construção da ordem (o rei contra os barões)

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CARVALHO, Jos Murilo de. A construo da ordem: a elite poltica imperial. Teatro das Sombras: a poltica imperial. 2 edio. Rio de Janeiro:Civilizao Brasileira, 2006

INTRODUO: O

REI E OS BARES

Elite homogeneidade ideolgica gerada pela educao/treinamento Estado tradio portuguesa = absolutista + patrimonial TEATRO DAS SOMBRAS Objetivo: anlise do momento da atuao da monarquia & o papel das elites polticas. Quando? Desdobramentos do regresso conservador em 1837* Como? Anlise do processo de enraizamento social da monarquia**. Questo Como estabelecer um sistema nacional de dominao com base na soluo monrquica? Pista Anlise das rebelies ajuda a entender os problemas enfrentados pelo Estado & elite imperial. *Momento em que as incertezas da Regncia deram lugar a um sistema de dominao mais slido gerando a seguinte aliana rei + magistratura e grande comrcio + grande propriedade [principalmente a cafeicultura fluminense]. ** Processo de legitimao da coroa perante as foras dominantes do Pas REVOLTAS REGENCIAIS 1 GRUPO: 1831-18351 Protagonistas populao urbana nas principais capitais: povo e tropas. Contedo protesto contra o alto custo de vida + desvalorizao da moeda [encarecimento dos produtos importados] + invaso de moedas falsas. Antilusitanismo em decorrncia dos portugueses dominarem o comrcio nas principais cidades, eram os maiores alvos da ira popular. Levantes Rio de Janeiro entre 1831 e 1832 foram 5 levantes; em Recife entre 1831 e 1832 foram 3 levantes. Em Salvador foram 6 levantes que demandaram federalismo no perodo, dentre as quais destaca-se a Revolta dos Mals que teve como um dos desdobramentos a aprovao de uma lei em 1835 que determinava que escravos que atentassem contra a vida de seus senhores pudessem ser condenados a morte mesmo sem unanimidade do jri. Alm disso forneceu argumentos aos partidrios do fim do trfico. Guarda Nacional: O Ato Adicional de 1834 conferiu maior descentralizao Guarda permitindo maior sucesso no asfixiamento das revoltas, inclusive devido ao fato do exrcito nacional no ser suficiente para tal. Alm disso, formavam-se milcias civis. 2 GRUPO: 1835-18482 Protagonistas elites + populao rural. Contedo conflitos intra-elites com desdobramentos para camadas populares; carter rural. Levantes Cabanagem no Par [1835-1840]; Balaiada do Maranho [1838 1841]; Farroupilha no RS [1935 -1845]. Rebelies X Estado Incapacidade de ver o Estado como arbitro de conflitos de interesse entre as elites a chave para todos os problemas: causava perturbao da ordem e permitia que conflitos intra-elites transbordassem para o povo. LIESDAS

REVOLTAS REGENCIAIS

S

ELITES BRASILEIRAS

1

1831 abdicao de D. Pedro I & 1835 morte de D. Pedro I promulgao do Ato Adicional

2

Rebelies ocorreram aps o Ato Adicional que operou uma descentralizao no Pas. Como no poderia deixar de ser as rebelies tambm descentralizaram-se.

252-254pp.

250-252pp.

249-250pp.

249p.

RESUMINDO... CONSTRUO DA ORDEM: ANLISES DA: Poltica imperial sob a tica dos agentes diretos

Elite Poltica Burocracia

CENRIO No havia consenso entre os grupos dominantes sobre o arranjo institucional que melhor serviria aos seus interesses. A maior parte dos proprietrios no via o Estado como mediador eficaz de conflito de seus interesses. O governo precisava do apoio das elites para criar sua base de sustentao AS ELITES SE CONVENCEM O regresso conservador iniciado em 1837 conduzido por burocratas e polticos ligados grande cafeicultura fluminense comea a convencer as elites de que o Estado Imperial garantidor de seus interesses. 2 grandes pontos de convencimento das elites econmicas: a monarquia era capaz de garantir a paz [no campo e na cidade] e podia ser rbitro confivel para as divergncias entre os grupos dominantes. Elite poltica mediava a relao entre proprietrios e reis, dividida ela prpria entre os interesses do dois plos. REGRESSO CONSERVADOR: O IMPRIO CONQUISTA AS ELITES CENTRALIZAO Governo se aproxima aumento de distribuio de ttulos nobilirquicos com duplo sentido: de aproximao dos proprietrios da monarquia; de compensao pela tomada de algumas medidas. N Ttulos Concedidos Perodo51 120 173 1860-1864 1870-1874 1888-1889

Interpretao do Ato Adicional em 1840 Reforma do cdigo de processo criminal em 1841 Resultados assemblias estaduais deixaram de ter jurisdio sobre os funcionrios do governo central; funcionalismo da justia e da polcia passou a ser controlado pelos ministros da Justia e do Imprio; o juiz de paz [nico eleito] perdeu boa parte de suas atribuies em favor dos delegados e subdelegados de polcia; Ministro de Justia ganhou poderes de nomear/demitir [direta/indiretamente] do desembargador ao guarda de priso. ATOS LEGAIS A PARTIR DE 1850 1850: ano emblemtico da aceitao das elites da soluo monarquista: Conservadores no poder desde 1848 gabinete conservador no poder formado por Arajo Lima [marqus de Olinda] + trindade saquarema [Euzbio de Queiroz, Paulino Jos Soares (visconde de Uruguai), Joaquim Jos Rodrigues Torres (visconde de Itabora)] + General Manuel Felizardo de Souza e Melo. Governo forte o governo se sentiu forte o suficiente para enfrentar problemas cruciais [para a soberania nacional, para a classe proprietria e para o Estado] como o trfico negreiro e estrutura agrria e da imigrao. Leis aprovadas Cdigo Comercial [regulamentava as Sociedades Annimas] alm de organizar a legislao anterior; lei de reforma da Guarda Nacional [centralizadora]; lei de terras [colonizao]; lei Euzbio de Queiroz. Relao das leis Todas essas questes eram vinculadas entre si: lei de terras[tambm era lei da colonizao apresentada pela primeira vez em 1843] buscava preparar o pas para o fim eventual do trabalho escravo. A centralizao da Guarda Nacional buscava fortalecer a posio do Estado perante os proprietrios que reagiram negativamente ao fim do trfico e regulamentao da propriedade rural. Alm disso, o cdigo comercial completava o cenrio j que em decorrncia do fim do trfico houve uma febre de negcios causada pela disponibilidade de capitais anteriormente empregados no trfico. Prximos Captulos Relacionamento entre a coroa, a elite poltica e os proprietrios rurais de 1850 at 1889. 1. Poltica fiscal/distributiva do 2. Poltica de 3. Poltica de terras Estado abolio 4. O Conselho de 5. Representao 6. Concluso: poltica imperial como Estado Poltica3. teatro4

255-257pp.

254-255pp.

A

POLTICA DA ABOLIO: O REI CONTRA OS BARESESTUDAR A ABOLIO?

PORQUE

Definio conjunto de polticas pblicas que, aos poucos, levou extino daescravido. Importncia momento privilegiado para analisar as relaes entre governo [reis + burocratas] e bares. Grande lavoura a escravido era instituio que atingia a todos [rea urbana, governo cuja maior receita era oriunda da grande lavoura], mas sua importncia principal era para a grande lavoura. Burocratas X bares: o tema da abolio foi o que mais explicitou a de interesses entre a burocracia[plo burocrtico do poder] e os bares[plo social e econmico deste mesmo poder].. CRONOLOGIA DA ABOLIO DO TRFICO Lei Euzbio de Queiroz - 1850 2 momentos 1807 incio da presso inglesa ao proibir a seus sditos o trfico e passou a tentar Lei do Ventre Livre - 1871 elimin-lo em outros paises. 1810, 1815 e 1816 tratados com Portugal que progressivamente limitavam a legalidade do comrcio escravo alm de aumentar a margem de ao da marinha inglesa. 1826 tratado com Brasil5 pelo qual o trfico seria considerado pirataria 3 anos aps sua ratificao[ocorrida em 1827]. O Brasil tambm foi obrigada a aceitar os termos dos tratados de 1815 e 1817. At 1830 Governo brasileiro resistiu s presses inglesas. Era consenso entre diversos segmentos brasileiros que o Brasil pararia sem a mo-de-obra escrava.6 1831 1 ano aps determinao da lei de 1826 o governo resolveu propor/aprovar uma lei antitrfico pela qual o trfico se equipararia pirataria. No foram tomadas medidas para implement-la; era para ingls ver. 1831-1839 Diminuio do n de escravos que entravam no Brasil, mas isso decorreu no da lei de 1831 e sim do grande n de escravos que tinham entrado no Pas desde 18267 ocasionando uma queda dos preos do escravo. A queda do n de escravos aliada s turbulncias regenciais deu causa as primeiras preocupaes com o chamado medo branco ou haitianismo. 1839 Retomada/aumento da presso inglesa em decorrncia das discordncias em torno da vigncia do tratado de 1827. Os brasileiros achavam que acabava em 1842 ao passo que para os ingleses poderiam prorrog-lo at 1844, querendo assinar novo tratado que lhe concedessem vantagens semelhantes.No Brasil, a tendncia era de recusar futuros tratados com os ingleses e estes ofereceram bom motivo para pensar o contrrio: multiplicou-se a apreenso de navios brasileiros/portugueses entre 1839 e 1842. 1845 Bill Aberdeen. No Brasil, a maioria[inclusive do Conselho de Estado] votava por no aceitar o ato. 1848 Liberais reviveram projeto de 1837 que atendia aos ingleses em alguns pontos. O projeto foi aprovado na Cmara em 2 discusso, mas empacou ao dispor que os traficantes seriam julgados por jri popular, alm da indeciso quanto ao artigo que revogava a lei de 1837. 1849 Euzbio de Queiroz fazia a exposio de motivos adiantando as principais caractersticas que teria a lei de 1850: manuteno da lei de 1831, julgamento dos traficantes por juzes de direito e dos compradores por jri popular. A idia que uma lei brasileiro substitusse um tratado com os ingleses. Junho/1850 Inglaterra passa a invadir portos brasileiros e afundar navios negreiros. 3 4 5

Refere-se ao sistema eleitoral e partidrio

rei X bares; formal X real; fico constitucional X foras polticas

Esse tratado veio junto com o tratado comercial de 1827 e integravam o pacote diplomtico de reconhecimento de independncia 6 Basta lembrar que, exceto a revolta dos mals, no houve questionamento da escravido no Brasil nem durante as turbulncias regenciais. 7 De 1828 a 1831 duplicou o n de escravos que entraram no Brasil causando uma queda de mais de 50% nos preos de escravos entre 1830 e 1831. Ver pp. 294.

293-298

293p..

LEI EUZBIO DE QUEIROZ 11/07/1850 Conselho de Estado foi ouvido. O rompimento diplomtico com a Inglaterra no foi descartado. 12/07/1850 Governo apresentou projeto Cmara. Aproveitou o projeto de 1837[j aprovado no Senado] no que se refere a manuteno da lei de 1831 e o de 1848[na Cmara em 2 discusso] no que se refere a atribuio dos juizes de direito em julgar os traficantes. 17/07/1850 Aprovado na Cmara 13/08/1850 Aprovado no Senado 4/09/1850 Virou lei Outubro/Novembro/1850 Regulamentado. LEIDE

1850: INGLESES X BRASILEIROS299-300 299-300

Ingleses Governo ingls acha que tem todo o mrito pela aprovao dessa lei Liberais concordavam com os ingleses j que buscavam diminuir os louros dos conservadores me relao a aprovao dessa lei que representava uma pauta tipicamente liberal, mas que o partido liberal no tinha conseguido aprovar. Euzbio A presso inglesa apenas dificultou a ao do governo brasileiro, alm de ter aumentado o volume do trfico.

FIM DO TRFICO: A AO IMPERIAL BRASILEIRA mrito do governo o sucesso na execuo da lei de 1850 Premissas Governo 1. Reconhecimento da imoralidade e do compromisso assumido pelo pas em tratado internacional em acabar com o trfico; 2. Conhecimento da inexorabilidade do fim do trfico, j que s Brasil e Cuba continuavam utilizando a mo de obra escrava; 3. Conhecimento da determinao inglesa em continuar a presso contra o Brasil e das repercusses que os bloqueios nos portos causavam economia e soberania nacionais; 4. Conhecimento da importncia da mo de obra escrava para a lavoura brasileira, da influncia dos traficantes na Corte e que as medidas da lei de 1850 deveriam ser acompanhadas por medidas, tal como a importao de mo de obra europia. AIN Registra-se a argumentao[retrica] da Sociedade Auxiliadora da Indstria Nacional em prol da ineficincia da utilizao da mo de obra escrava. A argumentao ganhava maiores ares de retrica se balizada pelas causas inglesas pelo fim do trfico: Brasil e Cuba conseguiam competir com o acar das Antilhas em razo do uso de escravos possibilitarem uma oferta a preos mais baixos..

A

LEI DO VENTRE LIVRE:

1870

Incio da discusso: 2 fatos paralelos1. Em 1866 Pimenta Bueno [=Visconde de So Vicente] j tinha 5 projetos abolicionistas prontos a partir da encomenda de D. Pedro II que foram entregues ao marqus de Olinda. 2. Resposta de D. Pedro II ao pedido da Junta Francesa de Emancipao qual seja: solicitao ao imperador que utilizasse de seu poder para viabilizar o fim da escravido no Brasil. Em sua resposta D. Pedro II afirmou que o assunto era s questo de forma e oportunidade e que a ela seria dada mxima prioridade cessada a Guerra do Paraguai. O Conselho 1. Concordavam com o imperador em relao a necessidade de resoluo do problema servil, mas consideraram o momento inoportuno para tal discusso. 2. Aps muitas discusses o imperador nomeou uma comisso dentro do Conselho [presidida por Nabuco de Arajo] para propor novo projeto que refletisse a opinio da maioria dos conselheiros. Por que esperar o fim da guerra? Necessidade de dispor de tropas no pas para conter possveis levantes de escravos quando da aprovao da lei. Abolio imediata com indenizao Rio Branco + Nabuco de Arajo lembraram que a abolio gradual poderia gerar uma rede insatisfaes nos senhores e nos escravos levando a uma abolio imediata. A abolio imediata desorganizaria a produo e indenizatria arruinaria as finanas do imprio. A soluo possvel era a abolio gradual acompanhada de medidas acautelatrias. Gabinete 1871 Rio Branco assumiu a chefia do gabinete em 1871 e na sua Fala do Trono mencionou o projeto do ventre-livre que contou com protestos. Crtica dos proprietrios lei O projeto tirava do senhor a fora moral e o tornava suspeito autoridade e odioso ao escravo. A liberdade parcial decretada pela lei, continuava, desautoriza o domnio e abre a idia do direito na alma do escravo, ao passo que a liberdade que vem da generosidade do senhor leva ao reconhecimento e obedincia. [pp.313, citando a representao dos lavradores de Paraba do Sul]. 1871 X 1850 1850 o governo reagia forte presso externa[inglaterra] contando com apoio interno [um grupo de abolicionistas]. 1871 a iniciativa coube ao governo sem presso externa e sendo apoiada por uma imprensa abolicionista. Os parlamentares frente abolio: segmentao econmico-geogrfica Norte X Sul Pela anlise do voto sobre o ventre livre percebe-se que os deputados nortistas eram os mais alinhados com as intenes do governo ao passo que os deputados sulistas eram os mais aguerridos opositores ao projeto de lei enviado pelo imperador.[pp. 310]. Oposio lei de 1871 Provncias do sul, especialmente os cafeicultores. Os dados sobre o n de escravos ajudam a entender a oposio. Censo de 1872: norte estava com 33,7% dos escravos, enquanto o sul possua 59% das provncias cafeicultoras e 7% das demais provncias do sul. Maiores oposicionistas: Rio de Janeiro, So Paulo e Minas Gerais. Republicanos paulistas S se decidiram pela abolio em 1887 Os proprietrios frente a abolio: 4 segmentaes econmico-geogrficas 1. Regies de grande agricultura do nordeste foram a favor da preservao da escravido, e por disporem de abundante mo de obra livre, no tomaram nenhuma atitude contra as possveis conseqncias do fim da escravido.[como a vinda de imigrantes]. 2. Pequena propriedade/pecuria Caminharam com tranqilidade para abolio 3. Sul cafeicultor antigo Possuidora de suficiente estoque de mo de obra escrava e economicamente decadente em funo do declnio de produtividade das terras se manteve escravista at o final. 4. Sul cafeicultor moderno Possuidora de terras mais produtivas e sedentas de mo de obra. Isso levou a importao de mo de obra sem abrir mo da escravido. A atitude destes fazendeiros foi pragmtica, no parecendo ter derivado de nenhum clculo sobre a maior ou menor produtividade de um ou outro tipo de mo de obra. [pp.319] Aspectos da Lei O senhor tinha a opo de usar os servios dos ingnuos at completarem 21 anos ou entreg-los com 8 anos ao governo em troca de ttulos de 600$ a juros de 6% ao ano durante 30 anos. Significado de 1871 Primeira clara indicao de divrcio entre o rei e os bares. Pela 1 vez o estado se intrometia na relao senhor X escravo, minando a autoridade do

299-300