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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRÔ DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Angella Monteiro Santiago
CONHECENDO O PERFIL DOS ALUNOS DE CURSINHOS
POPULARES DA ZONA LESTE DE SÃO PAULO - SP
São Paulo
2017
Angella Monteiro Santiago
CONHECENDO O PERFIL DOS ALUNOS DE CURSINHOS POPULARES DA
ZONA LESTE DE SÃO PAULO - SP
Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciando(a) em Ciências Biológicas.
Área de habilitação:
Orientador: Prof. Dr. Adriano Monteiro de Castro
São Paulo
2017
Angella Monteiro Santiago
CONHECENDO O PERFIL DOS ALUNOS DE CURSINHOS POPULARES DA
ZONA LESTE DE SÃO PAULO - SP
Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado ao Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para a
obtenção do título de Licenciando(a) em Ciências Biológicas.
Aprovado em: ____ de _______ de _____.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Carolina Alvim de Oliveira Freitas – Universidade de São Paulo
__________________________________________
Célia Regina Batista Serrão – Universidade Presbiteriana Mackenzie
__________________________________________
Adriano Monteiro de Castro – Universidade Presbiteriana Mackenzie
RESUMO
A educação popular é um movimento de trabalho político que atua através da educação e em conjunto com (e não para) as classes populares. É sintetizada pela pedagogia freireana, pois esta pedagogia reconhece no conhecimento uma forma de superar relações hierárquicas e modelos mecanicistas presentes na análise da sociedade e propor novas práticas que indiquem a necessidade de mudança. Dentro desta perspectiva, se inserem os Cursinhos Populares como uma possível forma de inserir pessoas de baixa renda no ensino superior e iniciar uma subversão neste sistema de diferenciação de oportunidades, ainda que, de alguma forma, entrando em conflito ao trabalhar de acordo com os moldes de um sistema excludente. Para a coleta de dados deste Trabalho foi elaborado um questionário estruturado, que foi respondido por estudantes de Cursinhos Populares da Zona Leste, sem identificação de nenhum tipo, respeitando-se a confidencialidade e anonimato, com o intuito de compreender melhor o perfil do alunado destes Cursinhos. A forte presença de uma maioria composta por mulheres negras demonstra uma população buscando ascensão e conquista de territórios negados a ela por barreiras sociais, como a discriminação de gênero e de raça, a estratificação de classe e o vestibular. Por fim, este é um trabalho introdutório, que propõe uma tomada de consciência em relação aos indivíduos que constroem os Cursinhos Populares e chama os membros acadêmicos interessados para o que deve ser um olhar profundo e atencioso para este publico, a fim de construirmos uma Educação Popular com mais respeito e coerência e, consequentemente, de maior qualidade. Palavras-chave: Educação Popular. Cursinho Popular. Raça. Gênero.
ABSTRACT
Popular education is a political movement that operates through education and together with (not to) the popular classes. It is synthesized by Freirean pedagogy, as this pedagogy recognizes in knowledge a way of overcoming hierarchical relationships and mechanistic models that are present in the analysis of society and propose new practices that indicate the need of change. Within this perspective, the Popular Courses are inserted as a possible way of inserting people of lower incomes in the higher education and to initiate a subversion in this system of differentiation of opportunities, although it comes into conflict with this idea because it works within the molds of an exclusionary system. In order to collect data for this study, a structured questionnaire was developed, which was answered by students from the Popular Cursins of the Eastern Zone of São Paulo city, with no identification of any type, respecting confidentiality and anonymity, in order to better understand the student profile of these students. The strong presence of a majority composed of black women demonstrates a population seeking the rise and conquest of territories denied to them by social barriers, such as gender and race discrimination, class and stratification caused by college entrance examination. This is an introductory work that proposes an awareness of the individuals who construct the Popular Courses and calls the interested academic members to what should be a deep and attentive look at this public in order to construct an Education Popular with more respect and consistency and, consequently, of higher quality. Keywords: Popular Education. Popular Courses. Race. Gender.
Figura retirada do livro “Cuidado! Escola – desigualdade, domesticação e algumas saídas”, de Babette Harper, Claudius Ceccon, Miguel Darcy de Oliveira e Rosiska Darcy de Oliveira, apresentado por Paulo Freire e com a colaboração de Monique Séchaud Raymond Fonvieille. Publicado pela Editora Brasiliense em 1987 (24ª edição).
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, à minha família, por todo o apoio e amor
incondicionais dedicados a mim em todas as dificuldades que enfrentei, em todos os
sonhos que tive e em todas as minhas conquistas. Aos meus pais pela construção
de nossa história e pelo contato diário que me abastece de força e determinação,
esse contato que é pra além da presença, está no verbo, no carinho, no olhar
atencioso e no compartilhamento da vida. A essas pessoas que são minhas
primeiras e maiores companheiras, meus infinitos agradecimentos, que certamente
vão se espalhar durante o resto de nossas vidas.
Acredito que devo um agradecimento especial juntamente aos meus pais às
minhas irmãs, aos meus irmãos, à minhas sobrinhas e aos meus sobrinhos. Muito do
que faço é para orgulhar vocês, e sei que para isso não basta eu alcançar diplomas
ou sucessos, mas também preciso estar feliz. Obrigada por me ensinarem o valor
imensurável da felicidade e a prática do amor, que é o que me guia na escolha de
minha carreira. Faço uma menção amorosa à minha irmã Alline, que sempre
segurou minha mão quando precisei e com quem compartilhei tudo, sempre e com
muita confiança.
Aos meus avós, minhas tias e meus tios pelas incontáveis vezes em que pude
contar com vocês, desde coisas práticas de suma importância até um papo informal
com muitos sorrisos que alimentam a minha essência de professora. Ao meu tio
Vandré pelo incentivo primordial, inicial e contínuo aos estudos, à leitura e,
principalmente, à reflexão.
Aos meus amigos e amigas agradeço por escolherem dividir a vida comigo.
Com saudades, agradeço a Gabriela, a Karolina, a Lígia e a Márcia pela amizade
perene que construímos. A todos que compõem a rotina diária e cheia de afetos do
Diretório Acadêmico Abrahão de Moraes, com um obrigada muitíssimo especial à
Sol Paiva por cuidar de mim com o carinho (e as ironias) de uma mãe. À Nete, ao
Seu Camargo e ao Seu Zé por serem tão camaradas e terem me ensinado coisas
que jamais aprenderia na Universidade. Também a todos que compuseram o
Coletivo Ubuntu, meu primeiro espaço de militância e de reflexão da profissão.
Faço um agradecimento particular a algumas amizades que não tenho como
descrever e que marcaram estes anos de Universidade. Primeiramente, à Marianna,
musa de tantas inspirações e sorrisos, parceira de tantas lutas, companheira de
categoria e de momentos inesquecíveis. Também à Bianca, por ter proporcionado
muita leveza para minha experiência universitária, trazendo leveza quando as
reflexões e as dores do mundo pesavam. A Laisla, que foi minha melhor amiga,
mãe, filha, companheira, psicóloga e muito mais quando eu me vi completamente
sozinha, e permitiu que eu também cumprisse os mesmos papeis em sua vida,
construindo essa irmandade incrível que possuímos. À Rachel, Marcella e Gabi
Ucha, mulheres incríveis que compuseram essa trajetória. Ao meu melhor amigo e
companheiro Leonardo, com quem me permito desmoronar e quem me ajuda a me
reedificar e a pessoa com a qual pretendo compartilhar todas as minhas vitórias e
derrotas. Estamos na jornada acadêmica nos apoiando, e construindo uma vida em
comum. Ao Roni e ao Eduardo, com muito carinho, por tantas dificuldades e
situações nas quais nos identificamos e complementamos, por serem meus irmãos
prounistas, o que vocês sabem que significa muito, a ponto de eu não poder
descrever.
Aproveito e deixo um agradecimento à todas as pessoas envolvidas no
processo de concessão de minha bolsa, desde a criação do Programa Universidade
Para Todos até a apresentação dos documentos, pela oportunidade de ingresso ao
ensino superior. Certamente isto significa muito para mim como formanda.
Aos sujeitos que compõem o Coletivo Baobá, meu mais profundo obrigada.
Pelos aprendizados construídos, pelas risadas compartilhadas, pela inspiração do
que vem a ser minha ideologia e meu projeto de vida, pela paciência e pelo
acolhimento em todas as vezes que me sinto insegura por me achar distante
demais. Eu tenho muito orgulho de compartilhar pedaços das nossas histórias de
militância. É uma honra enorme lutar ao lado de vocês. Mesmo.
Agradeço a todos os colegas envolvidos com o Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), assim como à nossa orientadora e aos
professores supervisores na escolas, por essa vivencia incrível que é pensar a
escola pública como um espaço tanto de aprendizado para nós como profissionais
quanto de intervenção na busca da construção de gerações mais conscientes de si
como sujeitos históricos.
A todo o corpo docente do curso de Ciências Biológicas, em especial à
Magda, a Rosana e ao Adriano por me revirarem toda e me ajudarem a construir
disso o meu melhor potencial como educadora. Ao último, que também é meu
orientador, pelo carinho e pelas ideias trocadas durante a orientação, cheias de
perspectiva, aprendizado e conforto. Admiro plenamente vocês três.
Por fim, agradeço a todas as pessoas com quem tive o prazer de estabelecer
uma relação de educador-educando e aprender, inspiradoras de todo este trabalho e
dos projetos que planejo para minha carreira. Cada momento vivido nesta prática foi
de amor e cumplicidade, e é imprescindível para a minha formação quanto
professora, pessoa e sujeito político.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................11
1. REFERENCIAL TEÓRICO..............................................................................13
2. METODOLOGIA..............................................................................................20
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................22
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................34
REFERÊNCIAS...............................................................................................36
ANEXO I..........................................................................................................39
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 – Cor ou Raça dos Estudantes...............................................................23
FIGURA 02 – Composição da amostra por gênero e raça/cor...................................23
FIGURA 03 – Tempo de deslocamento até o Cursinho
Popular................................25
FIGURA 04 – Meios de transporte mais citados como utilizados pelos
estudantes..................................................................................................................26
FIGURA 05 – Quantidade de estudantes que trabalham...........................................26
FIGURA 06 – Quantidade de atividades remuneradas exercidas pelos estudantes
trabalhadores..............................................................................................................27
FIGURA 07 – Quantidade de estudantes trabalhadores com assinatura em Carteira
Trabalhista..................................................................................................................27
FIGURA 08 – Quantidade de horas disponíveis para estudo fora do Cursinho
Popular.......................................................................................................................28
FIGURA 09 – Menções de hábitos de estudo atuais.................................................29
FIGURA 10 – Menções de hábitos de estudo desejados..........................................30
FIGURA 11 – Menções de empecilhos para o estudo...............................................30
FIGURA 12 – Menções de empecilhos para o estudo por grupo...............................31
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1. INTRODUÇÃO
Os Cursinhos Populares hoje se configuram, em sua maioria, como cursos
pré-vestibulares gratuitos ou de baixo custo. Como o foco, geralmente, são os
vestibulares, a questão dos Cursinhos Populares é importante de ser abordada pois
fazem parte um movimento que busca a democratização do Ensino Superior, para
que a produção científica e/ou os cargos de visibilidade sejam cada vez mais
representativos para populações de classe baixa, negra, periférica, ou incluída em
outros grupos marginalizados.
Portanto, sendo este movimento de extrema importância, é importante pensar
na qualidade da construção coletiva de uma Educação Popular que se dá nestes
espaços através de uma análise sobre qual é o público que forma o corpo discente
destes Cursinhos, pois apenas conhecendo a realidade deste público será possível
adequar o ensino às necessidades reais destas pessoas. Na abordagem de
educação trazida por Paulo Freire, a prática pedagógica está intrinsicamente
relacionada à realidade das(os) estudantes, para maior integração com seus
conceitos do cotidiano, desenvolvendo um sentimento de integração em relação ao
mundo, que por um lado auxilia no aprendizado dos conceitos, dando maior
significado à eles, e por outro lado promove reflexões que levem a pessoa a se
reconhecer como um agente transformador do mundo ao seu redor, por estar
integrada à este mundo.
Dentro da perspectiva de estudantes de escolas públicas e/ou populações
marginalizadas buscando o acesso à Universidade, é necessário construir a
percepção de pertencimento a este mundo, visto que muitas vezes a realidade do
Ensino Superior parece muito distante para estes estudantes. Portanto, de acordo
com o pensamento de Freire (2006), é importante buscar conhecer as condições em
que os sujeitos vivem, para tentar adequar os Cursinhos Populares às suas
realidades e, assim, proporcionar um ambiente mais propício para a permanência de
estudantes nos Cursinhos e construir um conhecimento que, para além de preparar
estudantes para o vestibular ou para concursos, prepare-os também para lutar pela
sua permanência nestes espaços e se sentirem no direito de ocupá-los, por mais
distante que parecessem de sua realidade anteriormente.
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Analisando-se os dados referentes a esta questão coletados através de um
questionário respondido pelas(os) estudantes, o objetivo geral deste trabalho é
caracterizar o público alvo dos Cursinhos Populares da Zona Leste de São Paulo e
suas demandas. A partir das questões trabalhadas no referencial e da análise dos
questionários, objetiva-se especificamente identificar fatores intervenientes nos
hábitos de estudos de alunas e alunos dos Cursinhos, assim como comparar dados
referentes a quatro diferentes perfis de estudantes: mulheres pretas, pardas ou
indígenas (MPPI); mulheres brancas ou amarelas (MBA), homens pretos, pardos ou
indígenas (HPPI); e homens brancos ou amarelos (HBA).
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1. REFERENCIAL TEÓRICO
Segundo Brandão (2006), a educação popular é um movimento de trabalho
político que atua através da educação e em conjunto com (e não para) as classes
populares. Tem como base a cultura popular e objetiva alimentar o poder popular,
sendo comprometida com a subversão de estruturas sociais que oprimem maiorias.
Para que se constitua desta forma, faz-se necessário retotalizar todo o processo
educativo, que atualmente parte do ponto de vista de minorias opressoras, e
embasar as práticas e conceitos educacionais na cultura popular. Surge como um
movimento de educadores que trazem esta cultura para os meios profissional e
militante como fundamentação para pensar processos políticos e mobilizar classes
populares em busca de transformação da ordem política, social, econômica e
cultural vigentes como resultado da luta de classes. De acordo com Marx e Hengels
(1999), a luta de classes é definida como um confronto entre duas classes, o
proletariado (quem não possui meios de produção próprios e se reduz à venda de
trabalho para sobreviver, trabalho este que apenas existe enquanto produzir lucros)
e a burguesia (proprietários do meio de produção social e empregadores do trabalho
assalariado feito pelo proletariado, produto de uma série de transformações
profundas no modo de produção e nos meios de comunicação inseridos em um
longo processo de desenvolvimento). A Educação Popular, inserida na luta de
classes, se reformula historicamente de acordo com a relação entre os agentes
educadores envolvidos e demandas e saberes provenientes da população na qual
se desenvolve (BRANDÃO, 2006).
A história da educação popular se inicia na América Latina, na década de
1950, e ganhou proporções internacionais de grande porte através da atuação de
Paulo Freire. A ideia de uma educação libertadora através da conscientização foi
teorizada e amplamente disseminada por Freire, ideia esta que toma forma no
âmbito da Educação de Jovens e Adultos em contraposição à educação funcional,
que é voltada para o treinamento de mão-de-obra produtiva. O educador visava uma
prática educativa aliada à teoria, que fosse capaz de visibilizar para os educandos
(os oprimidos) o que lhes foi escondido com a intenção de os oprimir (GADOTTI,
2007).
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Sendo assim, a educação popular não é um acontecimento único, mas sim
um processo composto de diversas experiências (não necessariamente uma sendo
consequência ou um desmembramento da outra) que são vivenciadas em diferentes
momentos históricos e localidades, portanto com diferentes perspectivas, não sendo
limitadas a um projeto exclusivo ou a uma única instituição. É uma educação política
desenvolvida pela ou com a classe trabalhadora, buscando emancipação dos
sujeitos envolvidos e sendo legítima em qualquer espaço onde esta classe esteja
inserida, podendo ser dentro da escola ou fora dela (MACIEL, 2011). Os espaços
fora da escola são defendidos por Mészaros (2008), pois grande parte do
aprendizado ocorre de fato fora destes espaços, os quais o autor considera livres de
manipulação e controle direto por uma estrutura educacional formalizada e
sancionada legalmente, ainda que haja uma imposição sistêmica indireta.
Segundo Maciel (2011), a pedagogia freireana sintetiza a prática da
Educação Popular, pois reconhece no conhecimento uma forma de superar relações
hierárquicas e modelos mecanicistas presentes na análise da sociedade e propor
novas práticas que indiquem a necessidade de mudança. A busca por uma relação
social em que homens e mulheres projetem um bem comum e não haja opressões é
a utopia teórica que, aliada à prática militante (que, segundo Freire, é inerente à
prática pedagógica libertadora), encorpa o que é a educação popular, sempre
encharcada por esta dialogicidade teoria-prática. Esta ideologia contraria a prática
dominante de educação, que é chamada nas obras do autor de “educação
bancária”.
Na educação bancária, o educador é narrador de um conteúdo que deve ser
mecanicamente memorizado pelos educandos, que são vistos como “vasilhas” a
serem preenchidas por estes conteúdos que estão sendo depositados pelo
educador. Não há comunicação, há apenas “comunicados” que devem ser
arquivados na memória dos receptores inativamente. Isso se justifica através da
absolutização da ignorância, ou seja, o educador tudo sabe e apenas está lá porque
o educando nada sabe, este último sendo uma página em branco a ser preenchida
de palavras sem significado no mundo real, que são lidas de forma mecânica e não
se conectam com seu cotidiano. Estas práticas pedagógicas promovem uma
alienação, refletindo as opressões de uma sociedade pautada na cultura do silêncio.
E, quanto mais se desenvolve a lógica de depósito de informações, menos se
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exercita a construção de uma consciência crítica capaz de promover
transformações, que insira o sujeito em sua realidade como agente histórico, capaz
de realizar mudanças reais. E, assim, cada vez mais se ensina o educando a se
adaptar ao invés de transformar o mundo (FREIRE, 2006). Mészaros (2008) segue a
mesma linha quando afirma que, além de proporcionar conhecimentos e
trabalhadores que são necessários para a expansão produtiva no sistema
capitalista, a educação também legitima os interesses dominantes através da
geração e propagação de valores que supõem a não existência de outra forma
possível de gerir a sociedade.
Portanto, na perspectiva de subverter as relações estabelecidas na prática da
educação bancária, utilizar a educação como uma das ferramentas para transformar
as estruturas opressoras pressupõe que a práxis educativa está a serviço das
camadas populares, sendo um instrumento de politização e conscientização a partir
das próprias culturas populares construídas e compartilhadas por esta população.
Faz-se necessária, portanto, uma reconstrução total do que é educação, pois a
intenção é fundar uma educação libertadora, que só é possível em um contexto no
qual não haja controle por parte de estruturas moldadas de acordo com um sistema
econômico pautado na opressão, o capitalismo, e marginaliza a cultura popular e os
saberes provenientes dela (BRANDÃO, 2006). Esta educação que se faz
necessária, além de ser popular, deve ser pautada na ação dos indivíduos no
sentido de transformar sua realidade ao se reconhecerem como sujeitos históricos, a
educação continuada, que se contrapõe à educação formal (ou bancária, na
definição de Freire), esta última sendo responsável por processos de internalização
da cultura dominante e dos valores capitalistas (MÉSZAROS, 2008).
Segundo Brandão (2006), a força deste sistema econômico é brutal, e lutar
contra isto demanda um poder popular cada vez mais fortalecido. Na prática da
educação popular, educadores e educandos incorporam o saber como um
instrumento de libertação nas mãos da classe oprimida, e o conhecimento aliado à
reflexão objetivam uma transformação nos indivíduos coletivos, que buscam deixar
de ser sujeitos econômicos (trabalhadores, consumidores) e passam a ser sujeitos
políticos (capazes de compreender e transformar sua realidade). Freire e Nogueira
(1989) complementam esta ideia ao afirmar que o educador popular precisa
mergulhar na luta popular e ser capaz de se integrar, se comunicar, pois até o
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próprio uso da linguagem popular já é conhecimento. O educando não deseja um
educador que apenas discursa, que se aproxima abstratamente, mas procura ver na
resolução dos problemas discutidos cotidianamente o resultado de uma
comunicação efetiva, através da qual ele aprende a aprender (FREIRE, 1989).
Para Freire (1989), também é necessário que a educação esteja integrada
com outras “ferramentas” políticas, para que o processo reflexivo do indivíduo tenha
caráter sócio-político e transformador de sociedade. A resistência já existe, está em
práticas individuais e cotidianas na camada popular, e para ser vista, demanda
organização coletiva, reflexão acerca dos incômodos que já estão presentes e, ao
pensá-los coletivamente, perceber que há soluções palpáveis e que, quando a
resistência é aliada à união (e não fica mais no plano da insatisfação individual) há
alteração no comportamento de muitos, que será notada por muitos mais, e assim a
organização se torna crucial para a eficiência do ato de resistir.
Na sociedade brasileira atual, onde há predominância de forma bancária do
ensino, como citado por Freire (2006), a educação é colocada como
responsabilidade de Instituições, estas sendo construídas por seres humanos e,
consequentemente, carregadas pelas contradições sociais humanas e
demonstrando diferentes projetos coletivos. As Universidades não fogem a esta
dinâmica. Há uma crise de valores, quando a melhor formação é a que equipa o
sujeito para a competição individual no mercado de trabalho visando o lucro (tanto
para o trabalhador quanto para o empregador, seja ele uma empresa, um órgão
público, etc). Esta crise é consequência do modelo econômico vigente, portanto não
é atual, e intrinsicamente relacionada com os projetos que norteiam as diferentes
abordagens no ensino superior bancário no Brasil, impactando negativamente as
classes populares que têm seus interesses e suas culturas desvalorizados diante da
valorização do padrão das classes sociais mais privilegiadas e busca pela formação
de mão de obra, o que leva a uma naturalização das desigualdades sociais e a uma
interiorização do que é pré-estabelecido como única realidade possível para esta
classe (SOBRINHO, 2010), impossibilitando o processo de produção de soluções
coletivas previamente citado e criando barreiras para que impedem a construção da
educação popular.
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Sendo as Instituições de Educação reflexo dos conflitos que ocorrem entre os
seres humanos, não é de surpreender o fato da exclusão da população preta e
parda ocorrer dentro destes espaços. Mesmo que tenha dobrado a presença desta
população entre 2005 e 2015 (de 5,5% para 12,8% dos pretos e pardos em idade
universitária – 18 a 25 anos – frequentando uma universidade), a disparidade deste
número em relação à quantidade de alunos brancos seguiu sendo exorbitante,
havendo menos da metade de estudantes pretos e pardos em relação a brancos
(17,8% dos brancos em idade universitária frequentavam uma universidade em 2005
e este número subiu para 26,5% em 2015). Um exemplo de dados que pode explicar
esta diferença é o fato de que 53,2% dos pretos e pardos estavam cursando o
ensino fundamental na idade universitária em 2015, enquanto apenas 29,1% dos
brancos se encontravam nesta mesma situação (IBGE apud VIEIRA, 2016).
Além da questão racial, que se apresenta neste trabalho dentro dos termos
raça (descreve um grupo de pessoas com características morfologicamente
semelhantes) e etnia (que considera, além da morfologia, religião, lingua,
parentesco, território e nacionalidade) (SANTOS et al., 2010), também é muito forte
na questão do ensino superior a questão de gênero que, segundo Barreto (2014),
remete à um conjunto de práticas sociais que orientam a percepção que as pessoas
tem de si mesmas e dos outros, criando assimetrias entre o que é considerado
feminino ou masculino. Porém, a questão de gênero não se evidencia tanto na
questão do acesso ao ensino superior, e sim nas posições alcançadas pelas
mulheres dentro da Universidade (principalmente em relação às mulheres negras)
(BARRETO, 2014) ou nos postos de trabalho (NUNES NETO et al., 2016) e como
estas são inferiores tanto socialmente quanto economicamente às dos homens.
Além de haver muito a se refletir sobre o atraso escolar em si e como isto é
uma herança histórica destes povos pretos e pardos (geradora dos conflitos
vivenciados pelos seres humanos), esta não é a única variável que define a entrada
de um estudante no ensino superior. A maior barreira que está posta entre o ensino
médio e o ensino superior, e a qual indivíduos provenientes de diferentes classes
socioculturais devem transpor de maneira igual, é o vestibular. Inclusive, são as
necessidades provocadas pelos momentos sociopolíticos que se vivencia que
determinam as mudanças que ocorrem no vestibular, ou seja, este último é
consequência de situações socioculturais e politicas. Historicamente, conforme se
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movimentam as demandas da população e, principalmente, do mercado de trabalho,
as cobranças em relação à escola e ao ensino superior se alteram e,
consequentemente, o modelo do vestibular (a porta de entrada ou de bloqueio para
as Universidades).
Sendo assim, o vestibular se coloca como um instrumento de política
educacional, e não como uma ferramenta de seleção (WHITAKER, 1983). Ainda que
fosse, não seria uma ferramenta justa, pois tenta dissimular as reais origens das
injustiças, que estão na má distribuição de renda impossibilitando o acesso dos mais
pobres ao preparo necessário para o processo do vestibular. Assim, acabam
entrando nas estatísticas de exclusão ou ingressando nos cursos de menor procura
e menor retorno financeiro, mantendo a diferenciação de oportunidades que se
apresentam para estudantes de diferentes camadas sociais (PINHO, 2001). Dentro
desta perspectiva, se inserem os Cursinhos Populares como uma possível forma de
inserir pessoas de baixa renda no ensino superior e iniciar uma subversão neste
sistema de diferenciação de oportunidades, ainda que, de alguma forma, entrando
em conflito ao trabalhar de acordo com os moldes de um sistema excludente.
Os Cursinhos Populares não são delimitados a meros espaços pedagógicos,
segundo Carvalho et al. (2008), pois possuem objetivos comunitários, políticos,
sociais e culturais que vão para muito além de apenas auxiliar no acesso de pré-
vestibulandos pobres ao Ensino Superior. Os autores afirmam que estes Cursinhos
são integrantes de um grande Movimento Social que ultrapassa o espaço individual
de cada Cursinho, buscando uma reparação de negligências históricas à
determinados grupos sociais através do acesso democrático ao Ensino Superior.
Portanto, se configura um Movimento que se constitui historicamente junto aos
momentos políticos do Brasil, que cresce com cidadania ativa, buscando inclusão
social.
Em contraposição a isso, Castro (2006) reflete sobre o ponto de vista de que
cada Cursinho possui um projeto diferente, mas que é comum o discurso de que o
acesso ao Ensino Superior estaria assegurado caso fosse ofertada uma Educação
Básica de maior qualidade. No entanto, esta afirmação estaria equivocada, pois o
que impede estudantes pobres de se inserir no Ensino Superior não é apenas a
baixa qualidade do ensino, mas também a falta de vagas nas Faculdades, Centros
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Universitários e Universidades, aliada ao processo excludente do Vestibular.
Somado a isso, ocorre um processo de mercantilização da educação, inclusive o
ensino superior, à partir da década de 1960, aumentando as desigualdades ao
dificultar o ingresso às universidades públicas e selecionar quem pode pagar para se
inserir na universidade privada. O autor afirma que, na tentativa de ocupar uma
destas vagas escassas, o que dificulta o acesso de estudantes de escolas públicas e
populações marginalizadas são as condições históricas de cada um destes
indivíduos. Sendo assim, se justifica a necessidade da compreensão de sua história
por parte de cada estudante, que não se desmembra do processo histórico de
formação da sociedade na qual estes estudantes estão inseridos.
Os pensamentos de Freire (2006) se alinham muito bem com esta questão. O
autor defende a importância de estudantes compreenderem o mundo ao seu redor,
porque o ser é pois está no mundo, e o mundo é pois o ser está nele também. O
autor propõe construir os conceitos baseados em “temas geradores”, temas que são
provenientes da realidade e do cotidiano de estudantes. Toda a pedagogia do autor
se baseia em conhecer a realidade dos indivíduos, para que este construa os
conceitos integrando-os à sua realidade, se enxergando quanto cidadão integrante
do mundo e, através da percepção desta integração, compreendendo as relações de
poder envolvidas na sua condição e que o sujeito é capaz de transformar a sua
própria realidade.
Porém, existe uma questão a ser colocada que configura a contradição
acerca dos Cursinhos Populares, e também a origem da luta travada por este
movimento: fazer ser possível disputar pelo acesso à universidade por meio do
preparo para o exame vestibular, abordando o próprio vestibular de forma crítica e
formativa, para que se compreenda a ideia de privação implícita neste processo
(CASTRO, 2011).
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2. METODOLOGIA
Para a coleta de dados deste Trabalho foi elaborado um questionário
estruturado (Anexo I), que foi respondido por estudantes de Cursinhos Populares da
Zona Leste, sem identificação de nenhum tipo, respeitando-se a confidencialidade e
anonimato, com o intuito de compreender melhor o perfil do alunado destes
Cursinhos. Portanto, primeiramente, há um contato com estes Cursinhos, explicando
o intuito do Trabalho, pedindo permissão para a aplicação do questionário para
estudantes e criando o compromisso de compartilhar o resultado do Trabalho com
os Cursinhos para um futuro trabalho de reflexão, ainda que não seja necessário o
encaminhamento deste projeto para aprovação de comitê de ética.
A delimitação da região da Zona Leste se dá para que se possam atingir
critérios mínimos de analise, pois a cidade se distribui de forma muito heterogênea e
não caberia na estrutura do presente trabalho a analise de Cursinhos de mais de
uma região da cidade, porém este tipo de analise também é de extrema importância.
Outro fator é a mobilidade para a aplicação dos questionários, sendo na Zona Leste
eles já eram distantes uns dos outros e a locomoção entre eles seria muito
dificultada se fossem de regiões diferentes da cidade.
Os dados referentes ao corpo discente dos Cursinhos coletados no
questionário foram tratados para a elaboração de estudo quantitativo, através da
confecção de gráficos e tabelas para melhor visualização dos resultados e análise
qualitativa do tipo frequencial. Inicialmente, foram tabuladas as respostas para cada
uma das questões separadamente. Foi buscada a identificação de necessidades
específicas para determinados grupos, ou necessidades coletivas, que carecem de
ser abordadas para a permanência de estudantes. Foram analisadas 94 respostas
ao questionário de estudantes de quatro Cursinhos Populares, e identificadas duas
variáveis bem marcantes: o fato de o alunado dos cursinhos ser composto
majoritariamente por mulheres e por pessoas pretas ou pardas. Portanto, foi feita
uma análise geral dos dados e, em seguida, uma análise com recorte racial e de
gênero para verificar demandas específicas de quatro grupos distintos: mulheres
autodeclaradas pretas, pardas ou indígenas (MPPI), mulheres autodeclaradas
21
brancas ou amarelas (MBA), homens autodeclarados pretos, pardos ou indígenas
(HPPI) e homens autodeclarados brancos ou amarelos (HBA). Tais necessidades
foram discutidas a partir de referenciais teóricos pertinentes à educação popular e às
abordagens interacionistas do ensino. As categorias de cor ou raça foram utilizadas
de acordo com o padrão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
22
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados gerais (ou seja, sem nenhum tipo de recorte) são trabalhados na
ordem das temáticas de cada questão para traçar um perfil geral do alunado dos
Cursinhos Populares. Em relação às respostas da primeira pergunta, referente ao
gênero dos estudantes, os Cursinhos Populares analisados são compostos
majoritariamente por mulheres, que representam 73% do alunado, enquanto nas
Universidades representam metade dos estudantes, com uma maior distribuição nos
cursos das área de educação e cuidado (BARRETO, 2014). A presença das
mulheres na Educação Popular é de extrema importância, pois uma educação
reflexiva e construída em conjunto com estas mulheres pode ser capaz de se tornar
uma ferramenta para romper as desigualdades de gênero. Dentro do panorama de
Cursinhos Populares, isso se aprofunda mais pois estas desigualdades de gênero
são frutos de mecanismos sociais construídos para reforças padrões de gênero que
influenciam fortemente as mulheres na escolha dos cursos de graduação. A escolha
do curso, por sua vez, influencia no diferencial salarial futuro e pode ampliar a
desigualdade de gênero no que se refere à valorização do trabalho, visto que os
cursos mais visados e que oferecem um maior retorno financeiro são frequentados,
majoritariamente, por homens, mesmo que as mulheres representem mais da
metade do corpo discente do ensino superior no Brasil (GALVÃO, 2015).
Já nas respostas da segunda pergunta, que é referente à cor ou raça, outro
dado interessante surge, que é a proporção racial observada nos dados. Uma
grande maioria dos estudantes destes Cursinhos (67%) se autodeclaram pretos ou
pardos (Figura 01), o que é oposto aos dados apresentados previamente que tratam
dos jovens do com as mesmas características no ensino superior. Segundo, Soares
(2000), isto ocorre porque os obstáculos colocados para a população negra se
apresentam antes ainda da possibilidade de acesso ao ensino superior. A deficiência
de ensino básico que se apresenta para a população negra em maior frequência do
que a população branca os diferencia em relação ao acesso à Universidade. O autor
elucida a ideia comparando a realidade de mulheres brancas e de homens negros, e
observando que os homens negros encontram dificuldades na sua formação, na sua
inserção no mercado de trabalho e na definição salarial, etapas estipuladas pelo
autor. Já as mulheres brancas encontram na definição salarial o maior empecilho
23
para a escalada social, ou seja, na maioria das vezes as mulheres brancas não
encontram dificuldades diferenciadas dos homens brancos nas duas primeiras
etapas.
FIGURA 01: Cor ou Raça dos Estudantes
FIGURA 02: Composição da amostra por gênero e raça/cor
Estes dois dados trabalhados acima foram utilizados para embasar o recorte
racial e de gênero que é representado pela Figura 02 e será empregado em
contraste com os resultados gerais em alguns temas relevantes no decorrer desta
análise. Neste recorte, foram agrupados os homens pretos, pardos e indígenas
(HPPI), os homens brancos e amarelos (HBA), as mulheres pretas, pardas e
indígenas (MPPI) e as mulheres brancas e amarelas (MBA), este último grupo
contendo informações de uma mulher que não se declarou no quesito cor ou raça.
30%
24%
1%
43%
1% 1%
Branca
Preta
Amarela
Parda
Indígena
Sem Resposta
16%
9%
53%
22%Homens pretos, pardosou indígenas
Homens brancos ouamarelos
Mulheres pretas, pardasou indígenas
Mulheres brancas ouamarelas
24
Os dados revelam que a grande maioria dos estudantes correspondem ao grupo
MPPI (43%), seguido pelos grupos MBA (18%), HPPI (13%) e HBA (7%). Ou seja, o
grupo se compõe majoritariamente de mulheres negras (termo que corresponde
comumente à pretos e pardos), que são a população mais negligenciada de acordo
com Marcondes et al. (2013).
Em relação à orientação sexual, temática presente na terceira pergunta, 84%
dos estudantes se declaram heterossexuais, enquanto 8% se declaram
homossexuais, 6% bissexuais e 1% pansexuais (o 1% restante corresponde à
ausência de respostas). Como não há predominância de grupos sociais
negligenciados ou marginalizados neste quesito, a questão da orientação sexual não
será analisada neste trabalho, porém é importante mencionar que é uma temática
importante de ser abordada na perspectiva da Educação Popular por se tratar de um
mecanismo opressor que se inclui na luta de classes mencionada previamente
(SULIANO et al., 2015).
Na quarta questão, identifica-se a faixa etária mais comum no público-alvo
destes Cursinhos, que são compostos majoritariamente de jovens (82% dos
estudantes tem de 14 a 18 anos e 15% tem de 19 a 24 anos). Apenas um dos
Cursinhos apresentou estudantes de idades acima destas, com dois estudantes na
faixa etária de 35 a 45 anos (compreendendo 2% do total) e um estudante na faixa
etária de 46 a 56 anos (1% do total). Todos os estudantes dos Cursinhos Populares
frequentam ou já frequentaram o ensino médio (dado presente nas respostas da
questão cinco do questionário), sendo que é demonstrado na pergunta seis que a
grande maioria destes alunos (91%) ingressaram no ensino médio com idades entre
14 e 18 anos (o restante se divide entre: menos de 14 anos – 2%; 19 a 24 anos -
3%; 25 a 34 anos – 1%; 35 a 44 anos – 1%; 45 a 54 anos – 1%; e o 1% restante
corresponde à respostas indefinidas). A questão sete aponta que, destes
estudantes, 62% já concluíram o ensino médio e 38% ainda não o concluíram. De
acordo com estes dados, é possível afirmar que a maioria destes estudantes está se
preparando para o vestibular em uma faixa etária adequada para que estejam no
ensino superior dentro da idade universitária (18 a 24 anos).
Em relação ao tempo gasto com deslocamento até o cursinho, a maioria dos
estudantes demora até 30 minutos para chegar nas aulas (57%), seguida pelos
25
alunos que levam de 30 minutos à 1 hora neste trajeto (37%), dados obtidos a partir
das respostas da pergunta de número oito do questionário (Figura 03). Os meios de
transporte mais citados como utilizados são o ônibus (46%) e a caminhada a pé
(44%), conforme dados da questão nove demonstram (Figura 04). Ambos os
resultados apresentados em relação ao deslocamento dos estudantes sugerem que
a maioria dos alunos seja moradora da região aonde o Cursinho se estabelece,
demonstrando uma questão territorial. É utilizado aqui o sentido atribuído por Castro
(2011) da palavra território, ou seja, um espaço mediado pelas relações de poder
que o impregnam, se consolidando através de conflitos e contradições
características da luta de classes. É um espaço de exercício de poder, objeto de
disputa, produzido pela sociedade e estimulado pela burguesia hegemônica. Porém,
justamente por ser consolidado por conflitos, o território é também lugar aonde se
constroem lutas contra os poderes estabelecidos por esta hegemonia, suscitando o
desejo de conquistar novos territórios com melhores condições de vida. Esta visão
de territorialismo é condizente com a prática de Educação Popular nos Cursinhos,
que tem o intuito de romper as barreiras de acesso ao ensino superior postas para
estas populações que constroem seu território cotidianamente através da luta, e,
portanto, constroem também sua história.
FIGURA 03: Tempo de deslocamento até o Cursinho Popular
A questão do trabalho é inserida na décima pergunta. A maioria dos
estudantes afirma não trabalhar (82%), enquanto 18% trabalham. A maioria dos
estudantes trabalhadores é composta por estudantes do grupo HBA, conforme se
pode observar no Figura 05, seguido pelo grupo HPPI, havendo uma grande
diferença entre a quantidade de homens trabalhadores e mulheres trabalhadoras.
De todos os estudantes trabalhadores, a maioria (50%) exerce apenas uma
57%
37%
5% 1%
até 30 min
30 min - 1h
1h - 2h
2h - 3h
26
atividade remunerada, seguido de uma segunda maioria de trabalhadores com duas
atividades remuneradas (31%), conforme demonstrado pelas respostas questão
numero onze (Figura 06).
FIGURA 04: Meios de transporte mais citados como utilizados pelos estudantes
FIGURA 05: Quantidade de estudantes que trabalham
FIGURA 06: Quantidade de atividades remuneradas exercidas pelos estudantes
trabalhadores.
44%
46%
2% 1% 5% 1% 1%A pé
Ônibus
Trem
Metrô
Automóvel
Uber
0%
20%
40%
60%
80%
100%
HomensPetros, Pardosou Indígenas
HomensBrancos ouAmarelos
MulheresPretas, Pardasou Indígenas
MulheresBrancas ouAmarelas
Geral
Sim Não
50%
31%
13% 6%
1
2
3
mais de 3
27
Dentro do recorte racial e de gênero, pode-se observar no Gráfico 7 que há
uma diferença substancial na quantidade de trabalhadores em cada um dos grupos.
Os grupos masculinos contém maior quantidade de trabalhadores, tanto em relação
aos grupos femininos quanto em relação aos dados gerais. Porém, apenas 33% dos
estudantes que afirmam trabalhar tem a Carteira de Trabalho registrada, conforme
pode-se observar no Figura 07, enquanto os 67% restantes declaram não ter
(conforme observado analisando as respostas da décima segunda questão). Não há
diferenças substanciais nestes dados conforme se alternam os grupos, porém os
dados gerais demonstram mais uma vez a condição de classe popular e com
trabalho precarizado destes estudantes trabalhadores, sendo esta classe a mais
negligenciada no acesso às Universidades (SOBRINHO, 2010). Cabe ressaltar
também que a quantidade de estudantes trabalhadores é pequena, o que pode ser
consequência do publico ser jovem, considerando-se os altos índices de
desemprego da população de 14 a 24 anos (IPEA apud CRISTALDO, 2017).
Apenas 5% dos estudantes tem filhos, conforme resultados da questão treze.
Destes estudantes com filhos, 50% são do grupo MBA, 25% do grupo MPPI e os
outros 25% do grupo HPPI. Porém, como a quantidade de estudantes com filhos é
muito pequena, é difícil afirmar algo a partir destes dados, visto que não é possível
observar um padrão.
FIGURA 07: Quantidade de estudantes trabalhadores com assinatura em Carteira
Trabalhista
Na décima quarta questão, as horas disponíveis para estudo fora do Cursinho
são questionadas, e foi observado que há a predominância de até 10 horas
0%
20%
40%
60%
80%
Homens Pretos,Pardos ouIndígenas
Homens Brancosou Amarelos
Mulheres Pretas,Pardas ouIndígenas
MulheresBrancas ouAmarelas
Geral
Com carteira assinada Sem Carteira assinada Sem resposta
28
semanais (31%), seguido de estudantes que possuem de 10 a 20 horas semanais
para estudo (28%) e por alunos com 20 a 40 horas disponíveis semanalmente para
o estudo (Figura 08). Ao analisar o gráfico, é possível verificar que há diferenças
marcantes em relação à quantidade de tempo disponível para estudo em cada
grupo, o mais prejudicado sendo o MPPI, que tem a maioria de suas estudantes
dispondo de apenas até 10h semanais para estudos. Isto pode estar relacionado
com a questão do trabalho doméstico, amplamente atribuído às mulheres (FRANÇA
e SCHIMANSKI, 2009) e trabalhado também na questão dezessete (Gráfico 12),
onde fica clara a diferença entre homens e mulheres neste quesito dentro da
população estudada neste trabalho.
FIGURA 08: Quantidade de horas disponíveis para estudo fora do Cursinho Popular
Ao serem questionados sobre seus hábitos atuais de estudo na pergunta
quinze, o hábito mais citado pelos estudantes é o de estudar em casa enquanto
fazem outras coisas (47% das citações), seguido por 26% de menções do hábito de
estudar fazendo apenas isto em casa (FIGURA 09). Porém, ao responderem como
gostariam de estudar na pergunta dezesseis, as respostas são diferentes,
demonstrando que estudar em locais apropriados para isto, como bibliotecas, teve
53% das menções dos alunos, e estudar fazendo apenas isto em casa teve 22% das
menções (Figura 10). Como a maioria dos estudantes citou a vontade de estudar em
locais apropriados para isto, é de se questionar o porque de não estudarem.
Primeiro tem a questão das horas disponíveis para estudo. Como a maioria dispõe
de pouco tempo para estudo, a ida até algum lugar se torna inviável visto que se
0%
10%
20%
30%
40%
50%
até 10h 10h - 20h 20h - 40h 40h - 60h mais de 60h Sem Resposta
Homens Pretos, Pardos ou Indígenas Homens Brancos ou Amarelos
Mulheres Pretas, Pardas ou Indígenas Mulheres Brancas ou Amarelas
Geral
29
perderia muito tempo. Acabam estudando em casa, e muitas vezes enquanto
realizam outras atividades. Junto a isso, podemos analisar no site da Secretaria da
Cultura de São Paulo que na região da subprefeitura São Mateus, aonde se inserem
dois dos Cursinhos estudados, não existe nenhuma biblioteca publica, há apenas
um ponto de leitura em toda a região, que tem uma área de 45,8km². Já na região da
subprefeitura de Itaquera, onde se localizam os outros dois Cursinhos, são
encontradas apenas duas bibliotecas e um ponto de leitura, sendo que a área
abrangida tem 54,3km². Ou seja, pelo menos no que diz respeito à bibliotecas e
pontos de leitura, não há locais de fácil acesso para estes estudantes,
principalmente considerando que a maioria já não dispõe de muito tempo para se
dedicar aos estudos.
FIGURA 09: Menções de hábitos de estudo atuais
Ao serem questionados sobre os empecilhos aos estudos na questão
dezessete, muitos estudantes marcaram mais de uma alternativa (Figura 11). Estes
talvez sejam os dados mais reveladores do trabalho. Ainda assim, 21% dos
estudantes não mencionaram nenhum empecilho, o que sugere que eles não
identificam grandes dificuldades na sua rotina de estudos. Porém, o empecilho mais
mencionado pelos estudantes no geral foi “cuidados com a família” (19%), mesmo
que a sua grande maioria seja composta por jovens que não tem filhos. O segundo
empecilho mais mencionado foi o trabalho doméstico (16%), seguido do transporte
(12%). Ao analisar os dados dos quatro grupos (HPPI, HBA, MPPI, MBA), nota-se
uma discrepância de respostas entre os grupos e com os dados gerais (Figura 12).
47%
27%
2%
7%
3%7%
1%
6%
em casa enquanto façooutras coisasfazendo apenas isto emcasano trabalho
no transporte publico
na casa de colegas
em local para estudos (ex.:biblioteca)Sem Resposta
outro
30
Como se pode observar no gráfico, o grupo que menciona menos empecilhos
é o HBA, sendo também o grupo que tem maior acesso aos cursos de ensino
superior com maior retorno financeiro e, consequentemente, mais concorridos no
vestibular (LAVINAS, 2001). Porém, o fator “situação financeira” foi o mais
mencionado como empecilho por este grupo, demonstrando que o grupo mantem a
característica de classe popular, corroborando a hipótese da possibilidade e da
necessidade de construção de Educação Popular nestes espaços. Além disso, a
ausência de respostas pode também significar uma falta de consciência em relação
aos empecilhos, e não a ausência dos empecilhos em si. Já em relação ao grupo
MPPI pode-se observar que o empecilho mais mencionado é o trabalho doméstico,
conforme citado previamente. Um grupo que majoritariamente tem até 10h semanais
disponíveis para os estudos e aonde é presente na maioria das realidades das
mulheres o trabalho domestico como empecilho para estudar trás um panorama
passível de estudos relacionados à desigualdade de gênero.
FIGURA 10: Menções de hábitos de estudo desejados
FIGURA 11: Menções de empecilhos para o estudo
11%
21%
0%
0%
10%51%
2% 5%em casa enquanto façooutras coisasfazendo apenas isto em casa
no trabalho
no transporte publico
na casa de colegas
em local para estudos (ex.:biblioteca)
16%
19%
4%
8%12%
16%
21%
1% 2% 1%trabalho doméstico
cuidados com a família
trabalho
escola
situação financeira
transporte
Sem Resposta
Lazer
Preguiça
Doença
31
Por fim, lhes foi perguntado na pergunta dezoito qual era o objetivo de
frequentar o cursinho. Alguns alunos marcaram mais de uma alternativa, mas as
respostas ficaram bem divididas entre se preparar para o vestibular (45%) ou se
preparar para o ENEM para participar de programas de ingresso ao ensino superior
(42%). Se preparar para um concurso corresponde a 8% das menções, se preparar
para o ENEM por motivos não relacionados ao ensino superior corresponde a 2% e
se capacitar, se preparar para a ETEC e ter conhecimento correspondem a 1% das
menções cada. Nenhum estudante respondeu algo diferente na alternativa “outros”,
o que demonstra que a finalidade básica esperada pelos alunos destes Cursinhos é
o ingresso no ensino superior.
FIGURA 12: Menções de empecilhos para o estudo por grupo
Portanto, observa-se que a configuração geral deste público se caracteriza da
seguinte forma:
• Maioria jovem (82% - 14 a 18 anos e 15% - 19 a 24 anos);
• 73% são mulheres;
• 67% são pretos ou pardos;
• 62% já concluíram o ensino médio;
• 91% ingressaram no ensino médio com idade entre 14 e 18 anos;
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
Homens PPI Homens BA Mulheres PPI Mulheres BA Geral
32
• 82% dos estudantes não trabalham;
• 33% dos trabalhadores possuem carteira assinada;
• 5% dos estudantes tem filhos;
• 97% tem interesse no Cursinho Popular como auxílio para ingresso no ensino
superior.
A partir da análise destes dados, é possível traçar um perfil geral dos
estudantes e perceber algumas demandas necessárias ao exercício de elaboração
de projetos pedagógicos e planos de ensino em cursinhos populares. Algumas
dessas demandas podem não ser passiveis de serem contempladas na prática
pedagógica de cursinhos pré-vestibulares, o que não dispensaria o fomento de
contextos de reflexões por parte dos estudantes. Os empecilhos referentes ao
trabalho domestico, ou a cuidados com a família, por exemplo, talvez possam ser
sanados com reflexões em relação às questões de gênero e raça previamente
apresentadas (SOARES, 2000; FRANÇA e SCHIMANSKI, 2009), de modo que
possam mudar as atitudes e as relações domésticas das famílias. Porém, não se
pode afirmar que isso seja uma solução, pois cada individuo terá sua realidade
vinculada a sua história e, portanto, não há uma solução una para todos os
estudantes. Por isso, é importante para a possível ampliação do potencial de
aprendizado dos estudantes, trabalhar os Cursinhos Populares como um ambiente
de mobilização política, de desconstrução de ideias, de reconstrução de
personalidades, de organização coletiva. Para que estes estudantes, a partir destas
reflexões, olhem para si e observem as resistências diárias que exercem, todos os
empecilhos que enfrentam apenas por estarem frequentando um Cursinho Popular e
o que isto significa dentro da lógica opressora na qual vivem.
A partir desta análise, que é fruto da integração entre a educação e outras
“ferramentas” politicas, o sujeito se vê como integrante de um grupo e pode observar
um maior potencial em transformações, tanto no nível doméstico - podendo sanar
alguns dos empecilhos já citados, quanto no nível estrutural - incentivando a luta
pelo acesso ao ensino superior e a união da classe (FREIRE, 1989). Assim, é
possível ir contra a educação descrita por Mészaros (2008) como internalizadora do
processo capitalista, e seguir a ideia de Brandão (2006) de Educação Popular como
33
uma educação que subverte as relações impostas por este processo e tem como
objetivo fortalecer o poder popular.
Este trabalho, por fim, permite conhecer melhor as características gerais dos
estudantes destes Cursinhos, assim como sugere quais subjetividades
complementam este todo que foi traçado pelo perfil. A questão das horas de estudo,
por exemplo, são um problema marcante para os estudantes. Talvez um Cursinho
que oferecesse uma biblioteca e um local apropriado para estudos durante a
semana seria de extrema importância, devido ao curto tempo disponível e a
ausência destes locais na região. Ainda assim, podem surgir empecilhos como o
trabalho, a escola, o transporte e, até mesmo, como foi discutido, preconceitos por
questões de raça ou de gênero. Portanto, não basta apenas buscar classificar os
estudantes como um grupo, mas também salientar a necessidade de se conhecer
estes indivíduos e suas historias para que a Educação Popular se dê junto com eles,
e não apenas para eles (BRANDÃO, 2006). É necessário, de fato, se integrar e
compor um coletivo junto a estas pessoas para se fazer Educação Popular (Freire e
Nogueira, 1989). Sendo assim, é de suma importância conhecê-las e reconhecer os
desafios que as direcionam ou que as impossibilitam no seu cotidiano.
34
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os principais dados encontrados neste trabalho se referem à composição do
alunado de Cursinhos Populares da Zona Leste, que se diferencia da composição do
corpo discente do ensino superior brasileiro. A forte presença de uma maioria
composta por mulheres negras demonstra uma população buscando ascensão e
conquista de territórios negados a ela por barreiras sociais, como a discriminação de
gênero e de raça, a estratificação de classe e o vestibular.
Mulheres, no geral, estão presentes em grande maioria no alunado. A
questão de gênero fica nítida nos resultados, ao observar padrões muito diferentes
na comparação entre as respostas de homens e mulheres, assim como na
comparação entre mulheres ou homens negros e mulheres ou homens brancos. É
possível identificar demandas específicas na ordem de gênero ou cor/raça, que
demandam estudos aprofundados e específicos.
Há poucos estudantes que trabalham ou que tem filhos, porém, no geral,
pode-se dizer que a população estudada neste trabalho enfrenta empecilhos
diversos no que diz respeito aos estudos preparatórios para a prova do vestibular. A
questão dos cuidados com a família é muito presente no que concerne às estes
empecilhos para os estudantes no geral, porém cada grupo tem suas
especificidades (por exemplo, as mulheres pretas, pardas ou indígenas citam com
frequência alta o trabalho domestico como um empecilho, o que não ocorre em
outros grupos com tanta intensidade).
Este estudo teve o intuito de ser um levantamento de dados sobre esta
população, introduzindo análises sobre os dados mas, principalmente, observando
padrões para promover o levantamento de questões de importância em relação ao
público com o qual os Cursinhos Populares da Zona Leste de São Paulo estão
lidando e que baseia a construção da Educação Popular nestes territórios.
Dentro da perspectiva da Educação Popular como forma de luta e de
desenvolvimento de ferramentas para a classe trabalhadora na luta de classes, se
faz importante o reconhecimento dos sujeitos constituintes desta construção coletiva
como grupo. Porém, como o grupo é formado por indivíduos históricos, a abordagem
35
individual para unir os dados e observar os padrões foi a forma utilizada para fazer
um reconhecimento geral deste alunado.
Por fim, este é um trabalho introdutório, que propõe uma tomada de
consciência em relação aos indivíduos que constroem os Cursinhos Populares e
chama os membros acadêmicos interessados para o que deve ser um olhar
profundo e atencioso para este publico, a fim de construirmos uma Educação
Popular com mais respeito e coerência e, consequentemente, de maior qualidade.
36
REFERÊNCIAS
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37
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38
WHITAKER, D. C. A. Universidades, vestibulares e ideologia. São Paulo:
Perspectivas, v. 6, p. 123-131, 1983
39
ANEXO I
Questionário Para Aplicação nos Cursinhos Populares
1) Qual é o seu gênero: ( ) homem ( ) mulher ( ) outro: _______________________________________________________ 2) Qual é a sua cor ou raça? ( ) branca ( ) preta ( ) amarela ( ) parda ( ) indígena ( ) outro: _______________________________________________________ 3) Qual é a sua orientação sexual? ( ) heterossexual ( ) homossexual ( ) bissexual ( ) outra: _______________________________________________________ 4) Qual é a sua idade? ( ) menos de 14 anos ( ) 14-18 anos ( ) 19-25 anos ( ) 25-35 anos ( ) 35-45 anos ( ) 45-55 anos ( ) 55-65 anos ( ) acima de 65 anos 5) Você cursou ou cursa o ensino médio? ( ) sim ( ) não 6) Com quantos anos você ingressou no ensino médio? ( ) menos de 14 anos ( ) 14-18 anos ( ) 19-25 anos ( ) 25-35 anos ( ) 35-45 anos ( ) 45-55 anos ( ) 55-65 anos ( ) acima de 65 anos
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( ) ainda não ingressei 7) Com quantos anos você concluiu o ensino médio? ( ) menos de 14 anos ( ) 14-18 anos ( ) 19-25 anos ( ) 25-35 anos ( ) 35-45 anos ( ) 45-55 anos ( ) 55-65 anos ( ) acima de 65 anos ( ) ainda não concluí 8) Quanto tempo você demora pra chegar até o cursinho? ( ) até 30 minutos ( ) de 30 minutos a 1 hora ( ) 1-2 horas ( ) 2-3 horas ( ) mais de 3 horas 9) Quais meios de transporte você utiliza para chegar até o cursinho? (pode marcar mais de uma resposta) ( ) a pé ( ) bicicleta ( ) ônibus ( ) trem ( ) metrô ( ) automóvel ( ) outro: _______________________________________________________ 10) Você trabalha? ( ) sim ( ) não 11) Se sim, quantas atividades remuneradas você exerce? ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) mais de 3 12) Uma ou mais dessas atividades tem registro em Carteira de Trabalho? ( ) sim ( ) não
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13) Caso trabalhe, quantas horas semanais são gastas com o trabalho (incluindo transporte)? ( ) até 20 horas ( ) de 20 a 40 horas ( ) de 40 a 60 horas ( ) de 60 a 80 horas ( ) de 80 a 100 horas ( ) mais de 100 horas 14) Você tem filhos(as)? ( ) sim ( ) não 15) Quantas horas semanais, em média, você tem disponíveis para estudo fora do cursinho? ( ) até 10 horas ( ) de 10 a 20 horas ( ) de 20 a 40 horas ( ) de 40 a 60 horas ( ) mais de 60 16) Onde/como você costuma estudar? ( ) em casa enquanto faço outras coisas ( ) fazendo apenas isto em casa ( ) no trabalho ( ) no transporte público ( ) na casa de colegas ( ) em local para estudos (ex.: biblioteca) ( ) outro: _______________________________________________________ 17) Onde/como você gostaria de estudar? ( ) em casa enquanto faço outras coisas ( ) fazendo apenas isto em casa ( ) no trabalho ( ) no transporte público ( ) na casa de colegas ( ) em local para estudos (ex.: biblioteca) ( ) outro: _______________________________________________________ 18) Assinale todas as alternativas que descrevam coisas que dificultam frequentar o cursinho: ( ) trabalho doméstico ( ) cuidados com a família ( ) trabalho ( ) escola ( ) situação financeira
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( ) transporte ( ) outro: _______________________________________________________ 19) Qual é seu objetivo ao frequentar o cursinho? ( ) se preparar para o vestibular ( ) se preparar para um concurso ( ) se preparar para o ENEM para participar dos programas de ingresso ao Ensino Superior ( ) se preparar para o ENEM por motivos não-relacionados ao ingresso ao Ensino Superior (certificação do ensino médio, por exemplo) ( ) outro: _______________________________________________________