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BENTO GONÇALVES | 27 NOVEMBRO 2020 | EDIÇÃO 240 | ANO 19 CONSCIÊNCIA NEGRA Reprodução Web

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Page 1: CONSCIÊNCIA NEGRA...CONSCIÊNCIA NEGRA JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020 Por: Rodrigo De Marco rodrigo@integracaodaserra.com.br Edição: Kátia Bortolini katia@integracaodaserra.com.br

BENTO GONÇALVES | 27 NOVEMBRO 2020 | EDIÇÃO 240 | ANO 19

CONSCIÊNCIA NEGRA

Reprodução Web

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CONSCIÊNCIA NEGRA JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020

Por: Rodrigo De [email protected]

Edição: Kátia [email protected]

Empresa Jornalística Integração da Serra Ltda. Rua Refatti, 101 - Maria Goretti - Bento Gonçalves - RS | Fone: (54) 3454.2018 | 3451.2500 | E-mail: [email protected] | www.integracaodaserra.com.br

Periodicidade: Bimensal | Diretora e Jornalista responsável: Kátia Bortolini - MTB 8374 | Jornalista e Social Media: Rodrigo De Marco - MTB 18973 | Área Comercial: Moacyr Rigatti | Atendimento: Sinval Gatto Jr. |

Diagramação: Vania Maria Basso | Editor de Fotografia: André Pellizzari | Colaboradores e Colunistas: Ancilla Dall´Onder Zat, César Anderle, Letícia Simioni Schossler, Rogério Gava

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O racismo estrutural na Serra GaúchaReprodução Web

espancamento de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, até a morte, ocorrido em um hipermercado de Porto Alegre, no

último dia 19 de novembro, associado a racis-mo, às vésperas do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, causou comoção nacional, gerando protestos em cidades do Rio Grande do Sul e em outros Estados. Em Bento Gonçal-

ves, a manifestação ocorreu na tarde do último dia 21 de novembro, na Via Del Vino, centro da cidade, organizada pelo Movimento Negro Ra-ízes, coordenado pelo economista Marcus Flá-vio Dutra Ribeiro, de 50 anos.

O Integração da Serra reporta cinco depoi-mentos sobre a questão do racismo em Bento Gonçalves e região.

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020 CONSCIÊNCIA NEGRA 3

Movimento Negro Raízes reivindica Coordenadoria da Igualdade Racial

Solana e Marcus Flávio Dutra Ribeiro, coordenadores do Movimento Negro Raízes

Foto: Arquivo Pessoal

O Movimento Negro Raízes, que surgiu em Bento Gonçalves em 2018, reivindica à prefeitura a criação da Coordenadoria da Igualdade Racial. O órgão terá a atribuição de propor, articular e executar políticas públicas voltadas para a defesa dos direitos étnicos e raciais. O coorde-nador Marcus Flávio Dutra Ribeiro, ressalta que a implementação da Coordenadoria vai facilitar ações do Movimento nas áreas de educa-ção, e cultura, entre outras.

“Nas últimas eleições, enviamos questionário sobre racismo no mu-nicípio aos candidatos majoritários. Algumas respostas se demonstra-ram muito distantes da realidade da questão racial. O caso do Carre-four é emblemático, porque representa o contexto da pessoa que entra num supermercado e é vigiada. Racismo e intolerância geram violência e a violência não escolhe cor, atinge a todos”, observa Ribeiro.

O Movimento, com mais de 18 mil seguidores no Facebook, tinha planejado para este ano várias intervenções sobre a Consciência Negra em escolas da rede estadual sediadas no município, mas foram adiadas para o próximo ano, em função da pandemia do Coronavírus.

Reprodução Web

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CONSCIÊNCIA NEGRA JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 20204

“Ser preto,aqui ou em qualquer lugar”

TARJA PRETAPreto quando entra no mercado é vigiado.desarmado,mas sempre cercado.julgado e condenado,às vezes até acorrentado e açoitado.

Olho no delinquente!diz o segurança pro colega do lado.

Que é isso moço!?Tenho uns trocados no bolso,só quero comprar almoçopros chegados.

Preto com dinheiro é traficante!Ou assaltante!o segurança(que também é preto)pensa nesse instante.

podia ser hoje,podia ser aqui,podia ser eu...

Mas todo dia!no jornal, na página policialtem um preto qualquerbandido, marginal, indigente,menoralgemado ou pior

nos olhos só o escurouma grade, um murouma tarja preta.

Autoria: Rogério RodriguesBento Gonçalves

“Sempre fui morador de Bento Gonçalves. Nem consigo lembrar da minha primeira experiência de racis-mo. Minha mãe, que é branca, conta que inúmeras vezes perguntaram a ela se eu “era adotado”. Ainda hoje, no local onde trabalho, clientes per-guntam se sou estagiário. Quando digo que não, com cara de espanto, dizem: “mas tu não és daqui”. Como se por ser preto eu não pudesse ocupar o emprego que ocupo, nem ter o direito de nascer nessa cidade. Vejo também como os imigrantes haitianos são tratados. Impossí-vel não pensar que, muitas vezes, quem assim os trata é descendente de imigrantes que vieram para cá por motivos muito parecidos ao dos haitianos”, desabafa o bancário Ro-gério Rodrigues, de 38 anos.

Enfrentar o racismo com sabe-doria é uma das formas de Rodri-gues lidar com a situação. Mesmo sendo bancário e com uma rotina atribulada e cansativa, encontrou na arte a forma de externar seus sentimentos e também, de certo modo, sua revolta. Na última sema-na, gravou em vídeo a poesia, de sua autoria, intitulada Tarja Preta, compartilhada dezenas de vezes em diversas páginas das redes so-ciais. Sem meias palavras, Rodrigues foi na veia e deixou escorrer um sen-timento mesclado a dor, revolta e indignação. De acordo com ele, Tar-ja Preta foi gravado a pedido de sua amiga Eunice Pigozzo, que havia publicado nas redes sociais diversos trabalhos de artistas negros, em es-pecial residentes de Bento Gonçal-ves, utilizando a #artistasnegrosbg.

Segundo Rodrigues, ao gravar a poesia, ele ainda não tinha conheci-

Foto: Helio Alexandre

mento dos acontecimentos ocorri-dos no hipermercado Carrefour, em Porto Alegre. “A arte, de forma geral, em específico a poesia, me ajuda muito a externar sentimentos de forma que outras pessoas possam sentir algo com aquilo”, diz.

Para ele, “Poesia é algo que vem de dentro, do fundo da alma. Por ca-pricho, enfeitamos esse sentimento com métrica, ritmo e rimas. Nos de-bruçamos sobre o sentimento, que muitas vezes é o vômito daquilo que engolimos todos os dias, na es-perança de dar sentido a ele, tocar o coração e a alma das pessoas nem que seja apenas pela beleza. Levei duas décadas, vinte anos, para con-cluir Tarja Preta”.

Rodrigues recorda ainda de um dos fatos mais marcantes ocorrido há mais de duas décadas no Rio Grande do Sul. O enredo é muito parecido com histórias recentes, en-

volvendo personagens semelhan-tes.

“Mais ou menos há vinte e um anos atrás, um jovem de dezessete anos, assim como eu na época, pre-to como eu, periférico como eu, foi encontrado morto em uma locali-dade do interior do Estado. O “acu-sado”, que nunca foi preso, alegou que o rapaz estava roubando. Ami-gos da vítima disseram que ele ape-nas pulou o muro para buscar a bola que tinha caído lá dentro. Populares disseram que o rapaz não era boa coisa, que cheirava cola e roubava no supermercado. Há que diga que os assassinos eram policiais e quem encomendara a morte era o dono do supermercado. Mas o fato é que o rapaz foi encontrado morto em uma propriedade com vários tiros, de armas de diferentes calibres. Mas preto é sempre julgado e condena-do, mesmo desarmado”, desabafa.

Ao longo da história, o mun-do viu líderes negros erguerem as mãos e enfrentarem o racismo das ruas. O marco dessa luta está nos Estados Unidos, um dos países com histórico marcante da segregação racial.

“A luta pelos direitos civis nos Estados Unidos teve diversos líde-res, alguns pacifistas como o pas-tor Martin Luther King. Mas penso que, sem os radicais, como Malcon X e os Panteras Negras, não se teria chegado a lugar nenhum. Na África do Sul, Mandela também fez a dife-rença, junto da sua esposa Winnie. Conheço pessoas inteligentíssimas que acabam aceitando a falácia que devemos perdoar o passado e se-guir em frente como se nada nesses 500 anos de Brasil tivesse existido. Eu penso que precisamos da união do povo preto para exigir nossos di-reitos”, salienta.

Reprodução Web

Rogério Rodrigues

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020 CONSCIÊNCIA NEGRA 5

“O racismo pode estar presente em

poucas palavras, em mínimas atitudes”

O preconceito racial, na visão da estudante Talita Masiero, de 18 anos, do 3º ano da Escola de Ensino Médio Alfredo Aveline, autora do desenho da Branca de Neve Preta e do poema “Vidas”

VIDASPersonalidades, cores, raçasArco-íris de possibilidadesPessoas, diferentes na sua formaAinda humanas, ainda desrespeitadas

Preconceito tão antiquadoAntepassado, longínquoFalando que o branco é a soluçãoE o negro a abominação

Como podem, ainda hojePropagar tal ofensa irracional?Como podem, depois de anosPregar que o negro é o mal?

Arco-íris de possibilidades, eu disseTodas com sua alma, ainda humanasE que ainda merecem respeitoE que ainda tem que provar seu valor

Negro é raça, com coraçãoPovo injustiçado, lutadorQue merece seu lugar, posiçãoAssim como qualquer pessoa

Talita MasieroAluna da turma 311Escola Alfredo AvelineBento GonçalvesTutora: Professora Eliana Passarin

O que originou a criação do poema e do desenho?Talita: Nas aulas de Geografia e Ensino Religioso, a

nossa professora, Eliana Passarin, sempre faz questão de abordar temas importantes da sociedade, como a intolerância racial. Estávamos abordando esse assunto e nos foi solicitado um trabalho que expressasse a nos-sa reflexão sobre o tema. A princípio não precisava ser um poema, porém, adoro escrever e disso saiu “Vidas”. A Branca de Neve na cor preta reporta a uma cena de preconceito racial envolvendo uma menina, que pre-senciei em 2017.

Qual foi o principal objetivo do desenho?Talita: Desenhei a Branca de Neve Negra com o

objetivo de mostrar, não só para os negros, mas para qualquer pessoa, que todos podem ganhar o seu lu-gar, ser o que quiser, independente de raça ou cor de pele. Precisamos de mais espaço para tratar sobre as-suntos raciais, e fico imensamente grata ao ver que ou-tras pessoas também se tocaram com o meu desenho. Até para mim, que fiz esse desenho, é tocante analisar o significado que ele possui.

Tu já escrevias poesias ou Vidas foi a primeira criação literária?

Talita: Eu amo escrever e sempre tento colocar no papel o que eu sinto ou penso em relação a algum as-sunto. Já escrevi outros poemas sim, mais pessoais... Mas Vidas, sem dúvida, é um dos meus preferidos.

Tens contato com grupos sociais de representatividade negra em Bento?

Talita: Por enquanto, apenas tenho contato com o casal que deu origem ao Movimento Negro Raízes, So-lana e Marcus, mas adoraria conhecer outros grupos.

Já pensaste em realizar outros trabalhos em parceria com esse movimento?

Talita: Ainda estou em choque com a repercussão

Foto: Arquivo Pessoal

do meu poema e desenho com o movimento, então ainda não pensei. Mas sempre estou aberta a novos projetos, principalmente com esse movimento que tanto defendo.

Que ações as escolas poderiam tomar para tentar, ao menos, diminuir o racismo?

Talita: Acredito que projetos e trabalhos sobre o racismo e o preconceito são necessários, mas não são suficientes. O racismo pode estar presente em pou-cas palavras, em mínimas atitudes... As escolas preci-sam estar mais atentas e presentes para as possíveis vítimas dessa injustiça. Penso que o melhor caminho é mostrar aos alunos, fazê-los refletir sobre o fato de que uma sociedade é feita de pessoas, de diferentes raças, formas, personalidades e raças. E que a empatia se mostra cada vez mais necessária. Todos somos de uma única raça - a humana - e o que temos de dife-rente apenas é o que nos faz únicos, é o bônus.

Foto: Arquivo Pessoal

Talita Masiero

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Processo histórico do estabelecimento deafrodescentes na região da Serra Gaúcha

Foto: Arquivo Pessoal

Relato do historiador e coordenador de Relações Universitárias da Universidade de Caxias do Sul, Lucas Caregnato, 35 anos, eleito Vereador em Caxias do Sul no último pleito

Lucas Caregnato

54 2621.4868 | www.fluxocon.com.brRua Gomes Carneiro, 436 | Sala 21 | Edifício Marcello | Bento Gonçalves

“É importante destacar que a formação da região da Serra Gaú-cha está relacionada a uma decisão, opção que o império faz, que é de atrair mão de obra livre no final do segundo reinado, por pressão da Inglaterra ao império brasileiro de que a escravidão acabasse e que a mão de obra livre passasse a ser do-minante no Brasil. Grande parte dos países americanos já tinham abo-lido a escravidão, e o Brasil era um dos únicos países que ainda não o tinha feito. A economia vigente na principal potência da época, que era a Inglaterra, já se baseava na mão de obra livre e na industriali-zação. Com a mão de obra escrava tínhamos uma economia que não se dinamizava, não gerava mercado consumidor, não gerava a troca de moeda, compra de produto.

O pano de fundo principal da vinda dos imigrantes europeus é a atração da mão de obra livre e ocupação de terras devolutas, que era parte das terras aqui da antiga região de colonização italiana. Ge-ograficamente estávamos numa região habitada por indígenas e que era atravessada por tropeiros, porém, a nossa historiografia não analisou, não estudou esses grupos que aqui viviam, então a produção historiográfica da nossa região tam-bém voltou seu olhar quase que ex-

clusivamente aos povos europeus, que imigraram também por um processo de crise. Vale lembrar que a Itália e a Alemanha recém esta-vam se unificando, e havia um inte-resse desses reinos unificados que a população desses locais fosse dimi-nuída. Os habitantes da península itálica, que vieram ao Brasil a partir de 1875, também vem de uma con-dição de exclusão do reino que re-cém se unificava e precisava excluir o excedente populacional. Em razão disso, temos a vinda dos imigrantes europeus, e aqui nessa região de terra devoluta e uma região volta-da às colônias de imigração italiana era proibido, desde a lei de terras de 1850, que houvesse mão de obra escrava, justamente porque as colô-nias de imigração eram destinadas a mão de obra livre, por isso que na nossa região não tivemos a mão de obra escrava, em razão dessa ques-tão legal. Já em algumas colônias de imigração alemã, nas décadas de 20, 30 e 40, principalmente no século XIX, havia a coexistência de mão de obra livre e a mão de obra escrava dos africanos e descenden-tes escravizados.

Nos Campos de Cima da Serra havia uma presença efetiva da mão

de obra escrava. Nas últimas déca-das do século XIX, muitos desses negros escravizados acabaram fu-gindo ou buscando nas cidades que estavam se formando, uma alterna-

tiva para suas vidas. Então, esse é um elemento importante a ser des-tacado. Uma alternativa era tentar buscar o trabalho que sobrava. Em Caxias do Sul, podemos perceber, em fotos e fontes históricas, que os negros trabalhavam na construção de estradas, de pontes, todos os tra-balhos mais insalubres. O que a po-pulação citadina não fazia, sobrava para esses grupos. Eu gosto sempre de destacar o exemplo de Caxias, onde esses afrodescendentes vão se fixar em dois bairros. É o Com-plexo Jardineiro Ramos, conhecido como Burgo. O outro lado, perto do campo do Caxias, o Beltrão de Quei-roz, conhecido como Vila do Cemi-tério. Eram regiões que não eram ocupadas pela sua geografia muito íngreme, mas que, ao mesmo tem-po, não estavam distantes do centro urbano da cidade, o que possibilita-va que essas pessoas que lá viviam pudessem buscar trabalho. Tam-bém é um elemento para a gente pensar, como o racismo estrutural se mantém. Mesmo findada a escra-vatura, esses afrodescendentes não vão conseguir ter as mesmas con-dições que outros grupos da nossa sociedade”.

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020 7CONSCIÊNCIA NEGRA

O encanador Adma Gama Soli-man, de 35 anos, nasceu em Saint Louis du Sud, no Haiti. Foi criado pela avó, já que seus parentes mais próximos haviam ido morar na Fran-ça quando ainda era criança. Ainda jovem, residiu na República Domi-nicana e na Guiana Francesa. Após o terremoto que devastou o Haiti, em 2010, ele tentou aprovar seu visto para encontrar os familiares, porém foi negado.

“Mesmo quem é branco sofre preconceito aqui”

Fotos: Arquivo Pessoal

Adma Soliman e a esposa Kátia

A história de Soliman no Brasil iniciou no Acre, onde se juntou a uma empresa de Bento Gonçalves que estava precisando de trabalha-dores. Foi então que, em 2012, che-gou na Capital Brasileira do Vinho, sendo considerado o primeiro hai-tiano a residir em Bento Gonçalves. Aqui fixou residência e casou com a brasileira Kátia Soliman. Ao deixar de trabalhar na empresa, Soliman passou a prestar serviços como en-

canador profissio-nal.

Há dois anos, Soliman conseguiu obter a cidadania brasileira. Hoje, já bem adaptado com Bento Gonçal-ves, é reconhecido pela determinação, profissionalismo e altruísmo, ajudan-do centenas de ou-tros imigrantes que aqui chegaram e se estabeleceram. Ao longo desses anos lutou contra um ini-migo presente em seus dias: o racismo. A discriminação no trabalho e na rua era visível, mas foi com determinação, coragem e persona-

lidade que venceu todas as adversi-dades e hoje é também um cidadão bento-gonçalvense.

No último pleito, Adma entrou para a história de Bento Gonçalves como o primeiro imigrante haitia-no a concorrer a uma cadeira na Câmara de Vereadores. Ele mostrou desenvoltura e determinação ao longo da campanha, defendendo os imigrantes e a população mais carente. Não foi eleito, mas ampliou sua rede de contatos.

“Bento Goncalves é uma cidade limpa, bonita, de gente trabalha-dora. Infelizmente, nessa mesma cidade progressista, observamos atitudes preconceituosas e desi-gualdades sociais. Mesmo quem é branco sofre preconceito por aqui, como o da condição financeira, en-tre outros. Moradores da periferia não são bem-vindos na sociedade em geral. A cor e a condição social da pessoa não têm nada a ver com a sua inteligência e caráter”, avalia.Adma e sua afilhada

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020MELIPONICULTURA8

Manejo e criação de abelhas sem ferrão atrai cada vez mais adeptos

Reprodução Web

Por Rodrigo De Marco [email protected]

@sr_demarco

Nos últimos anos, uma prática sustentável tem ganhado cada vez mais adeptos no Rio Gran-de do Sul. É o manejo de abelhas sem ferrão. Uma alternativa, inclusive, para quem busca um passa-tempo e deseja ter um contato próximo à nature-za, sem precisar estar numa área rural. No entan-to, é preciso estudar e se informar sobre a forma correta de realizar esse manejo.

Pensando nesse público diferenciado, no dia 12 de dezembro, ocorre a 4ª edição do curso “Criação de abelhas sem ferrão: um hobby doce

e sustentável”. O ministrante será o engenheiro agrônomo e especialista Johannes Humbertus Falcade. O curso ocorre nas dependências do res-taurante Valle Rústico, em Garibaldi.

De acordo com Falcade, será um dia inteiro de aulas práticas. “O curso vai das 9h até às 17h30, onde serão passadas informações sobre todo o manejo de abelhas sem ferrão, para quem quer iniciar a criação. Ensinamos como transferir da isca para uma caixa. É importante lembrar que te-mos dois grandes grupos de abelhas sem ferrão

manejáveis: as Meliponas e as Trigonas. Dentro dessas duas grandes famílias existem diferentes espécies. No Rio Grande do Sul são 24 espécies, no Brasil mais de 300 e no mundo umas quatro mil”, explica.

O curso será ministrado para um número limi-tado de 20 pessoas. A programação inclui almoço e degustação de diferentes tipos de mel. Ao final do dia, serão sorteadas três caixas de abelhas com enxames, prontas para a criação. Inscrição e infor-mações pelo Instagram @vallerustico.

As abelhas nativas ou abelhas sem ferrão (ASF) já viviam no Brasil muito antes das espécies estrangeiras chegarem aqui. As melíponas povoam diversos biomas do território bra-sileiro, com mais de 300 espécies.

A meliponicultura é a atividade de criar abelhas deste gru-po, diferindo da apicultura, que é a atividade de criação das abelhas Apis mellifera, popularmente conhecidas como “euro-peias” ou “africanas”.

Por volta do século XVIII, os jesuítas trouxeram abelhas da Europa do tipo Apis para o Brasil. O objetivo era produzir cera para as velas usadas nas missas. Na década de 1950, pesqui-sadores da Unesp levaram para o interior de São Paulo algu-mas abelhas da África, também do tipo Apis, que tinham bas-tante produtividade. Contudo, algumas abelhas, operárias e rainhas, escaparam do laboratório, indo parar diretamente na natureza. Do cruzamento com outras abelhas do tipo Apis – as europeias, surgiu o que conhecemos, hoje, por abelha Apis mellifera ou africanizada, sendo conhecida também pelo po-deroso ferrão que possui.

Na história do Brasil

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020 9MELIPONICULTURA

Um hobby parajovem advogado

É a criação racional de abelhas sem ferrão (Meliponíneos), especial-mente das famílias meliponini e trigonini. Na meliponicultura, as colmeias são organizadas em meliponários, praticada há muito tempo pelos povos nativos da América Latina, em especial do Brasil e do México. Os objetivos da meliponicultura estão na produção e comercialização de colmeias (ou parte delas), mel, pólen, resinas, própolis e outros substratos como atrati-vos e ninho-iscas, além das abelhas serem os principais agentes da polini-zação e conservação da biodiversidade, ou simplesmente a proteção das espécies contra a extinção. Os povos indígenas já manuseavam as abelhas sem ferrão e utilizavam o seu mel para diversos tratamentos de saúde, en-tre eles a catarata.

Como surgiu o interesse em criar abelhas sem ferrão?

Matheus: Sempre gostei de abe-lhas e tive noção da importância de-las para o equilíbrio ecológico e para a dispersão e reprodução de espécies da flora. Até pouco tempo não tinha noção da existência de abelhas nati-vas sem ferrão, ou melhor, com ferrão atrofiado (não funcional). Achava que só existiam as abelhas apis comuns. Comecei a conhecer mais sobre elas há uns cinco meses, através do meu irmão, que passou a adquirir e a estu-dar abelhas nativas brasileiras.

Estás há pouco tempo nessa atividade. Ainda te considera um entusiasta?

Matheus: Meu interesse passou a aumentar à medida que vou des-cobrindo o amplo e incrível universo que é o da Meliponicultura. Conside-ro-me, ainda, mais um entusiasta do que um conservador, hobbista ou empreendedor. Tenho apenas duas caixas na minha casa, uma de abe-lhas Jataí e outra de abelhas Manduri.

Qual a quantidade média de mel produzida por essas abelhas?

Matheus: A quantidade de abe-lhas nas caixas e de mel produzida depende da variedade de espécies existentes. As Manduris formam co-lônias de 300 a 350 indivíduos e po-dem produzir até três litros de mel a cada verão, dependendo das condi-ções climáticas e geográficas e de um bom manejo por parte do meliponi-cultor. As Jataís formam colônias de mais de mil indivíduos e não produ-zem proporcionalmente tanto mel, embora este seja um dos mais apre-ciados e medicinal dentre todos.

A criação exige um cuidado especial ou uma pessoa sem técnica pode manejar facilmente em casa?

Matheus: Para mim, que me con-sidero um hobbista iniciante e com apenas duas caixas, a criação delas é relativamente simples. É necessário, sim, ter conhecimento básico sobre

A curiosidade sobre o mundo das abelhas impulsionou o advogado Matheus Leites Bernardo, 29 anos, a adquirir e manejar abelhas sem ferrão. Além do prazer em manter contato direto com as abelhas, Bernardo descobriu a paixão por uma nova atividade.Confira a entrevista.

Fotos: Divulgação

Meliponicultura

a vida e o comportamento das abe-lhas sem ferrão, para que o cuidado e o manejo seja ideal para o bom desenvolvimento desses seres. Por exemplo, o verão é mais tranquilo para o meliponicultor, já que as tem-peraturas mais elevadas permitem às operárias sair para forragear (coletar pólen, néctar e resina). Então, elas mesmas “fazem o serviço”. É impor-tante, nessa época, ter cuidado com a invasão de outros insetos na caixa, como pequenas formigas ou forí-deos. Nas épocas mais frias do ano, é preciso estar atento, ajudando-as com suplementos de pólen e xaropes caseiros e naturais, que as auxiliam na produção de mel. Qualquer pes-soa pode iniciar a criação de abelhas nativas, não é preciso uma formação específica em Biologia ou algo do gênero. Só é recomendável que a pessoa faça cursos e estude sobre o tema, para que possa ter sucesso na empreitada. Além disso, é necessário que haja uma fonte natural de água potável próxima (rios, arroios), ou mesmo artificial. Se o meliponário ti-ver um número realmente grande de caixas e espécies deve fazer o regis-tro no Ministério da Agricultura.

Existe local ideal para colocação das caixas?

Matheus: É importante que as caixas estejam localizadas fora de ca-sas ou apartamentos, em local mais elevado (para evitar possíveis preda-dores ou ataques de outros insetos) e com sombra. O ideal é que seja uma região arborizada e com plantas que possam fornecer os recursos básicos, como néctar, pólen e resina.

Pretendes estudar ainda mais sobre as abelhas sem ferrão e, futuramente, aumentar a tua criação?

Matheus: A intenção, agora, é fa-zer um curso pela Embrapa, para ter melhor conhecimento sobre a meli-ponicultura, porque ainda há muito para aprender. É um universo fasci-nante. Pretendo adquirir mais caixas futuramente.

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020COOPERATIVISMO10

Programa Aprendiz Cooperativo do Campo, da Vinícola Aurora, ganha reconhecimento nacional

Foto: Divulgação

Aprendiz Cooperativo do Campo conquistou o terceiro lugar no Prêmio SomosCoop Melhores do Ano, que valoriza iniciativas de cooperativas que beneficiam seus associados e a comunidade

O programa Aprendiz Cooperati-vo do Campo, realizado pela Vinícola Aurora, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem do Coo-perativismo do Estado do Rio Gran-de Do Sul (Sescoop/RS), foi finalista da categoria Comunicação e Difusão do Cooperativismo, no Prêmio So-mosCoop Melhores do Ano. A dis-tinção é promovida a cada dois anos pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), como forma de re-conhecimento à criatividade, à visão e aos resultados obtidos aos seus co-operados e à comunidade ao longo do biênio. A cerimônia de premiação ocorreu no dia 24 de novembro, com transmissão ao vivo pelo YouTube do Sistema OCB.

No total, 320 cooperativas, de Norte a Sul do país, inscreveram 595 cases, que foram avaliados por uma comissão julgadora formada por 63 integrantes.

“Estamos muito orgulhosos por sermos finalistas, e a terceira coloca-

ção na categoria Comunicação e Di-fusão do Cooperativismo, do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano, mos-tra que estamos no caminho certo. É um importante reconhecimento, pois concorremos com outras cen-tenas de projetos de cooperativas brasileiras. O Aprendiz Cooperativo do Campo não visa apenas a conti-

nuidade da nossa cooperativa, mas a preservação da atividade vitivinícola no futuro”, celebra o presidente do Conselho de Administração da Viní-cola, Renê Tonello, que também é as-sociado da Aurora desde 1980.

Desde 2017, o Aprendiz Coope-rativo do Campo estimula a perma-nência dos jovens nas atividades do

meio rural, promove a sucessão fami-liar e incentiva o aumento do quadro social das cooperativas. A iniciativa é voltada para jovens de 14 a 24 anos incompletos, filhos de cooperados, e abrange aulas teóricas e práticas na propriedade. Em virtude da pande-mia, neste ano, parte do curso foi re-alizada através do ensino à distância, de forma virtual.

Em três anos, duas turmas foram formadas e, em 2020, haverá a con-clusão de mais um grupo. Ao todo, cerca de 60 estudantes já foram con-templados no Aprendiz Cooperativo do Campo. Do total, aproximada-mente 90% afirmaram que irão dar continuidade ao ofício da família.

A Aurora conta com 1,1 mil fa-mílias cooperadas, presentes em 11 municípios da Serra Gaúcha. Os as-sociados produzem mais de 60 va-riedades de uvas, que são cultivadas em 2,8 mil hectares. A cooperativa também é a maior e mais premiada vinícola do Brasil.

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020 11SAFRA DA UVA 2020/2021

Colheita da safra da uva tem inícioUma das propriedades que está colhendo a va-

riedade Vênus, desde a semana passada, é da família de Andrei Lazzarini, na comunidade de Nossa Se-nhora dos Navegantes, em Cotiporã. Além da Vênus, ele também cultiva Niágara Branca e Rosada, Isabel, Rúbia, Violeta, Clone 30 e Carmen, em uma área de aproximadamente 5,5 hectares. A safra na proprieda-de se estenderá até o fim de fevereiro.

Além da sua produção, Andrei e a família tam-bém auxiliam na propriedade dos pais, Jorge e Ivani e do irmão Leonardo. Todos trabalham juntos nas áre-as que somam em torno de 13 hectares de vinhedos. A expectativa é colher em torno de 300 mil quilos de uva, sendo que aproximadamente metade será destinada para consumo in natura e a outra metade será para industrialização em cantinas da região. Da variedade Vênus, a família estima colher aproxima-damente 12 toneladas, em uma área de cerca de 0,6 hectares.

Andrei e Leonardo relataram ter boa expectativa com relação à produção deste ano. “As parreiras bro-taram bem, não tivemos muitos problemas com do-enças, mas agora seria necessário um volume maior de chuva, pois as variedades que serão colhidas na sequência precisam de chuva para auxiliar no cresci-mento das bagas e dar início à maturação das frutas.

Variedade superprecoce, cultivada nas regiões mais quentes, como os Vales do Caí, Taquari e Antas, a uva Vênus é a primeira a ser colhida na Serra. A uva chega à mesa do consumidor com qualidade devido à sanidade apresentada pelas vinhas

Foto: Jéssica Zalamena - Emater/RS-Ascar

Colheita da variedade Vênus iniciou na propriedade de Andrei Lazzarini

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020CRÔNICA12

RogérioGava

[email protected]

A Guerra do Esporte

Um jogo é uma

batalha de

mentirinha, mas

pena que muitos

esqueçam disso.

paixão pelo esporte é onipresente. Ou melhor, a paixão pela “competição” esportiva. Consi-

derem – estimado leitor e cara leitora – uma partida de futebol: o que vale aí não é se o jogo foi feio ou bonito, agradável ou enfadonho: se nosso time ven-ceu (ou se classificou, mesmo que tenha empatado – ou até perdido – e jogado horrivelmente), estare-mos satisfeitos. O que apreciamos é ganhar, apesar do discurso histórico de que o importante, ao final, seja competir. O fato é que somos obcecados pela rivalidade. Por que isso acontece? Por que esse ver-dadeiro “darwinismo esportivo”?

A explicação é simples: uma competição esporti-va é, ao final, um substituto para a guerra. Um jogo é um conflito simbólico, uma batalha de mentirinha. Um combate artificial. Uma partida de futebol, por exemplo, é o eco de nosso passado primevo. Das lutas no Coliseu. Duvida? O que dizer então das pe-lejas da UFC, do MMA, boxe e pancadarias em ge-ral? Homens das tribos afegãs jogavam polo com as cabeças decepadas de inimigos. No “Pot ta Pok”, espécie de futebol praticado pelos antigos Maias, do time que perdesse era escolhido um jogador para ser sacrificado. Evoluímos um pouco, por certo. Mas quantas vezes um jogo, uma competição esportiva, não viram uma batalha campal com saldo de mortos e feridos? Uma briga entre nações? Uma loucura sem qualquer controle?

Esporte é uma guerra de embuste, mas lida com o poder de verdade. Em 1936, Hitler quis mostrar ao mundo a supremacia da raça Ariana por meio do es-porte. Para azar do ditador, eis que um negro ame-ricano – Jesse Owens – ganha quatro medalhas de ouro e se torna o grande astro da Olimpíada de Ber-lim. Ponto para a civilização. Mas fica a marca de que a competição esportiva tem muito de conflito, de mostrar a superioridade de um time, de uma cidade, de um estado, de um país sobre o outro. Guerra de mentirinha. Sem sangue (quase sempre), mas com muito suor e orgulho em jogo.

Já se entrou em guerra por causa do esporte, como ocorreu entre San Salvador e Honduras, em 1969. Os dois países, que na época já brigavam como gato e rato, tiveram seus níveis de hostilidade leva-

dos ao infinito após uma série de três partidas pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 1970. Foi uma guerra generalizada: jogadores, torcedores e imi-grantes nos dois países foram expulsos, perseguidos e assassinados. As duas nações romperam relações diplomáticas e iniciaram o conflito. A guerra termi-nou sem vencedores quatro dias depois. Resultado: quase dois mil mortos.

A língua do esporte trai sua origem bélica: o ata-cante é “matador”; o time “trucidou” o adversário; os torcedores estão preparados para a dura “batalha” da decisão. O corredor “matou” os adversários no can-saço. Atacar, defender, brigar, desafiar, contra-atacar, bater, gritar, chutar, derrubar, agarrar, rebater, acer-tar. Todas essas expressões de guerra encarnadas em todos os esportes. Às vezes tudo isso foge do controle. Cai-se no fanatismo. E só lembrar as tragé-dias, os hooligans ingleses. Os mais de 100 mortos no estádio de Heysel, na Bélgica, em 1985, na final da Copa dos Campeões entre Juventus e Liverpool. O quebra-quebra em frente aos estádios. A necessi-dade de milhares de homens da Brigada nas arenas modernas. Exércitos de guardas contra exércitos de torcedores.

No esporte deve haver vencedores e derrotados: senão não teria graça. Deve haver rivalidade, e mui-ta. Dá para imaginar um Brasil x Argentina sem clima de hostilidade? De antipatia mútua? Um GRENAL de sangue doce? Esporte é concorrência, é disputa en-tre tribos. É por isso que empate não tem graça. Só, é claro, quando classifica o meu time ou desclassifica o rival. Mais vale ver o adversário perder do que meu time ganhar, muitos diriam.

Enfim, competir fascina. Lutar contra inimigos também. É só ver o sucesso dos videogames entre as crianças e adolescentes. A concorrência empresarial. Isso faz parte de nossa natureza. Pensando bem, é bom que tenhamos o esporte para dar vazão a nossa agressividade. Nem que seja para tocar flauta no vi-zinho. Que nos gozará na semana seguinte, quando nosso time perder. E que fique só nisso. Jogo é diver-timento. Apenas isso. E é sempre melhor brigarmos de mentira do que nos matarmos de verdade.

* * *

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020 13REFLEXÃO

CésarAnderle

Diretor da Anderle Transportes

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Fot

ogra

fia Somos suficientes?

uando o tamanho de um desafio pesa em

nosso coração e nos amedronta, é provável

que não estejamos confiando em Deus, mas

acreditando somente em nós mesmos.

É preciso reconhecer que nada podemos

fazer por nós mesmos. A diferença está na fé.

Se estivermos unidos na fé, produziremos paz.

Por outro lado, se dispensarmos a fé, estare-

mos sendo levados para a ansiedade, nossas

fragilidades, incompetências e, até mesmo,

fraquezas, porque não dizer, para o pecado

(tudo o que desagrada a Deus).

Podemos pensar que nossos dons, talen-

tos e recursos podem nos ajudar a alcançar na

busca da tão desejada paz de espírito.

As obras que realizamos, desde

um simples bom dia, até a execução

de uma obra material, só se realizam

porque Deus está ao nosso lado, é ele

quem nos dá o privilégio de acordar

e adormecer.

Elaboramos planos, projetos,

pensamos o nosso futuro para alguns

anos ou décadas. Fazemos financia-

mentos como se não existissem cri-

ses, desemprego e como se nossa

saúde fosse ficar normal por longos

anos. Tomamos todos esses compro-

missos sem saber se estaremos vivos

por todo esse período. É necessário

l Fisioterapia Convencional

l Fisioterapia Domiciliar

l Fisioterapia do Trabalho

l Pilates Contemporâneo

(solo e aparelhos)

l Traumato Ortopédica

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BEM-EStAR tRANSCENdE NãO SENtIR dORESl Bandagem Terapêutica

Funcional

fazer planos, sem dúvidas, assim avançaremos

como seres e como pessoa. Não é nenhum

problema planejar-se, organizar-se, mas onde

está o problema? Talvez esteja na ilusão de ten-

tar viver à revelia de Deus. Eu creio nele, mas

eu deixo ele me conduzir na vida? Lembrarei

“dele” somente quando algum planejamento

der errado? Percebo muitas pessoas utilizando

a expressão: “Se Deus quiser”. Mas, segundo a

Bíblia, essa expressão significa: planejo fazer,

mas só se Deus estiver de acordo. Se ele não

quiser, eu também não quero.

Esse entendimento não é tão fácil de ser

aceito, sem dúvidas. Todavia, se tivermos esse

discernimento, poderemos evitar desconforto

no futuro. Nada como o tempo para nos mos-

trar o acerto ou o erro de termos feito correta-

mente a escolha lá no passado, esteja ele dis-

tante ou não do hoje.

A plenitude da alma se desenha através

desse pensamento e se perpetua se tivermos

essa consciência. Seremos mais humanos se

enxergarmos a sabedoria de Deus nas pessoas

e a presença Dele nas obras do homem.

Podemos ser melhores, basta querermos

hoje sermos melhores do que ontem. Assim,

iremos trilhar caminhos mais assertivos rumo

à paz tão desejada por todos.

Somos de fato suficientes individualmen-

te?

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020LITERATURA14

Escritor Rodrigo de Marco lança novo livro de poesias

Imerso terá sessão de autógrafos no sábado, 5 de dezembro, no Nosferatu Pub, em Bento Gonçalves

Fotos: Ronaldo Bueno / Divulgação

www.mercadodaqui.com.br

O escritor e jornalista Rodrigo De Marco lança no sábado, 5 de dezem-bro, seu segundo livro de poesias. Imerso (Editora Metamorfose, 120 páginas) terá sessão de autógrafos no Nosferatu Pub, em Bento Gonçal-ves, a partir das 17h. A obra reúne 88 poemas escritos a partir de 2018, versando sobre amores, desilusões, angústias, perdas e sobre o próprio fazer literário.

“Escrever Imerso não foi tarefa simples. Costumo dizer que foi preci-so mergulhar em águas turvas. Com-parado ao meu primeiro livro, Escri-tos na Carne, com certeza olhei de forma mais profunda para os meus sentimentos. É como um filme de Almodóvar, um verdadeiro quebra--cabeças em que as peças vão se co-lando aos poucos e dessa confusão sai algo bonito e verdadeiro. Acima de tudo, é um livro verdadeiro”, con-

SOBRE O AUTORNascido em Bento Gonçalves,

em 24 de agosto de 1990, Rodri-go De Marco é jornalista gradu-ado pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e pós-graduado em Jornalismo Digital pela Pontifí-cia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Com am-pla bagagem cultural, tem traba-lhos na literatura e no cinema. Em 2017, lançou seu primeiro livro, a coletânea de poesias Escritos da Carne, com enfoque no erotismo. De Marco também é diretor e corroteirista do curta-metragem Lola 27, lançado em 2019, que conta a história de uma drag que-en gaúcha. De Marco é reconhe-cido pela atuação no jornalismo. Em 2019, foi finalista do 61º Prê-mio ARI/Banrisul de Jornalismo, o mais importante do Rio Grande do Sul. Imerso é seu segundo tra-balho na poesia.

ta o autor.No dia do lançamento, também

será disponibilizada a versão em au-diolivro de Imerso, gravada pelo jor-nalista Ronaldo Bueno na Produtora 3em1, de Bento Gonçalves. “Inicial-mente, decidi fazer o audiolivro pen-sando na acessibilidade, nas pessoas que não poderiam ler, que teriam a oportunidade de escutar as poesias. Depois, percebi que não seria só por isso, mas também uma experiência diferente para desfrutar o livro”, ava-lia De Marco.

Produzida pelo designer Cristian Cechin Teixeira, que também assina o projeto gráfico do livro, a arte de capa dialoga com a temática inten-sa dos poemas, trazendo a modelo Nancy Groff submersa em água, ro-deada de pétalas e de olhos fecha-dos. A imagem é fruto de um ensaio realizado pela fotógrafa Jordana

Petrella no Dall’Onder Grande Hotel, de Bento Gonçalves, que cedeu sua estrutura para a produção.

“Este é também um livro sobre rupturas. Não é o trabalho de quem observa os errantes no mundo? Cada poema confronta o leitor com as bi-furcações da vida”, escreve o jornalis-ta Juremir Machado da Silva no texto de apresentação. A obra conta ainda com prefácio da professora Karine Pinto do Amaral e contracapa assi-nada pela cantora e compositora Tiê.

Após o lançamento, o livro estará disponível para venda em livrarias de Bento Gonçalves (Dom Quixote), Caxias do Sul (Do Arco da Velha) e Porto Alegre, além de comercializa-ção no site da Metamorfose (www.editorametamorfose.com.br) e na Amazon. Imerso teve financiamento do Fundo Municipal de Cultura de Bento Gonçalves.

Page 15: CONSCIÊNCIA NEGRA...CONSCIÊNCIA NEGRA JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020 Por: Rodrigo De Marco rodrigo@integracaodaserra.com.br Edição: Kátia Bortolini katia@integracaodaserra.com.br

JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020 15MÚSICA

Conhecido pelo potencial enoturístico, o Vale dos Vinhedos será palco de outra importante ramificação deixada de legado pela imigra-ção italiana na região. No domingo, 29, o distrito de Bento Gonçalves recebe o terceiro circuito do projeto ‘EnCantos no Interior’, um tributo à cultura local.

A partir das 18h será possível assistir, gratuitamente, às apresenta-ções do pianista e intérprete Rodrigo Soltton, da cantora Inês Rizzardo, do Coral do Vale dos Vinhedos e do tenor Dirceu Pastori – da mesma forma que vem ocorrendo nos demais distritos do município (Faria Le-mos e Tuiuty já receberam o espetáculo).

O público pode acompanhar o show em duas modalidades. A pri-meira delas é no formato drive-in, em que as pessoas podem curtir as apresentações de dentro de seus automóveis – no Morro da Antena, onde estará montado o palco. Quem preferir pode acompanhar a pro-gramação do conforto de casa, com transmissão ao vivo pelas platafor-mas digitais nos canais da ExpoBento (facebook.com/ExpoBentoOficial e youtube.com/expobentobg) ou do CIC-BG (facebook.com/cic.bg/).

Em cerca de duas horas de programação, os espectadores encon-trarão uma emocionante combinação de canções populares, folclóricas e eruditas da Itália. O projeto ‘EnCantos no Interior’ encerra a 4ª edição no distrito de São Pedro (Caminhos de Pedra), no dia 6 de dezembro. A viabilização da iniciativa é por meio do Pró-Cultura RS, através da Se-cretaria da Cultura do Estado do Rio Grande do Sul. A realização é do CIC-BG, com patrocínio de Dalmóbile e Paese Distribuidora.

EnCantos no Interior

Fotos: Bárbara Salvatti / Exata Comunicação

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | 27 de Novembro 2020LA BELLA VENDEMMIA16

de janeiro a março de 2021, Hotel Villa Michelon promove La Bella Vendemmia

Fotos: Rita Michelin

La Bella Vendemmia 2021• Café da manhã• Meia pensão - Jantares (sendo sexta-feira Pisa e Filó, e sábado buffet no restaurante do hotel)• Sexta-feira, a partir das 17h – Recepção na Casa do Filó, visita guiada e colheita simbólica de uvas no parreiral modelo, “pisa” das uvas (esmagamento das uvas com os pés). Após “Colacion e Filó” na casa do Filó. Brindes: taça personalizada, avental e boné• Uvas na recepção durante o período• Programação de lazer para crianças em todo o período

RESERVASE-mail: [email protected] (somente mensagens de texto):(54) 98112.5443Telefone: (54) 2102.1800www.villamichelon.com.br

Evento inicia no dia 15 de janeiro e contempla uma experiência no mundo da uva

Já virou tradição: quando os par-reirais estão carregados de uma bela safra, é momento dos hóspedes do Hotel Villa Michelon vivenciarem uma das mais recompensadoras ex-periências quando falamos em eno-turismo: conhecer a fundo a cultura dos primeiros imigrantes italianos da região e desfrutar de horas de imersão no mundo do vinho. La Bella Vendemmia, evento idealizado pelo fundador Moyses Luiz Michelon (in memoriam) chega à sua quarta edi-ção em 2021, trazendo atrativos para toda a família.

Todas as sextas-feiras, a partir do 15 de janeiro, os hóspedes são convi-dados a embarcar em um evento de interação com as tradições italianas e o cultivo da uva. A programação inicia com recepção na Casa do Filó através de um bate papo com a di-retora geral do hotel Villa Michelon, Elaine Michelon. “É um momento que faço questão que ocorra, porque é a minha maneira de desejar boas vindas e agradecer a cada hóspede que escolhe o Villa Michelon para vi-

ver as experiências que oferecemos. É o meu abraço a todos em nome do Vale dos Vinhedos”, pontua Elaine.

Após essa troca de experiências, é hora da visita guiada ao Parreiral Modelo. Um momento de conhe-cimento embalado por cantorias e apresentando curiosidades do culti-vo da uva pela fala do gerente Lucia-no Benvenutti. A tradição continua com a colheita simbólica, fazendo a alegria dos hóspedes, desde crianças até idosos. Um momento que leva de volta ao século XIX enquanto os pri-meiros imigrantes italianos do Vale dos Vinhedos realizavam a colheita

embalados por cantorias que faziam o tempo passar menos devagar.

E é claro que o ápice está na pisa da uva. Um ritual que ganhou ou-tro significado em tempos contem-porâneos e que hoje, ao menos no Villa Michelon, é como se fosse um momento de limpeza, para começar de vez o ano com boas energias e revitalização! “É uma alegria sem ta-manho! Em certo ano tivemos uma senhora que pisava na uva quando criança – por “obrigação”. Então, ela foi trazida pelo genro e a filha para reviver a experiência. Foi emocio-nante”, relembra Elaine.

A festa chega em sua reta final com a Colación e Filó, com um car-dápio italiano e vinho e suco de uva encanados. Como brindes, os hóspe-des levam para casa uma taça perso-nalizada, avental e boné.

La Bella Vendemmia ocorre to-das as sextas, de 15 e janeiro a 5 de março de 2021, em evento exclusivo para hóspedes do hotel. Para partici-par, é necessário reservar o pacote, que inclui hospedagem; café da ma-nhã; jantar (sexta-feira Pisa e Filó, e sábado buffet no restaurante do ho-tel); uvas na recepção durante o perí-odo e programação para as crianças.