contos premiados 2014

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Biblioteca Escolar - Agrupamento de Escolas Martim de Freitas Contos premiados Biblioteca Escolar Martim de Freitas Ano letivo 2013/2014

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Biblioteca Escolar - Agrupamento de Escolas Martim de Freitas

Contos premiados Biblioteca Escolar Martim de Freitas

Ano letivo 2013/2014

Biblioteca Escolar - Agrupamento de Escolas Martim de Freitas

Ping, o Imperador

Era uma vez um simples rapaz chamado Ping. Ele costumava vender flores, muito belas, que

plantavam na sua horta. Não ganhava muito dinheiro porque só as vendia na sua aldeia, não na

cidade. Um dia, a sua mãe adoeceu e ele teve de ir à cidade comprar medicamentos, mas não tinha

dinheiro. O pai aconselhou-o:

- Meu filho, leva algumas das tuas belas flores e este porco. Vende-os e compra

medicamentos à tua mãe. Vem o mais rápido possível.

Então, Ping partiu. Durante 5 dias e 5 noites esteve de viagem. Quando chegou, uma

senhora velhota comprou-lhe as flores e ofereceu-lhe um quarto para dormir, em troca do porco que

ele trazia consigo. Ping ficou alojado naquela grande casa.

No outro dia, foi ao doutor, um homem que fazia os melhores medicamentos das

redondezas. Ao entrar na sua humilde casa, viu o jornal que transmitia a mensagem do Imperador

Chang ao povo:

- Meu povo, venho anunciar que a selecção do meu sucessor se realizará hoje, depois do

banquete. Nessa hora, darei a todos os rapazes umas sementes da minha flor favorita. Desejo que

as plantem durante um ano para, mais tarde, eu poder escolher a mais bela.

Ping levou os medicamentos para casa e foi buscar as tais sementes. Quando regressou, o

pai e a mãe ficaram entusiasmados com a boa nova, mas a mãe continuava doente.

Durante um ano, Ping plantou as sementes, regava-as e cuidava delas como se fossem o

seu próprio filho. Mas elas não cresceram, nem uma única flor brotava do vaso amarelo.

Então, Ping falou com o pai:

- Meu pai, as minhas flores não brotam e não sei o que dizer ao Imperador. Tenho de partir

agora para a entregar, mas não tenho coragem de levar a Chang, o Imperador, um vaso com terra.

- Ping, leva esse vaso e diz a verdade, pois é a melhor solução.

Ping partiu. Quando chegou ao palácio, olhou em volta e todos os meninos tinham flores

bonitas e frescas. O Imperador cheirou e contemplou todas as flores e Ping era o último. Chang,

desconfiado, perguntou-lhe por que motivo Ping não trouxera nada, apenas uma vaso com terra.

- Meu Imperador, durante um ano semeei estas sementes, reguei-as e cuidei delas. Mas as

flores não brotaram.

De repente, Chang começou a saltar e a gritar de alegria. No dia seguinte, anunciou a todas

as crianças:

- Já escolhi o meu sucessor. Ping foi o escolhido. Traz a tua flor, rapaz.

Então, Ping levantou-se e ergueu o seu vaso vazio. Houve um silêncio constrangedor.

Biblioteca Escolar - Agrupamento de Escolas Martim de Freitas

-Pois, meus amigos, eu dei-vos estas sementes queimadas, por isso, eram incapazes de

brotar e crescer uma bela flor.

Ping foi para casa contente. A partir desse dia, o seu nome era Ping, o Imperador da verdade.

Margarida Teles Freitas, nº 24 -6 ºG

Biblioteca Escolar - Agrupamento de Escolas Martim de Freitas

A grande aventura de Afonso

Afonso era um miúdo normal. Acordava todos os dias às 7:15, vestia-se, tomava o pequeno-

almoço, ia para a escola e assistia às aulas. Quando regressava a casa tomava banho, fazia os

trabalhos de casa e brincava até ao jantar.

Um dia, quando ele estava a estudar, os pais entraram no seu quarto e disseram:

– Afonso, eu e a tua mãe temos de ir às Filipinas a um congresso de zoologia e terás de ficar

com os teus tios.

O Afonso ficou espantado, pois não via os seus tios pessoalmente desde que tinha três anos

e, pelo que se lembrava das chamadas pelo Skipe, não gostava nada deles. O tio Francisco era

pequeno e atarracado, com o nariz adunco e cabelo de palha. Os seus olhos azuis acinzentados

eram frios como gelo e perscrutadores como os de um falcão esfaimado. A tia Lurdes era alta e

magra, com os lábios sorridentes e finos como fios de seda; os olhos e o cabelo eram castanhos e

brilhantes. Mas, por dentro, era cruel e Afonso achava que ela queria enfiá-lo no seu caldeirão de

sopa de couve para servir de tempero.

– Mas porquê? – perguntou ele à beira das lágrimas – Eu não quero! Prefiro ficar com a avó

Alberta.

– Não vale a pena fazeres birra – avisou o pai – sabes muito bem que a avó está doente e

que seria um castigo para ela ter de te aturar. Partes amanhã.

No resto da tarde Afonso amuou, pois não podia fazer nada. No dia seguinte, chegou a

camioneta que o iria levar à Quinta do Tinte, em Seia, onde os tios viviam. Na quinta encontrou o tio

que lhe disse:

– Anda puto, vou mostrar-te onde vais ficar.

Entraram num quarto escuro, húmido e cheio de teias de aranha. No quarto havia uma cama,

uma lareira, uma escrivaninha de madeira escura, muito bem talhada, e um quadro com o busto de

uma pessoa.

– Este era o quarto do teu trisavô. Dizem que está assombrado. – E, sorrindo, acrescentou –

Esperemos que o fantasma te coma os olhos durante a noite. Mas, entretanto, vai fazendo os TPC.

Enquanto estava a fazer os trabalhos, sentiu alguém a observá-lo através do quadro, mas,

quando se virou, estava tudo normal. Desconfiado e assustado, Afonso continuou a fazer as contas,

mas, desta vez, mais alerta.

Ao cair da noite, deitou-se e depressa adormeceu. À meia-noite, o vento acordou Afonso;

com um bocejo abriu lentamente os olhos. Uma luz pálida e azulada iluminava o quarto e uma voz

rouca dizia:

– Vem! Vem! Depressa! Depressa!

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Afonso despertou apreensivo, pois as vozes pareciam vir do quadro. Lentamente, tirou-o do

suporte e, por detrás, descobriu um buraco que revelava uma entrada para o que aparentavam ser

umas catacumbas escondidas. Na primeira câmara, fracamente iluminada por um archote, podiam

ver-se uma porta, livros numa estante, uma mesa com um tinteiro e uma pena. Nessa mesa estava

pousada uma folha de papel escrita que, no cimo, dizia: “Caro aventureiro”. Era a letra do seu trisavô,

cujo testamento estava exposto na sala de estar, por isso Afonso a reconheceu. Voltou ao quarto

para ir buscar uma vela, a fim de conseguir ler melhor e explorar o resto das catacumbas que

pareciam estar às escuras. Quando chegou ao quarto, ouviu passos e, à pressa, voltou a pôr o

quadro na parede e regressou à cama.

Na noite seguinte, regressou à primeira câmara e leu o texto: “Fama, riqueza, glória e poder

esperam aqueles que descobrirem o segredo das catacumbas da quinta. Mas o caminho é perigoso

e só os mais corajosos os alcançarão”.

Afonso encheu o peito de coragem e, à cautela, levou uma faca que roubara no dia anterior;

pegou no archote que iluminava a câmara e avançou. Na segunda câmara, parecia não haver nada,

a não ser umas barras de metal que lembravam reposteiros. Mas, ao dar o primeiro passo, o chão

caiu e mostrou um tanque de lava. Afonso, dando um salto felino para trás, ficou a pensar: “Será que

eu posso usar os reposteiros e fazer como no “Uncharted”? Saltar agarrando-me às barras para

chegar ao outro lado?”. Tentou e conseguiu.

Na terceira câmara, três passagens davam acesso a outros tantos túneis, cada qual com

uma placa no cimo. A primeira dizia “Força”, a segunda “Inteligência” e a terceira “Recompensa”.

Afonso foi pela primeira passagem e encontrou uma bola de canhão que tinha escrito: “Usar

no 2º túnel”. Na segunda passagem, havia um poço com uma corda, mas o que estava no fundo era

demasiado pesado para ser puxado à mão. Por isso, Afonso usou a bala para fazer de contrapeso e

ajudar a subir o balde. Neste estavam vários objetos pesados e uma chave que tinha escrito: “Usar

no 3º túnel”. Neste último, uma porta foi facilmente aberta pela chave. Na câmara atrás desta porta,

havia um diamante do tamanho da cabeça de um porco, cintilante e tão bonito como uma estrela,

que Afonso meteu na sua mochila, cheio de alegria. Enquanto regressava, lembrou-se das vozes

que ouvira no quarto e perguntou-se qual seria a sua origem. De repente, um arco-íris esvoaçou à

frente dele e um papagaio com uma coleira, onde estava escrito “Potty”, pousou no seu ombro,

chamando:

– Vem! Vem! Depressa! Depressa! Jóia já não está aqui. Potty livre, tu amigo.

Afonso voltou para casa com dois tesouros: um diamante gigante e um amigo fiel.

João Mangana, nº 16, 6ºD

Biblioteca Escolar - Agrupamento de Escolas Martim de Freitas

A Razão pela qual digo não a Deus

Fiquei extasiado. Haviam-nos dito que podíamos dispersar pelo espaço onde nos encontrávamos.

Novamente, fiquei extasiado. Olhava em volta e só via luz, luz, luz. Metaforicamente, é claro. Àquela

hora da tarde, o sol ainda não se tinha posto, mas faltava pouco. Havia lojas, restaurantes, um

homem de lata (pintara-se de dourado para parecer ouro - - mas a mim ele não me engana),

pessoas conversando sobre as suas vidas, política, economia, ou mesmo conversando sobre nada.

E, mais uma vez, luz. Tanta luz.

Pensei em ir para cima, ver a estátua do Poeta. Oh!, quis o Destino, fatal como a paixão ardente,

que eu, por alguma razão alheia ao meu propósito de ser, descesse o Chiado. Oh!, fatal destino! Que

me foste tu mostrar! Comecei a minha descida ao Inferno. Na altura, não notei, era só luz, luz, luz.

Mais lojas, mais restaurantes, mais pessoas conversando sobre tudo e sobre nada. À medida que fui

descendo, o sol ia-se pondo, o ar que se alojava nos meus pulmões tornava-se mais frio.

Passara já um terço da minha descida. Eram tantas as expetativas que tinha para aquela parte da

peregrinação, dadas as maravilhas que já tinha visto, ouvido, sentido e degustado. Não fiquei

dececionado, não ainda. As lojas eram ainda mais espantosas que as de cima, três milhões de

vezes mais iluminadas e agitadas. As pessoas eram três vezes mais ricas do que as que passeavam

por lá, no topo. As suas conversas, mais interessantes e interessadas apenas por aqueles

suficientemente cultos para as compreenderem. A sua presença quase que ofuscava por completo

os malabarismos dos trapezistas e as melodias dos músicos de rua que pediam esmola. Talvez

devido à sua insignificância aparente, as pessoas que por ali passavam pareciam não reparar neles.

Mas eu sim.

Agora, o crepúsculo aceso na Rua das Luzes e o ar, outrora quente e acolhedor, tornara-se quase

tão pesado como as carteiras das mulheres à minha volta.

Lá fui eu para o último troço da Rua Garrett, esperançado por encontrar melhor e maior. E o Chiado

não me desiludiu. As lojas ainda mais ricas e cheias de pessoas, ainda mais abastadas do que as

próprias boutiques onde compravam a roupa, a joalharia, o ouro ou só comparavam os preços para

sua satisfação. E era tanta a luz proveniente deste novo Éden que descobrira... cegava-me total e

profundamente. Já não via o céu, o sol se pondo, os meus colegas há muito desaparecidos, as

dezenas de pedintes na rua, só... o Chiado e todo o seu esplendor. Até o ar me parecia mais quente

e o vento, batendo-me na cara, soava a uma voz feminina, poderosa e cativante, envolvendo-me.

Lá estava eu, finalmente, no último sétimo do meu trajeto. De bom humor, obviamente, cantando e

trauteando. Já não se avistavam mendigos, nem malabaristas, nem músicos de rua há um bom

bocado. Ao fundo, erguia-se um magnífico centro comercial, que se estendia ao subsolo, acessível

por meio de escadas rolantes. Gente entrava e saía, ia-se apinhando à entrada e ria-se

Biblioteca Escolar - Agrupamento de Escolas Martim de Freitas

estridentemente. Ainda antes, mesmo ao meu lado, encontrava-se uma gigantesca Zara, não menos

luxuosa do que os outros estabelecimentos que já visitara. E, à direita da Zara, num degrau de

mármore branco, um homem. Nem poderia dizer com toda a certeza que se tratava de um homem.

A sua barba não era feita há pelo menos um mês, diria eu pelo seu estado. O casaco verde que

vestia, em farrapos, era permeável ao frio e à humidade de janeiro. Os seus pés descalços eram os

pés de um morto, a única coisa imóvel naquela rua por natureza movimentada. O cartaz que

segurava deteve-me por um instante. Não me recordo do que dizia exatamente, mais um pobre

coitado queixando-se da sua vida: o típico desempregado sem abrigo ou família nem lugar para onde

ir, apenas a esperança de que uma alma caridosa passasse por si e lhe desse uma moeda.

Preparava-me para o abandonar, quando os seus olhos cansados, lívidos como o mármore onde se

sentava, se levantaram e recaíram nos meus.

E o peso do mundo desabou sobre mim. De um momento para o outro, a luz que me havia cegado

o olhar desapareceu e a verdadeira natureza do mundo revelou-se-me clara como a água. Desde os

fariseus passeando-se pelo Chiado até aos estabelecimentos onde comerciavam. O frio instalou-se e

o sol há muito que já se deixara ocultar pelos altos edifícios. A Rua das Luzes era o lugar mais

sombrio de toda a Criação.

Olhei o homem nos olhos tão esquecidos por Deus, assentei ao de leve a minha mão no seu ombro

e desci ao centro comercial sempre cabisbaixo; sentei-me de cócoras na berma da estrada e

esperei, juntamente com os meus colegas que aí se encontravam, que nos viessem recolher.

António de Sá Godinho 9ºA

Biblioteca Escolar - Agrupamento de Escolas Martim de Freitas

Caça-espíritos

É como se… todos fossem normais mas não eu. Como se ninguém visse o que eu

vejo, sentisse o que eu sinto. Por fora, podia parecer apenas alguém normal, com sonhos e

esperanças. Mas as pessoas chamam-nos caça-espíritos. Não sou daqueles objetos inanimados

que se penduram, mas alguém que consegue sentir o sobrenatural. Sei que não sou a única assim

na Terra… mas, até hoje, não encontrei ninguém que persentisse a vida… o medo… a morte.

E tudo piora nas sextas-feiras 13. Tudo começa com um arrepio, ao acordar. Na noite

anterior não sonho, nem tenho pesadelos. Mas depois, quando abro os olhos sinto. Sinto o medo

das pessoas, mas também a sua felicidade… na escola, todos me acham estranha. Mal eles sabem

que não é boa ideia convidarem-me para uma festa, numa casa assombrada, durante uma sexta-

feira 13. Porém, eles fazem-no à mesma.

A casa é grande e sombria, como todas as casas assombradas. A música da festa

ribomba como trovões nos meus ouvidos, contudo sinto o silêncio submerso.

Entro na casa e tudo parece demasiado bem. E, depois, sinto os sussurros, as vozes,

as lamúrias… o som da vida e da morte. É algo assustador e as pessoas começam a olhar-me, de

forma estranha. Tremo. Está cada vez mais perto… as persianas rotas das janelas abanam. O vento

assobia e o frio enregela-me. Não sei se são fantasmas ou algo de outro mundo. Mas tenho de

avisar os outros. Não me interessa se vão pensar que enlouqueci, ou que estou apenas a gozar,

mas não posso deixar passar isto ao lado. É demasiado intenso.

Então, grito:

- Saiam todos! A sério, saiam!

Reagem como esperava. Riem-se, apontam e segredam. Todavia, quando do andar

de cima alguém grita “Fogo! Fogo!” olham-me, espantados. Não porque pensam que eu iniciei o

incêndio, mas porque eu, a rapariga calada e estranha, os avisou, com razão.

Saímos todos de casa. Os bombeiros, a polícia e até os jornais chegam. Sinto-me

atordoada e agora apelidam-me de “salvadora” como se tivesse feito grande coisa.

Só correspondi aos meus presságios… e percebi que nem sempre se revelam da

forma que pensamos.

E agora as pessoas não me ignoram, não me olham de lado. Talvez o facto de ser

uma caça-espíritos não seja assim tão mau. Não sei se é um dom ou um tormento, mas usá-lo-ei em

proveito dos outros.

Desejem-me sorte

Mafalda Agante nº10 9ºE