consideraÇÕes sobre a integraÇÃo das categorias educaÇÃo e trabalho no ensino mÉdio

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CONSIDERAÇÕES SOBRE A INTEGRAÇÃO DAS CATEGORIAS EDUCAÇÃO E TRABALHO NO ENSINO MÉDIO Autor: Ubiratan Augusto Domingues Batista 1 E-mail: [email protected] Co-autora: Michelle Fernandes Lima 2 E-mail: [email protected] RESUMO: O presente trabalho tem por finalidade apresentar os resultados de um estudo monográfico, realizado em 2009, intitulado “Reflexões sobre a relação entre educação e trabalho no contexto da formação profissional”, do curso de Pedagogia o qual teve como objetivo compreender o posicionamento de quatro teóricos frente a possibilidade de integrar as categorias educação e trabalho no Ensino Médio. Proposta esta que, fundamentada na idéia de trabalho como princípio educativo, possibilita aos alunos analisar criticamente a sociedade em que vivem; compreendendo, desta maneira, as contradições presentes no sistema capitalista. Ao analisar as múltiplas determinações que compõem a temática central desta pesquisa, apresentamos o posicionamento dos teóricos, Gaudêncio Frigotto, Acacia Kuenzer, Maria Ciavatta e Marise Ramos, frente à temática em questão. Assim sendo, analisamos num primeiro momento a articulação da educação com os modos de produção capitalista; uma vez que a mesma modifica-se nos momentos em que os modos de produção sobrem reestruturações, pois a educação é utilizada pelo sistema como mecanismo de reprodução e formação de trabalhares aptos para suprir os interesses e necessidades do sistema. Em seguida, analisamos a possibilidade de reestruturar o Ensino Médio numa perspectiva contrária aos interesses do capital e, por fim, verificamos os princípios defendidos pelos autores referidos frente à elaboração de uma proposta superadora da demanda capitalista. Ao compreender o posicionamento dos autores a integração entre educação e trabalho, podemos perceber a importância desse nível de ensino ao articular os conhecimentos científicos, tecnológicos, econômicos ontológicos e histórico-sociais, ao elaborar sua proposta. Para os mesmos tal articulação tem como finalidade, possibilitar a todos uma educação igualitária, superando a dualidade estrutural, presente desde os primórdios da história da educação no Brasil, que propicia à Elite os conhecimentos necessários ao exercício de seu papel de dirigente na sociedade e, relega a grande massa a um saber fragmentado e alienador, com intuito de explorar o trabalhador e impedir que este se rebele contra o sistema. 1 Pedagogo formado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste. Aluno do Mestrado no Programa de Pós Graduação em Educação pela Universidade Federal do Paraná - UFPR, na linha Mudanças no Mundo do Trabalho e Educação. Grupo de Estudos e Pesquisa PROFORMAR; Unicentro-PR 2 Professora da Universidade Estadual do Centro Oeste, Mestre em Fundamentos da Educação pela Universidade Estadual de Maringá e aluna do Doutorado no Programa de Pós Graduação em Educação pela Universidade Federal do Paraná – UFPR, na linha de Políticas e Gestão da Educação. Grupo de Estudos e Pesquisa PROFORMAR; Unicentro- PR

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CONSIDERAÇÕES SOBRE A INTEGRAÇÃO DAS CATEGORIASEDUCAÇÃO E TRABALHO NO ENSINO MÉDIO

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  • CONSIDERAES SOBRE A INTEGRAO DAS CATEGORIAS EDUCAO E TRABALHO NO ENSINO MDIO

    Autor: Ubiratan Augusto Domingues Batista1E-mail: [email protected]

    Co-autora: Michelle Fernandes Lima2E-mail: [email protected]

    RESUMO:

    O presente trabalho tem por finalidade apresentar os resultados de um estudo monogrfico, realizado em 2009, intitulado Reflexes sobre a relao entre educao e trabalho no contexto da formao profissional, do curso de Pedagogia o qual teve como objetivo compreender o posicionamento de quatro tericos frente a possibilidade de integrar as categorias educao e trabalho no Ensino Mdio. Proposta esta que, fundamentada na idia de trabalho como princpio educativo, possibilita aos alunos analisar criticamente a sociedade em que vivem; compreendendo, desta maneira, as contradies presentes no sistema capitalista. Ao analisar as mltiplas determinaes que compem a temtica central desta pesquisa, apresentamos o posicionamento dos tericos, Gaudncio Frigotto, Acacia Kuenzer, Maria Ciavatta e Marise Ramos, frente temtica em questo. Assim sendo, analisamos num primeiro momento a articulao da educao com os modos de produo capitalista; uma vez que a mesma modifica-se nos momentos em que os modos de produo sobrem reestruturaes, pois a educao utilizada pelo sistema como mecanismo de reproduo e formao de trabalhares aptos para suprir os interesses e necessidades do sistema. Em seguida, analisamos a possibilidade de reestruturar o Ensino Mdio numa perspectiva contrria aos interesses do capital e, por fim, verificamos os princpios defendidos pelos autores referidos frente elaborao de uma proposta superadora da demanda capitalista. Ao compreender o posicionamento dos autores a integrao entre educao e trabalho, podemos perceber a importncia desse nvel de ensino ao articular os conhecimentos cientficos, tecnolgicos, econmicos ontolgicos e histrico-sociais, ao elaborar sua proposta. Para os mesmos tal articulao tem como finalidade, possibilitar a todos uma educao igualitria, superando a dualidade estrutural, presente desde os primrdios da histria da educao no Brasil, que propicia Elite os conhecimentos necessrios ao exerccio de seu papel de dirigente na sociedade e, relega a grande massa a um saber fragmentado e alienador, com intuito de explorar o trabalhador e impedir que este se rebele contra o sistema.

    1 Pedagogo formado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste. Aluno do Mestrado no Programa de Ps Graduao em Educao pela Universidade Federal do Paran - UFPR, na linha Mudanas no Mundo do Trabalho e Educao. Grupo de Estudos e Pesquisa PROFORMAR; Unicentro-PR

    2 Professora da Universidade Estadual do Centro Oeste, Mestre em Fundamentos da Educao pela Universidade Estadual de Maring e aluna do Doutorado no Programa de Ps Graduao em Educao pela Universidade Federal do Paran UFPR, na linha de Polticas e Gesto da Educao. Grupo de Estudos e Pesquisa PROFORMAR; Unicentro-PR

  • O presente trabalho parte integrante de uma pesquisa monogrfica, realizada no

    ano de 2009, no curso de Pedagogia, o qual teve como objetivo analisar o posicionamento

    de quatro tericos frente possibilidade de integrar as categorias educao e trabalho no

    Ensino Mdio, sendo esses autores: Accia Kuenzer, Gaudncio Frigotto, Maria Ciavatta e

    Marise Ramos.

    Contudo, antes de compreendermos o posicionamento dos autores frente a esta

    questo, torna-se pertinente compreender como a sociedade capitalista se organiza e se

    mantm desde sua criao e expanso pelo mundo, tal qual a relao de submisso da

    escola com o sistema vigente e, assim, verificar como o Estado interfere no sistema

    educacional brasileiro.

    Assim sendo, este texto divide-se em dois momentos, sendo o primeiro destinado

    a discutir as interferncias exercidas pelo Estado capitalista no sistema educacional

    brasileiro e, conseqentemente, as mudanas que ocorreram na educao no sculo XX em

    detrimento das mudanas que ocorreram nos modos de produo capitalista, especialmente

    pela transio do fordismo/taylorismo para o toyotismo.

    No segundo momento, apresentamos o posicionamento dos autores frente a

    temtica em questo, que fundamentam-se na idia de trabalho como princpio educativo,

    em Gramsci, para defender a idia de Ensino Mdio Integrado numa perspectiva contrria

    aos interesses do capital; visando possibilitar aos alunos dessa modalidade de ensino,

    analisar as mltiplas determinaes que compem o sistema capitalista e, assim, no

    deixarem-se ludibriar pelo canto da sereia, ou seja, pelas ideologias apresentadas pelo

    capitalismo.

    O ENSINO MDIO NO BRASIL: FORMAR PARA QUAL SOCIEDADE E PARA QUAL TRABALHO?

    Ao analisar a sociedade atual, que vive sob a gide neoliberal, verificamos:

    mesmo pregando a igualdade e outros princpios democrticos, a mesma encontra-se

    estruturada de maneira desigual, em que poucos detm os bens produzidos histrico e

    socialmente e muitos se encontram margem da sociedade, no tendo acesso a tais bens.

    Ao verificar a transio do feudalismo ao capitalismo, verificamos que inmeras

    mudanas polticas e, principalmente, econmicas ocorreram no contexto social.

    Entretanto, essas mudanas no sanaram a desigualdade social. Ao contrrio, mantiveram-

    na vigente, em detrimento da necessidade de acumular, cada vez, mais capital.

  • Observamos, desta maneira, que no sistema capitalista mantm-se duas classes

    distintas: a classe dominante, composta pelos detentores do poder e a classe dominada,

    composta pelos trabalhadores assalariados, que vendem sua fora-de-trabalho para o

    capitalista, visando garantir sua subsistncia.

    Conforme Alves (2007), o sistema fordista/taylorista, representa uma das

    principais ideologias orgnicas do sculo XX, devido sua forma de racionalizao do

    processo de produo.

    Em tal sistema, o trabalhador deve produzir em massa, num tempo pr-

    estabelecido e com maior qualidade. Assim, o supervisor cronometra o tempo e o ritmo de

    produo, em que o trabalhador especializa-se numa nica funo. Fato este, que

    fragmenta sua conscincia frente s mltiplas determinaes que compem a produo.

    Frente educao nesse contexto, salienta Kuenzer (2007) que o projeto

    pedaggico vigente no perodo taylorista-fordista, visava qualificao profissional do

    trabalhador, para atender necessidades especificas, o que tornava necessrio o

    disciplinamento e, consequentemente, desenvolver habilidades psicofsicas, nos futuros

    trabalhadores.

    Conforme a mesma (KUENZER, 2007, p.31):

    Nessa concepo, que fundamentou os cursos de treinamento das empresas, de qualificao profissional das agncias formadoras e os mdios profissionalizantes, o desenvolvimento das competncias intelectuais superiores e o domnio do conhecimento cientfico-tecnolgico no se apresentavam como necessidade para os trabalhadores. Para estes, o conceito de competncia profissional compreendia alguma escolaridade, treinamento para a ocupao e muita experincia, de cuja combinao resultava destreza e rapidez, como resultado de repetio e memorizao de tarefas bem-definidas, de reduzida complexidade, e estveis.

    Observamos que a educao no Brasil, nos nveis mdios e profissionalizantes,

    prezava formar o aluno sob os interesses de tal sistema. Desta forma, as metodologias de

    ensino pautavam-se na memorizao e na repetio de atividades, dada a necessidade do

    aluno, enquanto futuro trabalhador, assumir uma nica funo e desempenhar uma

    atividade repetitiva e mecanizada.

    No campo da educao profissional, sob a tica do sistema taylorista-fordista,

    tornou-se necessrio que o trabalhador no somente dominasse a tcnica, mas que

    recebesse um treinamento ofertado por um profissional habilitado para tal funo e, que

    este, ao ser formado, obtivesse um certificado e, consequentemente, a aprovao dos outros

    profissionais membros da comunidade.

  • Nesse sentido, complementa Ramos (2005) que:

    [...] a necessidade de se teorizar as atividades prticas, buscam-se em certa medida, sua bases cientfica, o que levou a aproximao da formao tcnica com as cincias da formao geral. [...] de modo que a formao profissional passou a obedecer a uma seqncia clara e linear: fundamentos seguidos por mtodos e esses seguidos pela experimentao.

    Nessa perspectiva, a teorizao era dada pelas disciplinas existentes no currculo

    de ensino. Nesse sentido, o eletricista necessitaria ter conhecimento em Fsica, o tcnico

    em Enfermagem deveria ter domnio em Biologia e, assim, sucessivamente.

    Essa forma organizacional da educao vigorou no Brasil, at meados da dcada

    de 1980. Pois, aps o capitalismo sofrer uma nova crise levando o mesmo a reestruturar-

    se para manter sua hegemonia surge a necessidade formar um novo perfil de trabalhador.

    Iniciam-se ento, conforme Arelaro (2000), as discusses sobre a criao de uma

    nova Lei de Diretrizes e Bases, visando atender a esses novos interesses sob o discurso de

    garantir a educao para todos e, conseqentemente, atender os compromissos assumidos

    com os rgos internacionais, que financiariam a educao no pas, para que este atingisse

    o objetivo proposto.

    Analisando para alm do discurso do Estado, em garantir a educao para todos,

    verificamos que o processo de mundializao do sistema Toyota, se caracteriza pela

    produo mnima e pelo trabalhador flexvel, critico, autnomo, independente, tico, etc.,

    engendrou a necessidade de formar os trabalhadores nesses moldes, para que assim, o

    sistema capitalista conseguisse manter seu poderio frente populao.

    Sob essa tica a educao, nesse momento, deveria modificar-se para atender

    nova demanda. Nesse sentido salienta Arelaro (2000, p.98) que:

    [...] o ministro da Educao e Cultura (MEC) Murilo Hingel acelera o projeto de discusso nacional para a elaborao de Plano Nacional de Educao para Todos, criando Grupos de Trabalho compostos por integrantes do MEC e da diferentes entidades nacionais, inclusive o Sindicato dos Profissionais de Educao do pas a CNTE, a Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao (UNDIME) e o Conselho Nacional de Secretrios Estaduais de Educao (CONSED) , que expressasse, em algum nvel, compromisso na rea educacional, pactualmente entre o governo e a sociedade

    Nesse perodo, verificamos que o Brasil adere aos objetivos dos rgos

    internacionais, compostos pela UNESCO, Banco Mundial e FMI, recebendo orientaes e

    firmando compromissos com os mesmos que, mediante o discurso de tornar a escola

  • acessvel a todos, camuflou seu real interesse: capturar a subjetividade dos futuros

    trabalhadores, para que estes no questionem a estrutura social vigente e assim, elimine-se

    a possibilidade de um pensamento contra-hegemnico que vise abalar a hegemonia do

    capitalismo.

    Aps inmeras discusses frente reformulao da LDB, institui-se em 1996 a

    Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96. Para formar o pblico atendido pela escola, sob os

    interesses do capital. Para tanto, o art. 35 (BRASIL, 1996) institui para o Ensino Mdio

    como finalidades:

    I - a consolidao e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;II - a preparao bsica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condies de ocupao ou aperfeioamento posteriores;III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formao tica e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crtico;IV - a compreenso dos fundamentos cientfico-tecnolgicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prtica, no ensino de cada disciplina.

    A partir da presente exposio, podemos observar com clareza os objetivos do

    Estado frente formao que ser ofertada os alunos no Ensino Mdio. Objetivos estes,

    que tm por finalidade atender os interesses do capital e no os anseios dos alunos e/ou da

    regio em que estes esto inseridos.

    Nessa mesma direo, complementa Kuenzer (2007, p.32):

    O novo discurso refere-se a um trabalhador de novo tipo, para todos os setores da economia, com capacidades intelectuais que lhe permitam adaptar-se produo flexvel. Dentre elas, algumas merecem destaque: a capacidade de comunicar-se adequadamente, com o domnio dos cdigos e linguagens, incorporando, alm da lngua portuguesa, a lngua estrangeira e as novas formas trazidas pela semitica, a autonomia intelectual, para resolver problemas prticos utilizando os conhecimentos cientficos, buscando aperfeioar-se continuamente; a autonomia moral, atravs da capacidade de enfrentar as novas situaes que exigem posicionamento tico; finalmente, a capacidade de comprometer-se com o trabalho, entendido em sua forma mais ampla de construo do homem e da sociedade, atravs da responsabilidade, da crtica, da criatividade.

    Vale lembrar que todas as mudanas ocorridas no cenrio educacional brasileiro

    foram geradas, mediante ao papel assumido pela escola em atender a demanda do capital,

    suprindo suas necessidades, ao formar trabalhadores para atuarem nesses espaos.

  • Com a instituio da LDB 9.394/96, essa realidade no modificou, pois a escola

    na sociedade capitalista nada mais do que um instrumento utilizado pelo sistema para a

    manuteno de sua estrutura hegemnica.

    Sendo assim, frente apresentao da autora supracitada sobre a formao desse

    novo trabalhador, percebemos claramente o compromisso assumido pela escola, uma vez

    que as prprias diretrizes educacionais so elaboradas sob o vis do capitalismo. Como

    podemos verificar no Art. 36 da LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996) quanto ao currculo do

    Ensino Mdio:

    Art. 36. O currculo do ensino mdio observar o disposto na Seo I deste Captulo e as seguintes diretrizes:I - destacar a educao tecnolgica bsica, a compreenso do significado da cincia, das letras e das artes; o processo histrico de transformao da sociedade e da cultura; a lngua portuguesa como instrumento de comunicao, acesso ao conhecimento e exerccio da cidadania;II - adotar metodologias de ensino e de avaliao que estimulem a iniciativa dos estudantes;III - ser includa uma lngua estrangeira moderna, como disciplina obrigatria, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em carter optativo, dentro das disponibilidades da instituio.IV sero includas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatrias em todas as sries do ensino mdio. (Includo pela Lei n 11.684, de 2008) 1 Os contedos, as metodologias e as formas de avaliao sero organizados de tal forma que ao final do ensino mdio o educando demonstre:I - domnio dos princpios cientficos e tecnolgicos que presidem a produo moderna;II - conhecimento das formas contemporneas de linguagem;

    Neste sentido o Ensino Mdio dever oportunizar ao educando algumas noes de

    cincia, tecnologia letras e artes e, assim, proporcionando aos mesmos uma educao geral

    e desvinculada dos conhecimentos econmicos e polticos, necessrios compreenso da

    sociedade em suas mltiplas determinaes.

    Outra realidade que se faz presente no contexto brasileiro, que no h empregos

    para todos. E mesmo os poucos includos na sociedade, em suma, a classe mdia,

    necessitam de ampla qualificao profissional, para adquirir um emprego rendoso.

    No mbito educacional, salienta Kuenzer (2007, p.32) que:

    [...] Na verdade, cria-se uma nova casta de profissionais qualificados, a par de um grande contingente de trabalhadores precariamente educados, embora ainda includos, porquanto responsveis por trabalhos tambm crescentemente precarizados. Completamente fora das possibilidades da produo e do consumo, e em decorrncia, do direito educao e formao profissional de qualidade, uma grande massa de excludos cresce a cada dia, como resultado do prprio carter concentrador do capitalismo, acentuado por esse novo padro de acumulao.

  • A partir do exposto, podemos dividir a sociedade em quatro grupos sociais: o

    primeiro composto pela Elite, detentores do poder e de grande parte dos bens produzidos

    socialmente. O segundo grupo, composto pela classe mdia, que recebe uma formao

    tecnolgico-cientfica necessria para assumir funes que requerem tal formao. O

    terceiro grupo composto por parte da grande massa da populao assalariada e que,

    unicamente, tm acesso ao ensino tcnico necessrio ao suprimento dos anseios da

    produo e o quarto grupo, composto pelos desempregados e pelas pessoas que atuam no

    mercado informal, no tendo assegurados, direitos trabalhistas.

    Frente essa realidade, Kuenzer (2007, p.42) afirma que:

    Em resumo, a efetiva democratizao de um Ensino Mdio que ao mesmo tempo prepara para a insero no mundo do trabalho e para a cidadania, complementando nos nveis subseqentes por formao profissional cientfico-tecnolgica e scio-histrica, tal como o proposto nas finalidades expressas na legislao, exigem condies materiais que no esto dadas para o caso brasileiro.

    luz dessa afirmao, salientamos que a educao no Brasil, ao mesmo tempo

    em que forma uma camada da populao para o trabalho, visando atender demanda social

    do momento, esta no possui condies de oportunizar a todos essa formao. Alm do

    mais, os prprios formados por essas instituies devero disputar acirradamente um

    emprego. Sob essa realidade, verificamos que a formao profissional no garante a todos

    a insero no mercado de trabalho, pois somente os melhores sero includos.

    Nessa mesma direo, afirma Frigotto (2005, p.75) que:

    [...] um estudante que concluiu o nvel mdio de ensino em qualquer pas da Comunidade Europia e que fizer um curso de 50 horas sobre uma mudana na base tcnica da produo, seu aproveitamento ser extraordinariamente maior e efetivo em relao a um trabalhador brasileiro que enfrente a mesma situao com dois, quatro ou oito anos de escolaridade. No pelo fato de o estudante da Comunidade Europia ser mais inteligente que o brasileiro, mas pelo fato de ter tido um curso de nvel mdio com uma materialidade de condies (laboratrios, bibliotecas, material didtico, tempo de estudo, formao, condies de trabalho e salrio dos professores etc.) sem comparaes com a maioria de nossos estudantes. A grande parte, aproximadamente 60% dos que freqentam o ensino mdio no Brasil, o fazem de forma supletiva e/ou noite.

    Sobre o questionamento para qual sociedade e para trabalho o pblico atendido

    pela escola est sendo formado, respondemos de forma clara que: estamos formando para

    uma sociedade desigual e excludente, em que a elite ir adquirir os cargos melhor

  • remunerados, a classe mdia assumir os cargos que requerem formao cientfico-

    tecnolgica, assumindo o papel de mediao entre a elite e os demais trabalhadores, os

    filhos da classe trabalhadora adentraro nos trabalhos que demandam formao tcnica, e

    aqueles que esto margem desse contexto devero adentrar no mercado informal,

    aderindo ao subemprego para assim, garantir sua sobrevivncia.

    Diante dessa realidade, defende Kuenzer, (2007, p.43) que:

    A escola pblica no ensino Mdio s ser efetivamente democrtica quando seu projeto pedaggico, sem pretender ingenuamente ser compensatrio, propiciar as necessrias mediaes para os que menos favorecidos estejam em condies de identificar, compreender e buscar suprir, ao longo de sua vida, suas necessidades com relao participao na produo cientfica, tecnolgica e cultural.

    Nesse sentido, frisamos, luz dos estudos da autora supracitada, que antes de

    pensarmos em formar o aluno para o mercado de trabalho, devemos pensar em preparar o

    mesmo para a vida, a fim de preparar os alunos para o enfrentamento dessa

    desigualdade, tendo conscincia do papel que ir desempenhar na sociedade e,

    consequentemente, adquirindo subsdios de teor crtico para lutar por melhores condies

    de vida.

    Aps este breve histrico da sociedade capitalista e a relao desta com a

    educao no cenrio educacional brasileiro, iremos analisar o posicionamento dos autores

    selecionados frente possibilidade de integrar educao e trabalho no Ensino Mdio.

    2. EDUCAO E TRABALHO NO ENSINO MDIO: O QUE DIZEM OS AUTORES

    FRENTE A ESSA QUESTO?

    Tendo em vista que a educao representa um dos instrumentos utilizados para

    atender s necessidades do mercado preparando os alunos para o trabalho defendem os

    autores selecionados, para presente anlise uma postura contrria essa finalidade.

    Contudo, no h como negar a importncia do trabalho como princpio educativo, uma vez

    que na escola que os alunos se apropriam dos conhecimentos construdos socialmente, no

    qual o principal fator para tal construo nada mais do que o prprio trabalho.

    Sendo assim, para Ciavatta (2005), o Ensino Mdio deve ser integrado ao ensino

    tcnico, visando proporcionar aos alunos uma educao geral vinculada a um ensino

    profissionalizante, superando assim, a dicotomia trabalho manual e trabalho intelectual ao

    enfocar o trabalho como princpio educativo em todos os nveis de ensino.

  • Sob esse vis, afirma Frigotto que (2005, p.60)

    [...] O trabalho como princpio educativo deriva do fato de que todos os seres humanos so seres da natureza e, portanto, tm a necessidade de alimentar-se, proteger-se das intempries e criar seus meios de vida. fundamental socializar, desde a infncia, o princpio de que a tarefa de prover a subsistncia, e outras esferas da vida pelo trabalho, comum a todos os seres humanos, evitando-se, desta forma, criar indivduos ou grupos que exploram e vivem do trabalho dos outros. Estes, na expresso de Gramsci, podem ser considerados mamferos de luxo seres de outra espcie que acham natural explorar outros seres humanos

    Tendo o trabalho como principio educativo, esses tericos, luz dos estudos de

    Gramsci, defendem a idia de proporcionar aos alunos os conhecimentos necessrios

    garantia de sua subsistncia, para que os mesmos se reconheam enquanto indivduos que

    necessitaro do trabalho para sobreviver e no para explorar outrem, em seu benefcio.

    Nesse sentido, complementa Frigotto (2005, p.60) que: O trabalho como

    princpio educativo, ento, no primeiro e, sobretudo, uma tcnica didtica ou

    metodolgica no processo de aprendizagem, mas um princpio tico-poltico.

    Nessa mesma direo, Ramos (2005, p.119-120), pautada nos mesmos princpios,

    afirma que:

    Ter o trabalho como princpio educativo implica referir-se a uma formao baseada no processo histrico e ontolgico de produo da existncia humana, em que a produo do conhecimento cientfico uma dimenso. Por exemplo, a eletricidade como fora natural abstrata existia mesmo antes de sua apropriao como fora produtiva, mas no operava na histria. Enquanto era uma hiptese para a cincia natural era um nada histrico at que passa a se constituir como conhecimento que impulsiona a produo da existncia humana sobre as bases materiais e sociais concretas.

    Sob esse enfoque, entendemos que uma temtica especifica oportuniza inmeras

    leituras, que compem uma totalidade. Sendo assim, deve-se analisar um tema no mbito

    poltico, social, econmico, tcnico, cultural, e principalmente, histrico e ontolgico. E,

    mesmo, desmembrando num determinado momento o aspecto econmico, por exemplo, o

    presente tema no ser analisado de forma fragmentada, mas sim, de forma articulada aos

    demais fatores.

    Pautada no principio de que o homem se constri, a partir de sua relao com a

    natureza e com os prprios homens, afirma Ramos (2005), luz dos estudos de Mszaros e

    Lukcs que o trabalho caracteriza-se como uma mola propulsora da existncia humana, ou

    seja, o trabalho inerente ao homem e, atravs dele, que o mesmo produz conhecimento,

    cultura e os bens necessrios sua sobrevivncia.

  • Portanto, para que tenhamos uma educao nos moldes contrrios hegemonia do

    sistema, defende Kuenzer (2007) a necessidade de o Ensino Mdio pautar-se em alguns

    princpios bsicos antes de elaborar uma proposta que atenda as pessoas que vivem do

    trabalho.

    Dentre eles, destaca a autora a universalizao da educao, ampliando as vagas,

    reduzindo os ndices de repetncia e de evaso escolar. Bem como, uma unidade de

    orientao, que contemple o conhecimento cientfico, articulado com as tecnologias e com

    o saber histrico-crtico da sociedade, proporcionando ao individuo se reconhecer como

    um sujeito que histria e faz histria.

    Sendo assim, entendemos que para todas as classes sociais tenham acesso

    educao, enquanto formadora do sujeito emancipado, torna-se importante estruturar uma

    proposta pedaggica pautada nos saberes histrico atrelada com a realidade atual, de forma

    que propicie a todos uma formao satisfatria para o atendimento dos anseios dos alunos,

    tendo como premissa a necessidade de reduzir a repetncia e manter os alunos presentes na

    escola.

    Sendo assim, conforme Kuenzer (2007, p.46):

    A unidade de orientao, portanto, assegura a unitariedade da educao, partindo do pressuposto que todos os jovens, independentemente de sua origem de classe, tm os mesmos direitos de acesso ao conhecimento, na perspectiva da cidadania, que pressupe a participao na produo, no consumo, na cultura e na poltica.

    Tambm defende Kuenzer (2007), a importncia de cada escola criar alternativas

    que atendam a necessidade local, envolvendo no somente os pais dos alunos, mas, toda a

    comunidade. No se esquecendo de considerar os recursos existentes na escola e as

    caractersticas da regio.

    Podemos perceber que a autora defende a melhoria da qualidade educacional

    mediante uma educao que integre os conhecimentos cientficos, tecnolgicos e scio-

    histricos, proporcionando aos indivduos uma gama de saberes necessrios ao usufruto

    dos bens criados, historicamente.

    Sob esse enfoque, afirma Ramos (2005, p.121) que:

    [...] O estudo de Cincias Humanas e Sociais em articulao com as Cincias da Natureza e Matemtica, e das Linguagens, pode contribuir para a compreenso do processo histrico-social da produo de conhecimento, mediante o questionamento dos fenmenos naturais e sociais na sua obviedade aparente.

  • Nesse sentido, compreendemos, luz dos estudos de Ramos (2005), que ao

    elaborar um currculo integrado, deve-se contemplar a anlise dos mais diversos

    fenmenos em suas mltiplas determinaes, propiciando aos alunos a articulao de um

    objeto de estudo com todas as disciplinas do Ensino Mdio. Assim, o aluno conhecer um

    determinado assunto sob o vis da histria, geografia, qumica, fsica, biologia, etc., o que

    culminar na compreenso das mltiplas determinaes que compem tais objetos.

    Portanto, devemos frisar a importncia da interdisciplinaridade no processo

    educativo, pois desta forma o aluno adquirir elementos necessrios compreenso da

    sociedade em sua totalidade, o que lhe permitir questionar a estrutura social vigente e, a

    partir desses questionamentos, poder reivindicar melhores condies e,

    consequentemente, suprimento de suas necessidades e, no dos interesses do capitalismo

    selvagem.

    Entretanto, o fato econmico representa grande importncia para elaborar a

    aplicar esses preceitos na escola, pois inegvel que para dar o suporte necessrio aos

    alunos os quais vivem do trabalho, democratizando verdadeiramente o Ensino Mdio e

    proporcionando s mesmas, condies educacionais que os filhos da Elite recebem, torna-

    se necessrio o financiamento da educao, para a construo de laboratrios, bibliotecas,

    material didtico-pedaggico, etc.

    Nesse sentido, afirma a Kuenzer (2007, p.47) que:

    Em face da crise de financiamento, preciso decidir com realismo e buscar a otimizao dos recursos disponveis na escola e na comunidade, o que no significa desobrigar o Estado de suas responsabilidades, mas ter clareza de que, para os que vivem do trabalho, a escola pblica de qualidade a nica alternativa para a apropriao do conhecimento, tendo em vista a cada vez mais difcil construo da dignidade humana, finalidade mxima a orientar a elaborao do projeto poltico-pedaggico.

    Nesse sentido, a escola necessita explorar, ao mximo, os recursos que j

    possuem, elaborando uma proposta pedaggico-curricular fundamentada na sua realidade

    e, paralelamente, a essa situao, cobrar do Estado o exerccio de sua responsabilidade,

    quanto ao financiamento de materiais necessrios ao suprimento das necessidades de seu

    contexto.

    Alm do financiamento, salienta Ciavatta (2005): outro fator agravante que

    fragmenta o sistema educacional brasileiro caracteriza-se pelas mudanas ocorridas no

    ensino, nos nveis mdio e profissional, que culminaram em alteraes na identidade das

  • escolas a qual no foi construda pela comunidade, mas sim, pelo Estado, visando

    reproduzir sua hegemonia.

    Tal fato, conforme a mesma impede que a escola preserve sua memria e sua

    identidade, uma vez que a mesma confrontada e vencida pelas novas necessidades e

    tendncias educacionais.

    Nessa mesma direo, afirma Kuenzer (2007) que as escolas de Ensino Mdio

    no possuem uma identidade prpria, em decorrncia de seu surgimento atrelado ao Ensino

    Fundamental e das determinaes impostas do capital. E defende tambm que este nvel de

    ensino deve construir sua prpria identidade, visando atender demanda dos jovens e

    adultos, a partir de sua articulao com a comunidade.

    Sendo assim, afirma Ciavatta (2005, p.98) que:

    Assim, para que as escolas sejam capazes de construir organicamente seu prprio projeto poltico-pedaggico, assumirem o desafio de uma formao integrada, reafirmando sua identidade, preciso que conheam e compreendam a prpria histria. Que reconstituam e preservem sua memria, compreendam o que ocorreu consigo ao longo dos ltimos oito anos de reforma e, ento, a partir disto, possam decidir coletivamente para onde querem ir, como um movimento permanente de auto-reconhecimento social e institucional.

    Perante as necessidades do Ensino Mdio, com relao ao que foi exposto

    anteriormente, podemos perceber que as escolas devem preservar sua histria, valorizando

    seu contexto e se estruturando para atender a essa realidade, gozando de sua autonomia na

    elaborao de sua proposta pedaggica, a partir dos anseios da regio. Autonomia essa, que

    segundo Kuenzer (2007) supracitada, assegurada pela LDB e aprovada pelo CNE e pelo

    Ministrio da Educao.

    Contudo, vale lembrar que tal autonomia no descentraliza a responsabilidade do

    Estado frente ao financiamento da instituio de ensino. Ao contrrio, ambos, Estado e

    escola devem articular-se visando atingir as metas criadas pela escola.

    Desta forma, afirma a autora (KUENZER, 2008, p.52-53) que:

    [...] compete escola a responsabilidade de propor e executar um projeto poltico pedaggico que avance, mas tenha os ps no cho, cabe ao poder pblico criar condies para a sua viabilizao, sem comprometer a qualidade e o carter pblico da educao nos estabelecimentos oficiais.

    Percebemos ento, que a escola deve estruturar-se a partir de sua realidade,

    otimizando ao mximo os recursos existentes na instituio e cobrando do Estado os

  • recursos necessrios para o suprimento da demanda, utilizando conscientemente os

    recursos j existentes e, o financiamento recebido.

    Tendo esses conceitos como premissa, verificaremos no ltimo momento dessa

    pesquisa o posicionamento dos autores frente a elaborao de um proposta que elimine o

    dualismo educacional e a excluso da massa frente a gama de conhecimentos construdos

    historicamente.

    2.1 Uma proposta para alm dos interesses do Estado.

    Ramos (2005), ao analisar os projetos que vigoraram no sistema educacional

    brasileiro apresenta o descaso do Estado frente formao da pessoa humana e a

    preocupao nica com a formao do trabalhador produtivo. E, defende a mesma a

    necessidade de elaborar um projeto educacional que, ao contrrio dos interesses do Estado,

    centre-se no sujeito e nos conhecimentos pertinentes compreenso e transformao da

    sociedade atual.

    Nessa mesma direo afirma a mesma, que ao elaborar um projeto vinculado

    formao profissional, deve-se frisar a importncia em proporcionar aos educandos a

    possibilidade de compreender, para futuramente transformar a realidade, tendo como

    subsdios necessrios essa possibilidade o entendimento dos aspectos tcnico, poltico,

    econmico e cultural que compem a sociedade atual.

    Sob esse prisma, afirma Frigotto (2005, p.74) que:

    [...] Trata-se de desenvolver os fundamentos das diferentes cincias que facultem aos jovens a capacidade analtica tanto dos processos tcnicos que engendram o sistema produtivo quanto das relaes sociais que regulam a quem e a quantos se destina a riqueza produzida. Como lembrava Gramsci, na dcada de 1920: uma formao que permitia o domnio das tcnicas, as leis cientficas e a servio de quem e de quantos est a cincia e a tcnica. Trata-se de uma formao humana que rompe com as dicotomias geral e especfico, poltico e tcnico ou educao bsica e tcnica, heranas de uma concepo fragmentria e positivista de realidade humana.

    Nesse sentido, no desconsidera Frigotto, a ligao existente entre o ensino mdio

    e a formao profissional. Entretanto, para que todos recebam uma educao satisfatria,

    sem dualismo educacional, torna-se pertinente resgatar a idia da criao de um sistema

    nacional pblico de educao, em que no haja desigualdade educacional e, que seus

    princpios sejam contrrios ao que fora determinado pelo capitalismo.

    Frigotto (2005, p.76) defende tambm que:

  • O ensino mdio, concebido como educao bsica e articulado ao mundo do trabalho, da cultura e da cincia, constitui-se em direito social e subjetivo e, portanto, vinculado a todas as esferas e dimenses da vida. Trata-se de uma base para o entendimento crtico de como funcionava o mundo da natureza, da qual fazemos parte. Dominar no mais elevado nvel de conhecimento estes dois mbitos condio prvia para construir sujeitos emancipados, criativos e leitores crticos da realidade onde vivem e como condies de agir sobre ela. Este domnio tambm condio prvia para compreender e poder atuar com as novas bases tcnico-cientficas do processo produtivo.

    Frente essa viso, observamos a contribuio que as categorias trabalho, cincia

    e cultura propiciam aos alunos. Pois, atravs de tal articulao, os mesmos podero analisar

    a sociedade criticamente, bem como, atuar no mercado de trabalho consciente do papel que

    desempenham e, quando necessrio, recusar possveis situaes, que os excluam ou que os

    torne explorados pelo sistema.

    Frente articulao de tais categorias, Kuenzer (2007) explicita que em face

    limitao cultural das pessoas menos favorecidas, o Ensino Mdio ao articular a cincia, a

    cultura e o trabalho poder suprir as carncias dessas pessoas e universalizar o

    conhecimento, que no mais ser oportunizado a uma pequena camada da populao, mas

    sim, ser ofertada a todos.

    Nesse sentido, complementa a mesma (KUENZER, 2007, p.44) que:

    A nova escola mdia, portanto, poder trabalhar com contedos diferentes para alunos cuja relao com o trabalho, com a cincia e com a cultura ocorre diferentemente, desde que sua finalidade, articulada do Sistema Educacional como um todo, seja fazer emergir, em todos os alunos, o intelectual trabalhador, ou, no dizer de Gramsci, o verdadeiro dirigente, porquanto nem s especialista nem s poltico, mas expresso de um novo equilbrio entre o desenvolvimento das capacidades de atuar praticamente e de trabalhar intelectualmente.

    A partir do que fora apresentado, salientamos que tal articulao visa superar o

    dualismo educacional, que tem relegado grande massa da populao os conhecimentos

    necessrios ao olhar consciente da estrutura organizacional da sociedade. Sob esse

    enfoque, sua importncia se faz presente mediante possibilidade do trabalhador

    compreender com preciso as mudanas que ocorrem na sociedade, nos mbitos cientfico

    e tecnolgico, e consequentemente, nos mecanismos de produo.

    Por essa razo, enfatiza Frigotto (2005, p.77) que: [] no se superam as

    desigualdades no mbito educativo e cultural sem, concomitantemente, superar a

    materialidade de relaes sociais que as produzem.

  • Portanto, conforme Ramos (2005), o Ensino Mdio Integrado no se pauta,

    unicamente, a proporcionar aos alunos a possibilidade de analisar a realidade para alm dos

    fenmenos. Mas sim, preocupa-se em incorporar na estrutura do ensino a anlise histrica

    do homem proporcionando, no educando, a compreenso da concepo de homem,

    enquanto um sujeito histrico-social e que, a partir do trabalho, produz e reproduz

    conhecimentos, transformando a natureza em benefcio prprio ou de um grupo social.

    Por essa razo, entendemos, luz dos estudos de Kuenzer, que a no articulao

    dos itens supracitados restringiriam a formao dos alunos ao mero preparo destes para o

    trabalho.

    Portanto, cabe escola utilizar-se de sua autonomia para estruturar um projeto

    poltico-pedaggico pautado na necessidade de desenvolver a conscincia crtica dos

    alunos para superar a desigualdade existente na sociedade e, automaticamente, propiciar

    aos alunos, os elementos necessrios para a construo de uma sociedade mais justa e

    verdadeiramente igualitria.

    Por fim, conclumos que a educao, na perspectiva dos autores apresentados, tem

    como finalidade desconstruir a dualidade estrutural presente na realidade educacional

    brasileira, na qual, alm de marginalizar a populao que vive do trabalho dos bens

    construdos historicamente nos mbitos cultural, produtivo, cientfico, tecnolgico e

    econmico , tem relegado essa massa uma situao desigual e precria, ao passo que a

    Elite, alm de deter o poder, concentra grande parte dos bens produzidos custa desses

    prprios trabalhadores, que se encontram nessas situaes pauperizadas.

    REFERNCIAS

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