controle de roedores

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA DOUTORADO EM HIGIENE VETERINÁRIA E PROCESSAMENTO TECNOLÓGICO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL DISCIPLINA: SANEAMENTO EM HIGIENE VETERINÁRIA PROFESSOR: ELMIRO ROSENDO CONTROLE DE ROEDORES JORGE LUIZ FORTUNA Niterói – RJ 2009

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Controle de roedores

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Page 1: Controle de Roedores

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA

DOUTORADO EM HIGIENE VETERINÁRIA E PROCESSAMENTO TECNOLÓGICO DE

PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

DISCIPLINA: SANEAMENTO EM HIGIENE VETERINÁRIA

PROFESSOR: ELMIRO ROSENDO

CONTROLE DE

ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

Niterói – RJ 2009

Page 2: Controle de Roedores

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO, p. 3

2 PRINCIPAIS ESPÉCIES, p. 4

2.1 Rattus novergicus, p. 4

2.2 Rattus rattus, p. 4

2.3 Mus musculus, p. 5

2.4 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS, p. 5

3 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E SANITÁRIA, p. 11

4 INFESTAÇÃO, p. 12

4.1 AVALIAÇÃO DA INFESTAÇÃO, p. 12

5 RISCOS À SAÚDE, p. 14

6 CONTROLE DE ROEDORES, p. 15

6.1 FASES CONTIDAS NO MANEJO INTEGRADO DE ROEDORES, p. 16

6.1.1 Inspeção, p. 16

6.1.2 Identificação, p. 17

6.2 MEDIDAS CORRETIVAS E PREVENTIVAS, p. 17

6.2.1 Anti-ratização, p. 17

6.2.2 Desratização, p. 18

6.2.2.1 Métodos mecânicos, p. 19

6.2.2.2 Métodos biológicos, p. 19

6.2.2.3 Métodos químicos, p. 19

6.3 RATICIDAS ANTI-COAGULANTES, p. 20

6.3.1 Forma de ação, p. 20

6.3.1.1 Raticidas de dose múltipla ou de 1ª geração, p. 20

6.3.1.2 Raticidas de dose única ou de 2ª geração, p. 21

6.3.2 Forma de apresentação, p. 21

6.3.2.1 Iscas, p. 21

6.3.2.2 Pó de contato, p. 21

6.3.2.3 Blocos impermeáveis, p. 21

7 REFERÊNCIAS, p. 23

Page 3: Controle de Roedores

3

SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

1 INTRODUÇÃO

Os roedores têm merecido a atenção de pesquisas da área da saúde

humana e produção animal, basicamente, em função de dois grandes

aspectos: são reservatórios de importantes doenças, inclusive com

significado zoonótico; e são responsabilizados por importantes perdas

econômicas exemplificado pelo fato de consumirem grandes parcelas de

alimentos armazenados (BEVILACQUA et al, 2004).

A infestação por roedores em núcleos populacionais é um problema

que vem, historicamente, afetando a humanidade. O processo de

urbanização e ocupação desordenada, bem como a intervenção humana

nos espaços naturais, determinam condições de aproximação das espécies

humana e animais (sinantropia), algumas delas não desejáveis, como os

roedores, que são considerados animais sinantrópicos comensais (BRASIL,

2002; GARCIA, 2008).

O conhecimento das espécies de roedores que infestam áreas

específicas e a dinâmica dessa população se torna importante à medida

que as ações de controle, sejam de anti-ratização ou desratização, devem

ser planejadas e executadas também em função da espécie que se quer

controlar. Esse conhecimento é um dos pressupostos do que atualmente é

entendido como manejo integrado de roedores (BEVILACQUA et al, 2004).

Os excedentes de alimentos e sua guarda junto ao domicílio humano

geraram mudanças comportamentais de animais que possibilitaram a

sinantropia e a transformação de zoonoses em doenças humanas

(DUARTE, 2008).

Page 4: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

2 PRINCIPAIS ESPÉCIES

Os três roedores urbanos e comensais – Rattus novergicus, Rattus

rattus e Mus musculus domesticus – estão presentes na maioria das

cidades, principalmente nas de maior densidade populacional (DUARTE,

2008).

A identificação da espécie de roedor é fundamental no sucesso das

ações de controle. Os roedores sinantrópicos (que convivem no mesmo

ambiente do homem) são divididos em duas categorias: roedores

silvestres e roedores urbanos. Apesar dos roedores silvestres poderem

transmitir doenças importantes com a hantavirose, os roedores urbanos

são que possuem maior importância em termos de saúde pública, estando

associados principalmente à ocorrência da leptospirose e da peste.

2.1 Rattus novergicus

Face à precariedade de coleta e disposição de resíduos sólidos que

propiciam imensas infestações de R. novergicus, vulgarmente conhecidos

por ratazanas. Animais fossoriais que cavam suas ninheiras em um raio de

40-50 metros de fontes de alimentos, principalmente em áreas públicas

das cidades (DUARTE, 2008).

Habita o solo (terrestre) com característica extradomiciliar. Dotado de

habilidades para escavar, nadar e roer, podendo girar em torno de seu

ninho até 50 metros. Abriga tocas e galerias no subsolo, na beira de rios e

córregos, e lixões. Alimenta-se até 30 g/dia de lixo orgânico, cereais,

raízes e carne e consome água até 30 mL/dia.

2.2 Rattus rattus

Habita acima do solo, com característica intra e extradomiciliar.

Dotado de habilidades para escalar, equilibrar-se e roer, podendo explorar

em torno de seu ninho até 60 metros. Habita o forro das casas, depósitos

Page 5: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

e armazéns. Costuma ser encontrado nas proximidades de áreas

portuárias. Alimenta-se até 30 g/dia de legumes, frutas, cereais, raízes e

pequenos insetos e consome água até 30 mL/dia.

2.3 Mus musculus

Habita o solo e também partes superiores, com característica

intradomiciliar. Dotado de habilidades como escalar e roer, pode explorar

em torno de seu ninho até nove metros. Constrói o mesmo em móveis,

despensas, gabinetes de cozinha e qualquer orifício capaz de acomodá-lo.

Alimenta-se até três g/dia de cereais, pão, queijo e seu consumo de água

é inexpressivo.

2.4 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

Os roedores possuem os sentidos muito apurados, principalmente

tato (através dos pêlos), audição, olfato e paladar. A visão, porém, é

limitada. Entretanto são bastantes sensíveis às variações de intensidade

luminosa, o que confere aos mesmos capacidade imediata de perceber

movimentos. O corpo é muito flexível, e quando conseguem passar a

cabeça são capazes de se locomover pelo interior de canos, conduites e

tubulações de diversos tamanhos. Além disso, conseguem roer vários

tipos de materiais considerados duros, entre eles madeira, tijolos,

chumbo, alumínio, etc.

Sustam a respiração por até três minutos, e nadando dentro de um

cano de esgoto podem facilmente penetrar em uma residência através do

vaso sanitário. São exímios nadadores, alcançando distâncias de até 800

metros. Sobem pelo exterior de canos e calhas verticais que estejam

separados de uma parede por até 7,5 cm de distância, apoiando as patas

no cano e as costas na parede ou vice-versa, e também conseguem subir

pelo exterior de canos e calhas verticais que tenham até 9,5 cm de

diâmetro, abraçando-se neles.

Page 6: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

Caminham e equilibram-se sobre qualquer tipo de cano ou conduite

horizontal. Acessam andares superiores de edificações, através do interior

de canos e calhas com diâmetro entre quatro e dez centímetros, usando

para isso o apoio de suas patas e costas.

Pulam verticalmente cerca de um metro de altura, partindo do chão.

Cavam tocas verticais no solo podendo atingir até 1,25 metros de

profundidade. Não sofrem qualquer tipo de ferimento em quedas de até

15 metros de altura. Ganham andares superiores de construções fazendo

uso somente da quina de duas paredes como sustentação. Saltam

horizontalmente até 1,2 metros de distância, partindo da imobilidade.

As principais características biológicas dos roedores urbanos estão

descritas na TABELA 1.

TABELA 1 Principais características biológicas dos roedores urbanos.

Características Rattus norvergicus Rattus rattus Mus musculus

Gestação 19 a 24 dias 19 a 24 dias 19 a 24 dias

Ninhada por Ano 8 a 12 4 a 8 5 a 6

Filhotes por Ninhada 7 a 12 7 a 12 3 a 8

Desmame 28º dia 28º dia 25º dia

Maturidade 60 a 90 dias 60 a 75 dias 42 a 45 dias

Tempo Médio de Vida

24 meses 18 meses 12 meses

FONTE: <http://www.mgar.com.br/zoonoses/aulas/aula_roedores.htm>

Page 7: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

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FIGURA 1 Características do Rattus novergicus.

FONTE: <http://www.mcguido.vet.br/controle_roedores.htm> FIGURA 2 Características do Rattus rattus.

FONTE: <http://www.mcguido.vet.br/controle_roedores.htm> FIGURA 3 Características do Mus musculus.

FONTE: <http://www.mcguido.vet.br/controle_roedores.htm>

Page 8: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

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FIGURA 4 Principais diferenças das características dos roedores urbanos.

FONTE: BRASIL, 2002 (Manual de Controle de Roedores – FUNASA).

FIGURA 5 Principais diferenças entre o Rattus rattus e Rattus

novergicus.

Page 9: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

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FONTE: <http://www.mgar.com.br/zoonoses/aulas/aula_roedores.htm>

FIGURA 6 Esquema representando o ciclo de vida de um roedor urbano.

FONTE: ChemoNE Industrial Química do Nordeste Ltda.

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FIGURA 7 Características e comportamento das principais espécies de roedores sinatrópicos comensais.

FONTE: BRASIL, 2002 (Manual de Controle de Roedores – FUNASA).

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

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3 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E SANITÁRIA

Prejuízos em torno de 4-8% da produção nacional de raízes, cereais

e sementes, causados por ingestão e estragos em rações e farelos, além

da quebra parcial de grãos e destruição de sementes recém-plantadas.

Atacam os cereais tanto na espigagem como depois de colhidos e

armazenados e devastam culturas de milho, arroz, trigo, milho, cacau e

cana-de-açúcar.

Podem causar sérios acidentes devido aos danos causados em

estruturas, maquinários e materiais, além de penetrarem em

computadores, roer fios elétricos e cabos telefônicos, podendo causar

curto circuitos e incêndios.

São transmissores de várias doenças para o homem e aos outros

animais, participando da cadeia epidemiológica de pelo menos 30

zoonoses, tais como: leptospirose, hantavirose, peste, tifo murino,

salmonelose, febre da mordedura, triquinose.

Page 12: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

4 INFESTAÇÃO

Roedores sinantrópicos vivem próximos ao homem, principalmente

os murídeos (Rattus sp. e Mus musculus), em busca de água, alimento e

abrigo.

Os principais sinais indicativos da presença de roedores são:

� Presença de fezes.

� Tocas.

� Ninhos.

� Trilhas de roedores.

� Manchas de gordura nos locais onde passa.

� Odor característico de urina.

� Presença de ratos vivos ou mortos.

4.1 AVALIAÇÃO DA INFESTAÇÃO

O exame in loco pode dar uma estimativa do nível de infestação por

roedores, conforme a tabela abaixo:

TABELA 2 Indicadores do nível de infestação por roedores.

INDICADORES BAIXA MÉDIA ALTA

Trilhas Ausentes Algumas Várias

Manchas de gordura por atrito corporal Ausentes Pouco perceptível

Evidências em vários locais

Roeduras Ausentes Algumas Visíveis em diversos locais

Fezes Algumas Vários locais Numerosas e frescas

Tocas ou ninhos 1 a 3 / 300 m² área ext

4 a 10 / 300 m² área ext

+ de 10 / 300 m² área ext

Ratos vistos Não constatado Alguns em ambiente escuro

Vários em ambiente escuro e alguns a luz

do dia

FONTE: <http://www.mgar.com.br/zoonoses/aulas/aula_roedores.htm>

Page 13: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

Outra opção para avaliação do nível da infestação consiste em

distribuir 100 armadilhas com iscas em um determinado local a ser

avaliado. As armadilhas devem ser colocadas às 22 horas de um dia e

recolhidas às cinco horas do dia seguinte, repetindo-se o procedimento

por três dias. Ao final deste período apura-se o número de roedores

capturados e determina-se o grau de infestação, conforme definido a

seguir:

� Baixa infestação - 01 a 05 roedores capturados.

� Média infestação - 06 a 15 roedores capturados.

� Alta infestação - 16 a 29 roedores capturados.

� Altíssima infestação - acima de 30.

Page 14: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

5 RISCOS À SAÚDE

Pelo menos 45 doenças humanas envolvem esses roedores urbanos

em sua epidemiologia, podendo ser transmitidas direta, indiretamente e

por intermédio de vetores (DUARTE, 2008).

As principais doenças transmitidas por roedores são: Leptospirose,

Hantavirose, Peste, Tifo, Salmonelose, Febre de mordedura e Triquinose.

A espécie R. novergicus é a maior responsável pela transmissão a

leptospirose. As ratazanas apresentam índices de 40 a 50% de infecção

por Leptospira sp. Já realizadas na maioria das pesquisas de suas

populações urbanas (DUARTE, 2008).

Page 15: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

6 CONTROLE DE ROEDORES

O manejo integrado compreende a adoção de medidas preventivas,

através principalmente de um trabalho educativo, medidas de

ordenamento ambiental (anti-ratização) e medidas de eliminação dos

animais, esta definida como desratização. Quanto mais um determinado

ambiente ofertar condições favoráveis de acesso, alimento e abrigo aos

roedores, mais favorecida será a instalação e reprodução desses animais,

ensejando na dispersão com ocupação de outras áreas, resultando em

ondas de dispersão continuadas e aumento populacional, caso as

condições dessas áreas também ofereçam as mesmas condições (GARCIA,

2008).

As ações de desratização isoladamente, não são efetivas para um

controle de roedores permanente. Há quase se adotar as medidas de

manejo e correção ambiental visando retirar alimentos que sirvam aos

roedores, por meio da destinação adequada de resíduos e armazenagem

apropriada de alimentos; retirar a possibilidade de acesso (vedação de

frestas, tubulações, canalizações de córregos, construções a prova de

roedores) e de abrigo (pela roçagem do mato, retirada de entulho e

inservíveis) e, principalmente, investir em ações de caráter educativo

tanto no aspecto ambiental quanto de saúde, para que a população,

conhecedora do problema em sua abrangência, possa ter participação

ativa no processo de controle (GARCIA, 2008).

Sempre será necessária a capacitação das autoridades de saúde e a

sensibilidade e vontade política de governantes e administradores dos

órgãos governamentais, da fundamental participação da sociedade, tanto

na democrática pressão para solução de problemas de saúde pública,

como no essencial exercício de ações que minimizem problemas de saúde

pública a partir do interior de seus domicílios e peridomicílios (DUARTE,

2008).

Com o advento da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 275,

de 21 de outubro de 2002 e a RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004,

Page 16: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

passa a ser obrigatória a contratação de uma empresa profissional no

controle de pragas urbanas para o desenvolvimento destas atividades

nestes locais. Consequentemente, cria-se a necessidade de se introduzir

nas práticas de controle da qualidade dos alimentos a figura das

desinsetizadoras, regulamentadas pela RDC nº 18, de 29 de fevereiro de

2000 (MATIAS, 2007).

A educação sanitária sistemática e permanente é uma das mais

importantes tarefas de governantes e administradores da saúde pública.

Uma educação sanitária que permeie todos os meios de comunicação e de

educação formal e informal (DUARTE, 2008).

O problema de infestação por roedores inicia-se no interior dos

domicílios e das diferentes tipologias industriais, comerciais, públicas e

privadas (DUARTE, 2008).

O controle se baseia no manejo integrado – no conhecimento de

biologia, hábitos comportamentais, habilidades e capacidades físicas do

roedor, associado ao conhecimento do meio ambiente onde estão

instalados.

Os roedores vivem em qualquer ambiente que lhes dê

sobrevivência. Para sobreviverem, necessitam de quatro condições: água,

abrigo, alimento e acesso para o domicílio humano. O controle de

roedores tem como objetivo diminuir a população de roedores a níveis

aceitáveis de convivência, de modo a não causar prejuízos ao homem

(FIOCRUZ, 2009).

6.1 FASES CONTIDAS NO MANEJO INTEGRADO DE ROEDORES

6.1.1 Inspeção

Inspeção da área a ser controlada para levantamento de

informações e dados a respeito da situação encontrada para orientar as

medidas que vem a seguir.

Page 17: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

6.1.2 Identificação

Consiste na identificação da espécie infestante, o que fornecerá

através do conhecimento de sua biologia e comportamento, orientações a

respeito do controle a ser estabelecido.

6.2 MEDIDAS CORRETIVAS E PREVENTIVAS

Medidas corretivas e preventivas (anti-ratização) – é o conjunto de

medidas que visam dificultar ou até mesmo impedir a penetração,

instalação e proliferação de roedores.

Há duas formas de se controlar roedores, por meio de medidas

denominadas de anti-ratização e desratização.

6.2.1 Anti-ratização

Conjunto de medidas que corrigem o meio ambiente, tornando-o

impróprio à instalação e proliferação de roedores, isto é, são as medidas

preventivas que evitam que o roedor adentre e se instale num

determinado local e aí comece a se reproduzir. Se enquadram neste item o

controle dos chamados "4 As": Água, Acesso, Abrigo e Alimento. Consiste

em criar mecanismos e barreiras que evitem que os roedores tenham

acesso a um determinado local:

� Controle de restos e resíduos de alimentos e rações.

� Agilizar os serviços de coleta de lixo.

� Aprimorar a utilização de aterros sanitários.

� Implantação de barreiras físicas.

� Limpeza e remoção de entulhos e vegetações.

� Drenagem ou fechamento de recipientes com água.

� Participação da comunidade no controle e prevenção,

melhorando as condições de moradia da população.

Page 18: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

FIGURA 8 Esquema representando os principais itens de controle de roedores – Água, Acesso, Abrigo, Alimento.

FONTE: ChemoNE Industrial Química do Nordeste Ltda.

6.2.2 Desratização

Controle de roedores através do uso de produtos químicos ou

raticidas para eliminar ou reduzir a população de roedores em um

determinado local. Raticidas são tóxicos a pessoas e animais e para

realizar o controle de roedores há necessidade de se conhecer a biologia,

hábitos e comportamentos destes animais. Um controle realizado de

forma errônea ou insuficiente pode não matar os roedores e expor

pessoas e animais a risco de ingestão de raticidas. Portanto, este tipo de

controle só deverá ser realizado por técnicos treinados e equipados para

realizar esta atividade.

Na desratização emprega-se todas as medidas para a eliminação dos

roedores, através de três principais métodos.

Page 19: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

� Métodos mecânicos – ratoeiras e gaiolas.

� Métodos biológicos – gatos, outros predadores e bactérias letais.

� Métodos químicos – uso de raticidas.

A desratização deve ser acompanhada de medidas de saneamento, a

fim de evitar a disseminação da população de roedores. Em áreas

endêmicas de tifo murino, recomenda-se a aplicação de inseticida local

anterior ou simultaneamente a desratização para evitar que as pulgas dos

ratos mortes busquem outros hospedeiros, inclusive o homem.

6.2.2.1 Métodos mecânicos

� Incruentos – capturam o animal vivo (gaiolas).

� Cruentos – Produzem a morte do animal durante a captura

(“ratoeiras quebra-costas”), são ótimas para camundongos, mas

de baixa eficiência para ratazanas e ratos de telhado.

� Ultra-som – também considerado como método mecânico.

6.2.2.2 Métodos biológicos

O uso de cães e gatos parece não representar perigo contra os

roedores, pois convivem com os mesmos alimentando-se dos restos de

comida.

Na área rural, aves, carnívoros e ofídios exercem melhor atuação no

controle de roedores.

6.2.2.3 Métodos químicos

São compostos químicos especialmente desenvolvidos para causar

morte do animal. Os raticidas podem ser classificados em agudos ou

crônicos.

Os raticidas agudos causam a morte do roedor nas primeiras 24

horas após a ingestão. Foram proibidos no Brasil porque são inespecíficos,

Page 20: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

alguns deles não tem antídoto e podiam induzir tolerância no caso de

ingestão de subdoses. São raticidas agudos a estricnina, o arsênico, o

1080 (monofluoracetato de sódio), 1081 (fluoracetamida), sulkfato de

tálio, piridinil uréia, sil vermelha, fosfeto de zinco, norbomida, castrix e

antú.

Os raticidas crônicos são os que provocam a morte do roedor alguns

dias após a ingestão do mesmo. São largamente utilizados no mundo

devido à sua grande margem de segurança e existência de antídoto

altamente confiável, a vitamina K1 injetável.

6.3 RATICIDAS ANTI-COAGULANTES

São representados pelos derivados da indandiona (pindona,

isovaleril indadiona, difacinona e clorofacinoma) e os derivados da

cumarina (hidroxicumarínicos), que são os mais utilizados no Brasil e no

mundo.

Os hidroxicumarínicos são divididos em dois sub-grupos segundo

sua forma de ação e modo de apresentação.

6.3.1 Forma de ação

6.3.1.1 Raticidas de dose múltipla ou de 1ª geração

São de baixa toxicidade e efeito cumulativo. Precisam ser ingeridos

mais de uma vez para que os sintomas apareçam.

Por serem de baixa toxicidade, porém eficazes, são ideais para se

manter nos postos permanentes de envenenamento durante todo o ano

para controlar ratos invasores em áreas indenes sob risco ou áreas já

tratadas e controladas.

Ocorre o óbito desses roedores, dois a cinco dias após a ingestão da

dose letal, o que impede que os outros membros da colônia percebam o

que os está eliminando.

Page 21: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

O cumafeno (warfarina) é o mais empregado, sendo bem tolerado

por aves e ovelhas, porém exige cuidado com relação a cães e gatos, que

são altamente sensíveis.

São comercializados também o cumatetralil e cumacloro.

6.3.1.2 Raticidas de dose única ou de 2ª geração

São aqueles que causam morte do roedor três a dez dias após a

ingestão de uma única dose.

Recomenda-se nova aplicação oito dias após a primeira para atingir

os roedores que por ventura não ingeriram o raticida da primeira vez.

Por serem mais concentrados devem ser utilizados com bastante

cautela, critério e técnica para evitar acidentes.

6.3.2 Forma de apresentação

6.3.2.1 Iscas

Constituídas por uma mistura de dois cereais pelo menos (milho,

arroz, cevada, centeio).

Estas iscas podem ser moídas na forma de um farináceo, peletizada

formando pequenos grânulos, ou integrais contendo apenas grãos

quebrados. Alguns fabricantes adicionam substâncias como óleo de côco e

açúcar. Podem ser dispostas de modo a serem facilmente encontradas

pelos roedores.

6.3.2.2 Pó de contato

Raticida formulado em pó finíssimo, para ser empregado nas trilhas

e ninhos. O pó adere aos pelos do roedor, que lambe o corpo ao proceder

sua higiene ingerindo o raticida.

São mais eficazes e concentrados do que as iscas – cuidado para

Page 22: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

não contaminar alimentos e causar intoxicações acidentais em animais

não alvos.

6.3.2.3 Blocos impermeáveis

São constituídos por cereais granulados ou integrais envoltos por

uma substância impermeabilizante, formando um bloco único, geralmente

emprega-se parafina.

São utilizados em galerias subterrâneas, esgoto, canos de águas

fluviais, canais de irrigação, canalização de fiações elétricas, na orla

marinha ou ribeirinha, nas áreas inundáveis, onde ocorra disponibilidade

de alimentos.

Geralmente possuem um orifício que permitem sua amarração.

Page 23: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

7 REFERÊNCIAS

BEVILACQUA, P. D.; CARMO, R. F.; SILVA, J. C. P.; DEL GIUDICE, G. M. L.

Roedores inventariados em hospital veterinário e fragmento de mata

nativa da Zona da Mata de Minas Gerais, Brasil: caracterização

populacional e infecção por Leptospira sp. Ciência Rural. v. 34, n. 5.

2004, p. 1519-1523.

BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Fundação Nacional de Saúde

(FUNASA). Manual de Controle de Roedores. Brasília: FUNASA. 2002,

132 p.

_______. Ministério da Saúde (MS). Portaria nº 09, de 16 de novembro

de 2000. Norma técnica para empresas prestadoras de serviço em

controle de vetores e pragas urbanas.

_______. Ministério da Saúde (MS). Resolução da Diretoria Colegiada

(RDC) nº 216, de 15 de setembro de 2004. Regulamento técnico de boas

práticas para serviços de alimentação.

_______. Ministério da Saúde (MS). Resolução da Diretoria Colegiada

(RDC) nº 18, de 29 de fevereiro de 2000. Normas gerais para

funcionamento de Empresas Especializadas na prestação de serviços de

controle de vetores e pragas urbanas.

_______. Ministério da Saúde (MS). Resolução da Diretoria Colegiada

(RDC) nº 275, de 21 de outubro de 2002. Regulamento técnico de

procedimentos operacionais padronizados (POP) aplicados aos

estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos e a lista de

verificação das boas práticas de fabricação (BPF) em estabelecimentos

produtores/industrializadores de alimentos.

Page 24: Controle de Roedores

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SANEAMENTO – CONTROLE DE ROEDORES

JORGE LUIZ FORTUNA

CHEMONE (ChemoNE Industrial Química do Nordeste Ltda.). Cartilha

Sobre Roedores. Bezerros-PE. [s.d.]. 13 p.

DUARTE, J. R. Ratos urbanos, resíduos sólidos, saúde pública, educação

sanitária e controle. Biológico. v. 70, n. 2. 2008, p. 29-30.

FIOCRUZ. Agência Fiocruz de Notícias. Controle de roedores –

recomendações à população. [online] Disponível em:

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> Capturado em 31 de março de 2009.

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