considerações a respeito do parecer ayahuasca, da...

Download Considerações a respeito do Parecer Ayahuasca, da ...neip.info/novo/wp-content/uploads/2015/04/consideracoes-demec... · um deus que vive dentro destas ... yage e ayahuasca eram

If you can't read please download the document

Upload: duongcong

Post on 07-Feb-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 1

    Consideraes a respeito do Parecer Ayahuasca, da Associao Brasileira de Psiquiatria / Associao Brasileira de Estudos em lcool e Drogas (ABP/ABEAD)1 Dr. Otvio Castello de Campos Pereira2 Dr. Glacus de Souza Brito3 DEPARTAMENTO MDICO-CIENTFICO DA UDV AGOSTO DE 2002

    INTRODUO:

    O presente documento tem objetivo de prestar esclarecimento s autoridades do pas e a sociedade em geral em relao a alguns aspectos mdico-cientficos do ch Hoasca (ayahuasca). Foi motivado aps terem sido verificadas incorrees significativas relativas ao tema constantes no Parecer Ayahuasca produzido pela ABP/ABEAD.

    As consideraes a respeito da publicao foram identificadas por referncias numeradas entre parntesis em negrito com fonte de maior tamanho, e destacadas em estilo itlico e sublinhado no corpo do parecer. A anlise de cada referncia est apresentada no final do documento.

    A seguir o parecer original e, em seguida, os trechos com referncias e nossas consideraes a partir da pgina 19 deste documento.

    AYAHUASCA Contexto Este parecer tcnico-cientfico foi solicitado em novembro de 2001, durante uma reunio do Departamento de Dependncia Qumica da Associao Brasileira de Psiquiatria no XIX Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em funo de um pedido da Secretaria Nacional Antidrogas. Nesta oportunidade organizou-se um debate sobre o uso da Ayahuasca e a necessidade de se reavaliar o consumo, o controle e as freqentes denncias de uso descontextualizado da bebida. Formou-se um grupo de interessados em revisar a literatura cientfica, sendo que dois profissionais iniciaram estes trabalhos, Dra. Ana Ceclia Marques e Dr. Hamer Nastasy Palhares Alves e retificado pelo restante seguintes profissionais: Introduo

    A Ayahuasca conhecida em diferentes culturas pelos seguintes nomes: yaj, caapi, natema, pind, kahi, mihi, dpa, bejuco de oro, vine of gold, vine of the spirits, vine of the soul e a transliterao para a lngua portuguesa 1 NOTA: Este texto foi escrito em 2002, mas no foi divulgado. Em 2012, a convite de Beatriz Caiuby Labate,

    os autores o encaminharam para a presente publicao 2 Mdico-Geriatra. Coordenador da Comisso Clnica do Departamento Mdico-Cientfico do C.E.B.U.D.V.. 3 Mdico Sanitarista da Secretaria de Sade do Estado de So Paulo. Consultor da Organizao Mundial de

    Sade. Diretor do Departamento Mdico-Cientfico do C.E.B.U.D.V. Membro da American Family Physician.

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 2

    resultou em hoasca. Tambm conhecida amplamente no Brasil como ch do Santo Daime ou vegetal. Na linguagem Quechua, aya significa esprito ou ancestral, e huasca significa vinho ou ch (Luna & Amaringo, 1991; Grob et al., 1996). Este nome, tanto se aplica bebida preparada por meio da mistura da

    Banisteriopsis caapi e da (1)Psichotria viridis, quanto primeira das plantas. Apesar das variaes acerca das plantas usadas, farmacologicamente, boa parte delas so similares. Nesta reviso, o termo ayahuasca ser usado para designar a bebida resultante da decoco destas duas plantas combinao.

    As diversas preparaes geralmente contm talos socados da

    Banisteriopsis caapi ou espcies correlatas mais as folhas da Psichotria viridis. As plantas adicionadas Ayahuasca ajudam a maximizar as experincias de estimulao visual e as sensaes de contato com foras e locais sobrenaturais e divinos. Os mtodos de preparo variam conforme o grupo, como um ch quente ou amassando-se junto gua fria, deixando-se em descanso por aproximadamente 24 horas. um processo longo que leva quase um dia para o preparo, o que torna a tecnologia de produo insuficiente para a produo de grandes quantidades (Karniol & Seibel, Parecer do Grupo de Trabalho, 1986). Histria

    As origens do uso da Ayahuasca na bacia Amaznica remontam Pr-histria. No possvel afirmar quando tal prtica teve origem, no entanto, h evidncias arqueolgicas atravs de potes, desenhos que levam a crer que o uso de plantas alucingenas ocorra desde 2.000 a.C.

    No sculo XVI, h relatos de que os espanhis e portugueses, detentores das florestas do Novo Mundo, observaram a utilizao de bebidas na cultura indgena e recriminaram-na: quando bbados, perdem o sentido, porque a bebida muito poderosa, por meio dela comunicam-se com o demnio, porque eles ficam sem julgamento, e apresentam vrias alucinaes que eles atribuem a um deus que vive dentro destas plantas (Guerra, 1971).

    O uso destas plantas foi condenado pela Santa Inquisio em 1616, o cerimonial persistiu de forma escondida dos dominadores Europeus. Os padres jesutas descreveram o uso de poes diablicas pelos nativos do Peru no sculo XVII.

    A histria moderna da Ayahuasca comea em 1851 quando o botnico ingls R. Spruce noticia o uso de bebidas que intoxicam entre os ndios Tukanoan, no Brasil. Estes convidaram-no a participar de uma cerimnia que inclua a infuso que eles chamavam caapi. Spruce apenas tomou uma pequena quantidade daquela "nauseous beverage", mas no se deu conta dos profundos efeitos que ela teve sobre seus amigos. Os Tukanoans mostraram a Spruce a planta da qual caapi derivava, e ele coletou espcies da planta e das flores. Spruce chamou-a de Banisteria caapi, e estudo posteriores levaram-no a concluir que caapi, yage e ayahuasca eram nomes indgenas para a mesma poo feita daquela videira.A Banisteria caapi de Spruce foi reclassificada como Banisteriopsis caapi pelo taxonomista Morton em 1931.

    Em 1858, Spruce encontrou a mesma planta sendo usada na tribo Guahibo, na margem superior do rio Orinoco, na Colmbia e Venezuela, e, no

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 3

    mesmo ano, entre os Zparos dos Andes Peruanos, que denominavam-na Ayahuasca.

    Simsons, em 1886 foi quem primeiro observou a mistura das plantas na confeco da Ayahuasca.

    Apesar da coleta e identificao da Ayahuasca datar de 1851, os alcalides j eram conhecidos desde a primeira metade do sculo XIX, o que se deve facilidade de extrao dos mesmos, bem como aos possveis usos clnicos: logo, a Harmalina foi isolada da Peganum harmala em 1840. Sete anos depois, a Harmina foi identificada. A telepatina harmina- foi identificada na yaj em 1905 (Zerda e Bayon).

    O comeo do sculo vinte foi marcado por mais confuso do que esclarecimentos acerca da Ayahuasca, muitos identificaram-na, equivocadamente, do ponto de vista da botnica. At que, em 1939, Chen & Chen descobriu que tanto a caapi, yag e ayahuasca eram a mesma bebida. Foram estes mesmos pesquisadores que confirmaram que a harmina, telepatina e banisterina eram a mesma substncia.

    Em 1957, Hochstein and Paradies encontraram, alm de Harmina, tambm Harmalina e Tetrahidroharmina.

    Em 68, identificou-se a N,N dimetiltriptamina (DMT) como outro alcalide deste ch. Este j havia sido sintetizado em 1931 porm s foi identificado como substncia natural em 1955, na planta Piptadenia peregrina (Anadenanthera peregrina).

    Os princpios da ao farmacolgica da Ayahuasca foram traados na dcada de 60 e sugeriam a interao das beta-carbolinas presentes na Banisteriopsis e do DMT proveniente da P. viridis. O estudo de Rivier & Lindgren identificou os alcalides presentes na decoco em 1972, isto : Harmina, Harmalina, Tetrahidroharmina e Dimetiltriptamina. Antropologia e uso da Ayahuasca

    Plantas com propriedades alucingenas vem sendo utilizadas com finalidades msticas e religiosas em diferentes culturas primitivas (Andritzky, 1989; Callaway, 1996; Desmerchelier, 1996; Luna, 1984). H relatos do uso das poes em toda a Amaznia, chegando costa do Pacfico no Peru, Colmbia e Equador, bem como na costa do Panam, sendo que foi reconhecida em pelo menos 72 tribos indgenas, com pelo menos 40 diferentes nomes.

    Entre as diversas tribos da bacia Amaznica, a Ayahuasca percebida como uma poo mgica inebriante, de origem divina, que facilita o desprendimento da alma de seu confinamento corpreo, voltando ao mesmo conforme a vontade e carregada de conhecimentos sagrados. Entre os nativos usada para propsitos de cura, religio e para fornecer vises que so importantes no planejamento de caadas, preveno contra espritos malvolos, bem como contra ataques de feras da floresta.

    Antes da colonizao europia, postula-se que as plantas inebriantes eram amplamente usadas com fins de bruxaria, rituais religiosos, cura e contato com foras sobrenaturais (Dobkin de Rios, 1972; Harner, 1973)

    Entre os Tukanoans, o yaj responsvel pela arquitetura da tribo, pois as imagens geomtricas induzidas pelo efeito do ch desempenham um

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 4

    importante papel na estrutura da vida cultural desta tribo, sendo que as experincias relacionadas Ayahuasca pertencem a uma realidade mais nobre que a ordinria (Spruce, 1908).

    Para os Cashinahua o uso da ayahuasca s deve ser feito em condies extremas pois considerada uma experincia desagradvel e amedrontadora. Os ndios Jivaro do Equador, relatam que a experincia com Ayahuasca a vida real, ao passo que a realidade cotidiana apenas uma iluso. As vises so guiadas e manipuladas pelos xams, o que resulta em vises grupais sintnicas, que so includas dentro dos rituais religiosos prprios destas culturas.

    O uso da Ayahuasca sobreviveu aos ataques das culturas dominadoras e pouco a pouco espalhou-se para os mestios chegando enfim s pequenas cidades da regio Amaznica. Nestas cidades o uso da bebida foi redimensionado, sendo que os xams da Amaznia Peruana referem-se a si mesmos como vegetalistas. Estes plant-doctors ajudam as pessoas das reas rurais e as populaes pobres da reas suburbanas que geralmente no tm outras opes em situaes crticas na esfera da sade fsica, mental e em problemas sobrenaturais (Luna, L. E., 1984).

    Tais vegetalistas apresentam a tendncia a especializarem-se em algumas poucas plantas e usam estes ensinamentos em sua prtica. Assim, h tabaqueiros que usam tabaco, toeros que usam vrias espcies de Brugmansia species; catahueros que usam resinas da catahua (Hura crepitans), perfumeros que usam diversas espcies de plantas com aromas fortes e por fim os ayahuasqueros que se utilizam da ayahuasca em seus rituais.

    Os Xams usam a bebida em um contexto de cura. Eles tomam a Ayahuasca para melhor diagnosticar a natureza da doena do paciente. Vegetalistas podem receber o dom da cura por meio de espritos da floresta e seu papel o de, muitas vezes, intermediar a transmisso do conhecimento mdico para o mundo dos humanos, possibilitando assim a cura.

    Os espritos plant teachers so responsveis por ensinarem aos xams algumas msicas sobrenaturais chamadas icaros, tanto dentro das sesses de ayahuasca quanto durante os sonhos que se seguem. Os plant teachers do estas canes mgicas aos xams ou vegetalistas ento estes podem cant-las ou sussurr-las durante a sesso de cura. Segundo a explicao dos xams, quando uma pessoa se torna doente, seu padro energtico torna-se distorcido. Sob a influncia da Ayahusca, o xam pode ver a distoro e corrig-la atravs de massagens, suco, plantas medicinais, hidroterapia e restaurao da alma do doente.

    A similaridade entre estes mtodos xams e as tcnicas orientais podem ser notadas. De forma interessante, os xams escolhem plantas medicinais baseados em caractersticas visuais, como formas e cores. Por exemplo, uma planta que produz flores de formas semelhantes a uma orelha podem e devem ser usadas para tratamento de doenas relacionadas orelha e audio. Parte do treinamento dos xams, logo, envolve a prtica de reconhecer e aprender a respeito dos poderes das plantas e dos animais e suas virtudes escondidas.

    digno de nota o fato de que muitos xams no usam os ensinamentos da Ayahuasca com pessoas que estejam doentes mentalmente.

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 5

    Outra tentativa de uso curativo da Ayahuasca foi empreendido na provncia de San Martin, no Peru, na dcada de 80, por um grupo misto de mdicos franceses e peruanos, na tentativa de facilitar o tratamento da dependncia qumica pasta de cocana, sendo que no se conhece nenhum estudo cientfico controlado, que possa corroborar este resultado (Mabit, 1996).

    Ayahuasca e religio

    No sculo passado, alm do consumo da mistura entre as populaes indgenas, vrias igrejas adotaram o uso da ayashuasca em rituais sincrticos, especialmente no Brasil, onde os efeitos psicoativos so acoplados a conceitos das doutrinas Judaica, Crist, Africana entre outras. As principais religies deste mdulo incluem a UDV (Unio do Vegetal), CEFLURIS (Santo Daime), Barquinha e o Alto Santo (Labilgalini Junior, 1998).

    O uso da hoasca dentro de tais contextos religiosos foi oficialmente reconhecido e protegido pela lei no Brasil em 1987. Tais seitas incluram a Ayahuasca em seus rituais de comunho como um simbolismo comparvel ao po e vinho. Estas igrejas argumentam que a poo ajuda a promover concentrao pronunciada e contato direto com o plano espiritual. Segundo a Unio do Vegetal, a beberagem o veculo, meio da ao religiosa e no o fim.

    Calcula-se que o nmero de pessoas que fazem uso regular da Hoasca (i.e., aproximadamente 1x/ms), na Amrica do Sul, excluindo-se as populaes indgenas, poderia chegar a 15.000, isto em 1997 (Luna, L. E., 1997).

    A primeira destas igrejas comeou a ser formada na dcada de 1920 no Brasil, e hoje dois grupos, a Unio do Vegetal (UDV or 'Herbal Union') e o Santo Daime, continuam em amplo processo de crescimento. Estas igrejas neo-crists espalham-se pelas reas urbanas das grandes cidades, em rituais que se repetem em geral uma vez por semana ou quinzena. Os membros da igreja cultivam as plantas necessrias ao feitio do ch, supervisionam seu preparo e estocagem. Em algumas religies no incomum que membros da seita, dado a longa durao dos cultos, tomem vrias doses durante o curso de uma noite.

    A UDV a maior e mais organizada destas religies e no permite o uso de Ayahuasca por pessoas que no sejam membros j efetivos da seita. tambm contrria a uso de drogas bem como ao uso da Ayahuasca fora do contexto religioso, pois a considera inadequada ao uso indiscriminado por parte de pessoas no-iniciadas e sem a orientao de um dirigente religioso.

    Enquanto o uso regular da Ayahuasca ocorre raramente entre os indgenas- mesmo que a considervel porcentagem destes tenham-na experimentado em alguma fase de suas vidas- entre os membros das igrejas o consumo estvel numa base semanal ou quinzenal, dentro dos contextos cerimoniais.

    Dentro da perspectiva religiosa, o potencial de expanso das seitas que usam ayahuasca largo. Atravs da incorporao de uma substncia psicoativa de tal peso em cerimnias religiosas podem ser alcanados efeitos nas prticas religiosas antes inexeqveis. Ayauhuasca e a expanso do consumo

    crescente o uso da Ayahuasca, inclusive nas Amricas e Europa (Callaway & Grob, 1998) o que se deve a vrios fatores: o volume de publicaes

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 6

    literrias de impacto bem como a mdia do depoimento de pessoas famosas (Cazenave, 2000); os Works da seita Santo Daime em diferentes pases; a facilidade de aquisio de pacotes de turismo, o que por muitos conhecido por drug tourism onde os usurios, em busca de experincias novas, aventuram-se por expedies floresta adentro onde so realizados rituais em que convidado a beber a Ayahuasca, geralmente no inclusa no preo inicial. Tais pacotes podem girar por volta de U$1100 a 1300, o que no to caro se comparado a uma sesso de Ayahuasca que pode sair por U$800 no underground norte americano, conforme aferidos na internet. Alguns destes sites dizem que o pacote no inclui o uso da beberagem e que no se trata de Ayahuasca tourism, no entanto, recomendam, paradoxalmente, que as pessoas se abstenham de alimentos que possam levar a interaes medicamentosas com os IMAO.

    O crescente nmero de indivduos que vem experimentando a Ayahuasca de maneira descontextualizada, visitas a seitas com o nico intuito de conhecer a bebida, e a atual possibilidade de se usar a Pharmahuasca: combinao sinttica dos ingredientes psicoativos da Ayahuasca (Ott, J. 1994; Ott, J. 1999). Outra forma crescente de se usar a combinao de ingredientes ativos da Ayahuasca por meio da Anahuasca, (Ayahuasca borealis), ou seja, combinao de plantas que produzem resultados semelhantes: esta possibilidade leva a incontveis combinaes de plantas que poderiam produzir, em diferentes graus, o Efeito Ayahuasca (Ott, J; 1999). Aspectos Legais

    Em 1984, o governo brasileiro acrescentou a Ayahuasca sua lista de substncias controladas (lista da DIMED Diviso Nacional de Vigilncia Sanitria). A UDV prontamente solicitou a reviso deste parecer solicitando ao CONFEN (Conselho Federal de Entorpecentes do Ministrio da Justia) e criou-se uma comisso multidisciplinar para investigar o assunto. Tal comisso no encontrou evidncias de problemas sociais relativos ao uso da ayahuasca em contextos religiosos (sendo que os membros da comisso, eles mesmos, experimentaram a Ayahuasca) e, em conseqncia a Ayahuasca foi retirada da lista em 1.986 (UNIO DO VEGETAL , HOASCA: FUNDAMENTOS E OBJETIVOS). Observe-se que este parecer sedimentou-se basicamente em observao emprica da populao que usava a Ayahuasca.

    Novos problemas surgiram quando denncias annimas sugeriram que tais rituais estavam infestados de ex-guerrilheiros, usurios de Cannabis sativa e LSD, mesmo durante os rituais. Em abril de 1989 a Unio do Vegetal sugeriu Comisso de Sade da Cmara dos Deputados, a instalao de um novo grupo de estudos.

    Esta deciso legal abriu as portas para discusses mais amplas e permitiu a expanso das seitas tanto no Brasil como em outras regies do mundo.

    Segue-se o parecer do Grupo de trabalho, submetido plenria em 31 de janeiro de 1986, que foi aprovado por unanimidade:

    O Grupo de Trabalho institudo pela resoluo Nmero 04/85 para examinar questo relacionada com a produo e consumo de substncias derivadas de espcies vegetais;

    CONSIDERANDO o exame e o respectivo relatrio, elaborados pelos Drs. ISAC GERMANO KARNIOL e SRGIO DARIO SEIBEL, relativamente s plantas

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 7

    conhecidas, popularmente, por Mariri e Chacrona, cujos nomes cientficos so Banisteriopsis Caapi e Psicotria Viridis;

    CONSIDERANDO que o supracitado exame foi realizado em Rio Branco, Capital do Estado do Acre, junto a comunidades religiosas, que fazem o uso ritual do produto da decoco do Mariri e Chacrona, produto esse que corresponde ao ch, comumente chamado de Daime;

    CONSIDERANDO que o referido uso ritual do Daime h muitas dcadas vem sendo feito, sem que tenha redundado em qualquer prejuzo social conhecido;

    CONSIDERANDO que, segundo o relatrio antes referido, padres morais e ticos de comportamento em tudo semelhantes aos existente e recomendados na nossa sociedade, por vezes at de modo bastante rgido, so observados nas diversas seitas;

    CONSIDERANDO que a Resoluo Nmero 04/85, atenta aos mltiplos aspectos envolvidos no uso ritual de substncias derivadas de espcies vegetais, por comunidades religiosas ou indgenas, tais como os sociolgicos, antropolgicos, qumicos, mdicos e da sade, em geral, determina o exame de TODOS esses aspectos, que devem ser, assim, levados em conta em decises sobre questes relativas ao uso daquelas espcies vegetais;

    CONSIDERANDO, entretanto, que pela Portaria 02/85 da DIMED, o Banisteriopsis Caapi foi includo entre as drogas constantes da lista de produtos proscrfitos, sem a observncia, porm, do que dispe o 1, do artigo 3, do Decreto Nmero 85110, de 02/09/1980, posto que, sem prvia audincia do CONFEN, a quem cabe a orientao normativa e compete a superviso tcnica das atividades disciplinadas pelo Sistema nacional de Preveno, Fiscalizao e Represso de Entorpecentes;

    CONSIDERANDO, finalmente, a necessidade de implementar diversos outros estudos referidos na Resoluo 04/85, alm daqueles procedidos pelos Drs. ISAC GERMANO KARNIOL e SRGIO DARIO SEIBEL, o Grupo de Trabalho sugere ao Egrgio Plenrio do Conselho Federal de Entorpecentes seja chamado ordem o processo de incluso do Banisteriopsis Caapi, na supracitada lista da DIMED, para ser, provisoriamente, suspensa aquela incluso, at que sejam completados os estudos de todos os aspectos referidos na Resoluo 04/85 mantido, at l, rigorosamente, o estado anterior (status quo ante) indigitada Portaria 02/85 DIMED, oficiadas as seitas usurias do Daime ou outro nome que tenha a beberagem resultante da decoco das espcies supracitadas, sendo certo que o CONFEN poder, a todo tempo, reformar a deciso de suspenso provisria, ora sugerida, caso sejam apurados fatos supervenientes que indiquem, por qualquer forma, o mau uso do ch, inclusive traduzido no aumento de usurios.

    o parecer S.M.J.

    (2) (Notar que a planta que deveria ser citada era a Psichotria Viridis, uma vez que dela que se extrai o DMT)

    Tal aprovao resultou na Resoluo Nmero 6, de 04 de Fevereiro

    de 1986, publicada no DOU, de 05 do mesmo ms, pela qual ficou suspensa, provisoriamente, a incluso do Banisteriopsis Caapi, na Portaria Nmero 02/85, da DIMED, at que o Grupo de Trabalho conclusse seus estudos, para o que foi fixado o prazo de seis meses.

    O Parecer Final do Grupo de Trabalho, Relatrio final das atividades desenvolvidas pelo Grupo de Trabalho designado pela Resoluo CONFEN Nmero 04, de 30 de julho de 1985, cuja composio foi alterada pela Resoluo/CONFEN Nmero 7, de 09 de julho de 1986, com a finalidade de examinar a questo da produo e consumo das substncias derivadas de espcies vegetais Recomendaes, levou em considerao observaes empricas realizadas pelo Grupo de Trabalho (as que seguem ajudaram ao Parecer favorvel do presente Grupo):

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 8

    4) Padres morais e ticos de comportamento, em tudo semelhantes aos existentes e recomendados na nossa sociedade, por vezes at de um modo bastante rgido, so observados nas diversas seitas. Obedincia lei parecer sempre ser ressaltada.

    5) O efeito observado provavelmente devido no somente ao ch, mas ao ambiente como um todo, s msicas e danas concomitante, etc.

    9) Findas a cerimnias, todos de uma maneira aparentemente normal e ordeira voltam aos seus lares. Os seguidores das seitas parecem ser pessoas tranqilas e felizes. Muitas atribuem reorganizaes familiares, retorno de interesse no trabalho, encontro consigo prprio e com Deus, etc., atravs da religio e do ch.

    12) Entre as seitas s uma parece ter usado outra droga que no o ch (cannabis) dentro da procura religiosa. Por acordo de cavalheiros na poca com autoridades militares e policiais, que aparentemente est sendo seguido, esta prtica foi abandonada.

    13)Antigamente o cip e a chacrona s eram encontrados na mata virgem. Algumas seitas tm procurado cultivar estas plantas com relativo sucesso. Ressalta-se no entanto que a preparao do ch bastante difcil e prolongada, envolvendo toda uma tecnologia que provm de datas imemoriais realizada dentro de um determinado ritual. Da forma como preparado, nos parece difcil que uma quantidade muito maior que a necessria nos cultos seja factvel de preparo. Ou seja, parece difcil a preparao do ch em quantidades a serem utilizadas como abuso de uma forma no ritual dentro da sociedade geral.

    Outro ponto que recebeu destaque no Parecer: A beberagem feita, como j foi dito, com espcies nativas. Esta

    observao, no caso, parece importante, posto que as formas sintticas ou concentradas mereceriam, certamente, outro tratamento. Alm disso, as reaes comuns de vmitos e de diarria (estas ltimas, menos freqentes), levam a supor que a ayahuasca no se presta para o uso fcil, indiscriminado e recreativo pelo pblico em geral, fato que, por sinal possvel verificar, posto que, no obstante noticiada, nos maiores jornais do Pas, a ayahuasca no mereceu, at o presente, as preferncias do hedonismo consumidor.

    E finalmente: ISTO POSTO, tendo em vista a competncia legal do Conselho Federal de

    Entorpecentes, a quem cabe, legalmente, exercer a orientao normativa, coordenao geral, superviso, controle e fiscalizo relativamente ao uso d drogas, tendo em vista que as decises do CONFEN devero ser cumpridas pelos rgos de administrao federal, integrantes do Sistema Nacional de Preveno, Fiscalizao e Represso de Entorpecentes, tendo em vista, destarte, que pode o CONFEN, a qualquer momento, determina medidas para o controle ou, at, a proscrio de qualquer substncia cujas circunstncias peculiares assim o aconselhem tendo em vista, entretanto, que no ocorrem, at o presente momento, circunstncias que indiquem, relativamente ao uso que vem sendo feito da ayahuasca, a necessidade de qualquer alterao das atuais listas da DIMED, a proposta soberana deciso do plenrio do Conselho Federal de Entorpecentes no sentido de que seja mantida a presente orientao adotda pela DIMED em suas ltimas portarias, elaboradas com a colaborao do prprio CONFEN, de excluir das supracitadas listas as espcies vegetais que integram a elaborao da ayahuasca, conhecida, mais comumente, no Brasil, como Daime ou Vegetal, entre outros nomes antes citados.

    DOMINGOS BERNARDO GIALLUISI DA SILVA S Presidente do Grupo de Trabalho

    Ayahuasca: efeitos fsicos e psquicos A explicao dos efeitos dessas plantas sobre a mente humana

    ainda atribuda, entre os usurios, ao transporte a regies etreas, autoconhecimento; aos contatos com o mundo espiritual, divindades e outras foras (Desmarchelier, et al, 1996; Luna, 1984). Nos rituais indgenas, os

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 9

    usurios relatam que a bebida libera a alma de seu confinamento corporal (Shultes & Hofmann, 1982). Segundo a UDV, o efeito do ch pode ser comparado ao xtase religioso.

    (3)Verifica-se por meio da avaliao dos diversos depoimentos, que os efeitos txicos da beberagem so subestimados e relacionados ao processo de evoluo espiritual (Cazenave, 2000).

    (4)Os principais efeitos fsicos relacionados ao uso da Ayahuasca so nuseas, vmitos e diarria. Tambm incluem: aumentos leves da presso arterial, dos batimentos cardacos e incoordenao motora. Aps o uso de grandes doses h relato de que os usurios tornam-se frenticos e agitados por dez a quinze minutos aproximadamente. No entanto, mais comum manifestarem prostrao e sonolncia. H referncia ainda audio de zumbidos, formigamento de extremidades, sudorese e tremores (Schultes, 1980).

    Os efeitos psquicos mais freqentemente relatados so: - alteraes no processo de pensamento, concentrao, ateno,

    memria e julgamento; - alterao na percepo da passagem do tempo; - medo de perda do controle e do contato com a realidade; - alteraes na expresso emocional variando do xtase ao

    desespero; - mudanas na percepo corporal; - alteraes perceptuais atingindo vrios sentidos, onde

    alucinaes e sinestesias so comuns; - mudanas no significado de experincias anteriores -

    insights; - sensao de inefabilidade; - sentimentos de rejuvenescimento; - hiper sugestionabilidade; - sensao da alma se desprendendo do corpo; - sensao de contato com locais e seres sobrenaturais.

    Como descrito para muitas outras substncias psicoativas, e em especial

    para os alucingenos, a experincia de usar Ayahuasca influenciada pelas expectativas do indivduo, setting, experincias prvias.

    Ayahuasca e a farmacologia

    Como j foi descrito, a ayahuasca um ch, utilizado na Amrica do Sul em rituais religiosos, cujo preparo envolve o cozimento de duas plantas: a Bansteriopis caapi que contm potentes inibidores da MAO, as beta-carbolinas (harmalina, harmina e tetrahidroharmina, THH) e a Psychotria viridiis, que contm grandes quantidades de um nico agente psicodislptico, o N,N dimetil triptamina (DMT) (Ott, 1994). A harmalina e a harmina so inibidores na MAO-A e o THH inibe a recaptao da serotonina, desencadeando um aumento da sua atividade central e perifrica, facilitando a psicoatividade da DMT (McKenna et al., 1984;

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 10

    Heffter 1898, 1898; Holmstedt & Lindgren, 1967; McKenna, 1992; Callaway, 1994 a, b; Callaway et al., 1996; Callaway et al., 1999).

    Quando tomados isoladamente os alcalides podem levar a vrios graus de intoxicao alucingena, porm sem efeitos visuais to marcantes. Tambm se deve a eles, o efeito nauseante e emtico, alm do gosto amargo.

    Inicialmente, acreditava-se que estes alcalides, particularmente a harmina e harmalina, fossem os componentes primrios responsveis pelos efeitos psicoativos da bebida, pois funcionam como inibidores especficos e reversveis da Monoamino Oxidase A (MAO-A) (Udenfried et al., 1958; Buckholtz & Boggan, 1977; Airaksinen et al., 1987; Rommelspacher & Brning, 1984; Neuvonen et al., 1993; Callaway, 1993; 1994a; Callaway & Groob, 1998; Callaway & McKenna, 1998).

    Observou-se a seguir, que a THH contribui como um fraco inibidor da recaptao da serotonina nos stios pr-sinpticos, como outras substncias da famlia das -carbolinas, responsvel tambm por estes efeitos (Airaksinen, 1980; Fericgla, 1996)

    J a DMT um agente psicodlico potente, que liga-se aos receptores serotoninrgicos no SNC, alterando esta neurotransmisso (Holmstedt, 1995; Callaway & McKenna, 1998). A descoberta da existncia do DMT endgeno pde explicar estes efeitos (Callaway, 1988; 1995a).

    Em 1956, Szara e colaboradores foram os primeiros a testar os efeitos da DMT intramuscular, descrevendo uma psicose similar aquela causada pela mescalina ou pelo LSD-25: os efeitos psicoativos so produzidos rapidamente, com euforia, iluses visuais, pseudo-alucinaes e alucinaes reais com motivos orientais e msticos, com cores brilhantes e movimentos rpidos.

    Por volta de 1977, estabeleceu-se que a DMT free base fumada produzia um efeito mais potente e rpido que a via injetvel (Strassman et al., 1994; Callaway et al., 1998). As doses orais considerveis de DMT eram ineficazes, pois a MAO encontrada no sistema digestivo degrada a substncia, ao passo que a MAO encontrada no SNC responsvel por parte do clearance sinptico de vrios neurotransmissores.

    Os alcalides da Banisteriopsis caapi so conhecidos por serem substncias aptas a inibir a MAO, permitindo assim, que o DMT passe pelo trato digestivo e chegue ao Sistema Nervoso Central. A nvel molecular, o DMT tem afinidade pelos stios serotonrgicos do tipo 5-HT1A e 5-HT-2, como o LSD, pois tem estrutura semelhante a serotonina (5HT). Esta via reconhecida por sua ampla gama de aes estimulantes no processo de formao de imagens, sons, emoes e pensamentos: exploses emotivas transcendentais e imagens caleidoscpicas.

    Os efeitos comportamentais da DMT foram consistentes com estudos anteriores (Wilkinson and Dourish,1991). Os efeitos da Harmina quanto aos movimentos tnicos e clnicos foram significativamente potencializados pela co-administrao com DMT, que per se, exercia pouco efeito nestas mensuraes. O mesmo ocorreu para a mistura B. caapi e DMT. Tais achados sugerem efeito sinrgico da combinao nos parmetros comportamentais (Freedland & Mansbach, 1999).

    Pensava-se que a inibio da MAO, com o consequente aumento da funo serotonrgica a nvel central fosse responsvel pelos efeitos psicodlicos de

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 11

    drogas como o DMT e o LSD. No entanto, demonstrou-se que o uso prvio de Iproniazida, um IMAO, numa base regular 2 semanas antes da administrao de DMT reduz a DMT-psicose, bem como inibe significativamente a experincia alucingena em usurios de LSD. Portanto, a inibio perifrica da MAO pela B. caapi responsvel pela potencializao dos efeitos do DMT, que compete com a 5-HT pelos receptores serotonrgicos. como um agonista parcial. A presena de altas concentraes de serotonina na fenda sinptica poderia, em tese, impedir a ao do DMT.

    Ao mesmo tempo que confere atividade oral para o DMT, a inibio da MAO pode tambm contribuir para os efeitos de outros alcalides psicoativos que podem estar presentes nas diferentes variaes da bebida, tais como nicotina derivada das Nicotiana sp, cocana da Erythroxylum coca, cafena da Ilex guayusa, atropina, escopolamina e outros alcalides da famlia das Solanaceae. Ott (1999) tambm observou estes efeitos. Ayahuasca e as contraindicaes

    Dado o perfil de efeitos inbitrios sobre a ao da MAO A, contraindicado o uso da bebida, concomitantemente ao uso de antidepressivos, especialmente os IMAO e ISRS. Dentro do contexto religiosos este efeito controlado pelos xams com a prescrio de dieta prvia ao uso da Ayahuasca, talvez em funo de um conhecimentos emprico sobre os alimentos ricos em tiramina. Caso contrrio, (5) o indivduo pode apresentar uma sndrome serotoninrgica, um quadro grave, que pode ser letal (Callaway, 1993; 1994 a; Callaway & Groob, 1998).

    Por outro lado, h relatos de pacientes que faziam uso regular de Ayahuasca e que usaram antidepressivos com boa tolerabilidade, o que pode ser talvez compreendido pelo aumento dos receptores serotonrgicos devido ao uso crnico da bebida (Callaway et al., 1994). Auahuasca: estudos mais recentes

    (6)O Hoasca Project foi iniciado em 1992 no Brasil, com o objetivo de melhor estudar e identificar os efeitos neurobiolgicos a longo prazo da bebida na cognio, por meio da observao do funcionamento social e da capacidade de insight (McKenna, 1992).

    Os efeitos psicoativos descritos pelos 15 voluntrios foram o aparecimento de imagens visuais intrincadas e coloridas, processo de pensamento acelerado e estado geral de alerta aumentado. A cognio, a percepo e o afeto estavam alterados, apresentando um rebaixamento de conscincia. Houve uma diferena qualitativa na descrio dos efeitos pelos voluntrios, sendo que os efeitos do DMT foram mais rpidos e de menor durao. Todos foram unnimes no relato destes efeitos.

    (7)As medidas dos efeitos neuroendcrinos se elevaram em relao ao basal (hormnio de crescimento, prolactina, cortisol). Estes efeitos so indicadores indiretos de aumento de atividade serotoninrgica. O dimetro pupilar, a freqncia respiratria e cardaca, a presso arterial, (FR), tambm subiram

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 12

    significativamente. Os efeitos laxativos so reconhecidos como tnicos e no como txicos pelos usurios da Ayahuasca: vrios graus de nuseas, vmitos e diarria simultneos so comuns. Tambm foram observados tremor fino transitrio e nistagmo. Os achados mostraram um nvel persistentemente elevado de receptores serotonrgicos no sangue perifrico destes voluntrios, o que leva a crer que a mesma mudana possa ocorrer no SNC. O que pode levar a mudanas que, at o momento, no foram bem estabelecidas.

    (8)Um aumento na recaptao de 5HT, foi observada no grupo experimental, quando comparado ao controle, consequentemente sugere-se que tenha havido uma diminuio da concentrao de 5HT extracelular na fenda sinptica, ou uma resposta de aumento da produo e liberao da 5HT(Callaway et al., 1994).

    A remisso de psicopatologias com o uso da Hoasca foi descrita em 15

    usurios, mas precisa ser melhor estudada (Groob et al., 1996). Pomilio e colaboradores (1999) estudaram a quantidade de DMT na urina

    de sujeitos antes e depois do uso da bebida por meio da cromatografia com espectometria (GC-MS). Os resultados confirmaram que aps o uso da bebida os componentes alucingenos detectados na urina foram os mesmos que aqueles detectados na urina de doentes em psicose aguda que no usaram o ch. Este efeitos precisam ser avaliados em outros estudos, pois existe uma teoria de transmetilao, isto , a diminuio ou inatividade da atividade de MAO, acumula as indolalquilaminas (bufotenina, DMT, 5metoxi, N,N, dimetil triptamina), produzindo os sintomas alucinatrios, aps beber ayahuasca, como na esquizofrenia.

    (9)Estudo recente foi realizado na Espanha, com a participao de 6 voluntrios j usurios de Ayahuasca, com o objetivo de avaliar os efeitos subjetivos e o desenvolvimento de tolerncia. Este estudo concluiu que a administrao da bebida induziu modificaes intensas nas sensaes subjetivas, que foi dose dependente. Os efeitos cardiovasculares alterados no apresentaram diferena estatisticamente significativa (Riba et al., 1998).

    A validade e confiabilidade do instrumento Hallucinogen Rating Scale (HRS) de Riba e colaboradores foi desenvolvida em espanhol em 1999 com o uso de ayahuasca.

    (10)Outro estudo recolheu dados eletroencefalogrficos de 12 voluntrios antes e depois de um ritual xamanstico em que a Ayahuasca foi servida em 3 diferente dosagens da bebida. Os voluntrios apresentaram efeitos significativos estatisticamente no que concerne ao aumento tanto das ondas alfa. Tais dados so semelhantes aos encontrados para outros psiodlicos como o LSD, mescalina, psilocibina) e apontam para um estado de conscincia alterado, onde as pessoas descrevem maior nvel de alerta. um estado semelhante, embora mais profundo, que o estado de meditao. O estado psicolgico atingido pela Ayahuasca pode ser compreendido se comparado com outros estados em que

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 13

    aumentam atividades de ondas lentas como hipnose, meditao. Green e colaboradores (19??) relacionaram o aumento de onda theta a estados de atividade do subconsciente, ao passo que a continuidade da presena concomitante de ondas alfa mostra que a experincia ocorre em nvel de alerta preservado.

    Ayahuasca e outros usos

    (20)A facilidade de aquisio de pacotes de turismo, o que por muitos conhecido por drug tourism:, onde os usurios, em busca de experincias novas, aventuram-se por expedies floresta adentro onde so realizados rituais em que convidado a beber a Ayahuasca, geralmente no inclusa no preo inicial uma das evidncias que o uso de Ayahuasca tem aumentado. Tais pacotes podem girar por volta de U$ 1100 a 1300 o que no to caro se comparado a uma sesso de Ayahuasca, que pode sair por U$ 800 no underground norte americano.

    A mdia, divulgando depoimentos de pessoas famosas, e Works da seita Santo Daime em diferentes pases, influenciam este aumento do consumo, provavelmente.

    Consideraes Finais O mecanismo de ao da Ayahuasca comea com a inibio da MAO pela

    harmina e, em menor grau, pela harmalina. Subseqentemente, ocorre a ao

    do DMT produzindo um efeito alucingeno, (11)alterando a percepo da realidade na maioria dos usurios.

    (12)Considerando a complexidade da ao destas substncias, o pequeno nmero de estudos metodologicamente adequados, com amostras no representativas, e sem seguimento longitudinal de usurios, tendo em vista algumas evidncias quanto ao desenvolvimento de tolerncia com o uso crnico e alteraes de conscincia com o uso agudo, pode-se concluir que no existe uso seguro destas substncias pscicoativas, e que elas podem interagir com outras substncias provocando intoxicaes graves.

    Existem evidncias que o consumo regular (tipicamente 2x/semana) leva a um

    aumento da densidade dos stios de ligao de [3H]citalopram nas plaquetas, o que sugere uma compensao neurofisiolgica para os aumentos peridicos

    nos nveis de serotonina. (13)Portanto, a tolerncia pode ser desenvolvida com o uso regular e crnico da bebida, provocando alteraes na concentrao dos neurotransmissores e receptores, especialmente na via da 5-HT, configurando-se em mais um risco de interao com substncias que

    tambm atuem nestas vias. (14)O exemplo desta evidncia a sndrome serotoninrgica.

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 14

    (15) Como j foi dito, no dispondo de estudos controlados e randomizados e amostras adequadas, no foi possvel concluir que a substncia possa ser dependgena at o presente momento.

    Outro ponto que merece ateno que o potencial de (16)efeitos adversos permanece at por 5 semanas aps a descontinuao do uso de um ISRS.

    (17)Uma investigao oficial das religies baseadas no uso da ayahuasca no Brasil foi realizada pela Dimed (Diviso de Medicamentos) e Confen (Conselho Federal de Entorpecentes), levando legislao que protege o uso da Ayahuasca no Brasil para propsitos religiosos em agosto de 1987, sendo que nenhuma recomendao foi feita para alertar dos riscos dos aspectos descritos acima. preciso redimensionar o documento, levando-se em considerao as evidncias dos estudos em desenvolvimento.

    (18) No existe uso seguro de substncias psicoativas e psicotrpicas e seu uso agudo e crnico pode levar a alteraes do SNC, e consequentemente da cognio. Assim, o uso deve ser mais restrito aos rituais religiosos, ficando seus participantes responsabilizados por problemas advindos deste consumo.

    (19)No h nenhum relato cientfico demonstrando a possibilidade do uso teraputico da Ayahuasca. Logo, tal conduta incide em m prtica mdica e deve ser evitada.

    (20)H relatos da expanso do uso descontextualizado da Ayahuasca, por meio do Ayahuasca tourism, que podem ser acessados pelos sites especficos da Internet. Sabe-se tambm, que o aumento da disponibilidade pode levar a um aumento do consumo e problemas relacionados.

    Referncias Airaksinen, M. M., Svensk, H., Tuomisto, J., Komulainen, H. (1980) Tetrahydro--carbolines and corresponding tryptamines: in vivo inhibition of serotonin and dopamine uptake by human blood platelets. Acta Pharmacologia et Toxicologia 46, 308-313. Airaksinen, M. M., Lecklin. A., Saano, V., Tuomisto, L., Gynther, J (1987) Tremorigenic binding by -carbolines. Pharmacology V Toxicology 60:5-8. Bonson, K. (1994) Psychedelics and psychiatric drugs: National Institute of Mental Health update. MAPS Bulletin V (1):9.

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 15

    Bonson, K. R.; Buckholts, J. W. & Murphy, D. L. (1996) Chronic administration of serotonergic antidepressants attenuantes the subjective effects of LSD in humans. Neuropsychopharmacology 14(6):425-436. Bszrmnyi, Z., Dr, P. & Nagy, T. (1959) Observations on the psychotogenic effect of N-N diethyltryptamine, a new tryptamine deivate. Journal of Mental Science 105:171-181. Buckholtz, N. S. & Boggan, W. O. (1977) Monoamine oxidase inhibition in brain and liver by -carbolines: Structure-activity relationships and substrate specificity. Biochemical Pharmacology 26:1991-96. Callaway, J. C. (1988) A proposed mechanism for the visions of dream sleep. Medical Hypotheses 26:119-124. ___1993. Tryptamines, -carbolines and you. MASPS Newsletter 4(2):30-32. ___1994 a. Another warning about harmala alkaloids and other MAO inhibitors. MAPS Newsletter 4(4):58. ___1994b. Some chemistry and pharmacology of ayahuasca. Jarbuch fr. Ethnomedizin und Bewutseinsforshung (Yearbook of Ethnomedicine and the Study of Consciousness) 3:295-298. ___1995 a. DMTs in the human brain. Jarbuch fr Ethnomedizin und Bewutseinsforshung (Yearbook for Ethnomedicine and the Study of Consciousness) 4:45-54. ___1995b. Pharmahuasca and contemporary ethnopharmacology. Curare 18(2):395-398. Callaway, J. C., Airaksinen, M.M., Mckenna, D. J., Brito, G. S., Grob, C. S., (1.994) Platelet serotonin uptake sites increased in drinkers of ayahuasca. Psychopharmacology 116, 385-387. Callaway, J. C., Airaksinen, M. M. & Gynther, J. (1995) Endogenous -carbolines and other indole alkaloids in mammals. Integration_ Journal of Mind Moving Plants and Culture 5:19-33. Callaway, J. C., Raymon, L. P., Hearn, W. L., McKenna, D. J., Grob, C. S. & Brito, G. S. (1996) Quantitation of N, N-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral dosing with Ayahuasca. Journal of Analytical Toxicology 20:492-497. Callaway, J. C., & Grob, C. S. (1998). Ayahuasca preparations and serotonin re-uptake inhibitors: A potential combination for severe adverse interaction. Journal of Psychoactive Drugs, in press. Callaway, J. C. & McKenna, D. J. (1998) Neurochemistry of psychedelic drugs. In Drug Abuse Handbook, chaper 6.6, ed. Karch, S. B. 485-498. Boca Raton: CRC Press. Callaway, J. C., Mckenna, D. J., Grob, C. S., Brito, G. S., Raymon, L. P., Poland, R. E., Andrade, E. N., & Andrade, E. O. (1998). Pharmacokinetics of hoasca alkaloids in healthy humans. Journal of Ethnopharmacology, in press. Callaway, D. J. Mckenna, C. S. Grob, G. S. Brito, L. P. Raymon, R. E. Poland, E. N. Andrade, E. O. Andrade, D. C. (1999) Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans. Journal of Ethnopharmacology 65 243-256. Effects of a Psychedelic, Tropical Tea, Ayahuasca, on the Electroencephalographic (EEG) Activity of the Human Brain During a Shamanistic Ritual By Erik Hoffmann ([email protected]), Jan M. Keppel Hesselink and Yatra-W.M. da Silveira Barbosa. Feriogla, J. M. (1997) Al Trasluz de la Ayahuasca: Coleccion Cogniciones, Estados Modificados de Consciencia. Barcelona: Los Libros de la Liebre de Marzo.

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 16

    Freedland, C.S.; & Mansbach, R.S. (1999) Behavioral profile of constituents in ayahuasca. Drug and Alcohol Dependence 54:183-194. Grob, C. S., McKenna, D. J., Callaway, J. C., Brito, G. S., Neves, E. S., Oberlander, G., Saide, O. L., Labigalini, E., Tacla, C., Miranda, C. T., Strassman, R. J., Boone, K. B., (1996) Human psychopharmacology of Hoasca, a plant hallucinogen used in ritual context in Brasil. Journal of Nervous and Mental Disorder 184 (2), 86-94. Heffter, A. (1896) ber Cacteenalkaloide. II Mittheilung. Beichte der Deutschen Chemischen Gesellschaft 29:216-227. ___(1898). ber pellote. Beitrge zur chemischen und pharmakologischen kenntnis der cacteen. Zweite Mittheilung. Archiv Fr Experimentalle pathologie und Pharmakologie 40:385-429. Hochstein, F. A., Paradies, A. M., (1.957) Alkaloids of Banisteria Caapi and Prestonia amazonicum [sic]. Journal of the Anerican Chemical Society 79, 5735-5736. Hofmann, A. (1978). History of the basic chemical investigations on the sacred mushroom in Mexico. In Teonencatl: Hallucinogenic Mushrooms of North America, Psycho-Mycological Studies No. 2, eds. Ott, J. and Bigwood, J. Seattle, WA: Madrona Publishers. Holmstedt, B. R. (1995). Personal communication. Holmstedt, B. R., Lindgren, J. E. (1967) Chemical constituents and pharmacology of South American snuffs. In Ethnopharmacologic Search for Psychoactive Drugs, eds. Efron, D. H., Holmstedt, B. & Kline, N. S. U. S. Public Health Service Publication No. 1645. Washington, DC.: GPO. Krkkinen, J. & Risnen, M. (1992) Nialamide, na MAO inhibitor, increases urinary excretion of endogenously produced bufotentin {sic} in man. Biological Psychiatry 32:1042-48. Kawanishi & Kawanishi (1994) Relationship between occurence of tremor/convulsion and level of beta-carbolines in the brain after administration of beta-carbilines into mice. Luna, L. E. & Amaringo, P. (1991) Ayahuasca Visions: The Religious Iconography of a Peruvian Shaman. Berkeley, CA: North Atlantic Books. Luna, L. E., (1.997) Personal communication for J. C. Callaway in Pharmacokinetics of Hoasca..., Journal of Ethnopharmacology 65 (1999) 243-256. Luna, L.E. (1984 a) "The healing practices of a Peruvian shaman" Journal of Ethnopharmacology 11(2): 123-133. Luna, L.E. (1984b) "The concept of plants as teachers among four mestizo shamans of Iquitos, northeast Peru" Journal of Ethnopharmacology 11(2): 135-156. Luna, L.E. and P. Amaringo (1991) Ayahuasca Visions: The Religious Iconography of a Peruvian Shaman. North Atlantic Books, Berkeley, CA. McKenna, D. J. (1992) Personal communications. McKenna, D. J. & Towers, G. H. N. (1984) Biochemistry and pharmacology of tryptamines and beta-carbolines: A minireview. Journal of Psychoactive Drugs 16(4):347-358.

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 17

    McKenna, D. J. & Towers, G. H. N., & Abbot, F. (1984a) Monoamine oxidase inhibitors in South American hallucinogenic plants: Tryptamine and -carboline constituents of ayahuasca. Journal of Ethnopharmacology 10(2):195-223. McKenna, D. J. & Towers, G. H. N., & Abbot, F. (1984b) Monoamine oxidase inhibitors in South American hallucinogenic plants:Part 2: Constituents of orally-active myristicaceuos hallucinogens. Journal of Ethnopharmacology 12(2):179-211. McKenna, D.J. & Towers, G. H. N., & Abbot, F. (1984) "Monoamine oxidase inhibitors in South American hallucinogenic plants: Tryptamine and beta-carbolines constituents of ayahuasca" Journal of Ethnopharmacology 10(2): 195-223. Neuvonen, P. J., Pohjola-Sintonen, S., Tacke, U. & Vuori, E. (1993). Five fatal cases of serotonin syndrome after moclobemide-citalopram or moclobemide-clomipramine overdoses. Lancet 324:1419. Ott, J. (1994) Ayahuasca Analogues: Pangean Entheogens. Natural Products Co., Kennewick, WA. Ott, J. (1993) Pharmacotheon: Entheogenic Drugs, Their Plant Sources and History. Natural Products Co., Kennewick, WA. Ott, J. (1995) The Age of Entheogens & The Angels' Dictionary. Natural Products Co., Kennewick, WA. Pomilio et al., (1999) Ayahoasca: na experimental psychosis that mirrors the transmethylation hyphotesis of schizophrenia Riba et al., (1998) Subjective effects and tolerability of South America psychoative beverage Ayahuasca in healthy volunteers Riba et al., (1999) Psychometric assessment of the Hallucinogen Rating Scale (HRS) Rommelspacher, H. & Brning, G. (1994) Formation and functio of tetrahydro--cabolines with special reference to their action on [3H]tryptamine binding sites. In Tryptophan, eds. Schloberger, Kochen, H., Linzen, A., & Steinhart, R. Berlin: DeGruyter. Schultes, R. E. (1957) The identity of malpighiaceous narcotics of South America. Botanical Museum Leaflets. Harvard University 18, 1-56. Schultes, R.E. & A. Hofmann (1980) The Botany and Chemistry of Hallucinogens. Revised and Enlarged Second Edition. C.C. Thomas, Springfield, IL. Schultes, R. E. & Hoffmann, A.(1992) Plants of the Gods: Their Sacred, Hearling and Hallucinogenic Powers. Rochester VT: Hearling Arts Press. Schutes, R. E. & Raffauf, R. E. (1992) Vine of the Soul: Medicine Men, Their Plants and Rituals in the Columbian Amazon. Oracle, AZ: Sunergistic Press. Shulgin, A. & Shulgin, A. (1997) The Continuation, ed. Dan Joy. Berkeley, CA: Transform Press. Spruce, R. [1908] (1970) Notes of Botanist on the Amazon and Andes (two volumes), ed. Wallace, A. R. London: Macmillan. Reprint, New York: Johnson Reprint. Spruce, R.(1908) Notes of a Botanist on the Amazon and Andes (two volumes). Wallace, A. R., (Ed.). Macmillian, London. Reprinted by Hohnson Reprint, New York, 1970.

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 18

    Strassman, R. J. & Qualls, C. R. (1994) Dose-response study of N,N-dimethyltryptamine in humans I. Neuroendocrine, autonomic, and cardiovascular effects. Archives of General Psychiatry 51:85-97. Strassman, R. J., Qualls, C. R., Uhlenhuth, E, Kellner, R.(1994) Dose-response study of N,N-dimethyltryptamine in humans II. Subjetive effects and preliminary results of a new rating scale. Archives of General Psychiaty 51, 98-108. Szra, S. (1956) Dimethyltryptamin [sic]: its metabolism in man; the relation of its psychotic effect on serotonin metabolism. Experentia 12, 441-442. Sai-Halsz, A. (1963) The effect of MAO inhibition on the experimental psychosis induced by dimethyltryptamine. Psychopharmacologia. 4(6):385-388. Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans/ J. C. Undenfriend, S., Witkop, B., Redfield, B., Weissbach, H., (1958) Studies with the reversible inhibitors of monoamine oxidase: harmaline and related compounds. Biochemical Pharmacology 1, 160-165.

    (21)Sites: http://www.nih.nida.org http://www.erowid.com http://www.santodaime.org http://www.lycaeum.com

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 19

    Consideraes a respeito do Parecer Ayahuasca

    (1)Psichotria viridis, O nome correto da espcie destacada acima Psychotria viridis

    (2) (Notar que a planta que deveria ser citada era a Psichotria Viridis, uma vez que dela que se extrai o DMT)

    Em relao a essa afimao, cabe ressaltar que o parecer do Grupo de Trabalho manifesta-se a respeito do Banisteriopsis caapi, mas no da Psychotria viridis, pelo fato de apenas o primeiro ter sido includo na lista de substncias proscritas da DIMED, poca.

    (3)Verifica-se por meio da avaliao dos diversos depoimentos, que os efeitos txicos da beberagem so subestimados e relacionados ao processo de evoluo espiritual (Cazenave, 2000).

    Do artigo citado acima extrai-se a seguinte afirmao: Por meio dos depoimentos, verifica-se que, na maioria das vezes, os efeitos txicos so subestimados e atribudos ao processo de purificao da alma

    Aps uma leitura cuidadosa do referido artigo, percebe-se que tal concluso na realidade uma hiptese formulada.

    Entre diversos aspectos, faz-se necessrio evidenciar que a estrutura formal desse artigo no sustenta suas concluses. Isto porque a autora no apresenta de forma clara o suficiente os mtodos utilizados em sua avaliao: no caracteriza o tamanho, a estratificao e o tempo e frequncia de uso da ayahuasca da amostra estudada, assim como o mtodo de coleta de dados utilizado nas entrevistas de coleta dos depoimentos.

    Outro aspecto que embora conste em sua bibliografia o trabalho de Grob e cols (Grob, C.S. et al. _ Human psychopharmacology of hoasca, a plant hallucinogen used in ritual context in Brasil _ J Nerv Ment Dis 184(2): 86-94, 1996), suas concluses principais - que apresentam uma avaliao psiquitrica do uso da ayahuasca em ritual religioso - no parecem ter sido sequer consideradas, por exemplo, quando a autora afirma que: a induo de tolerncia, a sndrome de abstinncia ou o desejo compulsivo, at o momento no determinados, que se contrape a afirmao transcrita da discusso do trabalho de Grob e cols: O uso cerimonial da hoasca, como estudado neste projeto de pesquisa, claramente um fenmeno muito diferente da noo convencional do abuso de drogas concluso feita pelos autores na discusso dos resultados de avaliao psiquitrica que no evidenciaram critrios diagnsticos para transtornos relacionados a substncias em usurios da ayahuasca em contexto religioso.

    Adicionalmente, ao avaliar os efeitos visuais da ayahuasca citando somente estudos que avaliaram o uso do ch em contextos que no os de religies urbanas , a autora afirma que: Dentre os principais efeitos alucingenos, temos as alucinaes visuais de animais, a comunicao com divindades ou demnios, o vo pelos ares a lugares distantes, dentre outros. devido a esses efeitos que a mistura foi e continua sendo utilizada com finalidade mstica e ritual. Tal

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 20

    afirmao novamente ignora o estudo de Grob e colaboradores citado em sua bibliografia, que ao relatar anlises dos histricos de vida difere de forma significativa do contedo apresentado pela autora, conforme o trecho transcrito a seguir: Um tema comum era a crena percebida durante o estado alterado induzido de conscincia que eles estavam num caminho auto destrutivo que os conduziria inevitavelmente sua prpria runa e mesmo morte, ao menos que embarcassem numa mudana radical de sua conduta pessoal e orientao. Ressalte-se que na sequncia do trecho transcrito, Grob e cols citam diversos exemplos de contedos dos efeitos visuais induzidos pela ayahuasca, obtidos por entrevistas com usurios da ayahuasca em contexto religioso, todos eles apresentando os efeitos visuais como agentes catalisadores de transformaes positivas nos indivduos.

    Concluindo, entendemos que o artigo citado como Cazenave 2000 neste documento contm imprecises cientficas to significativas que o consideramos imprprio para avaliao de quaiquer aspectos cientficos relacionados ao ch Hoasca (ayahuasca).

    (4)Os principais efeitos fsicos relacionados ao uso da Ayahuasca so nuseas, vmitos e diarria. Tambm incluem: aumentos leves da presso arterial, dos batimentos cardacos e incoordenao motora. Aps o uso de grandes doses h relato de que os usurios tornam-se frenticos e agitados por dez a quinze minutos aproximadamente. No entanto, mais comum manifestarem prostrao e sonolncia. H referncia ainda audio de zumbidos, formigamento de extremidades, sudorese e tremores (Schultes, 1980).

    Os efeitos psquicos mais freqentemente relatados so: - alteraes no processo de pensamento, concentrao, ateno,

    memria e julgamento; - alterao na percepo da passagem do tempo; - medo de perda do controle e do contato com a realidade; - alteraes na expresso emocional variando do xtase ao

    desespero; - mudanas na percepo corporal; - alteraes perceptuais atingindo vrios sentidos, onde

    alucinaes e sinestesias so comuns; - mudanas no significado de experincias anteriores -

    insights; - sensao de inefabilidade; - sentimentos de rejuvenescimento; - hiper sugestionabilidade; - sensao da alma se desprendendo do corpo; - sensao de contato com locais e seres sobrenaturais.

    Desconhecemos de quais publicaes cientficas os autores desse parecer

    tenham extrado as informaes contidas no trecho acima, inclusive por no estar discriminada a bibliografia consultada. A publicao referenciada como Schultes, 1980 (Schultes, R.E. & A. Hofmann (1980) The Botany and Chemistry of Hallucinogens. Revised and Enlarged Second Edition. C.C. Thomas, Springfield, IL.) apresenta aspectos botnicos e

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 21

    fitoqumicos relacionados s plantas que compe o ch Hoasca (ayahuasca) e definitivamente no contm as afirmaes acima.

    Consultando a publicao Ayahuasca Alucingenos, conscincia e o esprito da natureza (Ralph Metzner, Ed Gryphus 2002. Rio de Janeiro: pgs. 206-221), que no est presente nas referncias bibliogrficas do parecer, verificamos a existncia de trechos semelhantes aos do parecer, embora nessa parte do captulo o autor C. Grob esteja fazendo uma anlise dos efeitos dos alucingenos em geral e afirmando que os efeitos observados do uso da ayahuasca apresentam grande variabilidade em relao ao contexto de uso. Dessa maneira, depreende-se que efeitos observados entre aborgenes so muito distintos dos observados entre comunidades religiosas urbanas e que a referida publicao ainda que tivesse sido adequadamente citada no trata nessa passagem do uso ritual da ayahuasca. Tal distino seria necessria, uma vez que as anlises antropolgicas contextualizam o uso aborgene como prtica distinta da religiosa.

    fundamental destacar, ainda, que a publicao referenciada no parecer como Schultes, 1980 datada de 1980, sendo portanto anterior aos primeiros estudos biomdicos realizados com a Hoasca (ayahuasca), em 1993, do apresentamos uma sntese a seguir.

    O Projeto Hoasca foi conduzido por um consrcio internacional de pesquisadores do Brasil, EUA e Finlndia, que em 1993 realizaram o primeiro projeto de pesquisa cientfica de investigao dos efeitos biomdicos da ayahuasca. Seus objetivos principais foram avaliar os aspectos bioqumicos do ch Hoasca e tambm verificar as condies de sade clnica e psiquitrica de indivduos que o utilizavam regularmente em contexto de ritual religioso por mais de 10 anos. Seus resultados confirmaram as anlises qumicas das plantas e do ch j existentes na literatura cientfica, e verificaram a inexistncia de padres que caracterizam o uso nocivo de substncias. Apontaram, ainda, que existe segurana no uso ritual do ch feito pela UDV.

    A anlise dos resultados psiquitricos publicados por Grob e seus colaboradores evidenciou a ausncia de diagnsticos psiquitricos atuais (inclusive dependncia, tolerncia, sndrome de abstinncia e abuso) entre os membros da UDV. Os autores afirmaram que O uso da Hoasca, como estudado neste projeto de pesquisa, claramente um fenmeno totalmente distinto da noo convencional de abuso de drogas . Essa avaliao identificou, ainda, que a transformao do padro de comportamento dos indivduos aps o incio do uso regular da Hoasca foi detectvel tanto em depoimentos pessoais quanto em testes objetivos. Em seus depoimentos, os experimentadores manifestaram que tiveram fora para: eliminar a raiva crnica, ressentimento, agresso, alienao, adquirir maior autocontrole, reponsabilidade para com a famlia e comunidade e realizao pessoal.

    Em seu artigo, Grob destaca ainda trechos das entrevistas que relatam aspectos da experincias com o uso da ayahuasca:

    Todos os 15 examinandos da UDV referiram que suas experincias com o uso ritual da hoasca tiveram um profundo impacto no curso de suas vidas. Para muitos deles o ponto crtico foi sua primeira experincia sob a influncia do ch. Um tema comum era a crena percebida durante o estado alterado induzido de conscincia que eles estavam num caminho auto destrutivo que os conduziria inevitavelmente sua prpria runa e mesmo morte, ao menos que embarcassem numa mudana radical de sua conduta pessoal e orientao. Alguns exemplos incluiam: Eu tive uma viso de mim mesmo num carro indo para uma festa. Teve um terrvel acidente e eu podia ver

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 22

    a mim mesmo morrer... Eu estava num parque de diverses, num carrossel, dando voltas e voltas e voltas sem nunca parar. Eu no sabia como sair de l. Eu estava muito assustado... Eu podia ver aonde eu estava indo com a vida que eu estava levando...Eu podia me ver acabando num hospital, numa priso, num cemitrio... Eu me vi sendo preso e levado priso. Eles iam me executar por um crime terrvel que eu tinha cometido. Experimentadores tambm referiram que nas agonias da experincia de pesadelos visionrios eles encontravam o fundador da UDV, Mestre Gabriel, que os livrava de seus terrores: Eu vi esses feios, horrorosos animais. Eles me atacaram. Meu corpo estava desjuntado, diferentes partes de mim estavam jogadas por todo o cho. Ento eu vi o Mestre. Ele me disse o que eu iria precisar para por todas as partes de meu corpo de volta no lugar... Eu corri pela floresta horrorizado porque eu ia morrer... Ento eu vi o Mestre. Ele olhou para mim. Eu fui banhado em sua luz. Eu sabia que estaria tudo bem.... Eu estava numa canoa, fora de controle, descendo o rio. Eu achei que iria morrer. Mas ento eu vi o Mestre Gabriel numa canoa bem na minha frente. Eu sabia que enquanto eu estivesse com o Mestre, eu estaria a salvo....

    ... Os examinandos inequivocamente atriburam as mudanas positivas em suas vidas ao seu envolvimento com a UDV e sua participao no cerimonial de ingesto do ch. Eles viram a hoasca como um catalisador na sua evoluo psicolgica e moral, mas foram precisos em referir, entretanto, que no era somente a hoasca a responsvel, mas antes o fato de beber o ch no contexto da estrutura ritual da UDV.... Examinandos descreveram a UDV como um navio que lhes permite navegar seguramente nos frequentes estados turbulentos de conscincia induzidos pela ingesto da hosca . A UDV sua me . . . famlia . . . casa de amigos, provendo orientao e direo e permitindo a eles andar no caminho certo. Enfatizaram a importncia da unio, das plantas e das pessoas. Sem a estrutura da UDV, ponderaram os examinandos, as experincias com a hoasca podem ser imprevisveis e levar a um senso exagerado do eu.

    Na discusso dos resultados os pesquisadores destacaram, ainda, que a

    ntida associao temporal entre o incio do uso ritual da Hoasca e a abstinncia completa e sem remisses de lcool e drogas pelos membros da UDV pode ser explicada pelas hipteses de existncia de suporte oferecido pelo grupo e pelo efeito farmacolgico de substncias presentes na Hoasca (iMAO), despertando interesse cientfico para o uso da Hoasca como possvel agente teraputico para dependncia de lcool e drogas.

    A anlise da avaliao clnica e efeitos fisiolgicos agudos evidenciou no haverem alteraes significativas entre os grupos estudados (experimentadores e controles), tendo os autores afirmado, embora em se tratando de um estudo clnico piloto, que os resultados obtidos reafirmam as observaes empricas nos diversos grupos que fazem uso do ch Hoasca onde encontram-se pessoas que o utilizam regularmente por mais de 30 anos e se apresentam saudveis, lcidas e com perfil de morbidade igual ao das pessoas com quem convivem.

    As principais publicaes cientficas resultantes desse projeto so apresentadas a seguir: Grob, C. S et al. (1996) Human psychopharmacology of Hoasca, a plant hallucinogen used in

    ritual context in Brasil. Journal of Nervous and Mental Diseases 184(2), 86-94. Callaway, J. C., et al. (1999). Pharmacokinetics of hoasca alkaloids in healthy humans. Journal

    of Ethnopharmacology, (65): 243-256 McKenna, D. et al (1998). The Scientific Investigation of Ayahuasca A Review of Past and

    Current Research. The Heffer Review of Psychedelic Research (1):65-77. Labate, B.C, (2002) O uso ritual da Ayahuasca, Editora Mercado das Letras, 1ed.; pginas 577

    a 630 Retomando a anlise do parecer em questo, verificamos que seus autores

    - na exposio dos principais aspectos fsicos e psquicos supostamente experimentados aps a ingesto da ayahuasca apresentados acima -

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 23

    lamentavelmente omitem os resultados do Projeto Hoasca; estranhamente as referncias desse projeto constam nas referncias bibliogrficas do parecer, mas suas concluses no so sequer consideradas para a consubstanciao da opinio emitida.

    (14)O exemplo desta evidncia a sndrome serotoninrgica e; (5) o indivduo pode apresentar uma sndrome serotoninrgica, um quadro grave, que pode ser letal (Callaway, 1993; 1994 a; Callaway & Groob, 1998).

    Por outro lado, h relatos de pacientes que faziam uso regular de Ayahuasca e que usaram antidepressivos com boa tolerabilidade, o que pode ser talvez compreendido pelo aumento dos receptores serotonrgicos devido ao uso crnico da bebida (Callaway et al., 1994).

    O artigo mencionado pelos autores do parecer (Callaway, 1994) descreve o risco terico da ocorrncia de sndrome serotoninrgica entre usurios regulares da ayahuasca que se utilizem de certos tipos de medicaes psicotrpicas, notadamente os antidepressivos inibidores seletivos da recaptao da serotonina (ISRS). Entretanto, dados recentes ainda no publicados da Comisso de Sade Mental do Departamento Mdico-Cientfico do Centro Esprita Beneficente Unio do Vegetal, relativos ao monitoramento de usurios regulares da hoasca (ayahuasca) que fazem uso das medicaes que consituem um grupo de risco terico no evidenciam a ocorrncia de sndrome serotoninrgica. Destaque-se que, contrariamente ao exposto no parecer em questo, embora essa sndrome possa ter manifestaes clnicas graves e ser letal, mais frequentemente observada com manifestaes discretas e benignas. Some-se a isso o fato de ainda ter sido bem pouco estudada, tanto em seus mecanismos fisiopatolgicos quanto sua teraputica (Psychotropic Drug Directory, Stephen Bazire, 1999 pg. 106; Peter, MJ. (2000). Serotonin Syndrome - Presentation of 2 Cases and Review of the Literature. Medicine (Baltimore); 79(4):201-9, 2000.

    Alm disso, as consideraes apresentadas nesse parecer a respeito da sndrome setoronirgica no consideram uma nova publicao do mesmo autor, Callaway, datada de 2002 (Ayahuasca Alucingenos, conscincia e o esprito da natureza. Ed Gryphus, 2002. Rio de Janeiro: pgs. 235-236), na qual ele afima: ...Vejamos algum que tenha ingerido regularmente a ayahuasca por muitos anos, e que comece a tomar inibidores seletivos de recaptao da serotonina prescritos pelo seu mdico. Sero notados poucos efeitos adversos, ou nenhum, porque deve-se ter desenvolvido uma certa tolerncia no organismo deste indivduo aos efeitos serotoninrgicos da ayahuasca. A seguir, o autor alerta para que nefitos que j fazem uso daquele tipo de medicamento descontinuem-no por algumas semanas para prevenir a ocorrncia de sndrome serotoninrgica. Essa recomendao j foi adotada pela Comisso de Sade Mental do CEBUDV h alguns anos, cujos resultados da observao sistematizada esto sendo compilados para publicao.

    (6)O Hoasca Project foi iniciado em 1992 no Brasil, com o objetivo de melhor estudar e identificar os efeitos neurobiolgicos a longo prazo da bebida na cognio, por meio da observao do funcionamento social e da capacidade de insight (McKenna, 1992).

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 24

    Os efeitos psicoativos descritos pelos 15 voluntrios foram o aparecimento de imagens visuais intrincadas e coloridas, processo de pensamento acelerado e estado geral de alerta aumentado. A cognio, a percepo e o afeto estavam alterados, apresentando um rebaixamento de conscincia. Houve uma diferena qualitativa na descrio dos efeitos pelos voluntrios, sendo que os efeitos do DMT foram mais rpidos e de menor durao. Todos foram unnimes no relato destes efeitos.

    Conforme apresentado, os estudos recentes a respeito da ayahuasca so

    relativos ao Projeto Hoasca. No entanto, ao referenci-lo bibliograficamente os autores do documento citam somente uma comunicao pessoal (McKenna, 1992), no localizada nos ndices mdicos como material publicado. Adicionalmente, os principais resultados deste projeto foram publicados em peridicos indexados de ampla circulao internacional, destacando-se as publicaes de Grob e cols (Grob, C. S., D. J. McKenna, J. C. Callaway, G. S. Brito, E. S. Neves, G. Oberlender, O. L. Saide, E. Labigalini, C. Tacla, C. T. Miranda, R. J. Strassman, K. B. Boone (1996). Human psychopharmacology of hoasca, a plant hallucinogen used in ritual context in Brasil: Journal of Nervous & Mental Disease. 184:86-94) e Callaway e cols (J.C. Callaway et al. :Journal of Ethnopharmacology 65 (1999) 243256).

    Embora o autor mencione o Projeto Hoasca, no cita quaisquer de seus resultados significativos, por exemplo, a publicao de Grob e cols, que verificou alguns casos de remisso sem recorrncia de transtornos psiquitricos aps o uso regular da ayahuasca em ritual religioso, particularmente os relacionados ao consumo excessivo de lcool. Grob sugere, inclusive, que possa existir uma ao teraputica do uso ritual da ayahuasca para os usurios de longo prazo. Na discusso de seu trabalho, conclui que: O uso cerimonial da hoasca, como estudado neste projeto de pesquisa, claramente um fenmeno muito diferente da noo convencional do abuso de drogas

    Em relao ao pargrafo (acima): Os efeitos psicoativos descritos pelos 15 voluntrios foram o aparecimento de imagens visuais intrincadas e coloridas, processo de pensamento acelerado e estado geral de alerta aumentado. A cognio, a percepo e o afeto estavam alterados, apresentando um rebaixamento de conscincia. Houve uma diferena qualitativa na descrio dos efeitos pelos voluntrios, sendo que os efeitos do DMT foram mais rpidos e de menor durao. Todos foram unnimes no relato destes efeitos. assemelha-se a tem 3.3 da pgina 248 do artigo de Callaway e cols supreamencionado, havendo entretanto imprecises grosseiras de traduo que distorcem de forma fundamental os resultados por ele apresentados.

    Desse modo, onde Callaway apresenta complex thought processes, que significa processos de pensamento complexos, verificamos como traduo processo de pensamento acelerado.

    De modo semelhante, onde Callaway apresenta general state of heightened awareness, que significa estado geral de aumento de compreenso, verificamos como traduo estado geral de alerta aumentado.

    Adicionalmente, o autor parece ser tendencioso ao redigir: A cognio, a percepo e o afeto estavam alterados, apresentando rebaixamento de conscincia, sem acrescentar o final do perodo, que lhe confere um sentido totalmente diferente do apresentado no documento: Em geral, a percepo, cognio e os processos afetivos estavam alterados significativamente, enquanto mantinha-se a presena de clareza sensorial.

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 25

    A ntegra do pargrafo em questo (tem 3.3 da pgina 248 de Callaway e cols.) apresentada a seguir: The duration of psychoactivity from the tea was coincidental with alkaloid plasma levels. In particular, peak plasma levels of DMT were asso-ciated with intricate and colored eyes-closed vi-sual imagery, complex thought processes and a general state of heightened awareness. Overall perceptual, cognitive, and affective processes were significantly modified while maintaining the presence of a clear sensorium. All 15 volunteers experienced these subjective effects at this dosage (2ml/kg).

    (7)As medidas dos efeitos neuroendcrinos se elevaram em relao ao basal (hormnio de crescimento, prolactina, cortisol). Estes efeitos so indicadores indiretos de aumento de atividade serotoninrgica. O dimetro pupilar, a freqncia respiratria e cardaca, a presso arterial, (FR), tambm subiram significativamente.

    Ainda extrado da publicao de Callaway supramencionada, o pargrafo acima no apresenta um dado importante verificado em relao ao aumento da presso arterial, conforme apresentado pelo autor do artigo, de que embora o aumento de presso arterial e frequncia cardaca sejam evidenciados, no h comportamento hipertensivo, o que poderia acarretar prejuzo sade. Assim, ao extrair parcialmente o contedo do artigo publicado os autores do parecer inadvertidamente confundem o leitor.

    (8)Um aumento na recaptao de 5HT, foi observada no grupo experimental, quando comparado ao controle, consequentemente sugere-se que tenha havido uma diminuio da concentrao de 5HT extracelular na fenda sinptica, ou uma resposta de aumento da produo e liberao da 5HT(Callaway et al., 1994).

    Na publicao: Callaway, J.C., Airaksinen, M.M., McKenna, D.J., Brito, G.S., Grob, C.S., 1994. Platelet serotonin uptake sites increased in drinkers of ayahuasca. Psychopharmacology 116, 385387., os autores afirmam que os achados de upregulation dos receptores 5-HT, associados aos resultados das avaliaes psiquitrica e fisiolgica do Projeto Hoasca, necessitam ainda serem melhor investigados, embora a anlise conjunta dos resultados encontrados indique claramente que no se deva erroneamente compara esses achados com os observados em portadores de transtornos neuropsiquitricos.

    (9)Estudo recente foi realizado na Espanha, com a participao de 6 voluntrios j usurios de Ayahuasca, com o objetivo de avaliar os efeitos subjetivos e o desenvolvimento de tolerncia.

    O artigo em questo tem como ttulo:Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive beverage Ayahuasca in healthy volunteers, e em seu resumo apresenta como objetivos: avaliar os efeitos subjetivos e a tolerabilidade da ayahuasca. Dessa forma, h um erro grosseiro de traduo, uma vez que o artigo no se presta a avaliar a ocorrncia de tolerncia (necessidade de se administrar doses crescentes para se obter o mesmo efeito de uma substncia), mas sim a tolerabilidade (aceitabilidade). E nesse prisma de avaliao que seus autores afirmam nos resultados que: o ch bem tolerado do ponto de vista cardiovascular, com uma tendncia a aumentar a presso arterial

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 26

    sistlica e; Em geral, a experincia (com o ch) foi considerada como prazerosa e satisfatria pelos seis voluntrios

    (10)Outro estudo recolheu dados eletroencefalogrficos de 12 voluntrios antes e depois de um ritual xamanstico em que a Ayahuasca foi servida em 3 diferente dosagens da bebida. Os voluntrios apresentaram efeitos significativos estatisticamente no que concerne ao aumento tanto das ondas alfa. Tais dados so semelhantes aos encontrados para outros psiodlicos como o LSD, mescalina, psilocibina) e apontam para um estado de conscincia alterado, onde as pessoas descrevem maior nvel de alerta. um estado semelhante, embora mais profundo, que o estado de meditao. O estado psicolgico atingido pela Ayahuasca pode ser compreendido se comparado com outros estados em que aumentam atividades de ondas lentas como hipnose, meditao. Green e colaboradores (19??) relacionaram o aumento de onda theta a estados de atividade do subconsciente, ao passo que a continuidade da presena concomitante de ondas alfa mostra que a experincia ocorre em nvel de alerta preservado.

    O artigo em questo pretende investigar o padro eletroecefalogrfico relacionado ao uso da ayahuasca. Entretanto, sua metodologia incorre em erros primrios em relao a seleo da amostra de experimentadores, invalidando os resultados obtidos.

    Incialmente no foram definidos com clareza os critrios de incluso e excluso da amostra, permitindo que ao final a mesma apresentasse marcante heterogeneidade. Alm de ser composta por indivduos com grande diferena de idade (entre 29 e 59 anos), no houve rastreamento adequado para a presena de doenas neourolgicas prvias, e foram aceitos indivduos com histrico de cardiopatia de episdios depressivos (que per se podem alterar o padro do EEG). Alm disso, havia entre os experimentadores marcante diferena em relao ao uso da ayahuasca, variando desde aqueles que nunca a haviam consumido at os que j somavam mais de 100 experincias. Adicionalmente, todos os experimentadores tinham histrico de uso de outros psicoativos (como Cannabis, LSD, cocana, xtase e herona) alguns ainda fazendo uso frequente de tais substncias.

    Dessa forma, considerando tratar-se de um estudo observacional cujo objetivo seria registrar o padro eletroencefalogrfico advindo da experincia com a ayahuasca, teria sido indispensvel uma padronizao da amostra em relao a idade e sexo dos experimentadores, ao nmero de experincias prvias com a ayahuasca e ao no uso de outras substncias, uma vez que cada uma dessas falhas constiui uma possvel varivel confundidora, que compromete a anlise dos resultados obtidos.

    (11)alterando a percepo da realidade na maioria dos usurios. Os estudos mais significativos dos aspectos biomdicos da ayahuasca no

    endossam essa opinio. Conforme mencionado em Callaway e cols (J.C. Callaway et al. :Journal of Ethnopharmacology 65 (1999) 243256): Em geral, a percepo, cognio e os processos afetivos estavam alterados significativamente, enquanto mantinha-se a presena de clareza sensorial

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 27

    Alm disso, Grob e cols (Grob, C. S., D. J. McKenna, J. C. Callaway, G. S. Brito, E. S. Neves, G. Oberlender, O. L. Saide, E. Labigalini, C. Tacla, C. T. Miranda, R. J. Strassman, K. B. Boone (1996). Human psychopharmacology of hoasca, a plant hallucinogen used in ritual context in Brasil: Journal of Nervous & Mental Disease. 184:86-94) publicaram resultados que indicam o uso ritual da ayahuasca como importante catalisador nos processos de transformao pessoal; Na anlise dos histricos de vida, h relatos de indivduos para os quais aquela prtica constituiu um fator de transformador, tornando-os mais conscientes, participativos e bem integrados sociedade, o que em ltima anlise traduz-se por um maior contato com a realidade da vida cotidiana, conforme apresentado nos tens (4) e (6)

    (12)Considerando a complexidade da ao destas substncias, o pequeno nmero de estudos metodologicamente adequados, com amostras no representativas, e sem seguimento longitudinal de usurios, tendo em vista algumas evidncias quanto ao desenvolvimento de tolerncia com o uso crnico e alteraes de conscincia com o uso agudo, pode-se concluir que no existe uso seguro destas substncias pscicoativas, e que elas podem interagir com outras substncias provocando intoxicaes graves.

    Em primeiro h que se considerar que no existe qualquer evidncia que aponte desenvolvimento de tolerncia em relao a ayuahuasca, mas sim estudos que avaliaram sua tolerabilidade, conforme apresentado no item (9). O nico estudo que investigou a possvel ocorrncia de tolerncia foi conduzido por Grob e cols, que verificou, em sua avaliao de diagnsticos psiquitricos (CIDI), a no ocorrncia de transtornos psiquitricos atuais entre o grupo de experimentadores, o que inclua o fenmeno de tolerncia e outros necessrios para o diagnstico de dependncia de substncias.

    Assim, embora a ocorrncia de tolerncia seja uma sugesto terica, at o presente no existem na literatura dados que confirmem tal fenmeno, pelo contrrio.

    Em relao aos estudos realizados, cabe destacar que o Projeto Hoasca foi realizado em um grupo de voluntrios que, embora tivesse o nmero de sua amostra reduzido, o nico at o presente que investigou indivduos que fazem uso regular da ayahuasca em contexto ritual por um perodo mnimo de 10 anos, e ainda que seus resultados no sejam passveis de generalizao para toda a instituio, no apresentaram evidncias de quaisquer danos entre os indivduos pesquisados. considerado um projeto piloto pelos seus idealizadores, e fornece elementos iniciais que indicam haver clara segurana no uso ritual da ayahuasca.

    (13)Portanto, a tolerncia pode ser desenvolvida com o uso regular e crnico da bebida, provocando alteraes na concentrao dos neurotransmissores e receptores, especialmente na via da 5-HT,

    Conforme apresentado no item (12), at o presente as investigaes conduzidas no indicaram a ocorrncia de tolerncia. Da mesma forma, a observao emprica de indivduos que utilizam regularmente a ayahuasca h mais de 40 anos tambm no indica a ocorrncia de tolerncia, sugerindo que as alteraes de receptores plaquetrios de serotonina no estejam relacionadas a esse fenmeno. Tal achado (dos receptores) constituiu-se em fato indito, pois

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 28

    segundo os pesquisadores do Projeto Hoasca esse um fennemo que no havia sido observado dessa maneira em indivduos mentalmente saudveis.

    (15) Como j foi dito, no dispondo de estudos controlados e randomizados e amostras adequadas, no foi possvel concluir que a substncia possa ser dependgena at o presente momento.

    Conforme apresentado por Grob e cols (Grob, C. S., D. J. McKenna, J. C. Callaway, G. S. Brito, E. S. Neves, G. Oberlender, O. L. Saide, E. Labigalini, C. Tacla, C. T. Miranda, R. J. Strassman, K. B. Boone (1996). Human psychopharmacology of hoasca, a plant hallucinogen used in ritual context in Brasil: Journal of Nervous & Mental Disease. 184:86-94: O uso cerimonial da hoasca, como estudado neste projeto de pesquisa, claramente um fenmeno muito diferente da noo convencional do abuso de drogas.

    Embora ainda no existam estudos controlados e randomizados, os dados disponveis na literatura indicam no haver dependncia da ayahuasca em uso ritual. Ressalte-se que a literatura biomdica da ayahuasca tem incio muito recente, tendo sido o Porjeto Hoasca a primeira investigao biomdica dessa substncia e, embora no existam estudos que categoricamente estabeleam a no ocorrncia de dependncia ou abuso, todos os que esto publicados apontam que esse fenmeno no ocorre no uso em contexto religioso.

    (16)efeitos adversos permanece at por 5 semanas aps a descontinuao do uso de um ISRS.

    At o presente no existem estudos conduzidos para avaliar a hiptese apresentada acima, embora existam diversos relatos de usurios regulares da ayahuasca que fizeram uso concomitante de ISRS com boa tolerabilidade, cujo fenmeno alvo de ateno mdica conforme apresentado no item (5)/(14).

    Ressalte-se que para a maioria dos ISRS o risco de eventos adversos seria de apenas 2 semanas; apenas para a fluoxetina o risco se estenderia at a 5a. semana.

    (17)Uma investigao oficial das religies baseadas no uso da ayahuasca no Brasil foi realizada pela Dimed (Diviso de Medicamentos) e Confen (Conselho Federal de Entorpecentes), levando legislao que protege o uso da Ayahuasca no Brasil para propsitos religiosos em agosto de 1987, sendo que nenhuma recomendao foi feita para alertar dos riscos dos aspectos descritos acima.

    O primeiro artigo publicado considerando a possibilidade sndrome serotoninrgica ocorrer entre usurios da ayahuasca que fizessem uso de ISRS foi em 1998: Callaway & Grob. Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors: a potential combination for severe adverse interactions. J Psychoactive Drugs; 30(4):367-9, 1998 Oct-Dec. O Relatrio do CONFEN datado de 1987, no havendo portanto qualquer omisso daquele rgo em relao a no avaliar essa questo na poca. O prprio CONFEN deliberou, aps exaustivas anlises que o reexame da questo da ayahuasca s deveria ser feito com base em fatos novos.

    _____________________________________________________________________________________________www.neip.info

  • 29

    (18) No existe uso seguro de substncias psicoativas e psicotrpicas e seu uso agudo e crnico pode levar a alteraes do SNC, e consequentemente da cognio.

    A afirmacao No existe uso seguro de substncias psicoativas e psicotrpicas no faz sentido, na medida em que existe seguranca comprovada para o uso de inmeros agentes psicotropicos registrados na farmacopia brasileira.

    Alm disso, embora ainda no existam estudos que comprovem de forma defititiva a segurana do uso ritual da ayahuasca, a observao emprica de seus usurios e os estudos biomdicos j conduzidos indicam que no h danos a longo prazo, conforme descrito por Grob e cols no artigo supracitado. Finalmente, o uso da ayahuasca no contexto religioso transcende a observao monocular de carter biomdico, uma vez que existem existem aspectos filosficos, sociais, culturais e antropolgicos indissolveis e que devem ser considerados na anlise de todas as questes relacionadas ao uso ritual da ayahuasca.

    Concluindo, em todos os estudos realizados at o presente no houve qualquer demonstrao de que o uso ritual da ayahuasca esteja causando prejuzos de qualquer natureza comunidade, o que seria, em ltima anlise, um motivo para o qual a sociedade organizada no deveria apoiar seu uso em ritual religioso.

    (19)No h nenhum relato cientfico demonstrando a possibilidade do uso teraputico da Ayahuasca. Logo, tal conduta incide em m prtica mdica e deve ser evitada.

    Embora os estudos publicados at o momento sugiram que possa haver benefcios teraputicos relacionados a ayahuasca, despertanto o interesse da comunidade cientfica como possvel agente teraputico para abuso e dependncia de lcool e drogas, o Centro Esprita Beneficente Unio do Vegetal advoga pelo no uso do ch para fins teraputicos sem que haja comprovao cientfica de tal possbilidade. Com a finalidade de deixar clara essa concepo para as autoridades e para a sociedade em geral, seus profissionais de sade elaboraram em 1991 a Carta de Princpios ticos dos Profissionais de Sade do CEBUDV, documento que tem carter normativo para toda a instituio. A ntegra desde documento apresentada abaixo. Carta de Princpios ticos dos Profissionais de Sade do Centro Esprita Beneficente Unio Do Vegetal Os profissionais de sade scios do Centro Espirita Beneficente Unio do Vegetal, Considerando as disposies do Cdigo de tica Mdica (Resoluo CEM n 1246/88), o Cdigo de tica

    Profissional dos Psiclogos (Resoluo CPF n 002/87), o Cdigo Internacional de tica Mdica e as declaraes de Nuremberg, de Genebra, de Helsinque e a Declarao Universal dos Direitos dos Homens;

    Considerando que, estatutariamente, o Centro Esprita Beneficente Unio do Vegetal tem por objetivos fazer uso do ch chamado Hoas