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Construção tridimensional de imagens: assemblage na sala de aula
Liz Vicente Montanheiro1
Ivane Angélica Carneiro2
Esta pesquisa teve como objeto de estudo construções tridimensionais através da assemblage, com referencia às obras de Vik Muniz que utiliza essa técnica empregando materiais alternativos em suas obras. A assemblage amplia a percepção espacial do aluno, trabalha vários meios como a fotografia, a história da arte, a colagem; além de ser acessível e econômica. A teoria gestaltica, a semiótica e a metodologia triangular estão presentes neste estudo inseridos na obra de Vik e na didática posta em prática.
Palavras chave: materiais alternativos, assemblage, ensino de arte, Vik Muniz.
Introdução
Em meados do século XX, a escultura tradicional perdeu força e alguns
artistas ao invés de construírem representações fieis a realidade, começaram a
exibir a expressividade da figura humana modificando o modo de apresentação de
suas obras; surge a escultura moderna. Neste período as criações escultóricas
sofreram grandes transformações como a perda o pedestal, utilizavam-se da
estrutura da galeria, refratavam as paredes na obra, suspendiam-se no teto ou
equilibravam-se no piso, mostrando-se fluídas e sólidas, frágeis e resistentes em
única obra. Marcam assim uma fase revolucionária das artes, oportunizada tanto
pela quantidade de materiais industrializados disponíveis como pela expressividade
gerada pelos artistas através da extensa liberdade de criação.
A assemblage surgiu nesse cenário, na metade do século XX, após duas
guerras, explorando recursos da matéria com resultados distintos. No lugar de
modelar, esculpir ou fundir, as esculturas são fixadas, construídas, apropriadas ou
instaladas. Devido a estas possibilidades percebeu-se que a assemblage permite
1 Professora da rede estadual de ensino do Paraná e do Programa de Desenvolvimento da Educação
PDE/EMBAP (2012) licenciada em Artes Plásticas pela Faculdade de Artes do Paraná (1993) e pós-graduada em metodologia do Ensino da Arte (FAP, 2003). 2 Professora colaboradora da Escola de Música e Belas Artes do Paraná – pesquisadora, artista
plástica e produtora cultural, licenciada em Artes plásticas pela Faculdade de Artes do Paraná (1996). Mestre em Educação e Cultura pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC (2002),pós-graduada em Metodologia do Ensino da Arte (FAP) e em Gestão Cultural pela Universidad de la Comunicación (México, 2007).
muitas possibilidades de expressão e interação na realidade do aluno, característica
essa da arte contemporânea onde esta inserida esta técnica. Essa difere da
moderna por não seguir tendências e movimentos, estar centrada na expressividade
e na relação de interpretação do espectador com a obra.
A assemblage3, inserida neste período, possibilitou maior compreensão e
proximidade do aluno com a arte, além de permitir o manuseio de objetos e ampliar
as possibilidades de expressão denotando uma aprendizagem mais significativa.
Para Barbosa os alunos aprendem melhor construir seus trabalhos utilizando
materiais concretos, ao invés de desenhar releituras. O concreto aproxima o aluno
da realidade (BARBOSA, 1999, p.18), por isso escolheu-se elementos
tridimensionais.
Elegeu-se as obras de Vik Muniz por trabalhar a assemblage de três modos
distintos – integrando a relação entre a imagem e o material, o modo de criação da
obra e a fotografia da imagem construída e desta forma interagir na realidade do
aluno de acordo com o material que utiliza em suas composições.
Esta técnica artística foi ministrada para dois grupos de professores e um de
alunos desenvolvidos em períodos e metodologias diferentes, obtendo resultados
distintos, conforme sua categoria.
Transição entre épocas da escultura e o surgimento da assemblage
A escultura tradicional acompanha regras e cânones para a representação da
figura humana. August Rodin4, pertenceu a esta época, no entanto alterou esta
prática enfatizando a expressão da figura. Ao lado dele também surgiram outros
escultores que alteraram significativamente esse modo de apresentação, Brancusi5
por exemplo retira o pedestal da escultura, Tatlin6 utiliza a estrutura da galeria para
suspender seus trabalhos, Calder traz movimento às suas formas suspendendo-as,
3 Assemblage é um tipo de trabalho artístico produzido a partir da incorporação de objetos cotidianos que
assumem novos significados simbólicos na condição da obra de arte. Busca romper entre a arte e vida cotidiana e defende a ideia de que todo tipo de material pode ser incorporado a obra de arte , desde que não perca seu sentido original. 4 Rodin enfatiza a forma de apresentação da figura humana, mostra seres heroicos, sem muitos detalhes na
musculatura 5 Retira o pedestal da escultura e lustra as obras que refletem as paredes da galeria e o espaço ao redor.
6Influenciado por Picasso, a obra deixa de ser figurativa, mostra vários fatores, torna-se hibrida .
Serra7 cria formas gigantescas, onde o espectador pode movimentar-se ao redor e
no centro delas, Caldas8 constrói obras leves e vazadas. (FARIAS, 2002). Nestes e
em outros artistas percebe-se a alteração no modo de apresentar suas esculturas ao
espectador, utilizando materiais, meios e técnicas nunca antes aplicados.
Neste projeto optou-se trabalhar a escultura contemporânea e como as
técnicas de fundição e soldagem, por exemplo seriam muito dispendiosas e inviáveis
de se articular com os alunos, escolheu-se empregar materiais recicláveis, pois são
seguros, econômicos, apresentam resultado imediato e ampliam a percepção dos
alunos sobre elementos tridimensionais. As autoras Fusari e Ferraz sobre estas
práticas citam:
"Assim, a disciplina de Arte deverá garantir que os alunos conheçam e vivenciem aspectos técnicos, inventivos, representacionais e expressivos em música, artes visuais (...) Entendemos que é possível atingir-se um conhecimento mais amplo e aprofundado da arte incorporando ações como: ver, ouvir, mover-se, sentir, pensar, descobrir, exprimir, fazer, (...) formando, transformando-os". (FUSARI & FERRAZ, 2006, p. 24).
Com base nas modificações ocorridas na escultura no século XX, propôs-se
aos estudantes a construção de trabalhos seguindo os mesmos critérios dos artistas
modernistas. Surgiram elaborações de ótima apresentação, a diferença foi o tipo do
material adotado, alternativo – reciclável e acessível.
Foi explicado aos alunos, através da assemblage, sobre os materiais
alternativos utilizados no trabalho de Vik Muniz em sua serie intitulada Sucata . A
assemblage foi uma técnica encontrada despretensiosamente por volta da década
de 50, por Braque e Picasso e oficialmente criada por Jean Dubuffet9 em 1953.
Sobre isso Stangos explica que a assemblage provavelmente surgiu por meio de
várias informações de arte desencontradas e de interesses “contidos num só objeto,
mas transmitida mais apropriadamente por propostas escritas, fotografias,
documentos, mapas, filmes e vídeo, pelo uso que os artistas faziam de seus próprios
corpos e, sobretudo, da própria linguagem" ( STANGOS,1991, p.182).
Vik constrói a maioria de suas obras, utilizando-se do significado do material
aliado ao sentido da imagem para a construção da mesma, quer dizer: se a imagem
7 Realiza obras gigantescas, entra e sai de espaços construídos de tijolos ou tapumes.
8 Caldas cria obras “com volume” e outras vezes fluida, como fios alinhados que fluem com o vento. 9 Dubuffet criou a assemblage após estudos desenvolvidos pelos futuristas onde as ideias, materiais e informações dispersas do conceito de arte relacionavam-se com objetos cotidianos do observador.
fotografada é ilustre, Graci Kelly, por exemplo, usa diamantes; se é aterrorizante
como um vampiro, constrói com caviar (produto pegajoso); doce ( Jackson Pollock)
usa chocolate ; enigmática( Monalisa), pasta de amendoim.
Ostrower justifica as características gestalticas das construções das
assemblages de Vik afirmando que podem ser percebidas como um conjunto
articulado em seu conteúdo expressivo e a função das partes explicam a totalidade,
que contem uma medida de desenvolvimento interior. Só assim a estrutura pode
tornar-se forma simbólica e comunicar o conteúdo expressivo (OSTROWER, 1986,
p.95). É um dos princípios da Gestalt. Essa é uma teoria arraigada nas obras de Vik
onde “o todo é mais do que a soma de suas partes”, onde suas imagens
fotografadas perderiam o significado se suas partes fossem separadas , assim como
realizaram os alunos.
A integração da técnica artística deste projeto à sucata aconteceu por meio do
filme “Lixo Extraordinário10”. As obras de Vik foram construídas com o auxilio dos
catadores de lixo da cooperativa do Jardim Gramacho11 utilizando sucata ,
consideradas a “alma” deste projeto , devido ao uso de elementos similares. O
filme foi exibido para os estudantes a fim de compreenderem o processo criativo,
aglomerando formas coloridas de objetos inusitados, relacionando o retratado a seu
respectivo material e mostrando aos catadores o valor que eles possuem pela
atividade que desempenham na sociedade onde se encontram.
Com base nos conceitos de Molina verifica-se que o desafio imposto pelo
professor neste projeto redimensiona o discente a se motivar e envolver, alem de
recodificar, reelaborar, ordenar e organizar os conceitos artísticos “transformando
uma relação sócio-afetiva com a imagem em uma situação de cognição” , visto que
os alunos realmente se envolveram nas propostas estipuladas. (MOLINA, 2007, p.
25).
Elegeu-se a sucata para trabalhar a assemblage, por ser facilmente
encontrada no uso cotidiano do aluno, ser econômica, tridimensional, permitir
diversificadas criações e liberdade de expressão. A assemblage amplia a percepção,
10
Filme de 2011 baseado no projeto desenvolvido por Vik Muniz, que utiliza sucata na construção de assemblages com os retratos dos catadores de lixo da comunidade de Gramacho. 11 Esta comunidade estava inserida na periferia de Duque de Caxias (RJ) , e todos trabalhavam na reciclagem de lixo. Atualmente não existe mais a coleta destes materiais, foi desativada.
pois percebe-se que ela reúne varias elementos artísticas em si , como a
construção de instalações,o uso de materiais não convencionais, imagens e
tecnologia ( neste caso a fotografia) e aliados a diversos modos de exibição, propicia
maior percepção das conexões com a realidade do discente. E o uso destes
objetos contribui para a despoluição do planeta, por denotar-lhes nova função,
possibilitando novas técnicas artísticas na reciclagem de materiais, diminuindo seu
descarte no meio ambiente.
“Uma postura que articula conhecimento e prazer de aprender, de ler, de fazer, de fruir, pode nos levar a resultados mais construtivos, pois somente o que o sensível percebe realmente faz sentido, o restante é apenas decodificado pela memória, e a tendência é desaparecer com o tempo. Nós acreditamos numa educação em arte para todo o tempo e para além do tempo” ( PILOTTO, 2001, p.16).
Pilotto neste trecho afirma a importância do ensino com prazer a fim de que
não se esqueça os conteúdos aprendidos, que guardem-se para a eternidade.
Ensinar arte através das esculturas de Vik promove esta possibilidade através dos
meios pelos quais as constrói: materiais alternativos obtidos a partir da realidade
dos alunos.
Figura 1. Imagem construída com brinquedos, maio de 2013.
A imagem exibida retrata uma criança feita com brinquedos, a ideia do todo,
da teoria da Gestalt, está contida na imagem e foi construída nos mesmos princípios
de Vik, exceto na prática, pelo fato de não usar recursos tecnológicos e humanos
similares ao dele.
De acordo com Barbosa "os alunos apreciam e aprendem melhor construir
suas obras de arte utilizando materiais concretos, ao invés de desenhar obras de
arte o concreto aproxima o aluno da realidade”, este foi o motivo pelo qual se
escolheu este recurso, pois as formas tridimensionais aproximam a realidade do
trabalho ao contexto do aluno (BARBOSA, 1999, p.18). Os discentes apreciam
aprender com materiais concretos porque sua percepção é ampliada através das
formas dos sólidos, e sendo tridimensionais possibilitam maior envolvimento com a
matéria.
A fotografia presente no trabalho de Vik, permite que o aluno utilize os
próprios recursos para realizar a assemblage, precisando concentrar-se primeiro na
montagem, para posteriormente fotografar a imagem construída que será exposta
depois. Importante ressaltar aqui a ênfase no processo e não apenas no resultado,
o que também é uma das características da arte contemporânea.
Aglomeração e sobreposição de formas tridimensionais
Os três estilos de assemblage a seguir relatados foram classificados desta
forma de acordo com o aspecto das obras desses artistas. Kurt Schwitters criou
assemblages dentro de sua casa sob o nome de Merzbau, porque inseriu novos
materiais construindo novos espaços tridimensionais. Jean Dubuffet nomeou este
método, como também o estilo de aglomeração de formas e Vik Muniz, entre outros,
realizou esculturas pela sobreposição de formas e as fotografou. A apreciação do
filme “Lixo Extraordinário” auxiliou a compreensão do projeto porque explicou
detalhadamente os três tipos de assemblage no trabalho do artista.
A união de pequenas peças compondo uma imagem insere-se na
aglomeração de formas tridimensionais, trabalhadas por Vik. Estas possuem um
significado a respeito do objeto com o qual foi criada é inerente a ele quando criou
sua serie rebus12, diamantes, quebra cabeça, açúcar, entre outras. Os estudantes
construíram a face de uma vendedora de cosméticos utilizando embalagens de
perfumaria para construir este estilo de assemblage, seguindo a metodologia de Vik.
Foi demorado , todavia eles gostaram.
Figura 2 Imagem construída com parafusos, maio de 2013.
A figura acima, construída pelos alunos, utiliza o estilo de aglomeração de
formas, criando a imagem de uma criança com parafusos dispostos no chão.
Capturada pela fotografia, como o faz Vik, diferencia-se das suas obras apenas por
causa da metodologia de realização e aparelhos tecnológicos utilizados - maquina
fotográfica de alta resolução. Os adolescentes empolgaram-se em realizar esta
proposta porque a figura foi facilmente construída e o resultado visual apareceu
imediatamente.
No estilo por sobreposição as formas se organizam umas às outras pelo
encaixe das cores e formatos destas peças que são diferentes a fim de criar uma
imagem, tendo relação direta com o significado do material utilizado no caso da obra
de Vik.
Nelson Leirner e Schwamke entre outros escultores, enquadram-se neste
estilo, entretanto as relações de significado entre materiais, metodologias e a obra
divergem do estilo de Muniz, realizadas nesta pesquisa.
12 Rebus foi uma série onde Muniz utilizou pequenos brinquedos de plástico para reconstruir obras de artistas mundialmente conhecidos , utilizando a assemblage.
O terceiro estilo, denominado construção tridimensional de imagens é
composto por formas reunidas, coladas, fixadas, encaixadas para construir uma
escultura tridimensional, onde nem sempre os objetos que estão no meio da
estrutura aparecem, mas auxiliam na construção do volume da escultura.
Figura 3. Boneca tridimensional, maio de 2013.
Um exemplo deste estilo são as obras de Luis Fernando Barrão que
sobrepõe cerâmicas e as fixa nas paredes como fazia Tatlin. As obras de Adriana
Tabalipa e Efigênia Rolin também inserem-se neste estilo. Adriana revela
particularidades do corpo humano e Rolin, considerada a “Rainha do papel” utiliza
em suas obras papeis de bala e embalagens criando pequenas esculturas. Ambas
relacionam suas criações com objetos do cotidiano do espectador. Os estudantes
construíram uma escultura de mulher realizada com sucata aliada as formas
tridimensionais de Vik , na serie Sucata.
Dentre as atividades efetivadas percebeu-se que os estudantes entenderam
as três técnicas principais elaboradas por seus referidos artistas e souberam
relacionar esta arte a sua realidade ampliando sua criatividade e conhecimento
sobre arte de modo agradável e interativo.
Esta técnica foi ministrada para professores em curso online (Grupo de
Trabalho em Rede - GTR) do Governo do Estado do Paraná (dois meses), para
alunos do colégio André Andreatta (cinco meses) e curso itinerante direcionado a
professores da Área Metropolitana Norte de Curitiba (um dia).
Os professores PDE deveriam desenvolver esta pesquisa nos dois primeiros
grupos, para experienciar e acrescentar sugestões teóricas e práticas a mesma.
Estes grupos, exceto o GTR, construíram assemblages com materiais recicláveis
feitos como papelão, plástico, metal, relacionados ao cotidiano do criador. O curso
via internet compartilhou literatura e sugestões de atividades práticas.
Na prática presencial desenvolvida para professores de arte do Estado do
Paraná, abreviou-se o projeto focando na prática das assemblages devido ao curto
tempo programado. Desenvolveu-se algumas assemblages por sobreposição e uma
tridimensional embasadas em conhecimentos teóricos. Além de assimilarem este
método artístico para suas praticas pessoais, podem ministrá-lo em aulas
presenciais ou aproveitarem para futura pesquisa sobre o tema.
O Museu Oscar Niemayer é um ambiente raramente visitado pelos alunos,
devido a distância e interesse dos pais em conhecer artes visuais. A visita ao
museu durante o projeto encantou-os tanto pelas obras contemporâneas
observadas (objetivo do estudo), quanto pelo ambiente de exposição das obras, uma
vez que ampliam os conhecimentos acerca do universo da arte.
Figura 4. Portal de Quatro Barras, junho de 2013.
Figura 5. Assemblage realizada por alunos, junho de 2013.
A figura acima se refere ao portal da cidade dos alunos, escolhida entre
muitas capturadas, a fim de que eles entendessem a lógica do artista Vik, na prática
deles, testando as mesmas ideias, trocando somente a imagem a ser construída. A
segunda foi elaborada pelos alunos utilizando pedrinhas e gravetos encontrados no
colégio, relacionando os materiais às imagens, pois este portal é formado por pedras
e palanques de eucalipto.
Os artistas apresentados permitiram a ampliação do conhecimento acerca da
técnica assemblage. Foram observadas as obras de Efigênia Rolin pelos alunos no
Museu Oscar Niemayer, artista que constrói esculturas com papeis de alimentos
industrializados recolhidos do chão. Ela acredita que o papel da bala não é lixo, é
uma joia que transforma-se em arte em suas mãos. Foram mostradas imagens das
obras de Adriana Tabalipa, Helio Leites, Luis Fernando Barrão, Nelson Leirner e
Jonas Corrêa (escultor local) a fim de compreenderem as diversas possibilidades de
criação da assemblage que estão próximas a sua realidade e que são construídas
de distintas maneiras.
Assemblage, fotografia e exposição: questões em comum.
A exposição das assemblages através da fotografia está inter-relacionada às
pré-etapas do trabalho final e permite a captura e exibição perfeita da imagem em
qualquer lugar, não danifica ou altera a composição acabada, caso fosse orgânica
ou irremovível, possibilitando dimensão adequada da imagem para ser exposta em
galerias. Muniz busca na fotografia a expressão para questões de representação da
realidade, conectando a pinturas antigas às atuais, de forma pouco convencional.
Suas obras despertam no espectador uma percepção incógnita de indagação:
Porque ele fez este retrato com este material? Forçando o espectador (aluno) a
questionar sobre a obra observada e indiretamente ampliando sua capacidade de
criação.
Na exposição realizada no colégio os adolescentes analisaram as obras e
todo o processo percorrido, compreendendo melhor o sentido das obras
contemporâneas e a relação com os materiais de sua realidade. Gomes Filho,
concorda com Ferraz e Fusari, ao mencionar que o espectador ressignifica seu
conceito de mundo ao entrar em contato com estas produções artísticas (GOMES
FILHO, 2006, p.73). Observa-se que o discente aprende a partir da
interação/construção da obra analisando seu processo. Portanto é de suma
importância que o aluno construa suas obras de acordo com o que interpreta.
Carneiro citando Chauí afirma que na interpretação já esta implícita a atividade da
leitura, entende-se que essa é um instrumento de mediação entre obra e
observador, pois envolve compreensão e transformação interagindo a percepção e a
sensibilidade como elementos fundamentais no processo de leitura e na construção
de uma consciência formadora e legitimadora do ser (CARNEIRO apud CHAUÍ,
1996, p. 7).
A assemblage na escola: uma contribuição à construção de imagens
tridimensionais
As propostas concretizadas neste projeto ampliaram gradativamente o
conhecimento dos educandos acerca da importância das formas tridimensionais. A
cada etapa cumprida, se empolgavam mais em participar e concluir as lições
contribuindo para a compreensão dos objetivos , promovendo a aprendizagem dos
conteúdos de arte contemporânea.
A assemblage foi compreendida em sua integra pelos discentes, seja por
seus tipos, características ou precursores brasileiros ou frente à dificuldade de
realização do trabalho; tendo relação com o contexto do aluno para o contexto
teórico da escola através dos elementos cotidianos.
Para Ferraz e Fusari, a expressividade origina-se pelas emoções provocadas
pela tensão de forças internas e externas, das relações entre o aluno e os
elementos: subjetivos e objetivos; o ser sensível e o símbolo. Percebe-se então que
a transformação intencional na elaboração das obras expressivas artísticas ocorre
pela formação do aluno interagindo com os materiais, e a obra se completa pela
observação do espectador (2006, p.23).
Indica-se como sugestão de atividades, a partir desta metodologia questionar
a comunidade local sobre a importância das esculturas locais, propor construção de
esculturas com materiais de encaixe ou colagem de embalagens, por exemplo.
Apenas não foram desenvolvidas estas criações de aprimoramento da assemblage,
devido à falta de tempo e espaço físico apropriado.
Referencias Bibliográficas
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