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Otra Economía, 8(15):128-140, julio-diciembre 2014 © 2014 by Unisinos - doi: 10.4013/otra.2014.815.02 Resumo. O presente ensaio tem por nalidade dis- cutir a solidariedade nas cooperativas. Para isso, foram analisados primeiramente alguns aspectos da Economia Popular e Solidária. Em seguida, é apresentada uma breve consideração sobre coope- rativismo. Posteriormente, discute-se a construção da economia solidária e da solidariedade nas coo- perativas por meio da igualdade e lealdade entre os agentes. Compreendeu-se, por meio do estudo, que a lealdade é fundamental à sobrevivência, não somente da cooperativa ou do empreendimento solidário em si, mas é basilar à sobrevivência dos ideais de cooperação, coletividade e solidariedade. O maior desao não é o de erguer um empreendi- mento solidário, mas mantê-lo solidário diante das exigências do mercado em que se insere. Palavras-chave: Economia Popular e Solidária, coo- perativas, cooperativismo. Abstract. This essay aims to discuss solidarity in the cooperatives. For this, we rst analyze aspects of the Solidarity Economy. Then we present a brief con- sideration about cooperativism. Later we discuss the construction of the solidarity economy and of solidarity in cooperatives through equality and fair- ness among its agents. We understand, through this study, that loyalty is the key to survival, not only of the cooperative or the solidarity enterprise itself, but it is fundamental for the survival of the ideals of cooperation, solidarity and collectivity. The biggest challenge is not to build a solidarity enterprise, but to keep solidarity vis-à-vis the requirements of the market in which it is located. Keywords: Solidarity Economy, cooperatives, coo- perativism. A solidariedade na economia e a Economia Solidária das cooperativas Solidarity in the economy and the solidarity economy of cooperatives Vinícius Ferreira Baptista 1 [email protected] 1 Administrador. Doutorando em Políticas Públicas e Formação Humana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor Assistente do Departamento de Ciências Administrativas e Contábeis da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Rodovia BR 465, Km 7, DCAC/ICSA, 23890-000, Seropédica, RJ, Brasil. Introdução Uma Economia Popular e Solidária, ou a solidariedade na economia, só pode ser em- preendida sobre bases igualitárias pelos que se associam para produzir, comerciar ou poupar, o que Paul Singer (2002) denomina associação entre iguais em vez do contrato entre desi- guais. O autor entende que, se toda economia fosse solidária, a desigualdade seria menor. Ainda assim, Singer contextualiza que, mesmo se as cooperativas colaborarem entre si, a competitividade faria surgir cooperativas melhores e outras piores, em função de vários aspectos (habilidade, capacidade, recursos, etc.), e também inclinações das pessoas que as compõem. Isso exigiria a intervenção do Esta- do para a igualação periódica das vantagens e desvantagens evitando situações cumulativas e para que se “redistribua dinheiro dos ganhado- res aos perdedores, usando para isso impostos e subsídios e/ou crédito” (Singer, 2002, p. 10). A Economia Popular e Solidária, segundo Singer (2002), é um “modo de produção”, com

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O presente ensaio tem por finalidade discutir a solidariedade nas cooperativas. Para isso, foram analisados primeiramente alguns aspectos da Economia Popular e Solidária. Em seguida, é apresentada uma breve consideração sobre cooperativismo. Posteriormente, discute-se a construção da economia solidária e da solidariedade nas cooperativas por meio da igualdade e lealdade entre os agentes. Compreendeu-se, por meio do estudo, que a lealdade é fundamental à sobrevivência, não somente da cooperativa ou do empreendimento solidário em si, mas é basilar à sobrevivência dos ideais de cooperação, coletividade e solidariedade. O maior desafio não é o de erguer um empreendimento solidário, mas mantê-lo solidário diante das exigências do mercado em que se insere.

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  • Otra Economa, 8(15):128-140, julio-diciembre 2014 2014 by Unisinos - doi: 10.4013/otra.2014.815.02

    Resumo. O presente ensaio tem por fi nalidade dis-cutir a solidariedade nas cooperativas. Para isso, foram analisados primeiramente alguns aspectos da Economia Popular e Solidria. Em seguida, apresentada uma breve considerao sobre coope-rativismo. Posteriormente, discute-se a construo da economia solidria e da solidariedade nas coo-perativas por meio da igualdade e lealdade entre os agentes. Compreendeu-se, por meio do estudo, que a lealdade fundamental sobrevivncia, no somente da cooperativa ou do empreendimento solidrio em si, mas basilar sobrevivncia dos ideais de cooperao, coletividade e solidariedade. O maior desafi o no o de erguer um empreendi-mento solidrio, mas mant-lo solidrio diante das exigncias do mercado em que se insere.

    Palavras-chave: Economia Popular e Solidria, coo-perativas, cooperativismo.

    Abstract. This essay aims to discuss solidarity in the cooperatives. For this, we fi rst analyze aspects of the Solidarity Economy. Then we present a brief con-sideration about cooperativism. Later we discuss the construction of the solidarity economy and of solidarity in cooperatives through equality and fair-ness among its agents. We understand, through this study, that loyalty is the key to survival, not only of the cooperative or the solidarity enterprise itself, but it is fundamental for the survival of the ideals of cooperation, solidarity and collectivity. The biggest challenge is not to build a solidarity enterprise, but to keep solidarity vis--vis the requirements of the market in which it is located.

    Keywords: Solidarity Economy, cooperatives, coo-perativism.

    A solidariedade na economia e a Economia Solidria das cooperativas

    Solidarity in the economy and the solidarity economy of cooperatives

    Vincius Ferreira [email protected]

    1 Administrador. Doutorando em Polticas Pblicas e Formao Humana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor Assistente do Departamento de Cincias Administrativas e Contbeis da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Rodovia BR 465, Km 7, DCAC/ICSA, 23890-000, Seropdica, RJ, Brasil.

    Introduo

    Uma Economia Popular e Solidria, ou a solidariedade na economia, s pode ser em-preendida sobre bases igualitrias pelos que se associam para produzir, comerciar ou poupar, o que Paul Singer (2002) denomina associao entre iguais em vez do contrato entre desi-guais. O autor entende que, se toda economia fosse solidria, a desigualdade seria menor.

    Ainda assim, Singer contextualiza que, mesmo se as cooperativas colaborarem entre

    si, a competitividade faria surgir cooperativas melhores e outras piores, em funo de vrios aspectos (habilidade, capacidade, recursos, etc.), e tambm inclinaes das pessoas que as compem. Isso exigiria a interveno do Esta-do para a igualao peridica das vantagens e desvantagens evitando situaes cumulativas e para que se redistribua dinheiro dos ganhado-res aos perdedores, usando para isso impostos e subsdios e/ou crdito (Singer, 2002, p. 10).

    A Economia Popular e Solidria, segundo Singer (2002), um modo de produo, com

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    Vincius Ferreira Baptista

    base na propriedade coletiva ou associada do capital e o direito liberdade individual. O re-sultado a solidariedade e a igualdade. Mas, para sua reproduo, exige mecanismos estatais de redistribuio solidria de renda. Barbosa (2007) faz um contraponto a essa defi nio de Economia Popular e Solidria como modo de produo; para ela, a economia solidria no seria um modo de produo diferente, mas apresenta um modo de produzir diferente, pois entend-la como modo de produo dife-rente seria uma ideao incipiente e que s pode ser compreendida como totalidade. Para a auto-ra, o capital uma totalidade que se movimenta em busca de maior acumulao por diferentes mediaes histricas que fazem parte e que no so deixadas de lado na economia solidria.

    Breve considerao sobre o cooperativismo

    A origem do cooperativismo atribuda experincia de operrios do bairro Rochdale, localizado na cidade de Manchester, na Ingla-terra, a qual vivia o auge da Revoluo Indus-trial. Um grupo de 28 teceles inspirados nas ideias de Charles Fourier e Robert Owen sobre uma sociedade sem confl itos ou desigualda-des criou, em 1844, a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, por meio de um fun-do constitudo pela economia mensal de cada participante.

    Segundo Simioni et al., os teceles bus-cavam uma alternativa econmica que lhes permitisse sobreviver naquela nova realidade, criando uma cooperativa de consumo, a fi m de evitarem as especulaes dos intermedi-rios. Surgiu a constituio do Armazm de Rochdale, que comeou a mudar os padres econmicos da poca, dando origem ao que se conhece como movimento cooperativista (Si-mioni et al., 2009, p. 742).

    No Brasil, o marco inicial das cooperativas remonta fundao da Colnia Teresa Cris-tina, em 1847, no estado do Paran, institu-da pelo mdico francs Jean Maurice Faivre. A iniciativa durou pouco tempo, devido falta de ambincia poltica e econmica fa-vorvel. medida que imigrantes europeus chegaram s lavouras do Sul do Brasil, j no fi nal do sculo XIX, o quadro mudou. As pri-meiras cooperativas criadas foram as agrcolas e as de consumo, posteriormente as de crdito. A Constituio de 1891 viabilizaria a implan-tao de cooperativas e consolidaria o movi-mento no Pas (Simioni et al., 2009).

    no contexto da dcada de 1990 que se observa a ampliao de experincias de econo-mia popular e solidria na Amrica Latina e no Brasil; contudo, embora a maioria dos empre-endimentos tenha surgido ou ganhado impul-so na conjuntura dos anos 90, h experincias mais antigas que apontam para uma diversi-dade de demandas e de interesses, temporais e espaciais (Santos e Deluiz, 2009, p. 332).

    A Economia Popular e Solidria

    Santos e Deluiz situam que a crise do tra-balho que vem incidindo sobre os pases pe-rifricos, nas ltimas dcadas, surge como consequncia de dois processos estruturais de evoluo do capitalismo, no caso, o de avanos na modernizao dos processos pro-dutivos e dos mercados nos pases centrais e o de confi gurao do Estado, este que, com suas crises fi scais, acompanhadas da ausncia de polticas pblicas sociais, tem reorganiza-do a sua agenda social (Santos e Deluiz, 2009, p. 330).

    Silva e Oliveira tambm compartilham de tal anlise da conjuntura, ao destacarem que as transformaes ocorridas no mundo do trabalho nas dcadas de 1970 e 1980 afeta-ram negativamente muitos trabalhadores. Tais transformaes compreendem aspectos como a crise do antigo modelo fordista-taylorista de produo, as inovaes tecnolgicas e no-vas formas de gesto da produo que redu-ziram a necessidade de mo de obra e/ou possibilitaram a transferncia das unidades produtivas para locais que oferecessem cus-tos produtivos mais baixos. As consequncias dessas transformaes vieram sob a forma de crescente desemprego, aumento das desigual-dades sociais e de concentrao de renda, au-mento da pobreza e enfraquecimento de insti-tuies representativas de trabalhadores (Silva e Oliveira, 2009, p. 60).

    A questo do trabalho assumiu propores que vo alm da mera questo econmica. Perpassam aspectos que vo desde a reconfi -gurao da ao estatal, por meio das polticas sociais, e chegam at a mobilizao dos movi-mentos sociais, que demandam, por meio da participao ativa, aes voltadas ao trabalho.

    Os autores anteriormente destacados si-tuam, quanto modernizao da produo e dos mercados, que as mudanas tecnolgi-cas e a reestruturao dos mercados interna-cionais atingiram especialmente a Amrica Latina, o que acentuou o esgotamento da

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    A solidariedade na economia e a Economia Solidria das cooperativas

    absoro da fora de trabalho; concomitan-temente, ampliaria o acesso satisfao das necessidades e aspiraes de determinados segmentos da populao (Santos e Deluiz, 2009, p. 330). Desta forma, determinados gru-pos sociais foram postos margem dessas mudanas, estando parte de condies de vida minimamente satisfatrias, em relao outros grupos sociais.

    As origens da excluso social, para Rosa et al., remontam ao advento da sociedade mo-derna e suas consequncias, as quais seriam o rpido e desordenado processo de urbani-zao, a inadaptao e uniformizao do sis-tema escolar, o desenraizamento causado pela mobilidade profi ssional e as desigualdades de renda e de acesso aos servios, que, alia-das ao fi m do Estado-providncia, foram de-terminantes neste processo (Rosa et al., 2006, p. 259). Este fi m do Estado-providencia aponta-do por Rosa refere-se ao implantado na Europa.

    Quanto ao segundo aspecto, o de confi gu-rao do Estado, Santos e Deluiz destacam que se tem a realidade de um Estado que no tem conseguido assegurar, de forma efetiva e per-manente, recursos e servios voltados para o interesse pblico, alm de possuir polticas sociais que vm sendo efetivadas, em gran-de medida, pelas aes do mercado, atravs da privatizao dos servios e da constituio de um setor pblico no estatal, onde atuam vrias organizaes, entre elas as organizaes no governamentais (ONGs) (Santos e De-luiz, 2009, p. 330).

    Para os autores, esses dois processos con-fi guram um dualismo estrutural em que so afetadas a economia e a vida cotidiana dos sujeitos. O conjunto da economia est organi-zado segundo a lgica do capital e de sua acu-mulao; alm disso, os interesses na socie-dade permeiam um sistema hegemonizado pelos interesses do capitalismo internacionali-zado. Por outro lado, o conjunto da economia est tambm orientado pela lgica do trabalho e de sua reproduo ampliada, que confron-ta essa hegemonia e afi rma a primazia dos interesses do conjunto dos trabalhadores e de suas mltiplas identidades e agrupamentos (Santos e Deluiz, 2009, p. 330).

    Na medida em que h excluso social, o excludo aquele que no exerce sua cidada-nia e visto como um subcidado que fl utua ao sabor da estrutura social, sendo incapaz de reagir s suas instituies, estando assim pre-so a condies de vida por vezes subumanas (Rosa et al., 2006, p. 259-260).

    Desta forma, a excluso social compreende um processo dinmico de desintegrao social em que h uma situao de privao coleti-va, na qual indivduos ou grupos so levados margem das diversas relaes econmicas, sociais, polticas e culturais de uma dada so-ciedade, o que inclui tambm o compartilha-mento de um estado de pobreza, de discrimi-nao, de subalternidade, de no equidade, de no acessibilidade e de no representao p-blica (Wanderley in Rosa et al., 2006, p. 260).

    Neste sentido, o capitalismo reduziria a condies mnimas a capacidade de igualda-de entre diferentes grupos sociais, acentuan-do as diferenas entre grupos, determinando relaes sociais de desigualdade no acesso participao poltica e social, alm de manter uma lgica econmica excludente. Visando ir contra tal corrente, surgem alternativas que vi-sam reconfi gurar aspectos da produo e dos mercados. Entre estas alternativas est a Eco-nomia Popular e Solidria.

    A Economia Popular e Solidria o re-sultado de experincias, atividades e iniciati-vas que, estando deslocadas dos dois sistemas formais de destinao de recursos mercado e Estado , precisam organizar e garantir cami-nhos de subsistir, uma vez que no esto in-trinsecamente associadas e expostas s falhas dos mesmos e precisam garantir a satisfao de suas necessidades econmicas. Tal garan-tia se daria por meio da utilizao da fora de trabalho e dos recursos disponveis dos setores populares nas suas atividades econmicas e prticas sociais (Santos e Deluiz, 2009, p. 330).

    A Economia Popular e Solidria se expres-saria de diferentes formas; contudo, no se con-fi gura como um modo de produo diferente, mas um modo de produzir diverso, como aponta-do na introduo por Barbosa (2007). A Econo-mia Popular e Solidria um modo de produzir no associado exclusivamente ao provimento de bens e servios, mas tambm condicionado reorganizao de prticas sociais com vistas prpria maneira de se produzir.

    Para Santos e Deluiz, nessa economia, as formas de produzir, distribuir recursos e bens, consumir e se desenvolver ocorrem atravs de caractersticas prprias, consideradas como alternativas ao modo de produo capitalista hegemnico. Os autores a destacam por pos-suir uma racionalidade especial, uma vez que implica mudanas comportamentais, sociais e pessoais na organizao da produo e das empresas, assim como nas formas de con-sumo e acumulao, mas notadamente na

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    Vincius Ferreira Baptista

    destinao de recursos e distribuio de bens e servios produzidos (Santos e Deluiz, 2009, p. 330-331).

    Singer (2003, in Santos e Deluiz, 2009) carac-teriza essa economia como o arranjo de produ-tores, consumidores e poupadores que se dife-rencia por duas especifi cidades: o estmulo solidariedade entre os membros integrantes por meio da prtica da autogesto e prtica da soli-dariedade para com a populao trabalhadora em geral, com destaque aos mais desfavoreci-dos, sendo a cooperativa uma das formas mais comuns desta espcie de empreendimento.

    A Economia Popular e Solidria, ainda se-gundo Singer (2002), surgiu para maximizar a quantidade e qualidade do trabalho em vez do lucro; uma empresa de trabalhadores que so, secundariamente, os seus proprietrios. O prprio autor j situava que a reinveno dessa economia se fundamenta na tese de que as contradies do capitalismo criam oportu-nidades de desenvolvimento de organizaes econmicas de lgica oposta s suas prprias, concluindo que

    cumpre observar, no entanto, que a reinveno da economia solidria no se deve apenas aos prprios desempregados e marginalizados. Ela obra tambm de inmeras entidades ligadas, ao menos no Brasil, principalmente Igreja Cat-lica e outras igrejas, sindicatos e universidades. So entidades de apoio economia solidria, que difundem, entre os trabalhadores sem trabalho e microprodutores sem clientes, os princpios do cooperativismo e conhecimento bsico criao de empreendimentos solidrios (Singer, 2002, p. 112).

    As cooperativas e a construo da Economia Popular e Solidria por meio da solidariedade: como trazer a igualdade e mant-la?

    Durante a dcada de 1990, no Brasil, co-mea a circular uma nova concepo de coo-perativismo associada economia solidria. Esta teria como objetivo, alm de oferecer uma alternativa de trabalho e renda, construir um modelo econmico baseado na relao entre iguais, atravs da eliminao das desigual-dades e da explorao do trabalho fundadas em relaes de propriedade (Silva e Oliveira, 2009, p. 60).

    As cooperativas surgiriam como proposta alternativa ao modelo de trabalho prevale-cente na sociedade moderna, a qual, extrema-

    mente exigente e complexa, acaba por excluir grande medida da fora de trabalho. Por outro lado, no se deve ter em mente o infundado pensamento de que as cooperativas so alter-nativas ao desemprego. Como destacado por Conceio, torna-se injusto culpar as pesso-as desempregadas e, hoje, trabalhando [...] em sistemas de cooperativismo. [...] a prpria criao de cooperativa no uma alternati-va ao desemprego (Conceio, 2003, p. 184). O autor vai alm:

    Cabe lembrar que, at pouco tempo atrs, a cria-o de postos de trabalho era uma responsabili-dade coletiva, do governo, empresrios, e essa responsabilidade, agora, foi transferida para o indivduo, como se no houvesse obstculos de toda ordem: sociais, econmicos, histricos e cul-turais, aportes fundentes universais e seculares deste entorno (Conceio, 2003, p. 184).

    As cooperativas surgem em um cenrio em que prevalecem as desigualdades nos mais diversos aspectos e que impactam na prpria forma de associao entre as pessoas. Entre os que esto margem h desigualdades, uma vez que os mesmos so levados situao de explorao econmica, social e poltica por parte de outros, ou seja, entre os desiguais h desigualdade. As relaes sociais so dspares, e este o desafi o dos sistemas cooperativis-tas: iniciar as bases pautadas pela igualdade e mant-las posteriormente.

    Uma cooperativa que funciona sob os pre-ceitos da economia solidria deve primar pelas relaes simtricas entre os seus associados; tal medida poderia ser alcanada por meio da implantao de um processo de autogesto que garanta a todos o direito de participar de forma igualitria da gesto e dos resultados do empreendimento econmico (Silva e Olivei-ra, 2009, p. 60).

    Por outro lado, ainda que nascida sob os preceitos da igualdade, a questo da Eco-nomia Popular e Solidria como tentativa de construo de um novo modelo econmico mais justo e igualitrio muito complexa. Rosa et al. sublinham que qualquer tentativa de ruptura com a lgica do capital que esteja baseada numa racionalidade de carter instru-mental estaria fadada ao fracasso, uma vez que, se o empreendimento solidrio conta-minado pela busca incessante de efi cincia econmica, a qual requer a competitividade e no a solidariedade, no h possibilidade de ruptura (Rosa et al., 2006, p. 263). Esta raciona-lidade implicaria um desenvolvimento socioe-

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    A solidariedade na economia e a Economia Solidria das cooperativas

    conmico pautado pela criao de riqueza e de maiores lucros, o que vai ao encontro do sistema capitalista.

    Uma hiptese levantada por alguns auto-res entende que, no contexto referente s ca-ractersticas socioeconmicas dos agentes re-lativamente semelhantes, a desigualdade em termos da distribuio de capital social tende a ser um importante fator explicativo das even-tuais assimetrias nas posies ocupadas pelos indivduos atuantes neste espao social (Silva e Oliveira, 2009, p. 60). Desta forma, as assime-trias iniciais implicariam limites na instituio de igualdade nas relaes sociais.

    Por capital social entende-se o conjunto de recursos atuais ou potenciais que esto ligados posse de uma rede durvel de relaes mais ou menos institucionalizadas de interconheci-mento e de inter-reconhecimento ou, em ou-tros termos, vinculao a algum grupo, como conjunto de agentes que no somente so dota-dos de propriedades comuns (passveis de se-rem percebidas pelo observador, pelos outros ou por eles mesmos), mas tambm so unidos por ligaes permanentes e teis (Bourdieu in Silva e Oliveira, 2009, p. 61).

    Para os autores, o capital social perpassa as relaes sociais, implicando a insero dos agentes em uma rede de relaes sociais, en-volvendo os recursos materiais e/ou simbli-cos (informaes, infl uncia, prestgio, confi an-a, reconhecimento, suporte) que indivduos e grupos adquirem atravs das relaes que constroem, acumulam e mantm por meio de contatos. Tal capital social pode ser convertido em outras formas de capital, tais como capital econmico, simblico ou cultural (Silva e Oli-veira, 2009, p. 61).

    As cooperativas so formas de capital so-cial; envolvem relaes sociais e diversos ti-pos de capitais. Neste sentido, o capital social transformado em outras formas de capital. O capital social sempre se funda em relaes sociais, mas, segundo Silva e Oliveira (2009), em termos de gerao de capital social para os agentes envolvidos nas relaes sociais, nem todas estas tm a mesma produtividade, uma vez que a mesma determina as diferen-tes possibilidades dos agentes se apropriarem dos recursos produzidos e/ou em circulao nesta rede (2009, p. 61). Neste ponto, entende-se a afi rmao de que entre os desiguais ainda existe a possibilidade de haver desigualdade.

    A lgica do capital permeia as relaes da Economia Popular e Solidria. Empreendi-mentos solidrios podem no estar intrinse-

    camente associados ao mercado ou ao Esta-do, todavia, no esto imunes ao capitalismo. O capital social envolvido pode ser voltado lgica capitalista. As relaes sociais envolvi-das dentro de uma cooperativa de catadores, por exemplo, trazem laos de conexo e afeti-vidade em relao mesma. Seus associados podem estar voltados produo, no no sen-tido de acumulao ou lucro, como previsto pela lgica do capital, mas estar voltados ao desenvolvimento do trabalho e ao exerccio pleno do mesmo. Neste contexto, o entendi-mento do capital social como propulsor ao ple-no desenvolvimento da cooperativa no plano solidrio essencial.

    Um empreendimento solidrio criado, a priori, sobre bases igualitrias. Seus associados, em um primeiro momento, esto voltados em esforos conjuntos ao pleno desenvolvimento das atividades cooperativistas. Por outro lado, a cooperativa est inserida em um sistema que espera e fomenta competitividade e consumo latentes. A cooperativa, quando bem-sucedi-da, se v s voltas com o atendimento s de-mandas recorrentes; quando malsucedida, se v s voltas com a busca por essa demanda. Em ambos os casos, a cooperativa se volta a buscar atender ou perseguir determinada de-manda de mercado.

    A cooperativa, neste caso, passa a trans-formar seu capital social que, inicialmente, seria a solidariedade e o esprito do coopera-tivismo. Quando absorvida pelo sistema capi-talista, pode haver o abandono desse capital social. Desta forma, perde-se a solidariedade na economia que se prope a ser solidria, e a cooperativa se transforma em uma empresa comum. Como resgatar e manter a solidarie-dade? Melhor ainda: como instituir a solida-riedade na economia?

    Silva e Oliveira situam que, por meio de uma racionalidade substantiva, h a possibili-dade dos empreendimentos solidrios rompe-rem com a lgica do capital. A possibilidade desse rompimento e o redirecionamento dos esforos para a reduo das desigualdades que aponte para uma relao solidria entre as pessoas est na construo de um modelo de gesto que integre as diversas demandas e que considere prioritria a integrao dos in-teresses sociais, polticos e econmicos (Silva e Oliveira, 2009, p. 263).

    Simioni et al. entendem que as caractersti-cas da cooperativa tradicional so as de uma organizao defensiva, cuja funo primria manter outros competidores num mercado

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    Vincius Ferreira Baptista

    mais honesto, o que tem levado as coopera-tivas a investirem mais em capital fsico que intelectual; a atenderem s necessidades de di-ferentes membros no que se refere a tamanho, qualifi cao e a compromisso; a requererem o recebimento de todo o produto e a oferece-rem uma ampla variedade de servios, devido a sua preocupao social (Simioni et al., 2009, p. 740). As cooperativas, em um sentido am-plo, surgem em bases e com propsitos soli-drios, mas se veem posteriormente voltadas ao atendimento do capital e, neste momento, se perdem na polarizao entre solidariedade e competio.

    Ao surgir em bases solidrias, o primeiro desafi o das cooperativas a construo do consenso. A cooperativa pressupe, como pre-ceitos basilares, a existncia de uma postura mais tica e de respeito mtuo que, todavia, no garante a inexistncia de confl itos.

    Na construo do contrato social entre cooperativa e associados, no so estabeleci-dos acordos que garantam a entrega da pro-duo. Construo entre aspas, no sentido de que esse contrato est implcito pelo fato do cooperado fazer parte da organizao e ser responsvel pelo seu desenvolvimento e sustentabilidade (Simioni et al., 2009, p. 741). Esse fato importa uma dupla qualidade, a qual Barbosa (2007) situa no sentido de que os s-cios cooperativados, alm de proprietrios, so provedores da fora de trabalho, ou seja, h uma duplicidade de identidade do coope-rado. Essa dupla qualidade advm do regime autogestionrio e auxiliar que caracteriza as cooperativas.

    A dupla qualidade dos membros da cooperativa explica-se porque este tipo de sociedade inverte os meios e fi ns que caracterizam as sociedades empresariais no cooperativas: enquanto nestas, a atividade societria um alcance dos fi ns em-presariais (lucro), nas cooperativas, as atividades empresariais so o meio de alcance do objetivo societrio (acrscimo de renda direta ou indireta) (Krueger, 2003, p. 9, grifo nosso).

    A rentabilidade possui ligao direta com a lealdade, a qual seria o melhor indicador de uma relao em longo prazo. A lealdade uma questo interessante para anlise, uma vez que a mesma representa o momento inicial em que h a fi rmao das bases solidrias. Uma vez perdido o compromisso solidrio com a coope-rativa, a probabilidade de o empreendimento fracassar ou engrenar positivamente de vez (em bases capitalistas) grande. O fracasso seria ad-

    vindo da quebra da solidariedade e o impulso positivo da competio entre os membros.

    A quebra da lealdade representaria a despactuao com os propsitos da solidarie-dade. A sobrevivncia do cooperativismo seria posta em xeque. Como apontam Simioni et al. (2009, p. 741), no caso dos agentes envolvidos no cooperativismo, a base para a construo e sustentao de um relacionamento de suces-so o comprometimento e a confi ana entre as partes envolvidas. Para tal, a sobrevivncia desse sistema est cada vez mais ligada a sua profi ssionalizao, transparncia e pratici-dade (Simioni et al., 2009, p. 741).

    A sustentabilidade das cooperativas: a questo da lealdade

    Como exposto at o momento, as coopera-tivas surgem associadas ao signifi cado de ins-tituio de uma Economia Popular e Solidria, em bases pautadas pela solidariedade e igual-dade entre seus agentes. Contudo, ressalte-se que, uma vez institudas, as cooperativas es-to inseridas em um sistema socioeconmico, poltico e institucional voltado acumulao e ao lucro. Neste sentido, as mesmas lutam pelo espao a fi m de manterem seus ideais associa-tivos originais: a cooperao, a solidariedade, a tica e o respeito mtuo. A luta acontece em uma arena mais favorvel ao capital, o que difi culta s cooperativas se pautarem pela igualdade na sua forma de atuao.

    A linha tnue entre a solidariedade e a com-petio marca a existncia das cooperativas. Com isso no se quer dizer que se toma deli-beradamente a deciso de transformar a coo-perativa em uma empresa para que a mesma possa competir no mercado. Por outro lado, h de se levar em considerao que, no prprio mercado, as cooperativas competem entre si em busca das melhores oportunidades.

    O que se quer dizer que a lgica competi-tiva de mercado vai atravessar as relaes so-ciais e o capital social das cooperativas, exigin-do a maximizao de resultados econmicos. Por um lado, as cooperativas necessitam de re-cursos para a manuteno do empreendimen-to, mas que custo tal necessidade pode trazer?

    O maior risco o desvio do modelo solid-rio institudo pelo cooperativismo e sua troca pelo modelo capitalista, de carter racional e instrumental. Com isso, os valores e as relaes sociais entre os membros da organizao so postos de lado pelo que Rosa et al. (2006) des-tacam como clculo utilitrio de resultados.

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    A solidariedade na economia e a Economia Solidria das cooperativas

    A operacionalizao das cooperativas atra-vessa o constante monitoramento de seu ca-rter institucional. Afi rmam Rosa et al. que, para que a proposta de gesto democrtica e o modelo solidrio de economia sejam resguar-dados, torna-se indispensvel a manuteno de uma racionalidade substantiva por meio da preservao do modelo Rochdale de organi-zao cooperativa. Tal modelo, cujo controle realizado pelos prprios cooperados, remon-ta e refl ete os princpios da fi losofi a cooperati-vista surgida em 1844 (Rosa et al., 2006, p. 265).

    Por outro lado, alguns autores como Si-mioni et al. analisam que o acirramento das vantagens competitivas exige das cooperativas estruturas organizacionais enxutas para aten-der tanto demanda de seus associados como para se posicionarem positivamente no merca-do, o que as tornaria mais fortes e competiti-vas. Os autores prosseguem, destacando que a cooperativa precisa estar apta a participar em igualdade de condies com empresas no cooperativas, num mercado competitivo e di-versifi cado (Simioni et al., 2009, p. 743).

    Desta forma, as cooperativas seriam inter-medirias entre o mercado e as economias dos cooperados e seu maior desafi o seria organiza-rem e se prepararem para as demandas sociais e se desenvolverem em meio a um cenrio al-tamente competitivo.

    Bialoskorski Neto considera que as coope-rativas, por terem como caractersticas a no lucratividade, so de difcil controle por parte dos cooperados, seja por meio individual ou por assembleia geral. A sua estrutura doutri-nria seria outro fator que difi cultaria sua ges-to. Ainda, segundo o autor, deve-se ter em considerao que cada associado uma em-presa que tem o papel de crescer concomitan-temente ao empreendimento cooperativo, ou seja, a efi cincia dos associados do empreen-dimento tambm confere efi cincia prpria cooperativa, uma vez que no h como disso-ciar as duas organizaes (Bialoskorski Neto, 2001). No h como dissociar a dupla qualida-de existente no sistema cooperativista exerci-do pelo cooperado.

    Tal considerao acima apontada discuti-da por Simioni et al. no momento em que estes entendem que a qualifi cao do quadro so-cial faz parte da viso sistmica, uma vez que contribui para o crescimento de cada um [dos cooperativados] individualmente, dos grupos e da sociedade como um todo. Os autores tambm sustentam que as cooperativas atu-am em um ambiente fortemente infl uenciado

    pela questo poltica, que, por sua vez, estabe-lece forte ligao entre associado e cooperati-va, ou seja, nesse contexto que se constro-em as relaes de lealdade, uma vez que essas organizaes compartilham interesses e ofe-recem possibilidades de mtua sustentao (Simioni et al., 2009, p. 744).

    Neste ponto, h de se lembrar a questo do capital social levantada por Silva e Olivei-ra como um recurso de carter relacional, que implica a insero dos agentes em uma rede de relaes sociais. Ele tende a ser um fator explicativo da hierarquia nas posies ocupa-das pelos participantes de empreendimentos econmicos populares. Para os autores, as as-simetrias existentes nas relaes entre os agen-tes so explicadas, em grande medida, pela concentrao de capital social por parte de um dos agentes, que monopoliza as relaes da cooperativa com agentes externos em posies institucionais privilegiadas. Tal estoque sig-nifi cativo de capital social, concentrado por este agente, limita a possibilidade de institui-o de relaes igualitrias entre os membros da cooperativa, ao mesmo tempo em que constitui-se um importante fator para o xito do empreendimento, ao possibilitar o acesso a recursos e a oportunidades fundamentais para tal xito (Silva e Oliveira, 2009, p. 59).

    Simioni et al. analisam a lealdade a partir de estudos sobre as empresas. Para os autores, a lealdade vai alm de um longo relaciona-mento de um cliente com uma determinada empresa; na verdade, ela representa um sen-timento de afi nidade ou ligao com produtos ou servios de uma empresa que se manifes-ta quando os clientes gastam ou concentram a maior parte ou a totalidade de seus ora-mentos com a empresa (Simioni et al., 2009, p. 745). No sentido proposto, o comportamen-to e a atitude do cliente nem sempre estariam positivamente relacionadas, uma vez que h uma relao de confi ana e prestao de um servio que sofre infl uncias de outros fatores, alm da lealdade, no processo de deciso de compra. Tais fatores podem causar efeitos substanciais em mercados muito competitivos com pouca diferenciao entre produtos [...], o que resulta no surgimento de lealdade falsa determinada por comportamento de compra regular e atitude desfavorvel (Simioni et al., 2009, p. 745).

    Os valores embutidos nas relaes sociais existentes nas cooperativas se constituem em fatores intrinsecamente relacionados com a le-aldade. Os indivduos que compartilham dos

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    mesmos valores respondem de forma seme-lhante. A construo de uma cultura coopera-tiva e solidria atravessa as relaes e valores compartilhados entre os agentes do empreen-dimento solidrio.

    O desenvolvimento das cooperativas e a lealdade

    Ao analisar a relao entre lealdade e de-senvolvimento dos empreendimentos solid-rios, especifi camente as cooperativas, Simioni et al. destacam o conceito de Economia dos Custos de Transao (ECT). Tal conceito enfa-tiza a percepo de que na negociao ocorri-da por meio do mercado existem custos de transao, advindos da busca de informao, negociao e formulao de contratos. Desta forma, a deciso de uma transao organiza-da dentro da fi rma (hierarquicamente) ou en-tre fi rmas autnomas (via mercado) depende dos custos de transao a ela associados. Ou seja, as transaes entre agentes econmicos sempre envolvem riscos de que os elementos acordados entre eles no se efetivem. Para se evitar tal quadro, mecanismos e estruturas de governana so adotados com o objetivo de re-duzir tais riscos e suas consequncias (Simio-ni et al., 2009, p. 748). Quanto aos custos,

    os custos associados transao esto relaciona-dos aos custos ex ante e ex post. Os primeiros referem-se aos custos de coleta e processamento de informaes, de negociaes e estabelecimento de salvaguardas. J os custos aps a realizao do contrato so de negociao, monitoramento e de adaptaes a circunstancias no previstas ini-cialmente. Estes decorrem de dois pressupostos comportamentais: racionalidade limitada e opor-tunismo (Simioni et al., 2009, p. 748).

    A hiptese da Racionalidade Limitada se relaciona com a capacidade cognitiva limita-da dos agentes, em princpio racionais, mas que apresentam limites frente aos ambientes macro complexos (poltico, econmico, social, etc.), alm da impossibilidade de antecipao de eventos futuros. Pela Racionalidade Limi-tada, a tomada de deciso entendida como um esforo para escolher opes satisfat-rias, mas no necessariamente timas (Secchi, 2010, p. 41). O modelo racional entende como basilar para a anlise, o cumprimento efi cien-te de metas; assim como requer informaes, capacidade preditiva sobre consequncias; competncia para os clculos de custos e bene-fcios, etc. (Rua, 2009).

    J o oportunismo compreende a busca do prprio interesse, associada a intenes dolo-sas de manipular ou distorcer informaes de maneira a confundir a outra parte da transa-o. Do oportunismo decorre a incerteza na avaliao do comportamento de outros agentes ligados transao (Simioni et al., 2009, p. 749).

    Pelo apreendido pela Racionalidade Limi-tada e Oportunismo, entende-se que, no mo-mento em que o contrato formalizado pe-los agentes da cooperativa, no h garantias de que a produo ser entregue. Ou seja, os contratos entre os agentes e o empreendimen-to, inicialmente solidrio, e que supe a priori uma solidariedade e respeito mtuo, so na verdade incompletos, o que pode permitir a existncia de atitudes oportunistas. Como no h capacidade preditiva sufi ciente a fi m de avaliar os participantes e seus futuros com-portamentos, a racionalidade limitada implica a ocorrncia de situaes ex post que, por sua vez, implicaro efeitos na natureza dos custos de transao das cooperativas. Isto signifi ca que h o claro risco da perda dos preceitos do cooperativismo apregoados por Rochdale.

    A perda desses preceitos implica custos no somente econmicos, mas tambm sociais e po-lticos envolvidos em todo o processo produti-vo e institucional da cooperativa. Para Simioni et al., a relao entre cooperativas e cooperados envolve custos de transao mediante a rea-lizao dos contratos, ou seja, as cooperati-vas realizam investimentos que necessitam do cumprimento contratual de seus cooperados. Por conta disso, o comportamento desleal dos cooperados caracterizado por aes oportunis-tas leva a um aumento dos custos de transao (Simioni et al., 2009, p. 751).

    Quanto deslealdade, podemos apon-tar que tais aes se relacionam s situaes comuns existentes nas mais diversas coope-rativas brasileiras e envolvem aspectos que priorizam? a sobrevivncia ou os interesses individuais em detrimento de um projeto co-letivo. Quando tais aes oportunistas so exe-cutadas pelo cooperado, o contrato de confi an-a rompido, e, segundo Simioni et al. (2009, p. 751), estabelece-se uma atuao de auto-defesa, caracterizada pela teoria da agncia como uma relao oportunista.

    Desta forma, questiona-se: quais as aes desenvolvidas pelas cooperativas na promo-o da lealdade entre seus associados?

    Simioni et al. (2009) realizaram um estudo que verifi ca as aes para manuteno da leal-dade, na viso dos cooperados e dos dirigen-

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    A solidariedade na economia e a Economia Solidria das cooperativas

    tes das cooperativas. Para manter a lealdade, as cooperativas se voltam aos associados e no ao mercado. Entre as aes, na viso dos coo-perados, esto: o bom atendimento aos asso-ciados, assistncia tcnica e formao, forneci-mento de crdito, bons prazos de pagamento e desenvolvimento da ao social. Tais medidas representam uma ao social, uma vez que a cooperativa, inicialmente, no tem condies de enfrentamento direto com o mercado, prin-cipalmente em relao aos preos e condies de pagamento. Ainda nisso, as cooperativas visualizam aes de apoio tecnolgico e de idoneidade de relaes, o que seria comparti-lhado pelos cooperados, no estudo organizado pelos autores.

    As aes com vistas ao desenvolvimen-to e fortalecimento da lealdade passam pela educao cooperativa, na qual se enfatiza a importncia do cooperativismo como forma de organizao dos produtores e de contra-posio cultura organizacional das relaes sociais geralmente enraizadas nas cooperati-vas, a exemplo do paternalismo e do persona-lismo, que privilegiam relaes pessoais em detrimento das formas coletivas (Simioni et al., 2009, p. 758).

    J para os dirigentes das cooperativas, o envolvimento de toda a famlia do coopera-do nas aes da cooperativa, nos aspectos sociais, de sade e educao no meio rural, na viso deles mesmos, contribui para a ob-teno de melhores resultados econmicos e para a maior qualidade de vida. Para os dirigentes, tais aes promovem maior sa-tisfao dos produtores com a cooperativa, aumentando sua lealdade, opinio tambm compartilhada entre os cooperados (Simioni et al., 2009, p. 758).

    Por outro lado, sabido que o trabalho co-operado encontra-se no desafi o de enfrentar o mercado competitivo e, paralelamente, manter a lgica do apoio cooperativo, formado a par-tir da ao coletiva. Gutirrez observa que a produo e a organizao so hoje, na Amrica Latina, os componentes substantivos e susten-tadores de todo o processo de educao popu-lar (Gutirrez, 2001, p. 100). O autor destaca que, na educao socialmente produtiva, em que a produo, a organizao e a educao compem um processo integrador e relacional, existe uma relao sociopoltica, que, segundo, Santos e Deluiz, amplia o entendimento dos fatores econmicos, organizacionais e educati-vos gerados nas economias populares (San-tos e Deluiz, 2009, p. 333).

    Quanto educao popular, esta, que ti-nha seus objetivos mais centrados na poltica e na transformao da sociedade, todavia, so-fre um redirecionamento para as questes do indivduo, sua cultura e suas representaes (Santos e Deluiz, 2009, p. 332), posteriormente se reorientando para intervenes no terre-no da conscincia, da ideologia e da cultura (2009, p. 332). Ainda segundo os autores, a educao popular possui o enfoque educativo direcionado aos grupos margem do sistema formal de ensino e vai alm do campo educati-vo, abrangendo o campo poltico, consideran-do a excluso e os oprimidos do sistema social (Santos e Deluiz, 2009).

    Na perspectiva da educao popular, Gohn apresenta o conceito de educao crtica no formal como aquela que se aprende no mun-do da vida, via os processos de compartilha-mento de experincias, principalmente em espaos e aes coletivas cotidianas (Gohn, 2006, p. 28). Seus resultados esperados so a conscientizao e a emancipao dos indivdu-os e grupos e a construo de conhecimento sobre o mundo e as relaes sociais que os cir-cundam. Paralelamente, prepara os cidados para a vida e suas adversidades, dando-lhes condies de desenvolverem sentimentos de autovalorizao, de rejeio dos preconceitos que lhes so dirigidos e de luta para serem reconhecidos como iguais, dentro de suas di-ferenas (raciais, tnicas, religiosas, culturais, entre outras) (Santos e Deluiz, 2009, p. 333).

    Tais argumentos apresentados pelos auto-res nos pargrafos acima apontam que as coo-perativas necessitam desenvolver uma cultura organizacional pautada pelo cooperativismo e pela solidariedade. No momento em que os contratos entre os agentes e o empreendi-mento solidrio so formalizados, ainda que inicialmente sejam criados no sentido de uma economia que seja solidria, no h garantias de que o comportamento dos agentes seja pau-tado pelos ideais cooperativistas, uma vez que a racionalidade limitada dos agentes muitas vezes no permite observar a existncia de tais ideais no momento em que os contratos foram celebrados. Por conta disso, necessrio o in-vestimento nos processos formativos voltados educao e ao desenvolvimento das coope-rativas pautadas pela solidariedade e coopera-o, com vistas criao e manuteno da leal-dade aos compromissos do empreendimento solidrio e ao projeto coletivo.

    Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da educao crtica nas cooperativas permite que

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    os agentes reconheam a sua importncia fun-damental no processo como um todo. Os va-lores essenciais do cooperativismo so introje-tados e enraizados. Os agentes no adquirem conhecimentos apenas no sentido de alfabeti-zao, mas desenvolvem um senso crtico so-ciopoltico e econmico, uma vez que passam a ter maior noo do espao macro em que o empreendimento est envolto, alm de aspec-tos das relaes sociais e de responsabilidade quanto ao prprio empreendimento e aos ou-tros agentes.

    A educao crtica permite que os agen-tes tenham o pleno conhecimento da dupla qualidade intrnseca do cooperativismo: a de serem paralelamente proprietrios e pro-vedores da fora de trabalho. Neste sentido, os agentes compreendem que, no empreen-dimento solidrio, no existem aquele(s) que dirige(m) e aquele(s) que fornece(m) a fora de trabalho. Pelo contrrio, todos so respon-sveis pelo projeto coletivo, uma vez que to-dos so proprietrios.

    Por outro lado, ao reforar tal aspecto, re-tira-se a ideia de que o dirigente o nico sa-bedor dos caminhos essenciais ao sucesso da cooperativa. Neste sentido, a principal contri-buio da educao popular crtica a de re-organizar o capital social existente no empre-endimento solidrio. Desta forma, procura-se evitar aes oportunistas ou espaos em que o oportunismo venha a surgir.

    possvel, portanto, que no contexto da produo cooperativa e solidria a educao popular encontre novos caminhos e alternati-vas de ao, onde o trabalho socialmente pro-dutivo seja tambm educativo. A solidarieda-de passa a ser enfocada tanto nos processos de economia popular quanto nos de organizao e de educao popular (Santos e Deluiz, 2009, p. 333).

    Por fi m, a deslealdade, segundo os resul-tados dos estudos de Simioni et al., vista sob a tica de um desvio de conduta do co-operado e no como um problema a ser dis-cutido no interior da lgica cooperativa. Por conta disso, a reconstruo da lealdade, no caso dos cooperados, est apoiada em mu-danas internas na estrutura cooperativa do ponto de vista de sua competitividade com o mercado e do atendimento das necessidades bsicas do cooperado no que diz respeito a sua sobrevivncia imediata.

    As estruturas da cooperativa devem ob-servar que as pessoas se associam ao empre-endimento possuindo interesses individuais,

    ainda que sob a tica da solidariedade e par-ticipao. Os empreendimentos no devem fi car alheios a isso. As pessoas devem sentir que evoluem em suas aspiraes individuais ao passo em que o empreendimento tambm evolui. E aqui que a lealdade tem papel fun-damental. Um empreendimento que valoriza as aspiraes individuais, num contexto de solidariedade, observa a lealdade no sentido de que a pessoa que se associa tem a possibi-lidade de mudar de vida, trabalhando no em-preendimento, empregando seu esforo junto a outros para a consecuo dos objetivos do mesmo, tendo em mente que os seus objetivos individuais tambm so observados pelo em-preendimento. uma via de mo dupla, mas que no pode ser visualizada sob uma tica oportunista. Sob a tica oportunista, cada lado tenta apenas observar as suas positividades no processo. E isso no pode ocorrer. Os ajustes devem ser organizados por ambos os lados. Se no forem ajustados mutuamente, o oportu-nismo evidente.

    Desta forma,

    novamente perceptvel a questo do oportunis-mo nas duas esferas, dos dirigentes e dos coopera-dos, visto que a lealdade est condicionada ma-nuteno do status quo de cada um, relegando os valores cooperativistas de igualdade, coletividade e solidariedade a um segundo plano (Simioni et al., 2009, p. 759).

    As relaes de confi ana no so fortaleci-das, os custos de transao so elevados, uma vez que os esforos no so voltados ao pro-jeto coletivo, mas ao atendimento de interes-ses individuais, ou seja, os custos do projeto so socializados, e os benefcios concentrados. Neste sentido, o empreendimento dito soli-drio nada diferiria de um empreendimento capitalista.

    Santos e Deluiz (2009, p. 338-339) j sina-lizam que um dos desafi os a ser enfrentado pelas cooperativas e pela Economia Popular e Solidria como um todo est na demarcao precisa entre as verdadeiras alternativas e as prticas conservadoras do terceiro setor, que pretendem assegurar a hegemonia das elites dominantes na conduo dos processos so-ciais. Os autores ainda salientam que,

    embora as cooperativas populares venham exer-cendo uma ponte entre as prticas comunitrias e as demais organizaes sociais de ordem mais complexa, aquelas acabam recebendo apoio poltico tendo em vista seu papel no apaziguamento das

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    A solidariedade na economia e a Economia Solidria das cooperativas

    demandas sociais e na reproduo/manuteno da estrutura da comunidade, atravs do controle por grupos majoritrios e/ou da cooptao das lide-ranas (Santos e Deluiz, 2009, p. 339).

    As cooperativas esto inseridas em um ambiente competitivo. Em funo da sobre-vivncia, seus agentes podem adquirir um comportamento de autodefesa que quebra a lealdade ao propsito coletivo e aos ideais cooperativos. Por outro lado, tal sobrevivncia apenas dos interesses individuais, uma vez que no representa o corpo coletivo. A leal-dade fundamental real sobrevivncia do empreendimento solidrio, pois conduz ao que Simioni et al. (2009, p. 760) apontam como vnculos de permanncia sufi cientemente fortes, a ponto de serem resistentes infl un-cia do meio externo.

    Na relao entre dirigentes e cooperados existe uma tendncia ao atendimento das de-mandas individuais, que caracterizam o opor-tunismo recproco, em detrimento daquelas derivadas da fi losofi a cooperativista. Quando estas relaes de lealdade no so mantidas, as cooperativas no tm instrumentos sufi cien-temente fortes para romper o contrato ou res-tabelecer os padres de lealdade necessrios relao. Uma vez rompida a lealdade, as cooperativas no conseguem renegociar, em um tempo vivel, as adaptaes necessrias manuteno de um relacionamento, ainda que em diferentes patamares do que aqueles ori-ginalmente contratados (Simioni et al., 2009, p. 760).

    Uma possvel soluo seria o investimen-to das cooperativas em projetos de educao popular, principalmente em projetos que vo alm da alfabetizao e perpassem um contex-to crtico nesse processo educativo, no que toca a aspectos socioeconmicos e polticos. Trata-se de uma salvaguarda prpria cooperativa e ao prprio sistema solidrio na economia. A Economia Popular e Solidria pressupe uma associao entre iguais, contudo, a mes-ma no garante que a solidariedade seja perce-bida como basilar ao processo produtivo e ao desenvolvimento do empreendimento.

    As relaes entre cooperao e oportu-nismo so muito frgeis quando o capital so-cial existente na cooperativa no uniforme. Quando uns poucos agentes concentram o ca-pital social, mais favorvel o cenrio para o aparecimento de comportamentos oportunis-tas. Interesses coletivos do lugar a interesses individuais, e o projeto coletivo se transforma.

    Por fi m, h espao para a construo de uma economia que seja solidria, assim como h espao para a solidariedade na economia. Contudo, necessitam-se meios para a manu-teno da solidariedade e a sua no contami-nao por objetivos individuais. A lealdade, neste sentido, fundamental sobrevivncia, no somente da cooperativa ou do empreendi-mento solidrio em si, mas basilar sobrevi-vncia dos ideais de cooperao, coletividade e solidariedade. O maior desafi o no o de erguer um empreendimento solidrio, mas mant-lo solidrio.

    Consideraes fi nais

    Uma Economia Popular e Solidria que se proponha a incitar a solidariedade na eco-nomia s pode ser empreendida sobre bases igualitrias pelos que se associam para produ-zir, comercializar ou poupar. Contudo, mes-mo que as cooperativas cooperassem entre si, a competitividade inevitavelmente faria surgir empreendimentos melhores e outros nem tan-to, em funo de vrios aspectos e tambm da inclinao das pessoas que as compem. No h como ignorar tambm os confl itos de inte-resses internos das cooperativas, obstculos por vezes de difcil resoluo.

    Ainda que nascidas sob preceitos coope-rativistas e solidrios, as cooperativas inse-rem-se em um cenrio em que prevalecem as desigualdades, nos mais diversos aspec-tos (econmico, social, poltico, institucional, etc.), que impactam na prpria forma de as-sociao entre as pessoas e entre as coopera-tivas. Ou seja, entre os que esto margem, ainda h a reproduo de desigualdades ope-rando. As relaes sociais so dspares, e este o desafi o dos sistemas cooperativistas: ini-ciar as bases pautadas pela igualdade e man-t-las posteriormente.

    Um empreendimento solidrio criado, a priori, sobre bases igualitrias. Seus associa-dos, primeiramente, esto voltados em esforos conjuntos ao pleno desenvolvimento das ativi-dades cooperativistas. Por outro lado, a coope-rativa est inserida em um sistema que espera e fomenta competitividade e consumo latentes. A lgica do capital que permeia as relaes da Economia Popular e Solidria e dos Empreen-dimentos solidrios pode no estar intrinse-camente associada ao mercado ou ao Estado; todavia, elas no esto imunes ao capitalismo.

    A linha imperceptvel entre a solidarieda-de e a competio marca a existncia das co-

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    operativas. A lgica competitiva de mercado vai atravessar as relaes sociais e o capital social das cooperativas, exigindo a maximiza-o de resultados econmicos. Por um lado, as cooperativas necessitam de recursos para a manuteno do empreendimento. Por outro, podem empregar estratgias que desestrutu-rem os princpios cooperativistas. O maior risco deste processo o desvio do modelo so-lidrio institudo pelo cooperativismo e sua troca pelo modelo capitalista, de carter ra-cional e instrumental.

    A cooperativa, neste caso, passa a transfor-mar seu capital social, que, inicialmente, seria a solidariedade e o esprito do cooperativismo. Desta forma, perde-se a solidariedade na eco-nomia que quer ser solidria, e a cooperativa se transforma em uma empresa comum. Uma vez perdido o compromisso solidrio com a cooperativa, a probabilidade de o empreen-dimento fracassar ou engrenar positivamente de vez (em bases capitalistas) grande. O fra-casso adviria da quebra da solidariedade, e o impulso positivo do fato da instituio da competio entre os membros.

    No momento em que os contratos entre os agentes e o empreendimento solidrio so for-malizados, ainda que inicialmente sejam cria-dos no sentido de uma Economia Popular e Solidria, no h garantias de que o compor-tamento dos agentes seja pautado pelos ideais cooperativistas, uma vez que a racionalidade limitada dos agentes no permitiu observar a existncia de tais ideais no momento em que os contratos foram celebrados.

    Por conta disso, necessrio o investimento nos processos formativos voltados educao crtica e ao desenvolvimento das cooperativas pautadas pela solidariedade e cooperao com vistas criao e manuteno da lealdade aos compromissos do empreendimento solidrio e ao projeto coletivo. Mas essa uma via de mo dupla: requer esforos tanto dos associa-dos quanto do empreendimento em si, uma vez que na proposta da Economia Popular e Solidria uma associao entre iguais em si no garante que a solidariedade seja percebida como basilar ao processo produtivo e ao de-senvolvimento do empreendimento.

    As relaes entre cooperao e oportu-nismo so muito frgeis quando o capital so-cial existente na cooperativa no uniforme. Necessitam-se meios para a manuteno da solidariedade e a sua no contaminao por objetivos individuais apenas, um ajuste mtuo entre interesses dos associados e do

    empreendimento. A lealdade, neste sentido, fundamental sobrevivncia, no somente da cooperativa ou do empreendimento solidrio em si, mas basilar sobrevivncia dos ideais de cooperao, coletividade, solidariedade e autogesto.

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    Submetido: 14/12/2013Aceito: 29/08/2014