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Biblioteca Digital http://www.bndes.gov.br/bibliotecadigital Considerações sobre a indústria do vidro no Brasil Sergio Eduardo Silveira da Rosa, José Paulo Cosenza e Deise Vilela Barroso

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Page 1: Considerações sobre a indústria do vidro no Brasil · Este artigo traça um panorama da indústria do vidro, com ênfase no Brasil, e analisa seus dois mercados principais: o de

Biblioteca Digital

http://www.bndes.gov.br/bibliotecadigital

Considerações sobre a indústria do vidro no Brasil

Sergio Eduardo Silveira da Rosa, José Paulo Cosenza

e Deise Vilela Barroso

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CONSIDERAÇÕES SOBREA INDÚSTRIA DO VIDRONO BRASILSergio Eduardo Silveira da RosaJosé Paulo CosenzaDeise Vilela Barroso*

* Respectivamente, gerente, contador e estagiária do Departamento deBens de Consumo, da Área Industrial do BNDES. M

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Este artigo traça um panorama da indústria dovidro, com ênfase no Brasil, e analisa seus dois mercadosprincipais: o de vidro plano e o de vidro oco. Para isso,buscou-se estabelecer uma classificação do setor quan-to aos seus principais segmentos, de forma a permitir aanálise e a discussão dos aspectos mais relevantes quese associam a cada um deles, em termos de estrutura,mercado e desempenho. O estudo, além de mostrar aelevada concentração produtiva e comercial do setor,indicou que a indústria brasileira do vidro aproxima-se deum período importante, e talvez decisivo, para sua evolu-ção futura, em parte pelas dificuldades de ordem produ-tiva e pela provável continuidade da recuperação daeconomia. A despeito dos problemas mencionados, con-clui-se que as perspectivas da indústria de vidro no Brasilsão bastante favoráveis. Todavia, para que as oportuni-dades sejam plenamente aproveitadas, faz-se necessárioum posicionamento mais agressivo das empresas dosetor, em particular no que tange à divulgação das van-tagens e à promoção do uso de seus produtos frente aosdemais concorrentes.

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil

Resumo

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O Brasil está incluído entre os principais produtores mun-diais de vidro e é atualmente o maior fabricante da América Latina.Com uma capacidade instalada anual de cerca de 3,1 milhões detoneladas, em 2006, o setor tem uma produção estimada em 2,6milhões de toneladas e faturamento de R$ 3,9 bilhões.

Historicamente, a evolução da indústria do vidro no Brasiltem acompanhado o desenvolvimento da economia brasileira, es-pecialmente nos últimos anos, com o crescimento do consumo deautomóveis, o incremento do nível de atividade da construção civile o aumento significativo no consumo de produtos alimentíciosindustrializados e bebidas.

No entanto, a indústria de vidro constitui um setor relativa-mente pouco conhecido da economia brasileira, no que diz respeitoaos aspectos produtivos e econômicos. Apesar disso, o setor nãopode ser desprezado, considerando-se que, segundo a PesquisaIndustrial Anual (PIA) de 2005, do IBGE, era responsável por 0,2%do PIB, quando o conjunto da indústria de transformação correspon-dia, naquele ano, a 28%.

A principal motivação para o presente artigo, portanto, éprocurar suprir, de forma organizada, a mencionada demanda insa-tisfeita por informações sobre o setor. Entre os aspectos usualmenteabordados em trabalhos dessa natureza, alguns serão tratados commaior profundidade, como o fornecimento de energia, o suprimentode barrilha (principal matéria-prima utilizada) e a possível subs-tituição de certos tipos de embalagem por outras de vidro.

Nesse sentido, o trabalho está estruturado de maneira atraçar um panorama da indústria do vidro no mundo e, em especial,no mercado brasileiro. Procurou-se estabelecer uma classificaçãodo setor quanto aos seus principais segmentos, de forma a permitira análise e a discussão dos aspectos mais relevantes que se associama cada um deles, em termos de estrutura, mercado e desempenho.

Os segmentos considerados na análise foram os merca-dos de vidro plano e de vidro oco, com base na estrutura traçadapara este trabalho. Cabe salientar, ainda, que o escopo do trabalho,embora seja amplo, não inclui determinadas famílias de produtos,tais como cristais e fibras de vidro, por motivos que serão apresen-tados adiante.

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Introdução

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O vidro pode ser definido como o produto amorfo resul-tante da fusão e posterior solidificação de uma mistura de materiaisinorgânicos. As matérias-primas mais comuns são sílica, barrilha,calcário e alumina.

Ao contrário da maior parte dos sólidos, o vidro não temestrutura cristalina, ou seja, por suas propriedades, é mais seme-lhante aos líquidos do que aos sólidos. A natureza amorfa do vidroé também a principal responsável por várias limitações dos proces-sos utilizados na sua fabricação, como será discutido no item relativoaos aspectos técnicos.

Entre as características do vidro, algumas são particular-mente importantes para o consumo de artefatos desse material:

• Caráter inerte: o vidro, no caso de embalagens, não interagequimicamente com o conteúdo;

• Transparência: além de favorecer o uso em embalagens, essapropriedade é fundamental para a utilização do vidro plano emautomóveis e edificações;

• Possibilidade de reutilização: as embalagens de vidro, desde quesubmetidas a procedimentos adequados de limpeza, podem serutilizadas diversas vezes; e

• Possibilidade de reciclagem: os cacos de vidro podem ser usadoscomo insumo na produção de novos artigos, de forma pratica-mente indefinida.

Os diferentes segmentos que constituem a indústria devidro podem ser identificados, conforme o seu uso final, em funçãoda seguinte classificação:

I – Vidro plano

• Impresso

• Temperado

• Laminado

• Refletivo ou metalizado

• Blindado

• Duplo ou insulado1

• Duplo com cristal líquido2

• Aramado3

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil

Caracterizaçãoda Indústria

de Vidro

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1O vidro duplo (ou vidro insu-lado) é chamado de vidro ter-moacústico, pois, dependen-do da sua composição, podeoferecer isolamento térmicoe isolamento acústico. O iso-lamento térmico se dá porquea câmara de ar serve comoisolante para a passagem decalor do vidro externo para ointerior do ambiente.

2É um vidro laminado, com-posto por duas chapas devidro, incolor ou colorido,entre as quais é colocadoum filme de cristais líquidosem um campo elétrico.Quando esse campo é ativa-do, os cristais líquidos se ali-nham, tornando-o um vidrotransparente. Quando ocampo magnético é desati-vado, o vidro passa a sertranslúcido, podendo ser re-petida a operação quantasvezes for desejado.

3O vidro aramado é compos-to por uma tela metálica queoferece maior resistência aperfuração e proteção, pois,em caso de quebra, os ca-cos ficam presos na tela, di-minuindo o risco de feri-mentos. Por ser um vidrotranslúcido, proporciona pri-vacidade e estética e ampliao conceito de iluminaçãocom segurança e requinte.

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II – Vidro oco

• Vidro para uso doméstico

– Utilidades domésticas

– Cristais

• Vidro para embalagem

– Bebidas

– Alimentos

– Higiene e beleza

– Farmacêutico

III – Vidro técnico ou especial

• Cinescópios

• Monitores de vídeo

• Iluminação

• Garrafas térmicas

• Blocos de vidro

• Blocos oftálmicos

• Fibras de vidro

Elaborado em forma de chapa, o vidro plano é usadobasicamente na construção civil e nas indústrias automobilística emoveleira. O vidro oco, utilizado no consumo residencial e ins-titucional, engloba os segmentos de embalagens (garrafas, potes,frascos etc.) e de utensílios domésticos (copos, xícaras e objetos dedecoração, entre outros). O vidro técnico ou especial, que se dife-rencia dos demais pela composição ou por tratamentos específicos,destina-se a grande número de aplicações industriais.

De forma menos usual, os artigos de vidro também sãoclassificados, de acordo com sua composição química, como:

– Sodocálcico: abrange a maior parte dos vidros, tanto planosquanto ocos;

– De borossilicato: usado em utensílios resistentes ao choque térmico;

– Ao chumbo: empregado na fabricação de copos, taças, ornamen-tos etc.

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Como já foi mencionado, o vidro é obtido pela fusão deuma mistura de sílica e outros óxidos, além da barrilha, cuja funçãoé reduzir a temperatura de fusão. A mistura pode ainda incluirelevada proporção de cacos de vidro, que também contribuem parareduzir o ponto de fusão. A Tabela 1 detalha a composição maiscomum do vidro.

Os óxidos relacionados na Tabela 1 têm pontos de fusãobastante elevados, por isso são necessárias temperaturas da ordemde 1.600º C para obter o vidro fundido.

Para atingir essas temperaturas, a quase totalidade daindústria utiliza fornos de revérbero, nos quais o aquecimento éproporcionado pela queima de combustíveis líquidos ou gasosos.O calor produzido é transmitido diretamente à carga, ou refletidopela abóbada refratária do forno. O aquecimento elétrico é empre-gado unicamente em unidades industriais de porte pequeno e quenecessitam de muita precisão no controle de processo.

Após a etapa de fusão, o vidro pode seguir duas rotasdiferentes, caso se trate de vidro oco ou plano. No caso do vidrooco, o material fundido – que tem consistência pastosa – é vertidoem moldes, nos quais, pela ação do sopro mecânico ou de prensas,são conformados os artigos de vidro. Em seguida, os artigos – quese encontram à temperatura de cerca de 600º C – são submetidosà etapa de recozimento, ou seja, são resfriados lentamente até àtemperatura ambiente, para eliminar as tensões resultantes do pro-cesso de fabricação. Uma inovação importante para os fabricantesde vidro oco foi a criação do processo Libbey-Owens, em 1903, quepermitiu o estiramento do vidro horizontalmente e possibilitou ma-nufaturar os produtos, principalmente garrafas, em grande escala ecom maior grau de qualidade e eficiência.

Na produção de vidro plano, podem-se utilizar duas técni-cas de produção: o processo Fourcault, por meio do qual o vidro éestirado verticalmente por uma série de roletes, e o processo deflutuação (float), empregado atualmente pela grande maioria dosfabricantes, no qual a massa fundente flutua sobre estanho fundido.

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil

AspectosTécnicos

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Tabela 1

Composição do Vidro SodocálcicoMATERIAL %

Sílica (SiO2) 74Óxido de Sódio 12Alumina (Al2O3) 2Óxido de Cálcio (CaO) 9Óxido de Magnésio (MgO) 2Óxido de Potássio (K2O) 1Fonte: Abividro.

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Esse processo permite obter produtos com alta qualidade, trans-parência e brilho, já que o vidro não apresenta ondulações e tam-pouco deformações. O material fundido é vertido, através de umcanal inclinado, sobre um reservatório de estanho líquido. O vidropastoso forma então uma camada que sobrenada no estanho e étracionada por rolos ao longo do reservatório, que é fechado e operacom atmosfera controlada e aquecimento por resistência elétrica. Acombinação da velocidade com a variação da temperatura permiteà camada de vidro solidificar-se, formando uma lâmina contínua. Aetapa seguinte consiste no corte da lâmina, para obter chapas como comprimento desejado.

Em virtude de sua estrutura física, o vidro apresenta gran-des dificuldades para ser trabalhado mecanicamente. Assim, atransformação plástica aplicada ao vidro praticamente se restringeao ornamento, que é utilizado, por exemplo, na fabricação depára-brisas de veículos automotivos. Os tratamentos técnicos sãomais comuns, destacando-se a têmpera (aquecimento seguido deresfriamento rápido).

• Energia

A fabricação de vidro pode ser classificada como intensivaem energia, considerando-se que consome, por tonelada, cerca de1,8 milhão de kcal de energia térmica na fusão (o que equivale acerca de 200 m3 de gás) e cerca de 200 kWh/t de energia elétricaem outras etapas do processo.

A energia térmica era obtida, tradicionalmente, do óleocombustível. Em meados da década de 1990, no entanto, teve inícioa substituição do óleo por gás natural, que atualmente está pratica-mente concluída.

O gás natural, de fato, oferece vantagens significativasrelativamente ao óleo, como a queima mais uniforme – que permitemelhor controle das variáveis de processo – e a redução considerá-vel na emissão de poluentes. No caso brasileiro, porém, o fatordecisivo para que a substituição tenha sido quase total foi provavel-mente o grande aumento na oferta de gás, tanto o proveniente daprodução interna quanto o importado da Bolívia.

A disponibilidade muito maior de gás natural – aliada asuas vantagens como combustível – representou forte incentivo paraos fabricantes de vidro efetuarem a substituição. É mesmo possíveldizer que a utilização do gás pelas indústrias brasileiras foi es-timulada pelos órgãos governamentais ligados à energia, em parti-cular a partir de 1995, quando foi assinado o acordo final referenteao gasoduto Brasil-Bolívia.

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A evolução futura do mercado brasileiro de gás natural,entretanto, causa algumas inquietações na indústria de vidro, no quetange à efetiva disponibilidade do combustível. De fato, é crescentea dependência das importações – quase todas provenientes daBolívia –, como mostra a Tabela 2, e os recentes problemas –inclusive de natureza diplomática – associados à nacionalização dogás natural naquele país aumentam consideravelmente a incertezaquanto ao fornecimento adequado ao mercado brasileiro.

A conjuntura difícil, que preocupa os consumidores de gásnatural, deve persistir por muito tempo. O potencial de crescimentoda produção interna é relativamente limitado, o que implicará acontinuidade do recurso às importações. A hipótese de a Bolíviaatender ao crescimento da demanda brasileira é também limitada,já que seria necessária a ampliação da capacidade do gasodutointernacional num ambiente político pouco favorável. Assim, osórgãos de planejamento energético prevêem a importação de quan-tidades expressivas de gás natural liquefeito (GNL). O Gráfico 1permite visualizar a situação futura do gás no Brasil.

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Gráfico 1

Mercado Doméstico de Gás Natural

* Consumo potencial de GN para geração elétrica.Fonte: Petrobras.

Tabela 2

Balanço do Gás Natural no Brasil – 2000-2007(Mil m3/d)

MÉDIA 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007*

Produção/Consumo1 36.286 38.357 42.548 43.265 46.365 48.483 48.503 47.982Produção Nacional Líquida2 17.608 18.117 22.268 24.183 26.425 26.752 27.073 25.562Importação 6.034 12.609 14.442 16.281 22.096 26.640 26.819 24.974Oferta3 23.642 30.726 36.709 40.464 48.521 51.392 53.892 50.5351Inclui os volumes referentes ao consumo próprio da Petrobras e às perdas.2Volume comercializado.3Volume doméstico comercializado, mais importação.* Até fevereiro.Fonte: ANP.

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No que se refere especificamente à fabricação de vidro, oquadro exposto apresenta riscos consideráveis. Com efeito, é pre-ciso levar em conta que, embora a indústria de vidro responda porapenas 2% a 3% do consumo de gás, no momento o gás é crucialpara a indústria. Os produtores de vidro temem que, na eventualida-de de haver escassez de oferta, o gás disponível seja direcionadopreferencialmente para a geração de eletricidade, o que seria muitonocivo à fabricação de vidro.

A possibilidade de falta de gás para a produção de vidro– ou, o que é mais provável, de aumento dramático de preços – nãoconfigura, no entanto, uma situação insolúvel. No passado, a parti-cipação relativamente pequena da indústria no consumo total favo-receu, por exemplo, a concessão de compensações financeirastemporárias, enquanto seria efetuada a reconversão, total ou parcial,para outros combustíveis.

A reconversão é perfeitamente viável do ponto de vistatécnico, apesar de provavelmente implicar o aumento dos custos deprodução (por ex.: maior necessidade de controle da poluição).Assim, alguns segmentos do setor, como o de vidro para embala-gem, poderiam ter sua parcela de mercado reduzida, o que benefi-ciaria produtos substitutos do vidro (ver item Produtos Substitutos).

• Insumos

Os insumos utilizados na fabricação de vidro são, de modogeral, relativamente abundantes e podem ser obtidos sem maioresproblemas. A única exceção é a barrilha (carbonato de sódio), usadapara reduzir o ponto de fusão do vidro, e que corresponde a 60%do custo dos materiais, apesar de representar apenas 12% em peso.

A barrilha é normalmente fabricada com base no calcárioe no sal marinho (cloreto de sódio). Nos Estados Unidos, entretanto,verifica-se a ocorrência, em grandes quantidades, de barrilha emestado natural (trona). No Brasil, o único produtor de barrilha era aCompanhia Nacional de Álcalis, em Arraial do Cabo (RJ), queproduzia 220 mil t/ano e está com suas atividades paralisadas desdeabril de 2006.

A paralisação da Álcalis não trouxe dificuldades muitograndes para os consumidores de barrilha, já que a oferta interna-cional pode ser considerada satisfatória. No entanto, na opinião derepresentantes do setor, seria conveniente o retorno dessa produ-ção para assegurar o fornecimento do insumo por um produto locale minimizar o risco de desabastecimento por conta de problemasalfandegários na importação. A indústria vidreira nacional deman-dava mais de 60% da oferta de barrilha da Álcalis. Em 2005, oconsumo aparente de barrilha nessa indústria foi de 770 mil tonela-das, com importação de 597 mil toneladas, a um valor equivalente

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a US$ 75,9 milhões e a um preço médio de US$ 190/t para o mercadointerno e de US$ 140/t no mercado externo, sendo a alíquota doimposto de importação de 10%.

A hipótese de retomada das operações da unidade daÁlcalis, uma vez resolvidos os problemas de natureza societária,surge como uma primeira solução. Porém, é preciso considerar quea planta em questão é pouco competitiva, tanto em virtude de suaescala relativamente pequena quanto dos custos dos insumos utili-zados. Uma alternativa (a mais indicada, por sinal) seria a reativaçãodo projeto da Alcanorte, no Rio Grande do Norte (com implantaçãoparalisada há mais de trinta anos). A outra seria a construção de umaunidade inteiramente nova, que contasse com suprimentos adequa-dos e escala apropriada (cerca de 600 mil t/ano), conforme ospadrões internacionais.

Cabe ressaltar que a Alcanorte foi construída em 1976, nomunicípio de Macau (RN), região abundante de sal e calcário. Noentanto, a fábrica nunca iniciou plenamente suas atividades, pormotivos os mais diversos, e sua estrutura e seus equipamentos estãose deteriorando, abandonados ao tempo. Estima-se que seriamnecessários investimentos de R$ 180 milhões para reativar a Alca-norte, que teria capacidade de produção prevista para 200 mil t/ano.

Não obstante, tanto no caso de uma nova fábrica como node uma possível reativação da Alcanorte, faz-se necessária umaanálise técnica mais profunda e criteriosa sobre a viabilidade eco-nômica de tais alternativas, já que não se pode desconsiderar aimportância de manter, em ambos os casos, preços competitivosem relação aos patamares vigentes no mercado internacional.

• Reciclagem

O vidro, entre os materiais de uso mais freqüente em emba-lagens, é provavelmente o que apresenta maior facilidade para areciclagem. Com efeito, o vidro, em termos teóricos, é 100% reciclá-vel, e a mesma “unidade” de vidro pode ser aproveitada inúmerasvezes. Isso constitui uma grande vantagem do ponto de vista am-biental, não só pela economia de matérias-primas, como tambémpela menor geração de lixo urbano. Segundo estimativas da As-sociação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), a utilização nafabricação do vidro de 10% de cacos significa ganho energético de4% e redução de 5% nas emissões de CO2.

Como um reflexo das vantagens mencionadas, a recicla-gem de vidro aumentou, no Brasil, de forma muito expressiva:enquanto em 1991 eram recicladas 15% das embalagens de vidro,em 2004 esse índice atingiu 45%.

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As embalagens de vidro destinadas a alguns segmentos,como o de bebidas, podem ser não apenas recicláveis, mas tambémretornáveis, o que significa que a mesma embalagem passa porvários ciclos de utilização. Tais embalagens são normalmente gar-rafas de certo peso, projetadas para ter resistência mecânica ade-quada ao longo de sua vida útil.

A comercialização de bebidas em garrafas retornáveisimplica, obviamente, impactos positivos para o consumo de energiae a qualidade do ambiente. O dimensionamento preciso dessesimpactos, no entanto, apresenta dificuldades consideráveis, poisdevem ser levados em conta fatores como a distância média percor-rida, o índice de quebra e a necessidade de lavagem e higienizaçãodas garrafas. Assim, de acordo com estudo elaborado na Bélgica,analisado em trabalho do Centro de Tecnologia de Embalagem(Cetea), da Unicamp [Coltro et al (2007)], o sistema de embalagensretornáveis é vantajoso somente quando o índice de quebra é inferiora 5%, o que é particularmente difícil quando a distribuição envolvegrandes distâncias.

Apesar dos aspectos positivos mencionados, o sistema dereutilização de embalagens está em declínio no Brasil e restringe-se,na prática, às garrafas de cerveja. Isso se deve a múltiplas causas,que vão desde a redução de custos das embalagens descartáveisaté a resistência dos varejistas, principalmente os supermercados,que não têm interesse em manusear o estoque necessário derecipientes em uso. É provável, entretanto, que ocorra uma reversão,ao menos parcial, dessa tendência, em virtude da crescente preo-cupação da sociedade com o ambiente e da futura elevação doscustos da energia. Eventuais alterações na legislação ambientaldeverão, também, contribuir para aumentar, a médio e longo prazos,o consumo de embalagens de vidro, a exemplo do que já se verificaatualmente na União Européia (UE).

O setor de vidro, que pode ser definido como oligopóliohomogêneo, é dominado por grupos que atuam internacionalmentede forma direta ou através de associações comerciais. Estima-seque 80% da produção mundial de vidro sejam provenientes de em-presas multinacionais pertencentes a esses grupos, enquanto os ou-tros 20% são divididos entre pequenas e médias empresas regionais.

Dados de 2005 indicam que os grupos Pilkington,Saint-Gobain, Guardian, Asahi e Owens Illinois participavam com77% da capacidade mundial de produção de vidro, o que demonstraa elevada concentração dessa indústria. Em junho de 2006, aPilkington foi adquirida pela NSG UK Enterprises Limited, subsidiáriada Nippon Sheet Glass, e passou a denominar-se NSG/Pilkington.No entanto, somente a partir de 31 de março de 2007 é que as

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PanoramaInternacional

ProduçãoMundial de Vidro

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operações dessas empresas passaram a ser realizadas, societaria-mente, de forma integrada.

Os principais produtores são Japão, Estados Unidos(EUA), China e alguns países da União Européia, em especialAlemanha, França, Itália, Espanha, Bélgica e Portugal. A China é opaís que tem mostrado o mais rápido e acentuado crescimento, nosúltimos anos, basicamente em função do aquecimento da demandano mercado automotivo e na construção civil em geral. As informa-ções disponíveis sobre a China revelam expansão da produçãoprincipalmente nas regiões sul e leste do país, com destaque parao segmento de vidro plano.

• Vidro Plano

As características de oligopólio homogêneo são particular-mente acentuadas no segmento de vidro plano, já que apenasquatro empresas detêm cerca de 70% do mercado mundial e quasenão existe diferenciação de produtos. Ou seja, quase três quartosda produção mundial de vidro plano estão sob controle de trêspaíses: Japão (Asahi e NSG/Pilkington), França (Saint-Gobain) eEstados Unidos (Guardian). A elevada concentração é conseqüên-cia, em grande parte, da densidade de capital necessária, além dosinvestimentos requeridos para capacitação gerencial e comercial. Oúnico lugar em que essa concentração não se verifica é na China,onde o mercado ainda é explorado por empresas nacionais. Dife-rentemente do que ocorre nos demais países, a produção de vidroplano chinesa utiliza tecnologia de fabricação inferior ao padrãointernacional, o que lhe confere um produto de pior qualidade.Todavia, as grandes empresas multinacionais não conseguem en-trar plenamente no mercado chinês por causa, principalmente, dosbaixos custos de produção e das restrições formais quanto aosinvestimentos naquele país.

As duas tecnologias de produção de vidro plano em usono mundo são a flutuação em banho de estanho e a laminação porrolo (ver item Aspectos Técnicos). Até o início da década de 1990,quatro empresas (Pilkington, Saint-Gobain, Guardian e Asahi) deti-nham o controle integral do mercado mundial de vidro plano, graçasao domínio do direito de produção de vidro pelo processo float.Apesar da passagem para domínio público da produção atravésdessa tecnologia, as novas empresas que ingressaram nesse mer-cado (particularmente as chinesas) não conseguiram ainda atingir aprodutividade adquirida pelas quatro principais produtoras mundiaisao longo dos últimos trinta anos.

É exatamente esse fator que determina a concorrêncianesse segmento, via aprimoramento tecnológico e antecipação docrescimento de mercado. O primeiro aspecto permite a redução decustos e a melhoria da qualidade do produto e o segundo possibilita

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que a tomada de decisão quanto a investimentos não seja baseadaapenas na expectativa de crescimento de vendas dos concorrentes,já que uma simples ampliação da capacidade exige um elevadomontante de investimento. Além disso, a expansão da produçãoacima da demanda corrente gera um excesso de capacidade, pelomenos no período imediatamente subseqüente ao investimento, oque caracteriza uma capacidade ociosa planejada.

A introdução do processo float, em substituição ao proces-so tradicional de estiragem, acarretou mudanças significativas naestrutura de oferta de vidro plano, uma vez que a necessidade dedesenvolvimento tecnológico e de aportes financeiros levou aoaprofundamento de uma estrutura concentrada e oligopolizada, emlugar da situação de um número relativamente grande de produtorescom diferentes escalas de produção, que prevalecia anteriormente.

De acordo com o porte, as quatro maiores empresas domundo no segmento de vidro plano são NSG/Pilkington, Asahi(muito próximas entre si, com 21% da capacidade mundial cadauma), Saint-Gobain (com 14%) e Guardian (13%). A capacidadeinstalada estimada do mercado de vidro plano é de 46 milhões det/ano, sendo que na Europa é de 11 milhões de t/ano e na Américado Norte, de 7 milhões de t/ano. A maior parte dessa capacidade érelativa à fabricação de float de qualidade internacional. Na China,em 2005, a produção total de vidro plano alcançou 19 milhões detoneladas, equivalente a 42% da produção mundial. Contudo, emsua maioria, encontra-se fora do padrão ofertado mundialmentepelos quatro principais fabricantes.

No Gráfico 2, apresenta-se a capacidade mundial para aprodução de float no ano de 2005. É importante destacar que muitasdas empresas citadas mantêm vínculos societários, comerciais ouestratégicos. Um exemplo disso é o grupo japonês Asahi GlassCompany (AGF), que congrega um pool operacional formado pelaassociação de um grande número de empresas e processadores naÁsia, nas Américas e na Europa. Por conta de tal concentração, essesegmento encontra-se hoje sob controle de algumas grandes em-presas multinacionais que, embora atuem em escala internacional,são fortemente assentadas nas características regionais dos princi-pais mercados.

• Vidro Oco

Os produtos derivados do vidro oco podem ser proces-sados a quente de forma prensada ou soprada, por meio de proces-sos mecanizados e automáticos. O mercado de vidro oco é compos-to por dois grandes segmentos: vidro para embalagem e vidro parauso doméstico. Esses dois segmentos apresentam elevadas econo-mias de escala, em função principalmente de aspectos tecnológicose, sobretudo, dos baixos valores unitários dos produtos finais.

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Não foi possível obter dados de produção de vidro paraembalagem relativos ao mercado mundial. No entanto, sabe-se queesse segmento tem sete empresas principais, que respondem por66% da oferta mundial, com destaque para a norte-americanaOwens Illinois e a francesa Saint-Gobain.

Os fabricantes de vidro para embalagem buscam investirem inovações relacionadas à redução de peso e novos sistemas devedação e segurança, em parte obrigados pelas demandas dasindústrias de alimentos e bebidas, que estão constantemente pro-curando modernizações, diferenciações e novas soluções tecnoló-gicas em virtude da elevada concorrência e mutação dos mercados

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil114

Gráfico 2

Fabricantes Mundiais de Vidro Plano(Em Milhões de t)

Fonte: Pilkington 2006.

Gráfico 3

Oferta Mundial de Vidro para Embalagem – 2005

Fonte: 2005 ICON Group International, Competitor Annual Reports, Deloitte.

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em que atuam. No aspecto de segurança, ganham importânciatecnologias envolvendo sistemas de fechamento que evidenciem aviolação e cresce, também, a rejeição a embalagens que apresen-tem riscos ao consumidor, principalmente na abertura dos produtos.

No entanto, a concorrência na indústria de vidro paraembalagem é afetada mais fortemente pela entrada de produtossubstitutos do que propriamente pela competição das empresasfabricantes entre si. A utilização do vidro como recipiente tem sofridofortíssima concorrência de produtos substitutos nos últimos trintaanos, desde a folha de flandres ao alumínio, passando por papel ecartões até diversos tipos de plástico. A indústria vidreira conseguiu,porém, via avanços tecnológicos e de marketing, estreitar grandeparte das vantagens alegadas desses concorrentes sobre o vidro.Por ser um material física e quimicamente inerte, o vidro é superiorno acondicionamento de alimentos e bebidas, já que não transferesabores indesejáveis aos produtos. Por outro lado, o vidro tambémsuplanta a concorrência de outros produtos de embalagem subs-titutos – como é o caso das latas, do polietileno tereftalato (PET), dopolicloreto de vinila (PVC) e do cartão (tetrapack) –, no isolamentoentre o produto e o ambiente, protegendo o conteúdo da umidade,da temperatura e do oxigênio do ar. Por fim, mas não menos impor-tante, as embalagens de vidro são totalmente retornáveis ou total-mente recicladas, aspectos fundamentais do ponto de vista ambien-tal e da menor pressão sobre fontes de energia e matérias-primas.O vidro como embalagem é dificilmente substituível, em diversosprodutos, por causa da exigência de maior qualidade da embala-gem, como é o caso do vinho, do azeite, da cerveja e de algunsprodutos em conserva.

A diferenciação no vidro de embalagem ocorre fundamen-talmente no formato e na coloração. Apesar de não existir restriçãoquanto ao uso da cor, há alguns produtos que utilizam embalagensquase exclusivamente de uma cor definida, como acontece com asgarrafas de cerveja, que são predominantemente de cor âmbar.

O surgimento de produtos substitutos tem levado os fabri-cantes de vidro para embalagem a apostar numa forma mais eficien-te de diferenciação dos seus produtos, através de estratégias quevisam associar a personalização e a fidelização dos consumidores,apostando nas características intrínsecas das embalagens em ter-mos de design, qualidade e praticidade. Além disso, observa-se umatendência crescente para associar o conteúdo das embalagens devidro a produtos de maior higiene, qualidade e comprometimentocom a questão ambiental.

No segmento de vidro para uso doméstico, os principaisfabricantes mundiais são a Arc International, da França, e a LibbeyInc., dos Estados Unidos. Também se destacam no continente eu-ropeu a Bormioli (Itália), a Crisal (Portugal) e a Royal Leerdam

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(Holanda). Podem ainda ser mencionadas a Pasabahce, na Turquia,a Crisa, no México, a Libbey Glassware, na China, e a Nadir Figuei-redo, no Brasil. Estima-se que, juntas, as empresas listadas sejamresponsáveis pela maior parte da produção mundial desse segmen-to, que é da ordem de 5 milhões de t/ano. O grupo Arc lidera com aprodução anual de 500 mil toneladas de vidro, seguido do grupoLibbey (formado pela associação das empresas Libbey Inc., RoyalLeerdam, Crisal, Crisa e Libbey Glassware). Outros dois fortesconcorrentes nesse mercado são o grupo brasileiro Nadir Figueire-do, classificado entre os dez maiores fabricantes mundiais de vidropara uso doméstico, com a capacidade de produzir 180 mil t/ano, ea empresa turca Pasabahce, pertencente ao grupo Sisecam e querecentemente formou uma joint-venture na Bulgária (Trakya Glass),aumentando assim sua inserção no mercado europeu.

A fabricação dos produtos no segmento de vidro para usodoméstico engloba tanto o processo manual como o semimanual eo automático. Como a tecnologia na produção de vidro para usodoméstico reside no processo, esse aspecto dificulta a entrada denovos competidores. Ao contrário do que acontece com o segmentode vidro para embalagem, o segmento de vidro para uso domésticonão sofre tão fortemente a concorrência de produtos substitutos,ainda que haja a presença de produtos de plástico ou mesmo oreaproveitamento de vidro de embalagem.

A competição entre as empresas que atuam no segmentode vidro para uso doméstico é muito influenciada pelos aspectostecnológico e mercadológico. No primeiro caso, as empresas pro-curam incorporar novas funcionalidades e maior resistência aosprodutos, em especial os de uso comercial (bares, restaurantes,hotéis etc.). O segundo caso, de caráter comercial, faz com que asempresas procurem inovar e lançar artigos variados com desenhose cores diferenciados. Isso ocorre em função do posicionamentodos produtos em relação aos clientes a que se destinam, sendoimportantes o design, a qualidade e o marketing para traduzir maiorflexibilidade e adaptação às exigências da demanda. Conseqüente-mente, a necessidade de políticas de marketing agressivas quepossibilitem uma aproximação do cliente final é uma preocupaçãoconstante das empresas líderes desse segmento.

Para perceber a dinâmica comercial no consumo de vidroe, assim, entender sua evolução e suas tendências futuras, é impor-tante conhecer e identificar os vários fatores que influenciam aprocura e as trocas comerciais nessa indústria. O segmento de vidroplano é fortemente dependente das estratégias globais implemen-tadas pelos quatro principais grupos fabricantes. No segmento devidro para embalagem, ainda que a maior parcela da oferta mundialseja assegurada por um número restrito de fabricantes, há a depen-

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil

ConsumoMundial de Vidro

116

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dência da dinâmica apresentada pelos setores clientes – particular-mente das indústrias de alimentos, bebidas, farmacêutica e decosméticos –, que ditam o comportamento da demanda e os fluxoscomerciais dos produtos.

O segmento de vidro para uso doméstico é marcado pelacoexistência de vários grandes produtores e um grande número depequenas e médias empresas, mas a demanda é determinadabasicamente pelo quadro de evolução da renda das famílias e daatividade econômica, que por sua vez é condicionado pela conjun-tura macroeconômica. No segmento de vidro técnico, a demanda ébem específica, pois depende da capacidade da indústria e daatração de novos clientes, já que se destina predominantemente aosfabricantes de cinescópios, lâmpadas (tubos e bulbos), fibras devidro de reforço e de isolamento, garrafas térmicas, blocos oftálmi-cos e blocos de vidro, entre outros.

• Vidro Plano

O consumo per capita anual de vidro plano dos europeusé estimado em 16 kg e o dos norte-americanos, em 11 kg. No res-tante do mundo, o consumo per capita anual de vidro plano ainda érelativamente baixo, ao redor de 4 kg. Além disso, principalmente naChina, é grande a proporção de float de menor qualidade, embora hajaum gradativo processo de adequação aos padrões internacionais.

Como o crescimento do segmento de vidro plano é muitodependente da evolução esperada para a construção civil e para aindústria automotiva, sua competitividade depende, cada vez mais,de atributos como inovação e melhoria de qualidade dos produtos.Nesse sentido, as empresas precisam manter uma constante ecrescente preocupação com aspectos ligados à qualidade do vidro,segurança e questões relacionadas com a sustentabilidade. Issoresulta num dilema para as empresas desse segmento, já que, aotentar traduzir a concepção de vidro com maior resistência (física,térmica e acústica), associada a menor peso, reduzem o volume totalnegociado sem a equivalente agregação de valor ao produto final,por causa da pressão dos principais clientes por menor preço.

Na construção civil, os principais demandantes de vidroplano são os transformadores, que transformam o vidro bruto emproduto final, e os grandes distribuidores, que fazem a ligação comas pequenas vidraçarias espalhadas por todo o país. No mercadoautomobilístico, os principais clientes são as próprias montadoras,que mantêm contratos estratégicos de fornecimento de longo prazocom os principais grupos que atuam nesse mercado, mais es-pecificamente Pilkington, Saint-Gobain e Asahi.

Em 2005, o consumo mundial de vidro plano foi de apro-ximadamente 41 milhões de toneladas (cerca de 5 bilhões de m2),

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que correspondeu a um faturamento de US$ 19 bilhões, com umcrescimento de 4% em relação ao ano anterior. A construção civil(porta, janelas e fachadas) respondeu por 70% das vendas, aindústria automobilística (janelas e pára-brisas), por 10%, e os res-tantes 20% foram absorvidos para aplicação em eletrodomésticos,espelhos e no setor moveleiro. Três grupos industriais (Pilkington,Asahi e Saint-Gobain) suprem juntos 75% da demanda total daindústria automobilística mundial por vidro plano.

A China, a UE e os EUA juntos representaram 75% dademanda mundial de vidro plano. Tanto o mercado europeu quantoo norte-americano podem ser classificados como maduros no quese refere ao consumo de vidro plano, motivo pelo qual a maior parteda demanda nesses dois mercados é voltada para produtos demaior valor agregado.

Na classificação utilizada, a Europa inclui Turquia, Rússia,Ucrânia e Bielorrússia, enquanto a América do Norte inclui EUA,Canadá, México e as ilhas do Caribe. Na Ásia, a China e o Japãorepresentam, respectivamente, 35% e 3% da demanda.

O mercado europeu é o maior consumidor mundial devidro plano, com uma demanda anual de mais de 9 milhões detoneladas (cerca de 22% do consumo mundial de vidro), suprida emsua grande maioria por fábricas locais pertencentes a sete empresas(Saint-Gobain, Pilkington, Asahi, Guardian, Sisecam, Euroglass eSangalli) e mais dois outros processadores que têm linhas próprias:Interpane e Scheuten.

A China apresenta um mercado de vidro plano aquecido,motivo pelo qual a atual produção interna é insuficiente para atender

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil118

Gráfico 4

Demanda Mundial de Vidro Plano – 2005

Fonte: Pilkington 2006.

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todo o mercado, obrigando os chineses a importar aproximadamen-te 3% da sua demanda total de vidro plano (quase tudo referente aprodutos especiais de maior qualidade que a China ainda nãoconsegue produzir internamente). Por outro lado, cerca de 11% daprodução de vidro plano chinesa é exportada. São, principalmente,produtos destinados especialmente aos mercados asiáticos queainda não demandam vidro plano nos mesmos padrões do ofertadomundialmente pelos quatro principais fabricantes. Embora os chine-ses estejam algo atrasados na produção de vidro float conforme ospadrões internacionais, têm mostrado forte evolução no desenvolvi-mento da qualidade da sua produção doméstica e melhorias nacomercialização de seus produtos no mercado externo.

Cabe ressaltar que a demanda da construção civil é muitosuperior à demanda observada no setor automobilístico. Além disso,o peso de reformas de moradias é equivalente ao mostrado paranovas construções, com 40% da demanda do mercado de cons-trução. Na indústria automotiva, por sua vez, 83% da demandadependem do consumo de novos veículos. Ou seja, a demanda dereposição na indústria da construção civil é quase 50 vezes maiordo que a demanda de reposição no setor automotivo. Essa ten-dência se mantém, mesmo em países relativamente maduros, já quenessas sociedades a demanda de reposição na construção é supe-rior à demanda por novas construções.

Esse diagnóstico mostra o potencial de crescimento dosegmento de vidro plano no mundo, sobretudo em países com dé-ficit habitacional, como é o caso da maioria dos países em desen-volvimento. Na China, por exemplo, a demanda de vidro plano temaumentado rapidamente, tanto no mercado de automóveis como node construção (principalmente nesse), estimulada pela aceleraçãodo crescimento econômico chinês nas duas últimas décadas.

A estimativa das empresas que atuam no segmento devidro plano é de que o mercado mundial continue crescendo anual-mente 4% até o ano de 2010. Em 2007, as projeções são para quea demanda desse segmento alcance um volume de 45 milhões detoneladas, incluindo 2 milhões de toneladas de vidro plano obtidospelo processo de laminação por rolo.

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Tabela 3

Mercado Mundial de Vidro Plano por Setor Demandante – 2005CONSTRUÇÃO CIVIL VOLUME

(Milhões de m2)% AUTOMOBILÍSTICO VOLUME

(Milhões de m2)%

Novas Construções 1.700 40 Novos Veículos 240 83Reformas de Moradias 1.700 40 Veículos Usados 50 17Utensílios para Interior 900 20Total 4.300 100 TOTAL 290 100Fonte: Pilkington 2006.

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Quase toda a produção do segmento de vidro plano édestinada aos mercados nacionais, em parte por causa das dificul-dades no transporte (altos custos derivados do peso, do volume eda fragilidade dos produtos) e da estratégia corporativa, que visapreponderantemente atender clientes locais. Por outro lado, os fa-bricantes de vidro float tentam, também, satisfazer às necessidadesglobais dos clientes quando determinados artigos, por algum moti-vo, ainda não podem ser produzidos no mercado consumidor.Nessas situações, eles atuam como distribuidores locais dos produ-tos que o grupo fabrica no restante dos países.

• Vidro Oco

Os produtos elaborados a partir do vidro oco atendemtanto o mercado de embalagens para fins industriais quanto o deartigos para uso residencial. No mercado de embalagens, os princi-pais clientes são as indústrias de bebidas, alimentos, cosméticos,limpeza e farmacêutica. Os artigos para uso doméstico são basica-mente louças de mesa como pratos, copos, jarras e xícaras.

A demanda no segmento de vidro doméstico é diretamen-te dependente do poder de compra dos agentes econômicos (es-pecialmente das famílias) e do design incorporado nos produtos (tra-dicionalmente relacionado às tendências ditadas pelos europeus).Associada a esses aspectos, também existe a preocupação de promo-ver os produtos fabricados no país, a fim de associá-los ao aspecto“qualidade” e estimular seu consumo frente aos similares importados.

O vidro para uso doméstico pode ser dividido em doisgrandes grupos: o de vidro sodocálcico, que compreende pratos,copos e xícaras, e o de vidro borossilicato, que engloba travessas,

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil120

Gráfico 5

Utilização da Capacidade Mundial de Vidro Plano*

Fonte: Relatório Pilkington 2006.* Não inclui a China.

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jarras e prato de microondas. Nessa classificação não estão incluí-dos os cristais, que não são objeto de consideração neste trabalho,já que têm uma dinâmica própria de crescimento, pois seu processode fabricação é mais artesanal e se destinam a nichos de mercado,apresentando uma estrutura setorial diferenciada.

O segmento de vidro para uso doméstico atende ao con-sumo residencial e institucional. No mercado institucional (bares,hotéis e restaurantes, além de brindes e promoções), uma variávelimportante é a garantia de continuidade do fornecimento, já que osclientes precisam saber que poderão contar com a reposição dedeterminadas peças quebradas por outras de mesma linha. Nomercado de varejo, o quadro é o inverso, tendo em vista que osconsumidores querem novidades e, além do visual, demandamlinhas amplas de produtos que possam formar conjuntos harmôni-cos para o lar.

Outra característica do mercado de vidro para uso domés-tico é a nítida separação entre linhas mais sofisticadas e linhasbásicas, cuja penetração no mercado é massificada. De acordo comos fabricantes, os artigos de maior valor agregado encontram maisespaço de vendas no consumo residencial, principalmente nospaíses em que a população tem maior poder aquisitivo.

A produção da indústria de vidro para embalagem desti-na-se aos setores de bebidas, de alimentos, farmácia e cosméticos.Conseqüentemente, para o crescimento desse segmento, é impor-tante o comportamento das indústrias que compõem esses setores,nos quais as decisões de compra são motivadas por aspectosextrínsecos aos produtos, nomeadamente ao grau de inovação e aonível de design. Cabe registrar que as embalagens de alimentos,medicamentos, cosméticos e, notadamente, bebidas constituem umdos mais antigos usos do vidro.

Para atender às exigências dos clientes, os fabricantes devidro para embalagem são forçados a adotar uma estrutura industrialque permita a otimização do processo produtivo e a diferenciaçãodos produtos ao nível do acabamento. A organização produtiva visaconquistar know-how tecnológico por meio da diminuição da espes-sura e do peso dos produtos, sem perda de qualidade, além depossibilitar a redução do consumo de energia e a minimização dosimpactos ambientais, eliminando resíduos e emissões de poeiras.

No caso particular da energia na produção de vidro parauso doméstico, é fundamental que os fabricantes procurem definirpreviamente a utilização da matriz energética que mais lhes convém(gás, óleo, elétrica etc.), já que a viabilidade econômica dos fornosestá intimamente dependente do tipo de energia utilizada.

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Uma das principais vantagens da utilização do vidro comomaterial de embalagem está associada ao aspecto da reciclagem,uma vez que o vidro é retornável, reutilizável e totalmente reciclável(100%), sem perda de volume e das suas propriedades químico-fí-sicas, além de ter capacidade de reciclagem infinita, fato que nãoacontece com o plástico e o papel.

De modo geral, o setor vidreiro no Brasil é voltado aoatendimento do consumo interno e, similarmente ao que ocorre nomercado mundial, a oferta também é concentrada em poucas em-presas, a maioria sob controle estrangeiro. Esses fabricantes forne-cem para várias indústrias (construção civil, automobilística, move-leira, de eletrodomésticos e eletrônicos, de alimentos e de bebidas,entre outras) e atendem também ao consumo de utilidades domés-ticas nos mercados residencial e institucional.

Em 2006, a capacidade instalada da indústria do vidro noBrasil era de 3,1 milhões de toneladas, sendo que vidro plano, vidropara embalagem e vidro para uso doméstico representaram 90%desse total, conforme pode ser observado na Tabela 4. Cabe des-tacar que nesses três mercados atuam as seis maiores empresasdo setor: Saint-Gobain, Cebrace, Guardian, Owens-Illinois (ex Cis-per), Nadir Figueiredo e CIV.

Comparativamente ao ano de 1996, a atual capacidadeinstalada do setor apresenta uma evolução de aproximadamente55%, sendo que os principais aumentos de capacidade ocorreramna fabricação de vidro plano (125%) e vidro técnico (51%), enquantoa capacidade de produção de vidro para embalagem e de vidro parauso doméstico teve crescimento bem mais reduzido, de 24% e 14%,respectivamente. O vidro para embalagem teve uma redução decapacidade de 15%, entre os anos de 2000 e 2006, em parte porcausa do crescimento na utilização de outras formas de embalagem.

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil

PanoramaNacional

Oferta Interna

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Tabela 4

Capacidade Instalada da Indústria de Vidro no Brasil(Mil t/ano)

SEGMENTO 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Vidros Planos 550 550 800 800 800 1.110 1.050 1.050 1.240 1.240 1.240Vidros para Embalagens 1.048 1.048 1.497 1.497 1.521 1.335 1.358 1.293 1.277 1.292 1.297Vidros para Uso Doméstico 200 200 205 218 227 236 236 296 283 220 228Vidros Técnicos 215 215 221 225 235 241 264 265 297 332 325Total 2.013 2.013 2.723 2.740 2.783 2.922 2.908 2.904 3.097 3.084 3.090Fonte: Anuário Abividro 2007.

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• Vidro Plano

Até 1998, a produção de vidro float no Brasil era domíniode uma única empresa, a Cebrace, uma joint-venture que utiliza, empartes iguais, a tecnologia de fabricação desenvolvida pelos gruposPilkington e Saint-Gobain. Em 2006, a oferta nacional de vidro planofoi de 1,2 milhão de t/ano, basicamente atendida por dois fabricantesprincipais: Cebrace (quatro unidades industriais) e Guardian (umaunidade). Também atuam nesse mercado a União Brasileira deVidros (UBV), que fabrica vidro plano impresso (fantasia) produzidopor estiramento, a Pilkington e a Saint-Gobain Vidros, que atuamcomo processadoras de parte da produção da Cebrace.

As unidades produtivas das empresas que atuam no seg-mento de vidro plano estão localizadas no Estado de São Paulo,com exceção de uma nova unidade da Cebrace instalada em BarraVelha, em Santa Catarina, e de uma planta industrial da Guardiansituada no município de Porto Real, no Estado do Rio de Janeiro.

Os fabricantes nacionais utilizam as duas tecnologias deprodução de vidro plano (float e estiramento). O processo float éempregado pela Cebrace e pela Guardian. Como a produção poresse método apresenta grande superioridade em termos de quali-dade final do vidro fabricado, comparativamente ao processo tradi-cional, o mercado diferencia o produto fabricado através dessatecnologia, utilizando a denominação vidro float ou vidro flotado paradesigná-lo comercialmente.

Os principais produtos obtidos a partir da transformaçãodo vidro plano são o vidro temperado, o laminado e o refletivo ouespelhado. O processo de elaboração desses produtos, em geral,segue a especificação encomendada pelo cliente, especialmenteem relação a resistência, curvatura, refletividade e coloração. Amaior parte da produção de vidro plano temperado e de vidro planoimpresso ou fantasia se destina ao consumo do mercado de cons-trução civil. O vidro plano laminado tem como destino principal osfabricantes de veículos automotivos e o vidro plano refletivo édemandado principalmente por fabricantes de espelhos.

O vidro float é oferecido sob a forma incolor (produzido emmedidas máximas de 6.000 x 3.200 mm), em escala de espessurasque vão de 3 mm a 25 mm, ou em versões coloridas (verde, cinza,azul e bronze), em espessuras que podem variar de 3 mm a 12 mm,ou extra-incolor (branco), este ofertado em várias espessuras. Já ovidro impresso, ainda que possa ser encontrado em espessurasmaiores, comumente é oferecido entre 4 mm e 6 mm e em tamanhosmais reduzidos, inferiores a 2.500 x 1.500 mm.

Acredita-se que, até 2008, haverá a necessidade de insta-lar mais uma linha float, com capacidade de 200 mil t/ano, para atender

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ao crescimento da demanda no mercado de vidro plano, especial-mente em função do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)e da expectativa de crescimento da construção civil habitacional.

• Vidro Oco

A oferta de vidro oco no país é quase totalmente supridapela Santa Marina/Saint-Gobain, de controle francês, pela Owens-Il-linois do Brasil (antiga Cisper), de controle norte-americano, e pormais três empresas de capital nacional: Nadir Figueiredo, WheatonBrasil e Companhia Industrial de Vidros (CIV). Em geral, esses cincofabricantes podem atuar nos dois segmentos que compõem omercado de vidro oco: vidro para embalagem e vidro para usodoméstico. Excetuando-se a CIV, que tem sua planta industrial noEstado de Pernambuco, as demais empresas têm suas unidadesprodutivas localizadas nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

No segmento de vidro para embalagem, as três empresaslíderes são Owens Illinois, Saint-Gobain Vidros (através da SantaMarina) e CIV, que juntas respondem por cerca de 87% da oferta deprodutos para o mercado de embalagem de vidro (glass container).Essas empresas produzem e comercializam, em sua maioria, gar-rafas de cervejas, refrigerantes e bebidas em geral.

Em 2006, a capacidade de produção de embalagem dosetor vidreiro foi de 1,3 milhão de toneladas e os investimentos foramda ordem de R$ 42 milhões. De acordo com a Abividro, estãoprevistos cerca de R$ 48 milhões em investimentos para 2007, dosquais estima-se que R$ 22 milhões sejam para aumento de capaci-dade visando atender à demanda por embalagem de vidro, emespecial bebidas, alimentos e cosméticos.

O segmento de vidro para uso doméstico tem como em-presa líder a Nadir Figueiredo, tanto em termos de capacidade deprodução como de market share, seguida da Santa Marina (Saint-Gobain Vidros) e da Owens Illinois (que comercializa os produtoscom a marca Cisper). Essas três empresas respondem conjunta-mente por cerca de 78% do faturamento do mercado de vidro parauso doméstico (tableware).

A capacidade de produção do segmento de vidro para usodoméstico, em 2006, foi de 228 mil toneladas e os investimentosforam da ordem de R$ 15 milhões, destinados principalmente aodesenvolvimento de novos produtos com design e cores maisavançados. Observa-se que essa capacidade é bem próxima da quehavia em 1996 (apenas 10% superior), o que sinaliza que a produçãono segmento de vidro para uso doméstico não acompanhou ocrescimento do setor vidreiro nos últimos anos.

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil124

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Os fabricantes de vidro para uso doméstico no Brasilatuam na produção de objetos de decoração e utensílios domés-ticos, mediante processo de fabricação artesanal (cristais) ou auto-mático (utilizado nos demais produtos) e respondem por 13% daprodução da indústria de vidro (12% do faturamento).

A demanda da indústria de vidro no Brasil é fortementeinfluenciada pelo desempenho da atividade econômica dos merca-dos em que as empresas atuam, o que tem resultado em taxas decrescimento positivas nos últimos anos.

A maior demanda de vidro é dada pelo setor de construçãocivil (em sua maioria, vidro temperado), seguido das indústriasautomobilística (basicamente, vidro laminado), moveleira/decora-ção e de eletrodomésticos.

Estima-se que o consumo per capita de vidro no Brasil,atualmente, esteja ao redor de 12 kg/hab/ano, ainda inferior ao dasmédias dos Estados Unidos e da União Européia. Todavia, tudo levaa crer que a demanda deverá crescer nesse setor, especialmenteem função da aceleração da produção industrial, em parte graças àfavorável conjuntura da economia brasileira, que permite projetaruma evolução positiva para o setor baseada nas perspectivas decrescimento esperadas para os fabricantes de veículos, eletroeletrô-nicos e móveis e, também, para o setor de construção civil.

As vendas da indústria de vidro no Brasil atingiram R$ 3,9bilhões em 2006, o que representa um crescimento de 4,4% emrelação ao ano anterior. Não há informação disponível a respeito devendas físicas, mas pode-se estimar que no período atingiram 2,6milhões de toneladas, com base na capacidade instalada e naestimativa de ociosidade do setor.

Em 2006, o segmento de vidro para embalagem foi o queapresentou a maior participação, com 31% do faturamento total dosetor, representando um crescimento de 5% em relação ao anoanterior. O segmento de vidro plano participou com 28% do fatura-mento, correspondente a um crescimento de 6% em relação a 2005.O vidro técnico, ainda que tenha representado 28% do faturamentodo setor, não tem crescido significativamente desde 2004. O seg-mento de vidro para uso doméstico, um dos mercados cujo fatu-ramento vem evoluindo desde o ano 2000, é o que apresenta amenor participação, tendo representado somente 13% do fatu-ramento global do setor.

No período 2001-2006, o mercado de vidro técnico foi oque apresentou a maior taxa de crescimento, com uma variação de

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Demanda

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64%, enquanto o vidro para embalagem e o vidro para uso domés-tico variaram 55% e 48%, respectivamente. O vidro plano foi o queteve o menor crescimento desse período, com uma taxa de cresci-mento de 29%.

Tudo indica que a demanda do setor de vidro deve seguircrescendo nos próximos anos. Os fabricantes do setor estimamtaxas anuais entre 6% e 8%, acompanhando o crescimento previstoda construção civil e da economia como um todo. A indústria devidro deve se beneficiar também do crescimento de novos mercadosque vêm, paulatinamente, aumentando a utilização dos componen-tes de vidro nos seus produtos, como é o caso dos setores moveleiroe de eletrodomésticos.

• Vidro Plano

A demanda de vidro plano no Brasil tem crescido desde1991, alcançando índices expressivos, principalmente se compara-da ao crescimento do PIB. Nos últimos 14 anos, observa-se que ademanda interna quase triplicou, o que mostra um alto fator deelasticidade-renda. Esse elevado índice de elasticidade-renda, noentanto, é em parte decorrente da baixa taxa de utilização de vidrono país, comparativamente aos países mais desenvolvidos.

Como a demanda mostra-se ascendente, estima-se que apartir de 2008 poderá haver déficit de oferta de vidro float no mer-cado interno. Com isso, é razoável admitir a necessidade de implan-tação de novas unidades para absorver o acréscimo de capacidadeesperado para os próximos cinco anos.

Com relação à demanda, não existe a fidelização dosclientes, tanto das empresas processadoras de vidro plano (forne-cedoras para a indústria automobilística), como dos distribuidoresque vendem o vidro plano sem transformação, notadamente para aindústria da construção civil. Por outro lado, o esforço de marketingé mínimo, já que não existe competição de marcas no mercado, ospreços são semelhantes e não há o desafio de produtos substitutos.

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil126

Tabela 5

Faturamento da Indústria de Vidro no Brasil(Em R$ Milhões)

SEGMENTO 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Vidros Planos 530 550 518 554 744 846 924 968 998 1.033 1.095Vidros para Embalagens 690 670 613 691 771 829 967 1.034 1.109 1.168 1.230Vidros para Uso Doméstico 285 280 258 265 294 330 358 430 480 474 512Vidros Técnicos 489 524 556 610 618 660 853 896 1.119 1.078 1.081Total 1.994 2.024 1.945 2.120 2.427 2.665 3.102 3.328 3.706 3.753 3.918Fonte: Anuário Abividro 2007.

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Em razão das restrições em face dos altos custos de fretee seguro, dada a natureza dos produtos, e dos problemas fiscais/tri-butários advindos do aumento do PIS/Cofins, em 2005, e do aumen-to da burocracia aduaneira, os preços internos são mantidos empatamar tão alto quanto possível, quase sempre seguindo os preçospraticados no mercado internacional.

Em 2006, na construção civil, o vidro float comum repre-sentou 57% do consumo, seguido do vidro temperado (29%), dovidro espelhado (7%) e do vidro laminado (5%). O vidro metalizadoe o vidro duplo corresponderam a 1% cada.

Embora, no caso brasileiro, não existam estatísticas seg-mentadas da forma apresentada na Tabela 3, relativa ao mercadomundial, é possível supor que o peso de reformas de moradias enovas construções na demanda do mercado de construção civilbrasileiro seja superior ao da demanda de novos veículos na indús-tria automotiva. Ou seja, no contexto brasileiro, o potencial decrescimento da demanda na indústria da construção civil brasileiraé maior do que no setor automotivo, dado o déficit habitacional dopaís e a perspectiva de melhoria de renda da população.

Uma sinalização dessa expectativa é a sintonia do merca-do nacional com a tendência mundial, já que é possível observar umaumento no consumo brasileiro de vidro plano nos últimos anos,principalmente dos vidros laminados, temperados e refletivos. Deacordo com especialistas do setor, o vidro duplo tem uma demandaconsiderável no mercado europeu, mas no Brasil esse mercadoainda é incipiente. Já a utilização do vidro laminado no país ainda éembrionária, se comparada aos mercados da Europa. Acredita-seque o consumo desse tipo de vidro evolua significativamente, uma

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Gráfico 6

Distribuição do Mercado de Vidro Plano – 2006

Fonte: Empresas.

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vez que o mercado brasileiro é considerado em expansão e comconsumo per carpita ainda inferior aos padrões internacionais.

• Vidro Oco

A demanda por vidro oco no país tem mostrado tendênciaao crescimento, nos últimos sete anos, e atingiu R$ 1,7 bilhão defaturamento em 2006, para um volume estimado em 1,3 milhão de to-neladas. No entanto, o crescimento desse mercado ficou abaixo doalcançado pela indústria vidreira como um todo, que cresceu 96%no período 1996-2006, passando de R$ 2 bilhões para R$ 3,9 bilhões.

A participação do vidro para embalagem correspondeu a31,4% do total de vendas da indústria de vidro e seus principaissetores consumidores são os fabricantes de bebidas, alimentos enão-alimentos (inclui produtos de higiene, beleza e farmacêuticos).Apesar de ter obtido uma importante participação no mercado deembalagem e de ter sido mesmo responsável pela maior parte dofaturamento da indústria vidreira no Brasil, o consumo de embala-gem de vidro perdeu muito espaço para produtos substitutos (de-clinou, em toneladas, a uma taxa de 0,7% ao ano entre 1990 e 1998),conforme Tabela 6.

De acordo com a Lafis – Consultoria, Análises Setoriais ede Empresas, a migração dos fabricantes de cerveja e refrigerantesenvasados em garrafas retornáveis para outros tipos de embala-gens, entre 1999 e 2000, acarretou uma queda de 80% nos refrige-rantes. No caso da cerveja, a proporção de queda foi menor (21%),em parte porque o setor vidreiro buscou novos nichos, como emba-lagens long neck, seguindo uma tendência de embalagens detamanhos menores e descartáveis. Dados da Datamark de 2005, noentanto, indicam que o consumo de vidro para embalagem na

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Tabela 6

Consumo de Vidro no Brasil – Volume e UnidadesTONELADAS MIL 1990 1998 1999 2005 1990-1998*

(%)1999-2005*

(%)

Bebidas 658 583 577 687 -1,5 3,0Alimentos 140 196 184 246 4,3 5,0Não-Alimentos 93 62 61 72 -4,9 2,8Total 891 841 822 1.005 -0,7 3,4UNIDADES MILHÕES 1990 1998 1999 2005 1990-1998*

(%)1999-2005*

(%)

Bebidas 1.561 1.705 1.678 2.061 1,1 3,5Alimentos 808 1.066 996 1.322 3,5 4,8Não-Alimentos 2.087 1.728 1.693 1.781 -2,3 0,8Total 4.456 4.499 4.367 5.164 0,1 2,8Fonte: Datamark, Brasil Pack Trends 2005.*Taxa composta anual entre 1990-1998 e 1999-2005.

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indústria de alimentos cresceu a uma taxa de 4,3% a.a., no período1990-1998 (ver Tabela 6). Em contraste, o mercado de embalagempara não-alimentos (frascos) foi o que mais declinou – com uma taxaanual negativa de 5% –, principalmente em função do grande avançodo plástico.

Um aspecto fundamental na comercialização de vidro paraembalagem é a manutenção de um canal direto de negociação comos principais fabricantes de bebidas, alimentos e não-alimentos. Nosegmento de vidro para uso doméstico, é importante contar comtrês canais de comercialização: equipe comercial própria e es-pecializada, distribuidores regionais com equipes de vendas treina-das que possam atingir todas as regiões do país e representantesautônomos, especializados em áreas específicas. Também a pro-moção e a propaganda, nesse último segmento, têm de ser dirigidasaos potenciais clientes, através de campanhas publicitárias emanúncios veiculados nas principais mídias do país, visando atingirdiretamente o consumidor final.

A indústria de vidro vem enfrentando uma forte concor-rência de produtos substitutos, derivados principalmente da utiliza-ção de novas embalagens cartonadas flexíveis (em especial o tetra-pack), plásticas (particularmente o polietileno tereftalato) e de alumínio(basicamente latas). Muito embora não sejam insumos de naturezamuito próxima à do vidro, podem diminuir a necessidade de utiliza-ção dessa matéria-prima nos produtos finais, como é o caso dasembalagens na indústria de alimentos e bebidas.

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ProdutosSubstitutos

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Gráfico 7

Consumo de Embalagem de Vidro no Brasil – 2005Total: 1.005 Mil t

Fonte: Datamark 2005.

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No entanto, o vidro também pode tornar-se um produtosubstituto, já que apresenta uma elevada capacidade de utilizaçãoem outros tipos de aplicações, bastando para isso maior difusãosobre a utilidade e as vantagens do seu uso. Por isso, é importantea formulação de políticas de marketing visando conquistar essasnovas oportunidades e reverter o processo de substituição poroutras embalagens.

Embora o segmento de vidro para embalagem venhasendo mais afetado pela substituição, no caso da concorrência deoutros produtos, tem conseguido avançar, contudo, na busca de ino-vações que possibilitem embalagens com características mais levese menor custo de produção. Os números da Datamark indicaramque houve uma redução do peso médio por embalagem de vidro(incluindo todos os segmentos) da ordem de 6,5% de 1990 para1998, ou seja, de 200 para 187 gramas.

Mesmo assim, ainda é forte o avanço de produtos subs-titutos na indústria de vidro. No setor de bebidas, por exemplo, oPET respondeu em 2006 por 80% das embalagens dos refrigerantes,contra apenas 12% das de garrafas de vidro e 8% das de latas, deacordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias de Refri-gerantes e de Bebidas Não-Alcoólicas (Abir). É interessante registrarque, no passado, o vidro já respondeu por mais de 87% da demandadesse segmento. No mercado de bebidas alcoólicas, a substituiçãoainda é incipiente, dada a impropriedade da embalagem plásticapara a conservação principalmente da cerveja a custos compatíveis.Apesar de as latas terem alcançado um aumento de participação nomercado de cervejas, as embalagens de vidro ainda ocupam umaparcela expressiva no consumo desse tipo de produto.

A principal vantagem apresentada pela embalagem devidro refere-se à possibilidade de reciclagem das garrafas, potes efrascos sem nenhum tipo de perda durante o processo, ou seja, épossível reciclar uma embalagem de vidro produzindo outra deidênticas características. Estima-se que 55% da produção da indús-tria vidreira seja reciclada, através de uma rede de beneficiamentocomposta por várias empresas fornecedoras.

Como regra geral, a indústria de vidro utiliza o mercadoexterno como um “colchão” para absorver possíveis excessos oufalta de oferta. A exportação somente é considerada quando hádesaquecimento no mercado interno, ou seja, visa amortizar asvariações entre oferta e procura do mercado interno.

Conseqüentemente, não existe, normalmente, uma políti-ca clara e consolidada quanto aos mecanismos que regem asexportações nesse setor. Um dos aspectos que inibem as exporta-

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil

ComércioExterior

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ções decorre das restrições que as empresas sofrem para atuar emmercados não definidos por suas respectivas matrizes, já que asprincipais empresas dessa indústria são multinacionais.

Outro aspecto que também restringe as exportações naindústria do vidro refere-se à sua inconveniência econômica, em faceda abundância de matéria-prima e da disponibilidade de mão-de-obra, tecnologia etc. Por isso, a decisão de investir em determinadopaís depende fundamentalmente do custo de capital para fazerfrente ao investimento. Contribuem, também, para isso o pesorelativamente leve dos produtos (especialmente tableware e glasscontainer) e o elevado risco de perdas no transporte.

No Brasil, o comércio exterior foi caracterizado por umacurva crescente das importações, desde a década de 1990, acumu-lando sucessivos déficits comerciais até o ano de 2001. A partirdesse ano, no entanto, essa tendência foi revertida e o setor passoua apresentar subseqüentes superávits comerciais, somandoUS$ 171 milhões no período 2002-2006. O crescimento das expor-tações, nesse período, se explica pelo fato de empresas como aGuardian e a própria Cebrace, que estavam importando volumescada vez maiores para suprir a falta de oferta no mercado brasileiro,terem investido em novas linhas. Com a inauguração da planta daGuardian, em 1998, e a implantação da terceira linha da Cebrace,em 1997, os excedentes de demanda no mercado interno, antesimportados, passaram a ser fabricados no país, fazendo com que osaldo de comércio exterior começasse a cair ano a ano e fossepraticamente zerado em 2002.

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Gráfico 8

Balança Comercial Brasileira de Vidro – 1996-2006

Fonte: Secex/MDIC.

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Em 2006, os principais destinos das exportações de vidrobrasileiras foram a Argentina, o México, a Colômbia e os EstadosUnidos e mais da metade do volume exportado foi para países daAmérica do Sul. A maior parte das exportações referia-se a vidro plano(folhas de vidro flotado), seguido do segmento de vidro especial.

No mesmo ano, o Brasil importou principalmente dosEstados Unidos, da Alemanha, da China e do México, sendo que ocontinente sul-americano representou apenas 7% do volume im-portado. É importante ressaltar que as importações da China cres-ceram bastante nos últimos cinco anos. As importações de vidroda China, que em 2002 representavam 6% do total, já em 2006cresceram para quase 13%, lembrando que as exportações brasi-leiras para a China não passam de 1%. Até pouco tempo, uma boaparcela das importações de vidro do Brasil consistia em vidroespecial, dado seu elevado valor unitário no total das importações.Atualmente, a maioria das importações corresponde a vidro plano evidro para uso doméstico.

Cabe ressaltar que o segmento de vidro especial, aindaque não tenha sido contemplado neste trabalho, é altamente depen-dente das importações e sua balança comercial, com exceção de2002, permaneceu deficitária. Desde 2004, o crescimento das im-portações passou a ser ainda maior e, com a desvalorização damoeda americana, isso tende a se agravar, visto que os preçosrelativos das importações tornam-se mais atrativos para o mercadointerno. O Brasil importou principalmente ampolas de vidro paratubos catódicos e outras fibras de vidro. As exportações brasileirassão principalmente de tubos de quartzo/sílica, fundidos, não traba-lhados e outras mechas de vidro, ligeiramente torcidas.

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil132

Tabela 7

Destino e Origem das Exportações e das ImportaçõesBrasileiras – 2006

EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES

Países (%) Países (%)

Argentina 20,9 Estados Unidos 21,4México 10,7 Alemanha 13,9Colômbia 9,0 China 12,7Estados Unidos 8,1 México 6,4Venezuela 4,6 França 5,5Peru 4,6 Venezuela 4,1Chile 4,3 Itália 3,5África do Sul 4,2 Outros 32,5Outros 33,6Total 100 Total 100Fonte: Secex/MDIC.

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• Vidro Plano

Ao analisar a balança comercial de vidro plano, percebe-seum crescimento acentuado das exportações a partir de 2003, umatendência que prosseguiu até 2006. Essa evolução representou umcrescimento médio de 30% nas exportações e contribuiu para osuperávit na balança comercial de vidro no mesmo período. Osprincipais produtos exportados por esse segmento são vidros desegurança de folhas contracoladas, vidros para veículos e chapas efolhas de vidro flotado. O primeiro teve crescimento médio, noperíodo de 2000 a 2006, acima de 30% e o último teve aumento de13%. As importações brasileiras se concentram principalmente emchapas e folhas de vidro flotado.

• Vidro Oco

A balança comercial de vidro oco obteve seguidos supe-rávits, sobretudo em 2006, conforme se pode visualizar no Gráfico10. Esse crescimento, segundo notícia da Gazeta Mercantil(20.3.2007), foi explicado pela Abividro como decorrência do au-mento nas exportações de vidro para embalagem, principalmentepara a Venezuela, por problemas operacionais. O crescimento dasexportações para esse país, no segmento de embalagem, foi demais de 600% nesse mesmo ano. O segmento de vidro de embala-gem teve crescimento expressivo de US$ 13 milhões em 2005 paraUS$ 28 milhões em 2006. Entretanto, o segmento de vidro para usodoméstico foi o que apresentou maior saldo na balança comercial,cujo superávit na média ficou em torno de US$ 30 milhões. Osprincipais produtos exportados foram embalagens, garrafas, frascosetc. Os produtos mais importados pelo Brasil foram garrafas, frascose outros recipientes de vidro para beber.

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Gráfico 9

Balança Comercial de Vidro Plano – 2000-2006

Fonte: Secex/MDIC.

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Tradicionalmente empenhado no apoio ao setor vidreiro,o BNDES financiou a implantação dos dois últimos investimentosem linha float do país e também a modernização de plantas nessaindústria. Os recursos destinados ao setor de 1997 até abril de 2007totalizaram R$ 555 milhões e cresceram significativamente a partirde 2003. Os projetos financiados se concentraram em poucasempresas – Nadir Figueiredo, Guardian e Cebrace –, o que reflete aestrutura do setor, também concentrada. O Gráfico 11 mostra osdesembolsos desse período.

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil

Apoio doBNDES ao

Setor

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Gráfico 10

Balança Comercial de Vidro Oco – 2000-2006

Fonte: Secex/MDIC.

Gráfico 11

Desembolsos do Sistema BNDES para o Setor de Vidro de1997 a Abril de 2007

Fonte: BNDES.

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A maior parcela dos desembolsos registrada em 2006 serefere a financiamentos através da Linha BNDES-Exim, que se cons-tituiu nos maiores montantes aportados pelo Banco para o setornaquele ano. Tal fato mostra que parte das empresas do setor estábuscando intensamente as exportações, nos últimos anos.

Muito embora sejam boas as perspectivas de investimen-tos no setor para o biênio 2008-2009, o apoio do BNDES a essesnovos empreendimentos não deve ser grande, por causa de res-trições legais de apoio decorrentes do fato de as principais empre-sas serem multinacionais, o que impossibilita financiamento comcusto financeiro em moeda nacional (TJLP).

O artigo procurou apresentar um panorama da indústriado vidro, especialmente no Brasil, com foco principal na fabricaçãoe na comercialização de vidro plano e de vidro oco. O estudomostrou que o setor de vidro caracteriza-se por sua elevada concen-tração, com a participação de poucos fabricantes (em sua maioria,grupos multinacionais) que atuam em segmentos nos quais possammanter seus core business.

Observou-se, ainda, que a indústria brasileira do vidroaproxima-se de um período importante, e talvez decisivo, para suaevolução futura. Se, por um lado, a indústria deverá enfrentar dificul-dades de ordem produtiva (como a escassez de insumos energéti-cos, por exemplo), por outro a provável continuidade da recupera-ção da economia traduz-se em boas perspectivas de crescimentopara o setor.

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Conclusões

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Gráfico 12

Desembolsos do Sistema BNDES por Linha deFinanciamento – 2006

Fonte: BNDES.

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Após a reconversão verificada há alguns anos, a produ-ção de vidro no Brasil tornou-se quase totalmente dependente do gásnatural como fonte de energia. As prováveis restrições à oferta de gás– resultantes não só dos problemas com as importações da Bolívia,como também da insuficiência da produção doméstica – poderãoprejudicar consideravelmente a operação do setor. As alternativaspossíveis, como a importação de gás natural liquefeito ou o retorno àutilização do óleo combustível, serão implementadas com maiorfacilidade se houver participação ativa de órgãos governamentais.

A outra dificuldade – de intensidade bem menor – dizrespeito à barrilha, cujo suprimento, desde a paralisação da Compa-nhia Nacional de Álcalis, depende inteiramente das importações. Oscontratempos decorrentes dessa situação seriam solucionados coma retomada da produção interna, que não enfrentaria grandes obs-táculos, já que representantes do setor vidreiro sinalizam ter grandeinteresse em comprar de um fornecedor local, desde que seuspreços estejam conforme os patamares internacionais.

No que se refere às oportunidades de crescimento para osetor, a mais relevante, sem dúvida, é a constituída pela construçãocivil residencial. Trata-se, de fato, de atividade com grande demandareprimida no Brasil e que deverá crescer de forma muito acentuadanos próximos anos, impulsionada pelo aumento na disponibilidadedo crédito imobiliário. É importante salientar que o emprego do vidroplano em construção é não apenas elevado como crescente, damesma forma que o uso desse material em mobiliário e na decora-ção de interiores.

Outra tendência que deverá intensificar-se a médio e longoprazos, embora seja atualmente ainda incipiente, é a de substituiçãode embalagens de plástico e de outros materiais por vidro. Isso deveocorrer à medida que a legislação estimule o uso de recipientesmenos nocivos ao meio ambiente, por serem retornáveis e cons-tituídos por material totalmente reciclável, como é o caso do vidro.

Pode-se concluir, portanto, que as perspectivas da indús-tria de vidro no Brasil são bastante favoráveis, a despeito dosproblemas que foram mencionados. Mais especificamente, no quetange à evolução do mercado de vidro, caberia destacar as boasperspectivas para o segmento de vidro plano e, mais moderadamen-te, do vidro para embalagem e do vidro para uso doméstico. Paraque as oportunidades sejam plenamente aproveitadas, no entanto,talvez seja necessário um posicionamento mais agressivo das em-presas, em particular no que tange à divulgação das vantagens e dapromoção do uso de seus produtos. Ou seja, a tradicional visãoprodutiva desse setor carece de ser complementada por uma vi-são comercial mais agressiva, com o objetivo de ganhar maior com-petitividade empresarial.

Considerações sobre a Indústria do Vidro no Brasil136

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Sites Consultados

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ReferênciasBibliográficas

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