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Estudos Feministas, Florianópolis, 19(1): 312, janeiro-abril/2011 239 Contos de Camp W Contos de Camp W Contos de Camp W Contos de Camp W Contos de Camp Wilde: tornando ilde: tornando ilde: tornando ilde: tornando ilde: tornando queer queer queer queer queer a pesquisa em Educação a pesquisa em Educação a pesquisa em Educação a pesquisa em Educação a pesquisa em Educação Ambiental Ambiental Ambiental Ambiental Ambiental 1 Resumo: Resumo: Resumo: Resumo: Resumo: Este artigo questiona o relativo silêncio da teoria e da teorização queer sobre a pesquisa em educação ambiental. Exploramos algumas possibilidades para tornar queer a pesquisa em educação ambiental ao criar (estimulando outras/os a fazer o mesmo) narrativas de Camp Wilde, um local imaginário que nos ajuda a expor o fato de este ser um campo marcado por uma construção heteronormativa. Essas narrativas propõem métodos alternativos de representação e (re)produção do sujeito e do objeto de nossas indagações e nossas identidades como pesquisadoras/es. As/os colaboradoras/es utilizam-se de diferentes recursos teóricos como história da arte, desconstrução, ecofeminismo, crítica literária, estudos culturais populares e pós-estruturalismo feminista a fim de desenvolver uma nova orientação para a pesquisa em Educação Ambiental, a qual esperamos que jamais seja categorizada como um ‘novo gênero’ Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: educação ambiental; pedagogias queer; heteronormatividade; pesquisa. Noel Gough Deakin University, Australia Annette Gough Deakin University, Australia Com Peter Appelbaum, Sophia Appelbaum, Mary Aswell Doll e Warren Sellers Copyright © 2011 by Revista Estudos Feministas. 1 Texto publicado como “Tales From Camp Wilde: Queer(y)ing Envi- ronmental Education Research”, Canadian Journal of Environment Education, v. 8, n. 1, 2003. A importância de tornar A importância de tornar A importância de tornar A importância de tornar A importância de tornar queer queer queer queer queer a a a a a seriedade seriedade seriedade seriedade seriedade Nos últimos anos, nossas inclinações a metodologias pós-estruturalistas (que se caracterizam por prestar atenção àquilo negligenciado, silenciado, reprimido, e/ou margi- nalizado pelos discursos e práticas culturais dominantes) nos levaram a lamentar a relativa ausência da teoria e teorização queer no campo de pesquisa em educação

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Contos de Camp WContos de Camp WContos de Camp WContos de Camp WContos de Camp Wilde: tornandoilde: tornandoilde: tornandoilde: tornandoilde: tornandoqueerqueerqueerqueerqueer a pesquisa em Educação a pesquisa em Educação a pesquisa em Educação a pesquisa em Educação a pesquisa em Educação

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Resumo:Resumo:Resumo:Resumo:Resumo: Este artigo questiona o relativo silêncio da teoria e da teorização queer sobre apesquisa em educação ambiental. Exploramos algumas possibilidades para tornar queer apesquisa em educação ambiental ao criar (estimulando outras/os a fazer o mesmo) narrativasde Camp Wilde, um local imaginário que nos ajuda a expor o fato de este ser um campomarcado por uma construção heteronormativa. Essas narrativas propõem métodos alternativosde representação e (re)produção do sujeito e do objeto de nossas indagações e nossasidentidades como pesquisadoras/es. As/os colaboradoras/es utilizam-se de diferentes recursosteóricos como história da arte, desconstrução, ecofeminismo, crítica literária, estudos culturaispopulares e pós-estruturalismo feminista a fim de desenvolver uma nova orientação para apesquisa em Educação Ambiental, a qual esperamos que jamais seja categorizada como um‘novo gênero’Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave: educação ambiental; pedagogias queer; heteronormatividade; pesquisa.

Noel GoughDeakin University, Australia

Annette GoughDeakin University, Australia

Com Peter Appelbaum, Sophia Appelbaum,Mary Aswell Doll e Warren Sellers

Copyright © 2011 by RevistaEstudos Feministas.1 Texto publicado como “Tales FromCamp Wilde: Queer(y)ing Envi-ronmental Education Research”,Canadian Journal of EnvironmentEducation, v. 8, n. 1, 2003.

A importância de tornar A importância de tornar A importância de tornar A importância de tornar A importância de tornar queerqueerqueerqueerqueer a a a a aseriedadeseriedadeseriedadeseriedadeseriedade

Nos últimos anos, nossas inclinações a metodologiaspós-estruturalistas (que se caracterizam por prestar atençãoàquilo negligenciado, silenciado, reprimido, e/ou margi-nalizado pelos discursos e práticas culturais dominantes)nos levaram a lamentar a relativa ausência da teoria eteorização queer no campo de pesquisa em educação

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NOEL E ANNETTE GOUGH COM PETER E SOPHIA APPELBAUM, MARY A. DOLL E WARREN SELLERS

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ambiental. Concordamos com Constance Russell, TemaSarick e Jacqueline Kennelly que “a pedagogia queer podeenriquecer a teoria e a prática da educação ambiental”2 eeste artigo confirma e expande sua iniciativa. E complemen-tamos que a teorização queer pode enriquecer a pesquisaem educação ambiental.3

Fomos atraídos pela teorização queer de início peloseu convite a um questionamento dos desejos heteronor-mativos que animam grande parte da pesquisa educacional,incluindo desejos por previsões, controle e maestria. ComoDavid Jardine, suspeitamos que discursos técnico-científicoslimitam nossa capacidade de formular perguntas que já nãopresumam em si a possibilidade de soluções finais:

A linguagem oferecida [pelo discurso técnico-científico] já vem previamente embargada [ou aomenos, tende ao embargo], busca a última palavra,[...] uma palavra em que o silêncio monótono daapresentabilidade objetiva adquire poder sobre a vidahumana. Assim, a complicada natureza da vidahumana estará solucionada e finalmente teremos ocurrículo “certo” para todo o sempre [...] Nada maisprecisará ser dito. Nenhuma/nenhum teórica/o educa-cional ou educadora/educador afirmaria desejar isso,mas a hesitação em fazer tal declaração ocorreconcomitantemente a quando ouvimos que “umpedaço do quebra-cabeça foi resolvido, apenas umaparte do retrato. Pesquisas subsequentes sempre devemser feitas”. Esta afirmação, mesmo em sua admirávelhesitação [...] não rompe com a crença fundamentalde que a vida humana é um retrato objetivo, o qual,embora complexo, está objetivamente “lá” para setornar apresentável, parte, por implacável parte.4

Lembramo-nos da caracterização de Jardine sobrepesquisadoras/es educacionais implacavelmenteengajadas/os com a “apresentabilidade objetiva”, quandolemos a descrição feita por Rita Felski de cientistas, do séculoXIX, estudando a diversidade sexual humana e seus “desvios”como “sérios acadêmicos vitorianos trabalhando em listasde perversões sexuais com o zelo taxonômico de umentomologista ao examinar insetos”.5 Pela nossa experiência,muitos relatórios de pesquisa em educação ambientalevocam de maneira similar imagens de uma “apresenta-bilidade objetiva monótona” e “zelo taxonômico”.6

Criamos, então, Camp Wilde, um espaço intelectualimaginário dedicado a aliviar “a deficiência de ironia tãotípica de tantos textos acadêmicos”,7 tornando queer aseriedade de grande parte da pesquisa em educaçãoambiental (e talvez provocando algumas risadas subversivas).Em vez de representar um modo como a teoria queer poderia

2 RUSSELL, SARICK e KENNELLY,2002, p. 61.3 Não fazemos distinção categóricaentre pesquisa em educaçãoambiental e educação ambiental.Enfatizamos a pesquisa porquepesquisa é o que fazemos.Pesquisa é tudo aquilo que pessoaschamadas de pesquisadorasfazem, sendo reconhecida porsuas colegas como tal e incluindoquaisquer meios pelos quais umadisciplina ou arte se desenvolve,se testa e se renova.

4 JARDINE, 1992, p. 118, ênfaseno original.

5 RUSSELL, SARICK e KENNELLY,2002, p. 56.

6 Ver Noel GOUGH, 1999, parauma crítica dos exemplos depesquisa em educação ambientalque podem ser lidos comoreductio ad absurda do discursotécnico-científico.7 Erica MCWILLAN, 1999, p. X.

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CONTOS DE CAMP WILDE: TORNANDO QUEER A PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

ser ‘aplicada’ ao nosso campo, tentamos aqui fazer umaperformance do tornar queer a pesquisa em educaçãoambiental com base na teorização queer – e tanto os meiosde produção deste artigo como o texto final são parte destaperformance. Ao tornar queer, em inglês, queer(y)ing – a adiçãodo “y” à forma verbal no gerúndio (“queering”) refere-se a“why?” (“por quê?”) no sentido de questionar nos moldes dateorização queer, mas não necessariamente limitando-se àssuas formulações e contestações –,8 especialmente rejeitamosqualquer tentativa de essencializar o termo “queer”, preferindo“a visão alternativa de queer como um termo produtor dediferença positiva” de Catherine Mary Dale. Diferença positivanão se estrutura pela negação, mas “expressa a imanênciado múltiplo e do um, ao invés da eminência disso sobreaquilo, ou de um sobre muitos, de identidade ou caos [...]Não há identidade essencial, nem perda ou ausência,apenas afirmação”.9

No espírito de Gilles Deleuze e Felix Guattari,10

produzimos este artigo como um rizoma – uma figuração doconhecimento como teias emaranhadas de interseções,nodos e possíveis caminhos, em contradição ao conhecimentoarborescente configurado por raízes e galhos finitos ehierarquicamente estabelecidos (como uma árvore). Imaginaro conhecimento como um rizoma significa “trabalhar contraas limitações da autoridade, regularidade e senso comum,abrir o pensamento para construções criativas”.11 Em umespaço rizomático, não há um fim para a indagação e aespeculação, nem um caminho único para buscar, oupesquisar, suas infinitas possibilidades. Nas palavras deUmberto Eco,

O rizoma é construído de modo que cada caminhopossa ser conectado com todos os outros. Não possuicentro, periferia, nem saída, porque é potencialmenteinfinito. O espaço da conjectura é um espaçorizomático [...] pode ser estruturado, mas nuncadefinitivamente [...] é impossível haver uma história.12

Convidamos várias/os amigas/os para dividir este‘espaço de conjectura’ para representar performances textuaisde sua própria imaginação a complementar nosso projetodesestabilizador.13 Elas/es escreveram seus textos em respostaao nosso esboço de 300 palavras, o qual consistia de poucomais do que o parágrafo no início da próxima seção.Acreditamos que elas/es nos ajudaram a resistir ao embargoe a construir Camp Wilde como um espaço de conjecturassem “centro, periferia, nem saída”. Suas contribuições tambémpodem ser vistas como ‘dados’ em um experimento narrativoem que as/os leitoras/es podem interpretar por si mesmas/os.

11 Patricia LATHER, 1993, p. 680.

8 Observamos pela primeira vez ouso do termo “queer(y)ing” – evariações tais como “que(e)r(y)ing”e “queer-y-ing” – em meados dadécada de 1990 (ver, por exemplo,GIBSON-GRAHAM, 1997; FionaNICOLL, 1997), havendo usosanteriores (por exemplo, CatrionaSANDILANDS, 1994).

9 DALE, 1999, p. 3.10 DELEUZE e GUATTARI, 1987.

12 ECO, 1984, p. 57-58.

13 Todos os pronomes pessoais daprimeira pessoa do plural nesteartigo referem-se a Noel e AnnetteGough, responsáveis pela versãooriginal. Nossas/os colaboradoras/es convidadas/os escreveramseus próprios roteiros e não temosa intenção de falar por elas/es.

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Bem-vindas/os a Camp WildeBem-vindas/os a Camp WildeBem-vindas/os a Camp WildeBem-vindas/os a Camp WildeBem-vindas/os a Camp Wilde

Bem-vindas/os a Camp Wilde. Dedicamos esteespaço à memória de Oscar Wilde por ele representar ummodo de produção de conhecimento subjugado, o qual,acreditamos, é significante para a pesquisa em educaçãoambiental. Seus trabalhos demonstram que a palavrainglesa “camp” significa um modo de ser, acreditar e secomportar mais abrangente do que a maioria das/oseducadoras/es ambientais normalmente associam com otermo “acampar”.14 Em sua arqueologia das fotografias deacampamento, Moe Meyer15 mostra que Wilde minava aordem social dominante em seus dias não somente por serhomossexual, mas também por desempenhar uma políticae uma poética de campo zombeteira com os costumes, asnormas e a moral burguesa. Suspeitamos que muitos deseus contemporâneos tenham se sentido mais ameaçadospelas suas inversões e desvios textuais do que pelas suaspreferências sexuais. Por exemplo, em Algumas máximaspara a instrução dos supereducados, Wilde reclama que“os ingleses estão sempre degradando as verdades em fatos[...] quando uma verdade se torna um fato, ela perde o seuvalor intelectual”.16 Contra as tendências de sua época quetentavam tornar a literatura e a arte um retrato fidedigno danatureza e da vida, Wilde defendia o artifício como algomuito mais belo e “real”. Wilde era perigoso, pois umaprofunda seriedade moral nos informa sobre sua pose camp:ele seriamente recusava-se a se levar a sério; sua agradávelleviandade apenas dissimulava uma ironia mordaz.

Quando lhe pediram para descrever a “filosofia” pordetrás de A importância de ser sério (com o subtítulo de Umacomédia trivial para pessoas sérias), Wilde respondeu: “todasas coisas triviais deveriam ser tratadas com muita seriedade,e todas as coisas sérias da vida com sincera e cuidadosatrivialidade”.17 Em Camp Wilde, exploramos como umafilosofia tão paradoxal poderia nos dar informações sobre apesquisa em educação ambiental.18

Não é preciso ser camp (ou gay, lésbica, bi, trans,interssexual) para aproveitar Camp Wilde, embora vocêpossa se sentir um pouco mais em casa se não tiver pensadoque isso era algo a se questionar.

Claro, os estudos queer geralmente se focam naidentidade queer e muitas/os teóricas/os queer e pesqui-sadoras/es identificam-se como questionadora/questionador,partindo de um ponto de vista não heterossexual, dos regimesde normalidade. Até o presente momento, grande parte dateorização queer na educação tem se indagado sobreidentidade e explorado as relações entre as identidades das/os pesquisadoras/es e a construção e legitimação de

14 Nota do tradutor: a palavra“camp” em inglês pode tantoreferir-se ao ato de acampar,acampamento, como tambémpode fazer referência, informal-mente, a um determinado estilode comportar-se e vestir-se, à posede um homem associada à ho-mossexualidade, “afetação”.15 MEYER, 1994.

16 WILDE, 1989, p. 1203.

17 Joshua GLENN, 2000.

18 Como Deleuze nota, o paradoxoé “a paixão da filosofia” (DELEUZE,1994, p. 227).

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CONTOS DE CAMP WILDE: TORNANDO QUEER A PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

conhecimentos.19 Estudos que simultaneamenteproblematizam as políticas de localização e de identidade,como A Queer Geography: Journeys Toward a Sexual Self, deFrank Browning,20 e Mapping Desire: Geographies ofSexualities,21 têm especial relevância para a pesquisa emeducação ambiental. Porém, a teorização queer tambémquestiona a própria noção de normalidade e visadesmantelar, deslocar e ‘re-locar’ as fronteiras das categoriasde identidade (e nos identificamos com tal desejo). ComoPatrick Dilley aponta, posições queer são úteis, mas nãonecessariamente o ponto de partida para a teorização queer:“qualquer pessoa pode encontrar uma posição queer(embora algumas possam ter uma vantagem sobre outras)[...] tal posição não depende da orientação sexual doindivíduo ou suas predileções, mas de sua habilidade emutilizar as (des)vantagens de tal posição”.22 Deborah Britzmanargumenta que a teoria queer questiona as bases daidentidade e teoria:

A teoria queer se ocupa de um difícil espaço entresignificante e significado, onde algo queer aconteceao significado – a história e os corpos – e algo queeracontece ao significante – a língua e a representação[...] mas “queer” como “teoria” em teoria queer nãodepende da identidade da/o teórica/o ou daquela/ea lidar com a área. Queer em teoria queer antecipaa precariedade do significado: os limites dentro desuas convenções e regras e os modos em que asdiversas convenções e regras incitam performances,citações e inconveniências subversivas.23

Aqui em Camp Wilde, queremos tornar queer ossignificados ‘normais’ da pesquisa em educação ambiental,tais como a natureza como um objeto de conhecimento,ecologia, relações entre corpo e paisagem e as relaçõesentre corpos de conhecimento, professoras/es e aprendizes.Também queremos tornar queer os significantes da pesquisaem educação ambiental, incluindo as linguagens erepresentações com as quais/nas quais falamos eescrevemos sobre educação ambiental, trazendo-a àexistência. Por exemplo, sugerimos que formulações depropósito tidas como sólidas e estabelecidas, tais como “arecuperação do imperativo ecológico”24 e os padrões deformulação de pesquisa, como aqueles que medem asorientações de aprendizes para o paradigma socialdominante ou o novo paradigma ecológico,25 não são tãoexatos quanto muitas/os educadoras/es ambientais epesquisadoras/es pensam. Em outras palavras, queremosinvestigar os modos em que a heteronormatividade configura‘ignorância’ na pesquisa em educação ambiental. JonWagner geralmente divide a ‘ignorância’ em “pontos em

24 Chet BOWERS, 1993.

19 Por exemplo, William PINAR,1998.

20 David BELL e Gill VALENTINE,1996.21 BELL e VALENTINE, 1995.

22 DILLEY, 1999, p. 469.

23 BRITZMAN, 1998.

25 Rose DUNLAP et al., 2000.

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branco” e “pontos cegos”: o que sabemos bem o suficientepara perguntar, mas não para responder, são nossos pontosem branco; o que não sabemos o suficiente para perguntarsobre ou dar alguma importância são nossos pontos cegos;áreas em que teorias, métodos e percepções existentes nosimpedem de ver ou imaginar objetos e fenômenos os quaisprovoquem a curiosidade que dá início a pesquisas.26

Nossa primeira convidada, Mary Aswell Doll, oferece-nos uma performance subversiva do que ela descreve emoutro texto como “tornar verde a imaginação”,27 fortalecendonossa convicção de que Camp Wilde não poderia ter nomemelhor.

Uma horrível simpatia: natureza deUma horrível simpatia: natureza deUma horrível simpatia: natureza deUma horrível simpatia: natureza deUma horrível simpatia: natureza decabeça para baixocabeça para baixocabeça para baixocabeça para baixocabeça para baixo

Mary Aswell Doll

Aquelas/es que vão além da superfície o fazem sobseu próprio risco (WILDE, 1890)

Se eu fosse levar a sério o imperativo ecológico,poderia ouvir mais, cavoucar mais e me jogar na lama. Aoinvés de falar sobre imperativos, com aquela clássicanecessidade imperiosa, posso seguir outra direção. Osalquimistas tinham um ditado sobre como alguém seaprofunda na imaginação de questões elevadas eprofundas. “Opus contra naturam” era a expressão usadapara descrever o ato de ir a uma direção contrária aocrescimento. O ouro da substância material se forma, elesdiziam, fora de sua impureza pessoal. Imagine! Aoconcentrarem-se no nigredo de seu próprio materialpsíquico, esses primeiros ecologistas viram paralelos entre olaboratório e o self. Eles perceberam que o mais importantenão eram os conhecimentos exteriores, mas a matéria interior,o material da imaginação. Ocorreu-lhes que o “ouro” datransformação encontra-se verdadeiramente no interior e amudança de padrões internos gera preciosos efeitos noexterior. O modelo de crescimento e seu pesado vínculo coma saúde, com a felicidade e com o desenvolvimentoprecisam ser revistos, redirecionados, dobrados, invertidos,revertidos – tornar-se queer. E lá, na própria sujeira, há outrosistema, escondido talvez, mas não ausente.

Falo de uma imaginação vegetal. Sociedades queviviam da terra sabiam o que voltar-se para baixo implicava.Significa não se voltar para o exterior, como o fazem associedades caçadoras, com suas técnicas e necessidadede matar, mas para baixo, para o solo de maneiras taiscomo irrigar, aparar, podar, cavar, cheirar e observar. O quea terra emana é a sua própria carne, florescendo na

26 Veja também GOUGH, 2002.

27 DOLL, 2000.

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CONTOS DE CAMP WILDE: TORNANDO QUEER A PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

substância da videira que todos dividimos. As sociedadesantigas ensinavam a observar e aprender com o ciclo naturalde vida-morte-vida. Trata-se de outra ordem de conservação.

Já dormi sob as estrelas em colchão inflável e emsaco de dormir, já cozinhei bacon sobre uma fogueira, masestou aqui para sugerir o que ‘acampar’, em outro sentido,pode implicar. Poderia ser algo não tão levado a sério poralguém. Com uma seriedade terrível, cristalizamos nossapostura com respeito às questões da terra. E então falamossobre “paradigmas dominantes” e “relações de poder/conhecimento” como se o conhecimento fosse a questão-chave para dominar a nova ideologia.

Esta seriedade terrível é mortal. Vê-se somente umaface humana refletida nas águas, sendo que o cosmoscontém tantas formas de vida quanto ampla variedade. Oproblema da seriedade é o seu literalismo, incapaz depensar, por exemplo, como o Buda pensa quando comparatipos de pessoas com pedras, areia ou água. Aqueles quese assemelham a letras escritas em água corrente, escreveuele, estão mais evoluídos não porque estejam firmes em suascrenças ou possuam convicções sólidas ou acreditam nossistemas de pirâmides, mas porque escutam mais eobservam o que não está no ir e vir dos padrões naturais.

Acampar em outro sentido significa considerar anatureza com uma abordagem semelhante à de Wilde, eminglês considerar a natureza, the wild, mais Wildely (àmaneira de Wilde). O trocadilho, visto antigamente como aforma mais baixa de humor, pode ser profundo, pois soacomo duas coisas, duas entidades, duas palavras, doismundos simultaneamente. O trabalho de Wilde é marcadopor seriedade em trocadilho, como em O retrato de DorianGray. O romance trata de arte e superfícies, mas tambémtrata do desejo por leis monstruosas que funcionam comoum opus contra naturam. Como uma constante metáfora,encontramos a mítica história de Narciso, o jovemapaixonado por sua própria beleza, refletida para ele nasuperfície da água. Wilde pode estar falando sobre suapaixão por jovens belos, ou descrevendo sobre o amor pelaimagem: o que se vê por baixo das superfícies, o que seencontra nas águas da imaginação. Ao invés de uma ordemde cima para baixo, em que fantasias de dominação epoder estão à espreita, sugere-se um movimento diferente, oqual privilegia a pequenez e a invisibilidade. Mesmo Darwin,como lhe é atribuído, teria escrito uma nota de rodapé emum de seus livros: nunca diga superior ou inferior. Ele queriareverter as hierarquias de modo a estudar minhocas semrecorrer ao mito do progresso. Eis uma comédia que captasussurros, reverberações e ecos como um tipo de opus contranaturam.

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Trabalhos escandalosos como os de Wilde desfiguramideais estabelecidos e forçam a sua revisão. Quandoecologistas de hoje falam sobre a conservação e em conservartradições, talvez se trate apenas de outro ideal estabelecidoque precise de contraposição. Talvez a revisão necessárianão esteja nos poderosos ideais do passado, mas em umameditação mais humilde e bem-humorada sobre o húmusda terra. Como Wilde coloca, “se o homem das cavernastivesse aprendido a rir, a história teria sido bem diferente”.28

Corte simulada de Camp Wilde consideraCorte simulada de Camp Wilde consideraCorte simulada de Camp Wilde consideraCorte simulada de Camp Wilde consideraCorte simulada de Camp Wilde considerao presidente do o presidente do o presidente do o presidente do o presidente do Institute for EarthInstitute for EarthInstitute for EarthInstitute for EarthInstitute for EarthEducationEducationEducationEducationEducation culpado por violação da culpado por violação da culpado por violação da culpado por violação da culpado por violação daCarCarCarCarCarta da Tta da Tta da Tta da Tta da Terraerraerraerraerra2222299999

A corte simulada de Camp Wilde irrompeu em risadase ovações quando o júri, durante o julgamento simulado deSteve Van Matre, proferiu-lhe o veredicto de culpado. Ofundador e autointitulado “presidente” do Institute for EarthEducation fora acusado in absentia de violar o princípio 1.1da Carta da Terra, que exige “o respeito, por parte dehumanos, à Terra e à vida em toda a sua diversidade”.30

Promotoras/es argumentam que Van Matre falhou ao cumprircom tal princípio por deliberada e conscientemente limitara posição de sujeito da Terra para aquela de uma fêmeaheterossexual, negando seus direitos civis de expressarlivremente sua diversidade. A equipe de promotoras/esliderada pela estudante de Direito da Deakin University KateAllgreen, baseou o processo nas próprias palavras de VanMatre, citando suas contribuições editoriais para o EarthSpeaks como evidência de que ele supõe identidadessexualizadas tanto para si quanto para a Terra:

Você já ouviu a Terra?Sim, a Terra fala, mas apenas àqueles dispostos a ouvircom seus corações. Ela fala sob milhares e milhares depequenas maneiras, mas como nossas/os parceiras/os, familiares e amigas/os, ela geralmente mandamensagens sem palavras. Veja, a Terra fala nalinguagem do amor. Sua voz está na forma de umaplanta nova, na sensação de calcário desgastado pelaágua, na cor do céu do entardecer, no cheiro dachuva de verão, no som do vento noturno. Os sussurrosda Terra estão por toda a parte, mas somente aquelesque se deitaram com ela podem prontamenteresponder ao seu chamado.[...] apaixonar-se pela Terra é uma das grandesaventuras da vida, uma relação de amor como nãohá outra. Uma experiência arrebatadora a se repetirindefinidamente ao longo da vida. Não se trata deum romance fugaz, mas de um caso incomum.31

29 Nota das/os autoras/es: as/osresidentes e hóspedes de CampWilde frequentemente se utilizamdas instalações para organizarsimulações de corte e se diverti-rem ao simular julgamentos deprocessos criminais e civis. Obtive-mos o seguinte relatório dos arqui-vos de Camp Wilde em http://w w w. w o r l d w i l d e w e b . n e t /mootcourt.htmlwww.worldwildeweb.net/mootcourt.html.30 EARTH CHARTER, INTERNATIONALSECRETARIAT, 2001, p. 42.

28 WILDE, 1890, p, 30.

31 VAN MATRE, 1983a, p. 3-4.

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CONTOS DE CAMP WILDE: TORNANDO QUEER A PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Uma testemunha especialista, Dra. Sue Curry Jansen,professora de Comunicação na Muhlenberg College, sobreesta evidência, atesta que o posicionamento de Van Matreem relação à Terra é similar àquele de Francis Bacon, emcujos trabalhos a “mãe” natureza foi metaforicamentetransformada em um objeto mais sexual – uma “noiva”,“amante” ou “simples prostituta”.32

Outra testemunha, o semioticista Leon Patrick, atestaque, em outro trecho de The Earth Speaks, Van Matre se utilizade imagens para a Terra com conotações tradicionalmentepassivas ou femininas como “recipiente” e “barco da vida”,33

e que o público jovem almejado pelos programas da EarthEducation provavelmente interpretaria termos como“amantes”, “caso” e “romance” de modo a significar osrelacionamentos convencionais (i.e., heterossexuais). Deacordo com o professor Patrick, o posicionamento de VanMatre em relação à Terra é ofensivamente paternalista epatriarcal, mesmo sendo a superfície de sua retórica aquelado “homem sensível” da nova era. Contra o argumentoromântico de que “somente aquelas/es que se deitaram [coma Terra] podem prontamente responder ao seu chamado”,Patrick cita a precisa fala da eminente teórica feminista DonnaHaraway: “Prefiro me deitar com uma/um ciborgue do quecom um homem sensível [...] Homens sensíveis mepreocupam”.34 Patrick adiciona: “Se a Terra pudesse falar,ela/e haveria de concordar.”

Questionando a testemunha, o advogado de defesaSimon Wolfson apontou para o fato de que, exceto por quatromulheres, os 75 escritos de prosa e poesia em The EarthSpeaks foram feitos por homens. Já que Van Matre escolheuesses escritos “porque cada um a sua própria maneira falapela Terra”,35 não se infere, então, diz Wolfson, que o autorna verdade posicione a Terra como sendo macho? Essasugestão foi rapidamente ridicularizada por um grupo deestudantes da York University, que começou a gritar, “paremcom a leitura hétero!”, até a ordem ter sido restituída pelojuiz Russel Hart. De acordo com o professor Patrick, Van Matrepiorou ainda mais a situação ao sugerir que a Terra apenaspoderia falar por meio de intérpretes masculinos, em suamaioria – ou ventríloquos – colocando-a não somente naposição de passiva e feminina, mas também de muda.

Ao resumir para a defesa, o Sr. Wolfson argumentouque Van Matre era culpado apenas de boas intenções, erepresentar a Terra como um objeto de amor romântico nãoseria pior que compará-la ao relacionamento familiar e aoamor, tal qual a declaração de Susan Griffin: “a Terra é minhairmã, amo a sua graça diária [...] e quão amada eu sou”.36

Em sua última apresentação perante o júri, a Sra.Allgreen argumentou que interpretar a Carta da Terra em

35 VAN MATRE, 1983c, p. IV.

32 JANSEN, 1990, p. 239.

33 VAN MATRE, 1983b, p. 61

34 Constance PENLEY e AndrewROSS, 1991, p. 18.

36 GRIFFIN, 1989, p. 105.

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Camp Wilde significa tornar queer a imagem antropomórficada Terra como um objeto de amor e afeto, principalmente seesta imagem está implicitamente identificada com a mulher,explorada, oprimida e ignorada ao longo da história. Afeminização da Terra por homens e mulheres compensamento e fala hétero limita as posições subjetivasdisponíveis tanto para indivíduos humanos quanto para a‘natureza’ àquelas determinadas pela lógica binária daheteronormatividade.

O júri levou apenas alguns minutos para chegar aoveredicto de culpa. O juiz Hart sentenciou Van Matre aserviços comunitários, tendo este de atender comoconselheiro pela igualdade de gênero, e a trabalhar comoguia voluntário por, pelo menos, 500 horas com o Queer(y)ingNature, um grupo para atividades ao ar livre em Frederection,New Brunswick, Austrália, “aberto a todas/os, e diretamentevoltado a um público queer”.37

Problemas em Camp WildeProblemas em Camp WildeProblemas em Camp WildeProblemas em Camp WildeProblemas em Camp Wilde

Embora tenhamos nos divertido à custa de Steve VanMatre, esperamos que nossas/os leitoras/es possam apreciarnosso sério propósito. Em uma época passada, fomosmembros do Institute for Earth Education (IEE) e ainda vimosgrandes méritos em seus programas.38 Nosso desencantocom a IEE começou mais ou menos na mesma época emque nos debruçamos com o trabalho de Donna Haraway39

sobre primatas e ciborgues. Lemos como um convite para aproliferação de múltiplos e variáveis pontos de vista e parasituar nossas alegações de conhecimento e questionar asrelações ‘normais’ e ‘naturais’ entre conhecimento e poder.40

Tanto as subjetividades e corporalidades ciborgue e queerquestionam o uso normativo das afinidades entre naturezae gênero (deusa, mãe, irmã, amante) na produção derelações humanas com a natureza. Ambos cultivamossuspeitas acerca de leituras hétero dos sujeitos/objetos dapesquisa em educação ambiental, pois discursos sobreparentesco e comunidade na política ambiental e naeducação ambiental promovem, com frequência, princípiosde cuidado, compaixão e amor, os quais, por sua vez,reproduzem suposições heteronormativas implícitas sobre aidentidade e os relacionamentos. Como Catriona Sandilandsdescreve, “Queers e ciborgues não são facilmentecolocados em um gênero ou naturalizados e, portanto,representam um novo tipo de personagem a habitar osmovimentos e fissuras de identidades em colisão e conluio”.41

Por aproximadamente três décadas, ecofeministasvêm problematizando42 os binários normativos queassociam homens com cultura, razão e superioridade e

37 Atividades para tornar queer anatureza incluem acampar, fazertrilhas, ciclismo, andar de caiaque,esquiar, trilha na neve etc. Disponívelem: http://www.binetcanada.org/e n / m a r / p l a y. h t m l h t t p : / /www.binetcanada.org/en/mar/play.html. Acesso em: 1 set. 2002.

38 Por exemplo: GOUGH, 1987 eGOUGH, 1990.

39 HARAWAY, 1989b; 1991.

40 Ver, por exemplo, GOUGH,1990; GOUGH, 1993a e 1993c.

41 SANDILANDS, 1997, p. 19.42 Utilizamos o termo “problematizar”[troubling no original] de modosimilar a Lather (LATHER, 1996 eLATHER, and Christine SMITHIES,1997), para significar que lemostermos “problematizados” comosous rature (sob ocultamentos),seguindo a abordagem de JacquesDerrida, de modo a lermos sig-nificantes desconstruídos como seseus significados fossem claros e‘indesconstruíveis’, mas sob oentendimento de se tratar somentede uma estratégia (DERRIDA, 1985).

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CONTOS DE CAMP WILDE: TORNANDO QUEER A PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

mulheres com natureza, emoção e subordinação. Porexemplo, Greta Gaard coloca que “as ligações históricas,conceituais, simbólicas e empíricas entre mulheres enatureza como construídas pela cultura ocidental exigemde feministas e ambientalistas um esforço libertador econjunto se pretendem ter sucesso”.43 O manifesto ciborguede Haraway claramente inspirou muitas/os escritoras/esecofeministas,44 então, pensamos de início que muitas/osecofeministas sentiriam-se em casa em Camp Wilde, comseu foco em tornar queer os significados normais (ou seja,‘masculinos’) da pesquisa em educação ambiental.Entretanto, este não foi necessariamente o caso.

Pelo contrário, algumas/alguns de nossas/os colegasecofeministas não estão nem um pouco felizes com nossaconstrução de Camp Wilde, pois a veem como um projetobranco masculinista, embora queer. Por exemplo, a fonte doecofeminismo vem se expandindo de suas preocupaçõesiniciais com o feminismo ecológico e reconhecendo “aexistência de importantes conexões entre como se tratam asmulheres, pessoas de cor e classes menos privilegiadas porum lado, e como o ambiente não humano é tratado poroutro”.45 Ellen O’Loughlin resume essa nova orientaçãoquando escreve: “Temos de examinar como o racismo, oheterossexismo, o classismo, o etarismo e o sexismo estãotodos relacionados com o naturismo”.46

Embora O’Loughlin mencione o heterossexismo, oecofeminismo permaneceu em silêncio sobre a sexualidadeaté bem recentemente, assim como o movimentoambientalista e de educação ambiental. Portanto, o “mestre”da natureza em Feminism and the Mastery of Nature, dePlumwood,47 é uma categoria não marcada: o homemheterossexual. Sandilands defende que epistemologias doponto de vista feminista deveriam incluir um posicionamentofeminista lesbiano distinto, assim como um heterossexual,pois não há “uma ‘mulher’ essencial, típica ou preferencial,cuja vida deva servir de ponto de partida para a abordagemde uma teoria feminista”.48 O que nos leva para outro grupode mulheres incomodadas com Camp Wilde.

Ainda que algumas/alguns ecofeministas estejamconfortáveis com a ideia de um “ecofeminismo queer”,48

um emergente corpo de literatura lesbiana problematiza a“política queer” ao argumentar que o forte movimentofeminista lesbiano, o qual se distingue da política do homemgay desde a década de 1970, foi subjugado por umaagenda gay nos anos 1990.50 De acordo com tais visões, aagenda política queer é danosa para os interesses delésbicas e mulheres em geral e para as constituintesmarginalizadas e vulneráveis dentre os homens gays – e defato deveríamos nos voltar para as lésbicas como a vanguar-

49 GAARD, 1997; SANDILANDS,1997 e 1999.

48 SANDILANDS, 1997, p. 250.

47 PLUMWOOD, 1993.

46 O’LOUGHLIN, 1993, p. 148.

45 WARREN, 1997a, p. XI.

43 GAARD, 1997, p. 115, Vertambém: Judith PLANT, 1989; ValPLUMWOOD, 1993; KarenWARREN, 1997a.44 Por exemplo: Stacy ALAIMO,1994; Irene DIAMOND e GloriaORENSTEIN, 1990; CarolynMERCHANT, 1996; SANDILANDS,1997; WARREN, 1994.

50 Sheila JEFFREYS, 2003.

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da das mudanças sociais, pois estão comprometidas coma igualdade e os relacionamentos e o sexo como base datransformação social. Sheila Jeffreys argumenta que apalavra “queer” é detestável para feministas lesbianas porconotar um “culto à masculinidade” especialmente quandoligado à palavra “política”, sendo “queer” “um termogenérico dentro do qual homens e lésbicas têm de seencaixar”.51 As mulheres para as quais Jeffreys fala podemsentir-se especialmente incomodadas pelas afirmaçõesfeitas por Sandilands de que “queers [...] não são facilmentecolocados em um gênero”. Ainda resta saber como taiscríticas podem ser abordadas dentro do ecofeminismoqueer, mas elas claramente constituem um avanço do tornarqueer e problematizar a pesquisa em educação ambiental.

Dentro do ecofeminismo, também podemos diferen-ciar diversas mudanças de foco. Por exemplo, Sandilandsescreve sobre ecofeminismo como mais uma busca pordemocracia do que por conhecimentos baseados emnoções essencialistas acerca da mulher como presentes nosprimeiros escritos ecofeministas. Os argumentos deSandilands são

Baseados em uma noção de política de subjetividadeem que o sujeito é imperfeitamente constituído nodiscurso pela tomada de múltiplas posições de sujeito,espaços discursivos descrevendo momentos distintosde representação simbólica derivados de umentendimento comum. As categorias “mulher” e“natureza”, nesta formulação, aparecem comorepresentações comuns (e possivelmente irônicas) porcujos meios podem as políticas democráticasprogredir, ao invés de serem afirmações sobre umaidentidade oposta e inerente.52

Harding compartilha da busca por um futuro maisdemocrático ao dizer que “os valores democráticos, aquelesa priorizar a busca por críticas à crença dominante por meioda perspectiva dos grupos menos privilegiados, tendem aaumentar a objetividade dos resultados da pesquisa”.53

Embora grande parte da literatura ecofeminista afirme anecessidade de se considerarem as conexões empíricasentre mulheres, pessoas de cor, crianças, pobres e a nature-za,54 os espaços criados para tornar queer a educaçãoambiental, sob uma perspectiva ecofeminista, parecem anós mais produtivos com respeito a “apontar como resultamem melhores entendimentos sobre a natureza, projetoscientíficos que se ligam a ou incorporam projetos para oavanço da democracia; [e como] sociedades politicamenteregressivas têm maior tendência a produzir noções parciaise distorcidas do mundo natural e social”.55 Reconhecer abase heterossexual da cultura ocidental nos oferece um

53 Sandra HARDING, 1993, p. 18.

54 Por exemplo, WARREN, 1997b.

51 MYTON, 2003, p. 18.

52 SANDILANDS, 1999, p. XX.

55 HARDING, 1993, p. IX.

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espaço para ler a natureza de modo diferente e desenvolverpesquisas em educação ambiental mais democráticas.Nosso convidado, Warren Sellers, demonstra como umaestética queer pode produzir tais leituras alternativas.

Aubrey Beardsley: o pintor de Camp WildeAubrey Beardsley: o pintor de Camp WildeAubrey Beardsley: o pintor de Camp WildeAubrey Beardsley: o pintor de Camp WildeAubrey Beardsley: o pintor de Camp Wilde

Warren Sellers

Aubrey Beardsley é o pintor56 que associo a CampWilde. Suas imagens estão entre os mais evidentes edecadentes exemplos de ironia vinda do fin de siècle aoorganizar formas orgânicas em objets d’art nouveau. Deacordo com Charles Bernheimer,57 Salome: A Tragedy in OneAct trouxe Beardsley para Camp Wilde seguindo um pas dedeux, que viu Beardsley especulando sobre um desenho,intitulado “J’ai baisé ta bouche, Iokanaan”, na ediçãoinaugural de The Studio, a qual resultou em Wildeorganizando uma comissão para o artista ilustrar a ediçãoda Bodley Head, de 1894, incluindo “O Clímax”.

Ao escrever sobre a fixação por Salomé ou Salomaniada Europa no fin de siècle, Bernheimer refere-se à tese deBram Djikstra’s de que

Salomé corporifica a fantasia masculina da perver-sidade inerente à mulher. Ela é a predadora cuja luxúriadestitui o homem de sua virilidade, uma sádicacastradora cujas vítimas só podem sobreviver a suaviolência se encontrarem prazer masoquista nasubmissão ou, melhor ainda, se livrarem o mundo dessaprovedora de vício e degeneração. O ódio misóginopela judia Salomé, diz Djikstra, ajuda a preparar o terrenopara a violência genocida do século vinte.58

Embora seja o projeto de Bernheimer desvelar os com-plexos papéis de Salomé além da “insegurança masculinae do antifeminismo” e mostrar como “ela cria aberturas paranovos insights acerca do papel da negatividade na psiquee na escrita”,59 meu projeto é o de reconhecer orelacionamento simbólico entre a fixação com o clímax deSalomé e a preocupação com o clima de Gaia. Sugiro queas imagens nas ilustrações de Beardsley são uma complexarepresentação gráfica tanto das consequências do colapsoda consciência em torno da ciência moderna reducionistae da cultura, quanto das potencialidades para noçõesemergentes de complexidade sugeridas pela Hipótese Gaiade James Lovelock. Em sua autobiografia, Lovelock escreve:

Sabemos o suficiente sobre organismos vivos e ossistemas da Terra para perceber que não podemosexplicá-los pela ciência reducionista por si só […] Oerro mais profundo da biologia moderna faz-se

59 BERNHEIMER, 2002, p. 106.

56 Beardsley diz que suas imagens“figuram” ao invés de “ilustrar”:“Quando se tornou editor de artedo The Yellow Book, insistiu que apolítica do jornal permitisse queseu trabalho artístico fossemantido em vez de ilustrar determi-nadas contribuições” (CharlesBERNHEIMER, 2002, p. 215).57 BERNHEIMER, 2002.

58 BERNHEIMER, 2002, p. 104-105.

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presente na crença de que organismos interagemsomente com outros organismos e meramente seadaptam ao seu ambiente material.60

Minha leitura dos desenhos de Beardsley vê uma figura‘multi-estável’, uma gestalt que flui por meio dos significados.Na superfície, há obsessão por desejo e desmembramento,separação e exame analíticos e arbitrária alusão àsemelhança e à diferença. Porém, internamente, há tambémos fractais caóticos de Benoit Mandelbroit61 e as complexasespiroquetas de Lynn Margulis e Ricardo Guerrero.62

Nosso desafio em Camp Wilde é o de desvelar aironia decorativa, como exemplificada pela revistaVictoriana, revelar a hábil visualização do emergente caose complexidade científico e social e desembrulhar as belase paradoxais imagens do potencial de não vida decorrentedo desejo androcêntrico obsessivo em tomar e partir o mundoa força.

Minha leitura de O Clímax revela a confusão entreclonagem ‘involucionária’ e revestimento evolucionário porparte da espécie humana. O clímax de Salomé é o pesadelodo desaparecimento do cromossomo Y, o espermatozoidede uma espécie esvaindo-se de volta para a poção eternae primordial que é tanto o veneno e o colostro. O cientificismoé a análise da humanidade a partir de sua existência. ComoMary Midgely coloca,

Nós cuidadosamente excluímos todo o não humanode nosso sistema de valores e reduzimos esse sistemaàs condições do interesse individual. Comocertamente nenhum outro grupo de pessoas, estamostão iludidos quanto aos modos de reconhecer asreivindicações do grande todo que nos cerca, omundo material do qual somos parte, que nossovocabulário físico e moral cuidadosamente costuradopara o contrato social não é capaz de nos concederuma linguagem para reconhecer a crise ambiental.63

Tal pobreza de linguagem é o motivo pelo qual CampWilde precisa de representações novas e criativas quetambém exponham as ilusões crescentes, penetrantes ecorrosivas da tela prateada como se fossem afirmações‘verdadeiras’, designadas para cativar seres humanos. Wildeatacou a fabricação dessas afirmações em A decadênciada mentira ao dizer que “a arte encontra sua própriaperfeição em si mesma, e não fora de si. Ela não deve serjulgada por nenhum padrão externo de semelhança. A arteestá mais para um véu do que para um espelho”.64 De acordocom Bernheimer, o “padrão externo” de Wilde tratava danatureza, uma ideia que Beardsley “estende ao reino dasartes; a arte da/o ilustradora/ilustrador [...] não precisa ser

62 MARGULIS e GUERRERO, 1991.

60 LOVELOCK, 2000, p. 390.

61 James GLEICK, 1987.

63 LOVELOCK, 2000, p. 390.

64 BERNHEIMER, 2002, p. 135.

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subserviente à arte da/o escritora/escritor; se a/o escritora/escritor coloca um véu ao invés de espelhar a natureza, a/oilustradora/ilustrador coloca um véu em qualquer semelhan-ça possível de suas figuras com o mundo verbal externo”.65

Essa noção de ver através dos véus, olhar adiante, além eno interior da superfície ilusória, percebendo o todo extensivoé extremamente reveladora, percebendo-se também anecessidade de superar a observação subjetiva do objetivoe de apreciar tornar-se completa/o por meio de noçõescomplexas de aluvião e não métodos de análise. Onaturalmente científico existe tanto no ato de figurar o serquanto no de escrever sobre ele.

Diferentes maneiras com as palavrasDiferentes maneiras com as palavrasDiferentes maneiras com as palavrasDiferentes maneiras com as palavrasDiferentes maneiras com as palavras

Os jovens escoteiros estão sempre preparadosPara rejeitá-lo

Se puderem encontrá-loEm suas barracas

Atrás de suas fogueiras crepitantes66

Compartilhamos da desconfiança de Sellers emrelação ao logocentrismo reducionista, mas também nãodesejamos sugerir que os modos verbais de representaçãotenham limites necessários ou essenciais. Há muitas maneirasde escrever além da prosa ‘hétero’, e embora inscrições queerpossam, às vezes, parecerem meras afetações, devemos estaratentos para suas possibilidades interrogativas. Por exemplo,o título do livro de Bronwyn Davies,67 (In)scribing Body/Landscape Relations [o equivalente em português poderiaser (in/e)screvendo relações corpo/paisagem], exige que as/os leitoras/es tentem decifrar não somente suas palavras mastambém sua pontuação: os parênteses e a barra lateralconvidam-nas/nos a suspeitar das relações ‘normais’ (emesmo a romper com tais normas) entre palavras, corpos epaisagens. Davies explora as maneiras em que a língua –palavras inscritas em textos e vocalizadas no discurso –poderia problematizar (e até mesmo causar um colapso) osbinários de paisagem e corpo e seus respectivos ‘outros’. Eladesafia, por exemplo, o binário mente/corpo por meio debiografias coletivas e as/os participantes assim aprendemque a mente habita não somente o cérebro, mas o corpotodo, ao escreverem em uma linguagem a recuperar “o corpopoético, sensível”.68 Seu objetivo é mostrar os corpos napaisagem, corpos como paisagem (corpos maternais, porexemplo) e paisagens como extensões dos corpos, tudo sendo“trabalhado e re-trabalhado, escrito e re-escrito”.69 Seu estilode escrita parece ser inspirado por Hélene Cixous, cuja écriturefeminine inscreve conhecimento materializado por diferentesestilos de escrita (tais como poesia lado a lado à exposição

67 DAVIES, 2000.

65 BERNHEIMER, 2002, p. 135.

66 Roger PLATIZKY, 1998.

68 DAVIES, 2000, p. 168.

69 DAVIES, 2000, p. 249.

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convencional) de modo a fundir experiência e subjetividadecom análise.

Em um capítulo coescrito com Hilary Whitehouse, Daviesre/apresenta “homens australianos conversando sobre viraremambientalistas”70 em maneiras que demonstram a potenciali-dade geradora de abordagens pós-estruturalistas para acompreensão de relações corpo/paisagem. Seu estudoexplora a adoção de discursos ambientalistas por um peque-no grupo de homens vivendo e trabalhando no extremo nortedo Estado de Queensland e analisa as complexas relaçõesentre o discurso do ambientalismo e paisagens específicas,que constituem (e são constituídas por) esses homens. A faladeles revela uma fronteira entre macho/masculinidadedominante e formas mais femininas ou espirituais, oupoliticamente corretas de masculinidade. Eles falam de umestereótipo de masculinidade macho que constroem comosendo outro em relação a si mesmos e, principalmente, outroem relação aos ‘eus’ produzidos em sua fala com Davies eWhitehouse. Mas alguns desses homens admitem serematraídos a essa forma indesejável de masculinidade e umdeles descreve ter sido envolvido pela fala e padrões dedesejo macho ao tornar-se parte da cena gay:

Quando “saiu do armário” como gay, pensou queencontraria vários homens como ele, rejeitados quenunca alcançaram e nem queriam alcançar as formasdominantes de masculinidade. Para seu horror,descobriu ser tão diferente de outros homens gays narural cidade de Queensland para a qual mudou,quanto era diferente de homens heterossexuais.71

Outros homens, no estudo de Davies e Whitehouse,descrevem experiências adolescentes com expressões“errôneas” da masculinidade de maneiras dominantes epor meio de heroísmo alcoolizado, nas quais eles se sentiamcomo machos em relação à natureza fêmea. Esses homensficavam embaraçados ao falar de tais experiências dajuventude, pois se remodelaram como adultos pró-feministase ambientalmente conscientes. Um deles relembra sua idaaos arbustos, quando tinha 15 anos e ficou extremamentebêbado:

Escolhemos os arbustos [...] por causa da privacidadeobviamente, porque você não podia ser visto. Além domais, era como se rebelar, sabe, você está lá em frenteà natureza e você é um homem e, esta é uma confissãoconstrangedora de fazer, mas umas das coisas que fiz,que lembro ter feito, foi quando estava realmente putoe cavei um buraco na terra, meus amigos se aproxi-maram e eu estava fertilizando a terra [... ] e elesdisseram: “– O que você está fazendo?” e eu disse: “–

71 DAVIES, 2000, p. 72.

70 DAVIES, 2000, p. 63.

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CONTOS DE CAMP WILDE: TORNANDO QUEER A PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Ah, estou fodendo a Mãe Terra.” Faz vinte anos que jánão pensava mais no ocorrido.72

Davies e Whitehouse consideram o insight destehomem ‘interessante’: “Como um jovem bêbado, querendoconquistar a natureza, seu ato de copular com ela, comoele explicou mais adiante, combinou o amor pela naturezae a conquista da natureza”.73

A partir daqui, devemos divagar. Todo esse papo defertilizar e foder nos lembra de Steve Van Matre dormindocom a natureza, Mary Doll cavando e se jogando na lamae, principalmente, Chet Bowers74 que, com frequência, volta-se para metáforas ‘de raízes’ em suas exposições para umentendimento ecológico do currículo. Cada uma/um dessas/es autoras/es escolhe metáforas consistentes com nossaspróprias inclinações para criar e conservar conexõesorgânicas e evolucionárias com a Terra e com as pessoas,umas/uns às outras/os. Porém, as metáforas importam nosentido literal devido ao seu efeito material e, mesmo quenão possamos pensar por metáforas, somos responsáveispelas metáforas que escolhemos privilegiar e, portanto,precisamos fazer uma autocrítica e sermos responsivos paracom os efeitos de seu uso. Imaginamos, então, até que pontoprecisamos desconfiar das materialidades imaginadas pormeio das metáforas por nós escolhidas. Quando e sob quaiscircunstâncias deveríamos nos lembrar que uma ‘metáforade raiz’ é uma metáfora e não se refere a uma raiz ‘real’?Haraway faz um pergunta difícil e pertinente a todos nósque trabalhamos com palavras: “Como pode a metáforanão desmoronar na coisa-em-si e dela manter-seafastada?”75 Em outras palavras, como podemos resistir emreplicar os mundos por nós analisados em nossas própriaspráticas semióticas-materiais? Coisas queers, as metáforas.

Voltando-nos novamente a Davies e Whitehouse,notamos que, embora somente um dos ambientalistas emsua pesquisa tenha se identificado como gay, todosencontraram diferentes estratégias para “problematizar asuperfície da masculinidade racional dominante e parabuscar tornar-se parte das paisagens de formas concretas”.76

E se dão conta de que

“natureza” tem muitos significados, assim como“masculinidade”, havendo muita contradição entreeles. Uma maneira de lidar com esses diferentessignificados é o desempenhar de práticas discursivase materiais específicas a determinados contextos notempo e espaço (tais como “o bar” e “o ParqueNacional de Kakadu”). Outra maneira é fundir e revelarelementos de um discurso e o conjunto de práticasrelacionadas com outros discursos e práticas. Esseshomens constantemente separam a si mesmos dos

73 DAVIES, 2000, p. 75.

72 DAVIES, 2000, p. 75.

74 BOWERS, 2002.

76 DAVIES, 2000, p. 84.

75 HARAWAY, 1994, p. 60.

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outros, menos homens, machos exploradores do meioambiente e das mulheres, mas a imagem individualistado herói não é fácil de ser deixada para trás. Cadahomem escapa da cultura e de outros homens emuma jornada de renovação e retorno. Cada um seencontra vulnerável às práticas e discursos da culturana qual se insere – vulnerável para se tornar “comoeles”.77

Propomos que o “separar a si mesmos” ao qualDavies e Whitehouse referem-se é contínuo com um autônomotornar queer da identidade que é “específico adeterminados contextos no tempo e espaço”,78 umainterpretação geradora de questionamentos para apesquisa em educação ambiental. Por exemplo, a análisede ambos sugere que poderia ser possível ‘ler’ alguns textospopulares da mídia – o programa da TV O caçador decrocodilos nos vem imediatamente à cabeça – não somentecomo entretenimentos banais, mas também como complexasinscrições de relações corpo/paisagem. Seria Steve Irwin oLiberace das terras selvagens da Austrália? E ao respondertal pergunta, o que poderíamos aprender sobre nossosconhecimentos localizáveis e materializados em/sobre oteatro/paisagem que compartilhamos com ele? PeterAppelbaum e sua filha Sophia demonstram semelhanteabordagem desconstrutivista de tornar queer as relaçõescorpo/paisagem ‘normais’ em sua leitura de um popularexemplar de ficção para jovens adultos.

O ouvido, o olho e o braço: crít icaO ouvido, o olho e o braço: crít icaO ouvido, o olho e o braço: crít icaO ouvido, o olho e o braço: crít icaO ouvido, o olho e o braço: crít icaliterária em Camp Wildeliterária em Camp Wildeliterária em Camp Wildeliterária em Camp Wildeliterária em Camp Wilde

Peter e Sophia Appelbaum

Nossa família vem lendo o livro The Ear, the Eye andthe Arm [O ouvido, o olho e o braço] de Nancy Farmer (1995).No Zimbábue futurista, as pessoas vivem em “Dead Man’sVlei” [O Vlei dos homens mortos], um ex-depósito de lixo tóxicocom densas camadas de algo outrora chamado de‘plástico’. As pessoas são quase invisíveis; misturando-secom o cinza do Vlei, elas são parte do Vlei e o Vlei é partedelas. Temos discutido esse livro conforme lemos várioscapítulos por noite, antes de dormir. Chama-me (Peter) aatenção o fato de a questão do lixo tóxico ser apresentadanão como um detalhe do enredo, mas como pano de fundopara o desenvolvimento de personagens importantes. Aspersonagens principais têm importantes experiências emVlei que as ajudam a entender como crescer nestaexperiência fora da segurança de sua casa pela primeiravez. Curiosamente, a sequência deste romance cômico se

77 DAVIES, 2000, p. 85, ênfase nooriginal.

78 DAVIES, 2000, p. 85.

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passa em uma sociedade utópica na qual a tecnologiamoderna foi levada para longe de seus domínios. Tudoparece ‘bem’ de início para as/os jovens heroínas/heróiscujas aventuras temos o privilégio de compartilhar pelaleitura. Em cada situação, o meio ambiente e a tecnologianão são o foco principal da história, mas o contexto no qualindivíduos humanos constroem seu senso de humanidade,ética e de relacionamento com a paisagem.

É nesta perversidade de detalhes ambientais pormeio da negação de centralidade que a centralidade domeio ambiente emerge. Britzman79 descreve perversidadecomo “prazer sem utilidade” e é exatamente o uso nãoutilitário da paisagem na novela de Farmer o meioencontrado por nós para gerar, de modo peculiar, interessepelo nosso próprio relacionamento com o meio ambiente.Noel Gough80 também escreve sobre este fenômeno,argumentando que, ao lerem e discutirem ficção científicae literatura cyberpunk juntas/os, professoras/es e alunas/ospodem reavaliar as relações humanas com a ciência, atecnologia e o meio ambiente. Em The Ear, the Eye and theArm, mutações causadas pela devastação ambiental levama manifestações singulares das mudanças possíveis deocorrerem em humanos devido a tal devastação. O títulorefere-se a humanos mutantes que têm suas habilidades depercepção perversamente ampliadas; as mutações são oresultado de nascer em regiões tóxicas do país. Entretanto, épor meio dessas três personagens, e, implicitamente, dasmudanças ocorridas no meio ambiente devido às açõeshumanas, que as/os heroínas/heróis do romance sãocapazes de realizar seu potencial, a civilização utópica ésalva e o mundo de ciência e magia submerge em umclímax, o qual, em nossa opinião, seria melhor não revelaràquelas/es que ainda não leram o livro.

Um local de descanso (sem embargos)Um local de descanso (sem embargos)Um local de descanso (sem embargos)Um local de descanso (sem embargos)Um local de descanso (sem embargos)

Uma maneira pela qual decidimos explorar novosgêneros de pesquisa em educação ambiental foi nosaventurar além de nossas zonas seguras para produção desteensaio. Quando convidamos Mary Doll e Warren Sellers paravisitar Camp Wilde, não sabíamos o que elas/es trariam comelas/es ou como seria seu desempenho no ‘camp’ de suasimaginações. Mary ensina literatura e crítica literária e Warrentrabalhou como designer, diretor, produtor, consultor e professorna indústria de mídia eletrônica. Seus modos de investigaçãoe interpretação, por meio dos quais significados sãoproduzidos dentro de suas respectivas tradições derelacionamentos sociais e organização, diferem daquelescom o que estamos mais acostumados. Não nos

80 GOUGH, 1993b.

79 BRITZMAN, 1996.

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surpreendemos quando algumas/alguns das/os revisoras/esde nossos manuscritos tiveram um pouco de dificuldade ementender as implicações de suas respectivas contribuições,ou porque foram escritas da maneira que foram. Uma/umrevisora/revisor não se achou ‘experiente o suficiente nogênero’ em que suas contribuições foram escritas,considerando-as ‘obscuras e confusas’.

Da mesma forma, quando convidamos PeterAppelbaum para visitar Camp Wilde, não esperávamos queele trouxesse sua filha consigo, mas ficamos muito felizes porisso. Novamente, algumas/alguns revisoras/es não viramnenhuma conexão óbvia ou explícita entre a crítica literáriade Peter e Sophia e a educação ambiental. Isso significa, emnosso ponto de vista, que tal conexão esteja ausente ou quedevêssemos tentar assimilar a diferença entre seu enten-dimento de Camp Wilde e o nosso, tornando as conexõesvistas por ‘nós’ mais explícitas. Desconfiamos das tentativasde tornar o estranho familiar e preferimos ler cada uma dascontribuições de nossas/os hóspedes como um convite paratrabalhar construtivamente com discursos que parecemdesproporcionais sem, no entanto, colonizá-los.

Embora preferíssemos não estar na defensiva, sentimo-nos compelidos a responder a essas/es críticas/os quequeriam de nós “uma discussão mais clara acerca da teoriaqueer”. “Do jeito que está”, escreve uma/um delas/es, “uma/um leitora/leitor menos cuidadosa/o poderia concluir quequeer remete-nos meramente ao não convencional.” Nósmantemos nosso direito de explorar como a teorização queerpoderia funcionar e produzir, ao invés de explicar o quesignifica ou o que é. Se leitoras/es do Canadian Journal ofEnvironmental Education81 (as/os quais, presumimos, sãocuidadosas/os) querem saber o que aquelas/es a reivindicarum status autoritário na teorização queer pensam, recomen-damos fontes como “Notes toward a queer researcher’smanifesto”,82 de Suzanne de Castell e Mary Bryson,83 pois nãoousamos dizer o que a teoria queer é, e também não podemosdizer o que não é. E se nosso ato de tornar queer asheteronormatividades na pesquisa em educação ambientalparece a algumas/alguns leitoras/es como “o meramente nãoconvencional”, aceitamos, então, tal risco. ParafraseandoHaraway,84 não estamos interessados em policiar as fronteirasentre queer e o não convencional; pelo contrário, nosestruturamos pelo fluxo de contato.

Chegou a hora de dar adeus a Camp Wilde. Espera-mos que você tenha gostado de sua visita e que não tenhasido confortável demais. Esperamos que você volte e tragaconsigo algumas de suas próprias histórias para tornar queera pesquisa em educação ambiental. Nós deliberadamenteevitamos qualquer tentativa de fornecer uma definição direta

81 Nota da organizadora destaseção: este artigo foi originalmentepublicado no Canadian Journal ofEnvironmental Education. Imagina-mos que as afirmações relativas asuas/seus leitoras/es podem serestendidas às/aos leitoras/es da REF.82 Embora esperamos que nossotrabalho esteja consistente comtodos os sete itens do “manifesto”de De Castell e Bryson, não vemosnossas identidades como sendolimitadas com sua caracterizaçãode pesquisadoras/es queer.Fiquem atentas/os a este espaçopara nossas “notas por ummanifesto da/o pesquisadora/pesquisador ciborgue”.83 DE CASTELL e BRYSON, 1998, p.249.84 HARAWAY, 1989a, p. 307.

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e unívoca de metodologia queer ou apresentar um argu-mento compreensivo para ‘se fazer’ pesquisa queer emeducação ambiental. Pelo contrário, juntamos alguns recur-sos teóricos e materiais culturais os quais tínhamos a mão e,com uma pequena ajuda de nossas/os amigas/os, apresen-tamos uma orientação para a pesquisa em educaçãoambiental, que, esperamos, nunca seja embargada porsua categorização como um ‘novo gênero’.

AGRADECIMENTOS: agradecemos aos três pareceristas anônimos/as por indicarem possibilidades de leitura de partes domanuscrito que não havíamos previsto, o que nos possibilitouevitar tais interpretações. Também agradecemos a ConnieRussell por sua cuidadosa revisão editorial e por suapaciência.

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[Recebido em agosto de 2010 e aceito parapublicação em dezembro de 2010]

Tradução: Bruno Carlucci

TTTTTales Fales Fales Fales Fales From Camp Wilde: Queer(y)ing Environmental Education Rrom Camp Wilde: Queer(y)ing Environmental Education Rrom Camp Wilde: Queer(y)ing Environmental Education Rrom Camp Wilde: Queer(y)ing Environmental Education Rrom Camp Wilde: Queer(y)ing Environmental Education ResearchesearchesearchesearchesearchAbstract: Abstract: Abstract: Abstract: Abstract: This paper questions the relative silence of queer theory and theorizing in environmentaleducation research. We explore some possibilities for queering environmental educationresearch by fabricating (and inviting colleagues to fabricate) stories of Camp Wilde, a fictionallocation that helps usto expose the facticity of the field’s heteronormative constructedness. Thesestories suggest alternative ways of (re)presenting and (re)producing both the subjects/objects ofour inquiries and our identities as researchers. The contributors draw on a variety of theoreticalresources from art history, deconstruction, ecofeminism, literary criticism, popular cultural studies,and feminist poststructuralism to perform an orientation to environmental education researchthat we hope will never be arrested by its categorization as a “new genre.”Key wordsKey wordsKey wordsKey wordsKey words: Environmental Education; Queer Pedagogies; Heteronormativity; Research.