contribuiÇÃo da geografia ao estudo dos acidentes

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CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA AO ESTUDO DOS ACIDENTES DE TRÂNSITO COM MOTOCICLISTAS JOVENS 1 Sandra Dalvi Quintaes de Morais [email protected] Universidade Federal de Uberlândia Programa de Pós-Graduação em Geografia William Rodrigues Ferreira [email protected] Universidade Federal de Uberlândia Programa de Pós-Graduação em Geografia – MG INTRODUÇÃO Há anos, o acidente de trânsito extermina milhões de pessoas no mundo, além de deixar inúmeras com sequelas pelo resto da vida. Em 2010, aproximadamente 1,3 milhão de pessoas morreu e cinquenta milhões adquiriram deficiências permanentes. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 90% dessas mortes e lesões causadas pelo trânsito ocorrem em países de baixa ou média renda, vitimando, sobretudo, motociclistas (23%), pedestres (22%) e ciclistas (5%). No caso dos acidentes com motocicleta, as vítimas são, principalmente, jovens do sexo masculino com idade entre 15 e 24 anos. No Brasil, em 2011, 66,6% das mortes no trânsito representaram essa categoria de vulnerabilidade, mas as tendências nacionais da última década estão apontando uma evolução marcadamente diferencial ao resto do mundo: 1) Quedas significativas na mortalidade de pedestres; 2) Leve aumento da mortalidade de ocupantes de automóveis e 3) Aumento na letalidade de motociclistas. Entre 2006 e 2010, os bancos de dados brasileiros registraram 94.160 mortes de motociclistas jovens, com idade entre 15 e 24 anos, o que representou 40,8% de todos os óbitos ocorridos no País. Em Uberlândia-MG foram registrados 9.034 acidentes de 1 Estudo elaborado a partir da Dissertação de Mestrado: “Acidentes de trânsito com motociclistas: um estudo social e participativo”, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (MG) em 11 de julho de 2013.

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Page 1: CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA AO ESTUDO DOS ACIDENTES

CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA AO ESTUDO DOS ACIDENTES DE

TRÂNSITO COM MOTOCICLISTAS JOVENS1

Sandra Dalvi Quintaes de Morais [email protected]

Universidade Federal de Uberlândia Programa de Pós-Graduação em Geografia

William Rodrigues Ferreira

[email protected] Universidade Federal de Uberlândia

Programa de Pós-Graduação em Geografia – MG

INTRODUÇÃO

Há anos, o acidente de trânsito extermina milhões de pessoas no mundo, além de

deixar inúmeras com sequelas pelo resto da vida. Em 2010, aproximadamente 1,3

milhão de pessoas morreu e cinquenta milhões adquiriram deficiências permanentes.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 90% dessas mortes e

lesões causadas pelo trânsito ocorrem em países de baixa ou média renda, vitimando,

sobretudo, motociclistas (23%), pedestres (22%) e ciclistas (5%). No caso dos acidentes

com motocicleta, as vítimas são, principalmente, jovens do sexo masculino com idade

entre 15 e 24 anos. No Brasil, em 2011, 66,6% das mortes no trânsito representaram

essa categoria de vulnerabilidade, mas as tendências nacionais da última década estão

apontando uma evolução marcadamente diferencial ao resto do mundo: 1) Quedas

significativas na mortalidade de pedestres; 2) Leve aumento da mortalidade de

ocupantes de automóveis e 3) Aumento na letalidade de motociclistas.

Entre 2006 e 2010, os bancos de dados brasileiros registraram 94.160 mortes de

motociclistas jovens, com idade entre 15 e 24 anos, o que representou 40,8% de todos

os óbitos ocorridos no País. Em Uberlândia-MG foram registrados 9.034 acidentes de

1 Estudo elaborado a partir da Dissertação de Mestrado: “Acidentes de trânsito com motociclistas: um

estudo social e participativo”, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (MG) em 11 de julho de 2013.

Page 2: CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA AO ESTUDO DOS ACIDENTES

trânsito no Pronto Socorro do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de

Uberlândia (PSHC-UFU) no período supracitado. Destes, 4.476 (49,5%) envolveram

motociclistas e 1.602 (35,8%) atingiram jovens naquela referida faixa etária.

Diante disso, ressalta-se que este trabalho tem por objetivo: 1) Apresentar o

panorama dos acidentes de trânsito no Brasil e em Uberlândia-MG; 2) Mencionar ações

estabelecidas para diminuir e/ou controlar tais eventos; 3) Conhecer as causas dos

acidentes de trânsito ocorridos em 2010, em Uberlândia-MG, com jovens motociclistas

de 18 a 24 anos, encaminhados para o PSHC-UFU, e a percepção dos mesmos sobre os

acidentes e como fazer para evitá-los.

A metodologia utilizada baseou-se numa amostragem por variedade de tipos, na

qual os sujeitos foram selecionados a partir dos seguintes critérios: sexo masculino,

faixa etária de 18 a 24 anos, envolvimento em acidente com motocicleta em 2010,

atendimento no PSHC-UFU. Utilizou-se um roteiro de entrevista semiestruturado, com

perguntas de caráter qualitativo e quantitativo, aplicado a quinze vítimas de acidente de

trânsito com motocicleta.

O DIREITO À SAÚDE E OS ACIDENTES DE TRÂNSITO NO BRASIL

Os acidentes de trânsito são considerados um dos mais importantes problemas de

saúde pública em vários países, inclusive no Brasil. Os dados da Organização Mundial

de Saúde (OMS, 2004) confirmam que, anualmente, 1,2 milhão de pessoas morre no

trânsito, e mais de 90% das mortes ocorrem nos países em desenvolvimento; e naqueles

mais pobres, 80% das mortes no trânsito são de “usuários vulneráveis”, ou seja, pessoas

que não estão nos automóveis.

Em 2013, a OMS publicou o Relatório Global de Segurança no Trânsito (Global

Status Report on Road Safety), confirmando a necessidade urgente do combate à

violência no trânsito, já que cresceu o número de vítimas fatais em 87 países, além do

alto custo global de US$ 518 bilhões/ano. Infelizmente, o Brasil destaca-se frente a esta

epidemia mundial, visto que o país está entre os cinco com o maior número de mortes

no trânsito, juntamente com a Índia, China, Estados Unidos e Rússia.

Page 3: CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA AO ESTUDO DOS ACIDENTES

No Brasil, os acidentes de trânsito matam, em média, 40 mil pessoas anualmente,

e provocam ferimentos a milhares, sendo um grave problema para a sociedade e as

autoridades. O governo alerta para a epidemia de lesões e óbitos no trânsito, informando

que, em 2010, o país registrou 145 mil internações no Sistema Único de Saúde (SUS), o

que representou 190 milhões de reais em atendimento (BRASIL, 2011). Silva (2007,

s.n) destaca que essa violência no trânsito é maior, principalmente em países em

desenvolvimento como o Brasil, na medida em que:

[...] percebe-se o acréscimo de motocicletas na frota de veículos, por sua relativa facilidade de compra, economia e por satisfazer a necessidade de um público que busca as facilidades de um veículo particular. Porém, o aumento da frota de motocicletas, no sistema viário, tem gerado conflitos entre os condutores, levando à ocorrência de acidentes de trânsito, que, geralmente, causam ferimentos às vítimas ou até mesmo a morte, já que a motocicleta é um veículo sem maior proteção ao usuário, deixando-o vulnerável.

Conforme Martins, Boing e Peres (2013), houve um aumento de 800% da taxa

de mortalidade por acidente de trânsito com motocicletas no país entre 1996 e 2009,

variando de 0,5 para 4,5/100.000 habitantes, um incremento médio anual de 19%.

Diante disso, governantes e pesquisadores manifestam constantes preocupações e

acrescenta-se aqui a contínua luta pelos direitos sociais no cenário do Brasil, com

destaque para o breve histórico quando o país foi marcado por movimentos sociais.

Na década de 1980, a VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS), realizada em

1986, buscava a saúde como o direito de todos os cidadãos e não somente para os

trabalhadores com registro em carteira de trabalho. Além disso, entendia-se a saúde por

diferentes âmbitos, ou seja, à necessidade aos demais direitos sociais. Neste contexto,

surge a nova Constituição Federal do Brasil em 1988, após longo período de ditadura

militar, afirmando o conjunto de direitos sociais como educação, saúde, alimentação,

trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à

infância e a assistência aos desamparados.

A partir da nova Carta Magna de 1988, consideram-se três importantes preceitos

do direito à saúde. Em primeiro lugar, o Artigo 196, regulado pela Lei Nº. 8.080/1990,

afirmando o direito à saúde como um “direito de todos” e “dever do Estado”. Em

Page 4: CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA AO ESTUDO DOS ACIDENTES

segundo lugar, o Artigo 198, regulamentado pela Lei 8.142 de 28 de dezembro de 1990,

garantindo a participação social na gestão do SUS a partir das Conferências e Conselhos

de Saúde. Por último, o Artigo 200, que define o SUS como responsável de ordenar a

formação de recursos humanos na área de saúde.

Se por um lado os movimentos sociais e o poder público determinam na

legislação as diretrizes para a garantia à saúde, por outro lado, um estudo recente de

Vasconcellos (2013) expressa o acidente de trânsito com motociclistas de outro ponto

de vista, o da periculosidade deste veículo, da destruição que a motocicleta causou à

sociedade brasileira e que nenhum ganho econômico pode justificar. Para o autor, o

direito à aquisição da motocicleta, com incentivos fiscais e financeiros por parte dos

governantes e empresas privadas, é uma das principais causas do elevado e crescente

número de mortes no trânsito no Brasil.

Ressalta-se que somente a Constituição Federal do Brasil é suficiente para

garantir o direito à saúde (Artigo196), apesar de inúmeras participações da comunidade

científica e demais setores envolvidos no acidente de trânsito. Quanto ao segundo

direito (Artigo 198), à participação nos espaços de controle social (Conferências,

Conselhos, Fóruns, Ouvidorias e outros), ainda é um desafio, pois nesses também há

disputas e correlações de forças sociais, políticas e econômicas. Para Bravo e Menezes

(2013, p. 299), compreender esses conflitos entre o Estado e a sociedade demanda a

análise histórica das relações políticas e econômicas, na medida em que o Estado

[...] está cada vez mais submetido aos interesses econômicos e dominantes no cenário internacional e nacional [...]. Há uma investida contra a organização coletiva dos trabalhadores. Crescem as desigualdades sociais e a destituição de direitos civis, políticos e sociais.

É, portanto, sobre este arcabouço histórico e jurídico global e nacional que se

deve compreender a saúde e o processo de luta pela garantia de todos os direitos sociais

e, consequentemente, a questão dos acidentes de trânsito com motociclistas. Considera-

se que os direitos constitucionais não devem aguardar a homogeneidade dos diversos

interesses entre os atores sociais envolvidos e segundo os Parâmetros para a Atuação de

Assistentes Sociais na Política de Saúde (2010), uma das atividades do assistente social

Page 5: CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA AO ESTUDO DOS ACIDENTES

no desenvolvimento de ações socioeducativas é mobilizar a comunidade para participar

e exercer o controle social.

OS ACIDENTES DE TRÂNSITO EM UBERLÂNDIA-MG

O município de Uberlândia localiza-se no Estado de Minas Gerais/Brasil, na

Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. A área municipal é constituída por

uma extensão territorial de 4.115 km2, dos quais 135 km2 compõem o perímetro urbano.

O Mapa 1 apresenta a localização do município e da cidade de Uberlândia na

Mesorregião, no Estado e no Brasil:

Mapa 1. Localização do município de Uberlândia-MG.

Page 6: CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA AO ESTUDO DOS ACIDENTES

No período de 2009 a 2013, Uberlândia registrou um total de 23.668 acidentes

de trânsito e 15.317 (64,72%) acidentes com motocicletas, de acordo com dados do

Corpo de Bombeiros Militar (2014). Nesse período, houve um aumento de 44% nos

casos de acidentes de trânsito e de 20,52% nos acidentes com motocicletas. Se

analisados ano a ano, os dados mostram que 2013 foi o ano que apresentou a maior

porcentagem de acidentes com motocicleta (72,24%) em comparação com o total de

acidentes de trânsito geral registrado nesse mesmo ano. Apesar de os acidentes com

motocicleta terem apresentado um leve declínio no período analisado, verifica-se que o

número de casos ainda é bastante elevado, conforme Tabela 1 e Gráfico 1:

Tabela 1. Uberlândia-MG. Acidentes de trânsito geral e com motocicleta: 2009-2013.

Ano Acidentes de trânsito geral

Acidentes com motocicleta

Porcentagem em relação ao número de acidentes de trânsito geral

2009 3613 2517 69,67

2010 4342 3015 69,44

2011 4597 3321 72,24

2012 4664 3297 70,69

2013 6452 3167 49,09

Total 23668 15317 64,72

Fonte: Corpo de Bombeiros Militar (2014). Org.: MORAIS (2014).

Gráfico 1. Uberlândia-MG: Acidentes de trânsito geral e com motocicletas: 2009-2013.

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0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

Fonte: Corpo de Bombeiros Militar (2014)Org.: MORAIS (2014)

Núm

ero

abso

luto

(n)

Acidentes de trânsito geral 3613 4342 4597 4664 6452

Acidentes com motocicleta 2517 3015 3321 3297 3167

2009 2010 2011 2012 2013

Em se tratando do local de ocorrência, os registros mais elevados de acidentes de

trânsito com vítimas fatais em Uberlândia incidiram nos bairros Jardim Brasília, Nossa

Senhora Aparecida e Tibery, conforme a Secretaria de Trânsito e Transporte de

Uberlândia (SETTRAN, 2012) (Mapa 2):

Mapa 2. Uberlândia-MG: acidentes de trânsito com vítimas fatais: 2006-2010.

Page 8: CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA AO ESTUDO DOS ACIDENTES

Tibery

PanoramaSão Jorge

ShoppingPark

Laranjeiras

Santa Mônica

Morumbi

Brasil

Guarani

Jardim Europa

Granada

Morada do Sol

Taiaman

Planalto

Santa Rosa

Minas Gerais

JardimHolada

JardimIpanema

JardimCanaã

NovaUberlândia

Jaraguá

Centro

Martins

JardimKaraíba

Tuba

lina

Tocantins

Cidade Jardim

Custódio Pereira

MansourSeg

ismun

do

Pereira

PresidenteRoosevelt

Morada da Colina

MansõesAeroporto

Sarai

va

OsvaldoRezende

Luizotede Freitas

Mar

ta H

elen

a

Alto Umuarama

Jardim Patrícia

Tabajaras

Maravilha

Pampulha

Umuarama

Lídice

Pacaembu

JardimInconfidência

ChácarasTubalina e Quartel

Jardim das Palmeiras

NossaSenhora

Aparecida

São José

CarajásPatrimônio

VigilatoPereira

Na. Sra.das Graças

Dona

Zulmira

Daniel Fonseca

SantaLuzia

Bom

Jes

us

Lagoinha

Cazec

a

Fundinho

Moradados Pássaros

ResidencialGramado

Jardim Brasília

SETORNORTE

SETORLESTE

SETORSUL

SETOR

OESTE

SETORCENTRAL

Área de bairros não integrados

Número de acidentes de trânsito com vítimas fatais01 - 34 - 67 - 910 - 12

Limite setores urbanosPerímetro urbano

0 2000 4000 6000 Meters

N

EW

S

LEGENDA

Fonte dos dados: Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes de Uberlândia (2006-2010)Base Cartográfica: Prefeitura Municipal de Uberlândia (2010)Organização: Sandra Dalvi Quintaes de MoraisElaboração: Márcia Andréia Ferreira Santos (2012)

782100

782100

792000

7920007900200 79002007910100 7910100

Acrescenta-se que as ocorrências dos acidentes de trânsito são mais recorrentes

nas vias de fluxo intenso de veículos, que geralmente estão localizadas nos bairros

centrais, para onde as pessoas se deslocam, diariamente, para a realização de várias

atividades: trabalhar, fazer compras, estudar, visitar familiares, atividades de lazer, entre

outros. Nessas áreas, as ações comerciais são mais expressivas e estimulam diversos

deslocamentos de automóveis, pedestres, ciclistas e motociclistas.

A utilização da motocicleta em substituição ao transporte público ainda sem

qualidade aumenta o custo social e econômico, já que as vítimas devem ser atendidas

em duas unidades públicas, o Corpo de Bombeiros Militar, que por sua vez encaminha a

vítima até a unidade do SUS. Logo, ao contrário do estabelecido pelas políticas

públicas, aumenta-se os custos econômicos, além dos incalculáveis custos sociais e de

sofrimento pessoal e familiar.

PERCEPÇÃO DAS VÍTIMAS ACERCA DAS CAUSAS E DOS EFEITOS DOS

ACIDENTES DE TRÂNSITO COM MOTOCICLETAS

Page 9: CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA AO ESTUDO DOS ACIDENTES

Os resultados da pesquisa realizada com as vítimas de acidente com motocicleta

em Uberlândia mostraram que 60% das vítimas de acidentes de trânsito em Uberlândia

ainda possuem motocicletas após o acidente; 20,4% a utilizam como meio de transporte

para o trabalho; a maioria adquiriu a motocicleta em substituição ao transporte público;

66,7% declararam não haver relação entre o número de motocicletas em circulação e a

ocorrência de acidentes; 44% sugeriram aumento da fiscalização; 48% sugerem mais

respeito às normas de trânsito.

É importante ressaltar que independente de quem tenha provocado o acidente –

condutor da motocicleta ou de outro veículo – a maioria dos entrevistados interpretou

que a causa principal tenha sido em decorrência da desobediência às normas de trânsito

(80,0%; doze casos). Os principais motivos citados pelas vítimas foram: avanço do sinal

regulamentar de Pare (50,0%; seis casos), mudança súbita de direção (25,0%; três

casos), conversão em local proibido (8,33%; um caso), ultrapassagem forçada (8,33%;

um caso) e fuga de blitz policial – excesso de velocidade (8,33%; um caso)

As vítimas dos acidentes de trânsito com motocicleta ainda permanecem com o

veículo após o acidente devido à sua agilidade e baixo custo. Além disso, outros fatores

podem ajudar a compreender o crescimento e a popularidade das motocicletas, como a

facilidade para estacionar, o crédito, baixos custos de manutenção, uso como ferramenta

de trabalho em substituição ao transporte público, entre outros.

Os acidentes de trânsito com motociclistas podem apresentar severidades mais

elevadas devido à precária segurança desse modal, ou seja, a quantidade de feridos

graves ou de óbitos pode ser superior aos demais acidentes envolvendo outros modos de

transporte que oferecem maior segurança aos usuários (automóveis, por exemplo).

ESTRATÉGIAS PARA A REDUÇÃO DOS ACIDENTES DE TRÂNSITO E

COM MOTOCICLISTAS NO BRASIL

O Brasil aderiu, em 2010, ao Pacto Nacional pela Redução de Acidentes no

Trânsito – Pacto Pela Vida, do Ministério das Cidades. Este Pacto atende a Resolução

Page 10: CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA AO ESTUDO DOS ACIDENTES

A/64/L44 da ONU, na qual a OMS estima uma redução de 50% dos acidentes de

trânsito, o que deve salvar cinco milhões de vidas no mundo (BRASIL, 2011).

Segundo a ONU (2009), as ações do Plano Nacional de Redução de Acidentes e

Segurança Viária para a Década 2011-2020 estão fundamentadas em objetivos

estratégicos distribuídos em seis importantes e fundamentais pilares para a melhoria na

qualidade e segurança do trânsito: sistema de gestão, fiscalização, educação, saúde,

segurança viária e segurança veicular. Assim, as ações do Pacto Nacional pela Redução

de Acidentes no Trânsito – Pacto Pela Vida - são estabelecidas em razão dos elevados e

crescentes números de vítimas de acidentes de trânsito. Apenas no ano de 2010, foram

contabilizadas 40.610 vítimas fatais no país.

CONSIDERAÇÕES

As cidades vêm apresentando diversos problemas decorrentes da urbanização

desordenada e do consequente aumento da frota veicular em circulação. Nessa

perspectiva, a Geografia dos Transportes tem contribuído com a análise da produção e

consumo de veículos e seus impactos na reprodução do intraurbano, seus efeitos sobre a

organização do espaço e sua interação no processo de desenvolvimento da cidade.

O aumento da frota veicular e da população, e, consequentemente, da taxa de

motorização aliado à precariedade nas ações de planejamento espacial do urbano e

também a insuficiência nos investimentos do transporte coletivo alteram o espaço

urbano, que passa a apresentar constantes congestionamentos, como também poluição e

acidentes de trânsito.

Considera-se que ainda há poucos estudos sobre os acidentes com motociclistas

entre 15 e 24 anos, apesar de estes promoverem o conhecimento das principais causas

desses eventos, permitindo estabelecer medidas de prevenção e controle das

circunstâncias que predispõem tais ocorrências. Pesquisas da Organização Mundial de

Saúde (OMS) revelaram que se estratégias eficazes não forem implementadas, as mortes

no trânsito poderão aumentar para 1,9 milhões em 2020 e 2,4 milhões em 2030.

Page 11: CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA AO ESTUDO DOS ACIDENTES

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