continua e cresce todos na greve geral · 2014-10-26 · os reformados não podem aceitar que,...

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Órgão dos trabalhadores das indústrias metalúrgicas, químicas, eléctricas, farmacêutica, celulose, papel, gráfica, imprensa, energia e minas N.º 8 Novembro 2011 Distribuição gratuita aos associados dos sindicatos federados Enquanto a esmagadora maioria do povo empobrece e sofre, o grande capital e as suas elites enriquecem de forma despudorada EDITORIAL Firmeza na luta dá bons resultados Luta justa dos trabalhadores continua e cresce 3 e 13 a 16 Melhores salários no rumo do progresso Águas de Portugal «Prestadores de serviços» na EDP Retomar a indústria EDP e GALP Boas-novas na sindicalização Contra o programa de agressão aos trabalhadores, ao povo e ao País, a CGTP-IN definiu as linhas da política reivindicativa para 2012. Os sindicatos da CGTP-IN recusam partir do zero na negociação dos ACT das águas e dos resíduos. A subcontratação serve para as grandes empresas aumentarem a exploração dos trabalhadores e os lucros dos accionistas. Há que inverter o rumo da destruição do aparelho produtivo nacional. Só o capital fica a ganhar com a privatização. Reforça-se a ligação dos sindicatos aos trabalhadores e às suas lutas. na greve Todos 4 5 17 6 7 8 geral As grandes lutas de âmbito nacional evitaram, em 2011, perdas mais graves dos trabalhadores e adiaram objectivos do patronato e dos seus governos. Outras batalhas importantes, tiveram resultados positivos, como sucedeu nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, na Preh, na Kemet, na SMP (Sonae) e em mais uma série de empresas. 20 As trabalhadoras e os trabalhadores dos sectores da Fiequimetal têm motivos de sobra para, dia 24 de Novembro, aderirem em força à greve geral, contra a exploração e o empobrecimento, por um País desenvolvido e soberano, por emprego, salários, direitos e pelos serviços públicos. 2.º Congresso da Fiequimetal Mais força para lutar e vencer Com a greve geral a merecer toda a prioridade, o 2.º Congresso da Fiequimetal definiu orientações seguras para uma acção determinada, com a confiança de que «vamos continuar a luta e vamos vencê-la, com esta força que daqui emana e que corresponde à força dos trabalhadores que nós representamos». Na véspera do congresso realizou-se uma conferência internacional sobre «A Importância da Indústria para a Saída da Crise». 9 a12

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Page 1: continua e cresce Todos na greve geral · 2014-10-26 · Os reformados não podem aceitar que, depois de uma vida de trabalho e esforço contributivo, dei-xem de ver cumpridas as

Órgão dos

trabalhadores

das indústrias

metalúrgicas,

químicas, eléctricas,

farmacêutica,

celulose, papel,

gráfica, imprensa,

energia e minas

N.º 8Novembro

2011

Distribuição gratuita

aos associados dos sindicatos

federados

Enquanto a esmagadora maioria do povo empobrece e sofre, o grande capital e as suas elites enriquecem de forma despudorada EDITORIAL

Firmeza na lutadá bons resultados

Luta justa dos trabalhadores continua e cresce

3 e 13 a 16

Melhores saláriosno rumo do progresso

Águas de Portugal

«Prestadores de serviços» na EDP

Retomar a indústria

EDP e GALP

Boas-novas na sindicalização

Contra o programa de agressão aos trabalhadores, ao povo e ao País, a CGTP-IN definiu as linhas da política reivindicativa para 2012.

Os sindicatos da CGTP-IN recusam partir do zero na negociação dos ACT das águas e dos resíduos.

A subcontratação serve para as grandes empresas aumentarem a exploração dos trabalhadores e os lucros dos accionistas.

Há que inverter o rumo da destruição do aparelho produtivo nacional.

Só o capital fica a ganhar com a privatização.

Reforça-se a ligação dos sindicatos aos trabalhadores e às suas lutas.

na greve Todos

4

5

17

6

7

8

geralAs grandes lutas de âmbito nacional evitaram, em 2011, perdas

mais graves dos trabalhadores e adiaram objectivos do patronato

e dos seus governos.

Outras batalhas importantes, tiveram resultados positivos, como

sucedeu nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, na Preh, na

Kemet, na SMP (Sonae) e em mais uma série de empresas.

20

As trabalhadoras e os trabalhadores dos sectores da Fiequimetal têm motivos de sobra para, dia 24 de Novembro, aderirem em força à greve geral, contra a exploração e o empobrecimento, por um País desenvolvido e soberano, por emprego, salários, direitos e pelos serviços públicos.

2.º Congresso da Fiequimetal

Mais força para lutar e vencer

Com a greve geral a merecer toda a prioridade, o 2.º Congresso da Fiequimetal

definiu orientações seguras para uma acção determinada, com a confiança de

que «vamos continuar a luta e vamos vencê-la, com esta força que daqui emana

e que corresponde à força dos trabalhadores que nós representamos». Na véspera

do congresso realizou-se uma conferência internacional sobre «A Importância da

Indústria para a Saída da Crise». 9 a12

Page 2: continua e cresce Todos na greve geral · 2014-10-26 · Os reformados não podem aceitar que, depois de uma vida de trabalho e esforço contributivo, dei-xem de ver cumpridas as

Novembro 20112

Fruto da política de direita desenvolvida pelos governos nos últimos anos, Portugal está numa situação gravíssima, em que

as maiores vítimas são o povo trabalhador e as camadas mais desfavorecidas da população. O empobrecimento do País resulta destas políticas criminosas, algumas incluídas no programa de agressão imposto pela «troika» e aceite docil-mente pelos partidos da capitulação - PS, PSD e CDS.

Perante o empobrecimento e as injustiças, o ca-minho que resta às massas, aos trabalhadores e ao povo, em geral, é a luta organizada, dura e sem quartel, sabendo que, ao derrotar estas políticas de direita, estamos também a derrotar este detes-tável sistema capitalista, responsável pela explo-

ração, o sofrimento e a fome de milhões de seres humanos pelo mundo fora.

É insustentável que, enquanto crescem as desigualdades, a pobreza e o desemprego,

o Governo PSD/CDS/Troika ataque brutalmen-te o Estado social, fazendo por esta via o ajuste de contas, há muito esperado pelo capital ex-plorador, com as conquistas económicas e so-ciais do 25 de Abril. Mas, enquanto a esma-gadora maioria do povo empobrece e sofre, o grande capital e as suas elites enriquecem de forma despudorada, aproveitando inclusive to-das as oportunidades que a chamada crise lhes proporciona. Ao mesmo tempo, na área do po-der e dos negócios, aumentam a corrupção, o

nepotismo e os abusos, justifi-cando um crescente sentimen-to de revolta e indignação. Tal levará a que, mais cedo do que tarde, o povo assuma nas suas mãos o seu destino. Este movi-mento faz-se agindo e lutando por uma sociedade de justiça, liberdade e progresso, uma so-ciedade socialista.

Os trabalhadores não foram responsáveis, nem beneficia-

ram da crise do sistema capitalis-ta. Foi o grande capital - financei-ro e industrial - que a criou e que beneficiou dela. Exija-se a esse bando de exploradores sem escrú-pulos, detentores de grandes for-tunas, que pague a maior factu-ra da dívida do País! Vão buscar

o dinheiro onde ele está, e não castiguem o povo mais pobre, designadamente os trabalhadores, os pensionistas os reformados!

Os trabalhadores, em geral, e os representados pela Fiequimetal, em particular, rejeitam a

continuação da imposição de sacrifícios, que pro-vocam uma constante redução do poder de com-pra dos salários e das pensões, e que representam um forte ataque aos serviços públicos e às funções sociais do Estado, com o crescimento incontrolá-vel do desemprego e o empobrecimento generali-zado da população.

Rejeitamos que sejam desbaratados milhões e milhões de euros, dos impostos suportados por todos nós, para taparem os desmandos dos ban-queiros do BPN e do BIC, entre outros. É por toda esta grave situação que a CGTP-IN aprovou nos seus órgãos de direcção, o desenvolvimento a ní-vel nacional de lutas de grande envergadura de trabalhadores e da população, como resposta pa-ra derrotar esta política de direita de exploração e sofrimento, desenvolvida pelo Governo PSD/CDS/Troika.

É necessário os trabalhadores compreende-rem que o caminho é a participação mas-

siva nestas lutas, com greves, concentrações, manifestações, porque se não o fizerem serão esmagados e lançados na pobreza por um po-der de direita, ao serviço do grande capital por-tuguês e europeu, que não vê pessoas mas só rá-cios financeiros.

Vamos todos participar com convicção e cora-gem nas lutas convocadas pela CGTP-IN e Fie-quimetal, como garantia de um futuro melhor pa-ra todos.

Vão buscar o dinheiro onde ele está, e não castiguem o povo mais pobre, designadamente os trabalhadores, os pensionistas os reformados!

Hora de acção e de luta!

EDIT

ORIA

L

Os senhores do mundo, sentados na cripta da alta finança, querem sentenciar os po-vos com o regresso à pobreza e à servidão;

à inanição económica, política e cultural. Segundo os defensores do capitalismo, o mundo não pode contemporizar com as exigências relativas à justa distribuição da riqueza, tampouco ser sensível à dotação e reforço de meios que elevem a evolução civilizacional da sociedade, objectivo sempre pre-sente no sonho de gerações inteiras. Os recursos actualmente disponíveis são esgotáveis – dizem aqueles – e a evolução da sociedade, assente no progresso, tem que ser travada, nem que seja com um tiro à queima-roupa.

É o que está para acontecer aos portugueses: um tiro à queima-roupa, que coloca Portugal na rota de uma morte anunciada. A mudança de paradig-ma em curso, para colocar a «economia» acima de todos os imperativos, imposta pelo sacrossan-to directório europeu, com o seguidismo absur-do e intolerável do Governo, constitui a negação da própria liberdade e da democracia. Mais, a in-dependência de Portugal, presente e futura, está posta em causa.

Esta opção suicida atropela alternativas mui-to mais viáveis e credíveis. Não foi sufragada pelo povo. Mulheres e homens trabalhadores, jovens, estudantes, aposentados e reformados não foram consultados sobre esta escolha que altera prejudicialmente as suas vidas. Apenas foram ouvidos os responsáveis pelo fracasso das políticas dos últimos 30 anos, bem como os que lucraram com os «erros» da governa-ção que atirou o País para o festim usurário de oportunistas nacionais e estrangeiros. E já nos baila no espírito a certeza de que nenhum sai-rá responsabilizado criminalmente ou conde-nado. É este o sentido de «justiça» que impera no nosso Portugal, cada vez mais afastado das largas avenidas que Abril rasgou. Já não res-ta ninguém que acredite nas instituições. E ra-zões, há-as de sobejo!

Os reformados não podem aceitar que, depois de uma vida de trabalho e esforço contributivo, dei-xem de ver cumpridas as obrigações que o País tem para com eles; os trabalhadores, que erguem e sustentam o País, não podem aceitar que lhes al-terem estruturalmente a vida, lhes roubem direi-

tos ancestrais conquistados, que os destinem à es-cura e mais odiosa servidão; os jovens, que são emparedados no ontem e vêem morrer o amanhã, não podem tolerar que façam deles assunto com legenda sine die, carregando a braçadeira odio-sa da precariedade. A insensibilidade capitalis-ta é revoltante!

Calar e consentir não são caminhos promissores. Tudo pode ainda ser diferente. Sem medos nem hesitações, precisamos de agarrar a oportunidade que ainda temos para lutar, repondo o País no ru-mo da justiça e do equilíbrio. Para bem de todos!

A greve geral não pode ser apenas um grito lancinante de desespero e raiva! Ela terá que significar muito mais que isso: tem que ser a retoma do compromisso da solidariedade gera-cional, o ressurgir de um modelo para a cons-trução de um País assente na solidariedade e na responsabilidade, onde todos se sintam in-cluídos.

É possível fazermos de Portugal um País com fu-turo para todos, especialmente para os nossos jo-vens. Que cada um faça o que lhe compete, por uma sociedade fraterna e mais justa.

A quem serve o recuo civilizacional que nos querem impor?

Daniel SampaioDa Direcção Nacional da Fiequimetal Coordenador do SITE Norte

OpIn

IãO

nacional

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Novembro 2011 3

actual

Para responder à ofensiva permanente

Firmes na luta em 2011

Em 2011 agravou-se a ofensiva que visa retirar aos trabalhadores muito do que foi conquistado com um combate de várias gerações. A resistência firme evitou perdas mais graves e adiou objectivos do patronato e dos seus governos.

A greve geral de 24 de No-vembro do ano passa-

do, com a expressiva adesão de mais de três milhões de tra-balhadores, foi um importante contributo para travar o passo à política dos PECs e para sa-lientar nas empresas que havia grande unidade e disponibili-dade para lutar contra o ata-que aos direitos e à remunera-ção do trabalho. Com as lutas nacionais e de grande expres-são pública, que se seguiram em 2011 - e com a acção diá-ria e organizada nas empresas - o patronato não pôde avançar como pretendia e o Governo do PS,

praticando de facto uma polí-tica de direita, foi ficando mais isolado e acabou por se de-mitir, levando à realização de eleições antecipadas.

Mudou a distribuição de lu-gares no Parlamento, muda-ram os rostos e os partidos no Governo, mas todos - PS, PSD e CDS-PP - permaneceram comprometidos com a mes-ma política, que não dá so-lução aos problemas do País, dos trabalhadores e da gene-ralidade da população, mas continua a garantir lucros mi-lionários à Banca e aos gran-des grupos económicos. O compromisso deu origem ao acordo das troikas, que foi

imposto pelo FMI (Fundo Mo-netário Internacional), pela União Europeia e pelo Banco Central Europeu - a troika es-trangeira dos agiotas -, e que foi aceite pelo Governo já de-missionário do PS, pelo PSD e pelo CDS - a troika da sub-missão.

Contra a redução e congela-mento de salários e pensões, contra o corte de subsídios e prestações sociais, contra mais alterações gravosas à legisla-ção laboral, contra o pretendi-do retrocesso social e civiliza-cional sem precedentes, a luta prosseguiu, mesmo no período que normalmente é de férias para muitos trabalhadores, e

teve outro momento marcante nas manifestações de 1 de Ou-tubro, em Lisboa e no Porto.

Manteve-se a mobilização contra medidas sucessivas que foram sendo anunciadas e que o Governo juntou na sua proposta de Orçamento do Estado para 2012. Os sin-dicatos, a Fiequimetal, a CG-TP-IN e os trabalhadores não aceitam o autêntico roubo que está em curso, com o corte dos subsídios de férias e de Natal a trabalhadores e reformados; com as duas horas e meia de trabalho à borla por semana, a redução do pagamento do tra-balho extraordinário e do tra-balho nocturno e por turnos;

com a facilitação dos despe-dimentos e a redução do va-lor das indemnizações; com o corte de feriados e dias de descanso; também com o au-mento de impostos e o au-mento de preços; e de novo com a entrega ao capital da-quilo que ainda é propriedade do Estado, em empresas como a EDP, a GALP ou as Águas de Portugal.

A luta dos trabalhadores voltou a ser bem visível du-rante a semana de luta, no fi-nal de Outubro, com acções em todo o País, incluindo o 2.º Congresso da Fiequime-tal, onde foi vigorosamente aplaudida a decisão da CG-

TP-IN de convocar greve ge-ral para 24 de Novembro. Como aí foi salientado, a luta tem dado resultados e, ape-sar das manobras, das chan-tagens e dos boicotes patro-nais, apesar das tentativas de fazer caducar os contra-tos colectivos, muitos direi-tos que estes consignam es-tão ainda a ser aplicados nas empresas. Foram alcança-das actualizações salariais. E, mesmo com mudanças le-gislativas e contratos patro-cinados pelos patrões, estes não conseguiram obter ré-dea solta para impor os ban-cos de horas e levar a semana de trabalho até às 60 horas.

Duas grandes manifestações, a

19 de Maio, em Lisboa (foto) e no Porto, contra o programa de agressão das «troikas» e do PR, foram convocadas no 1.º de

Maio, assinalado pela CGTP-IN em meia centena de

localidades

A 19 de Março, «dia de indignação e protesto»,

teve lugar em Lisboa a maior manifestação realizada no

País depois da greve geral, em resposta a mais um PEC, cuja reprovação no Parlamento iria

provocar a demissão do Governo, no dia 23

Contra a precariedade que alastra e por emprego com direitos, milhares de jovens

manifestaram-se em Lisboa, no dia 1 de Abril (foto), e no dia 16 de Setembro, em várias

cidades

Quase 200 mil pessoas participaram

nas manifestações nacionais de 1 de Outubro, no Porto (foto) e em Lisboa

Contra a lei dos despedimentos mais fáceis

e mais baratos, tiveram lugar protestos nacionais em

Lisboa, a 28 de Julho (foto) e a 12 de Agosto. Uma «semana de protesto e de proposta»

decorreu de 11 a 17 de Julho, em todo o País

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Novembro 20114

Política reivindicativa da CGTP-IN para 2012

Melhores salários no rumo do progresso

Nas linhas da po-lítica reivindica-tiva para o próxi-

mo ano, aprovadas pelo Conselho Nacional da central a 8 de Setembro, são definidos três eixos fundamentais, nos quais se inserem as reivindica-ções mais prementes para 2012:

- a melhoria do poder de compra dos salários e das pensões, para dinami-zar a procura interna, criar empregos e desenvolver o País;

- o trabalho seguro e com direitos, como factor de desenvolvimento;

- a segurança e protecção social, instrumentos essen-ciais para a coesão da so-ciedade.

Reconhecendo que o País vive hoje um dos momen-tos mais difíceis, depois do 25 de Abril, a CGTP-IN nota que tal se deve à na-tureza dos problemas actu-ais e às políticas seguidas por sucessivos governos do PS, PSD e CDS.

A central recorda que, ao longo do tempo, alertou pa-ra a destruição do sistema produtivo; para as crescen-tes desigualdades sociais e

agravamento da pobreza; para a desregulamentação do trabalho e o agravamen-to das condições de vida dos trabalhadores; para o aniquilamento de direitos, incluindo o direito funda-mental de contratação co-lectiva; para a perda de so-berania; para a economia clandestina; para o enfra-quecimento do Estado e a corrupção.

Ora, sublinha a CGTP-IN, os problemas reais do

País não têm a ver com a falsa ideia de que os por-tugueses vivem acima das possibilidades, nem com o endividamento das famí-lias (na maioria, para ha-bitação) a causa principal do endividamento. A ori-gem dos problemas está no insustentável défice da ba-lança corrente, pois a pro-dução nacional, na agri-cultura e pescas, como na indústria, foi sendo substi-tuída por importações.

Contra o programa de agressão aos trabalhadores, ao povo e ao País, a CGTP-IN reclama uma política de desenvolvimento, para enfrentar os problemas mais imediatos dos trabalhadores e para responder aos desafios da sociedade.

contRataÇÃo

As justas reinvindicações dos trabalhadores correspondem também aos interesses do desenvolvimento da economia nacional

A Segurança Social e a garantia univer-sal de protecção social são consideradas essenciais para a coesão da sociedade e para contrariar o empobrecimento gene-ralizado da população, provocado pela mesma política que deixa incólumes os mais ricos. Combatendo o objectivo es-tratégico de redução da protecção social, visível na matriz marcadamente caritati-va do «Programa de Emergência Social» do Governo, a CGTP-IN recusa a substi-tuição de direitos por caridade.

A par da actualização das pensões e pres-tações da Segurança Social e do reforço da sustentabilidade financeira do sistema pú-blico, solidário e universalista, a CGTP-IN aponta como prioridades para 2012:

- a melhoria da protecção social no desemprego, com a redução para 12 meses do período de garantia do sub-

sídio e condições menos restritivas de acesso, com o alargamento da duração e do acesso ao subsídio social de desem-prego, e colocando como referência das prestações de desemprego o salário mí-nimo nacional em vez do Indexante de Apoios Sociais.

- a correcção do DL 70/2010 (condi-ção de recursos), que veio aumentar artificialmente os rendimentos para re-duzir o número de beneficiários de pres-tações sociais não contributivas, incluin-do o abono de família;

- condições menos restritivas de acesso ao complemento solidário para idosos;

- alteração do Indexante dos Apoios So-ciais, tendo em conta a inflação;

- medidas de combate à pobreza e à exclusão social, com reconhecimento e garantia de direitos.

As políticas de «austeridade» representam uma profun-da injustiça na redistribuição de rendimentos. Pelo con-trário, há que dinamizar a procura interna para criar em-pregos e desenvolver o País.

A CGTP-IN inclui nas prioridades para 2012:- o aumento dos salários em pelo menos 4 por cen-

to, tendo em conta a inflação em 2011 (3,5 por cento) e o agravamento da carga fiscal sobre o trabalho, bem como as condições objectivas de diferentes sectores e empresas;

- a fixação do salário mínimo em 500 euros des-de Setembro de 2011, para cumprir, ainda que parcial-mente, o acordo firmado na Concertação Social de 2006. Num novo quadro de evolução plurianual, o salário míni-mo deve ser de 600 euros em 2013;

- o aumento das pensões, no primeiro dia de 2012, tendo como mínimo a inflação de 2010 e 2011, e abran-gendo todas as pensões mínimas;

- medidas para maior justiça fiscal, como um imposto geral sobre a fortuna e os movimentos bolsistas, e medi-das de combate à fraude e à evasão fiscal e contributiva e à economia clandestina, e ainda a taxação dos movi-mentos financeiros para os paraísos fiscais, enquanto es-tes não forem abolidos.

A CGTP-IN rejeita a ilusão de que a criação de empre-go passa pela redução dos salários e por coagir os de-sempregados a aceitarem qualquer trabalho, uma tese ar-caica, desmentida ao longo da história, e profundamente regressiva em termos sociais.

Nesta área, as prioridades para 2012 abrangem:- o combate ao desemprego, com programas de ges-

tão preventiva (para evitar despedimentos ou redução de efectivos) e a melhoria das políticas activas de emprego;

- restringir o trabalho não permanente às situações claramente temporárias, por via do reforço da fiscaliza-ção e da punição dos infractores, e com a revogação da discriminação legal relativa à contratação de jovens e de-sempregados de longa duração, mas também combatendo o recurso abusivo ao trabalho temporário e exigindo que os trabalhadores que estão a «recibo verde», em situações de trabalho subordinado, passem ao quadro permanente;

- garantia e promoção da contratação colectiva, com revogação da norma da caducidade;

- efectivação dos direitos reconhecido na lei e nas convenções, como o direito a intervenção sindical no lo-cal de trabalho, o direito à formação e à evolução na car-reira profissional;

- redução da sinistralidade laboral;- reforço dos meios da Inspecção de Trabalho e uma fis-

calização mais eficaz;- medidas para maior celeridade dos tribunais de traba-

lho, nomeadamente de Lisboa e do Porto, e medidas ur-gentes para desbloquear a situação caótica dos tribunais de comércio.

Direito à protecção social

O debilitamento do sis-tema produtivo não é pro-vocado pelos custos com o trabalho, que cá têm cres-cido menos que na zona euro.

Por todos estes motivos, a central considera que a actual política económica, baseada no «acordo» com a troika dos credores, vai comprometer o desenvol-vimento económico do Pa-ís.

A CGTP-IN reclama uma política de desenvolvi-mento, não só para enfren-tar os problemas mais ime-diatos, mas também para responder aos desafios da sociedade, num contex-to muito complexo, de au-mento do desemprego, de crescentes desigualdades sociais, de avanço da glo-balização e de mutações demográficas, ecológicas e tecnológicas.

No plano económico, a resposta mais urgente é travar a destruição do tecido produtivo e re-duzir a dependência energética. Para isso, é necessário evoluir para produções de maior valor acrescentado e abando-nar um modelo de cres-cimento que assenta na precariedade do empre-go e em mão-de-obra ba-rata e com pouca qualifi-cação.

Trabalho seguro e com direitos

4 por centopelo menos

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Novembro 2011 5

Para o ACT no grupo não se parte do zero

Águas de Portugal abaixo da lei

No final de Setem-bro o SITE CSRA, o SITE Sul, o SITE

Centro-Norte, o STAL e o STRUP emitiram um comunicado conjunto em que voltaram a defender as convenções que estão em vigor na Valorsul, na Amarsul e na EPAL, como base para a negociação dos ACT para os sectores da água e dos resíduos. O conteúdo destas conven-ções foi livremente acor-dado, as empresas perten-cem ao mesmo grupo e têm indiscutíveis afinidades

produtivas, condições de trabalho e actividades pro-fissionais.

Perante o comportamen-to da administração, os sindicatos da CGTP-IN exigem negociação séria e rejeitam a má fé negocial quer do Grupo AdP, quer das várias empresas e so-ciedades que o constituem, e afirmam mesmo que tem havido práticas ilegais.

Atacam e esperam

A AdP tornou claro que nos ACT da Água e dos Re-

síduos quer inscrever nor-mas que lhe permitissem:

- aumentar os horários de trabalho até às 60 horas se-manais;

- alterar horários e esca-las de turnos ao bel-prazer da administração;

- destruir as carreiras e categorias profissionais e promover a polivalência;

- transferir trabalhadores quando e para onde enten-der.

Enquanto o grupo avança-va com propostas deste ca-libre, as empresas começa-ram a desculpar-se com ne-gociações que supostamente estariam a decorrer «por cima», para não resolverem problemas específicos dos trabalhadores nos vários locais de trabalho. Entre os problemas com resposta adiada para dia de São, estão práticas claramente ilegais, como trabalho suplementar

Para os sindicatos da CGTP-IN, é inegociável a proposta da administração do Grupo Águas de Portugal para acordos colectivos de trabalho, pois tal seria imensamente pior do que os limites mínimos da legislação laboral.

contRataÇÃo

Apesar dos elevados lucros, tem sido preciso lutar por salários mais justos

Em plenário, a 6 de Ou-tubro, 300 trabalhadores da Empresa de Elec-tricidade da Madeira manifestaram profunda preocupação sobre o fu-turo e decidiram assumir o combate firme e deter-minado contra a actual política de austeridade e retrocesso social e contra a submissão do Conselho de Administração perante o poder político regional. Foi aprovada uma resolu-ção a preconizar acções concertadas e o reforço da unidade na acção de todos os trabalhadores, intensi-ficando uma forte dinâmi-ca reivindicativa contra o incumprimento do AE e do Estatuto Unificado de Pessoal.

A 19 de Maio, a propos-ta reivindicativa mereceu aprovação unânime, num plenário geral com 400 trabalhadores, que apoia-ram as posições do STEEM e acusaram os governos da República e da Região de não respeitarem os qua-dros legais da negociação e imporem cortes nos salá-rios e nos direitos.

Dirigentes e delegados sindicais e activistas da

EDP e REN, em plenário nacional no dia 27 de Ou-tubro, em Lisboa, repudia-ram o último passo dado pelo Governo na privatiza-ção e voltaram a defender o fornecimento de energia eléctrica como serviço pú-blico universal e de quali-dade. Insistindo na unida-de do ACT da EDP e REN para todos em todas as empresas dos dois grupos, o plenário exigiu que a negociação faça repercutir nos salários dos trabalha-dores parte substancial da riqueza por estes produzi-da. Foi manifestado total empenho para uma gran-

de participação na greve geral. Uma delegação foi, no final, à sede da EDP, entregar em mão a moção aprovada, que expressa as decisões do plenário.

O Ministério das Finan-ças voltou a fugir à discus-são e não recebeu, a 28 de Outubro, uma delegação de 35 representantes dos trabalhadores das em-presas Valorsul, EPAL, INCM e Simtejo. O SITE CSRA tinha previamente comunicado que a delega-ção pretendia ser recebida e reclamar o fim dos cortes e congelamentos salariais, de que os trabalhadores

têm vindo a ser vítimas, bem como o abandono das propostas, ainda mais gra-vosas, que o Governo pre-tende incluir no Orçamen-to do Estado para 2012. Por escrito, foi comunica-do à secretária de Estado do Tesouro que uma dele-gação semelhante iria lá voltar a 4 de Novembro.

A administração da Amarsul decidiu impor aos trabalhadores medidas penalizadoras, injustas e arbitrárias, que acrescem às medidas brutais do Governo e que foram re-jeitadas num plenário, re-alizado em Setúbal no dia 27 de Outubro. A empresa teve resultados positivos em 2010, tal como tem acontecido ao longo da sua existência, o que torna mais incompreensível esta austeridade adicional.

Na resolução divulgada pela Comissão Intersin-dical do SITE Sul e do STAL expressa-se adesão à greve geral e admite-se a participação noutras for-mas de luta, para travar este brutal ataque aos tra-balhadores das empresas do sector empresarial do Estado (SEE).

Austeridade rejeitada no SEE

que não é pago há vários anos, alterações unilaterais aos tempos e horários de trabalho contratados indi-vidualmente, aumento dos limites máximos do período semanal de trabalho acima dos máximos legais.

Esta situação foi exposta pelos sindicatos, a 22 de Setembro, numa reunião convocada pelo Ministério do Emprego, na fase de con-ciliação dos processos nego-ciais. Para os representantes dos trabalhadores, a posição patronal até «é compreen-sível», pois bastaria que algum sindicato estivesse disposto a aceitar tais pro-postas, para que aquilo que hoje é ilegal passasse a ser perfeitamente legítimo.

Na declaração que foi entregue ao Ministério, os sindicatos da CGTP-IN afirmam que, como se viu nos plenários e reuniões que efectuaram, as propos-tas do grupo não são passí-veis de contraproposta por-que, em todas as situações, entre terem a proposta da empresa ou não terem nada (aplicando-se apenas a lei), os trabalhadores ficam me-lhor se não tiverem nada.

Com propostas próprias, assentes nas reivindica-ções dos trabalhadores das empresas do grupo, nos vários cadernos reivindi-cativos apresentados, os nossos sindicatos requere-ram que as empresas apre-sentem propostas passíveis de ser negociadas, para se dar início a um verdadeiro processo negocial.

Por parte do Ministério houve o compromisso de que os serviços irão em breve convocar os sindi-catos da CGTP para uma reunião com o Grupo AdP, para discussão destes pro-cessos de ACT.

A rejeição das medidas de austeridade é um objectivo justo, que foi expresso na manifestação de 1 de Outubro, em Lisboa

A crise nas multinacionais de fabricação de material eléctrico e electrónico é invenção patronal. Com os resultados líquidos obtidos em 2010 (195 milhões de euros), as multinacionais do sector não se podem queixar nem de falta de liquidez financeira, nem de dificuldades económicas, nem das exportações. A ANIMEE foge à negociação do contrato colectivo com a Fiequimetal, coloca-se fora da lei e faz com os seus amigos um cozinhado vergonhoso, que não se aplica aos associados dos nossos sindicatos. A luta em cada empresa deu resultados, como sucedeu na Exide/Tudor, Visteon, Efacec, Essex, Otis Elevadores, ThyssenKrupp Elevadores.

Revisão 2012 na Europac

FMEE sem crise

Aumento da retribuição-base em um por cento mais do que a inflação registada em 2011, com um valor mínimo de 50 euros, e igualdade no pagamento de diuturnidades (com três anos para fazer o acerto do que não está a ser pago aos mais jovens), são as primeiras reivindicações que constam na proposta reivindicativa para o próximo ano, aprovada a 27 de Setembro num plenário de trabalhadores da Europac Kraft Viana (antiga Portucel Viana) - informou o SITE Norte. Exige-se ainda a actualização, entre 4,5 e 5 por cento, das cláusulas económicas do AE, melhorias no subsídio de turno e um horário máximo de 38 horas semanais, a partir de Outubro de 2012.Para 2011, a negociação salarial ficou concluída em meados de Abril, com efeitos a Janeiro, garantindo um aumento mínimo de 40 euros na remuneração-base, com uma subida de 1,8 por cento na tabela salarial e cláusulas económicas. As condições para concluir a revisão foram criadas após uma greve que parou totalmente a unidade fabril, de 26 a 29 de Março,.

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Novembro 20116

Para melhorar o co-nhecimento da realida-de económica e do em-prego nos sectores que a federação abrange, foi promovido o estu-do «Indústria e Política Industrial em Portugal - Sectores no âmbito da Fiequimetal», cuja ela-boração decorreu duran-te dois anos.

O encontro de Tentúgal, em que participaram os técnicos que elaboraram o estudo e o secretário-geral da CGTP-IN, Manuel Carvalho da Silva, foi a última de várias iniciativas que se enqua-draram na preparação desse trabalho, cujos resultados estão publicados em livro e em CD e também no sítio da federação na Inter-net (aqui está ainda publicada uma síntese).

Antes realizaram-se nove reuniões com observadores privilegiados e nove encon-tros sectoriais - abordando cada um dos nove sectores analisados: a indústria ex-tractiva, a indústria química, a indústria far-macêutica, as indústrias metalúrgicas e me-talomecânicas, afabricação de equipamento eléctrico e de óptica, a indústria automóvel, a indústria naval, a energia, e a manutenção e reparação automóvel.

No texto de «Enquadramento», que abre a publicação dos resultados, ano-ta-se que «hoje é largamente reconheci-da a justeza da firme oposição da CGTP-IN e das suas estruturas sectoriais, como a Fiequimetal, às políticas de destruição

do tecido produtivo, que li-quidaram ou reduziram dras-ticamente sectores estratégi-cos da indústria extractiva, das indústrias de base (me-talurgia e química) e das indústrias transformado-ras, produtoras de bens de equipamento, que se en-contravam num patamar tecnológico bastante avan-çado, lançando no desem-prego dezenas de milhares de trabalhadores qualifi-cados».

Por outro lado, reafirma-se que Portugal precisa «do relançamento do sector produtivo, como única via segura para sair da situação em que se encontra, o que implica a adopção de uma política in-dustrial, articulada com opções de política económica, que relance os sectores estra-tégicos, apoie as pequenas e médias em-presas, eleve a qualificação dos trabalha-dores, promova a estabilidade do emprego e uma justa distribuição da riqueza, condi-ções essenciais para um desenvolvimento sustentado e para a salvaguarda da inde-pendência nacional».

O estudo foi elaborado no contexto do Pro-jecto «Conhecer para Intervir na Indústria - 2009», que foi aprovado ao abrigo do Eixo 10 (Tipologia de intervenção 10.2 – Reforço da Capacitação Institucional dos Parceiros Institucionais) do Programa Operacional Potencial Humano (POPH), o qual integra o QREN (Quadro de Referência Estratégi-co Nacional).

O FMI, o BCE e a Comissão Europeia inclu-íram no «Memorando de Entendimento» a pri-vatização da maioria das empresas públicas que ainda estão na posse do Estado português. O Governo de Passos Coelho pretende ir ainda mais além.

Como os capitalistas portugueses não têm dinheiro suficiente para as adquirir, o Go-verno pretende vendê-las a estrangeiros. Em período de crise, como é o actual, certamen-te será a saldo, como aconteceu com o BPN. O ministro das Finanças, adepto fervoro-so das soluções do FMI, até inventou uma «teoria económica» insólita para justificar a venda a estrangeiros. Segundo ele, seria uma forma de atrair investimento estrangei-ro e assim desenvolver o País o que, se não tivesse consequências dramáticas no futuro, até faria rir. Por ignorância ou com a inten-ção de enganar a opinião pública, este mi-nistro esconde as consequências que tal me-dida terá no futuro para os portugueses - e que são visíveis nos dados oficiais do Banco de Portugal e do INE.

O saldo negativo da Balança de Rendimentos disparou, devido ao aumento significativo das transferências de rendimentos para o estrangei-ro. Nos primeiros sete meses de 2010 registava -4.995 milhões de euros e no mesmo período de 2011 passou para -5.970 milhões, ou seja, cres-ceu em 19,5 por cento.

Em 2008, foram transferidos para o estran-geiro 2.928,6 milhões de euros, de dividendos e lucros distribuídos no nosso país, valor que em 2010 atingiu 5.586,5 milhões, ou seja, mais 90,8 por cento. Em 2011, caminha-se para um novo recorde, como mostram os dados dos primeiros sete meses. É evidente que a venda das empresas públicas a capitalistas estrangei-ros fará aumentar o volume de lucros e divi-dendos transferidos para o exterior, agravando ainda mais o défice.

Outra consequência das privatizações é a re-dução da parcela da riqueza criada que fica no País, como mostram os dados do INE sobre as Contas Nacionais Trimestrais. O Rendimento Nacional Bruto (a parcela do PIB que fica no País) representava, em 2004, 98,9 por cen-to do PIB (uma diferença de 1.589 milhões de euros); mas, em 2010, o RNB correspondia apenas a 96,7 por cento do PIB (uma dife-rença de 5.670 milhões). Em 2011, com ba-se nos dados disponíveis referentes aos sete primeiros meses, deverá representar somente 94,8 por cento. É uma quebra muito impor-tante, que determinará um agravamento da si-tuação económica e social. Portugal e os por-tugueses ficarão com menos recursos, não só como consequência da diminuição do PIB, de-vido à recessão económica, mas também por-que uma parcela maior da riqueza criada no País é transferida para o estrangeiro. É evi-dente que a venda das empresas públicas a estrangeiros só contribuirá para agravar ainda mais esta situação.

(*) A versão integral deste artigo está publicada na Internet,

em www.eugeniorosa.com, com data de 1 de Outubro

Privatizar agrava o défice (*)

eugénio RoSaEconomista da CGTP-IN

«A r e s o l u ç ã o dos blo-queios em

que o País se encontra passa pelo desenvolvi-mento do sector produ-tivo, pela retoma da in-dustrialização a partir da valorização dos sectores estratégicos, reorientan-do a política financeira e o investimento público para apoio às pequenas e médias empresas», de-fende-se na resolução que foi aprovada pelo mais de 330 participantes no en-contro, realizado a 7 de Julho, em Tentúgal.

Reafirma-se no docu-mento que «e indispen-sável parar a ofensiva contra os direitos no tra-balho, dinamizar a con-tratação colectiva e me-lhorar os salários e as

condições de vida e de trabalho, como elemen-tos estruturantes de uma política nacional de de-senvolvimento económi-co e social».

Outro caminho

Face às opções do Go-verno, no trilho das im-posições da troika estrangeira, os represen-tantes dos trabalhadores da metalurgia, quími-ca, das indústrias eléc-trica e automóvel e dos sectores energético e mi-neiro voltaram a salien-tar que a situação para onde querem atirar o País não é inevitá-vel, bem pelo contrário. Com mudança de políti-cas e mudança de com-portamento do patronato,

há soluções. A partir do conhecimento e da expe-riência de quem traba-lha no sector produtivo, o encontro exigiu, desig-nadamente:

- a paragem imediata dos despedimentos e dos processos que se inse-rem na lógica da desin-dustrialização, como os ENVC, a SAPA, a IMEP;

- a adopção de medi-das para garantir a via-bilidade das empresas, no quadro de políticas de dinamização do sec-tor produtivo;

- a garantia do efecti-vo cumprimento dos di-reitos dos trabalhadores;

- o aumento dos salá-rios, das reformas e das prestações sociais;

- uma política econó-mica que privilegie o de-

Retomar a indústriaO encontro nacional de representantes dos trabalhadores, promovido pela Fiequimetal, comprovou as conclusões do estudo ali apresentado e lançou pertinentes reivindicações para que seja retomada a industrialização.

Um estudo para a acção

Razão e reivindicações fundamentadas

nacional

senvolvimento da pro-dução nacional, com prioridade para a agri-cultura, as pescas, a di-minuição da depen-dência energética e a reindustrialização;

- retomar a produção em sectores estratégi-cos, com a dinamização da construção e repara-ção naval (mantendo a capacidade de projecto e a aposta na qualida-de, no quadro do apro-veitamento dos recursos do mar», com a reto-ma do Plano Siderúrgi-co Nacional e do Plano Integrado de Aproveita-mento das Pirites (em simultâneo com a reto-ma da exploração nas Minas de Aljustrel e a efectivação de outros projectos mineiros, sal-vaguardando os interes-ses nacionais), com a retoma dos projectos li-gados à Química de Ba-se (para aumentar a ca-pacidade de produção de matérias-primas que têm de ser importadas), com o relançamento da produção de material circulante e outros sec-tores da metalomecâ-nica pesada (tendo em vista, nomeadamente, a incorporação da pro-dução nacional nos pro-jectos ligados à energia hídrica e à moderniza-ção do transporte ferro-viário)

- fixar a produção do sector automóvel, apoiando a incorporação da produção nacional;

- parar as privatizações no sector energético, de-senvolvendo políticas que contribuam para a dinamização das activi-dades económicas.

Na resolução salienta-se que «todas estas me-didas implicam políticas de promoção da produ-ção nacional e exigem rapidamente a renego-ciação da dívida, salva-guardando os interesses do povo e do País, em vez da cedência aos es-peculadores e da sub-missão aos interesses dos grandes grupos eco-nómicos e financeiros».

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Novembro 2011 7

Só o capital fica a ganhar com a privatização

Rumo errado na EDP e na GALP

Para reafirmar publi-camente esta posi-ção, a Fiequimetal,

os sindicatos e comissões de trabalhadores promove-ram iniciativas públicas à porta dos locais onde foram formalizadas aquelas de-cisões. Fazendo o contra-ponto e recordando o que os factos têm confirmado, nos dias das assembleias gerais foram divulgados documentos a afirmar, fundamentadamente, que apenas o grande capital fica a ganhar com este er-rado rumo.

Contra as duas dezenas de privatizações preten-didas pelo Governo e con-templadas no acordo da troika dos credores (FMI, BCE e UE) com o Gover-no e os partidos que têm alternado no poder desde

1976 (PSD, CDS e PS), a CGTP-IN promoveu, no dia 22 de Setembro, uma tribuna pública em Lis-boa. Mais de 300 dirigen-tes e delegados sindicais, membros de comissões de trabalhadores e também de comissões de utentes de serviços públicos, reu-niram-se nessa tarde na Rua do Carmo.

Feitas as contas...

Nos 35 anos de existên-cia da EDP, ficou sobe-jamente demonstrada a importância de ser uma empresa pública, en-quanto caíram por terra os argumentos que justi-ficaram as várias fases da privatização - recorda-se no folheto que foi distri-buído junto ao Centro de

O fim dos direitos especiais do Estado (golden shares) na GALP e na EDP, tal como a privatização total desta última e a liberalização das tarifas, são decisões do Governo que atentam gravemente contra os interesses dos consumidores, dos trabalhadores e do País.

Na assembleia geral realizada em Abril, no Porto, dirigentes e delegados sindicais foram exigir que a EDP distribua melhor a riqueza por aqueles que trabalham para a criar

nacional

Congressos de Lisboa, no dia 25 de Agosto, quando ali teve lugar a assembleia geral de accionistas, para estes formalmente deci-direm aceitar as «acções douradas» do Estado sem nada pagarem por elas.

A federação e os sindi-catos lembraram que, em duas décadas de política de privatização, os suces-sivos governos do PSD e do PS não conseguiram alie-nar todo o capital público na EDP e tiveram que criar a chamada golden share. Quem combateu a priva-tização, como fizeram as organizações sindicais da CGTP-IN e as Comissões de Trabalhadores, teve ra-

zão e força para retardar a marcha àqueles que desde sempre viram na EDP uma fonte para aumentarem lu-cros já milionários.

O resultado, hoje à vista, desmente por completo os argumentos de quem pro-moveu a entrega da EDP ao capital privado. Não ocorreram os prometidos benefícios para os consu-midores, nomeadamente na tarifa, e nem passou a haver maior concorrência e melhor serviço. Privati-zar mais de 75 por cento da EDP apenas garantiu grandes lucros para os accionistas que, só nos últimos quatro anos, re-ceberam mais de dois mil

milhões de euros de divi-dendos. Ao levar a priva-tização até ao fim, o Go-verno cede a fatia desses lucros que reverte para o Estado.

A prestação do serviço público está secundariza-da e a sua qualidade foi gravemente prejudicada. Por todo o País, encer-raram centenas de servi-ços de cariz técnico e de atendimento. Houve uma acentuada diminuição do número de trabalhadores e, logo, da capacidade de resposta. Áreas e funções importantes foram entre-gues a empreiteiros, com trabalhadores que rece-bem salários baixos, a

quem são negados direitos e aos quais muito frequen-temente não é garantida formação.

As tarifas subiram acima da inflação, nos últimos cinco anos. Com o IVA a subir para a taxa normal, como se a energia não fosse um bem essencial, a factura aumenta 20 por cento, de Janeiro de 2011 para 2012.

A farsa do «capitalismo popular», que enfeitou o circo ideológico da privati-zação, está hoje completa-mente desmentida pela re-alidade da distribuição das acções: apenas oito grupos privados possuem mais de trinta por cento do capital!

Nem dívida, nem crédito

Travar antes do abismo

A eliminação dos direitos especiais do Estado nada tem a ver com a dívida pública ou com o défice, sa-lientou a Fiequimetal, a propósito da GALP Energia, acusando o Governo de querer, sim, preparar o pas-so seguinte do seu programa: o assalto final ao que resta do sector público nas empresas, para entregar ao grande capital nacional e estrangeiro, seguindo a lógica do sistema capitalista de acumulação e con-centração de capital.

Aquela decisão confirma que o Governo se dispõe a prosseguir políticas de completa submissão aos in-teresses dos grupos económicos e comprova também que estavam certos aqueles, como a federação e os sindicatos, que alertaram para o facto de que a priva-tização parcial de importantes empresas estratégicas apenas constituía o primeiro passo para a sua priva-tização total. Nessa altura, as golden shares surgiram como garantia de que o Estado continuava a ter voz em decisões essenciais das empresas. E até serviram para justificar que o capital social da GALP fosse alienado por um preço muito abaixo do seu valor real.

As empresas públicas foram um instrumento de grande importância estratégica para o País. Dina-mizaram a economia, possibilitando a existência de milhares de pequenas e médias empresas, criaram milhares de postos de trabalho directos e indirectos, alargaram o fornecimento público às populações em todo o território, constituíram uma extraordinária fonte de receita para o Estado.

A federação lembrou também que, durante a crise dos anos 80, face à incapacidade do Estado para ob-ter crédito bancário, mais uma vez a Petrogal, a EDP e a TAP foram utilizadas como instrumento do Estado para adquirir financiamento externo - e suportando como empresas públicas os encargos do serviço da dívida.

O Governo do PSD e do CDS persiste na mesma política e pretende aprofundá-la: eliminados os di-reitos especiais do Estado, quer privatizar totalmente a EDP e liberalizar as tarifas. Com isso, retira capa-cidade de intervenção do Estado nesta empresa alta-mente lucrativa e neste sector estratégico, e abdica de um volume considerável de dividendos. O mesmo Governo que penaliza os trabalhadores, os reforma-dos e os pensionistas, vai engordar ainda mais os au-tores da crise.

A determinação de prosseguir o combate e alargar o esclarecimento e a mobilização, tanto entre os tra-balhadores das empresas do Grupo EDP, como junto dos utentes e da população, foi declarada durante a acção de 25 de Agosto, nas intervenções de dirigen-tes da federação, da Coordenadora das CT da EDP, dos sindicatos SITE Norte, SITE Centro-Norte, SITE Centro-Sul e Regiões Autónomas, e SIESI, e também dos coordenadores da Fiequimetal e da União dos Sindicatos de Lisboa.

A luta dos trabalhadores e a palavra final do povo hão-de mudar este rumo errado, de forma a garan-tir o indispensável contributo da EDP para o desen-volvimento do País, o bem-estar das populações e o crescimento da economia, no âmbito de um sector energético sob controlo público.

Anos Inflação Aumentosdas tarifas

Dividendos dos accionistas

Remunerações dos órgãos sociais

2007 2,5% 6,0% 457,1 milhões de euros 9,2 milhões de euros

2008 2,6% 2,9% 511,9 milhões de euros 9,3 milhões de euros

2009 -0,9% 4,9% 566,7 milhões de euros 29,4 milhões de euros

2010 1,04% 2,9% 621,6 milhões de euros 16,4 milhões de euros

Pagamos nós os milhões delesDados oficiais da EDP e do INE

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Novembro 20118

Os bons resultados são visíveis, quer na inscrição de

novos associados, quer na eleição de delegados e re-presentantes para SST.

Uma apreciação global do decurso da campanha de sindicalização de 2011, com os resultados do pri-meiro semestre, foi feita numa reunião específica, a 21 de Julho, em Lisboa, após um debate participa-do por todos os presentes. Verificou-se que, no total, nos sete sindicatos envol-vidos inscreveram-se 2 511 trabalhadores, me-nos 20 do que a meta defi-nida. No mesmo semestre de 2010, tinham-se sindi-calizado menos 443 traba-lhadores do que os então previstos na definição de objectivos.

Concluiu-se assim que foi realizado pelos sindi-catos um trabalho mui-to positivo, mostrando a existência de novas dinâ-micas, com forte presença nas empresas junto dos trabalhadores. Foi consi-derado também que, com a criação dos SITE, as

potencialidades da rees-truturação permitiram re-forçar a intervenção junto dos polos sindicais e par-ques industriais.

Foi dada nota de um es-forço mais intenso para concretizar a orientação de planificar um ou dois dias por mês para sindi-calizar, intervindo na re-solução dos problemas dos trabalhadores. Ficou as-sumido o compromisso de intensificar a campanha

no segundo semestre de 2011, intervindo de forma integrada no desenvolvi-mento da luta sindical, na defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores contra a brutal política de direita do Governo PSD/CDS/Troika.

Segundo os dados forne-cidos pelos sindicatos, sa-íram 1 168 sócios neste semestre (tinham saído 1556 no primeiro semestre de 2010). Esta situação,

Boas-novas na sindicalizaçãoNa campanha de 2011, tal como no período desde 2008, revela-se o resultado de um importante esforço para reforçar a ligação dos sindicatos aos trabalhadores e às suas lutas.

Atenção permanente e nova campanha em 2012

nacional

Mais de uma dezena de brochuras sobre matérias da área de Saúde e Segurança no Trabalho estão publicadas no sítio Internet da federação.

Também aqui podem ser obtidas versões electrónicas de cartazes e da revista Mais Seguro.

As brochuras disponíveis em www.fie-quimetal.pt são:

- Direitos dos Trabalhadores nos Domí-nios da SST

- Manual para o Exercício da Participa-ção e Representação dos Trabalhadores

- Representante dos Trabalhadores- Lei 102/2009 - Regime Jurídico da Pro-

moção da Segurança e Saúde no Trabalho- Lei N.º 98/2009 - Regulamenta o regi-

me de reparação de acidentes de trabalho e de doenças profissionais

- Ambiente de Trabalho- Ergonomia - Prevenir as Lesões Múscu-

lo-Esqueléticas- Medicina do Trabalho- Risco de Exposição às Poeiras- Riscos Químicos- Segurança de Máquinas e Instrumentos

de Trabalho- Trabalho Nocturno e por Turnos- ETAR’s - Estações de Tratamento de

Águas Residuais.

Acidentesna SN Seixal

Mortena mina

Há muito tempo que são normais, na SN Seixal, acidentes de trabalho graves, como os três que ocorreram na primeira semana de Agosto, dada a dureza do trabalho e a ausência de liberdade para a exigência de melhores condições laborais. O SITE Sul, ao tomar posição pública sobre estes problemas, chamou especial atenção para a situação dos trabalhadores dos chamados empreiteiros.Numa quinta-feira, um trabalhador da Teixeira Duarte caiu do telhado e partiu uma perna, durante a montagem de um exaustor no sector da Laminagem, enquanto na Aciaria, um trabalhador da Sotecnogaio, partiu um braço em resultado de uma queda. No sábado, um trabalhador da Climex foi entalado por um bilete e ficou com um enorme golpe numa perna.

No dia 10 de Outubro, um mineiro de 20 anos perdeu a vida na Mina da Panasqueira. O STIM responsabilizou a administração da Sojitz Beralt Tin pelas péssimas condições de trabalho no interior da mina e por falta de formação sobre prevenção de riscos. No local do acidente, momentos após este ter ocorrido, os representantes dos trabalhadores verificaram a ausência do escombreiro, cuja principal função é verificar o estado das frentes após os rebentamentos. O jovem falecido tinha completado em Setembro um ano na empresa, sem que tenha recebido acções de formação devidamente estruturadas com o objectivo de prevenir riscos inerentes a esta actividade. Como factor que contribui para que ocorram acidentes, o sindicato apontou a pressão exercida sobre a maioria dos trabalhadores para aumento da produção.O STIM saudou a coragem dos trabalhadores que, numa atitude solidária e combativa, decidiram não baixar à mina durante todo o dia 11.

Subscreve a lista

FIEQUIMETALinforma

no sítio Internet da federação

Mantém-te a par das tuas notícias

www.fiequimetal.pt

pelas suas implicações na estabilidade financeira e sindical da estrutura, deve ser debatida no quadro da organização, nos órgãos dos sindicatos e federação. Nesse sentido, ficou deci-dido debater um conceito mais objectivo para con-tabilizar a saída de sócios dos sindicatos, procurando uniformizar a informação. Esta análise deverá ser realizada numa próxima reunião, em Janeiro, que deverá também ter como objectivo a preparação da campanha de sindicaliza-ção de 2012.

No primeiro semestre de 2011 foram eleitos 205 delegados sindicais (ti-nham sido eleitos 119 na primeira metade 2010), um resultado considera-do positivo, a par do aler-ta para a necessidade de manter a dinâmica.

A eleição de 140 repre-sentantes para Segurança e Saúde no Trabalho, que compara com os 80 elei-tos nos primeiros seis me-ses de 2010), demonstra

grande empenhamento dos sindicatos nesta área de trabalho.

Uma linha de trabalho a desenvolver e aprofundar é a articulação com a área da formação sindical, pro-curando cumprir a orienta-ção da Federação de que cada delegado sindical eleito deverá ter acesso à respectiva acção de forma-ção sindical.

Desde 2008

Ao 2.º Congresso da fe-deração - que merece tratamento destacado nas páginas seguintes - foi apresentado o Relatório de Actividades, no qual se inclui um balanço dos re-sultados da sindicalização nos anos de 2008, 2009 e 2010 e nos primeiros oito meses de 2011.

Nos sindicatos inscre-veram-se 16 105 novos sócios, o que representou cerca de 80 por cento da meta definida para os qua-tro anos do mandato dos órgãos dirigentes.

Houve, por outro lado, a saída de 9 565 associa-dos. Este total representa 59 por cento do número de novos sócios e corresponde integralmente a situações de passagem à reforma ou saídas do sector, devido à destruição de postos de trabalho. Não há registo de saídas por desacordo com a orientação e acção sin-dical.

Valorizando estes resul-tados, o congresso decidiu realizar uma nova campa-nha de sindicalização em 2012, como se refere numa das moções aprovadas (de que reproduzimos excertos na pág. 11).

Os trabalhadores mais jovens têm salários extremamente baixos, o que exige o recrutamento de um número de associados muito superior às saídas, de modo a evitar quebras mais graves na quotização

Materiais sobre SSTpublicados online

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Novembro 2011 9

Saber, razão, organização e coesão emanam dos trabalhadores

Congresso dá mais força para lutar e vencerO congresso teve lugar no dia

21 de Outubro, na Socieda-de Filarmónica Recreio Al-

verquense, em Alverca do Ribatejo, com a participação de 362 delegados e algumas dezenas de convidados, entre os quais se incluíam repre-sentantes de organizações sindicais nacionais, internacionais e estran-geiras, bem como de comissões de trabalhadores, e ainda antigos diri-gentes da federação e de sindicatos dos sectores que esta abrange.

O secretário-geral da CGTP-IN in-terveio no encerramento dos traba-lhos. Além de Manuel Carvalho da Silva e do coordenador da federação, João Silva, participaram no con-gresso vários membros da Comis-são Executiva da central: Deolinda Machado, João Paulo, João Torres, Joaquim Almeida, Maria do Carmo Tavares, Rui Paixão.

Ao longo do dia, da tribuna do con-gresso foram feitas mais de três de-zenas de intervenções. Estiveram em análise a actividade levada a cabo desde o 1.º Congresso, em 30 de No-vembro de 2007, e as linhas de orien-tação para os próximos quatro anos.

Foi aprovada, por maioria, com duas abstenções, uma proposta de

alterações aos Estatutos. Trata-se de ajustamentos que visam adequar os Estatutos a novas exigências legais e ao alargamento do âmbito da federa-ção, além de alguns aperfeiçoamen-tos e melhorias do texto, como expli-cou Delfim Mendes, da DN cessante.

Os delegados aprovaram por una-nimidade o Programa de Acção e elegeram, com 333 votos favoráveis e 17 votos em branco, a Direcção Nacional para o mandato até 2015. O órgão dirigente da federação é constituído por 83 camaradas, que representam os nove sindicatos fi-liados; há 31 camaradas que inte-gram este órgão pela primeira vez, enquanto 33 dos eleitos em 2007 deixam agora de fazer parte da DN.

Por unanimidade e aclamação foi aprovada uma Proclamação, que sintetiza as posições expressas no Programa de Acção e enumera os ob-jectivos imediatos para a acção e luta dos trabalhadores.

Foram ainda aprovadas uma mo-ção sobre o sector empresarial do Estado e contra a política de priva-tizações (por unanimidade) e uma moção sobre o reforço da organiza-ção sindical (por maioria, com uma abstenção).

Os documentos do congresso – nos quais se inclui ainda o Relatório de Actividades desenvolvidas no mandato findo – estão publicados no sítio Internet da federação (www.fiequimetal.pt). A Proclamação foi editada e reproduzida para uma am-pla distribuição em mão aos traba-lhadores.

Prioridade à greve geral

Na breve intervenção que fez no encerramento do congresso, e que foi particularmente emotiva no momento de saudar os camaradas que deixam de fazer parte da estrutura dirigente da Fiequimetal, João Silva conside-rou que este foi «um congresso extra-

Com a preparação da greve geral a merecer toda a prioridade e com os olhos postos nos objectivos expressos no seu lema – Valorizar o trabalho! Desenvolver o sector produtivo! Melhores salários! Trabalho com direitos! –, o 2.º Congresso da Fiequimetal demonstrou «uma confiança inabalável em que vamos continuar a luta e vamos vencê-la, com esta força que daqui emana e que corresponde à força dos trabalhadores que nós representamos», como foi salientado pelo coordenador da federação, na intervenção de encerramento.

em Foco

O momento é agora!«Não foram os trabalhadores nem a sua luta

quem destruiu o sector produtivo. Nós lutámos contra essa destruição e levámos catalogações de conservadores e de não percebermos a mo-dernidade. Nós estivemos do lado certo e não do lado do desastre.

Não foram os trabalhadores e as suas organi-zações quem andou a reclamar que os roubos privados – os desvios do BPN e outros, que são casos de polícia e de justiça – passassem para dívidas inscritas no Orçamento do Estado, para o povo pagar.

Não foram os trabalhadores e o povo quem pro-vocou o desvio de milhares de milhões de euros dos esquemas das parcerias público-privadas e da multiplicação de administrações nas em-presas para servir clientelas. Não foram os tra-

balhadores e o povo quem provocou o aumento da economia clandestina, a fraude, a evasão e a corrupção neste país.

Mas agora somos chamados a pagar...A situação económica é difícil. A situação de

que cada trabalhadora e cada trabalhador parte para esta greve, do ponto de vista financeiro e económico, é muito difícil. Mas há valores que é preciso defender. O momento é agora. Não fica tudo definido? Pois não! Mas hão-de ficar me-lhores condições para o futuro. E, quando estão em causa a justiça e a democracia, não há sacri-fícios que não se justifiquem.

Vamos fazer uma grande greve geral!»

Manuel Carvalho da SilvaSecretário-geral da CGTP-IN

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10 Novembro 2011

em Focoem Foco

Orientações seguras para acção determinada

Do congresso para a luta de todos os diasConfiança com fundamento

Reforçar a organização

Conversa velha e conclusões actuais

Está em curso o maior ataque do gran-de capital contra as conquistas da Revo-lução de Abril, visando o retrocesso dos direitos económicos, sociais e laborais para patamares que julgávamos ultra-passados, em muitos casos comparáveis aos existentes nos primórdios do libera-lismo da época da revolução industrial.

As políticas de austeridade e de retrocesso social, em vez de resol-verem os problemas, apenas geram mais sacrifícios, agravam as injusti-ças, acrescentam crise à crise e hi-potecam o futuro dos povos, como se verifica em vários países das Europa e do Mundo, entre os quais Portugal.

Apesar de ser um empreendimento difícil, não só é necessário como é possível enfrentar e vencer esta ofen-siva e avançar na construção de um futuro melhor, no rumo da construção de uma sociedade mais justa, em que o trabalho, e não o lucro, seja valori-zado e constitua o centro do desen-volvimento e da realização humana.

Esta confiança emana do elevado grau de consciência de classe dos trabalha-dores portugueses, demonstrado na in-tensa luta desenvolvida antes e depois do 25 de Abril, pela conquista e defesa da liberdade, da democracia e dos di-reitos sociais e laborais, para a qual os trabalhadores da indústria, da energia e das minas deram um importante contri-buto. Confiança que se reforça nos avan-ços alcançados pelos povos que resistem à agressão imperialista e prosseguem a construção das suas sociedades pelo seu próprio caminho. Confiança que se alimenta da experiência histórica das sociedades que, durante várias décadas impediram o domínio do Mundo pelos centros do capital: a força do seu exem-plo estimulou a luta dos trabalhadores e dos povos e obrigou o capital a fazer cedências de direitos sociais e laborais que hoje pretende recuperar.

(Excertos da Introdução do Programa de Acção)

O 2.º Congresso da Fiequimetal exorta toda a estrutura sindical a que oriente a sua intervenção no sentido de concretizar uma organi-zação sindical sectorial forte, adap-tada à realidade actual, renovada e rejuvenescida, capaz de dar res-posta às necessidades do momento presente, em todas as frentes da ac-ção sindical.

E decide considerar 2012 como ano do reforço da organização sindical de empresa, dando prio-ridade à sindicalização e à eleição de delegados sindicais e represen-tantes para Saúde e Segurança no Trabalho e à sua formação e inserção na actividade dos sindicatos. Nesse sentido, apoia o lançamento de uma forte e bem estruturada campanha de sindicalização, a desenvolver ao longo de todo o ano de 2012, pro-pondo que cada sindicato defina as suas metas e que nelas considere:

- o envolvimento de toda a estru-tura com responsabilidades concre-tas na campanha;

- o objectivo de implantar a or-ganização e desenvolver a acção reivindicativa nas empresas com mais de 100 trabalhadores, sem prejuízo de outras consideradas prioritárias;

- o alargamento a empresas novas e outras ainda sem organização, bem como a adopção de medidas ajusta-das à realidade dos parques indus-triais;

- iniciativas específicas dirigidas a jovens e mulheres, considerando as suas reivindicações próprias, como a dignificação e a valorização profissional, a igualdade de género e a não discriminação;

- a planificação do trabalho com meios de apoio, metas a alcançar, tempos de intervenção e controlo de execução;

- a participação na coordenação sectorial da campanha, no âmbito da Fiequimetal.

(Da moção sobre reforço da organização sindical)

Em Portugal, o desmantelamento de gran-de parte do tecido produtivo - que inclui o abandono de sectores estratégicos - assim como os sucessivos ataques à contratação colectiva e aos direitos sociais e laborais, os elevados níveis de desemprego, a preca-riedade e os baixos salários inserem-se no processo político de recuperação capitalis-ta, associado ao processo de integração eu-ropeia.

De facto, foi aí que começaram, desen-volvendo-se com maior incidência a partir do início dos anos 90,

- a privatização dos sectores estratégicos da economia;

- a entrega das grandes unidades de pro-dução a multinacionais, que as alienaram para ficarem com os mercados;

- a desactivação das indústrias de base, que levou ao desmantelamento de impor-tantes empresas e à liquidação de muitos

ordinário, de força, de demonstração de conhecimento da realidade onde inter-vimos», e «à altura das responsabilida-des que nos atribuíram os trabalhado-res que estamos a representar».

O coordenador da federação assinalou que «tivemos um congresso de unanimi-dade, não de unanimismos», «uma una-nimidade que corresponde ao sentimen-to e à vontade dos trabalhadores, uma unanimidade revolucionária, porque é ela que nos permite sairmos daqui com uma enorme coesão e uma enorme força para concretizar as orientações» aprova-das. Foi «um congresso de luta, virado para a frente, um congresso que depo-sita na Direcção Nacional agora eleita um Programa de Acção, um conjunto de orientações e uma Proclamação, que são as orientações seguras para o rumo do muito trabalho que temos a desenvol-ver – desde já, a tarefa prioritária que é dar um grande contributo para o êxito da greve geral de 24 de Novembro».

Foi também a esta importante bata-lha que Manuel Carvalho da Silva de-dicou, logo a seguir, o fundamental da sua intervenção, afirmando a confiança em que «vamos ter uma grande greve geral» e realçando que esta «é contra o aumento da exploração e contra o empobrecimento, mas é também por um Portugal desenvolvido e soberano» e «é, acima de tudo, uma greve pelo futuro do País».

Para o secretário-geral da CGTP-IN, «temos que afrontar as políticas que vêm sendo seguidas e afrontar o poder político». E «temos que afrontar o capi-tal, temos que instabilizar os detentores da riqueza, que continuam a apoderar-se dela e a impor-nos sacrifícios».

Destacou que «temos uma importante base de unidade sindical», já que «há um consenso total entre os activistas da CGTP-IN, uma determinação total para fazer a greve» e, por outro lado, «também é positivo que a UGT tenha tomado por unanimidade a decisão de convergir para esta greve». Também «há condições para a população ir compreendendo a necessidade da gre-ve e a importância de os trabalhadores e o povo fazerem este sacrifício».

Mas, alertou, «o êxito da greve vai de-pender do nosso trabalho daqui para a frente, a greve tem que ser construída» com «um intenso trabalho» de esclare-cimento, informação e mobilização.

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em Foco

11Novembro 2011

em Foco

Do congresso para a luta de todos os dias

O caminho para o futuro

Privatizações inaceitáveis

Conversa velha e conclusões actuais

O único caminho que pode dar combate às dificuldades actuais e abrir a porta a um Por-tugal com futuro é a valorização do trabalho e dos trabalhadores e o desenvolvimento do sector produtivo.

Valorizar o trabalho e os trabalhadores significa:

- uma justa distribuição da riqueza;- contratos colectivos que consagrem os di-

reitos fundamentais e sejam cumpridos pelo patronato;

- horários de trabalho claramente definidos e que permitam a conciliação do trabalho com a vida familiar;

- estabilidade do emprego, formação e qua-lificação profissional;

- condições de trabalho dignas;- igualdade de direitos e oportunidades;- garantia dos direitos à protecção social à

saúde e ao emprego.

Desenvolver o sector produtivo signifi-ca a definição de uma política económica que aposte na reindustrialização do País,

- recuperando sectores importantes, a par-tir da experiência e do conhecimento ainda existentes;

- aproveitando e transformando no nosso País as riquezas naturais, onde se incluem os vastos recursos minerais;

- parando os despedimentos e apoiando pro-jectos de inovação e modernização que viabi-lizem empresas com dificuldades reais;

- definindo uma política energética e de lo-gística que contribua para a dinamização da produção nacional;

- parando as privatizações e retomando uma for-te posição do Estado em empresas estratégicas.

Na prossecução destes objectivos, o Progra-ma de Acção aponta medidas concretas, no sentido do reforço da organização e da parti-cipação dos trabalhadores na discussão dos seus problemas e na definição das suas rei-vindicações e das formas de luta a adoptar em cada momento, tendo presente a importância da relação de forças, na luta de classes, para a obtenção dos resultados.

Na acção sindical integrada, dá-se priorida-de absoluta à organização nos locais de tra-balho e à importância da sindicalização, para a existência de sindicatos fortes e actuantes.

Mas face à ofensiva global não nos demiti-mos de contribuir para a coordenação da luta nos diferentes países, no plano europeu e in-ternacional. Assim, damos grande importân-cia à nossa intervenção no espaço europeu, em conjunto com as organizações filiadas na FEM, pela defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores e a construção de uma Eu-ropa social e de progresso e à coordenação da acção com todas as organizações interna-cionais, no sentido de fortalecer o movimento sindical de classe, na luta contra a exploração capitalista e pela paz.

(Excertos da Introdução do Programa de Acção)

milhares de postos de trabalho, e à sua substituição por indústrias de baixo valor acrescentado, dominadas por multinacionais à procura de subsídios e de mão-de-obra baseada em baixos salários e que, passados alguns anos, se deslocalizaram e deixaram para trás destruição e graves problemas sociais.

O boicote à contratação colectiva, nos sectores da indústria, remonta à década de 90, mas os argumentos para a intro-dução da caducidade das convenções e o enfraquecimento da legislação la-boral são os mesmos que continuam a servir para justificar novos ataques aos direitos dos trabalhadores.

Do mesmo modo, a estagnação da economia e a imposição de medidas de austeridade são recorrentes nas políti-cas dos sucessivos governos na última década.

Isto significa:1.º - que a situação de Portugal resulta es-

sencialmente da aplicação das receitas do neo-liberalismo ao longo de mais de duas décadas, agravada pela actual crise do sis-tema capitalista, a partir de 2008-2009;

2.º - que o principal problema da economia portuguesa radica no deficit produtivo, no deficit tecnológico e no deficit energético, que resultam das políticas desenvolvidas e não dos sa-lários e dos direitos de quem trabalha;

3.º - que a redução do nível de vida dos trabalhadores e das populações é factor de agravamento da crise, que só poderá ser combatida pela dinamização da procura interna, através do aumento dos salários e pensões.

(Excertos da Introdução do Programa de Acção)

O Governo PSD/CDS, depois de ter abdicado dos direitos especiais que o Estado detinha (golden sha-re) na PT, EDP e GALP, pretende privatizar tudo o que ainda resta do sector empresarial do Estado, entregando ao desbarato, aos gran-des grupos económicos e ao capital estrangeiro, empresas estratégicas para o desenvolvimento do País e com obrigações de prestação de serviços públicosEste é um caminho de retro-

cesso, de asfixia económica e sangria social, que jamais poderemos aceitar e que nos comprometemos a denunciar e combater.

(...) Face à gravidade deste ata-que aos trabalhadores, ao povo e ao País, os delegados ao 2.º Congresso da Fiequimetal decidem:

- exigir o cumprimento da Constituição da República e a paragem imediata do proces-so de privatizações, reclamando antes o reforço da intervenção do Estado nas empresas e secto-res estratégicos fundamentais para o desenvolvimento económico e so-cial do País, em particular na EDP e na GALP;

- exigir o fim imediato do corte e congelamento das remunera-ções e demais direitos sonegados aos trabalhadores, o que passa pelo cumprimento integral da respectiva contratação colectiva e pela nego-ciação de aumentos salariais justos para 2012;

- exigir a viabilização dos Esta-leiros Navais de Viana do Cas-telo, com a garantia de todos os postos de trabalho e dos respecti-vos direitos, assim como a sua ma-nutenção no SEE;

- afirmar a sua disposição e em-penhamento para desenvolver as acções de luta que forem necessárias para travar a concre-tização do plano de privatizações e do programa de agressão aos trabalhadores, pela adopção de medidas alternativas verdadeira-mente viradas para o desenvolvi-mento económico e social do País, que garantam o crescimento do emprego e fomentem a melhoria das condições de vida e de traba-lho.

(Da moção sobre o sector empresarial do Estado)

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Novembro 201112

em Foco

A conferência decorreu du-rante a tarde de 20 de Ou-tubro, véspera do congres-

so, num hotel de Lisboa.Carlos Carvalho, da Direcção

Nacional da federação e relator da iniciativa, congratula-se pelo debate «rico de conteúdo e pro-postas» e assinala «uma grande sintonia dos intervenientes quanto ao papel da indústria para a supe-

ração da crise económica, reco-nhecendo, embora, que esta crise é muito mais que uma crise con-juntural».

Como salientaram vários dos in-tervenientes, trata-se de uma cri-se do sistema capitalista, a cujas causas não é alheio o abandono de políticas de promoção da econo-mia real, para privilegiar políticas financeiras de carácter especulati-vo.

As lutas já desenvolvidas e em curso em diversos países da Euro-pa – Grécia, Portugal, Itália, Es-panha, França, entre outros – fo-ram apontadas como o caminho a seguir e foi realçada a importância de encontrar formas de convergên-cia, sem deixar de considerar que nada substitui as lutas a nível de cada país.

Reindustrializaré fundamental

Na abertura, o coordenador da Fiequimetal, João Silva, fez votos de que a reunião permitisse abrir «portas para o aprofundamento fu-turo de posições comuns, visando a luta por políticas alternativas ao neoliberalismo que, em nome do lucro fácil e rápido, desvaloriza o sector produtivo». Apontou a ex-periência portuguesa como «elu-cidativa» da desvalorização do papel da indústria durante muitos anos na União Europeia, a favor da especulação financeira «que pro-picia lucros rápidos mas, como se verifica, traduz-se no afundamento da economia dos países».

A reindustrialização constitui o ponto fulcral para a resolução dos problemas económicos, financei-ros e sociais de Portugal, defendeu Fernando Marques, numa pri-meira parte do debate, dedicada à situação na indústria e medidas para a sua recuperação. Para este

economista, co-autor do estudo «Indústria e Política Industrial em Portugal», o abandono de partes significativas das activida-des produtivas, a partir dos anos 80 do século passado, está na ori-gem do endividamento externo do País, da elevada dependência do exterior e do maior atraso em rela-ção aos restantes países da União Europeia.

No entanto, como notou Nico Cué, secretário-geral do MWB/FGTB, da Bélgica, a indústria não recuou apenas em Portugal, tal ocorreu um pouco por toda a Eu-ropa. Hoje, defender a indústria é defender uma Europa diferente da actual UE, pelo que se deve consi-derar prioritário um novo projecto industrial que defenda todo o apa-relho industrial, encarando a me-lhoria dos salários e a redução do tempo de trabalho como questão essencial.Fernando Lopes, secretário-

geral adjunto da FITIM/CSI, aler-tou que não se poderá falar com rigor de uma quebra da produção industrial a nível mundial, pois o que se verificou foi uma transfe-rência de unidades de produção, situadas na Europa, para países de outras regiões. Exige-se, também, outro padrão de desenvolvimento industrial, que seja coerente, res-peite o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores e dos povos.

Em França, mais de 30 por cento da população depende da indús-tria, mas tem-se verificado uma acentuada perda de emprego no sector da metalurgia, referiu Da-niel Pilier, responsável do Sector Europa da CGT.

Espanha perdeu mais de 25 por cento do sector industrial, disse Felipe Lopez. O secretário-geral da Federação da Indústria das Co-misiones Obreras acusou a Europa de ter abandonado há muito a po-

lítica industrial, num contexto em que os mercados se impõem aos estados. A crise põe em questão as economias nacionais, mas põe também à prova o movimento sin-dical, que deve lutar para defen-der a indústria, e não só ao nível de um país.

No painel sobre a crise da indús-tria e a crise económica, financeira e social e sobre o papel do movi-mento sindical para a sua supera-ção, diversos oradores constataram que está um curso uma ofensiva ideológica, em larga escala, contra o movimento sindical, à qual é ne-cessário fazer frente.Sabina Petrucci, responsável da

área internacional da FIOM/CGIL, de Itália, destacou o papel da FEM (Federação Europeia da Metalurgia), nos nossos sectores, no quadro da in-dispensável acção do movimento sin-dical europeu para fazer face à crise e ao violento ataque às condições de trabalho e ao modelo social europeu. Ressalvou que não se pode falar da competitividade grega da mesma ma-neira que da italiana e, menos ainda, da alemã, sendo sempre necessário ter em conta as especificidades de cada país. Quando milhões de cama-radas lutam pelo mesmo objectivo, é fundamental unificar as lutas.

Nico Cué defendeu, neste con-texto, um sindicalismo ofensivo e transformador.

As medidas gravosas dos diferen-tes governos europeus são seme-lhantes e visam a recuperação do capitalismo, afirmou Igor Urrutio-etxea, da UISM/FSM, defendendo medidas para travar essa ofensiva, como a proibição absoluta de des-pedimentos em empresas que apre-sentem elevados lucros. Considerou fundamental o papel do Estado na economia chamou a atenção para outros países e continentes, onde ocorrem lutas de trabalhadores que deve ser apoiadas.

Conferência internacional destaca papel da indústria

Solidariedade contra a crise do capitalRepresentantes de duas organizações sindicais internacionais e de 15 federações congéneres deslocaram-se a Lisboa, para assistirem ao 2.º Congresso da Fiequimetal. A solidariedade dos trabalhadores da indústria, energia e minas dos diferentes países teve um marcante momento, na conferência internacional sobre «A Importância da Indústria para a Saída da Crise».

Organizações presentesNa conferência e no congresso estiveram representados:- a UISMM, União Internacional Sindical da Metalurgia e das Mi-

nas (estrutura da Federação Sindical Mundial),- a FITIM, Federação Internacional dos Trabalhadores das Indús-

trias Metalúrgicas (estrutura da Confederação Sindical Internacio-nal),

- a Federação da Indústria das Comisiones Obreras, de Espanha,- a MCA, Metalurgia, Construcción y Afines, da UGT, Espanha,- a Federação Metal da CIG, Confederação Intersindical Galega,

da Galiza,- a Federação Química da CIG,- a ELA-STV, Solidariedade dos Trabalhadores Bascos, Euskadi,- a Federação da Metalurgia da CGT, França,- a FIOM, Federação Italiana dos Operários Metalúrgicos , da

CGIL, Itália,- o MWB, Métalurgistes Wallonie et Brabante, da FGTB, Bélgica,- a ABVV, Central dos Metalúrgicos da Flandres, da FGTB, Bélgica,- a METEA, Central dos Metalúrgicos e Têxteis, da ASV/CSC, Bél-

gica,- o Dansk Metall, Sindicato dos Metalúrgicos da Dinamarca,- o IG Metall, Sindicato dos Metalúrgicos da Alemanha.

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Novembro 2011 13

No dia 20 de Setembro, uma delegação do STIM esteve no Ministério da Econo-mia e Emprego, para reclamar um plano de desenvolvimento para o sector e dei-xar um documento em que fundamenta essa exigência premente.

As propostas do sindicato baseiam-se num estudo que realizou recentemente e que indica as reservas de minério exis-tentes em diversas regiões do País, sa-lientando os benefícios do seu aprovei-tamento sustentado, seja por diminuir a importação de um conjunto de matérias-primas destinadas à indústria, seja por permitir o aumento das exportações e criação de postos de trabalho.

Afirmando a importância estratégi-ca deste sector na economia nacional, o sindicato realçou que as economias emergentes e as mais industrializadas da UE são deficitárias de muitas ma-

térias-primas provenientes de minério existente em Portugal.

No estudo do sindicato e da Fiequime-tal, desenvolvido durante vários meses, em conjunto com a CGTP-IN são iden-tificadas zonas como Moncorvo, Jales, Cercal do Alentejo, entre outras, onde os recursos minerais existentes justifi-cam os investimentos e perante os quais o Estado deve assumir um papel domi-nante.

O STIM voltou a manifestar preocupa-ção pela situação de quase inactividade que se vive na mina de Aljustrel.

Até então, o Governo e o MEE não ti-nham apresentado uma única medida, destinada ao investimento no sector pro-dutivo, limitando-se a atacar os direi-tos dos trabalhadores, designadamente através das alterações à legislação labo-ral, acusou o sindicato.

Claro efeito da unidade e da luta firme

Solução para os ENVC

Quando meio milhar de trabalhadores dos ENVC viaja-

ram até Lisboa, no dia 2 de Setembro, para mais uma forte manifestação em de-fesa da viabilização da em-presa, já o ministro da De-fesa tinha feito saber que enviara à Empordef instru-ções para que uma decisão sobre o futuro do estaleiro fosse adiada para Outubro. Nessa assembleia-geral da holding do Estado em que se integram os ENVC deveria ser ratificado o «plano de reestruturação», aprovado pela Empordef a 14 de Junho e que foi co-nhecido publicamente uma semana depois. Tudo já es-tava em marcha, mesmo ainda com o Governo em gestão, depois das eleições legislativas.

Para a Fiequimetal, que emitiu um comunicado no dia 22, o facto de «a ze-losa administração» vir anunciar o despedimen-to de 382 trabalhadores, dos 720 que laboram no principal construtor naval português, foi «uma clara manobra para permitir ao novo Governo vir dizer que não tem nada a ver com o processo», «mas a verdade é que se trata da concreti-

zação de uma das muitas medidas que constam do acordo da troika, assinado pelo PSD e pelo CDS, des-tinada a reduzir os direitos e os custos com pessoal, para facilitar a privatiza-ção do estaleiro». Por isso, «o actual Governo não pode lavar as mãos e tem que assumir a sua respon-sabilidade», exigiu a Fie-quimetal, reafirmando que:

- o estaleiro é viável, tem capacidade de projectar e

construir navios de eleva-da qualidade e complexi-dade técnica;

- o despedimento de mais de metade dos traba-lhadores iria transformar os ENVC em mais uma unidade desvalorizada, destinada a trabalhos se-cundários e em regime de subcontratação;

- as dificuldades existen-tes resultam de má gestão e da recusa pelo Governo da RA dos Açores em pagar

dois navios que mandou construir, baseando-se em pormenores técnicos que não põem em causa as fun-ções para que foram cons-truídos.

Aquele «plano de rees-truturação» representa mais uma confirmação de que as medidas que cons-tam do acordo com a troi-ka não resolvem nenhum problema e, pelo contrário, continuariam a destrui-ção da produção nacional. Constituindo um crime económico contra o País, acarretaria gravíssimos problemas sociais para Viana do Castelo, pois o estaleiro sempre teve um papel estratégico no de-senvolvimento da região.

Posições no mesmo sen-tido foram tomadas por diversas organizações e personalidades. Mas foi determinante, para parar o plano e tomar o caminho da viabilização, a luta dos trabalhadores, com forte apoio na população. Isso foi particularmente visí-vel no grande plenário de 29 de Junho, em Viana do Castelo, e na manifestação de 2 de Setembro, em Lis-boa, promovidos pelo Sin-dicato dos Metalúrgicos, pela União dos Sindicatos do distrito e pela Comis-são de Trabalhadores dos ENVC.

Por enquanto, o Governo e a Empordef ainda não tomaram um compromis-so que dê garantias, mas ninguém aceita ser «o pai» do famigerado plano de Ju-nho. A luta vai prosseguir, para que fiquem assegu-radas as reivindicações apontadas no comunicado da federação:

- afastar definitivamente o despedimento;

- o Governo assumir a responsabilidade políti-ca dos prejuízos causados pelo Governo Regional dos Açores;

- garantir novas enco-mendas e definir planos concretos para o relan-çamento da pesca, do transporte marítimo e de outras actividades ligadas ao mar, aproveitando a ca-pacidade do estaleiro pú-blico para renovação das frotas.

Com o futuro colocado em Junho entre o encerramento ou o despedimento de mais de metade do pessoal, os Estaleiros Navais de Viana do Castelo já são agora aceites de novo como uma importante unidade industrial e aguardam o compromisso claro do Governo e da Empordef.

Ambar

Dura

O lay-off na Ambar, de 1 de Agosto a 31 de Janeiro, abrangendo 21 trabalhadores, não pode servir à empresa para aguardar um contexto mais favorável para passar ao despedimento, avisou o SITE Norte, nas vésperas do início da suspensão dos contratos. O sindicato recordou que os motivos apresentados pela administração (quebras do volume de encomendas e de vendas, em Portugal e em Espanha) são os mesmos que a Ambar apresentou em 2010, para justificar um despedimento colectivo de 37 trabalhadores. Em anos anteriores, através dos «mútuos acordos», já tinha promovido centenas de despedimentos.

Ao tentar esclarecer boatos que circulavam na empresa, a Comissão de Trabalhadores da Dura Automotive obteve da administração, no final de Agosto, a resposta de que não será fácil que um hipotético encerramento da unidade do Carregado signifique transferência de projectos para a Guarda. Para a CT, isto indica que poderá estar em causa uma retirada definitiva da Dura de Portugal, pelo que os trabalhadores de ambas as unidades têm que enfrentar unidos «o que o futuro nos reservar», para defenderem os postos de trabalho e a viabilização da empresa.

Uma «greve de aviso», a 13 de Julho, com concentração à entrada das instalações em Chelas, foi decidida pelos trabalhadores das empresas Sorel, Stand Moderno e Motorsá, do Grupo Sorel, para exigirem a garantia dos 290 postos de trabalho e esclarecimento sobre o futuro da empresa, bem como o pagamento do subsídio de Natal de 2010 e do subsídio de férias de 2011. A administração alegou, numa reunião no Ministério do Trabalho, que a SLN/Galilei não conseguiu assegurar financiamentos devido à nacionalização do BPN.

notÍciaS

No dia 2 de Setembro, quando teve lugar a manifestação em Lisboa, já a força dos protestos e da luta dos trabalhadores tinha levado o Governo a adiar para Outubro a decisão agendada para esse dia

A Sunviauto, fábrica de componentes para auto-móveis, em Pedroso (Vila Nova de Gaia), decidiu colocar mais de cinquen-ta trabalhadores numa sala, em situação de de-socupação profissional, desde o princípio de Se-tembro.

O SITE Norte accionou a Autoridade para as Con-dições do Trabalho, que visitou a empresa quando

a situação já se arrastava por quase duas semanas. Os inspectores verificaram que a atitude da adminis-tração se deveu ao facto de os trabalhadores terem recusado uma proposta de rescisão de contratos «por mútuo acordo».

A empresa foi autuada e os trabalhadores retoma-ram os seus postos de tra-balho, a partir de dia 20, informou o sindicato.

Plano e investimentopara as minas nacionais

Sunviauto na ordem

Sorel

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Novembro 201114

notÍciaS

Por três vezes em poucos meses

Direitos defendidos na Preh

A multinacional, que tem na Trofa uma unidade de produ-

ção de componentes para a indústria automóvel, ainda há pouco tempo, instalou um sistema de vídeo-vigilância direccionado para postos de trabalho, na serralharia, ar-gumentando terem ocorrido alguns roubos de material.

Tal procedimento constitui uma clara violação da lei, já que põe em causa direitos fundamentais de quem la-bora nos postos de trabalho visados.

A Comissão Sindical do SITE Norte pediu a interven-ção da ACT, que agiu rapi-damente, obrigando a que a empresa desligasse a vídeo-vigilância. Mas a ACT aca-bou por não aplicar a contra-ordenação que se impunha,

para dissuadir futuras ten-tativas, o que justificou uma reclamação do sindicato.

Um outro caso de incum-primento das normas legais por parte da Preh ocorreu

na sequência de um aciden-te de trabalho com uma mu-lher, no exercício das suas funções. A trabalhadora não sofreu danos físicos, mas teve prejuízos materiais

(quebra dos óculos). Com o sindicato confirmou que tinha direito a ser ressarci-da pelo prejuízo. Contudo, feito o relato do acidente ao responsável da secção e

colocada a questão do res-sarcimento, obteve resposta negativa da empresa.

Rapidamente o sindicato solicitou a intervenção da ACT, o que motivou uma alteração do comportamen-to da empresa, que passou a assumir a totalidade dos prejuízos com os óculos da trabalhadora.

Ainda no decurso da in-tervenção da ACT, foi sus-citada pelo sindicato a obrigação da empresa fazer um relatório sobre qualquer acidente de trabalho ocorri-do, o que não era prática na Preh. Também isto mudou e a Preh passou a cumprir a obrigação, remetendo às estruturas dos trabalhado-res cópia dos relatórios de acidentes de trabalho veri-ficados.

A ofensiva do patronato contra os direitos mais elementares dos trabalhadores tem uma expressão muito vincada na Preh Portugal, mas esta viu derrotados os seus intentos em alguns casos recentes.

CNB/Camac

Parmalat

Delphi

Uma reunião de trabalhadores, realizada na véspera, confirmou a decisão de fazer greve no dia 16 de Setembro, durante a tarde, com concentração à porta da CNB/Camac, em Santo Tirso, para exigir que seja suspenso o despedimento colectivo de 24 trabalhadores, desencadeado no período de férias e para concretizar na segunda quinzena de Novembro - informou o SITE Norte. A administração da empresa de fabricação de pneus, que ocupava cerca de 300 pessoas quando se apresentou à insolvência, está desde fins de 2009 em processo de recuperação e tem cerca de 140 trabalhadores, a que deveriam juntar-se em Outubro e Novembro os que ainda tinham os contratos suspensos.

Para exigirem uma resposta concreta e objectiva da administração da Parmalat à proposta de revisão do Acordo de Empresa, entregue em Maio de 2010, os trabalhadores decidiram fazer uma série de greves de 4 a 9 de Outubro, informou o SITE Sul, dando nota da decisão tomada em plenários na empresa.

Na fábrica da Delphi em Castelo Branco, consolidando a organização e acção do sindicato, foi decidido estabelecer um horário de atendimento na sala sindical, nas instalações da empresa. Numa reunião, a 19 de Setembro, de delegados sindicais com a direcção do SITE Centro-Sul e Regiões Autónomas, foram apontados, como principais problemas dos trabalhadores, a precariedade dos contratos, as condições biotérmicas de laboração e os baixos salários.

Na fábrica da Trofa a persistência e a resistência dos trabalhadores têm sido capazes de derrotar manobras graves da multinacional

Num balanço da acção sindical e da luta dos tra-balhadores nas empresas, divulgado no final de Agosto e referente a casos ocorridos desde Janeiro de 2011, o SITE Sul salientou que hou-ve resultados visíveis, reafir-mando que vale sempre a pena lutar pela reposição da legalidade, para pôr ter-mo a despedimentos arbitrá-rios e ilegais, por melhores salários, pela aplicação dos direitos legais e contratuais, contra a precariedade.

Na Metalsines - após re-clamação do sindicato junto da ACT de Beja, a empresa foi obrigada a admitir com contrato sem termo oito tra-balhadores precários.

Na Ono Packaging - o Tribunal de Setúbal, por acção do sindicato, decidiu pela readmissão de três ac-tivistas sindicais, um dos quais dirigente, vítimas de despedimento colectivo.

Na Halla Climate Con-trol - o Tribunal de Setúbal decidiu pela readmissão de um trabalhador precário que, após três anos com con-trato a termo, tinha sido des-pedido com a justificação de não renovação do contrato.

A SN Seixal foi obrigada, no Tribunal do Barreiro, a pa-gar os direitos a um trabalha-dor ilegalmente despedido

com a justificação de caduci-dade do contrato por motivo de doença, tendo sido deter-minante o apoio médico do sindicato. Noutro processo, teve que reconhecer a efec-tividade de um trabalhador com contrato a termo, após a intervenção do sindicato e da ACT de Almada e perante a firme posição do trabalhador na defesa do seu contrato de trabalho.

Na Vanpro foi readmitido para o quadro efectivo mais um trabalhador, por deci-são do Tribunal de Setúbal. Tinha sido despedido com a justificação de não reno-vação do contrato a termo,

quando ocupava um posto de trabalho permanente. Na A-Vision, após interven-ção do sindicato e da ACT de Setúbal, os trabalhadores com contrato temporário, que passaram para a Au-toeuropa, viram reconhecido o direito à indemnização por termo do contrato.

Na Manindústria - o Tri-bunal de Setúbal decidiu pela readmissão de um trabalhador ilegalmente despedido após processo disciplinar, com pa-gamento de uma indemniza-ção de 1500 euros por danos morais.

Na Monteiro & Caciones - o Tribunal de Setúbal deci-

diu pela readmissão de uma trabalhadora, ilegalmente despedida através de pro-cesso disciplinar, acusada de um roubo que a empresa não conseguiu provar.

Na TecnoSPIE - o Tribu-nal de Setúbal decidiu pela readmissão de um trabalha-dor ilegalmente despedido no fim do contrato a termo.

Na Sapec Agro - o Tribu-nal de Setúbal decidiu pela readmissão de um dirigente sindical ilegalmente des-pedido por, no exercício da actividade sindical e com orientação da Comissão Executiva do sindicato, ter conduzido um processo de

reclamação de intervenção da ACT e do SITE sobre o despedimento de trabalha-dora em período de amamen-tação.

Na Fisipe - o Tribunal do Barreiro decidiu pela rea-dmissão de um trabalhador ilegalmente despedido, após processo disciplinar, com acusação de faltas injustifi-cadas.

Na SAS - o Tribunal de Setúbal decidiu pela read-missão de três trabalhadores ilegalmente despedidos por roubo, acusação que a em-presa não conseguiu provar.

Na Dyn’Aero Ibérica, a intervenção sindical e ju-rídica conduziu à aplicação dos direitos legais que a ad-ministração pretendia recu-sar aos trabalhadores.

Na Motorsá, no Algar-ve, a intervenção sindical conduziu à aplicação dos direitos legais e manuten-ção de postos de trabalho. O sindicato destaca ainda que milhares de trabalhado-res viram os salários actu-alizados, apesar da posição patronal de não actualização dos salários em 2011. Para tal foi determinante a inter-venção sindical e das Co-missões de Trabalhadores e o elevado empenhamento dos trabalhadores, em dezenas de processos reivindicativos.

Acção e luta no Sul com resultados

É determinante o envolvimento dos trabalhadores nos processos reivindicativos, salienta o SITE Sul, apontando os resultados da luta como comprovação de que é preciso resistir e exigir

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Novembro 2011 15

notÍciaS

Por sonegar dias de férias

Kemet condenada

A ilegalidade foi de-tectada pelo SIE-SI, que se pôs em

acção para que a situação fosse regularizada. Peran-te a recusa da empresa, o sindicato requereu no ano passado a intervenção da Autoridade para as Con-dições do Trabalho. Esta confirmou então a razão dos trabalhadores e multou a empresa em 3300 euros.

Mas a Kemet contestou o auto da ACT e o processo seguiu para o Tribunal de Trabalho de Évora. Este não só manteve a decisão da ACT como considerou dolosa a infracção da em-presa, pelo que passou a multa para 6630 euros.

A tramóia da Kemet, multinacional norte-americana que produz condensadores, predomi-nantemente de tântalo, consistia em contabilizar as férias dos trabalhado-res dos turnos concentra-dos (turnos de 11 horas e meia por dia) não em dias úteis, como prevê a lei, mas em horas. Tal práti-ca levava a que os visados tivessem apenas 15 dias de férias por ano, em vez de 22, sendo ainda pre-judicados na majoração devida pela assiduidade,

a qual eleva os dias de fé-rias para 25.

À ACT, a empresa alegou que aqueles trabalhadores (270 de um total de cerca de 450) gozavam a totali-dade das férias, sendo que os dias em falta dias eram gozados no ano seguinte, até 30 de Abril, como a lei permite mediante certas condicionantes. A ACT e o tribunal constataram que tal alegação era falsa.

Para além deste processo, aguarda-se a marcação do julgamento de uma acção interposta pelo SIESI, no

Tribunal de Trabalho de Lisboa, para exigir o paga-mento (em triplicado) e o gozo dos dias de férias em dívida, incluindo majora-ções, desde 2007.

Para se ter uma ideia do que vai estar em causa, cada trabalhador visado tem a receber bastante mais que dois mil euros, além de manter o direito de gozar as férias em falta.

Lay-off fraudulento

O SIESI lançou um mo-vimento de solidariedade

e decidiu interpor uma providência cautelar de impugnação do lay-off sel-vagem e fraudulento que a multinacional anunciou que pretende aplicar a 30 trabalhadores, a partir de 7 de Novembro. Acusa a Kemet de inserir esta sus-pensão dos contratos de trabalho num plano mais vasto, que visa retirar da empresa os representantes dos trabalhadores e impor o retorno de uma organi-zação divisionista que os trabalhadores repudiam e erradicaram da fábrica.

A Kemet Electronics, em Évora, não acatou a decisão da ACT, chamada no ano passado pelo SIESI, e acabou por ver negada a razão em tribunal. O valor da multa duplicou.

Delphi multada

Reintegrado na Caetano Auto

Por proibição ilegal de um plenário de trabalhadores, a Delphi foi multada em 10.200,00 euros, pela Autoridade para as Condições do Trabalho, revelou o SIESI. O plenário tinha sido convocado nas vésperas da greve geral de 2010, cumprindo todos os requisitos legais, para se realizar na fábrica do Seixal, durante o horário de trabalho, subdividido em três reuniões, de molde a abranger os cerca de 500 trabalhadores (mulheres, na maioria) da empresa e os três turnos de produção. A multinacional norte-americana proibiu o plenário, alegando que a produção (sensores e sistemas de gestão electrónica de motores para a indústria automóvel) não podia parar. A ACT constatou que estariam garantidos os serviços urgentes e essenciais a que alude a lei, notando que a ser seguida a argumentação da empresa «seria de todo inviabilizado o exercício da actividade sindical».

Um estofador despedido em 2007 apresentou-se ao serviço, nas instalações da Caetano Auto Lisboa (Grupo Salvador Caetano) no Prior Velho, no dia 4 de Agosto. O Supremo Tribunal de Justiça, a 13 de Julho, não deu provimento ao recurso da empresa, que tinha recorrido da decisão do Tribunal de Trabalho de Lisboa, no verão de 2010. Norberto Nunes dos Santos, que também era dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Lisboa, Leiria, Santarém e Castelo Branco (agora integrado no SITE CSRA), contestou o despedimento, para o qual a empresa alegou extinção do posto de trabalho. O Tribunal rejeitou o argumento de que o trabalhador teria pouco trabalho, deu por provadas as funções concretas que exercia e considerou que não era relevante a poupança anual que a empresa teria com a extinção do posto de trabalho

A razão dos trabalhadores foi sublinhada com a luta colectiva e reconhecida em tribunal

A Moura Fábrica So-lar decidiu eliminar um abono, no valor de dez por cento do salário, inscrito nos contratos individuais de trabalho e integrando, portanto, o vencimento. Substituiu-o por um pré-mio mensal de produção, de valor variável e deter-minado por critérios patro-nais.

O SIESI detectou esta irregularidade ao fazer o apuramento dos retroacti-vos em dívida, por não ter sido pago o complemento de trabalho nocturno nas retribuições relativas a fé-rias, subsídios de férias e de Natal dos últimos três anos, bem como às tra-balhadoras com dispensa para amamentação - numa

unidade onde é largamente maioritária a mão-de-obra feminina.

O facto foi comunicado à administração, para esta repor os valores sonegados. A ACT manifestou concor-dância com a exigência do sindicato. Em Setembro foram discutidas com a administração as questões práticas para a liquidação da dívida acumulada des-de que foi retirada a boni-ficação, em Junho de 2010.

Rejeitado concentrado

Os trabalhadores recusa-ram a passagem para um horário concentrado de 12 horas por dia, em quatro dias consecutivos, num qua-dro de laboração contínua.

A recusa foi apoiada por um parecer da Comissão Sindical do SIESI, que considerou que as preten-sões patronais não eram fundamentadas e tinham como único objectivo con-verter os sábados e domin-gos em dias normais de trabalho, bem como dimi-nuir a retribuição. Mante-ve-se, assim, o horário de trabalho de três turnos ro-tativos de 8 horas, de se-gunda a sexta-feira.

Também devido à acção do sindicato, foi reconhe-cido o direito a gozar os dias de descanso com-pensatório por trabalho suplementar realizado, não cumpridos desde 2008, ano de arranque da fábrica.

Com o apoio do sindicato, três trabalhadoras interpu-seram acções judiciais, a reclamar que sejam reinte-gradas como efectivas da MFS. A empresa fez cessar os respectivos contratos que mantinha com uma empresa de aluguer de mão-de-obra, na sequência da participação das traba-lhadoras num plenário sin-dical. A ACT já confirmou que o vínculo das visadas deveria ser com a MFS e não com a empresa de tra-balho temporário.

A Moura Fábrica Solar produz painéis solares. Tem sede na cidade de Moura, no distrito de Beja, emprega cerca de 135 pes-soas e pertence ao grupo espanhol Fluitecnik.

MFS impedida de cortar retribuição

A aplicação do lay-off não respeitou a fase de informação e negociação e não apresenta critérios de selecção dos trabalhado-res a abranger, entre mui-tas outras irregularidades. Foi apresentado um «fun-damento», no qual a ad-ministração manipula os indicadores de produção e os resultados financeiros da empresa e do grupo, para simular uma redução de actividade que não se verifica, acusa o sindicato.

No ano passado, a Kemet recebeu 3,5 milhões de euros de apoios do Estado para promover formação profissional e para moder-nização tecnológica que nunca efectuou, para além de ter eliminado 150 pos-tos de trabalho. Registou lucros superiores a dois milhões de euros.

O lay-off selvagem que a Kemet quer aplicar inclui os três delegados sindicais do SIESI e os dois repre-sentantes dos trabalhadores para a SST, eleitos na lista apresentada pelo sindicato.

A solidariedade para com os 30 trabalhadores visados pela administra-ção pode ser expressa, a título individual ou colec-tivo, enviando mensagens de correio electrónico para a directora de recursos humanos ([email protected]) e para a Ke-met Europa ([email protected]), a repudiar o lay-off selvagem e a exigir a anulação da suspensão dos contratos.

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Novembro 20111616

notÍciaS eneRgia

Empresa da Sonae invocou «a crise»

Anulado despedimento

na SMP

O despedimento , intentado em 1 de Agosto, ficou

sem efeito em finais de Se-tembro, numa reunião, no Ministério da Economia e Emprego. Ao longo do pro-cesso, representantes do SIESI denunciaram uma série de irregularidades e requereram a consequente anulação.

Esta posição baseou-se no facto de a empresa não demonstrar objectivamen-te a motivação do despe-dimento, limitando-se a invocar vagamente «a cri-se económica nacional e mundial», o que não cum-pria os requisitos da lei.

A administração da SMP recusou-se a fornecer os in-dicadores solicitados pela Comissão Sindical, incluin-do o relatório único sobre a actividade da empresa em 2010, que permitiria, com um mínimo de objec-tividade, aferir a situação económica e financeira da empresa e a sua evolução no mercado. Procurou as-sim esconder a desneces-sidade do despedimento e as contradições entre o que alegava e a realidade, de-signadamente: a SMP, como nos anos anteriores, teve re-sultados positivos em 2010; no último ano aumentou o quadro do pessoal em cerca de 100 trabalhadores; cerca de 150 trabalhadores (mais

de 40 por cento do pesso-al) estão a termo ou tem-porários, contratados sob o fundamento de fazer face ao aumento excepcional da actividade; na generalidade, estes trabalhadores contra-tados a termo e temporários realizam funções e têm ca-tegorias idênticas às dos tra-balhadores a despedir (téc-nicos de manutenção).

A empresa chegou a ofe-recer mês e meio por ano de trabalho, como indemniza-ção, e manifestou disponi-bilidade para subir aquele valor. Mas os trabalhadores mantiveram-se firmes na exigência de preservação dos postos de trabalho e não desistiram da impug-nação do despedimento.

Os trabalhadores visa-dos laboram na Delegação

de Lisboa (Cabo Ruivo) da SMP – Serviços de Manutenção e Planea-mento, SA, que se dedica a manutenção de centros comerciais e a manutenção industrial. Com sede em Guifões, Gondomar, tem cerca de 340 trabalhadores, a nível nacional. Em Lis-boa, trabalham cerca de 50.

Aqueles cinco trabalha-dores estão integralmente ocupados, como sempre têm estado, e a prestar actividade nos centros co-merciais Dolce Vita e Co-lombo e na rede de giná-sios Solinca. Os seus con-tratos de trabalho determi-nam que o local habitual de trabalho é a delegação da empresa, em Lisboa, e não em nenhum cliente em particular.

Um despedimento colectivo de cinco trabalhadores da SMP, empresa de manutenção do Grupo Sonae, foi abortado em menos de dois meses.

A AutoVision, empresa da Volkswagen Autoeuropa, sempre aplicou aos associa-dos do SITE Sul o CCTV do sector auto-móvel, subscrito pela Fiequimetal, o qual estabelece que o trabalho ao sábado é pago com um acréscimo de 200 por cento.

Sem qualquer comunicação ou acordo com os trabalhadores, em Agosto de 2011 a A-Vision passou a pagar os sábados a 150 por cento e fez constar que, a partir de Outubro de 2012, passará para cem por cento. Alega a empresa que o contrato com a Fiequimetal caducou e que pas-

saria aplicar um outro contrato, no qual estão inscritos valores inferiores para o trabalho ao sábado.

O sindicato decidiu denunciar à ACT esta posição, considerando-a ilegal. A cessação da vigência do CCTV foi comunicada só a uma das organizações sindicais subscrito-ras, pelo que se representa apenas uma re-dução de âmbito. Além disso, a publicação ocorreu em Março de 2010 e a empresa só a pretendeu aplicar em Agosto de 2011, quando os direitos estabelecidos no con-trato passaram a direitos individuais.

Na Tergen, detentora da Operação das Centrais de Ciclo combinado do Riba-tejo e de Lares, foi celebra-do em Junho um Protocolo com a EDP, instituindo um conjunto de melhorias para os trabalhadores, nomea-damente ao nível de subsí-dio de turnos (valores má-ximos e mínimos), férias e subsídio de transporte (in-clusão na remuneração). A empresa comprometeu-se também a encontrar hi-póteses para consagrar a figura de complemento de baixa.

Tal foi possível, salien-ta o SIESI, num esforço conjunto com a Comissão de Trabalhadores e após um trabalho muito pro-fundo, conseguindo-se o envolvimento de todo o pessoal.

O acordo alcançado, na sua essência tem como re-ferência o ACT que vigora no Grupo EDP. E desde já ficou estabelecido que as matérias acordadas e ou-tras que ficaram pendentes serão alvo de nova aprecia-ção, no caso de o ACT do Grupo EDP não ser exten-

sivo a estes trabalhadores no prazo de dois anos.

O sindicato lembra que a Tergen não é mais do que uma empresa que a EDP criou, com o objectivo de criar um quadro de rela-ções de trabalho que con-tornasse o Acordo Colecti-vo de Trabalho do Grupo. Desde sempre o SIESI reclamou a necessidade de integração, e considera que os resultados agora al-cançados de reivindicação e negociação com a EDP são determinantes naquele sentido.

Os visados estavam integralmente ocupados, como sempre, trabalhando nos centros comerciais Colombo e Dolce Vita e na Solinca

A-Vision tem que cumprir

Na Tergen avançou-separa a igualdade

de direitos

A EDP Distribuição, cujas linhas de actuação não se afastam das polí-ticas das outras empresas do Grupo, conhece desde o desmembramento prá-ticas de Recursos Huma-nos que assentam na ten-tativa de desvalorização profissional. Isto passa, na maior parte dos casos, por estagnações das car-reiras, ao mesmo tempo que o conjunto de tare-fas, responsabilidades e exigências vão crescen-do, quer em função das evoluções ocorridas, quer porque aumentou o volu-me de trabalho depois de saídas massivas de traba-lhadores para a reforma e pré-reforma.

Vastas áreas de activi-dade, essenciais para as obrigações de prestação do serviço, incluindo as reguladas, são remetidas para a subcontratação, entregues a «prestadores de serviços», empresas onde prolifera a preca-riedade a todos os níveis, o que tem consequências óbvias na qualidade. Desta forma, a EDP Dis-tribuição dá seguimento e amplitude à política de desvalorização profissio-nal, dado que está a fazer a substituição de postos de trabalho efectivos, do quadro permanente.

Combatendo esta situa-ção, o SIESI tem desenvol-

vido diversos processos, ao nível da reivindicação interna e também com recurso às instâncias ofi-ciais. Foram conseguidas dezenas de passagens do Nível 5 ao 4 e do Nível 4 ao 3, através de decisões inequívocas dos tribunais de primeira instância, muitas delas confirmadas após múltiplos recursos que a EDP tem apresen-tado.

Privilegiando a via do conflito e menosprezando o custo com acções e ga-binetes jurídicos - meios que, ao invés, poderiam ser utilizados para fazer valer as decisões judi-ciais noutras situações semelhantes - a empresa insiste em não promo-ver o reenquadramento de outros trabalhadores

e em negar evidências e factos largamente prova-dos.

Desde Março, as ac-ções continuam a avolu-mar-se e surgem novas situações. Nos Despa-chos sediados em Lis-boa, como noticiámos na última edição, o sin-dicato prepara o proces-so final a entregar, para posterior discussão, à empresa, com a funda-mentação da reivindica-ção. Mas, estranhamen-te, a empresa diz igno-rar que existam novas realidades, uma postura que deixa antever que este processo vai ter um desenvolvimento con-flituoso. Para o SIESI e os trabalhadores, a luta é uma probabilidade já encarada.

EDP Distribuição envereda pelo conflito

Uma forma de desvalorização profissional é a entrega de vastas áreas a empresas subcontratadas (foto EDP)

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Novembro 2011 17

Reflexão sobre «prestadores de serviços» na EDP

Maus exemplos e bons resultados A EDP destaca-se entre as grandes empresas que procuram usar a «prestação de serviços» para aumentarem a exploração dos trabalhadores e aumentarem os lucros dos accionistas.

Na Central de Sines as empresas procuraram diminuir salários e retirar direitos, com a passagem dos serviços para a Zilmo

O caso bem sucedido da luta dos trabalhadores do call-center de Odivelas está presente quando se encara outras situações

eneRgia

O SIESI propõe-se intervir junto das principais

empresas deste uni-verso de «prestadores de serviços», junto da EDP e também junto do Governo, para suscitar uma reflexão sobre este problema. Envolvendo os trabalhadores e pro-curando uma base sus-tentada de apoios, o ob-jectivo é reclamar que sejam plenamente assu-midos os contratos que se consubstanciam como actividades directas e imprescindíveis para o cumprimento das obriga-ções legais e regulamen-tares da EDP e, conse-quentemente, não podem ser consideradas como de prestação de serviços.

A EDP e outras grandes empresas, quando recor-rem a esta prática, tra-tam de substituir postos de trabalho que são efec-tivos, já que decorrem de actividades essen-ciais e permanentes, por trabalho subcontratado, em regime de prestação de serviços, retirando daí proveitos evidentes, nos mecanismos de de-finição dos custos envol-vidos. Ao mesmo tempo, alimentam empresas que vivem da sobre-explora-ção dos trabalhadores, porque pagam salários baixíssimos, não respei-tam os direitos consig-nados nas convenções e, frequentemente, não cumprem sequer o que está previsto na legisla-ção laboral.

Muitas destas activida-des subcontratadas estão instaladas nas empresas, usam meios destas e, em muitos casos, estão sob orientações das hierar-quias da EDP.

A redução de efectivos da EDP é, desta forma, quase nula, pois os tra-balhadores das «pres-tadoras de serviços» desempenham activi-dades antes exercidas por pessoal efectivo da contratante. Há ainda que ter em conta muitos trabalhadores que labo-ram em empresas que pertencem à EDP. Es-

Direitos assegurados nas lojas

Agora chama-se Zilmo

A CRH perdeu, também, os contratos de lojas que tinha com a EDP. As empresas que lhe sucederam não perderam tempo e mostraram que o seu objectivo é sempre o mesmo: ganhar com os trabalhadores o que eventualmente cederam no preço.

As condições que avançaram, na maioria dos casos, eram substancialmente diminuídas, existindo casos de redução de 200 euros em salários que já eram pou-co superiores a 600. Os trabalhadores, já alertados para o processo que se designou como «call-center», mantiveram-se unidos e organizados em torno do sin-dicato, o que permitiu, através de intervenções junto da EDP, assegurar antiguidade, categorias e salários.

Esta situação foi extensiva ao contrato da EDP Valor (Frota).

Na Central Termoeléctrica de Sines, cerca de 70 trabalhadores, ligados a contratos de prestação de serviços que tinham sido adjudicados à EMCB, à Ma-nindústria, à Alstom e à Somague, vol-taram a ser confrontados com mais uma mudança de detentor do contrato com a EDP.

Desta vez, a Zilmo foi a escolhida, ex-cepto para o contrato AVAC, que ficou com a Efacec Serviços e ocupa dois a três trabalhadores. Curiosamente, a EDP op-tou agora pela concentração de contratos.

A cessação dos contratos originou tam-bém situações em que, por deficiências de organização, houve quem fosse pura e simplesmente espoliado de valores que lhe eram devidos.

A intervenção do SIESI junto das empre-sas permitiu encontrar solução para que esta situação não se repetisse novamente, tendo sido assegurados pagamentos num valor superior a 250 mil euros.

Mas, quando se passa para a celebração de contratos com a Zilmo, o processo co-nhece uma profunda confusão. A oito dias do início da actividade da nova prestadora de serviços, não se conhecia a definição das condições contratuais nem o número de postos de trabalho envolvidos.

O objectivo era claro, para o sindicato: contando com apoios internos, ao nível da EDP, e recorrendo à pressão através da ameaça de desemprego, pretendiam reti-rar proveitos nos novos contratos de tra-balho, através da diminuição dos valores das remunerações e outros direitos que vigoravam nas empresas antecessoras.

A resistência e organização nalguns dos sectores evitaram que aquelas intenções se concretizem, demonstrando mais uma vez que só lutando se pode obter resultados.

Nasce, no entanto, um pólo de conflito iminente. O tempo irá demonstrar que prá-ticas «caceteiras» acabam por resultar em prejuízo para quem as pratica ou permite.

tes, como aqueles, estão excluídos da aplicação do Acordo Colectivo de Trabalho.

Em relação aos que in-tegram as empresas do Grupo, foi colocada na mesa negocial uma pro-posta para a sua inclusão, mas a solução está a mos-trar-se complicada, pois a EDP até admitiu aceitar, desde que num cenário de direitos reduzidos a quase zero. Quanto aos prestadores de serviço, tendem a aumentar e a manter ou agravar os vín-culos precários e as con-dições em que prestam a actividade.

Muito falta sabersobre a CRH

A insolvência da CRH, à altura o prestador de serviços à EDP com maior número de traba-lhadores, nunca teve um quadro claro e transpa-rente.

Promessas de manuten-ção dos postos de traba-lho e direitos, corrobora-das pelo administrador da insolvência, consubstan-ciavam o pedido de que os trabalhadores manda-tassem, como represen-tantes dos seus créditos, pessoas ligadas à gestão, para esta conseguir domi-

nar a assembleia de cre-dores.

Créditos que eram virtu-ais, no caso dos adstritos aos contratos com a EDP, pois a CRH negou sem-pre responsabilidades nas cessações de contra-tos e pagamento das res-pectivas compensações e outros direitos. Mais, é o mesmo administrador de insolvência que dias depois das garantias ex-pressas procede a despe-dimentos de trabalhado-res, de uma forma com-pletamente inaceitável, por infundada.

O plano de recuperação, que a assembleia de cre-dores deu sessenta dias para ser apresentado, nunca apareceu, e a si-

tuação evoluiu para o fim da CRH.

Entretanto, consta que está novamente no mer-cado, agora com outro nome e condições acei-tes pela assembleia de credores, entre os quais se incluem a Seguran-ça Social e as Finanças. Fica o passivo para a in-solvência, e tudo começa de novo, até...

Esta situação está ain-da em tratamento pelo SIESI, nomeadamente ao nível das entidades pú-blicas, procurando saber os reais contornos e con-sequências de toda esta situação, que parece ser um imensa confusão, mas talvez não seja assim tão confusa.

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Novembro 201118

Jornal dos trabalhadores das indústrias metalúrgicas, químicas, eléctricas, farmacêutica, celulose, papel, gráfica, imprensa,

energia e minas

N.º 8 • Novembro 2011PropriedadeFiequimetal/CGTP-IN – Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Eléctricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas

SedeRua dos Douradores, 160 - 1100-207 LISBOATelefones: 218818500 e 218818560 • Fax: [email protected] • www.fiequimetal.pt

DirectorJosé Machado

RedacçãoDomingos Mealha

GrafismoJorge Caria

Pré-impressãopré&press, Lda

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Depósito legalN.º 266590/07

Sindicatos filiados na Fiequimetal

SITE Norte – Sindicato dos Trabalhadores das Indús-trias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambien-te do Norte (distritos do Porto, Viana do Castelo, Braga, Vila Real e Bragança)Rua Padre António Vieira, 195 - 4300-031 PORTOTelef.: 225 198 601 • Fax: 225 198 603 Telemóvel: 96 323 23 17Email: [email protected]

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SITE Sul – Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Sul (distritos de Setúbal, Portalegre, Évora, Beja e Faro)Rua Garcia Peres, 26 - 2900-104 SETÚBALTelef.: 265 534 391Fax: 265 534 704 • Telemóvel: 91 776 49 00Email: [email protected] Sítio na Internet: www.sitesul.pt

Sindicato dos Trabalhadores da Indústria MineiraRua dos Douradores, 160 - 1100-027 LISBOATelef.: 218818561Fax: 218 818 555 Email: [email protected]

Sindicato dos Trabalhadores da Metalurgia e Metalomecânica do Distrito de Viana do CasteloAv. D. Afonso III, 28 - 4900-477 V. CASTELO Telef. 258 826 411 • Fax: 258 826 455 Email: [email protected]

Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas Av. Almirante Reis, 74G-4.º - 1150-020 LISBOA Telef: 218 161 590 • Fax: 218 161 639 Email: [email protected]ítio na Internet: www.siesi.pt

Sindicato do Sector de Produção, Transporte e Distri-buição de Energia Eléctrica do Arquipélago da Região Autónoma da Madeira Av. do Mar, 32 - 9050-029 FUNCHALTelef. e Fax: 291 211 454 Email: [email protected] Sítio na Internet: www.steem.pt

STRAMM – Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários e Actividades Metalúrgicas da Madeira Rua Dr. Fernão de Ornelas, 15-2.º - 9050-021 FUNCHALTelef. e Fax: 291 224 860

Aquela iniciativa política da OLP contou com o ex-

presso apoio de 50 or-ganizações portuguesas, entre as quais a CGTP-IN, o SITE Sul e o SIESI – posição que foi tomada em consonância com uma acção permanente, com-prometida e solidária, em prol das justas e legítimas aspirações de liberdade do povo palestino, como sa-lientaram os promotores.

O abaixo-assinado des-te conjunto das organiza-ções foi entregue a 20 de Setembro, na residência oficial do primeiro-minis-tro, por Rui Namorado Ro-sa, presidente do Conselho Português para a Paz e Co-operação, e Carlos Carva-lho, dirigente da CGTP-IN e da Fiequimetal. No do-cumento, apela-se a que o Governo português, «em obediência ao disposto no artigo 7.º da Constituição da República e aos princí-pios consagrados na Carta das Nações Unidas, apoie em todos os fóruns inter-nacionais e, em particular, no Conselho de Seguran-ça e na Assembleia Geral da ONU, o reconhecimen-to do Estado da Palestina

– com fronteiras nos terri-tórios ocupados em 1967, incluindo Jerusalém Leste – como membro de pleno direito da Organização das Nações Unidas».

As organizações apelam ainda «a todos os cidadãos e, em geral, à opinião pú-blica, para que se mobili-zem e se manifestem, de forma comprometida e so-lidária, em apoio às justas e legítimas aspirações de liberdade do povo pales-tino».

Luta justa de décadas

No abaixo-assinado, re-corda-se que há muitas décadas que a legalida-de internacional, expres-sa em resoluções das Na-ções Unidas, reconhece o direito inalienável do povo palestino a viver em liber-dade, dentro das fronteiras de um estado livre e sobe-rano.

Em 1988, a Organiza-ção de Libertação da Pa-lestina proclamou a inde-pendência de um Estado da Palestina nos territó-rios ocupados por Israel na guerra de 1967, a Mar-gem Ocidental do rio Jor-

dão, incluindo Jerusalém Oriental, e a Faixa de Ga-za, no espírito das resolu-ções 242 e 338 do Conse-lho de Segurança da ONU.

Dezoito anos decorri-dos sobre a assinatura dos acordos de Oslo, aque-la legítima aspiração con-tinua por cumprir e Isra-el persiste em desafiar a legalidade internacional. Dia após dia, o povo pa-lestino enfrenta a violenta ocupação dos seus territó-rios, a contínua expansão dos colonatos (que o Direi-to internacional conside-

ra ilegais e ilegítimos), a construção do muro de se-gregação (condenado pelo Tribunal Internacional de Haia) e o bloqueio impos-to sobre a Faixa de Gaza.

Entre as organizações portuguesas que apoia-ram a iniciativa palestina estão ainda a Interjovem, o MURPI, a Associação de Agricultores do Dis-trito de Lisboa, a Asso-ciação Intervenção De-mocrática, a Associação Iniciativa Jovem e a Asso-ciação Juvenil e Cultural Hey Pachuco, a Associa-ção Opus Gay, a Associa-ção Portuguesa de Defi-cientes, a Associação de Reencontro de Emigran-tes, a Confederação Por-tuguesa das Colectivida-des de Cultura, Recreio e Desporto, o Movimento de Utentes dos Serviços Pú-blicos, o Movimento De-mocrático de Mulheres, o Movimento pelos Direi-tos do Povo Palestino e pe-la Paz no Médio Oriente, o PCP e o PEV, a Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque, a União dos Resistentes An-tifascistas Portugueses, a Universidade Popular do Porto.

Com a Palestina na ONUA Organização de Libertação da Palestina requereu, no dia 23 de Setembro, o reconhecimento do Estado palestiniano como membro de pleno direito das Nações Unidas, que aguarda decisão do Conselho de Segurança da ONU.

HORIZONTAIS: 1 - Instrumento que mede di-ferenças de potencial eléctri-co; italiano (abrev.). 2 - Cento e um em numeração romana; traje da mulher indiana. 3 - Padiola para transporte de do-entes; acreditaram. 4 - Nome genérico de compostos resul-tantes da reacção de um álcool com um aldeído; grito aflitivo. 5 - Rádio (s. q.); aquele a quem se deve uma obra literá-ria, científica ou artística; clo-ro (s. q.). 6 - Fileira; que tem duas fases. 7 - Miliampere (s. fís.); outra coisa; anno domini (abrev.). 8 - Sobre; o m. q. lí-rio; Instituto de Meteorologia (abrev.); exprime a ideia de boca. 9 - Extremamente páli-do; emitir som. 10 - Socieda-de Anónima (abrev.); pulem. 11 - Certamente; designa al-ternativa; banto ou bantu. 12 - Planta aromática, lenhosa na base, pertencente à família das Labiadas, espontânea nos lugares secos do Centro e do Sul de Portugal; símbolo de mililitro. 13 - Máquina equi-pada com fresas utilizada para desbastar, entalhar ou perfu-rar metais, madeiras ou solo. 14 - Parte anterior do tronco, entre o pescoço e o abdómen e que contém os pulmões e o

coração. 15 - Gerador síncrono de corrente eléctrica alternada; avançar.

VERTICAIS: 1 - Foi o pioneiro do uso de pro-dutos químicos e de minerais na Medicina. 2 - Partícula afir-mativa do dialecto provençal; óxido de cálcio; geme (gír.); que

não está escrito. 3 - Desbaste com a lima; amerício (s. q.). 4 - Amarro; aplanais. 5 - Subs-tância que se põe no anzol para engodo dos peixes; partidas; rio da Suíça. 6 - Içai por um cabo; estrela; parte mais profunda da psique. 7 - Ditongo oral; peixe também chamado rato; o m. q. tábula. 8 - Alteração (geral-

mente, aumento) da velocidade de uma reacção química por ac-ção de uma substância própria (catalisador); o espaço aéreo. 9 - Curso de água natural (pl.); re-presentação dramática por meio de mímica; timão do arado. 10 - Glícido simples, não hidrolisá-vel; órgão excretor; a unidade; érbio (s. q.). 11 - Altar cristão; além disso; pequeno poema da Idade Média, narrativo ou lírico, em versos octossilábicos. 12 - Cólera; depurar; planta liliácea da China. 13 - Fenol que se extrai da essência do tomilho e é empregado como anti-séptico e anti-helmíntico; interruptor automático para quando a cor-rente eléctrica ultrapassa certa intensidade.

SOLUÇÃO:HORIZONTAIS: 1 - Voltímetro; it. 2 - CI; sari. 3 - Maca; creram. 4 - Acetal; ai. 5 - Ra; autor; Cl. 6 - Ala; difásico. 7 - MA; al; AD. 8 - Em; lis; IM; ori. 9 - Lívido; soar. 10 - SA; saltem. 11 - Mas; ou; tu. 12 - Iva; ml. 13 - Fresadora. 14 - Peito. 15 - Alternador; ir.

VERTICAIS: 1 - Paracelso. 2 - Oc; cal; mia; oral. 3 - Lime; Am. 4 - Ato; alisais. 5 - Isca; idas; Aar. 6 - Alai; Sol; id. 7 - Ei; ufa; távola. 8 - Catálise; ar. 9 - Rios; momo; apo. 10 - Ose; rim; um; Er. 11 - Ara; ora; lai. 12 - Ira; coar; ti. 13 - Timol; disjuntor.

inteRnacional

A bandeira do Estado palestiniano tem todo o direito a ser desfraldada na ONU

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Novembro 2011 19

Ela é o reflexo da ofensiva ideo-lógica da burguesia ultraliberal não só contra a ideia de traba-

lho, mas também contra o próprio «di-reito ao trabalho», conquista histórica do movimento operário, cuja luta re-monta ao século XIX e transbordou até meados do século XX, quando o traba-lho se impôs como princípio da civili-zação socialista, tal como a liberdade tinha sido para a civilização burguesa e capitalista(1).

Oriunda do latim (tripallium, nome de um instrumento com que se cas-tigavam os escravos no Império Romano), a palavra trabalho so-mente a partir do século XVI começou a ter o conteúdo que hoje lhe atribuímos. Ela encer-ra em si os dois termos mais em voga na Idade Média: o labor e a obra. Mas da sua origem con-serva ainda durante muito tem-po a noção de “esforço peno-so”. Por isso, até ao século XIX a ideia de trabalho traz em si a ideia de maldição, que a pró-pria Bíblia confirma, ao dizer que “ganharás o pão com o suor do teu rosto”.

A primeira revolução indus-trial foi acompanhada de um cortejo de misérias, de sofri-mentos e de lutos. Era uma época de grande agitação so-cial, a qual assentava no con-flito aberto entre o capital e o trabalho. Por toda a parte o li-beralismo económico e político ditava as suas leis, e a indus-trialização fazia as suas vítimas. Reduzida a simples mercadoria, a for-ça de trabalho depreciava-se cada vez mais. Massas de homens, mulheres e crianças abandonavam os campos para se amontoarem nas cidades industriais e mineiras, vivendo em condições mi-seráveis. Por isso, a «questão social» torna-se na questão fundamental da so-ciedade.

Esta situação criou as condições pa-ra que os teóricos socialistas criticas-sem o regime político e social vigente, o capitalismo e a sociedade em geral(2). É então que esses mesmos socialis-tas (e não só eles) procedem a uma to-tal reabilitação do trabalho. Saint-Si-mon celebriza o produtor (o operário) e despreza o militar. Fourier diz que o homem é, por natureza, criador activo. Proudhon declara a unidade do traba-lho, afirmando que o homem revela a sua coragem mais pelo trabalho do que pela guerra. Marx proclama que o ho-mem, através do trabalho, ultrapassa a ordem natural para criar uma ordem humana. Antero de Quental conside-ra o trabalho como a única base de va-lor. Para todos eles, na sociedade futu-ra, o trabalho deixará de ser um meio de subsistência, para passar a ser a pri-meira necessidade vital.

Com a revolução francesa de 1848, a fórmula revolucionária de um século an-tes, liberdade de trabalho, foi substi-tuída pela fórmula revolucionária de di-reito ao trabalho. Um longo caminho foi percorrido desde então, até que esse direito fosse reconhecido pelos gover-nantes e passasse a fazer parte das leis fundamentais, como a Constituição Po-lítica. É esse direito que se encontra ho-je ameaçado pelo capitalismo selvagem, inaugurado pelo chamado neoliberalis-mo, mas que, na realidade, não passa de um ultraliberalismo.

Do Ministério do Trabalhoao Ministério do Emprego

Em 1916, quando se preparava para participar na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o governo republicano, presidido por António José de Almei-da, criou o Ministério do Trabalho, sen-do seu primeiro titular António Maria da Silva. Era a primeira vez que tal acontecia em Portugal. Com esta me-dida, o governo republicano pretendia captar a simpatia e o apoio do movi-mento operário para a sua política be-licista, sabendo que tal ministério era uma reivindicação do operariado orga-

nizado. Mas este não foi no engodo. E o movimento operário opôs-se tenazmen-te à entrada do País na guerra. Deste modo, o Ministério do Trabalho foi ex-tinto em 1925, e os assuntos do mundo do trabalho passaram para o Ministério do Interior.

Com a instauração do regime fascis-ta, institucionalizado em 1933 como Estado Novo ou regime corporativo ao serviço do capital, surge a Subsecreta-ria de Estado das Corporações e Pre-vidência Social, ocupada por um dos ideólogos do regime, Pedro Teotónio Pereira. Em 1950 esta Subsecretaria passou a Ministério das Corporações e Previdência Social, sendo seu primei-ro titular Henrique Veiga de Macedo. Em 1973, já sob o governo de Marce-lo Caetano, o ministério passou a cha-mar-se Ministério das Corporações e Segurança Social. Do Trabalho… na-da!

Logo após o golpe de Estado militar de 25 de Abril de 1974, que derrubou a ditadura fascista, os sindicalistas da Intersindical ocuparam as instalações desse ministério, na Praça de Londres, baptizando-o de Ministério do Traba-lho, o que veio a ser confirmado quer pelos governos provisórios, quer pelos

governos constitucionais. As-sim, sete décadas depois, sur-gia de novo em Portugal o Mi-nistério do Trabalho.

Com a chegada do PSD/Ca-vaco Silva ao poder, em 1987, o Ministério do Trabalho deu lugar ao Ministério do Em-prego. Também aqui a troca não é apenas de palavras. Ela é parte integrante da ofensi-va ideológica contra o traba-lho, a favor do capital. Por is-so, os ideólogos burgueses e seus apaniguados e lacaios falam cada vez mais de em-presários e empregadores, e menos de patronato e patrões. Eles sonham, assim, negar as lutas sociais que sempre opu-seram os explorados aos ex-ploradores.

Agora, com o Governo PSD/CDS, chefiado por Passos Co-elho, de novo o Ministério do Trabalho desapareceu. E o seu

substituto, o Ministério do Emprego, foi diluído no super Ministério da Econo-mia. Mais uma vez, a Direita portuguesa revela o seu ódio a tudo o que diga res-peito ao trabalho. E, não satisfeita com isso, prepara-se para satisfazer as mais velhas e históricas ambições do capita-lismo: o aumento da jornada do trabalho e a diminuição dos salários. Isto é, as grandes conquistas operárias consegui-das ao longo da sua história, após por-fiadas lutas.

Mais uma vez, a classe operária e to-dos os trabalhadores são chamados a lu-tar pela sua sobrevivência. Dessa lu-ta faz parte a revalorização do trabalho, base da actividade social do homem. O trabalho é a fonte de toda a riqueza. Não há riqueza sem trabalho. Por isso, é necessário recentrar na agenda polí-tica as questões do mundo do trabalho, as quais devem ser tratadas, ao nível go-vernamental, por um Ministério do Tra-balho e não do Emprego.

Notas (1) Georges Lefranc, História do Trabalho e dos Trabalha-

dores, Lisboa, Europress, s.d., p. 10.(2) Claude Fohlen, O Trabalho no Século XIX, Lisboa, Es-

túdios Cor, 1974, p. 137.

É preciso revalorizar o trabalho

hiStóRia

FRanciSco canaiS RochaHistoriador

Durante muito tempo, quem precisava de trabalhar procurava trabalho. Hoje procura emprego. Esta alteração não se resume a uma simples mudança de palavras.

Manifestação em Lisboa, a 19 de Novembro de 1977, contra a degradação da situação económica, social e política

base da actividade social do homem

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Novembro 201120

Luta justa de todos os trabalhadores

actual

Estamos na greve geralContra a exploração e o empobrecimento, por um País desenvolvido e soberano, por emprego, salários, direitos e pelos serviços públicos, a CGTP-IN convocou greve geral para 24 de Novembro. As trabalhadoras e os trabalhadores dos sectores da Fiequimetal têm motivos de sobra para aderirem em força a esta grande jornada de luta.

Quando, em mea-dos de Outubro, o Conselho Nacional

da CGTP-IN decidiu con-vocar a greve geral, tinham sido anunciadas pelo Go-verno mais medidas, que se foram acumulando até à apresentação formal da proposta de Orçamento do Estado. A central avi-sou que estávamos peran-te «um novo e agravado programa de austeridade, sem paralelo desde o 25 de Abril».

Referia o Conselho Na-cional, na resolução de 19 de Outubro, que «o novo pacote de austeridade não significa apenas a recessão económica, o empobre-cimento generalizado da população e o aumento do desemprego», mas «repre-senta um ataque brutal à democracia e também um recuo civilizacional, que põe em causa princípios basilares de estruturação social e direitos e garantias fundamentais, consagra-dos na Constituição». E defendia que «o País não pode responder a proble-mas económicos e sociais

reais, nem tem futuro, com uma política que subordi-na os interesses nacionais ao capital nacional e mul-tinacional e à estratégia das grandes potências eu-ropeias».

O retrato nacional ajusta-se à situação nos sectores abrangidos pela Fiequime-tal. Na resolução estão es-pelhadas as razões de des-contentamento, de protesto e de luta que surgem no dia-a-dia de quem traba-lha nas indústrias, nas mi-nas, na energia, nas águas. A ofensiva do patronato e do seu Governo acaba por atingir a grande maioria das portuguesas e dos por-tugueses, sejam trabalha-dores no sector público ou em empresas privadas, se-jam reformados ou desem-pregados, alunos e pais, utentes ou profissionais da saúde, motoristas ou pas-sageiros, agricultores ou consumidores, do Norte, do Sul ou das Ilhas.

Crise tem causas

Como lembra a CGTP-IN, «foram as políticas

seguidas por sucessivos governos que levaram às perdas de competitivi-dade da economia por-tuguesa; à liquidação de parte do nosso tecido produtivo; a contratos de-sastrosos para o Estado no âmbito das parcerias público-privadas; ao bu-raco do BPN, que poderá consumir três mil milhões de euros; à não canaliza-ção do crédito ao sector produtivo; à falta de efi-ciência e baixa produtivi-dade de muitas empresas; à corrupção, à fraude e evasão fiscais e à econo-mia clandestina».

Na execução desta po-lítica, a responsabilidade pertence a esses governos e também ao actual, que a prossegue e agrava, ani-mado pelo «entendimento» que a troika dos credores impôs e que em Maio foi submissamente aceite pelo Governo do PS, pelo PSD e pelo CDS.

Agora, acusa a central, «estamos perante um pro-grama de agressão aos trabalhadores, ao povo e ao País», com medidas «desastrosas», que vão gerar «um ciclo destru-tivo de austeridade, de mais recessão e aumento

da dívida, a exemplo do que aconteceu na Gré-cia».

«Em defesa dos direitos e dos interesses de quem trabalha, mas também pelo futuro de Portugal», a CGTP-IN afirma que «tudo fará para combater o roubo do subsídio de Natal de todos os trabalhadores em 2011, e dos subsídios de Natal e de férias dos trabalhadores da Adminis-tração Pública e do sector empresarial do Estado, as-sim como dos pensionistas em geral, anunciado para os próximo dois anos, os cortes nos salários, o agra-

vamento dos impostos, a diminuição do valor e do poder de compra das pen-sões, a redução do subsí-dio de desemprego e a eli-minação do abono de famí-lia e do rendimento social de inserção a milhares de famílias».

Neste combate estivemos ao longo do ano (como se recorda na pág. 3). Nesta luta, muitos estão disponí-veis para tomar lugar ao nos-so lado, como se confirmou nas inúmeras acções que tiveram lugar na semana de luta de 20 a 28 de Outubro. Vamos estar em força na gre-ve geral!

Cada vez mais, é preciso ganhar para o combate todos aqueles que são vítimas desta política, que beneficia apenas uma mão-cheia de privilegiados, à custa da riqueza criada pelo trabalho de milhões