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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA
PCDPNº 70058866898 (N° CNJ: 0079252-57.2014.8.21.7000)2014/CÍVEL
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. COMPRA E VENDA DE PRODUTO ELETRÔNICO PELA INTERNET. MERCADO LIVRE E MERCADO PAGO. DANOS MORAIS PELA NÃO ENTREGA DO PRODUTO (VÍDEO GAME). AUSÊNCIA DE PROVA DO DANO. INDEFERIMENTO.Resolvendo-se os contratos não cumpridos em perdas e danos, em cujo conceito legal se inserem apenas os efetivos prejuízos materiais e os lucros cessantes, os danos morais, de índole eminentemente extrapatrimonial, não se constitui, em regra, parcela indenizável pela inexecução contratual.Ainda assim, a não entrega do produto, embora possa ter acarretado desconforto ao comprador e alterações em seu cotidiano, por certo não trouxe maiores aborrecimentos do que aqueles a que todos estão sujeitos nas relações interpessoais inerentes à vida em sociedade. RECURSO DE APELAÇÃO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. UNÂNIME.
APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL
Nº 70058866898 (N° CNJ: 0079252-57.2014.8.21.7000)
COMARCA DE SANTA MARIA
SADI TOLFO JUNIOR APELANTE
MERCADOPAGO.COM REPRESENTACOES LTDA
APELADO
MERCADOLIVRE.COM ATIVIDADES DE INTERNET LTDA
APELADO
A C Ó R D Ã O
Vistos, relatados e discutidos os autos.
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PCDPNº 70058866898 (N° CNJ: 0079252-57.2014.8.21.7000)2014/CÍVEL
Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Oitava
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar
provimento ao recurso de apelação cível.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os
eminentes Senhores DES. NELSON JOSÉ GONZAGA E DES. HELENO
TREGNAGO SARAIVA.
Porto Alegre, 17 de abril de 2014.
DES. PEDRO CELSO DAL PRÁ, Relator.
R E L A T Ó R I O
DES. PEDRO CELSO DAL PRÁ (RELATOR)
Trata-se de recurso de apelação interposto por SADI TOLFO
JUNIOR contra a sentença (fls. 228-33) que julgou procedente em parte a
ação ordinária ajuizada em face de MERCADOPAGO.COM
REPRESENTACOES LTDA e MERCADOLIVRE.COM ATIVIDADES DE
INTERNET LTDA, para condenar a parte ré, em solidariedade passiva, ao
reembolso dos R$ 299,90 (duzentos e noventa e nove reais e noventa
centavos), acrescidos de correção monetária, pelo IGP-M, desde
08.05.2012, e juros moratórios de 1% ao mês, a contar da citação
(28.09.2012). Diante da sucumbência recíproca, condenou cada uma das
partes ao pagamento de metade das custas processuais e dos honorários
advocatícios em favor do procurador da parte contrária, fixados estes em R$
750,00 (setecentos e cinquenta reais), vedada a compensação e suspensa a
exigibilidade de tais encargos relativamente ao autor, por ser beneficiário da
gratuidade judiciária.
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O apelante alega, em suas razões (fls. 235-42), ter adquirido
um aparelho de vídeo game da parte ré, sendo que o produto não foi
entregue. Refere que deve ser indenizado pelos danos morais que
experimentou, pelo desgaste sofrido. Menciona o caráter punitivo da
indenização. Requer o provimento do recurso, com o conseqüente
julgamento de procedência integral da ação.
Contrarrazões nas fls. 249-56.
Remetidos a este Tribunal de Justiça, foram os autos
distribuídos por sorteio automático em 11/02/2014, vindo-me conclusos para
julgamento em 13/02/2014.
Registro, por fim, que restou devidamente observado o
disposto nos artigos 549, 551 e 552, todos do Código de Processo Civil,
tendo em vista a adoção do sistema informatizado.
É o relatório.
V O T O S
DES. PEDRO CELSO DAL PRÁ (RELATOR)
Eminentes Colegas: o recurso não merece prosperar.
Cuida-se de apelação cível, em que o recorrente insurge-se
contra o indeferimento da indenização pelos danos morais que diz ter
experimentado, com a não entrega da mercadoria adquirida em operação
intermediada e garantida pela parte ré.
Para tanto, alega o autor ter sofrido abalos psíquicos causados
pela conduta das demandadas, fazendo jus a uma indenização por danos
morais.
Ao que se verifica, o objeto da presente demanda funda-se no
inadimplemento do contrato de compra e venda e outras avenças acessórias
firmado entre as partes.
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Todavia, a inexecução contratual, à luz da legislação
pertinente1, por advir, de regra, de ilícito contratual, resolve-se em perdas e
danos.
E no conceito de perdas e danos inserem-se somente os
efetivos prejuízos materiais e os lucros cessantes, de sorte que os danos
morais, de índole eminentemente extrapatrimonial, não se constituem, em
regra, parcela indenizável em decorrência da inexecução contratual, salvo se
demonstrado cabalmente ter havido um abalo à personalidade que
extrapole, em muito, a normalidade.
A não entrega da mercadoria (aparelho de vídeo game, bem
não essencial à vida, que apenas se destina ao lazer), sobre o que se funda
a inexecução do contrato, embora possa ter acarretado desconforto ao autor
e alterações em seu cotidiano, por certo não trouxe maiores aborrecimentos
do que aqueles a que todos estão sujeitos nas relações interpessoais
provenientes da vida em sociedade.
Não induzem ao reconhecimento do dano moral certas
situações que, a despeito de serem desagradáveis, são inerentes ao
exercício regular de determinadas atividades, como é o caso da espécie que
se aponta, em que houve mera frustração pela não entrega de aparelho
eletrônico adquirido das rés.
Desta forma, o inadimplemento contratual, decorrente da não
entrega do produto, não gera, em tese, o dever de indenizar, pois “...só deve
ser reputado como dano moral à dor, vexame, sofrimento, ou humilhação
que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento
psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústias e desequilíbrio em
seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou
1 “Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos”.
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sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto,
além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no
transito, entre amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são
intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do
indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano
moral, ensejando ações judiciais em busca de indenização pelos mais triviais
aborrecimentos” 2.
Sobre o tema, o augusto Superior Tribunal de Justiça tem-se
manifestado na mesma linha de pensamento acima defendido. Vejamos:
RESP 201414 / PA ; RECURSO ESPECIAL
Relator Min. WALDEMAR ZVEITER (1085)
Relator p/ Acórdão Min. ARI PARGENDLER (1104)
Data da Decisão 20/06/2000
Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA
Ementa CIVIL. DANO MORAL.
O inadimplemento contratual implica a obrigação de indenizar os danos patrimoniais; não, danos morais, cujo reconhecimento implica mais do que os dissabores de um negócio frustrado. Recurso especial não conhecido.
E no mesmo sentido a jurisprudência desta Câmara:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS. PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE BEM IMÓVEL. RESOLUÇÃO. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS. INOCORRÊNCIA DE DANO MORAL. DECRETADA A RESCISÃO DE CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA, POR PROVOCAÇÃO RECÍPROCA, CABE A RESTITUIÇÃO, PELO PROMITENTE VENDEDOR, DAS PARCELAS PAGAS PELO PROMITENTE COMPRADOR A ESSE, ATUALIZADAS MONETARIAMENTE E COM JUROS DE MORA DEVIDOS DESDE O PAGAMENTO DE CADA PARCELA, CONFORME DEC. LEI 58/37, ART. 12, § 1º. TAL MEDIDA SE JUSTIFICA EM DECORRÊNCIA DA RESTITUIÇÃO DAS PARTES AO ESTADO ANTERIOR AO DA CONTRATUALIDADE, OPERADA PELA EFICÁCIA REPRISTINATORIA DO AJUSTE (CC, 158), E PARA
2 SÉRGIO CAVALIERI FILHO, PROGRAMA DE RESPONSABILIDADE CIVIL, Malheiros, 4ª ed., 2003, p. 99.
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EVITAR ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. NÃO HA DANO MORAL DECORRENTE DA RESCISÃO CONTRATUAL, POSTO QUE NENHUM PREJUÍZO, MATERIAL OU PSICOLÓGICO DEMONSTROU O REQUERENTE, NÃO CABENDO PRESUMIR-SE AQUELE COMO DECORRÊNCIA NECESSÁRIA DO DESATE CONTRATUAL. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 70002735777, DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: ANDRÉ LUIZ PLANELLA VILLARINHO, JULGADO EM 25/04/2002).
Ainda, nesta Corte:
PROMESSA DE COMPRA E VENDA. DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL POR PARTE DA PROMITENTE-VENDEDORA. NÃO-ENTREGA DO IMÓVEL NO PRAZO PACTUADO. DANO MORAL. O inadimplemento contratual por parte de um dos contratantes não enseja reparação a título de dano moral se somente resultar ao lesado situação incômoda, por não ensejar dor ou sofrimento profundo. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO INSERTA NO CONTRATO. EXCLUDENTE DE CUMPRIMENTO DA AVENÇA. FORÇA MAIOR NÃO DEMONSTRADA. Reconhecido o descumprir contratual, configurado pela não-entrega da obra no prazo avençado, merece amparo a pretensão resolutória. Não se configura em força maior a imputação do descumprimento contratual a atraso no saldo das unidades vendidas, por se tratar de evento previsível. Apelação parcialmente provida. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 70007190127, DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: JORGE LUÍS DALL'AGNOL, JULGADO EM 11/11/2003).
Ademais, o abalo psicológico, como condição pessoal, há de
ser sobejamente provado, por não se presumir. E ausente a necessária
prova, conseqüência lógica é o indeferimento do pleito, na esteira do que
fora decidido na sentença recorrida.
ISSO POSTO, voto no sentido de negar provimento ao
recurso de apelação.
DES. NELSON JOSÉ GONZAGA (REVISOR) - De acordo com o(a)
Relator(a).
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DES. HELENO TREGNAGO SARAIVA - De acordo com o(a) Relator(a).
DES. PEDRO CELSO DAL PRÁ - Presidente - Apelação Cível nº
70058866898, Comarca de Santa Maria: "NEGARAM PROVIMENTO.
UNÂNIME."
Julgador(a) de 1º Grau: LUCIANO BARCELOS COUTO
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