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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE CONTRA O BULLYING NA ADOLESCÊNCIA: A ARTE DO ORIENTADOR EDUCACIONAL EM CULTIVAR AS RELAÇÕES CORRETAS Por Mara Moura do Nascimento Orientador Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

CONTRA O BULLYING NA ADOLESCÊNCIA: A ARTE DO ORIENTADOR EDUCACIONAL EM CULTIVAR AS RELAÇÕES CORRETAS

Por Mara Moura do Nascimento

Orientador Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas

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Rio de Janeiro

Abril/2005 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL PROJETO A VEZ DO MESTRE

CONTRA O BULLYING NA ADOLESCÊNCIA: A ARTE DO ORIENTADOR EDUCACIONAL EM CULTIVAR AS RELAÇÕES CORRETAS

Por Mara Moura do Nascimento

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Orientação Educacional. Orientador Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas.

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Rio de Janeiro

Abril/2005

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas da Pós-

Graduação em Orientação Educacional da

Universidade Candido Mendes, mestre querido

e corajoso, anjo fenomenológico, mestre que

abriu os olhares, mestre que mostrou como

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olhar o ‘mundo de verdade’, mestre que

assumiu a ponte da leitura, mestre amigo e

salvador, mestre paciente e irmão leitor, mestre

e anjo que leu tantos livros, mestre que lendo a

vida, ajudou muitas descobertas.

Obrigada,

DEDICATÓRIA

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Este trabalho é dedicado aos queridos colegas

professores que lutam por uma educação

transformadora, buscando um mundo melhor

para todos.

EPÍGRAFE

Somente um ser capaz de sair do seu contexto,

de “distanciar-se” dele para ficar com ele;

capaz de admirá-lo para, objetivando-o,

transformá-lo e, transformando-o, saber-se

transformado pela sua própria criação; um ser

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que é e está sendo no tempo que é seu, um ser

histórico, somete este é capaz, por tudo isto, de

comprometer-se. Além disso, somente este ser

é já em si um compromisso. Este ser é o

homem. (Freire, 1997 p. 16)

RESUMO

A pesquisa tem como objeto o estudo do fenômeno “bullying”,

relacionado ao ensino médio da rede pública carioca, procurando saber o

que pode ser feito nas escolas para minimizar o problema e ainda como o

Orientador Educacional pode auxiliar alunos e professores ligados ao

fenômeno. Através de uma pesquisa bibliográfica, no primeiro capítulo,

amparado por Paulo Freire, o estudo procurou entender sobre o conceito

“bullying”, observado a partir de duas concepções da educação. No

segundo capítulo, pautado em Edgar Morin, a pesquisa identificou a

competência do profissional para a construção da dignidade coletiva. E no

terceiro capítulo, empregou o compromisso conceituado em Rubem Alves,

onde o Orientador Educacional, engajado na educação do século XXI para a

orientação de professores e alunos em seu meio social, de acordo com suas

próprias normas e grupos, busca a felicidade de todos, a partir de um

trabalho efetuado em conjunto.

Palavras-chaves: fenômeno “bullying”, competência, orientador educacional,

compromisso

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

1. SOBRE O “BULLYING” E 13 AS CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO

2. A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A COMPETÊNCIA 23 NA CONSTRUÇÃO DA DIGNIDADE COLETIVA

3. A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O COMPROMISSO 34 DE FAZER PESSOAS FELIZES CONCLUSÃO 40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42

FOLHA DE AVALIAÇÃO 44

ÍNDICE 45

ANEXOS 46

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INTRODUÇÃO

Fiel ao compromisso de produzir um trabalho que representasse o produto final do

curso de Pós-Graduação em Orientação Educacional, da Universidade Candido Mendes, esta

pesquisa trata do tema sobre o trabalho desse profissional frente à questão do fenômeno

“bullying”.

O objeto da pesquisa foi estudar o fenômeno “bullying” mostrando a atuação do

Orientador Educacional carioca engajado em suprimir a intimidação escolar, a qual contraria a Lei

8069 de 13/07/1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) nos seus artigos 3 e 18,

cujo texto oferece espaço de flexibilidade para que os sistemas de ensino operem, criativamente,

os seus ordenamentos, fazendo ainda referências à liberdade e à autonomia relacionados ao

trabalho no Ensino Médio da rede pública.

A pesquisa apresenta as várias formas de “bullying”, acrescentando que podem

aparecer outras novas a serem faladas, mas mostra que também se deve combater as formas já

estabelecidas, para se criar novos combates as outras formas, com outros significados piores, mas

que com uma postura firme do Orientador Educacional não sejam levadas adiante dentro da

escola. Nesse caso, valem a perspicácia, os bons argumentos e muita atenção para as situações

que evidenciem violências, brincadeiras pesadas, leves, sutis e todo o tipo de abordagem nos

grupos.

Por isso, como objetivo da pesquisa procura-se compreender sobre o conceito

“bullying” em educação e o que pode ser feito pelo Orientador Educacional para minimizar o

problema junto aos adolescentes. E como este trabalho objetiva estudar o fenômeno “bullying”

presente na escola, tendo como “locus” o Ensino Médio no Rio de Janeiro, é relevante analisar o

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problema à luz das idéias de educadores que buscam soluções para o ensino brasileiro.

Assim, a metodologia foi realizada por uma pesquisa bibliográfica de três obras de

Edgar Morin, como também utilizando as idéias que permeiam o trabalho de dois educadores

nacionais, Paulo Freire e Rubem Alves, à luz de pressupostos teóricos e embasamento de

comentadores conhecidos, atuantes na última década dentro da sociologia do conflito, além de

trabalhos atuais sobre o fenômeno “bullying”. Dessa forma, o trabalho deve ser analisado do

ponto de vista da educação, da sociologia e da biologia.

Somente com idéias o Orientador Educacional pode pretender tomar as rédeas de

um problema tão presente no dia-a-dia escolar e prejudicial a muitos que têm o seu

devenvolvimento e sua vida seria perturbados.

Já que foi a partir da leitura de Hannah Green (1974), em Nunca lhe prometi um

jardim de rosas, que constatamos o quanto pode ser prejudicial para a formação de um

adolescente a perseguição sistemática, principalmente quando efetuada no ambiente escolar. E

como todo devedor é logo descoberto por qualquer credor, todo aluno com postura de “vítima”,

como que “favorece” ser encontrado por um “algoz” qualquer, ocorrendo as intimidações, as

humilhações constantes e as perseguições.

Em muitos casos, o resultado dessas perseguições, além de atingir profundamente os

perseguidos, também desencadeiam episódios de violência, como o protagonizado pelos dois

adolescentes em Columbine, que foi transformado no documentário “Tiros em Columbine”. Na

verdade, foram perseguidos e encontraram naquela violência uma forma de revidar a perseguição.

Foi uma vingança anunciada? Poderia ter sido evitada?

Segundo Fante (2005), a violência em razão do “bullying”, que antes ocorria de

forma esporádica, após a década de 90, transformou-se em trágicos casos seqüenciais de

assassinatos e suicídios no interior de várias escolas ao redor do mundo. Em 1997, na cidade de

West Paducah, Kentucky, um adolescente de 14 anos matou a tiros três companheiros de escola,

após a oração matinal, deixando mais cinco feridos. Em 1998, em Jonesboro, Arkansas, dois

estudantes, de 11 e 13 anos, atiraram contra a sua escola, matando quatro meninas e uma

professora. Também em 1998, em Springfield, Oregon, um adolescente de 17 anos matou a tiros

dois colegas e feriu mais vinte. Em 1999, foi o caso dos dois adolescentes, de 17 e 18 anos, que

provocaram a tragédia em Columbine, em Littleton, Colorado. Com explosivos e armas de fogo,

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assassinaram doze companheiros, um professor e deixaram dezenas de feridos. Em seguida,

suicidaram-se. Ainda em 1999, uma semana após o massacre de Columbine, em Taber, Canadá,

um adolescente de 14 anos disparou ao seu redor, matando um colega de escola. Outros

massacres ainda foram noticiados nessa mesma década de 90, na Escócia, no Japão e em vários

países africanos. Em novembro de 1999, na Alemanha, um estudante de 15 anos matou a facadas

uma professora. Em março de 2000, foi a vez de um aluno de 16 anos, que matou a tiros o

diretor da escola e depois tentou o suicídio. Em fevereiro de 2001, um jovem de 22 anos matou a

tiros o chefe de sua empresa, depois se dirigiu à sua ex-escola, matou o diretor e se suicidou com

explosivos. Na Alemanha, em abril de 2002, na cidade de Erfurt, um jovem de 19 anos chacinou

17 pessoas: duas garotas, 13 professores, uma secretária e um policial que atendeu ao chamado

de emergência, em seguida, suicidou-se.

Ainda conforme Fante (2005), em janeiro de 2003, em Taiúva, São Paulo, um

adolescente de 18 anos entrou em sua ex-escola, ferindo oito pessoas, dentre elas, seis alunos,

um funcionário e a vice-diretora, em seguida, suicidou-se. Em fevereiro de 2004, em Remanso,

Bahia, um adolescente de 17 anos matou a tiros um colega de escola de 13 anos, a secretária do

curso de informática e feriu mais três pessoas. E sua intenção era cometer suicídio, mas não deu

tempo pois conseguiram desarmá-lo. Em setembro de 2004, em Carmen de Patagones,

Argentina, após a execução do Hino Nacional, um adolescente de 15 anos, com uma pistola

9mm, matou quatro colegas de escola, três meninas e um menino, ferindo gravemente outros

cinco e, em estado de choque entregou-se à polícia.

O que precisa ser considerado é que em nenhum desses casos relatados houve

motivação reativa que fosse evidente, ou seja, não houve brigas, discussões ou desentendimentos

que fizessem com que os autores dos crimes, em momento de fúria, revidassem entrando nas

escolas para agirem da forma como fizeram. Muito pelo contrário, houve frieza no planejamento e

execução da violência. O que se sabe é que eram considerados diferentes da maioria, tendo

como característica comum, a timidez, grande dificuldade de relacionar-se com os colegas por se

sentirem rejeitados e, que, haviam sofrido algum tipo de perseguição, violência, situações

traumáticas na escola e por um período prolongado de tempo.

Dessa forma, a escolha do tema “bullying” é importante porque os intimidadores, os

violentadores e os perseguidores de alunos “vítimas” em escolas de ensino médio são uma

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preocupação em destaque nos tempos pós-modernos de tantas violências. A pergunta é: o que se

deve fazer?

O Orientador Educacional hoje precisa ter em mente que o resultado da ação

educacional na escola não pode ser fruto apenas de conhecimentos acumulados, mas também de

experiências sobre o aprender e de competências para viver aprendendo, conviver e sobreviver.

Portanto, não há condição do profissional de educação se manter isento ou ausente frente ao

problema do “bullying”, que é um grande inimigo a ser contestado dentro da sala de aula e dentro

da escola. É necessário aprender uma atitude para o combate sistemático do problema.

E, na observação do processo ensino-aprendizagem, o Orientador Educacional sabe

que sua relação pedagógica dialoga com os processos cognitivos de quem aprende, que são

todos, professores, alunos e funcionários, enquanto unificados com seus processos vitais, e isso

envolve a corporeidade inteira e os processos auto-organizativos do cérebro, da mente. Enfim,

sendo o “bullying” um tema de discussão recente, verifica-se poucas frentes de estudos ligados a

esta questão, o que exerce uma grande influência para se aprender mais sobre a atuação do

Orientador Educacional.

O tema constitui-se de relevância porque é muito instigante buscar uma postura

educacional preocupada com as ecologias cognitivas que propiciam experiências de

aprendizagem tanto para o agredido quanto para o agressor, através de uma ação inspirada na

“performance” dos educadores do Curso de Pós-Graduação em Orientação Educacional da

Universidade Candido Mendes.

Para desenvolver os estudos, a pesquisa foi dividida em três capítulos, procurando

compreender a linha de ação que pode ser tomada pelo Orientador Educacional objetivando

minimizar o problema junto aos adolescentes.

No primeiro capítulo, buscando analisar o fenômeno “bullying”, descobrindo mais

sobre os conflitos geradores e a violência vinculados ao tema, do ponto de vista do agredido e

também do agressor com Fante e Olweus, e, amparado por Paulo Freire, o estudo procurou

entender o fenômeno, a partir de duas concepções de educação; a bancária e a

problematizadora.

O segundo capítulo pautado em Edgar Morin, identifica a competência para a

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construção da dignidade coletiva. Por isso, a pesquisa busca mostrar que o trabalho do

Orientador Educacional nos dias atuais exige discernimento desse educador na sua interpretação

sobre o “bullying”, gerando variadas posturas frente ao problema, que se desdobra para além do

âmbito educacional. Qual seria a postura mais indicada?

Apesar de se ignorar como se daria a coincidência entre as vítimas e os seus algozes,

não há dúvida de que a relação pedagógica lida com o mais íntimo do funcionamento auto-

organizativo, a parte mais complexa do organismo humano de ambos, o que já é bastante para se

evitar e dirimir problemas de violência e perseguição entre alunos. Sendo assim, no terceiro

capítulo, empregando o compromisso conceituado em Rubem Alves, procura-se também

estabelecer qual a função do Orientador Educacional em relação ao fenômeno “bullying”.

Conseqüentemente, o Orientador Educacional engajado na educação do século XXI,

comprometido com uma educação de qualidade social, onde a diferença e a boa convivência

devem ter lugar de destaque, tornando-se princípios para a consolidação da sobrevivência, ao

orientar professores e alunos em seu meio social, deve buscar a felicidade de todo o grupo, mas

através de um trabalho efetuado com todos os envolvidos.

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1. SOBRE O “BULLYING” E AS CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO

O adolescente vitimizado pelo comportamento “bullying” sofre ao longo de vários

anos, em silêncio, muitas vezes na presença de professores nas salas de aula, nos ambientes da

escola, nos pátios, em diversos momentos. Em que tipo de escola? Em todas, nas escolas

públicas, nas escolas particulares, nas escolas pobres e ricas, nas escolas grandes e pequenas.

Porém, esta pesquisa está direcionada para a rede pública.

1.1. O que é o “bullying”?

“Bullying” palavra de origem inglesa, é adotada para definir o desejo consciente e

deliberado de maltratar e humilhar uma outra pessoa, para colocá-la sob estado de tensão. Este

termos, que também conceitua comportamentos agressivos e anti-sociais, é usado na psicologia

nos estudos sobre o problema da violência escolar.

O termo “bullying”, que é empregado na maioria dos países, além do Brasil vem de

“bully” traduzido como “valentão, tirano” e como verbo “brutalizar, tiranizar, amedrontar”,

segundo o Collins Gem Dictionary (1978, p.60).

Procurando em Machado (1977, p.179), o sentido etimológico de “humilhação”,

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percebemos que é um sentimento de ser ofendido, menosprezado, rebaixado, inferiorizado,

submetido, vexado, constrangido e ultrajado pelo outro. É, segundo Torrinha (1942, p.236),

sentir-se um ninguém, sem valor, inútil, magoado, revoltado, perturbado, mortificado, traído,

envergonhado, indignado e com raiva. A humilhação causa dor, tristeza e sofrimento.

Como o “bullying” trata-se de um comportamento agressivo e violento, foi

pesquisando na Enciclopédia Larousse Cultural (1998, p.1881), que anotamos como “violência,

ato de força, impetuosidade, acometimento, brutalidade, veemência.” Juridica- mente, “violência é

uma espécie de coação, ou forma de constrangimento, posta em prática para vencer a

capacidade de resistência de outrem, ou para demovê-lo da execução de um ato, ou para levá-lo

a executá-lo, mesmo contra a sua própria vontade.” (Plácido, 1980, p.634). O termo

“agressividade” também é polissêmico, sendo empregado em diversas situações, com vários

sentidos. De acordo com o Dicionário Ilustrado Koogan/Houaiss (2000, p. 286), é a “tendência a

atacar, a provocar”. Em psicologia é a “forma de desequilíbrio psíquico que se traduz por uma

hostilidade permanente diante de outrem. (2000, p. 289).

1.1.1. Sobre o “bullying” nas escolas

É a exposição dos alunos a situações humilhantes e constrangedoras, de forma

repetida e prolongada, onde há um desequilíbrio de poder. Tal desequilíbrio de poder estaria

caracterizado pelo fato de que a vítima não consegue se defender do agressor, por diversas

razões, por ser menor, por ter menos força, por estar sozinho contra um grupo, por ter pouca

habilidade de defesa, por ter menos competência para uma postura adequada em situações

problemáticas.

Segundo Fante (2005), o fenômeno “bullying” é mundial e tão antigo quanto a

própria escola. E apesar dos educadores terem consciência da problemática existente entre o

agressor e a vítima, poucos esforços foram despendidos para o estudo desse problema até a

década de 70.

A pesquisa de Fante (2005), revela que os atos de violência ou agressividade dos

alunos acontecem com grande freqüência, mas nem sempre são identificados pelos professores,

pois são explícitos ou velados, de acordo com a classificação: Primeiro, quanto ao grau: que se

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constitui na violência simples ou pontual; aquela em que um ou mais agressores atacam

esporadicamente uma vítima, motivados por um desentendimento que acaba gerando um conflito;

e violência complexa ou freqüente; aquela em que um ou mais agressores atacam habitual e

repetidamente uma mesma vítima, sem motivação evidente, este para a autora, o verdadeiro

“bullying”.

Em segundo lugar, quanto à forma; que para a mesma autora se apresenta como

violência direta; aquela executada contra as pessoas, interpessoal; violência indireta; a que se

realiza contra utensílios, bens ou patrimônios, gerando destroços, vandalismos, furtos; violência

implícita; que seria a velada; e violência explícita; a violência quando identificada.

Em seguida, a autora classifica quanto ao tipo de violência; violência física ou sexual;

violência verbal; violência psicológica, violência fatal. Depois quanto ao nível dos que realizam a

violência: discentes, docentes, funcionários, pais, instituição. E quanto às dimensões que tomam;

violência no interior da escola: quando abrange as relações interpessoais, microviolências, furtos,

uso e tráfico de armas e drogas; violência no entorno da escola: abrangendo também as relações

interpessoais, uso e tráfico de armas e drogas; e violência da escola: que seria a institucional e

simbólica, com a disciplinarização dos corpos e das mentes, com os métodos de ensino, com a

relação da comunidade escolar e quanto ao papel da escola.

Quanto às situações determinantes da violência, a autora ainda mostra: os fatores

biológicos, fatores pessoais, fatores familiares, fatores sociais, fatores cognitivos e fatores

ambientais. E quanto às conseqüências da violência, a mesma autora mostra as ocorrências em

três níveis: no corpo discente; disruption, disaffection, absentismo (ou falta de assistência às

aulas), problemas somáticos e psicológicos, ansiedade, tédio, depressão, desencanto pela escola,

queda do rendimento escolar, falta de perspectiva de futuro melhor via educação, queda da auto-

estima, evasão escolar, retenção escolar, descrença no poder público, fracasso. No nível do

corpo docente e no quadro de funcionários; desesperança e desencanto pela profissão,

absentismo, descrença no sistema educacional, queda da auto-estima, problemas somáticos e

psicológicos, síndrome de Burnout (problemas relativos ao estress profissional), descrença no

poder público. E no nível da família e da sociedade; falta de perspectiva de futuro melhor via

educação, desvalorização do ensino, descrença no sistema educacional, descrença no poder

público.

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Segundo Olweus (1998), é comum entre os alunos de uma classe a existência de

diversos tipos de conflitos e tensões. Há inúmeras outras interações agressivas, como diversão,

como forma de auto-afirmação, para os alunos comprovarem as relações de força entre si. E

caso exista em sala de aula um agressor em potencial ou vários, o comportamento agressivo

influenciará nas atividades dos outros alunos, provocando interações ríspidas, com forte

provocações e violências. O agressor possui, muitas vezes, um temperamento irritadiço,

precisando ameaçar e dominar os colegas pelo uso da força, e, qualquer adversidade ou

frustração menor que porventura apareçam, acabam por provocar reações intensas. Tais reações

assumem o caráter agressivo em virtude da tendência do agressor de empregar os meios violentos

em situações de conflito. O agressor, por sua força física, imprime ataques violentos,

desagradáveis e dolorosos aos demais colegas. E muitas vezes, esse agressor prefere atacar os

mais fracos, mas não tem medo de brigar com os fortes também, pois tem confiança em si mesmo

e sabe de sua força.

Ocorre, se há em sala de aula um aluno com características psicológicas como

ansiedade, insegurança, passividade, timidez, com dificuldade de se impor, de ser agressivo, e

muito habitualmente se mostra indefeso, esse aluno será descoberto pelo agressor. E será a vítima

ideal, pois conforme Olweus (1998), esse aluno representa o elo frágil da cadeia, já que o

agressor sabe que ele não vai revidar se atacado, que ele ficará aterrorizado, que ele pode até

chorar, mas não se defenderá e, ninguém, nem professores, nem os demais alunos o protegerá

dos ataque que receber.

O agressor, como todo covarde ataca a muitos, mas faz desse tipo de vítima o alvo

ideal. Olweus (1998) afirma que a ausência de defesa da vítima, a sua ansiedade e seu choro

produzem no agressor um sentimento de superioridade e satisfazem os seus impulsos. Em geral, o

agressor consegue fazer com que outros alunos se unam a ele nos ataques à vítima, seria o caso

das “gangues”. E ainda induz o grupo a escolher outras vítimas, através da aparência, do modo de

vestir, das maneiras, dos trejeitos que demonstrem ao grupo ser mais uma presa fácil para seus

ataque. O agressor sente prazer tanto em atacar as vítimas, quanto em ver os outros atacarem.

Caso seus atos produzam alguma conseqüência, o agressor tem sempre uma

estratégia inteligente para se sair bem. E na maioria das vezes, os professores e os outros

profissionais da escola nem percebem os ataques às vítimas, que ficam entregues a sua própria

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sorte para sofrer as humilhações.

Existem vítimas que contam aos responsáveis sobre o problema na escola, e

geralmente o desfecho é pior que se não contassem, pois os professores e a direção nada fazem,

ou pior, dão razão para o agressor, proporcionando as chamadas “revanches” e um

comportamento mais violento do que antes, por parte do agressor. Mas é mais comum que a

vítima não fale nem para os professores, nem para os responsáveis sobre o problema que lhe

acontece na escola. Como é comum, segundo Olweus (1998), que os outros alunos participem

dos maus-tratos à vítima, já que todos sabem, de um lado, que ele é frágil e não se atreveria a

revidar e, por outro lado, que nenhum dos alunos mais fortes sairão em sua defesa.

Portanto, os atos de “bullying” entre os alunos em sala de aula são caracterizados

conforme Fante (2005), como comportamentos produzidos de forma repetitiva num período

prolongado de tempo contra uma mesma vítima; apresentam uma relação de desequilíbrio de

poder, o que dificulta a defesa da vítima; ocorrem sem motivações evidentes; e são

comportamentos deliberados e altamente prejudiciais.

Para a mesma autora, os comportamentos “bullying” podem ocorrer de forma direta

e indireta, ambas prejudiciais ao psiquismo da vítima. A direta inclui agressões físicas como bater,

chutar, tomar pertences e agressões verbais como apelidar de maneira pejorativa e

discriminatória, insultos, constrangimentos, xingamentos. Enquanto a via indireta acontece

através da disseminação de rumores desagradáveis e desqualificantes, visando à discriminação e

exclusão da vítima de seu grupo social, por isso seja a que traz mais prejuízo à vítima.

As vítimas dentro da escola sentem-se, por um longo período de tempo, solitárias,

isoladas, incompreendidas, indefesas, desconectadas, quase que inalcançáveis pelos

procedimentos educacionais que preconizam a paz, o amor, a aceitação, o afeto, o respeito, a

tolerância, a amizade, a lealdade, o reconhecimento do direito de ser diferente, o senso de

proteção coletiva e a cidadania, conceitos que todos alunos têm direitos no âmbito escolar.

1.1.2. Sobre os atores do fenômeno “bullying”

Fante (2005) e Olweus (1998) são unânimes em classificar os papéis

desempenhados pelos atores envolvidos no problema:

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Vítima típica, a que serve de “bode expiatório” para um agressor ou um grupo. A

vítima típica é um indivíduo pouco sociável, que sofre repetidamente as conseqüências dos

comportamentos agressivos dos outros e que não dispõe de habilidades para reagir ou fazer

cessar essas condutas prejudiciais.

Vítima provocadora, a que provoca e atrai reações agressivas, mas que não

consegue lidar com a agressão de modo eficiente. Essa vítima tenta brigar ou responder quando é

atacada ou insultada, mas geralmente de maneira ineficaz.

Vítima agressora, a que reproduz os maus-tratos sofridos. Essa vítima, ao passar por

situações de sofrimento na escola, tende a procurar alunos mais fracos ainda que ele para

transformá-los em “bodes expiatórios”, na tentativa de transferir os maus-tratos sofridos, uma

tendência que se evidencia entre as vítimas, fazendo com que o fenômeno “bullying” se transforme

numa dinâmica expansiva, aumentando o número de vítimas.

Agressor, o que vitimiza os mais fracos. O agressor, de ambos os sexos, costuma ser

alguém que manifesta pouca empatia com o próximo. É comum ser membro de família

desestruturada, onde há pouco ou nenhum relacionamento afetivo. Os responsáveis exercem

supervisão deficitária e são também agressivos e violentos na solução de conflitos. O agressor se

apresenta muito forte, da mesma idade ou mais velho que suas vítimas, e sente uma necessidade

de dominar os outros, de se impor mediante o poder e a ameaça e de conseguir o que se propõe.

É mau-caráter, impulsivo, irrita-se facilmente e tem baixa resistências às frustrações.

Expectador, é o aluno que presencia o “bullying”, mas não o sofre nem o pratica,

representando a grande maioria dos alunos que convive com o problema e adota a “lei do

silêncio” por temer se transformar em novo alvo para o agressor. Mesmo não sofrendo as

agressões diariamente, muitos se sentem incomodados, e outros reagem de modo negativo, pois o

direito em um ambiente seguto e solidário foi violado, e isso influencia sua capacidade e progresso

na vida escolar e social.

1.2. O “bullying” na concepção bancária

A Lei nr 8069 de 13/07/69 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), expressa

claramente nos artigos:

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Art. 3 - A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.

Art. 18 - É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

Obviamente, o fenômeno “bullying” contraria frontalmente a lei, podendo os

educadores serem processados, caso algo mais grave aconteça, uma vez que o agressor é o

principal culpado, mas tanto a omissão dos profissionais da escola, quanto a negligência e a

indiferença no tocante ao problema, conduzem a uma participação na violência praticada, e se

não ativa, uma participação passiva, logo sujeita à punição na forma da lei.

Razão pela qual, é importante que o educador tenha consciência de que sua postura

precisa estar pautada em uma concepção de educação que não produza omissão e sim atitudes

práticas para combater o problema do “bullying”.

A concepção bancária, criticada por Freire (1998), tem a função de transmitir ao

aluno, de forma mecânica, conhecimentos historicamente construídos por meio do principal

agente, que é o professor. Nesta concepção, a relação entre o professor e o aluno se dá de forma

vertical, numa relação de poder, onde o professor, que é considerado o único detentor do saber

no processo ensino x aprendizagem e em poder da palavra, ocupa posição superior em relação

ao aluno que espera, passivamente, receber todos os ensinamentos.

“Desta maneira, a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são

os depositários e o educador o depositante.” (Freire, 1998 p.58), por essa razão denominada

“bancária”.

A educação bancária classificada ainda como “domesticadora”, leva o aluno à

memorização dos conteúdos transmitidos, impedindo o desenvolvimento da criatividade, e sua

participação ativa no processo educativo, tornando-o submisso perante as ações opressoras de

uma sociedade excludente, como a sociedade carioca.

“Nesta visão, ao receberem o mundo que neles entra, já são seres passivos, cabe à

educação apassivá-los mais ainda e adaptá-los ao mundo. Quanto mais adaptados, para a

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concepção “bancária”, tanto mais “educados”, porque adequados ao mundo.” (Freire, 1998

p.63).

Logo, nesse tipo de educação não há construção do conhecimento em busca da

transformação e superação das dificuldades sociais, como a violência, como o “bullying”, pelo

contrário, com o objetivo apenas de transmitir valores e conhecimentos de forma simplificada e

fragmentada, esse tipo de ensino anula o poder criativo e participativo do aluno, contribuindo para

que o aluno não se sinta sujeito capaz de participar do processo de construção de sua história,

contribuindo para sua timidez.

E se o aluno, já é tímido e inseguro, quando afetado pela violência, que não é

solucionada pelos profissionais da escola, nem pelos pais, torna-se ainda mais tímido e mais apto

a sofrer os maus-tratos.

Na educação bancária para o sucesso da aprendizagem é fundamental que haja

disciplina em sala, que é imposta pelo professor. Por isso, há que se ter obediência em sala de

aula e silêncio para garantir que os conteúdos determinados pela cultura dominante sejam

transmitidos pelo professor sem interferências externas. E se há uma violência velada bem

presente na sala de aula? Até porque a vítima do “bullying” se sente culpada pela própria violência

sofrida.

Logo, a prática “bancária” é também antidialógica, porque não proporciona que

todos os sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem possam refletir sobre as suas

realidades (ação-reflexão-ação), o que impede que tenham uma clara conscientização da posição

social em que vivem, gerando cada vez mais violência, já que reprova as manifestações que não

participam das normas estabelecidas para aquele contexto de sala de aula.

Por isso, tal concepção contribui cada vez mais para o agravamento da violência

escolar, pois sendo a escola instrumento de transmissão de cultura da classe dominante, ela acaba

por discriminar outras manifestações culturais presentes em seu interior.

O aluno com uma postura diferente, tanto o agressor, quanto a vítima, ou com um

arsenal de cultura diferente daquele que a escola transmite, sente-se excluído, sem espaço para

falar de seu mundo, suas mazelas e é levado a acreditar que há apenas uma maneira correta de se

viver, que não é a sua. Com isso, a sua identidade e perspectivas de um futuro positivo diminuem

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e pensam que “não têm mais nada a perder”, denunciam a discriminação da qual são vítimas, por

meio de violência, no caso do agressor, e, por meio de silêncio, no caso da vítima, que são

atitudes incômodas entendidas como “bullying”.

O “bullying” é uma manifestação cultural, criada por um ou mais alunos violentos, que

garante um espaço próprio de atuação e poderio, diferente do imposto pelos responsáveis e

professores, e mantida por uma vítima também violenta que colabora através de sua postura para

a manutenção do esquema violento, por uma prática silenciadora, onde apenas a fala do professor

omisso é valorizada.

Seria uma espécie de resistência do agressor ou agressores e vítima, para estarem

sempre ameaçando a ordem estabelecida na escola, que se friamente analisada nessa concepção

estabeleceria desacato e indisciplina.

Ou seja, na “concepção bancária”, o “bullying” é de responsabilidade apenas do

aluno que o pratica e do aluno que o sofre, pois sendo o professor a figura central do processo

ensino-aprendizagem e o único que detém o saber, somente a ele se deve todo o respeito. Aliás,

é de responsabilidade mais da vítima, que deve sofrer calada, pois se o professor tomar

conhecimento e manifestar intenção de solucionar o problema, geralmente premia o agressor, a

fim de não ter dificuldades em sala, recorrendo aos auxílios do agressor para atividades em sala,

para as chamadas, para apagar o quadro e até para indicações como representante de turma,

conforme o procedimento na rede pública de ensino carioca.

A educação bancária com o objetivo de controle dos alunos é necrófila, pois auxilia a

violência do “bullying”, já que não dando oportunidade de expressão e de esperança ao aluno,

sujeito recriador do mundo, “nutre-se do amor à morte e não do amor à vida”. (Freire,1988 p.

65)

1.3. O “bullying” na concepção problematizadora

Nesta concepção, educar é um ato de amor, respeito às desigualdades, às diferentes

visões de mundo, trocas de experiências entre educador e educando, por isso precisa haver

diálogo, pois o processo quer ser libertador,

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(...) pois é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não podendo reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro nem tampouco tornar-se simples troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes. (Freire, 1998 p. 79)

O diálogo deve existir na ação, na reflexão e novamente na ação, logo na práxis, pois

o educando ao refletir e denunciar o problema no mundo educacional, age para a sua

transformação. A prática educativa, o diálogo, ocorre numa relação horizontal, o educador assim

como o educando buscam saber mais, para uma solução em conjunto.

Nesse contexto onde há participação do aluno e o controle externo não é um

aspecto que integra esse tipo de educação, uma violência como o “bullying” também é encarada

diferentemente. Por que o agressor estaria agindo dessa maneira? A vítima não fica em posição

de culpada pela agressão.

De acordo com os conceitos da concepção problematizadora, o “bullying” é da

alçada pedagógica e entendido como parte da organização estruturada daquele contexto

específico de educação, surgindo como resultado de indisciplina contra a autoridade, contra o

compromisso dos alunos e contra a competência do professor.

Portanto, a finalidade da prática disciplinar contra o “bullying” não é a de silenciar a

vítima, mas de ultrapassar os limites do que é espontâneo e do conhecido como senso comum.

Por isso, como de alçada pedagógica, precisa colaborar com o desenvolvimento da autonomia

intelectual da vítima, e da autodisciplina do agressor, aspectos importantes para a libertação de

ambos das injustiças sociais, já que também o agressor se constitui numa outra vítima em outro

contexto, estando em sala de aula apenas revidando e reproduzindo o que recebe, fazendo novas

vítimas, e estas por sua vez, procurarão fazer outras, numa seqüência em cadeia. Mas “essa

disciplina tem de ser construída e assumida pelos alunos”. (Freire, 1998 p. 83)

Dessa forma, o professor tem um papel importante nesse processo, não figurando de

modo central, mas coordenando o processo educativo, já que, usando sua autoridade

democrática, cria, em conjunto com todos os alunos, um espaço pedagógico interessante,

estimulante e desafiador, onde deve ocorrer a construção de um conhecimento significativo.

Não mais uma vítima, um agressor e vários espectadores omissos, e sim uma vítima

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com voz, um agressor com autodisciplina e espectadores que denunciem as injustiças em sala de

aula. É possível? O “bullying” passa a ser encarado, nesse caso, como uma manifestação ativa, no

caso do agressor, passiva, no caso da vítima e dos espectadores, que está denunciando para o

educador uma insatisfação social, inclusive insatisfação pelo tipo de educação praticada na escola

e até em sala de aula.

Diante disso, cabe ao Orientador Educacional que atua por uma visão progressista

desenvolver um trabalho pedagógico a partir dessa realidade violenta em que a escola está

envolvida. Logicamente, sem permanecer nas preocupações e necessidades apresentadas pela

vítima, pois isso só iria contribuir para o aumento da violência, mas partindo das necessidades da

vítima para que, os alunos possam entender a realidade da vítima, dos espectadores e do

agressor, uma realidade da qual fazem parte e onde podem intervir conscientemente para torná-la

melhor.

Como diz Rodrigues (1997) que a escola por sua estrutura rígida não consegue

assimilar as diferenças e considera indisciplina tudo que foge aos padrões estabelecidos, por esse

motivo, na concepção problematizadora deve ser prática constante no espaço escolar, superar

essa indisciplina, através da valorização das relações interpessoais, do pensamento crítico, da

construção coletiva de princípios éticos em sala de aula, da participação, criatividade, respeito e

da conscientização de que todos, alunos e profissionais da educação, têm possibilidades de

conhecer o mundo, buscando uma sociedade mais justa.

E se na educação bancária há uma contribuição para a imobilidade social, na

educação problematizadora há ênfase para que haja sempre mudança e transformação,

principalmente quando há casos de violência como o “bullying”.

2. A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A COMPETÊNCIA

NA CONSTRUÇÃO DA DIGNIDADE COLETIVA

O Orientador Educacional precisa estar ciente que o fenômeno “bullying” vem sendo

praticado há muito tempo, se bem que nem os alunos, nem os profissionais de educação que

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presenciam a violência entre alunos, conferem ao fenômeno a devida atenção, muitas vezes por

pensar que tais atitudes seriam “brincadeiras próprias da idade” ou mesmo por falta de

informações. Mas é necessário que o educador saiba que o fenômeno além de estar se

disseminando por nuances cada vez mais veladas, íntimas e cruéis, provoca danos psicológicos,

às vezes graves às vítimas, desencadeando muitas tragédias. A vítima fica tão acostumada a ser

atacada, que chega até a estranhar quando pouco hostilizada, já que no fundo, acredita mesmo

não ter valor e que seja merecedora dos ataques. Aos poucos vai se isolando da classe, e sua

reputação vai se tornando cada vez pior entre os colegas, ficando evidente para todos que não

serve para nada. E a vítima que introjeta bem o estigma, arquiteta as piores vinganças.

Para organizar um trabalho competente que influencie nas atitudes violentas entre o

agressor e a vítima, o profissional necessita, acima de tudo, conhecer as formas de agressão, pois

somente assim pode planejar a intervenção educacional adequada.

De acordo com Olweus, entenderíamos esse comportamento violento como uma:

Conduta de perseguição física ou psicológica que o aluno ou a aluna realiza contra o outro, que escolhe como vítima de repetidos ataques. Essa ação, negativa e intencional, coloca as vítimas em posições das quais dificilmente podem sair pelos próprios meios. A continuidade dessas relações provoca nas vítimas efeitos claramente negativos: diminuição de sua auto-estima, estados de ansiedade e inclusive quadros depressivos, o que torna difícil sua integração ao meio escolar e o desenvolvimento normal das aprendizagens. (1998: 46)

Por essas indicações, somos advertidos sobre a intencionalidade do agressor, a

reiteração da conduta e as conseqüências negativas que causam na vítima. Estando sempre

presentes essas características, a agressão adquire formas distintas, que devem ser propagadas e

divulgadas diariamente na escola.

Portanto, o Orientador Educacional que tem consciência de seu trabalho junto aos

alunos e professores, precisa estabelecer campanhas sistemáticas de divulgação sobre o “bullying”

para que todos conheçam o problema, saibam das conseqüências para as vítimas, na busca de um

entendimento conjunto para solução do problema. As agressões são objetos de quadros

informativos que devem estar ao alcance de todos.

2.1. Tipos de manifestação agressiva

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EXCLUSÃO SOCIAL

AGRESSÃO VERBAL AGRESSÃO FÍSICA INDIRETA AGRESSÃO FÍSICA DIRETA AMEAÇAS E CHANTAGENS ASSÉDIO SEXUAL

IGNORAR EXCLUIR INSULTAR FALAR MAL DO OUTRO BOTAR APELIDOS ESPALHAR BOATOS ESCONDER COISAS QUEBRAR COISAS ROUBAR COISAS BATER AMEAÇAR PARA PROVOCAR MEDO OBRIGAR A FAZER ALGO COM AMEAÇAS AMEAÇAR COM ARMAS ASSEDIAR SEXUALMENTE

Fonte: OCDE, 1998.

2.2. Avaliação dos professores sobre o “bullying”

Segundo conversas com alguns professores de um colégio estadual de Ensino Médio

no Rio de Janeiro, sem estabelecermos uma pesquisa, apenas constatamos que entre seis

problemas de relevância, o “bullying” ocupa a última preocupação dos profissionais. Numa ordem

de imporância, os professores priorizaram os problemas de aprendizagem dos alunos, a falta de

participação das famílias, a falta de recursos humanos e materiais, a instabilidade do orçamento

educacional, a comunicação e a relação entre os professores e finalmente, os conflitos e as

agressões entre os alunos.

Os professores ao serem questionados sobre a importância dada a diferentes tipos

de conflito oriundos pela convivência na escola, novamente explicitaram gazeta, alunos que não

permitem que se dê aula, vandalismo e destruição de objetos e materiais da escola, abuso entre

alunos e por fim falaram do mau comportamento e agressões dos alunos.

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Questionados sobre as causas que poderiam atribuir às agressões em suas escolas,

os professores discorreram, em grau de importância sobre o aumento da intolerância,

personalidade do aluno, ampliação da idade escolar, falta de disciplina escolar, contexto social,

organização e clima da escola, problemas familiares e incorporação de outros segmentos ao

Ensino Médio da escola, como o primeiro e segundo segmentos do Ensino Fundamental.

Quando se perguntou sobre os tipos de agressões presenciadas pelo professores em

sala de aula e em escalada de importância, explicitaram as ações de: insultar, destruir objetos,

divulgar boatos danosos, roubar, ridicularizar, intimidar com ameaças, agredir fisicamente e ter

implicância. Ou seja, as ações mais presentes na violência do “bullying” seriam as últimas em grau

de importância para os professores.

Alguns professores garantiram que não presenciam agressões entre alunos, porém

outros confirmaram que a violência existe. Para os que confirmaram foi questionado sobre a

conduta em sala de aula diante da agressão. Em grau de importância estabeleceram: falar a sós

com o agressor, falar sobre o tema em aula, comunicar ao diretor para sanção, falar com a

família, redigir uma comunicação, encaminhar ao Serviço de Orientação Educacional (SOE),

propor como pauta na reunião do Conselho de Classe, por para fora de sala de aula, mudar o

aluno de lugar, um não soube responder, ignorar o fato e denunciar o agressor às autoridades.

Foi perguntado aos professores, se a direção do colégio tomasse conhecimento do

“bullying” em sua sala de aula, qual deveria ser a punição aplicada pela escola? Em grau de

importância responderam que a escola deveria aplicar punições diretas, expulsar do colégio

público, propor mudança de colégio, fazer denúncias à polícia.

Aos professores que admitiram a existência do “bullying” foi perguntado sobre os

aspectos principais das escolas que são ineficazes em combater a violência. Em grau de

importância estabeleceram: a crença de que a mudança afeta a outros, a atribuição de causa dos

problemas a causa externa, incapacidade de pensar novas alternativas, ausência de um projeto

político pedagógico consistente, tensões nas relações entre os professores, falta de liderança na

equipe de direção, saudade de tempos passados, dificuldades na relação entre a comunidade

escolar, baixas expectativas, práticas ineficazes em salas de aula, pouca vinculação e

compromisso.

Uma questão pode ser levantada sobre o “bullying”. E quando os professores são

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parte direta do conflito? Um dado altamente negativo do ponto de vista da percepção como

também da intervenção, pois se o “bullying” praticado entre alunos já é uma situação terrível,

pode-se imaginar a situação do “bullying” praticado entre professor e aluno.

Pelos resultados das agressões dos alunos aos professores, publicados pela imprensa

e analisados por Fante (2005), fica evidenciado que a forma mais habitual em que o conflito

professor x aluno se produz é o insulto. A agressão do aluno ao professor, muitas vezes por

vingança, se constrói a partir da agressão inicial do professor a esse aluno, através de diferentes

modos de ridicularizar o aluno, insultar e ter implicância.

O Orientador Educacional precisa estar consciente de todos esses aspectos para

implantação de um programa de ação que promova, de forma eficiente, a diminuição do

problema.

2.3. Os cenários da agressão conforme os alunos

Dependendo do tipo de agressão, os estudantes discriminam o lugar em que foram

maltratados. A sala de aula se constitui como o cenário mais repetido de agressões, se bem que

nem todas ocorram nela. É o cenário privilegiado para os insultos, apelidos e até assédio sexual,

segundo Fante (2005). Mas tem importância para ações contra as propriedades dos alunos,

como quebrar, destruir ou roubar coisas.

Os banheiros são o cenário em que se escondem coisas. Vários tipos de agressão,

como bater, falar mal dos outros, a exclusão social, as ameaças sem armas, têm cenários mais

bem distribuídos dentro da escola e fora dela. As ameaças com armas ocorrem fora da escola,

com mais freqüência, e é nos banheiros onde se realizam, quando ocorrem na escola. (Fante,

2005).

Na comparação entre o trabalho de Fante (2005), observando os alunos e na

pesquisa informal com os professores, fica claro que os professores não consideram tanto quanto

os alunos que a sala de aula seja o cenário privilegiado da agressão, em particular agressões

graves como agressões físicas diretas, ameaças, chantagens e assédio sexual. Os professores

desconhecem que os banheiros são o lugar onde com maior freqüência os alunos escondem as

coisas de suas colegas vítimas.

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A visão diferente que professores e alunos têm da aula como cenário de agressões

poderia ter diversas explicações. Por exemplo, os professores têm menor capacidade de

perceber o que sucede nas salas de aula, principalmente quando estão ausentes, nas mudanças de

aula.

2.4. A Orientação Educacional, o conhecimento e a condição humana

Como o Orientador Educacional pode ter acesso às informações sobre o contexto

escolar, tendo a possibilidade de articular e organizar essas informações, percebendo cada um em

sua individualidade na formação do todo escolar e este em um sistema mais complexo?

Recorremos a Morin (2002), para pensarmos numa resposta que melhor indicasse

um caminho em educação que atacasse por completo o “bullying”. Para isso devemos ter em

mente sobre os erros e as ilusões inerentes ao conhecimento, já que todos ensinam e todos

aprendem no processo ensino-aprendizagem, mas é importante que o educando esteja seguro no

aspecto erro e ilusão para que na vivência diária haja lucidez e discernimento quanto às diversas

cegueiras paradigmáticas que elucidam, mas cegam, revelam, mas ocultam, abrangendo diferentes

tipos de equívocos e erros mentais, intelectuais e da razão. Deve ficar portanto claro que a

primeira impressão nem sempre é a correta, muito menos as idéias das quais nos apossamos, pois

o inesperado vive a nos surpreender e a incerteza do conhecimento é a marca das teorias abertas.

Concordamos com Morin, quando diz:

É impressionante que a educação que visa a transmitir conhecimentos seja cega quanto ao que é o conhecimento humano, seus dispositivos, enfermidades, dificuldades, tendências ao erro e à ilusão, e não se preocupe em fazer conhecer o que é conhecer. De fato, o conhecimento não pode ser considerado uma ferramenta ready made, que pode ser utilizada sem que sua natureza seja examinada. Da mesma forma, o conhecimento do conhecimento deve aparecer como necessidade primeira, que serviria de preparação para enfrentar os riscos permanentes de erro e de ilusão, que não cessam de parasitar a mente humana. Trata-se de armar cada mente no combate vital rumo à lucidez. É necessário introduzir e desenvolver na educação o estudo das características cerebrais, mentais, culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas quanto culturais que o conduzem ao erro ou à ilusão. (2002, p.13-14)

A enfermidade citada por Morin, pode muito bem ser o “bullying” entre os alunos,

que precisa ser combatido com todas as armas de que pode dispor o profissional de educação.

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Podemos, em seguida, articular com Morin (2002) sobre os princípios do

conhecimento pertinente a ser abordado pelo Orientador Educacional, pois é através de vários

meios, além da escola, que o educando tem acesso às informações sobre o mundo. Mas a

maioria tem a possibilidade de articular e organizar tais informações? Os alunos e até mesmo os

professores conseguem perceber o contexto, o global, a relação todo/partes, o multidimensional,

o complexo? Diante dessas questões, o autor indica a reforma do pensamento, que deve ser

paradigmática e não programática, já que todos precisam saber que se de um lado a escola

possui os saberes divididos, compartimentados, de outro lado a mesma escola participa de

problemas multidisciplinares, transnacionais, globais e planetários.

Razão pela qual o conhecimento pertinente que abrange o contexto, com os saberes

isolados são insuficientes. Também aquele conhecimento que abrange o global, as relações entre

o que é importante saber e as especialidades não atinge o que é multidimensional. Não alcança o

aluno em sua inteireza, em termos biológicos, psíquicos, social, afetivo, racional, já que esse

aluno ainda pertence a uma sociedade com diversas características históricas, econômicas,

sociais, religiosas. Ou seja, ainda impede que se atinja o complexo dentro da concepção global.

É importante que o Orientador Eeducacional tenha seguro que a inteligência geral,

ocasiona a antinomia, a contradição que impera na sociedade e no ser humano, como os

progressos gigantescos criados por homens desunidos pela forte especialização e enfraquecidos

na solidariedade e na responsabilidade. Essa desunião é que leva o aluno a praticar o “bullying”

contra aquele aluno fraco e com problemas. Por isso, descatamos a posição do mesmo autor:

Existe um problema capital, sempre ignorado, que é o da necessidade de promover o conhecimento capaz de aprender problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais e locais. A supremacia do conhecimento fragmentado de acordo com as disciplinas impede freqüentemente de operar o vínculo entre as partes e a totalidade, e deve ser substituída por um modo de conhecimento capaz de apreender os objetos em seu contexto, sua complexidade, seu conjunto. É necessário desenvolver a aptidão natural do espírito humano para situar todas essas informações em um contexto e um conjunto. É preciso ensinar os métodos que permitam estabelecer as relaçoes mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo. (Ibidem, p.14)

Quando o educador procura ensinar a condição humana, ele quer compactuar com

Morin (2002) que propõe a compreensão da vida e de nós mesmos como o princípio e o fim da

educação. Mas para se compreender a vida, o enraizamento e desenraizamento do ser humano

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se faz necessário conhecer as nossas condições cósmicas, físicas, terrestres e humanas. Ou seja,

o ser humano aprendendo a conhecer o humano em suas esferas física, individual e social, não

tem tempo para o “bullying”, conforme o mesmo autor diz:

O ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser humano. É preciso restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência, ao mesmo tempo, de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos. Desse modo, a condição humana deveria ser o objeto essencial de todo o ensino. (...) é possível, com base nas disciplinas atuais, reconhecer a unidade e a complexidade humanas, reunindo e organizando conhecimentos dispersos nas ciências da natureza, nas ciências humanas, na literatura e na filosofia, e põe em evidência o elo indissolúvel entre a unidade e a diversidade de tudo que é humano. (Ibidem, p.15)

O Orientador Educacional precisa ter em mente que todos têm que conhecer a

identidade terrena, pois o aluno, esse futuro homem do século XXI precisa refletir sobre seus

problemas e os problemas de seu tempo, para viver solidariamente. Se esse homem não for

ensinado a compreender a mundialização, que com Jacques Levy seria “o surgimento de um

objeto novo, o mundo como tal”, a globalização, a complexidade, a ter um pensamento

policêntrico, só poderá absorver o pior do legado do século XX, como a sua herança de morte,

das armas nucleares, da AIDS, das bactérias erradicadas que retornam com força total, com sua

falta de amor, com o “bullying”. Mas, segundo Morin (2002) há esperança justamente com a

contribuição solidária do pensamento que emerge contra o status quo e que auxilia o jogo da vida

na contradição das possibilidades que surgem. E de acordo com as palavras do autor:

O destino planetário do gênero humano é outra realidade-chave até agora ignorada pela educação. O conhecimento dos desenvolvimentos da era planetária, que tendem a crescer no século XXI, e o reconhecimento da identidade terrena, que se tornará cada vez mais indispensável a cada um e a todos, devem converter-se em um dos principais objetos da educação. Convém ensinar a história da era planetária, que se inicia com o estabelecimento da comunicação entre todos os continentes do século XVI, e mostrar como todas as partes do mundo se tornaram solidárias, sem, contudo, ocultar as opressões e a dominação que devastaram a humanidade e que ainda não desapareceram. Será preciso indicar o complexo de crise planetária que marca o século XX, mostrando que todos os seres humanos, confrontados de agora em diante aos mesmos

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problemas de vida e de morte, partilham um destino comum. (Ibidem, p.15-16)

O que leva o Orientador Educacional a pensar como enfrentar as incertezas e

preparar os alunos a entender o que o século XX descobriu e passou para o século XXI, senão

a perda do futuro e a imprevisibilidade da história humana? Morin (2002) nos adverte para a não

linearidade da história que criadora e destruidora originam um mundo incerto, mas ao

enfrentarmos as incertezas, nos encaminhamos a novas aventuras, desafios que nos trazem outras

estratégias de ação, como a atuação através da solidariedade. Por isso é importante que se

realize um trabalho para dirimir o “bullying”, pois o fenômeno não pode ceifar vidas na frente de

educadores com braços cruzados. Com muita propriedade o estudioso mostra que:

As ciências permitiram que adquiríssemos muitas certezas, mas igualmente revelaram, ao longo do século XX, inúmeras incertezas. A educação deveria incluir o ensino das incertezas que surgiram nas ciências físicas (microfísicas, termodinâmica, cosmologia), nas ciências da evolução biológica e nas ciências históricas. Seria preciso ensinar princípios de estratégia que permitiriam enfrentar os imprevistos, o inesperado e a incerteza, e modificar seu desenvolvimento, em virtude das informações adquiridas ao longo do tempo. É preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos de certeza. A fórmula do poeta grego Eurípedes, que data de 25 séculos, nunca foi tão atual: “O esperado não se cumpre, e ao inesperado um deus abre o caminho”. O abandono das concepções deterministas da história humana que acreditavam poder predizer nosso futuro, o estudo dos grandes acontecimentos e desastres de nosso século, todos inesperados, o caráter doravante desconhecido da aventura humana devem-nos incitar a preparar as mentes para esperar o inesperado, para enfrentá-lo. É necessário que todos os que se ocupam da educação constituam a vanguarda ante a incerteza de nossos tempos. (Ibidem, p.16)

O passo seguinte seria o ensino da compreensão, que somente se alcança através da

solidariedade, pois de que outra forma o Orientador Educacional pode orientar o aluno seguindo

a missão espiritual da educação, ou seja, a compreensão? Morin (2002) estabelece a existência

de duas compreensões, uma intelectual mais objetiva e outra humana, por isso intersubjetiva,

alertando para que a educação identifique sempre os obstáculos à compreensão como os ruídos,

a polissemia e a ignorância, os valores, os imperativos éticos, as idéias e até a estrutura mental de

cada um. Dessa forma, importa que o Orientador Educacional procure junto ao aluno e aos

profissionais da educação a superação do egocentrismo e o espírito redutor, objetivando a ética

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da compreensão, do “bem estar”, da introspecção, que não compactue com a violência, que

procure acabar com o “bullying” nas escolas, aliás comum na atualidade.

Há necessidade de que todos tenham consciência da complexidade do homem, e

que melhor lugar senão a escola para mostrar a nossa abertura subjetiva, simpática em relação

aos nossos pares, ao outro? A vítima do “bullying”, nesse caso, consegue um destacado apoio

do autor, já que há necessidade da interiorização da tolerância, para se compreender as éticas e

as culturas, que sendo meio acaba por ser fim da comunicação, conforme o autor evidencia:

A compreensão é a um só tempo meio e fim da comunicação humana. Entretanto, a educação para a compreensão está ausente do ensino. O planeta necessita, em todos os sentidos de compreensão mútua. Considerando a importância da educação para a compreensão, em todos os níveis educativos e em todas as idades, o desenvolvimento da compreensão pede a reforma das mentalidades. Esta deve ser a obra para a educação do futuro. A compreensão mútua entre os seres humanos, quer próximos, quer estranhos, é daqui para a frente vital para que as relações humanas saiam de seu estado bárbaro de incompreensão. Daí decorre a necessidade de estudar a incompreensão a partir de suas raízes, suas modalidades e seus efeitos. Este estudo é tanto mais necessário porque enfocaria não os sintomas, mas as causas do racismo, da xenofobia, do desprezo. Constituiria, ao mesmo tempo, uma das bases mais seguras da educação para a paz, à qual estamos ligados por essência e vocação. (Ibidem, p. 17)

O Orientador Educacional precisa conhecer sobre a ética do gênero humano, que

Morin (2002) estabelece como a antropo-ética, mostrando como esse pensamento nos instrui a

assumir a missão antropológica do milênio, pois só assim poderemos compreender a esperança

na completude da humanidade, que se apresenta na consciência individual além da

individualidade. E assim, orientar sobre a complexidade da democracia e numa posição dialógica,

mostrar o futuro dessa democracia, caso o “bullying” continue a existir, impedindo o

desenvolvimento da cidadania. Por isso concordamos com as palavras de Morin:

A educação deve conduzir à “antropo-ética”, levando em conta o caráter ternário da condição humana, que é ser ao mesmo tempo indivíduo/sociedade/espécie. Nesse sentido, a ética indivíduo/espécie necessita do controle mútuo da sociedade pelo indivíduo e do indivíduo pela sociedade, ou seja, a democracia; a ética indivíduo/espécie convoca, ao século XXI, a cidadania terrestre. A ética não poderia ser ensinada por meio de lições de moral. Deve formar-se nas mentes com base na consciência de que o humano é, ao mesmo tempo, indivíduo, parte da sociedade, parte da espécie. Carregamos em nós esta tripla realidade. Desse modo, todo desenvolvimento verdadeiramente humano deve

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compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana. Partindo disso, esboçam-se duas grandes finalidades ético-políticas do novo milênio: estabelecer uma relação de controle mútuo entre a sociedade e os indivíduos pela democracia e conceber a Humanidade como comunidade planetária. A educação deve contribuir não somente para a tomada de consciência de nossa Terra-Pátria, mas também permitir que esta consciência se traduza em vontade de realizar a cidadania terrena. (Ibidem, p.18)

Enfim, contra o “bullying” faz-se necessário uma educação visando aumentar

gradualmente a autonomia e o auto-controle na personalidade dos educandos, conforme

Martinelli (1996). Não se trata de ensinar virtudes, impor conceitos, mas de facilitar a

autodescoberta de virtudes individuais, já que o adolescente no Ensino Médio que desenvolve um

bom caráter pela conscientização de suas virtudes terá um comportamento de acordo com os

valores vivenciados e internalizados. Desse modo, ele não pautará as suas ações por agressões e

violências, mas por uma convicção interior do que seja a afetividade.

Como metas importantes para uma educação que dê combate ao “bullying” na

escola, o Orientador Educacional aprende com Martinelli (1996) que precisa:

Conduzir os alunos ao caminho do autoconhecimento e auto-realização pelo

desenvolvimento integral da personalidade e da espiritualidade, independentemente de religião ou

credo;

Fomentar o espírito de equipe, a criatividade, o respeito às diferenças, assim como

a solidariedade e o amor pelos outros e pela natureza;

Auxiliar os alunos na descoberta de suas capacidades e estimular esses alunos a

empregar seus talentos a serviço da escola, da família e até da comunidade;

Livrar os alunos do medo e da culpa impostos culturalmente, mostrando que a

felicidade é o estado natural do ser humano.

Mostrar aos alunos que o poder está na boa qualidade do caráter e no

autoconhecimento e não no dinheiro e coisas que se compra e se adquire;

Demonstrar que o progresso do homem é seu auto-aprimoramento e que esse

aperfeiçoamento traz o progresso social;

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Cultivar os valores humanos, os bons costumes e a compreensão do homem como

um ser cósmico;

Despertar nos alunos a consciência de que eles serão as lideranças que

estabelecerão os moldes da sociedade futura;

Demonstrar que a educação, tanto a que se recebe em família, quanto a que se

recebe na escola são complementares. E que a educação espiritual, não é doutrinação nem

catequese, já que corresponde ao desejo essencial do ser humano de experienciar o sagrado sem

priorizar nenhuma forma de culto ou religião;

Vivenciar o amor como fundamento da fraternidade entre todos e vivenciar a paz

como valorização da vida.

Enfim, pensar no afeto como um valor que propicia a aquisição do conhecimento,

precisa ser a idéia fundamental do Orientador Educacional, pois assim o educando constrói a

auto-realização e define o propósito de sua vida, além de ter o pensamento reconstruído para

atingir a necessidade social-chave, que segundo Morin (2002) seria transformar-se num cidadão

capaz de enfrentar os problemas de seu tempo, uma vez que, segundo o próprio autor (2002),

uma cabeça bem-feita é uma cabeça capaz de organizar os conhecimentos e que evita com isso, a

acumulação de informações inúteis.

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3. A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O COMPROMISSO DE FAZER PESSOAS FELIZES

Em relação à pesquisa informal com os professores e a pesquisa de Fante (2005)

com os alunos, duas conclusões podem ser extraídas. Uma seria que o “bullying” acontece nas

escolas públicas do Ensino Médio carioca, apresentando tipos diversos de agressão, se bem que

a incidência do fenômeno não chega a alarmar. Outra seria que a forma de combate ao “bullying”

se restringe a medidas meramente preventivas e não sancionadoras.

Marchesi (2004) sugere três medidas necessárias para se combater o “bullying” nas

escolas: A primeira seria um direcionamento para o aumento da conscientização do problema, o

que deveria assegurar estudos periódicos sobre o problema, em diferentes frentes e níveis,

federal, estadual e municipal. Como os alunos têm mais informações que os professores, é

importante que sejam produzidas várias análises das relações interpessoais na escola, para que os

professores participem com os alunos na obtenção de dados para a identificação do problema. O

problema apesar de ocorrer na escola, suas causas e até as suas soluções não precisam limitar-se

ao ambiente escolar. Portanto, há necessidade de outros contextos educacionais, como a família,

as associações, a mídia e qualquer outro que tenha um conhecimento sobre a natureza do

fenômeno “bullying”, as causas e a prevenção.

A segunda medida seria o conhecimento de que o “bullying” se constitui numa

agressão que acontece na escola, mas não é o único fenômeno de violência, já que o agressor,

por sua vez, também é vítima em outros contextos de violência. Por isso, o Orientador

Educacional precisa estar ciente de que para combater o “bullying”, há necessidade de

convivência entre todos os que compõem a comunidade escolar; a própria escola, a família e a

comunidade, colocando-os a par da situação. Porque o ideal seria não somente evitar o

“bullying”, mas trazer para a escola o enfoque da prevenção, que consiste em metas prioritárias

para se desenvolver as capacidades sociais de todos, alunos e professores. E nesse aspecto, o

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enfoque do ensino de valores se torna de grande importância, logo o currículo precisa dar a

mesma importância às capacidades emocionais e sociais como dá às capacidades intelectuais.

Como intervenção educacional, pouco adiantam as atuações isoladas com os

envolvidos no “bullying”; agressor, vítima e expectadores, se o modelo da escola não ensinar

modos práticos de relacionamento entre todos; professores, profissionais da educação, alunos e

familiares. Daí a necessidade de se estabelecer instrumentos e recursos mais adequados para

melhorar a convivência nas escolas. Ainda tratando da intervenção, outra medida de combate ao

“bullying” se constituiria no esclarecimento contínuo, progressivo e sistemático aos professores,

através dos cursos de formação, dos iniciais até às pós-graduações, palestras, simpósios,

seminários e diferentes formas de denúncias sobre o problema. É do conhecimento de todos que

um assunto por demais enfocado, perde a força, mas como não há um esclarecimento

generalizado, os professores precisam estar cientes desse problema que se estabelece em suas

salas de aula, para realizarem um trabalho dentro do processo de ensino-aprendizagem que tenha

como meta prioritária a educação social.

A terceira medida de combate ao “bullying” nas escolas seria situar o problema dessa

violência escolar dentro de um contexto mais amplo, já que a educação não se esgota no

processo escolar. E se na sociedade não há responsabilidade de se educar contra a violência, na

família, na mídia, na comunidade, por mais esforço que tenha a escola, através de profissionais

engajados em dirimir o problema, é muito difícil solucioná-lo. Portanto, há necessidade que as

administrações, as secretarias de ensino, as comunidades autônomas dos estados e municípios

que trabalhem com educação formal e informal analisem o fenômeno “bullying” e juntos

proponham também sua intervenção.

3.1. O principal compromisso contra o “bullying”

O compromisso do Orientador Educacional que busca dirimir o problema do

fenômeno “bullying” dentro da escola, principalmente junto aos adolescentes, seres em formação,

precisa estar condizente com os ensinamentos de Alves (2003), através de suas lições sobre os

moluscos.

Para o autor, o molusco que é a metáfora do homem, com o corpo mole, ou seja

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indefeso e solto numa natureza cheia de predadores, desenvolve uma concha a fim de se proteger,

e a conha do homem? Seria, segundo Alves (2003) recorrendo a Piaget, o conhecimento que o

homem constrói para sobreviver.

Enquanto os moluscos já nascem sabendo, seus corpos já nascem com um detector

de todas as informações necessárias para construção das conchas protetoras, os seres humanos

não nascem sabendo. Daí termos que aprender, sendo esse o sentido da educação: as gerações

anteriores ajudam as novas gerações a arte de se contruir conchas.

Diante da presença do fenômeno “bullying”, que se constitui numa realidade em todas

as escolas, seja em turnos, áreas de localização, tamanho, cidades, séries, ou públicas ou

privadas, o Orientador Educacional precisa saber que acontece em qualquer tempo e em

qualquer escola, para estar atento sobre a responsabilidade em relação aos moluscos-vítimas que

sentem medo e vivem aterrorizadas, estando atento também aos demais moluscos-expectadores

que se envolvem no problema e não sabem o que fazer. É necessário e urgente que os envolvidos

criem suas conchas protetoras.

Sobre o agressor, que age individualmente, sua ação se transforma num trabalho

coletivo, pois se irradia através dos admiradores que repetem suas agressões. O poder desse

agressor se baseia na força destacada dentro do grupo, que pode ser física ou psicológica, e

muitas vezes se transforma num modelo a ser seguido, já que muitos expectadores temendo se

transformar em vítimas, tornam-se também agressores. Para Fante (2005), as causas desse

agressor, se deve à carência afetiva, ausência de limites e modo de afirmação do poder de seus

pais, onde se incluem os maus-tratos físicos e as explosões emocionais violentas. E essas causas

podem ser traduzidas na necessidade do agressor em reproduzir os maus-tratos e na ausência de

uma educação de valores.

Para o Orientador Educacional a educação de valores seria a primeira pista na

construção das conchas protetoras para todos, vítimas, agressor e expectadores. E que valor

poderia ser destacado? A auto-estima.

3.1.1. Identificação dos envolvidos no “bullying”

De acordo com Dan Olweus (1998), para que o Orientador Educacional identifique

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as vítimas, precisa observar alguns comportamentos; se durante os intervalos, ou no recreio o

aluno estiver freqüentemente isolado e separado do grupo, ou procura ficar próximo do professor

ou de algum adulto; se na sala de aula o aluno tem dificuldade de falar diante dos demais,

mostrando-se inseguro ou ansioso; se nos trabalhos em grupo, jogos em equipe é o último a ser

escolhido; se o aluno comumente, se apresenta com aspecto contrariado, triste, deprimido ou

aflito; se o aluno apresenta desleixo gradual nas tarefas escolares; se o aluno ocasionalmente,

apresenta contusões, feridas, marcas roxas, cortes, arranhões, roupa rasgada, de forma que não

seja natural; se o aluno falta às aulas com certa freqüência; e se o aluno perde, de modo

constante, os seus pertences.

Alguns pontos importantes servem ao profissional, para identificar o agressor com

seu comportamento: se é um aluno que faz brincadeiras, faz gozações, além de rir de modo

desdenhoso e hostil; se é um aluno que coloca apelidos nos demais; se é um aluno que chama

pelo nome, ou pelo sobrenome os colegas, de forma maldosa, insultante, menosprezando,

ridicularizando, difamando; se esse aluno faz ameaças, se dá ordens, se subjuga os colegas; se é

um aluno que incomoda, intimida, empurra, picha, bate, dá socos, pontapés, beliscões, puxa os

cabelos, rasga as roupas dos demais, se envolve-se em discussões, bate-bocas,

desentendimentos; se pega dos outros colegas materiais escolares, dinheiro, lanches e outros

pertences, sem consentimento.

Outros pontos de destaque servem para o Orientador Educacional recomendar aos

pais sobre os filhos que podem estar sendo vítimas na escola; se o aluno apresenta, com

freqüência, dores de cabeça, falta de apetite, dor de estômago, tonturas, principalmente, de

manhã; se o aluno muda o humor de forma inesperada, apresentando explosões de irritação; se o

aluno regressa da escola com as roupas rasgadas, sujas, com o material escolar danificado,

mochilas rasgadas, réguas quebradas etc.; se o aluno apresenta desleixo gradual nas tarefas

escolares; se o aluno apresenta aspecto contrariado, triste, deprimido, aflito ou infeliz; se

apresenta contusões, feridas, cortes, arranhões, marcas ou estragos na roupa; se o aluno

apresenta desculpas para faltar às aulas; se raramente, possui amigos, ou possui um amigo para

compartilhar seu tempo livre; se pede dinheiro extra à família ou furta; se apresenta gastos altos na

cantina escolar.

Há ainda pontos a serem destacados pelo Orientador Educacional para as famílias

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dos agressores; se o aluno regressa da escola com as roupas amarrotadas, mas com ar de

superioridade; se apresenta atitude hostil, desafiante e agressiva com os pais e irmãos, chegando a

ponto de atemorizá-los sem levar em conta a idade ou a diferença de força física, se é habilidoso

para sair-se bem de “situações difíceis”; se exterioriza ou tenta mostrar sua autoridade sobre os

outros em casa; se porta objetos, dinheiro, sem justificar a origem.

Enfim, são várias pistas que dão ao Orientador Educacional, condições para estar

atento ao fenômeno “bullying” nas escolas da rede pública. E em conseqüência, no auxílio das

vítimas, dos expectadores, dos profissionais de educação e familiares. Com isso, pode sempre

estar atento ao problema, ajudando o trabalho do professor, solicitando a colaboração dos

funcionários escolares e colaborando com os familiares, no enfoque preventivo de apoio às

vítimas.

Todas essas características são importantes para o trabalho do Orientador

Educacional e seu compromisso de desenvolver a auto-estima dos envolvidos.

3.1.2. O compromisso de superação do “bullying”

O Orientador Educacional precisa estar em contato com as várias áreas do saber

para tomar emprestado imagens, explicações e soluções que tragam uma superação ao problema

do “bullying”.

As biociências, como informa Assmann (1998) descobriram que a vida é nada mais

que uma persistência de processos de aprendizagem, e os seres vivos são os que conseguem

manter, de forma autopoiética, a sua adaptação e a dinâmica de continuar aprendendo. Como na

metáfora de Alves (2003) sobre os moluscos, as conchas são as adaptações que os educandos

fazem para sobreviver no enfrentamento de problemas.

Tirando emprestado da física, a psicologia hoje já traz para as pessoas a “resiliência”,

como sendo a qualidade que pode ser desenvolvida, cultivada por qualquer um para se tornar

resistente às frustrações, problemas, tornando-se hábil na solução de problemas intra e

interpessoais. Outra forma dos moluscos-vítimas adaptarem suas conchas.

Nas escolas de Nova York, segundo Castro (2005), foram distribuídos em setembro

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de 2004, perto de 2 milhões de cartilhas para que os adolescentes pudessem crescer resistentes.

E como qualquer aluno pode desenvolver a capacidade de resistir e de crescer em meio a

sucessivos problemas, constituindo suas conchas adaptadas, o Orientador Educacional pode

intervir junto à direção escolar, nos projetos. Pode trabalhar junto aos professores em relação às

denúncias sobre o “bullying”, interferindo nas reuniões, nos planejamentos, currículos, avaliações,

dinâmicas em salas de aulas. Pode ainda ajudar os familiares colocando-os em contato com os

problemas. E muito mais, pode auxiliar os alunos produzindo, por exemplo o manual de

superação do “bullying”.

Sobre o manual, que pode-se tomar emprestado na “resiliência”, a vítima nos

momentos de crise, precisa formular uma explicação sobre o que está acontecendo, analisando as

circunstâncias, os fatos e as razões do agressor e dos expectadores. A vítima deve aprender, com

uma boa bagagem de auto-estima, a entender seus sentimentos em relação ao problema,

pensando também no que iria fazer ao sair da crise, já que fica mais fácil suportar a dor ao se

imaginar no futuro. Isso previne, inclusive, dos futuros casos de vinganças violentas. Sendo o

tempo que rege o resiliente, o tempo presente, a vítima precisa mudar a sua situação, estudar,

conviver e ser livre.

Cabe ao Orientador Educacional estabelecer vínculos entre as vítimas e as pessoas

que podem representar coragem e estímulo, sem que os alunos esperem que um deles faça o

papel de “salvador da pátria” para tirá-los do fundo do poço. Já que todos precisam saber que a

melhor saída é sempre aquela que a própria vítima encontre. Por isso, as pequenas vitórias têm

que ser valorizadas. E as vítimas precisam se lembrar como as conquistaram, para ver se podem

repetir. É isso que traz autoconfiança.

Com isso, o Orientador Educacional além de proporcionar a auto-estima, lembra a

todos os envolvidos no problema que não devem pensar só em si mesmos, mas em todos que se

beneficiarão com cada conquista individual, e todos que poderão tomar as histórias individuais

como exemplo.

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CONCLUSÃO

Visando um trabalho contra o “bullying” na adolescência, a pesquisa procurou

decifrar como o Orientador Educacional pode minimizar o problema no currículo oculto da

escola, isto é, a violência entre alunos dentro das práticas, dos ensinos e conhecimentos e até

como regras no cotidiano escolar, que não figuram na programação oficial do dia-a-dia escolar,

que não são detectados pelos professores, mas são sistemáticos e compactuados por vários

expectadores.

O trabalho procurou analisar a arte do Orientador Educacional, levando em conta

que as vítimas do “bullying”, geralmente, não violam a lei do silêncio e temem denunciar seus

agressores ou por conformismo ou por vergonha de se expor ou por medo de conseqüências

piores. Por isso, a hipótese trabalhada por uma ação pautada no ensino, na amostragem de pistas,

insinuando ações, foi confirmada, inclusive, através da idéia de um manual de superação do

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problema, que passa por esse caminho. A metáfora da raposa velha também se confirma como

um caminho a ser trilhado pelo profissional que queira enfrentar o “bullying” nas escolas, porque

sem denúncia, para identificar o problema, só mesmo tendo muita perspicácia e para combatê-lo

só com muita discussão sobre o assunto com toda a comunidade escolar.

O profissional da educação empenhado no combate ao “bullying” precisa saber que

os alunos são diferentes, que a igualdade não é a norma, que os alunos se desenvolvem e

aprendem de forma diferente e precisam ser considerados nas suas diferenças. Quando o

educador passa a acreditar que o normal é ser diferente, ele caminha para uma situação de

educação, preocupado com a classe toda e com todos. Ele consegue mudar de paradigma,

consegue sair da concepção bancária para a problematizadora. E ao estar mais atento a estas

preocupações, o profissional vai buscar incluir o aluno, buscando perceber o perfil de diferenças

que há em sua sala de aula, percebendo a violência. E quem, senão o Orientador Educacional,

para alertar o professor?

Portanto, como sugestão para futuros trabalhos, há necessidade de se indicar o

estudo do fenômeno “bullying” no ensino fundamental, porque nesse âmbito escolar começam a

despontar as primeiras agressões e é um momento para se direcionar um estudo sobre valores na

vida dos alunos que iniciam o autoconhecimento.

Outra sugestão para o estudo do fenômeno “bullying” seria uma análise do problema

sob a ótica psicopedagógica, porque assim a pesquisa estaria voltada para as dificuldades de

aprendizagem enfrentadas pelas vítimas como decorrência da violência sistemática.

O problema do “bullying” relacionado à pedagogia empresarial, seria mais uma

indicação de pesquisa, pois as perseguições que se iniciam na esfera escolar são transferidas ou

reproduzidas no âmbito profissional e são também sistemáticas, produzindo efeitos nocivos no

mercado de trabalho quando, mais do que nunca, precisamos discutir sobre os homens e os

valores dentro do sistema capitalista globalizado.

Enfim, para que educamos? Na hora que o Orientador Educacional se faz essa

pergunta, se remete aos primórdios gregos e em especial a Morin (2002), que nos dão propósitos

para serem seguidos sempre; educar para cidadania, para formar valores, porque se pensarmos

no aluno que é perseguido e sofre violência dentro da escola, verificamos que ele está tendo o seu

direito de cidadania negado. Por isso deve-se pensar que valores se discute na escola, pois a

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sociedade sem valores não vai a lugar algum, já que são os valores que normatizam as ações na

escola e fora da escola. Temos que ter uma escola que eduque de acordo com as idéias de

Platão, para o bom, o belo e o verdadeiro. O que é isso? Aquilo que seja bom, belo e verdadeiro

para a sociedade que acreditamos que deva ser uma sociedade, onde as pessoas possam viver

mais harmonicamente e mais justamente.

Temos a solução aristotélica; educar para a felicidade, pois temos que ter um lugar

de pessoas felizes. Escola não é lugar de perseguição, de violência, de insucesso atrás de

insucesso. Não é boa a escola que permite o “bullying” entre seus alunos. E temos ainda a

solução de Morin (2002) já analisada na pesquisa; educar para a compreensão.

Isso porque, todos os envolvidos com a educação, os profissionais, pais, alunos e

escolas, que se assumem na sociedade do futuro, devem tratar dos valores com destaque, uma

vez que o progresso acontece quando há integração de conhecimento intelectual e valores, que

vão revelar qual o papel do homem na sociedade.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

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PROJETO A VEZ DO MESTRE

CONTRA O BULLYING NA ADOLESCÊNCIA: A ARTE DO ORIENTADOR EDUCACIONAL EM CULTIVAR AS RELAÇÕES CORRETAS

DATA DA ENTREGA: 09/04/2005

AVALIADO POR: _________________________________GRAU: _____

Rio de Janeiro, RJ, ______ de _______________ de 2005.

ÍNDICE

CAPA 01 CONTRA-CAPA 02 AGRADECIMENTOS 03

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DEDICATÓRIA 04 EPÍGRAFE 05 RESUMO 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08 1. SOBRE O “BULLYING” E AS CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO 13

1.1. O que é o “bullying”? 13 1.1.1. Sobre o “bullying” nas escolas 14 1.1.2. Sobre os atores do fenômeno “bullying” 17 1.2. O “bullying” na concepção bancária 18 1.3. O “bullying” na concepção problematizadora 21 2. A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A COMPETÊNCIA NA 23 CONSTRUÇÃO DA DIGNIDADE COLETIVA 2.1. Tipos de manifesação agressiva 24 2.2. Avaliação dos professores sobre o “bullying” 24 2.3. Os cenários da agressão conforme os alunos 26 2.4. A Orientação Educacional, o conhecimento e a condição humana 27 3. A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O COMPROMISSO 34 DE FAZER PESSOAS FELIZES 3.1. O principal compromisso contra o “bullying” 35 3.1.1. Identificação dos envolvidos no “bullying” 36 3.1.2. O compromisso de superação do “bullying” 38 CONCLUSÃO 40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42

FOLHA DE AVALIAÇÃO 44

ÍNDICE 45

ANEXOS 46

Page 48: CONTRA O BULLYING NA ADOLESCÊNCIA: A ARTE DO … MOURA DO NASCIMENTO.pdf · problema do “bullying”, que é um grande inimigo a ser contestado dentro da sala de aula e dentro

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ANEXOS