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 Direito Penal III 1 Consequências Jurídicas dos Crimes  Objecto da doutrina das consequências jurídicas do crime O que constitui o objecto do DP III são as consequência s jurídicas do crime. Para que se verifique um crime é necessário que haja uma acção típica, ilícit a, culposa e  punível.  No DP vale o  princípio da legalida de , o que significa que “não há crime nem pena sem lei”. Todas as sanções penais aplicáveis têm que estar descritas na lei ( art.40 a 130, CP).  A doutrina das consequências jurídicas do crime tem como objecto:  As penas: - Principais : Prisão Multa: alternativa autónoma - Acessórias - Substituição  Aplicáveis as pessoas singulares e as pessoas colectivas  As medidas de segurança : - Privativas da liberdade - Não privativas da liberdade Reacções criminais previstas no nosso sistema sancionatório  Nota:  Nota: pode haver situações em que ao mesmo agente seja aplicada uma pena e uma medida de segurança, desde que esta não seja privativa da liberdade.  No objecto das consequências jurídicas do crime há a inclusão de: Pressupostos positivos da punição (art.113 e ss) Pressupostos negativos da punição (art.118 e ss , 122 e ss e 127 e ss)  Tipos de penas 2009/2010  Pena: sanção criminal que pressupõe a culpa do agente Ou seja, O pressuposto da aplicação da  pena é a culpa do agente Medidas de segu raa: sanção criminal que pressupõe a  perigosida de do agente . São aplicadas independentemente de culpa. Ou seja, O pressuposto da aplicação da medida de segura nça é a  perigosidade do agente (Receio que o agente cometa no futuro os mesmos factos)

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Direito Penal III 1

Consequências Jurídicas dos Crimes

√ Objecto da doutrina das consequências jurídicas do crime

O que constitui o objecto do DP III são as consequências jurídicas do crime.

Para que se verifique um crime é necessário que haja uma acção típica, ilícita, culposa e punível. No DP vale o princípio da legalidade, o que significa que “não há crime nem pena sem

lei”. Todas as sanções penais aplicáveis têm que estar descritas na lei (art.40 a 130, CP).

⇒ A doutrina das consequências jurídicas do crime tem como objecto:↝ As penas:

- Principais:PrisãoMulta: alternativa

autónoma

- Acessórias- Substituição

  Aplicáveis as pessoas singulares e as pessoas colectivas

↝ As medidas de segurança:- Privativas da liberdade- Não privativas da liberdade

Reacções criminais previstas no nosso sistema sancionatório

 Nota: Nota: pode haver situações em que ao mesmo agente seja aplicada uma pena e umamedida de segurança, desde que esta não seja privativa da liberdade.

 No objecto das consequências jurídicas do crime há a inclusão de:Pressupostos positivos da punição (art.113 e ss)

Pressupostos negativos da punição (art.118 e ss, 122 e ss e 127 e ss)

√ Tipos de penas

2009/2010

Pena: sanção criminal quepressupõe a culpa do agente

Ou seja,O pressuposto da aplicação da

 pena é a culpa do agente

Medidas de segurança:sanção criminal quepressupõe a perigosidade doagente. São aplicadasindependentemente deculpa.Ou seja,O pressuposto da aplicação damedida de segurança é a

 perigosidade do agente

(Receio que o agentecometa no futuro osmesmos factos)

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Direito Penal III 2

∙ Penas principais: são aquelas que estão expressamente previstas no tipo legal decrime e que podem ser fixadas pelo juiz na sentença independentemente de qualquer outra

 pena.

Só temos dois tipos de penas principais para as pessoas singulares:⁃ Pena de prisão  p.ex. art.131⁃ Pena de multa, poder ser; p.ex. art.217

Alternativa: quando no tipo legal de crime surge a alternativa à pena de prisão ( p.ex.art.143/1)

Autónoma: quando é a única pena prevista no tipo legal de crime ( p.ex.art.268/3, 366/2)

Para as pessoas colectivas temos: ⁃ Pena de dissolução⁃ Pena de multa

Antes de 1995, havia a multa complementar (multa + pena de prisão ao mesmo tempo).Hoje isso não é possível no CP, mas é possível em legislação penal extravagante.

∙ Penas de substituição: são aplicadas e executadas em vez de uma pena principal, ou

seja, são penas que podem substituir qualquer uma das penas principais concretamentedeterminadas.

Têm a sua circunscrição à pequena e média criminalidade, quando o tribunal aplica uma pena de prisão não superior a 5 anos ou uma pena de multa não superior a 240 dias.

 Nos finais do séc. XIX constatou-se que não era viável aplicar penas de prisão de curtaduração. Por vezes, a prisão potência a perigosidade criminal do agente, tem um efeitocriminógeno sobre o agente, o que levou ao aparecimento destas penas de substituição, parasubstituírem as penas de prisão até 5 anos (antes da reforma de 2007 era de 3 anos)

Este movimento faz alusão ao princípio da necessidade, estabelecendo a pena de prisãocomo pena de última ratio (art.18 da CRP).

Segundo a Doutora Maria Antunes com a reforma de 2007 podia-se ter ido mais longe,dado que se podia incluir na pena principal outras penas para além da pena de prisão e da penade multa, p.ex. a pena de prestação de trabalho a favor da comunidade.

Para as pessoas singulares:⁃ Pena de substituição da pena de multa

A única que existe é admoestação, que é uma censura oral feita aoarguido em tribunal pelo juiz (art.60)⁃ Penas de substituição da pena de prisão:

art.43 nº1 e nº3: substituição da pena de prisão pela pena de multaart.44 nº1 al.a): regime de permanência na habitaçãoart.45: Prisão por dias livres (prisão de fins de semana)

art.46: regime de semi-detenção (o agente durante o dia sai da prisão e à noite regressa)art.50: suspensão da execução da pena de prisãoart.58: prestação de trabalho a favor da comunidade

Para as pessoas colectivas e equiparadas: art.90-C, art.90-D, art.90-E

A distinção entre as  penas principais e as  penas de substituição nãoé uma distinção puramente conceitual.

O facto de uma situação ser catalogada de certa forma pode terefeitos ao nível da interpretação e da solução.

Não é insignificante qualificar uma pena de principal ou desubstituição, pois pode ser determinante entre a prisão e a liberdade

§

2009/2010

 p.ex. Art.90-A nº1, 90-B,90-F

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Direito Penal III 3

∙ Penas acessórias: são penas cuja aplicação pressupõe a fixação na sentençacondenatória de uma pena principal ou de uma pena de substituição, ou seja, são aplicadasconjuntamente com uma pena principal ou com uma pena de substituição.

Para as pessoas singulares:art.66: proibição do exercício de funçãoart.67: Suspensão do exercício de função

art.69: proibição de conduzir veículo com motor art.152 nº4: proibição de contacto com a vítima …art.179 art.163: inibição do poder paternal e proibição do exercício de funçõesart.246: incapacidades  art.346: penas acessórias

Para as pessoas colectivas temos: art. 90-G e ss

O legislador considera que muitas vezes a aplicação de uma única pena não asseguraeficazmente a prevenção geral sendo necessário uma resposta específica, logo faz sentidoaplicar cumulativamente uma pena acessória.

√ Medidas de segurança∙ Privativas de liberdade

Aplicável a inimputáveis por anomalia psíquicaart.99  art.91: internamento

∙ Não privativas de liberdadeAplicável a imputáveis como inimputáveisart.100: interdição de actividadesart.101: cassação do título de condução de veículo com motor 

√ Institutos que estão correlacionados com a prática de um crimeA prática de um crime pode dar também a condenação do agente a indemnizar a vítima.Indemnização de perdas e danos emergentes da prática de um crime, pois com a

consequência de um crime podem existir danos.Antes do CP de 1982 havia uma indemnização que tinha o nome de reparação que era

um efeito penal da condenação, pois era arbitrada oficiosamente e esta reparação não seidentificava com a indemnização civil, nem quanto aos fundamentos, nem quanto à suafinalidade.

Ex.  Crime de ofensa à integridade física numa discussão, há pancadaria e danos noautomóvel de A. Pode haver lugar a uma indemnização pelos danos causados, medicação e

hospital.Antes do CP actual havia um instituto de reparação que tinha um efeito indemnizatório,que era arbitrariamente oficioso, mas que não se identificava com a indemnização civil, nemquanto aos fundamentos, nem quanto à sua finalidade. O estudo da reparação fazia-se comouma verdadeira consequência jurídica do crime.

Actualmente, o art.129 pressupõe que a indemnização por perdas e danos emergentes deum crime é regulada pela lei civil, por isso esta indemnização só é relevante do ponto de vistado direito civil, não sendo uma consequência jurídica de carácter criminal.

Contrariamente ao que acontece com a reparação que era arbitrada oficiosamente, aindemnização tem de ser sempre solicitada pelo lesado (art.129), em atenção ao princípio do

 pedido.

Entre nós, vigora o princípio da adesão do pedido de indemnização civil ao processo penal (art.71, CPP), o pedido de indemnização civil, ele é feito no próprio processo penal,devido ao princípio da economia processual.

2009/2010

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Direito Penal III 4

Apesar do princípio de adesão existe uma plena autonomia da indemnização civil emrelação ao julgamento do crime (art.84, CPP), pode haver absolvição quanto à prática do crime,mas não pode haver condenação quanto ao pagamento de uma indemnização civil.

Tem-se vindo a falar novamente na reparação, como uma nova sanção penal, aliada às penas e às medidas de segurança. Isto, porque muitas vezes o interesse da vitima é mais bemservido com a reparação do que com uma pena ou uma medida de segurança. E em muitos

casos de pequena e média criminalidade, a reparação pelo agente será suficiente para aestabilização das expectativas comunitárias das normas violadas e da sua validade (caso da

 prevenção geral positiva).

Também se tem invocado a ideia de que a reparação tem um largo efeito socializador.São ideias que surgem no âmbito de uma ideia de justiça restaurativa e reparadora, criando umarelação trilateral: Estado, delinquente, vitima.

 No CPP, com a revisão de 1998, criou-se o art.82-A que refere a da reparação da vítimaem casos especiais, e esta reparação ocorre nas situações em que a vítima não deduziu um

 pedido de indemnização civil, então o tribunal em caso de condenação pode arbitrar umaquantia a título de reparação, quando especiais interesses da vítima assim o exigir.

O nosso CPP fala em reparação, mas como sendo uma indemnização, e não uma

verdadeira sanção penal.O que integra a doutrina das consequências jurídicas do crime é a pena e as medidas de

segurança.

 No processo penal, os tribunais julgam os crimes mediante uma acusação do No processo penal, os tribunais julgam os crimes mediante uma acusação do Ministério PúblicoMinistério Público (sistema jurídico penal português)

1ª Função: A primeira imposição do tribunal é tomar posição sobre a matéria de facto.A matéria de facto procura demonstrar uma certa realidade que aconteceu no passado. O juizvai tentar desvendar o que lhe é apresentado pelas partes, daí que seja importante levar aotribunal os elementos necessários para que seja produzida prova.

É o juiz define a matéria de facto, dado que, é em função dos factos que o tribunal vaidecidir.

2ª Função: Depois de tomar a decisão sobre a matéria de facto, o tribunal vai proceder àqualificação jurídica comprovada pelos factos o juiz vai dar os factos dados como provadosou como não provados (os factos que configuram o crime X)

Perante uma certa realidade da vida, podemos ter duas realidades:

 

3ª Função: Aplicação da sanção criminal, como reacção ao tipo legal de crime  

consequência legalmente prevista para o tipo de crime

 Nisto consiste o objecto da disciplina de DP IIIAquilo que o juiz deve fazer, uma vez verificado que o agente praticou um crime.

2009/2010

Os factos não provadosnão traduzem a práticado crime

Os factos provadostraduzem a prática docrime

Condena ão

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Direito Penal III 5

√ Sistema sancionatório português

▣ Características gerais do sistema sancionatório

▪  Recusa da pena de morte e das penas perpétuas (art.24/2 e 30/1, CRP), o que érevelação de um princípio de humanidade.

A pena de morte e a pena de prisão perpétua foram abolidas em 1852 para os crimes políticos e em 1867 para os crimes em geral.

 Nota: Nota: pode haver medidas de segurança perpétuas quando a perigosidade do agenteassim o exija (caso do internamento)

▪ Sanções privativas da liberdade constituem a última ratio da política criminal.Dá-se preferência a sanções não privativas de liberdade (art.70)A sanção privativa da liberdade é restritiva da liberdade do agente e nem sempre é o

mais eficaz.Dando-se cumprimento aos princípios político-criminais da necessidade, da

 proporcionalidade e da subsidiariedade (art.70 e 98)

 Nota: Nota: a suspensão da execução do internamento permite ao agente cumprir a pena emliberdade

▪  Não automaticidade dos efeitos das penas (art.30 nº4, CRP e art.65, CP) Nenhuma pena envolve como efeito necessário a perda de direitos civis, profissionais

ou políticos.Entre nós, o afastamento dos efeitos automáticos das penas só se efectivou com o CP de

1982

▪ Sistema tendencialmente monista ou de via única de reacções criminais.

Pois há possibilidade de aplicação de uma pena privativa da liberdade e

cumulativamente de uma medida de segurança privativa da liberdade pela prática do mesmofacto, não for como que o sistema seja um sistema dualista, porque não são duas penas privativas da liberdade. E também se deve ao regime da pena relativamente indeterminada(art.83 art.20/2)

Desenvolvimento:⁃ Sistema monista só conhece um tipo de reacções criminais; penas ouou medidas de

segurança.⁃ Sistema dualista conhece dois tipos de reacções criminais; penas ee medidas de

segurança, ou seja, ao mesmo agente aplica-se a pena concretamente aplicada e uma medida desegurança pela sua perigosidade.

Ao mesmo agente e ao mesmo facto aplica-se uma pena e uma medida de segurança privativa de liberdade.Este sistema põe substancialmente em causa o princípio da culpa, pois a medida de

segurança não tem por base a culpa do agente.Pode gerar problemas ao nível da execução e da eficácia socializadora.

MasMas não é esta acepção que nos interessa

O sistema ainda é monista se apesar de prever penas e medidas de segurança, ele  permitir a aplicação de penas a imputáveis e a aplicação de medidas de segurança ainimputáveis.

Estabelece que é um sistema dualista ou monista consoante admita ou não admita queao mesmo agente e pela prática do mesmo facto seja aplicada uma pena e cumulativamenteuma medida de segurança privativas da liberdade.

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Direito Penal III 6

⁃ O sistema sancionatório português é tendencialmente monista por causa da penarelativamente indeterminada, pois podemos aplicar uma pena privativa da liberdade e umamedida de segurança não privativa da liberdade, pelo mesmo facto. Isto porque não são duas

 penas privativas da liberdade

A possibilidade de aplicação de uma pena privativa da liberdade e cumulativamente deuma medida de segurança não privativa da liberdade pela prática do mesmo facto, não faz com

que o sistema seja um sistema dualista.Ex.  É possível condenar uma pessoa por embriaguez (art.222) e cumulativamente a

medida de segurança de cassação do título de condução, porque não são duas penas privativasda liberdade, daí que não seja dualista.

Assim, nesta acepção o sistema sancionatório português é um sistema tendencialmentemonista.

Temos no nosso art.99 um regime de medida de internamento.O art.99 fala-nos no viteriato de execução que trata da aplicação ao mesmo agente de

uma pena e de uma medida de segurança privativas da liberdade, mas por factos diferentes.Quando é imputável em relação a um facto e inimputável em relação a outro facto, aplica-se

uma medida de segurança em relação a um facto e uma pena em relação a outro facto.Ex. crime de violação e crime de furto

Inimputável

Em relação a estefacto por neurose

Aplica-se umamedida desegurança

 Imputável

Sabe que nãodeve roubar

Aplica-se umapena

Em certos sistemas – Espanha, Itália, Alemanha – temos soluções dualistas: aplicam-seao mesmo agente, pelo mesmo facto uma pena e uma medida de segurança em casos dedelinquentes por tendência (especialmente perigosos) e em casos de delinquentes por imputabilidade diminuída.

 Nestes casos podemos aplicar uma pena que tem como pressuposto e limite a culpa doagente e uma medida de segurança privativa da liberdade que tem como pressuposto a

 perigosidade do agente.

  Delinquentes por tendência

Aos delinquentes por tendência aplica-se a pena relativamente indeterminada (art.83)A pena relativamente indeterminada é uma pena só, ou seja é uma sanção apenas. Mas é

uma sanção de natureza mista, porque até certo ponto é executada de acordo com as regras da pena e depois disso, é executada de acordo com as regras da medida de segurança.Fica deste modo relativizada entre nós, a característica do monismo, daí que ela seja

tendencialmente monista e não puramente monista, por causa da pena relativamenteindeterminada.

  Delinquentes de imputabilidade diminuída

O delinquente tem a sua avaliação do facto diminuída, temos um agente menos culpado, porque tem uma menor capacidade de avaliação do facto, o que leva a uma pena menor. Esteagente manifesta também uma maior perigosidade, dai que são necessárias fortes exigências de

 prevenção.

De acordo com o art.29 nº2, ou o agente é considerado imputável e aplica-se-lhe uma pena, ou é considerado inimputável e aplica-se-lhe uma medida de segurança.É uma solução monista, ou se aplica uma pensa ou uma medida de segurança.

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Por vezes, a simples aplicação de uma pena não é suficiente para responder a essacriminalidade, tornando-se necessário aplicar também uma medida de segurança.

O delinquente vê a sanção sempre da mesma forma, as regras de execução é quemudam:

1ª Fase: cumprimento da pena de prisão2ª Fase: execução como se fosse uma medida de segurança.

Se cessar a perigosidade, cessa a medida de segurança. Temos uma sanção única, masque vai sendo executada de duas formas diferentes. Tem uma natureza híbrida, pois partilhacaracterísticas da pena e das medidas de segurança.

O limite máximo da pena relativamente indeterminada é de 25 anos. Quando chegue aos25 anos, o delinquente imputável deve ser colocado em liberdade.

Art.90 nº3  art.92 nº3

Esta caracterização do sistema pressupõe que seja tido em conta o regime da penarelativamente indeterminada (art.83 e ss), do qual decorre a natureza mista desta sanção; adeclaração de inimputabilidade (art.20 nº2), como resposta à especial perigosidade dosdelinquentes de imputabilidade diminuída; e o regime de execução da pena e da medida de

segurança privativa da liberdade, prevista no art.99.

▪  Outra característica do sistema sancionatório português é a extensão daresponsabilidade penal as pessoas colectivas nos domínios do direito penal clássico ou de

 justiça

Uma das novidades da revisão do CP de 2007 foi a extensão da responsabilidade penaldas pessoas colectivas em relação ao CP.

Até 2007, o art.11 dizia “salvo caso contrário, só as pessoas singulares são susceptíveisde responsabilidade penal”. E no direito penal secundário existia responsabilidade penal das

  pessoas colectivas,  p.ex. diploma das infracções contra a economia e a saúde pública;

diplomacia do regime geral das infracções tributárias e das infracções informáticas.Com a reforma de 2007, alterou-se a redacção do art.11, que hoje diz que salvo os casos previstos na lei e o disposto no nº2 deste artigo, que estabelece uma lista imensa de tipos legaisde crimes que culpam e responsabilizam as pessoas colectivas. E prevê penas para elas, prevê aresponsabilidade penal das pessoas colectivas e a aplicação de penas às pessoas colectivas.

Estas penas são as previstas desde o art.90-A a 90-M.Tem como penas principais:

Art.90-A: pena de multaArt.90-F: pena de dissolução (plena relativamente aplicada porque

implica a extinção da pessoa colectiva)A pena aplicada com mais frequência é a pena de multa.

A pena principal está expressamente prevista no tipo legal de crime e pode ser aplicada pelo juiz na sentença independentemente de qualquer outra.

Mas quando se fala de pessoas colectivas esta definição sofre uma alteração, porque ostipos legais de crime do art.11, nº2, referem apenas como único sanção a pena de prisão.

  Como aplicar uma pena de prisão a uma pessoa colectiva

O art.11 nº2 tem sido alvo de grandes críticas por se excluir o estado e as pessoascolectivas públicas.

Ex. art.372 corrupção: o agente é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos.Que sanção se deve aplicar?O art.90-B dá resposta a esta questão; a regra de equiparação da pena de prisão à pena

de multa, cada mês de prisão corresponde a 10 dias de multa, neste caso o mínimo seria de 120dias e o máximo de 960 dias de multa.

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 Nos casos em que se prevê a pena de prisão, a pena de multa principal a aplicar à PC,não está directamente prevista no tipo legal de crime, porque é necessário converter a prisão emmulta de acordo com a regra do art.90-B nº2.

Mas se o tipo legal de crime previr a multa como pena principal, então à PC seráaplicada uma multa de acordo com a moldura penal prevista nesse tipo legal de crime.

A pena principal de dissolução não está prevista em nenhum tipo legal de crime, por isso é um desvio. A pena de multa estará prevista indirectamente no tipo legal de crime, quandoeste tipo prever apenas pena de prisão. E está prevista directamente no tipo legal de crimequando ele previr a culpa.

Há também penas de substituição que podem ser aplicadas às PC e que podem ser substituídas: A admoestação: art.90-C

Caução de boa conduta: art.90-DVigilância judiciária: art.90-E

Há também penas acessórias: Art.90-A, nº2Art.90-G e ss

▣ Princípios gerais

▪ Princípio da legalidadeArt.29 CRP  art.1

▪ Princípio da congruência entre a ordem axiológica constitucional e os bens jurídico- penalmente protegidos

Decorre daqui a exigência da necessidade e subsidiariedade da intervenção penal(art.18, CRP) e a ideia de que o direito penal é um direito de protecção de bens jurídicos.

▪ Princípio da proibição do excessoManifesta-se através do princípio da culpa: não há pena sem culpa, nem pena superior à

medida de culpa.O princípio da culpa não tem consagração expressa na CRP, mas ele assume-se como

 princípio constitucional de protecção da dignidade da pessoa humana (art.1, 13, 26, CRP) O art.40/2 e 74, em caso algum a pena pode ultrapassar a medida da culpa. A culpa é como

 pressuposto e limite, não é fundamento nem medida da pena.  Não pode haver pena sem culpa, nem pena superior à medida da culpa. Mas pode haver 

culpa sem pena; princípio da culpa ou da unilateralidade da culpa. A pena pode ficar aquém da culpa Só esta concepção da culpa é que permite entender o instituto do CP: a dispensa de pena

(art.74) é um caso especial de determinação da pena. No fundo é declaração de culpa sem declaração de pena. Não dá origem à absolvição do arguido, porque a sentença que decreta a dispensa de pena é uma

sentença condenatória. P.ex.  pagamento de custas judiciais. O arguido é condenado mas não se fazemexigir necessidades de prevenção. A pena aqui, não é necessária, daí que haja dispensa de pena. Os pressupostos da dispensa de pena estão no art.74.

  Em relação às medidas de segurança, o princípio da proibição do excesso, manifesta-seatravés do princípio da proporcionalidade (art.40/2/3)

▪ Princípio da socialidadeA CRP consagra o estado de direito social (art.2 e 9, CRP) o estado deve proporcionar 

ao condenado um programa de ressocialização, que lhe permita conduzir a sua vida futura, semcometer crimes

▪ Princípio da preferência pelas reacções criminais não detentivasÉ uma consequência das ideias de necessidade e de proporcionalidade /subsidiariedade

da intervenção penal (art.18 e 70: em relação às penas; e no art.98; em relação às medidas desegurança.√ Finalidades das penas

2009/2010

Injunção judiciáriaInterdição do exercício de actividadesProibição de celebrar contratosPrivação do direito a subsídiosEncerramento do estabelecimento

Publicidade da sentença

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Direito Penal III 9

São duas as teorias dos fins das penas: Teorias absolutas

 Teorias relativas

▣ Teorias absolutasPara as teorias absolutas ou retributivas a pena visa a retribuição, a expiação ou a

compensação pelo mal do crime. Tiveram um grande mérito, o princípio da culpa, negando aaplicação de uma pena que viole a dignidade da pessoa humana.

 No entanto, a teoria absoluta é recusada como teoria dos fins das penas pelo CP português e pela doutrina portuguesa dominante.

A relação entre pena e culpa não é uma relação biunívoca. As teorias retributivas

entendem que a culpa é pressuposto, limite, medida e fundamento da pena; fase bilateral daculpa.

O nosso CP baseia-se no princípio unilateral da culpa, numa concepção relativa.

▣ Teorias relativas ou de prevençãoEstas teorias dividem-se em duas:

Teorias de prevenção geralTeorias de prevenção especial

∎ Teorias de prevenção geralPode desde logo surgir como:

∙ Prevenção negativa ou de intimidação.A pena é vista como uma forma de intimidação das outras pessoas, pelo mal que

com ela se faz sofrer ao delinquente, e que fará com que os outros não cometam crimes. p.ex. ladrão de cavalos, condenado à morte para servir de exemplo e não porque

roubou

 Não pode ser aceite como teoria dos fins das penas, porque não define um limite para a pena. A pena seria aquela que fosse necessária para afastar as pessoas da práticado crime, que conduz a uma maximização das penas. Assim, o direito penal tornar-se-ianum direito penal violador da dignidade da pessoa humana.∙ Prevenção geral positiva ou de integração.

A sanção penal é vista como uma forma de reforçar a confiança da comunidadena validade e na força de vigência das suas normas. Apesar de todas as violações quetenham tido lugar, a norma continua válida. É uma reintegração da norma noordenamento jurídico, é uma norma válida.

É um critério que vai ao encontro da ideia do direito penal como protecção de bens jurídicos. Permite também, encontrar uma pena adequada à culpa do agente. Asexigências de prevenção são sempre limitadas pela culpa do agente.

∎ Teorias de prevenção especial ou individual

2009/2010

Prevenção geral: positivanegativa

Prevenção especial: positivanegativa

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Direito Penal III 10

As teorias de prevenção especial ou individual partem da ideia de que a pena é uminstrumento de actuação preventiva sobre a pessoa do delinquente, propondo-se evitar que no futuro ele cometa mais crimes.

Pode desde logo surgir como:∙ Prevenção especial negativa ou de inocuização.

A pena serviria para intimidação do delinquente ou para a defesa da sociedade,em face da perigosidade do delinquente.

Pretendia-se a separação ou a segregação do delinquente em relação à sociedade.∙ Prevenção especial positiva ou de socialização

A pena tem como função alcançar a reinserção social do delinquente. A pena de prisão só leva acabo o seu fim se permitir um efeito socializador. Daí que o estado deva permitir estas condições necessárias para que o delinquente possa viver no futuro, semcometer crimes.

Há situações em que o agente não tem necessidade de ressocialização; é o caso

dos delinquentes por afectação. Então a prevenção especial aqui, resume-se a conferir à pena uma função de advertência.

À questão das finalidades das penas dá-nos resposta o art.40, introduzido no CP, com arevisão de 1995, e a sua introdução no CP, foi muito polémica, porque o legislador tomou umaopção clara em relação a esta matéria: as penas têm uma finalidade preventiva e não retributiva.

Estabelece que a aplicação das penas visa a protecção de bens jurídicos (prevençãogeral) e a reintegração do agente na sociedade (prevenção especial positiva).

De acordo com o nosso o CP, a finalidade primordial da pena é a de prevenção geral positiva ou de integração. Não obstante a norma ter sido violada com a prática de um crime, ela

continua válida.A finalidade secundaria é a prevenção positiva ou de ressocialização do agenteO nº2 do art.40 diz que temos aqui o princípio da culpa, em caso algum a pena pode

ultrapassar a medida da culpa.

As penas têm uma finalidade preventiva. A aplicação das penas visa a protecção de bens-jurídicos e a reintegração do agente na sociedade. Pois, não obstante a norma ter sidoviolada, ela continua válida.

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Direito Penal III 11

Penas principais

√ Pena de prisão

A pena de prisão é uma pena única e simples.É uma pena única porque com o actual CP de 1982, desapareceram as formas

diversificadas de prisão. Hoje, as formas de prisão só se distinguem umas das outras, emfunção da sua maior ou menor duração. É única por não haver formas diversificadasÉ uma pena simples porque à condenação em qualquer pena de prisão se não

ligam efeitos jurídicos necessários ou automáticos que vão para além da sua execução(art.30, CRP art.65). A pena de prisão não envolve como efeito necessário a perca dedireitos civis, políticos ou profissionais. A perda destes direitos pode ocorrer por meioda aplicação de penas acessórias.

▣ Limites da pena de prisão quanto à sua aplicação

A pena além de ser única e simples é de duração limitada e definida, constituindo a prevenção especial de socialização o denominador comum de todas as características.

∙ Limites gerais ou normais; De acordo com o art.41 nº1 o limite mínimo da pena de prisão é de 1 mês e o limite

máximo é de 20 anos. Nos casos em que o tipo legal de crime não diz quais os limites da pena é necessário

recorrer ao art.40. Trata-se de situações em que a lei nada diz quanto ao limite mínimo( p.ex.art.131, 143). Quando a lei nada diz o limite mínimo de prisão é de um ano.

∙ Limite especial ou excepcional;Mas há casos em que a pena máxima pode ir até 25 anos (art.41/2):

Concurso de crimes (art.77/2)Pena relativamente indeterminada (art.83/2; 84/2;86/2)

Homicídio qualificado (art.132)O nº3 do art.41 afirma que em caso algum pode ser excedido o limite máximo de 25

anos. Este limite aplica-se a cada pena de prisão e não a uma pluralidade de penas sofridas pelomesmo agente, o que afasta a ideia de um qualquer direito da pessoa a não permanecer mais doque 25 anos da sua vida privado da liberdade.

O entendimento deve ser o de que ninguém pode ser condenado numa puna superior a25 anos, numa mesma condenação. Mas se o agente for condenado sucessivamente pode vir acumprir mais do que 25 anos na prisão ao longo de toda a sua vida.

Pode o limite mínimo de 1 mês não ser cumprido: é o que acontece no caso da  prisão por dias livres (pena de substituição), dado que, dois dias de prisão por dias livres equivalem a

cinco dias de prisão contínua, daí que o agente possa passar menos de um mês na prisão (art.45nº2 e 3).

Há uma outra situação: a prisão subsidiária (é a prisão que é cumprida em virtude donão cumprimento de uma pena de prisão principal) e não pode ter a duração inferior a 1 mês.Aqui não estaremos a violar o art.41, porque ela é uma forma de constrangimento ao

 pagamento da pena de multa. Para levar o condenado a pagar a pena de multa.

De acordo com o art.41 nº4, a contagem dos prazos da pena de prisão é feita segundo oscritérios estabelecidos na lei processual penal e, na sua falta, na lei civil.

O art.479 do CPP dispõe sobre a forma como é contado o tempo de prisão.O art.481 do CPP estabelece regras sobre o momento da libertação.

Se ainda for necessário haverá sempre a possibilidade do recurso aos critériosestabelecidos no art.279 do CC.▣ Pena de prisão quanto à sua duração

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Direito Penal III 12

O facto de a pena de prisão ser única não significa que não faça sentido distinguir váriosgraus da pena, consoante a sua mais ou menos longa de prisão de curta, consoante a sua maisou menos longa duração.

∙ Penas de curta duração: até um ano∙ Penas de média duração: de 1 a 5 anos∙ Penas de longa duração: superiores a 5 anos

Esta distinção corresponde às categorias de pequena, média e grave criminalidadeA distinção assinalada existe no direito vigente para diversos efeitos.Esta distinção é muito importante no que toca às penas de substituição.

Ao limite de 1 ano liga-se a aplicabilidade de penas de substituição como amulta, o regime de permanência na habitação, a prisão por dias livres e o regime desemi-detenção (art.43/1, 44/1 al.a), 45 e 46) e a possibilidade de dispensa de pena(art.74).

Ao limite de 5 anos liga-se a aplicabilidade de penas de substituição como a proibição do exercício de profissão, função ou actividade, a prestação de trabalho afavor da comunidade e a suspensão de execução da pena de prisão (art.43/3, 58 e 50)

√ Pena de multa

A pena de multa pode surgir como pena principal ou como pena de substituição.A pena de multa principal pode surgir como pena autónoma ou como pena alternativa.

▣ Características

A pena de multa pressupõe que seja figurada como autêntica pena criminal, esta não éum direito de crédito por parte do estado, nem é uma taxa, nem um imposto. É uma verdadeira

 pena, tem um carácter pessoalíssimo.

A pena de multa é um efeito de natureza pessoalíssima. A responsabilidade criminal nãoé transmissível (art.30/3) pelo facto de ter um carácter pessoal, se um terceiro pagar a multacomete um crime de favorecimento pessoal (art.367).

Face ao efeito pessoalíssimo da pena de multa são censuráveis disposições legais queconsagram a responsabilidade subsidiária e solidária de terceiros pelo pagamento das penas demulta (art.30/3, CRP)

Torna-se particularmente necessário que esta pena seja legalmente conformada econcretamente aplicada de forma a permitir a plena realização das finalidades das penas(art.40/1).

O que conduz ao estabelecimento de limites mínimos e máximos para que adeterminação concreta da pena possa fazer dela uma pena com eficácia politica-criminal e a

consagração de mecanismos que permitam reportar a situação económica e financeira docondenado e os seus encargos pessoais ao momento em que a este haja de cumprir a pena.

A multa é uma pena criminal≠

Coima: sanção administrativa≠

Dividas: podem ser pagas por terceiros, com a herança

A responsabilidade criminal extingue-se com a morte do agente (art.127)

▣ Valoração político-criminal∙ Vantagens

 Não quebra a ligação do condenado aos seus meios familiar e profissional

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Direito Penal III 13

Permite uma execução mais elástica (art.47/3/4)Reduz os custos administrativos e financeiros do sistema de justiça penal (art.130/3)À diminuição dos casos de aplicação de penas de prisão efectiva corresponderá uma

melhoria significativa do sistema penitenciário.

∙ DesvantagensO peso desigual que apresenta para os pobres e os ricos

Só que tal inconveniente pode ser diminuído através da operação dedeterminação da pena que visa adequar o quantitativo diário à situação económico-financeira do condenado e aos seus encargos pessoais (art.47/2)Consequências familiares desfavoráveisUm efeito secundário criminógenoUma eficácia preventiva de grau menor por comparação com a pena de prisão

▣ Âmbito de aplicação

A aplicação da pena de multa surge quer como pena principal quer como pena desubstituição (art.43/1).

Enquanto pena principal a pena de multa aparece na veste de:∙ Pena autónoma

Multa autónoma é a que se encontra expressamente prevista para osancionamento dos tipos de crime como única espécie de pena (surge nosarts.268/3/4 e 366/2)∙ Pena alternativa

Multa alternativa é a forma, por excelência, de previsão da pena demulta, surgindo em diversos tipos legais de crime como alternativa à pena de

 prisão ( p.ex.art.139, 143/1, 173, 180, 203 e 247)

▣ Limites∙ Limites em relação ao número de dias de multa

De acordo com o art.47 nº1, o limite mínimo é de 10 dias e o máximo é de 360 diasMas, há situações em que a pena de multa pode ir até aos 600 dias (art.204 e 218). E no

caso do concurso de crimes a multa pode ir até aos 900 dias (art.77/2) No que concerne às pessoas colectivas é necessário ter em atenção ao critério de

conversão do art.90-B nº2 (10 dias de multa corresponde a 1 mês de prisão). O critério deconversão aqui pode ir até aos 3000 dias de multa.

Podemos concluir que o art.47 vale para a pena de multa, tal como o art.41 vale para a pena de prisão, quando não há limites na moldura legal

∙ Limites em relação ao quantitativo diárioDe acordo com o art.47 nº2, cada dia de multa corresponde a uma quantia entre €5 e €500

Aqui é necessário ter em atenção a dois aspectos importantes:1º Determinar o número de dias de multa2º Determinar o quantitativo diário

Pena de substituição

A pena de substituição reconduz-se ao movimento de luta contra a pena de prisão.

As penas de substituição são penas que podem substituir qualquer uma das penas principais concretamente determinadas.

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Direito Penal III 14

Há três tipos de penas de substituição:∙ Pena de substituição em sentido próprio

Respondem a um duplo requisito:- têm carácter não institucional ou não detentivo, sendo cumpridas em liberdade

são penas não privativas da liberdade- pressupõem a determinação prévia da medida da pena de prisão, sendo

aplicadas e executadas em vez desta substituem a pena de prisão

Respondem a este duplo requisito:⁃  A pena de multa de substituição substitui as penas de prisão até 1 ano

(art.43/3)⁃  A pena de substituição de proibição de exercício de profissão ou cargos

 públicos ou privados substitui as penas de prisão até 3 anos.⁃ A pena de suspensão de execução da pena de prisão substitui penas de prisão

até 5 anos. Pode assumir três modalidades: Suspensão da execução da pena simples (art.50) Suspensão da execução da pena com imposição de deveres (art.51) e asuspensão da execução da pena com imposição de regras de conduta(art.52) Suspensão de execução da pena com regime de prova (art.53 e art.54)

A suspensão da execução da pena de prisão tem obrigatoriamente de ser acompanhada do regime de prova, isto em casos especiais. É o caso do art.53/3.

O regime de prova é um programa de reinserção e de ressocialização, quando ocondenado não tiver completado ainda a idade de 21 anos. Neste caso, é sempreacompanhado do regime de prova.

⁃  A pena de prestação de trabalho a favor da comunidade substitui penas de prisão até 2 anos (art.58, 59 e art.496, 498 do CPP)

∙ Pena de substituição privativa da liberdade Responde apenas ao requisito da determinação prévia da medida da pena de prisão,

sendo aplicadas e executadas em vez desta.

Respondem a este requisito:⁃ O regime de permanência na habitação (pulseiras electrónicas) substitui a pena de

 prisão até um ano (art.44/1 al.a) e art.487 do CPP).É uma novidade de 2007. Antes de 2007 era uma medida de coação que se aplica no decurso do processo

(prisão preventiva). Mas depois de 2007 surge como pena de substituição.A Dr.ª Maria João Antunes diz que o art.44 prevê duas coisas diferentes, no seu nº1 prevê uma pena de

substituição e no nº2 prevê uma forma de execução da pena de prisão.

⁃ A pena por dias livres substitui penas de prisão até 1 ano (art.45)

⁃ O regime de semi-detenção substitui penas de prisão até 1 ano (art.46)Para a aplicação do art.44 e 46 é necessário o consentimento do condenado. Seg. Dr.ª Maria João Antunes

isto leva-nos a dizer que estamos, antes, perante uma forma de execução da pena de prisão

∙ Pena de substituição da pena de multa ou admoestação Esta pena pressupõe o requisito da determinação prévia da medida da pena de multa

(principal) (art.60)Pena acessória

Para que estejamos perante uma verdadeira pena, ela tem de estar ligada ao facto e temde ser limitada no tempo, no seu limite máximo e no mínimo.

Penas acessórias são penas cuja aplicação pressupõe a fixação na sentença condenatóriade uma pena principal ou de uma pena de substituição, ou seja, são aplicadas conjuntamentecom uma pena principal ou com uma pena de substituição

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Direito Penal III 15

As penas acessórias têm de ter três características:Tem como pressuposto a culpaTem de ser limitada no tempoTem de se referir ao facto

 Nas penas acessórias também estão previstas medidas e necessidades de prevençãogeral e especial.Assim, o juiz aplica uma pena acessória quando atendendo às exigências de prevenção

considerar que a aplicação de uma pena principal ou uma pena de substituição sãoinsuficientes.

Aplica uma pena acessória, que tem uma função complementar art.66 69.∙  Na parte geral estão previstas como penas acessórias:

A proibição do exercício da função (art.60)A suspensão do exercício de função (art.67)A proibição de conduzir veículos com motor (art.69)

∙  Na parte geral estão previstas como penas acessórias, em concretização com o art.65nº2 que prevê o princípio do numerus apertus (diferente do principio do numerus clausurus):

A proibição de contrato com a vítima (art.152/4)A proibição de uso e porte de arma (art.152/4)A obrigação de frequência de programas específicos de prevenção da violência

doméstica (art.152/4)A inibição do poder paternal (art.179 al.a))A proibição do exercício de função (art.179 al.b))A incapacidade para eleger Presidente da República, membros do Parlamento

Europeu, membros de assembleia legislativa ou de autarquia local, para ser eleito comotal ou para ser jurado (art.246 e 346)

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Direito Penal III 16

Determinação da pena

O procedimento tendente à determinação da pena pressupõe uma estreita cooperaçãoentre o legislador e o juiz.

Ao legislador cabe:

  Estatuir as molduras penais cabidas a cada tipo de factos, valorando agravidade máxima e mínima que cada um daqueles tipos de factos pode presumivelmente assumir;

  Prever as circunstancias (modificativas) que podem agravar ou atenuar oslimites previamente fixados;

 Fornecer os critérios de determinação concreta e de escolha da pena.

Ao juiz cabe:  Determinar a moldura penal cabida aos factos dados como provados no

 processo; Encontrar aí a pena concreta em que o arguido deve ser condenado Escolher a espécie ou o tipo de pena a aplicar concretamente  E determinar, em sede de execução a pena, aquela que é efectivamente

aplicada

 No procedimento de determinação da pena trata-se de autêntica aplicação do direito,dado que, na sentença são expressamente referidos os fundamentos da medida da pena, por imposição do art.71 nº3. Há uma autonomização do processo de determinação da pena em sede

 processual penal (art.369, 370, 371, CPP) e a possibilidade de controlo da decisão sobre adeterminação da pena em sede de recurso, ainda que este seja apenas de revista.

As operações de determinação da pena são três:1ª Fase ⁃ O juiz vai determinar a moldura penal abstracta a aplicar ao caso2ª Fase ⁃ O juiz vai determinar a moldura penal concreta3ª Fase ⁃ O juiz vai escolher a pena efectivamente aplicável ao agente

Esta 3ª fase é uma fase eventual, pode ou não existir.Esta fase pode surgir na 1ª fase, nos casos em que o tipo legal de crime

 prevê em alternativa a pena de prisão e a pena de multa.Como pode surgir na 3ª fase, quando o juiz decide aplicar uma pena de

 prisão não superior a 5 anos, havendo a possibilidade de esta ser substituída por uma pena de substituição

Determinação da moldura penal abstracta

 Nesta fase o juiz tem de determinar o tipo legal de crime que a conduta do agente  preenche. A moldura legal prevista nesse tipo legal de crime, entra automaticamente emaplicação. No entanto, esta tarefa nem sempre é uma tarefa simples, porque o juiz tem deaveriguar se está perante um tipo de crime fundamental, privilegiado ou qualificado.

Ex. A ofendeu a integridade física de BA cometeu uma ofensa à integridade física simples (art.143). Mas há vários tiposde ofensa à integridade física (art.144, 145, 146) logo é necessário saber qualdelas se trata em concreto.

⇒  Nesta fase o juiz pode também de ter em atenção as circunstâncias modificativas,caso elas existamAs circunstâncias modificativas podem ser atenuante ou agravantes

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Direito Penal III 17

√ Circunstâncias modificativas

Pode acontecer que num caso concreto surjam circunstâncias que levam à modificaçãoda moldura penal – as circunstâncias modificativas.

As circunstâncias modificativas são tidas em atenção logo na 1ª fase de determinação da pena. Quando no caso concreto existem circunstâncias modificativas, o juiz tem de as ter em

conta quando está a procurar a moldura legal aplicável ao caso.As circunstâncias modificativas são pressupostos que não dizem respeito nem ao tipo deilícito, nem ao tipo de culpa, mas que contendem com a maior ou menor gravidade do crimecomo um todo. Relevando por isso, directamente para a doutrina da determinação da pena.

As circunstâncias modificativas são diferentes dos factores de medida da pena.Circunstâncias modificativas:intervêm atenuando ouagravado a moldura penalabstracta, no seu limite mínimoou máximo, ou em ambos.Ex. Reincidência (art.75)

Comissão por omissão(art.10/3)Tentativa (art.23/2)

Cumplicidade (art.27/2)Regime especial do jovem

adultoº

 

 Factores de medida da pena:intervêm na determinação damedida concreta.Art.71 nº2Ex. Grau de ilicitude do facto

As circunstâncias modificativas podem ser:-  Agravantes: quando alteram a moldura penal, aumentando-a ou só no limite

máximo ou só no limite mínimo ou em ambos.-  Atenuantes: quando alteram a moldura penal, baixando-a ou só no limite

máximo ou só no limite mínimo ou em ambos.

Podem ser ainda:- Gerais ou comuns: aplicam-se a qualquer tipo de crime

 p.ex.  Reincidência (art.75) é a única agravante

Comissão por omissão (art.10/3) Tentativa (art.23/2)Cumplicidade (art.27/2)Atenuação especial da pena (art.72) (art.27/2, 17/2)

Vamos ter de atender ao art.73 nº1 al.a) e b)- Especiais ou específicas: aplicam-se somente para certo ou certos tipos legais

de crime

Em caso de concorrência de circunstancias modificativas o juiz deverá fazer funcionar todas as circunstancias modificativas que no caso concorram.Se forem só atenuante ou só agravante o juiz deverá fazê-las funcionar sucessivamente,

desde que cada circunstância modificativa possua um fundamento autónomo (art.72/3).

Em caso de concorrência de circunstâncias modificativas agravantes e atenuantes, o procedimento deverá ser:

Em regra, o de fazer funcionar primeiro as agravantes e depois as atenuantes.Excepcionalmente, quando se trate de reincidência, deverá funcionar primeiro as

circunstâncias modificativas atenuantes e só depois a agravante, atendendo às especificidadesconstantes do art.76.

  Só fazendo funcionar primeiro a circunstancia modificativa atenuante é que é possível determinar a medida da pena independentemente da reincidência.

  É a única prevista no CP

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São atenuantes

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Direito Penal III 18

Determinação da moldura penal em concreto

Encontrada a moldura legal, o juiz vai ter de determinar a pena que concretamente vaiaplicar ao caso.

A determinação da pena concreta é feita, de acordo com o art.71 nº1, em função dafunção da culpaculpa do agente e das exigências de prevençãoexigências de prevenção.

Os critérios de determinação concreta da pena são a prevenção e a culpa (art.40).O art.40 refere claramente que as finalidades das penas são preventivas e afirma

também o princípio da culpa. Por isso, quando o legislador se refere no art.71 nº1 à prevenção,tem o mesmo sentido que no art.40; prevenção geral e especial. A culpa do art.71 é igual à doart.40, a culpa é critério de determinação da medida concreta da pena. A culpa é o limite da

 pena e não o seu fundamento.

√  Relacionamento dos princípios da culpa e da prevenção para determinar a pena aaplicar ao agente

Teoria do valor de posição ou de emprego

A culpa e a prevenção teriam âmbitos de actuação diferentes, na determinação damedida concreta da pena. A prevenção actuaria apenas no momento de escolha da pena,enquanto a culpa actuaria exclusivamente no momento de determinação da medida concreta da

 pena.Este modelo viola o disposto no art.71, que refere que os critérios de determinação da

 pena são a culpa e as exigências de prevenção. E viola o disposto no art.40, que refere que aculpa é apenas o limite da pena. Uma pena encontrada exclusivamente com base na culpa, podeser uma pena justa, mas pode não ser a mais adequada, nem a necessária aos modelos de

 prevenção, pondo em causa o princípio da necessidade da pena (art.18/2, CRP).

Teoria pena da culpa exacta

Esta teoria parte de dois pressupostos:A medida da pena é fornecida pela medida da culpaA culpa é uma grandeza susceptível de se traduzir numa medida exacta de pena

Entende que as exigências de prevenção actuariam apenas dentro do conceito da culpa. No entanto, esta teoria também é criticável porque dá prevalência a mais ao conceito de culpa.Parte de um conceito de retribuição e é também criticável porque não é possível converter Xculpa em X pena. Não é possível quantificar a culpa, daí que rejeitemos esta teoria.

Teoria do espaço de liberdade ou da moldura da culpaSegundo esta teoria, a moldura penal também é dada através da medida de culpa, só quea culpa não se oferece ao juiz através da grandeza exacta. A culpa surge como uma moldura deculpa entre um mínimo e um máximo.

Ex. Crime de furto dá uma pena de prisão até 3 anos (art.203).A moldura legal é de 1 mês a 3 anos.

 Na 2ª fase o juiz teria de determinar a medida concreta da pena através da culpa.Mas a única coisa que o juiz sabe é que uma pena de 6 meses já é adequada à culpa doagente (p.ex), e que uma pena de 2 anos ainda é adequada à culpa do agente.

Assim, dentro da moldura legal o juiz vai constituir a medida e moldura daculpa:

Moldura legal: 1 mês a 3 anosMoldura da culpa: 6 meses a 2 anos

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Direito Penal III 19

E como actuam as exigências de prevenção?????Segundo Roxin, qualquer pena encontrada dentro da moldura da culpa é uma pena que

satisfaz as necessidades e exigências de prevenção geral, é uma pena justa e adequada à culpado agente. E é também dentro desta moldura da culpa que vão actuar as exigências de

 prevenção especial e em última análise, é a prevenção especial que vai determinar a medida da pena.

Dentro da moldura legal o juiz vai encontrar a moldura da culpa e só esta é adequado deacordo com as exigências de prevenção geral.

Roxin admite uma situação especial em que se pode aplicar ao agente uma pena inferior à sua culpa. Isto acontece quando o agente não carece de socialização. E a pena vai cumprir aonível das exigências de prevenção especial a pena será uma advertência.

 Nestes casos, a pena pode ser inferior ao limite mínimo da moldura da culpa. Mas o quenão pode nunca acontecer é aplicar uma pena abaixo do limite mínimo da moldura legal,

  porque isto punha em causa a defesa do ordenamento jurídico. A pena mínima aindacompatível com o ordenamento jurídico coincide com o limite mínimo da moldura legal.

Criticas:

Este modelo não ignora as exigências de prevenção mas concede à culpa um papelfundamental na determinação da medida da pena.Este modelo será compatível com o disposto no art.71. No entanto não é compatível

com o disposto no art.40, porque este artigo firma claramente que são as exigências de prevenção que constituem a finalidade da pena. Por isso, o modelo que se deve adoptar seráaquele criado a partir não da culpa mas das exigências de prevenção.

Também é diferente do art.40 nº2, porque esta norma é clara em afirmar que a culpa é pressuposto e limite da pena, relacionando-se com esta de forma unívoca. Enquanto que paraRoxin a culpa dá o limite mínimo e máximo da pena.

 Não admite que o limite mínimo da prevenção geral possa ser superior ao mínimo damoldura legal, em função das características do caso concreto. Por um lado, no caso concreto

 pode acontecer que para as exigências de prevenção geral se encontrem preenchidas e sejanecessário que a pena se situe acima do limite mínimo da moldura penal. Por outro lado, nonosso CP, está previsto o instituto da dispensada de pena no art.74, que permite que em certoscasos apesar de haver culpa não se vai aplicar qualquer pena, porque a pena não é requerida

 pelas exigências de prevenção. Por isso, podemos dizer que no nosso sistema pode acontecer que a pena fique abaixo do limite legal.

Teoria da moldura de prevenção (teoria seguida por Coimbra)

É a que se mostra mais consentânea com uma leitura conjuntada com os art.40 e 71.A medida da pena deve ser dada essencialmente através da medida da culpa, que se

oferece ao aplicador como uma moldura de culpa: com um limite mínimo em que a pena jérevela adequada à culpa; com um limite máximo em que a pena ainda revela adequada à culpa.

Ou seja:Ou seja:À luz do art.40 com a aplicação de uma pena visa-se a tutela e protecção de bens

 jurídicos (prevenção geral). Deste modo, a medida da pena há-de ser determinada a partir damedida da necessidade de tutela dos bens jurídicos no caso concreto. Só que a necessidade detutela de bens jurídicos não é susceptível de ser dada numa medida exacta. Deste modo, surgeuma moldura que é a moldura da prevenção.

A moldura de prevenção tem como limite superior o ponto óptimo de tutela dos bens jurídicos e como limite inferior, as exigências mínimas de defesa do ordenamento jurídico e da paz social. Dentro desta moldura da prevenção geral e de integração, a medida da pena vai ser 

encontrada em função das exigências de prevenção especial, que pode cumprir uma de trêsfunções (ressocialização; advertência; inocuização). Nos casos em que a prevenção especial cumprir apenas uma função de advertência a

 pena situar-se-á perto do limite mínimo da moldura de prevenção.

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Direito Penal III 20

  Nos casos em que estivermos perante um agente em relação ao qual está excluídaqualquer possibilidade de ressocialização, a prevenção especial vai cumprir a sua função deinocuização e a pena vai situar-se perto do limite máximo da moldura penal.

A culpa é sempre um limite da pena, quer das exigências de prevenção especial, quer geral. E podem surgir conflitos entre a culpa e as exigências de prevenção especial mas, por regra, não existem conflitos entre a culpa e as exigências de prevenção geral positiva, pois não

será fácil encontrar situações em que o ponto óptimo ou ainda aceitável de tutela dos bens jurídicos venha a situar-se acima daquilo que a adequação à culpa permite. Isto porque asrazões de diminuição da culpa são em principio comunitariamente compreensíveis, edeterminam que no caso concreto as exigências de tutela dos bens jurídicos e de estabilizaçãodas normas sejam menores. É para isso que, em regra, não existem conflitos entre a culpa e asexigências de prevenção geral positivo.

Ex. Crime de furto (art.203)3 anos

1 mês

A culpa é sempre um limite da pena, quer das exigências de prevenção especial, quer geral (art.40 nº2)

▣ Critérios de aquisição e de valoração dos factores de medida da pena

Como é que se afere o grau de culpa e as exigências?

É necessário saber quais as circunstâncias daquele acontecimento que relevam para aculpa e quais as que relevam para exigências de prevenção. A estas circunstâncias chamamosfactores de medida da pena.

Para averiguar os factores de medida da pena o juiz é auxiliado pelo legislador que noart.71 nº2 enumera de forma exemplificativa alguns factores indicativos da medida da pena.

O art.71 nº2 estabelece que na determinação da medida concreta da pena o juiz 

atenderá a todas as circunstâncias que não fazendo parte do tipo de crime deponham a favor 

do agente ou contra ele.  Não devem ser utilizadas pelo juiz para a determinação da medida da pena, as

circunstâncias que façam já parte do tipo de crime.

Assim se expressando o  princípio da proibição da dupla valoração, segundo o qual o juiz não deve utilizar para determinar a medida da pena as circunstâncias que o legislador játomou em consideração ao estabelecer a moldura penal do facto.

 No art.132, o legislador já teve em consideração a especial perversidade e

censurabilidade da conduta do agente

tem de se dar relevo ao princípio da dupla valoração.

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Prevençãoespecial

2 anos

6 meses

  Tendencialmente, olimite máximocoincide com a culpado a ente

Moldura deprevenção geral

(de 1 mês a 3anos)

Defesa da ordem jurídica

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Direito Penal III 21

MasMas, além disso, este princípio vale ainda na medida em que o próprio juiz não podeavaliar a mesma situação duas vezes.

 Este princípio, nesta vertente, é importante em três matérias:- Determinação da medida concreta da pena- Reincidência- Concurso de crimes

O princípio da proibição da dupla valoração não impede, no entanto, que o juiz atenda àintensidade ou aos efeitos do preenchimento do tipo legal de crime. Ex.art.144; 158.

Os factores de medida da pena que deponham a favor ou contra o agente têm decomeçar por ser identificados como relevantes para o efeito da culpa ou da prevenção.

Em seguida, cada um dos factores tem de ser pesado em função do seu concretosignificado à luz daqueles princípios regulativos.

Finalmente, os factores vão ser reciprocamente avaliados em função da quantificação daespécie de pena que se decidiu aplicar 

√ Factores de determinação da medida concreta da pena (art.71 nº2)Factores relativos à execução do facto:

Art.71 nº2:al.a): grau de ilicitude do facto, o modo de execução deste e a gravidade das

suas consequências, bem como o grau de violação dos deveres impostos ao agente;al.b): a intensidade do dolo ou da negligênciaal.c): os sentimentos manifestados no cometimento do crime e os fins ou

motivos que o determinamal.e), in fine: conduta do agente destinada a reparar as consequências do

crime

Factores relativos à personalidade do agente, manifestados no caso:Art.71 nº2:

al.d): as condições pessoais do agente e a sua situação económica;al.f): a falta de preparação para manter uma conduta lícita, manifestada no

facto, quando essa falta deva ser censurada através da aplicação da pena.

Factores relativos à conduta do agente anterior e posterior ao facto:Art.71 nº2:

al.e): a conduta anterior ao facto e a posterior a este, especialmente quandoesta seja destinada a reparar as consequências do crime.

Importante:Importante:Os factores de medida da pena são ambivalentes, significa que o mesmo factor poderelevar para a culpa e para as exigências de prevenção, e esta ambivalência pode ser dupla; osfactores de medida da pena podem ser duplamente ambivalentes, isto é, um mesmo factor podeter um efeito agravante quando considerado ao nível da culpa e pode ter um efeito atenuantequando considerado ao nível da prevenção e vice-versa.

 No entanto, nem todos os factores são ambivalentes. Os factores que estão relacionadoscom comportamentos posteriores à prática do facto, art.71 nº2 al.e), nunca podem contribuir 

 para a determinação da culpa do agente.

 Note: Note: Art.71 nº1   Critérios

Art.71 nº2   Factores

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Direito Penal III 22

√ Procedimento de determinação da pena de multa principal

Sistema da soma global

Pressupõe duas modalidades:Multa em quantia certaMulta em quantia a determinar entre um mínimo e um máximo.

 Na modalidade de multa em quantia certa fixada pela lei não há qualquer procedimentoa adoptar pelo juiz para a determinação da pena concreta, não podendo adequar-se nem àgravidade do ilícito e da culpa, nem à condição económico-financeira do agente.

Ex. Quem cometer furto é punido com pena de multa de €300. Neste caso o juiz só tinha de identificar o tipo legal de crime e aplicar a pena de multa lá

referida.Este sistema de determinação da pena de multa é duplamente inconstitucional, porque

viola o princípio da igualdade e o princípio da culpa (art.13 nº2, CRP).Viola o princípio da igualdade, porque não permite atender à situação económico-

financeira do agente, prejudica o agente com uma condição económica mais fraca e beneficia

os mais ricos e pode acabar por perder toda a sua finalidade politico-criminal. Na modalidade de multa em quantia variável, a individualização da pena em função da

culpa e da situação económico-financeira do agente não é impossível, uma vez que a multa édeterminada entre um mínimo e um máximo.

Ex. Pena entre €200 e €400Este sistema já permite de algum modo atender à culpa e à situação económico-

financeira do agente. Mas é um sistema insatisfatório, porque considera estes dois factores numúnico acto (culpa e situação económica), o juiz não pode atender ao diferente peso que eles

 podem assumir na determinação da pena.Daí que se recuse o sistema da soma global como sistema da determinação da pena de

multa.

Sistema dos dias de multa (sistema adoptado)

Pressupõe três modalidades: Determinação do número de dias de multaFixação do quantitativo diárioFixação do prazo e das condições de pagamento (eventual)

O sistema dos dias de multa é o único que permite a integral realização das intenções político-criminais e dos referentes jurídico-constitucionais que convergem na aplicação damulta, uma vez que pressupõe dois actos autónomos de determinação da pena, nos quais seconsideram, em separado e sucessivamente, os factos relevantes para a culpa e para prevenção

e os relevantes para a situação económico-financeira.

▣ Determinação do número de dias de multa

Entre nós a pena de multa determina-se em dias de multa (art.47).O art.47 refere que a multa é fixada em dias, de acordo com o previsto no art.71. Para a

determinação dos dias de multa, o juiz deve seguir os critérios gerais para a determinação da pena presentes no art.71 , ou seja, em função da culpa do agente e das exigências de prevenção.Podemos concluir que o número de dias de multa se determina do mesmo modo que sedetermina a pena de prisão.

 No nº2 do art.71, o legislador enuncia os factores de medida da pena, que relevam paraa culpa e/ou para a prevenção. Um dos factores da medida da pena é a situação do agente(al.d)).

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Direito Penal III 23

 No caso da pena de multa, como a situação económica do agente vai ter depois umtratamento autónomo, aquando da operação de fixação do quantitativo diário, não faz sentidoatendermos à situação económica do agente logo na 1ª operação de determinação do número dedias de multa. Se o juiz considerasse a situação económica do agente nesta 1ª fase, estaria aviolar o princípio da proibição da dupla valoração, porque teria de atender novamente àsituação económica do agente aquando da determinação do quantitativo diário.

 No entanto, é consensual que o juiz deve atender à situação económico-financeira doagente aquando da determinação dos dias de multa, nas situações em que a situação económicado agente for determinante da culpa deste.

Ex. Duas senhoras furtam 2 latas de leite num supermercado.Uma furta a lata de leite porque tem um bebé e não tem dinheiro para a pagar 

  Aqui a situação económica dela faz baixar a culpa do agente, porque estádirectamente relacionada com a culpa, excepcionalmente é que a situação económicadeve ser valorada na 1ª operação; operação de determinação dos números de dias demulta.A outra rouba para vender e depois vai compra droga

 Aqui a situação económica dela não é relevante.⇒ Concluindo, todas as considerações atinentes quer à culpa, quer à prevenção geral e

especial devem influenciar apenas a 1ª operação de determinação da pena de multa.Tudo o que respeita à situação económica do agente não deve em regra ser tido em

consideração nesta fase, excepto quando a situação económica do agente for determinante daculpa deste.

▣ Fixação do quantitativo diário

 Nos termos do art.47 nº2, o  juiz deve fixar o quantitativo diário entre 5€ e 500€, tendo

em conta a situação económico-financeira do agente e dos seus encargos pessoais.Deste modo, pretende-se dar a realização ao  princípio da igualdade de ónus e desacrifícios, promovendo a eficácia preventiva da multa.

 Nem sempre é fácil para o juiz averiguar a verdadeira situação económico-financeira doagente. O juiz pode fazer uso dos seus poderes de investigação oficiosa para obter prova sobreos elementos necessários para a correcta determinação do quantitativo diário (art.340, CPP)

Para a determinação do quantitativo diário, o juiz deverá atender à totalidade dosrendimentos próprios do agente, com excepção de abonos, subsídios eventuais, ajudas de custose similares.

O juiz deve atender ao último momento processual possível, isto é, o juiz vai ter ematenção a situação económico-financeira do agente, no momento da condenação (principio da

 proibição da reformatio in pejus) pelo facto de ser fixado neste ultimo momento processual(art.409, CPP).Segundo o  princípio da proibição da reformatio in pejus, sempre que o recurso seja

interposto no exclusivo interesse da defesa, o condenado não pode ver a sua pena agravada emsede de recurso. Visa garantir um efectivo direito ao recurso por parte do condenado ( art.32/1,CRP)

 No caso de haver um recurso interposto apenas no interesse da defesa, o tribunal não poderá aumentar o número dos dias de multa, mas já poderá agravar o quantitativo diário, seentretanto tiver melhorado a situação económico-financeira do condenado, porque oquantitativo diário se fixa no último momento processualmente possível. Em nome do

 principio, de que a pena de multa deve ser sempre uma sanção politico-criminalmente eficaz

(art.409 nº2, CPP).Podemos ter neste âmbito, o problema da carência de rendimentos. No momento em que

o juiz vai determinar o quantitativo diário, este pode verificar que o condenado não tem

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Direito Penal III 24

rendimentos próprios, por ser estudante, desempregado ou domestica/o, mas não significa queestas pessoas não podem ser condenadas numa pena de multa.

Auferem de: Estudantes: bolsa, mesada;Desempregados: subsídio de desemprego;Donas de casa: beneficiam de uma parte do rendimento do outro cônjuge, para despesas próprias.

Assim deste modo, é a estas quantias que se deve atender quando determinamos a penade multa a aplicar a um destes agentes. Devemos atender apenas a esta quantia, porque não

 podemos esquecer que não pode haver terceiros a pagar a pena de multa.Mas há sempre um limite inultrapassável, o mínimo existencial.Pode acontecer ainda que no momento em que o juiz vai determinar o quantitativo

diário, ele se depare com uma situação em que o condenado nem o mínimo da pena legal pode pagar (5€), porque o agente vivia no limiar mínimo de subsistência ou mesmo abaixo dele.

 Nestes casos, o CP prevê mecanismos para fazer face a estas situações:- Deve ser fixado o quantitativo no mínimo legal (5€), para posteriormente ter 

lugar a conversão da multa em prisão subsidiária- Depois dá-se a suspensão da execução da pena de prisão subsidiária com

subordinação ao cumprimento e deveres ou regras de conduta de conteúdo não

económico ou financeiro (art.49/1/3)

Esta é a solução actualmente prevista, para os casos de não pagamento da penade multa por razões não imputáveis ao condenado, contemporânea da condenação.

▣ Fixação do prazo e condições de pagamento

Pode eventualmente surgir uma 3ª operação, que consiste na fixação do prazo ou dascondições de pagamento da pena de multa, nos termos e com os limites fixados no art.47 nº3, 4e 5, sempre que a situação económica e financeira do condenado o justifique.

O juiz pode deferir o prazo para pagar a multa ou para permitir o pagamento em prestações de acordo com a situação económica do condenado (art.47/3). Esta possibilidade pretende evitar, até ao limite possível, que a pena de multa não seja cumprida, mas têm dehaver limites a esta possibilidade de deferimento e pagamento a prestações, para que a multacontinue a ser sentida como uma verdadeira pena.

O art.47/3 estabelece que sempre que a situação financeira do condenado o justifique, otribunal pode autorizar o pagamento da multa dentro de um prazo que não exceda um ano, ou

 permitir o pagamento em prestações, não podendo a última delas ir além dos dois anossubsequentes à data do trânsito em julgado da sentença de condenação. Porém, a falta de

  pagamento de uma das prestações importa o vencimento de todas (art.45/5). Vale aqui, o

 princípio da razoabilidade, pois são operações autónomas.

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Direito Penal III 25

Caso prático

A cometeu um crime de furto (art.203) Na 1ª operação de determinação da pena ao ter de escolher entre a pena de prisão e a

 pena de multa, o juiz optou pela pena de multa principal.Determine a pena de multa a aplicar a A.

O juiz decidiu aplicar a pena de multa a título principal.Tem de averiguar a moldura penal abstracta (art.47): 10 dias a 360 diasDepois deve determinar a medida concreta da pena.

Atendendo à culpa do agente e às exigências de prevenção, o juiz fixa 100 dias de multaO juiz fixa um quantitativo diário de 9€Logo, fica 9€ x 100 = 900€ de multa

É importante saber:- Como se calcula a pena aplicável- Os pressupostos da punição

- O modo de aplicação da pena.

Caso prático

A foi condenado como cúmplice pela prática de um crime punível com uma moldura penal abstracta de 5 a 15 anos.

Qual é a moldura de que o juiz deve partir para determinar a pena a aplicar a A?

Crime: 5 a 15 anosCúmplice (art.27/2) é uma circunstância modificativa atenuante expressamente prevista

na lei, remete para o art.73

Limite máximo reduzida a 1/3: dá 10 anos

15 x 1/3 = 15/3 = 515 – 5 = 10

Limite mínimo reduzido a 1/5 ou ao mínimo legal: dá 1 ano

5 x 1/5 = 5/5 = 1

 Nova moldura:1 ano a 10 anos

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Direito Penal III 26

Caso prático:B foi condenado como cúmplice pela prática de um crime punível com uma moldura

 penal abstracta de 1 a 9 anos.Qual é a moldura de que o juiz deve partir para determinar a pena a aplicar a A?

Crime: 1 a 9 anosCúmplice (art.27/2) é uma circunstância modificativa atenuante expressamente prevista

na lei, remete para o art.73Limite máximo reduzida a 1/3: dá 6 anos

9 x 1/3 = 9/3 = 39 – 3 = 6

Limite mínimo reduzido a 1/5 ou ao mínimo legal (art.41/1): 1 mêsO limite mínimo aqui é reduzido ao mínimo legal por se tratar de uma pena

inferior a 3 anos.

 Nova moldura: 1 mês a 6 anos

Caso prático:A foi condenado pela prática de um crime punível com uma moldura penal abstracta de

3 a 12 anos. A foi cúmplice (art.27/2), mas o crime não chegou verdadeiramente a consumar-se(art.23/2), e ele tem 19 anos (art.4 do DL nº401/82).

Qual é a moldura de que o juiz deve partir para determinar  a pena a aplicar a A?

É um caso de circunstâncias modificativas:CumplicidadeTentativaIdade

Vamos fazer funcionar as três circunstâncias, porque têm uma fundamentação diferente.  Nós seguimos o sistema do funcionamento sucessivo, vamos fazer funcionar cadacircunstância sucessivamente.

Crime: 3 a 12 anos

1ª Circunstância a funcionar 

Cúmplice (art.27/2) é uma circunstância modificativa atenuante expressamente previstana lei, remete para o art.73

Limite máximo reduzida a 1/3: dá 8 anos

 

Limite mínimo reduzido a 1/5 ou ao mínimo legal: dá 7 meses e 6 dias 

Como se torna difícil calcular é preferível converter os 3 anos em meses3 anos = 36 meses36 |51 7 meses

Mas sobra 1 mês, que também pode ser dividido, então converte-se 1 mês em dias edivide-se novamente por 5

1 mês = 30 dias

30 |50 6 dias

 Nova moldura: 7 meses e 6 dias a 8 anos

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Art.73 nº1 al.a) eb)

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Direito Penal III 27

2ª Circunstância a funcionar 

Tentativa (art.23/2, art.73). Partimos da nova moldura legal

Limite máximo reduzida a 1/3: dá 5 anos e 4 meses

 

8 anos = 96 meses, então teremos:

96 |332 meses

32 meses = 2 anos e 8 mesesLogo, 8 anos – 2 anos e 8 meses = 96 meses – 32 meses

= 64 meses= 5 anos e 4 meses

Limite mínimo reduzido a 1/5 ou ao mínimo legal: dá 1 mês (art.41 nº1)

 Nova moldura: 1 mês a 5anos e 4 meses

3ª Circunstância a funcionar 

Jovem adulto (art.4 do DL e art.73). Partimos da nova moldura legal

Limite máximo reduzida a 1/3: dá 3 anos 6 meses e 20 dias

 

5 anos e 4 meses = 64 meses, então teremos:64 |304 21 meses1

21 meses = 1 ano e 9 meses

Mas sobra 1 mês, que também pode ser dividido, então converte-se 1 mês em dias edivide-se novamente por 3

1 mês = 30 dias30 |30 10 dias

Logo, 5 anos e 2meses – 1 anos, 9 meses e 10 dias = 64 meses – 21 meses e 10 dias= 43 meses - 10 dias

43 |120 7 3 anos

= 3 anos e 7 meses – 10 dias7 x 30 = 210 dias

 

= 3 anos e 210 dias – 10 dias

= 3 anos e 200 dias200 |3020 6 meses

= 3 anos 6 meses e 20 dias

Limite mínimo reduzido a 1/5 ou ao mínimo legal: dá 1 mês (art.41 nº1)

A moldura legal passou a ser de: 1 mês a 3 anos 6 meses e 20 dias

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Direito Penal III 28

Casos especiais de determinação da pena aplicável

√ Reincidência

 Não é correcto chamar reincidente a todas as pessoas que cometem mais do que umcrime, porque a reincidência depende da verificação de certos pressupostos (art.75/1/2)

▣ Pressupostos:

Pressuposto material

Porque é que o agente reincidente vai ser mais fortemente punido, do que o agente nãoreincidente?

 No caso da reincidência, o agente é mais punido porque há um maior grau de culpa, por causa de a título pessoal, ter havido uma desconsideração pela solene advertência contida nacondenação anterior. O agente praticou um 1º crime e foi condenado por esse crime; essacondenação transitou em julgado e depois quando pratica um 2º crime, ele revela umdesrespeito pela advertência contida na condenação anterior. Tem por isso, o agentereincidente, uma maior culpa.

Esquema da reincidência:

Em relação a este agente são necessárias maiores exigências de prevenção especial, poiso agente é mais perigoso. No entanto, o que justifica a maior punição na reincidência é umamaior culpa. As necessidades de prevenção especial actuarão apenas de forma indirecta ou

imediata, se o fundamento de uma maior sanção for uma maior perigosidade do agente, deforma imediata, relevando a culpa de forma mediata, aplica-se aqui uma pena relativamenteindeterminada. Dai que no art.76 nº2 se diga, que se numa situação convergirem os

 pressupostos da reincidência e da pena relativamente indeterminada, deve aplicar-se a penarelativamente indeterminada.

O pressuposto material da reincidência está no art.75 nº1, 2ª parte. É este pressupostomaterial que faz com que nem sempre o facto de o agente praticar um crime depois de já ter transitado em julgado uma condenação por um crime anterior.

Este pressuposto pressupõe que entre os dois crimes tenha de existir uma conexãoíntima, mas esta conexão íntima não exige que tenha de ser a repetição do mesmo tipo decrime.

 p.ex. furto e violação, não têm qualquer relação intima, logo não são reincidentes.É necessário que sejam factos de natureza análoga e para isto atende-se ao bem jurídico

violado, aos motivos que levaram o agente a praticar o crime e à sua forma de execução. p.ex. Crime 1: crime de violação (art.164)

Crime 2: crime de coação sexual (art.163) São crimes diferentes, mas o bem jurídico é o mesmo; direito à auto-

determinação sexualO mesmo acontece se for abuso de confiança (art.203) e furto

Pode ainda acontecer que haja a violação do mesmo bem jurídico e não hajareincidência.

 p.ex. a situação de degradação social ou o efeito criminógeneo da prisão, podem fazer com que, apesar do agente ter voltado a violar o mesmo bem jurídico, ele não revele umverdadeiro desrespeito pela solene advertência, contida na condenação anterior.

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Crime1

Crime2

1º Condenação

 Trânsito em Julgado

do 1º crime

Reincidência

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Direito Penal III 29

Pressupostos formais (art.75)

Pressupostos relativos ao primeiro crime:▪ É necessário que haja uma decisão transitada em julgada

Ou seja, quando já não é possível recorrer-se da decisão, o prazo pararecorrer é de 20 dias após da decisão, mas há decisões que são irrecorríveis desde oinicio (art.411, CPP)▪ É necessário que se trate de um crime doloso▪ É necessário que ele tenha sido punido com uma pena de prisão efectiva superior a 6

meses.O 1º crime tem de ser punido com pena de prisão efectiva, por isso não há reincidência,

se o agente foi punido pelo 1º crime com uma pena de substituição, ainda que privativa daliberdade. P.ex. semi-detenção

 No art.75 nº1 exige-se que o agente tenha sido condenado numa pena de prisão efectivade 6 meses, mas não é necessário que ele a tenha cumprido efectivamente (art.75/4)

Pressupostos relativos ao segundo crime:▪ É necessário que o 2º crime seja um crime doloso▪ É necessário que seja punido com uma pena de prisão efectiva superior a 6 meses.▪ É necessário que entre a prática do 1º crime e a prática do 2º crime não tenha

decorrido mais do que 5 anos (art.75/2/4)Se tiverem passado mais de 5 anos prescreve o regime da reincidênciaPara a reincidência não conta o tempo em que o agente esteve preso efectivamente ou

 privado da sua liberdade, pois durante esse tempo em que estive preso o agente não foi posto à prova de modo a cumprir a advertência da condenação anterior 

▣ Operações de determinação da pena da reincidência

 Nos termos do art.76 o limite mínimo da pena aplicável é elevado de 1/3 e o limitemáximo da pena aplicável permanece inalterado.

1ª Fase: Determinar a pena concreta em que o agente seria condenado se não fossereincidente.

Só fazendo esta operação é que saberemos se pelo 2º crime o agente seria ou não punidocom uma penda de prisão efectiva superior a 6 meses.

2ª Fase: Construção da moldura da reincidência (art.76/1)O limite mínimo da pena aplicável é elevado de 1/3O limite máximo da pena aplicável permanece inalterado

3ª Fase: Dentro da moldura da reincidência, vamos determinar a pena concreta deacordo com os critérios do art.71, e tendo em conta que o agente é reincidente

Podia surgir aqui um problema em relação ao princípio da proibição da dupla valoraçãoda pena, mas este princípio não é violado, pois não estamos a valorar duas vezes o pressupostomaterial da reincidência (maior culpa), porque o que foi valorado para a construção da moldurada reincidência, foi o facto de o agente ter desrespeitado a solene advertência constante da 1ªcondenação.

 Na 3ª operação, ao atender à moldura, ao atender à moldura, o que se vai valorar é ograu desse desrespeito. Este princípio não impede ao juiz de atender à intensidade e aos efeitosdo preenchimento do tipo.

4ª Fase: Não é uma verdadeira operação de determinação da pena; ela é uma operaçãode limitação (art.76/1, 2ª parte)

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Direito Penal III 30

Temos de ver se a agravação respeita o limite estabelecimento na pena mais grave nascondenações anteriores. Para evitar que a condenação anterior numa pena pequena possa por efeito da reincidência, ir gravar desproporcionalmente, a pena do 2º crime – presente a ideia de

 proporcionalidade.

Como sabemos de quanto é a gravação?Sabemo-lo, pela determinação da agravação, através da subtracção à pena da

reincidência, a pena a que o agente seria condenado, se não fosse reincidente. p.ex.7 – 5 = 2 (a agravação foi de 2 anos)

O limite da gravação foi cumprida, porque a condenação anterior foi de 4 anos, por isso,não a excedeu. O máximo que se poderia aplicar seria 9, porque 9-5=4 4 é o limite.

Acórdão STJ, de 3 de Novembro 2005

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Direito Penal III 31

Caso práticoEm Março de 2000, A cometeu um crime pelo qual foi condenado em Maio de 2001, a

uma pena de 4 anos de prisão.Em Abril de 2006, A cometeu um crime punível com uma pena de 3 a 12 anos de

 prisão.Determine a pena a aplicar a A pelo segundo crime.

Estamos perante um caso que nos leva para o campo da reincidência, casos em que oarguido comete um crime subsequente da mesma espécie pelo qual já tinha sido condenado.Logo, aquele que reitera deve ser objecto de uma condenação mais severa do que aquele quecomete um crime pela 1ª vez e nunca foi condenado. Pode suceder que não haja reincidência,mas a reiteração pode levar à perigosidade do agente.

A reincidência está reservada para um núcleo restrito de casos, aqueles que reúnem osrequisitos do art.75 nº1 e 2.

Art.75  Prevê os casos em que há reincidênciaArt.76  Consequências da reincidência.

Só há reincidência quando o crime é cometido depois do trânsito em julgado do crimeanterior. A reincidência quando actua, actua ao nível da determinação da pena do novo crime.Os crimes que já estão para trás já têm a pena determinada, já têm a sua condenação. O

 problema que o tribunal tem que resolver é a determinação da pena do novo crime. É emrelação ao novo crime que se coloca o problema da reincidência.

Determinação da pena em caso de reincidência:

1ª Operação: Determinar a pena como se não fosse reincidente3 anos

2ª Operação: Construção da moldura da reincidência

Sendo, como vimos, a nossa moldura abstracta de 3 a 12 anos, refere o art.76º/1 que:⁃ Limite mínimo é elevado a 1/3: dá 1 ano

 

⁃ Limite máximo permanece inalterado: 12 anos

⁃  Nova moldura legal abstracta: 1 ano a 12 anos.3ª Operação: Dentro da moldura da reincidência determinar a pena concreta, como sendoreincidente.

Sendo assim, é fixada a pena concreta de 6 anos.

4ª Operação: saber quanto foi a agravação

6 anos (pena da agravação) - 3 anos (pena que lhe seria aplicada se não fosse areincidência) = 3 anos Agravação

Se a agravação não pode exceder a pena aplicada ao crime anterior, então 3 anos(montante da agravação) é inferior a 4 (pena anterior)

Caso prático

2009/2010

Crime1

Crime2

1º Condenação Trânsito em Julgadodo 1º crime

ReincidênciaMarço

2000Março2001(4 anos)

Abril 2006(3 a 12anos)

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Direito Penal III 32

Em Março de 2000, A cometeu um crime pelo qual foi condenado em Maio de 2001, auma pena de 4 anos de prisão.

Em Abril de 2006, A cometeu um crime punível com uma pena de 3 a 12 anos de prisão.

Determine a pena a aplicar a A pelo segundo crime.

Estamos perante um caso que nos leva para o campo da reincidência, casos em que oarguido comete um crime subsequente da mesma espécie pelo qual já tinha sido condenado.Logo, aquele que reitera deve ser objecto de uma condenação mais severa do que aquele quecomete um crime pela 1ª vez e nunca foi condenado. Pode suceder que não haja reincidência,mas a reiteração pode levar à perigosidade do agente.

A reincidência está reservada para um núcleo restrito de casos, aqueles que reúnem osrequisitos do art.75 nº1 e 2.Art.75  Prevê os casos em que há reincidênciaArt.76  Consequências da reincidência.

Só há reincidência quando o crime é cometido depois do trânsito em julgado do crimeanterior. A reincidência quando actua, actua ao nível da determinação da pena do novo crime.Os crimes que já estão para trás já têm a pena determinada, já têm a sua condenação. O

 problema que o tribunal tem que resolver é a determinação da pena do novo crime. É emrelação ao novo crime que se coloca o problema da reincidência.

Determinação da pena em caso de reincidência:

1ª Operação: Determinar a pena como se não fosse reincidente3 anos

2ª Operação: Construção da moldura da reincidência4 a 9 anos

3ª Operação: Dentro da moldura da reincidência determinar a pena concreta, comosendo reincidente.

5 anos4ª Operação: saber quanto foi a agravação

5-2 = 2 anos

Caso prático

2009/2010

Crime1

Crime2

1º Condenação Trânsito em Julgadodo 1º crime

ReincidênciaMarço

2000Março2001(4 anos)

Abril 2006(3 a 12anos)

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Direito Penal III 33

Em 2006, A cometeu um crime pelo qual foi condenado 8 meses de prisão.Em 2008, A cometeu um crime punível com uma pena de 3 a 9 anos de prisão.Partindo do princípio de que se trata de uma situação de reincidência, determine a pena

a aplicar a A.

Estamos perante um caso que nos leva para o campo da reincidência, casos em que oarguido comete um crime subsequente da mesma espécie pelo qual já tinha sido condenado.Logo, aquele que reitera deve ser objecto de uma condenação mais severa do que aquele quecomete um crime pela 1ª vez e nunca foi condenado. Pode suceder que não haja reincidência,mas a reiteração pode levar à perigosidade do agente.

A reincidência está reservada para um núcleo restrito de casos, aqueles que reúnem osrequisitos do art.75 nº1 e 2.

Art.75 

Prevê os casos em que há reincidênciaArt.76  Consequências da reincidência.

Só há reincidência quando o crime é cometido depois do trânsito em julgado do crimeanterior. A reincidência quando actua, actua ao nível da determinação da pena do novo crime.Os crimes que já estão para trás já têm a pena determinada, já têm a sua condenação. O

 problema que o tribunal tem que resolver é a determinação da pena do novo crime. É emrelação ao novo crime que se coloca o problema da reincidência.

Determinação da pena em caso de reincidência:

1ª Operação: Determinar a pena como se não fosse reincidente: 3 anos2ª Operação: Construção da moldura da reincidência: 4 a 9 anos3ª Operação: Dentro da moldura da reincidência determinar a pena concreta, como

sendo reincidente: 5 anos4ª Operação: saber quanto foi a agravação: 5-2 = 2 anos

Mas não pode ser porque excede o limite dos 8 meses (que é a pena a que foi condenadono primeiro crimes que é o limite da agravação)

Então, nunca se poderia aplicar os 5 anos.Mas neste caso mesmo que se aplique uma pena na 3ª operação, que coincida com o

limite mínimo da pena aplicável na reincidência, não se conseguia aplicar o limite mínimo daagravação. Qualquer pena aplicada aqui não seria nunca igual limite imposto pela agravação,seria sempre superior.

 Neste caso, deve dar-se prevalência ao limite imposto pela agravação, porque este limiteé um limite absoluto e externo igual tem de ser sempre cumprido.

Quando a pena a que o agente foi condenado pelo crime 1 é muito baixa, pode acontecer que a pena a aplicar ao agente reincidente do crime 2, tenha de fixar abaixo do limite mínimoda moldura da reincidência, por uma questão de proporcionalidade.

Daí que se diga que a 1ª operação de determinação da pena, no caso de reincidência éduplamente instrumental.

Porque: É necessário para sabermos se o 2º crime deve ser punido com pena de prisãoefectiva superior a 6 meses.

É necessário para sabermos se está respeitado o limite imposto pela agravação(art.76/1)

Caso prático

2009/2010

Crime1

Crime2

1º Condenação

 Trânsito em Julgado

do 1º crime

Reincidência

20068 meses

2008(3 a 9anos)

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Direito Penal III 34

A praticou um crime de abuso de confiança (art.205/4-al.a)), e foi condenado a uma pena de 3 anos de prisão. A moldura do art.205 nº4 al.a) é de 1 mês a 5 anos.

Depois, A cometeu um crime de furto qualificado (art.204/2) punível com uma pena de2 a 8 anos de prisão.

  No entanto, este crime de furto não chegou a consumar-se, ficou como tentativa(art.23/2).

Pressupondo que está preenchido o pressuposto formal da reincidência, diga qual a penaa aplicar a A pelo segundo crime.

Temos aqui um concurso de circunstâncias modificativas atenuantes e agravantes. Nos casos em que há concorrência entre circunstancias atenuantes e a reincidência

(agravantes), devem actuar 1º as atenuantes e só depois a reincidência (agravante)

Crime 2: 2 a 8 anos

1. Tentativa (atenuante): actua aqui a tentativa porque o crime não se chegou aconsumar (art.23/2 73)

Limite máximo reduzida a 1/3: dá 5 anos 4 meses

 

8 anos = 96 meses, então teremos:96 |3

0 32 meses

8 anos - 32 meses = 96 meses – 32 meses= 64 meses

64 |124 5 anos

= 5 anos e 4 meses

Limite mínimo reduzido ao mínimo legal: dá 1 mês (art.41 nº1), porque é inferior a 3anos (art.73/1 al.b)

 Nova moldura: 1 mês a 5 anos 4 meses

2. Reincidência (art.75 e 76)Aqui tem-se em atenção a nova moldura atenuada: 1 mês a 5 anos 4 meses

1ª Operação: Determinar a pena como se não fosse reincidente3 anos

2ª Operação: Construção da moldura da reincidência

Limite máximo mantém-se inalterado: dá 5 anos 4 meses

Limite mínimo é elevado a 1/3: dá 1 mês e 10 dias

 

1 mês = 30 dias, então teremos:30 |3

0 10 dias

1 mês + 10 dias = 30 dias +10 dias= 1 mês e 10 dias

 Nova moldura: 1 mês e 10 dias a 5 anos 4 meses

2009/2010

Crime1

Crime2

1º Condenação

 Trânsito em Julgado

do 1º crimeReincidência

3 anos 2 a 8 anos Tentativa

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Direito Penal III 35

3ª Operação: Dentro da moldura da reincidência determinar a pena concreta, comosendo reincidente.

5 anos

4ª Operação: saber quanto foi a agravação5-2 = 2 anos

Logo, cumpriu-se o limite da agravação. Pois o limite da agravação foi de 2anos, respeitando o limite da pena a que o agente havia sido condenado pelo crime 1 (3anos)

A iria cumprir uma pena de 5 anos

  Nestes casos de concorrência entre a reincidência e a circunstância modificativaatenuante, primeiro actua a circunstância modificativa atenuante, porque só deste modo é que é

 possível determinar a medida da pena do crime 2, independentemente da reincidência.Por outro lado, só deste modo é que sabemos se está preenchido o requisito de i crime 2

ser punido com prisão efectiva superior a 6 meses,

Por outro lado, só fazendo actuar primeiro a circunstancia modificativa atenuante que se pode vir a saber de quanto é que foi efectivamente a agravação,

Caso práticoEm Março de 2000, A cometeu um crime pelo qual foi condenado em Maio de 2001, a

uma pena de 4 anos de prisão.Em Abril de 2006, A cometeu um crime punível com uma pena de 3 a 12 anos de

 prisão.Determine a pena a aplicar a A pelo segundo crime.

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2009/2010

Crime1

Crime2

1º Condenação

 Trânsito em Julgado

do 1º crimeReincidênciaMarço

2000Março2001(4 anos)

Abril 2006(3 a 12anos)

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Direito Penal III 36

√ Concurso de crimes

O pressuposto da aplicação do regime de punição do concurso de crimes é que o agentetenha praticado vários crimes antes de transitar em julgado a condenação por qualquer deles(art.77/1).

▣ Exige-se:

▪ Que o agente tenha cometido efectivamente mais do que um tipo de crime ou quecom a sua conduta tenha preenchido mais do que uma vez o mesmo tipo de crime (art.30/1),abrange o concurso efectivo e exclui o concurso legal (onde o que existe é uma unidadecriminosa);

▪ Que a prática dos crimes tenha tido lugar antes do transito em julgado da condenação por qualquer deles.

▣ Possibilidades de tratamento do concurso de crimes▪  Sistema de acumulação material: determina-se a pena correspondente a cada crime

em concurso, aplicam-se na sua totalidade e são depois sucessivamente cumpridas se tiverem amesma natureza e se for materialmente possível.

▪  Sistema da pena única: aos crimes em concurso corresponde uma pena: uma penaunitária ou uma pena conjunta.

⁃ Pena unitária: quando a punição do concurso ocorra sem considerar o número decrimes concorrentes e independentemente da forma como poderiam combinar-se as

 penas que a cada um caberiam. Neste caso, a punição do concurso é levada acabo através da pena concretamente

determinada e cabida ao crime mais grave, com a consequência da impunidade doscrimes de igual ou menor gravidade.

⁃  Pena conjunta: sempre que as molduras penais previstas, ou as penasconcretamente determinadas, para cada um dos crimes em concurso sejam depoistransformadas segundo um   principio de observação ou um   principio deexasperação/agravamento .

 Neste caso, a punição do concurso ocorre em função da moldura penal prevista parao crime mais grave, devendo a pena concreta ser agravada por força da pluralidade decrimes, com a consequência de o efeito agravante ser tanto menor quanto maior for onúmero de crimes praticados pelo agente.

▣ Determinação da pena no direito vigente

 Nos termos do art.77 nº1, quando alguém tiver praticado vários crimes antes de transitar em julgado a condenação por qualquer deles é condenado numa única pena, sendo

considerados na medida da pena, em conjunto, os factos e a personalidade do agente. Nos termos do art.77 nº2, a pena aplicável tem como limite máximo a soma das penas

concretamente aplicadas aos vários crimes, não podendo ultrapassar 25 anos tratando-se de pena de prisão e 900 dias tratando-se de pena de multa (art.41/2)

▪ O direito português adopta um sistema de  pena  conjunta, obtida através de umcúmulo jurídico.

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Direito Penal III 37

⁃ O tribunal começa por determinar a pena (de prisão ou de multa) que concretamentecaberia a cada um dos crimes em concurso, segundo o procedimento normal de determinaçãoaté à operação de escolha da pena.

⁃ O tribunal constrói a moldura penal do concurso: O limite máximo é dado pela soma das penas concretamente aplicadas aosvários crimes, com os limites previstos no nº2 do art.77;

O limite mínimo corresponde à mais elevada das penas concretamenteaplicadas aos vários crimes.⁃ O tribunal determina a medida da pena conjunta do concurso, seguindo os critérios

gerais da culpa e da prevenção (art.71) e o critério especial segundo o qual na medida da pena

 são considerados, em conjunto, os factos e a personalidade do agente (art.77/1, 2ª parte). Ocritério especial garante a observância do princípio da proibição da dupla valoração.

⁃ O tribunal tem o poder dever de substituir a pena única conjunta encontrada por uma pena de substituição, em função dos critérios gerais de escolha da pena (art.70), sem que fique prejudicada a possibilidade de impor penas acessórias ou medidas de segurança (art.77/4).

↝ As operações acabadas de descrever valem para os casos em que os crimescorrespondem penas parcelares da mesma espécie ou só penas de prisão ou só penas demulta.

↝ Se as penas parcelares forem de espécie diferente, umas de prisão e outras de multa,dispõe o art.77 nº3 que a diferente natureza destas mantém-se na pena única resultante daaplicação dos critérios estabelecidos nos números anteriores.

Se as penas aplicadas aos crimes em concurso forem de prisão e de multa (pena demulta principal), converte-se a multa em prisão subsidiária nos termos do art.49/1, para destaforma poder ser determinada a pena única do concurso, segundo o procedimento que vale paraas penas da mesma natureza.

O condenado poderá sempre optar por pagar a multa, caso em que esta deixa de entrar no procedimento de determinação da pena única conjunta.

Acórdãos importantes nesta matéria:Ac. STJ 9 de Abril 2008: cúmulo por arrastamentoAc. STJ 21 de Maio 2008: conhecimento superveniente do concursoAc. STJ 14 de Julho 2008: cúmulo jurídico

▣ Determinação superveniente da pena do concurso

O art.78 nº1 dispõe que   se, depois de uma condenação transitada em julgado, semostrar que o agente praticou, anteriormente àquela condenação, outro ou outros crimes, são

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Direito Penal III 38

aplicáveis as regras da punição do concurso, sendo a pena que já tiver sido cumpridadescontada no cumprimento da pena única aplicada ao concurso de crimes. O nº2 refere quetais regras são aplicáveis relativamente aos crimes cuja condenação transitou em julgado.

▪ Pressupostos:⁃ Que o crime de que haja só agora conhecimento tenha sido praticado antes da

condenação anteriormente proferida.O momento temporal decisivo para saber se o crime agora conhecido foi ou não anterior à condenação é o momento em que esta foi proferida e não o do seu trânsito em julgado.

 O que exclui: quer os crimes praticados entre a condenação e o transito em julgado da

mesma; quer os crimes praticados depois deste transito em julgado;

Tendo lugar nestes casos a execução sucessiva de várias penas (art.63).

⁃ Que as condições pelos crimes já tenham transitado em julgado, o que pressupõe que

os crimes já tinham sido objecto de condenações transitadas em julgado. O actual art.78 nº2 estabelece que a determinação superveniente da pena só tem lugar se as condenações já tiverem transitado em julgado.

Considerando o art.472 do CPP, é de concluir que, em caso de conhecimentosuperveniente do concurso, é sempre designado dia para a realização de audiência, com oobjectivo exclusivo de determinar a pena única correspondente. A determinação supervenienteda pena deixou de poder ser feita pelo tribunal que julga o crime praticado anteriormente àcondenação que já teve lugar, ainda que este segundo tribunal conheça a condenação anterior játransitada em julgado.

Com as alterações introduzidas pela Lei 59/2007, foi eliminado o pressuposto de a penaanterior não estar cumprida, prescrita ou extinta extensão dos casos de determinação

superveniente da pena.

▪ Regime:⁃ Se a condenação anterior tiver tido lugar por um crime singular, o tribunal, em função

desta condenação e da pena correspondente ao crime praticado antes desta, determina a penaúnica conjunta:

⁃ Se a condenação anterior tiver sido já em pena única conjunta, o tribunal anula-a edetermina uma nova pena conjunta, em função das penas parcelares concretamentedeterminadas.

Em qualquer caso, a pena que já tiver sido cumprida é descontada no cumprimento da

 pena única agora aplicada (art.78/1, in fine).⁃  Se à condenação anterior corresponder uma pena de substituição, deverá ser 

determinada uma pena única conjunta, a partir da pena de prisão substituída ou das penas parcelares de prisão que integram a 1ª condenação. O tribunal substituirá ou não a pena únicaconjunta encontrada em função dos critérios gerais de escolha da pena (art.70), procedendodepois ao desconto da pena anterior (art.78/1, in fine e art.81/1/2)

∗ Conclusão:O que distingue o concurso da reincidência é o facto de:

 No concurso, os vários crimes são praticados  antes do trânsito em julgad o  dequalquer um deles; Na reincidência, o 2º crime é praticado  depois do  trânsito em julgado da 1ª 

condenação.

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Direito Penal III 39

Esta diferença não contrariada pelo disposto no art.78, porque no caso do conhecimento

superveniente do concurso, o agente cometeu mais do que um crime, mas no momento do julgamento, o juiz não teve conhecimento de todos os crimes que o agente cometeu, ou seja, o2º crime é praticado  antes do trânsito em julgado  da decisão , masmas só é conhecido depois do trânsito em julgado.

▣ Punição do crime continuado

O art.79 nº1 estabelece que o crime continuado é punível com a pena aplicável àconduta mais grave que integra a continuação   Principio da exasperação.

O tribunal determina a medida concreta da pena do crime continuado dentro da moldura penal mais grave cabida aos diversos crimes que integram a continuação, valorando dentrodessa moldura a pluralidade de actos.

O art.79 nº3 refere que se, depois de uma condenação transitada em julgado, for 

conhecida uma conduta mais grave que integre a continuação, a pena que lhe for aplicávelsubstitui a anterior.

O efeito de caso julgado deixa de se poder estender a todos os factos que integram acontinuação criminosa.

Atendendo ao procedimento de determinação da pena em caso de concurso de crimes – o limite máximo da pena corresponde à soma das penas concretamente aplicadas aos várioscrimes, bem como o facto de a pena única ser determinada considerando, em conjunto, osfactos e a personalidade do agente, o que apontaria para a consideração dos pressupostos que

 justificam esta hipótese de unidade jurídica criminosa – é de duvidar que o consagrado noart.79 tenha justificação.

Posição que, no limite, contende com a necessidade de autonomização da figura docrime continuado, de um ponto de vista dogmático e político-criminal.

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Direito Penal III 40

√ Desconto

O instituto do desconto, encontra-se regulado nos artigos 80, 81 e 82, justifica-se do ponto de vista político-criminal por imposição de justiça material   abrange as privações daliberdade de natureza processual que o agente tenha sofrido, as quais devem ser descontadas na

 pena em que o agente venha a ser condenado.

▣ Medidas processuais

Dispõe o art.80 que a detenção, a prisão preventiva e a obrigação de permanência na

habitação sofridas pelo arguido são descontadas por inteiro no cumprimento da pena de prisão ou da pena de multa , ainda que tenham sido aplicadas em processo diferente daquele

em que vier a ser condenado , quando o facto por que for condenado tenha sido praticado

anteriormente à decisão final do processo no âmbito do qual as medidas foram aplicadas. O desconto das medidas processuais nas penas principais em que o agente venha a

ser efectivamente condenado tem lugar ainda que estas medidas tenham sido aplicadas em processo diferente daquele em que vier a ser condenado.

‣  Se a medida processual for descontada em pena de prisão, o desconto é feito por inteiro (art.80/1);

‣ Se for descontada na pena de multa, o desconto é feito à razão de um dia de privaçãoda liberdade por, pelo menos, um dia de multa (art.80/2).

 Não obstante o silencio da lei, as medidas processuais devem ser ainda descontadas namedida de segurança de internamento (art.90/2), bem como nas penas de substituição quevenham a ser impostas, por inteiro ou fazendo o desconto que parecer equitativo, consoante oscasos.

▣ Pena anterior 

Dispõe o art.81 nº1 que   se a pena imposta por decisão transitada em julgado for  posteriormente substituída por outra, é descontada nesta a pena anterior  , na medida em que já

tiver cumprida.

Isto acontecerá, p.ex.:- Em casos de conhecimento superveniente do concurso- No contexto de um processo de revisão (art.449 e ss, CPP)- Na sequência da reabertura da audiência para aplicação retroactiva de lei penal

mais favorável (art.2/4 art.371-A do CPP)

‣ Se a pena anterior for descontada numa outra pena da mesma natureza, o desconto éfeito por inteiro (art.81/1)

‣ Se a pena anterior e a posterior forem de diferente natureza, é feito o desconto que parecer equitativo (art.81/2)

O tribunal determinará o quantum da nova pena que, por razões de tutela dos bens  jurídicos e de reintegração do agente na sociedade (art.40/1), se torna ainda indispensávelaplicar tendo em atenção o quantum de pena já anteriormente cumprido.

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Direito Penal III 41

√ Atenuação especial da pena

 Nos termos do nº1 do art.72, o tribunal atenua especialmente a pena , para além dos

casos expressamente previstos, quando existirem circunstâncias anteriores ou posteriores aocrime, ou contemporâneas dele, que diminuam de forma acentuada a ilicitude do facto, a culpa

do agente ou a necessidade de pena.

Casos expressamente previstos: art.10/3, 17/2, 27/2, 35/2, 206/2/3, 286 e 299/4Circunstâncias: art.72 nº2

O legislador formula no art.72 uma cláusula geral de atenuação especial da pena,regulando no art.73 o regime a que toda a atenuação especial deve sujeitar-se.

‣ Tratando-se de pena de prisão;⁃ O limite máximo é reduzido de 1/3 (art.73/1/a))⁃ A redução do limite mínimo depende do montante deste (art.73/1/b)):

Se for igual ou superior a 3 anos é reduzido a 1/5 Se for inferior a 3 anos é reduzido ao mínimo legal (1 mês, art.41/1;)

‣ Tratando-se de pena de multa (art.73/1/c));⁃ O limite máximo é reduzido de 1/3⁃ O limite mínimo é reduzido ao mínimo legal (10 dias, art.47/1;)

 Nos casos em que o limite máximo da pena de prisão não seja superior a 3 anos admite-se a substituição desta pena por multa, dentro dos limites gerais do art.70.

A pena que for concretamente determinada dentro da moldura penal especialmenteatenuada, em função dos critérios da culpa e da prevenção e com observância do princípio da

 proibição da dupla valoração (art.71/1), pode ainda vir a ser substituída nos termos gerais(art.73/2 e art.70)

√ Dispensa de pena

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Direito Penal III 42

O art.74 nº1 permite ao tribunal, verificados certos pressupostos, declarar o réu (o

arguido) culpado mas não aplicar qualquer pena. Declara-o culpado, mas dispensa-o de pena.

Há da parte do arguido um comportamento típico, ilícito, culposo e punível que, no

entanto, não determina a aplicação de uma qualquer pena, só a declaração de que é culpado, emvirtude do carácter bagatelar/insignificante daquele comportamento e da circunstância de a

 pena não ser necessária, perante as finalidades que deveria cumprir (art.40/1).Trata-se de um caso especial de determinação da pena, sendo a sentença que decreta a

dispensa da pena uma sentença condenatória (art.375/3 e 521, CPP).

Segundo o art.74, a dispensa de pena depende da verificação cumulativa dos seguintes pressupostos:

‣ Que o crime seja punível com pena de prisão não superior a 6 meses ou sócom pena de multa não superior a 120 dias

‣ Que a ilicitude do facto e a culpa do agente sejam diminutas (art.74/1 al.a))‣ Que o dano tenha sido reparado (art.74/1 al.b) /2)‣ Que à dispensa não se oponham razões de prevenção (art.74/1 al.c) e art.40/1).

Os requisitos previstos têm de ser observados quando uma outra norma admitir, comcarácter facultativo, a dispensa de pena (art.74/3) P.ex., os art.143/3, 148/2, 186 e 286.

Os requisitos de que depende o instituto da dispensa admitem um relacionamentounilateral ou unívoco entre pena e culpa, de harmonia com o preceituado no art.40 nº 1 e 2, oque permite a asserção de que a culpa é pressuposto e limite da pena, mas não o seufundamento.

A dispensa da pena é uma concretização do princípio político-criminal da necessidadeda intervenção penal, com expressão também ao nível do processo penal (art.280 CPP).

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Direito Penal III 43

Caso prático

Em Outubro de 2007, A cometeu um crime e em Dezembro 2007, cometeu outro crime.Está hoje a ser julgado pela prática destes dois crimes.

Determine a pena a aplicar a A pelo segundo crime.

Esta é uma situação de concurso de crimes (art.77)

Para haver concurso de crimes é necessário estarem preenchidos alguns pressupostos:- Tem de haver um concurso efectivo ou verdadeiro de crimes- O agente tem de ter praticado os vários crimes antes de transitar em julgado, a

sentença de qualquer um deles.- O art.30 nº1 diz que há concurso de crimes, quando o agente preencher vários tipos

legais de crimes, ou quando cometer várias vezes o mesmo crime.

O nosso sistema de determinação da pena no concurso de crimes é o sistema da penaúnica, na modalidade de sistema da pena conjunta, pelo método do cúmulo.

Sistema da pena única conjunta, de acordo com o método do cúmulo jurídico

Comporta três operações:∙ Determinação da pena concreta para cada um dos crimes: segundo o art.71, como

 pena principal. (não se considera aqui ainda a possibilidade de substituição)

∙  Construção da moldura do concurso: nesta operação temos que distinguir duassituações, referidas no art.77 nº2 e 3.Se, se tratar de penas parcelares da mesma espécie (ou todas de prisão ou todas

 penas de multa), o limite mínimo da moldura de concurso corresponde à pena parcelar mais grave e o limite máximo é a soma das penas concretamente aplicadas. Mas há aquium limite: o limite máximo não pode nunca ultrapassar os 25 anos de prisão ou 900 diasde multa. (art.77/2)

 Quando as penas parcelares são de espécie diferente (seja umas de prisão, outrasde multa).

Antes de ’95, valia a sistema da acumulação material, o agente tinha de cumprir tanto a pena de multa, como a pena de prisão.

Depois de ’95, também estes casos de penas parcelares de espécie diferente,continua a valer o sistema da pena única (art.77/3). É necessário converter aqui, a multaem prisão subsidiária (art.49) procede-se à redução do número de dias de multa a 2/3 edepois constrói-se a moldura do concurso como se, se tratasse de 2 penas de prisão.∙  Na 3ª operação vamos proceder à determinação da pena concreta dentro da moldura

do concurso, encontrada em função das exigências da culpa e da prevenção. O juiz vaideterminar a moldura concreta da pena conjunta (art.71) e ao critério especial do art.77 nº1, queestabelece que na determinação da medida concreta da pena do concurso, serão tidos em conta,em conjunto, os factos e a personalidade do agente (art.77 nº1, 2ª parte). Mas estes doiscritérios (factos e personalidade do agente), já foram considerados enquanto factores da medida

da pena, quando na 1ª operação se determina a pena concreta a aplicar a cada crime.

Estaremos a violar o princípio da proibição da dupla valoração?

2009/2010

Crime

1 Crime 2

 Julgamentodos crime1 e 2

Outubro2007

Dezembro2007 2008

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Direito Penal III 44

 Não, porque na 3ª operação nós vamos considerar os factos e a personalidade do agente,em conjunto, tendo em conta a totalidade dos crimes praticados. Ex. Se há uma conexão entreos diversos factos; se é uma situação ocasional ou se não.

Assim, o critério especial do art.77 nº1, radica no facto de o juiz ir analisar em conjunto,os factos e a personalidade do agente, em relação à totalidade dos crimes.

Só depois de encontrar a pena única conjunta é que pode haver lugar à substituiçãodessa pena, por uma pena de substituição.

Caso prático

Entre Agosto e Novembro de 2007, A cometeu 3 crimes. Os dois primeiros crimes são puníveis com uma pena de prisão de 1 mês a 3 anos, e o terceiro crime é punido com uma penade prisão de 2-8 anos. A está hoje a ser julgado por esses crimes.

Determine a pena a aplicar a A?

É uma situação de concurso de crimes.

1ª Operação: Determinar a pena concreta a aplicar a cada crime. (nota: aqui é necessárioinventar penas)

Crime 1: 1 ano

Crime 2: 2 anosCrime 3: 2 anos e 6 meses

2ª Operação: Construção da moldura do concurso

Estamos perante penas parcelares da mesma espécie (penas de prisão): O limite mínimo da moldura de concurso corresponde à pena parcelar mais grave

Limite mínimo: 2 anos e 6 meses

  O limite máximo é a soma das penas concretamente aplicadas. Mas há aqui umlimite: o limite máximo não pode nunca ultrapassar os 25 anos de prisão (art.77/2).

Limite máximo:5 anos e 6 meses

↝ Moldura penal do concurso é de 2 anos e 6 meses a 5 anos e 6 meses

3ª Operação: Art.71 art.77: é necessário avaliar em conjunto a culpa e a personalidade doagente

‣ O juiz determina uma pena de 3 anos

Como é uma pena inferior a 5 anos, pode esta ser objecto de substituição por:- Penas privativas da liberdade- Penas não privativas da liberdade

 Nota: Nota: Só se procede à substituição da pena, na última operação.Caso prático

2009/2010

Crime1

Crime 2

 Julgamento

dos crimes 1, 2,3

1 mês a 3anos

1 mês a 3anos 2009

Crime 3

2 a 8 anos

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Direito Penal III 45

Entre Janeiro e Novembro de 2007, B cometeu 2 crimes. O primeiro punível com uma pena de multa até 120 dias e o segundo crime é punível com uma pena de multa entre 60 a 360dias. B está hoje a ser julgado por esses crimes.

Determine a pena a aplicar a B?

É uma situação de concurso de crimes (art.77)

1ª Operação: Determinar a pena concreta a aplicar a cada crime. (nota: aqui é necessárioinventar penas)

Crime 1: 80 diasCrime 2: 200 dias

 Nota: Nota: o quantitativo diário só é encontrado no fim, quando tivermos a pena concreta doconcurso.

2ª Operação: Construção da moldura do concurso

Estamos perante penas parcelares da mesma espécie (penas de multa): O limite mínimo da moldura de concurso corresponde à pena parcelar mais grave

Limite mínimo: 200 dias

  O limite máximo é a soma das penas concretamente aplicadas. Mas há aqui umlimite: o limite máximo não pode nunca ultrapassar os 900 dias de pena de multa (art.77/2).

Limite máximo: 280 dias

↝ Moldura penal do concurso é de 200 dias a 280 dias

3ª Operação: Art.71  art.77: é necessário avaliar em conjunto a culpa e a personalidade doagente

‣ O juiz determina uma pena de multa de 260 dias‣ O juiz fixa o quantitativo diário em 10€

10€ x 260 = 2600€

A terá de pagar uma multa no valor de 2600€

Caso prático

2009/2010

Crime

1 Crime 2

 Julgamentodos crimes 1, 2

10 a 120 dias 60 a 360dias 2009

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Direito Penal III 46

Em Agosto de 2007, D cometeu um crime. O crime 1 punível com uma pena de prisãode 2 a 8 anos.

Em Setembro de 2007, cometeu o crime 2, punível com uma pena de multa entre 60 a360 dias.

Determine a pena a aplicar a D?

É uma situação de concurso de crimes (art.77)

1ª Operação: Determinar a pena parcelar a aplicar a cada crime. (nota: aqui é necessárioinventar penas)

Crime 1: 4 anos de prisão

Crime 2: 240 dias de multa2ª Operação: Construção da moldura do concurso

Estamos perante penas parcelares de espécie diferente‣ Quando as penas parcelares são de espécie diferente (seja umas de prisão, outras de

multa), continua a valer o sistema da pena única (art.77/3).É necessário converter aqui, a multa em prisão subsidiária (art.49) procede-se à redução

do número de dias de multa a 2/3 e depois constrói-se a moldura do concurso como se, setratasse de 2 penas de prisão.

↝ Conversão da multa em prisão subsidiária

 160|30 dias

5 meses

5 meses x 30 = 150 dias 160 dias -150 dias = 10 dias

160 dias de prisão = 5 meses e 10 dias de prisão

Temos assim, duas penas da mesma espécieCrime 1: 4 anos de prisãoCrime 2: 5 meses e 10 dias de prisão

 O limite mínimo da moldura de concurso corresponde à pena parcelar mais graveLimite mínimo: 4 anos

 O limite máximo é a soma das penas concretamente aplicadas (art.77/2).Limite máximo: 4 anos, 5 meses e 10 dias de prisão

↝ Moldura penal do concurso é de 4 anos a 4 anos, 5 meses e 10 dias de prisão.

3ª Operação: Art.71  art.77: é necessário avaliar em conjunto a culpa e a personalidade doagente

2009/2010

Crime1 Crime 2

 Julgamento

dos crimes 1, 2

2-8 anos deprisão

60 a 360 dias demulta

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Direito Penal III 47

‣ O juiz determina uma pena de 4 anos e 3 meses⇘

É necessário ter em atenção o que nos diz o art.77 nº3. O nº3 diz que a diferentenatureza das penas se mantém. Isto significa, que o condenado tem a possibilidade de

 pagar a multa evitando que a multa se repercuta/reflicta na pena do concurso.AssimAssim, quando as penas parcelares são de espécie diferente o condenado:

- Pode optar por pagar a multa e esta não entra na pena do concurso;- Pode optar por não pagar a multa e esta é convertida em pena de prisãosubsidiária, e entrara como pena parcelar na pena conjunta.

Caso prático

2009/2010

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Direito Penal III 48

A está hoje a ser julgado pela prática de um crime de ofensa à integridade física grave, punido pelo art.144, com uma pena de prisão de 2 a 10 anos e de um crime de furto, punido pelo art.203, com uma pena de prisão até 3 anos. Ambos os crimes foram cometidos em Abrilde 2006. Tendo em conta, que em Maio de 2004, A foi condenado pela prática de um crimecometido em 2003, crime doloso de abuso de confiança na pena de 1 ano de prisão.

Determine a pena a aplicar a A.

Problema: Temos entre o concurso de crimes uma situação em que o agente é reincidente em

relação ao crime de abuso de com fiança e o crime de furto.P.ex.: O abuso de confiança é quando se empresta o PC a A, e depois este não odevolve, recusa-se a fazê-lo. Já o furto é quando A rouba mesmo o PC.

 No crime 2 e 3 temos um concurso de crimes (art.77)

1ª Operação: Determinar a pena parcelar a aplicar a cada crime. (nota: aqui é necessárioinventar penas)

‣ Crime 2: 4 anos de prisão↝  No crime 3 há reincidência:

1ª Operação: Determinar a pena como se não fosse reincidente (art.75): 1 ano e 6 meses2ª Operação: Construção da moldura da reincidência: 1 mês e 10 dias a 3 anos

3ª Operação: Dentro da moldura da reincidência determinar a pena concreta, como sendoreincidente: 2 anos

4ª Operação: limite da agravação e de quanto é: a agravação foi de 6 meses, o limite foicumprido. (2 anos – 1 ano e 6 meses = 6 meses)

‣ Crime 3: 2 anos de prisão

2ª Operação: Construção da moldura do concurso O limite mínimo da moldura de concurso corresponde à pena parcelar mais grave

Limite mínimo: 5 anos

 O limite máximo é a soma das penas concretamente aplicadas (art.77/2).

Limite máximo: 7 anos ↝ Moldura penal do concurso é de 5 anos a 7 anos.

3ª Operação: Art.71  art.77: é necessário avaliar em conjunto a culpa e a personalidade doagente

‣ O juiz determina uma pena de 6 anos.⇘ Nesta operação teremos de analisar em conjunto, os factos e a personalidade do agente

Esta pena não pode ser substituída, porque só podem substituir penas até aos 5 anos.

Caso prático

2009/2010

Crime1

2003

1 mês -3anos

Concursode

crimes

Maio 20041 ano

 Julgamento do

crime1

Abuso deconfiança

2-10anos

Crime 22006

Crime 32006

 

 Julgamentodos

crimes 2 e 3

A é reincidente emrelação ao crime1 e ocrime 3

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Direito Penal III 49

Em Janeiro de 2007, A praticou um crime de furto (art.203) e punível com pena de prisão até 3 anos. Em Fevereiro de 2007, cometeu um crime de ofensa à integridade físicagrave (art.144) e punível com pena de prisão de 2 a 10 anos.

Em Novembro de 2007, A é condenado pena pratica de um crime de furto numa pena de2 anos de prisão. Neste momento, o tribunal desconhece a prática do crime 2.

Em Outubro de 2008, chega ao conhecimento do tribunal a pratica do crime 2, sabendo

este tribunal também, que A já foi condenado pela prática de crime 1.O que deve o juiz fazer quanto ao crime 2?

É uma situação do conhecimento superveniente do concurso de crimes (art.78)

 No caso do conhecimento superveniente do concurso, o agente cometeu mais do que umcrime, mas no momento do julgamento, o juiz não teve conhecimento de todos os crimes que oagente cometeu.

Pressupostos do conhecimento superveniente do concurso:‣ O crime de que se não teve conhecimento no momento da condenação, tem de ter sido

 praticado antes da condenação em 1ª instância.‣ Os crimes em questão têm de ter sido já objecto de condenações já transitadas em

 julgado.

 Note-se: Note-se:Mesmo que o 2º tribunal tenha conhecimento do crime 1 e do crime 2, ele não pode

determinar a pena única conjunta.É necessário ter em atenção o nº2 do art.78, que exige que ambos os crimes tenham já

sido objecto de condenação com trânsito em julgado.Deste modo, o 2º tribunal apenas determina a pena para o 2º crime, por causa do art.78

nº2 art.472 do CPP, tem de ser sempre um 3º tribunal a determinar a pena em causo dereconhecimento superveniente do concurso.

↝ Imaginemos que o tribunal determina a pena de 3 anos para o crime 2.

O cúmulo jurídico de ambas as penas só pode ser feito depois das duas condenaçõesterem transitado em julgado

1ª Operação: Determinar a pena parcelar a aplicar a cada crime.

Crime 1: 2 anos de prisãoCrime 2: 3 anos de prisão

2ª Operação: Construção da moldura do concurso

O limite mínimo da moldura de concurso corresponde à pena parcelar mais grave: 3 anos

 O limite máximo é a soma das penas concretamente aplicadas (art.77/2): 5 anos

Moldura penal do concurso é de 3 anos a 5 anos.

3ª Operação: Art.71 art.77: é necessário avaliar em conjunto a culpa e a personalidade do agente‣ O juiz determina uma pena de 4 anos

2009/2010

Crime1

 Jan. ‘07

Crime 2Fev. ‘07

 Julgamentodo crime 2

1 mês - 8anos

2 - 10 anos Outubro‘08

 Julgamentodo crime 1

Nov. ‘07Condenado a 2

anos

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Direito Penal III 50

⇘ Neste caso, tem de actuar aqui o instituto do desconto: é necessário descontar na pena

única conjunta a pena já cumprida pela 1ª condenação (art.78/1 art.81).O desconto é um caso especial de determinação da pena. Este instituto está regulado nos

art.80 a 82 e assenta na ideia de privações da liberdade de qualquer tipo que o agente tenhasofrido ao longo de um processo penal, devem por imperativos de justiça material, serem

imputados ou descontados na pena a que o agente vier a ser condenado, no âmbito do mesmoou de outro crime.

Critério legal do desconto assenta na ideia que as privações da liberdade de qualquer tipo, que o agente tenha sofrido ao longo do processo penal, devem ser imputadas oudescontadas na pena que o agente vier a ser condenado no âmbito da mesma ou de outro crime.

↝ Desconto de uma medida processual privativa da liberdade numa pena É necessário ter em atenção duas situações diferentes:

- Se o agente for condenado numa pena prisão, o desconto far-se-á por inteiro(art.80/1)

- Se o agente for condenado numa pena de multa, a privação da liberdade processual será descontada à razão de um dia de privação da liberdade, por pelomenos um dia de multa (art.80/2)

↝ Desconto de uma pena noutra pena É necessário atender aqui, a duas situações diferentes:

- Se for um desconto de uma pena noutra pena da mesma espécie, o desconto éfeito por inteiro.

- Se a pena anterior e a pena posterior forem de natureza diferente, é feito odesconto na nova pena, desconto que parecer equitativo, isto é, o juiz tem dedeterminar o tempo da nova pena que por razões de prevenção geral e especial, semostra ainda indispensável aplicar, tendo em atenção, o tempo de pena que já foi

cumprido (art.80/1)

Caso prático

2009/2010

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Direito Penal III 51

Em Janeiro de 2005, A praticou um crime de furto (art.203) e punível com pena de prisão até 3 anos. Em Fevereiro de 2005, cometeu um crime de ofensa à integridade físicagrave (art.144) e punível com pena de prisão de 2 a 10 anos. Em Março de 2005, cometeu umcrime de dano (art.213/2), punível com pena de prisão de 2 a 8 anos.

Em Setembro 2006, A é julgado pela prática do crime de furto e pela ofensa àintegridade física grave. O tribunal determina para o crime de furto uma pena de 2 anos e para

o 2º crime uma pena de 4 anos. Depois construiu a moldura do concurso de 4 a 6 anos, edetermina a pena única conjunta de 5 anos. Neste momento, o tribunal desconhecia o crime 3.Em Outubro de 2007, chega ao conhecimento do tribunal a pratica do crime 3.O que deve o juiz fazer quanto ao crime 2?

É uma situação do conhecimento superveniente do concurso de crimes (art.78)1ª Operação: É necessário que o tribunal anule a pena única encontrada pelo tribunal.

2ª Operação: O juiz aproveita as penas que já foram determinadas:Crime 1: 2 anosCrime 2: 4 anosCrime 3: 3 anos

3ª Operação: Construção da moldura do concurso: 4 a 9 anos

4ª Operação: Determinação da pena em concreto, atendendo em conjunto aos factos e à personalidadedo agente: 7 anos

5ª Operação: É necessário descontar a pena já cumpridaA pena numa outra pena da mesma espécie o desconto é feito por inteiro (art.80/1)

Caso prático

2009/2010

Crime1

 Jan. ‘05

Crime 2Fev. ‘05

 Trânsito em Julgado

dos crimes 1 e2

2 - 10anos

Out ‘073 anos

 Julgamentodos crimes 1

e 2

Set. ‘06Condenado a 5

anos

Crime 3Març ‘05

2 - 8anos

 Julgamento

do crime3

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Direito Penal III 52

Em Janeiro de 2006, A praticou um crime de ofensa à integridade física grave ( art.144)e punível com pena de prisão de 2 a 10 anos.

Em Março de 2006, cometeu um crime de dano (art.213/2), punível com pena de prisãode 2 a 8 anos.

Em Abril 2007, A punível pelo crime de ofensa à integridade física grave, por 4 anos, e

o juiz decidiu substituir pela pena de suspensão da execução da pena, neste momento, otribunal desconhece a pratica do crime 2.Em Outubro de 2007, o tribunal vem a saber da prática do crime 2 e determina para esse

crime uma pena de 5 anos.O que deve hoje, fazer o tribunal que pretende determinar a pena conjunta a A?

É uma situação do conhecimento superveniente do concurso de crimes (art.78)

1ª Operação: É necessário que o tribunal anule a pena de substituição.

2ª Operação: O juiz aproveita as penas que já foram determinadas:Crime 1: 4 anosCrime 2: 5 anos

3ª Operação: Construção da moldura do concurso: 4 a 9 anos

4ª Operação: Determinação da pena em concreto, atendendo em conjunto aos factos e à personalidadedo agente: 8 anos

5ª Operação: É necessário descontar a pena já cumpridaSão penas espécie diferente o desconto é feito de forma equitativa (art.81/2)

Caso prático

2009/2010

Crime1

 Jan. ‘06

Crime 2Mar. ‘06

 Trânsito em Julgado

do crime 1

2 - 10anos

Out ‘075 anos

 Julgamentodos crimes 1

Abril ‘074 anos pena

suspensa

2 - 8anos

 Julgamento

do crime2

 Trânsito em Julgado

do crime 2

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Direito Penal III 53

Em Fevereiro de 2007, A cometeu um crime de homicídio qualificado (art.132) e punível com pena de prisão de 12 a 25 anos.

Em Janeiro de 2008, A foi julgado e condenado a 22 anos de prisão. A interpôs recursodesta decisão.

Em Março de 2008 A cometeu um outro homicídio qualificado.Em Outubro de 2008, o tribunal de recurso proferiu o acórdão relativo ao recurso

interposto por A, tendo por isso, transitado em julgado a condenação pelo crime 1.A está hoje a ser julgado pelo crime 2.Determine a pena a aplicar a A?

O crime 2 foi cometido entre a condenação e o trânsito em julgado da condenação pelocrime 1.

 Não é reincidência porque para o ser o 2º crime teria de ser praticado depois do tribunalde justiça da 1ª condenação.

É um caso do conhecimento superveniente do concurso de crimes (art.78) ???Anteriormente àquela condenação, podem ser duas coisas:

- momento em que a condenação foi proferida- momento em que a condenação transitou em julgado

Se for no momento em que a condenação transitou em julgado, então o nosso caso é umcaso de conhecimento superveniente do concurso.

Mas se for posterior ao momento em que a condenação foi proferida em 1ª instância,então o nosso caso não é um caso de conhecimento superveniente do concurso.

A Dr.ª M.J.A. entende que no caso de o 2º crime ser praticado entre a condenação e otribunal de justiça da condenação pelo crime 1, nos não estamos perante um caso deconhecimento superveniente do concurso.

O momento relevante para vermos se estamos perante um conhecimento supervenientedo concurso, é o momento em que é proferida a condenação em 1ª instância.

Dois momentos que justificam esta posição:1) Razão de ser do art.78, que existe para corrigir falhas na administração da justiça

(neste caso pratico, não houve falha, não se aplica o art.78).

2) Se, se entendesse que os crimes cometidos entre a condenação e o trânsito em julgadodeviam ser considerados para efeitos de determinação duma pena única conjunta, criar-se-iadeste modo, um período de impunidade para o agente, entre o momento da condenação e omomento do trânsito em julgado.

Deste modo, se o agente cometer crimes depois da condenação e antes do trânsito em julgado, não temos um caso de concurso de crimes, temos sim um caso de execução sucessivade penas, porque o momento decisivo para se saber se estamos ou não perante um concurso decrimes, seja o art.77 ou o art.78, esse momento relevante é sempre o momento em que acondenação é proferida.

Para haver concurso de crimes, o agente tem de ter cometido todos os crimes antes da

condenação em 1ª instância.

Caso prático

2009/2010

Crime1Fev.‘07

RecursoCrime 1

Crime 2Mar. ’08

12-25anos

 Julgamentodo crimes 1

 Jan. ‘08

12-25 anos22 anos

 Julgamento

do crime2

 Trânsito em Julgado

do crime 1Out. ‘08

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Direito Penal III 54

Em Fevereiro de 2006, A cometeu um crime de ofensa à integridade física grave(art.144) e punível com pena de prisão de 2 a 10 anos. Em Janeiro de 2007, A foi julgado econdenado a 8 anos de prisão. Desta decisão não houve recurso.

Em Dezembro de 2007, já na prisão, A cometeu um outro crime de ofensa à integridadefísica contra um outro recluso.

Determine a pena a aplicar a A?

Estamos perante uma situação em que o agente cometeu o 2º crime depois da decisão da1ª condenação. Mas no momento em que a pena pelo 1º crime ainda está a ser cumprida.

Como até 2007, um dos requisitos do conhecimento superveniente era o de que a penada condenação anterior não estivesse cumprida. Os nossos tribunais, chegaram a fazer uma

enorme confusão e nestes casos que estamos a ver agora, determinavam também uma penaúnica conjunta, por achar que era um conhecimento superveniente do concurso. Faziam ocúmulo por arrastamento.

Estamos perante um caso de reincidência, casos em que o arguido comete um crimesubsequente da mesma espécie pelo qual já tinha sido condenado. Logo, aquele que reitera deveser objecto de uma condenação mais severa do que aquele que comete um crime pela 1ª vez enunca foi condenado. Pode suceder que não haja reincidência, mas a reiteração pode levar à

 perigosidade do agente. A reincidência está reservada para um núcleo restrito de casos, aquelesque reúnem os requisitos do art.75 nº1 e 2.

Art.75  Prevê os casos em que há reincidência

Art.76 

Consequências da reincidência.Só há reincidência quando o crime é cometido depois do trânsito em julgado do crimeanterior. A reincidência quando actua, actua ao nível da determinação da pena do novo crime.Os crimes que já estão para trás já têm a pena determinada, já têm a sua condenação. O

 problema que o tribunal tem que resolver é a determinação da pena do novo crime. É emrelação ao novo crime que se coloca o problema da reincidência.

Determinação da pena em caso de reincidência:

1ª Operação: Determinar a pena como se não fosse reincidente: 8 anos

2ª Operação: Construção da moldura da reincidênciaSendo, como vimos, a nossa moldura abstracta de 2 a 10 anos, refere o art.76º/1 que:

- Limite mínimo é elevado a 1/3: dá 2 anos e 6 meses

- Limite máximo permanece inalterado: 10 anos

⁃  Nova moldura legal abstracta: 2 anos e 6 meses a 10 anos.

3ª Operação: Dentro da moldura da reincidência determinar a pena concreta, como sendoreincidente. Sendo assim, é fixada a pena concreta de 10 anos.

4ª Operação: saber quanto foi a agravação10 anos (pena da agravação) - 8 anos (pena que lhe seria aplicada se não fosse a

reincidência) = 2 anos AgravaçãoSe a agravação não pode exceder a pena aplicada ao crime anterior, então 2 anos

(montante da agravação) é inferior a 8 (pena anterior) ____________________________________________________________________________ 

2009/2010

Crime1Fev.‘06

Crime 2Dez. ’07

2-10anos

 Julgamentodo crimes 1

 Jan. ‘07

8 anos

 Julgamentodo crime 2

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Direito Penal III 55

Escolha da pena e penas de substituição

√ Critério de escolha

Podemos identificar um critério geral de escolha da pena a partir dos artigos 70, 45 nº1,50 nº1, 58 nº1, e 60 nº2, segundo o qual o  tribunal dá preferência à pena não privativa da

liberdade, verificados os pressupostos formais de aplicação desta pena, sempre que esta realizede forma adequada e suficiente as finalidades da punição (art.40/1/2).

O art.43 nº1 prevê um critério preventivo especial, segundo o qual a  pena de prisão nãosuperior a um ano é substituída por pena de multa ou por outra pena não privativa da liberdade,excepto  se a execução da prisão for exigida pela necessidade de prevenir o cometimento de

 futuros crimes. O critério de substituição por multa é o critério do art.70. A falta de rendimentodo condenado é que não poderá ser critério da não substituição da pena de prisão por pena demulta, é aplicável o art.49 nº3.

São finalidades exclusivamente preventivas, de prevenção geral e de prevenção especial(art.70 e art.40/1), que justificam e impõem a preferência por uma pena não privativa daliberdade, sem perder de vista a protecção de bens jurídicos.

Se a culpa é limite da pena (art.40/2), desempenha esta função estritamente ao nível dadeterminação da medida concreta da pena principal ou da pena de substituição (art.71/1).

O critério de escolha da pena vale:‣  Na 3ª operação de determinação da pena. Se ao crime forem aplicáveis, em

alternativa, pena privativa e pena não privativa da liberdade, o tribunal dá preferência à pena não privativa da liberdade sempre que esta realizar de forma adequada e suficientedas finalidades da punição (art.70), e

‣  Na 1ª operação, quando o tipo de crime é punido com pena de prisão ou com

 pena de multa (pena de multa alternativa). Se ao crime forem aplicáveis, em alternativa, pena privativa e pena não privativa da liberdade, o tribunal dá preferência à pena não privativa da liberdade sempre que esta realizar de forma adequada e suficiente dasfinalidades da punição (art.70).

Trata-se de um poder-dever para o tribunal, com a consequência de dever fundamentar a

não aplicação da pena não privativa da liberdade (fundamentação negativa), quando dê preferência à pena privativa da liberdade.

Os critérios que conduzem a uma preferência pela pena de multa principal e os que

levam à escolha da pena de multa de substituição são distintos. No primeiro caso, o critério é deconveniência ou de maior ou menor adequação, enquanto que no segundo o critério é denecessidade.

Compreende-se então que o tribunal possa numa 1ª operação escolher a pena de prisãoem detrimento da pena de multa principal e acabe por escolher a pena de multa de substituiçãona 3ª/última operação

↝ A opção pela pena de prisão, em detrimento da multa alternativa (pena principal), pode revelar-se mais vantajosa do ponto de vista preventivo-especial, uma vez que fazendo estaopção o tribunal poderá ter depois, em sede de substituição da pena de prisão não superior a 5anos, um leque alargado de penas não privativas da liberdade.

↝ O regime de execução da pena de multa principal e da pena de multa de substituiçãoé distinto.

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Direito Penal III 56

O nº3 do art.43, estabelece um critério de preferência pelas penas de substituição nãodetentivas, quando dispõe que a pena de prisão aplicada em medida superior a 1 ano de prisão ésubstituída por pena de multa ou por outra pena não privativa da liberdade aplicável,estabelecendo o art.45 nº1 e o art.46 nº1, que a pena de prisão aplicada em medida não superior a 1 ano, que não deva ser substituída por pena de outra espécie, é cumprida em dias livres ouexecutada em regime de semidetenção.

Enuncia-se um critério de preferência, no âmbito das penas de substituição detentivas,quando se estabelece que se aplica a prisão por dias livres  se a pena de prisão aplicada emmedida não superior a 1 ano não dever ser substituída por pena de outra espécie (art.45/1) e oregime de semidetenção se a pena de prisão aplicada em medida não superior a 1 ano não dever ser substituída por pena de outra espécie, nem cumprida em dias livres (art.46/1).

Há uma preferência legal: 1º - Regime de permanência na habitação (art.44/1 a))2º - Regime de prisão por dias livres

3º - Regime de semidetenção

▣ Regime das penas de substituição

Até 2007 a medida concreta da pena de substituição era determinada de formaautónoma, a partir dos critérios estabelecidos no art.71, ou seja, sem haver qualquer correspondência automática entre o tempo de prisão ou os dias de multa e a medida da penaque a substitui.

Com as alterações introduzidas em 2007 deixou de se poder afirmar a regra da

determinação, de forma autónoma, da medida concreta da pena de substituição, a partir doscritérios estabelecidos no art.71.HojeHoje, a determinação da pena de substituição afere-se através de um critério de

correspondência entre a pena que se quer substituir e a pena de prisão.↝ A suspensão da execução da pena de prisão e a prestação de trabalho a favor da

comunidade passam a ter a duração que resultar da regra de correspondência legalmenteestabelecida:

O período de suspensão da execução da pena de prisão tem duração igual à pena de prisão determinada na sentença, mas nunca inferior a 1 ano (art.50/5)

Cada dia de prisão é substituído por 1 hora de trabalho, no máximo de 480 horas(art.58/3).

Execução das penas principais

√ Execução da pena de prisão

2009/2010

Pena de multa principal‣  A prisão subsidiária

corresponde aos dias de multareduzido a 2/3 (art.49/1)

‣ O condenado pode a todo o

tempo evitar, total ouparcialmente, a execução daprisão subsidiária (art.49/2)

‣  A multa parcialmente pagarepercute-se no tempo de prisãosubsidiária (art.49/2)

‣  O condenado que cumpraprisão subsidiária não pode serlibertado condicionalmente

Pena de multa de substituição‣ Se o agente não pagar tem

de cumprir a pena de prisãoaplicada na sentença (art.43/2,1ª parte)

‣  O condenado não pode

evitar, a execução da pena deprisão

‣  A multa parcialmente paganão se repercute na pena deprisão aplicada na sentença

‣  O condenado que cumpraprisão que se intentou substituirpor pena de multa pode serlibertado condicionalmente

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Direito Penal III 57

De acordo com o art.42, a execução da pena de prisão servindo a defesa da sociedade e prevenindo a pratica de crimes, deve orientar-se no sentido da reintegração social do recluso,

 preparando-o para conduzir a sua vida de modo socialmente responsável, sem cometer crimes. A execução da pena de prisão é regulada em legislação própria, na qual são fixados os

deveres e os direitos dos reclusos.A própria CRP dispõe que os condenados a quem sejam aplicadas penas privativas da

liberdade mantêm a titularidade dos direitos fundamentais, salvas as limitações inerentes ao sentido da condenação e às exigências próprias da respectiva execução (art.30/5).

▣ Regime de permanência na habitação

Com as alterações introduzidas em 2007: O remanescente não superior a 1 ano da pena de prisão efectiva que exceder o

tempo de privação da liberdade a que o arguido esteve sujeito em regime de detenção, prisão preventiva, ou obrigação de permanência na habitação;

   Excepcionalmente , o remanescente não superior a 2 anos, quando se

verifiquem circunstancias de natureza pessoal ou familiar do condenado quedesaconselham a privação da liberdade em estabelecimento prisional (gravidez, idadeinferior a 21 anos ou superior a 65 anos, doença, …)

É executado em regime de permanência na habitação, se o condenado consentir, sempreque o tribunal concluir que esta forma de cumprimento realiza de forma adequada e suficienteas finalidades da punição (art.44 nº1 al.b) e nº2).

 Trata-se de uma forma de execução da pena de prisão, que é ainda, da competênciado tribunal da condenação.

Por um lado, trata-se da execução em regime de permanência na habitação doremanescente não superior a 1 ano da pena de prisão efectiva que exceder o tempo de

 privação da liberdade a que o arguido esteve sujeito em regime de detenção, prisão preventiva, ou obrigação de permanência na habitação (art.80);

Por outro lado, as circunstâncias que o nº2 do art.44 prevê, exemplificativamente,são circunstâncias que só podem relevar, de forma autónoma ao nível da execução da

 pena de prisão, não em sede de escolha da pena (art.70), impondo-se, por isso, que aremissão do nº2 para o nº1 abranja exclusivamente a al.b) do nº1 do art.44.

▣ Liberdade condicional

É um incidente de execução da pena de prisão que se justifica político-criminalmente àluz da finalidade preventivo-especial de reintegração só agente na sociedade e do princípio danecessidade de tutela de bens jurídicos (art.40/1).

A liberdade condicional consiste no facto de o juiz rever a decisão condenatória econcluir de forma fundamentada que se justifica a execução da pena de prisão ou que nadaobsta/impede a que o condenado seja posto em liberdade.

A partir de 1995 só há liberdade condicional se o condenado der consentimento (art.61/1)e a sua duração não pode ultrapassar o tempo de pena que ainda falta cumprir (art.61/5).

A liberdade condicional surge com o fim de evitar a reincidência, a prática de crimes, porque muito tempo dentro da prisão tem efeitos criminógénicos. Trata-se de um período detransição entre a prisão e a vida em liberdade.

∎ Pressupostos da liberdade condicional∙ Consentimento do condenado (art.61/1 e art.485/2 do CPP)

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Direito Penal III 58

É necessário o consentimento do condenado, pois há aqui um direito de cumprimentointegral da pena por parte deste.

∙ Cumprimento mínimo de 6 meses de pena de prisão.

O tribunal pode colocar o condenado em liberdade condicional quando este tenhacumprido no mínimo 6 meses de prisão efectiva, pois só exigindo um cumprimento mínimoefectivo é possível atribuir à execução da pena de prisão uma finalidade ressocializadora e

emitir e emitir o juízo de prognose favorável sobre o comportamento futuro do condenado emliberdade, legalmente exigido (art.61/2 al.a))

  Ainda que, por efeito do desconto da prisão preventiva ou da obrigação de  permanência na habitação (art.80/1), esteja cumprida metade da pena, é de exigir ocumprimento mínimo destes 6 meses de pena de prisão, uma vez que estas medidas de coacçãosão impostas a arguido presumido inocente, em função de exigências processuais de naturezacautelar (art.32/2 da CRP e art.191/1, art.204 do CPP), sem qualquer finalidaderessocializadora que possibilite a formulação do juízo de prognose.

∙ Cumprimento de metade da pena de prisão (art.61/2)

Tem como pressuposto formal o cumprimento de metade da pena de prisão (art.61/2).

Para o efeito de ser concedida a liberdade condicional deve descontar-se na metade da pena emque o agente foi condenado o tempo em que esteve detido, preso preventivamente ou emobrigação de permanência na habitação (art.80/1).

P.ex.: A foi condenado em 10 anos de prisão e teve preso preventivamente durante 2anos.

10 : 2 = 5 -2 = 3 anos (A pode ser posto em liberdade ao fim de 3 anos)Dr.ª M.J.A. defende que quanto à liberdade condicional o desconto não deve ser feito na

  pena mas sim na metade da pena, porque só assim é que tratamos de forma igual oscondenados.

∙  Na finalidade de prevenção especial faz-se um juízo positivo, no sentido de que aquelecondenado não vai voltar a cometer crimes, de acordo com o art.61 nº2 al.a).

É pressuposto material da concessão da liberdade condicional  ser fundadamente deesperar, atentas as circunstâncias do caso, a vida anterior do agente, a sua personalidade e a

evolução desta durante a execução da pena de prisão, que o condenado, uma vez em

liberdade, conduzirá a sua vida de modo socialmente responsável, sem cometer crimes.O juízo de prognose favorável sobre o comportamento futuro do condenado em

liberdade faz-se a partir dos elementos aqui enunciados (art.484/2/3, CPP), os quais funcionamcomo índice de ressocialização e de um comportamento futuro sem o cometimento de crimes(critério da evolução da personalidade durante a execução da pena de prisão.

∙ A prevenção geral positiva de integração funciona como limite à actuação das exigênciasde prevenção especial de socialização, de acordo com o art.61 nº2 al.b).

É pressuposto material da concessão da liberdade condicional que a libertação se revelecompatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social .  A aplicação de penas visa a

 protecção de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade (art.40/1).

Em suma: A concessão da liberdade condicional, com o consentimento do condenado, a metade

do cumprimento da pena, depende da satisfação de exigências de prevenção especial desocialização e de prevenção geral positiva, sob a forma de tutela do ordenamento jurídico.

Uma vez verificados os pressupostos de que depende o tribunal tem o poder-dever deconceder a liberdade condicional.

A decisão é da competência do tribunal de execução das penas (art.477 e art.484, CPP),

sendo susceptível de recurso o despacho que negar a liberdade condicional (art.485/6, CPP).  Se a liberdade for negada a metade da pena, há renovação da instância apenas

quando estejam cumpridos 2/3 da pena de prisão. Art.61/3: o tribunal coloca o condenado a

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Direito Penal III 59

 prisão em liberdade condicional quando se encontrarem cumpridos 2/3 da pena e no mínimo 6 meses desde que se revele preenchido o requisito constante da al.b) do nº2 do art.61.

 No momento desta renovação, o critério da concessão de liberdade condicional funda-seapenas em exigências de prevenção especial de socialização, considerando que já estãocumpridos 2/3 da pena de prisão.

  Negada aos 2/3 do cumprimento da pena de prisão (art.61/3), a liberdade condicional

é depois concedida quando estiverem cumpridos 5/6 da pena de prisão, tratando-se de penasuperior a 6 anos e havendo consentimento do condenado, segundo o art.61 nº1 e 4.

Esta concessão não depende da verificação de qualquer pressuposto material, já que visa promover a transição entre a vida na prisão e a vida em liberdade Liberdade condicionalobrigatória.

∎ Duração da liberdade condicional

Refere o art.61 nº5, que em qualquer das modalidades a liberdade condicional tem umaduração igual ao tempo de prisão que falte cumprir, mas nunca superior a 5 anos.

O período de liberdade condicional não pode exceder o tempo de prisão que ocondenado ainda falte cumprir, respeitando-se o conteúdo da sentença condenatória e anatureza do instituto como incidente da execução da pena de prisão.

5 anos correspondem ao tempo considerado suficiente para se poder afirmar que ocondenado conduzirá a sua vida de modo socialmente responsável, sem cometer crimes.Atingido o período de 5 anos, considera-se extinto o excedente da pena (art.64/1 art.57).

∎ Regime da liberdade condicional

O regime do instituto da liberdade condicional está indicado no art.64, por remissão para o disposto no art.52, no art.53 nº1 e 2, no art.54, no art.55 nº1 nas als.a) a c) e no art.57.

A remissão para os artigos 52, 53 nº1 e 2, 54 significa que a liberdade condicional podeficar condicionada pela imposição do cumprimento de regras de conduta (art.52/1), ou peloacompanhamento de regime de prova (art.53), assente no plano individual de reinserção social(art.54).

A remissão para o art.55 nº1 nas als.a) a c), significa que se, durante o período daliberdade condicional, o libertado, culposamente, deixar de cumprir as regras de condutaimpostas ou não corresponder ao plano de reinserção social, pode o tribunal  fazer uma solene

advertência, exigir garantias de cumprimento das obrigações que condicionam a liberdadecondicional ou impor novas regras de conduta ou introduzir exigências acrescidas no plano de

reinserção.

Se o condenado infringir grosseira ou repetidamente as regras de conduta impostas ouo plano individual de reinserção social , pode ter lugar a revogação da liberdade condicional(art.64/1 art.56/1). A liberdade condicional é revogada se o libertado cometer crime pelo

qual venha a ser condenado e revelar que as finalidades que estavam na base da libertação

não puderam, por meio dela, ser alcançadas (art.64/1 art.56/1).A revogação da liberdade condicional determina a execução da pena de prisão ainda não

cumprida, podendo ter lugar relativamente à pena de prisão que vier a ser cumprida aconcessão de nova liberdade condicional nos termos doart.61 (art.64/2/3).

Para determinar a pena de prisão ainda não cumprida deve deduzir-se ao quantum dacondenação o tempo de prisão já cumprido e o período em que o condenado esteve emliberdade condicional.

Decorrido o período de liberdade condicional, a pena é declarada extinta se não houver motivos que possam conduzir à revogação (art.64/1 art.57).

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Direito Penal III 60

Se, findo o período de liberdade condicional, se encontrar pendente processo por crimeque possa determinar a sua revogação ou incidente por falta de cumprimento das regras deconduta ou do plano de reinserção, a pena só é declarada extinta quando o processo ou oincidente findarem e não houver lugar à revogação (art.57/2).

∎ Liberdade condicional em caso de execução sucessiva de várias penasA execução da pena que deva ser cumprida em 1º lugar é interrompida ao meio da pena,

sucedendo-lhe a execução da pena que deva ser executada a seguir (art.63/1/2); o tribunaldecide sobre a liberdade condicional no momento em que o possa fazer, de forma simultânea,relativamente à totalidade das penas.

Esta solução obsta a que o condenado esteja ao mesmo tempo, em liberdadecondicional e em cumprimento de uma outra pena de prisão, o que se verificaria se a execuçãoda pena que deva ser cumprida em 1º lugar não fosse interrompida (art.63/1).

O nº2 do art.63 prevê que a concessão da liberdade condicional seja decidida somentequando o tribunal o possa fazer, de forma simultânea, relativamente à totalidade das penas. Só

depois de decorrido o prazo de que depende a concessão da liberdade condicional das várias penas é que tem lugar o juízo sobre os pressupostos materiais desta concessão (art.61/2 a) b)).Se o condenado não tiver beneficiado em liberdade condicional e se a soma das penas

que devam ser cumpridas sucessivamente exceder 6 anos de prisão, o tribunal coloca ocondenado em liberdade condicional, desde que este consinta, logo que se encontraremcumpridos 5/6 da soma das penas (art.63/3), tendo lugar a liberdade condicional obrigatória.

Por força do nº4 do art.63 prevê, este regime de concessão da liberdade condicional emcaso de execução sucessiva de várias penas não é aplicável quando a execução da pena de

 prisão resultar de revogação da liberdade condicional (art.64/2/3)

∎ Especialidades processuaisO processo de concessão da liberdade condicional é da competência do Tribunal de

Execução das Penas (art.477/1, CPP) e encontra-se regulado nos arts.484 a 486 do CPP.Há um pedido obrigatório de elaboração de um plano de reinserção social, sempre que o

condenado se encontre preso há mais de 5 anos, o qual é elaborado pelos serviços de reinserçãosocial (art.484/3, CPP), em que o MP emite um parecer sobre a concessão da liberdadecondicional (art.485/1, CPP), e em que o Tribunal de Execução de Penas ouve o condenadoantes de ser proferido despacho sobre a concessão da liberdade condicional, nomeadamente

 para obter o seu consentimento (art.485/2, CPP).De entre as alterações ao CPP é de sublinhar a recorribilidade do despacho que nega a

liberdade condicional (art.485/6, CPP) e do que revoga a liberdade condicional (art.486/4, CPP)

∎ Especialidades processuais

O art.62 prevê que para efeito da adaptação à liberdade condicional, …, a colocação emliberdade condicional pode ser antecipada pelo tribunal, por um período máximo de 1 ano,ficando o condenado obrigado durante o período de antecipação, …, ao regime de permanênciana habitação, …. (art.484, 485, 486, CPP)√ Execução da pena de multa. Não pagamento e suas consequências

▣ Execução da pena de multaA execução da pena de multa pode ocorrer por duas formas

- Por pagamento voluntário (art.489 CPP)

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Direito Penal III 61

- Por prestação de dias de trabalho (art.48 e do art.490 CPP)

A prestação de trabalho deixou de ser uma sanção, para passar a ser uma forma decumprimento da pena de multa, a requerimento do condenado, quando for de concluir querealiza de forma adequada e suficiente as finalidades da punição (art.40/1).

Cada dia de multa corresponde a 1 hora de trabalho, podendo ser prestado em dias úteis,aos sábados, domingos e feriados, sem que a duração dos períodos de trabalho possa prejudicar 

a jornada normal de trabalho ou exceder, por dia, o permitido segundo o regime de horasextraordinárias aplicável (art.48/2 art.58/3/4).

▣  Não pagamento da multa e suas consequências

Se a multa, que não tenha sido substituída por trabalho, não for paga voluntariamentetem lugar o pagamento coercivo (art.49/1), por via da execução patrimonial (art.491 CPP).

Se a multa, que não tenha sido substituída por trabalho, não for paga voluntaria oucoercivamente é cumprida prisão subsidiária pelo tempo decorrente reduzido a 2/3 , ainda que ocrime não fosse punível com prisão (art.49/1). Esta privação da liberdade tem a prisão fixadaem alternativa na sentença, a natureza de sanção de constrangimento, visando constranger ocondenado a pagar a multa. Trata-se de mera sanção pelo não pagamento da pena de multa

  principal, tendo em vista constranger o condenado ao seu pagamento não é admissível aconcessão da liberdade condicional (art.61).

Com a previsão da prisão subsidiária pretende-se alcançar o efeito do pagamento damulta, pelo que o pagamento, total ou parcial, desta a todo o tempo, evita a execução da prisãosubsidiária (art.49/2). Este pagamento deve reflectir-se, proporcionalmente, no tempo de prisãosubsidiária.

O art.49/3 prevê a suspensão da execução da prisão subsidiária, subordinada aocumprimento de deveres ou regras de conduta de conteúdo não económico ou financeiro, se se

 provar que a razão do não pagamento não é imputável ao condenado (art.13/2 CRP):  Quer a razão do não pagamento da pena de multa seja contemporânea dacondenação quer seja superveniente, a solução é sempre a da suspensão da execução da

 prisão subsidiária, quando tal razão não seja imputável ao condenado, em observânciado princípio da igualdade.

Isto é para aqueles casos em que o condenado no momento da condenação não pode

 pagar a multa.

Em suma:Segundo Dr.ª M.J.A.  a prisão subsidiária ocorrerá em última instância, porque é uma

sanção privativa da liberdade, não é uma pena de prisão, quanto muito é uma substituição da pena de multa.A prisão subsidiária é uma sanção imposta ao condenado por este não pagar a multa.

Existe para constranger o condenado ao pagamento da pena de multa.A prisão subsidiária corresponde a 2/3 dos dias de multa, portanto são menos os dias de

 prisão, não pode haver propriamente equivalência entre 1 dia de prisão e 1 dia de multa, porquea prisão é mais pesada do que a multa.

Execução da pena de multa de substituição. Não pagamento e suas consequências

▣ Execução da pena de multa de substituição

A execução da pena de multa de substituição pode ocorrer por duas formas- Por pagamento voluntário (art.489 CPP)

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Direito Penal III 62

- Por prestação de dias de trabalho (art.48 e do art.490 CPP) Aqui não há o instituto da prisão subsidiária

▣  Não pagamento da multa e suas consequências

Se a multa, que não tenha sido substituída por trabalho, não for paga voluntariamentetem lugar o pagamento coercivo (art.49/1), por via da execução patrimonial (art.491 CPP).Se a multa, que não tenha sido substituída por trabalho, não for paga voluntaria ou

coercivamente é cumprida a pena de prisão aplicada na sentença (art.43/2, 1ª parte), não sendocorrespondentemente aplicável o disposto no art.49 nº2  tem como justificação acircunstância de estar em causa uma pena de multa de substituição.

 Na medida em que está depois em causa a execução da pena de prisão, já é admissível alibertação condicional do condenado (art.61).

A partir da 2ª parte, do nº2 do art.43 e do art.49 nº3, há a possibilidade de suspensão daexecução da pena de prisão, subordinada ao cumprimento de deveres ou regras de conduta deconteúdo não económico ou financeiro, se se provar que a razão do não pagamento não é

imputável ao condenado. Quer a razão do não pagamento da pena de multa seja contemporânea da

condenação quer seja superveniente, a solução é sempre a da suspensão da execução da pena de prisão, quando tal razão não seja imputável ao condenado, em observância do princípio da igualdade (art.13/3 CRP).

Medidas de segurança

▣ Generalidades

A medida de segurança surge como resposta à especial perigosidade de delinquentesimputáveis especialmente perigosos e de delinquentes de imputabilidade diminuída,

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Direito Penal III 63

relativamente aos quais a pena é insuficiente do ponto de vista preventivo-especial, e resposta àespecial perigosidade de delinquentes inimputáveis, em razão de anomalia psíquica, em relaçãoaos quais a pena é inadequada.

A medida de segurança é uma reacção criminal ao lado das penas.

▣ Pressuposto, fundamento e limiteO pressuposto de aplicação da medida de segurança é a perigosidade criminal do agente.

↪ O que justificou no passado, por referência ao  princípio da actualidade doestado perigoso:

Que se excluísse o efeito de caso julgado da decisão sobre a imposição deuma medida de segurança;

Que as medidas de segurança fossem imprescritíveis;Que não se lhes estendesse o princípio da legalidade criminal;Que fossem admissíveis medidas de segurança pré-delituais;Que não houvesse limites fundados no princípio da proibição do excesso; e

Que se aceitasse a indeterminação da duração das medidas de segurança.

Este regime foi recusado.Mas o pressuposto de aplicação de uma medida de segurança continua a

ser a perigosidade criminal do agente, para fazer face à prevenção especial.

É discutível se as medidas de segurança prosseguem também uma finalidade de prevenção geral positiva, designadamente a de internamento de agente inimputável em razão deanomalia psíquica (art.91).

↝ O art.40 nº1 não distingue as penas das medidas de segurança.Trata-se de uma norma geral sobre as finalidades das medidas de segurança,

incluindo-se, portanto, as aplicáveis a delinquentes imputáveis (art.20/2, 100, 101, 102),relativamente aos quais ainda é defensável que tais medidas prossigam, de forma autónomaa finalidade de tutela de bens jurídicos.

↝ O art.91 dispõe que quando o facto praticado pelo inimputável corresponder a crimecontra as pessoas ou crime de perigo comum puníveis com pena de prisão superior a 5 anos, ointernamento tem a duração mínima de 3 anos, salvo se a libertação se revelar compatível coma defesa da ordem jurídica e da paz social.

Trata-se de uma disposição legal cuja aplicação se deve restringir aos casosem que há declaração de inimputabilidade nos termos do art.20 nº2 e 3, casos em que amedida de segurança participa de forma autónoma na protecção de bens jurídicos, já que éaplicada a delinquentes imputáveis, ainda que de imputabilidade diminuída.

A aplicação de medidas de segurança está subordinada ao   princípio jurídico-constitucional da proibição de excesso, da proporcionalidade em sentido amplo, em matéria delimitações de direitos fundamentais pressupõe o respeito pelo   princípio da necessidade,subsidiariedade e proporcionalidade em sentido estrito.

  No termos do art.40 nº3, a medida de segurança só pode ser aplicada se for  proporcionada à gravidade do facto e à perigosidade do agente. (É equivalente ao principio da culpa).

√ Outros princípios

Para além do princípio da proporcionalidade, no direito penal estão consagrados outros princípios, com a intenção de fazer valer no âmbito das medidas de segurança os princípios e as

garantias do Estado de direito, próprios do direito das penas.‣ Princípio da legalidade (art.29, CRP e art.1 e 2, CP)‣ Princípio do ilícito-típico (art.29, CRP e art.91/1, CP)

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Direito Penal III 64

‣  Princípio da proporcionalidade em sentido amplo e, em especial, ao da proporcionalidade em sentido estrito (art.18/2, CRP e art.40/3, 91/1, 93, 94 e 98, CP)

‣ Princípio da prescritibilidade das medidas de segurança (art.124, CP)‣ Princípio da proibição de medidas de segurança com carácter perpétuo ou de duração

ilimitada ou indefinida (art.30/1, CRP e art.92/2, CP).

√ Medidas de segurança legalmente previstas

A opção por um sistema de reacções criminais tendencialmente monista não obsta à  previsão de medidas de segurança não privativas da liberdade, aplicáveis a delinquentesimputáveis e a deliquentes inimputáveis, bem como a previsão da medida de segurança deinternamento de delinquente inimputável em razão de anomalia psíquica.

Medidas de segurança não privativas da liberdade:- Interdição de actividades (art.100, art.508/1/4/5, CPP)- Cassação do título e interdição da concessão do título de condução de veículo

com motor (art.101, art.508/2/3/5, CPP)

- Aplicação de regras de conduta (art.102, art.508/6, CPP)É ainda aplicável exclusivamente a delinquentes inimputáveis por anomalia psíquica, a

medida de segurança de suspensão da execução do internamente (art.98)

√ Medidas de segurança de internamento

O nº1 do art.91 dispõe que quem tiver praticado um facto ilícito típico e for consideradoinimputável, nos termos do art.20, é mandado internar pelo tribunal em estabelecimento decura, tratamento ou segurança, sempre que, por virtude da anomalia psíquica e da gravidade dofacto praticado houver fundado receio de que venho a cometer outros factos da mesma espécie.

▣ Pressupostos e finalidades

Pressupostos da medida de segurança privativa da liberdade aí prevista são os seguintes(art.91/1):

- Prática de um facto ilícito típico- Declaração de inimputabilidade, nos termos do art.20- Juízo de prognose desfavorável quanto à perigosidade criminal do agente.

É necessário o   princípio da proporcionalidade: a medida de segurança só pode ser aplicada se for proporcionada à gravidade do facto e à perigosidade do agente.

Aplicamos-lhe a medida de segurança porque ele é perigoso (art.40/3)Ao pressuposto irrenunciável da perigosidade criminal do agente, que há-de permanecer 

no momento da condenação e durante a execução da sanção, liga-se a finalidade preventivo-especial da medida de segurança de internamento, sem prejuízo de esta sanção participar nafunção de protecção de bens jurídicos.

 Não é imposta qualquer medida de segurança ao agente inimputável relativamente aoqual, no momento da condenação, não possa ser afirmado o  fundado receio de que venha acometer outros factos da mesma espécie. Ainda que o nº2 do art.91, fosse aplicável a quem édeclarado inimputável nos termos do art.20 nº1.

 Nota: Nota: O art.91 nº2 só se aplica caso de inimputabilidade com base no art.20. Neste casos

faz sentido falar-se em finalidade de prevenção geral.Ao inimputável que cometa qualquer dos crimes previstos no art.274, é aplicável amedida de segurança do art.91, sob a forma de internamento intermitente e coincidente com os

meses de maior risco de ocorrência de fogos (art.274/9).

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Direito Penal III 65

 Não há, verdadeiramente, a violação de uma norma, não havendo, consequentemente, anecessidade de reafirmar a validade da mesma, quando o facto ilícito típico é praticado por quem é depois considerado inimputável por anomalia psíquica, com fundamento no art.20/1.

▣ Duração

O internamento não pode exceder o limite máximo da pena correspondente ao tipo de crime cometido pelo inimputável (art.92/2, CP e art.501/1, CPP).   Regra

Se o facto praticado pelo inimputável corresponder a crime punível com pena superior 

a 8 anos e o perigo de novos factos da mesma espécie for de tal modo grave que desaconselhea libertação o internamento pode ser prorrogado por períodos sucessivos de 2 anos até se

verificar a situação de cessação do estado de perigosidade (art.30/2 CRP, art.92/3 CP,art.504/5 CPP)  Excepção à regra

Do nº2 do art.91, resulta que há casos em que o internamento tem um limite mínimo deduração (3 anos), devendo constar da decisão que o decreta (art.501/1, CPP).

 Esta previsão excepcional abrange apenas os crimes contra as pessoas e de

 perigo comum puníveis com pena de prisão superior a 5 anos, é de destacar que aduração do internamento poderá ser inferior a 3 anos se, cessado o estado de

 perigosidade, a liberdade se revelar compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social, o que afasta qualquer entendimento no sentido de se ter estabelecimentoaqui uma presunção legal de duração da perigosidade.

Dada a finalidade especial-preventiva da medida de segurança deinternamento do agente inimputável em razão de anomalia psíquica, nos termos doart.20/1 e do art.91 nº2, é aplicável apenas quando o agente tenha sido declaradoinimputável nos termos do art.20 nº2 e 3, por nesta hipótese de inimputabilidade

 jurídica se fazerem sentir de forma autónoma as exigências de prevenção geral positiva.

Salvaguardados os casos aos quais é aplicável o nº2 do art.91, o internamento findaquando o tribunal verificar que cessou o estado de perigosidade criminal que lhe deu origem

(art.92/1). Esta causa justificativa da cessação do internamento pode ser apreciada a todo

o tempo, se for invocada, sendo obrigatoriamente revista a situação do internado,independentemente de requerimento, decorridos 2 anos sobre o início dointernamento ou sobre a decisão que o tiver mantido (art.93/1/2, CP e art.504/3/4,CPP).

O internamento findará, ainda pelo decurso do tempo, atingida que seja a duração

máxima do internamento (art.479, 480, 481 

  art.506, CPP), salvaguardados os casos previstosno art.92/3.

▣ Liberdade de prova

Para as situações em que há alterações do estado de perigosidade do internado, durantea execução da sanção, vale o instituto da liberdade para prova, é um incidente da execução damedida de segurança de internamento.

Se da revisão da situação do internado resultar que há razões para esperar que a finalidade da medida de segurança possa ser alcançada em meio aberto, o tribunal coloca ointernado em meio aberto (art.94/1, CP e art.504/1/2/3/4, CPP).

Pressuposto material da colocação em liberdade para prova é a subsistência do estado de perigosidade criminal que deu origem à medida de segurança, podendo, no entanto, a finalidade

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Direito Penal III 66

  preventivo-especial da sanção ser alcançada em meio aberto. Dá-se concretização ao princípio da proporcionalidade em sentido amplo, com ganhos para o processo de reintegraçãodo agente na sociedade.

Segundo o art.94 nº2, o período de liberdade para prova é fixado entre um mínimo de 2

anos e um máximo de 5 anos, não podendo ultrapassar, o tempo que faltar para o limite

máximo de duração do internamento. Como se trata de um incidente de execução da medida de

segurança de internamento, a liberdade para prova poderá cessar a todo o tempo se o tribunalverificar que cessou o estado de perigosidade criminal, por aplicação do art.92 nº1 e do art.93nº1 e 2.

Por remissão do nº3 do art.94 para os nºs 3 e 4 do art.98, a decisão de colocar ointernado para provar impõe ao agente regras de conduta necessárias à prevenção da

 perigosidade, bem como o dever de se submeter a tratamentos e regimes de cura ambulatóriosapropriados e de se prestar a exames e observações nos lugares que lhe forem indicados, sendocolocado sob vigilância tutelar dos serviços de reinserção social.

De acordo com o nº4 do art.94, a medida de internamento é declarada extinta, se não

houver motivos que conduzam à revogação da liberdade para prova, findo o tempo de duraçãodesta. Se, findo o período de liberdade para prova, se encontrar pendente ou incidente que

 possa conduzir à revogação, a medida é declarada extinta quando o processo ou o incidente findarem e não houver lugar à revogação.

O art.95  prevê duas causas de revogação da liberdade para prova:- O comportamento do agente revela que o internamento é indispensável (nº1-a));- O agente foi condenado em pena privativa da liberdade e não se verificam os

 pressupostos da suspensão da execução da pena de prisão (nº1-b)).

A consequência da revogação é o reinternamento do agente, sendo aplicável o art.92,segundo o estabelecido no nº2 do art.95.

Tratando-se de um incidente da execução da medida de segurança de internamento,deverá contar o tempo que o agente esteve em liberdade para prova.

Decorre do art.505 do CPP que a decisão sobre a revogação tem lugar depois derecolhida a prova, antecedendo parecer do MP, audição do condenado e audição obrigatória dodefensor.

▣ Execução da medida de segurança de internamento

Art.s 469, 475, 476, 501-506 e 507 do CPP  disposições relativas à execução damedida de segurança de internamento, valendo como decisão penal condenatória a que impõetal sanção (art.376/3, CPP)

O art.96 refere que não pode iniciar-se a execução da medida de segurança de

internamento, decorridos 2 anos ou mais sobre a decisão que a tiver decretado, sem que sejaapreciada a subsistência dos pressupostos que fundamentaram a sua aplicação (cf.art.504/6,CPP), justificando-se pelo pressuposto da perigosidade criminal.

 Na sequência do reexame o tribunal poderá:- Confirmar a medida decretada, se se mantiver o estado de perigosidade e não

for caso de suspensão da execução do internamento,- Suspender a execução da medida decretada, se for razoavelmente de esperar 

que com a suspensão se alcança a finalidade da medida (art.98),- Revogar a medida decretada se, entretanto, tiver cessado o estado de

necessidade de perigosidade criminal que lhe deu origem (art.92/1).Para além do reexame não se pode deixar de considerar a hipótese de prescrição da

medida de segurança (art.124/1).

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Direito Penal III 67

Princípio de vicariato na execução (art.99, CP e art.507, CPP) consiste em:‣ A medida de segurança de internamento é executada antes da pena de prisão a

que o agente tiver sido condenado (art.99 nº1, 1ª parte);‣ A duração da medida de segurança é descontada na duração da pena de prisão

(art.99 nº1, in fine);‣  O agente é colocado em liberdade condicional se, efectuado o desconto, se

encontrar cumprido o tempo correspondente a metade da pena e a libertação se revelar compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social (art.99 nº2).↪ Se a medida de segurança dever cessar, mas não tiver ainda decorrido o tempo

correspondente a metade da pena, o tribunal pode, a requerimento do condenado,substituir o tempo de prisão que faltar para metade da pena, até ao máximo de 1 ano,

 por prestação de trabalho a favor da comunidade, se tal se revelar compatível com adefesa da ordem jurídica e da paz social (art.99 nº3).

√ Suspensão da execução do internamento

 Nota: Nota: é medida de segurança não privativa da liberdade, pois é uma medida de segurança desubstituição.

 No termos do art.98 nº1 o tribunal que ordenar o internamento determina, em vez dele, asuspensão da sua execução se for razoavelmente de esperar que com a suspensão se alcance afinalidade da medida. No entanto, não pode ser decretada se o agente for simultaneamentecondenado em pena privativa da liberdade e não se verificarem os pressupostos da suspensãoda execução desta (art.98 nº5).

 Nota: Nota: O  art.98  é a expressão do princípio jurídico político-criminal segundo o qual a privação da liberdade é a última ratio.

Excepcionalmente, quando seja aplicado o nº2 do art.91, exige-se também que a medida

de segurança não privativa da liberdade seja compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social (art.98/2).A previsão desta medida de segurança não privativa da liberdade dá expressão ao

 princípio da proporcionalidade em sentido amplo, com ganhos evidentes para o processo dereintegração do agente na sociedade.

A decisão de suspensão impõe ao agente regras de conduta (art.52) necessárias à prevenção da perigosidade, bem como o dever de se submeter a tratamentos e regimes de curaambulatórios apropriados e de se prestar a exames e observações nos lugares que lhe foremindicados, sendo colocado sob vigilância tutelar dos serviços de reinserção social (art.98/3/4).

A suspensão da execução do internamento tem, em regra, a duração máximacorrespondente à da medida de segurança de internamento, devendo findar quando o tribunal

verificar que cessou o estado de perigosidade criminal que lhe deu origem, num quadro revisão periódica da situação do agente (art.98/6 al.a) art.92, 93/1/2).

A suspensão da execução do internamento é revogada se o comportamento do agenterevelar que o internamento é indispensável ou se o agente for condenado em pena privativa daliberdade e não se verifiquem os pressupostos da suspensão da execução da pena de prisão,com a consequência de ter, então, lugar o internamento do agente (art.98/6 al.b) art.95).

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Direito Penal III 68

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Direito Penal III 69

Pena relativamente indeterminada

▣ Generalidades

A pena relativamente indeterminada (art.83 a 90) pretende ser uma resposta àdelinquência especialmente perigosa: a delinquência por tendência e à delinquência ligada ao

abuso de álcool e de estupefacientes.Esta encontra justificação político-criminal numa acentuada inclinação para o crime por  parte do agente, sem que se confunda com a pena aplicada ao agente reincidente, apesar dos pontos de coincidência (art.76/2), uma vez que na pena relativamente indeterminada releva deforma imediata o pressuposto da perigosidade criminal.

A pena relativamente indeterminada é uma sanção de natureza mista (art.90), porque: É executada como pena até ao momento em que se mostrar cumprida a pena

que concretamente caberia ao crime; É executada como medida de segurança a partir deste momento e até ao seu

limite máximo.

▣ Pressupostos

▪ Pressupostos formais

 No âmbito da “delinquência por tendência grave” são pressupostos de aplicação de uma pena relativamente indeterminada que (art.83/1):

- O agente pratique em crime doloso

- Devesse aplicar-se concretamente prisão efectiva por mais de 2 anos- Tenha cometido anteriormente 2 ou mais crimes dolosos, 

-  A cada um dos quais tenha sido ou seja aplicada prisão efectiva por mais de 2

anos, sempre que a avaliação conjunta dos factos praticados e a personalidade do agenterevele uma acentuada inclinação para o crime, que no momento da condenação ainda

 persista↝ Devem de ser tomados em conta os factos julgados em pais estrangeiro que tiverem

conduzido à aplicação de uma pena de prisão efectiva por mais de 2 anos, desde que a eles sejaaplicável, segundo a lei portuguesa, pena de prisão superior a 2 anos (art.83/4).

 No âmbito da “delinquência por tendência menos grave” são pressupostos de aplicaçãode uma pena relativamente indeterminada que (art.84/1):

- O agente pratique em crime doloso

- Devesse aplicar-se concretamente prisão efectiva

- Tenha cometido anteriormente 4 ou mais crimes dolosos, -  A cada um dos quais tenha sido ou seja aplicada prisão efectiva, sempre que se

verificarem os pressupostos fixados no art.83 nº1.

↝ Devem de ser tomados em conta os factos julgados em país estrangeiro que tiveremconduzido à aplicação de uma pena de prisão efectiva, desde que a eles seja aplicável, segundoa lei portuguesa, pena de prisão (art.84/4).

Exige-se que o agente tenha sido ou seja condenado em pena de prisão efectiva por certo tempo ou em pena de prisão efectiva.

A aplicação da pena relativamente indeterminada não exige a condenação pelos crimesanteriormente praticados, bastando-se com a sua prática: é pressuposto que a cada um dos

crimes anteriores tenha sido ou seja aplicada pena de prisão por certo tempo ou pena de prisãoefectiva.

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Direito Penal III 70

Prevê-se um prazo de prescrição da tendência, na medida em que qualquer crime deixade ser tomado em conta, quando entre a sua prática e a do crime seguinte tiverem decorrido

mais de 5 anos, não sendo computado neste prazo o período durante o qual o agente cumpriumedida processual, pena de prisão ou medida de segurança (art.83/3, art.84/3).

▪ Pressuposto material

Para a aplicação da pena relativamente indeterminada é necessário que a avaliação

conjunta dos factos praticados e da personalidade do agente revele uma acentuada inclinação para o crime, que no momento da condenação ainda persiste  (art.83/1, in fine e art.84/1, infine)

√ Limites de duração

Aos “delinquentes por tendência grave” aplica-se uma pena relativamenteindeterminada que tem um mínimo correspondente a 2/3 da pena de prisão que concretamente

caberia ao crime cometido e um máximo correspondente a esta pena acrescida de 6 anos, semexceder 25 anos no total (art.83/2)

Aos “delinquentes por tendência menos grave” aplica-se uma pena relativamenteindeterminada que tem um mínimo correspondente a 2/3 da pena de prisão que concretamentecaberia ao crime cometido e um máximo correspondente a esta pena acrescida de 4 anos, sem

exceder 25 anos no total (art.84/2)

√ Agentes com menos de 25 anos

Em razão da idade do agente há uma atenuação do regime da pena relativamente

indeterminada (art.85) que se concretiza nos artigos 83 e 84 só é aplicável se o agente tiver cumprido prisão no mínimo de 1 ano.

 Nestas hipóteses o limite máximo da pena relativamente indeterminada corresponde aum acréscimo de 4 ou 2 anos à prisão que concretamente caberia ao crime cometido.

O prazo de prescrição da tendência é de 3 anos nos casos de “delinquência por tendência grave”

√ Alcoólicos e equiparados

Se um alcoólico, pessoa com tendência para abusar de bebidas alcoólicas ou pessoa que

abuse de estupefacientes praticar um crime a que devesse aplicar-se concretamente prisãoefectiva e tiver cometido anteriormente crime a que tenha sido aplicada prisão efectiva, é

  punido com uma pena relativamente indeterminada sempre que os crimes tiverem sido praticados em estado de embriaguez, estiverem relacionados com o alcoolismo ou com o abusode estupefacientes ou com a tendência do agente (art.86/1 e art.88).

A pena tem um mínimo correspondente a 2/3 da pena de prisão que concretamentecaberia ao crime cometido e um máximo correspondente a esta pena acrescida de 2 anos na 1ªcondenação e de 4 anos nas restantes, sem exceder 25 anos.

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Direito Penal III 71

√ Execução

Em caso de aplicação de pena relativamente indeterminada, é elaborado, com a  brevidade possível, um plano individual de readaptação do delinquente com base nosconhecimentos que sobre ele houver e sempre que possível, com a sua concordância, o qual

 poderá sofrer, no decurso do cumprimento da pena, as modificações exigidas pelo progresso do

delinquente e por outras circunstâncias relevantes (art.89/3, CP e art.509/1/9, CPP).Tratando-se de alcoólicos e de agentes que abusem de estupefacientes, a execução da pena é orientada no sentido de eliminar o alcoolismo ou a toxicodependência do agente oucombate a sua tendência para abusar de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes (art.87, 88).

√ Libertação do condenado

O tempo de pena relativamente indeterminada que o condenado deve efectivamentecumprir nunca é fixado na decisão condenatória. É determinado já na fase de execução, umavez cumprido o limite mínimo legalmente fixado em função da medida da pena que ao crime

caberia segundo os critérios do art.71.O tempo de pena efectivamente cumprido é determinado a partir das regras de execuçãoda pena de prisão, que funcionarão até ao momento em que se mostrar cumprida a pena queconcretamente coberta ao crime cometido e pelas regras de execução da medida de segurançade internamento, a partir deste momento e até ao limite máximo da pena relativamenteindeterminada (art.90, CP e art.509/3/4/5/6, CPP).

▣ Regras até se mostrar cumprida a pena que caberia ao crime

Até ao momento em que se mostrar cumprida a pena que concretamente caberia aocrime cometido, pode ser concedida a liberdade condicional ao condenado (art.90/1/3, CP e

art.509/3/4, CPP).O condenado é colocado em liberdade condicional quando se encontrar cumprido o

limite mínimo da pena relativamente indeterminada (2/3 da pena de prisão que concretamentecaberia ao crime cometido), se nisso consentir, se se encontrarem cumpridos no mínimo 6meses de prisão e se se revelar preenchido o art.61 nº2 al.a).

Se for fundamente de esperar, atentas as circunstâncias do caso, a vida anterior do

agente, a sua personalidade e a evolução desta durante a execução da pena de prisão, que o

condenado, uma vez em liberdade, conduzirá a sua vida de modo socialmente responsável, sem

cometer crimes (art.90/1 art.62/1/3).De acordo como o art.90 nº2 a liberdade condicional tem uma duração igual ao tempo

que falta para atingir o máximo da pena, mas não será nunca superior a 5 anos .Desta regra de duração poderá resultar que seja ultrapassada a pena que concretamente

caberia ao crime cometido, caso em que a pena relativamente indeterminada continuará a ser executada como pena.

Há, no entanto, um desvio à regra segundo o qual a pena relativamente indeterminada éexecutada como medida de segurança a partir do momento em que se mostrar cumprida a penaque concretamente caberia ao crime cometido.

Se a liberdade condicional não for concedida, atingido o limite mínimo da penarelativamente indeterminada, há renovação anual da instância até se mostrar cumprida a penaque concretamente caberia ao crime cometido (art.509/4 al.a), CPP). É durante a execução queé determinado o tempo de prisão efectivamente cumprido pelo condenado.

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Direito Penal III 72

Por remissão do nº1 do art.90, aplica-se o regime da liberdade condicional previsto noart.64, valendo inteiramente as normas sobre a imposição de regras de conduta, sobre a falta decumprimento destas regras ou do plano de readaptação social e sobre os motivos da renovaçãoda liberdade condicional.

Em caso de revogação e até se mostrar cumprida a pena que concretamente caberia aocrime cometido, a liberdade condicional pode ser concedida de novo passados 2 anos sobre o

inicio da continuação do cumprimento da pena e, caso não seja concedida, decorrido cada período ulterior de 1 ano (art.509/4 al.b), CPP).

▣ Regras depois de se mostrar cumprida a pena que caberia ao crime

Quando se mostrar cumprida a pena que concretamente ao crime cometido, ocondenado poderá ser libertado por aplicação de regras de execução da medida de segurança deinternamento ou porque foi atingido o limite máximo da pena relativamente indeterminada(art.90/3, CP e art.509/5, CPP).

Por remissão do nº3 do art.90, é aplicável o art.92 nº1 de onde decorre que a pena

relativamente indeterminada finda, libertando-se o condenado, quando o tribunal verificar quecessou o estado de perigosidade criminal que deu origem à aplicação da sanção e que, justificoua continuação da execução da mesma, para além da pena que concretamente caberia ao crime.

A causa justificativa da libertação do condenado pode ser apreciada a todo o tempo,havendo apreciação obrigatória, independentemente de requerimento, decorridos 2 anos sobre omomento em que se mostrar cumprida a pena que concretamente caberia ao crime cometido ousobre a decisão que tiver mantido a execução da sanção (art.93/1/2, 90/3, CP e art.509/5 CPP).

Por remissão do nº3 do art.90, o condenado é colocado em liberdade para prova, sendoaplicáveis as regras gerais do incidente de execução da medida de segurança de internamento(art.94, 95, CP e art. 509/6 art.495, CPP), se da revisão da situação do condenado

(art.93/1/2), resultar que há razões para esperar que a finalidade da sanção possa ser alcançadaem meio aberto.

Se o condenado em pena relativamente indeterminada atingir o limite máximo dasanção, não foi colocado em liberdade condicional ou em liberdade para prova ou, tendo sido,houve revogação, é libertado logo que atinja tal limite, ainda que subsista a perigosidadecriminal (art.479, 480, 481, CPP)

Diferentemente da medida de segurança de internamento, não há lugar à prorrogação dasanção nos termos do art.92/3.

 ____________________________________ FIM _____________________________________ 

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