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CONTRIBUIÇÕES PARA A ATUAÇÃO DO GRÊMIO ESTUDANTIL NO ENSINO

FUNDAMENTAL E MÉDIO NA PERSPECTIVA DA GESTÃO DEMOCRÁTICA

Autora: Leila Aparecida Santana Tamborini1

Orientadora: Edinéia Fátima Navarro Chilante.2

Resumo. O presente artigo reflete quanto aos subsídios teórico-práticos efetivos para a

compreensão da atuação do Grêmio Estudantil frente ao processo da gestão democrática de uma escola pública da região noroeste do Paraná, visando à melhoria da qualidade do ensino. O estudo é de abordagem qualitativa, caracterizando-se por um relato de experiência. A pesquisa envolveu 30 (trinta) alunos do Ensino Fundamental e Médio do Colégio Estadual Padre Manuel da Nóbrega. Para tal, apresentam-se três oficinas pedagógicas para tratar de assuntos relacionados ao Grêmio Estudantil, envolvendo atividades diferenciadas como: explicitação oral do conteúdo proposto para as oficinas pedagógicas, leituras e discussões em grupos sobre os textos propostos na Unidade, apresentação e discussões de vídeos, debates sobre o conteúdo dos vídeos e pesquisas na internet. Concluiu-se que as escolas públicas precisam atuar de forma a gerir o processo escolar de forma democrática, sem a predominância da centralização das decisões na direção. Desta forma, o envolvimento nas tomadas de decisão de professores, alunos, funcionários e pais não podem ser submetidos a um poder controlador. A centralização do poder na direção prejudica o funcionamento do Grêmio Estudantil e a participação em geral dos estudantes na organização escolar rumo à gestão democrática. Palavras-Chave: Grêmio Estudantil. Gestão Democrática. Escola Pública.

1. Introdução

No âmbito escolar, a gestão democrática de educação requer o envolvimento

de alunos, professores, pedagogos, gestores, funcionários administrativos e de

apoio, pais, representantes da comunidade para a tomada de decisão, por entender

que estes são construtores da história da instituição numa perspectiva de gestão

democrática (FERREIRA, 2008).

Paro (2002) argumenta que a gestão democrática propõe uma mudança no

modo de entender o ato de administrar, sobretudo, frente a uma sociedade marcada

pelo autoritarismo, em que os determinantes sociais, econômicos e políticos mais

amplos agem contra esta tendência. Ao tratar da representatividade dos alunos, o

Grêmio Estudantil é a instância colegiada máxima dentro de cada estabelecimento

de ensino.

De acordo com Veiga (1998), a organização estudantil é uma instância que

contribui para cultivar gradativamente o interesse do aluno, para além da sala de

1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Paranaense – UNIPAR e Ciências Química pela

Universidade do Oeste Paulista - UNOESTE. Especialista em Interdisciplinaridade na Educação Básica pela IBPEX; Educação de Jovens e Adultos; e Metodologia do Ensino Superior pela Sociedade Educacional. Professora da Rede Pública Estadual de Ensino. 2 Docente na Universidade Estadual do Paraná, Campus de Paranavaí. Doutora em Educação pela

Unicamp.

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aula. A consciência dos direitos individuais está articulada à ideia de que os alunos

são conquistados mediante uma participação social e solidária. Assim sendo, em

uma instituição de ensino, onde a auto-organização dos alunos, não seja uma

prática contínua e efetiva, as oportunidades de sucesso escolar ficam minimizadas.

As Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96 de 20/12/96

determina que à direção da escola cabe a função de articular/criar condições para

que os alunos se organizem no Grêmio Estudantil, inclusive, a Lei em questão,

preconiza que alunos participem também do Conselho Escolar e do Conselho de

Classe.

No Estado do Paraná, com a aprovação da Lei n.º 11.057 de 17/01/95

passou-se a garantir às instituições de Educação Básica, a livre organização de

Grêmios Estudantis, com o intuito de representar os interesses e proclamar as

demanda dos alunos. No art. 3. º, inciso II, a referida lei reconhece a organização de

entidades representativas de estudantes municipais, regionais e nacionais.

Para Carbinato et al (2009), o grêmio estudantil pode e deve constituir-se

como espaço de participação política, de desenvolvimento do pensamento crítico

diante da realidade educacional e de exercício da cidadania, contribuindo, assim,

para a construção de uma gestão democrática atenta à participação de todos os

atores da comunidade escolar.

Contudo, escassamente presentes nos esforços de desenvolvimento

institucional, as ações do grêmio estudantil não têm colaborado para a construção

de uma gestão democrática. As ações desta instância, na maioria das vezes têm um

pequeno protagonismo em sua gestão e realização. Desses fatores, provém a

importância de reflexões e práticas que permitam ao Grêmio Estudantil dar conta de

experiências para uma atuação fundamentada e crítica.

É nesse contexto que o presente artigo, fruto de uma proposta desenvolvida

no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE criado pelo Governo do

Estado do Paraná, objetiva contribuir para reflexões acerca dos subsídios teórico-

práticos efetivos para a compreensão da atuação do Grêmio Estudantil frente ao

processo da gestão democrática, a partir de práticas alternativas que favoreçam a

atuação desta instância no Colégio Estadual Padre Manuel da Nóbrega da cidade

de Umuarama-Paraná.

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2. A Gestão Democrática da Educação e a Função do Grêmio Estudantil

A proposta de gestão democrática na escola pública brasileira avançou na

década de 1980 em razão da luta de educadores e de movimentos sociais

organizados em defesa de uma proposta de educação pública de qualidade. A

década de 80 foi marcada pela retomada da organização dos movimentos sociais

que tiveram um papel fundamental na denúncia do caráter centralizador e autoritário

das instituições brasileiras, ao mesmo tempo em que reivindicavam alternativas de

participação nas esferas de decisão da vida pública e privada (GONH, 1994).

Para Negrini (2012), a trajetória histórica da educação brasileira traz a

compreensão do caos vivenciado:

Ao observar os movimentos registrados temos a elite dominante, intelectuais e governantes fazendo e desfazendo o processo educacional com normas e leis que se projetam de cima para baixo sem a menor participação da sociedade com seus interesses. Tendo o poder da movimentação financeira voltada para a educação desmandos aconteceram em nome de muita aparência e pouca efetivação em busca de soluções para problemas crônicos na educação como o analfabetismo, exclusão, repetência, baixos salários, dentre e outros (NEGRINI, 2012, p.07).

O caráter autoritário e centralizador que marcou, sobretudo, o funcionamento

do Estado brasileiro no decorrer do regime militar (1964-1985) passou a ser

questionado na década de 80. Adrião e Camargo (2002) comentam que a

publicização do Estado era expressa em reivindicações, mormente, por parte dos

movimentos populares e sindicais, pela instalação de procedimentos mais claros e

de instâncias de estilo participativo, as quais apontavam para a democratização da

gestão do próprio Estado.

Vieira (2008) comenta que os interesses conflitantes do processo de

democratização da gestão escolar não avançaram de forma linear, pois seguiu

caminhos contraditórios, que dificultaram e, ao mesmo tempo, desafiaram novas

estratégias de ação. “A história mostra uma tradição de gestão de cunho fortemente

centralizador” (p. 142).

A luta em busca da democratização da escola pública resultou na aprovação

do princípio da gestão democrática, consagrado e consubstanciado na Constituição

Federal brasileira de 1988, determinando em seu art. 206, inciso VI a garantia de

gestão democrática no ensino público (AGUIAR, 2008). A promulgação da

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Constituição de 1988 determinou a elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional - LDB nº 9394/96.

A aprovação da nova Lei atribui um sentido amplo à educação, passando a

abranger os processos formativos desenvolvidos na vida familiar, na convivência

humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais,

organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Neste sentido,

conforme Veiga (1998), a escola passou a ser concebida como um espaço em que

todas as ações devem ser planejadas e organizadas de forma coletiva e

democrática, envolvendo a todos.

A ação da gestão democrático-participativa abre o canal para participação da

comunidade, assim a escola deixa de ser uma redoma, um lugar fechado e

separado da realidade e passa a acontecer como uma comunidade educativa,

interagindo substancialmente com a sociedade civil. Para Gadotti e Romão (1997), a

participação exerce substancial influência na democratização da gestão e na

melhoria da qualidade de ensino.

Todos os segmentos da comunidade podem compreender melhor o funcionamento da escola, conhecer com mais profundidade os que nela estudam e trabalham, intensificar seu envolvimento com ela e, assim, acompanhar melhor a educação ali oferecida (GADOTTI; ROMÃO, 1997, p. 16).

A abertura para a participação da comunidade na gestão, assim como a

elaboração do Projeto Político Pedagógico carregam em si possibilidades de

mudanças que se confirmam na relação sociedade/estado/escola. Deste modo,

reafirma-se a necessidade e a obrigatoriedade do Estado de elaborar parâmetros

claros no campo curricular, para orientar o ensino de maneira a adequá-lo aos ideais

democráticos. Embora a LDB atual não expresse as conquistas democráticas de

maneira adequada, não se pode negar que apresenta um pequeno avanço em

relação à organização da escola. O Art. 14º da referida Lei estabelece que:

I – Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto político pedagógico da escola;

II – Participação das comunidades escolares e locais em conselhos escolares ou equivalentes (LDB n.º 9394/96).

Diante do exposto nos incisos da LDB todos os interessados na

democratização da escola pública precisam participar dos processos de gestão.

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Libâneo, Oliveira e Toschi (2007, p.329) entendem a participação como um meio

efetivo para assegurar a gestão democrática, possibilitando o envolvimento de todos

os integrantes da escola no processo de tomada de decisões e no funcionamento da

organização escolar.

A participação proporciona melhor conhecimento dos objetivos e das metas da escola, de sua estrutura organizacional e de sua dinâmica, de suas relações com a comunidade, e propicia um clima de trabalho favorável a maior aproximação entre professores, alunos e pais (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2007, p. 329).

A gestão democrática pressupõe a necessidade de articular a participação de

todos na elaboração da sua proposta, com respeito às normas comuns e as do seu

sistema de ensino. A própria ideia de participação traz consigo uma mudança de

perspectiva, que implica na construção de relações verdadeiramente participativas e

que estejam atreladas às reais necessidades dos envolvidos na proposta,

demonstrando que ela é possível (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2009).

Nessa perspectiva, a proposta educacional precisa, então, responder às

marcas e aos valores de sua comunidade. Isso leva a pensar na necessidade de

formalizar os rumos para uma ação coletiva baseadas em decisões capazes de

regulamentar todas as ações desenvolvidas nas práticas escolares de maneira

autônoma.

Como afirma Dourado (2008, p. 298), as mudanças exigem da administração

da educação e dos educadores a tarefa de “[...] traduzir as determinações do

mundo em que vivemos em conteúdos que possibilitem uma formação humana e

cidadã, forte e capaz de enfrentar estes e outros desafios que estão por vir”.

A gestão escolar constitui uma dimensão importante da educação, haja vista

que, por meio dela, observa-se a escola e os problemas educacionais de forma

global, buscando abranger, pela visão estratégica e de conjunto, o seu

reconhecimento como direito humano. Nesse sentido, educar na perspectiva

democrática da educação, segundo Adrião e Camargo (2002) implica em avanços,

retrocessos, debates, disputas e exercício da cidadania historicamente negada.

O processo da redemocratização brasileira contribuiu para a intensificação e

expansão dos Grêmios Estudantis, envolvendo-se não somente no ensino escolar,

mas, em questões mais amplas da sociedade, de cunho político e social. Martins

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(2012) cita alguns mecanismos legais que contribuíram para a ampliação dos

Grêmios Estudantis.

O Poder Legislativo elaborou a Lei Federal n.º 7.398, de 04/11/85 que dispõe sobre a organização de entidades representativas dos estudantes da Educação Básica, com finalidades educacionais, culturais, cívicas, esportivas e sociais. O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069 de 13 de Julho de 1990, em seu artigo 53, inciso IV, garante o direito dos estudantes de se organizarem e participarem de entidades estudantis. A Lei 7.844 de 13 de Maio de 1992 regulamenta o direito a meia entrada para estudantes poderem participar de eventos culturais Contamos ainda com a LDB 9394/96 de 20/12/96, que ao estabelecer as diretrizes e bases da educação nacional determina que a Direção da escola deve criar condições para que os alunos se organizem no Grêmio Estudantil. Além disto, esta Lei determina que alunos participem também do Conselho Escolar e do Conselho de Classe. No Paraná, a Lei n.º 11.057 de 17/01/95 assegura aos Estabelecimentos de Ensino que ofertam Educação Básica, públicos ou privados, a livre organização de Grêmios Estudantis, para representar os interesses e expressar os pleitos dos alunos. No art. 3. º, inciso II, reconhece a organização de entidades representativas de estudantes municipais, regionais e nacional (MARTINS, 2012, p. 08).

O Grêmio Estudantil compõe uma das mais duradouras tradições da

juventude. Pode-se afirmar que no Brasil, com o surgimento dos grandes

estabelecimentos de ensino secundário, nasceram também os Grêmios Estudantis,

que cumpriram sempre um importante papel na formação e no desenvolvimento

educacional, cultural e esportivo da nossa juventude, organizando debates,

apresentações teatrais, festivais de música, torneios esportivos e outras festividades

do movimento estudantil (PARANÁ, 2009).

O Movimento Estudantil teve início com a criação da UNE - União Nacional

dos Estudantes, em 1937, por meio da intensa atuação nos Centros Acadêmicos

das Instituições de Ensino Superior. Com golpe militar em 1964, foram promulgadas

leis que proibiram a livre organização estudantil. Mesmo assim, muitos estudantes

ficaram resistentes, contrariando as leis e correndo graves riscos. Estes espaços

democráticos contribuíram sobremaneira para o fortalecimento do movimento pró-

democracia, embora bem antes disto tenha havido momentos importantes na

história do Brasil que mostraram a defesa dos direitos da sociedade pelos

estudantes. Com sua ação organizada fizeram história transformando a realidade da

qual faziam parte, além de contribuir ativamente na construção de uma sociedade

melhor. Os estudantes do Ensino Médio começam a participar em 1948, ainda que

de forma tímida (PARANÁ, 2009).

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As atividades dos Grêmios Estudantis representam para muitos jovens os

primeiros passos na vida social, cultural e política. Assim, os Grêmios contribuem,

decisivamente, para a formação e o enriquecimento educacional de grande parcela

da juventude brasileira. O regime instaurado com o golpe militar de 1964 foi,

entretanto, perverso com a juventude, promulgando leis que cercearam a livre

organização dos estudantes e impediram as atividades dos Grêmios. Mas a

juventude brasileira não aceitou passivamente essas imposições. Em muitas

Escolas, “contrariando as leis vigentes e correndo grandes riscos, mantiveram as

atividades dos Grêmios livres, que acabaram por se tornar importantes núcleos

democráticos de resistência à ditadura” (PARANÁ, 2009, p.05).

Dentre as instâncias colegiadas, o Grêmio Estudantil Grêmio Estudantil é um

órgão representativo máximo de representação dos alunos na comunidade

educativa, viabilizando o surgimento de novas lideranças no espaço escolar e se

fazer representar na sociedade. O Grêmio estudantil tem função estratégica no

âmbito escolar, constituindo-se em um eixo articulados da participação do aluno na

gestão democrática. O exercício dessa participação estimula a integração do aluno

nas práticas sociais democráticas.

Na escola o Grêmio tem ações diferenciadas a desenvolver. O documento de

referência do Estado do Paraná (2009) que trata dos subsídios para elaboração do

Estatuto do Grêmio Estudantil, em seu Art. 25, incisos I e II, recomenda:

I - articular junto a outras instâncias, ações voltadas aos Desafios Educacionais Contemporâneos (Educação Ambiental, Cidadania e Educação em/para Direitos Humanos, Enfrentamento à Violência na escola, Prevenção ao uso indevido de drogas, Sexualidade e Educação Fiscal), desde que condizentes com o Projeto Político-Pedagógico e a Proposta Pedagógica Curricular do Estabelecimento de Ensino e previamente apresentadas ao Conselho Escolar; II - participar e articular junto à equipe pedagógica do Estabelecimento de Ensino as ações de cunho pedagógico na Organização do Trabalho Pedagógico (Conselho de Classe, discussão do PPP, Regimento Escolar, Estatutos, Semana e Reuniões Pedagógicas, Grupos de Estudos, FICA, entre outros).

Por meio do exposto, a gestão democrática tem no Grêmio Estudantil um

órgão valorativo capaz de desencadear ações dos estudantes na escola que podem

ser construídas e reconstruídas coletivamente para organizar a comunidade escolar.

Todavia, é necessário formalizar os rumos para uma ação coletiva baseadas em

decisões capazes de regulamentar todas as ações desenvolvidas nas práticas

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escolares. É por isso que Veiga (1998) afirma que o Projeto Político Pedagógico

deve ser entendido como um dos principais instrumentos para a organização do

trabalho coletivo na escola, bem como para a definição da própria organização

pedagógica.

Como instância deliberativa máxima da escola entre suas atribuições cabe ao

Conselho Escolar, acompanhar as ações do Grêmio, inclusive financeiramente.

Após a aprovação do estatuto do Grêmio em assembleia pelos alunos este é

colocado para a apreciação do Conselho Escolar que dá o seu parecer e o incorpora

ao Projeto Político - Pedagógico da escola (MARTINS, 2012). Para a atuação efetiva

de um Grêmio no interior da escola, cabe à direção e equipe pedagógica terem bem

claro a importância política e pedagógica desta instância colegiada.

3. Encaminhamentos Metodológicos

As ações relatadas neste artigo envolveram 30 (trinta) alunos do Ensino

Fundamental e Médio do Colégio Estadual Padre Manuel da Nóbrega. Como método

de trabalho, buscamos respaldo na pesquisa qualitativa. Conforme Gil (1994), as

pesquisas qualitativas têm caráter exploratório, estimulando os participantes a

pensar e falar livremente sobre temas, objetos ou conceitos, fazendo emergir

aspectos subjetivos, atingindo motivações não explícitas ou implícitas de forma

espontânea.

Primeiramente, a proposta foi apresentada ao diretor, equipe pedagógica,

funcionários, pais e alunos. O estudo foi desenvolvido no período de fevereiro a julho

de 2013, perfazendo um total de 32 horas, distribuídos em oito oficinas pedagógicas.

A vivência nas oficinas pedagógicas contou com estratégias diferenciadas

envolvendo: a explicitação oral sobre a importância da atuação do Grêmio

Estudantil; funções e ações a serem desenvolvidas frente ao processo de gestão

democrática; leituras e discussões em grupos sobre a Constituição Federal de 1988,

LDBEN, Projeto Político Pedagógico da Escola, Regimento Escolar no que se refere

à representatividade do Grêmio Estudantil, bem como do papel dos alunos na

escola, textos diversos que versavam sobre a temática. As discussões foram

permeadas por explicações teóricas e práticas, com a apresentação do conteúdo em

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Power Point, discussões de vídeos, leituras e reflexões de textos e discussões em

grupo sobre o conteúdo proposto.

As atividades propostas no caderno temático serviram de apoio para a

implementação pedagógica na escola, contribuindo com as reflexões e o posterior

desdobramento dos relatos da experiência que foi feito com base nas observações

das atividades, especialmente, mediante os discursos orais e registros escritos,

tanto individuais como coletivos, dos alunos. Os dados foram fichados e organizados

de forma a possibilitar a análise dos resultados em confronto com a literatura

estudada.

4. Resultados e Discussão

A proposta de trabalho da Oficina I caracterizou o primeiro encontro com os

alunos para discussão sobre a temática da gestão democrática de educação e teve

início com a exposição oral do conteúdo e apresentação em Power Point. Após as

reflexões iniciais foram realizadas leituras e reflexões em grupo sobre o processo de

gestão democrática da educação.

O diálogo inicial abriu caminho para o estudo e compreensão da gestão

democrática em seus interesses conflitantes. Como propõe Freire (1996, p. 42), “o

diálogo é essencial em qualquer prática social e indica respeito pelos alunos, não

somente enquanto indivíduos, mas enquanto expressões de uma prática social”.

Os alunos interagiram com a temática trabalhada, sendo levados a

compartilhar ideias e sentimentos. Para auxiliar na compreensão de alguns termos,

os alunos utilizaram dicionários para pesquisas, sempre com a mediação da

professora pesquisadora.

Na sequência, foram apresentados dois vídeos que tratam dos princípios da

gestão escolar e seus reflexos na educação, com posterior debate sobre a temática.

As discussões foram seguidas de algumas questões provocativas para trabalho em

grupo: O que achou do vídeo? Qual a relação do vídeo com as questões da escola?

Como a sua escola é vista pela comunidade? Você concorda que o sucesso da

escola depende de nossas escolhas? O que é preciso visualizar? O que é gestão

democrática? Qual a importância da gestão democrática?

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Sobre as questões levantadas, alguns relatos organizados em grupos

apontam a compreensão dos alunos:

Antes da gestão democrática havia muito autoritarismo na escola, isso não é bom para a convivência das pessoas (GRUPO A). A gestão democrática não é autoritária, não tem apenas uma pessoa comandando, todos nós podemos participar isso aconteceu depois de muitas lutas (GRUPO B). Antes havia muito autoritarismo, só o diretor mandava e o resto tinha que obedecer, isso dificultava os relacionamentos entre as pessoas e com toda a comunidade (GRUPO C). A gente não vai conseguir superar todos os conflitos do autoritarismo nas escolas, mas dá para diminuir quando se pensa na gestão democrática da educação. Por isso, concordamos que ela é muito importante e as pessoas tem mais autonomia, podendo escolher o que é mais importante para elas. (GRUPO D). Bem interessante, pois, a partir dele podemos ter idéias sobre o que fazer para mudar a nossa escola que é vista pela comunidade como uma grande oportunidade para o futuro dos nossos alunos. O sucesso da nossa escola depende das nossas escolhas. Temos que ser mais objetivos do que aquilo que viemos buscar na escola que é o aprendizado. A gestão democrática significa conferir autonomia à escola, isso implica em atribuir poder e condições concretas para que ela alcance os objetivos educacionais articulados com os interesses da comunidade (GRUPO E).

Os alunos demonstraram compreender que a gestão democrática da

educação contribuiu para superar/minimizar o autoritarismo pedagógico arraigado no

processo educacional no interior das escolas, conferindo atribuições de condições

concretas, visando o alcance das propostas educacionais.

A proposta de uma gestão democrática significa conferir autonomia à escola.

Conforme Paro (2002), isso implica em conferir poder e condições concretas para

que ela alcance os objetivos educacionais articulados com os interesses da

comunidade. Para o autor, as mudanças no domínio centralizador no interior das

escolas, só será possível mediante as conquistas obtidas pelos próprios

interessados, ou seja, os partícipes das escolas.

Nos trabalhos realizados na Oficina II, os alunos foram levados a perceber

também que o Grêmio Estudantil contribuiu para consolidar a gestão democrática na

escola. A compreensão dos pressupostos que embasam tal princípio foram

viabilizadas por meio de estratégias diferenciadas, atentando, sobretudo, para a

explicitação oral do conteúdo com apresentação em Power Point, tendo como

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respaldo as leituras e reflexões apresentadas no texto da Unidade Didática que

tratou da história do Grêmio Estudantil.

Além do texto apresentado, o conteúdo foi explorado oralmente, por meio de

debate e apresentação de vídeos que tratam das questões voltadas para a trajetória

percorrida pela “História do Grêmio Estudantil” (cenas e história do movimento

estudantil de 1964 – 1980) e do “Movimento Estudantil Atitude”. Como atividade

complementar, os alunos foram organizados em grupos para debater o conteúdo

apresentado. Alguns relatos mostram a compreensão dos grupos:

A gente desconhecia a atuação do Grêmio na história dos movimentos de estudantes. Foi muito importante refletir sobre isso. Aprendemos que não foi fácil a luta pela democracia, mas quando a gente se esforça e junta as experiências e a força tudo fica mais fácil (GRUPO A). Os Grêmios Estudantis cumpriram papel muito importante para a educação no nosso país, também na cultura e nos esportes para os jovens, organizando muitos acontecimentos de teatro, de músicas, de festas e tudo o mais. Isso aconteceu no início da criação da UNE no ano de 1937(GRUPO B). Não foi nada fácil o surgimento dos Grêmios, pois houve muitos debates e lutas para a criação da UNE. Tinha leis autoritárias como no tempo da ditadura militar que proibiram as manifestações dos estudantes, mas eles resistiram mesmo correndo riscos e isso fez surgir a democracia no país (GRUPO C). Os estudantes lutaram para defender a democracia no país, ajudando os indivíduos a defender os seus direitos, por meio de ações organizadas que até hoje favorecem a todos. A criação da UNE foi um marco na nossa história e na luta pela democracia no Brasil (GRUPO D).

O vídeo mostra como foi a luta dos primeiros movimentos estudantis, os quais tiveram seu início em 1937 por meio das instituições do ensino superior. Com o acontecimento do golpe militar em 1964, criaram leis que proibiam a livre organização estudantil, mesmo assim os movimentos estudantis foram resistentes, correndo graves riscos. O processo da redemocratização brasileira na década de 80 contribuiu para a intensificação e expansão dos grêmios estudantis, que podem contribuir

para consolidar a gestão democrática na escola (GRUPO E).

Os alunos demonstraram compreender que as experiências e conhecimentos

compartilhados favoreceram a participação dos movimentos estudantis no Brasil, em

prol da construção de uma escola com maior qualidade para todos. Vale frisar que

os espaços democráticos colaboraram, em especial, para o fortalecimento do

movimento pró-democracia, embora muito antes disso, o país tenha vivenciado

momentos importantes que apontaram para a defesa dos direitos da sociedade

pelos estudantes. Mas não se pode negar que a ação organizada dos Grêmios

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Estudantis desde o início de sua criação em 1937, teve papel de destaque na

consolidação dos direitos do cidadão no país, cumprindo, assim, papel muito

importante para a educação brasileira.

De acordo com Veiga (1998, p. 123), “[...] o grêmio é o reflexo dos alunos,

pois os representa e serve de elo de ligação com a direção e a equipe técnica da

escola e a comunidade onde está inserida a instituição educativa”.

Na Oficina III, o trabalho com as funções e ações específicas do Grêmio

Estudantil e sua importância enquanto instância colegiada na escola pública foi

articulado, inicialmente, com a explicitação oral do conteúdo pela pesquisadora, com

apresentação em Power Point, seguida de leituras e reflexões sobre o tema

abordado.

Veiga (1998, p.123) contribuiu para as discussões ao destacar que cada

grêmio deve construir sua própria identidade. Uma característica chama a atenção

da autora “é o aspecto relacionado à importância do intercâmbio entre as diferentes

organizações estudantis em várias escolas”.

Os debates foram acompanhados de diferentes questionamentos que

subsidiaram os debates em grupos: O que é o Grêmio Estudantil? Qual a função do

Grêmio Estudantil? Quem faz parte do Grêmio Estudantil? Quais as ações do

Grêmio Estudantil? Por que o Grêmio Estudantil é um órgão valorativo da gestão

democrática na escola? Como o Grêmio Estudantil se organiza na formação de

suas atividades? Na sua escola quais os projetos elaborados pelo Grêmio

Estudantil?

Os relatos dos alunos mostram a compreensão dos mesmos acerca das

questões propostas:

A função do grêmio é interessante, pois é a única que dá voz e vez aos alunos, mas isso não é fácil de acontecer quando a comunidade não permite essa ação (GRUPO A) O Grêmio tem uma função importante que é o intercâmbio entre as diversas instâncias colegiadas e favorecer a qualidade do ensino que deve ser a maior preocupação de todos (GRUPO B). Quando o grêmio atua de verdade e tem autonomia na escola, muitos projetos podem ser construídos, mas na nossa escola isso ainda não aconteceu (GRUPO C). Na nossa escola o grêmio não atua como deveria, mas acho que agora vai melhorar muito, pois aprendemos que ele é a instância máxima da escola e

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quando funciona, pode contribuir para muitos projetos dentro da escola, ajudando na qualidade do ensino (GRUPO D). A função do grêmio estudantil na escola é unir os alunos para ajudar na melhoria da mesma, mas para isso precisam conhecer a verdadeira finalidade desta Instância. E só assim poderá realizar um bom trabalho na

escola (GRUPO E).

No espaço escolar, a aproximação da teoria e a prática nem sempre

acontece, mas pode acontecer desde que a comunidade atue na escola através de

uma ação política bem articulada. Observa-se que a prática pedagógica no âmbito

das instituições públicas de ensino leva-nos a constatar as dificuldades encontradas

pelos gestores na criação de condições viáveis para a implementação do Grêmio

Estudantil, instância esta que a partir da Constituição Federal brasileira de 1988 tem

espaço garantido para uma atuação mais abrangente, no que se refere à

democratização da escola pública, como ficou demonstrado no discurso do Grupo C

e D.

Complementando os debates, sugeriu-se a elaboração de um texto coletivo,

acerca do entendimento de todos sobre a função/atuação do Grêmio Estudantil nas

escolas públicas.

O Grêmio Estudantil é um órgão representativo da comunidade educativa, para que as novas lideranças possam surgir no espaço escolar e se fazer representar na sociedade. Tem como função estratégica no âmbito escolar, constituindo-se em um eixo articulados com a participação dos alunos na gestão democrática. Fazem parte do Grêmio todos os alunos matriculados e com frequência regular na escola, tendo assim ações diferenciadas a desenvolver. Por meio do exposto, a gestão democrática tem no Grêmio Estudantil um órgão colaborativo capaz de desencadear ações dos estudantes na escola que podem ser construídas e reconstruídas coletivamente para organizar a comunidade escolar. Todavia, torna-se necessário formalizar os rumos para uma ação coletiva baseada em decisões capazes de regulamentar todas as ações desenvolvidas na prática escolar. Na nossa escola não temos nenhum projeto por enquanto, pois nosso Grêmio estava parado, mas já estamos nos organizando para que isto aconteça o mais rápido possível (TEXTO COLETIVO).

Observa-se que os alunos compreenderam a função primordial do Grêmio

enquanto órgão colegiado representativo da comunidade escolar. Assim sendo,

acreditamos na importância de investir na formação dos alunos para que estes

possam atuar de maneira mais efetiva junto aos outros órgãos colegiados (Conselho

Escolar, Conselho de Classe, Associação de Pais, Mestres e Funcionários),

repensando, assim, a maneira pela qual a escola está organizada, especialmente,

frente aos conflitos que afetam o contexto escolar, de forma que em conjunto com

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outras instâncias, o grêmio estudantil possa contribuir para a construção de relações

efetivas e necessárias para a organização escolar, superando, assim as ações

autoritárias no interior das escolas públicas de ensino no país.

Contudo, a efetivação das transformações desejadas no âmbito da

implantação de ações democráticas nas escolas, deve contar com a

instrumentalização dos partícipes, através da ressignificação das relações entre a

escola e a comunidade interna e externa (NEGRINI, 2012).

Sobre o Grêmio estudantil, Veiga (1998) afirma que:

A organização estudantil é a instância onde se cultiva gradativamente o interesse do aluno, para além da sala de aula. A consciência dos direitos individuais vem acoplada à idéia de que estes se conquistam numa participação social e solidária. Numa escola onde a auto-organização dos alunos não seja uma prática, as oportunidades de êxito ficam minimizadas (VEIGA, 1998, p. 120)

O Grêmio Estudantil é considerado a instância máxima de representação dos

alunos (as) no âmbito escolar. Fazem parte do Grêmio Estudantil todos os alunos

matriculados e com frequência regular na escola, tendo a diretoria do Grêmio como

o órgão representante e responsável pela organização e coordenação das

atividades do Grêmio selecionada periodicamente. O Grêmio é autônomo, mas não

é independente. O texto abaixo é resultado de ideias compartilhadas entre os

grupos:

O Grêmio pode auxiliar a escola contribuindo para aumentar a participação dos alunos nas atividades de sua escola, organizando campeonatos, palestras, projetos e discussões, fazendo com que eles tenham voz ativa e participem – junto com os pais, funcionários, professores, coordenadores e diretores – da programação e da construção das regras dentro da escola. Concordamos que essa instância colegiada é muito importante no processo de gestão democrática e pode fazer muitas coisas, desde organizar festas nos finais de semana até exigir melhorias na qualidade do ensino. Ele tem o potencial de integrar mais os alunos entre si, com toda a escola e com a comunidade. Na escola o Grêmio tem ações diferenciadas a desenvolver. Como sugestão pretendemos elaborar projetos que tratam da educação ambiental, dos direitos humanos para enfrentar a violência nas escolas e as drogas que estão entrando nas escolas prejudicando a todos. Os alunos por meio do Grêmio poderão atuar para organizar o trabalho pedagógico e participar do junto Conselho de Classe, discussão do PPP, Regimento Escolar, Estatutos, Semana e Reuniões Pedagógicas, Grupos de Estudos e outros (TEXTO COLETIVO).

Nessa perspectiva de organização e gestão escolar, os atores sociais

(diretores, coordenadores, professores, pais, alunos entre outros membros da

comunidade escolar) precisam constituir-se em sujeitos ativos do processo, de forma

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que sua participação aconteça de forma clara e responsável pela comunidade local.

(PARO, 2002).

A democracia articula-se ao princípio da igualdade, porquanto “[...] como

método, deve garantir a cada um dos participantes igual poder de intervenção e

decisão, criando mecanismos que facilitem a consolidação de iguais possibilidades

de opção e ação diante dos processos decisórios” (ADRIÃO; CAMARGO, 2002, p.

77).

O texto a seguir é resultado de pesquisas e discussões dos alunos sobre a

participação do Grêmio Estudantil em projetos nas escolas.

Construir um jornal – mural, no pátio coberto, onde serão fixados fotos de alunos, de trabalho, aniversariantes, reportagens, informações e outros. Informações que atraem os alunos. Realizar um campeonato entre as turmas, com premiação final. Isto pode acontecer com várias competições ao longo do ano letivo que dariam pontos para as turmas vencedoras. No final do ano a turma com mais pontos levaria o prêmio final. As competições seriam variadas, incluindo desportos que vão de futebol até queimada, etc. jogos de raciocínio como: xadrez, tabuada, dominó e redação. Objetivos: Incentivar o espírito competitivo entre todos os participantes, por não apresentarem as mesmas categorias; cooperar com o trabalho e participação em equipe; controle dos gastos. Este seria apenas com premiação final (TEXTO COLETIVO).

As sugestões dos alunos apontam muitas das contribuições efetivas do

Grêmio estudantil no contexto escolar, entendendo-o em sua função pedagógica e

política. Nesse mesmo sentido, de acordo com Martins (2012):

[...] as ações pedagógicas desenvolvidas pelo Grêmio estão relacionadas à melhoria da vida escolar, do rendimento escolar, da vida social, política e econômica na sociedade. O que o aluno aprende e vivencia dentro da escola deve servir para melhorar a vida da comunidade onde ele vive. O ponto de partida para as ações do Grêmio são as concepções que sustentam o Projeto Político-Pedagógico da escola. Apropriando-se delas, é necessário conhecimento dos aspectos contextuais que cercam o cotidiano escolar. É de fundamental importância a coerência das ações do Grêmio com o PPP, bem como os possíveis âmbitos de sua atuação, sem perder de vista o seu papel e sem competir ou secundarizar o papel das outras Instâncias Colegiadas, dos educadores ou mesmo do Estado (MARTINS, 2012, p. 15).

Nessa perspectiva, o Grêmio Estudantil precisa responder às marcas e aos

valores de sua comunidade, no sentido de contribuir para a implementação de uma

proposta de gestão democrática na escola pública.

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5. Considerações Finais

Consideramos a importância de atuar de forma a ampliar a visão e assumir

uma atitude construtiva em face dos desafios do processo da gestão democrática da

educação, que não são poucos. Para tanto, uma alternativa para encontrar saídas é

refletir sobre o processo. O conhecimento da educação e do seu entorno é condição

não só para se para buscar alternativas para contribuir com a qualidade da

educação. Há outras inquietações associadas a essas reflexões – como a

necessidade de conhecer as características definidoras de uma situação que

permitam a esta instância ser apreciada como efetiva em sua atuação.

Ficou constatado que embora nos últimos anos, a educação brasileira tenha

vivenciado um intenso processo de formação continuada com embasamento na

gestão democrática e sua relação com as instâncias colegiadas, que já foram tema

de análise e reflexão nas semanas pedagógicas e nos grupos de estudos da

Secretaria de Estado da Educação (SEED), com a participação dos profissionais da

escola e membros da comunidade escolar, observa-se que na maioria das escolas,

o Grêmio Estudantil parece existir somente no domínio dos documentos, tendo como

intuito o atendimento às exigências burocráticas.

Assim sendo, é preciso que as escolas públicas atuem de forma a gerir o

processo escolar de forma democrática, sem a predominância da centralização das

decisões na direção. Por outro lado, o envolvimento nas tomadas de decisão de

professores, alunos, funcionários e pais não podem ser submetidos a um poder

controlador. A centralização do poder na direção prejudica o funcionamento do

Grêmio Estudantil e a participação em geral dos estudantes na organização escolar

rumo à gestão democrática.

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