contributo da psicologia para a(s)...

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1/34 CATEGORIA AUTORIA MAIO ’13 Revisão de Dados Gabinete de Estudos e Literatura Científica Técnicos Contributo da Psicologia para a(s) Crise(s) Novas Formas de Prestação de Serviços e Promoção da Saúde Mental Sugestão de Citação Ordem dos Psicólogos Portugueses (2013). Contributos da Psicologia para a(s) Crise(s) Novas Formas de Prestação de Serviços e Promoção da Saúde Mental. Lisboa. Para mais esclarecimentos contacte o Gabinete de Estudos Técnicos: recursos.ordemdospsicologos.pt [email protected] www.ordemdospsicologos.pt

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CATEGORIA AUTORIA MAIO ’13

Revisão de Dados Gabinete de Estudos

e Literatura Científica Técnicos

Contributo da Psicologia para

a(s) Crise(s) Novas Formas de Prestação de Serviços e Promoção da Saúde Mental

Sugestão de Citação Ordem dos Psicólogos Portugueses (2013). Contributos da Psicologia para a(s) Crise(s) – Novas Formas de Prestação de Serviços e Promoção da Saúde Mental. Lisboa.

Para mais esclarecimentos contacte o Gabinete de Estudos Técnicos: recursos.ordemdospsicologos.pt

[email protected] www.ordemdospsicologos.pt

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REVISÃO DE DADOS E LITERATURA CIENTÍFICA

ÍNDICE

1. O que é a Crise?

2. A Crise Socioeconómica como uma Ameaça

2.1. Dados sobre o Impacto Financeiro e Psicológico da Crise Socioeconómica em Portugal

2.2. Fatores Psicológicos na Origem da Crise Socioeconómica

2.3. O Impacto Psicológico da Crise Socioeconómica

2.4. Crise e Saúde Mental – Uma Relação de Causa-Efeito

3. A Crise Socioeconómica como uma Oportunidade

3.1. O Papel da Psicologia e dos Psicólogos na Diminuição do Impacto da Crise

3.1.1. Estratégias de Promoção da Saúde Mental

3.1.2. Estratégias de Prevenção da Doença Mental

3.1.3. Práticas Baseadas em Evidências

3.1.4. Intervenções Psicoeducativas

3.1.5. Novas Formas de Prestação de Serviços e Promoção da Saúde Mental

Modelos de Intervenção Psicológica Baseadas na Internet

Transferência de Tarefas (Task Shifting)

Intervenções em Contextos Não Convencionais/Quotidianos

Mudança de Estilo de Vida

Plataformas Digitais de Comunicação

Desenvolvimento de Competências de Autorregulação

3.1.5. Outros Contributos Possíveis dos Psicólogos

3.2. O Papel da Política e dos Diferentes Sectores da Sociedade na Diminuição do Impacto da Crise

4. Análise SWOT ao Papel da Psicologia na(s) Crise(s)

Fontes

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REVISÃO DE DADOS E LITERATURA CIENTÍFICA

Contributos da Psicologia para a(s) Crise(s) Novas Formas de Prestação de Serviços e Promoção da Saúde Mental 1. O que é a Crise?

A(s) crise(s) ocorre(m) quando acontecimentos stressantes sobrecarregam a capacidade dos

indivíduos para lidar efetivamente com ameaças ou desafios percebidos. Correspondem a períodos

de desequilíbrio (psicológico, social ou económico) que acarretam diversos problemas para o

indivíduo, que não os consegue resolver recorrendo unicamente às suas estratégias e recursos

habituais.

A(s) crise(s) acontece(m) na nossa vida por muito que as tentemos evitar. São experiências

desagradáveis que nos levam para fora da nossa “zona de conforto”, de certeza e previsibilidade.

Frequentemente, quando pensamos em crise, pensamos em desastres inesperados, como um

acidente de carro ou uma catástrofe natural. No entanto, as crises variam substancialmente em tipo

e severidade. Muitas vezes a crise é uma parte previsível do ciclo de vida ou uma crise existencial,

referente a conflitos internos, sentido da vida e espiritualidade. Desta forma, uma crise não se refere

necessariamente a uma situação ou acontecimento traumáticos, mas à reação do indivíduo a um

evento. Um indivíduo pode ser profundamente afetado por determinada situação e outro não sofrer

qualquer efeito.

A palavra chinesa para crise representa bem os componentes de uma crise, uma vez que é

formada pelos caracteres que correspondem ao “perigo” e à “oportunidade”. Uma crise pode

representar um obstáculo, um trauma ou uma ameaça, mas também representa uma oportunidade

(de crescimento ou de declínio).

2. A Crise Socioeconómica como uma Ameaça

A crise tem sido reportada nos meios de comunicação social como uma ameaça para a

Europa, quer a nível económico quer a nível social: empobrecimento da população, aumento das

desigualdades socioeconómicas, perda de rendimento e poder de compra, diminuição da coesão

social. Para além destes, a crise também é associada a consequências negativas do ponto de vista

psicológico e da saúde mental – o aumento das taxas de depressão e suicídio constituem apenas dois

dos exemplos mais citados.

2.1. Dados sobre o Impacto Financeiro e Psicológico da Crise Socioeconómica em Portugal

Situação Profissional e Financeira

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Num estudo da SEDES (2012) sobre Portugal, os dados apontam para 1/5 dos lares

portugueses terem sido afetados pelo desemprego. Na amostra utilizada, 21% dos agregados

familiares portugueses vivem uma situação profissional instável no que respeita ao seu rendimento,

por um ou mais dos seus elementos estarem desempregados ou por viverem uma situação de

incerteza relativamente à manutenção da remuneração da sua atividade profissional.

O desemprego e a instabilidade profissional afetam sobretudo as mulheres e os mais velhos

(com idades compreendidas entre os 45 e os 64 anos).

A maioria dos desempregados não acredita vir a conseguir, em breve, encontrar um emprego

ou ocupação remunerada semelhante à que tinha. Esta descrença cresce com a antiguidade do

desemprego a partir de um ano (quando se atinge o período a partir do qual se considera

desemprego de longa duração).

Nos lares portugueses, a terceira rubrica que revela maior magnitude em termos de redução

para equilibrar a despesa é a que se refere aos gastos com a saúde (cerca de 22%). A primeira refere-

se às atividades de lazer (cerca de 32%). O tempo dedicado a estas atividades também foi reduzido

em 25%.

Este estudo sugere que se poderá assumir que a predisposição para um menor consumo, em

geral, pode ter como alicerces a perceção de empobrecimento e o medo do futuro. Por exemplo,

22% dos portugueses assumem-se nada confiantes ou não muito confiantes em que conseguirão

manter o seu emprego nos próximos 12 meses; 46% reconhecem haver um risco elevado ou

moderado de, nos próximos 12 meses, não terem dinheiro para comprar comida ou outros itens

básicos de consumo; 66% são da opinião de que a sua situação financeira piorará nos próximos 12

meses.

Qualidade de Vida e Bem-Estar Psicológico

De acordo com o mesmo estudo da SEDES (2012) sobre Portugal, para além do impacto

financeiro, a crise atual está a influenciar o bem-estar psicológico de muitos portugueses. Quase

metade dos portugueses inquiridos neste estudo assumem vivenciar níveis elevados de stresse como

consequência da crise, nomeadamente no caso das mulheres e nos indivíduos com idades entre os

35-44 anos ou com mais de 55 anos.

A crise económica parece influenciar diversos aspetos da qualidade de vida e bem-estar dos

portugueses:

38% assumem não dormir bem;

24% sentem falta de energia, dificuldade em se levantar de manhã e relutância em dar

início às suas tarefas diárias;

30% assumem-se insatisfeitos com a sua vida;

18% consideram que existiu uma quebra na qualidade dos seus relacionamentos

pessoais (no entanto, 17% atribuem à crise um impacto positivo nas suas relações

pessoais);

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52% dos portugueses afirmam sentir-se revoltados com a situação atual, não se

conformar e estar a lutar para mudar, enquanto 45% afirmam estar resignados e achar

que não podem ou não adianta fazer nada.

Saúde Mental – Procura de Profissionais Especializados e Consumo de Psicofármacos

A crise socioeconómica está ainda associada a um aumento da ocorrência de casos graves de

depressão ou ansiedade e a um aumento da necessidade de intervenção psicológica. No entanto,

apesar da intervenção especializada garantir melhores resultados, são os médicos de família os mais

procurados.

A DECO realizou um inquérito a 1350 portugueses entre setembro e dezembro de 2012. Os

dados deste estudo revelaram que:

Ao longo dos últimos três anos, 17% recorreram a ajuda profissional para enfrentar

problemas emocionais;

78% admitem ter abdicado de ajuda profissional apesar de não se sentirem bem

emocionalmente;

30% dos que não procuraram ajuda recorreram à automedicação;

Aos que não procuraram ajuda especializada, valeu-lhes o apoio de terceiros (familiares,

amigos e colegas de trabalho);

Cerca de um em cada dez inquiridos (13%) considera que o custo da terapia é um

entrave;

A falta de confiança nos profissionais de saúde mental e desconhecer como procurar o

terapeuta indicado são outros dos motivos indicados para não recorrer a ajuda

especializada;

As perturbações relacionadas com a ansiedade ou a depressão, assim como os prolemas

com o sono foram as principais razões que levaram os inquiridos a procurar um

profissional de saúde.

Comparativamente a um estudo equivalente realizado pela DECO em 2002, existe uma

descida acentuada na procura de profissionais de saúde para lidar com problemas psicológicos,

assim como um aumento da percentagem daqueles que referem as dificuldades financeiras como

obstáculo à escola da terapia, à regularidade das consultas e à sua duração:

Em 2002 31% dos inquiridos tinham sido aconselhados a consultar um profissional de

saúde, mas 29% não o fizeram. Em 2012 ainda que 39% dos inquiridos tenham sido

aconselhados a procurar ajuda 51% não o fizeram;

Em 2002 29% recorreram a profissionais de saúde, contra 17% em 2012;

Em 2002 11% recorreram a um médico de família e 5% a um Psicólogo ou

Psicoterapeuta, sendo que este número aumentou para 19% e 7% em 2012;

10% recorreram a um Psiquiatra em 2002, contra apenas 6% em 2012;

O índice de satisfação daqueles que recorreram aos médicos de família é de 49%, contra

73% para aqueles que recorreram a psicólogos ou psiquiatras (71%).

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Em 2010 o Infarmed apresentou um estudo de caracterização da evolução do consumo de

psicofármacos entre 2000 e 2009 (o estudo refere-se apenas aos psicofármacos comparticipados

pelo SNS, sem inclusão dos subsistemas de saúde ou consumo hospitalar).

De 2000 a 2009 verificou-se um aumento do consumo de doses diárias de psicofármacos por

1000 habitantes dia, o que reflete um aumento da utilização de 52%, nomeadamente no que diz

respeito a antidepressores e antipsicóticos (Sertralina e Escitalopram). Este aumento refletiu-se

ainda num acréscimo de mais 100% na despesa com estes medicamentos.

Os antidepressivos apresentaram um crescimento acentuado (177%), sendo que o nível de

utilização passou de 26 para 72 doses diárias por 1000 habitantes.

O consumo de ansiolíticos, sedativos e hipnóticos manteve uma tendência de crescimento

(11%) e significou, em 2009, um nível elevado de consumo de cerca de 101 doses diárias por 1000

habitantes.

De acordo com outros dados relativos ao período entre 2004 e 2009, verificou-se um

aumento do consumo de psicofármacos (ansiolíticos, hipnóticos, sedativos e antidepressivos) no

mercado do SNS em ambulatório na ordem dos 25,3%.

Numa análise da evolução do mercado total de medicamentos entre 2003 e 2010, o Infarmed

caracteriza os Antipsicóticos e os antidepressores como estando entre os 10 subgrupos terapêuticos

responsáveis pelo crescimento do mercado. A análise realça ainda o crescimento na despesa com

alguns psicofármacos como a Quetiapina, o Escitalopram ou a Pregabalina.

2.2. Fatores Psicológicos na Origem da Crise Socioeconómica

Apesar de todo o léxico financeiro que existe para explicar a crise económica atual, de todas

as estatísticas e indicadores económicos, as pessoas, no geral, não prestam atenção às regras e

modelos económicos, mas tomam decisões irracionais, que não se justificam apenas pelos números,

mas também pela emoção e por perceções de outra natureza. Desta forma, muitas decisões

financeiras são tomadas como resultado de reações emocionais à ambiguidade e à incerteza, de

alterações de confiança, de pressões sociais e outras forças mentais, sociais e antropológicas.

Vários autores defendem que existem fatores psicológicos por detrás da crise económica: a

ganância e o excesso de otimismo; a falta de autocontrolo; a dificuldade em lidar com um futuro

ameaçador e incerto.

De um modo geral, as pessoas fazem escolhas económicas prejudiciais porque possuem um

otimismo exagerado em relação ao que farão no futuro (por exemplo, utilizam sistemas de crédito

porque acreditam que os conseguirão pagar, o que, muitas vezes, não acontece). Alguns autores

referem-se a este fenómeno como “desastremiopia” – uma miopia que impede os indivíduos de

considerar a possibilidade de resultados indesejados.

A acumulação de dívidas é também uma questão de autocontrolo, de dificuldade em adiar a

gratificação, de negociar uma situação em que há duas escolhas, sendo uma delas superior e mais

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tentadora – como uma pessoa de dieta, que diante um bolo de chocolate, sabe que é melhor não

comer, mas acaba por fazê-lo. Da mesma forma, os indivíduos, na altura de comprar algo que não

está ao seu alcance, não são capazes de se autocontrolar.

2.3. O Impacto Psicológico da Crise Socioeconómica

É espectável que a crise económica global produza efeitos adversos na saúde mental.

Podemos perguntar qual é a influência do esforço financeiro no sofrimento psicológico e no bem-

estar?

De acordo com o Relatório de Primavera 2012 (Crise & Saúde – Um País em Sofrimento), do

Observatório Português dos Sistemas de Saúde, os efeitos da crise socioeconómica na saúde mental

dizem respeito à perda de autoestima, depressão, ansiedade e risco de comportamentos suicidas.

No desencadear destas manifestações o desemprego e endividamento têm um papel

particularmente importante.

Embora não existam sistemas de monitorização dos efeitos da crise na saúde em Portugal,

algumas notícias publicadas na comunicação social ilustram os efeitos da crise na saúde. Por

exemplo, segundo INE, em 2010, os valores do suicídio foram mais elevados do que os de acidentes

com transportes; relativamente aos comportamentos de risco, o presidente do IDT declarou que a

crise está a provocar um aumento do “consumo de desespero” de droga em ex-toxicodependentes.

Em termos gerais, os problemas financeiros são frequentemente seguidos de stresse

emocional e podem provocar efeitos psicológicos complexos. A perda de recursos económicos está

associada a níveis mais elevados de stresse, ansiedade e raiva. A instabilidade e ou a perda de

emprego (decorrentes crise económica) estão associados à depressão, a perturbações de ansiedade

e ao suicídio/ideação suicída. Os períodos de instabilidade económica associam-se ao

desenvolvimento e ao agravamento das doenças mentais. Estes níveis elevados de stresse

psicológico podem persistir mesmo após os indicadores económicos terem regressado aos níveis pré-

crise e, portanto, ter efeitos prejudiciais a longo-prazo.

A crise leva a uma deterioração de vários determinantes socioeconómicos da saúde mental

e do bem-estar:

O desemprego pode causar um declínio da saúde mental como resultado do esforço

financeiro e da ausência dos benefícios não-financeiros associados ao emprego, como o

estatuto social, a autoestima, a atividade física e mental e a rentabilização das

capacidades. O desemprego condiciona uma falta de capacidade de aquisição de

produtos que satisfaçam necessidades básicas, mas também uma deterioração das suas

redes relacionais com os outros e com a sociedade em geral. Os principais efeitos na

saúde, a curto-prazo, do aumento do desemprego na Europa são o sofrimento

psicológico, o abuso de álcool e o suicídio. Os indivíduos desempregados apresentam um

risco 2 a 3 vezes superior de cometer suicídio. A WHO estima que a cada aumento de 1%

na taxa de desemprego corresponda um aumento de 0,8% na taxa de suicídios. De

acordo com um estudo realizado no Reino Unido quase metade dos jovens

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desempregados acreditavam que essa situação lhes tinha causado problemas de saúde

mental como automutilação, ataques de pânico ou insónias;

Não só o desemprego, mas também a instabilidade no emprego (o medo de o perder e

de vivenciar dificuldades económicas) está associada com um aumento de 33% no risco

de apresentar perturbações mentais. Os níveis de stresse em indivíduos empregados

têm aumentado concomitantemente com a pressão para produzir mais em menos tempo

por menos dinheiro. Os indivíduos estão cada vez mais preocupados com a possibilidade

de não corresponder às expetativas e serem despedidos, com os despedimentos

coletivos e lay-off, o que resulta em exaustão mental e emocional, perturbações de

ansiedade, alterações de humor e depressão;

O sobre-endividamento também tem sido identificado como um fator de risco

importante para as perturbações mentais. Diversos dados oferecem evidências de que as

dificuldades financeiras e a dificuldade em pagar dívidas aumentam a ocorrência da

depressão (indivíduos endividados apresentam um risco 2 a 3 vezes superior de sofrerem

de depressão), de que os problemas em pagar crédito à habitação ou ao consumo levam

a uma diminuição da saúde mental, ao aumento dos pensamentos suicidas, ao divórcio e

ruturas nas relações maritais e familiares. Em termos gerais, quanto mais dívidas os

indivíduos tiverem, maior probabilidade existe de terem doenças mentais;

Na Europa, a crise económica vai conduzir ao aumento da pobreza e este é igualmente

um fator de risco socioeconómico muito importante para os problemas de saúde mental,

perturbações como a depressão ou o suicídio. Os deficits cognitivos, emocionais e físicos

das crianças que se desenvolvem em ambientes de grande pobreza têm consequências

muito negativas na saúde e no bem-estar ao longo da vida;

Ao mesmo tempo, vai aumentar a exclusão social dos grupos vulneráveis, dos mais

pobres e daqueles que vivem próximo da linha da pobreza. É provável que a crise

económica conduza a processos de marginalização dos indivíduos, de ruturas ao nível

dos vínculos sociais. Desta forma, às dimensões económicas da pobreza serão agregadas

as relacionais;

A crise económica e a perda de emprego estão associadas ao aumento no consumo de

álcool e de substâncias psicoativas, que por sua vez está associado a perturbações

mentais e a um aumento da mortalidade, para além do impacto negativo no ambiente

social os indivíduos consumidores (família, amigos, colegas e comunidade);

Durante uma recessão económica, as dificuldades económicas familiares podem criar

um risco para a saúde mental materna e infantil. Dados longitudinais indicam que a

desvantagem financeira após o nascimento de uma criança pode levar à depressão da

mãe. A pressão económica, através da sua influência na saúde mental parental, na

interação marital e na parentalidade, também influencia a saúde mental das crianças e

dos adolescentes. O esforço financeiro pode aumentar a violência familiar e a

negligência infantil. Muitas vezes, as crianças não compreendem a complexidade da

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perda financeira da família e os seus sentimentos de confusão, zanga e insegurança

podem afetar as suas atitudes para com os pais, a escola e o mundo do trabalho;

As famílias pobres são especialmente influenciadas pelos cortes nos orçamentos da

saúde e da educação. As fundações para uma boa saúde mental são lançadas durante a

gravidez e a infância. A saúde mental é promovida através dos cuidados infantis e da

preparação holística para a vida, fornecida na escola através das oportunidades sociais e

emocionais de aprendizagem. Por isso, os cortes nos apoios escolares e no sistema

educativo podem ter consequências a longo prazo para o bem-estar psicológico;

Os cortes e o subfinanciamento dos serviços de saúde mental também não podem

deixar de ter repercussões negativas na saúde mental dos cidadãos, nomeadamente

numa altura em que os pedidos de consultas psiquiátricas e psicológicas aumentam – por

um lado, os problemas mentais aumentaram em resultado da crise, por outro, muitos

indivíduos que, anteriormente, procuravam ajuda no sector privado, deixaram de o

poder fazer por motivos económicos, e recorrem agora ao sistema público de saúde;

Crescer numa sociedade em que os media transmitem constantemente informação

sobre o aumento do desemprego, a pobreza, a insegurança social ou as manifestações

populares contra os cortes nos orçamentos, não oferece as condições necessárias para a

otimização do desenvolvimento pessoal e profissional, da autoestima e a

autorrealização.

De acordo com Frangos et al. (2012), a crise pode ainda provocar uma falta de objetivos, um

sentido prevalecente de abandono, um pessimismo generalizado, crenças negativas, uma

abordagem niilista à realidade diária e falta de autoconfiança nos jovens adultos.

Desta forma, a crise põe em causa o princípio da cidadania no que se refere ao acesso a

cinco sistemas sociais básicos (Tavares, 2012):

O social – redes sociais em que a pessoa está inserida, como fatores de socialização e

integração social;

O económico – mecanismos geradores de recursos;

O institucional – sistemas prestadores de serviços (educativo, de saúde e de justiça);

O territorial – espaços territoriais de exclusão (bairros degradados) e migrações;

O das referências simbólicas – perdas subjetivas como a perda da identidade social, da

autoestima e do sentido de pertença à sociedade.

2.4. Crise e Saúde Mental – Uma Relação de Causa-Efeito

Não só a saúde mental dos indivíduos é afetada pela crise económica, como também os

problemas de saúde mental que decorrem da crise podem causar efeitos económicos prejudiciais.

Por exemplo, indivíduos que sofram de depressão, ansiedade ou outras formas de stresse podem

ausentar-se do mercado de trabalho durante longos períodos do tempo, o que produz perda de

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produtividade (estimada em 3% a 4% do PIB dos países europeus).1 As perturbações mentais

explicam também mais de um terço dos anos vividos com incapacidade na Europa.

Neste sentido, a saúde mental é um componente essencial da produtividade económica e

do bem-estar. Apesar da ideia generalizada de que, nomeadamente em tempos de crise, se devem

evitar ou minimizar as despesas associadas aos serviços e tratamento da doença mental, existem

benefícios e contrapartidas económicas (em termos de custo e de produtividade) que justificam a

aposta e o investimento neste setor:

A carga da saúde mental é enorme, assim como os custos da doença mental para a

sociedade. Durante o ciclo vida é esperado que uma em duas pessoas experiencie uma

doença mental. Quatro das seis principais causas dos anos vividos com incapacidade são

a depressão, as perturbações associadas ao consumo de álcool, a esquizofrenia e a

perturbação bipolar; 13% da carga global da doença, medida em termos dos anos

perdidos de vida saudável, podem ser atribuídos às doenças mentais. As perturbações

mentais são também causas principais da mortalidade prematura;

A saúde mental é essencial para o desenvolvimento económico, pelo contrário, a doença

mental repercute-se em perdas económicas, uma vez que está associada a taxas

elevadas de desemprego, absentismo do trabalho, e fraco desempenho no trabalho. Pelo

menos dois terços da carga económica da doença mental são tipicamente atribuídos a

perdas de produtividade;

Sem intervenções na saúde mental o custo dos cuidados e tratamentos aumenta. O

acesso a cuidados de saúde primários de qualidade pode reduzir os custos de tratamento

num hospital; a intervenção precoce pode reduzir custos futuros de cuidados de saúde

mental;

Para algumas perturbações as intervenções na saúde mental são as mais custo-efetivas.

3. A Crise Socioeconómica como uma Oportunidade

Embora a crise económica atual possa ter um impacto negativo na saúde mental, também

pode constituir-se como uma janela de oportunidade para reformar os cuidados na saúde mental e

na promoção de um estilo de vida psicologicamente saudável, reduzindo assim a carga económica e

de saúde que decorre da doença mental.

Neste sentido, apesar dos inúmeros riscos para a saúde mental que decorrem da crise,

também é possível perspetivar a recessão económica como contribuindo, de alguma forma, para

1 De acordo com as previsões de 2012 da Comissão Europeia as perspetivas a curto prazo para a economia da

União Europeia eram cautelosas, mas previa-se que em 2013 o PIB regressasse gradualmente a uma trajetória de crescimento, que se acentuaria novamente em 2014. De acordo com estas previsões, em 2013 o PIB deveria aumentar 0,4% na UE e 0,1% na zona euro. Em 2014 o PIB situar-se-ia em 1,6% a UE e 1,4% na zona euro. De acordo com a previsão mais recente do European Economic Forecast (Spring 2013) o crescimento do PIB na zona euro situar-se-á em -0,4% em 2013 e 1,2% em 2014.

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mudanças a favor de um estilo de vida saudável. Por exemplo, menos horas a trabalhar podem

significar mais horas de lazer passadas com crianças, família e amigos; menos atividade económica

pode contribuir para diminuir o ritmo de vida e reforçar o capital social, proporcionando

oportunidades para participação cívica e desenvolvimento de redes sociais.

3.1. O Papel da Psicologia e dos Psicólogos na Diminuição do Impacto da Crise

De acordo com o Relatório de Primavera 2012 (Crise & Saúde – Um País em Sofrimento), do

Observatório Português dos Sistemas de Saúde, a proteção contra os efeitos negativos da crise deve

assentar numa política ativa de promoção do acesso aos serviços de saúde.

O sistema de saúde pode diminuir o impacto da crise económica no bem-estar mental

começando por reconhecer o papel do desemprego e do esforço financeiro no bem-estar psicológico,

assim como realizando o diagnóstico precoce da depressão e das ideias suicidas, frequentes em

períodos de recessão económica.

Os serviços de saúde devem ainda ser modificados no sentido de responder às necessidades

da população originadas pela crise económica. A prestação de apoio psicológico nos serviços de

saúde pode modificar os efeitos da crise e do desemprego.

O papel do Psicólogo, embora distinto em função do contexto e da problemática visa sempre

contribuir para o bem-estar da pessoa, sendo um recurso particularmente significativo em situações

de crise, já que nessas situações mais facilmente emergem sentimentos de falta de controlo, de

desânimo e tristeza, níveis excessivos de ansiedade, e mesmo incapacidade de gerir o quotidiano.

A Psicoterapia individual pode constituir uma abordagem complementar que deve ser

tornada prioridade, uma vez que proporciona contextos de discussão do stresse e dos stressores,

permitindo desenvolver respostas atitudinais e comportamentais adequadas, que encorajam a

gestão de uma situação que não pode ser resolvida imediatamente.

No entanto, o perfil de atuação “clássico” do Psicólogo Clínico, com um foco nos processos

psicológicos intra individuais, já não satisfaz as necessidades do contexto atual.

A crise pode ser uma oportunidade para redimensionar o papel da Psicologia e do Psicólogo

na sociedade e nos serviços de saúde, deixando de existir uma identificação a uma atividade

acessível apenas a uma pequena minoria, de cariz individualista e pouco significativo para os

problemas sociais, e construindo-se novas práticas socialmente mais comprometidas e alargando-se

o paradigma da psicologia clínica ao da saúde pública.

Aumentar o bem-estar dos indivíduos através do aumento da acessibilidade às diferentes

formas e estratégias de intervenção psicológica pode ser benéfico para todos (indivíduos, famílias e

sociedade), permitindo aos cidadãos ser membros independentes, autónomos e acrescentar valor

nas suas comunidades.

A prestação de serviços psicológicos deve seguir e implementar um conjunto de princípios:

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Acesso a intervenções psicológicas, de acordo com a idade, diagnóstico e gravidade da

perturbação. As intervenções devem ser realizadas de forma flexível e tendo em conta as

necessidades locais e os recursos disponíveis;

Informação, em formato apropriado, sobre as intervenções disponíveis, como lhes

aceder e tempos estimados de espera, de forma a permitir uma decisão informada por

parte dos utilizadores;

Envolvimento dos utilizadores na tomada de decisão sobe os próprios cuidados de saúde

mental. Este envolvimento não se refere apenas a um processo de consulta dos

utilizadores, mas sim a colocá-los no centro da tomada de decisão a nível individual; a

aumentar a representação dos utilizadores nos corpos que tomam decisões sobre o

planeamento, organização e monitorização dos serviços de saúde mental.

Intervenções eficazes e baseadas em evidências;

O Psicólogo pode liderar o envolvimento dos grupos e comunidades na promoção da saúde

mental e desenvolver intervenções mais multidisciplinares, preventivas e comunitárias. Por

exemplo:

Educar o público sobre os aspetos relacionados com a saúde mental, recorrendo aos

media para divulgação dessa informação (rádio, televisão, jornais, revistas);´

Aumentar a participação da comunidade criando redes de iniciativas comunitárias,

participando em grupos cívicos e culturais, organizações e políticas locais, com o objetivo

de difundir a forma como os Psicólogos podem contribuir para ajudar a resolver os

problemas;

Criar grupos terapêuticos (nomeadamente Terapia Cognitivo-Comportamental) para

desempregados com o objetivo de melhorar a sua saúde mental e facilitar o regresso ao

trabalho, desenvolvendo capacidades de coping, resolução de problemas e resiliência,

que possam ser fatores de proteção contra a depressão e o suicídio.

Em termos gerais o Psicólogo pode ter um contributo crucial:

No reforço das capacidades e competências individuais – melhorar a educação

emocional e a resiliência através de intervenções desenhadas para promover a

autoestima, as competências de vida, a comunicação, os relacionamentos interpessoais e

as competências parentais;

No reforço das capacidades e competências das comunidades – melhorar o ambiente

nos bairros residenciais, desenvolver serviços sociais e de saúde que suportem a saúde

mental, apoiar as escolas na promoção de um ambiente favorável à saúde mental,

facilitar as redes de apoio social;

Na redução das barreiras sociais à saúde mental – desenvolvimento e implementação

de políticas de qualidade para crianças e jovens, que promovam experiências educativas

positivas, emprego significativo, apoio a grupos vulneráveis.

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3.1.1. Estratégias de Promoção da Saúde Mental

Um dos objetivos da Psicologia é compreender e promover os fatores que permitem que os

indivíduos, as comunidades e a sociedade prosperem, desenvolvam a resiliência psicológica e

possuam saúde mental. Por isso, para além de tratar e reabilitar os indivíduos que já estão

mentalmente doentes, identificar as causas dessas perturbações e desenvolver ações para as

prevenir, também é necessário determinar e promover os fatores que se correlacionam com a

saúde mental positiva e promover o potencial criativo e as capacidades do ser humano. Estas

capacidades e recursos humanos positivos (por exemplo, as competências interpessoais, o otimismo,

a esperança ou a perseverança) funcionam como escudos protetores e como amortecedores da

doença mental.

Desta forma, a promoção de uma saúde mental positiva procura desenvolver as

competências, os recursos e as características psicológicas positivas dos indivíduos, assim como

reforçar os recursos da comunidade para prevenir as perturbações mentais e melhorar o bem-estar e

a qualidade de vida. Existe uma forte possibilidade de, ao promover estas capacidades, estarmos a

fazer mais para reduzir os problemas de saúde mental do que focando exclusivamente o tratamento

e a prevenção dessas perturbações.

A promoção da saúde mental diz então respeito ao aumento do bem-estar entre todos os

grupos etários da população em geral, assim como dos indivíduos em risco de experienciar

problemas de saúde mental. Os programas de promoção da saúde mental, porque são dirigidos a

toda a comunidade, permitem incluir e beneficiar aqueles que não têm e têm doença mental.

O objetivo da promoção da saúde mental é o aumento do potencial dos indivíduos, a

construção da resiliência e das forças psicológicas, focando-nos fatores de proteção (por exemplo,

vinculação segura, experiências precoces positivas, sentido positivo do self, competências de vida

eficazes, oportunidades de aprendizagem) e no aumento do bem-estar e da qualidade de vida.

Podemos falar em três níveis de promoção da saúde mental:

Reforço das capacidades individuais – aumentar a resiliência emocional através de

intervenções desenhadas para promover a autoestima, as competências de vida e de

coping (por exemplo, a comunicação, a negociação, o relacionamento interpessoal e

competências parentais);

Reforço das capacidades da comunidade – aumentar a participação e a inclusão social,

desenvolver serviços sociais e de saúde que apoiem a saúde mental (por exemplo,

estratégias anti-bullying na escola, saúde ocupacional ou redes de autoajuda);

Redução das barreiras estruturais à saúde mental – reduzir a discriminação e as

desigualdades, promover o acesso à educação, ao emprego e aos serviços e apoio para

os mais vulneráveis.

A promoção da saúde mental passa ainda pelo reforço do capital psicológico (PsyCap) –

estado psicológico de desenvolvimento caracterizado pela confiança (autoeficácia) de investir o

esforço necessário para ter sucesso em situações e tarefas desafiadoras; fazer uma atribuição

positiva (otimismo) sobre o sucesso no presente e no futuro; perseverar nos objetivos e, quando

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necessário, redirecioná-los de modo a obter sucesso (esperança); face a problemas e adversidade

recuar ou avançar até ter sucesso (resiliência).

Inúmeros estudos suportam e informam o desenvolvimento das práticas de promoção da

saúde mental. Um relatório da Comissão Europeia sobre a evidência existente acerca da efetividade

da promoção da saúde mental confirma o seu impacto na redução do risco de doença mental e na

redução de vários problemas sociais, como a delinquência, o abuso infantil, o abandono escolar, o

absentismo no trabalho e a desigualdade social.

3.1.2. Estratégias de Prevenção da Doença Mental

A crise económica pode criar um sentido de urgência que reforce a necessidade de eliminar

os problemas fundamentais dos cuidados de saúde mental e reduzir as desigualdades na saúde,

mudando o foco de intervenção para a prevenção e o diagnóstico precoce dos problemas de saúde

mental. Sem estratégias de prevenção e promoção da saúde mental os custos relacionados com as

perturbações mentais vão impor um grande esforço à economia no futuro.

Num estudo de 2011, uma equipa de investigadores Britânicos procurou avaliar, do ponto de

vista económico, um conjunto de estratégias de prevenção. Apesar das limitações do estudo (falta

de dados sobre os impactos a médio e longo prazo, dificuldade em atribuir valores económicos reais

a todos os impactos), as estratégias de prevenção em estudo parecem apresentar um retorno

elevado do investimento. Por exemplo, no que diz respeito ao retorno total do investimento, um £1

de despesa retornou 83,7 no caso da prevenção das perturbações do comportamento através de

programas de educação social e emocional; ou 44 no caso de formação sobre prevenção do suicídio a

profissionais de saúde.

O custo total dos problemas mentais nas crianças e nos jovens é elevado, afetando não só

os indivíduos, mas também as suas famílias, escolas e comunidades. Num relatório dos EUA, em

2007, o valor do tratamento, perda de produtividade e custos do sistema judicial associados à

doença mental foi estimado em US$2,380 por cada jovem entre os 0 e os 24 anos de idade. Na

Austrália, o custo por cada jovem com doença mental era estimado, em 2009, em A$10,544.

Poderia trazer grandes poupanças o investimento em intervenções preventivas que focassem

a relação entre mães e bebés, a educação das mães provenientes de contextos socioculturais

desfavoráveis, os programas em contexto escolar sobre problemas de comportamento e bullying ou

a parentalidade.

Por exemplo, no Reino Unido, estimou-se que a prevenção de problemas de comportamento

numa criança teria £230,000 de valor poupado ao longo da vida. De acordo com outro estudo, a

educação parental e o apoio à família durante a infância precoce resulta, por dólar investido, num

retorno entre os $1,80 to $17,07.

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3.1.3. Práticas Baseadas em Evidências

A Prática Baseada em Evidências na Psicologia diz respeito à integração da melhor

investigação disponível com os conhecimentos clínicos no contexto das características, cultura e

preferências do paciente. O objetivo da Prática Baseada em Evidências na Psicologia é promover uma

prática psicológica eficaz que seja capaz de melhorar a saúde pública aplicando princípios

empiricamente suportados de avaliação psicológica, formulação de casos, relação terapêutica e

intervenção.

Desta forma, a APA recomenda que as decisões clínicas sejam tomadas em colaboração com

o paciente e baseadas nas evidências clínicas relevantes, considerando os custos e benefícios

prováveis, assim como os recursos e opções disponíveis.

Na prática, a utilização de intervenções baseadas em evidências requere uma combinação

complexa de competências técnicas e relacionais, com atenção à fonte clínica e de investigação das

evidências sobre a eficácia de uma intervenção. A escolha das intervenções mais adequadas requere

conhecimento sobre a investigação de suporte à efetividade dessas investigações. Neste sentido, um

dos desafios da Psicologia Clínica é formar clínicos de acordo com esta abordagem, de forma a

assegurar que os tratamentos mais eficazes estão disponíveis para o público.

A Prática Baseada em Evidências pode ainda contribuir para aumentar a qualidade e a

responsabilidade na prática dos cuidados de saúde, na medida em que obriga ao estudo e

atualização constante dos Psicólogos.

3.1.4. Intervenções Psicoeducativas

As intervenções psicoeducativas são uma das práticas baseadas em evidências mais eficazes.

Dada a flexibilidade deste modelo, uma vez que incorpora informação específica sobre a doença e

instrumentos para gerir as circunstâncias relacionadas, as intervenções psicoeducativas possuem um

potencial alargado de utilidade para muitas doenças e diversos desafios da vida.

Este tipo de intervenção integra e promove sinergias entre as intervenções psicoterapêuticas

e educativas, numa abordagem holística, baseada em competências, colaboração, coping e

empoderamento. O paciente é considerado parceiro do prestador do serviço, com base na premissa

de que quanto maior for o conhecimento, melhor serão os resultados de saúde. Pode ser adaptado a

indivíduos, família, grupos ou comunidades.

Aplicadas à saúde, as intervenções psicoeducativas podem ser úteis devido ao seu foco na

melhoria da adesão à terapêutica, na identificação precoce de sintomas, na importância de um estilo

de vida saudável, na exploração das crenças individuais de saúde, assim como permitindo aos

indivíduos compreender a relação complexa entre sintomas, personalidade, ambiente interpessoal e

efeitos da medicação.

Um dos benefícios das intervenções psicoeducativas em situações de crise é o seu potencial

de estenderem o seu impacto muito depois da situação imediata, ao ativarem e reforçarem sistemas

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de apoio formais e informais, ao ensinarem aos indivíduos e comunidades como antecipar e gerir

períodos de transição e crise.

3.1.5. Novas Formas de Prestação de Serviços e Promoção da Saúde Mental

Para além dos modelos atuais de prestação de serviços e promoção da saúde mental,

geralmente centrados em sessões de psicoterapia face-a-face, estão em expansão modelos

alternativos que permitirão responder às necessidades de saúde mental de mais indivíduos.

O impulso de desenvolver e utilizar novos modelos de prestação de serviços psicológicos

advém do reconhecimento dos encargos com a doença mental – estima-se que, em todo o mundo,

aproximadamente 30% da população terá pelo menos uma doença mental dentro de um período de

12 meses; sendo que os custos pessoais e económicos destas doenças são enormes. Para além disso,

a falta de disponibilidade de serviços para grande parte dos indivíduos e as disparidades sistemáticas

entre estes serviços justificam a importância de prestar serviços de forma diferente, de modo a

poder atingir mais pessoas e grupos minoritários.

O modelo dominante de prestação de serviços em saúde mental é administração das várias

técnicas terapêuticas por profissionais de saúde especializados, em sessões face-a-face de um para

um com o cliente. Tipicamente estas sessões ocorrem em contextos como clínicas, consultórios

privados ou instituições de saúde.

No entanto, este modelo tradicional não abrange muitos dos indivíduos com necessidades de

intervenção psicológica. Por isso, dentro das profissões de saúde mental os modelos de intervenção

estão a mudar e a expandir-se, sendo necessário desenvolver um portefólio de intervenções

psicológicas que permitam diminuir a doença mental e melhor o funcionamento psicológico em

larga escala, ou seja, ao nível da sociedade e não só do indivíduo.

Muitos destes novos modelos envolvem a utilização da Internet e de outras tecnologias

(como a videoconferência, os smartphones e os tablets). Frequentemente, a utilização das novas

tecnologias é uma variante do modelo dominante de prestação de serviços (por exemplo, sessões

individuais por videoconferência), mas permitem o alargamento dos serviços a locais onde não

existem intervenções psicológicas disponíveis.

Outros tipos de modelos em desenvolvimento (Transferência de Tarefas, Intervenções em

Contextos Quotidianos, Mudança de Estilo de Vida, Plataformas Digitais de Comunicação) têm como

características principais:

Alcance: a capacidade de atingir indivíduos que, normalmente, não são servidos ou são

mal servidos pelos modelos tradicionais de prestação de serviços de saúde mental;

Acessibilidade: um custo económico mais baixo, comparativamente ao dos modelos

tradicionais;

Expansão dos prestadores de serviços: um aumento do número de prestadores, não

profissionais, capazes de realizar intervenções de promoção da saúde mental;

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Expansão dos contextos de prestação dos serviços: a extensão dos serviços a locais e

contextos quotidianos onde é mais provável que os indivíduos participem e se envolvam

nas intervenções;

Viabilidade e flexibilidade da prestação dos serviços: as intervenções podem ser

implementadas e adaptadas a vários locais e condições de modo a responder às

necessidades de diferentes grupos.

Nenhum modelo, por si só, é capaz de oferecer resposta para todos os indivíduos e para

todas as necessidades ao nível da saúde mental. Todavia, a sua utilização complementar pode, de

facto, contribuir para diminuir os encargos pessoais e económicos da doença mental.

Modelos de Intervenção Psicológica Baseadas na Internet

O uso da internet e das novas tecnologias é um fenómeno pessoal e social que domina o

cenário contemporâneo em todos os aspetos da vida quotidiana. A tecnologia digital revolucionou a

forma como vivemos, assim como as expetativas que temos dos serviços de saúde mental e sobre

como podemos interagir com eles.

A Psicoterapia deve ajustar-se às características do mundo em mudança e adotar

instrumentos novos e inovadores que se adaptem não só ao mundo atual, mas também ao do futuro,

de modo a conseguir responder às necessidades e expetativas dos clientes.

O uso da internet enquanto ferramenta terapêutica já não é apenas teoricamente possível,

mas sim uma realidade profissional em desenvolvimento. Nos últimos anos a internet tem sido usada

para realizar diversas intervenções psicoterapêuticas: programas de promoção da saúde, prevenção

da doença mental e do sofrimento emocional, gestão do risco, tratamento psicológico e prevenção

de recaídas. Esta utilização tem recebido diversas denominações: eterapia, terapia online, terapia na

internet, ciberterapia. Muitas vezes, é enquadrada em atividades mais gerais – eSaúde.

Desta forma, as tecnologias aplicadas à saúde mental podem ter vantagens nos domínios da

promoção da saúde, prevenção, intervenção precoce e tratamento prolongado. As características

destas tecnologias podem permitir alavanvar um sistema de saúde mental mais responsivo e eficaz.

Existem já vários tipos de intervenção online: alguns incluem comunicação humana (por

texto, áudio ou vídeo), outros não (por exemplo, sites de autoajuda); alguns são sincrónicos

(interações em tempo real), outros não; alguns são individuais e outros em grupo.

Podemos distinguir entre:

Intervenções online ou baseadas na web: a intervenção é focada na autoajuda, isto é, os

indivíduos usam os recursos terapêuticos (informação online, intervenções psicoeducativas

ou protocolos clínicos baseados nos princípios da Terapia Cognitivo-Comportamental, para

mudar os seus comportamentos). O papel do terapeuta e as suas responsabilidades

consistem na preparação dos materiais, na sua disponibilização online de forma atrativa,

user-friendly e eficaz;

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Terapia Online ou Eterapia: o terapeuta está, ativamente, envolvido na comunicação

terapêutica com o cliente e explora a internet enquanto canal de comunicação.

É ainda possível utilizar a terapia online como um veículo terapêutico complementar (por

exemplo, o uso do email, blogs, informação online ou grupos de apoio online) e em paralelo com a

terapia tradicional. Por exemplo, utilizar o chat como um instrumento de melhoria da vida social de

um paciente com fobia social ou a participação num grupo terapêutico online após uma terapia

tradicional, com o objetivo de reduzir o risco de recaída.

A Terapia Online é definida como uma intervenção de saúde mental entre um paciente (ou

grupo de pacientes) e um terapeuta, usando a tecnologia como meio de comunicação. Este tipo de

intervenções pode incluir trocas de emails, conversas em chats, videoconferências ou conversas por

telefone através da internet (por exemplo, através de softwares como o Skype).

Hoje em dia, a maior parte da terapia online continua a realizar-se através de troca de

emails, no entanto, a larga utilização de smartphones e de programas como o Skype pode alterar

esta realidade. A terapia de grupo online não é tão frequente quanto a terapia individual e,

normalmente, realiza-se num grupo privado que troca mensagens dirigido por um terapeuta. Em

termos gerais, os custos da terapia online são semelhantes aos custos da terapia face-a-face quando

a intervenção se realiza através de videoconferência ou chat, mas diminuem se a interação não

ocorrer em tempo real (por exemplo, através da troca de emails).

Vários estudos tentaram já examinar as características destas dinâmicas terapêuticas à

distância. A maior parte demonstra que os processos terapêuticos online são, de muitas formas,

semelhantes às formas tradicionais de terapia. Por exemplo, um estudo relata que os clientes de

terapias por email ou por chat pontuaram a relação terapêutica de forma similar ou superior à da

terapia face-a-face. As evidências encontradas sugerem que a terapia online é tão eficaz quanto a

terapia face-a-face (Barak, Hen, Boniel-Nissim & Shapira, 2008).

Barak, Hen, Boniel-Nissim e Shapira (2008) realizaram uma meta-análise sobre a eficácia das

intervenções psicoterapêuticas baseadas na Internet, concluindo que existem boas razões para se

adotarem as intervenções psicológicas online como atividades terapêuticas legítimas e eficazes. A

TCG foi a mais eficaz dentre as abordagens terapêuticas aplicadas online. A terapia online parece ser

mais eficaz para tratar problemas relacionados com a ansiedade e o stress. Os investigadores

concluíram ainda que a terapia individual online parece ser mais eficaz do que a de grupo e que as

modalidades por email ou chat produzem mais efeito que as modalidades de videoconferência.

Para além desta meta-análise diversos estudos demonstram a existência de resultados

positivos, em termos de eficácia, eficiência e custo-efetividade, para um conjunto de problemas

psicológicos, por exemplo, sintomas depressivos e depressão, perturbação de pânico, perturbação de

ansiedade social, perturbação de stress pós-traumático, perturbações alimentares, encoprese e

insónia.

Exemplos: http://www.headworks.com/index.html; http://counseling.liveperson.com/

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As eClínicas de Saúde Mental ou Clínicas Virtuais de Saúde Mental constituem uma forma de

disponibilizar serviços de terapia online sem constrangimentos geográficos, culturais ou financeiros.

Atualmente este tipo de clínicas pode funcionar em simultâneo com uma clínica convencional que

oferece serviços face-a-face, no sentido de melhorar o seu alcance, e lidar com perturbações mentais

comuns como a ansiedade, a depressão ou o abuso de substâncias psicoativas através de técnicas

cognitivo-comportamentais. No entanto, de futuro, a sua ação pode estender-se a perturbações

mentais mais graves como a perturbação bipolar, a esquizofrenia ou outras perturbações psicóticas.

Este tipo de clínicas pode ser especialmente útil para prestar serviços a países em desenvolvimento

que carecem de serviços de saúde mental especializados.

Exemplo: http://asktheinternettherapist.com/

As Intervenções Autoguiadas referem-se normalmente a sites que oferecem a oportunidade

do indivíduo interagir com um software online e estruturado que, por etapas, vai guiando o indivíduo

ao longo de um programa de autoajuda. Normalmente, estes programas baseiam-se na terapia

cognitivo-comportamental e disponibilizam exercícios interativos ao utilizador (resolução de

problemas, reestruturação cognitiva, assertividade, autoestima), assim como informação e

questionários. As investigações realizadas sobre este tipo de intervenções apresentam, em termos

gerais, efeitos positivos na redução de sintomas. Um dos principais obstáculos a este tipo de

intervenções e à sua eficácia diz respeito à adesão e à desistência dos programas. Um outro

problema diz respeito à incapacidade de deteção e resposta aos indivíduos em crise, que necessitam

de um tratamento alternativo e imediato.

Exemplos: https://moodgym.anu.edu.au/welcome; http://www.downyourdrink.org.uk/;

http://www.fearfighter.com/; http://www.beatingtheblues.co.uk/practitioners/

Os Grupos de Suporte Online são intervenções focadas e dirigidas por pares que consistem

no apoio emocional mútuo dos utilizadores, que se expressam de forma não estruturada e, na maior

parte das vezes, com pouca ou nenhuma intervenção psicológica especializada.

Este tipo de grupos de apoio, normalmente gratuitos, parece ser tão eficaz quantos os

portais de eSaúde. Os membros destes grupos sentem-se mais capazes e melhor informados sobre os

seus problemas; o seu sentido de autoconfiança, controlo e bem-estar parece aumentar na

proporção do seu envolvimento e participação no grupo. Por outro lado, existem algumas

desvantagens: os objetivos de progresso e melhoria individual podem ficar em segundo plano; as

informações trocadas sobre saúde mental podem estar incorretas; os grupos podem acabar por se

tornar prejudiciais se forem utilizados, por exemplo, para partilhar formas de cometer suicídio ou de

se tornar “mais” anorética.

Exemplo: http://www.patientslikeme.com/

Os serviços de eSaúde podem articular-se e funcionar em parceria com os cuidados de saúde

primários locais ou constituírem uma plataforma online, de acesso livre e grátis, um portal eSaúde.

Este tipo de portais que combinem informação útil, feedback atempado e marketing social

apropriado podem encorajar muito mais os utilizadores a procurar ajuda do que os sistemas de

saúde convencionais. Este tipo de portais tem como características centrais o facto de constituírem

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uma entrada para um conjunto amplo de serviços e encaminhamento para serviços de saúde (online

ou face-a-face) depois de terem sido oferecidas e informações e oportunidades relevantes de

autoajuda. Por exemplo, este tipo de portais pode disponibilizar:

Informação de qualidade que permita explorar a natureza dos problemas de saúde

mental;

Questionários que permitam determinar os níveis de sintomatologia relacionados com a

saúde mental;

Usar instrumentos de decisão focados nos consumidores e através dos quais se pode

seguir um caminho de autoajuda ou de ajuda profissional; acesso direto a programas e

softwares online baseados em evidência para prevenção ou tratamento;

Sistema de “perguntas e respostas” por email ou telefone;

Aplicações que permitam fazer e manter um registo de informações sobre a saúde

pessoa que podem depois ser partilhadas com profissionais de saúde;

Sistema de verificação que assegura que os indivíduos não ficam perdidos ou sem ajuda

dentro do sistema. Uma monitorização adequada pode ser construída para entrar em

contacto com os indivíduos que introduzem os seus contactos/pedidos, quer estejam

apenas à procura de informação para si ou para amigos/familiares, quer precisem de

ajuda urgente.

Este tipo de portais não substitui os serviços de saúde convencionais, aos quais os

utilizadores vão continuar a aceder, mas oferecem uma porta de entrada para a informação, a

autoajuda, o aconselhamento e outros serviços de saúde, assim como a oportunidade de escolher o

tipo de serviço que mais se adequa às suas necessidades.

É importante que este tipo de portais seja gerido por profissionais de saúde, entre os quais,

Psicólogos. Para além disso, os processos e características informáticas por detrás destes portais

precisam de respeitar códigos éticos e de segurança, padrões apropriados de prática profissional e

serem monitorizados regularmente.

Exemplos: http://www.nhs.uk/Pages/HomePage.aspx; http://www.nimh.nih.gov/index.shtml;

http://bluepages.anu.edu.au/; http://www.bigwhitewall.com/my-

account/login.aspx?ReturnUrl=%2f; http://www.blackdoginstitute.org.au/; http://www.crufad.com/

Outros tipos de Intervenção Online podem incluir SMS e aplicações para smartphones e

tablets ou intervenções através de mundos virtuais e plataformas de jogos na internet. Por exemplo,

o follow-up de pacientes com bulimia nervosa pode ser realizado através d envio de SMS: durante

seis meses após o término da psicoterapia, os pacientes recebem mensagens semanais com feedback

sobre os sintomas auto relatados. Outro exemplo é uma aplicação conhecida como Mobile Therapy

que incentiva os utilizadores a reportar os seus níveis de humor ao longo do dia, preenchendo um

“mapa do humor” relativamente a felicidade, tristeza, ansiedade e raiva. Subsequentemente a

aplicação oferece exercícios terapêuticos baseados em técnicas cognitivo-comportamentais de

coping.

Exemplos: apps disponíveis para Iphone e Ipad chamadas eCBT Mood, eCBT Trauma, eCBT Calm.

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Esta nova forma de intervenção tem sido alvo de inúmeras críticas e oposição:

A falta de visibilidade face-a-face: impede a leitura dos comportamentos não-verbais do

paciente e do terapeuta (considerados elementos fundamentais da relação terapêutica);

pode dificultar ou impedir a verificação da identidade do cliente, no caso da

comunicação por email ou em chats; pode aumentar a probabilidade de falhas e enganos

de comunicação;

Problemas éticos relacionados com a privacidade e a confidencialidade da relação

terapêutica e da identidade do paciente e do terapeuta;

A regulação e legislação existente não contemplam diversas situações criadas pelas

intervenções online;

As questões técnicas e práticas relacionadas com a formação dos terapeutas online ou a

dependência da eletricidade e das tecnologias;

Dificuldade na resposta das situações de emergência, dado anonimato permitido pela

internet ou o desconhecimento dos recursos das comunidades e locais de residência do

cliente;

Embora muitas destas críticas se mantenham, também têm sido respondidas à medida que

estas novas formas de intervenção se desenvolvem: muitos terapeutas têm aderido a estas formas

de intervenção, novas tecnologias mais fiáveis emergiram, códigos éticos foram elaborados e

começaram a ser disponibilizados cursos e programas de formação na área. Para além disso, muitos

clientes parecem apreciar esta opção terapêutica.

Existem também um conjunto de vantagens associadas a este tipo de intervenção:

Aumento do acesso aos serviços psicológicos, nomeadamente para pessoas em regiões

remotas, com necessidades culturais ou linguísticas específicas, que procuram serviços

muito específicos, que não podem sair de casa e para aqueles que preferem comunicar

por esta via; disponibilidade 24 horas por dia, sete dias por semana da intervenção;

evitamento de listas de espera;

Aumento do envolvimento e da participação dos utilizadores nos cuidados de saúde

mental;

Aumento da perceção de controlo sobre a própria saúde e da capacidade para a

autoajuda e procura de serviços de saúde, permitindo aos indivíduos autoidentificar

sintomas ou preocupações potenciais que podem transformar-se numa perturbação ou

alterar significativamente a sua vida, assim como oferecer intervenções autodirigidas que

tornem possível evitá-lo

Autodeterminação na utilização das intervenções, dada a flexibilidade e a oportunidade

de rever os materiais sempre que desejar; o utilizador pode aceder aos serviços no seu

próprio ritmo e de forma autodirigida;

Aumento da continuidade dos cuidados psicológicos, por exemplo os clientes que viajam

para outro país podem manter o contacto com o seu psicólogo através da internet;

Redução estigma associado aos tratamentos de saúde mental, devido ao anonimato

permitido pelas intervenções online;

Redução dos custos para os consumidores e para os prestadores de serviços. De acordo

com alguns estudos, são 50% mais custo-efetivos para os governos do que os serviços de

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saúde mental tradicionais. Em termos gerais, este tipo de intervenções tem o potencial

de reduzir o consumo em cuidados de saúde, sendo que o resultado das intervenções é

similar ao tratamento convencional.

Porque os serviços baseados na internet podem ser acedidos e disseminados em massa,

estudos recentes indicam ainda que as tecnologias baseadas na internet podem ter um papel

privilegiado e eficaz na prestação de serviços de prevenção primária, intervenção precoce e

prevenção secundária à população em geral, uma vez que permitem a disseminação alargada de

programas eficazes a um custo baixo. Para além disso, sabendo que 75% dos principais problemas de

saúde mental têm início antes dos 25 anos e que 50% se tornam evidentes antes dos 15 anos, as

aplicações de eSaúde têm o benefício claro de serem atrativas e facilmente acessíveis pelos mais

jovens, que já usam a internet como a principal fonte de informação sobre saúde.

A existência de portais de eSaúde e mesmo de intervenções psicológicas online não é uma

ameaça para os serviços psicológicos tradicionais face-a-face, antes pelo contrário, podem constituir

apenas o primeiro passo para aceder aos serviços convencionais, complementarem as terapias face-

a-face ou constituírem-se como alternativas para os indivíduos que não podem aceder aos

tratamentos face-a-face.

É importante encorajar os utilizadores das intervenções psicológicas online a procurar

informações que considerariam caso estivessem a escolher um psicólogo para uma intervenção

tradicional. Como por exemplo, procurar saber se o Psicólogo é membro da OPP, detalhes sobre as

suas qualificações, custo e tipo de serviço disponibilizado. Estas informações devem estar disponíveis

nos sites.

O Governo Australiano apresentou, em Junho de 2012, uma Estratégia de eSaúde Mental

para a Austrália cujo objetivo é ajudar a incorporar a eSaúde Mental no sistema de cuidados

primários de saúde mental. A longo prazo, o objetivo desta estratégia é impregnar o pensamento dos

profissionais de saúde com a ideia de que esta é uma forma apropriada de tratamento. Os principais

pilares desta estratégia dizem respeito ao acesso aos serviços de saúde mental (disponibilização de

portais de saúde como o eheadspace e construção de uma Clínica Virtual que disponibilizará terapia

online em tempo real com profissionais treinados); qualidade dos serviços (um portal online

funcionará como porta de entrada dos utilizadores dos serviços de saúde mental, permitindo-lhes

aceder a serviços de qualidade e a informação fiável); e integração dos serviços (disponibilização de

tratamento e apoio offline e online). Esta estratégia será acompanhada de uma estratégia de

marketing que garantirá que todos, consumidores e profissionais de saúde, conhecem os pontos de

entrada e os caminhos disponibilizados pelo sistema de eSaúde Mental. Mensagens sobre a eficácia e

os serviços de eSaúde Mental serão desenvolvidas e disseminadas.

No futuro, espera-se que os serviços de eSaúde Mental tenham um grande crescimento nas

seguintes áreas: promoção da saúde, prevenção da saúde, intervenção na crise, intervenção precoce,

gestão e recuperação na doença crónica.

No futuro, espera-se que os benefícios dos serviços de eSaúde Mental sejam: aumentar o

acesso aos programas de saúde mental; racionalizar os serviços de saúde mental de forma a que os

serviços correspondam às necessidades do paciente; facilitar os cuidados face-a-face para os

consumidores; facilitar a continuidade dos cuidados e o follow-up, facilitar o apoio entre pares,

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diminuir os custos para os profissionais e os consumidores, reduzir a necessidade de profissionais,

aumento do custo-efetividade dos serviços de saúde mental e redução do encargo da doença.

Transferência de Tarefas (Task Shifting)

A Transferência de Tarefas (Task Shifting) é uma metodologia que permite reforçar e

expandir a força de trabalho na saúde através da redistribuição e reatribuição das tarefas de

prestação de serviços a indivíduos com pouca ou nenhuma formação/qualificações, geralmente

possuídas pelos profissionais de saúde. Esta redistribuição permite aumentar o número total dos

trabalhadores na área da saúde e ampliar o âmbito da prestação de serviços de saúde.

Este conceito, cuja aplicação à saúde física não é nova, é utilizado em vários países

desenvolvidos, como a Austrália, a Inglaterra ou os Estados Unidos, onde enfermeiros e

farmacêuticos prestam serviços anteriormente reservados apenas aos médicos.

Um exemplo paradigmático da aplicação da Transferência de Tarefas à saúde mental ocorreu

na Índia, onde leigos receberam uma formação estruturada durante 2 meses para prestarem

intervenções psicoeducativas e psicoterapia interpessoal no tratamento de indivíduos com

ansiedade e depressão. Os resultados desta experiência foram extremamente positivos: após 6 e 12

meses do término do tratamento, o grupo de indivíduos que tinha recebido este tipo de intervenção

apresentava taxas de recuperação mais elevadas do que grupo de controlo (que tinha recebido

intervenções convencionais, prestadas por um profissional de saúde), assim como pontuações

menores na gravidade dos sintomas, incapacidade, tentativas de suicídio e dias perdidos de trabalho.

Evidências de outros estudos reforçam a ideia de que a Transferência de Tarefas é uma

prática clínica útil e de que leigos podem prestar um tratamento eficaz sem que os resultados de

saúde mental sejam afetados.

Desta forma, a Transferência de Tarefas apresenta um conjunto de características que

justificam a sua utilização como um novo modelo de prestação de serviços em saúde mental,

nomeadamente, a sua aplicabilidade em países desenvolvidos e em desenvolvimento, nas várias

necessidades de cuidados de saúde mental (prevenção e tratamento), assim como a capacitação dos

indivíduos para serem prestadores eficazes de cuidados de saúde mental das suas comunidades e de

si próprios.

Os Psicólogos podem ter um papel fundamental na formação/treino de recursos humanos

disponíveis na comunidade para oferecer um conjunto de intervenções de saúde mental. Desta

forma, o seu papel enquanto prestadores diretos de serviços psicológicos, pode ser alargado e as

suas funções alocadas ao desenvolvimento de capacidades, formação e supervisão.

Intervenções em Contextos Não Convencionais/Quotidianos

Este modelo foca-se na expansão dos cuidados de saúde para além dos locais tradicionais

de prestação de serviços, como clínicas ou hospitais, e sua inserção em contextos onde os indivíduos

já passam grande parte do seu tempo ou que frequentam com regularidade. Desta forma, indivíduos

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que podem precisar de serviços de saúde, mas que não os estão a receber, podem aceder-lhes mais

facilmente.

Os contextos quotidianos possíveis incluem, por exemplo, os domicílios, os bairros, as

igrejas, os centros comerciais, os jardins e parques, os restaurantes ou os salões de cabeleireiro.

No caso da saúde física, os salões de cabeleireiro constituem contextos naturais ideais para

a realização de intervenções e educação para a saúde, uma vez que são frequentados, regularmente,

por um grande número de indivíduos e constituem espaços de socialização e discussão de temas

relacionados com a saúde e a beleza. Para além disso, muitos indivíduos vêm os seus cabeleireiros ou

esteticistas como pessoas em quem podem confiar e pedir apoio/conselhos, tornando-os uma fonte

potencial de informação importante. Por estes motivos, vários tipos de programas de saúde (por

exemplo, mamografias para o rastreio do cancro da mama, prevenção das doenças cardiovasculares

ou educação para as doenças sexualmente transmissíveis) têm sido baseados na promoção de

mensagens críticas para a saúde em salões de cabeleireiro. Tipicamente, os cabeleireiros e

esteticistas realizam intervenções diretamente com os clientes depois de terem recebido formação

sobre a temática em causa. Por exemplo, um programa de educação para a saúde sobre AVC’s para

mulheres afro-americanas foi realizado em salões de cabeleireiro em duas áreas urbanas. Os

cabeleireiros e esteticistas frequentaram uma formação breve durante um almoço e foram-lhes

fornecidos materiais (panfletos, etc.) para distribuírem aos clientes. De seguida, durante as

marcações com os clientes os cabeleireiros educavam-nos sobre os riscos de AVC, sinais de alerta e

respostas apropriadas para vários cenários clínicos. As mulheres que receberam este tipo de

intervenção demonstraram uma melhoria no seu conhecimento sobre os sinais de AVC e respostas

apropriadas.

Os contextos utilizados para as intervenções na saúde física, também podem ser úteis e

servir como guia para ampliar os locais onde os cuidados de saúde mental podem ser aplicados.

Muitas das características que os tornam viáveis para as intervenções e prevenção de problemas de

saúde, também os tornam viáveis para intervenções e prevenção na saúde mental. Na realidade, já

existem alguns programas para treinar e formar cabeleireiros para avaliar sintomas de ansiedade e

depressão e encaminhar/informar adequadamente os indivíduos.

Dentre as vantagens de realizar intervenções psicológicas em contextos quotidianos é de

sublinhar a possibilidade de atingir indivíduos que, provavelmente, não procurariam serviços de

saúde mental através dos recursos e contextos convencionais. Para além disso, os contextos

quotidianos também podem ser utilizados para abranger populações especiais, com base nos locais

que frequentam; e o facto de se utilizarem leigos para prestar as intervenções reforça a ideia da

Transferência de Tarefas e os seus benefícios.

Mudança de Estilo de Vida

A Mudança de Estilo de Vida refere-se às intervenções que procuram modificar

comportamentos de alto-risco, reduzindo a mortalidade e morbilidade. O Estilo de Vida inclui um

conjunto de comportamentos nos quais os indivíduos se envolvem e que podem afetar

positivamente a saúde. Exemplos comuns são o controlo alimentar, o exercício, a redução ou

eliminação do consumo de álcool e tabaco e a participação em atividades que podem reduzir o

stresse. As intervenções que procuram mudar o estilo de vida têm tido como alvo comportamentos

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como o fumo, o consumo de álcool, a dieta e o exercício enquanto comportamentos associados a

doenças crónicas como as doenças cardiovascular, os diabetes e a obesidade.

As mudanças no estilo de vida têm demonstrado um impacto favorável em diversas

perturbações psicológicas, incluindo a depressão, a ansiedade, a esquizofrenia, as perturbações

alimentares ou o abuso de substâncias. Embora as mudanças de estilo de vida mais frequentes

incluam o exercício e a nutrição, têm sido alargadas a outras atividades, como passar tempo na

natureza, envolver-se em atividades recreativas ou espirituais/religiosas ou realizar voluntariado –

cada um delas com evidências dos seus benefícios em relação à melhoria da saúde física e/ou

mental.

A depressão serve como exemplo de como as mudanças no estilo de vida podem ter um

impacto significativo na disfunção clínica. Desde há muitos anos que os Psicólogos incorporam

atividades de mudança de estilo de vida no tratamento da depressão, normalmente relacionadas

com exercício físico, envolvimento social e atividades recreativas. Este tipo de intervenção, por si

própria ou em associação com outras intervenções, tem-se mostrado eficaz para tratar a depressão e

apresenta efeitos semelhantes aos da medicação e da psicoterapia.

Uma das principais vantagens da mudança do estilo de vida é o impacto alargado que essa

mudança pode ter. Por exemplo, o aumento do exercício físico pode ter múltiplos benefícios físicos

(por exemplo, melhoria da saúde cardiovascular, redução do risco de obesidade e cancro) e mentais

(por exemplo, redução dos sintomas depressivos, dos níveis de stresse e ansiedade e do consumo de

substâncias). Estes efeitos positivos no bem-estar físico e mental traduzem-se, por sua vez, na

redução da utilização dos serviços de saúde. Outros benefícios deste tipo de intervenção incluem: a

sua acessibilidade; custo-efetividade; flexibilidade na aplicação a diferentes indivíduos, idades e

contextos; remoção de algumas barreiras ao tratamento (por exemplo, estigma associado à doença

mental).

Plataformas Digitais de Comunicação e os Media

As plataformas digitais de comunicação ou os social media referem-se a conteúdos online

disponíveis para a população em geral, cujos exemplos principais são as redes sociais como o

Facebook, mas também os Blogs, a Wikipedia, o YouTube ou os sites de realidade virtual e jogos

virtuais.

Estes avanços tecnológicos geraram mudanças culturais na forma como comunicamos,

socializamos, obtemos informação e acedemos a recursos. Por exemplo, as redes sociais fomentam o

contacto entre os indivíduos de forma diferente, mas também transformam a frequência e a

intimidade desses contextos. Instantaneamente, é possível partilhar notícias, informações, fotos e

vídeos com grupos alargados de pessoas em todo o mundo e, rapidamente, receber feedback dos

materiais partilhados.

Estas plataformas digitais de comunicação podem servir para realizar intervenções na

interseção entre a tecnologia e a interação social. A própria natureza das redes sociais (partilhar

pensamentos, sentimentos e informações com os outros) pode torná-las o espaço ideal para

identificar indivíduos em risco e aqueles que necessitam de serviços de saúde mental. Recentemente,

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na Tailândia, desenvolveu-se um programa que utilizou o Facebook como meio de avaliar o risco de

suicídio em adolescentes. Após autorizarem o programa a aceder a algumas informações pessoais

(por exemplo, idade, género e endereço de email), foi solicitado aos adolescentes que preenchessem

um questionário breve sobre sentimentos suicidas. A informação obtida foi armazenada numa base

de dados e os adolescentes que tinham demonstrado um elevado risco de suicídio foram

contactados por profissionais de saúde e foram-lhes sugeridos recursos ou serviços de saúde mental

através da internet. Esta utilização das redes sociais pode facilitar o rastreio dos problemas de saúde

mental e a coordenação de serviços para indivíduos que, de outra forma, não teriam acesso a

cuidados.

As plataformas digitais de comunicação, sobretudo as redes sociais, possuem diversas

características que as podem tornar um novo modelo de prestação de serviços muito relevante.

Dentre as suas características únicas, a oportunidade para uma conectividade rápida é de sublinhar.

Por exemplo, quando o Facebook tornou possível aos utilizadores verem se os outros utilizadores

eram ou não dadores de órgãos, e caso interessados, inscreverem-se como dadores, o número de

dadores de órgãos aumentou substancialmente (nalguns estados em 700%) em apenas alguns dias. É

possível antecipar como informação crítica para a saúde mental, como o rastreio da depressão,

pode ser disponibilizada alargadamente através das redes sociais. Para além disso, as redes sociais

proporcionam ainda uma oportunidade única de aumentar a consciência e o conhecimento da

população geral sobre a saúde mental, servindo ainda para quebrar o estigma da procura de

tratamento para problemas psicológicos.

Outro caminho possível é construir programas de entretenimento, de rádio ou TV, de modo

a veicular mensagens educativas e exercer pressão social para a mudança de comportamentos de

saúde mental (literacia em saúde mental, parentalidade, coping com o stress ou a depressão, abuso

de substância psicoativas, por exemplo). Em programas com audiência elevada é possível introduzir

personagens que assumam diferentes papéis positivos, lidem com os desafios diários da sua cultura e

modelem a mudança de determinados comportamentos.

Desenvolvimento de Competências de Autorregulação

Um homem esbanja o seu dinheiro no jogo. Uma mulher bate no filho. Um condutor

alcoolizado causa um acidente que envolve vários feridos. Um estudante procrastina o estudo até à

última noite antes da avaliação e tem uma má nota. Um jovem casal tem sexo desprotegido que gera

uma gravidez indesejada. Um delinquente dispara sobre um conhecido durante uma discussão. Uma

mulher de dieta come sete donuts e um copo de gelado de uma só vez. Um atleta treina

intermitentemente durante um ano sem melhorias no seu desempenho. Uma rapariga quebra uma

promessa e trai a confiança de uma amiga. Um idoso negligencia mais uma vez a sua dose diária de

insulina e entra em choque diabético.

Todos estes acontecimentos aparentemente não relacionados têm em comum uma falha na

capacidade de autorregulação. A autorregulação refere-se ao esforço dos indivíduos para alterar os

seus pensamentos, sentimentos, desejos e ações de modo a atingir determinados objetivos face a

processos de mudança. Inclui saber gerir os estados emocionais internos, impulsos e recursos; adiar a

gratificação; construir emoções positivas; lidar com os próprios erros; e ser flexível na gestão das

mudanças nas circunstâncias de vida. Refere-se à pessoa enquanto agente ativo, que toma decisões

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adaptativas sobre a sua própria vida. Quando funciona bem, permite aos indivíduos alterar o seu

comportamento de forma a conformarem-se a regras, planos, promessas, ideais e outros padrões.

Quando falha, a autorregulação contribui para várias formas de sofrimento humano.

A maior parte dos problemas sociais e pessoais (adição, violência e crime, obesidade, dívidas,

doenças sexualmente transmissíveis, insucesso…) que afligem os indivíduos têm, na sua raiz,

elementos de autorregulação que falharam. Isto não significa que uma melhor autorregulação, por si

mesma, seria a solução para todos os problemas da sociedade, mas pode constituir-se como um

contributo importante.

Especificamente, as funções autorregulatórias podem ser aplicadas nos mais diversos

contextos e têm implicações importantes para os comportamentos de saúde e para a saúde mental,

incluindo a autoavaliação, a defesa contra o stresse e a ansiedade excessivas e a preservação da

autoestima e identidade.

Uma das principais aplicações da competência da autorregulação na saúde diz respeito à

gestão de doenças crónicas e complexas (como a asma ou a diabetes): através de processos

autorregulatórios os indivíduos podem aprender estratégias de gestão da doença, isto é, o conteúdo

e as capacidades de gestão da doença derivam do processo de autorregulação. Existe um hiato entre

a aquisição de informação relacionada com a saúde e a adoção de comportamentos saudáveis, que

as competências de autorregulação podem ajudar a ultrapassar.

Por exemplo, é comum os doentes com obesidade mórbida apresentarem elevada

frustração, desânimo aprendido, baixa perceção de autoeficácia, pouca motivação para aderir ao

tratamento e depositarem nos profissionais de saúde que os acompanham a responsabilidade de

seguir os conselhos de saúde propostos. Estas atitudes e comportamentos dificultam, muitas vezes, a

adesão dos doentes aos tratamentos aconselhados, com as respetivas consequências a nível físico,

psicológico, social, laboral e económico. As competências de autorregulação podem desempenhar

um papel importante na adesão ao tratamento da obesidade, possibilitando a estes doentes

desenvolver a capacidade de ultrapassar ou mudar as próprias respostas internas e interromper

tendências comportamentais indesejáveis ou impedir que estas passem ao ato (por exemplo,

controlar o impulso de comer o que desejam, selecionar alimentos considerados mais adequados ao

objetivo de diminuir o peso).

Deste modo, os Psicólogos podem desempenhar um papel importante na promoção da

autorregulação em geral e dos comportamentos de saúde. As estratégias de intervenção com o

objetivo de aumentar a capacidade autorregulatória dos indivíduos podem dirigir-se a diferentes

domínios do funcionamento – cognitivo, social, comportamental e emocional.

Tal como no caso da autorregulação, os Psicólogos podem dar um contributo importante na

promoção e desenvolvimento de outras competências transversais de vida, como a comunicação e

relacionamento interpessoal positivo, agência pessoal e compromisso com a educação e o trabalho,

autoconhecimento, resolução de problemas e tomada de decisão ou resiliência. Estas competências

podem ser definidas como necessárias para o comportamento eficaz nos domínios pessoal, social,

académica, de carreira e desenvolvimental, assim como para a adaptação emocional à mudança

constante de condições e contextos e à gestão das crises ao longo do ciclo de vida.

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3.1.5. Outros Contributos Possíveis dos Psicólogos

Prestar Serviços de Consultadoria e Formação. Os Psicólogos têm uma contribuição

importante a dar no aumento da eficácia dos serviços ao prestar consultadoria a todos os níveis:

consulta entre pares, supervisão, liderança, envolvimento dos utilizadores dos serviços nos próprios

serviços. Os Psicólogos têm um papel importante na prestação de consultadoria às organizações

sobre a melhoria das organizações e dos seus sistemas (por exemplo, liderança e trabalho de equipa).

Aumentar a Literacia em Saúde Mental. A Literacia em Saúde Mental refere-se ao

conhecimento e crenças da população acerca das doenças mentais, no que diz respeito, aos seus

sintomas, sinais de alerta, características e métodos de tratamento e prevenção. A utilização dos

serviços de saúde mental, independentemente da forma e do local em que são prestados, depende

diretamente da compreensão da população da necessidade e dos benefícios de aceder a esses

serviços. Falhas no reconhecimento da presença de uma perturbação e, se reconhecida, da

identificação de opções de intervenção é um impedimento óbvio à prestação de serviços de saúde

mental e está relacionada com os comportamentos de procura de ajuda por parte dos indivíduos.

Neste sentido, para os Psicólogos, paralelamente ao desafio de promover novos modelos de

prestação de serviços, têm um desafio de ajudar a população geral a compreender a doença

mental, os seus sinais precoces, o que pode ser feito para a prevenir, tratar e mitigar as fontes de

disfunção.

Reforço do Capital Social. Para além do acesso a serviços de saúde mental, os indivíduos

também precisam do apoio das suas comunidades – de capital social. O Capital Social baseia-se no

conceito de conexões sociais enquanto recursos da comunidade: redes sociais com normas e valores

partilhados, que facilitam a cooperação inter e intra grupos. Enquanto especialistas em relações

humanas os Psicólogos podem desempenhar um papel crucial na promoção dos relacionamentos

interpessoais saudáveis e do capital social, trabalhando com as comunidades (e alguns dos seus

membros específicos).

Gestão do Conhecimento Existente. Encontrar novas formas e plataformas de intervenção

psicológica não é suficiente para resolver os problemas associados à saúde mental. É necessário

desenvolver estratégias de reorganização da abundância de conhecimento que já existe, ou seja,

desenvolver novas formas de desenhar, aplicar e organizar (sintetizar e integrar) os tratamentos e

intervenções existentes. Se os Psicólogos forem capazes de utilizar o conhecimento que já existe

sobre a prestação de serviços na saúde mental podem tornar-se mais eficientes e eficazes. Por

exemplo, apesar de diversas inovações no desenvolvimento de tratamentos, uma criança que tenha

dois problemas diferentes (por exemplo, ansiedade de separação e humor deprimido), na melhor das

hipóteses, receberá uma sequência de dois tratamentos baseados em evidência, separadamente,

talvez por dois especialistas diferentes. É necessário encontrar uma forma de uma criança poder

receber, na comunidade, um cuidado que combine formalmente o conhecimento científico que

existe sobre as duas problemáticas.

Reforçar a importância dos Psicólogos no sistema cuidados de saúde primários. Os

Psicólogos precisarão de redefinir e redirecionar parte da sua profissão, enquanto especialistas em

cuidados de saúde mental, para os cuidados de saúde primários. Enquanto especialistas em saúde

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mental, os Psicólogos lidam, sobretudo, com indivíduos que se auto identificam como tendo

problemas psicológicos ou que têm acesso a um especialista em saúde mental. No entanto, estes são

apenas uma fração daqueles que precisam de serviços psicológicos. Enquanto especialistas dos

cuidados de saúde primários os Psicólogos poderão servir um grupo muito mais alargado de pessoas

que não têm acesso a cuidados de saúde mental ou que não identificam os seus problemas como

sendo psicológicos. Existem vários argumentos a fazer desta ideia, por exemplo: pelo menos 50%

(mas podemos estar a falar de 75%) dos indivíduos que recorrem aos cuidados de saúde primários

fazem-no devido a problemas de origem psicológica (incluindo aqueles que apresentam problemas

de saúde mental claros e aqueles que somatizam) ou com uma componente psicológica (incluindo

aqueles que possuem estilos de vida pouco saudáveis, que têm doenças crónicas ou problemas de

adesão à terapêutica médica); só para menos de 16% das queixas somáticas são identificadas causas

orgânicas. Na arena dos cuidados da saúde física os Psicólogos poderiam desempenhar um papel

fundamental, por exemplo: realizar intervenções para aumentar o ajustamento ao diagnóstico,

tratamento e prognóstico de doenças graves; preparação para procedimentos que provocam

ansiedade e dor, incluindo as cirurgias; facilitação da adesão à terapêutica nos casos da diabetes,

asmas ou outras doenças com tratamentos médicos complexos; educar os médicos sobre temas

psicológicos; ou melhorar a comunicação entre os médicos e entre médicos, pacientes e suas

famílias.

Intervir ao nível da Saúde Ocupacional e Riscos Psicossociais. Um ambiente de trabalho

prejudicial do ponto de vista psicológico tem consequências negativas não só para a saúde física e

mental do trabalhador, mas também representa custos para os empregadores e a sociedade em

geral. Em 2002 a Comissão Europeia estimou o custo económico anual do stresse ocupacional, na

União Europeia, em 20 milhões de euros. Os Psicólogos podem dar um contributo importante no que

diz respeito à saúde ocupacional, devendo fazer parte de Equipas Multiprofissionais de Saúde

Ocupacional e de Programas de Prevenção de Riscos Psicológicos e Sociais. Podem desempenhar um

papel de relevo na compreensão e intervenção em todas as situações de risco psicológico (condições,

exigências inerentes ou relacionadas com o trabalho que produzam efeitos negativos ou

agravamentos da saúde nas suas dimensões percetiva, cognitiva, afetiva, volitiva e comportamental)

e social (condições, exigências inerentes ou relacionadas com o trabalho que interferem

negativamente nas relações sócio profissionais e produzem efeitos de mal estar e sofrimento pessoal

e coletivo). Podem ainda dar um contributo essencial na prevenção e/ou redução do stresse no

trabalho (que explica mais de um quarto das ausências no trabalho de duas ou mais semanas e é o

segundo problema de saúde relacionado com o trabalho mais reportado na Europa), implementando

medidas dirigidas à organização e ao ambiente de trabalho, aos elementos dirigentes da organização

e aos trabalhadores.

3.2. O Papel da Política e dos Diferentes Sectores da Sociedade na Diminuição do Impacto da Crise

A saúde mental não pode ser responsabilidade unicamente do sector da saúde. Os

determinantes da saúde mental estão muitas vezes fora do âmbito exclusivo do sistema de saúde.

Todos os sectores da sociedade devem ser envolvidos na promoção da saúde mental. A nova política

de saúde da Europa – Health 2020 – enfatiza precisamente esta necessidade, uma vez que as ações

políticas noutros setores que não o da saúde podem diminuir alguns dos efeitos da crise na saúde e

beneficiá-los economicamente.

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As escolhas políticas podem influenciar o impacto da recessão económica nos resultados

relacionados com a saúde mental. Em termos gerais, medidas de austeridade imprudentes nos

serviços públicos dirigidos às crianças, aos jovens e às famílias podem resultar, a longo prazo, em

danos na saúde mental (com um elevado custo económico associado). Pelo contrário, medidas que

assegurem redes sociais seguras de apoio podem aumentar a resiliência das comunidades aos

choques económicos e mitigar o impacto na saúde mental do medo de perder o emprego, do

desemprego, da perda de estatuto social e do stresse.

A implementação de diferentes ações e estratégias podem ajudar a prevenir as

consequências da crise económica na saúde mental, por exemplo:

Serviços de Saúde Primários acessíveis para pessoas em risco;

Apoio do Sistema de Segurança Social;

Programas de Apoio ao Emprego;

Programas de Apoio às Famílias;

Aumento do preço do álcool e restrições à sua disponibilização;

Apoio aos indivíduos endividados na gestão das dívidas;

Reforço do Capital Social;

Comunicação responsável dos media sobre casos de suicídio.

Outro objetivo importante será a redução do estigma associado à doença mental, uma vez

que este continua a ser prevalente e pode contribuir para justificar a baixa prioridade que é dada à

saúde mental pelos decisores políticos no financiamento que investem neste sector.

4. Análise SWOT ao Papel da Psicologia na(s) Crise(s)

A realização de uma análise SWOT pode ajudar-nos a sistematizar aquelas que são as

principais forças/capacidades da Psicologia, assim como os seus pontos fracos ou melhoráveis. Por

outro lado, permite-nos também analisar os desafios e a identificar as possibilidades de crescimento

para a Psicologia:

Os pontos fortes da Psicologia, ou seja, as capacidades, condições e recursos sobre o

controlo dos Psicólogos: quem são? O que fazem? A quem prestam serviços? O que fazem

bem? Quais são as suas principais competências? Quais as características do seu mercado?

Tem uma direção estratégica clara? Quais são os seus recursos? O que os distingue de outros

profissionais?

Os pontos fracos da Psicologia, ou seja, as limitações, falhas ou deficiências no que diz

respeito a capacidades, condições e recursos sobre o controlo dos Psicólogos: o que pode ser

melhorado? O que é feito menos bem? O que deve ser evitado? O que queremos mudar? O

que nos é pedido e a quem não conseguimos responder?

As oportunidades para a Psicologia, ou seja, as condições favoráveis para cumprir a missão

dos Psicólogos, mas que não estão diretamente sobre o seu controlo: quais são as

tendências? Que boas mudanças estão a acontecer? As transformações nos mercados e nas

tecnologias representam uma oportunidade? As mudanças políticas ou nos padrões sociais

representam uma oportunidade? Que mudanças esperamos nos próximos dez anos?

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As ameaças para a Psicologia, ou seja, as condições desfavoráveis para atingir os objetivos

dos Psicólogos: quem está a fazer as mesmas tarefas? Estão a desempenhá-las melhor? O

que ameaça o desempenho dos Psicólogos?

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