresentou

    bons resultados, decidiu-se buscar uma alternativa

    mais formal e ainda passvel de implementao com

    os recursos computacionais escassos do microcontro-

    lador usado.

    Optou-se assim pela implementao de um con-

    trolador PI na forma paralela clssica dada pela fun-

    o de transferncia em (10) e incluindo limitaes

    na excurso das variveis de sada, bem como uma

    limitao na acumulao da integral para evitar o

    efeito de wind-up:

    + (10)

    Baseando-se no desempenho do veculo em reta,

    antes da implementao das estratgias propostas,

    tais como tempo de subida e estabilizao em respos-

    ta ao degrau, os controladores de velocidade PI fo-

    ram ajustados.

    A seguir, o Mdulo de corrente, com contro-

    lador PI, foi ativado e ajustado manualmente.

    Um trajeto semelhante aos anteriores foi execu-

    tado e o resultado mostrado na Figura 5. Nesta

    figura as correntes esto sendo filtradas com um

    filtro exponencial.

    Observa-se que as correntes mantm-se prxi-

    mas na maior parte do tempo, mesmo nas manobras e

    situaes de maior exigncia, como por exemplo, nas

    partidas com velocidade zero.

    Na Figura 6 esto apresentadas as sadas do con-

    trolador de velocidade esquerdo (amarelo) e do con-

    trolador de corrente (lils).

    Figura 6: Sadas dos controladores de velocidade e corrente.

    Figura 5. Controladores de Velocidade PIs + Controle de Corrente PI

    -800

    -600

    -400

    -200

    0

    200

    400

    600

    800

    0 100 200 300 400 500 600 700 800

    Tempo (s)

    dirG*10 corrE corrD velE velD

    joyStick

    -200

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    75 80 85 90 95 100Tempo (s)

    dirG*10 corrE corrD velE

    conCorr conVelE joyStick

  • Verifica-se que as correes de correntes (con-

    Corr) variam mais rapidamente nas manobras (de-

    grau de velocidade em preto e giro da direo em

    azul).

    5 Concluso

    A utilizao da plataforma experimental do projeto

    VERO, cuja trao realizada por dois motores de

    corrente contnua atuando de forma independente nas

    rodas traseiras, levou constatao de que malhas

    independentes de controle de velocidade no so

    suficientes para controlar adequadamente a movi-

    mentao do veculo. Com efeito, acoplamentos

    introduzidos pelo contato entre os pneus e o terreno

    podem levar situao indesejvel em que um motor

    atua na propulso enquanto que o outro motor passa

    a funcionar como gerador.

    Como primeiro passo para solucionar o proble-

    ma, foram concebidas duas estratgias simples, pas-

    sveis de implementao nos microcontroladores que

    compem o baixo nvel de atuao no veculo. As

    solues partiram da ideia de minimizar a diferena

    de corrente nos motores, equalizando os torques, na

    suposio de que dada a simetria do veculo e seme-

    lhana dos conjuntos propulsores, a carga seria divi-

    dida igualmente entre as rodas traseiras. Assim a

    estratgia inicial, baseada em heurstica, evoluiu para

    uma segunda, calcada em regulador PI. O uso dessas

    solues em condies reais de locomoo, passando

    por rampas e curvas, mostrou um comportamento

    adequado e a correo dos problemas originalmente

    identificados.

    A temtica de acionamento de veculos robticos

    multi-motores uma rea ainda em evoluo. Na

    sequncia dos trabalhos, uma modelagem mais com-

    plexa da dinmica do veculo (Cordeiro et al. 2012),

    ser usada para considerar, por exemplo, estratgias

    mais elaboradas para o controle de dois motores de

    trao como em (Sampaio et al. 2011), (Yang & Lo

    2008), ou mesmo aquelas baseadas em polticas de

    alocao de torques.

    Agradecimentos

    Os autores agradecem os financiamentos dos

    projetos NAGUIVA (490722/2010-5 - CNPq/FCT -

    Portugal) e INCT-SEC (CNPq - 573963/2008-8 e

    FAPESP - 08/57870-9), bem como a atuao de

    Douglas Figueiredo no veculo e seus sistemas.

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