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Contos & Vozes Revista Digital. Nº 2 Entrevista com Alfer Medeiros, Contadores de Histórias: Resultado, Poesia, Um pouco de Lovecraft, Sete contos fantásticos da literatura brasileira, Conto destaque desta edição, Artista do mês, A música na literatura. & mais...

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Contos & Vozes Revista Digital. Nº 2

Entrevista com Alfer Medeiros, Contadores de Histórias: Resultado, Poesia, Um pouco de Lovecraft, Sete contos fantásticos da literatura brasileira, Conto destaque desta edição, Artista do mês, A música na literatura.

& mais...

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Editorial: Edição Geral: Maria Santino.

Capa: Fil Felix.

Autores e Colaboradores desta edição: Alfer Medeiros, Anorkinda Neide, Carlos Henrique Fernandes, Eliane Verica, Jefferson Lemos, Pedro Teixeira,

Miguel Bernadi, Nilo Paraná e Virgínia Ossovski.

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Sumário

Um pouco de Lovecraft

Entrevista com Alfer Medeiros Coletivos Confronto - Filmes

7 contos fantásticos da literatura brasileira

Sétimo desafio contadores de Histórias - Resultado

Coelhos mágicos falam demais - Conto

A música na literatura

Artista do mês

Respire & Inspire-se - no Maranhão

Vozes Femininas (Poesia)

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"A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido."

Pedro Teixeira ([email protected])

Font

e: th

rbjrn

.com

Howard Phillips Lovecraft nasceu em Providence,

Rhode Island, em 1890. Quando criança, perdeu o pai, vítima de uma doença neurológica. Ainda durante a infância o avô materno lhe abriu as portas da sua biblioteca, apresentando ao menino obras clássicas como As Mil e Uma Noites, a Odisseia, a Ilíada, além de histórias de terror e revistas pulp, que se tornariam grandes influências na obra que viria a criar.

A vida adulta seria marcada por anos de reclusão, nos quais dedicou-se a escrever poemas, após uma série de acontecimentos que lhe causaram fortes abalos e frustrações, como a morte do avô e a recusa na Brown University. Amigos o impulsionaram a sair desse estado de letargia e, para nossa sorte, Lovecraft começou a publicar seus textos e a escrever ficção de horror a partir de 1917.

H.P. Lovecraft. Escreveu The Call of Cthulhu e Necronomicon, dois ícones da literatura que influenciaram e influenciam gerações.

Depois da morte da mãe, em 1921, e de um casamento frustrado que o levou a mudar-se para Nova York, Lovecraft voltou a morar com as tias em Providence. Esse é o período de maior efervescência criativa do escritor, em que ele produziu algumas de suas mais extensas e memoráveis obras, como “Nas Montanhas da Loucura” e “O Caso de Charles Dexter Ward”. Os últimos anos da vida de nosso querido autor foram extremamente difíceis. A morte de uma das tias, em 1932, e o suicídio do amigo Robert E. Howard – o criador de “Conan, o Bárbaro” – em 1936, deixaram-no profundamente abalado. Nessa época, Lovecraft descobriu um câncer de intestino, do qual viria a falecer, em 1937.

Após sua morte, os contos e novelas escritos por ele foram publicados em livros e descobertos pelo público, e tornaram-se uma das maiores influências da ficção especulativa produzida desde então. Lovecraft é considerado o criador do terror cósmico, que pode ser definido como uma mistura de horror, ficção científica e fantasia, no qual seres de outras dimensões ou eras, de imenso poder e perversidade, já dominaram o nosso planeta e agora se encontram à espreita, aguardando o melhor momento para retomar o controle. Mais do que um estilo, Lovecraft fundou uma mitologia, com elementos que antecedem muito do que foi feito na ficção científica e terror durante o século XX. A ideia de que seres extradimensionais (os Antigos) chegaram a Terra há bilhões de anos e lançaram as bases da vida no planeta influenciou desde “Alien” a “Arquivo X” e ainda é fonte de inspiração para muitos criadores.

Conan, o Bárbaro, principal criação de Robert E. Howard amigo de longa data de Lovecraft.

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Influência Os chamados Mitos Cthulhu inspiram um grande número de

artistas, tais como os escritores Neil Gaiman e Alan Moore e os cineastas Guillermo Dal Toro e John Carpenter. No Brasil, podemos mencionar, entres outros, os autores Rubens Francisco Luchetti e Carlos Orsi Martinho.

Personagens e obras de Lovecraft são frequentemente citados na cultura pop. Alguns exemplos: a inscrição na lápide de Eddie no álbum ao vivo “Live After Death”, da banda de heavy metal Iron Maiden; as músicas “ The Call Of Ctulhu” e “The Thing That Should Not Be”, do Metallica. Há também uma aparição impagável de Cthulhu em um episódio do desenho animado “South Park”.

Principais obras O Chamado de Cthulhu – Apresentado na forma de um

relato, no qual o narrador busca a verdade sobre a entidade conhecida como Cthulhu. O temível monstro que possui tentáculos e asas como as de um morcego, jaz adormecido no oceano e seitas prestam-lhe cultos por meio de rituais macabros. Todos os elementos que fizeram a fama de Lovecraft podem ser encontrados aqui: a complexa mitologia, a forma sutil com que cada detalhe está ligado a outros detalhes, o estilo narrativo minucioso e rico em adjetivos e advérbios, e o uso de elementos reais misturados a imaginários que confere a seu trabalho uma sólida verossimilhança.

Imperdível para qualquer apreciador da literatura, e talvez a melhor porta de entrada para a obra lovecraftiana.

Nas Montanhas da Loucura – Novela de Lovecraft que narra

os horrores de uma expedição científica à Antártida, onde eles se deparam com terríveis segredos relacionados a uma raça alienígena que habitou a região há centenas de milhares de anos. Mais uma ótima introdução ao universo do autor, por trazer várias referências a outras de suas obras. Encontramos aqui mais uma vez a riqueza de detalhes técnicos e científicos que torna suas estórias assustadoramente reais. “Nas Montanhas da Loucura” serviu claramente como inspiração para filmes como “Alien, o Oitavo Passageiro” e “Prometheus”, e traz, além de um terror crescente que atinge magistralmente seu clímax no fim, interessantes questões existenciais. Em resumo, um item obrigatório para quem deseja conhecer a obra do autor.

Necronomicon – Na verdade trata-se de um grimório (livro mágico) fictício criado por Lovecraft. Seu autor seria Abdul Alhazred, um poeta árabe que o teria escrito por volta de 730 d.c.. O livro conteria fórmulas mágicas ligadas à magia negra e aos Antigos, seres primevos mencionados especialmente em “ A Sombra Perdina no Tempo” e “ Nas Montanhas da Loucura”. “Necronomicon” é citado de forma recorrente ao longo da obra de Lovecraft, muitas vezes ao lado de livros reais, como “Daemonolatreia”, de Remigius, e constitui um dos pontos centrais da mitologia criada por ele.

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Contos & Vozes: Vamos começar abrindo aquele espaço para que você nos diga quem é Alfer Medeiros. Alfer Medeiros: Um dia, um cara chamado Alexandre decidiu libertar algumas ideias aprisionadas por décadas na sua cabeça e colocá-las no papel. Por ter um nome um tanto comum, decidiu adotar um pseudônimo, apesar da preguiça de pensar em um que fosse convincente; por causa dessa pouca disposição em criar um nome fictício, foi extraída uma sílaba do nome original, outra do nome do meio (Ferreira) e manteve-se o sobrenome Medeiros. Assim nasceu Alfer Medeiros, este alter-ego literário que vos escreve. Dessa empreitada surgiram as séries Fúria Lupina e Livraria Limítrofe, além de outras incursões pelas histórias em quadrinhos e contos em projetos coletivos. C&V: Beleza. Sabemos que você trabalha com a organização de antologias para a Andross editora, no geral, aquelas que você organiza estão ligadas ao suspense/terror..., diga-nos, por que terror? Qual sua relação com esse gênero literário? Como a arte de ler e escrever chegou até você? Alfer: O terror faz parte do meu entretenimento desde a infância. Como essa fase da minha vida se deu nos anos 80 do século passado, tive a oportunidade de ver na TV as primeiras exibições de Um Lobisomem Americano em Londres, A Hora do Pesadelo, Poltergeist e A Hora do Espanto, entre outros, e tinha disponíveis nas bancas de jornal diversas publicações de quadrinhos de horror, como Mestres do Terror, Kripta e Histórias Reais de Lobisomem. Esse foi o meu primeiro contato com o gênero, e daí para a literatura foi um caminho bem curto – através da saudosa coleção Mestres do Horror e da Fantasia, da Francisco Alves Editora, tive o privilégio de ter contato com H. P. Lovecraft, Oscar Wilde, Stephen King, Frank DeFelitta e Peter Straub.

Para mim, a arte de ler e a de escrever chegaram em momentos diferentes, sou leitor há muito mais tempo que escritor. Desde sempre me recordo de ver livros nas estantes da minha casa, e minha mãe sempre me deixou mexer neles, mesmo antes de eu aprender a ler. Comecei com a Coleção Vaga-Lume, rapidamente passando para Júlio Verne e Agatha Christie. Desde então, nunca mais parei! A escrita veio bem mais tarde – eu tinha 34 anos quando decidi libertar as ideias e deixá-las tomar forma no mundo exterior.

C&V: Você é autor da série Fúria Lupina, que fala de Lobisomens e folclore (o brasileiro, diga-se de passagem). Fala aí, Alfer, o que se destaca em Fúria Lupina? Como é ambientar um tema mais visualizado em filmes Norte Americanos e Europeus, em terras Tupiniquins?

Alfer: Na verdade, eu sempre digo que Fúria Lupina não tem histórias DE lobisomens, e sim COM lobisomens. Sou da opinião de que a literatura deve provocar reflexões e propor ao leitor novas experiências de aprendizado e modos de ser. Por isso, sempre deixo mensagens nas entrelinhas para serem capturadas e assimiladas pelos leitores – em Fúria Lupina há muito mais do ser humano em suas provocações violentas do que dos lobos, apesar de muito da nobreza e do comportamento destes serem usados no projeto. Sobre a ambientação, sempre achei muito enriquecedor para a leitura ter essa identificação visual, espacial e comportamental com o cenário da trama, é um tempero a mais no saboroso caldo da história. No Fúria, também busquei misturar elementos regionais (como os seres do folclore brasileiro citados na pergunta), acontecimentos reais (por exemplo, o show do Opeth, onde os protagonistas do primeiro livro se conhecem, de fato aconteceu em São Paulo) e dilemas morais, com os quais a maioria dos personagens da série se defrontam. 7

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C&V: Vamos pegar o gancho dessa última pergunta e emendar: Como você vê o cenário brasileiro em relação à literatura? Algum destaque? Alfer: Acredito que na literatura brasileira tem muito de quantidade e de qualidade, um rico e amplo leque de temas, estilos e formas, que vai de Machado de Assis a Antônio Xerxenesky, de Clarice Lispector a Claudio Parreira. Tem para todos os gostos e todos os níveis de exigência, basta ter disposição e paciência para encontrar bons trabalhos nacionais por aí – infelizmente, muitos excelentes escritores não estão sob o holofote das grandes editoras e das grandes livrarias. Não cito aqui meus destaques nacionais, pois seria uma lista muito extensa e inviável para este espaço, e não acho justo citar apenas um ou dois de tantos bons livros que tenho lido nos últimos anos. C&V: Alfer, há uma diferença entre escrever comercialmente e escrever de modo intimista, mas voltado para satisfação pessoal do que para atingir a grande massa, ser reconhecido e, consequentemente, famoso. O que você tem a dizer sobre isso? Concorda com essa divisão? Acha que atrapalha querer soar parecido com esse ou aquele escritor?

Alfer: Eu sempre achei que o escritor deve produzir o que lhe é prazeroso e honesto. É muito perigoso e vazio seguir tendências, pois estas mudam o tempo todo e nem sempre são definições de literatura de qualidade. O sucesso normalmente é imprevisível e ilógico, dificilmente se fabrica um best-seller com base em fórmulas milagrosas. Basta pegar alguns exemplos dos últimos anos para ilustrar isso: depois de Harry Potter, todos procuravam pelo novo fenômeno de vendas baseado em magia, porém o sucesso veio em uma releitura dos vampiros em Crepúsculo; seguiu-se uma enxurrada de tentativas com seres sobrenaturais adolescentes, mas o estouro seguinte foi Cinquenta Tons de Cinza; em meio à nova onda de livros hot, o que está vendendo muito atualmente são os livros de colorir para adultos. É ilógico ou não é? Por causa disso, reitero a afirmação do início deste parágrafo: o escritor precisa estar satisfeito com o que produz. Se o público apreciar seu trabalho, excelente, estará reconhecendo algo que foi escrito de um jeito sincero, que agrada em primeiro lugar ao autor. Ficar perseguindo números e cifras não é saudável para quem produz arte, na minha opinião.

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“Eu sempre achei que o escritor deve produzir o que lhe é prazeroso e honesto. É muito

perigoso e vazio seguir tendências”

Antologias Organizadas

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C&V: Mais um ganchinho, você gosta de ler o que é aclamado pela mídia?, ou prefere livros mais densos e não tão conhecidos? Alfer: Eu leio de tudo! Só não encaro autoajuda e chic lit, por questão de gosto pessoal mesmo. Acho que a variedade enriquece o leitor, o arranca da zona de conforto e aumenta sua bagagem literária, o que o faz ser cada vez mais exigente e “calejado” para gradativamente poder alçar voos mais ousados e complexos. Dificilmente amamos Joyce ou Borges no início de nossas vidas de leitor, mas com o tempo obras dessa magnitude passam a ser mais aceitáveis, digeríveis e, na maioria das vezes, apreciáveis. C&V: E os textos que chegam até você para participar das Antologias, como você os seleciona? Qual a vantagem de ser publicado em uma antologia? Alfer: Em primeiro lugar, a proposta do autor no conto deve ser bem clara e cumprir de forma criativa o que se propôs. Sou muito crítico na seleções, e solicito melhorias, alterações ou desistências (com clichês, redundâncias ou prolixidades, por exemplo) quantas vezes for preciso para que o texto chegue ao nível de qualidade que os leitores merecem. Não raramente, há contos que são lapidados à exaustão, sendo aceitos somente na sexta ou sétima versão. As vantagens que vejo em publicar em antologias são: conhecer novos colegas de escrita, submeter o trabalho a um processo editorial sério (como no caso da Andross), atingir novos leitores e, principalmente, ser tirado do lugar-comum de escrita e se aventurar em outros gêneros. C&V: Há muitos que mencionam uma espécie de fórmula para se escrever contos e romances. Você acredita que o ato de escrever pode ser sistematizado como fórmula, ou acha que tudo depende da inspiração?

Alfer: Graças aos deuses da Literatura que nem todos os escritores pensam assim, e somos agraciados com trabalhos maravilhosos e excêntricos de gênios como Saramago, Garcia Marquez, Bukovski, Cortázar e tantos outros! As fórmulas podem funcionar muito bem com leitores iniciantes, mas quando adquirimos certa bagagem literária, começamos a detectar tais fórmulas com facilidade – e nos entediar com isso. Fico muito decepcionado quando estou lendo um livro e penso “xi, isto foi claramente o chamado à aventura” e mais pra frente vem os “desafios, alianças e inimigos”, para tudo isso culminar na “provação final” e na “conquista da recompensa”. Na maioria das vezes parece comida congelada: cumpre seu papel, mas de maneira menos saborosa do que poderia. Agatha Christie e Raymond Chandler resistiram muito bem ao tempo com seus trabalhos, fato que acho que não acontecerá com Dan Brown, por exemplo. C&V: Agradecemos pela entrevista, parceiro. Valeu também as dicas e observações acerca da primeira edição da Contos & Vozes. Desejamos sucesso em seus empreendimentos. Sinta-se à vontade para dizer algo para quem está acompanhando essa entrevista. Abraço! Alfer: Muito obrigado a todos os que reservam parte de seu tempo para a leitura autores nacionais pouco conhecidos, que disseminam e indicam as leituras alternativas que apreciam, e, principalmente, que se dão ao trabalho de dar suas impressões ao escritor a respeito de seu trabalho. É isso o que nos faz seguir adiante e querer melhorar sempre!

Um grande abraço e até a próxima!

[email protected] www.alfermedeiros.com.br

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Rápidas a-) Na cama, no chão, na mesinha... Qual melhor lugar para ler? R: Tendo iluminação adequada e uma boa obra literária em mãos, qualquer lugar serve! b-) Um autor brasileiro. Por que esse autor? R: Difícil escolher só um, mas vou citar Machado de Assis. Foi um gênio, que muitas vezes é incompreendido por sermos apresentados ao seu trabalho muito cedo, quando ainda não temos maturidade suficiente para aprecia-lo da maneira adequada. c-) E estrangeiro. Por quê? R: Peter Straub! O homem que escreveu o melhor livro de terror, na minha opinião: Os Mortos-Vivos (Ghost Story). d-) Um livro R: Cem Anos de Solidão, Gabriel Garcia Marquez. e-) Uma realização R: Ser lido. f-) Um sonho R: Sei lá, acho que não tenho mais... g-) Uma frase R: Se vira! h-) Uma música R: Pela Paz em Todo Mundo, Cólera

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Coletivo Confrontos.blogspot.com

"O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho." (Orson Welles)

A quinta edição do Coletivo Confrontos, tema filmes, contou com seis participantes. Esses são os destaques da edição:

Ilustração Campeã: Nossos Espinhos, por Fil Felix. Inspirado no filme Cisne Negro. Técnica: Colagem

Forrest Gump, por Thiago Cosp. Inspirado no filme Homônimo. Técnica: Desenho, grafite, pincel hidrocor.

O Exorcista, por André Pazo. Técnica:Desenho, grafite, nanquim

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Fantástico brasileiro? Você pode imaginar que essas duas palavras na única frase não combinam, mas vai ficar surpreso se escavar a fundo nossa literatura.

No Brasil, esse gênero não foi tão difundido quanto em outros países, os movimentos literários por aqui sempre tenderam para o real (realismo – naturalismo) e afastaram o mágico e ainda com os movimentos pré-modernistas os novos autores pretendiam romper as algemas que os prendiam ao passado, buscando sua própria identidade. Assim, deixaram de seguir influências europeias e guiando a literatura para aspectos próprios da cultura brasileira.

Podemos dizer que cada sociedade acrescenta um pedaço de sua cultura na sua literatura, transformando os gêneros. Portanto, enquanto nos países europeus o fantástico habita grandes castelos de pedra, no Brasil, aparentemente, vive nas matas onde os mitos crescem e criam raízes.

Mas, não quero tomar seu tempo com chatices

teóricas, apenas fazer uma pequena introdução que justifique a escolhas dos contos. Muito se questiona acerca da denominação do fantástico, para muitos, está apenas ligado às histórias onde universos são criados (Tolkien), porém a palavra fantasia abrange muito mais que isso, inclusive existe uma grande quantidade de subgêneros partindo do que conhecemos como fantástico.

Os contos aqui selecionados – dentre tantos – pertencem a autores renomados da literatura brasileira, e derivam de alguma forma, do gênero fantástico, seja pelo mítico, pelo sobrenatural ou o estranho.

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Nesse conto o poeta traz a mistura do fantástico com tecnologia, apresentando uma história que já foi divulgada na mídia como lenda urbana (sem os devidos créditos ao autor). Drummond conta de um jeito bem brasileiro o caso de uma moça que, sem perceber, apanha uma flor no cemitério e, a partir disso, começa a ser assombrada por uma voz misteriosa ao telefone. Vale a pena conferir.

“Mas, voltando ao quarto, já não ia só. Levava consigo a ideia daquela flor, ou antes, a ideia daquela pessoa idiota que a vira arrancar uma flor no cemitério, e agora a aborrecia pelo telefone. Quem poderia ser?” (Andrade, Carlos Drummond. Contos de Aprendiz 1902)

Um autor que dispensa apresentações, Machado de Assis além de escrever diversos romances

tão conhecidos por todos no ensino médio, possuí um enorme acervo de contos. Sem olhos é um daqueles de arrepiar os cabelos. A história é um pouco longa, desembargador Cruz conta a seus colegas sobre um vizinho que teve no passado, Damasceno era um homem muito estranho e lhe revelou um segredo que o aterrorizou. “O dedo magro e trêmulo apontava alguma coisa no ar, enquanto os olhos, naturalmente fixos, resumiam todo o

terror que é possível conter a alma humana. Insensivelmente olhei para o lugar que ele indicava…” (Assis, Machado de. Relíquias da casa velha 1908)

Sítio do Pica-pau Amarelo! É a primeira coisa que vem à cabeça. Mas Monteiro Lobato já escreveu muita coisa de deixar o sujeito, no mínimo, “cabreiro”. No livro Urupês (o qual inspirou Mazzaropi) ele traz diversos contos de tirar o sono. A vingança da peroba foi publicado, primeiramente, com o nome de Chóó! Pan! Conta à história de uma briga entre vizinhos de dois sítios divididos por uma grande e velha peroba. O desfecho é surpreendente.

“[...] há em cada mato um pau que ninguém sabe qual é, a modo que peitado pra desforra dos

Sob o pseudônimo de João do Rio, o também jornalista, João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (ufa!) se aventurou em contos de teor fantástico e metáforas sociais. Em O homem da cabeça de papelão, Antenor, um cidadão bom e honesto sofre por pensar diferente dos moradores do País chamado de Sol, mas quando troca sua má cabeça por uma de papelão, sua vida muda completamente.

“– E o senhor fica com a minha cabeça? – Se a deixar. – Pois aqui a tem. Conserte-a. O diabo é que eu não posso antar sem cabeça...

– Claro. Mas, enquanto a arranjo, empresto-lhe uma de papelão. – Regula?

– É de papelão! Explicou o honesto negociante. Antenor recebeu o número de sua cabeça, enfiou a de papelão, e saiu para a rua.” (Rio, João do. Rosário da ilusão, 1921)

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2. Sem olhos – Machado de Assis

1. Flor telefone moça – Carlos Drummond de Andrade

3. A vingança da peroba – Monteiro Lobato

4. O homem da cabeça de papelão – João do Rio

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Humberto de campos, grande escritor e poeta brasileiro, nos presenteia com uma narrativa rápida e certeira. A história de um escritor que ficou cego, passou por uma cirurgia e voltou a enxergar coisas muito estranhas.

“E o que enxerga, na multidão de médicos e de amigos que o aguardam lá fora, é um turbilhão de espectros, de esqueletos que marcham e agitam os dentes, como se tivessem aberto um ossuário cujos mortos quisessem sair.” (Campos, Humberto de. O Monstro e outros contos, 1947)

1. Os olhos que comiam carne – Humberto de campos

Um dos melhores contistas brasileiros, na minha humilde opinião, e conheço ele há pouco tempo. Moreira Campos domina a arte de passar sentimentos em histórias curtas e carregada de simbolismo. Dizem que os cães veem coisas é um excelente exemplo disso. Uma festa na mansão de luxo, um presságio ruim que somente os cães percebem, uma fatalidade. O conto reforça a presença do fantástico brasileiro nos mitos.

“A onda de água despejou-se sobre Ela, que não se moveu: era trespassável e transparente. Floco de névoa pronto a esvoaçar. Permaneceu parada, a cara imóvel, nenhum ricto. Apenas parecia

2. Dizem que os cães veem coisas – Moreira Campos

Minha inspiração literária de infância não poderia ficar de fora dessa lista, talvez o menos Fantástico. Moacyr Scliar tem o tom certo para a ironia e não desperdiça nesse conto de embrulhar o estômago. Duas irmãs isoladas depois de um acidente, uma com muito alimento e a outra sem nada. A coitada, sem alternativa, resolve comer partes do próprio corpo...

“No décimo quinto dia, Angelina viu-se obrigada a abrir o ventre. O primeiro órgão que extraiu foi o fígado. Como estava com muita fome, devorou-o cru, apesar dos avisos de Bárbara, para que fritasse primeiro.” (Scliar, Moacyr. Contos Reunidos, 1995)

3. Canibais – Moacyr Scliar

Para finalizar, quero fazer uma menção honrosa ao livro Assombrações do Recife velho de Gilberto Freyre. A obra é a essência dos mitos e dos causos, lê-la é como sentar-se ao redor da fogueira e ouvir as histórias na sua forma mais pura. Gilberto reúne na coletânea 27 assombrações e 12 casas habitadas por almas-penadas, na minha opinião, um dos maiores exemplos do fantástico sobrenatural e cultura brasileira.

“De mais de um sobrado velho do Recife se conta a mesma história. De alguns se diz que, em noites de escuro, se ouve ruge-ruge de sedas, som de piano de cauda tocando música do tempo

Bonus* Assombrações do Recife velho — Gilberto Freyre

antigo, passos de danças em salas cheias de sombras de bacharéis e iaiás pálida.” (Freyre, Gilberto. Assombrações do Recife

velho, 1955)

Vamos à leitura!

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consultar no pulso um relógio invisível, para marcar o tempo.” (Campos, Moreira. Dizem que os cães veem coisas, 1987)

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B ruxas rompendo mundos, duendes que aparentemente são bonzinhos, dragões

em simbiose com humanos, fadas, esconderijos, feitiços, erro no sistema..., o tema para o Desafio Contadores de Histórias, esse mês, foi “fantasia”. Recebemos dezoito textos nessa edição, porém

d l é f bé d é l

apenas doze deles resistiram até o fim. — Parabéns aos vencedores! Desistir é moleza. Vamos ao resultado. E o primeiro lugar ficou com os coelhos, ops, quis dizer, com os Turfes fofos liderados por Tkint Al de Baran. Pois é, com 99 pontos, o conto escrito pelo mais novo contador de histórias, Nilo Paraná, levou essa. Coelhos mágicos falam demais, é o destaque desta edição [não deixe de apreciar o conto na próxima página]

Em segundo lugar, com 92 pontos, o veterano Sidney Muniz nos apresenta seus “Beijos encantados”

“Os dias foram passando e nos aproximávamos cada vez mais, até que em certo dia, quando cheguei a sua casa, ouvi a voz mais delicada, se pudesse compará-la a algum som, de verdade só poderia dizer que tinha um tom de sonho, e cantava o que seria nossa canção: Um beijo numa flor/ Meu jardim vem povoar/Beija eu, ó meu amor!/ E juntos vamos voar.” Em terceiro, também com 92 pontos, temos Maria Santino e seus “Feitiços” “Os olhos acostumados com a escuridão ficaram doloridos e cegos por algum momento. E todos na embarcação gemeram alto com o flash da luz repentina que os alcançou. No horizonte, um olhar azul não dava certeza se traziam bonança ou tormenta. Gaudêncio fitou a grande figura e desembainhou a espada que trazia junto de si, erguendo-a em desafio. Mas a voz vacilava nas ordens, de modo que só grunhidos foram ouvidos. Trepidações começaram. Vagas tremendas se formaram. Então, a voz esganiçada escalou a garganta e explodiu: — Aos seus postos, homens!” Confira a votação, classificação e somatória final na tabela.

Obs: Os contos de Sidney Muniz e Maria Santino obtiveram o mesmo total de pontos, porém, o maior número de notas dez (10) deu vantagem para o “Beijos Encantados”. A desclassificação e desistência de alguns participantes sempre vai nos deixar entristecidos, porque nossa proposta é aumentar a interação, fazer a troca de figurinhas num clima fraterno sem arrogância e sem ser vazio.

Agora, abrimos espaço para homenagear um grande irmão que nos apoiou com seus comentários em várias edições do nosso desafio. O Poeta e contista PAULO MORENO foi descansar em outro plano. Oferecemos essa edição também para ele que nos presenteou com tantos contos assombrados e “muito bem tecidos” (um termo que ele gostava de usar). Fique em paz, Amigo! Que um dia possamos contar novas histórias.

Um grande abraço para todos! E furacões de inspiração

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Coelhos mágicos falam demais “A pradaria é um péssimo lugar para magia. Prefira as florestas, se densas, melhor ainda. Os prados são muito expostos”.

Virei a página com a certeza de nunca ter lido maior bobagem. Sentei na grama admirando o prado que tanto me encanta. A leve colina à minha frente brilhava com o sol branco da tarde. De onde eu estava podia avistar o mar rodeando toda a ilha. Longe de minha casa, aquele era o meu refúgio favorito. Um feitiço simples me trazia até ali, uma ilha desabitada no meio do oceano, onde podia estudar e treinar minha magia sem incomodar ninguém. Sentado na relva, atirei o livro de lado aproveitando a quietude do momento.

E para meu espanto, no minuto seguinte, saindo da ravina, pulando, milhares de coelhos. Um mar branco invadindo o verde da grama.

Continuei ali, sentado vendo aquela onda branca, quando um deles veio ao meu lado.

— Que dia! — Disse ele.

Olhei espantado e meneei a cabeça concordando. Me recuso a falar com um coelho, ainda não perdi toda minha sanidade.

Passamos alguns minutos em silêncio e não me contive.

— Achei que vocês coelhos selvagens tivessem hábito noturno.

— Coelho? O que é um coelho? — Ele disse olhando para mim com seus pequenos olhos vermelhos.

— Vocês são coelhos.

— Bah, coelhos. Somos turfes. É tão difícil assim de reconhecer? Eu sou Tkint Al de Baran, o primeiro general da dinastia Baran. Viremos em quatro dinastias. A primeira parte da invasão coube à casa Baran. Olhe os quatro brasões, esse com as cenouras cruzadas são da casa Baran, não são de longe os mais bonitos? Nossa, estou exausto. Manter esse portal aberto é muito cansativo, até para alguém com grande poder mágico como eu. — Falava sem parar e sem nenhuma modéstia.

A nova informação parecia lógica, Turfes... melhor do que coelhos falantes. Então caiu a ficha.

— De que invasão você está falando?

— Não parece óbvio? Estamos invadindo seu planeta.

— Coelhinhos sem armas...hehehe...— falei enquanto o erguia pelas orelhas.

— Tire esse sorriso idiota da cara. Olhe quantos estão chegando... serão vinte e cinco mil e oitocentos, só de batedores, e logo virão mais, muitos mais. Somados aos próximos vinte e cinco milhões, cada fêmea se reproduz a cada trinta dias, em média quatro filhotes, se forem duas fêmeas em seis meses já estarão se reproduzindo. Faça as contas. Ah, já disse, não somos coelhos, somos turfes.

Tentei fazer a conta, mas tinha muitos zeros e desisti.

— E por que estão nos invadindo?

— Olhe bem, — falou baixinho com um tom de cumplicidade—, nosso planeta virou um deserto, de lá saímos para mais de vinte outros planetas e hoje todos são desertos. É uma maldição que carregamos. Aonde vamos, acabamos comendo tudo que existe. Sempre chegamos a um planeta pacificamente, embora nem sempre sejamos recebidos da mesma maneira. Mesmo quando nos atacam, ou matam, o número de turfes colonizadores é tão grande que não faz diferença se matam alguns milhares.

— Mas por que este planeta especificamente?

— Acaso. Foi onde o portal abriu.

Enquanto ele falava tentei uma magia...puff...sumiu um turfe que estava na minha frente, imediatamente cinco outros apareceram.

— Haha...magia não adianta — zombou Tkint, —, também conhecemos.

“Maldição uma ova”, pensei. “Fome sem fim, isso sim”. Comecei a refletir e ficar preocupado. Os mestres feiticeiros não se preocupariam com o que parecem ser coelhos até não haver mais saídas.

Subi correndo, tropeçando, até a próxima colina de onde estavam vindo os turfes, sempre levando Tkint pelas orelhas.

O portal estava à vista no fundo da ravina, uma onda de turfes atravessava pulando sem parar. Parecia que aquilo nunca mais ia acabar. Então tive uma ideia. Comecei a fazer cócegas na barriga de Tkint. Em meio a suas reclamações e risadas ele desconcentrou-se e o

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portal fechou.

— Seu idiota, veja o que fez! — agora ele estava realmente irritado. Mordeu minha mão fazendo com que eu o soltasse. – Seu imbecil, paspalho. Olhe só o trabalho que terei que recomeçar!

Apesar do aspecto de coelhos fofinhos, cinquenta deles cercando-o e aguardando as ordens do chefe era de dar medo sim.

— Desculpe, sinto muito, vamos até minha casa e eu o compensarei.

Ele olhou-me desconfiado.

— compensará como?

— Tenho muita cenoura. — Falei hesitante se este seria um bom argumento. Respirei aliviado quando ele moveu o focinho e os bigodes com sinal de satisfação antecipada.

— Sabe que não adiantará nada me atacar, não é? Meus tenentes, mesmo sem a minha capacidade mágica, reabrirão o portal. Te contei que meu planeta se chama Turf? Por isso nos chamamos turfes, porque somos de Turf.

Concordei em silêncio. Bom, pelo menos ganhei algum tempo. Com uma varinha desenhei um pentagrama no chão e ele pulou para dentro junto comigo, enquanto continuei a desenhar símbolos místicos nos quatro quadrantes. E no minuto seguinte estávamos na frente de minha casa. Pequena, porém sólida, de pedras, com porta e janelas da madeira escura encontrada na região e coberta de palha. Eu a construí num contraforte, com boa visão da planície e caminho fácil para a montanha. Atrás da casa, um celeiro de pequena proporção era o suficiente para guardar nossa produção. Descendo a planície e atravessando um grande bosque em direção ao sul, chega-se a vila.

Assim que ouviu o barulho, Jhill, meu irmão mais novo, saiu da casa e quase caiu para trás quando ouviu um “coelho” falando. E como fala...

Mostrei a Tkint a horta afastada alguns metros, mas ele ficou confuso.

- Onde estão as cenouras?

- Na terra, basta pegar.

E ele continuou me olhando como se não entendesse nada. Me abaixei, apanhei uma cenoura pelo talo e entreguei a ele.

Tkint piscou várias vezes os olhinhos vermelhos e

depois de algum tempo perguntou:

— Então é assim que vocês as criam aqui? Mas ela está suja de terra. Não dá pra comer assim.

Resignado eu apanhei a cenoura, cortei o talo e lavei-a e entreguei-lhe novamente, só então ele começou a comer. Apanhei e limpei mais meia dúzia de cenouras e enquanto Tkint comia chamei meu irmão e o mandei ir até a vila com a maior urgência e entregar um recado ao conselho dos Elderes. Escrito às pressas, poucas palavras informando a gravidade da situação e solicitando a presença do conselho.

— Já estou indo, mas... ele é mesmo um coelho falante?

— Calado, depois eu explico, agora vai como vento.

Meia hora se passou e um grande redemoinho surgiu do nada no meu quintal e como surgiu desapareceu, deixando em seu lugar todo o conselho. Cinquenta magos. Todos cercaram Tkint e começaram a inquiri-lo. Falar nunca foi o problema dele. Aliás, falava mais do que devia. Respondia o que lhe perguntavam e mais, falava do planeta Turf, das dinastias, das tradições, da vida, da fome, da sua prole, da magia turfiana. Falava e falava e falava.

— Muito bem, vocês são ótimas pessoas mas tenho que ir para reabrir o portal. Obrigado pelas cenouras, tem um gosto realmente especial, deve ser por estarem na terra, as nossas crescem em galhos de cenoureiras, mais fácil de colher, porém o sabor levemente mais insípido.

— Sr. Tkint,— pronunciou o Elder Warlock —, temos uma proposta para o senhor. Podemos resolver facilmente o problema de super população que seu mundo encontra, desde que não inunde nosso mundo. Podemos aceitar os que já estão aqui, mas não os milhões que virião, e o Sr. poderá regressar ao seu mundo levando a eles também a solução. Usamos o controle de natalidade a muitas gerações, podemos alterá-la facilmente para a sua raça.

— Sinto muito senhores, mas os Masters das quatro dinastias maiores já decidiram, a invasão não pode mais ser evitada.

Dando por encerrada a conversa ele tentou fazer uma conjuração espacial para voltar, mas não conseguiu.

— O que acontece com esse mundo? Por que o portal não abre?

— Somente um portal, pode ser aberto neste mundo, no local original onde vocês chegaram, nem a magia pode alterar as correntes iônicas cósmicas. —Explicou Warlock.

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— E como vim para cá?

— Por magia claro, mas não funciona como um portal, apenas uma ou duas pessoas podem se deslocar dessa maneira.

— Então queiram ter a bondade de me devolver aonde cheguei, tenho muito trabalho a fazer, reabrir o portal e dar continuidade a invasão.

— Muito bem Sr. Tkint, atenderemos ao seu desejo — e dirigindo-se ao conselho: — irmãos, ao meu sinal – comandou o Elder, e todos conjuraram o feitiço enviando o turfe de volta a ilha.

— Quantos coelhos vocês acham que caberão numa ilha de sete quilômetros quadrados? — Perguntou o Elder Warlock a seus pares, sorrindo, enquanto desciam em direção à vila.

Nilo Paraná Júnior é médico homeopata, tem 61 anos e escreve desde a adolescência. Casado e pai de 3 filhos, gosta de escrever quase tanto quanto de ler. “Enquanto a leitura te faz viajar, a escrita direciona a viagem. Venho me dedicando com mais afinco nos últimos 5 anos. Aprendi que quando preciso falar devo falar em pé para ser visto, alto para ser ouvido e rápido para não cansar os ouvintes. Procuro usar as mesmas regras na escrita.”

Página do autor: http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=167756

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A música

A literatura não é tão rica de música quanto a

música é de literatura. Escrever sobre música é um desafio e tanto, mas existem obras primas da literatura universal que a exploram de forma intensa. O escritor francês Marcel Proust (1871-1922), em sua obra “No caminho de Swan” (1913), faz da sonata do Senhor Vinteuil quase um personagem do romance.

“No caminho de Swan” é o primeiro de sete volumes de “Em busca o tempo perdido” e na obra toda são citadas quase cinquenta compositores que vão do barroco e rococó, passando pelo classicismo e romantismo, até o modernismo, balés russos e poemas sinfônicos. Entre eles estão nomes conhecidos como: Bach, Mozart, Beethoven, Schumann, Schubert, Chopin, Verdi, Wagner e Stravinsky. Proust era dotado de um gosto musical refinado e entendia bem do assunto o que lhe permitiu escrever tanto sobre música nessa extensa obra.

Considera-se que a “Sonata de Vinteuil” é a “Sonata para Violino em Lá Maior” do compositor belga César Franck (1822-1890) ou pelo menos é

muito parecida. Proust escreveu numa carta datada de 1895: “A essência da música é despertar em nós um fundo misterioso de nossa alma, que começa onde o finito e a ciência param, e que se pode chamar por isso mesmo de religioso.” A “Sonata de Vinteuil” fisgou o personagem Charles Swan através de um pequeno trecho que o emocionou de uma forma toda especial como se despertasse “um fundo misterioso” de sua alma.

Proust dedica muitas páginas mergulhando fundo no que representa um pequeno trecho da sonata para Swan, enquanto aparece na vida deste Odette de Crécy que se torna seu grande amor. Swan é um ciumento compulsivo e no tormento que passa a ser sua vida por causa disso, a “Sonata de Vinteuil” ganha um significado cada vez mais profundo.

O autor trabalha isso e muito mais no cotidiano de seu personagem. A música pode pertencer a um domínio “divino-invisível”, mas nunca fora do nosso cotidiano. Como leitor, confesso que sinto falta de música na literatura e como escritor

na Literatura

Carlos Henrique Fernandes Gomes ([email protected])

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de final de semana, até que tento amenizar essa falta.

Outras iniciativas de maior expressão acontecem em desafios de contos na internet. No mês de setembro de 2014 ocorreu, no blog EntreContos, o desafio com o tema “Música”, que contou com quarenta contos inscritos. Entre os meses de março e abril deste ano, o Desafio de Terror do Site Recanto das Letras, o famoso DTRL, teve como um de seus cinco temas a música. Foram trinta e quatro contos participantes, sendo dez sobre música, inclusive o meu.

Voltando à obra de Proust. “Em busca do tempo perdido” tem uma característica ímpar: sensações como toque, cheiros, molhar um biscoito no chá, música sou até um tropeção que levam o narrador às lembranças do passado. Como todos temos pelo menos uma música marcante na vida, nem precisa dizer que ela é parte importante do nosso cotidiano.

Proust escreve sobre música, em geral, fazendo uma análise técnica em forma de reflexões como se fosse um fã e não como especialista; mesmo que pareça um. Tendo esse estilo como ponto de partida, pergunto-me por que escrevemos pouco sobre esse tema fascinante e não chego a uma resposta satisfatória.

Seria por causa das sensações complexas que a música desperta? Por que o autor não encontra, dentro da profundidade de seu personagem, onde encaixar a música? Pela dificuldade de casar a personalidade do personagem, seu contexto dentro do conto ou o objetivo do autor com a música? Não consigo encontrar uma resposta e nem poderia. Posso falar por mim, e como amo música, pode ser que tenha menos dificuldades com o tema, mas é provável que minha dificuldade seja como a de todos.

E quem disse que escrever é fácil? É um desafio quase impossível vencer a folha branca ou a tela do computador com o cursor piscando (aquele tracinho na vertical) à espera da primeira letra. Mas quando germina a primeira palavra, a primeira frase, quando irrompe a tempestade cerebral, nesse momento a produção literária materializa-se. E por que não pode sair música dessa tempestade?

Imagine que o cursor piscando na tela do computador é uma clave de sol esperanto pela primeira nota musical da partitura e que você, escritor, quer dar de presente aos seus leitores uma sonata tal qual a “Sonata de Vinteiul” que fisgue um deles como aconteceu com Swan. Imaginou? É esse o princípio de tudo.

Inspire-se! Eis uma lista de algumas canções citadas nas obras de Proust, retiradas do site (Espaço literário)

COMPOSITOR OBRA COMPOSITOR OBRA

Bach

Fugas

Mozart

Quinteto com clarineta

Bethooven

Sonata ao luar

Richard Strauss

Josephs-Legende

Berlioz

A infância de Jesus

Richard Wagner

Crepúsculo dos Deuses

Chopin

Prelúdios

Shumman

Lieder

Meyerbeer

Roberto, o diabo

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Artista do Mês

Por que parar se a música é um assunto tão interessante? Pois é, nosso artista do mês é músico e brasileiro. Diz aí, quem nunca fechou os olhos para cantar o refrão de “Tarde em Itapuã”, ou deu aquele sorriso enternecido ao ouvir a belíssima “Aquarela”? — Essa música, diga-se de passagem, foi disco de ouro na Itália, em 1983. Então canta aí!

“Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo. E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo.”

Toquinho nasceu em 6 de julho do ano de 1946, em São Paulo, e recebeu o nome de Antônio Pecci Filho. De família italiana, morou com os irmãos no bairro de Bom Retiro, onde já era chamado pelo apelido de Toninho, ou “meu toquinho de gente” (como a mãe carinhosamente o chamava). Era perfeccionista nos estudos e tinha crises hepáticas em dias de provas (por isso as aulas de violão, estimuladas pela mãe, vieram como uma forma de terapia para aliviar essa tensão). Mas o contato com a música veio bem antes, pois o pai de Toquinho sempre encheu a casa com as vozes de Luiz Gonzaga, Ângela Maria, Chopin e muitas outras canções para embalar as refeições da família (ótima ideia, não?).

A primeira aparição televisiva de Toquinho aconteceu em 1964, num programa vespertino chamado “A Patota da Bossa nova.” Sua carreira despontou no mesmo período em que Chico Buarque e Elis Regina também ganhavam notoriedade. A presença de Toquinho tornou-se constante nos shows subsequentes produzidos por Walter Silva, que entraram pelo ano de 1965, transformando-se inclusive em programa da TV Tupi, Canal 3, sob o nome de BO65.

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Fotos extraídas do website: www.toquinho.com.br

Toquinho aos seis meses. Fofo, não?

O músico e “o poetinha”, apelido

carinhoso de Vinícius de Morais. A parceria

durou 11 anos.

Primeiro LP (1966)

A vida, amigo, é a arte do encontro (1969). LP

que possibilitou a aproximação com o

poeta Vinicius

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Toquinho e “O Carioca” (apelido de Chico Buarque de Holanda), eram muito amigos e compuseram canções juntos, assim como viajaram juntos para se exilar das perseguições constantes do período da ditadura brasileira. Foi nessa viagem que surgiu a porta para a futura parceria com o poeta Vinícius de Morais. Toquinho foi convidado a participar do disco A Vida, amigo, é a arte do encontro, em homenagem a Vinícius e, coincidentemente o LP possibilitou a aproximação dos dois. “Toco”, como Vinícius o chamava, tinha então 23 anos e Vinícius de Morais, 56. O tempero foi certeiro, de um lado havia a juventude que o poeta precisava e do outro a autoconfiança e experiência para o músico.

A parceria durou onze anos e muitas músicas foram compostas, bem como shows, viagens e peças de teatro. Só para se ter ideia, foram mais de 120 canções, 25 discos (vinil) e de mil espetáculos em lugares como: Argentina, Paris, Londres, Itália, Suíça e muitos outros lugares. Num apanhado geral, o músico já gravou um pouco mais de noventa LPs, CDs e DVDs juntos, suas parcerias incluem Jorge Ben Jor, Paulinho da Viola, Belchior, Maria Bethânia, e tantos outros nomes da MPB e Internacionais. Andrea Bocelle que é apreciador da música brasileira, emocionou o músico ao tocar, no piano, suas composições quando veio ao Brasil.

Dois dos mais belos álbuns infantis baseado na obra de Vinicius foram musicados por Toquinho (A arca de Noé I e II), e ele ainda gravou outras canções para crianças e álbuns inteiros falando sobre o direito dos pequeninos, totalizando seis obras só para o universo infantil — Já ouviram “O caderno”? É linda!

Em 2009, nosso artista recebeu o prêmio Press Awaed por sua contribuição como músico, compositor e intérprete, e personalidade cultural brasileira de incontestável êxito e reconhecimento internacional. No ano seguinte Toquinho faria a adaptação do musical “Cats” para versão portuguesa e acrescentaria o clima da nossa música para a peça (é mole?).

Por todos esses motivos, nosso artista do mês não poderia ser outro.

Parabéns, Toquinho!

Saiba mais em toquinho.com.br

O primeiro LP da parceria, cuja música de abertura é “Tarde em Itapuã” (1971)

Aquarela é a sétima faixa do LP e

possivelmente é composição da dupla

mais conhecida no Brasil e fora dele

(1982)

O musical famoso e traduzido em mais de

20 idiomas, foi adaptado para versão brasileira pelo músico,

em 2010

Fotos extraídas do website: www.toquinho.com.br 23

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Respire & Inspire-se

Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá. E também tem poesia! Hoje, pego emprestada a Canção do Exílio para matar um pouco as saudades do Maranhão, relembrando um dos maiores poetas que o meu lindo estado já produziu (além do meu pai, hehe!).

A praça ao lado está localizada no fim da rua Rio Branco e se chama “Praça Gonçalves Dias.” Foi inaugurada em 1873 e, claro, é uma homenagem ao poeta romântico Antônio Gonçalves Dias (1823-1864). Olha ele aí!

GD morreu afogado aos 41 aninhos de idade, quando o navio “Ville de Boulognem” onde ele estava, bateu em um banco de areia e afundou em Atins, perto dos Lençóis Maranhenses.

Visitar a cidade de São Luiz, é também dar um salto no passado. Ela recebe esse nome em homenagem ao rei da França Luiz XI (sim, foi fundada por franceses). Muitas construções antigas ainda estão de pé, afinal São Luiz foi tombada como patrimônio cultural da humanidade. Azulejos franceses e portugueses revestem as fachadas das construções (isso designava riqueza).

E como não falar das praias e dunas?

O parque dos lençóis Maranhenses é o mais visitado, e as formações criadas pela natureza faz o lugar parecer um deserto, mas, detalhe, aqui chove. É ou não é inspirador?

Virgínia Ossovisk ([email protected])

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Minha terra tem palmeiras, onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.

Mas, voltando ao autor de Canção do Exílio. Gonçalves Dias era filho de um português com uma mestiça, o que lhe rendeu algumas dificuldades na vida, embora se orgulhasse muito de suas origens. Apesar disso, estudou Direito em Portugal, onde também teve tempo para se inspirar no romantismo europeu. Conhecendo várias línguas, o poeta, além de professor e jornalista, era também um estudioso da cultura indígena – chegou a montar um dicionário de Tupi! Sua poesia absorveu essa sua ligação com as raízes da cultura nacional. Os mais famosos poemas indianistas são “Juca Pirama” e o inacabado “Os Timbiras”, provas mais do que suficientes de que Gonçalves Dias foi muito além do romantismo europeu.

IV

Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas, Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo Da tribo tupi.

Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte;

Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi.

Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.

O poeta pretendia escrever 16 cantos, porém apenas 4 foram publicados. Ele já tinha escrito 12, mas os originais dos mais novos afundaram junto com ele no Ville de Boulogne. Será que alguém já mergulhou para procurar? Eu me habilito!

Viu? Alguns versos de Canção do Exílio até foram “emprestados” para o Hino Nacional Brasileiro.

Inspire-se! Conheça a terra do grande poeta Gonçalves Dias. Conheça a minha terra.

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Meu lar de palavras...

Meu lar de palavras... onde absorta em versos

sequer percebo as dimensões que se estreitam.

. À procura de ar

a vida que me oxigena requer saídas e visões

que se superam .

e lançam-se a buscar solos férteis em amena ousadia de sensações

que se germinam .

Meu amor às palavras... onde os sonhos são berços

de poesia e exalações que se combinam

. Anorkinda

Vozes femininas -

Anorkinda Neide

Anorkinda é pseudônimo de Neide Escada da Rosa, nascida em Porto Alegre, RS. Poetisa com projetos na Literatura Infantil, Adulta e Infanto-juvenil. Participou do POEMAS NO ÔNIBUS da cidade de Porto Alegre e Antologia do CBJE. Edita os blogs QUERUBIM (poemas infantis), DE DENTRO DE MIM (poemas adultos) Tem livros editados e publicados e à venda pelo Clube de Autores https://-www.clubedeautores.co-m.br/authors/107750

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8ºDesafio Contadores de Histórias - Internet