conlab-danielalbergaria

16
1 TERNOS DE CONGADO, SANTOS E ANCESTRAIS: AS REDES DE INTERAÇÃO NO CONTEXTO DA FESTA DO ROSÁRIO EM MINAS GERAIS Daniel Albergaria Silva UFJF [email protected] Apresentação A observação de campo que deu origem a este artigo abarca a Festa de Nossa Senhora do Rosário que ocorre entre os meses de agosto a outubro em algumas cidades do interior de Minas Gerais. Acompanhei algumas festas para elaborar minha dissertação de mestrado intitulada “O Ritual da Congada e o ‘estar no rosário’: um estudo etnográfico acerca da festa e das mediações em São João del Rei”, (SILVA, 2009). Inicialmente farei uma apresentação deste fenômeno social, a Festa do Rosário e a Coroação de Reis Congos, passando rapidamente pelos temas das irmandades religiosas de leigos em devoção a N. Sra. do Rosário no século XIX. Em seguida, almejando contextualizar os coletivos que hoje promovem este festejo, anunciarei os atores que realizam a festa e como se constituem enquanto grupos de congada. Assim, irei me deter em algumas formulações que conduziram a observação etnográfica, refletindo acerca das estratégias utilizadas na pesquisa de campo. Só então apresentarei elementos simbólicos rituais do festejo, e as práticas registradas entre os ternos a partir do contexto de interação em instantes ritualizados da Festa do Rosário. A região onde realizei pesquisas de campo é conhecida como “Campo das Vertentes”, pertencente à zona da mata, sudeste do estado de Minas Gerais. Parte das cidades, distritos e lugarejos onde a festa foi acompanhada, entre os anos de 2007 e 2009, estão situadas ao longo do que se pode denominar recentemente por “Estrada Real”, roteiro turístico que na última década recebeu incentivos do governo do estado. A cidade de São João del Rei (SJDR), foco inicial da pesquisa, é reconhecida, juntamente com outras cidades de Minas Gerais como Ouro Preto, Mariana e Serro, em relação às irmandades

Upload: rosemarycardoso

Post on 04-Sep-2015

216 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Congado

TRANSCRIPT

  • 1

    TERNOS DE CONGADO, SANTOS E ANCESTRAIS: AS REDES DE INTERAO NO CONTEXTO DA FESTA DO ROSRIO EM MINAS GERAIS

    Daniel Albergaria Silva UFJF

    [email protected]

    Apresentao

    A observao de campo que deu origem a este artigo abarca a Festa de Nossa

    Senhora do Rosrio que ocorre entre os meses de agosto a outubro em algumas cidades do interior de Minas Gerais. Acompanhei algumas festas para elaborar minha dissertao de mestrado intitulada O Ritual da Congada e o estar no rosrio: um estudo etnogrfico

    acerca da festa e das mediaes em So Joo del Rei, (SILVA, 2009). Inicialmente farei uma apresentao deste fenmeno social, a Festa do Rosrio e a Coroao de Reis Congos,

    passando rapidamente pelos temas das irmandades religiosas de leigos em devoo a N. Sra. do Rosrio no sculo XIX. Em seguida, almejando contextualizar os coletivos que hoje promovem este festejo, anunciarei os atores que realizam a festa e como se constituem enquanto grupos de congada. Assim, irei me deter em algumas formulaes que conduziram a observao etnogrfica, refletindo acerca das estratgias utilizadas na pesquisa de campo. S ento apresentarei elementos simblicos rituais do festejo, e as prticas registradas entre os ternos a partir do contexto de interao em instantes ritualizados da Festa do Rosrio.

    A regio onde realizei pesquisas de campo conhecida como Campo das Vertentes, pertencente zona da mata, sudeste do estado de Minas Gerais. Parte das

    cidades, distritos e lugarejos onde a festa foi acompanhada, entre os anos de 2007 e 2009, esto situadas ao longo do que se pode denominar recentemente por Estrada Real, roteiro turstico que na ltima dcada recebeu incentivos do governo do estado. A cidade de So Joo del Rei (SJDR), foco inicial da pesquisa, reconhecida, juntamente com outras cidades de Minas Gerais como Ouro Preto, Mariana e Serro, em relao s irmandades

  • 2

    religiosas e aos festejos a elas relacionados, a seu histrico de minerao no perodo colonial e da consecutiva utilizao do trabalho escravo em tal empreitada. Sobre a

    associao de escravos africanos s irmandades de leigos, em especial s Irmandades do Rosrio, Clia Borges (2005) e Marina de Mello e Souza (2003) oferecem timas reflexes:

    (...) como essas associaes eram meios do grupo instituir formas de solidariedade, principalmente frente morte e doena, algumas vezes facilitando a obteno da liberdade dos que eram escravos. (...) as confrarias funcionavam como sociedades de ajuda mtua, mas tambm serviam como canais por meio dos quais era possvel controlar a vida dos africanos e com eles negociar (SOUZA, 2003, p.163) 1.

    Muitas vezes convertidos ao catolicismo antes mesmo do embarque nos navios negreiros, rumo colnia de Portugal, os africanos iniciavam uma jornada onde tribos e cls, alm de prticas culturais e dinmicas de existncia, teriam se reconfigurado, organizaes sociais seriam modificadas ao mesmo tempo em que constituiriam

    caractersticas especficas frente nova situao social2. Souza (2002) narra a dimenso que o culto a N. Sra. do Rosrio assumiu, junto aos viajantes, traficantes de escravos, no contexto da colonizao, citando Tinhoro, a autora destaca (...) o patrocnio de Nossa Senhora do Rosrio era invocado pelos devotos brancos em favor dos que iam frica tratar com negros, (...) (apud SOUZA, 2002, p.162). Junto existncia de culto a outros santos durante as Festas do Rosrio, registradas por mim, como So Benedito, Sta. Efignia e N. Sra. Aparecida, o destaque eminente era para N. Sra. do Rosrio.

    (...) na tentativa de entender a adeso dos africanos s irmandades do Rosrio. Mas uma vez constatado que eles ingressaram em irmandades religiosas, principalmente as que tinham N. Sra. do Rosrio como orago, o que importa destacar que isto ocorreu em Portugal, assim como posteriormente na Amrica portuguesa, da mesma forma que na Espanha e em diversos lugares da America espanhola. (SOUZA, 2002, p.161-162)

    1 Destaque para o fato das irmandades terem registros em livros de atas nas Igrejas, contendo nomes dos

    ingressantes, notas de falecimento, nascimento, dos alforriados, etc. 2 Obviamente, a situao social relacionada ao trafico de escravos para as colnias de Portugal no est

    vinculada a todos os povos africanos que vieram para o Brasil durante o perodo.

  • 3

    Souza (2002) ainda apresenta registros histricos de diversos agrupamentos de negros realizando festejos em adorao N. Sra, do Rosrio e Coroao de seus prprios reis denominados Reis Congos. Em cada um dos locais para onde foram destinados escravos africanos, tambm foram registradas formas semelhantes na realizao do festejo alm de algumas transformaes, (...), a eleio de reis negros e as celebraes a ela associadas estiveram presentes em quase todos os lugares que receberam escravos africanos. (SOUZA, 2002, p.167). As festas aglutinavam agrupamentos de escravos ou ex-escravos que, em forma de cortejo, cantavam, danavam, saudavam santos catlicos e coroavam seus prprios reis. Atualmente existem certas especulaes se os agrupamentos formados no perodo da colonizao nestas festividades, e que se constituem ainda nos dias de hoje, os ternos de congado, com variaes a depender da regio acompanhada, se constituam em torno das origens tnicas dos grupos provindos da frica ou se os grupos se constituam em decorrncia das situaes instauradas pelo regime escravista, sendo que este ltimo, segundo Borges (2005) e Souza (2002), muitas vezes separava os diferentes povos no territrio da colnia para evitar possveis insurreies. Isto certamente impossibilitaria a organizao, na colnia, de grupos de negros provindos de uma mesma regio da frica. A perspectiva aqui adotada privilegia o encontro de diferentes culturas, em determinados contextos sociais, como processo a partir do qual so criadas novas formaes culturais

    (SOUZA, 2002, p. 166). Contexto este de colonizao e escravizao.

    Contexto atual e formulaes tericas

    Em alguns relatos orais quando das pesquisas de campo, os congadeiros

    anunciavam que as congadas seriam uma forma de aglutinar negros escravos para trabalharem em roas distantes, afirmando que, ia de congada at o local do trabalho (congadeiro do local denominado de Rio das Mortes). comum tambm, dizerem que o dia da festa realizada pelos negros representava o nico dia de descanso dado pelo patro durante todo o ano. Neste dia, era realizada a festa em homenagem padroeira, onde tambm eram coroados reis, denominados Reis Congos. Outros ainda dizem que a congada

  • 4

    era uma forma de conseguir dinheiro para alforriar negros, e que cada negro alforriado, ao participar destes grupos, peregrinava por Minas Gerais procurando locais para o garimpo,

    de onde retiravam ouro e diamantes, almejando tambm alforriar outros escravos. Dizem que os negros alforriados eram na verdade comprados, no caso de hoje, pelos capites de congada, para fazer parte de suas tropas. Estes relatos coletados em diferentes momentos da pesquisa de campo evidenciam, juntamente com algumas cantigas executadas pelos ternos durante o festejo, como a Festa do Rosrio no pode ser encarada apenas a partir de uma perspectiva religiosa, perpassando assim, camadas de sentido que certamente extrapolam esta perspectiva de anlise.

    Inmeras interaes ocorrem devido a contextos urbanos ou rurais onde encontrei

    este fenmeno festivo, ocasionando relaes entre administrao municipal e o financiamento de um festejo ou grupo, relaes dentro do bairro de uma cidade, entre grupos de um mesmo bairro ou entre bairros, entre cidades diferentes realizando os festejos e convidando ternos de outras localidades a participarem de suas festas3, e ainda, interaes entre religiosidade afro e igreja catlica. Freqentemente ocorre de pais-de-santo do candombl, vinculados aos ternos de congado, participar destes festejos. No momento da Missa Inculturada ou Missa Conga, que ocorre no final da Festa do Rosrio, no domingo, geralmente o padre, que celebra a missa, divide um palanque montado porta da igreja (j que estas missas costumam serem campais) com a presena de lderes comunitrios, festeiros4, pais de santo e Reis Congos. As festas geralmente movimentam bairros tidos por perifricos na cidade de So Joo del Rei (SJDR), englobando diversos agentes sociais no auxlio mesma, seja atravs do padre da parquia, pessoas de outros bairros, moradores locais que se tornam festeiros, que doam lanches e almoo para os grupos de congado da cidade e/ou regio, convidados para o evento, alm claro, da participao dos membros dos ternos de congado e de eventuais candidatos polticos em

    perodo eleitoral.

    3 Como irei anunciar adiante, nas festas so ofertadas comidas a um ou mais grupos convidados; existe a

    saudao no mastro; busca do andor de um santo catlico; visitao s casas da comunidade; Missa Inculturada; procisso e retirada do mastro. Todos estes momentos so realizados pelos grupos em cortejo, onde danam e cantam. 4 Festeiras(os) so pessoas responsveis por organizarem uma festa que receber os congados. Existe uma

    cantiga que normalmente este grupo executava: h festeira / h festeira / h festeira sua festa de primeira.

  • 5

    A maioria dos congadeiros so trabalhadores rurais ou pessoas com empregos temporrios na cidade (como auxiliar de pedreiro, diaristas, etc.), empregados por um patro em algum servio, estes ltimos, geralmente exigem grande fora fsica (trabalhos braais). Em algumas regies rurais onde acompanhei o festejo, ntido que o fenmeno eminentemente executado por negros, mas no exclusivamente. Em outros locais, geralmente nos espaos um pouco mais urbanos, a presena de negros tambm preponderante. Longe de pretender retirar a nfase do congado como herana escrava, realizada pelos negros de hoje, venho destacar outra dimenso freqentemente acompanhada5, a dimenso de um tipo de ocupao no mercado de trabalho que pode, algumas vezes, estar associada ao festejo, porm, dimenso no exclusiva. Algo que talvez contribua para marcar a posio social destes congadeiros seriam as ocupaes ou alocao no mercado de trabalho, no entanto, no este o intuito aqui. Brando (1985), no estudo A festa do Santo Preto, possibilita-nos uma tima visualizao das relaes entre congadeiros e suas alocaes de empregos e servios. Acredito que as consideraes do autor se aproximam muito das presenciadas nas festas que acompanhei, ele ainda destaca na

    obra, um quadro onde estariam alocados os congadeiros no que tange ao vnculo empregatcio6.

    Desta forma, considero este folguedo popular perpassando vnculos institucionais, dentre eles, relaes familiares, religiosidades, vnculos empregatcios, noes de classe, enfim, perpassando categorias sociolgicas como a de comunidade, a idia de tradio em contraposio a uma modernidade, conceitos em torno das quais poderamos demarcar tal atividade, assim como os membros da mesma, porm, seria difcil restringir o fenmeno a alguma destas noes sociolgicas. A pergunta que nos caberia aqui se estes agentes, os congadeiros, constituem um campo de interaes, e mais especificamente, o que est em jogo para eles quando se referem ao Congado e Festa do Rosrio.

    Assumindo tal colocao, pretendi acompanhar o que os participantes mobilizavam nestes momentos festivos, focando no que pertence esfera de ao dos agentes neste

    contexto situacional (VIVEIROS DE CASTRO, 2002). A partir desta considerao, foi

    5 E que certamente apresenta estreitas relaes com a j anunciada dimenso de herana escrava.

    6 Sobre estas consideraes e sobre o quadro acima referido, ver BRANDO, 1985. p.54.

  • 6

    pretendido apresentar possibilidades de abordar este fenmeno social sem lhe conferir conceitos pensados de antemo a priori tomando os dados da interao etnogrfica

    como material primordial para reflexo e possibilidade de construo de teorias etnogrficas (GOLDMAN, 2006). A perspectiva etnogrfica permitiu focar a observao no que os congadeiros anunciavam no momento da festa, ou seja, como organizavam e, em torno de que, estabeleciam suas associaes. No aspirei identificar categorias sociolgicas no fenmeno observado, tais como etnia, identidade, tradio, classe ou outro decalque que se poderia colar ao fenmeno e nos impedir de perseguir o que os atores nos ofereciam de suas associaes para se referirem a este fenmeno social (LATOUR, 2006). Foi assim que a pesquisa de campo foi conduzida a partir das interaes que os congadeiros anunciavam

    como relevantes na considerao acerca da Festa do Rosrio. Com a proposta de trazer as experincias etnogrficas para dialogar em mesmo grau epistemolgico das formulaes tericas proferidas pela filosofia ocidental (VIVEIROS DE CASTRO, 2002), foi enfatizada a preocupao, j visualizada por Louis Dumont (1985), de no estendermos universalismos inerentes a nossas formulaes tericas a outros contingentes

    populacionais. Tornou-se importante ao abordar o festejo, que se desdobra desde o perodo escravista at os dias atuais, pautadas evidentemente por contextualizaes locais,

    levarmos a srio o que os grupos responsveis pela festa anunciavam durante o evento, seja por suas cantigas, toques musicais, dana, dentre outros objetos ou smbolos rituais, o que propiciava, de certa maneira, uma comunicao entre os atores deste fenmeno social.

    Smbolos rituais manipulados em momentos especficos da festa (veremos isso mais adiante) permitiram acompanhar a constituio de redes de interao entre ternos distintos. Foi preciso considerar ento que, para alm dos demais grupos de congado, os

    ternos estendiam relaes sociais, atravs da utilizao de smbolos rituais durante momentos especficos do festejo, a ancestrais mortos, santos catlicos e a entidades do panteo africano. Levar a srio as colocaes dos congadeiros possibilitou considerar esta linguagem como fundamental tanto para classificar os diferentes grupos quanto para caracterizar os festejos. Assim, anunciarei as interaes de campo que julguei centrais, pois permitiram a elaborao ou construo do que seria, na expresso nativa, o estar no

  • 7

    rosrio (estar na festa para um terno), o que iremos denominar aqui como fico antropolgica, teoria etnogrfica ou experimento conceitual.

    A experincia etnogrfica junto aos ternos, priorizando as associaes anunciadas e oferecidas pelos congadeiros em campo, tornou possvel certa construo terica, o estar no rosrio. Perseguir os agentes no contexto da Festa do Rosrio permitiu acompanhar a constituio de uma rede de interao entre grupos de localidades distintas, e isto, em decorrncia da manipulao de smbolos rituais em momentos especficos do festejo destacados pelos congadeiros. Anunciando vnculos entre ternos de cidades do campo das

    vertentes.

    Dos agrupamentos e das festas

    Observar a Festa do Rosrio realizada pelos congados envolveu registrar variaes e transformaes dos grupos no festejo, vale ressaltar que existem agrupamentos com nominaes e caractersticas distintas entre os ternos participando da mesma festividade, pois todos so considerados congados. comum a estas formaes de grupo, constituir uma espcie de relao familiar entre seus membros, instituindo certa fraternidade ou confraria, isto ao mesmo tempo em que h relatos da existncia de ternos de congada compostos exclusivamente por membros de uma mesma famlia consangnea. Os ternos se dispem durante a festa em forma de cortejo, efetuam cantigas, realizam toques musicais atravs de instrumentos especficos, como o tambor, muitas vezes denominado de caixa, e realizam certas danas, uma espcie de evoluo, saudando N.

    Sra. do Rosrio, So Benedito, Santa Efignia, So Sebastio, dentre outros santos catlicos, inclusive o festejo pode at mesmo levar o nome de um destes santos. As subdivises existentes entre os grupos foram caracterizadas enquanto tipos de ternos, variando as indumentrias, instrumentos, danas, ritmos, toques e at mesmo variaes relativas aos seus mitos e ritos em relao ao festejo do Rosrio7.

    7 Mitos que versam sobre a apario de N. Sra. do Rosrio aos negros provindos da frica. Geralmente o

    ritual marcado por esta narrativa mtica. Infelizmente no poderei me deter aqui grande maioria destas transformaes relativas s caractersticas citadas.

  • 8

    Com intuito de identificar algumas denominaes entre os grupos, que exponho minimamente as caractersticas de Ternos de Congado acompanhados e peo desculpas por

    no enfatizar as variaes meldicas executadas a partir de uma linguagem musical8. Os denominados grupos de Moambique geralmente executam batidas de tambor

    mais lentas do que os demais grupos. Os membros trazem amarrados aos ps pequenas latas contendo esferas, as gungas, quando os congadeiros fazem movimentos especficos com os ps, realizando uma dana conjuntamente com seu grupo em cortejo, as passadas ditam a toada e ritmo da melodia proferida pela Guarda de Moambique. Outro instrumento caracterstico o patangome, que pode ser feito com duas calotas de carro unidas uma a outra e contendo esferas dentro que, manuseadas de forma especfica produzem um som

    peculiar. O Moambique marcado por passadas mais lentas do que de outros ternos, sua musicalidade contm viradas ou repiques especficos no tambor que, confeccionado em couro de boi, segue algumas variaes a depender da cantiga executada pelo capito do grupo. Outra variao do congado o Catop ou Catups, traz como instrumento, que pode ser considerado caracterstico do grupo, alm dos tambores, o reco-reco, pedao de

    madeira ou de bambu mais grosso que, ao se friccionar um basto no mesmo, os pequenos cortes ou trastes feitos no pedao de bambu, produzem determinado som. Seus toques de

    tambor, juntamente dana e ao cntico, possuem ritmos um pouco mais acelerados que os do Moambique. O Terno Vilo tem por instrumento o tambor, o pandeiro, s vezes o reco-reco. A batida executada, em grande parte do cortejo deste grupo um pouco mais rpida que a do Catop, sua musicalidade contm mais viradas ou mais toques dobrados do que os demais grupos. O Congado, que j os acompanhei utilizando uma pequena saia colorida por cima da roupa branca, traz como instrumento o tambor, pandeiros, bandolins (em alguns casos) e at mesmo a sanfona. Seu toque musical apresenta viradas bem caractersticas, diferenciando-se dos demais grupos. Longe de tentar definir ou restringir estes grupos e suas denominaes atravs dos instrumentos ou da musicalidade, pois podem variar, utilizo esta caracterizao como forma

    8 Minhas colocaes se debruam sob a forma que alguns congadeiros se referiam aos toques, indicando

    assim a durao dos intervalos entre as batidas (toques) e a quantidade de batidas de tambor em um espao de tempo especfico.

  • 9

    de ilustrar os congados e os congadeiros. A definio relativa ao nome ou categorizao destes grupos em diferentes segmentos deve tambm respeitar o nome que o terno anuncia

    em sua bandeira trazida frente do grupo. nesta bandeira que est estampada a imagem do santo padroeiro do grupo. Almejando uma provvel classificao entre os grupos, importante atentar para os nomes dos mesmos e, muitas vezes, dos santos, que geralmente esto bordados em letras coloridas na bandeira, assim como para os toques e melodias, a indumentria, as danas do grupo, seus mitos e a composio do cortejo. Esta ltima, em geral feita por duas filas de congadeiros, com sua bandeira frente e o capito do terno atrs desta e, entre as filas ou, como no caso do Moambique, uma formao mais circular dos membros logo atrs da bandeira do terno. Nas Festas do Rosrio acompanhadas, sempre estiveram presentes mais de um grupo de congado9, sendo comum encontrarmos ternos de locais distintos, convidados durante outros festejos, e at mesmo mais de um grupo de um local a oferecer a festa. A escolha de grupos a serem convidados para as festas uns dos outros, descortinavam interesses especficos referentes interao entre eles neste contexto situacional, o que

    configurou como um dos dados centrais a serem perseguidos junto aos congadeiros. Vale ressaltar que o espao do festejo aparece como local de agregao e trocas

    recprocas, de convites, de cnticos, melodias, danas, troca de comida, de saberes sobre os utenslios utilizados nos congados uns dos outros, etc. Nestes espaos preciso seduzir, deslumbrar o parceiro do outro grupo, preciso atingir os objetivos antes que os outros, provocar contatos e trocas mais importantes (MAUSS, 2003). Reciprocidade, concorrncia e rivalidade, nos termos especficos anunciados pelos grupos, so motivos que subjazem a seus atos nos procedimentos efetuados durante estes encontros. O espao da festa, de trocas e visitas , sobretudo, ddiva.

    Na festa, espao de encontro entre ternos variados e de localidades distintas,

    anunciada uma linguagem comum, mas no nica, na realizao dos procedimentos de saudao a santos catlicos, a reis Congos, aos ancestrais e a entidades do panteo afro

    9 Sempre h grupos convidados de uma festa para outra, a no ser o Congado de N. Sra. do Rosrio do local

    denominado Rio das Mortes, onde o grupo no convida outros ternos para sua festa. L a festa realizada apenas com o grupo local.

  • 10

    brasileiro. Resta precisar que as dinmicas de interao entre os ternos so mediadas por procedimentos simblicos manipulados durante o contexto festivo, o que visa tambm

    saudao aos santos (entendidos como entidades do panteo africano, ancestrais e santos catlicos). Estes laos sociais seriam perpassados por procedimentos simblicos que deveriam ser manipulados pelos grupos em instantes especficos durante o cortejo na festa.

    Anunciarei a seguir como interaes de campo constituram dados centrais para se percorrer o festejo, e que a partir de uma controvrsia anunciada pelos congadeiros, em meu primeiro encontro com o grupo que acompanhei, que se constituiu o dado a observar. Desejo evidenciar como definies dos congadeiros relativas aos grupos, festa e aos outros, humanos e no-humanos, que tambm estavam envolvidos no festejo, comearam a ser colocadas para mim. Assim, irei focar as primeiras relaes de campo com estes agentes e de como persegui as associaes que me foram oferecidas, demonstrando, atravs das conexes estabelecidas pelos atores, como estes elaboravam e constituam um social (LATOUR, 2006). Para isso, tive que levar a srio as consideraes dos congadeiros acerca do que fazia parte para eles, da elaborao de um mundo social.

    No campo, as interaes

    O primeiro festejo que presenciei juntamente com o terno que segui durante o campo, Terno de Moambique e Catup do bairro So Dimas de SJDR, definiu, de certa maneira, por onde iniciaria minhas observaes. Chegando de nibus no local denominado Trindade, o grupo iniciou uma formao em cortejo, com seus vinte congadeiros mais ou menos, executando cantigas e toques de tambor at a entrada da casa que iria receb-los para um almoo. Entregaram a bandeira do grupo, onde estava impressa a imagem de N. Sra. do Rosrio em uma, e a imagem de So Benedito na outra, para o dono da casa que,

    aps receb-las e escutar algumas cantigas pronunciadas pelo capito e repetidas em coro pelo grupo, convidou-os para entrar, devolvendo as bandeiras s bandeireira do terno10. No intervalo em que o grupo parou de tocar e acomodou-se para receber o almoo, ofertado

    10 Bandeireira(o) quem carrega a bandeira de um terno durante o cortejo.

  • 11

    pelo dono da residncia, alguns congadeiros, instalados no quintal, me perguntavam se eu fazia parte do grupo do maracatu. Foi assim que o capito do grupo, nico com o qual eu j havia conversado anteriormente, enfatizou para os mesmos que eu era da universidade de Juiz de Fora e pretendia acompanhar o grupo deles, pra ele tentar aprender um pouco sobre congado pra poder realizar uma pesquisa (capito de Congado). Foi neste momento que travei as primeiras conversas com membros deste terno que, imediatamente, me informaram sobre festas do Rosrio na regio que eu deveria acompanhar caso quisesse saber algo sobre o congado. Neste ambiente que o capito iniciou suas colocaes sobre o grupo do maracatu e sobre o grupo de congado, criando um importante cenrio dentro do qual foquei a observao sobre o festejo.

    Narro rapidamente o panorama em torno do grupo de percusso de maracatu 11. importante salientar que este grupo constitudo em SJDR a partir de oficinas de percusso, tinha por intuito ensinar toques do maracatu para seus membros, na maioria estudantes universitrios e professores, no entanto, comearam a participar em forma de cortejo de algumas Festas do Rosrio organizadas por Ternos de Congado na supracitada cidade. Com

    tambores adquiridos de Recife, as alfaias, feitas de tronco de rvore e couro de boi, com demais instrumentos do maracatu como agbes (cabaa com formato especfico, tranada com sementes ou miangas), gongus e ganzs, o grupo produzia sua musicalidade efetuando os denominados baques de maracatu. Estes toques foram trabalhados e transmitidos pelo coordenador da oficina que, por sua vez, teria aprendido os baques tambm em oficinas de maracatu/percusso no estado de Pernambuco. Posteriormente, este mesmo grupo se separou, dando origem a outro grupo percussivo de maracatu que continuou a freqentar as festas do Rosrio de SJDR e regio. O grupo inicial se restringiu s oficinas, no mais atuando nas festividades aps a fragmentao.

    Dentre este cenrio que certas consideraes iniciais dos congadeiros sobre a Festa

    do Rosrio foram narradas. Logo de incio, o capito enfatizou que o terno do qual fazia parte estaria realizando a festa em Trindade sem receber um centavo, no estavam indo

    dar show, mas estavam ali por causa do Rosrio, estavam no rosrio, segundo ele isso

    11 Grupo denominado desta forma, pois segundo o capito do congado, era constitudo em oficinas de

    percusso que ensinavam o toque desta manifestao folclrica de Pernambuco, o maracatu.

  • 12

    era importante, e no se havia algum assistindo. Enfatizou ainda que o grupo de percusso de maracatu havia comeado a tocar e a sair em cortejo em algumas Festas do Rosrio da cidade, sendo, muitas vezes, a atrao principal no dia da festa, segundo ele, o grupo queria ser um dos ltimos a tocar durante o festejo, e que, ao chegarem j vo tocando, s vezes almoavam durante o festejo com os congadeiros e em seguida, iam embora, no a toa que eles racharo, no agradece nem as festeira nem nada (Capito de Congado).

    Durante o festejo do Rosrio existem momentos bem demarcados pelos congadeiros como, chegada de um terno a um referido local, saudao queles que o convidara, saudao aos mastros dos santos12 referentes festa, entrada na igreja, saudao a um cruzeiro prximo, solicitao, atravs de cantigas, para um almoo ou lanche, despedida para se retirar do local onde fora ofertado o almoo, busca do andor de algum santo catlico, participao na Missa Conga, acompanhamento da procisso realizada com o andor do santo, com o padre que teria celebrado a missa, o Rei Congo, os demais grupos de congado e populao local. Junto a estes momentos poderia haver tambm um

    encontro entre bandeiras, quando dois ternos se encontram e sadam as bandeiras uns dos outros. Estes momentos anunciam de forma geral, o que ocorreria em um dia principal

    de Festa do Rosrio, geralmente no domingo. Em todos estes momentos/situaes h a manipulao de objetos como o basto de capito 13 ou a bandeira do grupo, existindo tambm cantigas, danas ou passos especficos que podem ser realizados pelos ternos, onde muitas vezes, vrios grupos executam seus procedimentos ao mesmo tempo.

    Atravs de nfases do capito, se referindo ao que os grupos de maracatu no faziam nas festas, que o mesmo comeou a me informar o que um grupo de congada

    12 So Benedito, N. Sra. do Rosrio, Santa Efignia, geralmente possuem suas imagens estampadas em

    quadros que so dispostos no alto de mastros, levantados por um terno, durante os dias festivos. Permanecem em frente a igreja e todos os grupos ao chegarem, sadam os mastros, encostam suas bandeiras em cada um e realizam cantigas especficas ao santo do mastro. 13

    Basto de capito so bengalas de madeira que podem conter figuras antropomrficas talhadas na extremidade do mesmo. Existem tambm bastes em cores variadas, o capito o leva junto de si e, por vezes, assim como a bandeira, ele encostado nos mastros no momento de uma saudao e em altares dentro da igreja. com o basto em mos que o capito faz referncia aos toques e cantigas a serem executados por seu terno ou o momento de cessar a mesma, realizando apenas um movimento com o basto. comum um capito possuir mais de um basto.

  • 13

    deveria fazer durante uma festividade, salientado a importncia de se perceber as posies e procedimentos de um terno em alguns dos momentos demarcados acima,

    podendo assim, inferir qual grupo teria fundamento para participar do festejo.

    As vezes aquele grupo ali , com coroa de papel, de p no cho, (descalos) bem humilde mesmo, que tem fora. Num precisa ter aquele monte de fita colorida, aquelas caixa grande fazendo aquele barulho pra ter fora no?! (aluso ao grupo de maracatu que tambm tocara durante o festejo e fora bastante aplaudido em frente a Igreja do local) A gente num pode disfaz de ningum, tem vez que aquele grupo com poucas pessoas, a cantiga ali baixinha, mas s vai ver tem um fundamento danado... (Capito de Congado)

    Outro momento que foi possvel perceber as interaes entre os ternos, j no final de outra festa acompanhada, foi aps a procisso, realizada por sua vez, aps a Missa Conga, quando os ternos entram na Igreja levando o andor de N. Sra. do Rosrio. Um terno de Moambique ento cantou na porta da igreja.

    oo companhia.../ Nossa me quando apareceu, apareceu em rocha de pedra / foi s Vigario busc nossa me, nossa me num veio .../ foi banda de musica busc nossa me, nossa me num veio/ Foi congadeiro busca nossa me ela no veio / Foi catupezero nossa me num veio e / Foi vilozero nossa me aluiiiuuu / ooo.... mas com moambiquero nossa me saiu / Com moambiquero nossa me saiu. (cantiga executada por um grupo de Moambique ao levar o andor de N. Sra. do Rosrio para o interior da Igreja)

    Esta passagem faz aluso apario de N. Sra. do Rosrio aos homens pretos ou aos antigos escravos (referida acima como nossa me) neste momento anunciam os demais agentes envolvidos no processo de retirar a santa de seu local de apario e da tentativa de lev-la at a Igreja. Quando fazem aluso apario da santa aos antigos negros, os congadeiros enfatizam que vrios agrupamentos foram tentar busc-la para lev-la at a Igreja, mas ela apenas teria aceitado quando um terno de congado a levou, com os negro formando l um grupo com uns tambor, feito por eles mesmo, foram l batendo caixa e cantando, at que ela (a santa) sensibilizou l com eles e vio (Congadeiro da Festa do Rio das Mortes). Na verso cantada na porta da igreja, o grupo responsvel por

  • 14

    levar a santa, teria sido o moambique, no momento do festejo todos os grupos em procisso conduzem o andor at o interior da igreja, porm, o Moambique segue logo frente do andor, sendo o ltimo a tocar no festejo, o que talvez oferea uma explicao de porqu o maracatu poderia no ter sido bem visto quando pretendia ser o ltimo grupo a tocar em uma festividade do Rosrio, alm claro, de no seguir alguns itinerrios necessrios aos grupos de congado, e nem de realizar procedimentos durante o contexto festivo, seja de saudao a outro grupo, aos mastros da festa, entrada em uma igreja ou residncia, coroao de um rei ou rainha conga, etc.

    A noo, estar no Rosrio, servia de incio tanto para o grupo de congada se referir prpria atuao durante o momento em que estavam no festejo, quanto de contraponto para sua atuao a partir das aes do grupo de percusso de maracatu. Nos momentos posteriores, acompanhando o grupo em outras festas, o terno e o capito se utilizaram de outros contrapontos para se referirem ao que seria o estar no Rosrio, como por exemplo, os demais grupos de congado que participavam dos festejos. A atuao, formao e demais caractersticas dos ternos anunciadas como relevantes foram, em

    ocasies posteriores, constantemente enfatizadas pelo capito para ilustrar a necessidade de se ter fundamento para participar do festejo. As cores das indumentrias, a musicalidade do grupo, sua toada, assim como a evoluo de seu cortejo, a colocao de cantigas em momentos especficos, poderiam dizer muito sobre o estar no Rosrio de outro grupo.

    Por meio desta noo, o estar no rosrio, que se pode dizer que os grupos identificavam-se uns aos outros como tendo ou no fundamento, o que revelaria possveis vnculos dos ternos seja com seus antepassados, santos e entidades, ocasionando assim, convites para participarem das festas uns dos outros. Saliento que os procedimentos simblicos rituais efetuados durante o cortejo dos grupos (cantigas e toques especficos, manipulao de objetos, dentre outros) em situaes j destacadas (saudao entre bandeiras, saudao no mastro, entrada em igreja ou casa, agradecimento a uma oferta de comida), seriam passveis de anlises por outros grupos e assim, meio pelo qual constituiriam possveis laos sociais.

    Consideraes finais

  • 15

    Assumir a noo estar no rosrio como possibilidade reflexiva ou experimento

    conceitual, envolvia considerar que saudaes, restries, procedimentos devocionais, dentre outras aes dos ternos durante o festejo, enfatizavam possveis vnculos destes com ancestrais mortos, entidades do panteo africano e a santos catlicos. As relaes estabelecidas com demais grupos durante o contexto da festa era mediada assim pelas relaes que cada grupo conseguiria manter, atravs de seus procedimentos simblicos, com estes no-humanos, o que lhes possibilitava permanecerem firmes no Rosrio. Para estar no rosrio era necessrio seguir uma srie de restries e procedimentos que permitiriam ao congadeiro e ao grupo, no sofrerem infortnios que poderiam advir durante

    e aps o momento da festa, e ao mesmo tempo, criar laos com outros grupos que tambm julgavam deter fundamentos sobre o festejo. A boa atuao de um grupo em relao a seus procedimentos poderia lhe garantir convites de ternos com fundamento, ocasionando trocas cada vez mais importantes, estendendo sua rede de relao festiva.

    As trocas ocorridas entre os ternos sejam de comidas, de cnticos, de danas, de convites para participarem das festas, so mediadas por uma relao estendida a entidades que convencionalmente so, para ns, parte do mundo sobrenatural e/ou mgico-religioso.

    Tambm ocorreram algumas situaes onde se trocavam certos objetos, como chapus, basto de capito, Rosrios, etc.

    A partir de algumas nfases do capito de congado, informante central deste trabalho, podemos perceber como ele de certa forma, relaciona o fato do grupo do maracatu ter se separado ou como ele mesmo dizia rachado, por este no seguir certos procedimentos necessrios para estar no rosrio. Este acontecimento, de separao do grupo de maracatu, era visto pelos congadeiros como refletindo as atuaes destes nos festejos do Rosrio, pois no realizando alguns procedimentos necessrios para estarem no Rosrio, poderiam ento, sofrer os efeitos do rosrio (capito de Congado do Terno de SJDR). Ao menos isso que podemos considerar caso possamos garantir a estes outros que estudamos um lugar de outrens (VIVEIROS DE CASTRO, 2002), que constituem associaes e vnculos que constroem um social, distinguindo-os assim, do lugar que normalmente resguardamos aos outros dentro de nossa prpria cultura.

  • 16

    BIBLIOGRAFIA

    BORGES, Clia Maia. Escravos e Libertos nas Irmandades do Rosrio: devoo e solidariedade em Minas Gerais: sculos XVIII e XIX. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2005.

    BRANDO, Carlos Rodrigues. A festa do Santo Preto. Rio de Janeiro: Funarte/Instituto Nacional do Folclore; Goinia: UFG, 1985.

    DUMONT, Louis. O Individualismo. Trad. lvaro Cabral Rio de Janeiro: Roo. 1985.

    GOLDMAN, Mrcio. Alteridade e experincia: Antropologia e Teoria Etnogrfica, In: Etnogrfica, Vol.X (1): 161-173, 2006.

    LATOUR, Bruno. Changer de societ. Refraire de la sociologie. Paris: ditions La Dcouverte, 2006.

    MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. Trad. Paulo Neves. So Paulo: Cosac & Naify, 2003.

    SILVA, Daniel Albergaria. O Ritual da Congada e o estar no rosrio: um estudo etnogrfico acerca da festa e das mediaes em So Joo del Rei. Dissertao de Mestrado. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, 2009.

    SOUZA, Marina de Mello e. Reis Negros no Brasil Escravista. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

    VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O nativo relativo In: Mana, 8(1):113-148, 2002.