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Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDT Universidade Federal do Amazonas - UFAM RELATÓRIO ANALÍTICO TERRITÓRIO RURAL BAIXO AMAZONAS - AMAZONAS

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Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDT

Universidade Federal do Amazonas - UFAM

RELATÓRIO ANALÍTICO

TERRITÓRIO RURAL BAIXO AMAZONAS - AMAZONAS

Page 2: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Manaus, setembro de 2011

EQUIPE:

Coordenação

Antônio Carlos Witkoski

Vice-coordenação

Therezinha de Jesus Pinto Fraxe

Técnica da Célula de Acompanhamento e Informação

Samia Feitosa Miguez

Bolsistas

Amanda Nina Ramos

Maria Beatriz de Albuquerque D’Antona

Colaboradores

Allison dos Santos Andrade

Álvaro Jardel Conceição Santos de Oliveira

Christiane Albuquerque Feitoza

Claudioney da Silva Guimarães

Davyd Spencer Ribeiro de Souza

Francisca Bispo de Sousa

Francisco Douglas Machado

Guilherme Henriques Soarez

Heloíza Jussara Vasconcelos de Aguiar

Luciano Felipe Rodrigues Braga

Marinete da Silva Vasques

Rila da Costa Arruda

Rony Willams Frutuoso de Souza

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SUMÁRIO

1 Introdução ............................................................................................................ 042 Estratégia Metodológica....................................................................................... 093 Resultados.............................................................................................................. 15

3.1 Contextualização................................................................................................... 15Dimensão Geográfica............................................................................................. 15Dimensão Histórica................................................................................................ 16Dimensão Demográfica.......................................................................................... 22Dimensão Econômica ............................................................................................ 23Dimensão Infraestrutural........................................................................................ 33Dimensão Cultural.................................................................................................. 39Dimensão Político-Institucional............................................................................. 44

3.2 Identidade Territorial.......................................................................................... 463.3 Capacidades Institucionais.................................................................................. 563.4 Gestão do Colegiado............................................................................................. 703.5 Avaliação dos Projetos ........................................................................................ 923.6 Índice de Condições de Vida................................................................................ 1013.7 Análise Integradora de Indicadores e Contextos............................................... 1283.8 Propostas e Ações para o Território................................................................... 134

Anexo: validação de instrumentos e procedimentos ........................................ 138Referências Bibliográficas................................................................................... 140

1 Introdução

Um número significativo de estudos e análises está sendo realizado em torno da

temática do território e do desenvolvimento rural brasileiro. A abordagem territorial passa a

assumir grande importância nas estratégias de desenvolvimento das regiões rurais do país,

haja vista as dificuldades de compreensão das complexas configurações sociais e políticas que

estão sendo postas a partir da implementação de políticas de desenvolvimento territorial,

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pautadas no fortalecimento das práticas de cidadania. Estas iniciativas políticas pressupõem a

necessidade de se desenvolver novas óticas de análise com relação aos alcances das políticas

públicas e das configurações das relações sociais existentes entre os diferentes atores

envolvidos na gestão territorial.

O projeto de desenvolvimento e integração territorial brasileiro não é novo. Muitas

foram às tentativas de impulsionar este desenvolvimento econômico na região amazônica, por

meio da integração e articulação territorial. O investimento neste projeto era justificado pela

necessidade de ocupação dos espaços vazios e fortalecimento da segurança nas fronteiras

nacionais. Mas a transferência de centenas de pessoas para a ocupação territorial da região

trouxe uma série de problemas sociais e econômicos, tendo em vista a pouca estrutura

disponibilizada na zona rural da região.

Estas políticas de desenvolvimento acabaram acirrando as disparidades e as exclusões

dos grupos sociais rurais locais. Embora as tentativas de conter ou minimizar os problemas

sociais estivessem presentes em diferentes estratégias governamentais, contraditoriamente, a

pobreza, a marginalidade e a exclusão tornaram-se cada vez mais presentes na perspectiva do

desenvolvimento adotado ao campo e às cidades brasileiras. A iniciativa de impedir o avanço

da pobreza e da marginalidade tomou corpo em políticas de alcance social, focadas no

fortalecimento da cidadania e da democracia. Trata-se de uma política de territorialização da

cidadania fundamentada na multiplicação de práticas que garantam o exercício da cidadania e

da legitimidade democrática. Os Territórios da Cidadania representariam uma alternativa no

sentido de minimizar e corrigir o déficit de desenvolvimento rural deixados no Brasil por

governos anteriores.

Atualmente, o Governo Federal lançou mão de uma política social nacional baseada

no desenvolvimento sustentável1 dos territórios rurais, aliando as políticas nacionais às

iniciativas locais. Para consolidar esta proposta criou a Secretaria de Desenvolvimento

Territorial - SDT no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA para

implementar os programas sociais apresentados no Plano Plurianual do Brasil, 2004-2007.

Lançado em 2008, o Programa Território da Cidadania nasceu com o objetivo de promover o

1 Lembramo-nos aqui das cinco dimensões do desenvolvimento propostas por Sachs (1993, p. 25-26): sustentabilidade social: construir uma sociedade (civilização) do ser, em que exista maior eqüidade na distribuição do ter; 2 sustentabilidade econômica: assegurar a geração de renda e sua distribuição eqüitativa (benefícios financeiros a nível macrossocial); 3 sustentabilidade ecológica: respeitar os limites de capacidade de carga dos ecossistemas e agrossistemas; promover a conservação da biodiversidade; sustentabilidade espacial: voltada para um equilíbrio urbano-rural, com melhor distribuição dos assentamentos humanos, suas atividades econômicas e das áreas de conservação e de proteção; sustentabilidade cultural: voltada para a manutenção dos valores culturas diferenciados das comunidades humanas.

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desenvolvimento econômico a partir de princípios básicos de cidadania, a fim de criar uma

estratégia de desenvolvimento pautada na governança.

Dentre as diferentes ambições da política, estão a territorialização2 das ações através

dos projetos consorciados por diferentes municípios, a participação dos diferentes atores nas

decisões através dos colegiados e, por fim, a desconcentração do poder do Estado, a partir da

noção de governança e da gestão social. Ao mesmo tempo, espera-se que aconteçam

mudanças nas ações administrativas (Estado), na gestão social (sociedade civil) e nas

vertentes políticas destes fenômenos, sobretudo a territorialização que pretende alterar o

equilíbrio de poder das regiões alvo das ações.

A estratégia de desenvolvimento territorial brasileira tem buscado lançar novas

dinâmicas que estimulem a formulação descentralizada de projetos e políticas públicas.

Elaborada no início do Governo Lula (2003-2006 e 2007-2010), esta proposta de trabalho

passou a ser a principal meta da então criada Secretaria de Desenvolvimento Territorial-SDT.

Concebida em um período de transição, buscou dar consistência a um acúmulo de

conhecimentos, experiências e proposições. Tornou-se base para a formação do Programa de

Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais, incluído no Plano-Plurianual 2004-2007.

Um dos eixos principais da proposta é apontar uma nova forma de conceber políticas

públicas voltadas para o desenvolvimento rural sustentável. Um aspecto transversal nessa

discussão é a noção de território e suas múltiplas dimensões, envolvendo governos estaduais,

governos municipais e movimentos sociais. O grande desafio está em estimular um

desenvolvimento que enfatize as complementaridades, interdependências, coincidências e

agendas comuns. Para isso, é preciso, em primeiro lugar banir a pobreza e estimular a

inclusão social e política. Um dos aspectos fundamentais para a consolidação desse processo é

garantir o acesso a terra, aos serviços públicos básicos e fortalecer a agricultura familiar.

Contudo, o desenvolvimento rural não ocorrerá de forma automática e espontânea, é

fruto da dinâmica de forças políticas, econômicas, sociais e culturais que atuam no território.

O que justifica a importância da utilização de estratégias governamentais que incluam formas

de controle social e de participação de agentes sociais na definição de atividades produtivas,

com metodologias participativas de gestão social, tendo como enfoque principal o local do

produtor/empreendedor. O território precisa ser visto não apenas como uma estrutura física,

2 Entendida como “o conjunto das múltiplas formas de construção/apropriação (concreta e/ou simbólica) do espaço social, em sua interação com elementos como o poder (político/disciplinar), os interesses econômicos, as necessidades ecológicas e o desejo / a subjetividade” (HAESBAERT, 2002, p. 45).

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mas como uma unidade político-administrativa que envolve aspectos como a gestão social e

descentralização de políticas territoriais sustentáveis.

O Programa de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais – PDSTR vai ao

encontro dessas demandas, buscando acentuar as potencialidades naturais comuns, as

interações sociais e culturais e esforços em torno de interesses partilhados. O fato é que para

implementar o que Casarotto Filho chama de “Pacto Territorial” (o encontro de atores,

instituições, administrações e políticas) são necessários alguns requisitos, como a mobilização

em torno de uma ideia guia, envolvimento de todos os atores na fase de elaboração de

projetos. Projetos de desenvolvimento voltados para as atividades produtivas do território,

realização de projetos em tempos definidos, criação de ente gerenciador que expresse acordo

e união entre os atores envolvidos (CASAROTTO FILHO, 1998, p. 98).

A implementação de um processo de territorialização envolve a criação de esferas

públicas de discussão e deliberação. A criação de fóruns que possam reunir os diferentes

atores sociais e contextos políticos e culturais. Em outras palavras, este cenário deve refletir a

recuperação das noções de Estado e Sociedade Civil, valorizando, sobretudo, a participação

cidadã. O capital social assume grande importância na estruturação de uma sociedade

democrática como fator de empoderamento.

Passados seis anos de implementação do Programa de Desenvolvimento Sustentável

dos Territórios Rurais – PDSTR, a Secretaria de Desenvolvimento territorial lança a proposta

de incluir instituições acadêmicas e de pesquisa em uma nova etapa de desenvolvimento do

Programa, o monitoramento e avaliação. Diante deste cenário, foi lançado em 2009 o Edital

MDA/SDT/CNPq - Gestão de Territórios Rurais Nº 05/2009, tendo como finalidade apoiar

atividades de pesquisa e extensão com foco para o monitoramento e avaliação,

acompanhamento da evolução e qualidade dos resultados do Programa Desenvolvimento

Sustentável de Territórios Rurais – PDSTR, mediante a seleção de propostas para apoio

financeiro.

Mediante a aprovação das propostas enviadas ao CNPq, em agosto de 2010 foi dado

início as atividades das Células de Acompanhamento e Informação. As atividades tiveram

início com a realização do I Encontro das Células de Acompanhamento e Informação,

realizado no período de 10 a 13 de agosto de 2010, na cidade de Brasília. O principal objetivo

do encontro foi fornecer informações acerca dos principais objetivos do edital gestão de

territórios rurais e apresentar os principais instrumentos de coleta de dados a serem utilizados

no processo de monitoramento e avaliação da gestão dos colegiados territoriais. Após as

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orientações iniciais de realização do projeto e consolidação do Sistema de Gestão Estratégica,

foi dado início as atividades de acompanhamento e avaliação.

O presente relatório busca trazer informações e análises acerca da pesquisa de campo

realizada junto ao território do Baixo Amazonas, coadunada com embasamento teórico-

metodológico. A pesquisa realizada pela Célula de Acompanhamento e Informação do Baixo

Amazonas teve início em outubro de 2010, tomando como referência o Cronograma de

Atividades apresentado pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial que previa: articulação

com o colegiado (apresentação da equipe, formação do comitê e elaboração do regimento),

indicadores de desenvolvimento (Capacidades Institucionais, Identidade Territorial e Índice

de Condições de Vida), gestão do colegiado, gestão de projetos e gestão do projeto de

pesquisa e extensão.

Ao longo do relatório será possível visualizar os resultados obtidos com a pesquisa de

campo e análise dos dados obtidos a partir de Indicadores Sociais. A análise tem início com a

contextualização do território do Baixo Amazonas, destacando suas dimensões geográficas,

históricas, demográficas, econômicas, infraestruturais, culturais e político-institucionais. As

informações são fundamentais para que possamos obter uma caracterização socioeconômica

do território.

Após a contextualização territorial daremos início às análises obtidas com as coletas

de informações acerca de cada um dos indicadores sociais referentes no cronograma de

atividade. Primeiramente, buscamos discutir sobre o processo de formação das identidades

territoriais, destacando os aspectos considerados definidores da identidade territorial no Baixo

Amazonas. Em seguida, discutiremos como está caracterizada a capacidade institucional do

território, tomando como referência a percepção dos gestores públicos municipais.

Outro indicador importante trabalhado na pesquisa foi o Acompanhamento da Gestão

do Colegiado, uma vez que busca revelar os pontos fortes e deficiências da gestão social do

Colegiado Territorial. Em seguida, faremos uma exposição da situação presente em cada um

dos projetos que estão na condição de concluídos em suas obras, destacando as principais

dificuldades e alternativas percebidas nas entrevistas e pesquisa de campo. O último Indicador

Social – Índice de Condições de Vida apresenta análises da situação observada nas áreas

rurais dos municípios que compõem o território do Baixo Amazonas. Foram realizadas 288

entrevistas com famílias de agricultores de diferentes áreas municipais, ressaltando as

condições de vida a partir da percepção desses agricultores.

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Por fim, será apresentada uma análise integradora destes indicadores e seus contextos

de análise, buscamos relacionar as discussões em torno dos indicadores e os resultados

obtidos na pesquisa, a fim de problematizar e apontar algumas considerações sobre a gestão

social dos territórios rurais. Associada a análise integradora estão relacionadas às propostas e

ações para o território, elaboradas em conjunto com o Colegiado Territorial do Baixo

Amazonas.

2 Estratégia Metodológica

O trabalho de pesquisa na Amazônia apresenta especificidades e singularidades que

nos levam a perceber que para compreender o modo de vida dos grupos sociais que vivem na

Amazônia não basta apenas descrever seus vastos territórios e recursos naturais, é preciso

transpor a paisagem harmônica e romântica das primeiras impressões, e perceber que há um

cenário marcado por contrastes e contradições. Para quem busca adentrar no universo social,

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cultural e político dos povoados amazônicos logo abandona aquela impressão monótona e

repousante. Tal como afirma Marilene Corrêa (2000), é como se o quadro de moldura

passasse a ter outra dimensão, uma dimensão real e não tão perfeita assim.

Para dar conta da diversidade de cenários e contextos, a abordagem do tema e objeto

desta pesquisa dar-se-á de maneira compreensiva a partir da associação de uma abordagem

metodológica qualitativa e quantitativa. Trata-se de realizar um estudo empírico dos sujeitos

sociais e suas organizações representativas, a fim de compreender situações localizadas e suas

problemáticas. A dimensão territorial do desenvolvimento pressupõe a formação de “redes e

convenções” de relações entre instituições que permitem ações cooperativas entre si, o que

inclui a conquista de serviços públicos. Esta perspectiva chama a atenção por lançar novas

relações no meio rural e o esforço em garantir o exercício da cidadania.

A pesquisa de campo realizada no território do Baixo Amazonas tem em vista

estabelecer uma relação intersubjetiva entre o pesquisador e o pesquisado, trata-se de

estabelecer uma relação dialógica, onde ambas as partes possam ter uma função específica na

construção do texto etnográfico. Para Clifford Geertz (1978), a etnografia deve consistir num

esforço de ler as sociedades estudadas como textos, onde a interpretação se faz a todo o

momento, de todos os aspectos e à procura dos significados das instituições culturais.

Através do trabalho etnográfico é possível realizar um levantamento geral e

descritivo do espaço territorial que compreende a comunidade, tendo em vista entender como

funciona a estrutura organizacional da comunidade, identificando as características e

especificidades das instituições sociais existentes. O objetivo final consiste na elaboração de

um texto etnográfico, no sentido utilizado por Geertz (1978), um texto obtido com base nas

condutas sociais, o maior desafio esteve em interpretá-las, numa tentativa de resgatar o “dito”

e tentar “fixá-lo em formas pesquisáveis” (GEERTZ, 1978).

Durante esta etapa da pesquisa os procedimentos metodológicos devem ser pautados

na prática da observação participante, na medida que permite a participação na vida diária

das pessoas e o registro de dados importantes, por meio de instrumentos como o caderno de

campo e as fotografias. Segundo Teresa Haguette (2000:72), a observação-participante não se

concretiza apenas com participação do pesquisador nas atividades, mas com o envolvimento

nas atividades cotidianas, entremeado por subjetividades. Neste momento, o pesquisador não

deixa de ter um envolvimento direto com o objeto de estudo escolhido, pois são definidos

com base na significação cultural que possui para cada um, e passa a ser significativo para os

outros a partir do momento em que o pesquisador destaca a sua importância (WEBER, 2000).

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A observação-participante será um instrumento fundamental para a coleta de

informações referentes ao segundo objetivo desta pesquisa, que constitui na identificação dos

principais campos de conflitos na área territorial da comunidade. Os procedimentos

metodológicos adotados neste momento fazem referência ao que Little (2001) chama de

“equação do poder”, ou seja, é preciso entender como tem se dado às oscilações e divisões

deste poder na comunidade, identificando as assimetrias e antagonismos entre os interesses

dos grupos envolvidos. Trata-se de identificar quais as estratégias utilizadas pelos grupos para

garantir o poder na comunidade, as ideologias, símbolos e políticas utilizadas para manter este

poder dentro de uma mesma família.

Para a realização das entrevistas e depoimentos, buscamos aplicar as considerações

de Roberto Cardoso de Oliveira, a respeito da interação pesquisador/informante, que

pressupõe uma relação dialógica, onde o pesquisador precisa criar condições de um

verdadeiro diálogo, reconhecendo seu informante como um interlocutor, capaz de manter uma

relação de iguais, nesse caso, ambos são considerados interlocutores, a ponto de que esta

interação propicie o que o autor convencionou chamar de encontro etnográfico (OLIVEIRA,

2000: 24).

A pesquisa de campo realizada no território do Baixo Amazonas foi dividida em três

momentos. O primeiro momento caracterizou-se pela aplicação de três formulários:

capacidades institucionais, identidade territorial e acompanhamento da gestão do colegiado. A

1ª Excursão ocorreu no período de 20 a 28 de outubro de 2010, para os municípios de

Parintins, Barreirinha, Boa Vista do Ramos e Maués. Durante a 2ª Excursão foram visitados

os municípios de São Sebastião do Uatumã e Urucará, no período de 22 a 26 de novembro de

2010 e a 3ª Excursão ocorreu no período de 13 a 17 de dezembro de 2010, para os municípios

de Parintins e Nhamundá. Tendo em vista as dificuldades de deslocamento da equipe para os

referidos municípios, foram utilizadas dinâmicas específicas no processo de aplicação dos

questionários.

Nesse caso, as informações foram coletadas em blocos de questionários – Identidade

Territorial, Capacidades Institucionais e Gestão do Colegiado –, para cada entidade municipal

visitada foram aplicados, continuamente, dois questionários – Q2/Identidade Territorial e

Q3/Gestão do Colegiado. Esta estratégia facilitou a obtenção dos dados e possibilitou maior

conhecimento da realidade de cada uma das entidades e municípios, sendo finalizada com a

aplicação do Q1/Capacidades Institucionais com gestores públicos municipais. O trabalho de

campo junto às entidades colegiadas não se restringiu a coleta de dados quantitativos, por

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meio dos questionários indicados, mas permitiu maior conhecimento da realidade e a

utilização de instrumentos de coleta de dados qualitativos, como as entrevistas.

Antes das excursões foi realizada a I Semana Trabalho de Campo e Pesquisa na

Amazônia, no período de 04 a 08 de outubro de 2010, na Universidade Federal do

Amazonas/Manaus, que contou com a participação dos professores colaboradores do projeto

no sentido de fornecer subsídios para a realização da pesquisa de campo, destacando as

dificuldades e imponderáveis presentes nas pesquisas de campo na Amazônia. A semana foi

estruturada do seguinte modo: Oficinas: Abordagem teórico-metodológica: pesquisa

qualitativa/Professora Therezinha Fraxe. Abordagem teórico-metodológica: pesquisa

quantitativa/Professor Henrique dos Santos Pereira. Noções básicas para a aplicação de

formulários/Professora Kátia Cavalcante Viana.

Esta atividade foi fundamental para a preparação e treinamento metodológicos dos

pesquisadores que participaram da pesquisa de campo. O principal objetivo desta atividade

constitui na preparação dos pesquisadores envolvidos no projeto para a realização do trabalho

de campo. Em outras palavras, trata-se de um importante momento de discussão da

abordagem teórico-metodológica a ser adotada na pesquisa, tendo em vista maior

aproveitamento dos dados quantitativos e utilização de instrumentos qualitativos como

entrevistas, diários de campo, histórias orais e observação participante.

Ao fim de cada excursão de trabalho de campo realizada pela equipe de pesquisadores

da Universidade Federal do Amazonas, era realizada a inserção dos dados no Sistema de

Gestão Estratégica – SGE. Antes destas informações serem inseridas, eram validadas pela

técnica responsável pela Célula. Concluído o trabalho de coleta de dados e inserção dos

mesmos no sistema e análise dos resultados, a partir dos indicadores sociais criados pelo SGE

e pelo Banco de Dados elaborado pela Célula.

O segundo momento da pesquisa caracterizou-se pela realização da pesquisa de campo

para coleta de dados do Índice de Condições de Vida – ICV. A excursão do ICV Baixo

Amazonas ocorreu no período de 12 a 25 de abril de 2011, para os municípios de Boa Vista

do Ramos, Barreirinha, Maués, Parintins e São Sebastião do Uatumã. O trabalho de coleta de

dados foi realizado com o apoio de uma equipe de 15 pessoas (figura1), distribuídas entre as

inúmeras comunidades rurais visitadas.

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Figura 1 – Saída para Excursão ICV Baixo AmazonasFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

Para a realização da Excursão ICV foi realizada a II Semana Trabalho de Campo e

Pesquisa na Amazonas, no período de 04 a 08 de abril de 2011. Esta atividade foi

fundamental para a realização do treinamento da equipe para a aplicação do ICV, para a qual

foram discutidos instrumentos de coleta de dados como: diário de campo, observação-

participante, entrevista e utilização de dados quantitativos. Para a orientação deste

treinamento foi utilizado o Manual de Aplicação do ICV, disponibilizado pela Secretaria de

Desenvolvimento Territorial.

Durante a pesquisa de campo foram utilizados instrumentos complementares de coleta

de informações como entrevistas, diários de campo, mapas mentais, fotografias e etnografias

de reuniões comunitárias. As entrevistas foram realizadas junto às representações

comunitárias e moradores antigos das comunidades, visando à coleta de informações sobre as

comunidades que pudessem subsidiar a análise dos dados e elaboração do relatório. Foram

elaborados mapas mentais de todas as comunidades visitadas, contando com a colaboração de

moradores locais a respeito das suas percepções espaciais e geográficas das comunidades em

que vivem.

Por fim, o terceiro momento da pesquisa caracterizou-se pela realização de uma

Oficina de Análise e Interpretação de Indicadores Sociais, dando início à agenda de extensão

proposta para o território. A oficina teve como finalidade a análise e discussão dos

indicadores sociais do Baixo Amazonas (Identidade Territorial, Capacidades Institucionais e

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Page 13: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Condições de Vida), por meio de ferramentas de diagnóstico participativo. Especificamente,

buscou-se socializar os resultados obtidos na pesquisa de campo da Célula de

Acompanhamento e Informação do Baixo Amazonas (figura 2); analisar os resultados obtidos

na pesquisa de campo com ênfase nos indicadores de Identidade Territorial, Capacidades

Institucionais e Condições de Vida; interpretar os resultados obtidos no trabalho de campo a

partir de metodologias de diagnóstico participativo (UFAM/DFDA/Colegiado Territorial).

Figura 2 – Saída para Excursão ICV Baixo AmazonasFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

Os indicadores são fontes de informação para a formulação de políticas sociais,

programas e projetos nas diferentes esferas de governo e organizações. A construção e a

análise destes dados permitem o conhecimento sobre as mudanças sociais e suas diferentes

causas e monitoram as condições de vida e bem-estar dos grupos sociais envolvidos,

demonstrando os resultados obtidos por projetos de qualquer natureza. A Oficina constituiu

um instrumento capaz de auxiliar os gestores da sociedade civil e poder público a definir,

interpretar e analisar indicadores, conhecer cada uma das temáticas trabalhadas, a fim de

subsidiar o planejamento e a tomada de decisões em suas atividades.

Pautada neste cenário, a pesquisa contou com a seguinte programação: Socialização

dos resultados obtidos na pesquisa de campo: identidade territorial e capacidades

institucionais (Coordenador e técnicos das Células); elaboração de diagnóstico participativo:

identidade territorial e capacidades institucionais (grupos de trabalho); socialização dos

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resultados obtidos na pesquisa de campo: Índice de Condições de Vida (Coordenador e

técnicos das Células); elaboração de diagnóstico participativo: índice de condições de vida

(grupos de trabalho); socialização dos resultados obtidos na pesquisa de campo:

Acompanhamento da gestão do colegiado (Coordenador e técnicos das Células); laboração de

diagnóstico participativo: Acompanhamento da gestão do colegiado (grupos de trabalho);

Aplicação da metodologia de análise participativa SWOT/FOFA.

Por fim, foi elaborada juntamente com o Colegiado Territorial do Baixo Amazonas

uma agenda de extensão, dando início a uma nova etapa de trabalho da Célula de

Acompanhamento e Informação, baseada no desenvolvimento de atividade de extensão e

capacitação. Para a agenda foram indicados os temas e problemáticas de maior importância

para o CODETER, a fim de pudessem ser discutidas e solucionadas em parceria com a Célula

de Acompanhamento e Informação da Universidade Federal do Amazonas, as pospostas estão

indicadas no item 3.8 deste relatório.

3. Resultados

3. 1. Contextualização

Dimensão Geográfica

O Território Rural do Baixo Amazonas é constituído por sete municípios, são eles:

Urucará, São Sebastião do Uatumã, Parintins, Barreirinha, Nhamundá, Boa Vista do Ramos e

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Page 15: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Maués. O território compreende uma área de 107.029,63 Km², sendo os municípios de Maués

(39.989,87 Km²) e Urucará (27.903,37) os que concentram maior extensão territorial (figura

3). O território do Baixo Amazonas representa 6,8% da área total do Estado do Amazonas,

está localizado na parte leste do Estado do Amazonas com o Estado do Pará; ao norte com o

Estado de Roraima; ao sul com o município de Apuí; a leste com o Estado do Pará e oeste

com municípios de Presidente Figueiredo, Itapiranga, Silves, Urucurituba, Itacoatiara, Nova

Olinda do Norte e Borba.

Figura 3 – Unidade territorial do Baixo Amazonas Fonte: IBGE, 2009.

No que diz respeito ao contexto natural do território do Baixo Amazonas, o clima

predominante é o equatorial úmido e chuvoso com variações térmicas de 27ºC a 30ºC. Possui

formações geológicas conhecidas como: Aluviões Holocênicos, Cobertura Detrito-Laterítica

Paleogênica, Cobertura Detrito-Laterítica Pleistogênica, Formação Aruri, Formação Ererê,

Formação Itaituba, Formação Maecuru, Formação Monte Alegre, Formação Nova Olinda,

Formação Prosperança, Formação Seringa, Formação Sobreiro, Formação Urupi,

Granodiorito Rio Novo, Grupo Beneficente, Grupo Curuá, Grupo Gorotire, Grupo Iricoumé,

Grupo Jatuarana, Grupo Tapajós, Grupo Trobetas, Suite Intrusiva Água Branca, Suite

Intrusiva Abonari, Suite Intrusiva Mapuera, Suite Intrusiva Parauari, Suite Intrusiva

Porquinho, Suite Intrusiva Quarenta Ilhas, Suite Intrusiva Suretama e Terraços Holocênicos

(PTDRS Baixo Amazonas, 2010).

O relevo do Baixo Amazonas é constituído pelo tipo de planície Amazônica, varia de

plano a suave ondulado. O território não possui área de serras, possui apenas áreas de terra 15

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firme acidentadas e área de várzea com restingas. O solo é formado por latossolo amarelo e

argissolo vermelho-amarelo, são encontradas areias quartzosa, quartzosa hidromórfica,

cambissolo, espodossolo, gleissolo, latossolo vermelho-amarelo, plintossolo, solo aluvial, solo

litólico e solo petroplíntico. A rede hidrográfica da região do Baixo Amazonas é constituída

pelos rios: Abacaxis, Andirá, Apoquitauá, Arari, Ariaú, Camarão, Cicantá, Curuça, Jacu, Jará,

Jatapu, Mamuru, Marau, Maués-Acçu, Maués-Mirim, Nhamundá, Pacoval, Paraconi,

Parauari, São Manuel ou Teles Pires, Tapajós, Uaicurapá e o Rio Uatumã (PTDRS Baixo

Amazonas, 2010).

Dimensão Histórica

Barreirinha

Barreirinha surgiu de um povoado em meados de 1830, da Missão do Andirá, criada

em 1848 pelo capuchinho Pedro de Cariana. Conta-se que a designação de “Andirá” vem da

grande quantidade de morcegos de asas pretas e cabeça branca na localidade, aos quais os

índios chamavam de “Andirá”. Essa denominação se estendeu ao rio e posteriormente ao

povoado que aí surgiu. A Missão de Andirá era subordinada à Província do Pará, que exercia

também, jurisdição sobre a comarca do Alto Amazonas. Em 1851, o jesuíta Manuel Justino de

Seixas chega no lugar e constrói uma capela de Nossa Senhora do Bom Socorro. Em 1852, a

Missão de Andirá é elevada a curato, com subordinação a Vila Bela da Imperatriz (figura 4).

Em 1853, pela Lei Provincial no. 14 foi criado o distrito no município de Parintins,

com a denominação de Nossa Senhora do Bom Socorro de Andirá. Em 1873, a sede do

distrito é transferida para o local denominado Barreirinha, no Paraná do Ramos. Em 1881,

pela Lei Provincial no. 539 é criado o município de Barreirinha, por desmembramento do

município de Parintins. Em 1938, pelo Decreto-Lei Estadual no. 68 Barreirinha recebe foros

de cidade. Em 1952, pela Lei Estadual no. 226 é criada a comarca de Barreirinha (Conselho

Nacional de Municípios).

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Figura 4 – Catedral em Barreirinha Fonte: Pesquisa de campo, 2010.

Boa Vista do Ramos

Boa Vista do Ramos tem uma relação direta com a história da fundação de Maués,

pois, foi fundada em 1978 onde se fundou também a Aldeia de Lusea, sendo nos anos

posteriores da primeira metade do século XIX, cenário para conflitos sangrentos entre índios e

brancos. Anteriormente onde foi criado em 1850 a Província do Amazonas, Lusea tornou-se

um dos 14 municípios existentes na época, aonde posteriormente viria a se chamar Maués

(figura 5).

Figura 5 – Praça central em Boa Vista do Ramos Fonte: Pesquisa de campo, 2010.

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Page 18: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Somente em 10 de dezembro de 1981 através da EC nº 12, a Vila de Boa Vista do

Ramos juntamente a áreas de Barreirinha e Urucurituba constituiu-se um novo município que

passaria a se chamar Boa Vista do Ramos, inicialmente era formado por casas de palha e era

liderado pelo Sr. Antero Roberto Pimentel, comerciante naquela região, o qual possuía um

comércio com nome Boa Vista que deu origem ao nome comunidade Vila de Boa Vista.

O desenvolvimento do povoado de Boa Vista, só teve início através do Decreto-Lei

Estadual nº 196 de 01/12/1938 o qual se elevou a categoria de Zona Distrital. Tempos depois

com a gestão do então governador Plínio Ramos Coelho, mediante Lei nº 117 de 29.12.1956,

se estabeleceu uma nova divisão territorial, administrativa e judiciária, passando o povoado de

Boa Vista a sub-distrito do município de Maués.

Porém, somente através da Lei nº 1 de 12.04.1961, criou-se o município com a

denominação de Boa Vista do Ramos, sendo este extinto na Lei nº 41, de 24.07.1964, com

base na justificativa de não ter ocorrido processo eleitoral, sendo Boa Vista do Ramos

reiterado a Maués só voltando a condição de município durante a administração do

Governador Dr. José Lindoso, por força da Emenda Constitucional nº 12, de 10.12.1981,

promulgada pela Mesa da Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas.

Nhamundá

O rio Nhamundá foi o rio onde, em 1541, deu-se o encontro do viajante espanhol

Francisco Orellana e sua expedição com as mulheres guerreiras, denominadas de

“Amazonas”. Essas guerreiras eram conhecidas pelos nativos como “Icamiabas”, que

significa “mulheres sem marido”. Habitavam nessa região as etnias indígenas: Uabois ou

Jamundás, Cunuris, Guaicaris. Sobre a história do município, Otto Beltrão explica: As origens

da sede municipal remontam navegações do rio Nhamundá, ocorridas nas principais décadas

do século XVII. Os primeiros habitantes pertenciam as etnias Uabuís, Cunuris e Guaicaris, na

aldeia denominada Faro. Em 1758, ocorre sua elevação a vila (figura 6).

Na divisão administrativa do Brasil de 1911, aparece como integrante do município de

Parintins o distrito de Jamundá. Este distrito é posteriormente extinto, aparecendo Parintins,

no quadro da divisão administrativa do país, em 1933 com apenas um distrito. Em

01/12/1938, pelo Decreto Lei Estadual n. 176, o município de Parintins volta a dispor de um

distrito, além da sede, o de Ilha de Cotias. Em 19/12/1955, pela Lei Estadual n.96, o distrito

Ilha de Cotias é desmembrado de Parintins e passa a constituir o município autônomo de

Nhamundá. Em 31/01/1956 instala-se o novo município (BELTRÃO, s/ano, p.326-327).

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Page 19: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 6 – Município de Nhamundá Fonte: Pesquisa de campo, 2010.

Parintins

Tal como todas as cidades brasileiras, Parintins foi habitada inicialmente por

indígenas. Durante o século XVIII, foi observada e explorada por viajantes, como José

Gonçalves da Fonseca que notou uma ilha que, por sua extensão, se sobressaía das outras

localizadas à direita do grande rio. Sua fundação ocorreu em 1796, por José Pedro Cordovil,

que veio com seus escravos e agregados para se dedicar à pesca do pirarucu e à agricultura,

chamando-a Tupinambarana (figura 7).

Em 25 de julho de 1833, Tupinambarana passa à freguesia, com o nome de Freguesia

de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana. Em 24 de outubro de 1848, pela lei

provincial do Pará nº 146, foi elevada à categoria de vila, com a denominação de Vila Bela da

Imperatriz, e constituiu o município até então ligado a Maués. Em 15 de outubro de 1852,

pela lei nº 02, foi confirmada a criação do município. Em 14 de março de 1853, deu-se a

instalação do município de Parintins. Em 24 de agosto de 1858 foi criada pela lei provincial a

comarca, compreendendo os termos judiciários de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da

Conceição. Em 30 de outubro de 1880, pela lei provincial nº 499, a sede do município

recebeu foros de município e passou a denominar-se Parintins. Em 1881 foi desmembrado do

município de Parintins o território que constituiu o município de Vila Nova de Barreirinha.

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Page 20: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 7 – Orla de Parintins Fonte: Pesquisa de campo, 2010.

Em 24 de agosto de 1952, pela lei estadual nº 226, a comarca de Parintins perdeu os

termos judiciários de Barreirinha e Urucará, que foram transformados em comarcas. Em 19 de

dezembro de 1956, pela lei estadual nº 96, foi desmembrado do município de Parintins o

distrito da Ilha das Cotias, que passou a constituir o município de Nhamundá. Em 10 de

dezembro de 1981, pela emenda constitucional nº 12, o território de Parintins é acrescido do

distrito de Mocambo.

São Sebastião do Uatumã

As origens do município de São Sebastião do Uatumã se prendem à do município de

Urucará, cuja história remonta à povoação de Santana da Capela, em 1814, por Crispim Lobo

de Macedo. Em 1880 é criada a freguesia, com sede em Santana da Capela, que polariza o

desenvolvimento da região ribeirinha do Rio Amazonas. Em 1887 é criado na área de

freguesia o município de Urucará, que em 1930, é extinto com seu território sendo anexado a

Itacoatiara, para ser definitivamente restabelecido em 1935. Em fins de 1981, constavam da

estrutura administrativa de Urucará os seguintes sub-distritos: Urucará, Santa Maria,

Capucapu, Alto Uatumã e São Sebastião. Em 10 de dezembro de 1981, pela Emenda

Constitucional n. 12, São Sebastião e territórios adjacentes da margem esquerda do rio

Uatumã são desmembrados de Urucará e passam a constituir o município autônomo de São

Sebastião do Uatumã (figura 8).

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Page 21: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 8 – Orla de São Sebastião do Uatumã Fonte: Pesquisa de campo, 2010.

Urucará

Historicamente, em 1814 foi fundada por Crispim Lobo Macedo à beira do Rio

Amazonas uma povoação chamada Santana da Capela que passou por progressos expressivos

nos anos posteriores. Em 03/05/1880 através da Lei Provincial nº462 houve a criação a

freguesia de Santana da Capela e sete anos mais tarde, mais precisamente em 12/05/1887 pela

Lei Provincial nº 744 esta freguesia elevou-se a vila, sendo então realizada a criação da sede

do município de Urucará (figura 9).

Figura 9 – Porto de Urucará Fonte: Pesquisa de campo, 2010.

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Page 22: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Algum as mudanças foram realizadas em seu território através do Ato Estadual nº 45

elaborado em 28/11/1930, onde o município foi suprimido e seu território acabou sendo

anexado ao de Itacoatiara. E somente em 1935 quando o Estado foi reconstituído houve o

restabelecimento do município de Urucará.

Cronologicamente houve desdobramentos de alguns acontecimentos em 31/03/1938

pela DL nº 68 o município recebeu foros de cidade, alguns anos depois já em 24/12/1952 pela

Lei Estadual nº 226 é criada a comarca de Urucará. Em 10.12.1981, pela Emenda

Constitucional nº 12 Urucará perde parte de seu território em favor do novo município de São

Sebastião de Uatumã.

Dimensão Demográfica

O território rural do Baixo Amazonas possui uma população de 242.680 habitantes

(figura 10), o que corresponde a 7,2% da população total do Estado do Amazonas. O

município de Parintins é o que apresenta maio densidade populacional (102.033 habitantes),

apesar de ser o terceiro município com menor área territorial. Depois do município de

Parintins aparece o município de Maués com 52.236 habitantes, que ao contrário de Parintins

é o município que possui maior área territorial. Grande parte da população está localizada em

área urbana (133.155 habitantes), o que representa 57,6% e na área rural (97.692 habitantes),

o que representa 42,3% (figura 10).

Figura 10 – Densidade populacional do Baixo Amazonas Fonte: IBGE, 2009.

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Page 23: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

O território rural do Baixo Amazonas possui densidade demográfica de 2,2 hab/Km²,

sendo que a maior densidade é verificada no município de Parintins com índice de 17,1

hab/Km² e a menor densidade é verificada no município de Urucará com 0,6 hab/Km². Este

cenário se reflete no processo de ocupação do território, sendo que possui poucas áreas de

assentamento localizadas nos municípios de Parintins e Maués. Em Maués, há quatro áreas de

assentamento, são elas: Assentamento Aliança, Floresta Estadual de Maués, RDs Urariá e

Flona de Pau Rosa. Em Parintins, há dois Projetos de Assentamentos, o Vila Amazônica e o

Ilha do Paraná de Parintins.

Por outro lado, o território é cortado por áreas de Unidades de Conservação, são elas:

Unidade de Conservação Estadual - Reserva de Desenvolvimento Sustentável Urariá;

Unidade de Conservação Estadual - Parque Estadual Nhamundá, Área de Proteção Ambiental

Nhamundá, Floresta de Maués, Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã;

Unidade de Conservação Federal - Floresta Nacional de Pau-Rosa, Reserva Biológica Uatumã

e Parque Nacional da Amazônia, que abrangem 2.002.455,47 hectares.

Além das áreas de Unidades de Conservação há também das áreas indígenas que

abrangem os municípios de Barreirinha, Maués, Parintins, Urucará e Nhamundá. As terras

indígenas são conhecidas como Andirá-Marau, Nhamundá-Mapuera e Trombetas-Mapuera.

Há também à margem esquerda do rio Andirá uma área de remanescentes de Quilombos, com

aproximadamente 600 pessoas, distribuídas nas comunidades São Pedro, Boa Fé e Matupiri.

Dimensão Econômica

A região amazônica, em particular o Estado do Amazonas, tem sua economia

caracterizada por ciclos de desenvolvimento. Estes ciclos possuem início, meio e fim, criam

uma situação de projetos e planos sempre inacabados e temporários, passando a impressão de

que todo empreendimento desenvolvido na Amazônia possui dias contados e finalidades que

pouco estabelecem relações com a realidade local. Um eterno recomeçar de rotas e

planejamentos rumo ao desenvolvimento.

A Amazônia tem sido historicamente alvo de uma longa e constante política de

colonização e integração territorial ao projeto nacional. Este permanente projeto de

colonização promove inúmeras transformações sociais e ambientais na região, que visam

sempre um interesse declarado em construir redes logísticas que favoreçam o investimento e

expansão capitalista. A construção dessas redes logísticas vem operando dentro da ótica de

ocupação dos espaços vazios e valorização econômica dos potenciais naturais da região. Seus 23

Page 24: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

pressupostos defendem a garantia da segurança nacional e o fortalecimento da ocupação das

fronteiras nacionais, permitindo o reequilíbrio regional com o deslocamento de populações

para as áreas não ocupadas.

As estratégias da política de colonização da Amazônia têm priorizado o que

entendemos por rotas de colonização, ou seja, os projetos de ocupação territorial baseados na

instalação de empreendimentos, estradas e rodovias, que atuam como os eixos de ligação no

processo de colonização de novas terras. Contudo, grande parte desses projetos não promove

mudanças na realidade local, seus objetivos não alteram as condições de vida da população

local, ao contrário, na maioria das vezes trazem aspectos negativos e prejudiciais para a vida

local.

Por mais que possamos identificar mudanças no PIB do Estado do Amazonas como

demonstraremos abaixo, estas mudanças se dão de forma concentrada em algumas camadas

sociais, grande parte das famílias amazonenses permanece com poucas alterações em suas

condições de vida. As poucas mudanças percebidas estão concentradas na capital e nos

centros urbanos do Estado, as comunidades rurais são pouco influenciadas pelas políticas de

desenvolvimento existentes.

O Produto Interno Bruto – PIB do território do Baixo Amazonas apresentou

desenvolvimento crescente nos últimos anos, correspondendo a 2,13% do PIB do Estado do

Amazonas. O PIB do território do Baixo Amazonas é de R$ 894.107 milhões de reais, tendo

maior rendimento no município de Parintins com R$ 358.968 milhões de reais, seguido de

Maués R$ 192.319 milhões de reais, Barreirinha com R$ 96.777 milhões de reais, Nhamundá

R$ 90.446 milhões de reais, os municípios de Boa Vista do Ramos, São Sebastião do Uatumã

e Urucará somam 17,4%. A posição que cada município apresenta no ranking do Estado

Estado do Amazonas mostra a disparidade presente no processo de desenvolvimento do

território do Baixo Amazonas, ver quadro 01:

Quadro 01 – Ranking do PIB no Estado do Amazonas

Município Posição PIB (R$)Parintins 5ª 358.968Maués 8ª 192.319

Barreirinha 25ª 96.777Nhamundá 28ª 90.446

Urucará 32ª 74.338Boa Vista do Ramos 49ª 48.413

São Sebastião do Uatumã 60ª 32.846Fonte: PIB/IBGE, 2003-2007.

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Page 25: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

A atenuação das disparidades no processo de desenvolvimento deve ser realizada de

acordo com as potencialidades de cada um desses municípios, lembrando que a região

amazônica é caracterizada pela enorme diversidade de modos de vida e práticas culturais. O

contexto histórico e político desses municípios é diferenciado, o que torna esse

desenvolvimento repleto de aspectos singulares. Contudo, não podemos deixar de considerar

que a economia local é movimentada, principalmente, pelo setor primário, no interior do

Estado e pelo setor secundário, na capital do Estado.

Setor Primário

De acordo com Meirelles, ao longo da história podemos perceber uma constante crise

no setor primário e, conseqüentemente, o empobrecimento do homem do interior. Os planos

de desenvolvimento propostos para o Estado do Amazonas mostram uma insistente

preocupação com a crise deste setor, os diagnósticos informam que o interior permanece

apresentando deficiências que comprometem, seriamente, o setor primário. A ineficiência

desses planos mostra que depois de 40 anos a situação não melhorou, e o desenvolvimento

continua concentrado em torno da Zona Franca de Manaus, 50% da população amazonense

está em Manaus (MEIRELLES, 2008:107).

A análise do PIB revela que o setor primário tem grande importância para a economia

do Estado, mas que em contrapartida os produtos primários não estão gerando emprego e

renda suficiente para atender as necessidades da população local. Justamente por esta razão

grande parte dessa população se vê obrigada a buscar melhorias de vida nas cidades e centros

urbanos, abandonando suas terras e áreas de produção.

Além disso, não podemos deixar de mencionar que a sazonalidade da região interfere

significativamente no poder de decisão dessas famílias, muitas crises são causadas por

enchentes, principalmente para aquelas famílias que vivem em áreas de várzeas. As oscilações

climáticas alteram as relações comerciais locais, geram instabilidade nos preços e

inconsistência nas demandas. Em função deste cenário, a economia do Estado gira em torno

de alguns produtos que se adequam as condições climáticas e as demandas do Estado, como é

o caso da mandioca.

Entende-se, por lavoura temporária ou cultura temporária, a cultura de curta ou média

duração, geralmente com ciclo vegetativo inferior a um ano, que, após a colheita, necessita de

novo plantio para produzir, e, por lavoura permanente ou cultura permanente, a cultura de

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Page 26: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

longo ciclo vegetativo, que permite colheitas sucessivas, sem necessidade de novo plantio

(IBGE, 2002). No que diz respeito à lavoura temporária há que se destacar a importância que

tem o cultivo de mandioca (140.905 ton), com um diferencial significativo quando comparado

com as outras culturas (ver figura 11). Apesar de apresentar grande expressão em sua

produção, esta atividade não apresenta incentivos diferenciadores que estimulem a produção.

A mandioca permanece sendo produzida no Amazonas como foi herdada pelos povos

indígenas há milhares de anos.

Figura 11 – Principais cultivos agrícolas do Baixo Amazonas - Lavoura Temporária Fonte: IBGE, 2009.

Segundo a figura 11, as sete principais culturas agrícolas do Baixo Amazonas são

mandioca, cana-de-açúcar, milho, melancia, malva, arroz e feijão. A maior produção do

estado do Amazonas para lavouras temporária no ano de 2009 foram: a mandioca (140.905 t),

cana-de-açúcar (14.524 t) e milho (2.460 t). Os municípios que apresentaram maior produção

de mandioca foram: Parintins, Maués e Nhamundá.

A mandioca possui grande importância para economia local, pois constitui um

ingrediente indispensável na dieta do amazonense, sua produção é voltada tanto para o

consumo das famílias quanto para a comercialização. É produzida tanto em terra firme quanto

em área de várzea, não sendo necessário uso de fertilizante químico. Contudo, a grande

produção de farinha do Estado não é suficiente para abastecer o mercado local, sendo

necessária a importação de pelo menos 30% da farinha que chega a mesa do amazonense. A

importação ocorre, principalmente, pela falta de assistência técnica e comercial, sem apoio em

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Page 27: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

suas condições infraestruturais o produtor local não tem condições produzir e movimentar a

economia local.

No que diz respeito a lavoura permanente, as principais culturas do território do Baixo

Amazonas são: banana, laranja, guaraná, maracujá, cacau, urucum e borracha. Como é

possível observar, a banana possui um diferencial significativo em sua produção, totalizando

8.141 toneladas, seguida da laranja (1.264 t) e do guaraná (1.155 t). A banana em cacho no

território Baixo Amazonas alcançou uma produção média nos anos de 2007 e 2008 de 6.028

toneladas, correspondendo à maior produção (cultura permanente) em toneladas do território,

entretanto correspondeu apenas a 3,7% do total da produção no estado do Amazonas (ver

figura 12). Os municípios que se destacaram no cultivo de banana foram Parintins, Maués e

Urucará (PTDRS, 2010).

Figura 12 – Principais culturas agro-extrativistas do Baixo Amazonas - Lavoura PermanenteFonte: IBGE, 2009.

Outro setor importante para a economia no território do Baixo Amazonas é o do

rebanho animal. Grande parte das famílias locais possui produção animal, dentre os principais

tipos de rebanho analisados destacam-se o rebanho bovino, bubalino, suíno e galos, galinhas,

frangos, frangas e pintos. O rebanho bovino totaliza 247.371 cabeças, seguido do rebanho

bubalino com 27.953 cabeças e galos com 52.959 cabeças. O território do Baixo Amazonas

tem destaque por sua produção animal, sem dúvida, este setor constitui um dos principais

motores da economia local. Além disso, está relacionado a outros setores como a cultura e a

culinária (figura 13).

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Page 28: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

O mercado de produto de origem animal no território Baixo Amazonas se dá

principalmente pela produção de leite, ovos de galinha e mel de abelha. A produção de leite

1.000 (mil litros) destaca-se principalmente no município de Nhamundá que atinge um

equivalente de 7.088 (mil litros) em 2008, gerando uma renda de 10.631 (mil reais) para o

município. A produção de ovos de galinha ficou em 362 (mil dúzias) a maior produção no

território, somente no município de Parintins, gerando um valor de produção em torno de 782

(mil reais) em 2008. A produção de mel de abelha (quilogramas) foi destaque em 2007 e 2008

nos municípios de Barreirinha, Boa Vista do Ramos e Maués, a maior produção de mel foi

registrada em 2008 no município de Maués (PTDRS, 2010)

Figura 13 – Pecuária no Baixo Amazonas Fonte: IBGE, 2009.

A pesca constitui a principal fonte de proteína da dieta alimentar das populações

amazônicas, aliada a produção de farinha a pesca complementa a dieta local e sustenta grande

parte das famílias amazonenses. A pesca assume um caráter de atividade subsidiária ou

comercial, surgindo como elemento de apoio no que se refere à provisão de alimentos ou

trabalho e renda uma vez que a farinha de mandioca é o principal produto agrícola local.

A região amazônica é marcada por duas estações: (inverno) cheia e (verão) seca. Estas

duas estações definem os rumos que as atividades terão em cada ano, a pesca, por exemplo, é

guiada por estas estações. Para pescar determinada espécie, os ribeirinhos utilizam um tipo de

instrumento de pesca adequado para cada estação do ano. Os ambientes de pesca existentes na

região podem ser divididos em três: rios, lagos e igarapés. Eles apresentam subdivisões,

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Page 29: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

dependendo da sazonalidade, como e o caso da floresta inundada adjacente ao rio (várzea) e

aos lagos (igapós).

No Baixo Amazonas, a frota comercial está concentrada na calha do rio Amazonas na

seca e nos lagos durante a época da cheia. Por outro lado, a pesca de subsistência é praticada

principalmente nos lagos. As principais espécies capturadas são: curimatã (530,37 t),

tambaqui (339,88 t), jaraqui (316,74 t), mapará (264,83 t), surubim (219,21 t) e matrinxã

(8,54 t).

Com relação a extração vegetal no Baixo Amazonas está direcionada para a produção

de açaí, castanha, tucum, carvão vegetal, lenha e madeira. Voltada para a alimentação estão a

Castanha-do-Pará e o açaí. A castanha-do-pará possui uma produção de 255 toneladas, sendo

que está produção ocorre em todos os municípios de forma diferenciada, tendo maior

destaque o município de Nhamundá.

Com relação à produção de produtos extrativos para fins oleaginosos, destaca-se

apenas no município de Urucará, a extração de amêndoa de tucum, sendo uma fonte

importante de economia, pois o município representa 94% da produção do estado do

Amazonas, gerando uma renda de 23 mil reais para o município.

A produção de carvão vegetal ocorre somente nos municípios de Boa Vista do Ramos

e Parintins. Em 2007 e 2008, ambos os municípios apresentam uma produção media de 15

toneladas de carvão vegetal, representando um percentual de 0,28% do total produzido. A

produção de lenha em metros cúbicos ocorre em todos os municípios do Território Baixo

Amazonas, maior destaque e dado aos municípios de Barreirinha, Maués, Parintins e Urucara.

O território do Baixo Amazonas apresenta uma produção de lenha em metros cúbicos de

185.222.

Setor Secundário

Apesar da indústria brasileira e, em particular, a amazonense apresentar todos os itens

necessários para o seu pleno desenvolvimento como mão-de-obra, recursos naturais e matéria-

prima não disponibiliza de tecnologia para torná-la altamente competitiva. Todo investimento

que tem sido destinado ao desenvolvimento do setor das indústrias tem sido perdido, o fato é

que a industrialização foi bem vinda, mas não foi planejada, com isso trouxe inúmeras

conseqüências. O melhor exemplo disso é a disparidade causada com o êxodo rural, a

concentração urbana é justificada pela constante frustração de expectativas e marginalização

do interior do Estado. No que diz respeito ao setor secundário a disparidade é revelada a partir

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Page 30: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

do momento que Parintins e Maués detém 43,3 % e 25,7%, respectivamente do total de

empreendimentos cadastrados no Baixo Amazonas. Os outros municípios possuem alguns

empreendimentos, mas compõem de modo insignificante a lista de cadastros.

O município de Barreirinha possui 79 empreendimentos cadastrados (usina de

beneficiamento de arroz, olarias, marcenarias e padarias). Seguido de Boa Vista do Ramos

com 75 empreendimentos discriminados como serrarias e padarias. Nhamundá possui 69

empreendimentos. Por fim, o município de São Sebastião do Uatumã é o que possui menor

quantidade de empreendimentos (31).

Os municípios de Parintins e Maués foram os que apresentaram maior quantidade de

empreendimentos cadastrados. Em Maués, 396 empreendimentos estão cadastrados, entre as

quais se destacam a usina de extração de essências de pau-rosa, serrarias, beneficiamento de

guaraná, fábricas de gelo, movelarias, panificadoras e olarias. No município de Parintins,

constam 713, participando deste potencial estão as indústrias da construção civil, esquadrias

metálicas, peças metálicas, gelo, redes e tapetes, beneficiamento de malva, sacos/fios/tela de

juta, beneficiamento de arroz, moinho de café, beneficiamento de pau-rosa, estaleiros,

serrarias, olarias e marcenarias. Urucará possui 176 empreendimentos cadastrados, entre os

quais se destacam, olarias, fabricantes de móveis de madeira, fábricas de gelo, padarias,

vestuários, artigos de viagens e tecidos.

Seguindo a mesma linha de análise, os municípios que possuem um número maior de

empreendimentos são aqueles que oferecem maior número de empregos, como é o caso dos

municípios de Parintins (5.860 pessoas) e Maués com 2.686 pessoas, o menor percentual de

pessoas ocupadas neste setor se dá nos municípios de São Sebastião do Uatumã (257 pessoas)

e Boa Vista do Ramos com 367 pessoas. O número de pessoal assalariado é mais expressivo

em Parintins 5.196 pessoas, representando 88,7% e Maués com 2.407 pessoas, representando

89,6% do pessoal total ocupado. O salário médio mensal varia entre 1,4 a 2,3 salários

mínimos. O salário médio mensal mais elevado é pago pelo município de Barreirinha, com

pelo menos 2,3 salários mínimos mensais, o salário menos expressivo no setor fica em torno

de 1,4 no município de Boa Vista do Ramos (PTDRS, 2010).

As condições limitantes de infraestrutura básica em localidades rurais na Amazônia

ainda constituem, sem dúvida, um dos fatores determinantes para o deslocamento de

populações rurais para os centros urbanos. O abandono das áreas rurais de produção se dá,

sobretudo, em função da ausência de serviços públicos básicos, como educação, saúde,

energia e água tratada. A idéia de encontrar melhores condições de vida na cidade acaba

30

Page 31: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

levando muitas famílias ao ato de mudar e apostar na sorte. Esses fatores se apresentam de

modo recorrente entre as principais causas para a migração nos municípios do estado do

Amazonas, muitas famílias abandonam suas propriedades ou vendem para viver nas periferias

dos centros urbanos e sedes municipais.

E muitas destas famílias que abandonam suas propriedades para viver na cidade, em

função da oportunidade de emprego oferecidos por algumas empresas locais, acabam sem

perspectiva nenhuma, considerando que o tempo de vida destas empresas é sempre reduzido.

A maioria delas, ao sair das comunidades, havia vendido suas pequenas propriedades, outras

estavam instaladas na cidade que oferecia melhor educação para os seus filhos. Pela primeira

vez, muitas dessas famílias se depararam com as insuficiências do “suposto” mercado de

trabalho na cidade. Ainda que os chamados “bicos” e pequenas prestações de serviços

garantam a refeição de cada dia, as antigas perspectivas de melhorias de vida se perderam no

processo de descontrole e desestruturação do sustento de suas famílias.

Setor Terciário

O setor terciário ou dos serviços é o setor que mais cresce no Estado do Amazonas,

embora esse crescimento se dê de forma diferenciada. No caso do território do Baixo

Amazonas percebemos que o setor dos serviços está caracterizado por especificidades locais,

portanto, varia de acordo com a realidade encontrada em cada município. Os municípios de

Maués e Parintins, por exemplo, apresentam, de forma significativa, um crescimento

acelerado neste setor, haja vista o desenvolvimento e a diversidade dos centros comerciais

locais. Contudo, os outros municípios (Boa Vista do Ramos, Barreirinha, Urucará, São

Sebastião do Uatumã e Nhamundá) se distanciam, consideravelmente, de Maués e Parintins

(figuras 14 e 15).

Esta realidade pode ser percebida durante os primeiros contatos com essas cidades,

Parintins e Maués possuem centros comerciais consolidados, possuem lojas e comércios

variados desde: vestuário, calçados, alimentação, mecânica, hotelaria, produtos diversos. Na

verdade, cada vez mais o setor comercial e de serviços apresenta maior diversidade. É

interessante destacar a criatividade do brasileiro na produção de novas fontes de renda,

fazendo do setor informal o que apresenta maior crescimento.

31

Page 32: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 14 – Centro comercial MauésFonte: Pesquisa de campo, 2010.

Figura 15 – Centro comercial ParintinsFonte: Pesquisa de campo, 2010.

Em Maués, o comércio possui estabelecimentos varejistas e atacadistas, os

estabelecimentos mais encontrados no município são lojas de vestimentas, artigos

diversificados, livrarias, vídeo locadora e estabelecimentos de gêneros alimentícios. Parintins

conta com cerca de 1.000 estabelecimentos comerciais, varejista e atacadista dos mais

diversificados produtos, que vão de gêneros alimentícios a materiais de construção.

Em São Sebastião do Uatumã e Urucará, os estabelecimentos comerciais se dividem

em comércio varejista e atacadista. No Território Baixo Amazonas, os municípios contam

com os serviços das administrações municipais e estaduais e com os serviços prestados por

empresa privadas. Em Barreirinha, por exemplo, destacam-se os serviços oferecidos em hotéis

e pensões e estes são responsáveis por 64,5 % do PIB. No município de Boa Vista do Ramos,

os serviços de carpinteiro, costureira, pintor de paredes, mestre de obras, construtor e outros

foram responsáveis por 65,3 % do PIB.

Em Maués, os serviços de hotéis, consultórios médicos, odontológicos, protéticos,

oculistas, contadores, relojoeiros, consertos de carros, motos e barcos, cabeleireiros,

fotógrafos, borracharia, ourivesaria e oficina de refrigeração respondem por 65,1 % do PIB.

Em Nhamundá, destacam-se os serviços oferecidos em pousadas, restaurantes, oficinas

mecânicas, empresas de comunicação, etc., e são responsáveis por 48 % do PIB. A prestação

de serviços no município de Parintins é responsável por 75,4% do PIB municipal e destaca-se

nos ofícios de cabeleireiros, protéticos, borracharias, oficinas de autos e equipamentos

eletrônicos, além de médicos, dentista, contabilistas, hotéis, bares, restaurantes, etc. Parintins

possui cinco agências bancárias: Banco do Amazonas, Banco do Brasil, Banco da Amazônia,

Bradesco e Caixa Econômica Federal.

32

Page 33: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Em São Sebastião do Uatumã, o setor de serviços respondeu por 66,8 % do PIB

municipal, Urucará se destacou pelos serviços de agência bancária, mercado municipal, feira

do produtor, matadouro e foram responsáveis por 57,1% do PIB no município em 2007.

Dimensão Infraestrutural

Saúde

No território do Baixo Amazonas, o sistema público de saúde não atende à

necessidade de toda a população. Os problemas mais comuns relacionados à área da saúde,

relatados durante as oficinas e coleta de dados, são: falta de postos de saúde com

medicamentos; falta de conhecimento dos programas municipais de saúde; falta de transporte

para doentes das comunidades rurais; falta de serviços de referência à saúde da mulher, da

criança, do adolescente e do idoso; grande dificuldade para a realização de exames e

internações; falta capacitação dos moradores das comunidades rurais; insuficiência de

equipamentos de saúde para atender às demandas territoriais; ausência de medicina

preventiva; ineficiência de políticas públicas para meio rural; infra-estrutura deficiente; e alto

custo do profissional médico.

Apesar de todas as deficiências, há postos de saúde, unidades mistas e centros de

saúde que são responsáveis pelo atendimento básico para a população. Em alguns municípios

existem ainda alguns serviços especializados, como Parintins, que se destaca por possuir

clínicas particulares, laboratórios e policlínica, e Maués, que conta com uma clínica

especializada. Barreirinha e Nhamundá possuem o maior número de postos de saúde no

território do Baixo Amazonas (ver quadro 2).

Quadro 2 – Estabelecimentos de saúde

Município Estabelecimentos

de Saúde

Número de leitos

disponíveisBarreirinha 27 31

Boa Vista do Ramos 4 20Maués 23 90

Nhamundá 14 30Parintins 36 140

São Sebastião do Uatumã 5 20Urucará 7 40Total 116 361

Fonte: CNES, 2009

33

Page 34: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Em relação à variação da oferta de leitos por habitante, a disponibilidade é

extremamente baixa. Os leitos não chegam a atender nem a demanda da população urbana.

Nas áreas rurais, a situação é ainda mais precária, pois dificilmente as comunidades possuem

postos de saúde com infra-estrutura de leito e profissionais capacitados.

A incidência da malária é um fator preocupante no território, apesar de que no geral,

os casos da doença têm diminuído gradativamente. Os números que chamam mais atenção são

os do município de São Sebastião do Uatumã.

Abastecimento de água

O abastecimento de água para consumo da população na zona urbana dos municípios é

feito, na maioria das vezes, pela rede geral e seguido por poços artesianos. Na zona rural o

consumo é feito em grande parte do próprio rio, com pequenos tratamentos com hipoclorito

de sódio, fervura e coação. Há alguns poços artesianos, no entanto, a tecnologia de que

dispõem os moradores das comunidades rurais não permite uma perfuração profunda a ponto

de garantir uma água de qualidade.

O abastecimento de água está ligado à qualidade de vida das populações, e como as

cidades interioranas não passaram por uma política de planejamento adequada, muitas sofrem

com o problema do abastecimento, sendo significativo o número de casas que utilizam água

sem tratamento. Quanto à água canalizada, as cidades do Baixo Amazonas com maior

população urbana não chegam a atender 70% dos domicílios com água proveniente da rede

geral.

A partir dos dados é possível traçar uma tendência de que a maior parte da população

rural tem acesso apenas às nascentes e outras formas de abastecimento, como rios e igarapés.

O consumo de água sem tratamento provoca doenças como diarréia, febres, cáries, amebas e

outras parasitoses. Dessa forma, vê-se que o problema do abastecimento está intimamente

ligado ao problema da saúde.

Saneamento

A questão do saneamento no território do Baixo Amazonas é crítica. Todas as cidades

possuem um elevado percentual de domicílios sem coleta de esgoto. A grande maioria das

comunidades rurais não tem banheiros com fossa séptica. Mesma as cidades que coletam

esgoto e distribuem água, em sua maioria, não possuem Estação de Tratamento de Esgoto

(ETE).

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Page 35: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Esses dados de água, saneamento e lixo revelam que o território necessita

urgentemente de elevados investimentos em saneamento básico. São muitos os problemas

causados por essa deficiência, como por exemplo, a suscetibilidade da população às doenças

infecciosas e parasitárias. Na zona rural a realidade é ainda mais alarmante, pois as

comunidades não possuem tratamento de água, esgoto ou lixo, os dejetos são jogados no rio e

os sanitários, como dito anteriormente, não possuem fossa séptica, sendo usadas as chamadas

fossas negras, uma casinha de madeira, coberta ou não, com piso e um buraco no chão

(quadro 3).

Quadro 3 – Saneamento básico

Município Rede

geral

ou

esgoto

pluvial

Fossa

séptica

Fossa

rudimentar

Vala Rio ou

lago

Outro

escoadouro

Sem

instalação

sanitária

Barreirinha 0,1 2,9 43,6 45,2 0,4 0,1 7,7Boa Vista

do Ramos

0,2 4,2 89,9 3,1 0,0 0,1 2,5

Maués 0,2 18,8 59,2 12,6 0,4 0,1 8,8Nhamundá 0 12,0 79,4 1,8 0,1 0,1 6,6Parintins 1,1 23,9 65,2 5,3 0,9 0,1 3,5

S.

Sebastião

do Uatumã

0 15,3 54,7 26,7 0,1 0 3,2

Urucará 0,4 18,3 48,2 29,0 0,1 0,1 3,9Fonte: IBGE, Censo Demográfico (2000)

Educação

Para uma visão geral do quadro educacional da rede pública de ensino no Território do

Baixo Amazonas, destaca-se, em larga escala, o número de estudantes de nível fundamental,

um total de 60.375. O ensino médio vem em segundo lugar, com 12.236 estudantes e o ensino

infantil possui 11.184 estudantes no total (quadro 4).

Quadro 4 – Educação no Baixo Amazonas

Municípios Infantil Fundamental MédioBarreirinha 1.922 7.585 1.460

Boa Vista do 832 3.745 772

35

Page 36: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

RamosMaués 1.992 14.951 2.163

Nhamundá 797 4.502 855Parintins 4.606 24.179 5.566

S. Sebastião do

Uatumã

576 1.911 423

Urucará 459 3.502 997Total 11.184 60.375 12.236

Fonte: IBGE, 2008

Na maioria dos casos, as escolas ficam localizadas nas áreas mais povoadas. Nas

comunidades mais longínquas é oferecido ensino até a quarta série do Ensino fundamental, o

que faz com que muitos alunos migrem para as sedes dos municípios, onde a oferta de

educação é maior. Com relação às instalações, grande parte das escolas apresenta problemas

de estrutura e funcionamento do prédio. Nos casos dos professores, não existe oferta de

capacitação nem alojamento; o material didático é insuficiente para o número de alunos e

aqueles que moram em localidades mais distantes são penalizados por falta de condução.

O ensino superior no território tem sido incentivado por parte do Governo Federal e

Estadual, sendo a UEA (Universidade Estadual do Amazonas) um desses investimentos,

apresentando um total de 2.760 alunos matriculados, com representação nos sete municípios.

A UFAM (Universidade Federal do Amazonas) conta com 449 alunos inscritos, sendo 299 no

Campus Avançado de Parintins e 150 em Maués. Alem disso, também há de se destacar a

inserção de novas unidades de ensino do IFAM (instituto Federal do Amazonas, que em 2010

abriu 240 vagas para cursos técnicos. Apesar dos investimentos, o avanço acadêmico ainda é

escasso, evidenciando-se apenas nos municípios de Maués e Parintins.

Quadro 5 – Educação/Ensino Superior

Município Estadual

(UEA)

Federal

(UFAM)

Federal

(IFAM)

Total por

municípioBarreirinha 0 0 0 141

Boa Vista do

Ramos

36 0 0 36

Maués 584 150 120 854Nhamundá 87 0 0 87Parintins 1.790 299 120 2.209

S. Sebastião do

Uatumã

82 0 0 82

Urucará 40 0 0 4036

Page 37: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Total por

instituição

2.760 449 240

Fonte: IBGE/ UFAM/ IFAM/ UEA – 2010

Os índices de alfabetização, extraídos do IBGE (2008), indicam que, no Baixo

Amazonas, as cidades são as que possuem o maior índice de pessoas alfabetizadas, enquanto

que a zona rural apresenta os menores valores. Analisando a questão do analfabetismo,

observa-se que na população de 15 anos ou mais, os municípios com os maiores índices são

Barreirinha (17,3%), Nhamundá (15,5%) e Maués (15,4%).

Dessa forma, os problemas mais comuns relacionados a educação no Território do

Baixo Amazonas são: falta de formação direcionada para a educação no campo, apesar das

tentativas de implantação das Escolas Família Rurais, nos municípios de Parintins e Boa Vista

do Ramos; precária formação dos profissionais; infra-estrutura deficiente; falta de moradia

adequada para os professores nas comunidades; pouca valorização dos profissionais da

educação.

Segurança Pública

Dentre os vários problemas ligados à segurança pública no Baixo Amazonas,

destacam-se a dificuldade de deslocamento das forças da Polícia Civil e Militar, a precária

manutenção das instalações e a ausência de recursos tecnológicos adequados. Além disso, é

necessária uma política de valorização e qualificação de policiais civis e militares, juntamente

com a implantação de sistemas de informação e comunicação para uma eficiência na

segurança pública. A precariedade dos recursos para a segurança pública é muito intensa,

apesar da demanda de recursos humanos e estruturas físicas serem bem menor no interior do

estado.

A presença do conselho tutelar é assídua no território. As delegacias específicas como

delegacia da criança e do adolescente, delegacia da mulher, são inexistentes em quase todos

os municípios, com exceção de Parintins.

É importante ressaltar ainda que, no interior do estado do Amazonas, os recursos para

segurança são limitados. Não há investimentos em tecnologias, como também não há

investimentos em capacitação humana.

Transporte

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Page 38: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Como na maioria dos municípios da zona rural do estado do Amazonas, a principal via

de acesso é a fluvial, seguida da aérea. O transporte terrestre é mais propício para a

locomoção dentro das sedes dos municípios.

O transporte fluvial expressa grande importância para o Território, é bastante utilizado

tanto para o transporte de cargas, quanto para a locomoção de passageiros. Esse tipo de

transporte está presente em todo local, tendo percursos que chegam ao Território desde

Manaus, através de barcos regionais. Os moradores das comunidades também costumam se

locomover com recursos próprios, em pequenas embarcações.

Nos municípios existem, principalmente nas periferias das sedes, algumas estradas que

os ligam às comunidades. Os municípios de Parintins e Maués se destacam por possuir um

número extenso de motocicletas. Em Parintins, para uma população de 107.249 pessoas,

existem 4.420 motocicletas e um total de 8.347 veículos motorizados. O município de Boa

Vista do Ramos é que tem o menor número de veículos, para uma população de 13.994,

existem apenas 60 veículos.

No Baixo Amazonas, somente Maués e Parintins possuem aeroportos autorizados pela

ANAC. As estruturas conservam boa qualidade, possuindo desde terminal de passageiros ao

parque de estacionamento. Nos demais municípios a estrutura se limita a pistas de pouso.

Energia

Os municípios do Território do Baixo Amazonas são atendidos com a presença de

unidades geradoras da Amazonas Energia. O abastecimento é feito principalmente na sede dos

municípios. Muitas comunidades, apesar do avanço do Programa Luz para Todos, do governo

federal, ainda proporcionam seu próprio consumo de energia através de motores a diesel.

O fornecimento de energia no campo tomou grande impulso com o Programa Luz para

Todos, que tem como meta a universalização da energia nos domicílios rurais. No entanto, o

atendimento à demanda das comunidades rurais ainda está muito aquém do desejado,

observando-se inclusive um aumento na demanda dessa região.

Comunicação

As empresas Telemar Norte Leste S.A e a EMBRATEL são as concessionárias

responsáveis pelos serviços de telefonia fixa no Amazonas. Ao todo são 442.962 telefones

instalados, sendo 18.543 destes telefones de uso público.

38

Page 39: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

A telefonia móvel do Baixo Amazonas é operacionalizada pela OI, VIVO e TIM. As

três operadoras atuam com freqüência em Maués e Parintins, ficando os outros municípios

apenas com a cobertura da prestadora VIVO.

Todos os municípios possuem, no mínimo, uma agência dos correios que, além dos

serviços de postagem convencionais, possui o banco postal, que abre e movimenta contas do

Bradesco. Como meio de informação, circulam no Território vários jornais impressos, como

também jornais editados em Manaus, como A Crítica, Em Tempo, Diário e outros. Há ainda o

serviço de internet na sede dos municípios e o acesso somente a rede de TV Globo. As rádios

AM e FM são os mais populares meios de informação e comunicação, existindo em cada

município uma radio que difunde as noticias em nível local, territorial e estadual.

As comunidades rurais, sejam elas distantes ou próximas dos centros urbanos, são

prejudicadas com o isolamento e falta de estrutura de comunicação, sobretudo para atender as

atividades de emergência para atendimento médico ou outras atividades de comunicação. É

necessário fornecer essa estrutura, assim como promover a inclusão digital dessas populações.

Dimensão Cultural

De modo sintético, baseando-se na “fábula das três raças”, de Roberto Da Matta, a

cultura amazonense constitui-se da interpenetração das matrizes portuguesa, africana e

indígena. Com isso queremos apenas delimitar um ponto de origem para contar a formação do

moderno Estado brasileiro. Ainda que a “fábula das três raças” encubra os conflitos raciais e

sociais existentes no Brasil, ao mesmo tempo faz com que todos se reconheçam como

nacionais (apud ORTIZ, Renato. 1985). Mas essa questão não vem ao caso no momento. O

que propomos nesta parte do relatório é caracterizar sucintamente a dimensão cultural do

território do Baixo Amazonas. Logo, não podemos abordar a questão cultural sem antes

contextualizar o território com a própria formação cultural do nosso país. E essa formação se

dá justamente pela fusão desses três povos que mais influenciaram as festas populares -

religiosas ou profanas - Brasil a fora.

Em cada município ou comunidade visitada pudemos notar a forte influência da

religião católica através das festas de devoção aos santos padroeiros dos lugares. As festas de

santo são em maior número. Mas as festas relacionadas aos principais produtos agrícolas

comercializados pelos municípios não ficam atrás nos registros. Muitas festas pelo interior do

Amazonas coincidem com o plantio de legumes, tubérculos, frutas, cereais ou até mesmo com

a pesca. Esses dois tipos de festividades – calendário religioso e calendário agrícola- são as

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Page 40: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

mais populares, atraindo grande número de visitantes aos municípios. Disse uma vez Mário

Ypiranga Monteiro (1983) sobre as festas profano-religiosas no Amazonas: “(...) essas

concentrações festivas favorecem no interior do Estado a expansão do pequeno comércio de

troca nos flutuantes (...). São festas de enorme atração social (...).”

Barreirinha

A população total está em 27.361 habitantes (IBGE, 2010) distribuídos na cidade,

comunidades, vilas e distritos, não contando o número de indígenas, ou seja, as etnias sateré-

mawé e Hyxkaryana. Os principais eventos e festas no município são: Exposição

Agropecuária de Barreirinha – EXPOBAE (janeiro/fevereiro), Aniversário da cidade (09 de

junho), Festival Folclórico (junho), Festa do Milho (julho), Festa da Bacaba (julho), Festa da

Padroeira Nossa Senhora do Bom Socorro (15 de agosto), Festa do Caju (setembro/outubro) e

Festa do Marujo (dezembro).

Boa Vista do Ramos

O rio principal do município é o Paraná do Ramos. Possui diversas festas como a

Festa de São Sebastião (janeiro), Festival da Canção Cristã (janeiro), Festas de Santo Antonio,

de São João, de São Pedro (junho), Festa de Nossa Senhora Aparecida (02 a 12 de outubro).

Porém o evento que mais é popular nesta região é o Festival Folclórico no último fim de

semana de junho e a festa do Padroeiro do município, São Pedro (29 de junho). Destaca-se

também a Feira Agropecuária no mês de setembro.

Maués

Maués localiza-se à margem direita do rio Maués-Açú e fica a 356 km de Manaus por

via fluvial e 268 km em linha reta. Seus principais festejos são a festa da padroeira da cidade,

Festa de São Sebastião (em janeiro), Nossa Senhora da Conceição (em 08 de dezembro),

Festival Folclórico da Ilha de Vera Cruz de (11 a 13 de julho), Festa do Divino Espírito Santo

(de 31 de maio a 08 de junho), Aniversário de Maués (dias 24 e 25 de junho), a tradicional

Festa do Guaraná (novembro), que celebra a maior produção de guaraná no estado do

Amazonas e o Festival de Verão de Maués (setembro).

Nhamundá

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Page 41: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

O rio Nhamundá, que banha as terras do município a quem empresta o nome, é o

celebre rio em cuja foz, em 1541, deu-se o tão propalado encontro de Francisco Orellana e seu

pessoal com as mulheres guerreiras, a quem o espanhol denominou “Amazonas”. Essas

guerreiras eram conhecidas pelos seus irmãos silvícolas, pela denominação de “Icamiabas”,

que significa “Mulheres sem Marido”. Habitavam primitivamente a região os índios: Uabois

ou Jamundás, Cuniris, Guncari. Em 19.12.1955, pela Lei Estadual nº 96, o distrito de Ilha das

Cotias é desmembrado de Parintins e passa a constituir o município Autônomo de Nhamundá,

com sede na vila de Afonso de Carvalho. Em 31/01/1956, instala-se o novo município,

nomeado pelo Governador do Estado, o sr. Pedro Macedo de Albuquerque. Faz limites com

os municípios de Parintins e Urucará no Amazonas, com o estado de Roraima e o estado do

Pará.

Suas principais datas festivas são o aniversário da cidade (em 31 de janeiro), Festa de

Santo Antônio, que é o padroeiro da cidade (de 08 a 13 de junho), Festival de Verão (25 a 27

de julho), Festa de Nossa Senhora da Assunção (08 a 17 de agosto) e Festa da Pesca ao

Tucunaré (26 a 28 de setembro).

Parintins

O município de Parintins está localizado à margem direita do rio Amazonas, na Ilha

Tupinambarana, mesorregião do Centro Amazonense, limitando-se com os municípios de

Barreirinha, Urucurituba, Nhamundá e ao leste com o Estado do Pará. O município possui

uma extensão territorial de 5,952km² para 107.250 habitantes, configurando-se como a

segunda maior cidade do Estado do Amazonas. Além disso, Parintins é conhecida

internacionalmente por seu patrimônio cultural e folclórico. Todos os anos a cidade de

Parintins é palco para uma das maiores manifestações culturais da região norte, o Festival

Folclórico de Parintins. Realizado nos últimos dias do mês de junho, o Festival Folclórico de

Parintins conta com o desfile e a apresentação dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso.

Mas Parintins conta com outras festas também muito populares, como o Dia de Reis,

no dia 06 de janeiro. Ao som das pastorinhas, uma festa que lembra o reisado nordestino,

Parintins revive o nascimento do menino Jesus. Coloridos presépios e figuras como Pastor,

Rainha das Flores, Campina, Samaritana, Galego, Castanholas, Cigana e outros, dão um

significado único à festa que sai às ruas da cidade, entoando melodias ao som de cavaquinhos,

banjos, violões e violinos. A festa tem seu encerramento com a tradicional queima das

palhinhas do presépio. Logo em seguida temos o Carnailha, nos dias 08, 09 e 10 de fevereiro.

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Page 42: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

O Carnailha é o carnaval de rua de Parintins, onde se mistura os ingredientes de dois

carnavais famosos: Rio de Janeiro e Bahia. A folia ganha mais animação com a irreverência

dos blocos da chave “B”, que se apresentam no domingo. Na segunda, os Blocos da Chave

“A” e na terça-feira a Chave “Especial”, com carros alegóricos, alas e tururis (abadás) que dão

um colorido especial na Avenida. A Avenida Paraíba torna-se Avenida do Samba com

Arquibancadas, frisas, camarotes e cadeiras especiais são montados, oferecendo maior

conforto e segurança aos visitantes.

No dia 25 de março acontece a encenação da Paixão de Cristo, um espetáculo ao vivo,

com mais de 40 mil espectadores que assistem emocionados a história de Jesus de Nazaré.

Nos dias 24 e 25 de junho ocorre a Feira do Artesanato - exposição de peças

confeccionadas com madeira, palha, juta cipó, sementes, penas e tecidos.

Uma das mais tradicionais festas da cidade é a Festa da Padroeira de Parintins, Nossa

Senhora do Carmo (06 a 16 de julho): estima-se que cerca de 35 mil acompanhem a maior

festa religiosa do interior do Amazonas. Durante os dias de festa acontece o arraial, com

barraquinhas de comidas e jogos e atrações regionais em palco montado na Praça da Matriz.

Temos também o Aniversário da Cidade no dia 15 de outubro, a Feira Agropecuária

EXPOPIN em novembro e o Festival das Pastorinhas no período de 21 a 23 de dezembro.

Parintins ainda conta com outros eventos que fazem parte do calendário agrícola, como a

Pesca Esportiva no dia 21 de agosto, onde são promovidas competições aquáticas e concurso

para a escolha do maior peixe do lago; Festival do Beijú na Agrovila de Mocambo, no mês de

setembro e o Festival de Pesca do Peixe Liso em agosto na comunidade do Paraná do Espírito

Santo.

São Sebastião do Uatumã

O município de São Sebastião do Uatumã tem suas origens junto à história de outro

município, Urucará. Santana da Capela foi criada em 1814 como uma povoação, por Crispim

Lobo de Macedo. Em 1880 foi criada a freguesia, com sede em Santana da Capela que

polariza o desenvolvimento dessa região ribeirinha do rio Amazonas. Em 1887 foi criado na

área da freguesia o município de Urucará, que em 1930 foi extinto e teve seu território

anexado a Itacoatiara, para ser definitivamente restabelecido em 1935. Em fins de 1981,

constavam da estrutura administrativa de Urucará os seguintes subdistritos: Urucará, Santa

Maria, Capucapu, Alto Uatumã e São Sebastião e territórios adjacentes da margem esquerda

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Page 43: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

do rio Uatumã são desmembrados de Urucará e passam a constituir o município Autônomo de

São Sebastião do Uatumã.

O calendário cultural do município inclui a festa do seu padroeiro, festa de São

Sebastião (10 a 20 de janeiro), festa do Carnaval (fevereiro), festa de Santa Maria (01 a 13 de

maio), Festa da Santíssima Trindade (16 a 22 de maio), Festa do Sagrado Coração de Jesus

(01 a 03 de junho), Festa de São João na área rural (24 a 26 de junho), Festa de Nossa

Senhora de Santana (28 a 30 de julho), Festa de São Francisco e Festa do Tucunaré (ambas

em outubro), Desfile da Garota Uatumaense (27 de outubro), Festa de Santa Luzia (12 e 13 de

dezembro) e Festa de Aniversário da Cidade (08 de dezembro).

Urucará

Urucará está localizada na 9ª sub-região – (Baixo Amazonas), com 27.903 km de

extensão territorial, para uma população de 17.019 habitantes composto por área rural e

urbana, o município comporta um total de 37 comunidades, com uma distância de 270 km em

linha reta de Manaus e 281 km por via fluvial, possuindo os seguintes limites: Nhamundá,

Urucurituba, Itapiranga, São Sebastião do Uatumã, Presidente Figueiredo e o Estado de

Roraima. Os seus rios principais são: Amazonas e Jatapú.

O município de Urucará possui diversas festas como a Festa de São Jorge (fevereiro),

de São José (março), Festa do Divino Espírito Santo (maio), São Pedro (junho), Festa de

Sant’ana (16 a 26 de julho), Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro), Festa de Santa Luzia

(dezembro). Porém o evento que mais é popular e festivo nesta região é o aniversário da

cidade que acontece no dia 12 de maio.

Dimensão político-institucional

Barreirinha

O Município de Barreirinha possui como autoridade o prefeito Mecias Pereira Batista,

exerce a profissão de agricultor e como vice-prefeito José Mário Trindade Carneiro e o

partido de ambos é o PMN (Partido da Mobilização Nacional). Outro membro importante é o

presidente da Câmara Municipal de Barreirinha, Carlos Marcio Tavares.

Apesar de não termos conseguido informações a respeito dos secretários municipais,

conseguimos recolher quais são as secretarias que estão em andamento. Ao todo são oito:

Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS); de Abastecimento (SEMAB); de

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Page 44: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Educação (SEMED); de Administração (SEMAD); de Finanças (SEMEF); de Obras

(SEMUSP); de Saúde (SEMSA); de Esporte e Lazer (SEMEL).

Os projetos que já foram desenvolvidos em Barreirinha consistem na Usina de

Beneficiamento de Arroz; Matadouro Municipal Álvaro de Silva Maia; Fábrica de Derivados

do Leite e Centro de Inclusão Digital. Vale expor que não estão funcionando.

Boa Vista do Ramos

O prefeito que ganhou as últimas eleições responde pelo nome de Elmir Lima Mota,

empresário, tem como vice-prefeito Glauciomar Correa Pimentel e são filiados ao PSC

(Partido Social Cristão). O presidente da Câmara Municipal de Boa Vista do Ramos é Marlon

Trindade Teixeira.

Em Boa Vista do Ramos encontramos dez secretarias em funcionamento: Secretaria

Municipal de Administração e Planejamento, tendo como secretário Dilmar Erich Franke;

Secretaria Executiva de Governo, Pedro Lopes; de Ação Social, Maria Madalena de Matos

Dias; de Finanças, Antonio Viana; de Educação e Cultura, Marlon Teixeira Trindade; de

Juventude e Desporto, Laureny Antonio Nascimento da Silva; de Desenvolvimento Rural,

Dilmar Erich Franke; de Meio Ambiente, Miriam Dias Ferreira; de Saúde, Regina Célia

Chaves do Carmo; de Infra-Estrutura, Paulo Jhander A. Rodrigues.

Maués

O Município de Maués é dirigido pelo prefeito Odivaldo Miguel de Oliveira Paiva e

como vice-prefeito tem Deny Dorzane Martins, ambos do PR (Partido da República). O

presidente da Câmara Municipal de Maués é Raimundo Rodrigues Souza.

O município possui três autarquias: Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Maués,

dirigida por Rosalvo Soares Filho; Banco do Povo, gerenciada por Estevão Antunes e o

Instituto de Terras de Maués, gerenciada por Ariosto Menezes.

A Secretaria Municipal de Assistência Social é dirigida por Deny Dorzane Martins e

tem como órgãos vinculados o Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente;

Conselho Tutelar e Conselho Municipal da Assistência Social.

A Secretaria de Governo possui uma secretária de governo que é Andréa dos Santos

Nascimento e uma secretária executiva Chrystianne Sales Teixeira. O Departamento

Municipal de Trânsito, a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil, a Coordenadoria de

Proteção e Defesa do Consumidor e a Junta Militar são órgãos vinculados a esta secretaria.

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Page 45: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Na parte da educação temos como secretário João Libânio Cavalcante e dois

secretários executivos: Iêda Bentes de Almeida e Maria do Carmo Sales Coelho. Os órgãos

conectados consistem no Centro de Informática Prof. Lúcia Góes, Escola de Música Luiz

Otávio Dinelly e Pólo de Apoio Presencial da Universidade Aberta do Brasil.

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Meio Ambiente tem como secretário

Reynaldo Miranda de Castro e como secretária executiva Shirley Antunes. O Instituto de

Terra do Município de Maués e Conselho Municipal de Desenvolvimento e Meio Ambiente

está acoplado a esta secretaria.

O secretário Jackson Monteiro Martins e o secretário executivo Manoel Rodrigues

Filho são os responsáveis pela Secretaria Municipal de Administração e Planejamento. E o

Sistema de Previdência Própria Municipal está ligada à instituição. A Secretaria Municipal de

Saúde possui o secretário Ildnav Mangueira Trajano e trabalha com os seguintes órgãos:

Conselho Municipal de Saúde, Unidade Mista de Maués e Conselho Municipal de Combate as

Drogas.

Maués também tem a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, dirigida por Ademar

Gruber; de Finanças, Audízia Lobo; da Juventude e Lazer, Marcos Antonio Coelho; de Obras,

José Bruno Simões; de Fomento, Produção e Abastecimento, Luiz Antonio Nascimento.

Nhamundá

O prefeito de Nhamundá é Mário Jose Chagas Paulain e o vice-prefeiro Izaias Gomes

Rossy. O partido é o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro). O presidente da

Câmara Municipal é Cleudo de Oliveira Tavares.

Os vereadores que mais se destacam são os chamados Sebastião Machado e Jucelino

Furtado.

Parintins

A prefeitura de Parintins é regida por Frank Luiz da Cunha Garcia e seu vice-prefeito

Messias Wilson de Medeiros, ambos filiados ao PSDB (Partido da Social Democrata

Brasileira). A Câmara Municipal tem como presidente Juscelino Melo Manso.

O município conta com oito secretarias, sendo elas: de Juventude e Cultura; do Meio

Ambiente; de Saúde, de Educação; de Obras; de Administração e Finanças; de Cultura e

Turismo; de Assistência Social e Trabalhista.

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Page 46: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

São Sebastião do Uatumã

Carlos da Silva Amora e Fernando Washington são o prefeito e vice-prefeito do

município de São Sebastião do Uatumã, respectivamente. Ambos são filiados ao PMDB

(Partido do Movimento Democrático Brasileiro). O presidente da Câmara Municipal é

Guimaro Monteiro de Miranda.

Urucará

O economista Fernando Falabella é o prefeito da cidade de Urucará e o vice-prefeito é

Marcos Antonio Magalhães de Carvalho. Filiados ao PMDB (Partido do Movimento

Democrático Brasileiro). O presidente da Câmara Municipal é Evandro Guimarães da Cunha.

3.2. Identidade Territorial

As entrevistas realizadas para coleta de informações do indicador Social de Identidade

Territorial foram realizadas com todos os membros do do Baixo Amazonas. As entrevistas

foram realizadas em três excursões ao campo de pesquisa: a primeira excursão compreendeu

os municípios de Parintins, Barreirinha, Boa Vista do Ramos e Maués; a segunda excursão

compreendeu os municípios de São Sebastião do Uatumã e Urucará e a terceira excursão

compreendeu os municípios de Parintins e Nhamundá. No quadro 6 está especificada a lista

de entrevistados:

Quadro 6 – Lista dos entrevistados

BARREIRINHANome EntidadeJozivan dos Santos Souza Câmara Municipal Francisco dos Reis Andrade Sindicato dos Trabalhadores Rurais Azenilton Gomes Conceição Secretaria Municipal de EducaçãoDomingos Sávio Santos Dutra Colônia dos Pescadores Z-45Edson Carlos Viana Federação das Organizações Quilombolas José Edvan de Souza Machado Secretaria Municipal de ProduçãoAnderson Barros Serrão IDAMJoão Paulo Brandão Beltrão Associação ComercialMarcos Antônio Araújo Secretaria Municipal de Meio AmbientePaulo Afonso Cruz Belém Associação de Pequenos CriadoresNHAMUNDÁAntônio Duque de Souza Secretaria Municipal de EducaçãoFrancinete Guerreiro Costa Secretaria de Assistência SocialDina Maria Costa e Costa Associação de MulheresDickson Rodrigues Jacaúna Câmara MunicipalEnéas Cardoso Gonçalves Secretaria de Produção

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Page 47: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Moysés Augusto dos Santos Serrão Colônia dos PescadoresAdarlene Gomes Reis Sindicato dos TrabalhadoresJoão Batista Nogueira Cooperativa de FrutasRaimundo Oscar IDAMURUCARÁMariza Onete Pimentel Colônia de Pescadores Z-28Francisco Tavares Pinto Secretaria de Meio AmbienteDarsone Maria Zuane Gomes Secretaria de Educação e CulturaHonorato Bulcão de Matos Associação de Produtores RuraisPedro Manoel Braga Paes IDAMMatheus Garcia Paes Secretaria de ProduçãoJosé Alfredo Maia Pontes Sindicato dos TrabalhadoresOdiélio Nascimento dos Santos Fabrísio Albertine dos Santos Andrade Osmaison da Costa Gonsalves Associação dos Pequenos ProdutoresSÃO SEBASTIÃO DO UATUMÃRegina Lúcia Lima Moraes Associação dos CostureirosRaimundo Colares Chaves Câmara MunicipalCarlos Amora Prefeitura MunicipalClaudete da Cruz Lourenço Secretaria de EducaçãoCelso Melo da Silva IDAMMaria do Rosário Cabral Vieira Associação de Trabalhadores RuraisOrlando da Cunha Oliveira ConstróiElienai Barreto da Silva Colônia dos Pescadores Z-28João Chaves Furtado Sindicato dos TrabalhadoresAdriana Cristina Ferreira Pereira Secretaria de Assistência SocialBOA VISTA DO RAMOSVanesse Socorro Martins de Mato Secretaria de Meio AmbienteJair Rodrigues Arruda Cooperativa de Criadores de AbelhasAdalberto Nascimento Pinheiro Associação da Casa Familiar RuralFeliciana da Silva Barros Secretaria de EducaçãoGlaucenilda Pereira de Menezes Sindicato dos TrabalhadoresLuiz Cantalixto de Melo Secretaria de SaúdeIsaac de Oliveira Lima Colônia dos PescadoresAlexandre Lobo Pinheiro Vaz IDAMRaimundo da Silva Costa Cooperativa Mista AgropecuáriaMAUÉSLuiz Antônio Nascimento Secretaria de ProduçãoViviane dos Santos Oliveira Secretaria de Desenvolvimento e Meio AmbienteEliaque Alegria de Lima Sindicato dos TrabalhadoresEdy Carlos Cardoso dos Santos Associação dos Técnicos AgrícolasEulálio Macedo IFAMJoão Abraim da Silva Cooperativa AgropecuáriaMiguel Gonçalves Secretaria de ProduçãoMaria da Silva Batista Consórcio dos Produtores Sateré MawéRaimundo Mendes Leal Filho IDAMPARINTINSEdnaldo Oliveira da Silva Sindicato dos Trabalhadores RuraisJosé de Oliveira Ramos Centro Estadual de Unidade ConservaçãoAnselmo Ferreira Garcia Conselho Geral das Tribos Sateré-MawéTiago Viana UFAMAntônio Pereira Soares CEDARPLucivaldo Ribeiro Pereira Secretaria de Produção e Abastecimento

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Page 48: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Marcia de Souza Costa Sindicato dos PescadoresKlinger Reis Oliveira Cooperativa dos Técnicos em AgropecuáriaJoel Bentes Araújo Filho IBAMAJossinéias Cunha Farias Câmara MunicipalFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

A construção de uma perspectiva política e administrativa baseada no uso potencial da

noção de território perpassa pela utilização de aspectos que estão fundamentados na

abrangente definição de identidade. Falar de identidade requer alguns cuidados fundamentais,

sobretudo, quando pretendemos estabelecer limites no processo de definição de algo tão

diversificado e ambíguo. A partir deste cenário de produção e reprodução do conhecimento,

buscaremos apresentar algumas reflexões acerca da realidade encontrada em cada um dos

municípios que compõem o território do Baixo Amazonas, trata-se de elaborar uma

perspectiva inicial de compreensão da realidade encontrada a partir da identificação de

aspectos característicos do território, fundamentais para a noção de identidade territorial aqui

desenvolvida.

Buscaremos entender a noção de território a partir das contribuições de Rogério

Haesbaert. O autor afirma que o espaço não forma, necessariamente, a identidade, em outras

palavras não basta uma delimitação geográfica para a formação da identidade de um

determinado grupo. A identidade é formada a partir de forças políticas e simbólicas que se

produzem e reproduzem em uma determinada territorialidade. Só podemos perceber a ideia de

identidade a partir da concepção de espaço produzido, de territorialização como um processo

de reprodução social.

Por essa razão, alguns teóricos contemporâneos afirmam a existência de um processo

de desterritorialização, dito de outro modo, o fim dos territórios com a crescente globalização

do mundo. Para Haesbaert mais que perda dos territórios o que podemos perceber e discutir é

a formação de processo de (re)territorialização, onde são construídos territórios múltiplos e

complexos. Estamos diante de multiterritorialidades.

Os territórios surgem com duplas conotações – material e simbólica – tanto quanto

espaços de apropriação como espaços de dominação. Um espaço se faz território a partir de

processos de apropriação e dominação. Por essa razão, os territórios devem ser entendidos

como múltiplo em suas manifestações, relações e organizações. Mas o território não está

vinculado apenas a sua esfera político-administrativa, envolve relações simbólicas, culturais e

econômicas, envolve o modo como as pessoas fazem uso do seu espaço e dão significado ao

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Page 49: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

lugar (HAESBAERT, 2004). De acordo com Haesbaert são objetivos da territorialização,

figura 16:

Figura 16 – Objetivos da territorialização Fonte: Haesbaert, 2004.

Nesse caso, estamos falando de territorializações efetivamente múltiplas, pois

envolvem multiterritorialidades construídas pelos grupos locais em conexão com outros

territórios e grupos, de forma multifuncional e multi-identitária. Levando em consideração a

definição de território adotada por Haesbaert podemos entender o território como um espaço

caracterizado por multiterritorialidades, múltiplas dimensões e múltiplas funções. Devemos

compreender o território dentro uma perspectiva político-cultural, destacando não apenas

aspectos políticos, mas aspectos simbólicos e culturais.

Trata-se de evidenciar elementos socioculturais, relacionados às questões regionais

que historicamente foram construídas e associadas às identidades territoriais. Como é o caso

do processo de territorialização buscar redefinir o papel que a agricultura familiar teria nesse

processo de identificação. Tal como foi identificado na pesquisa pelos próprios membros do

CODETER (quadro 7):

Quadro 7 – Definição da identidade territorial

O que define a identidade territorial?

GRUPO 1A agricultura familiar define a identidade territorial, pois muitos da agricultura familiar não estão ligados só na terra, pois os ribeirinhos plantam mandioca, hortaliças e pescam, caçam, criam gado. Processo histórico da redistribuição do espaço físico e geográfico. Aspecto geográfico da rede fluvial que naturalmente mobilizou o fluxo

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Page 50: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

GRUPO 2 para a Ilha Tupinabarana, transformando-a em centro micro-regional. Econômico – extrativismo (pesca e agricultura). Características humanas do território – caboclos e indígenas. Questão ambiental – recursos naturais – abundante e ameaçado.

GRUPO 3

É uma organização que visa o bem comum para os municípios que participam geograficamente do Baixo Amazonas. Nesse sentido, engloba-se economicamente a agricultura familiar que pode ser ressaltada como forte fator de sobrevivência dessa região. Representam-se de forma positiva, pois sabe-se que muitos projetos estão voltados para uma área. No entanto, é importante fortificar a agricultura familiar por meio de mais recursos para os municípios envolvidos.

GRUPO 4 1) Agricultura Familiar (mandioca, mel de abelhas nativas, guaraná, etc.);1) Instituições que compõe o Territorial com objetivos comuns; A Cultura Territorial; Divisão geográfica; Recursos Ambientais (madeira, água, extrativismo, minério); Municípios com mesmos problemas/gargalos parecidos; Recursos Pesqueiros; Meio de Transporte (fluvial); Baixa renda dos Agricultores familiares; Métodos primitivos na produção; Falta de conhecimentos técnicos mais evoluídos; Falta de Plano Diretor nos Municípios (na maioria são Planos de governo); Falta de profissionais capacitados para o desenvolvimento dos Municípios: Engenheiro de Pesca, Agrônomo, Veterinário, Engenheiro Florestal, etc.

GRUPO 5 Agricultura familiar, envolvendo todas as suas atividades (pesca artesanal, extrativismo e as questões ambientais). A agricultura familiar nos municípios que compõem o Baixo Amazonas tem em comum questões culturais e socioeconômicas.

Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

Entendendo o território do Baixo Amazonas a partir desta perspectiva múltipla e

complexa buscaremos destacar alguns aspectos importantes para a caracterização deste

território, tomando como referência a noção de identidade territorial trabalhada pela

Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT. Para a SDT a construção dos territórios da

identidade constitui o eixo estratégico do programa governamental, nesse momento, cabe a

construção de estruturas territoriais e a sua delimitação pelos atores sociais envolvidos

(quadro 7).

Não podemos esquecer que os critérios para a definição e delimitação dos territórios

foram formados por duas fases: regionalização e universo de atuação. A fase da

regionalização envolve a construção de espaços de ação da SDT, tomando como referência a

microrregionalização do Brasil. A fase da definição do universo de atuação envolve

hierarquização, seleção de microrregiões, territorialização, regionalização, tipologias,

indicadores e programas. O processo de reconhecimento das identidades territoriais é

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Page 51: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

gradativo, pois envolve outros aspectos como delimitação e regionalização, contudo, podemos

elencar alguns aspectos considerados importantes na definição dos limites do território rural

do Baixo Amazonas:

Figura 17 – Definição dos limites do Baixo AmazonasFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Com relação à definição dos limites do território foram destacados alguns aspectos

considerados importantes para a definição do que seria o território do Baixo Amazonas (figura

17). Apesar da definição envolver aspectos genéricos de classificação, cabe ressaltar o

destaque dado a agricultura familiar como um aspecto fundamental para definição do

território. A agricultura familiar constitui o aspecto definidor do território, seguido das

comunidades tradicionais e dos recursos naturais. O resultado indica a forte presença dos

segmentos da sociedade civil no processo de definição do território do Baixo Amazonas.

Seguindo a mesma perspectiva analítica, destacamos as características marcantes do território,

nesse caso, a agricultura familiar e os recursos naturais (figura 18).

A indicação da gricultura familiar como aspecto definidor da identidade territorial

marca a forte presença deste grupo social na região, sendo responsável pelo processo de

territorialização do Estado. Contudo, o reconhecimento da agricultura familiar como elemento

central para o processo de desenvolvimento regional ainda parece preso aos discursos

políticos locais.

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Page 52: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 18 – Características marcantes do Baixo Amazonas Fonte: UFAM/NUSEC/SDT

A definição de características marcantes está relacionada aos aspectos considerados

importantes na visão de futuro para o território (figura 18). Tal como foi indicado nos gráficos

anteriores, os aspectos considerados mais importantes para o futuro são: recursos naturais,

agricultura familiar e atividades econômicas:

Figura 19 – Visão de futuro Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Entre a visão de futuro e a as metas e objetivos do território podemos perceber resultados

diferenciados, pois enquanto na visão de futuro o aspecto mais importante foram os recursos naturais,

para as metas e objetivos o aspecto considerado mais importante foi à agricultura familiar (figura 19).

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Page 53: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

É importante destacar que o aspecto movimentos sociais e políticos foi indicado várias vezes como

presente nos objetivos e metas do território. A figura 20 indica os aspectos considerados importantes

nas metas e objetivos propostos para o desenvolvimento do território do Baixo Amazonas:

Figura 20 – Metas e objetivos do território Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Em síntese, a agricultura familiar desempenha importante papel na formação do que

estamos definindo como identidade territorial. Na percepção dos entrevistados o território do

Baixo Amazonas como a maioria dos territórios da Amazônia são definidos em função das

atividades econômicas e de desenvolvimento produzidas nas áreas rurais. Contudo, não

podemos esquecer que o processo histórico de distribuição física contou como fator

fundamental para a constituição desta identidade antes mesmo de uma divisão político-

administrativa. A rede fluvial na opinião dos entrevistados assume grande importância nesse

contexto, considerando que envolve naturalmente os grupos sociais que vivem no território.

Indicar a agricultura familiar como o aspecto definidor dessa identidade significa

identificar um aspecto que engloba atividades importantes como o extrativismo animal e

vegetal e a agricultura. Além disso, a agricultura constitui a principal fonte de sustento para as

famílias locais, pois dá conta da diversidade de ambientes e modos de vida da região

amazônica. A região é marcada pela sazonalidade e diversidade de paisagens, o que obriga o

morador local a desenvolver diferentes modos de sustento para garantir sua sobrevivência.

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Page 54: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Este indicador social foi construído a partir das entrevistas realizadas com cada um

dos membros do Colegiado Territorial do Baixo Amazonas, representa a percepção do

CODETER no que diz respeito a identidade territorial. Cada indicador de identidade possui

uma variação entre 0 (zero) e 1 (um), sendo que, o valor 1(um) indica maior influência da

identidade nos aspectos chaves de desenvolvimento do território, e, 0 (zero), menor influência

da identidade. Nesse caso, o indicador que mais se aproxima de 1, portanto, considerado alto,

é a agricultura familiar, seguido da economia e do ambiente. Cabe destacar que todos os

aspectos foram considerados médios altos como indicadores de identidade (figura 21).

Figura 21 – Identidade territorial do Baixo AmazonasFonte: SGE/SDT, 2010.

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Page 55: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

A agricultura familiar, como já foi dito anteriormente, aponta a influência das

condições de desenvolvimento da agricultura local, suas organizações, os problemas e

expectativas dos agricultores. O aspecto da economia indica o efeito dos processos

produtivos, pólos de desenvolvimento, geração de emprego e da estrutura econômica local. O

fator Ambiental demonstra o peso que tem os atributos relativos aos recursos naturais, áreas

de proteção, patrimônio natural e problemas ambientais nos aspectos do desenvolvimento

territorial.

Por fim, a construção das identidades parte de uma matéria-prima fornecida por

diferentes relações e processos, esse material é processado por indivíduos e grupos sociais que

se reorganizam em função das tendências sociais/políticas e projetos culturais. Neste

momento, o que nos interessa são as identidades coletivas na perspectiva territorial,

construídas a partir do significado (objetivo/subjetivo) e o sentimento de pertencimento que

cada grupo social expressa numa determinada porção do espaço geográfico (território)

produzindo a chamada identidade territorial.

Certamente, estamos diante de um processo de (re) territorialização que gira em torno

de uma estratégia política de desenvolvimento territorial. Afinal, a territorialização pode ser

motivada por diferentes fatores (sociais, culturais, políticos, econômicos). Se a estratégia está

relacionada a dimensão política e econômica, não podemos desconsiderar as interferências

geradas em um processo histórico de ocupação, onde os fatores se relacionam e estabelecem

trocas. Trata-se d uma identidade marcada por multiterritorialidades.

Este processo de territorialização promovido pelo Programa Territórios da Cidadania

está dando seus primeiros passos, seu alcance permanece restrito as sedes municipais. Poucos

resultados podem ser contabilizados, do ponto de vista político e econômicos, nas áreas rurais

dos municípios que compõem o território. Não podemos, nesse momento, afirmar um

processo de territorialização conduzido pelo programa, tampouco uma identidade territorial

que incorpore a estratégia de desenvolvimento territorial rural. Sabemos que este processo de

construção da identidade territorial é contínuo e gradativo, requer o envolvimento direto e

ininterrupto das entidades locais.

João Pacheco de Oliveira define a noção de territorialização como um processo de

reorganização social que implica a criação de uma nova unidade sociocultural; a constituição

de mecanismos políticos especializados, redefinição do controle social sobre os recursos

ambientais; reelaboração da cultura (OLIVEIRA, 1997: 56). O colegiado territorial atua

enquanto unidade político-administrativa de capacidade organizativa e representativa, dentro

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Page 56: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

de um processo de territorialização e consolidação de esferas públicas baseadas em uma

democracia deliberativa. Estas esferas públicas de discussão e deliberação são formadas

dentro de um princípio paritário de gestão política, que prevê o ordenamento de ações sociais

e políticas partilhadas por segmentos da sociedade civil e do poder público.

Esta política de desenvolvimento territorial prevê condições de reflexão da noção de

desenvolvimento rural, enquanto dimensão territorial e enquanto dimensão político-social.

Permite a reconstrução de uma rede de instituições e atores sociais. Esta rede está

caracterizada aqui por um fluxo de comunicação e informação que entendemos como esfera

pública. Estas esferas públicas de discussão e deliberação atuam no âmbito de uma política de

territorialização e desenvolvimento rural, onde coabitam atores sociais e políticos. De um lado

fornecem subsídios para a formação de fluxos de comunicação e do outro utilizam a esfera

publica para influenciar sistemas políticos baseados na razão instrumental.

Até que ponto os mecanismos políticos-administrativos de participação social

constituem estratégias de controle e inibição dos processos comunicativos autônomos e

democráticos? Este processo investigativo exige a compreensão da política de

desenvolvimento territorial utilizada pelo Governo Federal, além do mapeamento das esferas

públicas de participação política dos movimentos sociais que assumem grande importância no

processo de construção social da cidadania.

3.3. Capacidades Institucionais

As entrevistas realizadas para coleta de informações do indicador Social de

Capacidades Institucionais foram realizadas com todos os membros do do Baixo Amazonas.

As entrevistas foram realizadas em três excursões ao campo de pesquisa: a primeira excursão

compreendeu os municípios de Parintins, Barreirinha, Boa Vista do Ramos e Maués; a

segunda excursão compreendeu os municípios de São Sebastião do Uatumã e Urucará e a

terceira excursão compreendeu os municípios de Parintins e Nhamundá. Nos quadro abaixo

está especificada a lista de entrevistados:

Quadro 8 – Lista dos entrevistados

CAPACIDADES INSTITUCIONAISJoão Paulo Ribeiro da Fonseca NhamundáMatheus Garcia Paes UrucaráJosé Edvan Souza Machado BarreirinhaVanesse Socorro Martins de Matos Boa Vista do RamosCarlos Amora São Sebastião do UatumãLuiz Antônio Nascimento Maués

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Lucivaldo Ribeiro Pereira Parintins Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

Não é possível compreender a Amazônia sem mencionar as singularidades das suas

cidades. Cidades que pouco revelam da vida econômica moderna, diferentes do padrão

caracterizado como urbano em outras regiões brasileiras. Indubitavelmente, a vida nas cidades

amazônicas está ligada aos seus rios e floretas, todas as impressões deixadas nos seus

visitantes tornam-se difíceis de serem esquecidas, não pela paisagem sofisticada e atrativa,

mas pela significativa e reveladora realidade. Para José Aldemir de Oliveira:

Dessas cidades, temos a primeira visão de longe quando o barco em que navegamos se aproxima. Se for dia vemos a torre telefônica, antes víamos a torre da igreja. A viagem é longa, mas a chegada à cidade, desde que temos a primeira visão, parece interminável, dando-nos tempo para os aconteceres e para a concretização do ser (27).

Após as primeiras impressões da chegada logo nos deparamos com a transitoriedade

dos portos, onde nada é perene, tudo é transitório. Para Oliveira, o porto contém o

entendimento da cidade, pois a viagem começa e finaliza no porto; o porto é o intermediário

entre o rio, a floresta e a cidade. “O rio, a floresta e a cidade têm no porto a fronteira entre a

realidade e a ficção, possibilitando-nos leituras múltiplas de espaços-tempos diversos (27).

Ver figuras 22 e 23:

Figura 22 – Boa Vista do RamosFonte: http://bvremacao.blogspot.com

Figura 23 – Porto de UrucaráFonte: http://urucaraonline.blogspot.com

Quem chega às cidades da Amazônia se depara com a concretude de um arruamento

caótico, ausência de equipamentos urbanos, uma realidade mergulhada na inércia. Por essa

razão, é bastante complexo fornecer uma interpretação das cidades perdidas na selva, essa

interpretação é fugidia, não pode ser pautada em parâmetros lógicos e comparativos. Estamos

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Page 58: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

falando de uma região marcada por critérios diferenciadores que envolvem: pouca articulação

entre cidades, poucos serviços públicos básicos, muitas atividades rurais.

Obviamente o processo de construção dessas cidades está relacionado a fatores

históricos específicos da região amazônica. Em geral, essas cidades são formadas a partir de

pequenos núcleos comunitários, que crescem sem infraestrutura urbana, sobretudo, àquelas

cidades as margens dos rios que não conseguem acompanhar a dinâmica da economia. No

entanto, essas cidades não ficam livres das interferências da circulação de ideias e do acesso

aos elementos da vida moderna. Tornam-se verdadeiros cenários contraditórios:

As pequenas cidades amazônicas apresentam essa contradição: são articuladas a relações pretéritas caracterizadas pela inércia e, ao mesmo tempo, articuladas a dinamicidades contemporâneas que as ligam ao mundo, especialmente a partir da biodiversidade e da sociodiversidade (28).

Para Edna Castro construir tipologias de cidades exige um rigoroso trabalho de

interpretação e escolha de critérios, basta-nos a indicação de pelo menos alguns elementos

que se sobressaem à percepção. As cidades na Amazônia revelam um complexo sistema de

organização e entendimento, que podemos buscar compreender a partir dos atores econômicos

e das formas de ocupação. Dentro desse sistema vamos encontrar uma diversidade de

formações e modos de vida, que vão desde as regularidades observadas nas cidades históricas

decorrentes de fortificações ou aldeias até as regularidades dos padrões de ocupação à

margem dos rios com economia de base agro-extrativista (CASTRO, 2008:27).

Algumas dessas cidades de economia agro-extrativista caracterizavam-se pela intensa

atividade portuária, eram localizadas nas calhas dos principais rios, assegurando a rede de

aviamento da região. As cidades menores também desempenham importante papel na

economia regional, onde os rios são incorporados como eixos de avanço e ligação. As poucas

estruturas urbanas construídas ao longo de processo de formação dessas cidades serviram para

atrair força de trabalho, apropriação fundiária e atividade econômica. Muitas dessas cidades

geraram novos fluxos de interesse e investimento, aumentaram formas de mobilidade e

interação entre cidades.

Nesse processo, os marcos institucionais locais, e sua relação com a institucionalidade

externa que têm incidência sobre o local, são elementos importantes para a compreensão dos

processos de desenvolvimento de cada região em particular. A construção social de um

território e a definição de sua identidade cultural é uma ação coletiva, determinada em

conjunto com um marco institucional que regula as atividades dos atores locais que

participam do processo de construção. Com base no papel que as institucionalidades

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Page 59: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

desempenham na gestão dos Colegiados Territoriais, buscaremos destacar as análises acerca

da capacidade institucional do território do Baixo Amazonas.

Iniciaremos destacando o papel cumprido pelos conselhos municipais em suas

articulações institucionais. Os principais conselhos existentes no Baixo Amazonas são os

Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável e os Conselhos de Saúde,

ambos com 24% de indicação (figura 24). Embora esses alguns desses conselhos estejam

presentes nos municípios do Baixo Amazonas, a maioria dos entrevistados afirma que eles

não possuem um nível de controle consolidado, aliás possuem poucas articulações com as

entidades sociais e políticas locais. E alguns municípios o próprio CMDRS não possuem

atuação, obviamente o nível de atuação é diferenciado, varia de município para município.

Figura 24 – Conselhos do Baixo Amazonas Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Não basta a existência dos conselhos municipais, eles precisam revitalizar suas ações e

cumprir seu importante papel na organização e controle municipal. Alguns entrevistados

sugerem que haja algum tipo de intervenção no sentido de garantir mudanças na forma de

atuação dos conselhos municipais, discussões em torno do CODETER, articulações que

devem ser estabelecidas para o seu pleno desenvolvimento.

Os conselhos são órgãos coletivos e de tomada de decisões, são agrupamentos de

pessoas que deliberam sobre alguma importante decisão. Apareceram nas sociedades

organizadas desde a Antigüidade e existem hoje, com denominações e formas de organização 59

Page 60: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

diversas, em diferentes áreas da atividade humana. Seu sentido pode ser buscado na

etimologia greco-latina do vocábulo. Em grego, refere à “ação de deliberar”, “cuidar”,

“cogitar”, “refletir”, “exortar”. Em latim, traz a idéia de “ajuntamento de convocados”, o que

supõe participação em decisões precedidas de análises, de debates.

Toma-se como pressuposto a idéia de que os conselhos, na função de intermediação

entre o Estado e a sociedade, traduzem ideais e concepções mais amplas que, em cada

momento histórico, influenciam a dinâmica das políticas em pauta. Na atualidade, a

constituição de conselhos tem sido percebida como a abertura de espaços públicos, de

participação da sociedade civil, caracterizando a ampliação do processo de democratização da

sociedade. Como explica Bobbio (1986, p.54), trata-se da ocupação, pelas formas da

democracia representativa, de espaços até agora dominados por organizações hierárquicas e

burocráticas, nas quais estão presentes a “exigência e o exercício efetivo de uma sempre nova

participação”.

Tão importante quanto os conselhos são as entidades que prestam apoio às áreas rurais

dos municípios, considerando que grande parte dessas entidades está vinculada aos setores da

própria sociedade civil e da igreja. De acordo com os entrevistados, as entidades que

fornecem esse apoio não conseguem estabelecer relações com as entidades do poder público,

de modo que atuam de forma independente junto às comunidades rurais. Tal como mostra a

figura 25, as associações de agricultores familiares, os grupos de mulheres, os sindicatos de

trabalhadores rurais e as entidades religiosas são as entidades que fornecem algum tipo de

apoio às áreas rurais.

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Page 61: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 25 – Segmentos de apoio às áreas rurais Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010

As principais dificuldades não estão relacionadas apenas ao fornecimento de apoio e

assistência às áreas rurais, mas ao pouco conhecimento sistematizado acerca do interior do

Estado do Amazonas, apesar de existirem inúmeros estudos voltados para as áreas rurais

poucos dão conta de questões pontuais e voltadas para a correção de políticas públicas. Até o

momento poucas informações são disponibilizadas sobre as áreas de produção, tipos de

produção e principais dificuldades encontradas pelos produtores e agricultores rurais. Sem

falar do problema da comercialização e escoamento da produção, que constitui um dos

grandes gargalos do setor primário na região amazônica.

No quadro 9, os membros do CODETER Baixo Amazonas expressaram suas

percepções com relação as capacidades institucionais do território do Baixo Amazonas,

destacando os aspectos considerados problemáticos e as potencialidades observadas na gestão

social do Programa Territórios da Cidadania:

Quadro 9 – Percepção dos entrevistados em Oficina

GRUPO I

Ausência de participação do poder público para as políticas públicas do território do Baixo Amazonas. Meio Ambiente: aterro sanitário; manejo adequado na pecuária; preservação.Assistência Técnica: assistência técnica especializada;Comunicação: criação de associação de comunicação do poder público; Não há gestão adequada;

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GRUPO 2Meio ambiente: parcerias com instituições governamentais e não-governamentais;Assistência Técnica: Estrutura para escoamento dos produtores;Comunicação: informática para todos (comunidades rurais);Projetos de apoio: Incentivar através de recursos;

GRUPO 3

Posição estratégica dos municípios que não estão sendo utilizados. Existência dos Conselhos Municipais mesmo funcionando precariamente. A desarticulação dos Conselhos. Monopólio do poder público. Prefeituras inadimplentes.Meio ambiente: estruturar as secretarias de meio ambiente e facilitar a comercialização interna dos municípios. Agregando valor ao município, gerando trabalho e encargos sociais.Assistência técnica: existe uma precariedade no serviço, com nova proposta priorizando o tripé: produção, administração da propriedade e organização social.Comunicação: rádios comunitárias, folders, cartilhas e o compromisso das instituições em divulgar.Projetos de apoio: recursos para mobilização dos territórios e da rede territorial. Projetos acompanhados do diagnóstico e da gestão do empreendimento. Contratação de assessores na área da construção civil.

GRUPO 4

Participação e interação do colegiado. Alta rotatividade no governo. Recursos alocados. Falta de articulação entre setores da administração pública. Fortalecimento do CMDRS. Desenvolvimento territorial: as políticas públicas territoriais já implantadas; Incentivo dos órgãos ambientais para a agricultura; legislação ambiental mais divulgada; educação ambiental na grade escolar;Assistência técnica: apoio logístico aos técnicos; remuneração compatível com a graduação do técnico; Comunicação: convocar reuniões com as entidades de classe para defender o projeto macro que atenda a nível territorial;

GRUPO 5

Desvio de recursos para outras finalidades; falta de políticas publicas adequada para a Agricultura Familiar; Prefeituras inadimplentes; Inoperância dos Conselhos Municipais; Falta de Assistência Técnica adequadas ao Agricultar; Falta de infraestrutura das Secretarias Municipais; Pouco interesse dos Gestores Públicos na política Territorial; Construir Plano de Desenvolvimento Sustentável para o Território do Baixo Amazonas; Criar e apoiar Casas Familiares Rurais no Território do Baixo Amazonas; Criar um Plano para Capacitar os filhos/as dos Agricultores Familiares; Elaborar um Plano para levar Internet (banda larga) e comunicação via telefone para todas as comunidades rurais no Território do Baixo Amazonas; Definir uma Instituição no Território para receber e implementar.

Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

62

Page 63: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Embora grande parte dos entrevistados tenha afirmado que os investimentos

municipais são orientados por cadeias produtivas, podemos observar que esta informação

parece contraditória quando comparada com outras informações como prestação de serviços

tecnológicos, apoio às áreas rurais, disponibilização de informações, entre outras (quadro 9).

Resta saber, se os investimentos municipais são orientados por cadeias produtivas, por que às

condições de vida das famílias rurais não apresentam variação? Por que as condições e os

gargalos da comercialização não puderam ser solucionados até os dias atuais? Apesar de

existir relativa orientação por cadeias, podemos perceber que estas informações e ações não

são sistematizadas e contínuas, na maioria das vezes não apresentam resultados concretos para

os agricultores familiares, trata-se de repensar o papel que as Secretarias Municipais de

Produção estão desempenhado junto às áreas rurais (figura 26).

Figura 26 – Investimentos orientados por cadeias produtivas Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Certamente, o problema que se inicia na falta de informações e dificuldades de

comunicação terá sérios reflexos em questões posteriores, é o que ocorre com o setor

produtivo do território do Baixo Amazonas. Embora os resultados das entrevistas mostrem a

existência de acordos de venda entre produtores rurais e organizações de comercialização uma

das maiores dificuldades apontada pelos próprios agricultores é o escoamento de suas

produções, tendo em vista a ausência de organizações (associações, cooperativas) que possam

garantir o escoamento e a comercialização da produção de forma contínua e segura (figura

27).

63

Page 64: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 27 – Acordos de venda Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

A assistência técnica é de fundamental importância para qualquer tipo de atividade

comercial que seja desenvolvida atualmente, pois os grupos que não dispõem de assistência

técnica não tem condições competitiva de se lançar no mercado. Em relação à assistência

técnica rural, por suas características próprias, onde se trabalha com um público heterogêneo

em condições sociais, econômicas, educacionais e culturais podemos dizer que a assistência

técnica torna-se mais complexa. Por essa razão, é obrigação do Estado propiciar estes serviços

para os agricultores familiares, mas entende-se que os processos de se oferecer estes serviços

não necessitam ser iguais e homogêneos para todos. Atualmente, muitos agricultores não

dispõem de assistência técnica e até que estes serviços aconteçam o agricultor não poderia

ficar esperando.

Pergunta-se: Se temos profissionais sendo formados todos os anos como Engenheiros

Agrônomos, Médicos Veterinários, Zootecnistas, Técnicos Agropecuários e tantos outros;

conjugado com a falta de assistência técnica que a maioria dos agricultores tem, por que então

não temos uma política capaz de mostrar como a assistência técnica poderia ajudar a

viabilizar economicamente as propriedades e que os próprios agricultores passassem a

remunerar estes serviços? Temos que romper o ciclo da pobreza onde os serviços públicos são

oferecidos, em teoria, gratuitamente para todos, mas com uma qualidade questionável.

Trata-se de pensar em estratégias que possam corrigir as deficiências inerentes na

forma como a política voltada para o setor produtivo local está sendo conduzida.

64

Page 65: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 28 – Serviços tecnológicos Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Como é possível observar na figura 28, grande parte dos entrevistados afirmaram que

há cerca de 1 a 3 entidades que prestam serviços tecnológicos em seus municípios, sendo ela o

IDAM, as Secretarias de Produção Municipais e algumas instituições de ensino (IFAM,

UFAM, UEA). Esta realidade varia de município para município, portanto, as duas entidades

que estão presentes em todos os municípios são: Instituto de Desenvolvimento Agropecuário

e Florestal Sustentável do Amazonas - IDAM e Secretaria Municipal de Produção. A

existência de outras entidades de apoio técnico vai depender da dinâmica política e econômica

de cada um dos municípios, como é o caso do município de Maués que possui uma

Associação de Técnicos Agrícolas de Maués – ASTAMUS.

Além disso, por mais que existam entidades de assistência técnica nestes municípios, a

infraestrutura disponibilizada para elas é precária e insuficiente quando estamos falando de

um Estado com dimensões continentais, como o Estado do Amazonas. Poucos técnicos são

disponibilizados nos IDAMs e Secretarias de Produção, estes técnicos não dão conta da

quantidade de áreas diferenciadas que precisam dos mais diversificados tipos de apoio.

Portanto, não podemos reduzir e limitar a política de desenvolvimento agrícola do Estado a

distribuição de sementes e campanhas de vacinação.

Afinal essas entidades de assistência técnica possuem um importante papel na

divulgação de informações comerciais no Território do Baixo Amazonas, sendo que grande

parte das informações obtidas sobre a comercialização e os produtos de cada município são

65

Page 66: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

encontradas, principalmente, nas Prefeituras Municipais e em entidades de assistência técnica

como o IDAM.

Figura 29 – Informações comerciais Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Com relação a este item podemos perceber grande imprecisão nas respostas, apesar

dos entrevistados afirmarem existir acesso a informações comerciais ao mesmo tempo não

conseguiam repassar maiores informações acerca das atividades produtivas locais. Na

verdade, esta imprecisão esteve presente em várias temáticas abordadas nas entrevistas, uma

delas foi a temática referente ao meio ambiente. O que podemos perceber é que poucas ações

estão sendo destinadas para as questões ambientais, a temática ambiental continua sendo

secundária nos momentos propositivos, não que está temática não seja importante na visão

dos entrevistados, mas não é prioritária quando questões voltadas para a educação, saúde e

habitação não foram resolvidas. No território do Baixo Amazonas apenas três municípios

possuem secretarias do Meio Ambiente: Parintins, Boa Vista do Ramos e Maués (figura 29).

66

Page 67: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 30 – Normas para conservação dos recursos naturaisFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Quando questionados sobre as normas expedidas pelas prefeituras para conservação

dos recursos naturais, a maioria dos entrevistados afirmou que as poucas ações eram voltadas

para instruções de monitoramento e avaliação do patrimônio ambiental, poucas pessoas

afirmaram existir ações voltadas para o regulamento e manejo de resíduos e avaliação de

impactos ambientais. Juntamente com o item referente ao ordenamento do uso de solo com

20%, está a indicação de que nenhum tipo de medida está sendo tomada no que diz respeito às

questões ambientais (figura 30).

É fundamental destacar que apesar de existirem mapas que indicam quais são as áreas

degradadas ou que estão sendo degradadas, poucas ações são realizadas no sentido de conter o

avanço dos danos e impactos ambientais. Aproximadamente 71% dos entrevistados afirmaram

existir mapas de áreas degradadas, mas ao mesmo tempo afirmaram não saber das ações que

sendo voltadas para as questões ambientais. Não há dúvidas de que a gestão ambiental tem

obtido grande importância nas administrações municipais ao longo das últimas décadas, e um

marco importante deste processo foi a Lei N° 6.938, de 31 de agosto de 1981, que instituiu a

Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA). Nela está explícito que os municípios poderão

elaborar normas ambientais, desde que não entrem em conflito com as de âmbito federal e

estadual, e poderão exercer, na sua jurisdição, controle e fiscalização das atividades capazes

de provocar a degradação ambiental.

67

Page 68: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 31 – Mapas da áreas degradadas Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Contudo, os resultados aqui apresentados demonstram que os instrumentos de gestão

ambiental, apesar de terem crescido em números absolutos e proporcionais, ainda são pouco

freqüentes na maioria dos municípios do território do Baixo Amazonas. O fato aponta para a

necessidade da implementação de políticas localizadas que estimulem mais fortemente a

instituição desses mecanismos, com o objetivo de conferir dinamicidade própria à gestão

municipal do meio ambiente (figura 31).

A capacidade se refere à habilidade de indivíduos de elaborar e implementar decisões

e desempenhar funções de uma maneira efetiva, eficiente e sustentável. No nível institucional,

o esforço é focalizado em capacidades organizacionais e funcionais, assim como a habilidade

institucional de adaptar-se à mudança. O conceito de capacidade institucional é um alvo

movente desde que o campo evoluiu ao longo dos anos a partir de um foco inicial no

desenvolvimento e fortalecimento de organizações individuais e provimento de treinamento

técnico e gerencial para suportar o planejamento integrado e os processos de decisão entre

instituições.

A capacidade institucional é o resultado da análise comportamental focando as ações

dos governos em definir a capacidade das organizações públicas. Estas definições assumem

que a capacidade institucional é a habilidade de realizar funções, tornando a autonomia

importante “para realçar a potencialidade de governos locais as execuções de forma

inteligente e eficiente sob seu próprio direcionamento”. A capacidade institucional tem outro

significado: a habilidade de escolher que fins perseguir e a disposição para tomar atitudes

buscando atingi-los.68

Page 69: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

A capacidade institucional refere-se ao funcionamento de ‘regras do jogo’ adequadas e

que funcionem na organização ou entre organizações para atingir objetivos, realizar tarefas e

de se ajustar constantemente frente a novos desafios. Há diversas instituições formais e

informais operando entre e em volta de um sistema ou programa. Por essa razão, ao

avaliarmos as capacidades institucionais que giram em torno da gestão municipal do território

do Baixo Amazonas podemos perceber que na percepção dos entrevistados muitas

dificuldades são encontradas, sobretudo, no que diz respeito: aos serviços institucionais

disponíveis (0,2), mecanismos de solução de conflitos (0,3), instrumentos de gestão municipal

(0,4) e infraestrutura municipal (0,4). Ver figura 32:

Figura 32 – Indicadores de Capacidades InstitucionaisFonte: SGE/SDT, 2010.

Estes itens variam em uma escala de médio baixo a médio, sendo que nenhum dos

itens recebeu a indicação de alto. O item que obteve melhor destaque foi a própria gestão dos

colegiados e a sua capacidade organizacional. Deste modo, podemos concluir que em termos

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Page 70: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

de capacidades institucionais o território do Baixo Amazonas apresenta inúmeras

dificuldades, que variam desde a questão infraestrutural até a capacidade de articulação

interinstitucional.

O item referente a serviços institucionais disponíveis foi o mais problemático na visão

dos entrevistados, revelando como está caracterizado o cenário das capacidades institucionais

no Baixo Amazonas, um fator altamente comprometedor para o desenvolvimento de uma

política que está fundamentada em uma perspectiva paritária de gestão pública e social. Como

podemos pensar em construir uma nova política se não se pode contar com a estrutura mínima

se serviços institucionais?

Entendemos que, neste momento, é preciso rever alguns objetivos e investimentos

governamentais, a fim de que possamos indicar os alcances obtidos com esta política de

desenvolvimento territorial. Precisamos saber sobre quais alicerces está sendo construída esta

política.

Dos indicadores elaborados no território do Baixo Amazonas, o indicador de

Capacidades Institucionais foi o que apresentou resultados inferiores, aspectos este que pode

ser relacionado aos resultados obtidos em outros indicadores como Gestão do Colegiado e

Condições de Vida, que mostram como insatisfatória a gestão pública que está sendo

desenvolvida nos territórios rurais. Tanto os membros do poder público, quanto os membros

da sociedade civil concluem que a participação do poder público tem deixado muito a desejar,

aliás este cenário tem sido percebido, claramente, nas ausências dos representantes do poder

público em reuniões do CODETER. Trata-se de analisar e investigar, mais

verticalizadamente, os fatores que estão produzindo esta falta de interesse e envolvimento dos

gestores públicos municipais nos assuntos que dizem respeito ao território. Afinal, este

posicionamento tem comprometido, de forma significativa, o desenvolvimento da gestão dos

Colegiados Territoriais e as suas capacidades institucionais.

3.4. Gestão do Colegiado

As entrevistas realizadas para coleta de informações do indicador Social de

Acompanhamento da Gestão do Colegiado Territorial foram realizadas com todos os

membros do Colegiado Territorial do Baixo Amazonas. As entrevistas foram realizadas em

três excursões ao campo de pesquisa: a primeira excursão compreendeu os municípios de

Parintins, Barreirinha, Boa Vista do Ramos e Maués; a segunda excursão compreendeu os

municípios de São Sebastião do Uatumã e Urucará e a terceira excursão compreendeu os

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Page 71: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

municípios de Parintins e Nhamundá. Nos quadro abaixo está especificada a lista de

entrevistados:

Quadro 10 – Lista dos entrevistados

BARREIRINHANome EntidadeJozivan dos Santos Souza Câmara Municipal Francisco dos Reis Andrade Sindicato dos Trabalhadores Rurais Azenilton Gomes Conceição Secretaria Municipal de EducaçãoDomingos Sávio Santos Dutra Colônia dos Pescadores Z-45Edson Carlos Viana Federação das Organizações Quilombolas José Edvan de Souza Machado Secretaria Municipal de ProduçãoAnderson Barros Serrão IDAMJoão Paulo Brandão Beltrão Associação ComercialMarcos Antônio Araújo Secretaria Municipal de Meio AmbientePaulo Afonso Cruz Belém Associação de Pequenos CriadoresNHAMUNDÁAntônio Duque de Souza Secretaria Municipal de EducaçãoFrancinete Guerreiro Costa Secretaria de Assistência SocialDina Maria Costa e Costa Associação de MulheresDickson Rodrigues Jacaúna Câmara MunicipalEnéas Cardoso Gonçalves Secretaria de ProduçãoMoysés Augusto dos Santos Serrão Colônia dos PescadoresAdarlene Gomes Reis Sindicato dos TrabalhadoresJoão Batista Nogueira Cooperativa de FrutasRaimundo Oscar IDAMURUCARÁMariza Onete Pimentel Colônia de Pescadores Z-28Francisco Tavares Pinto Secretaria de Meio AmbienteDarsone Maria Zuane Gomes Secretaria de Educação e CulturaHonorato Bulcão de Matos Associação de Produtores RuraisPedro Manoel Braga Paes IDAMMatheus Garcia Paes Secretaria de ProduçãoJosé Alfredo Maia Pontes Sindicato dos TrabalhadoresOdiélio Nascimento dos Santos Fabrísio Albertine dos Santos Andrade Osmaison da Costa Gonsalves Associação dos Pequenos ProdutoresSÃO SEBASTIÃO DO UATUMÃRegina Lúcia Lima Moraes Associação dos CostureirosRaimundo Colares Chaves Câmara MunicipalCarlos Amora Prefeitura MunicipalClaudete da Cruz Lourenço Secretaria de EducaçãoCelso Melo da Silva IDAMMaria do Rosário Cabral Vieira Associação de Trabalhadores RuraisOrlando da Cunha Oliveira ConstróiElienai Barreto da Silva Colônia dos Pescadores Z-28João Chaves Furtado Sindicato dos TrabalhadoresAdriana Cristina Ferreira Pereira Secretaria de Assistência SocialBOA VISTA DO RAMOSVanesse Socorro Martins de Mato Secretaria de Meio AmbienteJair Rodrigues Arruda Cooperativa de Criadores de Abelhas

71

Page 72: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Adalberto Nascimento Pinheiro Associação da Casa Familiar RuralFeliciana da Silva Barros Secretaria de EducaçãoGlaucenilda Pereira de Menezes Sindicato dos TrabalhadoresLuiz Cantalixto de Melo Secretaria de SaúdeIsaac de Oliveira Lima Colônia dos PescadoresAlexandre Lobo Pinheiro Vaz IDAMRaimundo da Silva Costa Cooperativa Mista AgropecuáriaMAUÉSLuiz Antônio Nascimento Secretaria de ProduçãoViviane dos Santos Oliveira Secretaria de Desenvolvimento e Meio AmbienteEliaque Alegria de Lima Sindicato dos TrabalhadoresEdy Carlos Cardoso dos Santos Associação dos Técnicos AgrícolasEulálio Macedo IFAMJoão Abraim da Silva Cooperativa AgropecuáriaMiguel Gonçalves Secretaria de ProduçãoMaria da Silva Batista Consórcio dos Produtores Sateré MawéRaimundo Mendes Leal Filho IDAMPARINTINSEdnaldo Oliveira da Silva Sindicato dos Trabalhadores RuraisJosé de Oliveira Ramos Centro Estadual de Unidade ConservaçãoAnselmo Ferreira Garcia Conselho Geral das Tribos Sateré-MawéTiago Viana UFAMAntônio Pereira Soares CEDARPLucivaldo Ribeiro Pereira Secretaria de Produção e AbastecimentoMarcia de Souza Costa Sindicato dos PescadoresKlinger Reis Oliveira Cooperativa dos Técnicos em AgropecuáriaJoel Bentes Araújo Filho IBAMAJossinéias Cunha Farias Câmara Municipal

Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

O crescimento e a organização de movimentos sociais em torno de demandas de

participação e cidadania tornou-se um fenômeno de grande interesse e relevância para a

compreensão das mudanças e transições sociais presentes nas relações sociais e políticas na

Amazônia. No centro deste debate estão as ações coletivas que trazem para o cenário político

a possibilidade de transformação, sobretudo, das relações sociais em uma região que sempre

foi tratada como lócus de modelos de dominação tradicional. Diante de uma diversidade de

ações coletivas de mobilização, um aspecto, em particular, tem sido de grande importância

para a criação de uma cultura política de base democrática, trata-se da recorrência aos

movimentos sociais para atuarem como interlocutoras perante o Estado. E, principalmente, a

forma como eles estão respondendo a este processo de articulação e participação.

Essa participação no processo de descentralização está diretamente vinculada à

implantação de uma política de desenvolvimento territorial das áreas rurais do país, onde é

possível encontrar maior organização entre setores populares. Ainda que estas pessoas

estejam motivadas por interesses imediatos, em um primeiro momento, sabemos que elas 72

Page 73: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

percebem o papel que podem desempenhar nesse processo, haja vista a mobilização realizada,

arduamente, para o alcance de objetivos comuns.

Esses grupos mostram como constroem sua participação política em um contexto de

fragmentação e desigualdade social, para isso são criados mecanismos de participação política

que transmitem suas demandas sociais. Esse processo suscita o desenvolvimento de formas de

mobilização e construção de identidades coletivas. Nesse contexto, há um fator novo e

diferenciador, que não é o processo de organização social desses grupos apenas, mas o papel

atribuído ao sujeito por ele mesmo.

Sem dúvida, esta política de desenvolvimento rural apresenta como estratégia

inovadora a participação legítima dos movimentos sociais em esferas públicas de discussão e

decisão. Estamos diante de um quadro estimulante para a pesquisa e construção de novos

referenciais analíticos. A abordagem territorial do desenvolvimento rural exige novas

orientações e perspectivas teóricas, pois as vertentes tradicionais não dão conta das complexas

relações sociais e políticas engendradas por esta política de construção democrática e

emancipatória. São necessários novos recortes metodológicos e teóricos que forneçam

subsídios para a compreensão das especificidades e resultados.

A construção de uma nova institucionalidade política como o território, pressupõe a

formação de novas formas de representação e de interesses políticos, econômicos e sociais.

Prevê o desenvolvimento de uma série de entraves e amarras que se dão no âmbito das

relações políticas e sociais, exigem a compreensão dos grupos sociais envolvidos e a

complexa rede de articulações estabelecidas entre eles. Um elemento fundamental para a

revitalização de uma prática política absolutamente necessária para o exercício da cidadania.

Daí a urgência em se criar uma perspectiva analítica que dê conta dos diferentes

processos e contextos relacionados à política de territorialização e desenvolvimento rural que

está curso. Trata-se de criar formas de reflexões e visibilidade das condições presentes e

criadas por esta gestão política dos territórios brasileiros, que se volte para todas as

experiências presentes, mas inexistentes das pesquisas sociais. Trata-se, portanto, de articular

conhecimentos, práticas e ações coletivas.

Com relação aos resultados obtidos com o Indicador Social do Acompanhamento da

Gestão do Colegiado buscaremos enfatizar nossas discussões em torno do tema da gestão

social nos territórios, tomando como referência os processos de desenvolvimento territorial

que estão em curso. Para isso, consideramos fundamental apresentar algumas considerações

acerca do conceito de governança territorial, tendo em vista o conjunto de iniciativas ou ações

73

Page 74: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

que expressam a capacidade de um grupo social organizado territorialmente, como o

Colegiado Territorial, de coordenar e gerir assuntos públicos, econômicos e institucionais,

como caracterização de um processo de gestão do desenvolvimento territorial.

Tomar como parâmetro o conceito de governança territorial implica reconhecer na

sociedade civil uma fonte de poder nos processos de governança, trata-se de reconhecer a

possível correlação de interesses e necessidades entre grupos sociais específicos, de modo que

se torna difícil estabelecer divisões laterais e atribuir responsabilidades. Tal como afirma

Dallabrida e Becker (2003), o sistema de governança territorial é utilizado para referir-se ao

conjunto de estruturas em rede, através das quais os atores/agentes e organizações/instituições

territoriais atuam no planejamento e consecução das ações voltadas ao desenvolvimento

territorial. Estas estruturas em rede estabelecem diferentes relações e correlações que formam

um sistema multidimensional.

Diante de uma perspectiva de descentralização estatal vimos se estruturar a

necessidade de articulação de projetos de desenvolvimento local que estivessem baseados em

atores, capacidades e conhecimentos. Estas novas perspectivas não estão distanciadas dos

contextos nacionais e internacionais, ao contrário, precisam manter relações constantes, tal

qual um sistema que forma uma rede de relações, interações e articulações. A estrutura local

tem a finalidade de expressar as iniciativas oriundas de contextos locais. Trata-se de uma

transição do regional para o territorial.

O ponto diferenciador desse processo é expurgar do cenário local os instrumentos de

execução de políticas públicas que tendem a reproduzir políticas e relações clientelistas,

baseada na distribuição de recursos pelo Estado para obras e projetos pontuais. Os desenhos

de um governo político-administrativo descentralizado torna-se cada vez mais nítido,

tornando necessária a criação de novas formas de coordenação de agentes e instituições,

novas formas de administrar fluxos econômicos, políticos e sociais. Por essa razão, a noção de

governança territorial vai além de uma simples forma de organização econômica inter-

regional, mas englobam ferramentas sociais e políticas. Para Fuini,

A governança territorial é definida como o processo institucional-organizacional de construção de uma estratégia para compatibilizar os diferentes modos de coordenação entre atores geograficamente próximos em caráter parcial ou provisório, atendendo a premissa de resolução de problemas inéditos. Estes compromissos articulam: os atores econômicos entre si e estes com os atores institucionais-sociais e políticos, através de regras de jogo, e a dimensão local e a global (nacional ou mundial), através das mediações realizadas por atores ancorados no território (FUINI, 2011:12).

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Page 75: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Analisar um sistema formando por um conjunto de relações e inter-relações é uma

tarefa difícil, pois envolve inúmeros atores sociais em um palco de representações e

articulações. No Baixo Amazonas foi possível perceber divisões, articulações e interesses

diversos a partir da aplicação do formulário de Acompanhamento da Gestão do Colegiado

Territorial, cujo principal objetivo era revelar que modo tem sido realizada a gestão do

CODETER, tomando como referência a percepção dos próprios entrevistados. Cabe ressaltar

que as entrevistas foram realizadas com todos os integrantes do CODETER Baixo Amazonas,

revelando a diversidade de grupos e opiniões, além disso, foram entrevistadas pessoas que

acompanharam o processo de desenvolvimento do colegiado, como também aqueles que estão

integrando o grupo há pouco tempo.

Apesar de o procedimento ser o mesmo em todo o Estado do Amazonas para a seleção

e eleição de membros dos Colegiados Territoriais, uma das questões do formulário buscava

investigar justamente a percepção dos entrevistados quanto às seleções e eleições, embora

41% dos entrevistados tenham informado o procedimento correto na seleção e eleição

(convite direto a organizações selecionadas), 32% dos entrevistados se confundiram em suas

respostas afirmando que o procedimento era feito por convocatória aberta para eleição de

representantes. Na verdade, algumas pessoas desconheciam a participação do Conselho

Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável – CMDRS na seleção e indicação das

entidades que fariam a composição do Colegiado Territorial, o que justifica a existência de

outras respostas para a questão, ver figura 33:

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Page 76: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 33 – Seleção e eleição dos membros do Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

A confusão nas respostas e entendimentos é justificada pela grande rotatividade de

membros do Colegiado Territorial, a troca constante dos representantes das entidades que

compõem o CODETER é um problema sério para o desenvolvimento das atividades, todas as

vezes que há mudança de um representante, formam-se ruídos de comunicação e dispersão de

interesses, o que prejudica e compromete consideravelmente a participação de cada uma das

entidades que formam o Colegiado Territorial. Outra prática usual e prejudicial tem sido a

participação de representantes do membro que realmente está na condição de representante do

CODETER, dito de outro modo, o que ocorre é que alguns dos membros do CODETER não

costumam participar das reuniões e atividades e mandam seus representantes para garantir seu

assento no colegiado, apesar desta prática não parecer tão prejudicial ao desenvolvimento do

programa, quando utilizada com maior freqüência passa a distorcer o verdadeiro objetivo e

interesse do programa:

76

Page 77: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 34 – Problemas freqüentes do Colegiado TerritorialFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Além da alta rotatividade dos membros do colegiado, outro problema bastante

enfatizado pelos entrevistados é a pouca participação dos gestores públicos. É importante

observar que esta percepção também foi ressaltada pelos próprios representantes de entidades

do poder público, estes reconheceram que o envolvimento das entidades da sociedade civil

tem sido maior quando comparado com as entidades do poder público. Esta pouca

participação está certamente relacionada com outros aspectos considerados na questão como:

a influência política e alta rotatividade dos membros. Além disso, é um problema que

interfere diretamente na forma como está sendo construída a capacidade institucional do

território, pois se a gestão não funcionar plenamente, certamente irá comprometer a

capacidade de articulação entre esferas locais (figura 34).

O fato é que estes problemas interferem de forma significativa no desenvolvimento

das atividades do Colegiado Territorial, de modo que o enfraquecimento no processo

participativo e discursivo tem deixado a desejar. Inicialmente, a participação de todas as

entidades na gestão social dos projetos e ações do programa era significativa, mas

gradualmente as pessoas foram perdendo o interesse e deixando de participar ativamente das

reuniões e encontros. De acordo com o coordenador do Colegiado Territorial, José de Oliveira

Ramos, os encontros do colegiado ocorriam a cada três meses, nos últimos anos estas reuniões

passaram a ser anuais, contando cada vez menos com a participação dos seus membros. No

ano de 2011, foi realizada apenas uma reunião de plenária do Colegiado para a validação do

PTDRS do Baixo Amazonas, ver figuras 35 e 36:

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Page 78: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 35 – Reuniões formais do CODETERFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Figura 36 – Reuniões do CODETERFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Contudo, apesar do não desenvolver suas atividades com a mesma freqüência que

desenvolvia em seu processo de constituição, algo importante destacado pelos entrevistados

foi à construção de um processo político democrático e deliberativo, de modo que as decisões

tomadas durante as plenárias do Baixo Amazonas são realizadas de forma participativa, onde

todos podem opinar e discutir os assuntos que estão em pauta, 32% dos entrevistados afirmou

que o principal mecanismo de tomada de decisão permanece sendo a votação (figura 37).

Figura 37 – Mecanismos de tomada de decisão Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Seguindo esta perspectiva de análise, os entrevistados afirmaram que as entidades da

sociedade civil são as que possuem maior participação nas decisões tomadas pelo Colegiado

78

Page 79: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Territorial, entre as entidades que possuem maior destaque estão as associações e sindicatos,

os movimentos sociais e as associações de agricultores familiares, como é possível observar

na figura abaixo as entidades do poder público são que menos possuem capacidade de

decisão, destaque para os representantes do Governo do Estado do Amazonas, ver figura 38:

Figura 38 – capacidade de decisãoFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

O envolvimento dos membros do Colegiado Territorial ocorre, sem dúvida nenhuma,

de forma diferenciada, respeitando a capacidade de envolvimento e o engajamento político

que cada uma dessas pessoas tem. Certamente, o envolvimento de algumas pessoas no

CODETER tem sido o maior aprendizado e o maior exercício político que estas poderiam ter

(figura 39), representa uma importante oportunidade de se estabelecer trocas e experiências.

No entanto, quando estamos falando de uma importante arena política e esfera pública como o

Colegiado Territorial parece bastante arriscado pensar nas disparidades de aprendizado e

vivência política, obviamente aqueles que possuem maior desenvoltura e traquejo político

poderão levar vantagens nos momentos decisivos e de discussão.

79

Page 80: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 39 – Oficina com CODETER Baixo Amazonas Fonte: UFAM/NUSEC, 2011.

Na Amazônia, como em qualquer lugar do Brasil, muitas práticas políticas ainda

permanecem submetendo as pessoas aos discursos populistas e enganosos que criam um clima

de insatisfação e passividade. Essas práticas têm se caracterizado, em geral, pela apropriação

dos recursos públicos para garantir a subordinação política dos grupos sociais mediante o uso

de assistencialismo e clientelismo. Essa tendência ao desenvolvimento de práticas tradicionais

na política permanece sendo desenvolvidas nos diferentes campos de poder, refletindo um

cenário de controvérsias e limitações. Na verdade, esta perspectiva de orientação política

favorece a fragmentação social, pois não disponibiliza programas políticos capazes de

fortalecer a confiança das pessoas na política.

O grau de credibilidade que as pessoas depositam nos sistemas políticos depende,

necessariamente, da confiança que colocam nas suas instituições representativas. No entanto,

a história política do Brasil tem se afastado da possibilidade de constituir-se em um elemento

catalisador de uma qualidade democrática melhor. Entretanto, à medida que o Estado torna-se

ineficiente, diminui sua credibilidade e, consequêntemente, aumenta a instabilidade das

instituições políticas e institucionalização de relações pautadas por comportamentos

clientelistas e paternalistas. A existência e multiplicação dos problemas sociais contribuem

para a decepção e distanciamento, este clima de instabilidade se dá num contexto de crise da

credibilidade e legitimidade (BAQUERO, 2004).

Contudo, não podemos deixar de mencionar que a participação política no processo

de desenvolvimento territorial do Colegiado Territorial do Baixo Amazonas ocupa um lugar

80

Page 81: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

central no cotidiano desses grupos sociais, não apenas no sentido de transmitir seus valores,

mas, sobretudo, no funcionamento das instituições a sua volta. Logo, a forma como se

constrói a política interfere, diretamente, no desenvolvimento destas sociedades. A

transformação da cultura política para uma dimensão participativa depende da transição das

práticas tradicionais à construção de uma democracia descentralizada. Quando a política se

constrói numa perspectiva descentralizada, procedimentos assistencialistas e clientelistas são

eliminados das relações sociais. Entretanto, o processo de descentralização só é possível com

a participação de atores sociais capazes de contribuir criticamente na construção de uma

sociedade democrática (figura 40).

Figura 40 – Validação PTDRS Fonte: UFAM/ NUSEC, 2010.

Em outras palavras trata-se da constituição das esferas públicas. A esfera pública

política, isto é, as redes de comunicação não-institucionais que se situam à margem do núcleo

do sistema político, são vistas como capazes de identificar os problemas sociais com a

sensibilidade e a linguagem específica dos próprios atingidos, articulá-los fora das estruturas

governamentais e inseri-los na pauta das deliberações políticas institucionalizadas em vista da

modificação de situações reais consideradas injustas. Neste sentido, os debates e resoluções

tomadas nessa esfera pública não-institucional, ou seja, os fluxos de comunicação aí

acumulados mostram-se capazes de atingir o sistema burocrático-estatal na medida em que

alcançam força suficiente para exercer “pressão” ou “influência” nas instituições formais de

81

Page 82: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

tomada de decisão, obrigando-as a inscrever suas reivindicações na agenda da política oficial.

Em outras palavras,

a esfera pública é um sistema de alarme dotado de sensores não especializados, porém, sensíveis no âmbito de toda a sociedade. Na perspectiva de uma teoria da democracia, a esfera pública tem que reforçar a pressão exercida pelos problemas, ou seja, ela não pode limitar-se a percebê-los e a identificá-los, devendo, além disso, tematizá-los, problematizá-los e dramatizá-los de modo convincente e eficaz, a ponto de serem assumidos e elaborados pelo complexo parlamentar (HABERMAS, 2003:91).

Devido ao fato de a esfera pública estar vinculada essencialmente aos processos

comunicativos efetivados no âmbito da sociedade civil, ela não se confunde com a esfera do

Estado. A esfera pública se formou historicamente em contraposição ao poder, no interesse

em estabelecer um Estado Democrático de Direito. Daí a necessidade de construção e

consolidação de esferas públicas politicamente atuantes não-atravessadas por relações de

poder e pela intervenção do Estado, mas sim constituídas de fluxos de comunicação ensejadas

pelos diferentes atores e grupos sociais que compõem o mundo social, mais precisamente a

sociedade civil. A esfera pública apóia-se, portanto, no uso argumentativo e prático da

linguagem cotidiana. Com efeito, pode-se dizer que

a esfera pública ou espaço público é um fenômeno social [...]. A esfera pública pode ser descrita como uma rede adequada para a comunicação de conteúdos, tomadas de posição e opiniões; nela os fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de se condensarem em opiniões públicas enfeixadas em temas específicos. [...] A esfera pública se reproduz através do agir comunicativo, implicando apenas o domínio de uma linguagem natural; ela está em sintonia com a compreensibilidade geral da prática comunicativa cotidiana. [...]. A esfera pública constitui principalmente uma estrutura comunicacional do agir orientado pelo entendimento, a qual tem a ver como o espaço social gerado no agir comunicativo (HABERMAS, 2003:92).

Em consonância com este empreendimento, a pesquisa adota o conceito de política e

de democracia deliberativa sugerida por Habermas. A idéia de uma política deliberativa

fundamenta-se em um poder comunicativo que advém de uma comunicação política expressa

na forma de opiniões majoritárias estabelecidas por via discursiva. A democracia deliberativa

baseia-se nas condições de comunicação sob as quais o processo político de tomada de

decisão supõe-se capaz de alcançar resultados racionais, por cumprir-se de forma deliberativa,

calcada no processo discursivo-argumentativo do agir comunicativo (HABERMAS, 2002).

Trata-se de um procedimento democrático que permite criar uma coesão interna entre as

diferentes formas de negociação, discursos e proposições, as quais devem se apoiar em

princípios universais que almejem resultados racionais, justos e bons para todos os 82

Page 83: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

envolvidos. Assim, este modelo de democracia “[...] baseia-se nas condições de comunicação

sob as quais o processo político supõe-se capaz de alcançar resultados racionais, justamente

por cumprir-se, em todo seu alcance, de modo deliberativo” (Idem, p. 277).

O fato é que um dos principais impeditivos para a construção desse processo

deliberativo dentro do Colegiado Territorial é justamente a comunicação, de acordo com as

afirmações dos próprios entrevistados um dos maiores problemas da gestão do colegiado tem

sido a deficiência na comunicação, não apenas entre os membros do colegiado, mas

principalmente entre os membros do colegiado e a sociedade. A divulgação das ações do

colegiado não são realizadas nos municípios que compõem o território do Baixo Amazonas,

tampouco em outros municípios do Estado do Amazonas. A fragilidade no processo de

comunicação e informação interfere de modo significativo na construção de uma democracia

deliberativa e legítima. Afinal, ao contrário do que estava sendo idealizado, o processo de

“empoderamento” dos grupos sociais envolvidos no programa se deu de forma fragmentada,

envolvendo apenas os membros do Colegiado Territorial, um ciclo que se fechou em si

mesmo.

Não é à toa que quando questionados acerca dos mecanismos de comunicação

utilizados pelo Colegiado Territorial a maioria dos entrevistados afirmou que continua sendo

a comunicação pessoal (23%), conhecida como “boca-a-boca”. A diversidade percebida nas

respostas se deve ao fato de cada um dos entrevistados dispor de uma forma de comunicação

diferenciada, alguns têm acesso a internet, outros dentro de suas entidades governamentais,

outros mídias de massa. No entanto, a maioria dispõe apenas da comunicação pessoal entre as

entidades da sociedade civil, lembrando que esta comunicação permanece restrita entre os

membros do Colegiado Territorial, ver figura 41:

83

Page 84: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 41 – Mecanismos de comunicação do CODETER Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

As falhas de comunicação refletem em outros assuntos e atividades desenvolvidas pelo

Colegiado Territorial, estamos falando do envolvimento dos membros do CODETER em

temas e discussões realizadas durante as reuniões e encontros, as diferenças nos níveis de

entendimento e aprendizado de cada um dos componentes. O fato de alguns temas serem

discutidos recorrentemente em reuniões do Colegiado não significa dizer que envolvem um

processo de capacitação e formação, o entrevistados buscaram diferenciar essa duas coisas,

afinal foram realizados poucos cursos de formação e capacitação, mas, muitos assuntos são

discutidos nas plenárias, entre os quais: projetos, infraestrutura, planejamento, meio ambiente,

cidadania e inclusão social, reforma agrária, desenvolvimento agropecuário e educação, ver

figura 42:

84

Page 85: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 42 – Principais temas discutidos Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Apesar da diversidade de respostas no item referente à oferta de capacitação, é

importante ressaltar que grande parte dos temas citados não foram contemplados mediante a

realização de cursos e treinamentos. Um dos poucos temas utilizados em cursos de

capacitação foi elaboração de projetos, os outros temas foram citados em função,

principalmente, da imprecisão das respostas e percepções (figura 43).

Figura 43 – Temas de capacitação Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

A própria elaboração do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável –

PTDRS envolve um processo de capacitação, afinal para a elaboração do plano são

necessários vários encontros e reuniões de discussões, mediante o levantamento de temáticas 85

Page 86: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

fundamentais para a problematização de assuntos que são de interesse do território. Todas as

ações e atividades relacionadas com a dinâmica do território pressupõem a elaboração de um

diagnóstico territorial. Este diagnóstico territorial deve envolver, necessariamente, todos os

membros do colegiado. De acordo com os entrevistados, o Colegiado Territorial participou

apenas nas oficinas de discussão da elaboração do diagnóstico territorial e do plano

propriamente dito.

Figura 44 – Elaboração do Diagnóstico Territorial Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Apesar de alguns dos entrevistados afirmarem ter participado das outras etapas como:

a concepção e elaboração (29%) e revisão (24%), a maioria afirmou ter participado apenas das

oficinas de discussão (figura 44). O mesmo ocorreu com o Plano Territorial de

Desenvolvimento Rural Sustentável – PTDRS. Alguns entrevistados destacaram que parte das

informações do plano estão defasadas e não contemplam mais a realidade encontrada no

território do Baixo Amazonas, contudo, a maioria dos entrevistados acredita que o PTDRS

representa uma grande conquista para o território, pois quando comparado com outros

territórios do Estado o Baixo Amazonas há um avanço com a aquisição do plano de

desenvolvimento territorial. Aliás, as últimas atividades desenvolvidas pelo território estão

concentradas na validação e lançamento do Plano (figura 45).

86

Page 87: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 45 – Elaboração do PTDRS Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Em julho de 2011 durante a realização da Oficina de Análise e Interpretação de

Indicadores Sociais, realizada no município de Parintins, nos dias 11 e 12, foi possível realizar

um levantamento de informações e análises a respeito do Indicador de Acompanhamento da

Gestão do Colegiado. Para a realização desta análise foi utilizada a dinâmica SWOT, que é

uma ferramenta utilizada para fazer análise de cenário (ou análise de ambiente), sendo usado

como base para gestão e planejamento estratégico de uma corporação ou empresa, mas

podendo, devido a sua simplicidade, ser utilizada para qualquer tipo de análise de cenário. A

sigla SWOT representa a primeira letra das palavras, em inglês: Strengths, Weaknesses,

Opportunities e Threats (Pontos fortes, Pontos fracos, Oportunidades e Ameaças), em

português recebe a tradução de FOFA. Os Pontos fracos e fortes são fatores internos.

Oportunidades e Ameaças são fatores externos.

Durante a realização da oficina no Baixo Amazonas a dinâmica foi utilizada para

analisar e interpretar a Gestão do Colegiado Territorial, de modo que todos os participantes

deveriam a partir de seus grupos indicar os pontos fortes, os pontos fracos, as oportunidades e

as ameaças da gestão do Colegiado Territorial. Foram considerados pontos fortes: esperança,

conquista, união, participação, liderança, comprometimento, determinação, perseverança,

PTDRS, CMDRS, autonomia, organização, envolvimento, NT, ND, sociedade civil e

parcerias institucionais. Entre os pontos fortes houve destaque para a união e para o

comprometimento da sociaedade civil.

87

Page 88: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 46 – Oficina de Análise e interpretação de Indicadores sociais Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

Associados aos pontos fortes da gestão do colegiado estariam as oportunidades da

gestão como: socialização, conhecimento, desenvolvimento, inclusão social, orientação,

atitude, participação, capacitação, desenvolvimento, PTDRS, experiência, gestão, sociedade

civil e poder público trabalhando juntos. Houve destaque para a oportunidade de acesso ao

conhecimento e a capacitação durante a gestão do colegiado (figura 46), os meios de

orientação e a possibilidade da sociedade civil e do poder público trabalharem junto de forma

democrática e legítima foi considerado o maior ganho e a maior oportunidade oferecida

duarante a gestão do colegiado.

Figura 47 – Oficina de Análise e interpretação de Indicadores sociais Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2010.

88

Page 89: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Com relação aos pontos fracos, fraquezas, da gestão do colegiado territorial foram

considerados um número maior de pontos comuns, houve a indicação de quase os mesmos

pontos entre os grupos que participaram da dinâmica, são eles: comunicação, poder público,

projetos, CMDRS, participação, interesse, envolvimento, articulação, determinação,

rotatividade e execução. O item comunicação foi indicado 4 vezes, por quase todos os grupos,

o mesmo ocorreu com os itens poder público e articulação que foram citados 3 veses, os itens

projetos e interesse foram citados duas vezes (figura 47).

Relacionadas às fraquezas estão as ameaças a gestão do colegiado, que de acordo com

os grupos de participantes são as seguintes: desarticulação das entidades, não contratação de

projetos, inoperância, perda de recursos, divulgação dos projetos, concentração do poder

público, alternância, inadimplência, não comprometimento, falta de interesse,

descompromisso, falta de apoio, dissolução do colegiado, desarticulação política, descaso,

falta de recursos, corrupção, divergências políticas, falta de interesse dos gestores públicos,

politicagem, divergências político-partidárias. Apesar de haver maior diversidade nas

respostas este item foi o que gerou maior discussão e problematização na análise da gestão do

Colegiado Territorial.

Embora os itens das ameaças não tenham se repetido, houve concordância entre os

participantes com relação a todas as ameaças citadas, destaque para a desarticulação política e

divergências político-partidárias como os itens que mais estão prejudicando a gestão do

Colegiado Territorial, considerando que estas divergências se dão, sobretudo, no nível local,

ou seja, entre as prefeituras e o Colegiado Territorial. Este fator tem contribuído

significativamente para a desarticulação do colegiado e a perda de interesse por parte dos seus

membros.

Se tentarmos estabelecer uma relação entre os tópicos da dinâmica – Fortaleza e

Oportunidade -, poderemos obter análises importantes acerca da gestão do colegiado. Nesse

caso, daremos destaque para os itens mais citados e mais discutidos entre os participantes da

oficina. Com relação ao tópico das fortalezas, ressaltamos a importância dada ao item da

participação da sociedade civil. Para o tópico das oportunidades os itens destacados são

conhecimento e sociedade civil e poder público trabalhando juntos. Ao relacionarmos as

fortalezas e as oportunidades podemos concluir que o maior ganho obtido com a gestão do

CODETER foi o aprendizado e a experiência de uma gestão compartilhada entre a sociedade

civil e o pode público. Em síntese, uma política inovadora na história do desenvolvimento da

sociedade brasileira (figura 48).

89

Page 90: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 48 – Fortalezas e oportinidades da gestão do Fonte: UFAM/NUSEC, 2011.

Os tópicos fraquezas e ameaças permitem a relação de seus itens a partir da análise e

interpretação dos próprios membros do Colegiado Territorial, uma vez que buscam avaliar a

participação e a contribuição do CODETER na gestão do território do Baixo Amazonas. Com

relação às fraquezas os itens que obtiveram maior destaque foram comunicação e poder

público, ambos estão diretamente relacionados. A comunicação como um dos maiores

entraves da gestão do Colegiado Territorial, sobretudo, no que diz respeito às articulações

estabelecidas com as entidades do poder público. As ameaças envolvem os itens já citados -

desarticulação política e divergências político-partidárias (figura 49), que estão relacionados

com as fraquezas do seguinte modo:

Figura 49 – Fraquezas e ameaças da gestão do Fonte: UFAM/NUSEC, 2011.

90

Page 91: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Como já foi dito anteriormente a fraqueza é um ponto fraco, não apenas entre os

membros do colegiado, mas entre o colegiado e a sociedade em geral e entre o colegiado e o

poder público. São dificuldades de comunicação e de entendimento que prejudicam a gestão

do colegiado e as articulações necessárias para o desenvolvimento de ações e programas

sociais. A pouca participação e envolvimento dos gestores públicos é um dos fatores mais

destacados pelos participantes, por mais que a sociedade civil busque se envolver e

desenvolver ações importantes, grande parte das suas ações serão descartadas se não houver o

comprometimento dos gestores públicos municipais, estaduais e federais.

As deficiências de comunicação e articulação com o poder público são ameaças

consideráveis a articulação política necessária ao desenvolvimento da gestão territorial,

levando conseqüentemente a existência crescente de divergências político-partidárias. Na

figura abaixo estão indicadas as tarjetas com a indicação dos tópicos da fortaleza,

oportunidade, fraqueza e ameaça (figura 50).

Figura 50 – FOFA Baixo AmazonasFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

91

Page 92: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

3.5. Avaliação de Projetos

Fábrica de beneficiamento de leite (Barreirinha – AM)

O projeto de implantação da fábrica de beneficiamento de leite, no município de

Barreirinha, data de 2003. Foi executado com recursos do PRONAF e custeado pelos

Governos Federal e Municipal, respectivamente através do MDA e pela contrapartida da

prefeitura.

O município de Barreirinha caracteriza-se por possuir um grande rebanho bovino, o

que proporcionaria matéria-prima suficiente para este tipo de empreendimento. Com a

instalação da fábrica, haveria um estímulo na produção leiteira e potencialização dessa

atividade, diversificando a pecuária local.

O objetivo do projeto era produzir leite pasteurizado embalado, totalmente automático

e sem nenhum contato manual, assim como derivados, tais qual doce de leite, manteiga,

creme de leite, queijos, iogurte e outros subprodutos, tendo em vista que o leite destinado para

a alimentação da população era In Natura, vendido em latões, oferecendo alto risco para a

saúde dos habitantes. A execução do projeto beneficiaria os pequenos e médios pecuaristas,

que teriam sua produção absorvida, aumentando assim sua fonte de renda, além de atender a

grande demanda pelo produto na região. A implantação da indústria geraria também

empregos diretos e indiretos no município. O projeto contemplava uma estratégia de

implantação e especificações dos equipamentos necessários, visando atender aos padrões

impostos pelo Ministério da Agricultura (quadro 11).

Quadro 11 - Objetivos centrais do projeto:

Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3Redução da

pobrezaX

Geração de renda X XFortalecimento de cadeias produtivas

X X

Fortalecimento de redes sociais

X

Fortalecimento da gestão social

X X

Recuperação ambiental

X

Desenvolvimento de novas

tecnologias

X X

Fortalecimento do cooperativismo

X X

92

Page 93: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Fortalecimento de ações afirmativas de gênero, raça e

etnia

X

Fortalecimento da educação no

campo

X

Fortalecimento das capacidades

locais

X X X

Fortalecimento da identidade territorial

X

Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

A partir dos dados obtidos na aplicação do questionário de Avaliação de Projetos de

Investimento, observam-se alguns pontos importantes. No que diz respeito ao planejamento

do projeto, do modo como ocorreu a definição deste, percebe-se que houve uma demanda

espontânea dos beneficiários, o que se confirma pelo fato de Barreirinha possuir a maior bacia

leiteira do Baixo Amazonas. Os objetivos centrais eram geração de renda, fortalecimento das

cadeias produtivas, no caso, a cadeia produtiva do leite, fortalecimento da gestão social,

desenvolvimento de novas tecnologias, fortalecimento do cooperativismo e, este item foi

apontado por unanimidade pelos três entrevistados, fortalecimento das capacidades locais.

Nota-se também que houve participação dos beneficiários na definição do projeto, elaboração

do diagnóstico e no acompanhamento do processo de implantação. Em relação aos critérios

utilizados para definir a abrangência do empreendimento dentro do território, foram

apontados critérios político/administrativo, físico/geográficos, culturais e ambientais, como

uso sustentável de recursos naturais do território, medidas de manejo dos impactos e gestão

dos custos. A SEPROR providenciou cursos de capacitação, enquanto ações referentes a

levantamento de informações e assistência técnica para a produção foram tomadas na fase de

planejamento. De acordo com os entrevistados, o colegiado não teve papel ativo na definição

destes componentes, ficando a cargo das entidades públicas todo o processo de

desenvolvimento do projeto.

Quadro 12 - Principais dificuldades para que o projeto possa operar de forma ideal:

Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3Gestão X X X

ComercializaçãoDesenvolvimento de X

93

Page 94: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

tecnologiaAcesso à informação X

Custo da matéria prima

Custo de insumosCondições de

transporteX X

Capacitação X XMelhoria da

produçãoX

Divulgação/marketing XCapital de giro X

Abandono escolarDesinteresse da demanda social

X

Financiamento Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

Apesar de todo o estudo e planejamento realizados, a fábrica de beneficiamento nunca

chegou a funcionar mesmo depois de concluído o prédio e instalado todos os equipamentos.

Diversas inconformidades foram verificadas após o término da obra, desde problemas com a

estrutura em si, até com o local onde esta foi instalada. A estrutura tinha erros de medida e foi

construída em local inapropriado, em rua não pavimentada e próxima a igarapé, sujeita a

alagamento. Uma grande dificuldade no transporte da matéria prima até a usina e com o

escoamento dos produtos seria imposta por essa situação. Dessa forma, não foram atingidos

os objetivos do projeto, nenhuma atividade econômica foi promovida, e os beneficiários não

estão sendo atendidos. A partir de alguns ajustes orçamentários, foram feitas tentativas de

solucionar as imprecações, mas não promoveram resultados.

Houve um grande impasse na hora do repasse da gestão. Inicialmente, a gestão ficaria

a cargo da associação de pecuaristas, porém a fábrica permaneceu parada. Fatores importantes

de divergência política podem estar ligados ao abandono do projeto. Verifica-se que a fábrica,

assim como todos os equipamentos, está esquecida, relegada a ação dos vândalos e das

intempéries, de forma que uma grande quantia de dinheiro seria necessária para pô-la a

funcionar de maneira adequada.

Sendo assim, as principais dificuldades para que o projeto opere de forma ideal,

apontadas por todos os entrevistados, estão na gestão, nas condições de transporte e na

capacitação. Todavia, a gestão é o maior problema. Após o termino do mandato do antigo

prefeito, e conseqüente repasse do empreendimento ao seu sucessor, o projeto foi fadado ao

94

Page 95: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

abandono. Devido aos prefeitos serem de bases políticas diferentes, um não quis dar

seguimento à realização do outro. Dessa forma, a fábrica que já estava com toda a estrutura

pronta e equipamentos instalados, faltando apenas alguns ajustes para que começasse a

funcionar, passou a se deteriorar. Com o tempo o entorno da agroindústria foi alvo de

invasões, houve enchentes, a fábrica, sem vigia, foi saqueada, tudo isso contribuiu para que

ela definhasse cada vez mais. Esses fatores levaram ao desinteresse da demanda social, os

próprios criadores, que durante a fase de implantação se demonstravam ativos, se afastaram.

Portanto, a fábrica foi condenada tanto pelo descaso do poder público, como da sociedade

civil.

Unidade de beneficiamento de mandioca (Parintins – AM)

O projeto da fábrica de farinha foi proposto pela prefeitura de Parintins e encaminhado

pelo conselho municipal em 2003, na ocasião ainda não havia colegiado. Além da

contrapartida da prefeitura, foram liberados recursos do PRONAF para a realização do

empreendimento.

O objetivo da fábrica seria absorver a produção dos pequenos produtores de mandioca

do projeto de assentamento Vila Amazônia – Localizada no município de Parintins, e até

mesmo de outras localidades próximas que tivessem potencial produtivo. No entanto, de

acordo com os entrevistados, não houve um estudo adequado de viabilidade econômica, e

constatou-se mais tarde, depois de concluída a obra, que não havia produção suficiente para a

agroindústria funcionar, dentre outros problemas, como local inapropriado para a instalação,

em beira de estrada, o que dificulta a escoamento da produção. Voltaremos a isso mais tarde

(quadro 13).

Quadro 13 - Objetivos centrais do projeto

Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3Redução da

pobrezaGeração de renda X XFortalecimento de cadeias produtivas

X X X

Fortalecimento de redes sociais

X

Fortalecimento da gestão socialRecuperação

ambiental

95

Page 96: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Desenvolvimento de novas

tecnologias

X X

Fortalecimento do cooperativismo

X

Fortalecimento de ações afirmativas de gênero, raça e

etniaFortalecimento da

educação no campo

Fortalecimento das capacidades

locaisFortalecimento da

identidade territorial

X

Uma análise dos dados obtidos com a aplicação do Questionário de Avaliação de

Projetos de Investimentos permite levantar alguns pontos importantes. O projeto surge como

uma demanda espontânea dos beneficiários, mas há controvérsias. Todo o processo de

elaboração e implantação ficou a cargo do poder público. Dos objetivos apontados, destacam-

se geração de renda, fortalecimento das cadeias produtivas e desenvolvimento de novas

tecnologias. O projeto apoiaria principalmente cooperativas de produtores rurais e associações

informais. O critério de abrangência foi predominantemente físico/geográfico, a idéia era

buscar a matéria prima em todos os municípios que compõem o Baixo Amazonas. Apesar de

o questionário apontar a realização de alguns estudos sobre mercado, na prática verifica-se o

contrário, pois a fábrica está parada por diversos motivos, alguns supracitados, e os

beneficiários não estão sendo atendidos. As principais dificuldades encontradas para que o

projeto possa operar de forma ideal foram: gestão, desenvolvimento de tecnologia, custo da

matéria-prima, condições de transporte, capacitação e desinteresse da demanda social

(quadro 14).

Quadro 14 - Principais dificuldades para que o projeto possa operar de forma ideal

96

Page 97: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3Gestão X X X

Comercialização XDesenvolvimento de

tecnologiaX X

Acesso à informação XCusto da matéria

primaX X

Custo de insumos XCondições de

transporteX X

Capacitação X XMelhoria da

produçãoX

Divulgação/marketing XCapital de giro X X

Abandono escolarDesinteresse da demanda social

X

Financiamento XFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

Constatamos na Unidade de Beneficiamento de Farinha, problemas muito similares

aos encontrados em Barreirinha, na Fábrica de beneficiamento de Leite. Os impasses

começam com a falta de estudos apropriados de viabilidade econômica e logística. Como já

foi mencionado, após a conclusão da obra, notou-se que não havia produção suficiente para

abastecer a fábrica, isso deriva em certa medida de um fator cultural, o interiorano muitas

vezes não concebe a guarda de alimentos, daí o fracasso de programas de produção

organizada. Por outro lado, o poder público peca em previamente não estabelecer acordos

com os produtores, de forma a estimulá-los a um planejamento de suas ações em prol do

próprio benefício. Observa-se também uma grande falha na logística de implantação. A

fábrica de farinha foi construída na beira da estrada, quando melhor seria construí-la na beira

do rio, onde tanto o escoamento do produto beneficiado como a captação da matéria-prima

oriunda de outras localidades seria facilitada. Além disso, depois de construída, ainda faltava

a parte hidráulica e elétrica.

Outra constante é o impasse na gestão do empreendimento, talvez o maior deles.

Nesse caso, a gestão ficaria com a própria prefeitura, através da secretaria de produção, mas o

problema começou quando a fábrica não passou no licenciamento ambiental, e por causa

disso, não estava apta a funcionar. Os ajustes a fim de atender as exigências não foram feitos,

o mandato do prefeito terminou e seu sucessor, como observamos no caso de Barreirinha, 97

Page 98: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

também não deu continuidade ao projeto. Portanto, mais uma vez vemos fatores de

divergência política que prejudicaram o sucesso do empreendimento, prejudicando

consequentemente os beneficiários deste.

De acordo com os entrevistados, para que a Unidade de Beneficiamento de Farinha

funcionasse seria necessário mudá-la de lugar, para a comunidade do Açaí, na Vila Amazônia,

onde existe tanto a demanda como disponibilidade da matéria prima, e um porto para o

escoamento da produção e captação de mandioca oriunda de todo o Território, como havia

sido idealizado inicialmente no projeto; e passar a gestão para a COOPAPIN. Essa medida

seria a mais adequada além de menos dispendioso do que realizar reformas na estrutura atual.

Fábrica de beneficiamento de leite

98

Page 99: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Exterior das instalações da fábrica de beneficiamento

Frente das instalações da fábrica de beneficiamento

Equipamentos para fabricação de queijos Equipamentos não utilizados

Empacotadora de leite Embalagem do leite pausterizado que seria produzido na fábrica

Usina de beneficiamento de mandioca

99

Page 100: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Casa de Farinha Equipamento

Equipamento Equipamento

Fiação elétrica Equipamento

Estrutura Equipamento

3.6. Índice de Condições de Vida

100

Page 101: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

De acordo com os objetivos propostos neste projeto, utilizamos formulários com

perguntas fechadas do Índice de Condições de Vida (ICV) das comunidades rurais visitadas

no Baixo Amazonas, localizadas em setores censitários indicados pela SDT, estas

comunidades estavam localizadas nos seguintes municípios:

Boa Vista do Ramos

Comunidades: Cristo Bom Pastor do Parí, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do Amandio,

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro da Enseada e Santo Antônio do Lago Preto do Ramos.

Maués

Comunidades: Nossa Senhora de Lourdes, Santíssima Trindade, Santa Maria e Santa Luzia,

São José do Rio Paricá, Monte Horebe, Santa Clara e Menino Deus.

Barreirinha

Comunidades: Piraí (Peixe Pequeno) e Ponta Alegre.

Parintins

Comunidades: São Sebastião (Boca do Boto), Santa Rita de Cássia (Igarapé do Boto),Vila

Bentes e Sagrado Coração de Jesus (Costa da Águia)

São Sebastião do Uatumã

Comunidades: Santa Helena (Rio Maripá), Deus Ajude (Boto), Caiaué Grande, Igarapé Açú,

Nossa Senhora de Fátima e Bom Jesus do Angelim.

Por meio da aplicação dos formulários (entrevistas estruturadas e semi- estruturadas) e

observações-participantes nas comunidades rurais, houve a possibilidade de obter dados

quantitativos (definidos pelo MDA através do ICV) e qualitativos (através de reuniões

participativas com as lideranças e agricultores locais, entrevistas com roteiros semi-

estruturados e mapas mentais) (Figura 1).

O ICV foi o indicador que permitiu interação direta entre os componentes do projeto e

os agricultores familiares dos setores censitários, tendo em vista que os outros indicadores

foram aplicados somente no âmbito do Colegiado Territorial do Baixo Amazonas. Assim para

que os formulários de ICV fossem aplicados nas comunidades rurais, foram feitas visitas em

101

Page 102: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

unidades familiares que praticam a agricultura, objetivando desta forma demonstrar o perfil da

agricultura familiar na região (figura 51), sob a percepção dos próprios entrevistados, bem

como através do ICV, medir o grau de satisfação das necessidades básicas para as famílias e

indivíduos residentes nos setores censitários. A metodologia de cálculo do ICV envolve a

transformação das cinco dimensões por ele contempladas (longevidade, educação, renda,

infância e habitação) em índices que variam entre 0 (pior) e 1 (melhor), e a combinação destes

índices em um indicador síntese. Quanto mais próximo de 1 o valor deste indicador, maior

será o nível de desenvolvimento humano do município ou região.

Figura 51 – Reunião participativa com lideranças e agricultores familiares Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

As comunidades amazônicas instituíram formas de convívio com a floresta tropical

úmida, enfrentando as condições que lhes foram impostas pelo ambiente e compatibilizando a

exploração dos recursos locais com sua conservação. Contudo, a formação dessas

comunidades, embora tenha ocorrido em tempos diferenciados, foi impulsionada por diversos

ciclos de ocupação e modelos econômicos implantados, o que fez surgir uma sociedade

singular que interage de forma diferenciada com seu meio (SIMONETTI, 2004). É de suma

importância valorizar o conhecimento sócio-histórico sem deixar de considerar as condições

existenciais dessas populações, ou seja, o saber fazer do cotidiano. Pois se entende que ele é o

fator determinante do modo de produção particular de cada uma delas, bem como seu modo

de vida.

Desta forma, o modo de vida dos agricultores familiares da Amazônia constituído por

povos tradicionais advém de seu conhecimento sobre os ecossistemas em que vivem. O 102

Page 103: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

conhecimento tradicional desenvolvido por essas comunidades é definido por Fraxe (2004),

como sendo as informações que as pessoas, numa determinada comunidade, desenvolveram

ao longo do tempo, baseado na experiência, adaptado a cultura e ambiente local, estando em

constante desenvolvimento. Este conhecimento é usado para sustentar a comunidade, sua

cultura e os recursos naturais necessários para a sobrevivência contínua da comunidade.

Ribeiro et al. (2002), associam a organização de produção dessas comunidades como

uma forma de preservar o ambiente, pois como dependem quase que exclusivamente do meio,

procuram se harmonizar a ele. Ainda de acordo com Diegues e Arruda (2001), populações

tradicionais que já habitam uma área a muitas gerações acumulam maior carga de

experiências e conhecimentos sobre o ambiente que manejam. Estas experiências

proporcionam a geração de um conhecimento ecológico tradicional.

Considerando estas peculiaridades da Região Amazônica, bem como os povos que

nela habitam, ou seja, nas comunidades rurais visitadas do Baixo Amazonas, com o objetivo

de analisar a percepção dos moradores em relação ao ambiente que os circunda, realizamos

oficinas em que crianças, jovens e adultos pudessem descrever os aspectos visuais/perceptivos

dos ambientes que fazem parte do seu cotidiano vivido. Assim como ferramenta gráfica de

coleta de informações subjetivas que puderam contribuir na construção do perfil do agricultor

familiar nestas localidades, foram utilizados materiais didáticos (cartolina, papel madeira,

pinceis, lápis de cor, giz de cera, dentre outros) para a elaboração de Mapas mentais, aonde os

ambientes aquáticos, as áreas de cultivos agrícolas, os espaços de criação animal, moradias, a

paisagem das matas e as áreas de lazer por eles utilizadas, foram expostas a partir de suas

representações cognitivas do lugar (figura 52, 53 e 54).

103

Page 104: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 52 – Mapas mentais elaborados pelos moradores locais. Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

Figura 53 – Elaboração de Mapa MentalFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011

Figura 54 – Elaboração de Mapa MentalFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011

Sobre os Mapas mentais, Nogueira (1994), afirma que as representações são criações

sociais ou individuais de esquemas pertinentes do real. “Essas imagens quando dizem respeito

à questão da representação do espaço, quando leva em consideração a orientação, localização

ou outras informações sobre o lugar de vida, são constituídas em mapas mentais”. Para

Matarezi (2000) os mapas mentais são analisados como sendo processos cognitivos

(conhecimento e habilidade), cuja representação do meio físico e da organização social

permite-nos identificar e conhecer a lógica de apropriação dos recursos naturais e dos

equipamentos culturais elaborados pelos atores sociais em seu cotidiano, na estruturação do

seu espaço e lugar (figura 55).

104

Page 105: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 55 – Mapa mental elaborado por morador local Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

Durante a pesquisa em campo, foram entrevistadas duzentas e noventa e uma pessoas

que representavam suas unidades de produção familiar, as quais têm como principal fonte

renda a agricultura. Os resultados permitem verificar que nas comunidades visitadas, entre os

moradores entrevistados, 181 (cento e oitenta e um) pessoas eram do sexo masculino e 110

(cento e dez) do sexo feminino (figura 56). O fato de terem sido entrevistadas, em sua

maioria, pessoas do sexo masculino, não significa dizer que as mulheres não possuem

significativa posição na organização do núcleo familiar, grande parte das entrevistas foi

realizada com a presença da esposa, contribuindo no fornecimento das informações.

Sobre a agricultura familiar no ecossistema de várzea, Fraxe (2011) ressalta que a

condição fundamental da produção familiar camponesa é a força de trabalho familiar e que a

família é a célula básica para a existência de uma unidade de produção rural. É a família quem

estimula a existência de outras relações sociais de produção, como o trabalho acessório e o

trabalho assalariado. Apesar da força de trabalho familiar ser centralizada, principalmente,

sob o gerenciamento masculino nas unidades produtivas, o trabalho produzido pelas mulheres

na agricultura familiar é fundamental para sustento da atividade, sobretudo, quando a família

ainda não possui força de trabalho suficiente dos filhos. Contudo, é comum percebermos que

a mulher desempenha um papel de coadjuvante, o que reproduz a divisão sexual do trabalho,

onde a mulher é aquela que realiza o trabalho mais leve. Entretanto, a participação da mulher

105

Page 106: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

no processo de produção da agricultura familiar é o mesmo que o dos homens, além de

desenvolver as atividades domésticas e os cuidados com os filhos.

Figura 56 - Gênero dos participantes da pesquisa Fonte: UFAM/NUSEC, 2011.

Quando questionados sobre a posição que ocupam no âmbito familiar, encontraram-se

os seguintes resultados: 199 (cento e noventa e nove) são chefes de família, 73 (setenta e

nove) são esposas, que representavam seus esposos, pois em algumas residências os chefes de

família estavam ausentes, enquanto que outros entrevistados restantes são filhos e parentes,

que “ajudam” nas práticas agrícolas das unidades familiares (figura 57). Tal como foi dito

anteriormente, o homem assume uma posição central na condução da unidade de produção,

não é à toa que foi considerado, na maioria das entrevistas, como o chefe da família.

106

Page 107: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 57 - Posição do entrevistado no núcleo familiar Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

Para este contexto, Fraxe (2000) enfatiza que agricultura na Amazônia é baseada em

sua maioria, na unidade de produção assentada na mão-de-obra familiar, com a participação

dos filhos, esposa e geralmente o agregado familiar. Nas comunidades visitadas as atividades

agrícolas são realizadas nos sistemas agroflorestais, roças, floresta, mananciais terrestres e

aquáticos, combinando a agricultura ao extrativismo vegetal e animal.

Grande disparidade foi percebida entre aquelas famílias que possuíam uma produção

familiar e aquelas famílias que não possuíam uma produção familiar. Cerca de 254

entrevistados afirmou ser agricultor familiar e apenas 37 afirmaram não ser agricultor

familiar. Este dado revela que o grande sustentáculo da vida rural permanece sendo a

agricultura e, principalmente, uma agricultura de base familiar.

107

Page 108: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 58. Tipo de estabelecimentos visitados Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

As comunidades visitadas do setor censitário do Baixo Amazonas caracterizam-se por

uma biodiversidade de ambientes e paisagens que se reflete na diversidade social e cultural

dos seus povos. São inúmeras as demonstrações da rica diversidade de crenças, hábitos e

mitos compartilhados entre os grupos locais, resultados estes da herança do índio, do europeu

e do negro africano. Uma das características mais marcantes e comuns a todas as

comunidades estudadas é a formação e transformação de ambientes, espaços e paisagens em

que vivem, um dos exemplos é a centralidade da comunidade que é formada pela igreja,

escola e campo de futebol (figura 58), em outras palavras, o núcleo de sociabilização dos

moradores, na medida em que constitui o lugar do encontro e lazer. Embora, tenha-se

registrado mudanças consideráveis nas comunidades amazônicas, o “centro de sociabilização”

sempre comporta as três seguintes instituições, igreja, escola e sede (figuras 59, 60 e 61).

Figura 59, 60 e 61 - Centralidade de algumas comunidades do Baixo Amazonas Fonte: UFAM/NUSEC, 2011.

108

Page 109: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Para este estudo buscamos entender por centralidade a capacidade de um espaço em

concentrar atividades e movimento, caracterizando-se pela animação e relacionando-se com

densidade, acessibilidade, diversidade, disponibilidade de infraestrutura e serviços. Uma das

instituições sociais que possui maior influencia na vida social dos moradores das

comunidades visitadas é a igreja católica, que tradicionalmente realiza seus cultos aos

domingos e suas festas em comemorações ao santo padroeiro da comunidade. Durante anos a

igreja católica tem se mantido soberana na comunidade, as outras orientações religiosas não

obtém muita ascensão na vida social local. Como afirma Eduardo Galvão, a superestruturada

igreja católica em nenhum momento foi fundamentalmente modificada na Amazônia, ela foi

apenas enriquecida com a cultura do índio, do africano e do nordestino.

Isto não significa que outras denominações religiosas não tenham surgido, mas que a

igreja católica tem permanecido a mesma, sem profundas alterações. Paralela a atividade

religiosa, as atividades lúdicas possuem grande destaque no modo de vida das famílias locais,

como eles mesmos costumam falar “a igreja e o futebol são sagrados aqui”. O futebol tem

grande importância para o processo de sociabilização entre as pessoas na comunidade, de

diferentes faixas etárias (figura 62).

Figura 62 - Socialização através do futebol Fonte: UFAM/NUSEC, 2011.

Através dos formulários aplicados podemos observar nas moradias dos comunitários

(figura 63) que há energia elétrica em 125 (cento e vinte e cinco) residências, ou seja, dos 291

(duzentos e noventa e um) entrevistados, menos da metade tem acesso a energia elétrica. Em

alguns casos foram verificadas casas que não possuem rede elétrica, no entanto utilizam

109

Page 110: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

motor de luz, em ocasiões especiais, há famílias em que a iluminação noturna é feita por

candeias e lamparinas. Quanto ao acesso aos recursos hídricos, a água é obtida por bombas

d’água ou é buscada diretamente nas margens dos rios.

Figura 63 - Componentes das moradias dos comunitários Fonte: UFAM/NUSEC, 2011.

A mobília da casa do ribeirinho é muito simples, independente dele ter mais recursos

ou não, seus móveis são poucos e bem distribuídos. Na maioria das casas visitadas o fogão

(destaque em relação a quantidade), a geladeira e o telefone são usados freqüentemente. Na

maioria das vezes estes eletrodomésticos e eletroeletrônicos costumam ficar nas salas de

visitas para mostrar “status”. Entretanto, os dados revelam que a questão do saneamento

básico, através do uso de banheiro tem uma freqüência pouco representativa, pois apenas 13

moradias possuem banheiro nas residências. Os banheiros costumam ser construídos distante

da casa, cerca de dez metros. Esses banheiros são construídos distantes das casas em razão da

falta de saneamento básico, a maioria deles não possuem rede de esgotamento com fossas

sépticas para os dejetos. Essas fossas costumam ser grandes buracos, sobre os quais são

construídos estes banheiros, nos flutuantes (casas construídas sob a água) estes banheiros são

colados as casas, uma vez que seus dejetos são jogados diretamente no rio.

110

Page 111: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 64 - Moradia tipo flutuante Fonte: UFAM/NUSEC, 2011.

Além do banheiro, a maioria das casas nas comunidades amazônicas, sejam elas de

várzea ou terra firme, possui um “porto”, ou seja, é o local onde as pequenas embarcações

(canoas, rabetas) são atracadas. Em outras palavras, o porto é a porta de entrada da

propriedade, é onde as pessoas desembarcam e chegam às casas. No entanto, o porto tem

outras finalidades para a família ribeirinha, pois é nele que as pessoas tomam banho, lavam

roupas e louças, tratam seus peixes, levam seus instrumentos de trabalho, colocam suas

bombas d’água e outras coisas mais. Durante cheia, muitos portos deixam de ser usados e

outros acabam sendo destruídos com a subida das águas. Nas figuras 65 e 66, buscamos

destacar algumas destas finalidades do porto de uma casa:

Figura 65 – Porto em comunidade ribeirinhaFonte: UFAM/NUSEC, 2011.

Figura 66 – Vida no portoFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

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Page 112: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

O uso do telefone também é restrito para comunidades mais próximas dos centros

urbanos, é comum utilizarem mais telefones celulares que telefones fixos dependendo das

localidades.

ANÁLISE DE DADOS DO ICV DO BAIXO AMAZONAS - AM

A média do ICV do Baixo Amazonas é de 0,593. De acordo com a metodologia de

cálculo proposta pelo SGE, isto significa que o Índice de Condições de Vida da população

rural do Baixo Amazonas é considerado “médio” por estar entre os indicadores 0,40 e 0,60.

Quanto mais próximo de 1 (um), mais alto é considerado o nível de desenvolvimento das

regiões. Como explicamos anteriormente, o uso dos formulários visa obter dados a partir da

percepção dos indivíduos entrevistados sobre as condições de vida no seu território a partir de

três instâncias. A cada uma dessas instâncias se associam oito indicadores, explicados a seguir

de acordo com a realidade local do Baixo Amazonas. O resultado desse trabalho é o

cruzamento dos dados quantitativos com os dados qualitativos do estudo realizado pela Célula

Baixo Amazonas.

112

Page 113: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 67 – Índice de Condições de Vida Fonte: SDT/SGE, 2011.

A primeira instância procura avaliar os “Fatores, recursos ou acessos que condicionam

o Desenvolvimento” no território do Baixo Amazonas, isto é, os meios que propiciam uma

boa qualidade de vida na região do setor censitário, os resultados permitem inferir que os

resultados dos Fatores de Desenvolvimento apresentam-se como médio (0,527).

113

Page 114: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Fatores, recursos ou acessos que condicionam o Desenvolvimento no território do Baixo

Amazonas:

Figura 68 – Índice de Condições de VidaFonte: SDT/SGE, 2011.

Número de famílias trabalhando, mão de obra e área utilizada nas atividades agrícolas:

Sobre a percepção dos agricultores no que se refere à quantidade de seus familiares

que estão trabalhando nos sistemas produtivos, a média está em 0,597, a utilização de mão de

obra familiar apresenta-se na médio-alto de 0,619, neste sentido, como discutimos

anteriormente, a agricultura nesta região, caracteriza-se como familiar, onde o pai, a mãe,

filhos, parentes e agregados trabalham, os resultados encontrados fortalecem esta questão.

Fraxe (2000) tem demonstrado em pesquisas com comunidades ribeirinhas, que as crianças a

partir dos 8 (oito) anos de idade já contribuem como força de trabalho nas unidades de

produção.

A agricultura é uma das formas mais tradicionais do uso dos ecossistemas,

principalmente na várzea, que apresenta uma vocação natural, devido à fertilidade de seus

solos (RIBEIRO e FABRÉ, 2003). Comunidades ribeirinhas amazônicas caracterizam-se pela

diversidade de suas atividades produtivas, atributo que assegura sua sobrevivência nos 114

Page 115: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

ambientes em que vivem. Na região censitária do Projeto Territórios da Cidadania, podemos

perceber que a unidade e o trabalho são organizados pelo núcleo familiar, podendo contar por

vezes com a participação de parentes ou vizinhos de outra localidade (LAMARCHE, 1998;

FRAXE, 2000). Segundo Parente (2003), a produção familiar trabalha com um diversificado

elenco de produtos cultivados e/ou explorados nas unidades produtivas, seja para a

subsistência, seja para o mercado incluindo produtos alimentares tais como: frutas, olerícolas,

produtos extrativos vegetais, criação de animais e pescado. A diversidade nesses sistemas de

produção é mantida por permuta de sementes, pelo fluxo gênico através de trocas de material

vegetativo como mudas e estacas com vizinhos, parentes e amigos, e mesmo mediante compra

ou busca em comunidades próximas ou longínquas, aumentando assim a biodiversidade

agrícola nestes ambientes de cultivo. Essas formas de produção na Amazônia podem ser

descritos com sistemas de subsistência resultantes da integração humana com a natureza, que

não prejudicam de forma significativa o meio ambiente.

Em relação à área da unidade de produção familiar, as respostas indicam também

médio-alto (0,703). Neste fator, percebemos que o ambiente em que se encontram as

comunidades, contribui para que este indicador seja alto, pois há locais que apresentam solos

mais férteis, por exemplo, no município de Boa Vista do Ramos, há ocorrência de Terra Preta

de Índio, um tipo de solo antropizado que favorece bastante o desenvolvimento da agricultura,

sem uso de fertilizantes químicos. Ribeiro et al. (2002) considera que os sistemas de produção

utilizados por essas populações muitas vezes são tidos como modelos de conservação do

ambiente, através de formas de manejo que surgem a partir de observações da natureza, e não

de simples vontade de dominá-la, como se pode verificar nos sistemas de produção difundidos

pelos técnicos e instituições de ciências agrárias.

Escolaridade

O fator escolaridade dos membros da família é avaliada por eles como “médio-alto”

(0,672), ainda que a maioria deles não tenham concluído nem mesmo o Ensino fundamental.

Pois eles associam escolaridade com as condições de ter acesso à escola. Respondem muitas

das vezes fazendo um paralelo entre o passado e o presente da comunidade. Se antes, para

estudar, eles tinham que percorrer longas distâncias, hoje há escolas nas suas comunidades ou

bem mais próximas e “só não estuda quem não quer”. Portanto, este aspecto é considerado

bom, mas é considerado bom no sentido estrutural e não com relação à qualidade e nível do

ensino.

115

Page 116: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Ainda assim, diante de todas essas dificuldades, a escolaridade em nível territorial tem

aumentado bastante no que se refere às novas gerações. Por mais que os jovens ajudem na

produção familiar, também freqüentam a escola. Contudo, é importante enfatizar que as

condições de ensino na maioria das comunidades permanece estável (figura 69 e 70). O

ensino nas comunidades geralmente vai até o 9º ano do Ensino fundamental. Quem deseja

concluir o ensino médio e prosseguir com os estudos, deve ter o apoio da família para

conseguir se manter na sede do município. Os casos de evasão escolar são mais comuns

quando os estudantes devem contribuir para o sustento da família ou quando a escola fica

muito longe de seu domicílio, nesse caso, na sede municipal.

Figuras 69 - Infraestrutura das escolasFonte: UFAM/NUSEC, 2011.

Figuras 70 - Infraestrutura das escolasFonte: UFAM/NUSEC, 2011.

No entanto, Fraxe (2007) enfatiza que no cotidiano do homem rural amazônico a

escola representa a possibilidade de mudança, de ascensão econômica e social. É nela que os

pais e filhos da comunidade projetam suas esperanças e expectativas de um futuro melhor,

com novos conhecimentos e projetos de vida. A maioria dos entrevistados no que se refere às

práticas agrícolas, prefere que seus filhos não tenham a mesma “sorte” que eles, que possam

continuar seus estudos e melhorar de vida.

Condições da moradia

As famílias respondiam que suas casas não poderiam ser ótimas porque sempre tem o

que “ajeitar”. Ruim também não pode ser porque é o lar deles. Por isso, consideravam suas

condições de vida na maioria das vezes entre regulares ou boas. Poucos consideravam a opção

“péssimo” como resposta. As condições de moradia são, de acordo com a pesquisa, médias

(0,575).

116

Page 117: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

A casa do homem amazônico possui algumas peculiaridades (figuras 71 e 72)

relacionadas à localização geográfica da região, são habitações localizadas entre a floresta e o

rio, construídas suspensas do chão em razão das cheias. Algumas pessoas costumam chamá-

las de “casas perna de pau”, outras as definem por “palafitas”, como são conhecidas as casas

construídas nas regiões alagadiças, cuja função é evitar o alagamento dos seus cômodos

internos, é uma habitação comum nas regiões tropicais e equatoriais.

Figura 71 - Tipos de habitaçõesFonte: UFAM/NUSEC, 2011.

Figura 72 - Tipos de habitaçõesFonte: UFAM/NUSEC, 2011.

Essas casas são cobertas por telhas de amianto ou alumínio, sendo que raras vezes é

possível encontrar casas cobertas de palhas. Em geral, as paredes são feitas por tábuas de

paxiúba, palmeira abundante no vale amazônico. Nos quintais é sempre possível encontrar

pequenas hortas, que visam garantir a subsistência da família, fornecendo verduras e legumes

importantes para o preparo dos alimentos e para fortalecer a dieta do amazonense. Esta dieta

ainda é complementada pela variedade de espécies frutíferas encontradas nos quintais locais,

as mais freqüentes são: mangueiras, jambeiros, bananeiras, limoeiros, abacateiros e

cupuaçuzeiros.

As casas possuem, normalmente, quatro cômodos: sala, cozinha, e dois quartos. No

entanto, esta divisão de cômodos varia de família para família, aquelas que possuem melhores

condições financeiras possuem uma casa mais confortável e ampla, é possível observar isso

logo que se entra na sala, geralmente bem mobiliada e enfeitada. Aquelas famílias mais

humildes possuem uma casa pequena e mal conservada, muitas com madeira apodrecida e

pouca mobília.

Acesso a mercados, Programas do Governo, crédito e assistência técnica

117

Page 118: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

O acesso aos mercados é considerado médio (0,421) pelos entrevistados. Esta questão

envolve vários fatores, como a distância do mercado consumidor, alto custo do transporte dos

produtos, as relações estabelecidas na comercialização, entre agricultores e compradores dos

produtos excedentes (marreteiros). Em outras palavras, a apropriação ocorre no momento em

que se dá a troca de produtos por moeda e/ou a troca de produtos por produtos, entre, de um

lado, agentes de comercialização, marreteiros, regatões e feirantes; e de outro, os seus

fregueses - os agricultores (figura 73).

Figura 73 - Agentes de comercializando fibra de malvaFonte: UFAM/NUSEC, 2011.

A inexistência de uma política agrícola voltada para a região amazônica é um dos

principais fatores que favorecem o aparecimento de agentes de comercialização. Pode-se

caracterizar esses agentes através de uma tipificação. O marreteiro, termo regional utilizado

pelos camponeses para designar os atores sociais proprietários de pequenas embarcações, é o

agente da comercialização responsável pelo abastecimento das famílias camponesas de

mercadorias. Sua presença deve-se, fundamentalmente, à precariedade dos meios de

transporte. A maioria dos camponeses não possui motores a combustão, sendo suas

embarcações movidas pela própria energia humana (o remo), o que implica gastos grandes de

energia e altos custos por parte dos camponeses em deslocamentos pela malha hidroviária

(figura 74).

118

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Figura 74 - Transporte da fibra de malva pelos agentes de comercializaçãoFonte: UFAM/NUSEC, 2011.

A atividade produtiva mantém-se, geralmente, em moldes lógicos tradicionais,

impondo ao camponês a necessidade de trabalhar mais intensamente, nos dois ambientes

(água e terra). Estas condições, acrescidas da fertilidade das terras molhadas e da viscosidade

dos lagos pesqueiros, favorecem a economia do excedente. Além disso, parte significativa da

decisão do que e como produzir vem como imposição dos requisitos ditados pelo mercado

consumidor.

O acesso aos programas do Governo é médio-baixo (0,385). Durante os

questionamentos sobre esses indicadores, houve muitas críticas em relação ao acesso, os

programas de Governo como o Bolsa Família e o PRONAF são considerados burocráticos,

pois os administradores municipais, concentram os benefícios, cadastrando ou informando

apenas para as comunidades em que fazem parte de seu interesse eleitoral

Outras dificuldades apontadas, em algumas comunidades, são os documentos pessoais

pendentes ou gasto com transporte e/ou hospedagem para o cadastro em localidades próximas,

onde geralmente são feitos os cadastros para participar destes programas. O acesso a crédito

(0,362) e acesso a assistência técnica (0,327), na concepção dos agricultores, são médio-

baixos. O acesso a crédito e assistência técnica podem ser tratados de maneira conjunta pelo

fato de serem quase inexistentes dentro das comunidades do Baixo Amazonas. Os agricultores

afirmam que encontram dificuldades para acessar assistência técnica quando há necessidade,

pois os órgãos como IDAM ou SEPROR não possuem técnicos suficientes e quando

119

Page 120: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

solicitados, os agricultores tem que pagar o transporte deles. A presença e atuação das

instituições são consideradas médias (0, 511). Alguns sentem profundo descontentamento

com a atuação de prefeitos, líderes comunitários ou órgãos do governo estadual ou municipal

na região.

Características do Desenvolvimento

A segunda instância - Características de Desenvolvimento - também é considerada

média pela população rural do setor censitário (0,582).

Figura 75 – Características do Desenvolvimento – ICVFonte: SGE/SDT, 2011.

Renda Familiar, produtividade do trabalho e da terra:

120

Page 121: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

A Renda Familiar das comunidades visitadas do setor censitário, obteve índice médio

de 0,482, e a produtividade do trabalho nos sistemas de produção situa-se na média (0,548),

enquanto que a produtividade da terra é médio alto (0,659), estes fatores apresentam-se de um

modo geral razoáveis. Além da agricultura como principal fonte de renda nestas localidades, o

Bolsa Família, com bolsas que variam entre R$ 50,00 a 120,00 reais, tem sido considerado um

complemento importante na vida dos comunitários.

No fator produtividade do trabalho, os entrevistados descrevem que há ocorrência de

fatores limitantes como: excesso de trabalho, causando cansaço físico nos agricultores, para

este contexto Chayanov (1974) explica que a família camponesa procede mediante uma

avaliação subjetiva, baseada sobre uma longa experiência agrícola da geração atual e das

gerações precedentes. A maioria das famílias camponesas pode ou bem oferecer um grande

número de horas de trabalho, ou bem trabalhar mais intensamente, e às vezes fazer ambas as

coisas.

A quantidade de trabalho necessário, em condições dadas, pelos membros da família é

o que Chayanov (1974) denomina grau de auto-exploração do trabalho familiar. Os

camponeses não farão um esforço maior salvo que estimem que dito esforço se traduza em um

incremento do rendimento, o que poderia ser afetado e seria a um aumento do consumo

familiar, da inversão na unidade de produção familiar, ou dos dois fatores ao mesmo tempo.

Outra limitação para os agricultores são as doenças, principalmente em agricultores da

malva, que enfrentam dificuldades e condições de insalubridade, pois durante o corte e

afogamento do plantio, os agricultores permanecem submersos na água, propensos ao ataque

de cobras e arraias, além de problemas de saúde, como reumatismo, doenças dermatológicas e

respiratórias. Porém, a cultura da juta e da malva tem adquirido grande importância na

economia da região amazônica por quase meio século, em função de sua capacidade de

manter as sociedades agricultoras no meio rural na utilização de forma produtiva das áreas de

várzea na extensão do rio Amazonas.

Um fator que contribui para a manutenção e perpetuação deste cultivo é a facilidade de

exploração regional dessas plantas e o sucesso na comercialização das fibras no mercado

nacional, aliado à extraordinária adaptação da juta na região e à presença da malva, nativa no

Estado do Pará e posteriormente cultivada no Estado do Amazonas.

Sobre a produtividade da terra, segundo Therezinha Fraxe (2011) a várzea do

Solimões-Amazonas fornece aos camponeses uma renda de suas terras molhadas (que são

fertilizadas anualmente) e também de seus rios, lagos, igapós e furos, para isso, os eles

121

Page 122: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

praticam os processos de trabalho em uma produção integrada, explorando, em maior ou

menor grau, os recursos naturais renováveis (como fontes de água e a vegetação nativa),

através das atividades de agricultura, criação e extrativismo animal/vegetal. Assim o

agricultor consegue manejar estas pluriatividades, sem causar grandes danos ao meio

ambiente, contribuindo também para a conservação do recurso terra, que conservado e

manejado adequadamente tende a ter uma boa produtividade.

Desta forma, sociedade local tem elaborado técnicas que visam estabelecer relações

estáveis com meio ambiente, orientadas pelo conhecimento dos recursos naturais que foi

desenvolvido ao longo dos anos. Este conhecimento tem contribuído para que estas

sociedades estabeleçam uma exploração racionalizada desses recursos (figuras 76, 77, 78 e

79), compatíveis com o “mínimo vital”, apresentado por Antônio Candido em Os parceiros

do Rio Bonito. Desta forma, pode-se dizer que estas sociedades desenvolveram uma economia

de tipo fechada, na medida em que produzem e comercializam para garantir, em primeiro

plano, seu sustento e não para a acumulação de capital (CANDIDO, 2001).

Figuras 76, 77, 78 e 79 - Tipos de exploração racionalizada dos sistemas produtivos Fonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

Quanto à diversificação da produção agrícola, os resultados demonstram que este fator

está em torno de 0,497, ou seja, a diversidade de produtos é média. O que ocorre é que os

agricultores têm no cultivo das roças de mandioca (Manihot esculenta), seu produto mais

expressivo e importante, sendo as hortaliças e frutos considerados como produtos

complementares, tanto para a alimentação da família, como para a comercialização.

A farinha faz parte da dieta alimentar destas comunidades e algumas famílias vivem

somente do cultivo de roças, devido ao reduzido número de mão de obra nas lavouras, sendo

esta uma atividade de grande importância, não somente pelo aspecto econômico, mas também

pelo lado social, visto que ela aumenta as relações sociais entre os membros das famílias

(esposa, marido e filhos e parentes próximos) e entre as famílias locais. O que ocorre nestas

comunidades, é que a mandioca, por si só representa a diversidade agrícola, segundo Brocki 122

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(2001) a espécie apresenta grande diversidade intra-específica que favorece a manutenção da

diversidade da espécie, ocorrendo principalmente através de uma rede de permuta constante

de material genético, baseada em relações amistosas de parentesco e compadrio, onde são

selecionadas aquelas variedades que produzem farinha amarela e maior quantidade de sacas.

Efeitos do Desenvolvimento

A terceira instância trata de questões referentes às múltiplas dimensões de

capacitações e funcionamentos dos efeitos do desenvolvimento nas localidades do setor

censitário, esta instancia é considerada pela população rural do Baixo Amazonas como

“médio-alto” (0,693).

Figura 80 – Efeitos do Desenvolvimento – ICV Fonte: SGE/SDT, 2011.

As condições de alimentação (0,616), e de saúde (0,623), apresentam-se como médio-

alto na percepção dos entrevistados.

Em geral, a dieta alimentar das populações que habitam o interior do Estado do

Amazonas é, sem dúvida, repleta de limitações. Nem sempre é possível ter acesso a uma

alimentação balanceada, nos três turnos do dia, manhã, tarde e noite. Por essa razão,

buscaremos ao longo deste texto compreender como tem se caracterizado a dieta do homem

amazônico, quais as mudanças que podem ser identificadas e as dificuldades que 123

Page 124: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

permaneceram. O café da manhã do caboclo é simples, composto apenas pelo café coado logo

que amanhece o dia, com pouco açúcar, raras vezes é possível encontrar pão, bolacha ou

qualquer outro complemento. O cafezinho também é servido em outras ocasiões, quando

chega uma visita, amigos da comunidade ou quando se volta do trabalho, em algumas casas o

café é a bebida que está sempre disponível para quem chegar, mas isso depende dos recursos

que cada família dispõe.

Contudo, não são todas as comunidades que possuem hábito de tomar café pela

manhã, dada a dificuldade que encontram de ter acesso a estes produtos. Por outro lado, há

comunidades onde é possível encontrar outros produtos, como bolacha, pão, manteiga, leite e

outros produtos, dependendo da distancia desta comunidade de algum centro urbano. De fato

a dieta alimentar esta relacionada às principais atividades econômicas desenvolvidas nas

comunidades, em alguma delas é possível encontrar entre os produtos consumidos o leite de

gado, em razão da criação de gados bovinos pelas famílias. Além da criação de bois, as

famílias garantem sua subsistência através da criação de outros animais de médio e pequeno

porte, como porco, frango e pato. Esses animais são importantes para a segurança alimentar,

pois permitem o consumo de ovos e carnes, bem como podem ser vendidos em outros

momentos.

Desta forma, estas comunidades apresentam dietas alimentares diversas, algumas são

limitadas ao feijão, arroz, farinha e peixe, enquanto outras têm acesso a outros produtos como

enlatados, café, açúcar, macarrão, manteiga e outros produtos. No entanto, o peixe é o

principal recurso alimentar disponível entre as pessoas. Por essa razão, é possível encontrar

em quase todos os quintais, pequenas hortas com cheiro-verde (coentro), chicória e cebolinha,

as três principais hortaliças utilizadas para o preparo e tempero do peixe no interior do Estado.

Portanto, a variação da dieta alimentar do morador do interior do Estado do Amazonas

depende do equilíbrio que ele consegue manter entre o volume da produção e os gastos em

dinheiro, pois nem todos os meses é possível comprar outros produtos para complementar a

dieta, o que faz com que estas fiquem sempre reduzidas ao peixe, farinha, verduras e frutas

cultivadas na própria propriedade.

As relações de vizinhança são importantes para garantir a complementação da dieta

alimentar e também da saúde nos momentos difíceis, uma vez que os moradores costumam

dividir seus alimentos e plantas medicinais, estabelecendo-se, assim, um amplo sistema de

troca entre eles. Para tanto, as condições de saúde que também são tidas como médio-alto

pelos comunitários, é influenciada pelo uso de plantas medicinais, pois em sua maioria as

124

Page 125: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

comunidades visitadas, não possuem postos de saúde, dificultando assim com que os

moradores locais possam ter acompanhamento médico/odontológico.

Os resultados permitem inferir no que se refere à permanência dos membros da família

na comunidade, que aproxima-se da escala mais alta (0,885), evidenciando que o êxodo rural

na região tem diminuído, como já visto em razão de diversos fatores que expomos

anteriormente, como o acesso a escola (em relação à dificuldade que se tinha á tempos atrás),

a assistência social, através da Bolsa família, apesar da burocracia, e das práticas agrícolas, as

quais como dissemos, são a principal fonte de renda dos moradores.

Sob o foco econômico (0,665) este é apontado como médio-alto. Neste caso, além da

agricultura, o fator mudança é atribuído, principalmente, ao Bolsa-Família, responsável pela

diversificação das fontes de renda.

A percepção sobre as mudanças na situação ambiental da unidade, também demonstra-

se favorável (0,635), os moradores (por natureza), manejam, conservam e preservam seu

ambiente, por que necessitam deste para a sua sobrevivência. Os exemplos revelados pelas

comunidades ribeirinhas no que se refere ao funcionamento de apropriação, uso e gestão dos

recursos naturais podem ser adotados como referência. Isso tem sido progressivo tanto no

âmbito nacional como internacional. Essa linha de investigação tem mostrado que, se o

respeito pelo uso sustentado dos recursos tornam-se algo compartilhado pela comunidade,

aumenta as chances de êxito nas formas de gestão capazes de favorecer o alcance simultâneo

de uma distribuição mais eqüitativa da riqueza (DIEGUES, 1994).

No entanto, é importante destacar a intensa dinâmica de modificação ambiental que

caracteriza as várzeas da Amazônia, causada não em decorrência das ações antrópicas dos

moradores locais, um dos exemplos é a sucessão florestal na várzea que é iniciada nas praias,

com a rápida acumulação de sedimentos, que intensifica com o aumento gradual da cobertura

vegetal (JUNK, 1984). Este processo resulta na formação dos chavascais, restingas baixas e

restingas altas, sendo estas últimas o estágio clímax do processo nas áreas de formação no

Holoceno (KVIST e NEBEL, 2001). Esta construção é complementada pelo

desbarrancamento das restingas altas, seguida pelo "nascimento" de novas praias. Algumas

comunidades visitadas localizam-se em meio a esta dinâmica, adquirindo desta forma, certo

caráter nômade, onde mudanças são forçadas a cada 50 anos aproximadamente, devido ao

desmoronamento das áreas comunitárias.

Participação social (cooperativas, associações), política e em atividades sociais:

125

Page 126: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

A participação da família em organizações comunitárias (associações, cooperativas e

igrejas), eleições, conselhos, reuniões, em atividades culturais, é tida como médio-alto. Ainda

que nem todas as comunidades possuam suas cooperativas ou associações, em todas elas há

um líder comunitário. Na medida em que buscamos conhecer o universo cultural e social

formado pelos moradores das comunidades do setor censitário do Baixo Amazonas,

percebemos as fronteiras sociais e espaciais estabelecidas conscientemente por eles. Durante

os primeiros contatos com as comunidades logo entendemos que a lógica de organização

destas populações está estreitamente relacionada ao meio ambiente no qual vivem. Seus usos

se revelam no habitar, na vida cotidiana que fundamenta a história e a memória das pessoas e

suas relações sociais, diante das possíveis dinâmicas culturais que envolvem suas realidades.

Trata-se de destacar o papel que alguns grupos sociais assumem na defesa dos seus

interesses e necessidades, tornando possível à construção de lugar marcado por costumes e

práticas tradicionais de uso dos recursos naturais, mas um lugar construído a partir da uma

postura autônoma e livre em permanecer sustentando práticas simples e pouco lucrativas na

vida cotidiana.

Para Kênia Kemp (2001) nas sociedades tradicionais, ao contrário das sociedades

urbanas, há uma forte ligação entre cultura, povo e território, de forma que cada grupo social

possui uma geografia delimitada e um referencial cultural fixo, são, justamente estes aspectos

que garantem a vida comunitária. São as relações de vizinhança, as festas, a religião, os

interesses econômicos, ou seja, a vida comum, que tende a aproximar as pessoas e dão um

sentido de identificação ao lugar, bem como os conflitos que tendem a unir as pessoas em

torno de um bem comum, como ocorre nas comunidades visitadas.

O sentido de bem comum alimentado entre os povos que habitam a Amazônia tornou-

se um importante instrumento para a organização social das comunidades tradicionais,

destacando-se a importância que as famílias tiveram na formação das comunidades, pois a

rede de sociabilidade e solidariedade criada entre as famílias foi responsável pela sustentação

das tradições e valores culturais transmitidos ao longo dos anos de geração a geração. Embora

as comunidades em questão tenham passado e venham passando por transformações

socioculturais, como a mudança nas atividades produtivas (de agricultores para pescadores, ou

vice-versa), o elo que une os comunitários de um modo geral, tem sido mantido, as relações

de vizinhança, parentesco, as tradições religiosas e culturais continuam sendo sustentadas por

seus moradores e garantido assim a reprodução das práticas e relações sociais existentes.

126

Page 127: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Um dos exemplos que implica na reprodução das práticas e relações sociais, são os

aspectos religiosos da cultura amazônida, que apresentam uma rica diversidade de mitos,

concepções, crenças e práticas, considerando a influência religiosa indígena, africana e

portuguesa. Em geral, nas comunidades locais, os santos populares católicos assumem uma

importância significativa para a determinação da religião nestas comunidades, uma vez que

estes santos são aqueles de quem se obtém os “milagres” e “graças” por meio de promessas,

os moradores cultivam sua devoção aos santos por meio de práticas como o ato de acender

velas, colocar flores e às vezes placas e faixas de agradecimento por alguma graça alcançada.

O poder destes santos está relacionado à chegada de suas imagens nas comunidades, os

moradores gradativamente tornam-se devotos, constroem suas igrejas e realizam cultos onde

eles são venerados.

Nas comunidades pesquisadas, estes santos possuem um importante papel para

garantir a vida social local, pois são durante os cultos religiosos realizados aos domingos

constituem o momento por excelência da sociabilização, é quando os moradores podem

colocar as conversas em dia, obter informações sobre o que tá acontecendo na comunidade e

do que vai acontecer. Quando a igreja deixa de desempenhar este papel, como ocorreu em

algumas comunidades do setor censitário, a vida social da comunidade deixa de existir. Desta

forma, a igreja católica representa o núcleo social dos moradores, uma vez que grande parte

das atividades realizadas na comunidade é organizada na igreja.

Por outro lado, o que se observa em outras comunidades é a ascensão da religião

evangélica, pois um fator que tem se repetido em quase todas as comunidades abrangidas pela

pesquisa é a presença da igreja católica na formação e fortalecimento das comunidades

amazônicas e, posteriormente, sua dissolução com a chegada de novas igrejas e orientações

religiosas. Por essa razão, as comunidades são divididas pelas igrejas católicas e evangélicas,

de forma que uma parte da comunidade continua participando das festas, missas e novenas,

enquanto outras migraram para as igrejas evangélicas que foram sendo construídas ao longo

dos anos.

As comunidades em geral realizam festas em homenagem a estes santos católicos, que

ocorrem juntamente com outros eventos folclóricos, cívicos e esportivos, como o carnaval, a

semana da pátria, campeonatos esportivos e as festividades relacionadas à agricultura e à

pesca, caracterizadora das economias locais. As atividades realizadas durante estas festas,

geralmente, ocorrem na maioria das comunidades. Em geral possuem procissões, onde o santo

é retirado da igreja e carregado em um andor até a primeira casa onde será realizada a

127

Page 128: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

primeira novena, e a segunda e última procissão ocorre a transladação do santo à Igreja. Isto

porque neste momento estão presentes na comunidade todos os convidados e curiosos da

festa.

Para que a festa do santo ocorra, são necessárias diversas figuras simbólicas, que não

só cuidam da execução da festa, mas também contribuem para a repetição e perpetuação desta

como tradição. Essas figuras preenchem o que chamamos de encargos da festa: para que a

festa se realize e, principalmente, se perpetue, existe uma série de encargos (funções) para

diferentes membros da comunidade. Cada um desses encargos possui uma atribuição

específica e presta alguma homenagem ao santo da festa, representando uma referência para a

população do local e uma garantia de responsabilidade para quem possui o encargo. De outra

forma, é um sinal de respeito e contentamento ser escolhido (ou sorteado) para uma certa

atribuição na festa.

O uso de mastros tem lugar de destaque na maioria das festas de santos que ocorrem

no Brasil. O significado dos mastros, de acordo com Câmara Cascudo (1986: 481) é variado

nas festas brasileiras: a homenagem a um santo, com a plantação de uma árvore decorada

representa a fecundidade da terra, das sementes, da reprodução da vida, da boa colheita e da

proteção. O autor cita as diferenças entre o mastro e o poste central, outra manifestação do

mastro: “[...] são, etnograficamente, entidades diversas. O primeiro é símbolo propiciatório da

fecundação vegetal e o segundo uma égide evocadora perdida unidade telúrica do mundo,

passando a representar a imagem da firmeza, da sustentação do equilíbrio, e decorrentemente,

signo da soberania domínio, força disciplinadora”. Câmara Cascudo informa ainda: sempre

que o mastro estiver com oferendas, frutos, flores, fitas, revive um vestígio do culto da

vegetação, ou seja, na maioria das vezes os cultos agrários aparecem como a origem dos

mastros, mesmo que seus participantes não percebam atualmente essa relação.

3.7. Análise Integradora de Indicadores e Contextos

A análise integradora de indicadores envolve, em um primeiro momento, dois

indicadores sociais que estão diretamente relacionados: o Indicador de Identidade Territorial e

o Indicador de Condições de Vida. Estes dois indicadores estão relacionados e gravitam em

torno da noção de agricultura familiar. A agricultura familiar foi considerada o aspecto

definidor da identidade territorial do Baixo Amazonas, relacionada com as formas de uso do

solo e formas de conservação, estes aspectos estão relacionados no sentido de delimitar a

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Page 129: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

identidade territorial, o que mantém relação direta com o Indicador de Condições de Vida,

que tem como foco o agricultor familiar.

Figura 81– Análise integradora de indicadores sociaisFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

Com relação ao Índice de Condições de Vida – ICV foram destacados fatores de

desenvolvimento (área de produção e mão-de-obra familiar), característica de

desenvolvimento (preservação da floresta, solo e água), efeitos do desenvolvimento

(permanência no domicílio e atividades culturais). A agricultura familiar assume importante

papel na definição da identidade, pois está diretamente relacionada aos aspectos

característicos da região, nesse caso, os recursos naturais são fundamentais para esta

definição.

De acordo com Noda, a Amazônia Centro-Ocidental mantém sua vegetação natural

bastante preservada, graças às formas de produção praticadas pelos agricultores tradicionais

familiares. Essas produções apresentam níveis de sustentabilidade socioambiental e de

suficiência alimentar importantes para garantir a integridade dos ecossistemas. Esse agricultor

familiar é polivante, acessa recursos disponíveis e percebe a cronologia da produção agrícola

e reprodução ambiental. A jornada de trabalho é familiar, distribuída em atividades agrícolas,

129

Page 130: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

extrativistas (caça, pesca, coleta de produtos florestais). A força de trabalho constitui um

elemento fundamental para o processo, o ponto forte da produção. Nas palavras de Noda:

“Além dos recursos naturais existentes, a força de trabalho é o único fator de produção,

necessitando, portanto, uma administração criteriosa da sua utilização” (NODA, 2007:074).

Este cenário revela um nível de auto-suficiência no sustento dessas famílias, o que

pode ser explicado pela diversidade de produção. Outros fatores como o compartilhamento

comunitário dos recursos são importantes para a conservação e segurança alimentar. As

intervenções feitas no sentido de especializar a agricultura causam sérios transtornos na

organização social da produção, a condução a uma produção especializada provoca crises no

abastecimento alimentar. Portanto, a possibilidade de manutenção das unidades produtivas

rurais familiares garante a existência de um sistema de preservação dos recursos naturais.

Para Noda a racionalidade do sistema produtivo está assentada em três subsistemas

básicos: subsistema de auto-suficiência e sustentabilidade familiar, subsistema de produção

agrícola e extrativa comercial e subsistema estatal. O subsistema de auto-suficiência e

sustentabilidade familiar é constituído por uma articulada rede de atividades produtivas

assentadas na força de trabalho familiar, relaciona-se com o ambiente externo dos mercados.

O subsistema de produção agrícola e extrativa comercial está caracterizado pelo

desenvolvimento de atividades extrativas de fruteiras. A quantificação do valor monetário

gerado por estas atividade é caracterizado pela falta de registro e controle dos procedimentos

comerciais. O subsistema estatal compreende fluxos econômicos gerados pelos investimentos

e transferências dos governos federal e estadual, através dos programas oficiais de fomento à

produção.

A organização espacial é resultado do processo social de produção de grupos de atores

sociais, reflete a natureza da produção e o controle exercido sobre as relações. Para Noda: “O

espaço é produzido, reproduzido, recriado, configurando-se não apenas sociedade, localidade

ou comunidade, mas também e, principalmente, como possibilidade” (2007:30). Dentro desse

campo de possibilidade estão os componentes do sistema de produção comumente utilizados

na região amazônica.

Seguindo a mesma perspectiva analítica, podemos perceber que apesar do campo de

possibilidades que se apresenta para o projeto de desenvolvimento dos territórios rurais, há

inúmeras dificuldades e problemáticas se apresentam na integração dos resultados. Grande

parte dos itens dos indicadores sociais que apresentam relações entre si são considerados

negativos. Nesse caso, buscamos estabelecer relações entre três indicadores sociais:

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Page 131: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

capacidades institucionais, gestão do colegiado e avaliação de projetos. Entendemos que estes

itens estão diretamente relacionados e imbricados, portanto, se um deles não funcionar bem os

outros, certamente, não vão apresentar resultados satisfatórios.

Alguns pontos (destacados na figura) apresentam repetição em todos os indicadores

citados, saltam como os principais problemas encontrados. Em primeiro lugar, as dificuldades

encontradas na gestão pública, como falamos anteriormente, os gestores públicos possuem

pouco envolvimento nos assuntos relacionados ao CODETER, o que tem dificultado

consideravelmente a gestão. Portanto, a gestão pública interfere na capacidade institucional,

na gestão do Colegiado Territorial e no desenvolvimento dos projetos e empreendimentos.

O segundo ponto – falta de capacitação técnica e operacional – surge como uma das

principais reclamações, afinal interfere diretamente na condução dos projetos de

desenvolvimento. Se não há capacitação técnica e operacional também não há a possibilidade

de executar projetos de desenvolvimento, o que resulta, consequentemente, na concentração

dos grandes empreendimentos nos municípios que dispõem de capacitação técnica. Portanto, a

falta de capacitação técnica e operacional interfere na capacidade institucional, na gestão do

Colegiado Territorial e no desenvolvimento dos projetos e empreendimentos.

O terceiro ponto – interferência político-partidária – é um item citado indiretamente

entre os entrevistados que apesar de assumirem suas posições partidárias, reconhecem a

dificuldade encontrada entre os grupos diferentes. Projetos que são desenvolvidos por um

grupo que pertence a um partido diferente daquele que está na gestão municipal, certamente

não será considerado importante ou trabalhado. O que percebemos é uma constante

fragmentação de interesses e ações em função das divisões partidárias, o que compromete,

significativamente, a formação de uma perspectiva de desenvolvimento territorial.

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Page 132: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Figura 82– Análise integradora dos indicadores sociaisFonte: UFAM/NUSEC/SDT, 2011.

Todos os pontos citados até aqui contribuem para que haja um enfraquecimento nas

ações e atividades do Colegiado Territorial, durante as entrevistas era possível perceber o

descrédito e a perda de expectativas com relação ao programa Territórios da Cidadania. Os

entrevistados alegaram que já houve tempos melhores no desenvolvimento do programa, mas

que a ausência de resultados concretos e ações consolidadas acabou afastando parte do

Colegiado e deixando as outras partes descontentes e desinteressadas. O enfraquecimento das

ações do CODETER interfere no controle social exercido pelo Colegiado Territorial.

O controle social atua como a possibilidade de integração da sociedade com a gestão

publica, com a finalidade de solucionar problemas e as deficiências sociais com mais

eficiência. O controle social é um instrumento democrático no qual há a participação dos

cidadãos no exercício do poder colocando a vontade social como fator de avaliação para a

criação de metas a serem alcançadas no âmbito de algumas políticas publicas. Para isso, são

criados mecanismos que abrem a possibilidade de a sociedade civil denunciar atos ilícitos

praticados pelo poder público e também de se manifestar contrariamente sobre algum

procedimento político-administrativo.

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Page 133: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Contudo, quando as articulações entre os grupos que exercem esse controle social,

como é o caso do Colegiado Territorial, não estão funcionando bem, a manifestações em

torno das gestões públicas também ficam comprometidas. Além disso, percebemos que há

dificuldade no repasse de informações. Até o momento não conseguimos identificar um

sistema de comunicação interterritorial consolidado, sobretudo, com relação às áreas rurais

dos municípios.

Em conclusão, podemos estabelecer a seguinte relação: as capacidades institucionais e

a gestão do Colegiado Territorial figuram como fundamentais para o desenvolvimento de

outras ações territoriais. Nesse caso, a identidade territorial, as condições de vida e os projetos

são conseqüência do pleno desenvolvimento da gestão e das relações institucionais. Se a

capacidade institucional não funcionar bem, certamente a identidade territorial (forjada pelo

Programa neste momento) não poderá se consolidar e as condições de vida do agricultor

familiar não apresentarão melhorias. Se a gestão do Colegiado Territorial não cumprir com o

seu papel, a identidade territorial e as condições de vida não vão mudar.

Figura 83 – Análise integradora dos indicadores sociaisFonte: UFAM/NUSEC, 2011.

A partir desta análise podemos perceber que não existe uma relação hierárquica entre os

indicadores sociais, tampouco sobreposições entre estas relações. O que podemos perceber é

uma ligação direta e de dependência entre a capacidade institucional e a gestão do colegiado,

de modo de cada um desses elementos não pode existir sem o outro.

133

Page 134: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

3.8. Propostas e Ações para o Território

As propostas e ações para o Território foram elaboradas durante a realização da

Oficina de Análise e Interpretação de Indicadores Sociais, dando início à agenda de extensão

proposta para o território. A oficina teve como finalidade a análise e discussão dos

indicadores sociais do Baixo Amazonas (Identidade Territorial, Capacidades Institucionais e

Condições de Vida), por meio de ferramentas de diagnóstico participativo. Especificamente,

buscou-se socializar os resultados obtidos na pesquisa de campo da Célula de

Acompanhamento e Informação do Baixo Amazonas; analisar os resultados obtidos na

pesquisa de campo com ênfase nos indicadores de Identidade Territorial, Capacidades

Institucionais e Condições de Vida; interpretar os resultados obtidos no trabalho de campo a

partir de metodologias de diagnóstico participativo (UFAM/DFDA/Colegiado Territorial).

Figura 84 – Oficina com CODETERFonte: UFAM/NUSEC, 2011.

Os indicadores são fontes de informação para a formulação de políticas sociais,

programas e projetos nas diferentes esferas de governo e organizações. A construção e a

análise destes dados permitem o conhecimento sobre as mudanças sociais e suas diferentes

causas e monitoram as condições de vida e bem-estar dos grupos sociais envolvidos,

demonstrando os resultados obtidos por projetos de qualquer natureza. A Oficina constituiu

um instrumento capaz de auxiliar os gestores da sociedade civil e poder público a definir,

interpretar e analisar indicadores, conhecer cada uma das temáticas trabalhadas, a fim de

subsidiar o planejamento e a tomada de decisões em suas atividades.

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Page 135: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Pautada neste cenário, contou com a seguinte programação: Socialização dos

resultados obtidos na pesquisa de campo: identidade territorial e capacidades institucionais

(Coordenador e técnicos das Células); elaboração de diagnóstico participativo: identidade

territorial e capacidades institucionais (grupos de trabalho); socialização dos resultados

obtidos na pesquisa de campo: Índice de Condições de Vida (Coordenador e técnicos das

Células); elaboração de diagnóstico participativo: índice de condições de vida (grupos de

trabalho); socialização dos resultados obtidos na pesquisa de campo: Acompanhamento da

gestão do colegiado (Coordenador e técnicos das Células); laboração de diagnóstico

participativo: Acompanhamento da gestão do colegiado (grupos de trabalho); Aplicação da

metodologia de análise participativa SWOT/FOFA.

Figura 85 – Oficina com CODETERFonte: UFAM/NUSEC, 2011

Por fim, foi elaborada juntamente com o Colegiado Territorial do Baixo Amazonas

uma agenda de extensão, dando início a uma nova etapa de trabalho da Célula de

Acompanhamento e Informação, baseada no desenvolvimento de atividade de extensão e

capacitação. Para a agenda foram indicados os temas e problemáticas de maior importância

para o CODETER, a fim de pudessem ser discutidas e solucionadas em parceria com a Célula

de Acompanhamento e Informação da Universidade Federal do Amazonas. As pospostas

estão sistematizadas abaixo:

1. Proposta:

Fortalecimento dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável

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Page 136: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Reunião por pólo: Urucará e SSU; Parintins, Barreirinha e Nhamundá; Maués e Boa Vista do

Ramos;

- Marco legal (suplência, regimento);

- Fortalecer o conselho – resgatar a ideia de conselho;

- Perfil, história e atuação de entidades para participar do conselho;

Esta proposta foi elaborada com base nos resultados obtidos acerca da gestão do

Colegiado Territorial, a partir da realização de diagnóstico-participativo. De acordo com os

participantes, parte das dificuldades e limitações encontradas na gestão social e no

desenvolvimento territorial do programa se devem ao fato dos CMDRS não estarem

desenvolvendo, plenamente, suas atividades. Em alguns municípios não houve um processo

de consolidação do CMDRS, como um instrumento fundamental para o desenvolvimento do

programa. O resultado é uma oscilação entre os diferentes municípios do território.

2. Proposta:

Trabalhar fortalezas e fraquezas do Colegiado Territorial

- Reunião da plenária;

- Atividade deve acontecer até 12:00h;

- Realizar atividade em um barco;

- Itens listados nas Fraquezas e Ameaças;

Durante a atividade, os participantes reconheceram que precisam trabalhar as

fraquezas e as fortalezas do CODETER. Apesar dessas fraquezas serem identificadas

frequentemente, não há um processo de discussão e superação das mesmas, o que justifica a

necessidade de realização de oficinas que possam discutir e trabalhar os itens listadas na

dinâmica participativa realizada juntamente com a equipe da CAI/Baixo Amazonas. Trata-se

da (re)construção de estratégias de atuação do CODETER, que possam fortalecer o trabalho

que vem sendo desenvolvido na gestão social do território rural do Baixo Amazonas.

3. Proposta:

Gestão dos Empreendimentos e Projetos de Desenvolvimento do Território

Reunião da plenária;

- Noções básicas de administração e contabilidade (O que é um empreendimento?)

136

Page 137: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

- Estudo de viabilidade econômica;

- Conhecer como ocorre a distribuição dos recursos (marco legal);

- Bases de serviços;

- Bancos (financiadores);

- Parcerias possíveis (CONAB, Sebrae e Economia Solidária);

Outro problema recorrente no Baixo Amazonas tem sido a inadimplência das

prefeituras diante dos empreendimentos e projetos de desenvolvimento que estão em fase de

conclusão de suas obras em alguns municípios. Os participantes apresentaram a proposta de

realização de um seminário que possibilitasse o estabelecimento de diálogo entre as

prefeituras municipais, o Colegiado Territorial, a Delegacia do MDA e a Célula de

Acompanhamento e Informação. Este diálogo seria fundamental para a redefinição de metas,

identificação das principais dificuldades e encaminhamentos acerca dos projetos de

desenvolvimento que estão andamento em alguns municípios.

137

Page 138: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

Anexo: validação de instrumentos e procedimentos

Identidade Territorial

As questões que envolvem a definição de identidade territorial do Baixo Amazonas são

caracterizadas pela abrangência na escolha de aspectos identitários. Os aspectos recursos

naturais, agricultura familiar, atividades econômicas e outros, não dão conta do que estamos

entendendo por identidade territorial, apenas há uma indicação de itens que são considerados

importantes para os entrevistados. Por essa razão, há uma repetição constante dos níveis de

avaliação – 0,4 e 0,5 – uma vez que todos os aspectos acabam sendo considerados

importantes, o que dificulta a definição de uma identidade territorial.

No que diz respeito ao uso do instrumento em si, podemos destacar que a aplicação é

enfadonha, considerando a repetição constante dos mesmos aspectos e mesmos níveis de

avaliação em todas as questões. Além do fato de algumas questões apresentarem repetição em

seus enunciados como as questões P8 e P12, P10 e P11. As perguntas partem do princípio de

que as pessoas conhecem os temas e conceitos utilizados, apresentando dificuldade no

entendimento. Por fim, as análises são utilizadas em nível municipal, podemos perceber

grande dificuldade de definição de uma identidade em nível territorial.

Gestão do Colegiado Territorial

O formulário que trata do Acompanhamento da Gestão do Colegiado apresenta

questões pontuais e diretas que envolvem a análise da gestão do colegiado, por essa razão

apresentou pouca dificuldade na aplicação, em função da ausência de abordagem conceitual.

O que ocorre é que a aplicação revela a diversidade de níveis de avaliação, revela o pouco

domínio das questões do colegiado por algumas das pessoas entrevistadas.

Capacidades Institucionais

O formulário também apresentou questões pontuais sobre a capacidade institucional de

cada município, contudo, foram encontradas dificuldades na seleção dos entrevistados. O fato

do público alvo do formulário ser o poder público, nesse caso, gestores públicos municipais

(secretário e prefeitos). Outro aspecto observado foi a ausência de questões que investigassem

verdadeiramente o nível de articulação entre as prefeituras e o . As questões tratam,

sobretudo, sobre as ações desenvolvidas pelas Prefeituras Municipais.

Índice de Condições de Vida138

Page 139: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

As questões que compreendem o Índice de Condições de Vida – ICV não dão conta

das especificidades e singularidades de cada região brasileira. O que envolve diretamente a

definição de agricultor familiar, pois da forma como está posta acaba sendo reducionista e

simplificadora, sobretudo, no item que envolve questões de definição do agricultor familiar.

Na Amazônia, a polivalência de atividades para o sustento da família é essencial para a

sobrevivência da população local, afinal a sazonalidade da região não permite o exercício de

apenas uma atividade. No entanto, de acordo com os critérios do formulário a agricultura

familiar precisa ser a principal renda. Em que sentido?

Algumas questões apresentam imprecisão em seus enunciados, como por exemplo:

característica da mão-de-obra familiar? Quantidade de pessoas trabalhando? Resultado da

produção levando em conta o trabalho desenvolvido? As questões relacionadas à conservação

são pouco precisas. Conservação em que aspecto? Há confusão nos aspectos referentes à

infraestrutura como energia elétrica, água encanada e moradia. Estas questões são imprecisas

pois não revelam a realidade, as orientações do manual consideram como energia elétrica o

motor de luz? Em outras questões os parâmetros de avaliação são superficiais como: mais

para bom ou mais para ruim, a linguagem é confusa e pouco inteligível.

Avaliação de projetos

Neste formulário encontramos dificuldade na identificação dos entrevistados, esta

orientação não está presente no manual, sobretudo, com relação ao beneficiário. Quais seriam

os critérios para a definição do beneficiário?

Referências Bibliográficas

139

Page 140: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq

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