conselho superior - educafro - bolsas de estudo de até 100%pela defensoria pública, os artigos 31...

61
Conselho Superior CSDP nº 351/2013 Interessados: Ouvidoria Geral da Defensoria Pública, Núcleo Especializado de Combate à Discriminação, Racismo e Preconceito e o Instituto Luiz Gama Assunto: Proposta de alteração da Deliberação nº 10/06, que estabelece regras para a realização do concurso de ingresso na carreira de Defensor Público Excelentíssimo Senhor Presidente, Excelentíssimos Senhores Conselheiros, Sempre que essa questão do tratamento compensatório ou preferencial para o negro é levantada, alguns dos nossos amigos recuam horrorizados. Ao negro deve ser garantida a igualdade, eles concordam, mas ele não deve pedir mais nada. Na superfície, isso parece razoável, mas não é realista. Pois é óbvio que se um homem entra na linha de partida de uma corrida trezentos anos depois de outro, o primeiro teria de realizar uma façanha incrível a fim de alcançá-lo. (Martin Luther King) Trata-se de proposta de alteração da Deliberação nº 10/06, do CSDP, que estabelece regras para a realização do concurso de ingresso na

Upload: others

Post on 06-Jul-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Conselho Superior

CSDP nº 351/2013

Interessados: Ouvidoria Geral da Defensoria Pública, Núcleo Especializado de

Combate à Discriminação, Racismo e Preconceito e o Instituto Luiz Gama

Assunto: Proposta de alteração da Deliberação nº 10/06, que estabelece regras

para a realização do concurso de ingresso na carreira de Defensor Público

Excelentíssimo Senhor Presidente,

Excelentíssimos Senhores Conselheiros,

Sempre que essa questão do tratamento

compensatório ou preferencial para o negro é levantada,

alguns dos nossos amigos recuam horrorizados. Ao

negro deve ser garantida a igualdade, eles concordam,

mas ele não deve pedir mais nada. Na superfície, isso

parece razoável, mas não é realista. Pois é óbvio que se

um homem entra na linha de partida de uma corrida

trezentos anos depois de outro, o primeiro teria de

realizar uma façanha incrível a fim de alcançá-lo.

(Martin Luther King)

Trata-se de proposta de alteração da Deliberação nº 10/06, do

CSDP, que estabelece regras para a realização do concurso de ingresso na

Conselho Superior

carreira de Defensor Público, formulado pela Ouvidoria-Geral da Defensoria

Pública, Núcleo Especializado de Combate à Discriminação, Racismo e

Preconceito e o Instituto Luiz Gama, em especial para implantação e regulação

do sistema de cotas étnico-raciais na Instituição.

Em síntese, afirmam que cabe ao Conselho Superior, dentro da

autonomia da Defensoria Pública, a edição de deliberação para regular a adoção

da política de cotas étnico-raciais para negros e indígenas no concurso de

ingresso na carreira de Defensor Público, eis que seu poder regulamentar

encontra amparo em autorização direta do texto constitucional e na Lei da

Igualdade Racial (Lei nº 12.288/2010).

Foi juntado ao pedido: 1 – Parecer jurídico elaborado pelo

Instituto Luiz Gama, sustentando a legalidade da adoção de cotas étnico-raciais

nos concursos públicos para ingresso na carreira de Defensor Público do Estado

de São Paulo; 2 – Relato do Comunicado proferido em Sessão do CSDP em 12 de

julho de 2013; 3 - Texto do artigo “ História e Memória Nacional no Discurso

Jurídico – o Julgamento da ADPF 186 “, de Evandro Charles Piza e Guilherme

Scotti, onde é apresentado debate sobre a “História a partir da judicialização

das cotas raciais”, e 4 – Minuta de alteração da Deliberação CSDP nº 10/2006.

O Ilustre Conselheiro Relator, Dr. Pedro Antonio de Avellar,

proferiu voto no sentido de não conhecer do pedido, eis que não haveria

Conselho Superior

previsão legal para que o Conselho Superior regulamentasse a matéria, seja na

Lei Orgânica paulista ou mesmo nacional.

Afirma o nobre relator que a EC nº 80/2014, ao dispor que

se aplica às Defensorias Públicas os dizeres do art. 93 e 96, II, ambos da

Constituição Federal, passou a exigir Lei Complementar, de iniciativa da

Instituição, para “ditar princípios do concurso público de ingresso na carreira”,

já que aquela norma dispõe sobre o requisito de 3 (três) anos de atividade

jurídica para o candidato bacharel em direito prestar o concurso de ingresso à

carreira de Defensor.

Fundamenta, outrossim, que a Constituição Federal traz

normas gerais de aplicabilidade à Administração Pública no que tange ao

ingresso a cargos por meio de concurso público, nos termos do art. 37 a 42, da

Carta, ressaltando que somente a “Lei” poderia criar requisitos para a

investidura.

Em um resgate histórico, foi rememorado que o art. 901 e

752, da LCSP nº 988/06, que tratam do concurso público para Defensores

1Art. 90 - § 3º - Os concursos de ingresso na carreira de Defensor Público do Estado obedecerão à

reserva de vagas em favor da população negra e afrodescendente, de 30% (trinta por cento) sobre o

total de vagas abertas, com as seguintes disposições: a) as frações decorrentes do cálculo do percentual

de que trata este artigo, quando maiores ou iguais a 0,5 (cinco décimos), serão arredondadas para o

número inteiro imediatamente superior;b) os candidatos negros e afrodescendentes participarão dos

concursos públicos em igualdade de condições com os demais candidatos, no que diz respeito ao

conteúdo, avaliação de provas e demais requisitos exigidos para a participação no certame; c) no edital

Conselho Superior

Públicos e Estagiários, sucessivamente, em seu texto original aprovado na

Assembleia Legislativa continha expressamente a previsão de cotas raciais para

ingresso na carreira.

Da mesma forma, tal texto original prescrevia que caberia

ao CSDP regulamentar e realizar os concursos de ingresso na carreira, com a

Instituição de política de ação afirmativas (art. 31, IX, da LCSP nº 988/063)

Ambos os artigos foram vetados pelo Governador, sendo

que, ato contínuo, encaminhou Projeto de Lei4 para a adoção das cotas raciais

do concurso serão fixados os procedimentos para a inscrição dos candidatos negros e afrodescendentes,

devendo prevalecer o critério de autodeclaração para o enquadramento nesta condição; d) no ato da

inscrição, os candidatos negros e afrodescendentes deverão declarar se optam pela participação no

concurso dentro destas cotas de inclusão racial, ou se preferem disputar as demais vagas.

2Art. 75 - § 1º - Os concursos de ingresso para os estagiários de Direito, auxiliares dos Defensores

Públicos do Estado, obedecerão à reserva de vagas em favor da população negra e afrodescendente, de

30% (trinta por cento) sobre o total de vagas abertas, com as seguintes disposições : a) as frações

decorrentes do cálculo do percentual de que trata este artigo, quando maiores ou iguais a 0,5 (cinco

décimos), serão arredondadas para o número inteiro imediatamente superior; b) os candidatos negros e

afrodescendentes participarão dos concursos públicos em igualdade de condições com os demais

candidatos, no que diz respeito ao conteúdo, avaliação de provas e demais requisitos exigidos para a

participação no certame; c) no edital do concurso serão fixados os procedimentos para a inscrição dos

candidatos negros e afrodescendentes, devendo prevalecer o critério de autodeclaração para o

enquadramento nesta condição; d) no ato da inscrição, os candidatos negros e afrodescendentes

deverão declarar se optam pela participação no concurso dentro destas cotas de inclusão racial, ou se

preferem disputar as demais vagas.

3Art. 31 - IX - regulamentar e realizar os concursos de ingresso, remoção e promoção dos Defensores

Públicos, bem como o processo de seleção para os Núcleos Especializados, com a instituição de política

de ação afirmativa, tais como a instituição de quotas de, no mínimo, 30% para os afrodescendentes,

observado o disposto nos artigos 54 e 55 desta lei complementar;

4 PLC nº 01/2006

Conselho Superior

nos concursos da Defensoria Pública. O Projeto, hoje alterado por nova

proposta legislativa5, encontra-se em tramitação na conservadora Assembleia

Legislativa.

Vale consignar que, adentrando no mérito, embora tenha

proferido voto pelo não conhecimento do pedido, o Ilustre relator afirmou que

em tese o pedido se contradiz com o princípio constitucional da igualdade (art.

5º, I, da CF), bem como que a proposta se limita a discutir o elemento de

discrimen étnico-racial, deixando de lado outros grupos de minorias.

Nesta linha, votou pelo não conhecimento do pedido.

Eis o relatório.

DA COMPETÊNCIA DO CONSELHO SUPERIOR DA DEFENSORIA PÚBLICA

Importante primeiramente reconhecer que o Conselho

Superior da Defensoria Pública tem competência para exercer o poder

normativo no âmbito da Instituição e, neste sentido, deliberar sobre a abertura,

organização e regulamento de concurso de ingresso na carreira de Defensor

Público.

5 PLC nº 58/2013

Conselho Superior

Nunca é demais relembrar que este poder de se auto-

regulamentar deriva diretamente, e cada vez mais fortalecido, da Constituição

Federal.

Os parágrafos 1° e 2° do art. 134, da Constituição Federal,

asseguram às Defensorias Públicas Estaduais a autonomia funcional e

administrativa, dispondo que Lei Complementar prescreverá normas gerais para

sua organização nos Estados.

A Lei Complementar Federal n° 80/90 estabeleceu regras

gerais para as Defensorias Públicas Estaduais, sendo que no Estado de São

Paulo, a instituição é regulamentada pela LC n° 988 de 09 de janeiro de 2006

(Lei Orgânica da DPESP).

Importante frisar que nossa autonomia foi reiterada e reforçada

com a promulgação da EC nº 80/14, onde então se aplicou os dizeres do art. 93

e o inciso II do art. 96 da Constituição Federal.

Especificadamente em relação aos concursos públicos realizados

pela Defensoria Pública, os artigos 31 e 90 da citada lei orgânica estabelecem o

poder normativo do Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado de São

Paulo para deliberar sobre abertura, organização e regulamentação do

concurso de ingresso na carreira de Defensor Público, assim dispondo:

Conselho Superior

Artigo 31 - Ao Conselho Superior compete:[...]

XVII - deliberar sobre a abertura e organização de concurso de

ingresso na carreira de Defensor Público, observado o disposto

no artigo 90 desta lei complementar;

Artigo 90 - O ingresso na carreira de Defensor Público do Estado

far-se-á no cargo de Defensor Público do Estado Nível I, mediante

aprovação em concurso público de provas e títulos promovido

pelo Conselho Superior, com a participação da Ordem dos

Advogados do Brasil.

§ 1º - Sempre que o número de cargos vagos for igual ou

excedente a 10% (dez por cento) do total, proceder-se-á à

abertura de concurso, pelo Conselho Superior, que indicará os

Defensores Públicos integrantes da respectiva comissão e

deliberará acerca de seu regulamento.

Ou seja, a legislação ora referenciada autoriza a Defensoria

Pública a regular, por meio de norma própria, seu concurso de ingresso à

carreira.

Conselho Superior

O poder normativo-regulamentador do concurso público para

Defensoria Pública reside no seio do Conselho Superior da Instituição, a quem

cabe deliberar sobre o assunto por força de mandamento legal.

Portanto, e sem maiores esforços interpretativos por ora, o

Conselho Superior da Defensoria Pública tem competência para editar normas

regulamentadoras da Instituição, inclusive sobre ingresso na carreira por meio

de concurso público, restando, portanto, a análise se a regulamentação de cotas

étnico-raciais encontra-se dentro dos limites legais de seu poder regulamentar.

E a resposta claramente é positiva.

Temos o suficiente amparo constitucional (princípio da

igualdade material), legal (Estatuto da Igualdade Racial que dispõe sobre

políticas de inclusão por meio de ações afirmativas) e jurisprudencial (posição

da mais alta Corte do país sobre a constitucionalidade de ações afirmativas e

autonomia institucional) para garantir segurança jurídica-que, diga-se, nunca

será absoluta- para a edição de regulamentação interna que disponha sobre

cotas étnico-raciais na Instituição independentemente de Lei formal e específica

para o caso.

Por óbvio que a Lei é o instrumento normativo que traz a

maior imperatividade social, estabilidade temporal e segurança jurídica. Mas

Conselho Superior

também é óbvio que na busca destes elementos-ou mesmo das implícitas

resistências aos cumprimentos das Leis, o Brasil tem a cultura de editar Leis

para explicitar o que outras Leis já prescrevem sobre o determinado tema.

O Brasil é um dos países que mais produz leis, e nem por

isto implica em dizer que somos um país de justiça igualitária, que temos um

costume de respeito ao imperativo legal e muito menos um país em que o fato

de existir uma Lei é sinônimo de termos alcançado a “segurança jurídica” do que

está de fato disposto nela.

O excesso normativo decorre muito mais da perda do seu

valor social como norma-ou resistência silenciosa no seu cumprimento, do que

propriamente da necessidade de se buscar segurança jurídica, por isto a

necessidade de se produzir Lei para garantir aplicabilidade de outra lei-de

idêntico teor, seja porque não recebeu da sociedade o valor merecido ou

porque ainda encontra resistência implícita para sua real aplicabilidade pelos

ditos operadores do direito.

De acordo com o relatório do Grupo de Trabalho de

Consolidação das Leis, montado em 2007-2008, na Câmara dos Deputados do

Congresso Nacional, “Segundo levantamento da Casa Civil da Presidência da

Republica, no Brasil existem cerca de 180 mil normas federais, entre leis,

decretos-leis, instruções normativas, comunicados, portarias e resoluções. A

Conselho Superior

maioria não tem mais utilidade, pois são conflitantes com leis posteriores ou

com a própria Constituição Federal de 1988, estão ultrapassadas ou não tem

mais efeito prático na vida do cidadão.” (...) “Em meio ao cipoal jurídico que se

formou, devido às diversas práticas adotadas no processo de elaboração

legislativa ou por sermos adeptos da vertente romanista do direito que tem

como princípio a elaboração crescente de leis paralelas sobre o mesmo assunto,

o caos no ordenamento jurídico mostrou a sua face, e o processo de

consolidação das leis foi a solução encontrada para organizar algo que está

absolutamente fora de controle. O trabalho de consolidação das leis cumprirá o

importante papel de quebrar paradigmas. Já está comprovado que somente

produzir leis não basta. É preciso torná-las aplicáveis por meio de um amplo

trabalho que possibilite identificar o que já temos e o que realmente

precisamos. Teremos um resultado efetivo através da consolidação da

legislação, que nada mais é do que deixar apenas uma lei que regule todos os

aspectos de um assunto, revogando todas as anteriores.”

A desvalorização da legalidade decorrente inclusive da

exigência de um excesso normativo, o que gera um efeito contrário àquele

objetivado com a edição de leis-que é a segurança jurídica.

Conselho Superior

E o presente caso demonstra exatamente a face romanista

do jurista, quando não da resistência e do conservadorismo do Estado na

implementação de políticas públicas de auto correção das ilegalidades históricas

cometidas, onde vozes retomam a ideia de explicitação de Lei para o que já está

de fato descrito.

Estamos falando sobre a possibilidade de se garantir a

participação da população negra, em condição de igualdade de oportunidade,

na vida econômica, social, política e cultural do País, promovida,

prioritariamente, entre outras, pela implementação de programas de ação

afirmativa destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas no tocante à

educação, cultura, esporte e lazer, saúde, segurança, trabalho, moradia, meios

de comunicação de massa, financiamentos públicos, acesso à terra, à Justiça, e

outros.

Para isto, a Constituição Federal já seria o suficiente para

garantir a erradiação de seus efeitos de busca da igualdade material nos demais

atos normativos, como bem descrito por Daniel Sarmento, Procurador da

República:

“a doutrina tem afirmado que o Poder Público não está

vinculado apenas à lei, mas também - e acima de tudo – à própria Constituição.

Em outras palavras, entende-se hoje que o Estado está subordinado não apenas

Conselho Superior

à lei formal, mas a um bloco mais amplo de “juridicidade”, que é integrado

também pela Constituição. Como consignou o Ministro Gilmar Mendes, no voto

que proferiu na ADC – 12 – MC: “ Portanto, quando a Constituição, em seu art.

5º, II, prescreve que “ninguém será obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma

coisa senão em virtude de lei” deve –se entender o conjunto do ordenamento

jurídico, cujo fundamento de validade formal e material encontra-se

precisamente na própria Constituição. Traduzindo em outros termos, a

Constituição diz que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma

coisa que não esteja previamente estabelecido na própria Constituição e nas

normas dela derivada. Assim, é certo que não apenas a lei em sentido formal,

mas também a própria Constituição emite comandos normativos direcionados à

atividade administrativa.6

Nunca é demais repetir que o princípio da igualdade

constitucional quer dizer que impor tão somente uma igualdade formal, onde

todos são iguais independentemente de suas desigualdades é acentuar as

diferenças entre os grupos e entre os indivíduos, por isto, nos dizeres de Celso

Antonio Bandeira de Mello "não só perante a norma posta se nivelam os

indivíduos, mas, a própria edição dela assujeita-se ao dever de dispensar

tratamento equânime às pessoas"

6 Trecho extraído de seu parecer elaborado nos autos do processo de providência nº 000543/2013-50, do CNMP

Conselho Superior

Citando Robert Alexy, o Ministro Gilmar Mendes em seu

voto na ADPF 186 afirma que “toda igualdade de direito tem por consequência

uma desigualdade de fato, e toda desigualdade de fato tem como pressuposto

uma desigualdade de direito.”

E não precisamos ir longe para constatar a desigualdade

fática. Para o Procurador da República Dr. Daniel Sarmento7:

“O mito da democracia racial, durante muito tempo acalentado entre nós,

provou-se nada mais do que isso: apenas um mito, que se presta a anestesiar

consciências e a postergar o enfrentamento de um dos mais graves problemas

nacionais. Mas basta um giro pelos shopping-centers ou pelos restaurantes

frequentados pela elite e classe média brasileiras em qualquer centro urbano do

país para constatar a exclusão social dos negros e de outras minorias étnicas

que, no entanto, estão muitíssimo bem representados em outros espaços

menos glamorosos, como presídios e favelas.

7 Trecho extraído de seu parecer elaborado nos autos do processo de providência nº 000543/2013-50, do CNMP

Conselho Superior

E na busca pela igualdade material, distribuindo e

restaurando a justiça, é que surge a Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010, que

instituiu o Estatuto da Igualdade Racial.

Tal diploma prescreve a obrigação de se efetivar a

igualdade de oportunidades por meio de políticas públicas e ações afirmativas,

determinando à União, aos Estados, Municípios e entes autônomos, no

cumprimento de suas atribuições institucionais, a realização de ações que

assegurem a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a

população negra, inclusive mediante a implementação de medidas visando à

promoção da igualdade nas contratações do setor público, assim dispondo em

seus artigos 1º e 39:

“Art. 1º. Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado

a garantir à população negra a efetivação da igualdade de

oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos

e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de

intolerância étnica.

Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se:[...]

V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados

pelo Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais;

Conselho Superior

VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais

adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção

das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de

oportunidades.

Art. 39. O poder público promoverá ações que assegurem a

igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a

população negra, inclusive mediante a implementação de

medidas visando à promoção da igualdade nas contratações do

setor público e o incentivo à adoção de medidas similares nas

empresas e organizações privadas.

E não se pode dizer que a Defensoria Pública encontra-se

fora deste conceito de “poder público”. Sua própria Lei orgânica assevera que:

“Art. 3º. A Defensoria Pública do Estado, no desempenho de

suas funções, terá como fundamentos de atuação a prevenção dos conflitos e a

construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza e

da marginalidade, e a reduçãodas desigualdades sociais e regionais.”.

Conselho Superior

No mesmo sentido é a norma prevista no artigo 5º do

mesmo diploma legal:

“São atribuições institucionais da Defensoria Pública do Estado,

dentre outras: [...]

XII - contribuir no planejamento, elaboração e proposição de

políticas públicas que visem a erradicar a pobreza, a

marginalização e a reduzir as desigualdades sociais;

E não há como se falar em redução da desigualdade,

marginalidade e pobreza, inclusive dentro da Instituição, senão encararmos de

frente, de forma corajosa, propositiva e responsável a implementação de ações

afirmativas capazes de distribuir e restaurar a justiça.

Distribuir no sentido de garantir a diversidade e vantagens para

todos, pois o convívio com diferentes visões de mundo só tende a fortalecer a

democracia, já que somente com todos é que será possível a construção de uma

sociedade verdadeiramente respeitosa e plural, o que, nos dizeres do Ministro

Ricardo Lewandowski, é consentâneo do mundo globalizado em que vivemos. E

restaurar, como forma de corrigir a discriminação histórica que as sucessivas

Conselho Superior

gerações de pessoas pertencentes a estes grupos têm sofrido, ainda que de

forma camuflada ou indireta.

O Estado, um dos maiores responsáveis na história pela

consolidação da discriminação ético-racial no mundo, hoje se torna também o

maior responsável pela sua eliminação, o que deve se dar por meio de ações

afirmativas capazes de reconstruir o tecido social tão fragmentado por minorias

desprotegidas.

O mandamento da Lei é altamente claro. O Estado- e no

nosso caso, a Defensoria Pública, DEVERÁ promover ações que assegurem a

igualdade de oportunidades no mercado de trabalho.

Embora a clareza não cesse a interpretação da Lei, sua

limitação pode induzir a uma interpretação política sobre a resistência

institucional à introdução de políticas por ações afirmativas de superação do

problema da desigualdade. Nos dizeres da Ministra Carmen Lúcia Rocha, nesse

“cenário sócio-político e econômico, não seria verdadeiramente democrático a

leitura superficial e preconceituosa da Constituição, nem seria verdadeiramente

cidadão o leitor que não lhe rebuscasse a alma, apregoando o discurso fácil dos

Conselho Superior

igualados superiormente em nossa história feita pelas mãos calejadas dos

discriminados.”8

Não bastasse a clareza dos ditames constitucionais e

da Lei 12.288/10 que impõe a responsabilidade do poder público em adotar

políticas voltadas para a inclusão da população negra no mercado de trabalho,

vozes e forças insurgentes se levantam para dizer que é preciso Lei em sentido

estrito para garantir segurança jurídica na aplicação das cotas étnico-raciais em

concurso público.

Um equívoco.

A política do medo só é utilizada para beneficiar o estado de

coisas. Devemos ter orgulho de ter a coragem de fazer história no sistema de

justiça com a introdução de ações afirmativas que dá o mesmo significado para

a cor da pele como a sociedade dá para o branco dos olhos.

“Não existe preconceito pior do que o acreditar não ter

preconceitos” (BOBBIO, Norberto. Elogio da serenidade e outros escritos

morais. São Paulo: Unesp; 2002, p. 122).

8 ANTUNES, Carmen Lúcia Rocha. Ação afirmativa: o conteúdo democrático do princípio da igualdade jurídica. Revista de Informação legislativa, a. 33, jul/set. 1996, p295

Conselho Superior

Não estamos diante de inovação legislativa, mas sim à vista

de elementos de caso concreto, de princípios a serem preservados e de fins a

serem realizados, tudo para a concretização do princípio constitucional da

igualdade material.

E temos diversos exemplos no país, seja por Lei ou mesmo

ato regulamentar.

Antes da edição da Lei 6.067/11, do Estado do Rio de

Janeiro, que instituiu a política de cotas nos concursos públicos, foi editado

naquele mesmo Estado o Decreto 43.007/11, com os mesmos dizeres da

referida Lei e que, no fundo, acabou sendo a base da produção legislativa. Ou

seja, a regulação das cotas nos concursos públicos no Estado do Rio de Janeiro

se deu inicialmente por meio de ato regulamentar, sendo a Lei posteriormente

editada a elucidação da cultura do sistema de inflação normativo.

Em São Paulo tivemos uma similaridade de conduta. Ao

mesmo tempo que o Governador encaminhou o PLC nº 58/2013 à Assembleia

Legislativa, editou o Decreto 59.900, de dezembro de 2013, que Instituiu o

programa estadual de inclusão, alusivo à participação de pretos, pardos e

indígenas em concursos públicos, remetendo sua efetividade à Lei

Complementar.

Conselho Superior

Referido projeto de Lei ainda não foi aprovada e, após o

resultado das eleições estaduais deste ano de 2014, o cenário demonstra que

não será fácil, muito menos breve, a aprovação desta norma que diz respeito à

proteção dos direitos humanos da minoria (ou maioria) ora tratado.

Mas outros exemplos temos a seguir.

O Senado Federal, em maio de 2014, por sua vez, aprovou

por Resolução a reserva de 20% das vagas para pretos em concurso público,

recomendando o cumprimento da cota também para funcionários que

desempenham função de confiança. A medida foi adotada pelo Senado Federal

no momento da aprovação da Lei 12.990/14, eis que referida lei somente

estabeleceu para a administração pública federal, autarquias, fundações

públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista controladas pela

União.

O Conselho Nacional do Ministério Público instaurou

Procedimento Administrativo (autos nº 0.00.000.000543/2013-50) para

uniformizar o entendimento sobre o cabimento ou não das cotas para ingresso

de representantes de minorias étnico-raciais nos concursos do Ministério

Público brasileiro, sendo que o processo foi encaminhado à Comissão de

Direitos Humanos e Fundamentais do CNMP para estudo e providências que

entender cabíveis, desde novembro de 2013.

Conselho Superior

O r. Procurador da República Dr. Daniel Sarmento,

integrante da referida comissão, emitiu parecer em conjunto com o Grupo de

Trabalho sobre Enfrentamento do Racismo e Promoção da Diversidade Étnica e

Cultural do Conselho Nacional do Ministério Público e a 6ª Câmara de

Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, onde afirma que:

“as políticas de ação afirmativa podem ocorrer em diversas esferas, e uma delas

é o caso de acesso às funções públicas. É certo que a Constituição brasileira

prevê que o acesso a cargo ou emprego público depende de prévia aprovação

em concurso público (Art. 37, II, CF), mas é perfeitamente possível incorporar

aos critérios que, ao lado da análise da competência dos candidatos, busquem

também a promoção da igualdade substantiva e da diversidade racial.”

(...)

“Nada obstante, quando desacompanhados de medidas focadas na promoção

da igualdade material e do pluralismo, os concursos podem apresentar as

mesmas patologias que as provas de vestibular em nome de uma suposta

meritocracia, cega às desigualdades de oportunidade, tais mecanismos de

seleção podem prestar-se à preservação de um status quão de exclusão e

assimetria.”

Conselho Superior

(...)

“Daí porque, deve-se afastar o temor de que a introdução de políticas de ação

afirmativa nos concursos para o MP possa comprometer a eficiência da atuação

ministerial, em razão da admissão de membros e servidores supostamente

menos qualificados. Como assinalado acima, o pluralismo e a diversidade no

campo dos recursos humanos tendem a favorecer não só a legitimidade, como

também a eficiência da Instituição que deles se beneficia.”

(...)

“Ora, se a Constituição pode ser aplicada diretamente pelos Poderes Públicos,

independentemente de qualquer mediação concretizadora da lei, parece

evidente a possibilidade de edição de ato normativo pela administração que

pautem esta aplicação, seja para concretizar o sentido de normas

constituicionais, seja para definir os procedimentos tendentes à viabilização da

sua incidência.

Desta maneira, por um lado, não se compromete a força normativa da

Constituição, evitando-se que ela se torne refém da inércia do legislador. E, por

outro, prestigia-se a igualdade, ao garantir-se uniformidade na aplicação dos

ditames constitucionais, bem como a segurança jurídica, ao assegurar-se uma

maior previsibilidade das ações estatais voltadas à concretização da Lei Maior.

Conselho Superior

(...)

“os princípios constitucionais que fundamentam as políticas de ação afirmativa

desfrutam de plena força normativa e não dependem de edição de lei formal

para surtir seus efeitos. Daí porque, tais políticas podem ser instituídas por

instrumentos nomativos diversos da lei formal, que terão na própria

Constituição o seu fundamento de validade.”

(...)

“Nem se argumente que o caso dos concursos públicos seria diferente, porque

apenas a lei formal pode estabelecer os requisitos de acesso a cargos públicos,

emprego ou função pública, a teor do disposto no art. 37, inciso I, da

Constituição. É que as políticas de ação afirmativa não instituem requisitos para

o acesso a cargo público. Diante de uma política de ação afirmativa, como a

instituição de cotas raciais, os interessdos que não se enquadrarem na categoria

dos beneficiados do programa não ficam impedidos de participar do certame.”

(...)

“O CNMP pode editar normas primárias, especialmente e, hipóteses em que o

execício do seu poder normativo se volte à concretização de princípios

constitucionais, como ocorre no caso das políticas de ação afirmativa nos

concursos do Ministério Público. Esta tem sido a clara orientação do STF em

Conselho Superior

relação ao poder normativo do CNJ, que tem a mesma extensão e natureza do

que foi concedido pela EC 45 ao CNMP. Como já destacado anteriormente, ao

apreciar a validade da Resolução nº 7 do CNJ que vedara o nepotismo no âmbito

do Poder Judiciário, o STF reconheceu a possibilidade de edição de atos

normativos fundados diretamente na Constituição.”

Com estes fundamentos, o Ilustre jurista do Ministério

Público Federal encerra seu parecer ao CNMP afirmando que “pode-se concluir

no sentido da plena constitucionalidade da instituição de política de ação

afirmativa nos concursos para membros e servidores do MP”, já que, “além de

presta-se à promoção dos direitos dos negros e indígenas que viessem a ocupar

os cargos no MP, a implementação de tal política fortaleceria institucionalmente

o Ministério Público, por ampliar a sua legitimidade sociail, e aparelhá-lo para

atuar mais e melhor em favor dos interesses de grupos étnicos e sociais

vulneráveis e historicamente estigmatizados. A sociedade brasileira teria muito

a ganhar, com um Ministério Público de composição mais plurar e menos

elitizada, integrado por membros e servidores de todas as raças e, portanto,

presumidamente dotado de uma sensibilildade mais aguçada para os problemas

que afligem as camadas inferiores da nossa população. O Conselho Nacional do

Ministério Público detém competência para normatizar esta questão...”

Conselho Superior

Na mesma linha de regulação do tema, a Associação dos

Juízes para a Democracia, entendida civil que tem por objetivos primaciais a luta

pelo respeito absoluto e incondicional aos valores jurídicos próprios do Estado

Democrático de Direito e pela defesa da independência judicial emite NOTA, em

06/08/2014, intitulada O MOMENTO PARA DISCUTIR AS COTAS RACIAIS NO

JUDICIÁRIO.

O Objetivo é a introdução de ações afirmativas por meio de

cotas nos concursos de ingresso à magistratura, afirmando que “é bem verdade,

políticas de cotas nas universidades que podem ampliar o acesso de pretos e

indígenas à formação jurídica, imprescindível ao ingresso na carreira da

magistratura. Todavia, trata-se de ação, isoladamente, insuficiente, na medida

em que os concursos para os cargos de juiz de direito apresentam etapas –

especialmente a fase oral – sujeitas à subjetividade dos membros das bancas

julgadoras, em sua maioria formada pelos mesmos brancos que ocupam a

quase totalidade do Judiciário brasileiro, compartilhando uma visão de mundo

que nem sempre conhece o histórico de colonizado da imensa maioria excluída

da carreira.”9

9 http://ajd.org.br/documentos_ver.php?idConteudo=163

Conselho Superior

A nota vem em resposta à divulgação pelo Conselho

Nacional de Justiça (CNJ), em junho de 2014, dos dados coletados para o

primeiro Censo do Poder Judiciário realizado em todo o país, onde foi possível

constatar que apenas 14% dos juízes de direito se declararam pardos, 1,4% se

identificaram pretos e 0,1% se declararam indígenas, o que contrasta com os

84,5% que se declararam brancos.

Na Defensoria Pública a realidade não é outra. Os dados

coletados para a realização do III Diagnóstico das Defensorias Públicas, que

atualizou o perfil dos Defensores até o ano de 2009, constataram que somente

2,2% dos Defensores Públicos estaduais se declararam pretos, 18% pardos e 1%

indígena, sendo que o número de Defensores Públicos autodeclarados brancos

chega ao patamar de 77,3%.10

Por óbvio que muitas vezes estes números são apagados

por uma cegueira psicossocial, “parque a desigualdade racial já está

“naturalizada” na nossa sociedade. De tanto conviver com ela, desde a sua

primeira infância, o brasileiro mediano muitas vezes perde a capacidade crítica

de percebê-la como uma grave injustiça. Socializado neste contexto, ele passa a

ver tal quadro como absolutamente natural, e internaliza, inconscientemente, a

10 III Diagnóstico Defensoria Pública no Brasil, pag. 198.

Conselho Superior

ideia de que o “normal” é que o negro ocupe as posições subalternas na

sociedade, de que mulheres negras sejam empregadas domésticas, mas nunca

promotoras de justiça, de que negros sejam trabalhadores braçais, mas jamais

procuradores da República.”11

E dentro das possíveis ações estatais para corrigir esta

distorção e assegurar a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho

para a população negra, a Defensoria Pública, pelo Conselho Superior, tem o

dever, a responsabilidade e a competência pela edição de deliberações sobre

matérias internas, amoldadas, lógico, com as inspirações dos microssistemas de

proteção de direitos humanos-no caso, o Estatuto da igualdade ético-racial.

A regulamentação da política de cotas étnico-raciais no concurso

de ingresso à carreira é a medida adequada para o enfrentamento das

desigualdades no tocante ao trabalho já que, nas palavras do Ilustre Prof. Silvio

Luiz de Almeida, “A discriminação nas relações de trabalho atinge a capacidade

econômica do grupo social, empurrando homens e mulheres, negros e indígenas,

para a pobreza que, na maioria das vezes, ultrapassa gerações. O resultado

disso é a criação de um ciclo em que a pobreza e marginalidade acabam por

11 Trecho extraído de seu parecer elaborado nos autos do processo de providência nº 000543/2013-50, do CNMP

Conselho Superior

reforçar os estigmas discriminatórios, fazendo com que mazelas sociais sejam

associadas à condição racial....”12

Importante frisar que não se trata aqui de inovação legislativa,

mas sim de possibilidade de edição de norma definidora de parâmetros das

ações adotadas pela Defensoria Pública do Estado para a correção das

desigualdades raciais e promoção da igualdade de oportunidades, com

substrato no Estatuto da Igualdade Racial e na Lei Orgânica da Defensoria

Pública do Estado de São Paulo.

Nota-se que nessas situações não há necessidade de lei

complementar específica para deliberar sobre o assunto, pois já há comando

legislativo positivo ao órgão colegiado, que detém o poder normativo no âmbito

institucional.

O legislador, ao estabelecer nos artigos 31 e 90 da Lei

Complementar 988/2006 que a Defensoria Pública, pelo Conselho Superior,

deliberará acerca do regulamento do concurso de ingresso na carreira de

Defensor Público, de forma expressa optou por autorizar a Instituição a

deliberar sobre a matéria internamente, sem necessidade de lei específica sobre

as questões atinentes ao concurso.

12 Parecer pag. 16.

Conselho Superior

Em sua obra Curso de Direto Constitucional, o Ministro Gilmar

Mendes afirma: “Assim, afigura-se razoável entender que o regulamento

autorizado intra legem é plenamente compatível com o ordenamento jurídico

brasileiro, podendo constituir relevante instrumento de realização de política

legislativa, tendo em vista considerações de ordem técnica, econômica,

administrativa, etc”13.

A atuação administrativa é ditada pelo ordenamento jurídico e a

dúvida que remanesce diz respeito ao grau de vinculação exigido entre a

atuação administrativa e a necessidade de lei complementar dispor sobre o

assunto.

Sobre o tema, observa Odete Medauar, escorada na lição de

Eisenmann, que quatro são os diferentes sentidos assumidos pelo princípio da

legalidade, variando em cada um deles o grau de vinculação entre ato

administrativo e lei. São eles:

“1) a Administração pode realizar todos os atos e medidas que não

sejam contrários à lei; 2) a Administração só pode editar atos ou

medidas que uma norma autoriza; 3) somente são permitidos atos

cujo conteúdo seja conforme a um esquema abstrato fixado por

13 MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco. – 8. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2013, p. 817.

Conselho Superior

norma legislativa; 4) a Administração só pode realizar atos ou

medidas que a lei ordena fazer(14)”.

A doutrinadora ao analisar cada uma das hipóteses afirma que:

“... o último significado – a Administração só pode realizar atos ou

medidas que a lei ordena fazer – se predominasse como significado

geral do princípio da legalidade paralisaria a Administração

porque seria necessário um comando legal específico para cada

ato ou medida editados pela Administração, o que é inviável. (...) O

terceiro significado – somente são permitidos atos cujo conteúdo

seja conforme a uma hipótese abstrata fixada explicitamente por

norma legislativa -, traduz uma concepção rígida do princípio da

legalidade e corresponde a idéia de Administração somente

executora da lei; hoje não mais se pode conceber que a

Administração tenha só esse encargo. Esse significado do princípio

da legalidade não predomina na maioria da atividade

administrativa, embora no exercício do poder vinculado possa

haver decisões similares a atos concretizadores de hipóteses

normativas abstratas. O segundo significado exprime a exigência

de que a Administração tenha habilitação legal para adotar atos e

14 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno, 9ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p.143.

Conselho Superior

medidas; desse modo, a Administração poderá justificar cada uma

de suas decisões por uma disposição legal; exige-se base legal no

exercício dos seus poderes. Esta é a fórmula mais consentânea à

maior parte das atividades da Administração brasileira,

prevalecendo de modo geral. No entanto, o significado contém

gradações: a habilitação legal, por vezes, é somente norma de

competência, isto é, norma que atribui poderes para adotar

determinadas medidas, ficando a autoridade com certa margem

de escolha no tocante à substância da medida; por vezes, a base

legal expressa um vínculo estrito do conteúdo do ato ao conteúdo

da norma ou às hipóteses ai arroladas. Em geral, nas medidas de

repercussão mais forte nos direitos dos cidadãos, há vinculação

mais estrita da medida administrativa ao conteúdo da norma”(15)

(grifei)

E com base neste entendimento, merece total destaque o

histórico julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, da ADPF nº 186, proposta

pelo Partido Democratas-DEM, onde se pleiteou a declaração de

inconstitucionalidade do programa de ação afirmativa étnico-racial da

15 o. cit., p. 142/144

Conselho Superior

Universidade de Brasília e a extensão da decisão a todos os programas dessa

natureza em nosso país.

E a resistência não partiu somente deste partido político.

Vale destacar o que o Ministro Gilmar Mendes chamou de a carta dos “cento e

treze intelectuais brasileiros” (entre eles Ana Maria Machado, Caetano Veloso,

Ferreira Gullar e Ruth Cardoso) onde afirmaram que “o racismo contamina

profundamente as sociedades quando a lei sinaliza às pessoas que elas

pertencem a determinado grupo racial – e que seus direitos são afetados por

esse critério de pertinência de raça.”

Julgada improcedente a ação, o Supremo Tribunal Federal,

reforçando a interpretação e amplitude do conceito de autonomia, entendeu

que:

“A matéria atrai, ainda, a análise sobre a noção de reserva da administração e a

de reserva de lei. Sabe-se que a reserva de lei, em sua acepção de “reserva de

Parlamento”, exige que certos temas, dada a sua relevância, sejam objeto de

deliberação democrática, num ambiente de publicidade e discussão próprio das

Conselho Superior

casas legislativas. Busca-se assegurar, com isso, a legitimidade democrática para

a regulação normativa de assuntos que sensibilizem a comunidade.”16

(...)

“Deve, ademais, no particular, levar em conta os postulados constitucionais que

norteiam o ensino público. Nos termos do art. 205 da Carta Magna, a educação

será “promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao

pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e

sua qualificação para o trabalho”. Já o art. 207 garante às universidades, entre

outras prerrogativas funcionais, a autonomia didático-científica e

administrativa, fazendo-as repousar, ainda, sobre o tripé ensino, pesquisa e

extensão.”17

Tenho certeza que neste Conselho Superior ninguém

acredita de fato que não temos autonomia constitucional o suficiente para

regulamentar políticas públicas de inclusão por meio de cotas étnico-raciais.

Outros são os argumentos, ainda que todos camuflados na alegada insegurança

jurídica.

A segurança jurídica tão desejada pelo operador do

direito jamais será absoluta, como já podemos ver nas diversas ações judicias

16 Trecho do Voto do Ministro Gilmar Mendes. 17 Trecho do Voto do Ministro Ricardo Lewandowski

Conselho Superior

questionando as cotas para ingresso no serviço público (ou sua falta) mesmo

quando estas têm si dado por lei formal.

Em uma destas ações, foi pleiteada a declaração da

existência da política de cotas em concursos públicos para o legislativo e

judiciário, já que a Lei 12.990/14 tratou exclusivamente desta política no âmbito

do por executivo federal.

Em decisão monocrática proferida em 07 de agosto

de 2014, a Ministra Carmen Lúcia não conheceu do Mandado de Segurança ao

afirmar que não cabe o remédio constitucional para discutir Lei em tese.18

No entanto, em seu voto, reforçando o conceito de

autonomia constitucional, declarou que “Tampouco a impetração poderia ser

admitida sob o argumento de violação a direito previsto no Estatuto da

Igualdade Racial (Lei n. 12.288/2010), pois, como realçado na manifestação do

Procurador-Geral da República, a lei não reserva vinte por cento das vagas em

concurso público aos negros, mas apenas a implementação de medidas

visando à promoção da igualdade nas contratações do setor público, com a

transferência do juízo de sua adequação aos órgãos competentes. (grifei)

18 http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4602647

Conselho Superior

Não podemos deixar de negar que a ausência de

respeito à nossa autonomia constitucional também pode ser considerada uma

insegurança jurídica, eis que aguardar a inflação normativa sobre o tema

especificadamente para a Defensoria Pública de São Paulo é postergar para o

incerto, quiçá infinito, a implementação do direito de acesso igualitário aos

quadros institucionais para os pretos e indígenas, já que a conjugação da grande

dificuldade de se editar Lei neste sentido no Estado de São Paulo-em especial

pós resultado eleitoral, com a premente necessidade de se colocar nos quadros

internos o pequeno número de cargos remanescentes daqueles 400 criados, nos

coloca em um ambiente de consolidação de desigualdade multicultural.

Quanto ao mérito da proposta, páginas e páginas

poderiam ser escritas aqui para justificar a constitucionalidade e eficácia social

da medida, como a importância das ações afirmativas; o sistema da

autodeclaração; a meritocracia, etc. No entanto, isto faz parte de um passado,

ainda que recente, valendo como indicação de leitura jurídica a decisão na

íntegra proferida nos autos da ADPF 186.19

Para a autodeclaração, diversos estudos ja foram

realizados para dizer que “A identificação deve ocorrer primariamente pelo

19 http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF186RL.pdf

Conselho Superior

próprio indivíduo, no intuito de evitar identificações externas voltadas à

discriminação negativa e de fortalecer o reconhecimento da diferença.”20

Com a meritocracia não é diferente. Para o Ministro

Ricardo Lewandowski21, “Não raro a discussão que aqui se trava é reduzida à

defesa de critérios objetivos de seleção - pretensamente isonômicos e

imparciais -, desprezando-se completamente as distorções que eles podem

acarretar quando aplicados sem os necessários temperamentos. De fato,

critérios ditos objetivos de seleção, empregados de forma linear em sociedades

tradicionalmente marcadas por desigualdades interpessoais profundas, como é

a nossa, acabam por consolidar ou, até mesmo, acirrar as distorções

existentes.”

As reflexões de Renato Santos de Souza, da

UFSM/RS, no artigo “desvendando a espuma: o enigma da classe média

brasileira, quando falou sobre o programa “Mais Médicos”, pode servir aqui

com as adaptações deste relator para a seara jurídica. 22

A alta densidade à meritocracia no direito passa por

uma ilusão sobre as dificuldades vivenciadas pelo estudante até se tornar um

profissional: passar em dos vestibulares mais concorridos do Brasil, fazer um

20 IKAWA, Daniela. Ações Afirmativas em Universidades, cit. pp. 129-130. 21 http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF186RL.pdf 22 http://jornalggn.com.br/fora-pauta/desvendando-a-espuma-o-enigma-da-classe-media-brasileira#.UnZK46SKCic.facebook

Conselho Superior

dos cursos mais longos, um dos mais difíceis, que tem mais aulas teóricas, e que

está entre os mais caros do país. Já foi tido ser quase que um “dom” se formar

Advogado no Brasil, e talvez por isto esta formação, mais do que qualquer

outra, seja uma celebração do mérito.

Após tudo isto, ainda tem que se sujeitar, em regra, a

um curso preparatório, altamente caro, muitas vezes por anos, e sem nenhum

suporte do poder público, diferentemente do suporte recebido na Universidade

Pública gratuita que cursou.

Supõe-se, desta forma, que não se pode aceitar que

qualquer um que não demonstre ter tido os mesmos méritos, desfrute das

mesmas prerrogativas que os profissionais formados aqui.

Para o citado escritor, “a meritocracia dilui toda a

subjetividade e complexidade humana na ilusória e reducionista objetividade

dos resultados e do desempenho. O verso “cada um de nós é um universo” do

Raul Seixas – pérola da concepção subjetiva e complexa do humano - é uma

verdadeira aberração para a meritocracia: para ela, cada um de nós é apenas

um ponto em uma escala de valor, e a posição e o valor que cada um ocupa

nesta escala depende de processos objetivos de avaliação. A posição e o valor

de uma obra literária se mede pelo número de exemplares vendidos, de um

aluno pela nota na prova, de uma escola pelo ranking no Ideb, de uma pessoa

pelo sucesso profissional, pelo contracheque, de um curso de pós-graduação

pela nota da CAPES, e assim por diante. Embora a natureza humana seja

subjetiva e complexa e suas interações sociais sejam intersubjetivas, na

Conselho Superior

meritocracia não há espaço para a subjetividade nem para a complexidade e,

sendo assim, lamentavelmente, há muito pouco espaço para o próprio ser

humano. Desta forma, a meritocracia destrói o espaço do humano na

sociedade.”23

O Brasil já optou por caminhar para a implementação

de políticas públicas de superação das desigualdades históricas por meio de

ações afirmativas, entre elas cotas em concurso público, sendo que somente o

tempo irá nos mostrar os efeitos sociais destas medidas. O que não dá é, neste

momento, andar para trás

Caberá à história dizer se acertamos ou erramos

nesta politica pública de cotas.

E o que está reservado para a Defensoria Pública

dentro desta história, com a autonomia que a constituição nos deu, é regular o

mais rápido possível nossa política de inclusão na carreira, por meio das cotas

no concurso, de um grupo social que hoje ainda se encontra à margem dos

direitos básicos, entre eles o emprego público.

São estes argumentos que me faz quer que a melhor

solução para o presente caso, ponderado todos os valores e situações postas no

presente conflito de ideias, bem como para a eficiência na ação afirmativa, é

23 http://jornalggn.com.br/fora-pauta/desvendando-a-espuma-o-enigma-da-classe-media-brasileira#.UnZK46SKCic.facebook

Conselho Superior

que a implementação das cotas étnico-raciais seja por meio da reserva de vagas

para negros e indígenas ingressarem nos quadros da Defensoria Pública, nos

exatos termos da minuta de Deliberação apresentada pelos proponentes.

Alguns acréscimos este relator pede licença para fazer na

minuta de Deliberação.

Primeiro, levando-se em conta a complexidade dos critérios

para a fixação do percentual de reserva de vagas para negros e indígenas no

país e, em especial no Estado de São Paulo, acredito que o percentual a ser

fixado no concurso da Defensoria Pública deva ser diferente daquele

apresentado na proposta.

Por óbvio que é recomendável que cada Estado tenha o seu

próprio percentual de cotas étnico-raciais, no entanto, o pedido difere inclusive

dos termos da proposta encaminhada pelo Governador à Assembleia, o que

demonstra que ainda não temos a devida precisão sobre o percentual adequado

para a garantia da eficiência na presente ação afirmativa.

Assim, ante a ausência de precisão, opino para adotarmos o

percentual de 20% das vagas para negros e índios, conforme fixado na Lei

Federal nº 12.990/14, que instituiu reserva de vagas nos concursos públicos

Conselho Superior

para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da

administração pública federal.

Em segundo lugar, em que pese o pedido ter sido feito tão

somente para a reserva de vagas para o ingresso nos cargos de Defensores

Públicos, opino que a regulamentação das cotas étnico-raciais seja para o

ingresso nos quadros da Instituição como um todo e não somente de

Defensores Públicos, garantindo ainda mais o princípio da igualdade.

Outro ponto que merece adequação é a formação da

Comissão Permanente de Acompanhamento de Ações Afirmativas. Seu papel

primordial é o de, como o próprio nome diz, acompanhar e avaliar dos

resultados da reserva de vagas destinada a negros e indígenas.

O pedido aponta como integrante, além de defensores e

servidores, membros da sociedade civil.

Embora sempre necessária a participação popular na

formulação das políticas públicas, até como forma de garantir a devida

oxigenação das ações institucionais, entendo que a Comissão deva ser

composta unicamente por integrantes da carreira, já que sua primordial

atribuição será a de produzir relatórios periódicos voltados ao aperfeiçoamento

do programa de cotas.

Conselho Superior

Digo como primordial a atribuição acima, já que opino por

retirar da Comissão a atribuição de aplicar penalidades administrativas quando

da aferição da veracidade ou não sobre a declaração e o reconhecimento das

condições ético-raciais, já que inserida dentro das atribuições da Banca

Examinadora, por meio de seu Presidente.

E isto não significa que a sociedade civil não terá a

oportunidade de acompanhar e contribuir para a eficiência dos resultados da

reserva de vagas destinada a negros e indígenas, muito pelo contrário.

Para fins de prorrogação da reserva de vagas para negros e

indígenas serão levados em conta os resultados dos relatórios de avaliação

produzidos pela Comissão Permanente de Ações Afirmativas, os estudos

acadêmicos sobre o tema, os dados e informações dos institutos de pesquisa

oficiais referentes à evolução da situação socioeconômica de negros e

indígenas, e, em especial, a participação nas audiências públicas que o Conselho

Superior terá que fazer previamente à deliberação sobre a prorrogação do

sistema de cotas

Por fim, para efeito de maior segurança jurídica, inclusive

para aqueles que de fato realmente devem se utilizar do sistema de cotas,

Conselho Superior

acrescento a autodeclaração poderá ser validada por entrevista do candidato

com a Comissão Permanente de Acompanhamento de Ações Afirmativas,

inclusive se utilizando de fenótipo e ascendência familiar para fundamentar seu

relatório que, ao final, deverá ser encaminhado para decisão do Presidente da

Banca Examinadora.

Neste sentido, e com estes fundamentos, voto pelo

deferimento do pedido, nos moldes da minuta de deliberação apresentada.

São Paulo, 22 de outubro de 2014.

BRUNO RICARDO MIRAGAIA SOUZA

Conselheiro –relator

Conselho Superior

Deliberação CSDP nº 10, de 30 de junho de 2006

Estabelece regras para a realização do concurso de ingresso na Carreira de Defensor

Público

O CONSELHO SUPERIOR DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO, no

uso de suas atribuições legais, com fundamento no artigo 31, inciso XVII da Lei

Complementar do Estado nº 988, de 9 de janeiro de 2006,

DELIBERA:

I - DA ORGANIZAÇÃO DO CONCURSO DE INGRESSO

Artigo 1º - O Concurso de Ingresso na Carreira de Defensor Público, destinado

ao provimento, em estágio probatório, de cargos de Defensor Público do Estado

Substituto, será realizado na forma estabelecida nesta Deliberação.

Artigo 2º - Compete ao Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado

organizar, com a participação da Escola da Defensoria Pública do Estado, e

dirigir o concurso, cabendo-lhe privativamente:

I - fixar o número de cargos vagos que serão colocados em disputa; II - indicar

as matérias sobre as quais versarão as provas;

III - constituir a Banca Examinadora; (redação dada pela Deliberação CSDP nº 142,

de 19 de novembro de 2009)

IV - elaborar o edital de abertura das inscrições;

V - convocar os candidatos para as provas escritas e para a prova oral, após o

julgamento dos recursos pela Banca Examinadora; (redação dada pela Deliberação

CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

VI – (revogado pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

VII - elaborar a lista de classificação dos candidatos aprovados.

Artigo 3º - O Conselho fará publicar, no Diário Oficial do Estado, o edital de

abertura das inscrições, as matérias sobre as quais versarão as provas,

Conselho Superior

respectivos programas, critérios de avaliação dos títulos, número de vagas a

serem preenchidas e demais disposições sobre o concurso.

§ 1º - O número de vagas a serem preenchidas será indicado pelo Conselho

Superior da Defensoria Pública.

§ 2º - Às pessoas com deficiência serão reservadas 5% das vagas, nos termos da

Lei Complementar Estadual nº 68328, de 18 de setembro de 1992, com as

alterações da Lei Complementar Estadual nº 932, de 8 de novembro de 2002, e

do artigo 90, § 2º, da Lei Complementar Estadual 988, de 09 de janeiro de 2006.

§ 3º - Caso não haja candidatos aprovados nas condições previstas no parágrafo

anterior, as vagas serão livremente providas, obedecida a ordem de

classificação no concurso.

§ 4º - O candidato que comprove ter doado sangue a órgão oficial ou entidade

credenciada pela União, Estados ou Municípios, em pelo menos 3 (três)

ocasiões, em período não superior aos 12 (doze) meses que antecedem a data de

publicação do edital do concurso, fica isento do pagamento da respectiva taxa

de inscrição. (Parágrafo acrescido pela Deliberação CSDP nº 175, de 14 de maio de

2010).

Artigo 4º - Pelo período de 10 (dez) anos serão reservadas aos candidatos

autodeclarados negros e indígenas 20% (vinte por cento) das vagas nos

concursos para ingresso na carreira de Defensor Público, com fundamento no

art. 4º, inciso II, do Estatuto da Igualdade Racial (Lei n.º 12.288/2010), no artigo

134 da Constituição Federal, bem como nos artigos 3º, 5º e 7º da Lei

Complementar Estadual nº 988/2006.

§ 1º - A autodeclaração é facultativa e deve ser feita no momento da inscrição,

ficando o candidato submetido às regras gerais estabelecidas no edital do

concurso, caso não opte pela reserva de vagas.

Conselho Superior

§ 2º - Para fins da reserva de vaga indicada no caput deste artigo, considera-se

negro, o candidato preto ou pardo, nos termos da classificação utilizada pelo

IBGE.

§3º - O Presidente da Banca Examinadora poderá solicitar entrevista do

candidato autodeclarado negro ou índio para efeito de validação da inscrição,

§4º A entrevista de que trata o §3º será realizada com a Comissão criada na

forma prevista nesta Deliberação, podendo para efeito de validação da

autodeclaração se utilizar do critério fenótico e ascendência familiar.

§ 3º - O candidato negro ou indígena que também seja pessoa com deficiência

poderá concorrer concomitantemente às vagas reservadas nos termos deste

artigo e do § 2º, do artigo 3º, e caso seja aprovado em mais de um grupo, será

chamado para se matricular na vaga a que corresponde a maior nota exigida.

Artigo 5º - Detectada a falsidade da declaração a que se refere o §1°, do artigo 4º

será o candidato eliminado do concurso, por ato do Presidente da Banca

Examinadora, após procedimento administrativo em que lhe seja assegurado o

contraditório e a ampla defesa, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.

§1º Se o candidato já tiver sido nomeado, ficará sujeito à anulação da sua

admissão à carreira, por ato do Defensor Público-Geral, após procedimento

administrativo em que lhe seja assegurado o contraditório e a ampla defesa,

sem prejuízo de outras sanções cabíveis.

§2º Das decisões objeto do reconhecimento ou não da condição de negro ou

indígena de que trata o presente artigo, caberá recurso ao Conselho Superior da

Defensoria Pública, no prazo de 5 dias.

Artigo 6º - Na apuração dos resultados dos concursos serão formuladas listas

específicas para identificação da ordem de classificação dos candidatos cotistas

entre si, com o objetivo de preenchimento das vagas reservadas.

Conselho Superior

§ 1º - Se, na apuração do número de vagas reservadas a negros e indígenas,

resultar número decimal igual ou maior do que 0,5 (meio), adotar-se-á o

número inteiro imediatamente superior; se menor do que 0,5 (meio), adotar-se-á

o número inteiro imediatamente inferior.

§ 2º - Os candidatos que não sejam destinatários da reserva de vagas a negros e

indígenas concorrerão às demais vagas oferecidas no concurso, excluídas

aquelas objeto da reserva.

§ 3º - Os candidatos às vagas reservadas a negros e indígenas sempre

concorrerão à totalidade das vagas existentes, observadas as seguintes regras:

a) Em primeiro lugar serão preenchidas as vagas não reservadas, de acordo com

a ordem de classificação geral de todos os candidatos aprovados no concurso.

b) Posteriormente, serão preenchidas as vagas reservadas aos candidatos

optantes pelo sistema de cotas que já não tenham preenchido as vagas não

reservadas segundo a ordem de classificação geral referida na alínea “a”

anterior.

c) O preenchimento das vagas reservadas a que se refere a alínea “b” dar-se-á

de acordo com ordem de classificação em lista específica (artigo 6º) formadas

pelos candidatos autodeclarados negros e indígenas.

e) Em caso de desistência de candidato aprovado pelo sistema de cotas, a vaga

será preenchida por outro candidato autodeclarado negro ou indígena,

respeitada a ordem de classificação da lista específica.

d) Não havendo candidatos autodeclarados negros ou indígenas inscritos ou

classificados, as vagas reservadas serão revertidas para o cômputo geral de

vagas oferecidas no concurso, podendo ser preenchidas pelos demais

candidatos aprovados, obedecida a ordem de classificação.

e) O resultado final do concurso será divulgado por meio de uma lista única,

contendo o nome dos candidatos aprovados por ordem alfabética.

Conselho Superior

Artigo 7º - O sistema de cotas a que se refere o Art. 4º constará expressamente

dos editais de concurso para ingresso na carreira, devendo a entidade

realizadora do certame fornecer toda orientação necessária aos candidatos

interessados nas vagas reservadas.

Artigo 8º - Fica instituída a Comissão Permanente de Acompanhamento de

Ações Afirmativas, que tem como atribuição o acompanhamento e a avaliação

dos resultados da reserva de vagas destinada a negros e indígenas, constituída

pelo Primeira, Segunda e Terceira Subdefensoria Pública-Geral, 1 (um) Oficial

de Defensoria, 1 (um) Agente de Defensoria, ambos designados pela Defensoria

Pública-Geral, e pela Ouvidoria da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.

Artigo 9º - São atribuições da Comissão Permanente de Acompanhamento de

Ações Afirmativas:

I - propor políticas e programas de ampla divulgação e incentivo à participação

de candidatos negros e indígenas nos concursos públicos;

II - produzir relatórios periódicos voltados ao aperfeiçoamento do programa de

cotas.

Artigo 10º - A reserva de vagas para negros e indígenas prevista neste artigo

deverá ser prorrogada sucessivamente pelo mesmo prazo caso, ao final de 10

anos, seja objetivamente constatado que as desigualdades étnico-raciais que

ensejaram a sua implantação ainda persistem.

§ 1º - Para fins de prorrogação da reserva de vagas para negros e indígenas

serão levados em conta os resultados dos relatórios de avaliação produzidos

pela Comissão Permanente de Ações Afirmativas, os estudos acadêmicos sobre

o tema, as manifestações em audiência pública, bem como os dados e

informações dos institutos de pesquisa oficiais referentes à evolução da situação

socioeconômica de negros e indígenas.

Conselho Superior

§ 2º - Dois anos antes do término do período de vigência da reserva de vagas

caberá à Comissão Permanente de Ações Afirmativas a confecção de um

relatório de avaliação dos resultados da política de cotas, a ser apresentado ao

Conselho Superior.

§ 3º - O Conselho Superior realizará audiências públicas prévias à deliberação sobre a

prorrogação do sistema de cotas.

II - DA BANCA EXAMINADORA (redação dada pela Deliberação CSDP nº 142, de

19 de novembro de 2009)

Artigo 11 - A Banca Examinadora é órgão auxiliar, de natureza transitória,

constituída de integrantes da Carreira de Defensor Público do Estado e de um

representante da Ordem dos Advogados do Brasil, sob a Presidência de um dos

membros da Carreira, indicado pelo Conselho Superior. (redação dada pela

Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009).

§ 1º - (revogado pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

§ 2º - Na hipótese de superveniente incapacidade ou impedimento ou qualquer outro

fato gerador de afastamento de quaisquer integrantes da Banca, o Conselho Superior

da Defensoria Pública do Estado providenciará, se necessária, a substituição, qualquer

que seja a fase do concurso, sem prejuízo dos atos já praticados. (redação dada pela

Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Artigo 12 - A Banca Examinadora é órgão incumbido de processar o certame,

cabendo-lhe formular as questões, realizar as provas escritas e oral, julgar os

recursos interpostos, arguir os candidatos, aferir os títulos e emitir os

julgamentos mediante atribuição de notas. (redação dada pela Deliberação CSDP nº

142, de 19 de novembro de 2009)

III - DAS INSCRIÇÕES DOS CANDIDATOS

Artigo 13 - São requisitos para inscrição no concurso:

Conselho Superior

I - ser brasileiro, ou português com residência permanente no País; (redação dada

pela Deliberação CSDP nº 71, de 18 de abril de 2008)

II - ser bacharel em direito;

III - estar em dia com as obrigações militares;

IV - estar no gozo dos direitos políticos;

V - contar, na data da posse, 2 (dois) anos, no mínimo, de prática profissional na

área jurídica, devidamente comprovada; (redação dada pela Deliberação CSDP nº

142, de 19 de novembro de 2009)

VI - não possuir condenações criminais ou antecedentes criminais

incompatíveis com o exercício das funções;

VII - não possuir condenação em órgão de classe, em relação ao exercício

profissional, incompatível com o exercício das funções de Defensor Público;

VIII - não possuir condenação administrativa, ou condenação em ação judicial

de improbidade administrativa, incompatível com o exercício das funções de

Defensor Público;

IX - haver recolhido ao Fundo de Despesas da Escola da Defensoria Pública do

Estado a taxa de inscrição fixada no edital de abertura.

Parágrafo único - Caracterizará prática profissional, para fins do disposto no

inciso V deste artigo, o exercício:

I - da advocacia, por advogados e estagiários de direito, nos termos do artigo 1º c.c.

artigo 3º, ambos da Lei Federal nº. 8.906/94 e dos artigos 28 e 29 do Regulamento

Geral do Estatuto da Advocacia;

II - de estágio credenciado na área da Assistência Judiaria da Procuradoria

Geral do Estado ou da Defensoria Pública da União ou dos Estados, nos termos

do artigo 145, § 3º, da Lei Complementar Federal nº 80/94;

III - da Defensoria Pública, do Ministério Público ou da Magistratura, na

qualidade de membro;

Conselho Superior

IV - de estagiário de direito, desde que devidamente credenciado junto ao

Poder Judiciário e ao Ministério Público;

V - de estagiário de direito devidamente credenciado na área pública, não

inserido na situação prevista no inciso I deste artigo em razão de eventual

permissivo legal específico; (redação dada pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de

novembro de 2009)

VI - de cargos, empregos ou funções exclusivas de bacharel em direito; e

VII - de cargos, empregos ou funções, inclusive de magistério superior público

ou privado, que exijam a utilização de conhecimento jurídico. (acrescido pela

Deliberação CSDP nº 32, de 2 de fevereiro de 2007);

VIII – o exercício de Cargo do Subquadro dos Cargos de Apoio da Defensoria

Pública. (Inciso acrescentado pela Deliberação CSDP nº 161, de 26 de março de 2010).

Artigo 14 - O pedido de inscrição será apresentado nos locais indicados no

edital de abertura, mediante requerimento dirigido ao Presidente da Banca

Examinadora, acompanhado de prova de recolhimento da taxa de inscrição

referida no artigo 6º, inciso IX, desta Deliberação. (redação dada pela Deliberação

CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Artigo 15 - A comprovação do preenchimento dos demais requisitos indicados

no artigo 6º desta Deliberação deverá ser realizada antes da prova oral, pelos

candidatos a ela habilitados.

Parágrafo único - Caso o candidato não faça a referida comprovação, a

inscrição será declarada insubsistente, com a nulidade dos atos praticados.

IV - DAS PROVAS

Artigo 16 - O concurso realizar-se-á na cidade de São Paulo e compreenderá três

provas escritas, uma prova oral, bem como a avaliação dos títulos. (redação dada pela

Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Conselho Superior

§ 1º - Na primeira prova escrita não será permitida consulta à legislação

doutrina e jurisprudência.

§ 2º - Na segunda e terceiras provas escritas somente será permitida consulta a

texto legal, sem anotações ou comentários. (redação dada pela Deliberação CSDP nº

142, de 19 de novembro de 2009)

§ 3º - Na prova oral será permitida a consulta à legislação oferecida pela

Comissão de Concurso.

Artigo 17 - A primeira prova escrita compreenderá 88 (oitenta e oito) questões

objetivas sobre as seguintes matérias: (redação dada pela Deliberação CSDP nº 142,

de 19 de novembro de 2009)

a) Direito Constitucional;

b) Direito Administrativo e Direito Tributário;

c) Direito Penal;

d) Direito Processual Penal;

e) Direito Civil e Direito Comercial;

f) Direito Processual Civil;

g) Direitos Difusos e Coletivos;

h) Direito da Criança e do Adolescente;

i) Direitos Humanos;

j) Princípios e Atribuições Institucionais da Defensoria Pública do Estado;

k) Filosofia do Direito e Sociologia Jurídica. (redação dada pela Deliberação CSDP

nº 142, de 19 de novembro de 2009)

§1º - No tocante à matéria prevista na alínea k, serão indicados, no edital de abertura

das inscrições para o Concurso de Ingresso na Carreira de Defensor Público, 05 (cinco)

obras de autores nacionais ou estrangeiros, de notória relevância para a disciplina,

bem como o conteúdo programático extraído a partir dessas obras que será exigido

Conselho Superior

nas questões. (redação dada pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de

2009)

§2º - O gabarito oficial será publicado no Diário Oficial do Estado até 5 (cinco)

dias após a realização da prova referida no "caput". (redação dada pela Deliberação

CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Artigo 18 - A segunda prova escrita compreenderá: (redação dada pela Deliberação

CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

I – 2 (duas) questões dissertativas sobre as matérias:

a) Direito Constitucional;

b) Direito Penal;

c) Direitos Difusos e Coletivos;

d) Direito da Criança e do Adolescente.

II – 1 (uma) peça judicial, conforme o programa de Direito Processual Civil,

com base em problemas envolvendo, no que diz respeito ao aspecto material, a

quaisquer temas relativos às matérias previstas nos artigos 11 e 12 desta

Deliberação, dispensando a aplicação de questão dissertativa sobre a matéria

processual.

Parágrafo único - Na avaliação das provas levar-se-á em conta o domínio do

vernáculo pelo candidato.

Artigo 19 - A terceira prova escrita compreenderá: (redação dada pela Deliberação

CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

I – 2 (duas) questões dissertativas sobre as matérias

a) Direitos Humanos;

b) Direito Civil;

c) Princípios e Atribuições Institucionais da Defensoria Pública do Estado;

d) Filosofia do Direito e Sociologia Jurídica.

Conselho Superior

II – 1 (uma) peça judicial, conforme o programa de Direito Processual Penal,

com base em problemas envolvendo, no que diz respeito ao aspecto material, a

quaisquer temas relativos às matérias previstas nos artigos 11 e 12 desta

Deliberação, dispensando a aplicação de questão dissertativa sobre a matéria

processual.

§1º - Na avaliação das provas levar-se-á em conta o domínio do vernáculo pelo

candidato.

§2º - No tocante à matéria prevista na alínea d, serão indicados, no edital de abertura

das inscrições para o Concurso de Ingresso na Carreira de Defensor Público, 05 (cinco)

obras de autores nacionais ou estrangeiros, de notória relevância para a disciplina,

bem como o conteúdo programático extraído a partir dessas obras que será exigido

nas questões.

§3º - No tocante à matéria prevista na alínea a, dentro outros temas deverão ser

abordadas as políticas de promoção da igualdade e os direitos das minorias, e para isso

serão indicados, no edital de abertura das inscrições para o Concurso de Ingresso na

Carreira de Defensor Público, 05 (cinco) obras de autores nacionais ou estrangeiros, de

notória relevância para a disciplina, bem como o conteúdo programático extraído a

partir dessas obras que será exigido nas questões.

Artigo 20 - A prova oral consistirá na argüição dos candidatos a ela admitidos,

pelos membros da Comissão de Concurso, sobre quaisquer temas do programa

das matérias previstas nos artigos 18 e 19 desta Deliberação. (redação dada pela

Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Artigo 21- As provas escritas e oral serão eliminatórias, nos seguintes termos:

(redação dada pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Conselho Superior

I - Consideram-se habilitados para a realização da segunda prova escrita os

candidatos que acertarem ao menos 2 (duas) questões em cada matéria e ao

menos 44 (quarenta e quatro) questões em toda a primeira prova escrita.

II – Consideram-se habilitados para a realização da terceira prova escrita os

candidatos que obtiverem nota mínima igual a 3 (três) em cada matéria na

segunda prova escrita. (Nova redação dada pela Deliberação CSDP nº 169, de 16 de

abril de 2010).

III – Consideram-se habilitados para a realização da prova oral os candidatos

que obtiverem nota mínima igual a 3 (três) em cada matéria, na terceira prova

escrita, e média igual ou superior a 5 (cinco) nas segunda e terceira provas

escritas. (Nova redação dada pela Deliberação CSDP nº 169, de 16 de abril de 2010).

IV – Consideram-se aprovados no concurso os candidatos que obtiverem nota

mínima igual a 3 (três) em cada matéria e média igual ou superior a 5 (cinco) na

prova oral.

§ 1º - Somente serão admitidos à segunda prova escrita os candidatos que

obtiverem as maiores notas até totalizar 4 (quatro) vezes o número de cargos

inicialmente postos em concurso, desconsiderando-se os que se abrirem durante

o concurso.

§ 2º - Os candidatos empatados na última nota de classificação serão todos

admitidos à prova seguinte, ainda que ultrapassado o limite previsto neste

artigo. (redação dada pela Deliberação CSDP nº 71, de 18 de abril de 2008)

§3º - Quando o concurso previr, em seu respectivo edital, um número inferior a

100 (cem) cargos vagos para serem preenchidos ou se tratar de formação de

cadastro de reserva, somente serão admitidos à segunda prova escrita, os

candidatos classificados até a 400ª (quadringentésima) colocação, considerando-

se todos os candidatos empatados nessa posição. (Redação alterada pela

Deliberação CSDP nº 274, de 14 de junho de 2013)

Conselho Superior

Artigo 22 - As notas do concurso serão atribuídas na forma seguinte: (artigo

renumerado pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

I - Nas provas escritas e oral, a cada matéria corresponderá uma nota, na escala

de zero a dez, das quais será extraída a média aritmética, que constituirá o

resultado final do candidato em cada prova, observado o disposto no artigo 14

desta Deliberação.

II - A pontuação atribuída aos títulos não poderá, na sua avaliação total,

ultrapassar 1 (um) ponto.

Parágrafo único - Somente serão analisados os títulos dos candidatos que

obtiverem nota mínima igual a 3 (três) em cada matéria e média igual ou

superior a 5 (cinco) nas provas escritas e oral. (nova redação dada pela Deliberação

CSDP nº 71, de 18 de abril de 2008)

Artigo 23 - O Conselho Superior aprovará e fará publicar no Diário Oficial do

Estado a lista dos candidatos aprovados na primeira prova escrita, indicando

data, hora e local em que será realizada a segunda prova escrita. (artigo

renumerado pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Artigo 24 - O Conselho Superior aprovará e fará publicar no Diário Oficial do

Estado a lista dos candidatos aprovados na segunda prova escrita, indicando

data, hora e local em que será realizada a terceira prova escrita. (artigo inserido

pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Parágrafo único – O Conselho Superior poderá efetuar convocação conjunta

dos candidatos para a segunda e a terceira provas escritas mediante aprovação

e publicação no Diário Oficial do Estado da lista dos aprovados na primeira

prova, desde que designe as provas escritas em datas diversas. (Parágrafo único

inserido pela Deliberação CSDP nº 147, de 08 de janeiro de 2010.)

Artigo 25 - O Conselho Superior aprovará e fará publicar no Diário Oficial do

Estado a lista dos candidatos aprovados na terceira prova escrita, indicando

Conselho Superior

data, hora e local em que será realizada a prova oral, fazendo constar da

publicação o prazo legal para a apresentação de títulos e dos documentos

comprobatórios dos requisitos de inscrição dos candidatos, estabelecidos no

artigo 6º, incisos I a VIII, desta Deliberação. (redação dada pela Deliberação CSDP

nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Parágrafo único - Não será admitida a apresentação dos títulos e dos

documentos comprobatórios dos requisitos de inscrição dos candidatos,

estabelecidos no artigo 6º, incisos I a VIII, desta Deliberação, via fac-simile,

correio, ou internet, e sem requerimento assinado pelo candidato. (nova redação

dada pela Deliberação CSDP nº 71, de 18 de abril de 2008)

Artigo 26 - Somente será admitido à prova oral o candidato que, tendo sido

aprovado na terceira prova escrita, comprovar que preenche os requisitos

indicados no artigo 6º desta Deliberação, ou, no caso do inciso V, que o

preencherá até a data da posse. (redação dada pela Deliberação CSDP nº 142, de 19

de novembro de 2009)

V - DOS RECURSOS

Artigo 27 - Do resultado das provas escritas caberá um recurso, separadamente,

por questão, no prazo de 2 (dois) dias, contados a partir da respectiva

publicação no Diário Oficial do Estado. (artigo renumerado pela Deliberação CSDP

nº 142, de 19 de novembro de 2009)

§ 1º - O recurso, dirigido à Presidência da Banca Examinadora, deverá ser

protocolizado, separadamente, contendo a qualificação do candidato, o

correspondente número de inscrição, a modalidade de prova ministrada, a

numeração da questão impugnada e os fundamentos de sua pretensão, nos

termos do edital. (redação dada pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de

2009)

Conselho Superior

§ 2º - Não serão admitidos recursos via fac-simile, correio, ou internet, por

fotocópia e sem a assinatura do candidato.

§ 3º - Admitido, o recurso será desidentificado e, após as manifestações do

examinador da disciplina e do Presidente da Banca Examinadora pela reforma

ou manutenção do ato recorrido, será submetido à deliberação da Banca

Examinadora. (redação dada pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de

2009)

VI - DA AVALIAÇÃO DOS TÍTULOS

Artigo 28 - Somente serão computáveis os seguintes títulos: (artigo renumerado

pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009).

I - título de doutor conferido por faculdade oficial ou reconhecida - 0,5 ponto;

(nova redação dada pela Deliberação CSDP nº 71, de 18 de abril de 2008)

II - título de mestre conferido por faculdade oficial ou reconhecida - 0,3 ponto;

(nova redação dada pela Deliberação CSDP nº 71, de 18 de abril de 2008)

III - (revogado pela Deliberação CSDP nº 71, de 18 de abril de 2008)

IV - diploma ou certificado de conclusão de curso de especialização, conferido

por faculdade ou entidade oficial ou reconhecida, nacional ou estrangeira,

conforme regulamentação do Ministério da Educação - MEC - 0,2 ponto;

(redação dada pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

V - obra jurídica editada - 0,2 ponto;

VI - publicação de obras ou artigos em revistas, boletins, periódicos e sítios da

internet com notório reconhecimento acadêmico-profissional, de obras intelectuais de

conteúdo jurídico ou com afinidade com os princípios e as atribuições

institucionais da Defensoria Pública do Estado - 0,05 ponto, até o máximo de 0,2

ponto; (redação dada pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Conselho Superior

VII - exercício de estágio, como estudante de Direito, aprovado em concurso, na

área de Assistência Judiciária da Procuradoria Geral do Estado ou na

Defensoria Pública do Estado - 0,025 ponto por trimestre de exercício;

VIII - exercício de estágio, como estudante de Direito, aprovado em concurso,

na Defensoria Pública de outros Estados, do Distrito Federal e na Defensoria

Pública da União - 0,015 ponto por trimestre de exercício;

IX - exercício da advocacia em entidades, órgãos públicos ou organizações da

sociedade civil em favor dos necessitados - 0,05 ponto ao ano, até o máximo de

0,2 ponto; (redação dada pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

X - exercício da advocacia por meio de convênios de assistência judiciária

firmados pela Procuradoria Geral do Estado ou pela Defensoria Pública do

Estado - 0,02 ponto ao ano, até o máximo de 0,1 ponto.

Artigo 29 - Os títulos referidos no artigo 22, incisos VII, VIII, IX e X, desta

Deliberação serão comprovados nos termos seguintes: (Nova redação dada pela

Deliberação CSDP nº 169, de 16 de abril de 2010).

I - exercício de estágio na área de Assistência Judiciária da Procuradoria Geral

do Estado ou nas Defensorias Públicas: mediante certidão expedida pela

instituição competente;

II - exercício da advocacia em entidades, órgãos públicos ou organizações da

sociedade civil em favor dos necessitados, ou por meio de convênios de

assistência judiciária firmados pela Procuradoria Geral do Estado ou pela

Defensoria Pública do Estado, mediante:

a) cópia de contrato de trabalho ou de prestação de serviços;

b) cópia de peças processuais;

c) certidões emitidas pelo Poder Judiciário ou pelo órgão público competente.

VII - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Conselho Superior

Artigo 30 - Será considerado aprovado o candidato que obtiver grau igual ou

superior a 5 (cinco), calculado mediante a média aritmética do resultado das

provas escritas e da prova oral, sendo exigido na primeira prova escrita ao

menos o acerto de 2 (duas) questões em cada matéria e 44 (quarenta e quatro)

questões em toda a prova e, nas demais provas escritas e oral, nota mínima

igual a 3 (três) em cada matéria e média igual ou superior a 5 (cinco). (redação

dada pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Parágrafo único - Ao grau a que se refere o "caput" do presente artigo será

acrescida a pontuação dos títulos, obtendo-se, assim, o grau final do candidato

aprovado.

Artigo 31 - A lista de classificação dos candidatos aprovados, elaborada pelo

Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado, será encaminhada ao

Defensor Público-Geral do Estado, para homologação e publicação no Diário

Oficial do Estado. (artigo renumerado pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de

novembro de 2009)

Conselho Superior

§ 1º - Homologado o concurso, o candidato aprovado receberá do Conselho

Superior da Defensoria Pública do Estado certificado da sua classificação e do

grau final obtido, mediante requerimento do interessado.

§ 2º - Ocorrendo empate no grau final, resolver-se-á a classificação, segundo

critérios sucessivos, em favor daquele que:

a) tenha obtido a maior média na segunda prova escrita;

a) tenha obtido a maior média geral na segunda e terceira provas escritas; (Nova

redação dada pela Deliberação CSDP nº 169, de 16 de abril de 2010).

b) tenha obtido maior nota em Direito Constitucional na segunda prova escrita.

Artigo 32 - Não serão publicadas as notas dos candidatos reprovados, cabendo

à instituição que realizar o concurso disponibilizar, individualmente e em

tempo oportuno, o acesso a tais notas. (artigo renumerado pela Deliberação CSDP

nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Parágrafo único – (suprimido pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de

2009)

Artigo 33 - A nomeação obedecerá à ordem de classificação no concurso. (artigo

renumerado pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

§ 1º - A capacidade postulatória do Defensor Público decorre exclusivamente de

sua nomeação e posse no cargo público. (Parágrafo inserido pela Deliberação CSDP

nº 196/10)

§ 2º - A inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil é requisito apenas para a

posse no cargo. (Parágrafo inserido pela Deliberação CSDP nº 196/10)

Artigo 34 - No prazo de até 10 (dez) dias, a contar da posse, o Conselho

Superior da Defensoria Pública do Estado convocará os nomeados para escolha

de vagas, na forma do parágrafo único do artigo 106 da Lei Complementar

Estadual nº 988, de 9 de janeiro de 2006. (artigo renumerado pela Deliberação CSDP

nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Conselho Superior

Artigo 35 - Os cargos serão exercidos no regime de jornada integral de trabalho,

previsto no artigo 85 da Lei Complementar Estadual nº 988, de 9 de janeiro de

2006. (artigo renumerado pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Artigo 36 - A devolução dos documentos apresentados pelos candidatos não

aprovados deverá ser requerida no prazo de 30 (trinta) dias a contar da data da

publicação da homologação do concurso, findo o qual serão inutilizados. (artigo

renumerado pela Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Artigo 37 - Os prazos previstos nesta Deliberação contam-se em dias corridos,

excluindo-se o dia de início e incluindo-se o dia final. (artigo renumerado pela

Deliberação CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Artigo 38 - A legislação que rege o concurso será a vigente e aplicável à espécie

à data da publicação do edital, inclusive a Lei Complementar Estadual nº 683,

de 18 de setembro de 1992, com as alterações previstas na Lei Complementar

Estadual nº 932, de 8 de novembro de 2002. (artigo renumerado pela Deliberação

CSDP nº 142, de 19 de novembro de 2009)

Artigo 39 - Aplica-se aos concursos públicos para o ingresso de estagiários e

servidores do quadro de cargos de apoio da Defensoria Pública do Estado,

pelo período de 10 (dez) anos, o percentual para reserva de vagas aos

candidatos autodeclarados negros e indígenas para o ingresso na carreira de

Defensor Público, nos termos da presente Deliberação.

Artigo 40 - Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Superior da

Defensoria Pública do Estado. (artigo renumerado pela Deliberação CSDP nº 142, de

19 de novembro de 2009)

Artigo 41 - Esta Deliberação entrará em vigor na data de sua publicação.