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Revista de Educação da Universidade do Vale do Itajaí Programa de Mestrado Acadêmico em Educação (PMAE) volume 8 - n. 2 - Itajaí, mai/ago 2008 CONTRA PONTOS CONTRA PONTOS ISSN 1519-8227 001-iniciais-161-186.indd 161 001-iniciais-161-186.indd 161 14/10/2008 16:48:06 14/10/2008 16:48:06

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Revista de Educação da Universidade do Vale do Itajaí

Programa de Mestrado Acadêmico em Educação (PMAE)

volume 8 - n. 2 - Itajaí, mai/ago 2008

CONTRA PONTOSCONTRA PONTOS

ISSN 1519-8227

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Reitor Prof. José Roberto Provesi, PhD.

Vice-ReitorProf. Mário César dos Santos, MSc.

Procurador GeralProf. Vilson Sandrini Filho

Secretário ExecutivoNilson Scheidt

Pró-Reitora de EnsinoProfª. Drª Amândia Maria de Borba

Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e CulturaProf. Dr. Valdir Cechinel Filho

Coordenadora da Editora UnivaliProf. Rogério Corrêa

CapaRogério Marcos Lenzi sobre detalhes das obras, de:

“Galleria Umberto”, de 1925, de Max Beckmamm, “Prometheus brings fire to mankind”, - em destaque - de 1817, de F. H. Füger, e

“A incredulidade de São Tomé”, de 1601, de Caravaggio.

Projeto Gráfico e Diagramação(DeskTopPublishing)Rogério Marcos Lenzi

RevisãoProfª. Ana Cláudia Reiser Melo, MSc

Equipe de apoioDaniella Haedchen

Mariana Soares da Silva (PMAE)

Distribuição para todo o Brasil através da Editora da Univali

Rua Uruguai, 458 - Caixa Postal 360CEP. 88302-202 - Itajaí - SC - Brasil

Fone/Fax:(47) 3341-7645www.univali.br/editora

e-mail: [email protected] de impressão: ago / 2008.

Tiragem: 1000 exemplares.Periódico de Educação

Qualis / CAPESNacional B

Aceita-se Permuta.Exchange Accepted.

Indexação nas Bases de Dados do Sistema Integradode Bibliotecas da Univali (SIBIUN), Sociological Abstract,

Edubase (UNICAMP), Latindex, IRESIE e GeoDados

ContrapontosRevista Quadrimestral de Educação da

Universidade do Vale do ItajaíVolume 8 - n. 2 - mai / ago 2008

Comissão EditorialProfª. Drª Valéria Silva Ferreira

Prof. Dr. Rogério Christofoletti (editor)Profª. Drª Solange Puntel Mostafa

Conselho EditorialAntonio Fernando Guerra - Univali, Itajaí (SC-Brasil)

Antonio Joaquim Severino - USP, São Paulo (SP-Brasil)Bernardete Gatti - PUC, São Paulo (SP-Brasil)

Betânia Leite Ramalho - UFRN, Natal (RN-Brasil)Cássia Ferri - Univali, Itajaí (SC-Brasil)

David Midletton – University of Loughborough (United Kington)Diana C. de Carvalho - UFSC, Florianópolis (SC-Brasil)Elisabeth

Caldeira - Univali, Itajaí (SC-Brasil)Fortunata Pisselli - Univ. de Nápoles, Nápoles (Itália)

Jadir Pessoa - UFG, Goiânia (GO-Brasil)Jonathan Tudge – North Caroline University (USA)

José Augusto Pacheco - Universidade do Minho, Minho (Portugal)Jesus Alvarenga Bastos - UFF, Niterói (RJ-Brasil)

Luciane Maria Schlindwein - Univali, Itajaí (SC-Brasil)Lucídio Bienchetti - UFSC, Florianópolis (SC-Brasil)

Maria Emília Nabuco – Instituto Politécnico de Lisboa (Portugal)Maria Helena Cordeiro - Univali, Itajaí (SC-Brasil)

Marilene Proença - USP, São Paulo (SP-Brasil)Mariluce Bittar - UCDB, Campo Grande (MS-Brasil)

Marta Maria Pontin Darsil - UFMT, Cuiabá (MT-Brasil)Roberta Azzi - Unicamp, Campinas (SP-Brasil)

Rosa Maria Bueno Fischer - UFRGS, Porto Alegre (RS-Brasil)Susana Molon - FURG, Rio Grande (RS-Brasil)

Pareceristas ad hocMarilda Aparecida Behrens (PUC-PR)

Adriana Amaral (Universidade Tuiuti do Paraná)Angela Carrancho da Silva (Cesgranrio)

Raquel de Almeida Moraes (UnB)Zeina R. Corrêa Thomé (UFAM)

George França dos Santos (Unitins)

TraduçãoProfª. Cynthia C. Ebert Philipps, MSc

Profª. Fiona Oliver Robson, MScProfª. Márcia Sarubbi, MSc

Trabalhos para publicação e correspondência deverão ser remetidas para:

Comissão Editorial da Revista ContrapontosRua Uruguai, 458 Bloco 07 - Sala 106CEP. 88302-202 - Itajaí - SC - Brasil

Fone/Fax:(47) 3341-7516www.univali.br/contrapontos

e-mail: [email protected]

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central Comunitária - UNIVALI

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Editorial

Antes de ler este editorial, volte à capa desta edição da CONTRAPONTOS. Bem no centro, em destaque, está um recorte de Prometheus brings fi re to manking, tela de Heinrich Fueger, de 1817. A imagem ilustra o célebre episódio da mitologia grega em que Prometeu rouba o fogo dos deuses e o entrega aos mortais, provocando a ira do Olimpo e iniciando uma nova era para os seres humanos. Consta que Prometeu foi o criador da humanidade, já que construiu o corpo do primeiro homem, misturando barro e suas próprias lágrimas. A deusa Atena introduziu alma ao artefato, surgindo daí o ser humano. Ao surrupiar uma fagulha do carro de Apolo, Prometeu repassou aquela maravilha aos homens, modifi cando por completo sua permanência sobre a Terra. O furto permitiu o encontro da primeira tecnologia. Com o fogo, os homens puderam proteger-se do frio, cozinhar seus alimentos, iluminar suas noites, forjar suas armas. Enfi m, distanciaram-se das outras formas de vida no planeta, para o bem e para o mal.

Esta é uma forma mítica de contar a emergência da tecnologia e o seu vínculo indissolúvel com a própria trajetória da humanidade. Tantos aspectos distinguem o homem de outros animais, e o ato contínuo de transformar a si e o seu entorno por meio da tecnologia é um dos mais evidentes. Nos últimos tempos, é comum associar a idéia de tecnologia a equipamentos de informática, a sistemas complexos de computação e a simbioses eletrônico-metal-mecânicas. Mas a tecnologia transcende a tudo isso. Basta lembrar-se do fogo de Prometeu. No universo da Educação, giz e lousa permitiram desempenhos melhores nos processos de ensino e aprendizagem; a organização de currículos e a sistematização de saberes dispersos possibilitaram a concentração de esforços para um ensino mais efetivo; e o próprio livro como objeto de transmissão e circulação de conhecimento pode ser considerado uma tecnologia no repasse de dados e informações.

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Hoje, o tema das tecnologias na educação é amplo e complexo, já que o surgimento da Internet e o crescimento da importância das mídias na vida cotidiana contagiaram os debates na escola e fora dela. Diante desse cenário, o segundo número da CONTRAPONTOS deste ano oferece aos seus leitores um dossiê sobre Tecnologia e Inovação Pedagógica.

Começamos com uma refl exão de caráter panorâmico de Vieira e Castanho, que discutem a infl uência da revolução da informação na sociedade atual, entre outros aspectos. Na seqüência, em artigo enviado do Acre, Mendes se apropria dos blogs pessoais para pensar esses recursos da Internet para a delimitação das identidades dos sujeitos, demonstrando ainda como são ‘fl uídas e múltiplas’ essas identidades.

Molin apresenta um estudo sobre a aplicação de projetos de aprendizagem numa experiência pedagógica em escola pública em Balneário Camboriú (SC). Seu objetivo principal foi apontar, na prática, o desenvolvimento de processos de aprendizagem, utilizando-se de tecnologias digitais. Os resultados encontrados indicaram, entre outros pontos, que a proposta favorece o “desenvolvimento de um processo dialético da construção do conhecimento, capaz de romper com os paradigmas tradicionais e disciplinares da escola”.

Mostafa se concentra no conteúdo programático e nas estratégias de ensino de mídia-educação em cursos de Pedagogia. Sua pesquisa observa preferências e aceitações de estudantes desses cursos diante dos tópicos especiais oferecidos na temática.

Na seqüência, outros três artigos associam o uso de novas tecnologias e a educação ambiental. Costa Silva e Grillo propõem a adoção de jogos educativos como instrumentos de ensino no entorno da Reserva Ecológica de Gurjaú, em Pernambuco. Bona, por sua vez, volta seu olhar para o cinema infantil – mais precisamente o fi lme Os Trapalhões na Terra dos Monstros –, para salientar seu apelo à preservação ambiental e conseqüentes contribuições para intervenções semelhantes. Guerra e Moser relatam experiências sobre uso de materiais pedagógicos impressos, audiovisuais e digitais em formação continuada de professores.

De Santa Maria (RS), Delpretto, Fortes e Freitas narram episódios marcantes do Programa de Incentivo ao Talento (PIT), que dá atendimento especializado a alunos com altas habilidades ou superdotação. Fechando o dossiê temático desta edição, Lacerda e Ferri reportam uma atividade lúdica que permitiu compreender como os alunos se apropriam de conhecimentos estatísticos e em quais situações houve desenvolvimento de habilidades cognitivas. A iniciativa foi motivada diante das

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difi culdades observadas nas aulas de Estatística, tanto pela falta de compreensão de sua aplicação quanto pelo nível de abstração exigida.

Na Seção do Professor, Oliveira e Alencar descrevem características do professor e de um ambiente que facilita a criatividade no contexto escolar. Para tanto, apresentam pesquisas que já assinalaram características de docentes criativos.

Na entrevista desta edição, Seligman contatou por e-mail o professor espanhol Joan Ferrés, nome internacionalmente consagrado nos estudos sobre o uso dos meios de comunicação na educação. Com vários livros traduzidos para o português, Ferrés nos convida a olhar a Educação para a Mídia associando competências intelectuais e a fruição de sensações. Aliás, não teria sido essa mesma combinação de determinação racional e afeto à humanidade que motivou Prometeu a contrabandear o fogo dos deuses?

Boa leitura!

A Comissão Editorial

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Sumário

Dossiê Tecnologia e Inovação Pedagógica

DOSSIÊ ARTIGOS / DOSSIER ARTICLES

SOCIEDADE ATUAL E REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO: ganhos e perdas ................................................................................................. 171PRESENT DAY SOCIETY AND THE INFORMATION REVOLUTION: gains and lo s s e s

Tatiana Cuberos VieiraMaria Eugênia Castanho

BLOG PESSOAL: a busca da identidade do sujeito no mundo mediado pela Internet ....................................................................................................... 187

PERSONAL BLOGS: the search for identity of the subject in the world mediated by the internetFrancielle Maria Modesto Mendes

PROJETO DE APRENDIZAGEM E TECNOLOGIAS DIGITAIS: novo fazer na prática pedagógica .................................................................................. 201

LEARNING PROJECT AND DIGITAL TECHNOLOGIES: new practices in pedagogySuênia Izabel Lino Molin

MÍDIA-EDUCAÇÃO NA PEDAGOGIA: uma proposta em tópicos especiais ......................................................................................... 215

MEDIA EDUCATION IN PEDAGOGY: a proposal in special subjectsSolange Puntel Mostafa

A UTILIZAÇÃO DOS JOGOS EDUCATIVOS COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: o caso reserva ecológica de Gurjaú – PE ....... 239

THE USE OF EDUCATIONAL GAMES AS A TOOL FOR ENVIRONMENTAL EDUCATION: the case of the Gurjaú ecological reserve – PE

Danielle Mesquita da Costa SilvaMargareth Grillo

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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO FILME DOS TRAPALHÕES ........... 239

ENVIRONMENTAL AWARENESS IN FILMS MADE BY ‘OS TRAPALHÕES’ COMIC GROUPRafael José Bona

MATERIAIS PEDAGÓGICOS E TECNOLOGIAS: avanços e obstáculos na formação continuada em educação ambiental .............................................. 253

PEDAGOGIAL MATERIALS AND TECHNOLOGY: advances and obstacles in continuing training in environmental education

Antonio Fernando Silveira Guerra Salete de Fátima Belusso Moser

OLHAR E OPORTUNIDADE AOS ALUNOS COM POTENCIAL SUPERIOR: uma experiência aberta ao diálogo ....................................... 271

ATTENTION AND OPPORTUNITY TO THE PUPILS WITH SUPERIOR POTENTIAL: an experience opened to dialog

Bárbara Martins de Lima DelprettoCaroline Côrrea Fortes

APRENDIZAGEM NO ENSINO SUPERIOR: aplicação de um jogo didático na área de estatística .................................................................................... 281

LEARNING IN HIGHER EDUCATION: the application of a teaching game in the area of statisticsLeo Lynce Valle de Lacerda

Cássia Ferri

SEÇÃO DO PROFESSOR / TEACHER´S SECTION

A CRIATIVIDADE FAZ A DIFERENÇA NA ESCOLA: o professor e o ambiente criativos ...................................................................................................... 295

CREATIVITY MAKES THE DIFFERENCE IN THE SCHOOL: the creative teacher and the creative environment

Zélia Maria Freire de Oliveira Eunice Maria Lima Soriano de Alencar

ENTREVISTA / INTERVIEW

JOAN FERRÉS .......................................................................................... 309

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DossiêTecnologia

e Inovação Pedagógica

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171Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itajaí, mai/ago 2008

CONTRAPONTOS

Tatiana Cuberos Vieira*

Maria Eugênia Castanho**

*Possui graduação em Artes Plásticas pela Universidade

Estadual de Campinas (2004) e, atualmente,

é mestranda em Educação da Pontifícia Universidade Católica

de Campinas.E-mail:

[email protected]

**Possui doutorado em Educação pela

Universidade Estadual de Campinas (1989) e,

atualmente, é professora titular da Pontifícia

Universidade Católica de Campinas.

E-mail: [email protected]

Correspondência: Rua Carlos Cordts,

168. Vila Progresso - Jundiaí - SP.

CEP 13202-161.

SOCIEDADE ATUAL E REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO: ganhos e perdas

PRESENT DAY SOCIETY AND THE INFORMATION REVOLUTION: gains and losses

Artigo recebido em 09/12/2007

Aprovado em 20/07/2008

ResumoO texto discute a infl uência da revolução da informação na sociedade atual. Em parte, esse fenômeno ocorre devido às inovações tecnológicas desenvolvidas através das exigências dos diversos paradigmas que o mundo acompanhou. Isto porque o modelo econômico capitalista, que prima por um progresso unilateral e extremamente concentrador de renda e poder, acelerou os ponteiros do relógio. Então, tempo é dinheiro e o homem tem pressa. Assim, surgiram novas formas de gerar e transmitir informação, deslocando a economia das indústrias para os serviços, e da força para o conhecimento. Neste cenário, o computador foi um grande ator, já que com essa ferramenta, hoje, é possível afi rmar que metade da força de trabalho está envolvida na criação, manipulação ou uso da informação. Isso leva a uma refl exão: como acompanhar os avanços aliados aos riscos que o novo paradigma acarreta. Deste modo, cabe atenção de muitos, inclusive do Brasil, que vivem à margem da possibilidade de fi nanciar pesquisas de alto custo tecnológico, para que não sofram os maiores problemas desse processo, sob a ótica da sociedade atual: a ‘informacional’.

AbstractThe text discusses the infl uence of the information revolution on today’s society. The occurrence of this phenomenon is due, in part, to technological innovations brought by the demands of diverse paradigms that the world has been following. This arises from the fact that the capitalist economic model, driven by a unilateral progress which concentrates income and power, has sped up the hands of the clock. Now, time is money and people are in a hurry. This has led to the emergence of new ways of generating and transmitting information, transforming the industrial

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CONTRAPONTOS

172 Sociedade atual e revolução da informação:...Tatiana C. Vieira e Maria E. Castanho

economy into a service economy and giving more weight to knowledge. In this scenario, the computer plays a predominant role, since using this tool, half of the work force is involved in the creation, handling and use of information. This prompts the refl ection: how can we keep up with the advances and the associated risks that this new paradigm brings? Steps must be taken to ensure that many in the world, including in Brazil, who have no means of fi nancing high cost technological research, do not suffer greater problems as a result of this process, from the perspective of today’s ‘information’ society.

Palavras-chaveRevolução da informação – Sociedade da informação – Novo paradigma.

KeywordsInformation revolution – Information society – New paradigm.

A Revolução da Informação repetirá os êxitos da Revolução Industrial,só que desta vez, parte do trabalho do cérebro, e não dos

músculos, será transferido para as máquinas. Dertouzos

O século XXI está trazendo à tona uma nova reorganização dos modos de produção e negócios e, conseqüentemente, de economia, de sociedade e de política.

Difi cilmente alguém discordaria de que a sociedade da informação é o principal traço característico do debate público sobre desenvolvimento do nosso tempo. As preocupações com a direção que vem tomando o novo paradigma tecnológico da informação apontam os inúmeros desafi os a enfrentar, para que a nova sociedade supere velhas e novas desigualdades.

Das propostas políticas oriundas dos países industrializados e das discussões acadêmicas, a expressão ‘sociedade da informação e do conhecimento’ transformou-se em jargão nos meios de comunicação e de pesquisa.

Conceitualmente, tal expressão passou a ser utilizada, nos últimos anos do século XX, como substituto para o conceito complexo de ‘sociedade pós-industrial’ e como forma de transmitir o conteúdo específi co do novo paradigma técnico-econômico.

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173Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itajaí, mai/ago 2008

CONTRAPONTOS

Neste novo paradigma, as transformações técnicas não têm mais como fator chave os insumos baratos de energia – como na sociedade industrial –, mas os insumos baratos de informação propiciados pelos avanços tecnológicos na microeletrônica1 e telecomunicações. Portanto, esta sociedade ‘informacional’, está ligada à expansão e à reestruturação do capitalismo desde a década de 80 do século XX. Mas desde quando a informação infl uencia a sociedade?

A revolução da informação na sociedade

Informação prosperou como conceito fi losófi co na era clássica, denotando a imposição de uma forma, idéia ou princípio, que assim se tornava ‘in-formada’ ou ‘formada’. Depois, por séculos, o uso do termo informação foi monopolizado por jornalistas. Nos últimos tempos, os múltiplos sentidos do termo têm causado ambigüidades em interpretações como, por exemplo, comunicando/informando ou notícia/informação.

Sathler (2005, p. 27) descreve que informação se refere a uma mensagem informativa, na qual um dos pólos funciona sempre ou predominantemente como transmissor, enquanto outro como receptor que não reproduz respostas ou reciprocidade como no caso da comunicação.

Mas como esse conceito tem ligação com a sociedade atual? Por que autores a nomeiam como sociedade da informação? No livro de Straubhaar, intitulado Comunicação, Mídia e Tecnologia, o segundo capítulo foca detalhadamente a

evolução da sociedade da informação.

O histórico é interessante para o entendimento global desta nova sociedade que

se formou. Será possível visualizar como as invenções tecnológicas do homem

infl uenciaram as mudanças no uso ou transmissão de informação, que hoje caracterizam tanto o atual paradigma.

É verdadeiro que a importância dos sentidos do homem sempre foi vital para sua existência. Desde os tempos remotos, o homem utiliza ou troca informações através dos sentidos da audição e da visão, além da fala. Como nas sociedades primitivas

não havia registros escritos, a informação e a comunicação desta época eram

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CONTRAPONTOS

174 Sociedade atual e revolução da informação:...Tatiana C. Vieira e Maria E. Castanho

abordadas por diferentes formas de linguagem (rito, mito, relações de parentesco e comunicação pictórica).

As principais linguagens artísticas nasceram com o homem e desenvolveram seu papel como expressão e comunicação. Os testemunhos disso são os desenhos gravados no interior das cavernas, nas tábuas de madeira ou argila encontradas em escavações arqueológicas.

A importância da comunicação como instrumento verbal se destacou nas sociedades clássicas, tidas como agriculturais, a exemplo da grega, na qual se fez uso da retórica, restrito ao contato imediato de pessoa a pessoa.

O nascimento da escrita também foi essencial no desenvolvimento da humanidade e na evolução da informação. Teve origem nos primeiros desenhos rudimentares em que o homem expressava suas idéias. A invenção do alfabeto veio simplifi car a arte da escrita.

Se o papel já era conhecido na China há mais de mil anos até a data de sua introdução na Europa, no século XII, faltava conhecimento para reprodução e distribuição, que surgiram mais tarde, com a imprensa.

Antes do século XV, embora limitados, os livros eram um meio de massa ainda restrito. As pessoas do poder não estavam particularmente interessadas que as massas pudessem ler e as necessidades econômicas não pediam por uma força de trabalho alfabetizada. Somente no século XV mais pessoas no comércio e outras atividades não agrárias passaram a querer freqüentar uma escola e obter informação de livros.

A ‘Bíblia’ de Gutenberg apareceu em 1455, resultado da invenção do tipo móvel de metal e da impressão mecânica. No século XVI, a maior disponibilidade de livros gerou o crescimento da alfabetização e leitura, que começaram a mudar a maneira de pensar e agir das pessoas.

Assim, a idéia de opinião pública começou a tomar forma e líderes políticos tão antigos quanto Oliver Cromwell, da Inglaterra, em torno de 1640, perceberam, utilizando a imprensa e passeatas para ganhar apoio público a seus mandatos.

Conforme a Revolução Industrial tomou velocidade, meios de massa com base industrial, tais como livros e jornais, apareceram e proliferaram, apesar ainda da limitação, do analfabetismo e da falta de dinheiro da maioria da população. Estava surgindo a sociedade industrial. A tecnologia inovadora que provocou o

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175Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 171-185 - Itajaí, mai/ago 2008

CONTRAPONTOS

desenvolvimento desta sociedade foi a máquina a vapor, e sua principal função foi substituir e amplifi car o trabalho físico do homem.

Com o desenvolvimento da urbanização, as indústrias foram surgindo e trazendo os trabalhadores agrários para os centros urbanos. Simultaneamente, as pessoas estavam ansiosas para obter informações que as ajudassem a avançar em suas vidas pessoais, comunicando-se, expressando-se e compreendendo.

A alfabetização passa a ser importante para a realização de trabalhos e a escolaridade busca sua universalização entre a maioria da população urbana. Além disso, a cultura era vista como um processo de refi namento, em especial a cultura clássica, elevada e desenvolvida na Europa. Esse enfoque viria a ajudar a educar, cultivar e civilizar as pessoas vindas do interior para as cidades, que tinham a idéia da cultura como educação e não como entretenimento.

As comunicações escritas não conseguiram competir com a rapidez da transmissão de mensagens eletrônicas, usadas nos meios interativos da telegrafi a e telefonia. O telégrafo, que começou a funcionar em 1836, teve efeitos no comércio e na política, pois transmitia a mensagem alheia de forma neutra com muita rapidez.

Empresas podiam controlar suas fi liais em locais remotos, porque descobriram que a redução de espaço e tempo permite uma operação mais ampla. A prova da veracidade de tal idéia se encontra em uma das tecnologias mais difundidas no mundo atual, que será discutida posteriormente: a Internet.

A telefonia também se espalhou rapidamente ao fi nal do século XIX. Derrubou posteriormente a telegrafi a devido ao desenvolvimento de tecnologia e acesso à grande parte da população.

No começo do século XX, muitas pessoas não tinham capital para acessar ou utilizar a mídia impressa, então, outros meios, como os fi lmes, por exemplo, vieram a preencher esse vazio. A revolução da energia motora aumentou o poder produtivo material e possibilitou a produção em massa de bens e serviços, e o rápido transporte desses bens.

Nessa época, a ciência e a tecnologia passam a ocupar o centro do sistema produtivo, exigindo atividades de pesquisas cada vez mais complexas e, em conseqüência, desenvolvendo novas invenções. Nos anos 20, o rádio estava se tornando um meio popular, inclusive nas áreas rurais, transmitindo músicas e programas.

A descoberta sobre a conversão e transmissão de imagens em sinais elétricos ocasionou um dos grandes inventos do homem: a televisão. Na década de 30, realizavam-se transmissões experimentais, mas em 50, os serviços de televisão já

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ofereciam uma grande variedade de programas informativos, de diversão ou de caráter educativo.

Ao afirmar-se como veículo de massa de alto custo operacional, tornou-se dependente de anunciantes, foi quando a propaganda descobriu esse meio fértil de lucro. Aliás, a televisão é um dos meios de comunicação mais importantes para a caracterização da sociedade de massa.

A história da propaganda acompanhou o desenvolvimento dos meios de comunicação e se tornou parte essencial da economia industrial, principalmente americana. Este setor se tornou efi ciente em informar os consumidores sobre novos produtos e criar demanda para tais.

A industrialização, a urbanização e a comunicação estavam se unindo para criar um potencial mercado de massa de consumidores. Essa visão espalhou-se primeiro nos Estados Unidos, nos anos 50, com a principal sociedade de consumo do mundo. Vieram as lojas de departamento, os grandes catálogos de consumo, os cartazes de ruas (outdoors), além de anúncios nos diversos meios de comunicação. A televisão vem dominando a colocação de anúncios desde a década de 50 e se espalhando cada vez mais em lares de todo o mundo.

A combinação industrial de tecnologia e economia introduziu a produção em massa de cultura para uma audiência mais ampla, já que a industrialização reduziu os custos e aumentou a acessibilidade aos produtos culturais, como livros, jornais, revistas, discos, CDs e fi lmes. Assim, a mídia começou a refl etir nos gostos e características variadas do público, expandindo-se além das telinhas do televisor para as do computador.

O computador: decisivo no desenvolvimento da sociedade da

informação

Apesar de a mídia ter infl uenciado claramente a nova sociedade, o que defi nitivamente mudou a vida do homem em relação ao uso e troca de informação começou a se desenvolver em 1946, nos Estados Unidos. Agora, algo poderia substituir e amplifi car o trabalho mental do homem. Entra em funcionamento o primeiro computador eletrônico, que utilizava sistema de válvulas e possuía 120 metros cúbicos.

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Anos mais tarde, em 1951, os primeiros computadores foram colocados à venda. Mas a revolução estava por vir. A evolução tecnológica de eletrônica e informática trouxeram a invenção do chip, do circuito integrado e da tecnologia digital e, em 1981, foi lançado o primeiro micro IBM/PC com sistema Microsoft, seguido da invenção pela Apple, em 1984, do primeiro computador com ícones e mouse.

O homem agora tinha a possibilidade de ter em casa o seu computador pessoal (PC), que dispunha de grande acesso interativo. Podemos dizer que o computador foi a tecnologia inovadora que resultou no desenvolvimento da sociedade da informação.

Assim, ao longo do tempo, a sociedade começou a utilizar cada vez mais técnicas industriais para ‘construir’ informação e oferecer serviços de grande conteúdo informativo de forma industrializada. Setores como da agricultura, indústria e serviços estão sendo alterados pelo uso das tecnologias de informação e hoje, no mínimo, metade da força de trabalho está envolvida na criação, manipulação ou uso da informação.

Empregos de informação incluem todos aqueles primariamente envolvidos na produção, processamento ou distribuição de informação: secretárias, gerentes, pesquisadores, educadores, seguradores, contadores, fi nanciadores, bem como jornalistas, produtores de mídia, engenheiros em computação e áreas de informação, designers e assim por diante. Esses empregos estão crescendo, enquanto outros declinam, acompanhando a transformação do mundo para a sociedade da informação e do conhecimento.

As indústrias ligadas à informação, portanto, começaram a ganhar força, trabalhando com mídia, softwares e equipamentos de computadores e telecomunicações. A rede de telecomunicações foi atualizada nos anos 80, conforme os computadores foram interligados através de várias redes e serviços de comunicação de dados. A comunicação via satélite, já em 1970, suportava milhares de circuitos telefônicos e canais de televisão, distribuindo informação para todos os continentes.

Na virada do século XX, pesquisas já registram que os americanos entram na rede telefônica um bilhão e meio de vezes por dia. Os telefones estão agora mais presentes do que nunca, com o desenvolvimento explosivo do serviço da telefonia móvel. Nessa mesma época, registrava-se cerca de 300 milhões de PCs em mais de 150 países, que estão interligados à Internet.

Uma pesquisa americana realizada em 1998 estimava que a web continha cerca de 320 milhões de páginas de informação e entretenimento. No ano 2000, mais de 800 milhões de pessoas estão navegando. A rede se expandiu em 50% a cada

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ano da década de 90, impulsionada pelo interesse dos usuários na World Wide Web, que veio ampliar as possibilidades do uso do computador como fonte de informação e comunicação. (DIZARD, 2000, p. 24). Mas como o computador infl uenciou na nova relação de tempo do homem?

A nova relação com o tempo: revoluções aceleradas

Aliás, somente para o homem o tempo se esvai rapidamente? Como as máquinas ou tecnologias lidam com o tempo? Pensando no desenvolvimento das últimas tecnologias, um fi o de fi bra-ótica, por exemplo, pode transmitir o conteúdo total de um jornal, de uma novela de televisão, ou de um fi lme de Hollywood, simultaneamente e na velocidade da luz.

A capacidade de transmissão de informação nesses circuitos é extraordinária: um cabo de fi bra, tão fi no quanto um fi o de cabelo humano, pode transmitir todo o conteúdo da Enciclopédia Britânica em menos de um minuto (DIZARD, loc.cit.). Os números das pesquisas são espantosos e caracterizam notoriamente o mundo globalizado, que distribui informação através das novas tecnologias para muitas pessoas em pouco tempo.

O pesquisador Masuda (1981, p. 61), idealizador do Plano Japonês para uma Sociedade da Informação, também analisa a relação do tempo diante da comparação entre a revolução da energia motora na sociedade industrial e a revolução da informação na sociedade da informação, trazendo dados interessantes.

Recordando as datas das inovações tecnológicas que desempenharam papéis decisivos na primeira revolução, sabe-se que a máquina a vapor pioneira foi inventada em 1708 por Newcomen. Depois, a primeira estrada de ferro foi construída entre Liverpool e Manchester, em 1829. Na produção do automóvel Ford modelo T, o inovador produto saído de uma linha de produção em massa começou em 1909. O avião a jato apareceu em 1937. Assim, houve um período de 229 anos de desenvolvimento tecnológico entre a invenção da máquina de Newcomen e o aparecimento do avião a jato. Pode-se observar o contraste com a revolução do computador.

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O primeiro computador a válvula, como já foi dito, foi desenvolvido em 1946. A segunda geração surgiu em 1956. A terceira geração, utilizando circuitos integrados, apareceu em 1965. Os microprocessadores, circuitos integrados em uma única pastilha, surgiram em 1973. Depois a invenção do ícone e mouse, trouxe a quarta geração em 1984. A quinta geração realizou o desenvolvimento de processadores Pentium, já em 1993.

Hoje, temos computadores de última geração com capacidade de processamento de dados e imagens inimagináveis. Assim, considerando o período da primeira geração até os dias atuais, o período de inovação soma cerca de 60 anos. Esta comparação mostra que a última revolução está acontecendo no mínimo quatro vezes mais rapidamente, já que o gasto em tecnologia e pesquisa cresceu, assim como os profi ssionais voltados para a área.

Se durante milênios as transformações foram lentas, sabe-se que nas últimas décadas o sistema obrigou o sujeito a ter pressa, pois tempo é dinheiro. Então, pode-se refl etir. Qual a relação de tempo na época industrial e qual a relação de tempo hoje?

Hoje, o homem tem pressa

Muitas pessoas afi rmam que hoje o tempo passa muito rápido. Elas não percebem que o ritmo do trabalho, o consumismo exacerbado e a vida frenética da informação causam esta sensação. Viver e conviver nesta sociedade, sob o controle tecnológico, fazem com que o ser humano se adapte ao tempo da máquina e não o inverso.

Antigamente, materiais e objetos poderiam durar 30 anos, ao contrário, hoje um computador, ou um pen-drive, sai de linha em dois anos, e as pessoas, então têm que trabalhar mais para comprar mais em menos tempo. O capitalismo e as regras do mercado movem esta engrenagem que gira com mais velocidade, e a tendência é acelerar cada vez mais. Assim, a humanidade caminha guiada pela economia da informação.

Para concluir, o Quadro 01 ilustra o caminhar da evolução da informação diante das transformações da produção de bens, expansão de mercados e desenvolvimento da mídia nas diferentes sociedades.

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Quadro 01 – Comparação das características de cada sociedade

Produção Mercado Mídia

Sociedade

agriculturalProdutos personalizados feitos a

mão em indústrias caseiras

Vendido para pessoas

do localVia mídia popular

Sociedade

industrial Produtos padronizados

Vendido para mercados

nacionais e regionais

Via propaganda em

mídia impressa

Sociedade

de massa Produção em massa

Vendido para mercados

nacionais e internacionais

que compartilham uma

cultura de massa

Via propaganda em

uma variedade mais

ampla de tipos de

mídia

Sociedade

da informação e do conhecimento

Produtos em nível nacional e

internacional produzidos com alta tecnologia

Vendido para o mercado

globalizado

e usuários

Via propaganda em

em diversos meios, incluindo

distribuição digital

Fonte: Das autoras.

Percebe-se que o desenvolvimento da mídia foi um fator decisivo para a ampliação

do mercado e que, de certa forma, refl ete a necessidade imposta pelo novo

paradigma advindo da sociedade da informação e do conhecimento.

O paradigma das tecnologias da informação

O termo tecnologias da informação engloba várias áreas da informática,

telecomunicações, comunicações, ciências da computação, engenharia de sistemas

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e de software. Interessante é notar que a esperada convergência dessas áreas já se

encontra expressa neste termo.

O conceito de paradigma indica o resultado do processo de seleção de uma série

de combinações viáveis de inovações (técnicas, organizacionais e institucionais),

provocando transformações que permeiam toda a economia e exercendo infl uência

no comportamento da mesma.

Cada novo paradigma traz novas combinações de vantagens políticas, sociais,

econômicas e técnicas, tornando-se o estilo dominante durante uma longa fase de

crescimento e desenvolvimento econômico. No caso atual, o mundo globalizado

segue diante do modelo econômico capitalista que dita um progresso unilateral,

extremamente concentrador de renda e poder regido pelas ‘regras’ do mercado.

Mas a tecnologia da informação não surgiu repentinamente, e outros paradigmas

são anteriores ao atual, cada um carregando transformações sucessivas.

O novo paradigma é uma resposta encontrada pelo sistema capitalista para o

esgotamento de um padrão baseado na produção em larga escada de cunho fordista,

utilização intensiva de matéria e energia e capacidade fi nita de gerar variedade. A

partir dos anos 70, evidenciou-se que o desenvolvimento baseado na produção

em massa de bens e serviços intensivos em materiais e em energia estava atingindo

limites máximos, dando mostras de esgotamento.

A alta dos preços do petróleo e de várias matérias-primas naquela década é tido

como evento-chave para a mudança em direção ao paradigma das tecnologias da

informação (LASTRES, 1999, p. 36).

Uma característica principal na década de 80 foram as inovações dos circuitos

integrados. A quantidade de dados colocados em um pequeno chip mais do que

dobrou ano após ano, alcançando alguns milhões, e ainda continua crescendo (Ibid.,

p. 170). A microeletrônica resolve alguns dos desafi os que a sociedade industrial

enfrentava: a diminuição de tempos ociosos, o controle e o gerenciamento de

informação e o aumento da variedade de produtos.

É possível visualizar rapidamente no Quadro 02 as modifi cações que perduraram

em cada era e as características de cada paradigma. É interessante ainda atentar

para a presença marcante da tecnologia no paradigma atual e sua força sobre a

sociedade da informação e do conhecimento.

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Quadro 02 – Principais características dos sucessivos paradigmas

Início e término 1770 - 1840 1840 - 1890 1890 - 1930 1930 - 1970 1970 - hoje

Descrição mecanização

força a vapor

e ferrovia

energia elétrica,

engenharia pesada

produção em

massa, ‘fordismo’

tecnologias

da

informação

Fator-chave

algodão e

ferro fundido

carvão e

transporte aço

petróleo e

derivados

microeletrônica,

tecnologia

digital

Setores que

potencializaram

o crescimento

têxteis, fundição e

montagem de ferro, energia

hidráulica

ferroviário,

máquinas e

navios a

vapor

engenharia

elétrica e

engenharia

pesada

automóveis, caminhões, indústria

aeroespacial, petroquímicos

informação,

informática, telecomunicações,

robótica, softwares

Infra-estruturacanais, estradas

ferrovias, navegação mundial

energia

elétrica

auto-estradas, aeroportos,

caminhos aéreos redes e sistemas

Fonte: Das autoras.

Analisando o quadro, percebe-se que o desenvolvimento do fator-chave está intimamente ligado aos setores que impulsionam o crescimento. A mudança de paradigma inaugura uma nova era tecno-econômica, envolvendo a criação de setores e atividades; novas formas de gerar e transmitir conhecimentos e inovações, produzir e comercializar bens e serviços, defi nir e programar estratégias e políticas; organizar e operar empresas e outras instituições públicas e privadas (de ensino e pesquisa, fi nanciamento, etc.). Destacam-se ainda novas capacitações institucionais e profi ssionais que acompanham as inovações.

A partir da década de 60, autores como Masuda (1981) têm demonstrado que a economia se desloca da indústria para os serviços, da força para o conhecimento. Portanto, em contraposição às revoluções tecnológicas anteriores, que tinham por base energia e matéria, a mudança fundamental da sociedade da informação e do conhecimento envolve a compreensão de tempo, de espaço e de conhecimento.

Além disso, mais do que em qualquer outra era da história da humanidade, recursos humanos qualifi cados serão de fundamental importância para a era da

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informação. Serão necessários cientistas, engenheiros, educadores e técnicos em todas as áreas associadas às tecnologias da informação, especialmente em sistemas, administração e aplicação de informação, de comunicação e de computação. Esta será uma força de trabalho treinada para o uso destas tecnologias, capaz de produzir com qualidade e competitividade dentro de ambientes baseados em conhecimento.

Mas a reestruturação dos recursos humanos também envolve a preparação da população, em escala generalizada, para a utilização de sistemas e serviços associados às redes de comunicação e informação, bem como a educação para produzir e consumir informação e conhecimento competentemente.

O processo que intensifi ca o uso de informação neste mundo moderno pode ser comprovado em um simples exemplo. Agora, antes de plantar tomates são necessários muitos planos, desenhos, tabelas e roteiros para produzir sementes geneticamente tratadas, os fertilizantes, o plantio, os tratores e as colheitadeiras, o sistema de seleção eletrônica, os recipientes e seus meios de transporte, etc. É interessante notar como o modo de produção modifi cou e quantos são os envolvidos nesse novo modo de plantar e colher tomate. Nesse caso, e em praticamente tudo que se pensa, o trabalho está totalmente ligado às tecnologias de informação.

Assim, forma-se um novo paradigma calcado nas tecnologias que são consideradas resultantes de avanços da ciência, objetivando superar os limites ao crescimento, sustentando a lucratividade e a produtividade.

Considerações finais

A informação sempre fez parte da vida do homem que possui uma necessidade vital para se comunicar. A evolução das tecnologias, pesquisas e estudos científi cos possibilitou, aos poucos, a revolução da informação, que caracteriza o atual paradigma.

Aos poucos o ser humano percebeu o quanto obter informação o ajudava a avançar em sua vida pessoal, comunicando-se, expressando-se e compreendendo. Porém, este fato passou a ser de conhecimento de toda a humanidade, inclusive dos poderosos, que aprenderam a manipular a opinião pública e obter lucro nesse meio fértil.

Hoje, a mídia informa aos consumidores sobre novos produtos e os coloca como uma necessidade imposta, manipulando seus gostos. A mídia os ensina o ter e ser

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descartáveis. O capitalismo os ensina o ter mais para poder gastar mais em menos tempo. Aliás, antigamente, os ponteiros do relógio pareciam mais lentos e hoje, como em um contraste, parecem rodar mil vezes mais rápido.

Descobriu-se que a redução de espaço e tempo permite uma operação mais ampla e foi assim que nasceu a Internet: campo infi nito de informação. Então, uma nova sociedade vem se moldando às necessidades do cotidiano acelerado que o novo paradigma exige.

Este novo paradigma prevê uma revolução nas tecnologias de informação com a interligação de inovações em computação eletrônica, na transmissão de dados à velocidade da luz, na engenharia de software, nos sistemas de controle, na revolução da telefonia, nas redes e circuitos integrados, no recurso aos satélites de telecomunicações, que reduzem os custos de armazenamento, processamento, comunicação e disseminação, de informações possíveis entre agentes, individuais e coletivos.

Na veia dessa mudança, encontra-se o crescimento acelerado dos setores de informação e conhecimento, que passaram a ser fundamentais, de certa forma, dependência para a gestão pública, privada e individual. Assim é que se justifi ca o fato de diversas pesquisas se referirem à nova ordem mundial como Era, Sociedade ou Economia da informação e do conhecimento, resultante de uma revolução ‘informacional’.

Mas, o que pouco se fala, apesar de sua extrema importância, é que os países que possuem melhor desempenho em termos de crescimento e produtividade são aqueles que podem desenvolver pesquisas de alto custo tecnológico, portanto os desenvolvidos. Em contraponto, os países em desenvolvimento vivem à margem desta possibilidade, e cada vez mais, encontram problemas estruturais e de gestão que os impedem de competir na mesma base.

O novo paradigma possui características específi cas, segue com avanços aliados aos riscos e, em caso de países em desenvolvimento, como o Brasil, é preciso atenção para não sofrer os maiores problemas desse processo.

Referências

DIZARD, Wilson. A nova mídia: a comunicação de massa na era da informação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

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CONTRAPONTOS

LASTRES, Helena M. M.; ALBAGLI, Sarita (org.) Informação e Globalização na Era do Conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

MASUDA, Yoneji. A sociedade da informação como sociedade pós-industrial. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1981.

SATHLER, Luciano; MELO, José M. (org.). Direitos à comunicação na sociedade da informação. São Bernardo do Campo: UMESP, 2005.

STRAUBHAAR, Joseph D. Comunicação, mídia e tecnologia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.

Notas

1 A microeletrônica constitui o chamado complexo eletrônico: a informática, a telemática, a mecatrônica, a eletrônica de consumo, etc.

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