contra razões pre r esp

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Rua João Brígido, 1260 - Joaquim Távora - CEP: 60135-080 - Fortaleza/CE - Fones: 3266.73.10 - www.prece.mpf.gov.br MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL Exma. Sra. Desembargadora do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Ceará. Processo nº 58-73.2012.6.06.0109 Classe: 30 – Recurso Eleitoral Recorrentes: Coligação “Paracuru Quer um Novo Tempo” Ministério Público Eleitoral Recorridos: José Ribamar Barroso Batista Wembley Gomes Costa Relatora: Desembargadora Maria Iracema Martins do Vale CONTRARRAZÕES N.º 18.375/2012 O Ministério Público Eleitoral, pelo Procurador Regional Eleitoral adiante firmado, no uso de suas atribuições, vem, perante Vossa Excelência, com reciprocidade de respeito, oferecer contrarrazões ao Recurso Especial interposto por José Ribamar Barroso Batista. Fortaleza, 18 de setembro de 2012. Márcio Andrade Torres Procurador Regional Eleitoral

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Page 1: Contra razões pre r esp

Rua João Brígido, 1260 - Joaquim Távora - CEP: 60135-080 - Fortaleza/CE - Fones: 3266.73.10 - www.prece.mpf.gov.br

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL

Exma. Sra. Desembargadora do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Ceará.

Processo nº 58-73.2012.6.06.0109Classe: 30 – Recurso EleitoralRecorrentes: Coligação “Paracuru Quer um Novo Tempo”

Ministério Público EleitoralRecorridos: José Ribamar Barroso Batista

Wembley Gomes CostaRelatora: Desembargadora Maria Iracema Martins do Vale

CONTRARRAZÕES N.º 18.375/2012

O Ministério Público Eleitoral, pelo Procurador Regional Eleitoral adiante firmado,

no uso de suas atribuições, vem, perante Vossa Excelência, com reciprocidade de respeito,

oferecer contrarrazões ao Recurso Especial interposto por José Ribamar Barroso Batista.

Fortaleza, 18 de setembro de 2012.

Márcio Andrade TorresProcurador Regional Eleitoral

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PRE/CE - Procuradoria Regional Eleitoral no Ceará.

RE 58-73 2/12

Processo n.º 58-73.2012.6.06.0109

Recorrente: José Ribamar Barroso Batista

CONTRARRAZÕES

Colendo Tribunal Superior Eleitoral

Meritíssimo Relator:

SINOPSE FÁTICA

Trata-se de recurso especial interposto por José Ribamar Barroso Batista contra

acórdão do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará que, em consonância com parecer desta

PRE/CE, manteve sentença do Juízo Eleitoral da 109ª Zona, indeferindo o requerimento do

registro de candidatura do recorrente.

Em suas razões recursais, o apelante argumenta que o acórdão proferido pelo

Regional apresenta-se afrontoso às disposições da Legislação Eleitoral e/ou dissonante com o

entendimento jurisprudencial de outras Cortes Eleitorais [Código Eleitoral, art. 276, inciso I,

alíneas 'a' e 'b'].

Todavia, percebe-se franca intenção no reexame da causa, ao insistir o recorrente na

tese de incompetência do TCM para análise de contas de gestão de Prefeito Municipal, nos

termos dispostos no art. 1º, inciso I, alínea 'g', da Lei Complementar nº 64/90 e do art. 31, inc. I,

da Constituição Federal.

Dispensado o juízo de admissibilidade do recurso especial, consoante Resolução

TSE n° 23.373/2012, art. 61, parágrafo único1, vieram os autos a esta Procuradoria Regional

Eleitoral para apresentação de contrarrazões.

É o relatório.

1Art. 61. [...]Parágrafo único. O recurso para o Tribunal Superior Eleitoral subirá imediatamente, dispensado o juízo de admissibilidade(LC nº 64/90, art. 12, parágrafo único).

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PRE/CE - Procuradoria Regional Eleitoral no Ceará.

RE 58-73 3/12

DO Reexame da Causa, Por Meio de Renovação de Alegações.

A argumentação expendida no recurso especial é reiteração do que já fora dito pela

parte recorrente, por ocasião do apelo eleitoral, tendo este Parquet Eleitoral, após completa e

minuciosa análise de tais argumentos, assim posicionado-se:

Nos últimos 08 [oito] anos, José Ribamar Barroso Baptista teve suas contas públicasjulgadas irregulares pelo Tribunal de Contas dos Municípios - TCM, consoante seobserva nos seguintes processos:

1.1.2 — Ausência do procedimento licitatório, no valor de R$ 15.000,00(quinze mil reais), para locação do veículo de placas HUD — 8215, de propriedadedo Sr. João Pessoa Vieira, que é Vereador do Município, o quecaracteriza a práticade favoritismo — (multa de R$ 1.064,10 aplicada à Sra. Antônia Xavier Moreira eora mantida) A Interessada apresentou nesta oportunidade os seguintes documentos:- Tomada de Preços, Edital n° 002/2001 — (fls. 1343/1444);- Contrato com o vereador João Pessoa Vieira — (fls. 1434/1437);A Inspetoria, após análise dos argumentos e documentos ofertados pelaDefesa, verificou que a Tomada de Preços, Edital n.° 002/2001 ocorreu no exercíciode 2001 e não foram apresentados os aditivos aos contratos originais, além do quenos Protocolos de entrega de cópias do Edital constava Prefeitura Municipal deItaitinqa, o que demonstra falha no controle interno.Diante do exposto, o Órgão Técnico ratificou a falha, ressaltando também que acontratação do Vereador João Pessoa Vieira ocorreu de forma irregular, ferindo osprincípios da impessoalidade e da legalidade.

O TCM/CE verificou a existência de diversas irregularidades, notadamente, “ausênciade licitação na contratação de serviços de locação de veículo.”Vê-se pois, que a Corte de Contas condenou o recorrente pela prática de múltiplasirregularidades, destacando-se aquela atinente ao descumprimento da Lei de Licitações.No entanto, embora tenha o ilustrado magistrado que proferiu a decisão guerreadareconhecido a impossibilidade de rediscutir o acerto ou desacerto da decisão proferidapela Corte de Contas, no que concordamos, ao passar para o exame dos requisitosnecessários à configuração da inelegibilidade prevista na alínea “g”, do inciso I, do art.1º, da LC nº 64/90, entendeu que não haviam provas de que as irregularidadesidentificadas pela Corte de Contas eram insanáveis, uma vez que poderiam ter sidoremediadas pela própria comissão de licitação, afirmando, por fim, que asirregularidades apontadas no processo do TCM não seriam capazes de configurar atodoloso de improbidade administrativa, uma vez que se baseavam “numa análisesuperficial e sem aprofundamento probatório típico de um procedimentoadministrativo”.Agindo de forma acertada, o Juiz Eleitoral da 109ª Zona reconheceu primeiro que a açãode impugnação ao registro de candidatura não é o meio adequado à rediscussão domérito de decisões proferidas pela Corte de Contas, no que, como dito acima,concordamos:

“Agravo regimental. Recurso especial. Registro de candidatura. Ausência de documentosnecessários. Reexame. Análise do mérito de decisões proferidas em outros feitos.Impossibilidade. Desprovimento. [...] 2. Nos processos de registro de candidatura, nãose discute o mérito de procedimentos ou decisões proferidas em outros feitos. Aanálise restringe-se a aferir se o pré-candidato reúne as condições de elegibilidadenecessárias, bem como não se enquadra em eventual causa de inelegibilidade. [...].”(Ac. de 29.9.2010 no AgR-REspe nº 105541, rel. Min. Marcelo Ribeiro)

Dito isso, constatada a efetiva condenação pela prática de irregularidades, afrontosas àConstituição Federal e à Lei de Licitações, bem como a impossibilidade de reanálisedesta decisão pela Justiça Eleitoral, mostra-se equivocada a sentença atacada, eis que, aocontrário do que afirma o prolator da decisão em primeira instância, as falhas apontadaspelo TCM não poderiam, e nem podem, ser sanadas, tampouco se fazia necessário ummaior aprofundamento do TCM para identificar a natureza dolosa do ato.

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PRE/CE - Procuradoria Regional Eleitoral no Ceará.

RE 58-73 4/12

Com efeito, constatou a Corte de Contas haver irregularidades consistentes na própriaausência do procedimento previsto na Lei das Licitações e, segundo o art. 10 da Lei nº9.429/92, constitui ato de improbidade administrativa frustrar a licitude de processolicitatório ou dispensá-lo indevidamente.Resta claro, portanto, o equívoco do magistrado, o que fica patenteado pela simplesleitura deo ítem “b” do dispositivo de sua decisão:

“INDEFIRO o pedido de IMPUGNAÇÃO FORMULADO PELO Ministério PúblicoEleitoral, por não ter sido demonstrado que, no caso em concreto, restou configuradoum ato doloso capaz de constituir a prática de improbidade administrativa. A decisãodo Tribunal de Contas não se aprofundou na apuração do “dolo” do ordenador dedespesa e na configuração ou não de ato de improbidade suficiente para gerarinelegibilidade. Além disso a falha poderia ter sido sanada pela Comissão de Licitação,com exclusão do licitante infrator...” (fls. 238). [sem negrito no original]

Assim, tenho que, na espécie, os vícios são graves e insanáveis, caracterizando atosdolosos de improbidade administrativa, a incidir a inelegibilidade prevista na alínea 'g'do inciso I do art. 1º da LC nº 64/90.Nesse sentido, esse TRE-CE já teve a oportunidade, na escorreita relatoria do seu atualPresidente, Ademar Mendes Bezerra, de firmar o entendimento sobre a circunstânciade ser ato de improbidade a ausência de licitação para a realização de despesaspúblicas:

IMPUGNAÇÃO EM REGISTRO DE CANDIDATURA. ELEIÇÕES 2010. DECISÕESDO TCM EM TOMADA DE CONTAS DE GESTÃO. ARGUIÇÃO DEINCONSTITUCIONALIDADE DA LEI N.º 135/10 REJEITADA. PRESCRIÇÃO DAPRIMEIRA CAUSA DE INELEGIBILIDADE SUSCITADA. RECONHECIMENTO.SEGUNDA CAUSA DE PEDIR DA IMPUGNAÇÃO: NÃO REALIZAÇÃO DELICITAÇÃO PARA CONTRATAÇÃO COM PARTICULARES. ATO DOLOSO DEIMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. COMPROVAÇÃO DE DANO AO ERÁRIO.OFENSA AO DISPOSTO NA LEI N.º 8.429/92, ART. 10, VIII. RECONHECIMENTODA INELEGIBILIDADE. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO QUE SE JULGAPROCEDENTE. INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ART. 1º, I, G, DA LC N.º 64/90.REGISTRO DA CANDIDATURA INDEFERIDO.1. Incabível a este Regional resolver matéria de defesa já apreciada ou que poderia ter

sido arguída junto ao TCM, por oportunidade da apreciação das contas do candidato. Talsituação importaria em ampliar indevidamente a análise do mérito da impugnação que serestringe à subsunção dos motivos apresentados pelo TCM à hipótese do disposto na LCn.º 64/90, art. 1º, I, g.2. Causa de Pedir: Desaprovação de contas por ausência da realização de Licitação

Pública. Vício de natureza insanável que configura ato doloso de improbidadeadministrativa.

3. Pedido de Registro de Candidatura INDEFERIDO. [REGISTRO DECANDIDATURA nº 405571, Acórdão nº 405571 de 03/08/2010, Relator(a) ADEMARMENDES BEZERRA, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 03/08/2010]

Tal entendimento baliza-se em sedimentada jurisprudência do TSE, que pode assim sertranscrita:

Registro. Inelegibilidade. Rejeição de contas.1. O recurso de revisão perante o Tribunal de Contas não possui efeito suspensivo.2. Constatada a irregularidade atinente ao descumprimento da Lei de Licitações -consistente na ausência de processo licitatório -, vício considerado insanável por estaCorte Superior, afigura-se a inelegibilidade do art. 1º, inciso I, alínea g, da LeiComplementar nº 64/90.Agravo regimental não provido. [Agravo Regimental em Recurso Ordinário nº 163385,Acórdão de 06/10/2010, Relator(a) Min. ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES,Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 6/10/2010]AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. INELEGIBILIDADE. REJEIÇÃODAS CONTAS. PERÍODO. PRESIDENTE DA CÂMARA DE VEREADORES.INEXISTÊNCIA. NOTA DE IMPROBIDADE. TRIBUNAL DE CONTAS.OCORRÊNCIA. GRAVES IRREGULARIDADES. AUSÊNCIA DE LICITAÇÃO.FALTA. CONTRATO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. IRREGULARIDADEINSANÁVEL. FALTA. NOTÍCIA. SUSPENSÃO DOS EFEITOS. AÇÃO

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PRE/CE - Procuradoria Regional Eleitoral no Ceará.

RE 58-73 5/12

DESCONTITUTIVA. CONTAS. PRETENSÃO. REEXAME. DISSÍDIOJURISPRUDENCIAL. ALEGAÇÃO. FALTA. FUNDAMENTAÇÃO. INEXISTÊNCIA.FUNDAMENTOS NÃO-INFIRMADOS. DESPROVIMENTO.1. Para que o agravo obtenha êxito, é necessário infirmar os fundamentos da decisãoatacada.2. A ausência de impugnação ao registro de candidatura não impede que o juizaprecie a inelegibilidade de ofício. Precedentes.3. É firme o entendimento desta Corte no sentido de que "o descumprimento da leide licitação importa irregularidade insanável" (Ac. 22.704, rel. Min. Luiz CarlosMadeira, PSESS de 19.10.2004).4. É vedado o reexame de fatos e provas em recurso especial (Súmula nº 279 do SupremoTribunal Federal).5. A divergência jurisprudencial não foi evidenciada.6.Agravo regimental desprovido. [Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº29371, Acórdão de 30/09/2008, Relator(a) Min. MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DEOLIVEIRA, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 30/9/2008]

Dúvida não resta quanto ao fato objeto da impugnação constituir ato de improbidade.O dolo do ato, por seu turno, fica evidenciado na medida em que não se visualizaqualquer fato que possa afastar a prática do ato da figura do gestor que veio a sercondenado, o que se exterioriza pela incontestável plausibilidade da alegação de que ogestor tem a obrigação de saber as hipóteses em que é obrigado a licitar, ou a atender oprocedimento licitatório exigido.Quanto às razões da Coligação “PARACURU QUER UM NOVO TEMPO” (fls.256/300), também recorrente, verificamos que em sua anílise o MM. Juiz operou comcorreção, uma vez que os motivos elencados para justificar o indeferimento do registro,lista extensa de ações penais e civis públicas de improbidade administrativa a queresponde o pretenso candidato, não satisfazem às exigências da LC nº 64/90, uma vezque não existe decisão condenatória de órgão colegiado, tampouco sentença transitadaem julgado, o que, mesmo à luz do esforço desta recorrente, não se fez capaz dejustificar o acolhimento de suas alegativas.DA SUSPENSÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS DOSMUNICÍPIOSEmbora não haja menção na sentença de primeiro grau e nas razões dos recursos àexistência de decisões que suspendem a eficácia da decisão da Corte de Contas quecondenou o recorrido, constata-se que foi acostada às fls. 199/203 uma cópia da medidaantecipatória de tutela concedida pela 6ª Vara da Fazenda Pública de Fortaleza, onde foideferida a imediata suspensão dos efeitos dos Acórdãos que 4359/2010 e 2068/2011,que serviram de fundamento para a impugnação intentada pelo Ministério PúblicoEleitoral.Assim, o candidato obteve, ao apagar das luzes do tempo para o registro de suacandidatura, medida liminar suspendendo os efeitos de acórdão do TCM.Com efeito, a alínea “g” ressalva a possibilidade de ser obtida liminar dessa natureza,que afastaria a inelegibilidade.No entanto, recomenda o caso uma interpretação sistêmica do art. 26-C, § 2º, e art. 16da mesma Lei de Inelegibilidades, com o art. 1º, I, g da LC nº 64/90, a fim de que sóseja possível obter a real intenção do legislador e o fim último da edição da Lei da FichaLimpa, que é o de afastar os maus gestores da cena pública a partir do exercício decargos e mandatos eletivos, em razão de fatos colhidos de sua vida pregressa:

Art. 15. Transitada em julgado ou publicada a decisão proferida por órgão colegiadoque declarar a inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado registro, ou cancelado, sejá tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido. (Redação dada pela LeiComplementar nº 135, de 2010)

Art. 26-C. O órgão colegiado do tribunal ao qual couber a apreciação do recursocontra as decisões colegiadas a que se referem as alíneas d, e, h, j, l e n do inciso I doart. 1o poderá, em caráter cautelar, suspender a inelegibilidade sempre que existir

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PRE/CE - Procuradoria Regional Eleitoral no Ceará.

RE 58-73 6/12

plausibilidade da pretensão recursal e desde que a providência tenha sido expressamenterequerida, sob pena de preclusão, por ocasião da interposição do recurso. (Incluído pelaLei Complementar nº 135, de 2010)§ 1o Conferido efeito suspensivo, o julgamento do recurso terá prioridade sobre todosos demais, à exceção dos de mandado de segurança e de habeas corpus. (Incluído pelaLei Complementar nº 135, de 2010)§ 2o Mantida a condenação de que derivou a inelegibilidade ou revogada a suspensãoliminar mencionada no caput, serão desconstituídos o registro ou o diplomaeventualmente concedidos ao recorrente. (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de2010)

Na ótica da Lei da Ficha Limpa, se determinada liminar suspensiva da inelegibilidadevier a ser cassada ou revogada, o efeito inexorável é o de ser desconstituído o registroou o diploma.Se a alínea “g” admite que, por decisão judicial, seja suspensa ou anulada a decisão daCorte de Contas afastando a inelegibilidade, o efeito há de ser o mesmo no caso deinsubsistência da decisão suspensiva da causa de inelegibilidade.Sem dúvida, pode ser argumentado que caberia, no âmbito das ações individuais queresultaram na cessação dos efeitos das decisões da Corte de Contas, obter a cassação oua suspensão das decisões liminares proferidas pelos juízes da Fazenda Pública.E isso de fato foi feito pelo Ministério Público do Estado do Ceará, que interpôsPedido de Suspensão de Liminar nº0130487-02.2012.8.06.0000 , ainda nãoapreciado pelo Tribunal de Justiça.Por isso, refletimos sobre a tamanha incoerência, quiçá falta de prudência, em se deferiro registro de um candidato que se encontra amparado por decisão liminar precária e malfundamentada, em relação a qual pesa pedido de cassação expresso e prestes a serapreciado.O Ministério Público Eleitoral não desconhece que o artigo 11, § 10 da Lei 9.504estabelece que “as condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade devem seraferidas no momento da formalização do pedido de registro da candidatura,ressalvadas as alterações, fáticas ou jurídicas, supervenientes ao registro que afastem ainelegibilidade”. Contudo, não pode prevalecer o entendimento de que a alteraçãoadvinda à situação do recorrido, no sentido de desconsiderar a decisão suspensiva daliminar que lhe foi favorável, não é apta a autorizar o indeferimento do registro, sobpena de malferimento dos princípios da proporcionalidade e da lisura das eleições,que devem orientar a interpretação na seara eleitoral. Senão vejamos.Com efeito, uma decisão de natureza cautelar, que venha a subsistir por poucos dias,não pode ser considerada apta a afastar a incidência de uma Lei Complementarfulcrada em decisão do Tribunal de Contas proferida após longo período detramitação, com observância de todas as garantias constitucionais, notadamente ocontraditório e a ampla defesa.A cada ano eleitoral, observa-se que os candidatos que têm contas rejeitadas peloTribunal de Contas por irregularidades insanáveis, dentre os quais o recorrido, deixampara ajuizar ações anulatórias na Justiça comum faltando poucos dias para oprazo final do pedido de registro de candidaturas (05 de julho), denotando que opropósito de tais ações não é discutir a validade da decisão do órgão de contas, masafastar a inelegibilidade do art. 1º, inciso I, “g” da LC nº 64/90.Com esse artifício, os candidatos criam uma urgência artificial, já que a questãopoderia ter sido submetida ao Poder Judiciário com maior antecedência, e retiram doMinistério Público a possibilidade de reversão eficaz da medida, cujos efeitos sãoextremamente danosos para a sociedade.Além disso, aceitar tal conduta implicaria em entregar nas mãos do particular(candidato) e de um juiz distante da realidade do processo eleitoral, o controle daefetividade de lei complementar das inelegibilidades, cuja criação teve por escopoproteger a lisura, a legitimidade e a normalidade das eleições, consoante determina oartigo 14, § 9º da Constituição Federal, o que consiste um verdadeiro absurdo.

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RE 58-73 7/12

O Tribunal Superior Eleitoral já não vem aceitando o afastamento da inelegibilidade sobcomento, quando a decisão cautelar é proferida em ação anulatória ajuizada às vésperasdo termo final do pedido de registro:

RECURSO - ADEQUAÇÃO - REGISTRO DEFERIDO NA ORIGEM. Havendoocorrido o deferimento do registro na origem, afastada a inelegibilidade, o recursocabível é o especial. INELEGIBILIDADE - REJEIÇÃO DE CONTAS - AÇÃO –ALCANCE. O ajuizamento de ação, impugnando o ato da Corte de Contas, naundécima hora, com obtenção de tutela antecipada findo o prazo para registro, nãoafasta a inelegibilidade - inteligência do artigo 1º, I, "g" , da Lei Complementar nº64/90. O Tribunal, por maioria, admitiu o recurso como interposto, como especial, e oproveu, na forma do voto Ministro Marco Aurélio (Presidente), que redigirá oacórdão. (RESPE nº 26957 – arapongas/PR, Acórdão de 27/09/2006 , Relator(a) Min.MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA , Relator(a) designado(a) Min.MARCO AURÉLIO MENDES DE FARIAS MELLO, publicado em sessão, data27/06/2006).

REGISTRO DE CANDIDATURA. CANDIDATO A DEPUTADO ESTADUAL.CONTAS REJEITADAS PELO PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL. EX-PREFEITO.RECURSO PROVIDO PARA INDEFERIR O REGISTRO. 1. O dilatado tempo entre asdecisões que rejeitaram as contas e a propositura das ações anulatórias evidencia omenosprezo da autoridade julgada para com o seus julgadores. 2. O ajuizamento daação anulatória na undécima hora patenteia o propósito único de buscar o mantodo enunciado sumular nº 1 deste Superior Eleitoral. Artificialização da incidênciado verbete. 3. A ressalva contida na parte final da letra "g" do inciso I do art. 1º daLei Complementar nº 64/90 há de ser entendida como a possibilidade, sim, desuspensão de inelegibilidade mediante ingresso em juízo, porém debaixo dasseguintes coordenadas mentais: a) que esse bater às portas do Judiciário traduza acontinuidade de uma "questão" (no sentido de controvérsia ou lide) já iniciada nainstância constitucional própria para o controle externo, que é, sabidamente, ainstância formada pelo Poder Legislativo e pelo Tribunal de Contas (art. 71 daConstituição); b) que a petição judicial se limite a esgrimir tema ou temas de índolepuramente processual, sabido que os órgãos do Poder Judiciário não podem sesubstituir, quanto ao mérito desse tipo de demanda, a qualquer das duas instâncias deContas; c) que tal petição de ingresso venha ao menos a obter provimento cautelar deexplícita suspensão dos efeitos da decisão contra a qual se irresigne o autor.Provimento cautelar tanto mais necessário quanto se sabe que, em matéria de contas,"as decisões do tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia detítulo executivo" (§ 3º do art. 71 da Lei Constitucional). 4. Recurso ordinário provido.O Tribunal, por unanimidade, proveu o recurso, na forma do voto do relator.(RO/RECURSO ORDINÁRIO nº 963 - são paulo/SP, Acórdão de 13/09/2006,Relator(a) Min. CARLOS AUGUSTO AYRES DE FREITAS BRITTO, publicado emsessão, data 13/09/2006).

Neste caso, a decisão liminar foi obtida pelo recorrido em 04/07/2012, no penúltimo diapara registro e, por tal razão, não deve ser considerada apta a suspender a suainelegibilidade, porquanto ajuizada tardiamente e, notadamente com o únicopropósito de viabilizar a sua candidatura.A par disso, a interpretação literal do artigo 11, § 10 da Lei n.º 9.504/97, no sentido deque a decisão que suspendeu a eficácia da liminar proferida pelo Juiz da FazendaPública não pode ser levada a efeito por ter restabelecido a inelegibilidade e não aafastado, devendo se considerar a situação da data do protocolo do registro e nãodo seu efetivo julgamento, implicaria em ofensa aos princípios constitucionais dalisura, da normalidade e da legitimidade das eleições, uma vez que o particular(candidato), manipulando a jurisdição ao deixar para ajuizar a ação anulatória àsvésperas do prazo final para formalização do registro, teria o condão de decidirsobre a efetividade da Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar nº 64/90),subvertendo a ordem de prevalência do interesse público sobre o particular.

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RE 58-73 8/12

Não de pode perder de vista, ainda, que a Constituição Federal reservou, em seu art. 14,§9º2, a Lei Complementar a matéria atinente a inelegibilidades, suas hipóteses e prazosde cessação e, por extensão óbvia, toda a normatização sobre a vigência dasinelegibilidades. Daí, a interpretação do artigo 11, § 10 da Lei n.º 9.504/97, de se darem conformidade com a Lei Complementar n° 64/90 e o art. 14, § 9º, da CF/88., nosentido de ser considerada a eficácia e legitimidade de decisão judicial posterior,que venha a restaurar a inelegibilidade: “as condições de elegibilidade e as causasde inelegibilidade devem ser aferidas no momento da formalização do pedido deregistro da candidatura, ressalvadas as alterações, fáticas ou jurídicas, supervenientesao registro que afastem a inelegibilidade”; no entanto, considerando o disposto noart. 14§ , 9º, da CF/88 e os dispositivos dos arts. 15 e 26-C da Lei Complementar n°64/90, devem ser consideradas as alterações supervenientes ao registro, de naturezajurídica, que restabeleçam a inelegibilidade, na hipótese do art. 1º, I, alínea “g” daCF/88.Ressalte-se, ainda, que qualquer interpretação, a permitir que candidatos que tenhamvida pregressa desabonadora possam concorrer a cargos eletivos, após lançarem mão dechicana jurídica para evitar a incidência de uma causa de inelegibilidade, acabaria poratentar contra os mais elevados valores constitucionais, considerando-se que asinelegibilidades fundamentadas na probidade administrativa e na moralidade exigidapara o exercício do mandato e de natureza eminentemente preventiva e protetiva,existem para assegurar a solidez do Estado Democrático de Direito, a DemocraciaRepresentativa e o Princípio Republicano.Não há qualquer fundamento, guindado pela lógica, para que se admita, na hipótese doart. 26-C, o efeito previsto da cassação do registro ou do diploma na hipótese deinsubsistência da liminar que afastava a inelegibilidade, e se negue o mesmo efeitopara o caso de a liminar que suspenda ou anula a decisão da Corte de Contasperder igualmente a sua eficácia.Sobre o assunto, cabe o ensinamento de Edson de Resende Castro3:

Parece inevitável, em síntese, que o Juiz Eleitoral, ao decidir o registro de candidatura,leve em conta a elegibilidade e a inelegibilidade supervenientes ao protocolo do pedido,pois é inconcebível que a decisão se distancie da situação fática e jurídica existentenaquele momento. Basta imaginar um candidato com condenação criminal porhomicídio ou tráfico de entorpecentes que transite em julgado no dia 30 de julho do anoda eleição. Se o Juiz, apreciando o pedido de registro no dia 10 de agosto, fosse levar emconta a situação fática e jurídica do momento do protocolo do pedido (05 de julho), teriaque deferir a candidatura de alguém que já está com direitos políticos suspensos, o queseria no mínimo absurdo e aviltante para o Judiciário.

Outro forte argumento a justificar a desconsideração desta antecipação de tutela comocapaz de suspender a inelegibilidade do pretenso candidato, é o fato de tramitar peranteo Tribunal de Justiça do Estado do Ceará pedido de suspensão desta medida, conformeconsulta processual abaixo transcrita, havendo forte indício de que referido pedidohaverá de ser deferido, uma vez que em pedidos da mesma natureza, recentementeanalisados pelo Exmo. Presidente, foram suspensas as decisões antecipatórias de tutela.

Consulta Processual – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁProcesso: 0130650-79.2012.8.06.0000Classe: Suspensão de Liminar ou Antecipação de TutelaÁrea: CívelAssunto: Atos AdministrativosOrigem: Comarca de Fortaleza / Fortaleza / 1ª Vara da Fazenda PúblicaNúmeros de origem: 0153968-88.2012.8.06.0001

2 § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, afim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vidapregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do podereconômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.(Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 4, de 1994)

3CASTRO, Edson de Resende. Curso de Direito Eleitoral. 6ª. ed. Belo Horizonte: 2012, p. 156.

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PRE/CE - Procuradoria Regional Eleitoral no Ceará.

RE 58-73 9/12

Distribuição: PresidênciaRelator: PRESIDENTE TJCE

Outro ponto a ser analisado, também não enfrentado na sentença de primeira instância emencionados nas razões recursais, acostou-se decisão proferida pelo Conselheiro doTCM, relator em Recurso de Revisão (fls. 206/209), bem como Acórdão daquela Corte(212/222), onde se concede efeito suspensivo com o fito de impedir que a decisão quecondenou o ora recorrido e redundou na sua inelegibilidade continue a produzir os seusefeitos.Contudo, tal liminar não tem aptidão para afastar a inelegibilidade. Isso porque aprópria norma da alínea “g” somente ressalva à decisão judicial o efeito de suspenderou anular a decisão da Corte de Contas.Por outro lado, o recurso de revisão não se trata de recurso propriamente dito, masde medida que muito se assemelha no processo civil à ação rescisória e, noprocesso penal, à revisão criminal, pressupondo o anterior trânsito em julgado dadecisão a ser revista, tendo seu cabimento nas seguintes hipóteses, segundo a LeiOrgânica do TCM:

Art. 34. Da decisão que julgar em definitivo as contas de gestão, caberá recurso derevisão interposto pelo responsável, seus herdeiros, sucessores ou por Procurador deContas, no prazo de cinco anos, a partir da publicação da decisão, a qual sefundamentará:I - em erro de cálculo que tenha influído de modo decisivo para a desaprovação dascontas, ou que tenha sido considerado para fins de imputação de débito ou multa;II - na comprovação de que a decisão recorrida se baseou na falsidade ou insuficiênciade documentos;III- na superveniência de documentos novos, cuja existência ignorava ou deles não pôdefazer uso, capazes, por si só, de elidir os fundamentos da decisão;IV - na errônea identificação ou individualização do responsável.”

Sobre o assunto, o TSE já teve a oportunidade de se pronunciar:ELEIÇÃO 2010. REGISTRO DE CANDIDATURA. AGRAVO REGIMENTAL EMRECURSO ORDINÁRIO. INELEGIBILIDADE. ART. 1º, I, g, da LC Nº 64/90 C.C. LC Nº135/2010. FATO IMPEDITIVO DO DIREITO DO IMPUGNANTE. ÔNUS DA PROVA.CANDIDATO/ IMPUGNADO. ART. 11, § 5º DA LEI Nº 9.504/97. REJEIÇÃO DECONTAS. SUSPENSÃO DE INELEGIBILIDADE. NECESSIDADE DE PROVIMENTOJUDICIAL.1. A mera inclusão do nome dos gestores na lista remetida à Justiça eleitoral não gera

inelegibilidade e nem com base nela se pode afirmar ser elegível o candidato (art.11, §5º da Lei nº 9.504/97).

2. O ônus de provar fato impeditivo do direito do impugnante é docandidato/impugnado. Precedentes.3. É necessária a obtenção de provimento judicial para suspender a inelegibilidade

decorrente de rejeição de contas por irregularidade insanável. Precedentes.4. Agravo Regimental a que se nega provimento.(Agravo Regimental em Recurso Ordinário nº 118531, Acórdão de 01/02/2011,

Relator(a) Min. HAMILTON CARVALHIDO, Publicação: DJE - Diário da JustiçaEletrônico, Tomo 036, Data 21/02/2011, Página 62)

Inelegibilidade. Rejeição de contas. Recurso de revisão. Tribunal de Contas da União.O recurso de revisão interposto perante o Tribunal de Contas da União e os embargosde declaração a ele relativos não afastam o caráter definitivo da decisão que rejeita ascontas.Decorrido o prazo de cinco anos previsto na redação original da alínea g do inciso I do

art. 1º da Lei Complementar nº 64/1990, não mais incide a respectiva causa deinelegibilidade.Nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental.Recurso Especial Eleitoral nº 11083-95/MG, rel. Min. Arnaldo Versiani, em 26.5.2011.

ELEIÇÃO 2010. REGISTRO DE CANDIDATURA. AGRAVO REGIMENTAL EMRECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINÁRIO. CAUSA DE

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INELEGIBILIDADE. CONTAS DE CONVÊNIO JULGADAS IRREGULARES PELOÓRGÃO COMPETENTE. AUSÊNCIA DE PROVIMENTO JUDICIAL FAVORÁVEL.FUNDAMENTOS NÃO INFIRMADOS. DESPROVIMENTO.

1. Reconhecido o caráter insanável das irregularidades, configuradoras de ato deimprobidade administrativa, que culminaram com a rejeição das contas do candidatopelo órgão competente, além da ausência de provimento judicial favorável, é de rigor aincidência da causa de inelegibilidade disposta no artigo 1º, I, g, da Lei Complementarnº 64/90.2. A liminar em pedido de revisão deduzida perante o Tribunal de Contas não afasta a

incidência do disposto no artigo 1º, I, g, da Lei Complementar nº 64/90, com asmodificações da Lei Complementar nº 135/2010, que reclama suspensão ou anulaçãopelo Poder Judiciário, das decisões do Tribunal de Contas que julga irregulares contasde convênio.3. É inviável o agravo regimental que não infirma os fundamentos da decisão atacada,

incidindo, pois, os enunciados 283 da Súmula do Supremo Tribunal Federal e 182 daSúmula do Superior Tribunal de Justiça.4. Agravo regimental a que se nega provimento.

(Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 90166, Acórdão de 02/12/2010,Relator(a) Min. HAMILTON CARVALHIDO, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão,Data 02/12/2010 )

Nessas condições, não há como afastar a causa de inelegibilidade suscitada nos autoscom base em decisão monocrática de Conselheiro ou pleno do TCM que, em recurso derevisão, suspende os efeitos de decisão colegiada daquela Corte já transitada emjulgado.Lembro que, antes mesmo de se cogitar da Lei da Ficha Limpa, o TSE já tinha oseguinte entendimento:

Agravo regimental. Recurso ordinário. Eleições 2006. Registro. Candidato. Deputadoestadual. Contas. Rejeição. Ações judiciais. Propositura. Trânsito em julgado. Art. 1º, I,g, da Lei Complementar nº 64/90. Inelegibilidade. Fluência. Configuração.1. Transitada em julgado a decisão que não acolheu ação anulatória do decreto

legislativo que rejeitou as contas, volta a fluir a inelegibilidade prevista no art. 1º, I, g,da Lei Complementar nº 64/90.

2. O agravo regimental, para que obtenha êxito, deve afastar especificamente osfundamentos da decisão impugnada.Agravo regimental a que se nega provimento.

(AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO nº 1104, Acórdão de 31/10/2006,Relator(a) Min. CARLOS EDUARDO CAPUTO BASTOS, Publicação: PSESS -Publicado em Sessão, Data 31/10/2006 )

CONCLUSÃODessa forma, pugna, o Ministério Público Eleitoral, pelo conhecimento dos recursoseleitorais e, no mérito: pelo provimento do recurso interposto pelo Ministério PúblicoEleitoral quanto ao registro de José Ribamar Barroso Baptista, no sentido do reformaa sentença de primeiro grau e indeferimento do registro de candidatura, ante aincidência da causa de inelegibilidade do art. 1º, I, “g”, da LC nº 64/90, ou, na hipótesede até a data do julgamento não ter sido obtido o efeito suspensivo da liminarpleiteada, que o registro seja deferido de forma condicional, utilizando-se o mesmoraciocínio do Art. 26-C da LC n° 64/90, ressalvando-se a hipótese de vir a serrestabelecida a causa de inelegibilidade.[…]”

Ao final de suas razões, o recorrente ainda cita a recente decisão do TSE no

Recurso Especial nº 23.383/Foz do Iguaçu/PR. Segundo o recorrente, neste recurso a Corte

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Superior Eleitoral teria decidido que as irregularidades nas contas, para atrair a pecha de

inelegibilidade, deveriam ser intencionais, ou seja, revestidas de dolo. E no caso de a Corte de

Contas assim não considerar deveria prevalecer a elegibilidade.

Contudo, a decisão do TSE não se aplica ao presente caso. Lá, a irregularidade

consistia na emissão de empenhos em valor superior às dotações orçamentárias; o TCM-

PR não imputara ao candidato a devolução de recursos ao erário, nem lhe impusera

multas, tampouco fizera menção a prejuízos à Administração Pública em decorrência dos

empenhos sem dotação orçamentária. Aqui o caso é bem diferente.

No Processo TCM nº 9992/02 (Contas de Gestão da Prefeitura Municipal de

Paracuru/CE – exercício 2001) houve aplicação de multa por descumprimento à Lei de

Licitações, o que, nos termos da mais consolidada jurisprudência pátria, configura ato

doloso de improbidade administrativa (in casu, houve ausência de licitação).

Já no Processo TCM nº 20262/04 (Tomada de Contas Especial da Prefeitura

Municipal de Paracuru – exercício 2001) também houve aplicação de multa, igualmente

diante do descumprimento da Lei nº 8.666/93 – falta de publicação de edital, falta de

nomeação de comissão, propostas de preços com preços rasurados, cláusulas de

contratação de material estranho ao certame, dentre outras irregularidades gravíssimas.

De modo que o TCM-CE aplicou multa no valor de R$ 6.384,60 (seis mil, trezentos e

oitenta e quatro reais e sessenta centavos) ao Prefeito Municipal, ora recorrente (além das

multas aplicadas aos membros da Comissão de Licitação).

Por fim, no Processo TCM nº 20686/2004 (Tomada de Contas Especial da

Prefeitura Municipal de Paracuru – exercício 2003), aquela Corte de Contas considerou

irreular a contratação de empresa terceirizada para realização de serviços considerados

essenciais, “que deveriam ser realizados mediante concurso público” – ressalte-se que a

despesa com a aludida contratação superou R$ 130.000,00 (cento e trinta mil reais). Por

estes motivos, o TCM-CE aplicou ao recorrente multa no valor de R$ 1.064,10.

Desta forma, ao contrário do que restou argumentado neste especial, nada há que

autorize a reforma do aresto lavrado pelo TRE-CE, merecendo ser mantido o indeferimento do

registro de candidatura do Sr. José Ribamar Barroso Batista ao cargo de prefeito de

Paracuru/CE.

CONCLUSÃO

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Ante o exposto, requer o Parquet Eleitoral o não provimento do recurso especial,

mantendo-se incólume a decisão objurgada, eis que a tentativa recursal de reexame da causa,

por meio de renovação de alegações, é vedada em sede de recurso especial.

Termos em que.

Pede Deferimento.

Fortaleza, 18 de setembro de 2012.

Márcio Andrade TorresProcurador Regional Eleitoral