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3 EDIMARA ALVES FAGUNDES CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E SENTIDO NA ARTE CONTEMPORÂNEA Unidade Didática, apresentada à Secretaria de Estado da Educação Superintendência da Educação, Diretoria de Políticas e Programas Educacionais. Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2008 Sob orientação do professor Luiz Antônio Zahdi Salgado CURITIBA 2009

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Page 1: CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E SENTIDO NA ARTE …arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo como uma emoção ruim é uma emoção.” (MORAIS, 1998, p. 34). Após esse momento, inicia-se

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EDIMARA ALVES FAGUNDES

CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E SENTIDO NA ARTE CONTEMPORÂNEA Unidade Didática, apresentada à Secretaria de Estado da Educação Superintendência da Educação, Diretoria de Políticas e Programas Educacionais. Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2008 Sob orientação do professor Luiz Antônio Zahdi Salgado

CURITIBA 2009

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...................................................................................................................03 1. O QUE É ARTE?..................................................................................................................07 1.1. ARTE E A QUEBRA DE PARADIGMA.........................................................................09 1.2. ARTE E CIÊNCIA.............................................................................................................10 2. ARTE CONTEMPORÂNEA...............................................................................................12 3. LEITURA DE IMAGEM......................................................................................................16 4. LINGUAGEM......................................................................................................................18 5. INSTALAÇÃO.....................................................................................................................20 6. INTERATIVIDADE.............................................................................................................22 7. LEITURA DA OBRA “Canções Submersas”......................................................................24 7.1. RELAÇÃO DA OBRA “Canções Submersas” COM A TEORIA DOS TRÊS PARADIGMAS DA IMAGEM...............................................................................................28 8. ROTEIRO DE APLICAÇÃO..............................................................................................31 9. SUGESTÕES PARA COMPLEMENTAR OS ESTUDOS................................................33 10. EXPECTATIVA DE RESULTADO.................................................................................37 BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................................39 ANEXO: Parecer favorável do Orientador, Contrato de Cessão de Direitos Autorais...........40

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APRESENTAÇÃO

Esta unidade didática é destinada ao professor que irá trabalhar com Arte Contemporânea

no Ensino Médio. É composta pelas seguintes temáticas: O que é arte? Arte e transgressão, Arte e

ciência, Linguagem, Arte contemporânea, Instalação, Interatividade e Leitura de Imagem, esses

textos foram elaborados aos professores com o intuito de subsidiá-los na introdução da Arte

Contemporânea na sala de aula. Após a leitura do material, dependendo da necessidade, cabe ao

professor ampliar seus estudos através das sugestões bibliográficas, e elaborar a forma de abordar

o tema com seus estudantes.

Esse material propõe atividades em nível teórico, o objetivo é levar o estudante a refletir

sobre arte, e não necessariamente a produzir, porém, durante o processo, surgirão situações em

que a prática pode ser conveniente e subsidiar as reflexões, cabe ao professor, perceber esses

momentos e oportunizar atividades que realmente façam sentido na construção deste

conhecimento.

Sabe-se que esse tema é pouco ou nada abordado no espaço da Escola, embora as

Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná, faça referência

a este conteúdo desde a sétima série do ensino fundamental até o ensino médio. Os motivos que

levam a essa realidade podem ser muitos, mas essa proposta centra-se numa prática, isto é, aponta

um percurso para inserir esse conteúdo no contexto escolar. Mesmo diante da complexidade do

tema, ele não pode se abster do âmbito educacional, o acesso à arte e seu conhecimento é um

direito de todos, é necessário lançá-lo para que os debates em seu entorno possam proporcionar

formas cada vez mais pertinentes de abordagem.

Alguns debates em torno deste assunto foram levantados pela professora Rejane

Reckziegel Ledur em sua dissertação de mestrado que investigou a ausência da arte

contemporânea no contexto escolar da cidade de Canoas no Rio grande do Sul e constatou uma

resistência em relação à arte contemporânea por parte dos professores.

Percebeu-se através das falas dos professores e professoras enunciados que não dialogam com o contemporâneo por apresentar uma inércia dogmática que se caracteriza, principalmente pela negação dessas propostas artísticas como “obra de arte”, ou seja, que a compreensão geralmente parte de uma concepção de obra de arte tradicional, impedindo a construção de uma totalidade de sentido pelo sujeito, não se estabelecendo uma relação dialógica. (LEDUR, 2005, p. 153)

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A constatação da pesquisadora indica que a ausência da arte contemporânea no espaço da

escola é responsabilidade do professor, sua concepção de arte, não permite uma aproximação

com este tema, e afirma,

É necessário repensar o conceito de arte que norteia a prática dos professores para conectá-la com os desafios da construção de conhecimento no mundo em que vivemos, tornando significativa a arte produzida no nosso tempo, mesmo que muitas vezes ela pareça estranha ou não artística. Considerar as mudanças na concepção de arte é um primeiro passo para avançar no entendimento da arte produzida na atualidade. (2005, p. 24).

A concepção de arte é o palco das reflexões antes da introdução do tema, inclusive na

abordagem junto aos estudantes, pois a idéia da arte idealizada, figurativa, acadêmica, permeia o

ideário da maioria, cabe neste primeiro momento uma reflexão sobre o que é arte. Ela pode ser

focada em momentos de ruptura, justamente para mostrar o quanto o conceito de arte se alterou e

continua se alterando com o passar do tempo. Não significa que nesta discussão deva-se chegar a

um conceito de arte, mas é justamente fazer o caminho de todos os que tentam responder a essa

questão, e afirmam a dificuldade, mas a importância está justamente em perceber o quanto à

concepção de arte muda dependendo do momento histórico e também que ela está atrelada à

cultura, o significado e o valor que lhe é atribuído depende exclusivamente desses dois fatores.

Independente da época a arte sempre rompeu barreiras que ela mesma determinou, nesse

aspecto o termo transgressão é adotado, pois, ele fortalece as discussões e demonstra que a

criação nunca se deu em um terreno confortável. Antes mesmo do ser humano ter a noção de que

produzia arte e que essa poderia ter um estilo, teve a necessidade de lançar rupturas, HAUSER

aponta que a primeira mudança estilística de toda a história da arte se deu na pré-história, na

passagem do período paleolítico para o neolítico. Isso significa que, é latente na natureza humana

esse desconforto que provoca a necessidade de estar constantemente procurando mudar aquilo

que está estabelecido, a arte é somente mais uma ferramenta que sacia a necessidade humana de

busca e de reinvenção.

Falar de arte e ciência é somente mais uma justificativa dessa necessidade humana, são os

cientistas e os artistas que promovem as transgressões e que o tempo todo lidam com o fato da

nossa verdade ser ao mesmo tempo nosso limite e nossa infinitude.

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Após essa reflexão sobre arte é possível estabelecer um diálogo sobre Arte

Contemporânea, os estudantes que nunca tiveram contato com essa temática possivelmente terão

muitos questionamentos, situá-los no tempo proporciona certo conforto, afirmar que essa arte

surge a partir de 1960 por exemplo, porém, nem tudo que se produz a partir desta data é

considerado Arte Contemporânea, cria-se um conflito, então, como fazer com que os estudantes

compreendam o que é Arte Contemporânea? “Para estabelecer o que é arte contemporânea é

necessário alguns critérios, esses não podem ser buscados apenas nos conteúdos das obras, em

suas formas, suas composições, no emprego deste ou daquele material, também não no fato de

pertencerem a este ou aquele movimento dito vanguarda.” (CAUQUELIN, 2005, p.12), essa

autora aponta um desafio ainda maior.

Toda a abordagem deste tema será pautada na autora CAUQUELIN, primeiramente

dirigindo as reflexões para o regime de funcionamento da arte no período acadêmico e moderno,

a quebra estabelecida com o modernismo proporciona um sistema de consumo da arte, além do

surgimento dos seus “promotores”, comparando com o sistema de funcionamento da arte

contemporânea, onde o mercado, é substituído pelo regime da comunicação, em que existe uma

rede permitindo seu amplo acesso. A apresentação dessa realidade pode causar certo desconforto,

porém, é necessário tirar a arte do pedestal, e colocá-la de acordo com a realidade dos fatos, isso

não causa demérito, apenas mostra seu funcionamento, se hoje a sociedade funciona desta

maneira, porque com a arte seria diferente? JUSTINO, afirma que,

[...] a sacralização da arte consiste em entendê-la como superior a qualquer outra atividade humana ou mesmo ao próprio homem. Ela acaba nos fazendo desembocar em um mundo irreal, abstrato, distante do cotidiano e da vida. Nessa direção, a arte é incapaz de desempenhar qualquer papel essencial. O mecanismo da sacralização pode, no entanto, ser bastante lucrativo: por ser considerada superior a todas a outras coisas, a arte transforma-se numa mercadoria rara e lucrativa. O mercado da arte se sustenta de tal lógica. (2000, p.271).

Para dar mais subsídios às reflexões, sugere-se um trabalho com os artistas Marcel

Duchamp e Andy Warhol, pois proporcionaram rupturas fundamentais, anunciando uma nova

realidade, podendo ser apontados como os pilares na construção da concepção da Arte

Contemporânea, dentre as várias transgressões promovidas por esses artistas, o primeiro destaca-

se principalmente por fazer com que um objeto industrial colocado no museu torne-se obra de

arte, e o outro por considerar a obra de arte como um negócio. Após a análise desses dois artistas,

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é possível que o desconforto reapareça, pois eles questionam uma realidade e ao mesmo tempo a

realimentam, mas é importante ressaltar que independente dos caminhos pelos quais a arte

percorre, sua razão de ser permanece intacta, cabendo a afirmação de DUCHAMP “A arte pode

ser ruim, boa ou indiferente, mas qualquer que seja o adjetivo empregado, temos que chamá-la

arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo como uma emoção ruim é uma emoção.” (MORAIS,

1998, p. 34).

Após esse momento, inicia-se a leitura de imagem, as realizadas anteriormente foram com

o intuito de mostrar um contexto, agora a leitura refere-se a uma obra específica, ressaltando seu

conteúdo, forma, materialidade e qualidades. O professor é o condutor desse processo, ele precisa

preparar-se, primeiramente investigar a obra, fazer sua leitura pessoal e compreender o roteiro

sugerido. Toda imagem é dotada de uma complexidade, a leitura trata-se de sua tradução,

qualquer tradução exige uma metodologia e conhecimento para sua realização, ela não pode ficar

no nível da intuição, as interpretações prontas, sem repertório, são quase inevitáveis. O professor

precisa ter clareza de que a linguagem não verbal produz conhecimento, assim como se lê um

texto, também se lê uma imagem. Existe uma especificidade na linguagem visual e o estudante é

conduzido a percebê-la, há um fundamento para a maneira com que os elementos são

organizados. A obra de arte tem coisas a dizer, o estudante é conduzido para estabelecer um

diálogo.

A obra indicada neste material trata-se de uma instalação interativa, antes da sua

apreciação e leitura, é importante propor ao estudante outras imagens, sugere-se que eles retirem

fotos de ambientes internos de suas casas, para serem analisadas, assim ele familiariza-se com o

roteiro da leitura, enriquece seu vocabulário incorporando termos específicos da linguagem visual

e principalmente tem a possibilidade de perceber que a leitura é algo a ser utilizado em seu

cotidiano, vivemos em um mundo constituído por linguagens e elas podem ser traduzidas.

É possível que o termo instalação, se referindo a um determinado tipo de obra de arte, seja

algo desconhecido por parte dos estudantes, pode-se explorar este termo a partir das próprias

fotos que realizaram e também utilizando outras obras. O mesmo procedimento pode ser feito

com relação à arte interativa.

A leitura da obra “Canções Submersas” permite múltiplas discussões, este material sugere

um roteiro, ele apenas aponta algumas direções, porém, existem várias abordagens dentro de cada

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etapa sugerida na leitura, o importante é seguir as etapas do roteiro, pois elas estabelecem a

entrada paulatina na obra e assim os níveis de significação vão ganhando forma e o estudante tem

a noção de que o significado é construído pelas suas próprias impressões, o significado não é

dado, mas sim lhe é dada a oportunidade de construí-lo. Por fim, pode-se fazer uma análise da

obra utilizando a teoria dos três paradigmas da imagem, possibilitando a ampliação da leitura e

refletindo sobre suas conseqüências.

1. O QUE É ARTE?

A partir do momento em que fizemos essa pergunta, nunca encontramos uma resposta

satisfatória, mas também nunca deixamos de formulá-la, o fato de não termos encontrado a

resposta, sempre proporcionou e proporciona debates importantes em seu entorno. JUSTINO

quando escreve sobre a admirável complexidade da arte, aborda esse tema pela vertente daquilo

que a arte não é, “tradicionalmente, a definição de arte oscilou entre afirmar que arte é um fazer,

arte é beleza, arte é forma, arte é comunicação, arte é representação. Ou ainda, nos tempos

modernos, entende-se a arte como uma forma especial de conhecimento ou de expressão.”(2000,

p.252). Essas definições perpassam pelo filtro da história, estão ligadas a valores culturais,

algumas fizeram sentido em determinado momento, mas apegar-se em uma única que defina toda

a diversidade da produção artística é impossível.

MORAIS, reuniu em um livro várias definições de arte, são muitos os conceitos e

abordagens, algumas mera repetições, outras contraditórias, outras nada explicativas, não é o caso

de qualificar ou desqualificar as definições, o fato é que, esses conceitos estão vinculados a

personalidade do artista, elas fazem sentido ao que se viveu, JUSTINO fala que existe a

“compreensão dos significados vivos”, que é justamente perceber o contexto em que essa

definição construiu um sentido. COLI traz contribuições nesse aspecto apontando que

[...] é importante ter em mente que a idéia de arte não é própria a todas as culturas e que a nossa possui uma maneira muito específica de concebê-la.

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A noção de arte que hoje possuímos – leiga, enciclopédica – não teria sentido para o artesão-artista que esculpia os portais românicos ou fabricava os vitrais góticos. Desse modo, o ‘em si’ da obra de arte, ao qual nos referimos, não é uma imanência, é uma projeção. Somos nós que enunciamos o ‘em si’ da arte, aquilo que nos objetos é, para nós, arte. (1990, p.64)

“É preciso buscar entender a gênese daquilo que nomeamos arte lá onde a definição brota

do concreto. Assim, cada definição é uma interpretação, uma escolha, consciente ou não, em que

há um esforço para explicar um objeto (arte). Ora, se esse objeto se transforma, a linguagem que

o representa também deverá sofrer alterações.” (JUSTINO, 2000, p.261). Algo que está em

constante mutação, conseqüentemente, necessita de uma definição que tenha essa característica,

partindo dessa premissa, JUSTINO propõe a definição, ou melhor a antidefinição do pensador

italiano Dino Formagio “arte é aquilo a que os homens chamam arte” (2000, p.261), afirmando

que no momento, essa definição, abrange todas as outras. E segue dizendo que “as definições de

arte são pontos móveis – oriundos de um tempo e de uma sociedade – e mudam de cultura a

cultura. A arte, como o homem é temporal.” (2000, p.262).

Neste projeto será proposto uma reflexão sobre arte com os estudantes, levando-os a

discutir várias definições e conceitos, o fato de não haver uma resposta ao questionamento,

proporciona liberdade e da a oportunidade de percebemos a visão sobre arte no contexto em que

esses estudantes se encontram e ao mesmo tempo levando-os a se confrontarem com a

importância da própria indefinição da arte.

Pretende-se neste trajeto, através das leituras das obras e das comparações ao longo da

história, dar uma prevalência a arte como transgressora, apontando a necessidade humana de

romper com o estabelecido. Mas também possibilitando que “a arte pode vir a ser crítica,

evocadora, reforçadora de uma ideologia, de um sentimento ou emoção, pode ser religiosa ou

política, pode ser recusa, crítica ou transgressão da realidade. Mas ela é fundamentalmente

constituidora da realidade. Ela é uma forma do ser. Por meio de olhos e ouvidos, ela se dirige ao

espírito.” (2000, p.274).

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1.1. ARTE E A QUEBRA DE PARADIGMA*

Podemos afirmar que a arte sempre provocou mudanças, mas também sempre caminhou

de acordo com um modelo estabelecido, isso é um contra-senso, mas é nesse ritmo que a arte se

* Os Cartuns apresentados nesta Unidade Didática foram criados por Edney Ricardo Cavichioli (Cavic), nascido em Terra Rica, Paraná. Graduado em Licenciatura em Desenho e Bacharelado em Gravura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Atua como ilustrador, professor e gravador.

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estabelece. Tudo que foi e é produzido artisticamente faz sentido para o momento histórico da

sua realização, existe uma “necessidade” para que a obra seja lançada.

Quando a produção artística transita sem a prerrogativa da ruptura, “é nesses períodos que

os artistas trabalham apenas pequenas mudanças e variantes, mexendo na aparência sem alterar a

essência, ou mesmo copiando o já feito de maneira diversa.” (ZAMBONI, 1998, p. 35). Esse

momento é importante, pois através da repetição é que se dá a assimilação, não é por acaso que

muitas produções foram ultrajadas quando do seu lançamento, e posteriormente, aceitas e até

mesmo exaltadas. “Quando surge um novo paradigma, normalmente instala-se um período de

intensa atividade, aflorando novas descobertas de relevância, a criatividade se faz necessária de

forma intensa, pois novas teorias vão se formando. Tudo deve ser repensado e reenquadrado em

novos moldes.” (1998, p. 33). Os choques e as absorções fazem parte do movimento da arte.

Se a obra não promoveu a quebra de modelos estabelecidos, não significa que seja

démodé, ela é aceita pelo seu valor histórico, cabe ao estudante ter conhecimento desses

pressupostos da arte, para tornar os meios de recepção significativos, para aceitar a transgressão

torna-se necessário transgredir sua forma de ver e relacionar-se com arte. Normalmente temos a

tendência de olhar para o presente com a atitude do passado, abrir-se para o presente nos

momentos de ruptura torna-se necessário na medida em que tudo que se construiu foi através

dessa premissa. Com o fazer e apreciar arte podemos realizar o exercício gratuito da transgressão

para prosseguirmos na busca incessante de transformação.

1.2. ARTE E CIÊNCIA

Existe uma generalização quando esse tema é tratado, normalmente se considera o

cientista racional e o artista intuitivo, essa dicotomia tem sido considerada cada vez mais

ultrapassada, justamente pelo fato de que “todas as manifestações artísticas possuem caráter

lógico que, embora não exclusivo, constitui-se em evidentes formas de arranjamento e ordenação

consciente e racional” (1998, p. 09), de fato arte e ciência possuem fronteiras, mas sem

imaginação, nenhuma delas existiria.

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O artista busca descobertas, seu trabalho aponta para novas possibilidades, ele julga

enquanto faz, normalmente existe uma diferença entre aquilo que imaginou e o resultado final, o

cientista também trabalha com previsões sobre o objeto estudado e o seu resultado também é

projetado, podendo ou não se aproximar do imaginado. Ambos usam ferramentas semelhantes do

mecanismo humano, intuição e razão não são isoladas, uma está diretamente ligada à outra. Os

artistas que “conseguiram mudanças de paradigmas e que moveram o curso da arte, nem só de

intuição viveram e trabalharam, pelo contrário, usaram o cérebro racionalmente e através da

linguagem verbal emitiram seus manifestos e enunciaram teorias”. (1998, p. 25)

A criatividade está ligada ao intuitivo, e a razão está ligada ao mensurável, ordenável, por

este motivo existe a concepção de que a ciência proporciona conhecimento, e a arte não

diretamente, “a arte não só é conhecimento por si só, mas também pode constituir-se num

importante veículo para outros tipos de conhecimento humano, já que extraímos dela uma

compreensão da experiência humana e dos seus valores”. (1998, p. 20).

A quebra do conservadorismo científico, provocou muitas mudanças, é cada vez mais

freqüente a interação entre o artista e o cientista na realização de determinadas atividades, sejam

elas de cunho científico, tecnológico ou estético, “embora as linguagens sejam outras e os

problemas também, sempre específicos de acordo com a matéria examinada e suas próprias vias

de desdobramento, as ciências e as artes se unem, pois os caminhos de descobertas e criação –

intuitivos – sempre são essencialmente caminhos de ordenação de formas.” (OSTROWER, 19??,

p. 59)

“Tanto o cientista como o artista tentam continuamente sondar o desconhecido, em busca

da verdade”. (LOWENFELD, 1977, p. 32). Arte e ciência são áreas do conhecimento

fundamentais na formação do ser humano, torna-se interessante essas discussões no espaço da

escola, justamente pela contribuição que ambas, cada uma a seu modo, contribui para o

redimensionamento da vida e juntas ampliam nossa concepção de mundo.

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2. ARTE CONTEMPORÂNEA

Os autores que discutem a arte contemporânea abordam as questões com relação a esse

tema, comparando o moderno ao contemporâneo, ao termo pós-moderno ou contemporâneo, o

mercado das artes, se a arte contemporânea é uma continuidade ou ruptura em relação à arte

moderna, o público e os meios de recepção. Enfim as abordagens são múltiplas, porém esse

trabalho não se centra nessas discussões, elas são importantes para embasamento, mas o objetivo

é concentrar-se na especificidade da linguagem visual como um meio para que o estudante, reflita

e se relacione com a arte dita contemporânea.

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CAUQUELIN, (2005, p. 13) afirma que “existe um paradoxo pois, sempre se valorizou a

arte do passado em termos monetários, porém a arte contemporânea tem um alto preço no

instante presente. E também crescem o número de museus e galerias, e a arte nunca esteve tão

afastada do público.” É justamente neste ponto que essa proposta se norteia, pois a arte

contemporânea suscita dúvidas, vem carregada de desafios, abriga uma multiplicidade de

sentidos e significações. Isso gera incertezas, é um campo de complexidades. Porém, mesmo

diante das incertezas o aluno tem direito ao acesso as produções contemporâneas. Nesse sentido,

o professor tem uma grande responsabilidade pois, a aproximação do público estimulada no

espaço da escola, proporciona a quebra de preconceitos, sendo a obra explorada em diversos

aspectos ampliando seu sentido.

Esse projeto de pesquisa não tem a pretensão de sanar o distanciamento entre a arte

contemporânea e o público, mas sim aproximar o estudante de questões relacionadas a esse tema,

não é pelas lacunas que se deve negar o acesso, mas sim colocar em pauta o que está sendo

debatido no campo das artes fora do espaço da escola, quebrando um pouco do distanciamento

entre a arte produzida na atualidade e o conteúdo abordado na escola.

Para introduzir o tema pretende-se primeiramente apontar algumas questões referentes ao

sistema de funcionamento das artes no período acadêmico, moderno e contemporâneo, partindo

dos apontamentos da autora CAUQUELIN. De uma maneira geral pode-se dizer que no período

acadêmico a arte estava centralizada num regime de ensino em que o reconhecimento só era dado

a um pequeno número de artistas.

No período moderno existe a quebra dessas regras, os artistas querem abertura e

reconhecimento, mais liberdade para exposições, e ao mesmo tempo desejam segurança para as

suas produções, mas “uma espécie de grande máquina industrial, incitante, tentacular, entra em

ação. Isso se chama ‘mercado’. Mas bem depressa a simples lei da oferta e da procura segundo as

‘necessidades’ não vale mais: é preciso excitar a demanda, excitar o acontecimento, provocá-lo,

espicaçá-lo, fabricá-lo, pois a modernidade se alimenta”. (2005, p. 30), a partir da instauração

desse sistema de consumo, muitas mudanças são estabelecidas, dentre elas destaca-se o

surgimento do marchand, galerista, crítico, especulador, que mediam a circulação e o consumo

das obras, eles constroem a imagem do artista que se vincula a um grupo “pela simples razão,

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calcada no mercado, de que um produto único atrai menos consumidores do que uma constelação

de produtos da mesma marca.” (2005, p. 47)

No período contemporâneo o sistema é regido pela comunicação, os artistas que se ligam

na rede, possuem uma maior repercussão e são aceitos, “antes de ter sido exposta, a obra, ou mais

precisamente seu signo, já circula nos circuitos da rede” (2005, p. 68). “No mercado

contemporâneo, devemos levar em conta a lei da comunicação, que exclui qualquer ‘intenção’ da

parte dos atores, e privilegia o continente, ou seja, seus papéis e seus lugares, em vez de seus

conteúdos intencionais.” (2005, p. 66). Essa rede alimenta todo o mecanismo: a visibilidade do

artista, sua produção, a interação do público consumidor, esse funcionamento se propaga, é como

uma grande engrenagem, que se movimenta a partir daquilo que lhe impulsiona, é um sistema

que se autoconsome.

O esquema de funcionamento das artes está encoberto no espaço da escola, a imagem que

é transmitida ao estudante é romântica, o artista é mitificado, como um ser dotado de um dom

especial. Esse contra-senso impede uma leitura mais aproximada. Independente da época, a arte

sempre esteve submetida a um sistema de funcionamento, ele foi mudando de acordo com os

novos mecanismos da sociedade, a arte não é alheia, ela simplesmente segue um modelo

estabelecido.

Abordar arte contemporânea com essa visão romântica da arte e do artista é impossível,

essa proposta pretende falar abertamente sobre o funcionamento da arte, sem lançar julgamentos,

apenas apresentando os bastidores. É uma premissa para a introdução do assunto, acredita-se que

essas reflexões instiguem os estudantes.

Baseado na mesma autora, CAUQUELIN, sugere-se leitura das obras de Marcel Duchamp

(1887-1968) e Andy Warhol (1928-1987), para fortalecer as reflexões sobre o funcionamento da

arte e também mostrar as rupturas que propuseram, esses artistas fundamentam a leitura da arte

contemporânea.

“O que encontramos atualmente no domínio da arte seria muito mais uma mistura de

diversos elementos; os valores da arte moderna e os da arte que nós chamamos de

contemporânea, sem estarem em conflito aberto, estão lado a lado, trocam suas fórmulas,

constituindo dispositivos complexos, instáveis, maleáveis, sempre em transformação.” (2005, p.

127), essa colocação, dialogando com a teoria dos três paradigmas da imagem (SANTAELLA;

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NÖTH, 2008), que propõe uma divisão evolutiva dos níveis de complexidade na produção das

imagens. No Paradigma denominado Pré-fotográfico o meio de produção é artesanal, o

instrumento funciona como uma extensão do próprio corpo, a imagem produzida é única. No

Paradigma Fotográfico o meio de produção depende de uma máquina para realização do registro,

a imagem pode ser reproduzida. No Paradigma Pós-fotográfico o meio de produção é o resultado

calculado pelo computador, a imagem torna-se virtual. Os paradigmas ocorreram de maneira

evolutiva, mas não significa que foram substituindo as formas de produção das imagens, pelo

contrário, agregaram mais possibilidades. Pode-se constatar que a arte deste momento, “essa

mistura de tradicionalismo e novidade, de formas contemporâneas de encenação e de olhar na

direção do passado caracteriza o que se convencionou chamar de pós-moderno.” (CAUQUELIN,

2005, p. 128). Nesse sentido, pode-se constatar que o pós-modernismo permite uma

multiplicidade tanto das produções artísticas quanto dos modos tradicionais e contemporâneos de

pensamento, que proporcionam formas muito diversas de pensar e agir convivendo mutuamente,

“pois toda mudança no modo de produzir imagens provoca inevitavelmente mudanças no modo

como percebemos o mundo e, mais ainda, na imagem que temos do mundo.” (SANTAELLA;

NÖTH, 2008, p.158).

A forma contemporânea de arte coloca um doloroso problema para todos, para o público, mas também e talvez mais ainda para os que têm a missão de analisá-la. P. 17 Precisamos, portanto, atravessar essa cortina de fumaça e tentar perceber a realidade da arte atual que está encoberta. Não somente montar o panorama de um estado de coisas – qual é a questão da arte no momento atual – mas também explicar o que funciona como obstáculo a seu reconhecimento. Em outras palavras, ver de que forma a arte do passado nos impede de captar a arte de nosso tempo. P. 18 Sem dúvida, é essa arte moderna que nos impede de ver a arte contemporânea tal como é. Próxima demais, ela desempenha o papel do ‘novo’, e nós temos a propensão de querer nela incluir à força as manifestações atuais. P. 19. (CAUQUELIN, 2005)

Muitas são as discussões em torno da arte contemporânea, existem mais perguntas do que

respostas, acredito que a inserção desses questionamentos no espaço da escola minimize os

distanciamentos entre o público e a obra e traga contribuições para que possamos superar a

lacuna entre o que se produz e o que se ensina em artes.

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3. LEITURA DE IMAGEM

Houve um tempo em que a arte não era acessível a todos, apenas uma elite tinha esse

direito, hoje essa questão foi superada, de uma maneira ou de outra o acesso à arte é facilitado a

todos. Mas ter acesso ao que a obra apresenta é uma outra questão. É justamente esse ponto que

traz fragilidades ao ensino da arte, pois muitas vezes o professor ocupa o papel de um mero

divulgador dos bens culturais. Esse papel tem sua importância, mas não proporciona uma

aprendizagem efetiva, pois a especificidade da linguagem não é trabalhada.

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Existe uma enorme lacuna na leitura da imagem, porque não se explora o que a

fundamenta. É possível que a leitura não atinja níveis mais significativos pela nossa própria

cultura ocidental logocêntrica, que considera a escrita como um único código a ser lido. Nesse

sentido, justifica-se a dificuldade, todavia, acredita-se na possibilidade de uma leitura mais

efetiva que supere esses limites.

Essa proposta sugere dois níveis de leitura: num primeiro momento apresenta-se imagens

do cotidiano, para serem lidas comparativamente, isso facilita a percepção, pois dá um parâmetro

na exploração dos elementos formais e da composição. As imagens também possuem certa

oposição, além de evidenciar as diferenças também caracteriza os elementos e a composição.

Esse nível de leitura age como uma “pré-alfabetização”, para familiarizar o estudante com a

especificidade da linguagem visual.

Como a leitura culminará na análise de uma obra de instalação em ambiente interno,

sugere-se que neste nível de leitura sejam utilizadas imagens de ambientes internos variados:

quartos, escritórios, salas, cozinhas, banheiros, etc, e que estes ambientes tenham algum tipo de

oposição, seja, na cor, no espaço, na organização, na época, no estilo... Essa oposição fará sentido

para a análise daquilo que é específico em cada ambiente, o uso da comparação deixará evidente

a forma com que cada local se organiza e como ele representa a partir da sua especificidade.

O próximo nível de leitura da imagem é realizado com a apreciação de obra de arte, o

repertório adquirido no primeiro momento é aplicado, explorando a sintaxe dos elementos

específicos que compõem a imagem e sua composição, e a partir dessa relação o estudante

estabelecerá um sentido. Essa leitura será proposta com três obras, primeiramente com, Marcel

Duchamp (1887-1968), “Fonte”, 1917, e Andy Warhol (1928-1987), “Pelé” – série Atletas, 1977-

1979. Essas duas obras servirão para embasar o debate em torno da arte contemporânea, já citado

no texto sobre Arte Contemporânea. Por fim realiza-se a leitura da obra “Canções Submersas” de

Vivian Caccuri, 2008, citada no texto leitura da obra “Canções Submersas”.

A leitura é algo que vai sendo construída paulatinamente, o professor desempenha um

papel fundamental, pois conduz esse processo, cabe a ele, perceber e respeitar o repertório dos

estudantes e ao mesmo tempo não permitir interpretações prontas extraídas de um repertório

prévio, mas que as interpretações sejam realizadas a partir da análise dos elementos apresentados

na obra.

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4. LINGUAGEM

Quando nos reportamos à linguagem automaticamente pensa-se em língua, ela realmente

faz parte da linguagem, até mesmo as definições entre língua e linguagem não são consensuais,

justamente pelas diferentes perspectivas teóricas, mas neste trabalho o objetivo centra-se em

perceber o quanto a linguagem é propulsora para a aproximação de sentido e significado.

A língua possibilita o exercício da linguagem, ela é construída socialmente, só podemos

falar a língua de um determinado país se tivermos contato com seu povo ou então estudarmos

para adquirir esta habilidade. “A língua é um sistema: um conjunto organizado e opositivo de

relações, adotado por determinada sociedade para permitir o exercício da linguagem entre os

homens.” (ROCHA, 2003, p. 5). A língua sendo constituída por regras ela não perde suas

características gerais, mas (TERRA, 1997, p. 17) citando Roland BARTHES

[...] como instituição social, ela [a língua] não é absolutamente um ato, escapa a qualquer premeditação, é a parte social da linguagem; o indivíduo não pode, sozinho, nem criá-la nem modificá-la. Trata-se essencialmente de um contrato coletivo ao qual temos de submeter-nos em bloco se quisermos comunicar; além disto, este produto social é autônomo, à maneira de um jogo com suas regras, pois só se pode manejá-lo depois de uma aprendizagem.

Fomos condicionados pela cultura a acreditar que a linguagem verbal e escrita eram as

únicas formas de linguagem. Esse engano, nos engessou o olhar. A ditadura das palavras nos

distanciou do nosso potencial de interpretação do mundo, é necessário perceber que a linguagem

trata-se de “uma gama incrivelmente intrincada de formas sociais de comunicação e de

significação que inclui a linguagem verbal articulada, mas absorve também, inclusive, a

linguagem dos surdos-mudos, o sistema codificado da moda, da culinária e tantos outros”

(SANTAELLA, 1988, p.13), sendo percebida pelos sentidos; pode-se afirmar que a linguagem é

múltipla, se manifesta de diferentes modos: gestual, visual, sonoro, simbólico, falado, escrito,

publicitário..., mas também

[...] o termo linguagem se estende aos sistemas aparentemente mais inumanos como as linguagens binárias de que as máquinas se utilizam para se comunicar entre si e com o homem (a linguagem do computador, por exemplo), até tudo aquilo que, na natureza, fala ao homem e é sentido como

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linguagem. Haverá, assim, a linguagem das flores, dos ventos, dos ruídos, dos sinais de energia vital emitidos pelo corpo e, até mesmo, a linguagem do silêncio. (1988, p.15)

Além da linguagem ser imanente ao ser humano, conseguimos interagir com as que estão

disponíveis na natureza e constantemente criamos diferentes linguagens – formas distintas e

criativas de expressão.

A linguagem caracteriza-se pelas possibilidades de abrangência, não existe distinções

sociais, ela é para o coletivo, sendo acessível a todos, “o caráter não-verbal da comunicação

artística que constitui o motivo concreto da arte ser tão acessível e não exigir a erudição das

pessoas para ser entendida”. (OSTROWER, 19??, p.23), assim como a língua pode ser ensinada e

aprendida, as outras linguagens também são passíveis de cognição, nesse sentido a relevância

deste projeto se pauta na aprendizagem em artes visuais através do conteúdo dos códigos

específicos da linguagem visual, eles precisam ser acessados, o conhecimento e a aprendizagem

de fato ocorrem a partir da compreensão-tradução daquilo que a imagem apresenta, importando-

se com o que e como os elementos se organizam, isto é, o significado está na forma como as

imagens são representadas. Nesse sentido, proporciona-se ao estudante o acesso cultural mas

também acesso a linguagem, entendida como aquela que de fato constrói o significado. Fomos

condicionados pela cultura a acreditar que a Linguagem verbal e escrita eram e as únicas formas

de linguagem. Esse engano, de certa forma, nos engessou o olhar. A ditadura das palavras nos

distanciou um pouco de nosso potencial de interpretação do mundo.

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5. INSTALAÇÃO

Este termo passa a ser utilizado no contexto artístico a partir dos anos 1960 e 70, num

primeiro momento essa designação foi adotada para os registros fotográficos do espaço

expositivo, a imagem que registrava o panorama da exposição usou esse termo que propunha a

idéia de objetos numa determinada espacialidade. O olhar para o espaço expositivo passou a ser

determinante em alguns artistas e estilos. Mas a autonomia da instalação, isto é, o uso do termo

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como um gênero artístico, é incorporado nas artes visuais a partir do momento em que se propõe

obras onde a significação é estabelecida através experimentação do espaço.

Essa experimentação do espaço é vivida primeiramente pelo artista no momento da

elaboração da obra, ele se apropria de um ambiente ou da “arquitetura sem se confundir com ela”

(COSTA, 2004, p. 63), o lugar é transformado a partir da construção de uma cena, podendo ser

modificado de acordo com o local, os materiais utilizados são muito variados, as escolhas são

determinantes, o olhar do artista se projeta para a relação dos objetos com e no ambiente, cada

parte é pensada em relação ao todo, nessa elaboração a situação criada envolve o corpo do

observador, o lugar que ocupa e como se da sua exploração, participação e interação no espaço. O

artista elabora a interação em três níveis: dos objetos entre si, dos objetos em relação ao espaço e

do observador em relação ao ambiente.

A plenitude da obra existe a partir da experiência estética do observador, sua participação

permite ver a si próprio como parte do ambiente criado, e também pelo “embate dessa relação

com o espaço por ela ocupado” (CASTILLO, 2008, p.181), dependendo da proposta pode levá-lo

a uma interação de diferentes maneiras, usando o corpo inteiro, priorizando um ou mobilizando

vários sentidos.

A leitura da obra de instalação na sala de aula, propõe um grande desafio, uma vez que o

receptor necessita percorrer seu espaço para dar concretude a obra, cabe ao professor, oportunizar

ao estudante diversas possibilidades de abordagem para fazê-lo se aproximar do contexto, nada

substitui o contato corpo-a-corpo com a obra, mas pode-se apropriar-se de recursos para que se

formule uma noção deste ambiente, usar fotos em diversos ângulos, descrições escritas ou

narradas, vídeos, maquetes, croquis, enfim, deve-se buscar o máximo de possibilidades para que

a percepção da totalidade do ambiente seja construída.

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6. INTERATIVIDADE

O papel de quem aprecia a obra de arte torna-se cada vez mais importante, a partir do

momento em que esse espectador é requisitado a fazer parte da obra, na medida em que a obra só

adquire sentido com sua participação. As práticas artísticas que envolvem as novas tecnologias,

alteram o campo perceptivo tanto do autor quanto do receptor. Analisando pelo viés da recepção

pode-se considerar que esse papel se dá em níveis, permitindo uma diferenciação entre a

contemplação, a participação e a interação. PLAZA, considera que a

[...] inclusão do espectador na obra de arte, segue esta linha de percurso: participação passiva (contemplação, percepção, imaginação, evocação etc), participação ativa (exploração, manipulação do objeto artístico, intervenção, modificação da obra pelo espectador), participação perceptiva (arte

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cinética) e interatividade, como relação recíproca entre o usuário e um sistema inteligente. Esta fortuna crítica é fundamental, visto que a história reaparece sob o formato virtual. (2000, p. 10)

Os graus de abertura propostos pela obra de arte são determinantes na participação do

espectador, PLAZA classifica essa abertura em: Abertura de Primeiro Grau, Abertura de Segundo

Grau e Abertura de Terceiro Grau. A abertura de Primeiro Grau é dada pela Teoria da Obra

Aberta, em que a mensagem da obra permite múltiplas interpretações, a arte propõe uma

participação do espectador, afastando-se da contemplação, dando espaço ao improviso, ao

provisório, ao subjetivo. A abertura de Segundo Grau propõe ao espectador se aproximar do

criador, ele é induzido à exploração de objetos ou do próprio espaço. A obra só existe e só tem

sentido a partir da participação do espectador. A abertura de Terceiro Grau ocorre com o uso da

tecnologia na produção artística, que proporciona uma participação efetiva do público, sendo que

o termo ‘participar’ não traduz a forma com que o espectador atua, pois ele não só experiência

situações, mas permite que “o espectador possa agir sobre o fluxo, modificar a estrutura, interagir

com o ambiente, percorrer a rede, participando, assim, dos atos de transformação e criação.”

(2000, p.21). O espectador é elevado à categoria de co-produtor, nesse sentido o termo

‘interatividade’ traduz essa nova forma de relação tanto do artista quanto do espectador.

“A interatividade é uma simulação da interação e graças a ela o diálogo entre realidades

diferentes se torna possível.” (2000, p.22), ela está diretamente ligada à idéia de transformação, é

a ação atuando como modificadora de algo estabelecido. A interatividade gera uma série de

debates, cabe aqui apenas uma introdução pelo viés da recepção, pois a obra interativa vai sendo

lida e ao mesmo tempo modificada-alterada por aquele que a lê, cria-se um ciclo ininterrupto,

mas deve-se levar em conta aquele que realiza a leitura, pois existem múltiplas interpretações,

(2000, p.24) cita GOETHE que divide o leitor em níveis, o primeiro tipo seria aquele que

estabelece fruição sem julgamento, o terceiro julga sem fruir e o intermediário julga fruindo ou

frui julgando, e este é o nível de relação em que a obra é recriada, em que a interação ocorre, a

leitura de fato acontece no âmbito da inventividade, FAVARETTO considera que o verdadeiro

conteúdo da arte é a própria arte e que seu conhecimento só se dá no nível da própria experiência

da arte.

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7. LEITURA DA OBRA “Canções Submersas”

Vivian Caccuri

Paulista, nascida em 1986. Pesquisadora em arte eletrônica, formada pela Universidade Estadual

Paulista – UNESP

Canções Submersas

Instalação

Obra vencedora do Rumos Itaú Cultural Arte Cibernética 2007

Exposta na Bienal Internacional de Arte e Tecnologia – emoção art.ficial 4.0 – 2008

Antes de iniciar uma análise é importante impulsionar os estudantes para que contemplem

a obra, primeiramente com gratuidade, sem regras, apenas abrir-se para o despertar da

sensibilidade, sem emitir interpretações prontas. Depois perceber o que a obra apresenta de único

e particular. Perceber uma classe geral a que possa pertencer.

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Após esse primeiro contato inicia-se a análise.

A idéia é impulsionar para que um novo olhar seja despertado, abrir-se para a percepção,

sem nomear o que é, mas como se apresenta, a cor, a luminosidade, o movimento, o espaço.

Inserido em um ambiente totalmente branco, percebe-se um objeto transparente, com

formato retangular, centralizado no plano inferior, o ambiente é completamente asséptico,

chamando a atenção para o objeto em seu centro, sendo a entrada bem ampla, rapidamente o

olhar é projetado para baixo, o centro da atenção se fixa ao objeto central. Após certa atenção ao

objeto central, volta-se a percepção do espaço, deparando-se no canto esquerdo e direito, sob um

apoio, objetos que também fazem parte da obra. Neste momento da leitura é importante

concentrar-se na descrição e organização dos elementos, sem nenhuma indicação ou função, os

questionamentos podem surgir, mas a condução deve retomar as qualidades exibida pela obra.

No momento posterior, ressalta-se a idéia de que o objeto da apreciação não é a obra, mas

sim uma representação, seja ela, uma foto, desenho ou vídeo. Toda a análise parte da tentativa de

imaginar como seria estar neste ambiente, explorando esse espaço. Uma obra de instalação exige

a participação do receptor, sendo interativa, seu sentido só é construído com a interferência do

mesmo. Um vídeo jamais poderá proporcionar as mesmas impressões do que estar no espaço real

da obra podendo explorar e interagir no ambiente, esse distanciamento precisa ser ressaltado, o

que vejo como imagem é diferente daquilo que a obra tem como proposta. Nesse caso, torna-se

importante, fornecer dados para que a noção desse espaço seja construída na mente. Se

estivéssemos explorando esse ambiente estaríamos em uma sala, com aquário em seu centro, com

colunas no canto esquerdo e direito que apóiam aparelho de MP3, podendo o espectador circular

em todo espaço.

Nessa etapa faz-se referência a classificação da obra, como se trata de uma instalação

interativa, enquadra-se como uma obra contemporânea, usando meios tecnológicos em sua

elaboração.

Segunda etapa da análise

Uma sala contendo piscina climatizada com quatro carpas e aparelho de MP3, é certo que

criar uma relação entre esses elementos num primeiro momento é quase absurda, a piscina fica

bem abaixo dos olhos, no mesmo nível quando observamos peixes num lago, mas o espaço que

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ela ocupa, da uma dimensão de sua extrema importância, o olhar se concentra na piscina e no

movimento das carpas, os aparelhos de MP3 são percebidos, mas desempenham um papel

secundário, passado o tempo de contemplação dos peixes, inicia-se a exploração do ambiente na

tentativa de estabelecer um sentido, esses objetos foram retirados do seu ambiente natural e

organizados desta maneira porque estão indicando alguma coisa, aliás só se sabe que se trata de

uma obra de arte, porque está sendo apresentado em uma galeria, então, existe um sentido nesta

nova ordem dada.

A partir do momento que se quer estabelecer um sentido, o estranhamento inicial foi

superado e assim abre-se uma nova etapa de exploração do ambiente. É quase automático, ver um

aparelho de MP3 e querer ligá-lo, ele foi colocado na altura do braço, indicando a possibilidade

da manipulação, a piscina pelo seu posicionamento, propõe uma contemplação, mesmo que o

receptor não tenha uma orientação de como interagir com a obra, a forma com que os objetos

foram organizados já indicam como a interação pode se dar. Fica evidente que existe algo no

ambiente que ainda não se explorou.

Quando o MP3 é ligado, a música toma conta do ambiente, o resultado sonoro é

constituído por uma sobreposição de faixas musicais, percebe-se uma sonoridade cacofonica,

num primeiro momento é apenas um som experimental que faz parte da instalação. Se o

espectador entrega-se ao que o ambiente propõe, ele permanecerá ouvindo a música e

contemplando as carpas, com certo tempo de observação ele percebe que existe uma relação entre

o movimento dos peixes e a sobreposição musical. Existe um software que interfere em tempo

real nas faixas musicais, conforme as carpas se movimentam.

Terceira etapa

A interpretação se dá em vários níveis, dependerá da experiência, do conhecimento

histórico e cultural do intérprete. Cabe ao professor na condução dessa etapa, permitir que cada

estudante tenha sua percepção e que possa compartilhar os diferentes significados, o ponto de

vista de cada um precisa ser respeitado, porém o debate em torno das impressões pessoais e o

contato com os debates causados pela obra na mídia e no contexto artístico, ampliam o repertório

de todos.

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Essa obra conduz o observador num estado de imersão, a aproximação com os peixes, seu

colorido e movimento são envolventes, a percepção se inicia nessa sutiliza, que produz certa

demora na associação entre o movimento dos peixes e o som produzido. Num primeiro momento

envolve mas também gera uma necessidade de sentido. Esses sentimentos podem ser unânimes a

todos que vejam a obra, alguns podem ficar ligados a essas sensações tendo a impressão lúdica e

leve causadas pela interação com esse ambiente. Outros podem ultrapassar essas sensações e

promover questionamentos, em relação à própria feitura da obra, sua relação com a história da

arte, com a sociedade em geral, podendo associar com possibilidades de questionamentos futuros,

enfim, as associações dependem do repertório de cada pessoa.

A leitura é sugerida em três etapas, na percepção esses momentos se misturam, mas existe

a possibilidade de controlá-los, para ouvir o que a obra tem a dizer é necessário disponibilidade e

paciência. Esse controle para o cumprimento das etapas é como uma quebra de algo que está

automático na consciência, mas é possível fazer essa quebra, cabe ao professor o papel de

condutor, a ele deve estar claro o que explorar em cada etapa.

A primeira etapa refere-se à apreensão das coisas tal como elas são, sem interpretação,

comparação ou análise, é espontâneo, original e livre. É a consciência imediata daquilo que se

observa, é falar do que se vê sem dizer o que é, isto é, concentrar-se na sensação, falar do que se

vê no instante presente. A observação relaciona-se aos elementos estruturais que estão na

imagem: composição, cor, forma, estrutura. E também quanto à materialidade da obra: suporte,

espaço; é uma descrição isenta de qualquer interpretação.

A segunda etapa é a atribuição da qualidade ligada ao objeto, trata-se daquilo que

representa, colocando suas características, é a reflexão envolvida nesse processo, é uma reação ao

primeiro momento, quando surgem as referências que levarão a causas e efeitos atribuindo reação

como: comparação, oposição, diferenciação. No caso dos elementos estruturais e da

materialidade da imagem, faz-se uma inter-relação das partes sentidas no primeiro momento,

refletindo como eles se organizam.

A terceira etapa é o conhecimento do observador que entra em ação, não que ele não o

tenha utilizado até o momento, mas seu nível simbólico é acessado, onde as associações são

intencionais, é o nível da interpretação, sua experiência de vida entra em ação, é o seu contexto

pessoal que irá agregar valor a tudo que se percebeu na primeira e segunda etapa.

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Cada etapa é referência para a próxima, dessa maneira o significado vai-se descortinando,

num primeiro momento pode parecer que essas etapas não trazem mudanças, porém com a

aplicação, percebe-se que a primeira impressão que se tem quando apresentamos uma obra e logo

ouvimos, “feio” ou “bonito”, “gosto” ou “não gosto”, na verdade com as etapas esses primeiros

julgamentos vão minimizando, não que o gosto não tenha importância, mas existe um momento

para que ele seja expressado, independente do gosto pessoal a obra tem algo a dizer, é nisso que

se concentra a leitura. O caminho da leitura precisa ser conduzido com paciência, é um exercício

para ampliar o olhar e aos poucos ir construindo a consciência de que tudo que existe no mundo

emite algum significado, sentido e mensagem, é necessário abrir-se para possibilitar a infinitude

do olhar.

7.1. RELAÇÃO DA OBRA “Canções Submersas” COM A TEORIA DOS TRÊS

PARADIGMAS DA IMAGEM

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A teoria dos paradigmas da imagem, afirma que os meios de produção provocam

determinadas conseqüências, ela refere-se às imagens de uma maneira geral, pretende-se fazer

uma relação desses paradigmas com a obra, no intuito de proporcionar ampliação do debate,

podendo ainda incluir outras questões apontadas pelos estudantes, comparando com as

conseqüências das imagens do paradigma pré-fotográfico e fotográfico, considerando as

mudanças provocadas na nossa percepção e na sociedade a partir da forma com que as imagens

são produzidas. Ressaltando mais uma vez que a relação com a obra deve se dar a partir da sua

especificidade, isto é, no como é produzida e não somente na “mensagem” que se pode extrair

dela.

A IMAGEM E SEU MEIO DE PRODUÇÃO: A produção das imagens está em constante

processo evolutivo, analisar o meio de produção dessa obra implica em perceber os materiais e

aparatos utilizados em todo o percurso de produção para chegar ao resultado final. Essa busca

pode ser realizada pelos estudantes, instigando-os a pesquisar os caminhos e materiais utilizados

pela artista. O estudante não necessita saber sobre a teoria e associar a obra ao paradigma Pós-

fotográfico. Mas ele precisa ter noção de que a obra é o resultado de uma união entre o

computador e seres vivos num certo ambiente. Um programador, elaborou um software

específico, fazendo com que o nado dos peixes modifique as canções, lhes atribuiu uma

inteligência artificial, sem submetê-los a uma experiência real. Sendo que a obra possui os

atributos da virtualidade e da simulação. E justamente por esse aspecto ela transfere ao nosso

meio determinadas conseqüências, cabendo uma análise das mesmas.

CONSEQÜÊNCIA DO MEIO DE ARMAZENAMENTO: Refere-se à forma com que a obra é

armazenada, no paradigma pré-fotográfico e fotográfico o armazenamento se dá pela

materialidade, por exemplo: na tela, no papel, no negativo da fotografia, em fitas magnéticas. No

caso dessa obra, ela não existe materialmente, isso só aconteceu no momento em que ela estava

exposta, hoje seu armazenamento está na memória do computador, que possui tanto os vídeos da

obra, como as canções realizadas. Estando esse material disponível a todos. Nesse momento

pode-se fazer uma comparação de como os meios virtuais mudam nossa relação com a obra, pois

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os meios de armazenamento trazem a memória da obra, pois sua presença se dá de maneira

imaterial.

CONSEQÜÊNCIA NO PAPEL DO AGENTE PRODUTOR: Oportunizar uma reflexão a

respeito do criador da obra, como desenvolveu sua capacidade e usou suas habilidades para

chegar ao resultado. Sendo uma obra realizada com meios computacionais, o pensamento de

quem a elaborou é lógico e experimental, simulando uma dada situação em que o centro

organizador desaparece, não se vê como a ação dos peixes se da, o agente produtor é o

manipulador da situação, e essa manipulação se refere a algo lógico que interage no mundo real.

Partindo desse ponto de vista e analisando nossa relação com o mundo virtual e o papel daquele

que tem “domínio” das ferramentas para manipular o mundo real, torna-se importante um debate

a respeito da responsabilidade do agente produtor, até que ponto essa manipulação pode chegar?

CONSEQÜÊNCIA PARA A NATUREZA DA IMAGEM: Nessa conseqüência pode-se levantar

o questionamento a respeito de como essa obra, nos conduz num primeiro momento, a vê-la

como mera apropriação da natureza, isto é, podendo levar o espectador desapercebido a um nível

de relação superficial, mas aquele que ultrapassa essa primeira impressão, percebe que existe uma

simulação, uma apropriação que conduz os peixes à capacidade de manipular-alterar as canções.

Pensar sobre essa ação do artista que tem a capacidade de controlar o mundo natural, é

fundamental no contato com essa obra.

CONSEQÜÊNCIA PARA A RELAÇÃO DA IMAGEM COM MUNDO: Nessa obra sua

conseqüência para o mundo está na virtualidade e na simulação, existe uma ação abstrata no seu

funcionamento, ao mesmo tempo em que proporciona uma autonomia imprevisível, ninguém

pode mensurar as alterações musicais que poderão ser feitas. Essa conseqüência propõe um

debate em torno dos efeitos que a virtualidade provoca e como nos estabelecemos e nos

relacionamos no mundo real-virtual.

CONSEQÜÊNCIA NO MEIO DE TRANSMISSÃO: A obra foi exposta na Galeria do Itaú

Cultural, de 2 de Julho a 14 de setembro de 2008, em São Paulo. Hoje, nada existe dessa obra, os

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peixes foram devolvidos ao seu habitat natural, o software e o resultado das canções estão na

memória de algum computador, e os resultados das interações estão disponíveis nos

computadores podendo ser acessadas por qualquer usuário a qualquer momento e local. Então se

pode pensar na relação do espectador com a obra, será que o contato real é imprescindível para

dialogar com a mesma? Independente do ponto de vista, essa disponibilidade, permite o acesso

por um grande número de pessoas. Acaba que essa obra gera a possibilidade de refletir sobre os

meios de transmissão na era computacional e suas conseqüências na sociedade.

CONSEQÜÊNCIA NO PAPEL DO RECEPTOR: Imerso num ambiente em que a interatividade

se dá em dois níveis, pela ação dos peixes sobre a música e também do próprio apreciador que

pode selecionar canções do seu MP3 ou iPOD, existe uma transformação imediata, o virtual está

diretamente interferindo no real. Analisar o papel o espectador nas obras interativas, que age

diretamente no resultado final, suprimindo a distancia entre o produtor e o receptor, que rumos a

arte pode tomar a partir dessa nova relação?

8. ROTEIRO DE APLICAÇÃO

1. O QUE É ARTE?

Instigar os estudantes para que debatam a respeito desse tema, sugere-se que o professor

busque conceitos de arte que tenham oposições entre si, e obras que sejam representantes de uma

determinada época, através desses conceitos e imagens, propor discussões a respeito das

mudanças e das concepções que se alteram com o passar do tempo e estabelecer parâmetros para

conceitos de arte.

2. ARTE CONTEMPORÂNEA

O professor promove a comparação do sistema de funcionamento da arte no período

acadêmico, moderno e contemporâneo, sugere-se a seleção de imagens de obras de arte para

subsidiar as discussões.

Page 32: CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E SENTIDO NA ARTE …arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo como uma emoção ruim é uma emoção.” (MORAIS, 1998, p. 34). Após esse momento, inicia-se

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Apreciação de obras de Marcel Duchamp e Andy Warhol com o intuito de caracterizar a

arte contemporânea.

3. LEITURA DE IMAGEM

Os alunos fotografam cômodos da sua casa, o professor organiza as imagens para que

possam ser comparadas, cuidando para manter a privacidade do autor. Essa leitura é conduzida de

acordo com as etapas sugeridas no texto LEITURA DA OBRA “Canções Submersas”, o intuito é

fazer com que percebam a organização do espaço, bem como os elementos que dele fazem parte,

esses são capazes de comunicar, eles são a representação da personalidade das pessoas que o

produziram. É importante ressaltar que tudo comunica, desde as roupas, os gestos, as escolhas, os

objetos... As obras de instalação se apropriam do espaço para que com e através dele tenham

possibilidades de expressão.

3.1. INSTALAÇÃO

Apresentar imagens de diversas instalações mostrando a diferença entre obras que

sugerem diferentes formas de participação do receptor: contemplação, participação e interação.

3.2. LEITURA DA OBRA “Canções Submersas”

Realizar a apreciação da obra através de vídeos e imagens da internet, no primeiro

momento conduzir o grupo para que vejam as coisas como elas se apresentam, sem nenhuma

interpretação, no segundo momento a capacidade perceptiva é estimulada, extraindo mais dados e

comparando-os com o todo, no terceiro momento as interpretações pessoais entram em ação,

lembrando que são os receptores que completam o sentido da obra. Em seguida analisar a obra de

acordo com as suas conseqüências pelo viés dos três paradigmas da imagem.

Esse roteiro indica uma ordem para a introdução da Arte Contemporânea na escola, ele

deve ser complementado de acordo com a necessidade, lembrando que sua aplicação não foi

realizada e somente com sua prática é que se constatará sua viabilidade.

Page 33: CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E SENTIDO NA ARTE …arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo como uma emoção ruim é uma emoção.” (MORAIS, 1998, p. 34). Após esse momento, inicia-se

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9. SUGESTÕES PARA COMPLEMENTAR OS ESTUDOS

VIDA E OBRA DE VIVIAN CACCURI

http://www.vcaccuri.net/pbio1.htm

Trata-se da página da própria artista, apresenta sua biografia

http://www.youtube.com/watch?gl=BR&hl=pt&v=eogcKhel3z0

Este vídeo mostra um esquema o funcionamento da obra, bem como todos os elementos que a

compõe.

http://www.youtube.com/watch?v=Zirw9HGFs7w

Neste vídeo pode-se ter uma noção de como as mesclas musicais ocorreram

http://br.youtube.com/watch?v=Y_e34v3s4o4&feature=related

É um vídeo com uma reportagem da Band, que apresenta um panorama da exposição Emoção

Art.ficial do Itaú Cultural de 2008, serve para mostrar o contexto da exposição em que a obra da

Vivian Caccuri foi apresentada.

http://www.youtube.com/watch?v=gUXjEOONyjg&NR=1

Com este vídeo pode-se conhecer outra obra de instalação interativa da artista “iFluids” (2008),

ampliando os estudos e se aproximando de sua poética.

http://www.youtube.com/watch?v=8Iu5rlZVjVI

Este vídeo mostra a artista falando de sua performance “Memorabilia” (2007)

ARTE CONTEMPORÂNEA

CAUQUELIN, Anne. Arte Contemporânea – uma introdução. São Paulo: Martins Fontes,

2005.

Page 34: CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E SENTIDO NA ARTE …arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo como uma emoção ruim é uma emoção.” (MORAIS, 1998, p. 34). Após esse momento, inicia-se

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A abordagem da Arte Contemporânea foi baseada nesta autora, tanto para os mecanismos de

funcionamento da arte quanto para os artistas que a fundamentam.

ISTO É ARTE? Produção Instituto Itaú Cultural, São Paulo: DVDteca arte na escola, 1999.

Documentário, color, DVD, 12’.

Neste documentário o filósofo Celso Favaretto, faz reflexões sobre diversas transformações

ocorridas na arte, dando várias possibilidades de reflexões e abordagens sobre Arte

Contemporânea.

[ART.DIGITAL] Realização/Produção: Rede SescSenac de Televisão. São Paulo. 2002.

Reportagem, color, DVD, 23’.

A reportagem mostra a exposição [emoção art.ficial] de 2002, no Instituto Cultural Itaú, em São

Paulo. Mostra estudantes no momento da visita, com relato de artistas participantes da mostra,

coordenadores e estudantes. Possibilita a ampliação do repertório sobre arte digital, além de

discussões sobre o tema.

Este material está disponível nas DVDtecas do Instituto Arte na Escola, com sede na Faculdade

de Artes do Paraná e no departamento de Pedagogia da UFPR.

OUTRAS INSTALAÇÕES INTERATIVAS

http://crepusculodosidolosbr.wordpress.com/

Obra “Crepúsculo dos ídolos” Jarbas Jacome – 2008

http://www.youtube.com/watch?v=3yrrxOkq7hg

Obra “Ultra-Nature” Miguel Chevalier – 2008 (a música do vídeo não faz parte da obra)

Page 35: CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E SENTIDO NA ARTE …arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo como uma emoção ruim é uma emoção.” (MORAIS, 1998, p. 34). Após esse momento, inicia-se

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http://artzero2008.wordpress.com/programacao-generativa-como-linguagem-e-comunicacao/projetos-que-exploram-processos-de-rotinas-autogenerativas-e-processos-algoritmicos/

Este link apresenta vários Projetos que exploram processos de rotinas autogenerativas e processos algorítmicos

http://sciarts.org.br/index1p.html

Trata-se de uma equipe Interdisciplinar que desenvolve projetos na intersecção entre Arte, Ciência e Tecnologia

VIDA E OBRA MARCEL DUCHAMP

CAUQUELIN, Anne. O Embreante Marcel Duchamp (1887 – 1968). In.:Arte Contemporânea –

uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

Este capítulo oferece subsídios para a realização da leitura da sua obra e aponta as rupturas

estabelecidas a partir da sua produção artística.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcel_Duchamp Neste link pode-se copiar a imagem da obra “Fonte”, também apresenta informações sobre vida do artista e também de outras obras. http://rascunho.rpc.com.br/index.php?ras=secao.php&modelo=2&secao=25&lista=0&subsecao=0&ordem=546&semlimite=todos Neste endereço pode-se encontrar texto sobre a obra “Fonte” realizado por Affonso Romano de Sant’Anna http://www.jornalpoiesis.com/mambo/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=286 Este link é um texto bem sucinto em forma de questionamentos e aponta algumas curiosidades sobre a obra, também escrito por Affonso Romano de Sant’Anna http://ppgav.ceart.udesc.br/ciclo1/atila_artigo.pdf Contém um texto de Atila Ribeiro Regiani, comentando sobre a obra em relação ao significado e significante

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VIDA E OBRA ANDY WARHOL

CAUQUELIN, Anne. O Embreante Andy Warhol (1928 – 1987). In.:Arte Contemporânea –

uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

Este capítulo oferece subsídios para a realização da leitura da sua obra e aponta as rupturas

estabelecidas a partir da sua produção artística.

http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-

BR&sl=en&u=http://www.telegraph.co.uk/culture/art/3652967/He-shoots,-he-

scores.html&ei=L0usSd-8M5jAtgf1q-

3oDw&sa=X&oi=translate&resnum=1&ct=result&prev=/search%3Fq%3Dpel%25C3%25A9%2

Bandy%2Bwarhol%26start%3D10%26hl%3Dpt-BR%26rlz%3D1C1CHMT_pt-

BRBR311BR312%26sa%3DN

Este link explica um pouco sobre a obra sugerida para leitura “Pelé”

http://www.abril.com.br/fotos/pele-fora-campo-68-anos/?ft=pele-andy-warhol-1g.jpg

Neste link pode-se encontrar uma foto do Pelé com Andy Warhol, o encontro aconteceu em 27 de

julho de 1977, em Nova York, essa foto foi realizada para que a obra pudesse ser executada

http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-

BR&sl=en&u=http://www.tv20detroit.com/news/local/31108249.html&ei=hlesSYPbAYG4twe8j

NXYDw&sa=X&oi=translate&resnum=9&ct=result&prev=/search%3Fq%3Dandy%2Bwarhol%

2Bpel%25C3%25A9%26start%3D10%26hl%3Dpt-BR%26rlz%3D1T4SKPB_pt-

BR%26sa%3DN

Neste link pode-se encontrar algumas informações sobre a produção da série dos atletas, da qual

a obra “Pelé” faz parte.

http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-

BR&sl=en&u=http://www.tv20detroit.com/news/local/31108249.html&ei=hlesSYPbAYG4twe8j

NXYDw&sa=X&oi=translate&resnum=9&ct=result&prev=/search%3Fq%3Dandy%2Bwarhol%

Page 37: CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E SENTIDO NA ARTE …arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo como uma emoção ruim é uma emoção.” (MORAIS, 1998, p. 34). Após esse momento, inicia-se

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BR%26sa%3DN

Este link mostra um livro sobre Pelé, na página 54 é comentado sobre a pintura que Andy Warhol

realizou

http://mais.uol.com.br/view/1xu2xa5tnz3h/pequim-exibe-serie-atletas-de-andy-warhol-

0402386CE0890326?types=A&

Apresenta um vídeo em que mostra a obra, com pequeno comentário a respeito da série atletas.

10. EXPECTATIVA DE RESULTADO

As aulas de arte, de uma maneira geral, são conduzidas, através do recorte de um

determinado tema, onde se faz certa contextualização, em seguida propõe-se uma atividade

prática baseada neste tema. Não é o caso de afirmar que essa organização esteja errada, mas ela

não tem trazido resultados significativos, é um fazer calcado em certo conhecimento, mas no

fundo, o que fica ao estudante é o fazer, quando ele é interrogado sobre o que estudou, o

conteúdo raramente é citado, o que se destaca é a atividade prática. Penso que ela seja marcante

justamente porque se consegue ter uma vivência do processo, o estudante é conduzido de tal

maneira que se sente autor, responsável pelo resultado.

Neste projeto, o estudante é conduzido a refletir sobre arte, seu significado, sua

importância e sua ação na sociedade, percebendo que ela se transforma de acordo com a

necessidade humana, ela está constantemente revelando para nós mesmos as nossas alegrias,

tristezas, sonhos, frustrações... A arte é criada por nós e essa invenção comunica a nós mesmos.

Essas discussões sobre a arte devem ser uma constante no espaço escolar, ela é uma premissa

para o estudo de qualquer tema, o estudante deve ser incentivado a debater sobre essa temática,

pois os sentidos da arte vão adquirindo significado na medida das suas buscas.

A arte produzida na atualidade é múltipla as produções contemporâneas não negam as

produções modernas e tradicionais, porém, cada vez mais a arte exige a participação do receptor,

a partir da afirmação de DUCHAMP em que é o observador que faz a obra, o papel do professor

Page 38: CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E SENTIDO NA ARTE …arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo como uma emoção ruim é uma emoção.” (MORAIS, 1998, p. 34). Após esse momento, inicia-se

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de arte precisa ser repensado. Se a atividade prática torna-se importante é porque o estudante se

sente atuante, seu papel é semelhante ao do artista. No caso da recepção ele necessita da mesma

autonomia, é preciso instigá-lo para que se sinta protagonista no seu diálogo com a obra de arte,

ele é solicitado a participar, interagir, alterar a obra, se isso não ocorre, simplesmente não existe

obra, ela só tem sentido a partir desta proposta, isto é, da participação efetiva de quem a aprecia,

isso vale para todas as obras, não somente para as que necessitam de participação ou interação,

aquele que contempla também cria sentido. O professor tem um papel fundamental nesse

processo, é ele quem determina os caminhos do contato com a obra, o distanciamento existente

entre o receptor e a obra pode estar sendo construído dentro da escola.

A arte contemporânea é um desafio não só no espaço da escola, mas não podemos esperar

que os debates em seu entorno cheguem a um consenso para que possamos abordá-la, as dúvidas

e os questionamentos podem ser lançados e a partir deles irmos criando uma trajetória, não é só

pelo filtro da história que aprendemos, ele é importante, mas participar das questões do presente,

gera uma ação significativa, a partir de um dado concreto, a atuação é dentro da realidade, dando

ao estudante a oportunidade de questionar, de descobrir, de se perguntar. O ensino da arte

contemporânea não é com o intuito de fazer com que o estudante se agrade com ela, ou comece a

lhe atribuir adjetivos positivos, mas sim instigá-lo ao impulso da descoberta, da curiosidade, da

busca por uma resposta, percebendo que existe algo na obra que pode tocá-lo. E ampliar seu olhar

a partir do momento em que se torna produtor de significação da imagem e conseqüentemente

seu próprio produtor de conhecimento, estando apto para buscar efeitos de sentidos em qualquer

imagem presente em seu universo.

Page 39: CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E SENTIDO NA ARTE …arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo como uma emoção ruim é uma emoção.” (MORAIS, 1998, p. 34). Após esse momento, inicia-se

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