contos que elevam a alma 2

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CONTOS QUE ELEVAM A ALMA Livro II Material recolhido no site http://aeradoespirito.sites.uol.com.br por Antonio Celso

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Page 1: Contos que elevam a alma  2

CONTOS

QUE

ELEVAM

A ALMA Livro II

Material recolhido no site http://aeradoespirito.sites.uol.com.br

por Antonio Celso

Page 2: Contos que elevam a alma  2

O ALFAIATE E O TESOURO DE BRESA O ANÚNCIO O ASNO EM PELE DE LEÃO O BAMBU AMADO O BOSQUE O CACHORRO O CÃO E A OVELHA O CHINÊS LAILAI O CHORO DA ESTRELA O COBRADOR! O CONTRABANDISTA O CORVO COBIÇOSO O DESAFIO DA MONTANHA O FILHOTE DE BATATA O FORMIGUEIRO E O DRAGÃO O FRIO QUE VEIO DE DENTRO O FURO NO BARCO O GAROTO, O PAI E A VASSOURA O GRANDE PRÍNCIPE O GUERREIRO E O MONGE O HOMEM E O RIO O INTELECTUAL E AS RESPOSTAS ZEN O LADRÃO DE MACHADO O LADRÃO E O CÃO DE GUARDA O LIVRO DO DESTINO O LOBO E O CORDEIRO O MAL EXISTE? O MENINO E O TELEFONE O MESTRE SUFI E O OVO O MITO DA CAVERNA O MONGE E O PADEIRO O MOSQUITO E O TOURO O MUDO E O PAPAGAIO O OBSERVADOR O PAVÃO O QUE MAIS? O RECADO DA DONA VIDA... O REI E O SÁBIO O REI MENDIGO O REI NARIGUDO O REI, O SUFI E O CIRURGIÃO O SERMÃO O TAPETINHO VERMELHO O TOLO QUE ERA SÁBIO

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O VINHO E A ÁGUA OLHAI OS LÍRIOS DOS CAMPOS ONDE COLOCAR O SAL? ONDE ESTÃO OS NOSSOS DEFEITOS ORAÇÃO OS FILHOS DA TERRA OS LADRÕES DOS HOMENS OS MEDIADORES ENTRE O HOMEM E A VERDADE OS MELHORES CONSELHOS OS TRÊS BEDUÍNOS OS TRÊS CRIVOS PAGANDO TRÊS VEZES PELA MESMA COISA PAPAI ESTÁ NO LEME PASSEIO DE BARCO PEDRA NO CAMINHO POR QUE AS PESSOAS GRITAM? PRÍNCIPE DOS MENDIGOS QUE TIPO DE PESSOAS VIVEM NESTE LUGAR? QUEM NÃO TE CONHECE QUE TE COMPRE REGRESSO AO LAR SANTIDADE SEJA A DIFERENÇA SÃO AGNÓSTICO SECANDO FARINHA NO VARAL SONS INAUDÍVEIS TRÊS HOMENS, O GÊNIO E AS ROSAS UM FILÓSOFO QUESTIONA BUDDHA UM SONHO DE BAILARINA UMA COLHEITA INESPERADA UMA FÁBULA JUDAICA UMA FÁBULA SOBRE A FÁBULA UMA FORÇA DESCONHECIDA UMA HISTÓRIA TURCA VENCER SIM, MAS NÃO SOZINHO VIVER COMO AS FLORES

VÔO TURBULENTO

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O ALFAIATE E O TESOURO DE BRESA

Conta-se que houve, outrora, na Babilônia - a famosa cidade dos Jardins Suspensos - um pobre e modesto Alfaiate, chamado Enedim. Homem inteligente e trabalhador, que, por suas boas qualidades e amor no coração, era muito querido no bairro em que morava. Enedim passava o dia inteiro, de manhã à noite, cortando, costurando e preparando as roupas de seus numerosos fregueses, e, embora, muito pobre, não perdia a esperança de vir a ser muito rico, senhor de muitos Palácios e grandes tesouros. Como conquistar, porém, essa tão ambicionada riqueza? - pensava o mísero alfaiate, passando e repassando a agulha grossa de seu ofício - Como descobrir um desses famosos tesouros que se acham escondidos na terra ou perdidos nas profundezas do mar? Ouvira contar, em palestra com estrangeiros vindos do Egito, da Síria e da Grécia, histórias prodigiosas de aventureiros que haviam topado com cavernas imensas, cheias de ouro... Grutas profundas crivadas de brilhantes... Caixas pesadíssimas a transbordar de pérolas. E não poderia ele, à semelhança desses aventureiros felizes, descobrir um tesouro fabuloso e tornar-se, assim, de um momento para o outro, o homem mais rico daquelas terras? Ah! Se tal coisa acontecesse, ele seria, então, senhor de um imenso e magnífico palácio... Teria numerosos escravos e, todas as tardes, num grande carro de ouro, tirado por mansos leões, passearia, de seu vagar, sobre as muralhas da Babilônia, cortejando amistosamente os Príncipes ilustres da casa Real. Assim meditava o bondoso Enedim, divagando por tão longínquas riquezas, quando lhe parou à porta da casa um velho mercador da Grécia, que vendia tapetes, imagens, pedras coloridas e uma infinidade de outros objetos extravagantes tão apreciados pelos Babilônios. Por mera curiosidade, começou Enedim a examinar as bugigangas que o vendedor lhe oferecia, quando descobriu, entre elas, uma espécie de livro de muitas folhas, onde se viam caracteres estranhos e desconhecidos. Era uma preciosidade aquele livro, afirmava o mercador, passando as mãos ásperas pelas barbas que lhe caiam sobre o peito, e custava apenas três dinares. Três dinares. Era muito dinheiro para o pobre alfaiate. Para possuir um objeto tão curioso e raro, Enedim seria capaz de gastar até os dois últimos dinares que possuía. - Está bem - concordou o mercador - fica-lhe o livro por dois dinares, mas esteja certo de que lhe foi de graça! Afastou-se o vendedor e Enedim tratou, sem demora, de examinar cuidadosamente a preciosidade que havia adquirido. Qual não foi a sua surpresa quando conseguiu decifrar, na primeira página, a seguinte legenda, escrita em complicados caracteres caldaicos: "O segredo do tesouro de Bresa". Por Deus! Aquele livro maravilhoso, cheio de mistério, ensinava, com certeza, onde se encontrava algum tesouro fabuloso! O TESOURO DE BRESA! Mas, que tesouro seria esse? Enedim recordava-se vagamente, de já ter ouvido qualquer referência a ele. Mas quando? Onde? E com o coração a bater descompassadamente, decifrou ainda: "O tesouro de Bresa, enterrado pelo gênio do mesmo nome entre as montanhas do Harbatol, foi ali esquecido, e ali se acha ainda, até que algum homem esforçado venha a encontrá-lo". Harbatol? Que montanhas seriam essas que encerravam todo o ouro fabuloso de um gênio? E o esforçado alfaiate, dispôs-se a decifrar todas as páginas daquele livro, e ver

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se atinava, custasse o que custasse, com o segredo de Bresa, para apoderar-se do tesouro imenso que o capricho de seu possuidor fizera enterrar nalguma gruta perdida entre as montanhas. As primeiras páginas eram escritas em caracteres de vários povos. Enedim foi obrigado a estudar os hieróglifos egípcios, a língua dos gregos, os dialetos persas, o complicado idioma dos judeus. Ao fim de três anos, deixava Enedim a antiga profissão de alfaiate, e passava a ser o intérprete do Rei, pois na cidade não havia quem soubesse tantos idiomas estrangeiros. O cargo de intérprete do Rei era bem rendoso. Ganhava Enedim, cem dinares por dia; ademais morava numa grande casa, tinha muitos criados e todos os nobres da corte o saudavam respeitosamente. Não desistiu, porém, o esforçado Enedim, de descobrir o grande mistério de Bresa. Continuando a ler o livro encantado, encontrou várias páginas cheias de cálculos, números e figuras. E, a fim de ir compreendendo o que lia, foi obrigado a estudar Matemática com calculistas da cidade, tornando-se, ao cabo de pouco tempo, grande conhecedor das complicadas transformações aritméticas. Graças a esses novos conhecimentos adquiridos, pode Enedim calcular, desenhar e construir uma grande ponte sobre o Eufrates; esse trabalho agradou tanto ao Rei, que o monarca resolveu nomear Enedim para exercer o cargo de Prefeito. O amigo e humilde alfaiate passava, assim, a ser um dos homens mais notáveis da cidade. Ativo e sempre empenhado em desvendar o segredo do tal livro, foi compelido a estudar profundamente as leis, os princípios religiosos de seu país e os do povo caldeu; com o auxilio desses novos conhecimentos, conseguiu Enedim dirimir uma velha pendência entre os doutores. - É um grande homem o Enedim! - declarou o Rei quando soube do fato - Vou nomeá-lo Primeiro Ministro. E assim fez. Foi o nosso esforçado herói, ocupar o elevado cargo de Primeiro Ministro. Vivia, então, num suntuoso palácio, perto do jardim Real, tinha muitos criados e recebia visitas dos príncipes mais poderosos do mundo. Graças ao trabalho e ao grande saber de Enedim, o reino progrediu rapidamente e a cidade ficou repleta de estrangeiros; ergueram-se grandes palácios, várias estradas se construíram para ligar Babilônia às cidades vizinhas. Enedim era o homem mais notável do seu tempo. Ganhava diariamente mais de mil moedas de ouro, e tinha em seu palácio de mármore e pedrarias, caixas cheias de jóias riquíssimas, e de pérolas de valor incalculável. Mas - coisa interessante! - Enedim não conhecia ainda o segredo do livro de Bresa, embora lhe tivesse lido e relido todas as páginas! Como poderia penetrar naquele mistério? E um dia, cavaqueando com um venerando sacerdote, teve a ocasião de referir-se à incógnita que o atormentava. Riu-se o bom religioso, ao ouvir a ingênua confissão do grande vizir, e, afeito a decifrar os maiores enigmas da vida, assim falou: - "O tesouro de Bresa já está em vosso poder, meu senhor. Graças ao livro misterioso é que adquiristes um grande saber, e esse saber vos proporcionou os invejáveis bens que já possuis". Bresa significa "saber". Harbatol quer dizer "trabalho". Com estudo e trabalho pode o homem conquistar tesouros maiores do que os que se ocultam no seio da terra ou sob os abismos do mar! Tinha razão o esclarecido sacerdote. Bresa, o gênio, guarda realmente um tesouro valiosíssimo, que qualquer pessoa, esforçada e inteligente pode conseguir; essa riqueza prodigiosa não se acha, porém perdida no seio da terra nem nas profundezas dos

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mares; Encontrá-la-eis, sim, nos bons livros, nos estudos, na dedicação ao trabalho, que proporcionando saber às pessoas, abrem para aqueles que se dedicam as portas maravilhosas de mil tesouros encantados!

* * *

O ANÚNCIO Conto sufi

Nasrudin (*) postou-se na praça do mercado e dirigiu-se à multidão: - Ó povo deste lugar! Querem conhecimento sem dificuldade, verdade sem falsidade, realização sem esforço, progresso sem sacrifício? Logo juntou-se um grande número de pessoas, com todo mundo gritando: - Queremos, queremos! - Excelente! Era só para saber. Podem confiar em mim, que lhes contarei tudo a respeito, caso algum dia descubra algo assim.

* * * (*) Mulla Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din) viveu no século XIV. Contou e escreveu histórias onde ele próprio era personagem. São histórias que atravessaram fronteiras desde sua época, enraizando-se em várias culturas. Elas compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou o Sufismo, filosofia de autoconhecimento de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje. O termo sufismo é utilizado para descrever um vasto grupo de correntes e práticas. As ordens sufis (Tariqas) podem estar associadas ao islã sunita, islã xiita, a uma combinação de várias correntes, ou a nenhuma delas. O pensamento sufi se fortaleceu no Médio Oriente no século VIII e encontra-se hoje por todo o mundo. De acordo com as grandes escolas de jurisprudência islâmica, o sufismo é considerado como um movimento herético, tendo sido, por isso, perseguido inúmeras vezes ao longo da história. Conhecido por muitos como o misticismo do Islã, o sufismo é uma filosofia de autoconhecimento e contato com o divino através de certas práticas as quais nem sempre seguem um padrão fixo e frequentemente parecem incompreensíveis a um observador que esteja fora do contexto de trabalho. Estas práticas devem ser aplicadas por um professor. Os sufis acreditam que Deus é amoroso e o contato com ele pode ser alcançado pelos homens através de uma união mística, independente da religião praticada. Por este conceito de Deus, foram, muitas vezes, acusados de blasfêmia e perseguidos pelos próprios muçulmanos esotéricos, pois contrariavam a idéia convencional de Deus.

Fontes: http://contoseparabolas.no.sapo.pt/03outros/sufin.htm e http://pt.wikipedia.org/wiki/Sufismo

* * *

O ASNO EM PELE DE LEÃO

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Um Asno, ao colocar sobre seu dorso uma pele de Leão, vagava pela floresta divertindo-se com o pavor que causava aos animais que ia encontrando pelo seu caminho. Por fim encontra uma Raposa e também tenta amedrontá-la. Mas a Raposa, tão logo escuta o som de sua voz, exclama com ironia: Eu certamente teria me assustado, se antes, não tivesse escutado o seu zurro.

Esopo (*) Moral da História: Um tolo pode se esconder por trás das aparências, mas suas palavras acabarão por revelar à todos quem na verdade ele é.

* * * (*) Esopo é um lendário autor grego. Teria vivido na Antigüidade, ao qual se atribui a origem da fábula como gênero literário. Foi-lhe atribuído um conjunto de pequenas histórias, de caráter moral e alegórico, cujos papéis principais eram desenvolvidos por animais. (Fonte: Wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Esopo)

* * *

O BAMBU AMADO

Era uma vez um maravilhoso jardim, situado bem no centro de um grande campo. O dono costumava passear pelo jardim, ao clarão do luar, à noite... Um belo bambu era para ele a mais bela e estimada de todas as árvores do seu jardim. Ao seu olhar carinhoso, esse bambu crescia e se tornava cada vez mais formoso. Ele sabia que seu senhor o amava e que ele era sua alegria. Um dia, o dono, pensativo, aproximou-se do seu amado bambu e, num gesto de profunda veneração, o bambu inclinou sua cabeça imponente... O senhor disse a ele: – Querido bambu, eu preciso de você. O bambu estava feliz, parecia ter chegado a grande hora de sua vida. Ele respondeu: – Meu senhor, estou pronto, faze de mim o que quiseres! – Bambu! – a voz do senhor era grave – Bambu, só poderei usá-lo, se eu o podar. – Podar? A mim, senhor?! Por favor, não faças isso! Preserve a minha bela figura. Tu vês como todos me admiram, me elogiam! – Meu bambu amado – a voz do senhor tornou-se ainda mais grave – não importa que o papariquem ou não... seu não o podar não poderei usá-lo... No jardim tudo ficou silencioso. O vento segurou a respiração. Finalmente o lindo bambu se inclinou e sussurrou: – Senhor, se não podes usar sem podar-me... então, faze comigo o que quiseres! – Meu querido bambu – tornou o senhor – devo também cortar as suas folhas! – Óh, senhor, se me amas, preserva-me de tal mal!! Podes destruir minha beleza, mas, por favor, deixa as minhas folhas! – Não o posso usar se não arrancar-lhe as folhas.

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A lua e as estrelas, confusas, escondem-se atrás das nuvens... Algumas borboletas e pássaros, que por ali brincavam, afastaram-se assustados. O bambu, meio trêmulo, à meia voz, disse: – Senhor, corta-as! Mas o senhor disse: – Ainda não basta meu querido bambu. Devo cortá-lo pelo meio e tomar também seu coração. Se não fizer isso não poderá ser-me útil. – Por favor, Senhor – disse o bambu – eu não poderei mais viver... Como viver sem o coração? – Devo tirar seu coração, caso contrário não me serás útil. Então o bambu inclinou-se até o chão e disse: – Corta-me e divide-me se assim o desejares! O senhor desfolhou o bambu... decepou os seus galhos... partiu-o em duas partes... tirou-lhe o coração. Depois, levou-o para o meio do campo ressequido, a uma fonte onde jorrava água fresca. Lá o senhor deitou cuidadosamente o seu querido bambu no chão. Ligou uma das extremidades do tronco decepado à fonte e a outra ele levou para o campo. E a fonte cantou as boas vindas. As águas cristalinas precipitaram-se alegres pelo corpo dilacerado do bambu, correram sobre os campos tórridos e áridos, que por elas tanto tinham suplicado... Ali plantou-se o trigo, o arroz, o milho, rosas... e outras flores das mais variadas espécies e cores. Os dias passaram, a sementeira brotou, cresceu e veio o tempo da colheita... farta e abundante. Assim, o maravilhoso e esbelto bambu. No seu aniquilamento e humildade, transformou-se numa benção especial. Quando ele era belo e jovem, crescia somente para si e se alegrava com sua própria formosura. Agora, no seu despojamento, ele se tornou o canal do qual o senhor se serviu para tornar fecundas as suas terras... e muitos, muitos passaram a viver do pródigo tronco do bambu amado.

* * *

O BOSQUE

Tempos atrás eu era vizinho de um médico cujo "hobby" era plantar árvores no enorme quintal de sua casa. Às vezes, observava da minha janela o seu esforço para plantar árvores e mais árvores, todos os dias. O que mais chamava a atenção, entretanto, era o fato de que ele jamais regava as mudas que plantava. Passei a notar, depois de algum tempo, que suas árvores estavam demorando muito para crescer. Certo dia, resolvi então aproximar-me do médico e perguntei se ele não tinha receio de que as árvores não crescessem, pois percebia que ele nunca as regava. Foi quando, com um ar orgulhoso, ele me descreveu sua fantástica teoria. Disse-me que, se regasse suas plantas, as raízes se acomodariam na superfície e ficariam sempre esperando pela água mais fácil, vinda de cima. Como ele não as regava, as árvores demorariam mais para crescer, mas suas raízes tenderiam a migrar para o fundo, em busca da água e das várias fontes nutrientes encontradas nas camadas mais inferiores do solo. Assim, segundo ele, as árvores teriam raízes

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profundas e seriam mais resistentes às intempéries, essa foi a única conversa que tive com aquele meu vizinho. Logo depois fui morar em outro país, e nunca mais o encontrei. Vários anos depois, ao retornar do exterior fui dar uma olhada na minha antiga residência. Ao aproximar-me, notei um bosque que não existia antes. Meu antigo vizinho havia realizado seu sonho! O curioso é que aquele era um dia de um vento muito forte e gelado, em que as árvores da rua estavam arqueadas, como se não estivessem resistindo ao rigor do inverno, entretanto, ao aproximar-me do quintal do médico, notei como estavam sólidas as suas árvores: praticamente não se moviam, resistindo implacavelmente àquela ventania toda. Que efeito curioso, pensei eu... As adversidades pela qual aquelas árvores tinham passado, tendo sido privadas de água, pareciam tê-las beneficiado de um modo que o conforto o tratamento mais fácil jamais conseguiriam. Todas as noites, antes de ir me deitar, dou sempre uma olhada em meus filhos, debruço-me sobre suas camas e observo como têm crescido. Freqüentemente, oro por eles. Na maioria das vezes, peço para que suas vidas sejam fáceis: "Meu Deus, livre meus filhos de todas as dificuldades e agressões desse mundo". Tenho pensado, entretanto, que é hora de alterar minhas orações. Essa mudança tem a ver com o fato de que é inevitável que os ventos gelados e fortes nos atinjam e aos nossos filhos. Sei que eles encontrarão inúmeros problemas e que, portanto, minhas orações para que as dificuldades não ocorram, têm sido ingênuas demais. Sempre haverá uma tempestade, ocorrendo em algum lugar, portanto, pretendo mudar minhas orações. Farei isso porque, quer nós queiramos ou não, a vida não é muito fácil. Ao contrário do que tenho feito, passarei a orar para que meus filhos cresçam com raízes profundas, de tal forma que possam retirar energia das melhores fontes, das mais divinas, que se encontram nos locais mais remotos. Oramos demais para termos facilidades, mas na verdade o que precisamos fazer é pedir para desenvolver raízes fortes e profundas, de tal modo que quando as tempestades chegarem e os ventos gelados soprarem, resistiremos bravamente, ao invés de sermos subjugados e varridos para longe.

REFLEXÕES: UMA PÉROLA É FORMADA LENTAMENTE, PELO ACRÉSCIMO DE CAMADAS Uma enciclopédia descreve a formação de uma pérola da seguinte maneira: Pérola (do latim pirula = pequena pêra), corpo redondo de madrepérola que se forma no interior de algumas conchas marinhas ou de água doce em conseqüência de um tumor epitelial. Durante o alastramento das células epiteliais, elas segregam, inicialmente, como na formação da casca, uma substância córnea (conchina) e depois a madrepérola (carbonato de cálcio ortorrômbico = aragonita) em calotas concêntricas. UMA PÉROLA É FORMADA COM DORES Quando um corpo estranho (“grão de areia”, etc.) entra na ostra, provocando atrito com seu corpo e o ferindo, a ostra, a ostra libera uma secreção que encapsula o corpo estranho e aos poucos se forma uma preciosa pérola.

PARÁBOLAS PROFÉTICAS: Uma pérola é formada com dores, pág. 101, A pérola é

formada lentamente pelo acréscimo de camadas, pág. 104, Leith, Norbert

* * *

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O CACHORRO

Um açougueiro estava tomando conta de sua loja e ficou realmente surpreso quando um cachorro entrou. Ele espantou o cachorro mas, logo em seguida o cachorro voltou. Novamente ele tentou espantar o cachorro quando viu que o cachorro trazia um bilhete na boca. Ele pegou o bilhete e leu: "Pode me mandar 12 salsichas e uma perna de carneiro, por favor." O cachorro trazia dinheiro na boca também. Ele olhou e viu que dentro da boca do cachorro tinha uma nota de 50 Reais. Então ele pegou o dinheiro, e pôs as salsichas e a perna de carneiro na boca do cachorro. O açougueiro ficou impressionado e como já era mesmo hora de fechar o açougue, ele decidiu fechar e seguir o cachorro. E foi o que ele fez. O cachorro começou a descer a rua quando chegou ao cruzamento. O cachorro depositou a bolsa no chão pulou e apertou o botão para fechar o sinal. Então esperou pacientemente com o saco na boca que o sinal fechasse e ele pudesse atravessar. Ele atravessou a rua e caminhou até uma parada de ônibus, com o açougueiro seguindo ele. No ponto de ônibus o cão olhou para a tabela de horário e então sentou no banco para esperar o ônibus. Quando o ônibus chegou o cachorro foi até a frente pára conferir o número e voltou para o seu lugar. Outro ônibus chegou e ele tornou a olhar, viu que aquele era o ônibus certo e entrou. O açougueiro boquiaberto seguiu o cão. De repente o cão se levantou e ficou em pé nas duas patas traseiras e apertou o botão para saltar, tudo isso com as compras ainda na boca. Bem, o açougueiro e o cão foram caminhando pela rua quando o cão parou em uma casa e pôs as compras na calçada. Então ele voltou um pouco e correu e se atirou contra a porta. Tornou a fazer isso. Ninguém respondeu na casa. Então o cachorro circundou a casa, pulou um muro baixo e foi até a janela e começou a bater com a cabeça no vidro várias vezes. Caminhou de volta para a porta quando um cara enorme a abriu a porta e começou a espancar o cachorro. O açougueiro correu até o homem e o impediu dizendo: "Por Deus do céu homem, o que você está fazendo? O seu cachorro é um gênio!" O homem respondeu: "Um gênio? Esta já é a segunda vez esta semana que este cachorro esquece a chave." Moral da estória: Você pode continuar excedendo as expectativas mas aos olhos de algumas pessoas isto estará sempre abaixo do esperado...

* * *

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O CÃO E A OVELHA

Um cão pôs demanda (discussão) a uma ovelha, dizendo que lhe havia emprestado, para

matar-lhe a fome, um belo osso. A ovelha respondia que nunca lhe pedira emprestada

coisa alguma, e ainda menos ossos, pois nem seus dentes nem seu estômago preferiam

semelhante alimento, pois era herbívora e não carnívora. Mas, pobre dela! O cão achou

por testemunha um lobo, um urubu e um gavião e, mancomunados, jurando os três

terem visto a ovelha receber o osso do cão e roê-lo faminta, ela foi condenada.

MORAL DA HISTÓRIA: Por mais razão que tenhas, fuja de demandas (brigas, discussões

bestas); contra o pobre, ao rico e ao poderoso nunca falta apoio de testemunhas venais

(testemunhas corruptas) capazes de tudo.

* * *

O CHINÊS LAILAI

Um certo dia, um chinês chamado Lailai resolveu dedicar a sua vida à meditação. Decidiu que iria para um mosteiro no alto de uma grande montanha, com objetivo de encontrar a iluminação. Viajou muitos dias e ao chegar em frente ao portão principal do mosteiro, encontrou aquele que seria o seu Mestre. Lailai foi recebido com muito amor pelos monges que há muitos anos viviam por lá. E dizia a todos: - Vim para buscar minha iluminação. Passados alguns anos, o monge Lailai começou a ficar descontente com a sua situação, pois não conseguia encontrar o caminho da luz. Procurou o mestre, e disse-lhe: - Amado Mestre, me ensinastes muitas coisas belas e importantes nesta minha caminhada, mas ainda não consegui alcançar a iluminação em minha vida. Quero desistir da vida de monge e voltar para a minha aldeia. E o Mestre respondeu: - Tudo bem Lailai. Já que você está desistindo desta vida de meditação, quero lhe acompanhar na descida da montanha. Amanhã, às 4 horas da manhã, estarei lhe esperando no portão principal do mosteiro. No horário marcado, Lailai encontrou o seu Mestre. Ao sair do mosteiro o Mestre perguntou ao Lailai: - Querido filho, o que estás vendo neste momento ? Respondeu Lailai. - Mestre vejo o orvalho da madrugada, o cheiro das flores, o céu estrelado e uma lua maravilhosa. Continuaram descendo a montanha. Passada uma hora de caminhada, o Mestre pergunta: - E nesta parte da montanha, o que está vendo ? Respondeu Lailai.

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- Vejo os primeiros raios de sol, escuto o canto dos pássaros e sinto a doce brisa da manhã penetrando em todo o meu ser. E assim continuavam a descer a grande montanha. Passado algumas horas, o Mestre voltou com a mesma pergunta e Lailai assim respondeu: - Mestre, neste trecho da montanha sinto o calor do sol, o som do riacho, o orvalho evaporando e os animais silvestres em harmonia com toda a natureza. Seguiram a caminhada. Chegaram ao pé da montanha ao meio dia. E mais uma vez, o Mestre fez a mesma pergunta e teve como resposta: - Mestre, vejo como a montanha é bela, as árvores da floresta, o riacho doce que circunda o vale, o camponês cuidando da plantação de arroz. Vejo também mestre, uma criança feliz brincando com os seus amigos. Então o Mestre lhe falou: - Agora você já poderá voltar para o mosteiro. Espantado, Lailai perguntou qual seria a razão da volta ao mosteiro. Respondeu o Mestre: - Porque você já encontrou a Iluminação. - Como, Mestre ? - Muito simples. Em cada etapa da descida da montanha você percebeu a importância de cada detalhe da natureza, compreendendo os seus sons, seus cheiros, suas imagens, as suas cores e suas vidas. Assim é que devemos ver e interpretar esta longa caminhada. A isto tudo, nós chamados de iluminação. A cada degrau da vida veja a beleza que ela nos oferece.

* * *

O CHORO DA ESTRELA

Estava Deus, a caminhar, sossegadamente, pelo universo... Contemplava sua criação, e, aproveitando o passeio, verificava se tudo estava correndo bem. Em certo ponto de sua caminhada, deparou-se com uma de suas estrelas, num choro compulsivo... Com certa tristeza, aproximou-se e perguntou docemente: - Por que choras, minha filha? A pobre estrela, aos prantos, mal conseguia falar: - Sabe, meu Pai... Estou triste... não consigo achar uma razão para a minha existência... O sol, com toda a sua magnitude, fornece calor, luz e energia às pessoas... As estrelas cadentes, incentivam paixões e sonhos... Os cometas, geram dúvidas e mistérios... E eu, aqui... parada... Deus ouviu tudo atentamente... com doçura e paciência, decidiu explicar à estrela os porquês, porém, foi interrompido por uma voz, que vinha de longe... Era uma criança, que caminhava com sua mãe, em um dos planetas da região... A criança dizia à sua mãe: - Veja mamãe! O dia já vai nascer!

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A mãe ficou meio confusa... como podia, uma criança, que mal sabia as horas, saber que o sol já nasceria, mesmo estando tão escuro? - Como você sabe disso, meu filho? - Veja aquela estrela! Papai me disse que ela anuncia o novo dia. Ela sempre aparece pouco antes do sol, e aponta o lugar de onde o sol vai sair... Ouvindo aquilo, a estrela pôs-se a chorar... Deus, calmamente lhe falou: - Podes ver? Sabes agora, o motivo de tua existência? Tudo o que criei, fiz por alguma razão de ser. És a estrela que anuncia o novo dia... E com o novo dia, renovam-se as esperanças, os sonhos... E serves para orientar os homens, para onde caminhar. Ao te ver, sabem que não estão perdidos, pois sabem qual o seu destino. A estrela ouviu tudo atentamente... Sentiu uma alegria celestial invadindo sua vida... A partir de então, ela brilhou cada vez mais, pois sabia que era importante e indispensável ao ciclo da vida. Todos nós temos uma razão para estarmos aqui... Mesmo se não soubermos qual é exatamente esta razão, devemos viver a vida intensamente, semeando amor e espalhando alegrias... Só assim, a estrela que habita em nossos corações brilhará mais forte, iluminando a todos que estão à nossa volta. Fazendo isso, estaremos iluminando nossas próprias vidas.

(Geremias Estevão) http://recantodapazdeespirito.blogspot.com/2010/02/o-choro-da-estrela.html

* * *

O COBRADOR!

Depois de um dia de caminhada pela mata, mestre e discípulo retornavam ao casebre seguindo por uma longa estrada. Ao passar próximo a uma moita de samambaia ouviram um gemido, verificaram e descobriram caído um homem. Estava pálido e com uma grande mancha de sangue próximo ao coração. O homem tinha sido ferido e já estava próximo da inconsciência e da morte. Com muita dificuldade, mestre e discípulo carregaram o homem para o casebre rústico onde o trataram do ferimento. Uma semana depois já restabelecido o homem contou que havia sido assaltado e que ao reagir fora ferido por uma faca. Disse que conhecia seu agressor e que não descansaria enquanto não se vingasse. Disposto a partir o homem disse ao mestre: "Senhor, muito lhe agradeço por ter salvado a minha vida, tenho que partir e levo comigo a gratidão por sua bondade. Vou ao encontro daquele que me atacou, vou fazer com que ele sinta a mesma dor que eu senti". O mestre olhou fixo para o homem e disse: "Vá, faça o que deseja. Entretanto devo informá-lo de que você me deve 3.000 moedas de ouro como pagamento pelo tratamento que lhe fiz". O homem ficou assustado e disse:

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"Mas senhor, é muito dinheiro! Sou um trabalhador e não tenho como lhe pagar esse valor". "Se não podes pagar pelo bem que recebestes, com que direito queres cobrar o mal que lhe fizeram?" O homem ficou confuso e o mestre concluiu: "Antes de cobrar alguma coisa procure saber quanto você deve. Não faça cobrança pelas coisas ruins que te aconteceram nesta vida, pois esta vida pode lhe cobrar tudo que você deve, e com certeza você vai pagar muito mais caro.

Pense nisso!

* * * O CONTRABANDISTA

Conto sufi

Volta e meia, Nasrudin atravessava a fronteira entre a Pérsia e a Grécia montado no lombo de um burro. Toda vez passava com dois cestos cheios de palha e voltava sem eles, arrastando-se a pé. Toda vez o guarda procurava por contrabando. Nunca o encontrou. - O que é que você transporta, Nasrudin? - Sou contrabandista. Anos mais tarde, com uma aparência cada vez mais próspera, Nasrudin mudou-se para o Egito. Lá encontrou um daqueles guardas de fronteira. - Diga-me, Mullá, agora que você está fora da jurisdição grega e persa, instalado por aqui nesta vida boa - o que é que você contrabandeava, que nunca conseguimos pegar? - Burros.

* * * (*) Mulla Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din) viveu no século XIV. Contou e escreveu histórias onde ele próprio era personagem. São histórias que atravessaram fronteiras desde sua época, enraizando-se em várias culturas. Elas compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou o Sufismo, filosofia de autoconhecimento de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje. O termo sufismo é utilizado para descrever um vasto grupo de correntes e práticas. As ordens sufis (Tariqas) podem estar associadas ao islã sunita, islã xiita, a uma combinação de várias correntes, ou a nenhuma delas. O pensamento sufi se fortaleceu no Médio Oriente no século VIII e encontra-se hoje por todo o mundo. De acordo com as grandes escolas de jurisprudência islâmica, o sufismo é considerado como um movimento herético, tendo sido, por isso, perseguido inúmeras vezes ao longo da história. Conhecido por muitos como o misticismo do Islã, o sufismo é uma filosofia de autoconhecimento e contato com o divino através de certas práticas as quais nem sempre seguem um padrão fixo e frequentemente parecem incompreensíveis a um

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observador que esteja fora do contexto de trabalho. Estas práticas devem ser aplicadas por um professor. Os sufis acreditam que Deus é amoroso e o contato com ele pode ser alcançado pelos homens através de uma união mística, independente da religião praticada. Por este conceito de Deus, foram, muitas vezes, acusados de blasfêmia e perseguidos pelos próprios muçulmanos esotéricos, pois contrariavam a idéia convencional de Deus.

Fontes: http://contoseparabolas.no.sapo.pt/03outros/sufin.htm e http://pt.wikipedia.org/wiki/Sufismo

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O CORVO COBIÇOSO

Era uma vez uma 'linda' pomba que costumava viver em um 'ninho' perto de uma 'cozinha'. Os cozinheiros gostavam muito dela e freqüentemente lhe davam grãos. Ela gostava do lugar e tinha uma boa vida. Um dia, um corvo viu a pomba e percebeu como ela estava recebendo ótimas refeições da cozinha. Então, numa ocasião o corvo fez amizade com a pomba, e sob o pretexto de amizade, de alguma forma conseguiu fazer com que a pomba dividisse o seu ninho com ele. A pomba então lhe disse que poderiam passar o tempo juntos discutindo política, religião, etc., mas que em se tratando de comida cada um teria seu meio próprio. Dessa forma ela sugeriu que o corvo buscasse sua própria comida. Mas o corvo estava impaciente e sua única razão para fazer amizade com a pomba era pela comida. Ele queria carne e tudo o que a pomba ganhava da cozinha eram grãos. Ela não podia esperar mais e finalmente decidiu visitar a cozinha diretamente para obter comida. Assim pensando, ela furtivamente se arrastou pela chaminé abaixo e entrou na cozinha. Ela sentiu o cheiro de um peixe temperado que estava numa panela. Cobiçoso, ele adiantou-se e tentou pegar o peixe, porém ao fazer isto ele tropeçou numa concha de sopa e fez um barulho. Isto alertou o cozinheiro que estava na sala vizinha e apanhou o corvo e o matou. Moral da história: A cobiça paralisa a Inteligência. A tradução deste texto é uma preciosa colaboração de Teresinha Medeiros dos Santos

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Referências bibliográficas As Mais Belas Histórias Budistas - http://www.maisbelashistoriasbudistas.com

* * * O DESAFIO DA MONTANHA

Numa cidade havia uma montanha bastante íngreme e pedregosa, jamais escalada. Três amigos decidiram fazer a sua subida e, para isto, prepararam-se durante alguns dias. Muniram-se de todo o equipamento necessário, como cordas, alimentos e

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materiais de primeiros socorros. No dia estabelecido, iniciaram a aventura, que seria observada por várias pessoas. Um deles, o mais jovem, iniciou a subida fazendo grande alarde, concedendo entrevistas e se declarando, por antecipação, como o mais preparado para atingir o objetivo. Partiu eufórico e venceu os primeiros obstáculos com relativa facilidade. Prosseguiu na escalada e, quando já atingia uma determinada altura, em torno de 10% do desafio a percorrer, parou para descansar. Já sentia forte cansaço e em seu corpo já se percebiam as marcas de alguns ferimentos, resultantes do contato com a vegetação nativa e espinhosa que encobria a montanha. Do ponto em que se encontrava, olhou para o alto... e sentiu um frio percorrer-lhe a espinha. Estava ainda muito distante do ponto de chegada. Teve medo. O desafio era maior do que suas forças. A distância que faltava percorrer era gigantesca. Desistiu. Acabrunhado, retornou ao ponto de partida, deixando no exato ponto onde parou uma placa com os dizeres: “E difícil!” O outro, igualmente jovem, porém mais determinado, foi muito mais além. Enfrentou barreiras e espinhos, expôs-se ao vento que era mais forte, feriu pés e mãos, despendeu grandes esforços e atingiu a metade do monte. Só aí parou para descansar. Estava esgotado e bastante maltratado. Olhou para baixo... e sentiu calafrios. Era aterrorizador olhar para baixo e ver a altura em que se encontrava. Entristeceu. Já fizera todo aquele esforço e ainda não lograra o êxito desejado. Qualquer deslize ali poderia ser fatal. Sentiu medo. O desafio era maior do que suas forças. Desistiu. Acabrunhado, retornou ao ponto de partida, deixando no exato ponto onde parou, uma placa com os dizeres: “É difícil acreditar que cheguei aqui.” O terceiro deles, mais amadurecido e reservado, nada disse nem prometeu. Iniciou sua caminhada de forma obstinada e segura. Atravessou barreiras e espinhos; superou desafios e dificuldades; expôs-se a situações desconfortáveis e dolorosas; experimentou ferimentos nos pés e nas mãos, mas prosseguiu em seu intento. Acreditava que poderia chegar. Não olhou para cima, nem olhou para baixo. Apenas prosseguiu. De forma determinada e gradual, foi alcançando, passo a passo, seu objetivo. Via apenas uma coisa: o objetivo traçado. Estava com a mente colocada bem adiante, no lugar da chegada. E, com este ânimo, foi superando os obstáculos que surgiam, sem se deixar abater por eles. Após muito esforço e determinação, chegou ao topo da montanha. O desafio estava vencido. Lá em cima, radiante com a conquista realizada, escreveu: “É difícil acreditar que cheguei aqui, porém, mais difícil foi acreditar que poderia chegar.”

APONTAMENTOS: * Aprenda a querer e a procurar. O desejo é uma força no homem, mas, para que produza seu efeito, exige determinação e ação. * O sucesso somente chega para aqueles que se dispõem a alcançá-lo, com firmeza e persistência.

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* Não desanime diante dos primeiros embates. Mantenha sempre elevada a sua auto-estima, seja constante em seus ideais e saiba esperar. * As barreiras, os problemas e as crises, são indicativos do nosso grau de comprometimento com as leis de Deus. receba suas provas com serenidade, entendendo que, por maior que seja o problema, o mundo não vai se acabar se as coisas não acontecerem da maneira que você deseja. * Seu corpo é um universo de células que você administra. Cada pensamento positivo é um ato novo que agrada e conquista seus comandados. * Assimile a lição do tempo. Não há noite que não seja substituída pelo esplendor de um novo dia. * A perseverança é tão definidora de nossa sorte futura que Jesus, ao mostrar como se conquista o Reino de Deus, afirmou: “Aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mateus 10-22)

* * *

O FILHOTE DE BATATA (Suzanne Boyce)

Meu filho de quatro anos, Shane, há mais de um mês vem pedindo por um filhote de cachorro, mas seu pai sempre diz: - Nada de cachorro! Um cachorro vai fazer buracos pelo jardim e perseguirá os patos e matará os coelhos. Nada de cachorro e ponto final! Toda noite Shane reza para ter um filhote de cachorro, e toda manhã fica decepcionado quando não encontra nenhum filhote de cachorro lhe esperando. Eu descascava batatas para o jantar, e ele estava sentado no chão aos meus pés perguntando pela milésima vez: - Por que papai não me deixa ter um filhote de cachorro? - Porque cães trazem muitos problemas. Não chore. Talvez seu pai, algum dia, mude de idéia. - Não, ele não vai mudar de idéia, e eu nunca terei um filhote de cachorro em um milhão de anos. Shane lamentou. Eu olhei sua carinha suja, com alguma lágrimas rolando. Como poderíamos lhe negar um desejo? Assim eu disse: - Sei de uma maneira para fazer o papai mudar de idéia! - Jura! Shane exclamou limpando as lágrimas. Eu lhe entreguei uma batata. - Pegue isto e carregue com você até que vire um filhote de cachorro. - sussurrei -Nunca deixe longe de você, nem por um minuto. Mantenha-o com você o tempo todo e no terceiro dia, amarre uma corda em torno dela e arraste pelo jardim e vamos ver o que acontece! Shane agarrou a batata com ambas as mãos. - Mãe, como você vai fazer uma batata virar um filhote de cachorro? Perguntou girando a batata em suas pequenas mãos.

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- Shh! É um segredo! Eu sussurrei. - Senhor, você sabe que é uma obrigação da mulher manter a paz em seu lar! Eu rezei. Shane carregou fielmente sua batata por dois dias; dormiu com ela, banhou-se com ela e lhe falava. No terceiro dia eu disse a meu marido: - Acho que devemos arranjar um animal de estimação para Shane. - O que a faz pensar que ele precisa de um animal de estimação? Meu marido perguntou inclinando-se ao meu encontro. - Bem, ele anda carregando uma batata pra todo lado, há dias. Chama-a de Wally e diz que é seu animal de estimação. Dorme com ela em sua cama, e agora tem uma corda amarrada nela e fica arrastando a batata em torno do jardim. Eu respondi. - Uma batata? Meu marido perguntou e olhou pela janela, observando Shane levar sua batata para uma caminhada. - Vai quebrar seu coração quando a batata começar a apodrecer. Eu disse - Além disso, toda vez que eu tento descascar batatas para o jantar, Shane grita perguntando por que eu faço isto com a família de Wally. - Uma batata? Meu marido perguntou, incrédulo. Meu filho tem uma batata como animal de estimação? - Bem, - Eu disse encolhendo os ombros - você disse que ele não poderia ter um filhote de cachorro. Então, decepcionado, decidiu ter um outro animal de estimação... - Que loucura! Meu marido disse. Meu marido observou nosso filho por mais alguns minutos. - Hoje à noite eu trago um filhote de cachorro para ele. Depois do trabalho eu paro numa loja e compro. Acho que um filhote de cachorro não pode trazer tanto problema... e é melhor do que uma batata. Ele disse, suspirando. À noite, meu marido trouxe para Shane um filhote de cachorro e uma gata branca grávida da qual ele teve pena ao vê-la na loja. Todos ficaram felizes. Meu marido acreditando ter afastado seu filho de uma crise nervosa. Shane tinha um filhote de cachorro, uma gata e cinco gatinhos e acreditava que sua mãe tinha poderes mágicos que poderiam transformar uma batata em um filhote de cachorro. E eu fiquei feliz porque eu tomei de volta a minha batata e a cozinhei para o jantar. Tudo estava perfeito até um dia, quando eu cozinhava o jantar, Shane puxou meu vestido e perguntou: - Mãe, o que você acha, eu poderia ganhar um pônei em meu aniversário? Eu olhei em sua pequena e doce carinha e disse: - Bem, primeiro nós temos que conseguir uma melancia...

* * *

O FORMIGUEIRO E O DRAGÃO

Uma fábula nos dá conta de que um homem encontrou um formigueiro que se queimava durante o dia e fumegava à noite. Curioso e intrigado foi ter junto a um sábio homem e lhe pediu conselhos a respeito do que fazer com o achado. O sábio lhe disse para revolver o formigueiro com uma

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espada. Assim fazendo, o homem encontrou uma trava de porta, algumas bolhas de água, um forcado, uma caixa, uma carapaça de tartaruga, uma faca de açougueiro, um pedaço de carne e, finalmente, um dragão. Retornando ao sábio, contou-lhe o que havia encontrado. O sábio explicou-lhe então o significado de suas descobertas e lhe disse: "Jogue tudo fora, exceto o dragão; deixe-o sozinho e não o moleste." Nesta fábula, o formigueiro representa o corpo humano. Sua queima durante o dia simboliza o fato de que, durante o dia, os homens fazem as coisas que pensaram na noite precedente. Fumegar à noite indica o fato de que os homens, durante a noite, recordam-se, com prazer ou tristeza, das coisas certas ou erradas que fizeram durante o dia. Na mesma fábula, o homem simboliza a pessoa que busca a iluminação. O sábio é um Buda. A espada simboliza a pura sabedoria. Revolver o formigueiro simboliza o esforço que se deve fazer para alcançar a iluminação. A trava da porta representa a ignorância; as bolhas de água são os bafejos do sofrimento e da ira; o forcado sugere a hesitação e o desconforto; a caixa é onde se acumulam a cobiça, a ira, a indolência, a volubilidade, o arrependimento e a ilusão; a carapaça de tartaruga simboliza a mente; a faca de açougueiro significa a síntese dos cinco sentidos; e o pedaço de carne simboliza o desejo que surge desses sentidos e que leva o homem a ansiar por sua satisfação. Ainda na fábula, o dragão indica a mente que eliminou todas as paixões mundanas e as transformou em iluminação. Se um homem revolver as coisas ao seu redor com a espada da sabedoria, encontrará o dragão e a maneira certa de agir. "Deixe o dragão sozinho e não o moleste" significa procurar e trazer à luz a mente livre dos desejos mundanos.

(Sutra Vammika)

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O FRIO QUE VEIO DE DENTRO

Seis homens ficaram bloqueados numa caverna por uma avalanche de neve. Teriam que esperar até o amanhecer para poderem receber socorro. Cada um deles trazia um pouco de lenha e havia uma pequena fogueira ao redor da qual eles se aqueciam. Se o fogo apagasse – eles o sabiam, todos morreriam de frio antes que o dia clareasse. Chegou a hora de cada um colocar sua lenha na fogueira. Era a única maneira de poderem sobreviver. O primeiro homem era um racista. Ele olhou demoradamente para os outros cinco e descobriu que um deles tinha a pele escura. Então ele raciocinou consigo mesmo: – Aquele negro! Jamais darei minha lenha para aquecer um negro. E guardou-as protegendo-as dos olhares dos demais. O segundo homem era um rico avarento. Ele estava ali porque esperava receber os juros de uma dívida. Olhou ao redor e viu um círculo em torno do fogo bruxuleante, um homem da montanha, que trazia sua pobreza no aspecto rude do semblante e nas

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roupas velhas e remendadas. Ele fez as contas do valor da sua lenha e enquanto mentalmente sonhava com o seu lucro, pensou: – Eu, dar a minha lenha para aquecer um preguiçoso? O terceiro homem era o negro. Seus olhos faiscavam de ira e ressentimento. Não havia qualquer sinal de perdão ou mesmo aquela superioridade moral que o sofrimento ensinava. Seu pensamento era muito prático: – É bem provável que eu precise desta lenha para me defender. Além disso, eu jamais daria minha lenha para salvar aqueles que me oprimem. E guardou suas lenhas com cuidado. O quarto homem era o pobre da montanha. Ele conhecia mais do que os outros os caminhos, os perigos e os segredos da neve. Ele pensou: – Esta nevasca pode durar vários dias. Vou guardar minha lenha. O quinto homem parecia alheio a tudo. Era um sonhador. Olhando fixamente para as brasas. Nem lhe passou pela cabeça oferecer da lenha que carregava. Ele estava preocupado demais com suas próprias visões (ou alucinações?) para pensar em ser útil. O último homem trazia nos vincos da testa e nas palmas calosa das mãos, os sinais de uma vida de trabalho. Seu raciocínio era curto e rápido. – Esta lenha é minha. Custou o meu trabalho. Não darei a ninguém nem mesmo o menor dos meus gravetos. Com estes pensamentos, os seis homens permaneceram imóveis. A última brasa da fogueira se cobriu de cinzas e finalmente apagou. Ao alvorecer do dia, quando os homens do Socorro chegaram à caverna encontraram seis cadáveres congelados, cada qual segurando um feixe de lenha. Olhando para aquele triste quadro, o chefe da equipe de Socorro disse: – O frio que os matou não foi o frio de fora, mas o frio de dentro.

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O FURO NO BARCO

Um homem foi chamado à praia para pintar um barco. Trouxe com ele tinta e pincéis e começou a pintar o barco de um vermelho brilhante, como fora contratado para fazer. Enquanto pintava, percebeu que a tinta estava passando pelo fundo do barco. Percebeu que havia um vazamento e decidiu consertá-lo. Quando terminou a pintura, recebeu seu dinheiro e se foi. No dia seguinte, o proprietário do barco procurou o pintor e presenteou-o com um belo cheque. O pintor ficou surpreso: - O senhor já me pagou pela pintura do barco - disse ele. - Mas isto não é pelo trabalho de pintura. É por ter consertado o vazamento do barco. - Foi um serviço tão pequeno que não quis cobrar. Certamente, não está me pagando uma quantia tão alta por algo tão insignificante! - Meu caro amigo, você não compreendeu, deixe-me contar-lhe o que aconteceu: quando pedi a você que pintasse o barco, esqueci de mencionar o vazamento. Quando o barco secou, meus filhos o pegaram e saíram para uma pescaria. Eu não estava em

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casa naquele momento. Quando voltei e notei que haviam saído com o barco, fiquei desesperado, pois lembrei-me de que o barco tinha um furo. Imagine meu alívio e alegria quando os vi retornando sãos e salvos. Então, examinei o barco e constatei que você o havia consertado! Percebe, agora, o que fez? Salvou a vida de meus filhos! Não tenho dinheiro suficiente para pagar-lhe pela sua "pequena" boa ação... REFLEXÃO: Não importa para quem, quando, de que maneira... Ajude! Ampare! Enxugue as lágrimas! Conserte os vazamentos... SEMPRE!

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O GAROTO, O PAI E A VASSOURA

Um garoto caminhava pela rua junto dos amigos em direção a Escola jogar futebol. De repente, ao longe, avista seu pai varrendo a rua, pois, recentemente conseguira o emprego de Gari ou Faxineiro Público. Profundamente envergonhado, o garoto muda de rua para que seus amigos não visem seu pai com a Vassoura nas mãos varrendo ruas. "- Que Vergonha!!!" Sentiu. Chegando na escola, foi logo para o vestuário colocar seu uniforme esportivo. O Professor, vendo que o garoto estava sentado sozinho e tristonho, aproxima-se e pergunta: Como vai?... Parece que você está triste hoje! O garoto relutou um pouco em falar, e vendo que não havia mais ninguém no vestuário, além dele e do Professor, desabafa em lágrimas: - Eu estava vindo para escola e vi meu Pai no seu novo emprego. - Mas que bom, seu Pai conseguiu emprego!!! Disse o Professor expressando seu contentamento. - Bom nada! Trabalhar como Gari, isso é ter um emprego? A 4 meses atrás ele era um empresário e agora fica varrendo ruas da cidade.... Veja os meus amigos, os pais deles estão desempregados e nem por isso se sujeitam a varrer ruas... Após ouvir o que disse o garoto, o Professor sentou-se ao lado dele e para surpresa do garoto, falou seriamente: - Você é um garoto muito ingrato e está cometendo uma grande injustiça com seu pai, sabia? Surpreso e assustado com as palavras duras do professor, o garoto se calou e ouviu: - Você deveria agradecer a Deus pelo Pai que você tem, pois enquanto os Pais de seus amigos ficam em casa se embebedando e engordando em frente da TV, e devendo para todos os credores, seu Pai, de quem você agora se envergonha, neste tempo de muita crise e desempregos, consegue sustentar você, seus irmãos e sua mãe com este emprego de gari e está conseguindo, aos poucos, sanar as dívidas com seus credores..... Você deveria se orgulhar de seu pai, pois ele está vencendo AS DIFICULDADES com uma Vassoura! O Professor levantou-se e sai do vestuário.

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O garoto ficou ali por alguns minutos. Depois, levantou-se e foi para sua casa. Ao chegar em casa, viu seu Pai descansando no sofá da sala e chegou perto dele e o acordou, dizendo: -Oi Pai? - Oi meu filho. Você não foi jogar futebol na escola? Indagou o Pai. - Não Pai, eu perdi a vontade de jogar hoje.... ah, o senhor quer um copo d’água? Eu pego pro senhor. - Não meu filho, obrigado! - Olha, a mãe fez café, o senhor quer que eu pegue para o senhor? Embora surpreso, o pai nota que o filho estava disposto a agradá-lo... Então disse: - Não meu filho, obrigado!... Eu só quero que você volte pra escola e vai jogar seu futebol. Tá bom? O Garoto abriu um sorriso e correu. Ao chegar até a porta da sala, antes de sair, olhou para o Pai e disse: - Olha Pai, prometo que no sábado eu vou engraxar as botas de seu trabalho, viu?

* * *

O GRANDE PRÍNCIPE

Havia um rei, muito bom, que tinha dois filhos. Como já estava velho, precisava escolher um deles para ajudá-lo nas tarefas de governar e, mais tarde, substituí-lo, naquele país. A fim de experimentar qual dos dois estaria melhor indicado para aquela tarefa, chamou os moços, entregou a cada um deles, uma carruagem contendo ouro, dinheiro e jóias, dizendo: - Percorram o reino e procurem empregar estes tesouros da forma que julgarem mais convenientemente ao futuro rei deste país. Dentro de três meses, deverão regressar e contar-me o que tiverem feito; dependendo de suas ações, escolherei aquele que há de me ajudar no governo deste país. Findo os três meses, um dos filhos chegou ao palácio, alegre e bem vestido, o rei o recebeu contente, abençoou-o e pediu que narrasse o que havia feito. O moço fez uma reverência e disse: - Meu pai e soberano, viajei por todo o país e comprei, para teu descanso um maravilhoso e enorme palácio: comprei escravos fortes, para te servirem e reuni neste castelo as riquezas maravilhosas do nosso tempo. No palácio, poderás viver tranqüilamente, feliz e seguro de todos os teus bens, vigiados pelos teus servos. O velho rei agradeceu amorosamente, as atitudes do filho que pensou muito nele e em seu futuro. Convidou o filho a esperar pelo outro príncipe Que ainda não chegara. Certo dia, estando pai e filho em agradável conversa, eis que chega o outro filho. O príncipe entrou na sala real e ao contrário do irmão, vinha cansado, abatido e mal vestido. Não havia comprado roupas novas. Aproximando-se do rei, falou: - Querido pai, viajei por todas as terras, de norte a sul, de leste a oeste. Em alguns lugares o povo vivia em paz, em bem estar, mas nas montanhas encontrei muitos sem emprego, doentes, famintos e muitas mulheres e crianças sem casa para morar.

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Com parte do dinheiro e dos tesouros que me destes, arranjei médicos e remédios em favor daqueles que sofriam. Mandei construir oficinas de trabalho e dei emprego a todos. Com alimentos e com forças readquiridas, cada família construiu sua casa com o material que doei em seu nome. Ao norte, verifiquei jovens e crianças sem escolas, instalei várias salas de aula e contratei professores. O jovem parou de falar e em seguida comentou: - Perdoe-me pai, nada fiz para te enriquecer e gastei tudo o que me deste. Voltei pobre! O rei olhou para o filho e com um gesto carinhoso perguntou: - Fizeste o que achavas que era certo? - Sim, – respondeu o filho – jamais descansarei enquanto houver sofrimento nestas terras, porque aprendi contigo que as necessidades dos filhos do povo são iguais às dos filhos do rei... Diante destas palavras, o rei, trêmulo de emoção, desceu do trono, abraçou demoradamente o filho e exclamou: - Grande príncipe, abençoado sejas para sempre. É a ti que compete o direito de governar ao meu lado, pois foste tu que melhor soube aplicar o dinheiro que lhe confiei. Multiplicastes nossos bens. O povo trabalhando, produzirá mais e haverá mais o que vender e assim, melhorarão suas condições de vida e saúde, e com as escolas o povo compreenderá o valor da liberdade e do conhecimento engrandecendo o meu reino. Deus te abençoe meu filho!

* * *

O GUERREIRO E O MONGE

Havia, certa vez, um guerreiro que estava sempre desafiando e medindo forças com

outros homens.

Um dia foi a um mosteiro e disse que queria falar com o mestre. Sem hesitação, este foi

ao seu encontro.

O guerreiro, dirigindo-se a ele, disse:

- Há quem creia que a inteligência é mais poderosa que a força, mas para mim é fácil

mostrar o inferno a alguém; basta espancá-lo.

O mestre respondeu:

- Não discuto com gente suja como você.

O guerreiro sentiu tanto ódio naquele instante, que seu rosto ficou vermelho e seus olhos

pareciam saltar das órbitas.

- Isto é o inferno, disse o mestre sorrindo.

O guerreiro entendeu e admirou sua coragem.

- Isto é o céu, continuou o mestre, e convidou-o para entrar no mosteiro.

* * *

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O HOMEM E O RIO

Havia um homem apaixonado por um rio... Gastava longas horas vendo suas águas a passar, carregando em seu dorso suave, folhas e histórias das cidades acima e isto lhe dava felicidade... Sua grande alegria era quando chegava a tarde, depois do trabalho. Ele ia correndo para o rio, pulava uma cerca e ficava lá em uma prainha, com os pés mexendo nas areias grossas, bem embaixo de um velho ingá... Falava muito, confidenciava segredos, dava gargalhadas, nunca ia embora, enquanto houvesse luz... E por muitas vezes só se deu conta que era noite quando a lua ladrilhava de prata as águas do rio... Ficava lá, remoendo lembranças, indo para o futuro em sonhos... Seus olhos eram rio. O rio passeava com suas águas amigas em seus olhos, como em nenhum outro. Ambos pareciam ter nascido para ser daquele jeito, nunca sem o outro, a unidade de almas... Dizia o homem: - Amor pra toda vida... Consentia o rio... Porém, um dia, o céu escureceu. Nuvens cobriram a terra a chuva desabou sobre o mundo. A cabeceira do rio foi enchendo e logo tudo virou correnteza. Árvores foram arrancadas, folhas deram lugar aos galhos pesados, estes arranhavam tudo o que encontravam, as barrancas desmaiavam e sumiam devoradas pela fúria das águas. O rio cresceu, ultrapassou as margens, derrubou cercas, foi crescendo até chegar na casa do homem... Avançou o jardim... Margaridas e rosas desapareceram... Quando veio o sol, veio também a desolação. Tinha que recomeçar e como é difícil recomeçar. Fez o que pôde, sem olhar em direção ao rio. Seu peito era uma amargura só. Sua cabeça não ficava em silêncio. Só pensava no que iria dizer. Então falou: - Por quê? Por que fez isto? Eu confiava em você, tinha certeza que isto não iria acontecer... Não conosco... Havia muito amor entre nós... Amor que não merecia acabar assim. Não é só a lama que está no jardim, é a confiança que nunca mais será confiança, o amor que nunca mais será amor, é o adeus que será para sempre adeus... Foi inútil o rio tentar explicar. Nunca mais se encontraram. Nunca mais a lua cantou naquele lugar... E as águas daquele rio, como o coração daquele homem, nunca mais foram os mesmos... O homem mudou-se para muito longe e o rio, quando passava por lá, tentava não olhar... Mas sonhava, bem dentro, em suas águas mais profundas, um dia ver ali, debaixo do ingá, quem nunca deveria ter ido embora...

* * * Estas palavras falam por si... Temos tendência a esquecer fácil os bons momentos e damos uma eternidade para as lembranças negativas...

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Esquecemos as conversas onde só o coração fala e perdemos tardes lindas de amor... Abraços apertados, aconchego... Por não querer relevar. Não querer lutar um pouco mais. Às vezes temos 100% e por causa de 1% perdemos 99%... Já viram como sempre ficamos presos a este 1%? Guardamos sempre a imagem da casa destruída, mas, negamos dar vida ao rio iluminado...

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O INTELECTUAL E AS RESPOSTAS ZEN

Certa vez Tao-kwang, um intelectual budista e estudioso do Vijñaptimara (idealismo absoluto), aproximou-se de um mestre Zen e perguntou: "Com que atitude mental deve um indivíduo disciplinar-se para alcançar a Verdade?" Respondeu o mestre Zen: "Não há nenhuma mente a ser disciplinada, nem qualquer verdade na qual nós devemos nos disciplinar." Replicou o intelectual: "Se não há nenhuma mente para ser controlada e nenhuma Verdade para ser ensinada, por que vos reunis todos os dias aos monges? Se não tenho língua, como será possível aconselhar a outrem a virem até mim?" "Eu não possuo nem uma polegada de espaço para dar, portanto onde posso conseguir uma reunião de monges? Eu não possuo língua, como posso aconselhar a outrem virem a mim?" respondeu o mestre. O Intelectual então exclamou: "Como podeis proferir uma tal mentira na minha cara!?!!" "Se não tenho língua," retorquiu o mestre, "para aconselhar os outros como é possível pregar uma mentira?" Desesperado em confusão, disse Tao-kwang: "NÃO POSSO SEGUIR VOSSO RACIOCÍNIO!!!" "Nem eu tampouco..." concluiu o mestre.

Conto Zen

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O LADRÃO DE MACHADO Do livro

OS MESTRES DO TAO,

Editora Cultrix, São Paulo

Um homem perdeu seu machado. Ele suspeitou do filho do vizinho e se pôs a observá-lo. Seu jeito era o de um ladrão de machado; a expressão de seu rosto era a de um ladrão de machado; seu modo de falar era exatamente o de um ladrão um ladrão de machado. Todos os seus movimentos, todo o seu ser eram a expressão exata de um ladrão de machado. Ora aconteceu que o homem que havia perdido o machado, ao cavar, por acaso, a terra no vale, encontrou sua ferramenta. No dia seguinte, ele tornou a olhar para o filho do vizinho. Todos os seus movimentos, todo o seu ser nada mais tinham de um ladrão de machado.

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O LADRÃO E O CÃO DE GUARDA

Um ladrão veio à noite para assaltar uma casa. Ele trouxe consigo vários pedaços de carne, para que pudesse acalmar um feroz Cão de Guarda que vigiava o local. A carne serviria para distraí-lo, de modo que não chamasse a atenção do seu dono com latidos. Assim que o ladrão jogou os pedaços de carne aos pés do cão, disse-lhe então o animal: - Se você estava querendo calar minha boca, cometeu um grande erro. Tão inesperada gentileza vinda de suas mãos, apenas serviram para me deixar ainda mais atento. Sei que por trás dessa cortesia sem motivo, você deve ter algum interesse oculto, de modo a beneficiar a si mesmo e prejudicar o meu dono. Moral da História: Gentilezas inesperadas é a principal característica de alguém com más, ou segundas intenções.

Autor: Esopo

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O LIVRO DO DESTINO

Certa vez, quando voltava de Bagdá, encontrei um velho árabe que me chamou a atenção. Falando agitado com os mercadores, dizia: - Eu já fui poderoso! Já tive o destino nesta mão! Procurei aproximar-me dele discretamente e, logo depois já lhe havia captado a confiança. O desconhecido, sem perceber os meus sustos, continuou: - Segundo ensina o alcorão - a nossa vida está escrita - MAKTUB - no livro do destino. Temos uma página, com tudo o que de bom ou de mal nos vai acontecer. E sem esperar que o interrogasse, prosseguiu: - Recebi, das mãos de um xeique, um talismã raríssimo, encontrado dentro do túmulo de um santo mulçumano. E essa pedra permitia a entrada livre na famosa gruta da fatalidade, onde se acha o livro do destino. Viajei longos anos até alcançar a gruta encantada. Um gênio bondoso que estava de sentinela à porta, deixou-me entrar, avisando-me que só poderia permanecer na gruta por espaços de poucos minutos. Era minha intenção alterar o que estava escrito na página de minha vida e fazer de mim um homem rico e feliz. Bastava acrescentar com a caneta que eu já levava: "Será um homem feliz e estimado por todos; terá muita saúde e muito dinheiro." - Lembrei-me, porém, de meus inimigos. Poderia, naquele momento, fazer um grande mal a todos eles. Movido pelo ódio, abri a página de Hiamir, vi o que ia suceder no desenrolar de sua vida e acrescentei embaixo: "Morrerá pobre, sofrendo os maiores tormentos." Na página de Farid gravei, impetuoso, alterando-lhe a vida inteira: "Perderá todos os haveres; ficará cego e morrerá de fome." E assim, sem piedade, desgracei a vida de meus inimigos.

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- E na tua vida? - indaguei - Que fizeste da página que o Destino dedicara a tua própria existência? - Ah! Meu amigo! - atalhou o desconhecido - Nada fiz em meu favor. - Preocupado em fazer mal aos outros, esqueci de fazer o bem a mim mesmo. Quando pensei em tornar feliz a minha vida, estava terminado o meu tempo. Sem que eu esperasse, me surgiu pela frente um Gênio feroz que me agarrou fortemente e, depois de arrancar-me das mãos o talismã, me atirou fora da gruta. Caí e perdi os sentidos. Quando recuperei a razão me achei muito longe da gruta e sem o talismã precioso, então, nunca mais pude descobrir o caminho da gruta encantada. E concluiu com voz cada vez mais rouca e baixa: - Perdi a única oportunidade que tive de ser rico, estimado e feliz.

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Seria verdade essa estranha aventura? Até hoje ignoro. O certo é que este caso nos traz grande ensinamento. Quantos homens há, no mundo, que preocupados em levar o mal a seus semelhantes, se esquecem do bem que podem trazer a si próprios.

(Malba Tahan)

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O LOBO E O CORDEIRO

Estava um cordeiro bebendo água na parte inferior de um rio; chegou um lobo, na parte de cima, e cravando nele os olhos famintos, disse-lhe com voz cheia de ameaça: - Quem lhe deu o atrevimento de turvar (sujar) a água que pretendo beber? - Senhor, respondeu humilde o cordeiro, repare que a água desce para mim: assim não a posso turvar... E ainda é bocudo e insolente! redarguiu o lobo arreganhando os dentes; - Ouvi dizer que no ano passado você falou mal de mim. - Como o faria, se só tenho seis meses de vida e ainda não tinha nascido... - Pois se não foi você deve ter sido seu pai, seu irmão ou algum dos seus parentes e por eles você vai pagar. Dito isto, atirou-se sobre ele e o foi devorando MORALIDADE: Foge do mau, com ele não argumentes: as melhores razões te não poderão livrar da sua fúria. Evita-o fugindo.

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O MAL EXISTE?

Um professor ateu desafiou seus alunos com esta pergunta: - Deus fez tudo que existe? Um estudante respondeu corajosamente: - "Sim, fez!" - Deus fez tudo, mesmo?

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- Sim, professor - respondeu o jovem. O professor replicou: - Se Deus fez todas as coisas, então Deus fez o mal, pois o mal existe, e considerando-se que nossas ações são um reflexo de nós mesmos, então Deus é mal. O estudante calou-se diante de tal resposta e o professor, feliz, se vangloriava de haver provado uma vez mais que a Fé era um mito. Outro estudante levantou sua mão e disse: - Posso lhe fazer uma pergunta, professor? - Sem dúvida, respondeu-lhe o professor. O jovem ficou de pé e perguntou: - Professor, o frio existe? - Mas que pergunta é essa? Claro que existe você por acaso nunca sentiu frio? O rapaz respondeu: - Na verdade, professor, o frio não existe. Segundo as leis da Física, o que consideramos frio, na realidade é ausência de calor. Todo corpo ou objeto pode ser estudado quando tem ou transmite energia, mas é o calor e não o frio que faz com que tal corpo tenha ou transmita energia. O zero absoluto é a ausência total e absoluta de calor, todos os corpos ficam inertes, incapazes de reagir, mas o frio não existe. Criamos esse termo para descrever como nos sentimos quando nos falta o calor. - E a escuridão, existe? - continuou o estudante. O professor respondeu: - Mas é claro que sim. O estudante respondeu: - Novamente o senhor se engana, a escuridão tampouco existe. A escuridão é na verdade a ausência de luz. Podemos estudar a luz, mas a escuridão não. O prisma de Newton decompõe a luz branca nas varias cores de que se compõe, com seus diferentes comprimentos de onda. A escuridão não. Um simples raio de luz rasga as trevas e ilumina a superfície que a luz toca. Como se faz para determinar quão escuro está um determinado local do espaço? Apenas com base na quantidade de luz presente nesse local, não é mesmo? Escuridão é um termo que o homem criou para descrever o que acontece quando não há luz presente. Finalmente, o jovem estudante perguntou ao professor: - Diga, professor, o mal existe? Ele respondeu: - Claro que existe. Como eu disse no início da aula, vemos roubos, crimes e violência diariamente em todas as partes do mundo, essas coisas são o mal. Então o estudante respondeu: - O mal não existe, professor, ou ao menos não existe por si só. O mal é simplesmente a ausência de Deus. É, como nos casos anteriores, um termo que o homem criou para descrever essa ausência de Deus. Deus não criou o mal. Não é como a Fé ou o Amor, que existem como existe a Luz e o Calor. O mal resulta de que a humanidade não tenha Deus presente em seus corações. “É como o frio que surge quando não há calor, ou a escuridão que acontece quando não há luz."

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O MENINO E O TELEFONE

Quando eu era criança, bem novinho, meu pai comprou o primeiro telefone da nossa vizinhança. Eu ainda me lembro daquele aparelho preto e brilhante que ficava na cômoda da sala. Eu era muito pequeno para alcançar o telefone, mas ficava ouvindo fascinado enquanto minha mãe falava com alguém. Então, um dia eu descobri que dentro daquele objeto maravilhoso morava uma pessoa legal. O nome dela era "Uma informação, por favor" e não havia nada que ela não soubesse. "Uma informação, por favor" poderia fornecer qualquer número de telefone e até a hora certa. Minha primeira experiência pessoal com esse gênio-na-garrafa veio num dia em que minha mãe estava fora, na casa de um vizinho. Eu estava na garagem mexendo na caixa de ferramentas quando bati em meu dedo com um martelo. A dor era terrível mas não havia motivo para chorar, uma vez que não tinha ninguém em casa para me oferecer a sua simpatia. Eu andava pela casa, chupando o dedo dolorido ate que pensei: O telefone! Rapidamente fui ate o porão, peguei uma pequena escada que coloquei em frente a cômoda da sala. Subi na escada, tirei o fone do gancho e segurei contra o ouvido. Alguém atendeu e eu disse: - Uma informação, por favor. Ouvi uns dois ou três cliques e uma voz suave e nítida falou em meu ouvido. - Informações. - Eu machuquei meu dedo..., disse, e as lagrimas vieram facilmente, agora que eu tinha audiência. - A sua mãe não esta em casa?, ela perguntou. - Não tem ninguém aqui..., eu soluçava. - Está sangrando? - Não, respondi. - Eu machuquei o dedo com o martelo, mas tá doendo... - Você consegue abrir o congelador?, ela perguntou. Eu respondi que sim. - Então pegue um cubo de gelo e passe no seu dedo, disse a voz. Depois daquele dia, eu ligava para "Uma informação, por favor" por qualquer motivo. Ela me ajudou com as minhas dúvidas de geografia e me ensinou onde ficava a Philadelphia. Ela me ajudou com os exercícios de matemática. Ela me ensinou que o pequeno esquilo que eu trouxe do bosque deveria comer nozes e frutinhas. Então, um dia, Petey, meu canário, morreu. Eu liguei para "Uma informação, por favor" e contei o ocorrido. Ela escutou e começou a falar aquelas coisas que se dizem para uma criança que está crescendo. Mas eu estava inconsolável. Eu perguntava: - Por que é que os passarinhos cantam tão lindamente e trazem tanta alegria pra gente para, no fim, acabar como um monte de penas no fundo de uma gaiola? Ela deve ter compreendido a minha preocupação, porque acrescentou mansamente: - Paul, sempre lembre que existem outros mundos onde a gente pode cantar também...

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De alguma maneira, depois disso eu me senti melhor. No outro dia, lá estava eu de novo. - Informações, disse a voz já tão familiar. - Você sabe como se escreve 'exceção'? Tudo isso aconteceu na minha cidade natal ao norte do Pacífico. Quando eu tinha 9 anos, nós nos mudamos para Boston. Eu sentia muita falta da minha amiga. "Uma informação, por favor" pertencia aquele velho aparelho telefônico preto e eu não sentia nenhuma atração pelo nosso novo aparelho telefônico branquinho que ficava na nova cômoda na nova sala. Conforme eu crescia, as lembranças daquelas conversas infantis nunca saiam da minha memória. Freqüentemente, em momentos de dúvida ou perplexidade, eu tentava recuperar o sentimento calmo de segurança que eu tinha naquele tempo. Hoje eu entendo como ela era paciente, compreensiva e gentil ao perder tempo atendendo as ligações de um menininho. Alguns anos depois, quando estava indo para a faculdade, meu avião teve uma escala em Seattle. Eu teria mais ou menos meia hora entre os dois vôos. Falei ao telefone com minha irmã, que morava lá, por 15 minutos. Então, sem nem mesmo sentir que estava fazendo isso, disquei o número da operadora daquela minha cidade natal e pedi: - Uma informação, por favor. Como num milagre, eu ouvi a mesma voz doce e clara que conhecia tão bem, dizendo: - Informações. Eu não tinha planejado isso, mas me peguei perguntando: - Você sabe como se escreve 'exceção'? Houve uma longa pausa. Então, veio uma resposta suave: - Eu acho que o seu dedo já melhorou, Paul. Eu ri e disse: - Então, é você mesma! Você não imagina como era importante para mim naquele tempo. - Eu imagino, ela disse. - E você não sabe o quanto significavam para mim aquelas ligações. Eu não tenho filhos e ficava esperando todos os dias que você ligasse. Eu contei para ela o quanto pensei nela todos esses anos e perguntei se poderia visitá-la quando fosse encontrar a minha irmã. - É claro!, ela respondeu. - Venha até aqui e chame a Sally. Três meses depois eu fui a Seattle visitar minha irmã. Quando liguei, uma voz diferente respondeu: - Informações. Eu pedi para chamar a Sally. - Você é amigo dela?, a voz perguntou. - Sou, um velho amigo. O meu nome é Paul. - Eu sinto muito, mas a Sally estava trabalhando aqui apenas meio período porque estava doente. Infelizmente, ela morreu há cinco semanas. Antes que eu pudesse desligar, a voz perguntou: - Espere um pouco. Você disse que o seu nome é Paul?

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- Sim. - A Sally deixou uma mensagem para você. Ela escreveu e pediu para eu guardar caso você ligasse. Eu vou ler pra você. A mensagem dizia: "Diga a ele que eu ainda acredito que existem outros mundos onde a gente pode cantar também. Ele vai entender." Eu agradeci e desliguei.Eu entendi...

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O MESTRE SUFI E O OVO Conto sufi

Certa manhã, Nasrudin (*) colocou um ovo embrulhado num lenço, foi para o meio da praça da sua cidade, e chamou aqueles que estavam ali. - Hoje vamos ter um importante concurso! A quem descobrir o que está embrulhado neste lenço eu dou de presente o ovo que está dentro! As pessoas se olharam, intrigadas, e responderam: - Como podemos saber? Ninguém aqui é capaz de fazer esse tipo de previsões! Nasrudin insistiu: - O que está neste lenço tem um centro que é amarelo como uma gema, cercado de um líquido da cor da clara, que por sua vez está contido dentro de uma casca que se parte facilmente. É um símbolo de fertilidade, e lembra-nos dos pássaros que voam para seus ninhos. Então, quem é que me pode dizer o que está aqui escondido? Todos os habitantes pensavam que Nasrudin tinha nas suas mãos um ovo, mas a resposta era tão óbvia, que ninguém resolveu passar vergonha diante dos outros. E se não fosse um ovo, mas algo muito importante, produto da fértil imaginação mística dos sufis? Um centro amarelo podia significar algo do sol, o líquido em seu redor talvez fosse um preparado alquímico. Não, aquele louco estava a querer fazer alguém passar por ridículo. Nasrudin perguntou mais duas vezes, e ninguém respondeu.

* * * (*) Mulla Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din) viveu no século XIV. Contou e escreveu histórias onde ele próprio era personagem. São histórias que atravessaram fronteiras desde sua época, enraizando-se em várias culturas. Elas compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou o Sufismo, filosofia de autoconhecimento de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje. O termo sufismo é utilizado para descrever um vasto grupo de correntes e práticas. As ordens sufis (Tariqas) podem estar associadas ao islã sunita, islã xiita, a uma combinação de várias correntes, ou a nenhuma delas. O pensamento sufi se fortaleceu no Médio Oriente no século VIII e encontra-se hoje por todo o mundo. De acordo com as grandes escolas de jurisprudência islâmica, o sufismo é considerado como um movimento herético, tendo sido, por isso, perseguido inúmeras vezes ao longo da história. Conhecido por muitos como o misticismo do Islã, o sufismo é uma filosofia de autoconhecimento e contato com o divino através de certas práticas as quais nem

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sempre seguem um padrão fixo e frequentemente parecem incompreensíveis a um observador que esteja fora do contexto de trabalho. Estas práticas devem ser aplicadas por um professor. Os sufis acreditam que Deus é amoroso e o contato com ele pode ser alcançado pelos homens através de uma união mística, independente da religião praticada. Por este conceito de Deus, foram, muitas vezes, acusados de blasfêmia e perseguidos pelos próprios muçulmanos esotéricos, pois contrariavam a idéia convencional de Deus.

Fontes: http://contoseparabolas.no.sapo.pt/03outros/sufin.htm e

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sufismo

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O MITO DA CAVERNA Extraído de "A República" de Platão

Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas a frente, não podendo girar a cabaça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior. A luz que ali entra provém de uma imensa a alta fogueira externa. Entre ele e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas. Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela os prisioneiros enxergam na parede no fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam. Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginavam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna. Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria. Num primeiro momento ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda a sua vida, não vira senão sombra de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade.

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Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade. O que é a caverna? Que são as sombras das estatuetas? Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O que é a luz exterior do sol? O que é o mundo exterior? Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? O que é a visão do mundo real iluminado? Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo? (Platão está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assembléia ateniense)

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O MONGE E O PADEIRO

Havia uma padaria em frente a um templo budista. O monge do lugar precisou viajar e pediu que o dono da padaria cuidasse de tudo na sua ausência, e atendesse as visitas etc. Antigamente, os monges viajavam, numa espécie de treinamento monástico, visitando outros monges, mestres e mosteiros. Desafiavam os mais fortes no Dharma (*) e mantinham-se treinando. O visitante praticava da seguinte maneira: eram batalhas sobre o Dharma, com perguntas e respostas, quem perdia era obrigado a deixar o templo; quem ganhava podia ficar como responsável. Uma batalha do Dharma era algo muito sério. Não era uma batalha de luta, mas de conhecimento, de experiências, de linguagem. Certo dia souberam que ia chegar um monge para desafiar o Mestre. Quanto mais próxima a data, mais o dono da padaria, preocupadíssimo, ouvia a sugestão do chefe da aldeia: "Raspe a cabeça, coloque o manto e apenas sente-se diante da parede como se estivesse meditando. Faça como se estivesse em treinamento de silêncio, nada fale, nem escute e nem responda." O dono da padaria se animou: "Ah, é fácil, isso eu posso fazer." Raspou a cabeça, colocou o manto e sentou-se voltado para a parede. Nisso chegou o monge visitante e começou a fazer perguntas sobre o Dharma. O dono da padaria assumiu um tom grave e fez "Shhh". O monge entendeu, "Ah, ele está fazendo muitos dias de treinamento em silêncio, mas já que estou aqui depois de tão longa caminhada nas montanhas, vou aproveitar e

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perguntar com gestos, assim ele também pode responder com gestos, sem quebrar o voto de silêncio." Fazendo gestos com os dedos e a mão, o monge perguntou, "Como é o seu coração, seu espírito?" O dono da padaria respondeu com um grande gesto para todas as direções. O monge compreendeu que ele mostrava as dez direções: ele se refere: aos quatro pontos cardeais, aos quatro pontos médios, para cima e para baixo: "Diz que seu coração é como o oceano". Veio a segunda pergunta, o monge mostrou seus dez dedos que queriam dizer:"Como viver neste mundo?", e o dono da padaria mostrou os cinco dedos da mão. O monge interpretou como os cinco preceitos: não matar, não roubar, não cometer adultério, não conduzir os outros a erros, não usar intoxicantes. O monge sentiu-se tocado, "Ah, que sabedoria magnífica!" A seguir mostrou três dedos da mão, perguntando, "Onde estão as três jóias, o Buddha, o Dharma, a Sangha (**)?" Ao que o dono da padaria respondeu com o punho fechado. O monge interpreta novamente: "Não procure longe de ti, está aqui muito perto, perto do olho, está aqui." Impressionado, o monge viajante foi embora. Vendo isso, o chefe da aldeia correu até o padeiro querendo saber o que acontecera e perguntou: "Ele foi embora muito impressionado, me conta o que aconteceu?"; E o dono da padaria explicou, "Aquele monge é muito estúpido. Primeiro, fez um gesto com as mãos, perguntando quanto custava o pão, e se ele era muito pequeno; e eu abri bem os braços, mostrando que meu pão é bem grande. A seguir ele perguntou quanto custavam dez pães e eu mostrei-lhe cinco dedos, dizendo cinco moedas, mas ele me mostrou três dedos, pedindo que vendesse por três, e eu pensei: "mas que sem-vergonha!", e por pouco não lhe acertei um soco no olho!" Conto Zen (*) Darma ou Dharma significa "Lei Natural" ou "Realidade". Com respeito ao seu significado espiritual, pode ser considerado como o "Caminho para a Verdade Superior". O darma é a base das filosofias, crenças e práticas que se originaram na Índia. O Darma também se refere aos ensinamentos e doutrinas de diversos fundadores de tradições, como Siddhartha Gautama no budismo e Mahavira no jainismo. Como doutrina moral sobre os direitos e deveres de cada um, o Dharma se refere geralmente ao exercício de uma tarefa espiritual, mas também significa ordem social, conduta reta ou, simplesmente, virtude.Para algumas seitas e alguns pensadores o darma também pode ser interpretado como ações virtuosas feitas tanto em vidas passadas (encarnação anteriores), como na vida atual, e irá receber tudo de novo do universo também com boas ações, assim como o carma pode ser considerado uma consequência ruim que se teve, tem ou terá, sendo consequências de todas as ações ruins que se teve, também nessa ou em vidas passadas.

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(**) Shanga: No Budismo, o Buda(o Iluminado), o dharma e a sangha são conhecidos como os três tesouros do budismo que lhes certas características. Esses recursos são encenados diariamente nos dias de Uposatha, de acordo com a escola budista. Na tradição de Theravada fazem parte da prática diária.

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O MOSQUITO E O TOURO

Um Mosquito que estava voando, a zunir em volta da cabeça de um Touro, depois de um longo tempo, pousou em seu chifre, e pedindo perdão pelo incômodo que supostamente lhe causava, disse: "Mas, se, no entanto, meu peso incomoda o senhor, por favor é só dizer, e eu irei imediatamente embora!" Ao que lhe respondeu o Touro: "Oh, nenhum incômodo há para mim! Tanto faz você ir ou ficar, e, para falar a verdade, nem sabia que você estava em meu chifre." Com frequência, diante de nossos olhos, julgamo-nos o centro das atenções e deveras importantes, bem mais do que realmente somos diante dos olhos do outros. Moral da História: Quanto menor a mente, maior a presunção.

Autor: Esopo

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O MUDO E O PAPAGAIO

Um jovem monge foi até o mestre Ji-shou e perguntou:

"Como chamamos uma pessoa que entende uma verdade mas não pode explicá-la em

palavras?"

Disse o mestre:

"Uma pessoa muda comendo mel".

"E como chamamos uma pessoa que não entende a verdade, mas fala muito sobre ela?"

"Um papagaio imitando as palavras de uma outra pessoa".

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O OBSERVADOR Certo dia um rei chamou ao seu palácio o mestre zen Muhak - que viveu de 1317 a 1405 - e lhe disse que, para afastar o cansaço e a tensão do trabalho administrativo, queria ter uma conversa completamente informal com ele. Em seguida, o rei comentou que Muhak parecia um grande porco faminto procurando comida. - E você, excelência parece o Buda Sakiamuni meditando, sobre um pico elevado dos Himalaias. O rei ficou surpreso com a resposta de Muhak. - Comparei você a um porco, e você me compara ao Buda?

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- É que um porco só pode ver porco, excelência, e um Buda só pode ver Buda.

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O PAVÃO

O CORVO E O PAVÃO (fábula de Esopo recontada por Monteiro Lobato)

O pavão, de roda aberta em forma de leque, dizia com desprezo para o corvo: “Repare como sou belo! Que cauda, hein? Que cores, que maravilhosa plumagem! Sou das aves a mais formosa, a mais perfeita, não?” “Não há dúvida de que você é um belo bicho”, disse o corvo. “Mas, perfeito? Alto lá!” “Quem quer criticar-me! Um bicho preto, capenga, desengraçado e, além disso, ave de mau agouro... Que falha você vê em mim, ó tição de penas?” O corvo respondeu: “Noto que para abater o orgulho dos pavões a natureza lhe deu um par de patas que, faça-me o favor, envergonharia até a um pobre diabo como eu...” O pavão, que nunca tinha reparado nos próprios pés, abaixou-se e contemplou-os longamente. E, desapontado, foi andando o seu caminho sem replicar coisa nenhuma. Tinha razão o corvo: não há beleza sem senão.

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O PAVÃO

O fazendeiro saiu e fechou a porteira do terreiro. Tencionava voltar logo, mas passaram-se dias e ele não aparecia. Os animais do terreiro estavam com fome e com sede. Até mesmo o galo deixou de cantar. Todos mantiveram-se imóveis, à sombra de uma árvore, para não desperdiçarem suas forças. Apenas o pavão pôs-se de pé, cambaleante, abriu como um leque sua cauda multicor e pôs-se a andar de um lado para o outro. - Mamãe - perguntou um pintinho para a galinha - por que o pavão abre a cauda assim, todos os dias? - Porque ele é vaidoso, filhinho. E a vaidade é um defeito que só desaparece com a morte.

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O PAVÃO E DEUS

Um formoso pavão excitava com a beleza das suas penas a curiosa atenção de alguns homens que o estavam admirando, e que lhe não poupavam elogios. Súbito ouviram estes o cantar de um rouxinol (pássaro europeu de canto mui lindo), e logo tudo esquecendo, procuram chegar-se para o lugar de onde partia tão suave melodia. Abandonado, o pavão encheu-se de raiva, e queixoso foi ter com Deus.

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- Por que há de um passarinho, feio e sem graça, cantar melhor do que eu? Por que me não deste a voz do rouxinol? perguntou. Não sejas ingrato, respondeu-lhe Deus. Cada animal tem suas prendas, nenhum tem tudo; à águia coube a força, ao rouxinol o canto, a ti essa plumagem recamada de estrelas e de esmeraldas; não és dos mais mal aquinhoados. - Sim, mas eu queria cantar como um rouxinol, retrucou o pavão. Moral da História: Poucos se contentam com o que têm, todos invejam o alheio, e assim se fazem desgraçados.

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O QUE MAIS?

Um monge perguntou ao mestre: "Faz muito tempo que venho a vós diariamente, a fim de ser instruído no santo caminho de Buddha, mas até hoje jamais vós me destes nenhuma palavra a este respeito. Eu vos imploro, mestre, sejais mais caridoso." O velho mestre olhou-o com surpresa: "O que quereis dizer com isso, meu rapaz? Todas as manhãs vós me saudais e eu vos respondo. Quando me trazeis uma xícara de chá, eu a aceito, agradeço-vos e me delicio com vossa solicitude. O que mais desejais que eu lhe ensine?"

Conto Zen

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O RECADO DA DONA VIDA... Wagner Borges

mestre de nada e discípulo de coisa alguma.

São Paulo, 11 de março de 2012.

A semente disse no seio da terra: "Um dia eu serei uma grande árvore e beijarei a luz do sol em minhas folhas." Encerrado dentro das pétalas fechadas do botão de flor, o perfume falou: "Em breve, quando as pétalas desabrocharem, eu perfumarei tudo em volta." De dentro do fim do inverno, a primavera riu e disse: "Estou chegando cheia de luz!" De dentro do casulo, a lagarta exultou e asseverou: "Em breve eu rasgarei as trevas em volta e me tornarei uma linda borboleta - e voarei como nunca!" E também foi assim que a Vida emergiu do grande vazio... Como a semente, o perfume, a primavera e a lagarta, Ela riu, e bradou: "Meu Pai emanou o Grande Verbo e afirmou: “Faça-se a Luz!” Então, Eu fiz como a semente: brotei. E fiz igual ao perfume: desabrochei junto e perfumei tudo... E me tornei a primavera da existência primeira.

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E, como a lagarta, rompi as trevas do grande mistério e realizei a grande metamorfose. Agora, sou a borboleta do Criador, voando e existindo em Seu Coração Primevo. E Eu digo aos homens o que sei: de dentro de seus corações está emergindo uma Grande Luz. E, como a semente, o perfume, a primavera, a lagarta, e Eu mesma, no momento certo, o Amor eclodirá de dentro das trevas da grande dúvida. Então, os homens descobrirão o grande segredo: não há morte! Porque, de dentro deles mesmos, a Luz lhes dirá: `Vocês não nascem nem morrem, só entram e saem dos corpos perecíveis. E Eu também digo: vocês são imortais - e voarão como nunca... “Porque é só o Amor que nos leva..."

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P.S.:

Esse texto foi escrito nos estúdios da Rádio Mundial, um pouco antes do início do programa "Viagem Espiritual"*. Ali, num impulso espiritual, lembrei-me do grande poeta hindu Rabindranath Tagore** (de quem sou grande admirador), e escrevi essas linhas rapidamente. Logo depois, ainda sob a emoção do momento, compartilhei os escritos com os ouvintes e os li para eles. E, agora, estou disponibilizando-os em aberto para todos.

Notas: * O programa "Viagem Espiritual" é apresentado aos domingos, das 12h30min às 13h, na Rádio Mundial de São Paulo, 95.7 FM. OBS.: O programa pode ser ouvido diretamente pelo site da Rádio Mundial, no mesmo dia e horário. O site da rádio é: www.radiomundial.com.br. As gravações dos programas ficam disponibilizadas dentro da seção de multimídia do site do IPPB -http://multimidia.ippb.org/

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Rabindranath Tagore - escritor indiano, nasceu em Calcutá em 1861 e desencarnou em Bengala em 1941. Depois de educação tradicional na Índia, completou a formação na Inglaterra entre os anos de 1878 e 1880. Começou sua carreira poética com volumes de versos em língua bengali. Em 1913, recebeu o prêmio Nobel de literatura. Desde então, traduziu seus livros para o inglês, a fim de lhes garantir maior difusão. Em suas poesias, Tagore oferece ao mundo uma mensagem humanitária e universalista. Seu mais famoso volume de poesias é Gitânjali (Oferenda poética). Fundou, em 1901, uma escola de filosofia em Santiniketan, que, em 1921, foi transformada em universidade.

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O REI E O SÁBIO

A história aconteceu num país distante, muitos séculos atrás. Pressentindo seu fim o rei chamou seus súditos pedindo que respondessem a três perguntas fundamentais. Seria premiado com fortunas e honrarias quem melhor respondesse: 1º - Qual é o lugar mais importante do mundo? 2º - Qual é a tarefa mais importante do mundo? 3º - Quem é o homem mais importante do mundo? Sábios e ignorantes, ricos e pobres, crianças e adultos, desfilaram tentando responder às três perguntas. Para desconsolo do rei, nenhuma resposta o satisfez plenamente. Restava um único homem, em todo território, que se recusava a falar. Ele guardava silêncio e distância, porque não lhe interessavam honras e nem fortunas. Era um cidadão com fama de sábio. Emissários do rei foram enviados a ele para colher sua opinião. E, do alto de sua sabedoria, o velho falou: “- O lugar mais importante do mundo é aquele onde você está. A tarefa mais importante é aquela que você faz. E o homem mais importante do mundo é aquele que precisa de você, porque é ele que lhe possibilita exercitar o mais belo dos sentimentos: O AMOR.”

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O REI MENDIGO

Houve um tempo que a Irlanda era governada por um rei que não tinha nenhum filho. O rei mandou que os mensageiros postassem avisos em todas as cidades do reino. Os avisos diziam que todo jovem qualificado deveria se apresentar para uma entrevista com o rei como um possível sucessor para o trono. Porém, todos os candidatos deveriam ter estas duas qualificações: (1) Eles devem amar a Deus e (2) amar os seres humanos de todas as classes e raças. Um jovem leu o aviso e refletiu que ele amava a Deus e, também, os vizinhos dele. Uma coisa porém o desanimava, ele era tão pobre que não tinha nenhuma roupa que pudesse ser apresentável à vista do rei. Nem tinha fundos para comprar o necessário para a longa viagem até o castelo. Assim o jovem implorou aqui, e pediu emprestado ali, até conseguir o bastante para as roupas apropriadas e os materiais necessários. Corretamente vestido e bem vestido, o jovem partiu, e tinha quase completado a viagem quando encontrou um pobre mendigo ao lado da estrada. O mendigo estava sentado, tremendo de frio, coberto apenas por trapos esfarrapados. Ele estendeu o braço implorando por ajuda. Sua voz fraca coaxou: - "Tenho fome e frio. Por favor me ajude... Por favor..."

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O jovem comovido pela necessidade do mendigo imediatamente tirou suas roupas novas e vestiu os farrapos do mendigo. Sem pensar duas vezes deu para o mendigo tudo o que tinha. Então, um pouco indeciso, ele continuou a viagem rumo ao castelo vestido com os trapos do mendigo. Na chegada ao castelo, um criado do rei o conduziu à um grande corredor. Depois de um breve repouso, ele foi levado finalmente até a sala do trono. O jovem se curvou diante de sua majestade. Quando levantou os olhos exclamou com surpresa: - "Você..? Mas é você! Você é o mendigo da estrada!". - "Sim", o rei respondeu com uma centelha no olhar, "eu era aquele mendigo". - "Mas... você não é realmente um mendigo. Você é o rei! Então, por que você fez aquilo comigo?" o jovem gaguejou depois de recuperar a postura. - "Porque eu tinha que descobrir se você realmente tem amor à Deus e por seus semelhantes, disse o rei. - Eu sabia que se eu viesse a você como rei, você ficaria impressionado por minha coroa e minhas roupas reais. Você teria feito qualquer coisa que eu pedisse por causa de meu poder real. Deste modo eu nunca saberia o que verdadeiramente está em seu coração. Assim eu usei um ardil. Eu vim a você como um necessitado mendigo. E eu descobri que você sinceramente ama a Deus e a seus semelhantes. Você será meu sucessor, prometeu o rei. Você herdará meu reino".

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O REI NARIGUDO

Muita gente assevera, citando o brocardo popular: "Quem fala a verdade não merece castigo". No entanto, muitos são os autopunidos por aí, a padecer aborrecimentos vários por não saberem lidar com a verdade habilmente, construtivamente. Recordemos, a propósito, uma história antiga. Tamerlão, poderoso rei assírio dos séculos passados, era um soberano muito cheio de si e cônscio das deferências de que se julgava credor por parte de todos os súditos. Ele tinha uma particularidade física notável: um grande e monstruoso nariz, o que muito o aborrecia. Por isso, jamais tinha-se deixado retratar. Quando, porém, já estava velho, seu filho e sucessor, preocupado com a possível ausência da efígie do pai na galeria real, tanto instou que conseguiu dele a anuência em se deixar retratar. O monarca estabeleceu uma condição: só aceitaria o retrato, como sua estampa oficial, se encontrasse um artista que o pintasse a contento (naquele tempo os retratos eram feitos por pintores). E os artistas que não o agradassem seriam executados, conforme era tradição. Aceita a condição, editais foram espalhados por todo o Reino, convocando os artistas para a importante e temerária tarefa. Não obstante o risco, três se apresentaram, para tentar o que seria a suprema obra de sua vida, justamente os três melhores mestres da arte pictórica do Reino. O primeiro retratou o monarca tal e qual, com o narigão deformado e tudo. O rei, vendo o quadro acabado, embora admirando o gênio artístico, enfureceu-se com a figura horrenda e mandou decapitar o infeliz artista.

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Veio o segundo e, temeroso, pintou o rei também fielmente, com exceção do aberrante apêndice nasal, em cujo lugar colocou irrepreensível nariz. O soberano, sentindo-se ridicularizado, assinou igualmente a pena capital do segundo, sem comiseração. Chegou, então, a vez do terceiro, o qual, habilidoso, conhecendo a paixão do rei pela caça, retratou-o portando uma carabina, a atirar numa raposa. E a coronha da arma tapava-lhe justamente o nariz. Vendo o resultado do trabalho, o monarca sorriu satisfeito e recompensou-o generosamente. A lenda, caro leitor, serve para ilustrar as três atitudes mais comuns em relação à verdade: a primeira é a franqueza rude, contundente, que não hesita em expor toda a realidade dos fatos, doa a quem doer. Os partidários dessa atitude podem revelar o mérito da coragem e do desinteresse, mas tiram nota zero em relações humanas. A segunda é a hipocrisia interesseira. Os deste grupo podem revelar inteligência e engenhosidade para distorcer os fatos a fim de agradar aqueles a quem desejam conquistar. A terceira, a ideal, é a dos partidários do que podemos chamar de "verdade construtiva", evidenciando o que é útil, edificante, e desfocando os aspectos menos agradáveis da vida do próximo. Peçamos a Deus nos ensine a todos a grande ciência da convivência pacífica e solidária, de modo que a nossa verdade não seja nem bisturi impiedoso que fere indiscriminadamente, nem a lantejoula da lisonja que bajula por fins escusos. Sejamos os discípulos do bem, que evitam focalizar as falhas, trabalhando discretamente por suprimi-las.

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O REI, O SUFI E O CIRURGIÃO

Na antigüidade um rei da Tartária foi pescar acompanhado pelos nobres da corte. No caminho cruzaram com um abdal (um sufi errante, ‘um transformado’ ), que proclamava em voz alta: - Àquele que me der cem dinares retribuirei com um conselho que lhe será útil. O rei se deteve e disse: - Abdal, que bom conselho me dará em troca de cem dinares? - Senhor, primeiro ordene que me sejam dados os cem dinares, e imediatamente o aconselharei – respondeu o abdal. O rei assim fez, esperando dele alguma coisa realmente extraordinária. Mas o dervixe se limitou a dizer-lhe: - Meu conselho é: “Nunca comece nada sem ter pensado no resultado final do que for fazer.” Ao ouvir estas palavras, não só os nobres, mas todos os que estavam presentes riram com gosto, comentando que o abdal tivera razão ao tomar o cuidado de pedir o dinheiro adiantado. - Vocês não tem razão – objetou o rei – em rir do excelente conselho que o abdal acaba de me dar. Certamente ninguém ignora o fato de que se deve pensar antes de fazer

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alguma coisa. Mas todos cometemos o erro de esquecer isso, e as conseqüências são trágicas. Eu dou muito valor ao conselho do dervixe. Procedendo de acordo com suas palavras, o rei decidiu não apenas ter o conselho sempre presente, mas mandou também escrevê-lo com letras de ouro nos muros do palácio e até gravá-lo em sua bandeja de prata. Não muito mais tarde um cortesão intrigante e ambicioso concebeu a idéia de matar o rei. Para tanto, subornou o cirurgião real com a promessa de nomeá-lo primeiro-ministro se introduzisse no braço do rei uma lanceta envenenada. Quando chegou o momento em que era necessário colher sangue do rei na bandeja de prata foi colocada sob o braço dele. O cirurgião não pôde deixar de ler: “Nunca comece nada sem ter pensado no resultado final do que for fazer.” Depois de ler, o cirurgião se deu conta de que se fizesse o que o cortesão tinha lhe proposto, e este subisse ao trono, simplesmente o cortesão poderia mandar executá-lo imediatamente, e assim não precisaria cumprir o trato. O rei percebendo que o cirurgião estava tremendo lhe perguntou o que havia de errado com ele. O cirurgião confessou imediatamente. O autor do complô foi preso, e o rei perguntou aos nobres e cortesões que estavam com ele quando o abdal deu seu conselho: - Ainda riem do dervixe?

Do livro: Histórias da Tradição Sufi - Editora Dervish

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REFLEXÃO:

Estejamos atentos ao resultado final do que pretendemos fazer, apesar das grandes responsabilidades. Por isso, essa parábola alertam-nos para os riscos das promessas impossíveis de serem cumpridas. Lembremo-nos que todos os desafios deverão ser enfrentados com persistência e tenacidade.

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O SERMÃO Conto sufi

Certo dia, os moradores do vilarejo quiseram pregar uma peça em Nasrudin (*). Já que era considerado uma espécie meio indefinível de homem santo, pediram-lhe para fazer um sermão na mesquita. Ele concordou. Chegado o tal dia, Nasrudin subiu ao púlpito e falou: - Ó fiéis! Sabem o que vou lhes dizer? - Não, não sabemos - Enquanto não saibam, não poderei falar nada. Gente muito ignorante, isso é o que vocês são. Assim não dá para começarmos o que quer que seja - disse o Mulla, profundamente indignado por aquele povo ignorante fazê-lo perder seu tempo.

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Desceu do púlpito e foi para casa. Um tanto vexados, seguiram em comissão para, mais uma vez, pedir a Nasrudin fazer um sermão na sexta-feira seguinte, dia de oração. Nasrudin começou a pregação com a mesma pergunta de antes. Desta vez, a congregação respondeu numa única voz: - Sim, sabemos - Neste caso não há porque prendê-los aqui por mais tempo. Podem ir embora. E voltou para casa. Por fim, conseguiram persuadi-lo a realizar o sermão da sexta-feira seguinte, que começou com a mesma pergunta de antes. - Sabem ou não sabem? A congregação estava preparada. - Alguns sabem, outros não. - Excelente - disse Nasrudin - então, aqueles que sabem transmitam seus conhecimento para àqueles que não sabem. E foi para casa.

* * * (*) Mulla Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din) viveu no século XIV. Contou e escreveu histórias onde ele próprio era personagem. São histórias que atravessaram fronteiras desde sua época, enraizando-se em várias culturas. Elas compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou o Sufismo, filosofia de autoconhecimento de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje. O termo sufismo é utilizado para descrever um vasto grupo de correntes e práticas. As ordens sufis (Tariqas) podem estar associadas ao islã sunita, islã xiita, a uma combinação de várias correntes, ou a nenhuma delas. O pensamento sufi se fortaleceu no Médio Oriente no século VIII e encontra-se hoje por todo o mundo. De acordo com as grandes escolas de jurisprudência islâmica, o sufismo é considerado como um movimento herético, tendo sido, por isso, perseguido inúmeras vezes ao longo da história. Conhecido por muitos como o misticismo do Islã, o sufismo é uma filosofia de autoconhecimento e contato com o divino através de certas práticas as quais nem sempre seguem um padrão fixo e frequentemente parecem incompreensíveis a um observador que esteja fora do contexto de trabalho. Estas práticas devem ser aplicadas por um professor. Os sufis acreditam que Deus é amoroso e o contato com ele pode ser alcançado pelos homens através de uma união mística, independente da religião praticada. Por este conceito de Deus, foram, muitas vezes, acusados de blasfêmia e perseguidos pelos próprios muçulmanos esotéricos, pois contrariavam a idéia convencional de Deus.

Fontes: http://contoseparabolas.no.sapo.pt/03outros/sufin.htm e http://pt.wikipedia.org/wiki/Sufismo

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O TAPETINHO VERMELHO

Uma pobre mulher morava em uma humilde casinha com sua neta muito doente.

Como não tinha dinheiro sequer para levá-la a um médico, e vendo que, apesar de seus

muitos cuidados e remédios com ervas, a pobre criança piorava a cada dia, resolveu iniciar

a caminhada de 2 horas até a cidade próxima em busca de ajuda.

Chegando no único hospital público da região foi aconselhada a voltar pra casa e trazer a

neta junto, para que esta fosse examinada.

Quando ia voltando, já desesperada por saber que sua neta não conseguia sequer

levantar da cama, a senhora passou em frente a uma Igreja e como tinha muita fé em

Deus, apesar de nunca ter entrado em uma Igreja, resolveu pedir ajuda.

Ao entrar, encontrou algumas senhoras ajoelhadas no chão fazendo orações.

As senhoras receberam a visitante e, após se inteirarem da história, a convidaram para se

ajoelhar e orar pela criança.

Após quase uma hora de fervorosas orações e pedidos de intercessão ao Pai, as senhoras

já iam se levantando quando a mulher lhes disse:

- Eu também gostaria de fazer uma oração! Vendo que se tratava de uma mulher de

pouca cultura, as senhoras retrucaram:

- Não é necessário, com nossas orações, com certeza sua neta irá melhorar.

Ainda assim a senhora insistiu em orar, e começou.

- Deus, sou eu, olha, a minha neta está muito doente Deus, assim eu gostaria que você

fosse lá curar ela Deus, você pega uma caneta que eu vou dizer onde fica.

As senhoras estranharam, mas continuaram ouvindo.

- Já está com a caneta Deus? Então, você vai seguindo o caminho daqui de volta pra Belo

Horizonte e quando passar o rio com a ponte você entra na segunda estradinha de barro,

não vai errar tá.

A esta altura as senhoras já estavam se esforçando para não rir; mas ela continuou.

- Seguindo mais uns 20 minutinhos tem uma vendinha, entra na rua depois da mangueira

que o meu barraquinho é o último da rua, pode ir entrando que não tem cachorro.

As senhoras começaram a se indignar com a situação... porém a senhora continuava a

orar a sua maneira:

- Olha Deus, a porta tá trancada mas a chave fica embaixo do tapetinho vermelho na

entrada, o senhor pega a chave, entra e cura a minha netinha. Mas olha só Deus, por

favor não esquece de colocar a chave de novo embaixo do tapetinho vermelho senão eu

não consigo entrar quando chegar em casa...

A esta altura as senhoras interromperam aquela ultrajante situação dizendo que não era

assim que se deveria orar, mas que ela poderia ir pra casa sossegada pois elas eram

pessoas de muita fé, e Deus, com certeza, iria ouvir as preces e curar a menina.

A mulher foi pra casa um pouco desconsolada, mas ao entrar em sua casinha sua neta

veio correndo lhe receber.

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- Minha neta, você está de pé, como é possível?!!

E a menina explicou:

- Eu ouvi um barulho na porta e pensei que era a senhora voltando, porém entrou um

homem muito alto com um vestido branco em meu quarto e mandou que eu levantasse,

não sei como, eu simplesmente levantei.

E quase em prantos, a menina continuou.

- Depois ele sorriu, beijou minha testa e disse que tinha de ir embora, mas pediu que eu

avisasse a senhora que ele ia deixar a chave embaixo do tapetinho vermelho...

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O TOLO QUE ERA SÁBIO Conto sufi

Todos os dias o Mullah Nasrudin (*) ia esmolar na feira, e as pessoas adoravam vê-lo fazendo o papel de tolo, com o seguinte truque: mostravam duas moedas, uma valendo dez vezes mais que a outra. Nasrudin sempre escolhia a menor. A história correu pelo condado. Dia após dia, grupos de homens e mulheres mostravam as duas moedas, e Nasrudin sempre ficava com a menor. Até que apareceu um senhor generoso, cansado de ver Nasrudin sendo ridicularizado daquela maneira. Chamando-o a um canto da praça, disse: - Sempre que lhe oferecerem duas moedas, escolha a maior. Assim terá mais dinheiro e não será considerado idiota pelos outros. - O senhor parece ter razão, mas se eu escolher a moeda maior, as pessoas vão deixar de me oferecer dinheiro, para provar que sou mais idiota que elas. O senhor não sabe quanto dinheiro já ganhei usando este truque. Não há nada de errado em se passar por tolo, se na verdade o que você está fazendo é inteligente. Às vezes, é de muita sabedoria se passar por tolo e é muito melhor passar por tolo e ser inteligente do que ter inteligência e usar fazendo tolices. "Os sábios não dizem o que sabem, os tolos não sabem o que dizem!"

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(*) Mulla Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din) viveu no século XIV. Contou e escreveu histórias onde ele próprio era personagem. São histórias que atravessaram fronteiras desde sua época, enraizando-se em várias culturas. Elas compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou o Sufismo, filosofia de autoconhecimento de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje. O termo sufismo é utilizado para descrever um vasto grupo de correntes e práticas. As ordens sufis (Tariqas) podem estar associadas ao islã sunita, islã xiita, a uma combinação de várias correntes, ou a nenhuma delas. O pensamento sufi se fortaleceu no Médio Oriente no século VIII e encontra-se hoje por todo o mundo. De acordo com as grandes escolas de jurisprudência islâmica, o sufismo é considerado como um movimento herético, tendo sido, por isso, perseguido inúmeras vezes ao longo da história.

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Conhecido por muitos como o misticismo do Islã, o sufismo é uma filosofia de autoconhecimento e contato com o divino através de certas práticas as quais nem sempre seguem um padrão fixo e frequentemente parecem incompreensíveis a um observador que esteja fora do contexto de trabalho. Estas práticas devem ser aplicadas por um professor. Os sufis acreditam que Deus é amoroso e o contato com ele pode ser alcançado pelos homens através de uma união mística, independente da religião praticada. Por este conceito de Deus, foram, muitas vezes, acusados de blasfêmia e perseguidos pelos próprios muçulmanos esotéricos, pois contrariavam a idéia convencional de Deus.

Fontes: http://contoseparabolas.no.sapo.pt/03outros/sufin.htm e http://pt.wikipedia.org/wiki/Sufismo

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O VINHO E A ÁGUA

Nos Alpes Italianos existia um pequeno vilarejo que se dedicava ao cultivo de uvas para produção de vinho. Uma vez por ano, lá ocorria uma festa para comemorar o sucesso da colheita. A tradição exigia que, nesta festa, cada morador do vilarejo trouxesse uma garrafa do seu melhor vinho, para colocar dentro de um barril que ficava na praça central. Entretanto, um dos moradores pensou: "Porque deverei levar uma garrafa do meu mais puro vinho? Levarei uma cheia de água, pois no meio de tanto vinho o meu não fará falta". Assim pensou e assim fez. No auge dos acontecimentos, como era de costume, todos se reuniram na praça, cada um com sua caneca, para pegar uma porção daquele vinho, cuja fama se estendia além das fronteiras do país. Contudo ao abrir a torneira do barril, um silêncio tomou conta da multidão. Daquele barril saiu apenas água. Como isso aconteceu? Acontece que todos pensaram como aquele morador: "A ausência da minha parte não fará falta". MORAL DA HISTÓRIA Nós somos muitas vezes conduzidos a pensar: "Tantas pessoas existem neste mundo que se eu não fizer a minha parte, isso não terá importância". O que aconteceria com o mundo se todos pensassem assim? Todos temos uma missão a cumprir, o melhor é tentar realizá-la da melhor maneira possível. Sempre amando, amparando e respeitando o próximo.

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OLHAI OS LÍRIOS DOS CAMPOS Baseado em texto do livro Mananciais no Deserto.

Preciso de óleo" disse um monge. Então plantou uma muda de oliveira. "Senhor", pediu ele, "ela precisa de chuva, para que suas raízes possam beber e propiciar seu crescimento, mande chuva branda que não a machuque". E o Senhor mandou-lhe chuvas brandas. "Senhor", pediu novamente, "minha planta precisa de sol, não muito forte que a abrase". E o sol brilhou dourando as nuvenzinhas chuvosas. "Agora, preciso de neve para que minha oliveira ganhe robustez", pediu novamente, e a neve caiu sobre a planta. No entanto, ao acordar no dia seguinte encontrou a plantinha morta. Então o monge foi a outro e contou-lhe sua experiência. "Eu também plantei uma oliveira", disse o outro, "e veja como está viçosa", mostrou. "Eu confiei minha planta ao Deus que a criou. Ele que a fez sabe do que ela precisa, melhor que monges como eu, não impus condições, não estabeleci meios ou maneiras, apenas pedi: manda o que ela precisa, chuva, sol, vento, neve, Tu o fizestes e Tu sabes". Nós, como os lírios dos campos crescemos, quer no sol, quer na chuva, e muito mais que os lírios, Deus nos tem amor, e trabalha para quem nele espera, acredite na vida, alguém está cuidando de você, mesmo que não saibamos exatamente o que pedir, se houver amor em nossos corações, receberemos o sol e a chuva na hora certa.

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ONDE COLOCAR O SAL? O velho Mestre pediu a uma jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal num copo d'água e bebesse. - "Qual é o gosto?" - perguntou o Mestre. - "Ruim" - disse a aprendiz. O Mestre sorriu e pediu à jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago. Os dois caminharam em silêncio e a jovem jogou o sal no lago. Então o velho disse: - "Beba um pouco dessa água". Enquanto a água escorria do queixo da jovem o Mestre perguntou: - " Qual é o gosto?" - "Bom!" disse a jovem. - "Você sente o gosto do sal?" perguntou o Mestre. - "Não" disse a jovem. O Mestre então, sentou ao lado da jovem, pegou em suas mãos e disse: - "A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido de tudo o que está a sua volta. É dar mais valor ao que você tem do que ao que você perdeu.

Em outras palavras: É deixar de ser copo para se tornar um Lago."

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ONDE ESTÃO OS NOSSOS DEFEITOS

Gilberto de Nucci tem uma excelente imagem a respeito de nosso comportamento.

Segundo ele, os homens caminham pela face da Terra em uma fila indiana, cada um

carrega uma sacola na frente e outra atrás.

Na sacola da frente, nos colocamos as nossas qualidades, na de trás, guardamos todos os

nossos defeitos.

Por isso, durante a jornada pela vida, mantemos os olhos fixos nas virtudes que

possuímos presas em nosso peito.

Ao mesmo tempo, reparamos impiedosamente nas costas do companheiro que esta

adiante, em todos os defeitos que ele possui.

E nos julgamos melhores que ele, sem perceber que a pessoa atrás de nos, esta pensando

a mesma coisa a nosso respeito...

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ORAÇÃO

Sufi Bayazid nos conta, o seguinte de si mesmo:] "Na juventude, eu era um revolucionário e assim rezava: 'Dai-me energia, ó Deus, para mudar o mundo!']Ao chegar à meia-idade, notei que metade da vida já passara sem que eu tivesse mudado homem algum. Então, mudei minha oração, dizendo a Deus: 'Dai-me a graça, Senhor, de transformar os que vivem comigo dia a dia, como minha família e meus amigos; com isso já ficarei satisfeito'. Agora que sou velho e tenho os dias contados, percebo bem quanto fui tolo assim rezando. Minha oração, agora, é apenas esta: 'Dai-me a graça, Senhor, de mudar a mim mesmo' . Se eu tivesse rezado assim, desde o princípio, não teria esbanjado minha vida."

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OS FILHOS DA TERRA

No ano de 1854, o presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, fez a uma tribo indígena a proposta de comprar grande parte de suas terras, oferecendo, em troca, a concessão de uma “reserva”. O texto da resposta do Chefe Seatle, distribuído pela ONU – Programa para o Meio Ambiente -, publicado na íntegra, tem sido considera do, através dos tempos, como um dos mais belos e profundos pronunciamentos já feitos para a defesa do meio ambiente. “Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para meu o povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra da floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência do meu povo. A seiva

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que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho. “Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos das campinas, o calor do corpo do potro, e o homem, todos pertencem à mesma família. “Portanto, quando o grande Chefe de Washington manda dizer que deseja comprar a nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós. “Essa água brilhante que escorre dos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar às suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida de meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam a nossa sede. Os rios carregam as nossas canoas e alimentam as nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar seus filhos que os rios são nossos irmãos, e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão. “Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção de terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata a sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a Terra, deixando somente um deserto. “Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão das suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda. Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreenda. O ruído parece somente insultar os ouvidos. E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? “Eu sou um homem vermelho e não compreendo. “O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros. O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham do mesmo sopro – o animal, a árvore, o homem, todos compartilham do mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira,. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos a nossa terra ao homem branco, ele deve se lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que o mantém. O vento que deu ao nosso avô seu primeiro inspirar também recebeu seu

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último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados. “Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecer vivos. “O que é o homem sem os animais? se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo. Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da Terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos. Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue de uma família. Há uma ligação em tudo O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da Vida; ele é simplesmente um dos seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si próprio. “Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos – e o homem branco deverá vir a descobrir um dia – nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que o possuem, como desejam possuir nossa terra, mas não é possível. Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar seu Criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo do que as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos. “Mas, quando da sua desaparição, vocês brilharão intensamente iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre ela e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa sejam impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência.”

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OS LADRÕES DOS HOMENS

O hortelão plantou tomates e preparou, em fila, pequenas armações para suportar os galhos, quando crescessem. Quando os tomateiros cresceram, ele começou a podar ramos. Perguntei-lhe porque fazia aquilo.

Respondeu: - Estes galhos se chamam "ladrões", porque roubam a força do tomateiro em sua formação. A energia que sobra só dá para uns poucos mirrados tomates. Por isso os cortamos, deixando só os menores ramos, para distribuir a força: uma parte para os tomateiro, outra para formar tomates bonitos e numerosos.

(experiência agrícola)

* * *

Tenho pensado se estou produzindo frutos que devo e posso... A tendência humana, egoísta, é de que "não devemos exagerar" nas coisas espirituais - quando, em verdade, esforçamo-nos muito menos do que deveríamos nesse campo. Não percebemos o imenso e precioso tempo perdido em coisas vãs, inúteis, o que achamos natural, porque agrada o "humano" de todos. Esforço-me para alcançar mais disciplina sobre mim mesmo. É melhor que eu corte agora os ramos excessivos, para não chorar ao termo da vida, pela mirrada alma que formei. Para o mundo pode parecer bonita uma pessoa cheia de artifícios, exterioridades e exibições. Mas de que vale enfolhar a personalidade, a expensas dos frutos que devemos oferecer à nossa autêntica evolução?

Ed

* * *

OS MEDIADORES ENTRE O HOMEM E A VERDADE

Um jovem diabo vem correndo para o seu chefe. Ele está tremendo, e ele diz para o diabo velho: "Alguma coisa tem que ser feita imediatamente, porque um homem na terra descobriu a verdade! E quando as pessoas conhecerem a verdade, o que acontecerá com nossa profissão?" O diabão velho riu e disse: "Sente-se, descanse e não fique preocupado. Tudo já foi providenciado. Nossa gente está lá." "Mas", ele disse: "eu vim de lá e não vi um único diabo lá." O velho diabo disse: "Os sacerdotes são minha gente! Eles já estão com o homem que descobriu a verdade. Agora eles se tornarão os mediadores entre o homem da verdade e a multidão. Eles erguerão templos, eles escreverão escrituras, eles interpretarão e

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distorcerão tudo. Eles pedirão às pessoas para cultuarem, para rezarem. E nesse rebuliço todo, a verdade será perdida! Este é meu velho método que sempre funcionou." Osho, em "O Livro do Homem"

* * *

OS MELHORES CONSELHOS Conto sufi

Nasrudin (*) começou a construir uma casa. Seus amigos, que tinham cada um sua própria casa, e eram carpinteiros, pedreiros, o rodearam de conselhos. Mulla estava radiante. Um após outro, e às vezes todos juntos, disseram-lhe o que fazer. Nasrudin seguia docilmente as instruções que cada um lhe dava. Quando a construção terminou, ela não se parecia em nada com uma casa. - Que curioso! - disse Nasrudin - e contudo eu fiz exatamente aquilo que cada um de vocês me tinha dito para fazer!

* * * (*) Mulla Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din) viveu no século XIV. Contou e escreveu histórias onde ele próprio era personagem. São histórias que atravessaram fronteiras desde sua época, enraizando-se em várias culturas. Elas compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou o Sufismo, filosofia de autoconhecimento de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje. O termo sufismo é utilizado para descrever um vasto grupo de correntes e práticas. As ordens sufis (Tariqas) podem estar associadas ao islã sunita, islã xiita, a uma combinação de várias correntes, ou a nenhuma delas. O pensamento sufi se fortaleceu no Médio Oriente no século VIII e encontra-se hoje por todo o mundo. De acordo com as grandes escolas de jurisprudência islâmica, o sufismo é considerado como um movimento herético, tendo sido, por isso, perseguido inúmeras vezes ao longo da história. Conhecido por muitos como o misticismo do Islã, o sufismo é uma filosofia de autoconhecimento e contato com o divino através de certas práticas as quais nem sempre seguem um padrão fixo e frequentemente parecem incompreensíveis a um observador que esteja fora do contexto de trabalho. Estas práticas devem ser aplicadas por um professor. Os sufis acreditam que Deus é amoroso e o contato com ele pode ser alcançado pelos homens através de uma união mística, independente da religião praticada. Por este conceito de Deus, foram, muitas vezes, acusados de blasfêmia e perseguidos pelos próprios muçulmanos esotéricos, pois contrariavam a idéia convencional de Deus.

Fontes: http://contoseparabolas.no.sapo.pt/03outros/sufin.htm e http://pt.wikipedia.org/wiki/Sufismo

* * *

Page 53: Contos que elevam a alma  2

OS TRÊS BEDUÍNOS

Três beduínos iam por uma estrada. Já se sentiam cansados, torturados pelo sol,

castigados pelo vento, quando avistaram, junto a um pequeno oásis, uma casa em ruínas.

A casa havia se incendiado.

Desceram os beduínos de seus camelos e aproximaram-se dos escombros fumegantes. Os

moradores, ou melhor, os donos da casa e os servos, haviam perecido no incêndio. Viram

os beduínos, com assombro, que apenas três coisas haviam escapado das chamas e da

destruição: um garotinho, um camelo e uma bolsa com jóias e dinheiro.

O que ali acontecera era fácil de entender. O dono da casa ao perceber o perigo, levara

para fora do alcance do fogo seu filhinho e a valiosa bolsa; voltara para salvar alguém,

talvez sua esposa, mas não pudera mais sair.

Os três beduínos estavam diante de três problemas, o que fazer?

Primeiro. Não podiam deixar naquela região triste e solitária, aquela pequenina criança,

pois, seria crueldade deixá-la sem amparo e proteção.

Segundo. A quem deveria caber a bolsa com dinheiro e jóias?

Terceiro. Quem levaria o belo camelo de boa raça, sem dono, ali abandonado?

Para evitar brigas, resolveram tirar a sorte. Aquele que ganhasse seria o primeiro a

escolher. E o vencedor teria de escolher uma das três coisas: a bolsa, o menino ou o

camelo.

A sorte favoreceu Ogima. Era aliás, o mais velho dos três. Olhou para a bolsa, onde

brilhavam moedas de ouro; observou o camelo que devia valer um bom dinheiro, e fitou

com bondade o garotinho. Depois de meditar alguns minutos, declarou o beduíno Ogima,

numa inabalável decisão:

— Meus amigos, resolvi ficar com o menino.

Tiraram nova sorte, e foi a vez de Sayad. Olhou para os dois que haviam ficado e escolhe a

bolsa valiosa.

Zaide, então, aproximou-se de seu camelo, satisfeito com o que lhe coubera.

Foi quando Ogima disse:

— Allah (Deus para os Árabes) colocou-nos perante três caminhos, que embora diversos

dar-nos-ão a mesma oportunidade.

— A ti, Sayad, cabe cuidar bem do tesouro, multiplica-lhe o valor e usa-o para o bem.

Quanto a ti, Zaide, sabendo comerciar, conquistará a multiplicação de teus bens. E a mim

cabe cuidar desta criança. Se Allah, permitir, voltaremos a este mesmo local, daqui a 20

anos, para contar uns aos outros o fruto da dádiva que Allah nos deu.

Assim, quatro camelos partiram, tomando rumos diferentes, sendo que dois foram

levados por Zaide já que ganhara um no sorteio.

Sayad partiu vagarosamente levando a sua bolsa recheada de valores e Ogima seguiu

normalmente levando o pequeno em seus braços.

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O sol parecia imensa cortina dourada... Punha-se no horizonte, aquecendo o corpinho da

criança e iluminando os olhos claros de Ogima.

Foi-se o sol e os três beduínos também.

Vinte anos se passaram. O dia, o mês e ano chegaram. O sol já ia alto. A manhã estava

quente.

Ao longe, surgiu uma figura de um homem. Trazia turbante branco e as vestes também

eram claras. Nos pés sandálias de finíssimo couro. A altura do peito um enorme broche.

Montava garboso camelo. Aproximou-se do local e seus olhos brilharam ao ver Sayde, que

ali estava e o acolhia com largo sorriso.

Zaide desceu do camelo e num forte abraço, cumprimentou seu amigo, que se

apresentava ricamente vestido, na cor azul, com faixas de brilhante, lindos broches e

anéis com pedras preciosas que se apresentavam em seus dedos.

Depois de se abraçarem, os dois homens, segurando-se um nos braços do outro, miram-se

por longo tempo, admiraram-se e sorriram saudosos. Naquele momento, as rugas de seus

rostos desapareceram.

Enquanto conversavam, não notaram que duas figuras despontavam ao longe. Só quando

bem próximos, é que foram percebidas. Em um camelo, estava um homem velho,

alquebrado e no outro um jovem esbelto, trazendo nos olhos claros a bondade do céu.

Ogima chegara. Antes que alguém se movesse, o moço tomou nos braços, depositou-o

sobre enorme pedra e sorriu, os dois amigos se aproximaram, depois da alegria do

reencontro, Sayde falou:

— Segui teu conselho, caro Ogima. Trabalhei muito, multipliquei minha fortuna. Não tive

tempo, é verdade, de Ter família, mas consegui grande fortuna.

Nesse momento a voz do beduíno fez-se grave, deixando transparecer profunda tristeza:

— É bem verdade que em minha casa há muitos servos, porém, não me recordo de Ter

visto uma criança sequer brincando nos meus jardins.

Zaide interrompeu-o dizendo:

— Também eu, amigo Ogima, vendi aquele camelo, consegui lucrar com a venda,

tornando-me alguns anos depois, um grande comerciante. Apesar disso, jamais tive um

momento de verdadeira felicidade. Na ânsia de conquistar mais fortuna, esqueci-me de

que a justiça de Allah é sábia, e que cada um recebe de acordo com seu mérito. Não

pensei em conquistar família ou amigos, apesar dos servos que tenho, sinto-me só, e bem

perto da velhice.

Sua voz era triste também.

Ogima olhou os amigos e notou em seus rostos grandes rugas de preocupação. Tomou,

então, as mãos do jovem e sorriu tranqüilamente dizendo:

— Grandes amigos, Allah é sempre justo em suas leis. Quando há vinte anos, recebemos

aquelas dádivas elas pareciam Ter surgido ao acaso. Allah, porém, deu-nos iguais

oportunidades de ajuda ao próximo. Com o dinheiro que tendes, muito poderíeis ter feito.

Multiplicastes só os bens materiais. Pois só os bens materiais recebestes. Se Allah permite

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ao homem possuir riquezas dá-lhe igualmente o amor, para que o distribua. Quando há

vinte anos, pegastes nas rédeas dos camelos e naquela sacola de jóias, sentistes alí o

próprio futuro. Eu, quando tomei o pequenino nos braços, vi o seu futuro e não o meu.

Sacrifiquei-me durante anos. Vendi até meu camelo. Trabalhei em dobro. Já contava

cinqüenta anos, mas queria ver aquela criança estudar e progredir. Quando tinha quinze

anos, meu filho, como sempre o chamei, começou a trabalhar. Seus braços são fortes. Eu,

por causa de tanto trabalho, tenho pernas cansadas e hoje mal posso caminhar. Em troca

porém, Allah deu-me um filho, um coração amoroso, que me dá calor e alegria, nos dias

da velhice.

E abraçando o filho, terminou:

— Despeçamo-nos, mas lembrai-vos: Fazei o bem aos outros e Allah vos recompensará.

Tal é a Lei.

Cada beduíno partiu por um caminho, meditando na Justiça Divina, e no poder da

caridade.

* * *

OS TRÊS CRIVOS

Certa feita, um homem esbaforido achegou-se a Sócrates e sussurrou-lhe aos ouvidos: - Escuta, na condição de teu amigo, tenho alguma coisa muito grave para dizer-te, em particular... - Espera!... ajuntou o sábio prudente. Já passaste o que me vais dizer pelos três crivos? - Três crivos?! – perguntou o visitante, espantado. - Sim, meu caro amigo, três crivos. Observemos se tua confidência passou por eles. O primeiro, é o crivo da verdade. Guardas absoluta certeza, quanto àquilo que pretendes comunicar? - Bem, ponderou o interlocutor, assegurar mesmo, não posso... Mas ouvi dizer e... então... - Exato. Decerto peineiraste o assunto pelo segundo crivo, o da bondade. Ainda que não seja real o que julgas saber, será pelo menos bom o que me queres contar? Hesitando, o homem replicou: - Isso não!... Muito pelo contrário... - Ah! – tornou o sábio – então recorramos ao terceiro crivo: o da utilidade, e notemos o proveito do que tanto te aflige. - Útil?!... – aduziu o visitante ainda agitado. Útil não é... - Bem – rematou o filósofo num sorriso, - se o que tens a confiar não é verdadeiro, nem bom e nem útil, esqueçamos o problema e não te preocupes com ele, já que nada valem casos sem edificações para nós... Aí está, meu amigo, a lição de Sócrates, em questões de maledicência...

Espírito: Irmão X Médium psicógrafo: Francisco Cândido Xavier.

extraído do livro "Aulas da Vida"

* * *

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PAGANDO TRÊS VEZES PELA MESMA COISA por Paulo Coelho

Conta uma lenda da região do Punjab que um ladrão entrou numa fazenda e roubou 200 cebolas. Antes de conseguir fugir, foi preso pelo dono do lugar, que o levou diante do juiz. O magistrado pronunciou a sentença: pagar dez moedas de ouro. Mas o homem alegou que era uma multa muito alta, e o juiz, então, resolveu oferecer-lhe mais duas alternativas: receber 20 chibatadas, ou comer as 200 cebolas. O ladrão resolveu comer as 200 cebolas. Quando chegou na vigésima-quinta, seus olhos estavam inchados de tanto chorar, e o estômago queimava como o fogo do inferno. Como ainda faltavam 175, e viu que não aguentaria o castigo, pediu para receber as 20 chibatadas. O juiz concordou. Quando o chicote bateu em suas costas pela décima vez, ele implorou para que parassem de castigá-lo, porque não suportava a dor. O pedido foi obedecido, mas o ladrão teve que pagar as dez moedas de ouro. "Se você aceitasse a multa, teria evitado comer as cebolas, e não sofreria com o chicote", disse o juiz. "Mas preferiu o caminho mais difícil, sem entender que, quando se faz algo errado, é melhor pagar logo e esquecer o assunto".

* * *

Todos os seres tendem a perfeição, e Deus lhes proporciona os meios de consegui-la com as provas da vida. Mas, na sua justiça, permite-lhe realizar, com novas oportunidades, aquilo que não puderam fazer ou vencer numa primeira prova, por que a acharam muito difícil. A vida é formada de uma série de situações, sendo que cada uma oferece uma oportunidade de progresso, nos quais o homem adquire maior experiência e instrução. Mas, se na vida humana há dias infrutíferos, sem proveito, donde lhe surgem melancolias, remorsos e sofrimentos, é porque ele não soube aproveitá-las, geralmente, por causa do seu egoísmo.

Elio Mollo, com base nas qq. 171 e 191 de O Livro dos Espíritos, obra codificada por

Allan Kardec.

* * *

PAPAI ESTÁ NO LEME

A história é de Huberto Rohden. Viajava o filósofo brasileiro para a Europa, por via marítima, serena e festiva a travessia, marcada pelo conforto pelo luxo do moderno transatlântico, sobre águas claras e sob céu límpido e azul. Repentinamente, porém, tudo mudou. O que era serenidade e calma transformou-se em violento temporal, desses que assustam a todos, desde os "marinheiros de primeira viagem", até os mais experimentados "lobos do mar". Os passageiros desapareceram, recolheram-se aos camarotes, transidos de medo. Huberto Rohden, porém, preferiu contemplar o espetáculo da Natureza. E, em meio à confusão reinante a bordo, notou

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uma criança, cuja idade andava entre os seis ou sete anos, brincando, cantarolando, quase indiferente ao que acontecia. Impressionado com a tranqüilidade da criança, Rodhen perguntou-lhe: - Você não está com medo? E recebeu uma resposta ao mesmo tempo inocente e profunda: - Não, eu não tenho medo. Papai está no leme. O piloto era o pai da criança. Voltada a calma, pacificados os elementos, a viagem prosseguiu serena para todos, menos para o filósofo, que não mais se liberou da turbulência interior causada pela resposta do menino. Que imensa confiança! Se papai está no leme, nenhum mal pode me acontecer! Papai é mais forte que os ventos, mais altaneiro que as ondas! Não há o que temer! Maiores que os temporais que espreitam os navios, são os imprevistos que surpreendem o Homem ao longo da Vida. Triunfa sempre aquele que confia e recebe com altiva serenidade todos os desafios, escudado na mais inarredável convicção de que "Papai está no leme!... Esta é a fé que remove montanhas. e uma das montanhas mais pesadas é o medo. Medo de tudo. Medo de morrer, Medo de lotar. Medo de levantar quando escorregos e quedas acontecem no percurso. Medo decorrente de nos faltar confiança no timoneiro, que está sempre no leme, invisível, porém misericórdia presença ao nosso lado. Ocorreu-me, então aqueles versos de Casimiro de Abreu:

"Eu me lembro! Eu me lembro! - Era pequeno

E brincava na praia. O mar bramia.

E erguendo o dorso altivo, sacudia. A branca espuma para o céu sereno.

E eu disse a minha mãe nesse momento: Que dura orquestra!

Que furor insano! Que pode haver maior do que o oceano?

Ou que seja mais forte que o vento? Minha mãe a sorrir olhou p'ros céus.

E respondeu: Um ser que nós não vemos. É maior do que o mar que nós tememos.

Mais forte que o tufão! Meu filho - É Deus!"

* * *

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PASSEIO DE BARCO Conto sufi

Nasrudim (*) às vezes levava as pessoas para viajar em seu barco. Um dia, um pedagogo exigente contratou-o para transportá-lo ao outro lado de um rio muito largo. Assim que se lançaram à água, o sábio perguntou-lhe se faria mau tempo. - Não me pergunte nada sobre isto - disse Nasrudim. - Você nunca estudou gramática? - Não - Neste caso, metade de sua vida foi desperdiçada. O Mulla não disse nada. Logo desabou uma terrível tempestade. O pequeno e desorientado barco de Mulla começou a encher de água. Ele se inclinou para o companheiro. - Alguma vez você aprendeu a nadar ? - Não – respondeu o pedante. - Neste caso, caro mestre, toda sua vida foi desperdiçada, pois estamos afundando.

* * *

(*) Mulla Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din) viveu no século XIV. Contou e escreveu histórias onde ele próprio era personagem. São histórias que atravessaram fronteiras desde sua época, enraizando-se em várias culturas. Elas compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou o Sufismo, filosofia de autoconhecimento de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje. O termo sufismo é utilizado para descrever um vasto grupo de correntes e práticas. As ordens sufis (Tariqas) podem estar associadas ao islã sunita, islã xiita, a uma combinação de várias correntes, ou a nenhuma delas. O pensamento sufi se fortaleceu no Médio Oriente no século VIII e encontra-se hoje por todo o mundo. De acordo com as grandes escolas de jurisprudência islâmica, o sufismo é considerado como um movimento herético, tendo sido, por isso, perseguido inúmeras vezes ao longo da história. Conhecido por muitos como o misticismo do Islã, o sufismo é uma filosofia de autoconhecimento e contato com o divino através de certas práticas as quais nem sempre seguem um padrão fixo e frequentemente parecem incompreensíveis a um observador que esteja fora do contexto de trabalho. Estas práticas devem ser aplicadas por um professor. Os sufis acreditam que Deus é amoroso e o contato com ele pode ser alcançado pelos homens através de uma união mística, independente da religião praticada. Por este conceito de Deus, foram, muitas vezes, acusados de blasfêmia e perseguidos pelos próprios muçulmanos esotéricos, pois contrariavam a idéia convencional de Deus.

Fontes: http://contoseparabolas.no.sapo.pt/03outros/sufin.htm e

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sufismo

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PEDRA NO CAMINHO

Percebendo o grande pessimismo de um dos seus discípulos. Um Mestre aproveitou para passar-lhe um ensinamento. Pediu que o rapaz fizesse todas as suas tarefas daquele dia, carregando uma pedra de cerca de 15 quilos. Assim foi feito. O moço passou todo o tempo carregando a pedra de lá para cá, sem poder largá-la para nada. Como podemos imaginar. Tudo ficou mais difícil, demorado e cansativo de ser feito. No fim da tarde, o jovem exausto e os demais seguidores reunidos, ouviram do Guru: - O pessimismo é como essa pedra, um peso desnecessário que só atrapalha, consome energias e impede de fazer aquilo que se tem condições de bem realizar. A vida já tem seus fardos naturais. Não é sábio acrescentar sobrecarga inútil. Viver é aprender a remover as pedras do caminho. Não acrescê-las.

Publicado por Antonio Pereira (Apon) no Grupo Espiritismo On Line

em 18/08/ 2011 - 11h34min http://br.groups.yahoo.com/group/espiritismoonline/

http://www.aponarte.com.br

* * *

POR QUE AS PESSOAS GRITAM?

Um dia Meher Baba perguntou aos seus discípulos o seguinte:

- Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?

Os discípulos pensaram por alguns momentos e um deles respondeu:

- Porque perdemos a calma. Por isso gritamos.

- Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao teu lado? Não é possível falar-lhe em

voz baixa? Por que gritas a uma pessoa quando estás aborrecido? - Perguntou Baba.

Os homens deram várias respostas, mas nenhuma delas satisfez ao Baba.

Finalmente ele explicou:

- Quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir

essa distância precisam gritar para poder escutar-se. Quanto mais aborrecidas estejam,

mais forte terão que gritar para se escutarem um ao outro através dessa grande distância.

Em seguida Baba perguntou:

- O que sucede quando duas pessoas se enamoram?

Porque os discípulos se entreolharam e depois o olharam calados esperando uma

resposta, ele mesmo respondeu:

- Elas não gritam, mas sim se falam suavemente, porque seus corações estão muito perto.

A distância entre elas é pequena.

Baba continuou...

- Quando se enamoram as criaturas não falam, somente sussurram e ficam mais perto

ainda de seu amor. Finalmente não necessitam sequer sussurrar, somente se olham e isto

é tudo. Assim é quando duas pessoas que se amam estão próximas.

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Então Baba encerrou com estas palavras:

"Quando discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que

os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais

encontrarão o caminho de volta." * * *

PRÍNCIPE DOS MENDIGOS

Essa história foi enviada por Xênia (*) a Ana Maria Braga, mas acho que serve para todos nós... Num bairro em que eu morava, desfilava pelas ruas um mendigo, italiano, veja você, coisa rara. Altura média, magro, terno caindo aos pedaços, gravata imunda (sim, ele tinha gravata), chapéu de feltro todo furado, uma bengala e, detalhe, sempre um cravo vermelho, fresquinho, naquilo que a gente chamaria de lapela no paletó, cravo esse que ele pegava todas as manhãs no mercado do bairro. E, pela imponência que ele tinha, eu o apelidei de Príncipe dos Mendigos. Não falava com ninguém, mas, sozinho, maldizia em italiano uma mulher. Me contaram os antigos do bairro que ele teria sido apaixonadíssimo pela mulher, ela o trocou por outro e ele enlouqueceu! Veja você, que pessoa rara, enlouquecer por amor! Não sei por que cismou comigo. Eu estava começando na televisão e voltava tarde para casa. Ele me esperava na porta do prédio, jamais me dirigia a palavra, mas eu sabia que ele queria cigarro. Dava a ele o que podia, três ou quatro cigarros, e ele partia na noite xingando a tal mulher invisível. Eu morava no primeiro andar e a janela do meu quarto dava para um terreno baldio. Uma noite, lá pelas 3 da madrugada, acordei com alguém atirando pedras na minha janela. Levantei, abri a janela, e lá estava ele, meu Príncipe dos Mendigos. Gritei com ele: “O que há, tá louco?” E ele, Ana Maria, abriu os braços, mostrando em volta e me disse: “Te chamei pra você ver Deus!” Quando olhei, as árvores de mamona do terreno estavam crivadas de vaga-lumes, num espetáculo natalino fora do tempo, e a lua era totalmente de prata, como eu nunca vi na minha vida! Fiquei parada, chorando em minha janela e o meu Príncipe dos Mendigos, sentado no chão, numa prece silenciosa, verdadeira, única, para toda a vida. É esse momento que eu quero oferecer a você. As árvores crivadas de vaga-lumes, a lua de prata e o meu Príncipe dos Mendigos, que numa madrugada encantada me entregou DEUS! Que ele esteja sempre em sua vida e em sua saúde. É um Deus simples, sem liturgia, sem luxo, silencioso. Se você tiver algum momento de dúvida em sua vida, que os vaga-lumes e a lua do meu príncipe da miséria iluminem a tua mente, teu corpo e a tua vida.Que tua saúde brilhe até que Deus envelheça. As vezes precisamos que alguém nos chame e abramos a janela para ver "Deus"e todas as coisas boas que ele nos dá, inclusive nossa saúde.... Nosso corpo é o templo de Deus, amar a Deus é também cuidar muito bem de nós. Para depois ter saúde para podermos amar e cuidar dos outros. (*) Xênia era apresentadora de Programas de TV.

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* * *

QUE TIPO DE PESSOAS VIVEM NESTE LUGAR?

Conta uma popular lenda do Oriente, que um jovem chegou à beira de um oásis, junto a

um povoado e, aproximando-se de um velho, perguntou-lhe:

- Que tipo de pessoas vive neste lugar?

- Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem? - Perguntou pôr sua vez o ancião.

- Oh! Um grupo de egoístas e malvados - replicou-lhe o rapaz estou satisfeito de haver

saído de lá.

A isso o velho replicou:

- A mesma coisa você haverá de encontrar pôr aqui.

No mesmo dia, um outro jovem se acercou do oásis para beber água e vendo o ancião

perguntou-lhe:

- Que tipo de pessoas vive pôr aqui?

O velho respondeu com a mesma pergunta:

- Que tipo de pessoas vive no lugar de onde você vem?

O rapaz respondeu:

- Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste pôr

ter de deixá-las.

- O mesmo encontrará pôr aqui, respondeu o ancião.

Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho:

- Como é possível dar respostas tão diferentes à mesma pergunta?

Ao que o velho respondeu:

- Cada um carrega no seu coração o meio ambiente em que vive. Aquele que nada

encontrou de bom nos lugares pôr onde passou, não poderá encontrar outra coisa pôr

aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui. Somos todos

viajantes no tempo e o futuro de cada um de nós está escrito no passado. Ou seja, cada

um encontra na vida exatamente aquilo que traz dentro de si mesmo. O ambiente, o

presente e o futuro somos nós que criamos e isso só depende de nós mesmos.

* * *

QUEM NÃO TE CONHECE QUE TE COMPRE

O tio Cândido morava na cidade de Carmona/Espanha e era a pessoa mais inocente e simplória do de toda a Andaluzia. Além disso, tinha ótima índole: generoso, caridoso e afável com todos. Tio Cândido tinha um belo burro, mas, como era bondoso ao extremo, não gostava de cansar o animal. Assim, acostumara-se a andar puxando-o pelo cabresto.

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Um dia, uns estudantes arruaceiros o viram passar deste modo e decidiram roubar o burro. Enquanto alguns levavam o animal sem que tio Cândido visse, o mais travesso dos estudantes ficou no lugar do burro, com a mão atada ao cabresto. Quando tio Cândido viu o rapaz, ficou pasmado achando que o burro tinha se transformado em gente. O estudante mentiu que, no passado, tinha sido brigão, jogador, afeiçoado às mulheres e muito vadio. Por isso, seu pai o amaldiçoara dizendo: "És um asno, e em asno te deverias mudar." Dito e feito. A maldição fez com que virasse um burro e, por quatro anos, vivera daquela forma. Agora, arrependido de seus pecados, tinha voltado ao normal. Tio Cândido ficou maravilhado com a história. Teve pena do estudante, não se importou com o dinheiro que estava perdendo sem o burro. Aconselhou-o a ir depressa se apresentar ao pai e reconciliar-se com ele. O estudante, com falsas lágrimas de gratidão nos olhos, foi embora. Tempos depois, passeando numa feira, tio Cândido ficou assombrado ao ver à venda um burro idêntico ao que tivera. Naturalmente, era o mesmo, mas, ingenuamente, tio Cândido concluiu que o estudante tinha voltado à vida de travessuras e que o pai o amaldiçoara de novo. Aproximando-se do burro, tio Cândido falou-lhe ao ouvido: "Quem não te conhece, que te compre!" Trata-se de um conto tradicional espanhol que explica a origem do ditado: "Quem Não Te Conhece que Te Compre".

* * *

REGRESSO AO LAR

Tradução Sergio Barros

Um velho casal de missionários tinha trabalhado na África durante anos e agora retornavam a Nova Iorque aposentados. Eles não tinham nenhuma pensão; a saúde debilitada; estavam derrotados, estavam decepcionados e amedrontados. Descobriram que embarcaram no mesmo navio em que o presidente Teddy Roosevelt, que retornava de uma de suas expedições de caça. Ninguém prestava qualquer atenção ao casal. Eles observavam a fanfarra que acompanhava o presidente, com todos os passageiros tentando dar uma olhadela no grande homem. Enquanto o navio se movia através do oceano, o velho missionário disse a sua esposa: - Algo está errado. Demos nossa vida em serviço fiel à Deus na África por todos estes anos e ninguém se importa conosco! Por outro lado, este homem volta de uma viagem de caçada, lazer e divertimento e todo o mundo se atira sobre ele. E ele retrucou, - Eu não consigo entender; não parece justo. - Querido, você não deve se sentir desta forma! Respondeu sua esposa. Quando o navio atracou em Nova Iorque, uma faixa saudava o Presidente. O prefeito e outros autoridades estavam lá. Os jornais estavam cheios de notícias sobre a chegada do Presidente. Ninguém notou o casal de missionários.

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Eles desembarcaram e foram para um pequeno e barato apartamento, esperando o dia seguinte para ver o que poderiam fazer para ganhar a vida na cidade. Naquela noite, o homem estava aborrecido e disse a sua esposa, - Eu não concordo com isto; Deus não está nos tratando de forma justa. Sua esposa respondeu, - Por quê você não vai até o quarto e fala sobre isto com Deus? Pouco tempo depois, ele saiu do quarto, mas agora seu rosto estava completamente diferente. Sua esposa, estranhando, perguntou, - Querido, o que aconteceu? - Deus me tranqüilizou. Contei o quanto aborrecido eu estava ao ver a grande festa feita para o regresso do Presidente ao lar e, em contra partida, ninguém nos esperava em nosso retorno ao lar. E quando acabei, foi como se Ele colocasse a Sua mão sobre meu ombro e simplesmente dissesse: "Mas vocês ainda não voltaram ao lar".

* * *

SANTIDADE (By Semida)

Há muitos anos, vivia um homem que era capaz de amar e perdoar a todos que encontrava em seu caminho. Por causa disso, Deus enviou um anjo para conversar com ele. - Deus pediu que eu viesse visitá-lo, e lhe dizer que ele quer recompensá-lo por sua bondade disse o anjo. Qualquer graça que desejar, lhe será concedida. Você gostaria de ter o dom de curar? - De maneira nenhuma respondeu o homem. Prefiro que o próprio Deus selecione aqueles que devem ser curados. - E que tal trazer os pecadores para o caminho da verdade? - Isso é uma tarefa de anjos como você. Eu não quero ser venerado por ninguém e ficar servindo de exemplo o tempo todo. - Eu não posso voltar para o céu sem lhe ter concedido um milagre. Se não escolher, será obrigado a aceitar um. - O homem refletiu um pouco e terminou respondendo: - Então, eu desejo que o bem seja feito por meu intermédio, mas sem que niguém perceba, nem eu mesmo, que poderei pecar por vaidade. - E o anjo fez com que a sombra daquele homem tivesse o poder de cura, mas só quando o sol estivesse batendo em seu rosto. Desta maneira, por onde passasse, os doentes eram curados, a terra voltava a ser fértil, e as pessoas tristes recuperavam a alegria. O homem caminhou muitos anos pela terra, sem jamais dar-se conta dos milagres que realizava, porque quando estava de frente para o sol, a sombra estava sempre nas suas costas. Desta maneira, pode viver e morrer sem ter consciência da própria santidade.

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SEJA A DIFERENÇA

Paulo trabalhava em uma empresa há dois anos. Sempre foi um funcionário sério, dedicado e cumpridor de suas obrigações. Nunca chegava atrasado. Por isso mesmo já estava com 2 anos na empresa, sem ter recebido uma única reclamação. Certo dia, porém, ele foi até o diretor para fazer uma reclamação: - Sr. Gustavo, tenho trabalhado durante estes dois anos em sua empresa com toda a dedicação, só que me sinto um tanto injustiçado. Fiquei sabendo que o Fernando, que tem o mesmo cargo que eu e está na empresa há somente 6 meses e já vai ser promovido? Gustavo, fingindo não ouvi-lo, disse: - Foi bom você vir aqui. Tenho um problema para resolver e você poderá me ajudar. Estou querendo dar frutas como sobremesa ao nosso pessoal após o almoço de hoje. Aqui na esquina tem uma barraca de frutas. Por favor, vá até lá e verifique se eles têm abacaxi. Paulo, sem entender direito, saiu da sala e foi cumprir a missão. Em cinco minutos estava de volta. - E aí Paulo? - Perguntou Gustavo. - Verifiquei como o senhor pediu e eles têm abacaxi sim... - E quanto custa? - Ah, Isso eu não perguntei não. - Eles têm abacaxi suficiente para atender a todo nosso pessoal? - Também não perguntei isso não... - Há alguma fruta que possa substituir o abacaxi? - Não sei não... - Muito bem Paulo. Sente-se ali naquela cadeira e aguarde um pouco. O diretor pegou o telefone e mandou chamar o novato Fernando. Deu a ele a mesma orientação que dera ao Paulo. Em dez minutos, Fernando voltou. - E então? - Indagou Gustavo. - Eles têm abacaxi, sim Seu Gustavo. E é o suficiente para todo nosso pessoal e, se o senhor preferir, têm também laranja, banana, melão e mamão. Os abacaxis estão vendendo a R$1,50 cada; a banana e o mamão a R$1,00 o quilo; o melão R$1,20 a unidade e a laranja a R$20,00 o cento, já descascada... Mas como eu disse que a compra seria em grande quantidade, eles nos concederão um desconto de 15%. Deixei reservado... Conforme o Senhor decidir, volto lá e confirmo o pedido! - Explicou Fernando. Agradecendo pelas informações, o patrão dispensou-o. Voltou-se para Paulo, que permanecia sentado e perguntou-lhe: - Paulo, o que foi que você estava me dizendo? - Nada, patrão. Esqueça. Com licença... E Paulo deixou a sala... MORAL DA HISTÓRIA: "Se não nos esforçarmos em fazer o melhor, mesmo em tarefas que possam parecer simples, jamais nos serão confiadas tarefas de maior importância."

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"Todas as vezes que fazemos o uso correto e amplo da informação, criamos a oportunidade de imprimir a nossa marca pessoal." "Você pode e deve se destacar, até nas coisas mais simples, como Fernando."

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SÃO AGNÓSTICO

Há uma estória indiana de um homem que era um ateu e agnóstico, um raríssimo tipo de postura na Índia. Ele era uma pessoa que desejava livrar-se de todas as formas de ritos religiosos, deixando apenas a essência da direta experiência da Verdade. Ele atraiu discípulos que costumavam se reunir a seu redor toda semana, quando ele falava a todos sobre seus princípios. Após algum tempo eles começaram a se juntar antes do mestre aparecer, porque eles gostavam de estar em grupo e cantar juntos. Eventualmente foi construída uma casa para as reuniões, com uma sala especial para o mestre agnóstico. Após sua morte, tornou-se uma prática entre seus seguidores fazer uma reverência respeitosa para a agora sala vazia, antes de se entrar no salão. Em uma mesa especial a imagem do mestre era mostrada em uma moldura de ouro, e as pessoas deixavam flores e incenso lá, em respeito ao mestre. Em poucos anos uma religião tinha crescido em torno daquele homem, que em vida não praticava nada disso, e que, ao contrário, sempre disse aos seus seguidores que ficar preso a estas práticas levava freqüentemente a pessoa a se iludir no caminho da Verdade.

"Tenha confiança não no mestre, mas no ensinamento. Tenha confiança não no ensinamento, mas no espírito das palavras.

Tenha confiança não na teoria, mas na experiência. Não creia em algo simplesmente porque vós ouvistes.

Não creia nas tradições simplesmente porque elas têm sido mantidas de geração para geração.

Não creia em algo simplesmente porque foi falado e comentado por muitos. Não creia em algo simplesmente porque está escrito em livros sagrados.

Não creia no que imagina, pensando que um Deus vos inspirou. Não creia em algo meramente baseado na autoridade de seus mestres e anciãos.

Mas após contemplação e reflexão, quando você perceber que algo é conforme ao que é razoável e leva ao que é bom e benéfico tanto para você quanto para os outros,

então o aceite e faça disto a base de sua vida."

Gautama Buddha- Kalama Sutra

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SECANDO FARINHA NO VARAL Conto sufi

Um vizinho bateu à porta do Nasrudin (*) e pediu: - Nasrudin, você me empresta o varal de secar roupa que o de lá de casa se quebrou? - Um momento. Vou perguntar à minha mulher. Momentos depois Nasrudin voltou e disse para o vizinho: - Desculpe vizinho, mas não vou poder emprestar o varal pois minha mulher está secando farinha nele. O vizinho, surpreso, exclamou: - Mas Nasrudin, secando farinha no varal??!! E Nasrudin respondeu: - É... quando não se quer emprestar o varal, até farinha se seca nele...

* * * (*) Mulla Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din) viveu no século XIV. Contou e escreveu histórias onde ele próprio era personagem. São histórias que atravessaram fronteiras desde sua época, enraizando-se em várias culturas. Elas compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou o Sufismo, filosofia de autoconhecimento de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje. O termo sufismo é utilizado para descrever um vasto grupo de correntes e práticas. As ordens sufis (Tariqas) podem estar associadas ao islã sunita, islã xiita, a uma combinação de várias correntes, ou a nenhuma delas. O pensamento sufi se fortaleceu no Médio Oriente no século VIII e encontra-se hoje por todo o mundo. De acordo com as grandes escolas de jurisprudência islâmica, o sufismo é considerado como um movimento herético, tendo sido, por isso, perseguido inúmeras vezes ao longo da história. Conhecido por muitos como o misticismo do Islã, o sufismo é uma filosofia de autoconhecimento e contato com o divino através de certas práticas as quais nem sempre seguem um padrão fixo e frequentemente parecem incompreensíveis a um observador que esteja fora do contexto de trabalho. Estas práticas devem ser aplicadas por um professor. Os sufis acreditam que Deus é amoroso e o contato com ele pode ser alcançado pelos homens através de uma união mística, independente da religião praticada. Por este conceito de Deus, foram, muitas vezes, acusados de blasfêmia e perseguidos pelos próprios muçulmanos esotéricos, pois contrariavam a idéia convencional de Deus.

Fontes: http://contoseparabolas.no.sapo.pt/03outros/sufin.htm e http://pt.wikipedia.org/wiki/Sufismo

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SONS INAUDÍVEIS

Um rei mandou seu filho estudar no templo de um grande Mestre, com o objetivo de prepará-lo para ser uma grande pessoa. Quando o príncipe chegou ao templo, o Mestre o mandou sozinho para uma floresta. Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta. Quando o príncipe retornou ao templo, após um ano, o Mestre lhe pediu para descrever todos os sons que conseguira ouvir. Então disse o príncipe: - Mestre, eu pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus... E ao terminar o seu relato, o Mestre pediu que o príncipe retornasse à floresta, para ouvir tudo o mais que fosse possível. Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu a ordem do Mestre, pensando: - Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta... Por dias e noites ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo... mas não conseguiu distinguir nada de novo além daquilo que havia dito ao Mestre. Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes. E quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz. Pensou: - Esses devem ser os sons que o Mestre queria que eu ouvisse... E sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo, pacientemente. Queria Ter certeza de que estava no caminho certo. Quando retornou ao templo, o Mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir. Paciente e respeitosamente o príncipe disse: - Mestre, quando prestei atenção pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da noite... O Mestre sorrindo, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse: - Ouvir o inaudível é ter a calma necessária para se tornar uma grande pessoa. “Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, seus medos não confessados e suas queixas silenciosas, uma pessoa pode inspirar confiança ao seu redor; entender o que está errado e atender às reais necessidades de cada um."

Contos Zen Budista

* * *

TRÊS HOMENS, O GÊNIO E AS ROSAS

Três homens, sendo um ingrato, um conformado e um generoso foram visitados, no mesmo instante e local, por um Gênio saído da lâmpada. Diante do inusitado, um deles falou: - Gênio, o que nos trazes? - Rosas! - disse o Gênio. E abrindo seu manto mágico, dele retirou três lindos buquês de rosas, que ofereceu aos visitados, entregando um para cada. Antes de partir, olhou-os fixamente e, percebendo

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algum desapontamento por conta da simplicidade de sua oferta, justificou-se: - Rosas... porque elas são jóias de Deus: deixam a vida mais rica e bela! Os homens se entreolharam surpresos e, após se despedirem, cada um seguiu seu destino, dando finalidade diferente ao presente recebido. O ingrato, maldizendo sua falta de sorte por haver encontrado um Gênio e dele recebido apenas flores, jogou-as num rio próximo. O conformado, embora entristecido pela singeleza do presente, levou-as para casa, depositando-as num jarro. O generoso, feliz pela oportunidade que tinha em mãos, decidiu repartir seu presente com os outros. Foi visto pela cidade distribuindo rosas, de porta em porta, com um detalhe: quanto mais rosas ofertava, mais seu buquê crescia em tamanho, perfume e beleza. No dia seguinte, no mesmo local e instante, os três homens se reencontraram e, de súbito, ressurgiu o Gênio da véspera. - Gênio, o que desejas? - disse um deles. - Que as vossas rosas se transformem em jóias! - disse o Gênio. Desta forma, o homem generoso encontrou em casa uma carruagem repleta de jóias, extraordinariamente belas, tornando-se rico comerciante. O homem conformado, retornando imediatamente para seu lar, encontrou, pendurado sobre o jarro onde depositara as rosas, um lindo e valioso colar de pérolas. Resignou-se em ofertá-lo para sua esposa. O homem ingrato, dirigindo-se ao lugar onde jogara o buquê de rosas, viu, refletindo sobre as águas, um brilho intenso, próprio de jóias valiosas, que sumiu de seus olhos quando se atirou ao rio no propósito de alcançá-las. REFLEXÃO: Os talentos que você possui, quando bem utilizados, são verdadeiras pérolas que Deus lhe confiou. Fazê-las multiplicar e crescer, gerando benefícios, depende unicamente de você. O sucesso não vem de graça, como, aliás, nada nesta vida.. Até para nascer, há o esforço da saída. No entanto, os esforços que conduzem ao êxito foram deixados pelo Criador ao longo do caminho, que se chama vida, e acessível à todos. Se na vida moderna precisamos correr para ficarmos no mesmo lugar, tal o progresso das coisas, imagine ficar parado aguardando as coisas acontecerem. Os que assim se posicionam, perdem oportunidades preciosas de crescimento. Não basta conhecer alguma coisa. É mister ter a sabedoria de empregar o conhecimento adquirido. A sabedoria advém das tentativas de se implementar aquilo que se conhece. Todas as pessoas bem sucedidas na vida tiveram um ponto de partida em comum: desejaram crescer. Quem não tem a sabedoria de desejar o crescimento, mesmo quando nascido em berço de ouro, acaba por arruinar o que herdou, reduzindo-se a manter aquilo que sua condição mental e espiritual é capaz de conceber.

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Ser honesto, fazer o certo, são meios eficazes de se ter um amigo sempre perto. A amizade, autêntica e sem condicionantes, é o amor ao próximo sublimado. "Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna". (João 6, 27)

* * *

UM FILÓSOFO QUESTIONA BUDDHA

Um filósofo perguntou a Buddha: "Sem palavras, sem silêncio, podeis revelar-me a Verdade?" O Buddha permaneceu em silêncio. O filósofo agradeceu profundamente e disse: "Com vossa amável generosidade eu esclareci minha Ilusão e penetrei no verdadeiro caminho." Após o filósofo ter partido, Ananda perguntou ao Buddha o quê ele havia obtido. O Buddha replicou: "Um bom cavalo corre apenas à visão da sombra do chicote."

* * *

UM SONHO DE BAILARINA

Numa cidade ouve uma apresentação do Balé muito famoso internacionalmente, e

fizeram uma seleção de meninas para ganhar uma bolsa para com eles viajar e se

apresentar.

Uma menina que sonhava ser bailarina foi até a seleção, chegando lá, a pessoa

encarregada da seleção disse a ela que ela jamais seria uma bailarina, e ela foi pra casa

triste e amargurada.

Passaram-se muitos anos ela casou, teve filhos, mas sempre foi uma pessoa muito triste,

por não ter conseguido realizar seu sonho.

Novamente o Balé voltou a cidade, ela foi assistir a apresentação e encontrou com a

pessoa que fazia a seleção agora, já um senhor. Foi muito amargurada com ele e disse:

- Por sua causa, hoje sou infeliz!

Ele não entendeu o porque e ela lhe contou sua historia.

Ele respondeu a ela:

- Eu não tenho culpa de sua infelicidade, mas posso lhe afirmar que você jamais seria uma

bailarina. No primeiro obstáculo você simplesmente desistiu!!!

Saiba que se tiver um sonho e ele estiver nos planos de Deus, persista, insista, mas nunca

desista, e só confie. Vá atrás dos seu sonho, pois o Pai tem realizado muitos sonhos desde

que criou o homem.

Os seus não serão exceção.

* * *

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UMA COLHEITA INESPERADA Adaptação de Sergio Barros

sobre texto de James Elwood Conner

Juiz de Fora - MG

Numa escola rural. Os estudantes consistiam exclusivamente de crianças pobres.

Depois que as crianças tinham terminado com sucesso a leitura de um livro, foram

recompensadas lhes sendo permitido levar livro, fita cassete e um walkman para casa

durante o fim de semana.

Acreditava-se que isto daria um reforço adicional à aprendizagem. Quando chegou a

sexta-feira, Nicole deixou a escola, levando um livro, a fita e o walkman. O acordo era que

as crianças retornariam, na segunda-feira, com tudo o que levara para casa.

Na segunda-feira, Nicole não trouxe o livro e nem a fita de volta à escola. Todo dia ela

dizia que se esquecera ou sequer dava uma desculpa. A professora sabia que isto não era

normal em se tratando de Nicole. Algo estava errado.

Três semanas se passaram. E nada do livro ou da fita!

Então, um dia, a jovem mãe de Nicole - vestida em uniforme de garçonete - veio à escola.

Disse a secretária da escola que queria falar com a professora de leitura, do lado de fora

da escola.

Com compreensível apreensão, a professora foi encontrar-se com a mãe de Nicole. A

mãe, agarrada ao livro, fita e walkman, disse à professora que queria explicar porque

Nicole não tinha devolvido o material como combinado. Nicole não podia ser

responsabilizada; ela era a responsável.

Estava claro para a professora todo o desconforto sentido pela mãe de Nicole tentando

dizer exatamente porque tinha ficado tanto tempo sem trazer de volta os materiais de

leitura.

Seguiu-se um longo e incômodo silêncio, a professora esperou.

As primeiras palavras vieram a duras penas. Então de repente, a mãe, parecendo ter

encontrado sua zona de conforto, começou a contar sua história:

- Quando Nicole chegou em casa e disse que estava aprendendo a ler, eu não acreditei.

Ninguém em minha família sabe ler. Meus pais não sabem ler. Meus irmãos e irmãs não

sabem ler. E eu não sabia ler!

E continuou:

- Quando Nicole trouxe este livro e leu para mim, eu lhe perguntei: "Como você aprendeu

isto?" e Nicole me respondeu: "É fácil, mãe. Eu apenas escuto a fita e acompanho no

livro. Quando eu preciso, posso apenas escutar ou ler junto com a professora até que eu

possa ler tudo sozinha. Você também pode fazê-lo, mãe!

Engolindo em seco, continuou:

- Eu não acreditei em Nicole. Mas eu sabia que eu tinha que tentar... A razão de Nicole não

trazer o material de volta à escola era porque eu não podia deixar! Eu tinha que aprender

a ler como minha menina.

Page 71: Contos que elevam a alma  2

Houve uma curta pausa, então completou:

- Posso ler para você?

E lá na escola da sua criança, a jovem mãe, uma criança ainda quando teve a sua criança,

começou a ler o livro para a professora.

O tempo todo, lágrimas escorriam pela face da jovem.

Em certo momento, a professora também se emocionou.

Qualquer um que visse as duas certamente pensaria que algo trágico tinha acontecido.

Quem poderia imaginar a razão daquelas lágrimas?

A mãe de Nicole foi explicar que com a ajuda daquele livro ela tinha aprendido a ler!

Não havia nenhuma necessidade de se exclamar aleluias!

Já abundavam em cada palavra daquela mãe.

Estavam expressos no semblante da confiança recentemente adquirida.

Para a professora de Nicole, aquele parecia um momento sagrado; nenhuma palavra

poderia expressá-lo.

Admirada, sentou-se encantada com o efeito inesperado e involuntário do seu programa

de leitura.

Isto serviu como uma confirmação de porque fora educada para ensinar, e que coisas

maravilhosas aconteciam e não era por acidente. Refletia que, ironicamente, o melhor

benefício tinha sido o resultado nesta jovem mãe que não fazia parte de seus planos.

Quebrando suas reflexões, a mãe anunciou que, apesar das dúvidas e graças à sua Nicole,

tinha feito o que parecia impossível: tinha lido para a sua própria mãe, a Bíblia, na manhã

de Natal!

* * *

UMA FÁBULA JUDAICA

Três mulheres conversando ao lado de um poço. Um velho as escutava. A primeira mulher dizia: - Meu filho é muito forte, corre e pula. A segunda dizia: - O meu filho canta como os passarinhos. A terceira mulher nada dizia, então o velho perguntou: - Você não tem filhos? Ela respondeu: - Tenho, mas ele é um menino normal como todas as crianças. As três mulheres pegaram seus potes cheios de água e foram caminhando. No meio do caminho, elas pararam para descansar e o velho homem sentou ao lado delas. Logo elas viram seus filhos voltando para perto delas. O primeiro vinha correndo e pulando, o segundo vinha cantando lindas canções. O terceiro não vinha pulando nem cantando, ele correu em direção a sua mãe e pegou o pote cheio de água e levou para casa.

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Então as três mulheres perguntaram para o velho homem: - O que o senhor achou dos nossos filhos? E o velho homem respondeu: - Realmente, eu acabei de ver três meninos, mas vi apenas um filho.

* * *

UMA FÁBULA SOBRE A FÁBULA

(Lenda Oriental)

Malba Tahan

Allahur Akbar! Allahur Akbar! (Deus é grande! Deus é grande!) Quando Deus criou a mulher criou também a fantasia. Um dia a Verdade resolveu visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harun Al-Raschid. Envolta em lindas formas num véu claro e transparente, foi ela bater à porta do rico palácio em que vivia o glorioso senhor das terras mulçumanas. Ao ver aquela formosa mulher, quase nua, o chefe dos guardas perguntou-lhe: - Quem és? - Sou a Verdade! - respondeu ela, com voz firme. - Quero falar ao vosso amo e senhor, o sultão Harun Al-Raschid, o Cheique do Islã! O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, apressou-se em levar a nova ao grão-vizir: - Senhor, - disse, inclinando-se humilde, - uma mulher desconhecida, quase nua, quer falar ao nosso soberano, o sultão Harun Al-Raschid, Príncipe dos Crentes. - Como se chama? - Chama-se a Verdade! - A Verdade! - exclamou o grão-vizir, subitamente assaltado de grande espanto. - A Verdade quer penetrar neste palácio! Não! Nunca! Que seria de mim, que seria de todos nós, se a Verdade aqui entrasse? A perdição, a desgraça nossa! Dize-lhe que uma mulher nua, despudorada, não entra aqui! Voltou o chefe dos guardas com o recado do grão-vizir e disse à Verdade: - Não podes entrar, minha filha. A tua nudez iria ofender o nosso Califa. Com esses ares impúdicos não poderás ir à presença do Príncipe dos Crentes, o nosso glorioso sultão Harun Al-Raschid. Volta, pois, pelos caminhos de Allah! Vendo que não conseguiria realizar o seu intento, ficou muito triste a Verdade, e afastou-se lentamente do grande palácio do magnânimo sultão Harun Al-Raschid, cujas portas se lhe fecharam à diáfana formosura! Mas... Allahur Akbar! Allahur Akbar! Quando Deus criou a mulher, criou também a Obstinação. E a Verdade continuou a alimentar o propósito de visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harun Al-Raschid... Cobriu as peregrinas formas de um couro grosseiro como os que usam os pastores e foi novamente bater à porta do suntuoso palácio em que vivia o glorioso senhor das terras

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mulçumanas. Ao ver aquela formosa mulher grosseiramente vestida com peles, o chefe dos guardas perguntou-lhe: - Quem és? - Sou a Acusação! - respondeu ela, em tom severo. - Quero falar ao vosso amo e senhor, o sultão Harun Al-Raschid, Comendador dos Crentes! O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, correu a entender-se como o grão-vizir. - Senhor - disse, inclinando-se humilde, - uma mulher desconhecida, o corpo envolto em grosseiras peles, deseja falar ao nosso soberano, o sultão Harun Al-Raschid. - Como se chama? - A Acusação! - A Acusação? - repetiu o grão-vizir, aterrorizado. - A Acusação quer entrar nesse palácio? Não! Nunca! Que seria de mim, que seria de todos nós, se a Acusação aqui entrasse! A perdição, a desgraça nossa! Dize-lhe que não, que não pode entrar! Dize-lhe que uma mulher, sob as vestes grosseiras de um zagal, não pode falar ao Califa, nosso amo e senhor! Voltou o chefe dos guardas com a proibição do grão-vizir e disse à Verdade. - Não podes entrar, minha filha. Com essas vestes grosseiras, próprias de um beduíno rude e pobre, não poderás falar ao nosso amo e senhor, o sultão Harun Al-Raschid. Volta, pois, em paz, pelos caminhos de Allah! Vendo quem não conseguiria realizar o seu intento, ficou ainda mais triste a Verdade e afastou-se vagarosamente do grande palácio do poderoso Harun Al-Raschid, cuja cúpula cintilava aos últimos clarões do sol poente. Mas... Allahur Akbar! Allahur Akbar! Quando Deus criou a mulher, criou também o Capricho. E a Verdade entrou-se do vivo desejo de visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harun Al-Raschid. Vestiu-se com ríquissimos trajos, cobriu-se com jóias e adornos, envolveu o rosto em um manto diáfano de seda e foi bater à porta do palácio em que vivia o glorioso senhor dos Árabes. Ao ver aquela encantadora mulher, linda como a quarta lua do mês de Ramadã, o chefe dos guardas perguntou-lhe: - Quem és? - Sou a Fábula - respondeu ela, em tom meigo e mavioso. - Quero falar ao vosso amo e senhor, o generoso sultão Harun Al-Raschid, Emir dos Árabes! O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, correu, radiante, a falar com o grão-vizir: - Senhor, - disse, inclinando-se, humilde - uma linda e encantadora mulher, vestida como uma princesa, solicita audiância de nosso amo e senhor, o sultão Harun Al-Raschid, Emir dos Crentes. - Como se chama? - Chama-se a Fábula!

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- A Fábula! - exclamou o grão-vizir, cheio de alegria. - A Fábula quer entrar neste palácio! Allah seja louvado! Que entre! Benvinda seja a encantadora Fábula: Cem formosas escravas irão recebê-la com flores e perfumes! Quero que a Fábula tenha, neste palácio, o acolhimento digno de uma verdadeira rainha! E abertas de par em par as portas do grande palácio de Bagdá, a formosa peregrina entrou. E foi assim, sob o aspecto de Fábula, que a Verdade conseguiu aparecer ao poderoso califa de Bagdá, o sultão Harun Al-Raschid, Vigário de Allah e senhor do grande império mulçumano! - MINHA VIDA QUERIDA. Tahan, Malba. Rio de Janeiro: Conquista, 1957, p.93-98. -

* * *

UMA FORÇA DESCONHECIDA

Era uma vez, numa terra distante, um sábio e seu discípulo que caminhavam pelas montanhas. De repente, avistaram uma pequena propriedade aparentemente abandonada. Ao se aproximarem, perceberam a miséria ali existente, sem nenhum tipo de cultivo e uma pequena casinha em péssimo estado de conservação. Ali foram surpreendidos com a figura de um homem que vivia com a mulher e três filhos. Prontamente ele os convidou a entrar, oferecendo-lhes água e algum alimento. Após se acomodarem, o sábio perguntou ao homem: - Você e sua família moram aqui? - Sim, respondeu o homem simples. E o mestre continuou: - Como conseguem sobreviver diante de tantas dificuldades? - É simples, senhor. Temos aquela vaquinha (apontando na direção do animal), que nos fornece leite para nosso sustento, e com as sobras fazemos queijos e os trocamos na cidade por outros alimentos. Os visitantes agradeceram a hospitalidade e despediram-se. Ao saírem da propriedade, o mestre virou-se para o discípulo e ordenou: - Vá lá e jogue aquela vaquinha no precipício! O discípulo, espantado, reagiu: - Como? O senhor quer que eu vá lá e jogue a vaquinha no precipício? - Sim, é isso mesmo que você entendeu. - Mas, mestre, ela é o único meio de sobrevivência desta pobre família. Como podes fazer isso? O discípulo, ainda espantado, não conseguia entender tal atitude. Mas como percebeu o silêncio absoluto do seu mestre, e como um bom aprendiz foi cumprir a ordem, voltou lá e fez o que o mestre lhe havia lhe ordenado. Anos mais tarde o discípulo, que nunca se perdoara por aquela ação e convivia com uma grande tristeza no coração, resolveu voltar àquele lugar para saber o que teria acontecido à pobre família, e quem sabe, de alguma maneira, poder remediar tamanha maldade. Chegando ao local, o discípulo percebeu que as coisas haviam mudado totalmente. Aquela paisagem pobre e árida do passado agora estava transformada em uma

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propriedade com muito verde ao redor, rica em plantações e cultivos de diversas espécies, e a velha vaquinha estava, agora, substituída por um grande rebanho de gado leiteiro. Então, pensou: "Coitados, devem ter vendido a propriedade e se mudado para outro lugar." Resolveu então se aproximar e, chegando ao local, perguntou ao homem que ali estava, parecendo ser o caseiro: - Boa tarde, o senhor pode me dar uma informação? - Pois não. - O senhor pode me dizer onde vive aquela família que morava aqui anteriormente? - Claro, o senhor pode encontrá-los indo até o jardim, ao lado da piscina, onde estão saboreando um churrasco. - Como? Estou falando de uma família humilde, um casal e três filhos que moravam aqui, disse o discípulo, sem entender a explicação. - Pois é, senhor, como eu lhe disse, são as mesmas pessoas. Vá até lá e confira com seus próprios olhos. Ao se aproximar, o discípulo pode reconhecer o homem que conversara com seu mestre, pediu licença e disse: - Boa tarde, não sei se o senhor está lembrado, mas estive aqui junto com meu mestre há alguns anos e estou muito surpreso com tamanha mudança e prosperidade. O senhor pode me contar o que aconteceu? - Claro! Naquele mesmo dia, após sua partida, fomos surpreendidos com a morte de nossa vaquinha, que encontramos caída no precipício. Diante de tamanha tragédia, pois ela era nossa única fonte de sobrevivência, começamos a repensar nossas vidas. Tentamos descobrir novas formas de subsistência. Descobrimos, então, que poderíamos fazer diversas coisas. Assim, com sementes que pedimos emprestadas, começamos a plantar diversos tipos de culturas, minha mulher passou a tecer, cozinhar para fora; nossos filhos, com a ajuda de alguns amiguinhos, fizeram uma horta para nossa subsistência. Hoje, graças a Deus, somos uma família feliz e com um bom padrão de vida. A morte de nossa vaquinha nos fez descobrir uma força que desconhecíamos. Ponto de reflexão: Todos nós temos uma vaquinha que nos dá alguma coisa básica para sobrevivência e uma conveniência com a rotina. Aproveite estes novos tempos, descubra qual é a sua e evite de depender somente dela.

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UMA HISTÓRIA TURCA

Um dia, Khoja estava cortando lenha à beira da estrada, a uns poucos quilômetros de Akshehir. Transcorrido algum tempo, um homem veio pela estrada, caminhando na direção de Akshehir, e perguntou ao Khoja: - O senhor poderá dizer-me quanto tempo levarei até chegar a Akshehir? Khoja ouviu-o e ergueu a vista da sua tarefa, mas nada disse. Por isso o homem, em voz mais alta, insistiu: - Quanto tempo levarei para chegar até Akshehir?

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Mas o Khoja continuou em silêncio. Dessa vez o homem bramiu, indignado: - Quanto tempo levarei para chegar a Akshehir? Como Khoja continuasse mudo, o homem chegou à conclusão de que ele era surdo; e assim se pôs a caminhar depressa no rumo da cidade. Nasreddin Khoja observou-o a caminhar por uns instantes e de repente lhe gritou: - Uma hora! - Por que não me disse isso antes? - Desabafou-se o zangado viajante. - Porque eu primeiro precisava conhecer a velocidade da sua marcha - respondeu o Khoja.

(Jean Sulzberger, em "A Busca")

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VENCER SIM, MAS NÃO SOZINHO...

Há alguns anos, nas Olimpíadas Especiais de Seattle, nove participantes, todos com

deficiência mental ou física, alinharam-se para a largada da corrida dos 100 metros rasos.

Ao sinal, todos partiram, não exatamente em disparada, mas com vontade de dar o

melhor de si, terminar a corrida e ganhar.

Todos com exceção de um garoto, que tropeçou no asfalto caiu rolando e começou a

chorar.

Os outros oito ouviram o choro diminuíram o passo e olharam para trás.

Então eles viraram e voltaram. Todos eles.

Uma das meninas, com Síndrome de Down, ajoelhou, deu um beijo no garoto disse:

– Pronto, agora vai sarar.

E todos os nove competidores deram os braços e andaram juntos até a linha de chegada.

O estádio inteiro levantou e os aplausos duraram muitos minutos.

E as pessoas que estavam ali, naquele dia, continuam repetindo essa história até hoje.

Por quê?

Porque, lá no fundo, nós sabemos que o que importa nesta vida é mais do que ganhar

sozinho.

O que importa nesta vida é ajudar os outros a vencer, mesmo que isso signifique diminuir

o passo e mudar o curso.

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VIVER COMO AS FLORES

- Mestre, como faço para não me aborrecer? Algumas pessoas falam demais, outras são ignorantes, algumas são indiferentes. Sinto ódio das que são mentirosas. Sofro com as que caluniam. - Pois viva como as flores - advertiu o mestre! - Como é viver como as flores? - perguntou o discípulo - Repare nestas flores, continuou o mestre, apontando lírios que cresciam no jardim. Elas nascem no esterco, entretanto, são puras e perfumadas. Extraem do adubo

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malcheiroso tudo que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume da terra manche o frescor de suas pétalas. É justo angustiar-se com as próprias culpas, mas não é sábio permitir que os vícios dos outros o importunem. Os defeitos deles são deles e não seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento. Exercite, pois, a virtude de rejeitar todo mal que vem de fora. Isso é viver como as flores.

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VÔO TURBULENTO

No livro Silent Strength for My life (Força tranqüila para a minha vida), Loyde John Ogilvie conta a história de um menino que conheceu numa viagem. Ele observou o menino sozinho na sala de espera do aeroporto aguardando seu vôo. Quando o embarque começou, ele foi colocado na frente da fila para entrar e encontrar seu assento antes dos adultos. Quando Ogilvie entrou no avião, viu que o menino estava sentado ao lado de sua poltrona. O menino foi cortês quando Ogilvie puxou conversa com ele e, em seguida, começou a passar tempo colorindo um livro. Ele não demonstrava ansiedade ou preocupação com o vôo enquanto as preparações para a decolagem estava sendo feitas. Durante o vôo, o avião entrou numa tempestade, muito forte, o que fez que ele balançasse como uma pena ao vento. A turbulência e as sacudidas bruscas assustaram alguns dos passageiros, mas o menino parecia encarar tudo com a maior naturalidade. Uma das passageiras, sentada do outro lado do corredor ficou preocupada com aquilo tudo, e perguntou ao menino: - Você não está com medo? - Não senhora, não tenho medo, ele respondeu, levantando os olhos rapidamente de seu livro de colorir. - Meu pai é o piloto. REFLEXÃO:

Existem situações em nossa vida que lembram um avião passando por uma forte tempestade.

Por mais que tentemos, não conseguimos nos sentir em terra firme.

Temos a sensação de que estamos pendurados no ar sem nada a nos sustentar, a nos segurar, em que nos apoiarmos, e que nos sirva de socorro.

No meio da tempestade, podemos nos lembrar de que nosso "PAI É O PILOTO".

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