confiabilidade e manutenc˘ao: um estudo sobre a~ … · confiabilidade e manutenc˘ao: um estudo...

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CONFIABILIDADE E MANUTENC ¸ ˜ AO: UM ESTUDO SOBRE A T ´ ECNICA DA FMEA Renan Lombardo Ferreira Garrido Projeto de Gradua¸c˜ ao apresentado ao Curso de Engenharia El´ etrica da Escola Polit´ ecnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos ne- cess´ arios ` aobten¸c˜ ao do t´ ıtulo de Engenheiro. Orientador: Jorge Nem´ esio Sousa Rio de Janeiro Agosto de 2017

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Page 1: CONFIABILIDADE E MANUTENC˘AO: UM ESTUDO SOBRE A~ … · confiabilidade e manutenc˘ao: um estudo sobre a~ tecnica da fmea renan lombardo ferreira garrido projeto de graduac˘ao submetido

CONFIABILIDADE E MANUTENCAO: UM ESTUDO SOBRE A

TECNICA DA FMEA

Renan Lombardo Ferreira Garrido

Projeto de Graduacao apresentado ao

Curso de Engenharia Eletrica da Escola

Politecnica, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos ne-

cessarios a obtencao do tıtulo de Engenheiro.

Orientador: Jorge Nemesio Sousa

Rio de Janeiro

Agosto de 2017

Page 2: CONFIABILIDADE E MANUTENC˘AO: UM ESTUDO SOBRE A~ … · confiabilidade e manutenc˘ao: um estudo sobre a~ tecnica da fmea renan lombardo ferreira garrido projeto de graduac˘ao submetido

CONFIABILIDADE E MANUTENCAO: UM ESTUDO SOBRE A

TECNICA DA FMEA

Renan Lombardo Ferreira Garrido

PROJETO DE GRADUACAO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA ELETRICA DA ESCOLA POLITECNICA DA UNIVERSI-

DADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSARIOS PARA A OBTENCAO DO GRAU DE ENGENHEIRO ELETRI-

CISTA.

Examinada por:

Prof. Jorge Nemesio Sousa, M.Sc.

(Orientador)

Prof. Carmen Lucia Tancredo Borges, D.Sc.

Prof. Antonio Carlos Siqueira de Lima, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

AGOSTO DE 2017

ii

Page 3: CONFIABILIDADE E MANUTENC˘AO: UM ESTUDO SOBRE A~ … · confiabilidade e manutenc˘ao: um estudo sobre a~ tecnica da fmea renan lombardo ferreira garrido projeto de graduac˘ao submetido

Garrido, Renan Lombardo Ferreira

Confiabilidade e Manutenção: Um Estudo Sobre a

Técnica da FMEA/ Renan Lombardo Ferreira Garrido.

– Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2017.

Orientador: Jorge Nemésio de Sousa

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Elétrica, 2017.

1. Confiabilidade 2. Manutenção 3. FMEA 4.

Transformador I. Nemésio de Sousa, Jorge. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola

Politécnica, Curso de Engenharia Elétrica III.

Confiabilidade e Manutenção: Um Estudo Sobre a Técnica

da FMEA

iii

Referencias Bibliográficas: p. 86-87.

XIV, 87 p.: il.; 29,7 cm.

Page 4: CONFIABILIDADE E MANUTENC˘AO: UM ESTUDO SOBRE A~ … · confiabilidade e manutenc˘ao: um estudo sobre a~ tecnica da fmea renan lombardo ferreira garrido projeto de graduac˘ao submetido

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Escola Politecnica - Departamento de Engenharia Eletrica

Centro de Tecnologia, bloco H, sala H-217, Cidade Universitaria

Rio de Janeiro - RJ CEP 21949-900

Este exemplar e de propriedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que

podera incluı-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar

qualquer forma de arquivamento.

E permitida a mencao, reproducao parcial ou integral e a transmissao entre bibli-

otecas deste trabalho, sem modificacao de seu texto, em qualquer meio que esteja

ou venha a ser fixado, para pesquisa academica, comentarios e citacoes, desde que

sem finalidade comercial e que seja feita a referencia bibliografica completa.

Os conceitos expressos neste trabalho sao de responsabilidade do(s) autor(es).

iv

Page 5: CONFIABILIDADE E MANUTENC˘AO: UM ESTUDO SOBRE A~ … · confiabilidade e manutenc˘ao: um estudo sobre a~ tecnica da fmea renan lombardo ferreira garrido projeto de graduac˘ao submetido

Dedico este trabalho ao meu pai

Julio Cesar (in memoriam)

e ao meu avo Vicente.

v

Page 6: CONFIABILIDADE E MANUTENC˘AO: UM ESTUDO SOBRE A~ … · confiabilidade e manutenc˘ao: um estudo sobre a~ tecnica da fmea renan lombardo ferreira garrido projeto de graduac˘ao submetido

AGRADECIMENTO

Agradeco, primeiramente, aos meus pais Denise e Julio Cesar (in memoriam)

e a minha famılia por todo suporte, incentivo e apoio incondicional dado ao longo

da graduacao.

Em especial, a minha mae e meu avo Vicente que sempre se doaram inteira-

mente ao meu progresso.

Agradeco ao professor Jorge Nemesio por toda atencao e empenho dedicado

a elaboracao deste trabalho e, principalmente, pelo imenso conhecimento comparti-

lhado em todos os momentos.

Agradeco aos meus amigos da graduacao e de fora dela por toda companhia

nos bons e maus momentos, pelas risadas, pelo apoio, enfim, por tudo aquilo que so

os amigos podem nos proporcionar.

Agradeco a Divisao de Engenharia do HUCFF pelo suporte dado a mim para

que eu me dedicasse ao estudo e desenvolvimento deste trabalho.

A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formacao, o meu

muito obrigado.

vi

Page 7: CONFIABILIDADE E MANUTENC˘AO: UM ESTUDO SOBRE A~ … · confiabilidade e manutenc˘ao: um estudo sobre a~ tecnica da fmea renan lombardo ferreira garrido projeto de graduac˘ao submetido

Resumo do Projeto Final apresentado ao Departamento de Engenharia Eletrica

como parte dos requisitos necessarios para a obtencao do grau de Engenheiro

Eletricista

CONFIABILIDADE E MANUTENCAO: UM ESTUDO SOBRE A

TECNICA DA FMEA

Renan Lombardo Ferreira Garrido

Agosto/2017

Orientador: Jorge Nemesio Sousa, M. Sc.

Curso: Engenharia Eletrica

As disciplinas de manutencao e confiabilidade tornaram-se estrategicas para a

industria de capital no atual mundo globalizado.

A fim de trazer conhecimentos a nıvel de graduacao, criando material que po-

dera servir de base didatica para disciplinas e trabalhos academicos, este trabalho ira

apresentar os principais e mais relevantes conceitos de manutencao e confiabilidade

tomando como base as mais importantes referencias bibliograficas sobre o tema.

Sera apresentada a tecnica de confiabilidade FMEA (Failure Mode and Effect

Analysis) em seus principais aspectos, onde sua aplicabilidade sera demonstrada

atraves de um exemplo generico aplicado ao caso de um transformador trifasico de

1000 kVA.

Palavras-Chave: manutencao, confiabilidade, FMEA.

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Page 8: CONFIABILIDADE E MANUTENC˘AO: UM ESTUDO SOBRE A~ … · confiabilidade e manutenc˘ao: um estudo sobre a~ tecnica da fmea renan lombardo ferreira garrido projeto de graduac˘ao submetido

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial

fulfillment of the requirements for the degree of Electrical Engineer

RELIABILITY AND MAINTENANCE: A STUDY OF THE FMEA

TECHNIQUE

Renan Lombardo Ferreira Garrido

August/2017

Advisor: Jorge Nemesio Sousa, M. Sc.

Course: Electrical Engineering

The disciplines of maintenance and reliability have become strategic for the capital

industry in today’s globalized world.

In order to bring knowledge to the undergraduate level, by creating a material

that can serve as a didactic basis for academic disciplines and works, this paper will

present the main relevant concepts of maintenance and reliability based on the most

important bibliographical references on the subject.

The FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) reliability technique will be

presented in its main aspects, where its applicability will be demonstrated through

a generic example applied to the case of a three-phase 1000 kVA transformer.

Key-Words: maintenance, reliability, FMEA.

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Page 9: CONFIABILIDADE E MANUTENC˘AO: UM ESTUDO SOBRE A~ … · confiabilidade e manutenc˘ao: um estudo sobre a~ tecnica da fmea renan lombardo ferreira garrido projeto de graduac˘ao submetido

SIGLAS E SIMBOLOS

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

FMEA - Failure Mode and Effect Analysis

MCC - Manutencao Centrada em Confiabilidade

RPN - Risk Priority Number

S - Severidade

O - Probabilidade de Ocorrencia

MTTF - Mean Time to Failure

MTBF - Mean Time Between Failures

D - Probabilidade de Deteccao

f(x) - Funcao Densidade de Probabilidade

R(t) - Funcao Confiabilidade

F (t) - Probabilidade de Falha

λ(t) - Taxa de Falhas

H(t) - Funcao Falha Acumulada

ix

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Sumario

1 Introducao 1

1.1 Apresentacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.2 Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.3 Motivacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.4 Estrutura do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 Revisao Bibliografica e Base Teorica 4

2.1 A Confiabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.1.1 A Historia da Confiabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2.2 Conceitos Matematicos e Expressoes Basicas . . . . . . . . . . . . . . 9

2.2.1 Variaveis Aleatorias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2.2.2 Funcao Densidade de Probabilidade . . . . . . . . . . . . . . . 11

2.2.3 Confiabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2.2.4 Taxa de Falhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2.2.5 Classificacao da Taxa de Falhas . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2.2.6 Resumo das Funcoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.2.7 Relacao Grafica entre as Principais Funcoes . . . . . . . . . . 19

2.3 Exemplo de Aplicacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.4 A Curva da Banheira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

2.5 Falhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.5.1 Tipos de Falha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2.6 Manutencao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

2.6.1 O Conceito de Manutencao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

2.6.2 Os Tipos de Manutencao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

2.7 Manutencao Centrada em Confiabilidade - MCC . . . . . . . . . . . . 43

x

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2.7.1 As Geracoes da Manutencao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

2.7.2 Definicao da MCC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

2.7.3 Implementacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

2.8 FMEA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

2.8.1 Alguns Termos e Definicoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

2.8.2 Tipos de FMEA e suas Vantagens . . . . . . . . . . . . . . . . 52

2.9 Transformador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

2.9.1 O que e um transformador? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

2.9.2 Partes Construtivas e Acessorios . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

3 Metodologia da Pesquisa 60

3.1 Definicao de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

3.2 Classificacao e Tipos de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

4 Elaboracao da FMEA 66

4.1 Etapas de Organizacao e Preparo da FMEA . . . . . . . . . . . . . . 66

4.1.1 Definir o Sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

4.1.2 Estabelecer Regras Basicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

4.1.3 Descrever o Sistema e Seus Blocos Funcionais . . . . . . . . . 68

4.1.4 Identificar os Modos de Falha e Seus Efeitos . . . . . . . . . . 69

4.1.5 Avaliacao de Criticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

4.2 Elaboracao da Planilha de FMEA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

4.2.1 Cabecalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

4.2.2 Definicao do Sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

4.2.3 Listagem dos Modos de Falha e Seus Efeitos . . . . . . . . . . 77

4.2.4 Calculo do RPN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

4.2.5 Tomada de Acao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

4.2.6 A Planilha de FMEA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

4.3 Exemplo de Aplicacao da FMEA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

5 Conclusao 84

Bibliografia 86

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Lista de Figuras

2.1 Funcoes de probabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2.2 As tres classificacoes das falhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.3 Relacoes graficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.4 A Curva da Banheira [1] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

2.5 Tempo de vida [1] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

2.6 Curvas de falha [1] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

2.7 Falhas aleatorias [1] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

2.8 Substituicao em taxa de falhas decrescente [1] . . . . . . . . . . . . . 40

2.9 Substituicao em taxa de falhas constante [1] . . . . . . . . . . . . . . 40

2.10 Substituicao em taxa de falhas crescente [1] . . . . . . . . . . . . . . 41

2.11 Tempo otimo de substituicoes [1] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

2.12 Modo de falha e seu efeito [2] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

2.13 Esquema basico de um transformador . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

3.1 Processo de pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

xii

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Lista de Tabelas

2.1 Resumo das funcoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.2 Tempo ate falha (unidade de tempo: dias) . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.3 Principais Tipos de Manutencao [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

2.4 Resumo da MCC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

2.5 Tabela de implementacao da MCC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

2.6 Vantagens da FMEA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

2.7 Principais partes construtivas e acessorios de um transformador . . . 57

4.1 Tabela de severidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

4.2 Tabela de ocorrencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

4.3 Tabela de deteccao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

4.4 Cabecalho da planilha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

4.5 Definicao do sistema na planilha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

4.6 Modos de falha na planilha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

4.7 RPN na planilha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

4.8 Tomada de acao na planilha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

4.9 A planilha de FMEA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

4.10 FMEA de um Transformador - Parte 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

4.11 FMEA de um Transformador - Parte 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

4.12 FMEA de um Transformador - Parte 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

xiii

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Capıtulo 1

Introducao

1.1 Apresentacao

Com o desenvolvimento da economia de forma globalizada foi possıvel ob-

servar a crescente demanda por servicos e produtos menos custosos, de maior de-

sempenho e mais confiaveis. Servicos que vao desde os mais basicos como os de

secretariado, ate os mais complexos e de maior especificidade, como, por exemplo,

a manutencao das turbinas de um aviao comercial. E, para produtos, desde um

parafuso usado na confeccao de um automovel ate um turbo gerador de uma usina

nuclear.

Isto e, todos os setores da economia estao em busca de sistemas mais efici-

entes, de melhor desempenho e que tenham custos competitivos. Com isso, surgiu

a necessidade de reduzir a probabilidade de falhas, desde as que podem aumentar

os custos de producao, ate aquelas que podem comprometer a integridade fısica dos

usuarios de um produto. Essa necessidade faz com que o estudo e aplicacao dos

conceitos de confiabilidade estejam cada vez mais em voga em todos os ramos da

engenharia e da economia.

1

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1.2 Objetivo

O objetivo deste trabalho e trazer conceitos da Engenharia de Confiabilidade,

bem como a aplicacao da tecnica de confiabilidade FMEA - Failure Mode and Effect

Analysis (Analise de Modos e Efeitos de Falha), como estudo de caso e, assim,

formar, a nıvel de graduacao, uma base nos conhecimentos na area que possam ser

aplicados e desenvolvidos no meio profissional por um engenheiro que tenha foco em

manutencao e gestao de ativos em sistemas industriais.

1.3 Motivacao

Este trabalho teve sua motivacao iniciada no momento que comecei meu

estagio obrigatorio numa industria farmaceutica. Fui contratado para atuar como

apoio a manutencao da fabrica trabalhando juntamente do Coordenador de Manu-

tencao e recebendo orientacoes diretas do Gerente de Engenharia da planta.

De uma forma geral, a cultura instaurada no setor de manutencao da empresa

possuıa caracterısticas reativas, ou seja, as acoes de manutencao que mais deman-

davam esforco e tempo da equipe eram acoes corretivas nao programadas, ou seja,

a prevencao de problemas e paradas por falhas nao estava enraizada na cultura da

empresa.

Diante desta situacao, a gerencia viu a necessidade de se dar o ponta pe

inicial para se estabelecer uma cultura preventiva para as atividades de manutencao,

processo que se deu justamente no momento que comecei meu trabalho na empresa.

Durante todo o meu perıodo de estagio, juntamente da alta gerencia, atuei

diretamente na implementacao de ferramentas e tecnicas que objetivavam reduzir o

tempo de indisponibilidade dos equipamentos da fabrica causado por falhas tecnicas

e algumas operacionais.

2

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1.4 Estrutura do Trabalho

Este trabalho esta estruturado de forma a apresentar inicialmente o conceito

de confiabilidade e, seguidamente a ele, a conceituacao fundamental da manutencao

para, ao fim, trazer a tecnica FMEA.

Desta forma, no Capıtulo 2 e feita a revisao sobre os aspectos teoricos de

acordo com a base bibliografica utilizada como referencia, sao apresentados os con-

ceitos de confiabilidade, manutencao e manutencao centrada em confiabilidade bem

como outros conceitos fundamentais para compreensao do tema.

O Capıtulo 3 fundamenta e descreve os aspectos metodologicos utilizados no

estudo, classificando a pesquisa de acordo com sua finalidade e metodos.

O Capıtulo 4 e composto pelo desenvolvimento da tecnica da FMEA, onde

serao discutidas suas principais etapas e os conceitos necessarios para sua elaboracao.

Ao fim, sera apresentado um exemplo da FMEA aplicado a um transformador de

1000kVA com a intencao de demonstrar a sua funcionalidade.

Por fim, o Capıtulo 5 traz a conclusao deste trabalho e, seguindamente a ele,

tem-se a lista de referencias bibliograficas utilizadas.

3

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Capıtulo 2

Revisao Bibliografica e Base

Teorica

Neste capıtulo sera apresentada a base teorica que compoe a teoria e motiva

o trabalho. Serao apresentados os conceitos de confiabilidade e manutencao, o en-

tendimento do que sao falhas, como ocorrem e seus efeitos. Ao fim do capıtulo, sera

apresentada a tecnica FMEA junto de seus conceitos e necessidades para aplicacao.

2.1 A Confiabilidade

De uma forma geral, a confiabilidade esta associada a boa operacao de um

determinado equipamento ou sistema nos momentos de ausencia de defeitos1 ou

falhas2. Isto e, quando um equipamento ou sistema estiver operando como previsto

em suas especificacoes e atribuicoes, atuar neles de forma que a ocorrencia de defeitos

e falhas possa ser evitada no futuro.

1Defeito: A NBR 5462:1994 [4] define defeito como qualquer desvio de uma caracterıstica deum item em relacao aos seus requisitos.

2Falha: A NBR 5462:1994 [4] define falha como o termino da capacidade de um item desem-penhar a funcao requerida.

4

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Para comecarmos a tratar propriamente dos conceitos basicos de confiabili-

dade e necessario, antes, definirmos o que e a confiabilidade.

Segundo o Dicionario Oxford [5], confiabilidade e definida como a qualidade

de ser confiavel ou de executar consistentemente bem uma acao. Para um estudo do

ponto de vista da engenharia, a confiabilidade necessita de uma definicao que seja

tecnica.

Fogliatto (2009) [6], diz que a confiabilidade de um item corresponde a sua

probabilidade de desempenhar o seu proposito especificado, por um determinado

perıodo de tempo e sob condicoes ambientais predeterminadas. Lafraia (2014) [1]

define a confiabilidade como a probabilidade de que um componente, equipamento

ou sistema exercera sua funcao sem falhas, por um perıodo de tempo previsto, sob

condicoes de operacao especificadas.

Para Dhillon (1982) [7], confiabilidade e a probabilidade de um item realizar a

funcao que lhe e atribuıda satisfatoriamente para um determinado perıodo de tempo

quando usado sob condicoes especificadas.

Olhando atraves destas definicoes e mantendo o proposito do trabalho que e

trazer uma abordagem qualitativa do tema confiabilidade, a definicao para confia-

bilidade a ser adotada nesse estudo sera: capacidade de um item executar adequa-

damente sua funcao, por um determinado perıodo de tempo e sob condicoes

operacionais preestabelecidas.

Nessa definicao estao presentes alguns termos-chave que necessitam de uma

explicacao individual e mais detalhada, a fim de se ter uma completa analise do

conceito de confiabilidade apresentado.

Na definicao, o termo item corresponde ao objeto no qual o estudo de confi-

abilidade esta sendo feito. Sua definicao pode variar de acordo com a finalidade do

estudo. Isso significa que, dependendo do caso envolvido, o item pode ser:

5

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• Um sistema complexo, composto por um conjunto de componentes. Por exem-

plo, um aviao a jato como um todo.

• Um componente integrante de um sistema. Por exemplo, a helice propulsora

de um navio cargueiro.

• Uma peca especıfica de um determinado componente do sistema. Por exemplo,

um parafuso que prende as pas da helice de um helicoptero.

O item citado na definicao de confiabilidade pode ser tao especıfico quanto

for necessario, indo desde um sistema como um todo, formado por diversos compo-

nentes, ate uma unica peca dentre as milhares que podem formar o sistema.

A expressao ‘sua funcao’ e importante para o entendimento conceitual da

confiabilidade porque, muitas vezes, um determinado item e produzido em dife-

rentes versoes, variando de acordo com a intencao de uso. Quando se estuda a

confiabilidade de um item, e imprescindıvel que este esteja executando sua tarefa de

acordo com seu projeto original de forma a se ter um perfil realıstico do seu nıvel

de confiabilidade.

Por exemplo, uma furadeira pode ser produzida para fins domesticos ou in-

dustriais; ambas tem as mesmas funcoes, mas se diferenciam pela sua confiabilidade,

pois foram projetadas para nıveis de carga diferentes.

Agora, suponha que esta furadeira domestica - projetada para 1.000 h de

uso - esteja sendo aplicada para fins industriais com uma carga muito acima de sua

capacidade e falhe com 100 h de uso.

Analisando rapidamente, verifica-se que a furadeira falhou com apenas 10%

do tempo total de uso, isto e, falhou muito prematuramente. Entretanto, isso nao

quer dizer que a furadeira apresenta baixa confiabilidade devido a falha com apenas

100 h de uso. Na verdade, nao e razoavel avaliar a confiabilidade para este caso

visto que a furadeira foi utilizada fora de suas especificacoes.

6

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A confiabilidade e um conceito que esta diretamente associado ao tempo de

atividade de um item. Na definicao, o trecho ‘por um determinado perıodo

de tempo’ traz esse aspecto a discussao. O conceito de unidade de tempo, para a

confiabilidade, varia de acordo com o perfil do item que esta sendo objeto de estudo

e, nem sempre se da de maneira obvia, assumindo diversas formas e parametros.

Por exemplo, o tempo ate a falha de uma lampada eletrica pode ser medido como

o numero total de horas ate a ocorrencia, o numero da soma de horas de atividade

ate ela falhar ou o numero de vezes que a lampada foi acionada. Isto e, podemos

definir o perıodo de tempo em confiabilidade nao apenas como uma temporizacao

dada em horas ou minutos, por exemplo, mas tambem como numero de dias, anos,

meses, ciclos, acionamentos etc., o que for mais conveniente de acordo com o caso

em questao.

Por fim, na definicao de confiabilidade, o trecho ‘condicoes operacionais

preestabelecidas’, que diz respeito as condicoes, de forma geral, nas quais o item

sera operado. Estas podem ser desde condicoes climaticas e ambientais, ate o nıvel

de treinamento de um operador, por exemplo.

E fundamental ser acentuado esse ponto da definicao, porque um item pode

apresentar desempenho diferenciado quando operado com elevada umidade, so-

brecarga, temperaturas fora das especificadas como normais, vibracao excessiva,

condicoes ambientais desfavoraveis como poluicao, excesso de chuva etc.

2.1.1 A Historia da Confiabilidade

Historicamente, os estudos de confiabilidade tiveram inıcio apos o fim da

Primeira Grande Guerra Mundial (1918) onde, com o surgimento da industria ae-

ronautica, foram desenvolvidos os primeiros estudos de analise de confiabilidade.

Naquele contexto, a confiabilidade era medida como o numero de acidentes por hora

de voo.

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Na decada de 1940, durante a Segunda Grande Guerra Mundial, um grupo de

engenheiros trabalhou, na Alemanha, no desenvolvimento de mısseis V-1. Apos o fim

da guerra, soube-se que todos os prototipos falharam durante os testes, explodindo

durante o voo ou aterrissando antes do alvo. Nesta mesma decada de 1940 iniciou-

se o desenvolvimento de teorias matematicas relacionadas aos problemas que foi

quando se desenvolveu a equacao associada a confiabilidade de um sistema em serie,

que estabelece que essa e dada pelo produto das confiabilidades de suas partes

componentes. Como consequencia direta, os sistemas em serie formados por muitos

componentes tem a tendencia a apresentar baixa confiabilidade e o efeito da melhoria

da confiabilidade dos componentes, individualmente, tende a ser pequeno sobre o

sistema como um todo. Desta forma, surgiram as primeiras tentativas de buscar

melhorias na qualidade associada as manutencoes preventivas atraves de refinamento

nos projetos, melhoria de equipamentos e instrumentos de medicao, e materiais mais

resistentes.

Ao final da decada de 1940, nos Estados Unidos, as forcas armadas comecaram

a desenvolver diversos estudos sobre reparos em equipamentos, custos de manu-

tencao, falhas de equipamentos eletronicos etc. Isso resultou na criacao de um

comite de confiabilidade pelo Departamento de Defesa norte americano. Posterior-

mente, este comite se transformou num grupo permanente chamado Advisory Group

on the Reliability of Electronic Equipment (AGREE).

No inıcio dos anos 1950 surgiu o IEEE Transactions on Reliability e o Proce-

edings of the National Symposium on Reliability and Quality Control, resultado da

preocupacao crescente com a confiabilidade.

Em 1965 o Departamento de Defesa americano emitiu a norma MIL-STD-785

- Reliability Programs for Systems and Equipment Development and Production, a

qual tornou obrigatoria a integracao de um programa de atividades de Engenharia

de Confiabilidade com as atividades de engenharia tradicionais de projeto, desen-

volvimento e producao.

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Na decada de 1970, a analise de confiabilidade se consolidou em diversas

areas, com destaque para o ramo da engenharia nuclear. Ainda nesta decada, sur-

giram os primeiros programas computacionais com modelos de analise de confiabi-

lidade.

Nos anos 80, os paıses que eram dominantes em tecnologia de ponta im-

plementaram definitivamente as tecnicas da analise de confiabilidade nos diversos

setores da engenharia, partindo do projeto ate a utilizacao de equipamentos.

2.2 Conceitos Matematicos e Expressoes Basicas

Esta secao esta baseada nos trabalhos de Lafraia (2014) [1] e Fogliatto (2009)

[6], e na Norma NBR 5462:1994 [4].

Na Secao 2.1 foi dada a seguinte definicao para confiabilidade: ‘capacidade

de um item executar adequadamente sua funcao, por um determinado perıodo de

tempo e sob condicoes operacionais preestabelecidas.’. Esta definicao traz uma visao

qualitativa ao entendimento do que e confiabilidade, entretanto, e muito comum a

necessidade de se conceituar a confiabilidade olhando por um perfil quantitativo,

isto e, matematicamente.

Desta forma, matematicamente, podemos definir confiabilidade como: pro-

babilidade de um item executar adequadamente sua funcao, por um determinado

perıodo de tempo e sob condicoes operacionais preestabelecidas. Ao confrontar esta

definicao com a primeira definicao de confiabilidade (secao 2.1), a semelhanca e bem

evidente, exceto pela introducao da palavra ‘probabilidade’. Ou seja, para aborda-

gem matematica da confiabilidade, sera feita uma conceituacao probabilıstica.

Reitero que o foco deste trabalho esta direcionado a abordagem qualita-

tiva dos conhecimentos e estudos sobre confiabilidade, suas tecnicas, ferramentas

e aplicacoes. Mas, devido a grande importancia e aplicabilidade dos conceitos ma-

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tematicos que tambem sustentam a base de um estudo de confiabilidade, e impor-

tante que pelo menos as principais funcoes matematicas sejam apresentadas a fim de

se formar uma base mais completa e solida sobre Confiabilidade. E isto que estara

disposto a seguir nesta secao.

2.2.1 Variaveis Aleatorias

Se o parametro X de um evento probabilıstico que esta sendo medido (por

exemplo, taxa de falha de um componente, intervalo de tempo de reparo etc.) varia

aleatoriamente no tempo e/ou espaco, entao, este parametro X e definido como

uma variavel aleatoria. Uma variavel aleatoria pode ser definida como uma variavel

contınua ou discreta.

Uma variavel aleatoria discreta e aquela que pode assumir somente um numero

discreto de estados ou determinado numero de valores. Uma variavel aleatoria con-

tinua e aquela que pode assumir um numero infinito de valores dentro de um certo

intervalo possıvel.

2.2.1.1 Aplicando-se a Confiabilidade

Para uma analise probabilıstica da confiabilidade e necessario definir, dentre

os parametros que compoem a confiabilidade, qual deles sera utilizado como variavel

aleatoria. Para isto, devemos, previamente, apresentar o conceito de tempo ate falha.

Desta forma:

Tempo ate falha de um item, equipamento etc., e conceituado como o tempo

que se transcorreu desde o momento que o mesmo entrou em operacao ate a ocorrencia

de sua primeira falha. Por convencao, o tempo t = 0 e considerado o instante de

inıcio da operacao.

Sendo assim, pelo tempo estar sujeito a variacoes aleatorias, o tempo ate falha

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e adotado como a variavel aleatoria no estudo da confiabilidade, sendo representada

por T.

2.2.2 Funcao Densidade de Probabilidade

Se X e uma variavel aleatoria contınua, a Funcao Densidade de Probabilidade

de X e uma funcao f(x), de forma que para dois numeros reais a e b, com a ≤ b,

tem-se que:

P (a < x ≤ b) =

∫ b

a

f(x)dx (2.1)

2.2.2.1 Funcao Distribuicao Acumulada

A Funcao Distribuicao Acumulada e a funcao F (x) de uma variavel aleatoria

X definida para um numero real x da seguinte forma:

F (x) = P (X ≤ x) =

∫ x

−∞f(x)dx (2.2)

Isto e, para um dado valor de x, F (x) e a probabilidade de que o valor

observado de X seja no maximo x.

2.2.2.2 Aplicando-se a Confiabilidade

Como exemplificado na Secao 2.1 para o caso de uma lampada eletrica, o

tempo ate falha pode ser medido como numero de horas ate a falha ou numero de

acionamentos, por exemplo. Pode tambem, de acordo com a dinamica do que esta

sendo estudada, esse tempo ser medido em dias, horas, ciclos, acionamentos etc. Ou

seja, o tempo ate falha nem sempre e medido de forma contınua, podendo assumir

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valores discretos, como por exemplo, o numero de ciclos ate a falha.

Mesmo ciente do fato de o tempo ate falha poder assumir valores discretos,

para manter os propositos deste trabalho, sera considerada uma variavel aleatoria

T distribuıda continuamente e que apresenta densidade de probabilidade dada por

f(t) e funcao de distribuicao dada por:

F (t) = P (T ≤ t) =

∫ t

0

f(t)dt (2.3)

A funcao F (t) indica, assim, a probabilidade de falha de um equipamento ou

item num perıodo de tempo menor ou igual a t.

A densidade de probabilidade f(t) e definida pela formula 2.4.

f(t) =d

dtF (t) = lim

∆t→0

F (t+ ∆t)− F (t)

∆t

= lim∆t→0

P (t < T ≤ t+ ∆t)

∆t

(2.4)

Para valores pequenos de ∆t, pode ser feita a aproximacao mostrada em 2.5.

P (t < T ≤ t+ ∆t) ≈ f(t).∆t (2.5)

A Figura 2.1 representa graficamente a funcao densidade de probabilidade

f(x) e a funcao distribuicao acumulada F (x) de uma variavel aleatoria contınua.

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(a) Funcao de probabilidade acumulada (b) Funcao densidade de propabilidade

Figura 2.1: Funcoes de probabilidade

2.2.3 Confiabilidade

Da Secao 2.2, a confiabilidade foi definida como probabilidade de um item

ou sistema cumprir sua funcao com sucesso, por um perıodo de tempo previsto, sob

condicoes de operacao especificadas.

Para os propositos desta secao em especıfico iremos adotar a nomenclatura

Confiabilidade ou Funcao Confiabilidade, cuja representacao matematica a ser ado-

tada e R(t)3.

Supondo um numero n de equipamentos em operacao e sem substituicao,

entao, depois de transcorrido um perıodo de tempo t, o numero de equipamentos

sobreviventes e em falha sao ns(t) e nf (t), respectivamente.

n = ns(t) + nf (t) (2.6)

A confiabilidade de um equipamento e dada como a sua probabilidade acu-

mulada de sucesso, isto e, ausencia de falhas. Desta forma, para um tempo t, a

3A letra R e utilizada em decorrencia da traducao da palavra confiabilidade em ingles, Reliabi-lity.

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funcao confiabilidade R(t) e:

R(t) =ns(t)

ns(t) + nf (t)=ns(t)

n(2.7)

ou, alternativamente:

R(t) = 1− nf (t)

n(2.8)

Seja F (t) a probabilidade de falha no tempo t, entao:

F (t) =nf (t)

nf (t) + ns(t)=nf (t)

n(2.9)

Tambem escrevendo de forma alternativa:

F (t) = 1− ns(t)

n(2.10)

Desta forma, das equacoes acima, como esperado, visto a complementaridade

das funcoes R(t) e F (t), temos que

F (t) +R(t) = 1 (2.11)

Considerando a variavel aleatoria T definida na Secao 2.2.2.2, a funcao con-

fiabilidade em um tempo t e expressa da seguinte maneira:

R(t) = P (T > t) (2.12)

A funcao de distribuicao de T , F (t), e o complemento de R(t), ou seja,

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estao relacionadas como na equacao 8, podendo ser rearranjadas da seguinte forma

utilizado a equacao 3:

R(t) = 1− F (t) = 1−∫ t

0

f(t)dt (2.13)

Daı tem-se que:

R(t) =

∫ +∞

t

f(t)dt (2.14)

Assim, a funcao R(t) indica a probabilidade de um equipamento ou item nao

apresentar falhas num perıodo de tempo menor ou igual a t.

2.2.4 Taxa de Falhas

Falha e a perda da funcao ou a incapacidade de um item executar sua funcao

a um nıvel requerido. Taxa de falha ou taxa de falha instantanea λ(t) e a relacao

entre o total de componentes em falha e o numero de componentes remanescentes

no instante de tempo t.

A taxa de falhas ou funcao de risco pode ser interpretada como a quantidade

de risco que esta associada a um determinado item no tempo t. A taxa de falha e

conhecida tambem como taxa de risco.

A taxa de falha pode ser derivada com o uso de conceitos de probabilidade

condicional, conforme descrito a seguir.

Considerar, inicialmente, a probabilidade de falha entre t e t+ ∆t, dada por:

P (t ≤ T < t+ ∆t) =

∫ t+∆t

t

f(t)dt = R(t)−R(t+ ∆t) (2.15)

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Condicionando no evento ao item estar operando no tempo t, tem-se a se-

guinte expressao:

P (t ≤ T < t+ ∆t|T ≥ t) =P (t ≤ T < t+ ∆t)

P (T ≥ t)=R(t)−R(t+ ∆t)

R(t)(2.16)

Uma taxa de falha media no intervalo (t, t + ∆t) e obtida dividindo-se a

equacao 3.9 por t. Supondo ∆t → 0, obtem-se a taxa de falha instantanea ou,

simplesmente, taxa de falha, dada por:

λ(t) = lim∆t→0

R(t)−R(t+ ∆t)

R(t).∆t= −R

′(t)

R(t)=f(t)

R(t), t ≥ 0 (2.17)

A taxa de falha deve satisfazer as seguintes condicoes:

∫∞

0λ(t)dt = +∞

∀t ≥ 0

λ(t) ≥ 0

(2.18)

2.2.4.1 Funcao de Falha Acumulada

A funcao de confiabilidadeR(t) e a funcao densidade f(t) podem ser derivadas

a partir da funcao de risco, como sera demonstrado a seguir.

Utilizando a equacao 2.17 como ponto inicial, tem-se que:

λ(t) = −R′(t)

R(t)= − d

dtlnR(t) (2.19)

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Como, por definicao, R(0) = 1, temos que:

∫ t

0

λ(t)dt = − lnR(t) (2.20)

R(t) = exp

(−∫ t

0

λ(t)dt

)(2.21)

A partir da equacao 2.17 e do resultado mostrado na equacao 2.21, e possıvel

que a seguinte relacao seja estabelecida entre a funcao densidade f(t) e a taxa de

falhas:

f(t) = λ(t). exp

(−∫ t

0

λ(t)dt

), t ≥ 0 (2.22)

Integrando-se a funcao de risco sobre um perıodo de tempo, obtem-se a

Funcao de Falha Acumulada, λ(t), que e dada como:

H(t) =

∫ t

0

λ(t)dt, t ≥ 0 (2.23)

A Funcao de Falha Acumulada fornece uma forma alternativa de representar a

taxa de falha, mostrando-se na forma de uma funcao nao-decrescente no tempo. En-

tretanto, de maneira analoga as funcoes de distribuicao F (t), a maioria das funcoes

de falha acumulada se assemelha na forma, independente da distribuicao que modela

os tempos ate falha.

2.2.5 Classificacao da Taxa de Falhas

A unidade de medida da taxa de falhas e, geralmente, dada em termos de

falhas por unidade de tempo. A forma da taxa de falhas λ(t) e um indicativo de

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como o e o processo de envelhecimento do item.

A taxa de falha tem tres classificacoes basicas, estas sao:

• Taxa de Falha Crescente: onde o risco de falhas do item cresce com o tempo;

• Taxa de Falha Decrescente: onde o risco de falhas do item decresce com o

tempo;

• Taxa de Falha Constante: onde o risco de falha do item e constante ao longo

de um determinado tempo.

Lafraia (2014) [1] em seu texto diz que equipamentos e produtos manufatu-

rados costumam apresentar a taxa de falha λ(t) dada pela ocorrencia sucessiva das

tres classificacoes acima, como mostrado na Figura 2.2.

Figura 2.2: As tres classificacoes das falhas

A curva da Figura 2.2 e muito conhecida em atividades de gestao da manu-

tencao, e chamada de Curva da Banheira. Na secao 2.4, esta curva sera detalhada.

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2.2.6 Resumo das Funcoes

A Tabela 2.1 apresenta uma resumo das funcoes empregadas nas analises aqui

apresentadas.

Tabela 2.1: Resumo das funcoesf(t) R(t) λ(t) H(t)

f(t) –∞∫t

f(t)dt f(t)∞∫tf(t)dt

− ln

[∞∫t

f(t)dt

]R(t) -dR(t)

dt– -dR(t)

dt1

R(t)-ln[R(t)]

λ(t) λ(t).e[−∫ t0 λ(t)dt] e[−

∫ t0 λ(t)dt] –

∫ t0λ(t)dt

H(t) H ′(t).e−H(t) e−H(t) H(t) –

2.2.7 Relacao Grafica entre as Principais Funcoes

Figura 2.3: Relacoes graficas

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2.3 Exemplo de Aplicacao

Um determinado fabricante de lampadas eletricas interessado em avaliar as

caracterısticas de confiabilidade de seu produto avaliou uma amostra de 39 unidades

num laboratorio fazendo-as operar de acordo com as condicoes de projeto, isto e,

suas condicoes adequadas de funcionamento.

Na avaliacao, o fabricante testou o numero de dias ate falha das lampadas

eletricas numa condicao de uso contınuo e obteve os seguintes resultados:

Tabela 2.2: Tempo ate falha (unidade de tempo: dias)

20,1 115,3 332,6 750,720,4 116,9 378,6 771,121,5 190,9 417,4 90732,5 191,8 433,1 952,235,3 219,2 522,4 1072,456 234,5 560,4 1168,4

63,6 235,7 57774,1 253,3 581,778,1 254,2 662,682 256,4 668,9

98,7 267,2 702,7

Apos a coleta de dados, o estudo indicou que os tempos ate falha das lampadas

eletricas eram melhor descritos por uma distribuicao exponencial.

A distribuicao exponencial e muito comum em estudos de confiabilidade de

equipamentos eletro-eletronicos. Sua FDP generica e dada por:

f(x) =

αe−αx p/ x ≥ 0

0 p/ x < 0(2.24)

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Para a confiabilidade, sua FDP adota a notacao:

f(t) = λe−λt (2.25)

Desta forma, de acordo com os dados obtidos dos testes:

f(t) = 0, 0027e−0,0027t

A partir dos dados coletados, vamos ver as informacoes que sao possıveis de

se obter:

Primeiramente, em posse da funcao de densidade de probabilidade f(t), po-

demos determinar a funcao confiabilidade R(t) das lampadas atraves da equacao

2.14.

R(t) =

∫ +∞

t

f(t)dt =

∫ +∞

t

0, 0027e−0,0027tdt = −e−0,0027t∣∣+∞t

= e−0,0027t

Com a funcao confiabilidade determinada e possıvel obter informacoes como,

por exemplo, a probabilidade das lampadas nao falharem nos primeiros 200 dias de

operacao. Da seguinte forma:

Para determinar a probabilidade de sucesso do item para os primeiros 200

dias de operacao, precisamos calcular R(t) para t = 200, assim:

R(200) = e−0,0027.200 = 0, 58

E, complementarmente, pela equacao 2.11, temos que:

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F (t) = 1−R(t) = 1− 0, 58 = 0, 42

Interpretando esses resultados, tem-se que dentro do perıodo dos primeiros

200 dias de operacao cerca de 58% dos itens funcionarao como o esperado e que 42%

falharao.

Caso este percentual de itens sobreviventes esteja em acordo com o projetado

pelo fabricante, indica que o produto esta funcionando como esperado. Caso esteja

reduzido, indica que os itens estejam com baixo nıvel de confiabilidade, sinalizando

a possıvel existencia de problemas no projeto ou no processo de producao.

A taxa de falhas (funcao de risco) que e um ındice importantıssimo para os

estudos de confiabilidade tambem pode ser determinado, sendo assim:

λ(t) =f(t)

R(t)=

0, 0027e−0,0027t

e−0,0027t= 0, 0027

A taxa de falhas λ(t) apresentou como resultado um valor numerico constante,

ou seja, a taxa de falhas nao varia de acordo com o tempo de operacao. Isso indica

que as falhas ocorrem de forma aleatoria.

Um outro parametro que e muito utilizado nos estudos de confiabilidade e o

MTTF4, que e calculado pela formula 2.26:

MTTF =

∫ +∞

0

R(t)dt (2.26)

Aplicando-se ao problema em questao, tem-se que:

4MTTF: Sigla que significa, em ingles, Mean Time to Failure, ou, em portugues, Tempo MedioPara Falha. O MTTF e principalmente atribuıdo a itens que nao sao passıveis de reparo, ja paraitens reparaveis, atribui-se a sigla MTBF - Mean Time Between Failures.

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MTTF =

∫ +∞

0

R(t)dt =

∫ +∞

0

e−0,0027tdt = − 1

0, 0027e−0,0027t

∣∣∣∣+∞0

=1

λ

Desta forma, o MTTF, para um item onde os tempos ate falha sao descritos

por uma distribuicao exponencial, e o inverso da taxa de falhas.

Sendo assim, as lampadas deste fabricante possuem o seguinte MTTF:

MTTF =1

λ=

1

0, 0027∼= 370

Isto e, para os itens em questao o tempo medio ate que uma falha ocorra e

de aproximadamente 370 dias de operacao.

Estes sao exemplos de informacoes que podem ser obtidas com o uso das

formulas de confiabilidade apresentadas na secao 2.2 e que sao muito uteis e impor-

tantes num estudo de confiabilidade quantitativo.

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2.4 A Curva da Banheira

A curva da banheira representa, de uma forma geral, as fases da vida util de

um componente e/ou equipamento. Na figura 2.4 esta a representacao da curva da

banheira.

Figura 2.4: A Curva da Banheira [1]

Como visto na figura 2.4, a curva da banheira e apresentada com tres divisoes

bem demarcadas, que representam os tres perıodos de vida caracterısticos de um

componente: perıodo de mortalidade infantil, perıodo de vida util e perıodo de

desgaste ou fim de vida util.

O perıodo de mortalidade infantil e onde ocorrem as falhas prematuras e

tem perfil decrescente com o tempo, isto e, apresenta, com passar do tempo, di-

minuicao na probabilidade de ocorrencia de falhas. Esta diminuicao ocorre quando

os problemas de projeto, fabricacao, instalacao, operacao e manutencao vao sendo

gradualmente eliminados, muitas vezes por substituicao por melhores componentes,

treinamentos de equipe etc. Alguns exemplos de falhas neste perıodo sao: pro-

cesso de fabricacao deficiente, controle de qualidade ineficiente, falta de qualificacao

na operacao e/ou manutencao, excesso de carga, materiais fora de especificacao,

erro humano.

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O perıodo de vida util e caracterizado por ter uma taxa de falhas constante,

nao variando a medida que o componente envelhece dentro deste perıodo. Normal-

mente essas falhas sao causadas por eventos aleatorios e muitas vezes imprevisıveis.

Alguns exemplos de causas de falha neste perıodo sao: sobrecargas acidentais, er-

ros de operacao e/ou manutencao, fator de seguranca insuficiente, falhas nao de-

tectaveis pelas tecnicas preditivas e os programas de manutencao preventiva, causas

inexplicaveis e pontuais e ate fenomenos naturais nao previstos.

No perıodo final, de desgaste ou fim de vida util, a medida que o equipamento

esta envelhecendo, ha o contınuo crescimento da taxa de falhas, ou seja, a proba-

bilidade de ocorrencia falhas. Sao causas deste perıodo: desgaste, fadiga, corrosao,

manutencao insuficiente ou deficiente, vida de projeto muito curta.

2.5 Falhas

E comum que se pense que a melhor maneira de otimizar a disponibilidade de

um determinado item ou ate mesmo de uma planta industrial e atraves da adocao de

uma rotina solida de algum tipo de manutencao preventiva, que consiste, geralmente,

na substituicao e recondicionamento de itens e/ou equipamentos em intervalos fixos

e predeterminados.

Na figura 2.5, tem-se uma ilustracao que exemplifica essas rotinas de ma-

nutencao preventiva por substituicao periodica. Considera-se que a maioria dos

equipamentos opera de forma confiavel durante um determinado perıodo de tempo

e, apos este perıodo, tem inıcio um perıodo de desgaste.

Atraves de uma adequada analise estatıstica de falhas e dos dados obtidos,

se e capaz de determinar o tempo de vida dos componentes, de forma que medidas

de prevencao possam ser adotadas a fim de se evitar as possıveis falhas que viriam

a ocorrer devido ao envelhecimento e ao desgaste.

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Figura 2.5: Tempo de vida [1]

Olhando para os dias atuais, analises estatısticas mostram que a natureza

das falhas tem sofrido consideraveis mudancas de acordo com a evolucao da com-

plexidade dos equipamentos. A figura 2.6 representa algumas curvas de falhas que

podem ser observados em componentes diversos que estao disponıveis atualmente

nos sistemas industriais.

Figura 2.6: Curvas de falha [1]

• Curva de Falha A: a tradicional curva da banheira, descrita na secao 2.4.

• Curva de Falha B: taxa de falhas gradualmente crescente e zona de desgaste

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bem acentuada.

• Curva de Falha C: taxa de falhas continuamente crescente e sem zona de

desgaste definida.

• Curva de Falha D: baixa taxa de falha no perıodo inicial de atividade, ou seja,

equipamento novo e/ou recem-saıdo da fabrica, com taxa de falha constante

ao longo de toda a sua vida.

• Curva de Falha E: falhas aleatorias ao longo do tempo de vida do equipamento.

• Curva de Falha F: alta taxa de falha no perıodo inicial de atividade e, em

seguida, assume um regime constante de falhas.

Hoje, o pensamento de que a confiabilidade esta diretamente associada ao

tempo de atividade de um dado equipamento caiu por terra, salvo em casos es-

pecıficos e com modos de falha predominantemente dependentes do tempo. Por-

tanto, nao ha uma relacao direta entre a idade do equipamento e a sua confiabilidade

associada. (Lafraia, 2014).

Isto quer dizer que manutencoes programadas podem, na realidade, aumentar

a taxa de falhas de um item pela introducao de falhas prematuras que nao existiam

no sistema. No entanto, isto nao se traduz no abandono das rotinas de manutencao.

Para falhas que nao apresentem maiores consequencias, as manutencoes cor-

retivas podem ser as mais eficazes. Para falhas que tenham consequencias mais

graves, sao necessarios planejamento e gestao para sua prevencao e atenuacao de

seus efeitos. Em outras palavras, um plano de aplicacao de tecnicas preditivas de

manutencao ou de realizacao de manutencao preventiva tradicional.

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2.5.1 Tipos de Falha

2.5.1.1 Falhas Relacionadas a Idade

Componentes aparentemente iguais podem ter resistencia variavel as cargas,

visto que a resistencia a carga diminui com o tempo de maneira diferente mesmo

para componentes identicos.

Pequenas variacoes no uso podem levar a grandes diferencas na vida de um

equipamento, fazendo com que a previsao das falhas seja extremamente difıcil. Os

graficos das curvas de falha A e B (Figura 2.6) ilustram o comportamento da taxa

de falhas de componentes que apresentam falhas relacionadas a idade.

2.5.1.2 Falhas Aleatorias

Componentes Simples

Contrariamente as falhas relacionadas a idade dos equipamentos, nas falhas

aleatorias, tem-se que:

• A degradacao nem sempre e proporcional a tensao aplicada.

• A tensao nem sempre e aplicada consistentemente.

Observe a figura 2.7:

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Figura 2.7: Falhas aleatorias [1]

A figura 2.7-A, mostra uma situacao em que a resistencia e constante e a

falha ocorre devido a um subito aumento da tensao aplicada. Por exemplo, uma

placa de vidro caindo de uma altura de aproximadamente 3m, tornando-a totalmente

inutilizavel.

Sobre causas, efeitos e prevencoes dessas falhas, Lafraia (2014) [1] diz o se-

guinte:

“[...] a ‘prevencao’ deste tipo de falha e feita tentando-se limitar

o aumento anormal das tensoes. A instalacao de valvulas de se-

guranca era uma tentativa de prevencao dessa natureza. Muitas

elevacoes de tensao sao causadas por erros humanos de operadores

de equipamentos (por exemplo, partido uma maquina muito rapi-

damente, acidentalmente invertendo a direcao de um mecanismo

de movimento, colocando carga muito rapidamente em um equi-

pamento de processo etc.). Nestes casos de erro humano, para

evitar a elevacao da carga, o melhor metodo de prevencao e o

treinamento. Outras cargas podem ser causadas por fatores ex-

ternos, como relampagos, terremotos, inundacoes etc. Para estas

situacoes, e pratica usual de projetar os componentes para su-

portar estas condicoes extremas. Se isso inviabilizar o projeto,

medidas para reducao dos riscos podem ser indicadas”.

Ja na figura 2.7-B, tem-se que o pico de carga reduz permanentemente a

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resistencia do item, entretanto, sem lhe causar uma falha. Por exemplo, ao cair

com o carro num buraco na estrada, formou-se uma rachadura na estrutura da roda

dianteira direita diminuindo sua resistencia, mas nao causando perda de sua funcao.

Conforme Lafraia (2014) [1], a reduzida resistencia torna o componente vulneravel

ao outro pico de carga, por qualquer razao.

Observando a figura 2.7-C, a ocorrencia de um pico de carga reduz tempo-

rariamente a resistencia do componente que, logo depois, retorna a sua condicao

inicial de resistencia. Por exemplo, objetos de materiais plasticos que se tornam

mais flexıveis e amolecem com o aumento de temperatura e retomam sua resistencia

quando resfriados.

Por fim, na figura 2.7-D, e mostrado o caso em que o pico de carga faz o

processo de desgaste do item se acelerar, assim, reduzindo o seu tempo de vida.

Para Lafraia (2014) [1]:

“Quando isso ocorre, a relacao causa-efeito pode dificilmente ser

determinada, porque a falha pode ocorrer meses, ou mesmo anos,

apos o pico ter ocorrido. Este caso, geralmente, ocorre quando

parte de equipamentos sao verificados na montagem (por exem-

plo, a montagem de um rolamento com desalinhamento). Para

garantir a confiabilidade, nesses casos, preciso assegurar que a

manutencao ou instalacao sejam executadas de maneira correta,

por pessoas treinadas e capacitadas”.

Nas quatro situacoes expostas, nao e possıvel determinar quando as falhas

irao ocorrer, por este motivo, estas sao denominadas falhas aleatorias. Voltando a

figura 2.6, os graficos C, D, E e F expoe o comportamento da taxa de falhas de itens

que apresentam falhas aleatorias.

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Componentes Complexos

As situacoes dadas na secao anterior sao aplicaveis para componentes razoa-

velmente simples. Ao se considerar componentes complexos, a situacao se apresenta

ainda mais imprevisıvel.

O aumento da complexidade e realizado na intencao de incrementar o de-

sempenho e/ou a seguranca atraves de: aplicacao de novas tecnologias, melhores

equipamentos de protecao, insercao de redundancias etc. Isto se traduz na seguinte

relacao: melhores desempenho e seguranca sao resultado de maiores custos e com-

plexidade, e se aplica para equipamentos e para a maioria das atividades industriais.

Sobre o aumento da complexidade e suas implicacoes, Lafraia (2014) [1] diz

que:

“Aumento do numero de componentes que podem falhar e,

tambem, do numero de interfaces e conexoes entre componentes.

Isso, por sua vez, aumenta o numero e variedade das possıveis

falhas. Por exemplo, muitas falhas mecanicas estao relacionadas

com soldas e parafusos, enquanto falhas eletricas envolvem co-

nexoes entre componentes. Quanto maior o numero de conexoes,

maior a probabilidade de falha”.

Isto mostra que componentes complexos estao amplamente mais sujeitos a

falhas aleatorias que os componentes simples, portanto, o perıodo de desgaste, geral-

mente, nao se aplica nesses casos. Dessa forma, substituicoes e recondicionamentos

programados, isto e, ter apenas uma rotina manutencao preventiva, a fim de evitar

falhas, podem ter pouca ou nenhuma efetividade.

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2.6 Manutencao

Historicamente, as atividades de manutencao eram vistas como um ‘mal ne-

cessario’ pelo corpo produtivo do setor industrial (Tavares, 1999). Porem, mais

recentemente, tendo inıcio nos anos 1980, esta postura frente as atividades de ma-

nutencao tem sido alterada, sendo considerada uma funcao estrategica para a cadeia

produtiva nos mais diversos setores da industria.

Essa mudanca no comportamento e visao do setor industrial se deu pela

necessidade de se ter maior preocupacao com a qualidade, produtividade e confi-

abilidade dos sistemas produtivos, enfatizando-se gradativamente mais os assuntos

relacionados a seguranca, envelhecimento dos equipamentos e instalacoes, reducao

de custos, reducao no tempo de parada de equipamentos etc.

Nesta secao, serao abordados conteudos basicos e fundamentais sobre as

praticas de manutencao trazendo a discussao os conceitos de manutencao em si

e seus tipos, corretiva e preventiva.

2.6.1 O Conceito de Manutencao

Segundo Dicionario Aurelio da Lıngua Portuguesa [8], manutencao e definida

como ”as medidas necessarias para a conservacao ou a permanencia de alguma coisa

ou de uma situacao ou cuidados tecnicos indispensaveis ao funcionamento regular e

permanente de motores e maquinas”.

Para a norma NBR 5462:1994 [4], manutencao e definida como a “combinacao

de todas as acoes tecnicas e administrativas, incluindo as de supervisao, destinadas a

manter ou recolocar um item em um estado no qual possa desempenhar uma funcao

requerida”. De acordo com a NBR 5462:1994 [4], a manutencao pode incluir uma

modificacao do item.

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Segundo Dhillon (1982) [7], apud Raposo (2005) [9], manutencao e o conjunto

de acoes que devem ocorrer a fim de reparar um equipamento que tenha falhado,

para uma condicao operacional satisfatoria.

Para Tavares (1999) [10] manutencao sao todas as acoes necessarias para que

um item seja conservado ou restaurado de modo a poder permanecer de acordo com

uma condicao especificada.

Desta forma, manutencao e o ato ou efeito de manter que, por sua vez, esta

relacionado as acoes que sao necessarias para garantir que um equipamento continue

desempenhando as funcoes para as quais foi projetado. Isto e, a manutencao tem

como objetivo manter a funcao requerida de um item, sendo este, feito atraves de

acoes regulares que busquem este fim.

2.6.1.1 A Visao Distorcida da Manutencao

Como dito na secao 2.6, as atividades de manutencao eram vistas como um

‘mal necessario’ pelo corpo produtivo do setor industrial e esta visao tem sido alte-

rada com o passar dos anos.

Apesar disso, mesmo nas corporacoes modernas, nem sempre a atividade de

manutencao e vista com a devida importancia, apresentando deficiencias no enten-

dimento de seu conceito e utilizacao.

Xenos (2014) [11] escreveu que:

“[...], ainda ha muitas ideias incorretas e formas de pensar ultra-

passadas sobre a essencia das atividades de manutencao e sobre

o seu gerenciamento. [...]. Parece que essas deficiencias de enten-

dimento – que encontramos tambem nos profissionais de manu-

tencao – sao em grande parte responsaveis pelos problemas de re-

lacionamento tao comuns entre os departamentos de manutencao

e de producao e pela forma como as atividades de manutencao

ainda sao vistas em muitas empresas: uma dor de cabeca sem

solucao, um mal necessario”.

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E comum e constante o uso da expressao ‘em manutencao’ no que se refere

a uma atividade de reparo de um equipamento que apresentou quebra e apresenta

recorrencia em defeitos e/ou falhas. Isso pode evidenciar um nao-entendimento do

conceito das atividades de manutencao. Para Xenos (2014) [11] a nao ser que acoes

concretas estejam sendo tomadas de forma sistematica para evitar os defeitos e

falhas, o reparo dos equipamentos depois que as ocorrencias anormais surgem nao

pode ser entendido como manutencao.

Desta forma, reitera-se o conceito de que as atividades de manutencao estao

associadas exclusivamente a se fazer um equipamento manter as suas condicoes ori-

ginais atraves de acoes sistemicas que visam evitar a recorrencia de defeitos e falhas,

manter a confiabilidade intrınseca do item, nıveis de seguranca etc., assim, por con-

sequencia, esquivando-se do nao atendimento a sua funcao requerida originalmente.

2.6.2 Os Tipos de Manutencao

A manutencao e classificada de diversas formas, sendo as principais as manu-

tencoes corretiva e preventiva. ha tambem o uso de expressao citando as manutencoes

preditiva. As Secoes 2.6.2.1 a 2.6.2.3 estao destinadas a detalhar o conceito destas

classificacoes da manutencao.

2.6.2.1 Manutencao Corretiva

Esse tipo de manutencao caracteriza-se pela sua execucao, que se da apos a

ocorrencia de um defeito ou falha; envolvendo reparos, substituicao de pecas ou de

um equipamento completo, ou ate mesmo a modificacao de projeto e fabricacao.

De acordo com a NBR 5462:1994 [4], manutencao corretiva e aquela “efetuada

apos a ocorrencia de uma pane destinada a recolocar um item em condicoes de

executar uma funcao requerida”.

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Uma das filosofias da manutencao5 corretiva, de acordo com Nemesio Sousa

(2017) [3], se pauta em “operar ate surgir uma falha que interrompa o equipamento,

ou ocorrer um defeito que provoque a perda, parcial ou total, da sua funcao opera-

cional e que justifique a intervencao”.

Desta forma, a frequencia da manutencao corretiva e determinada atraves da

confiabilidade associada ao equipamento e nao ha possibilidade de ser totalmente

planejada, ocorrendo normalmente de forma imprevista e indesejada.

Adotar a manutencao corretiva como o metodo principal para se manter um

determinado sistema tem seus pros e contras. Do ponto de vista da manutencao, a

corretiva pode ate ser economicamente menos dispendiosa em relacao a prevencao

de falhas nos equipamentos, mas, em compensacao, como nao se pode prever os mo-

mentos de ocorrencia das falhas do sistema, existe a possibilidade de haver paradas

de producao inesperadas, causando, assim, maiores prejuızos.

2.6.2.2 Manutencao Preventiva

Nemesio Sousa (2017) [3], mostra que, dentre os desafios da manutencao

moderna na gestao de equipamento e sistemas, destacam-se: minimizar a sua Indis-

ponibilidade (INDI)6, manter alta a Disponibilidade (DISP)7 e a Confiabilidade

(CONF)8, baixar as Taxas de Falhas Observadas (TXFO)9, aumentar o Tempo

5Filosofia da manutencao: A NBR 5462:1994 [4] define que filosofia da manutencao e umconjunto de princıpios para a organizacao e execucao da manutencao.

6INDI: Probabilidade que um item nao esteja disponıvel para produzir

7DISP: Probabilidade que um item possa estar disponıvel para utilizacao (operavel e confiavel)em um determinado momento ou durante um determinado perıodo de tempo, quando for solicitadode forma aleatoria

8CONF: Probabilidade de um item de desempenhar uma funcao requerida, sob condicoesestabelecidas

9TXFO: Para um perıodo estabelecido de tempo, e o numero de defeitos ou falhas observadas

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Medio Entre Falhas (TMEF)10, diminuir o Tempo Medio Para Reparo (TMPR)11,

reduzir custos e, para as empresas de energia eletrica, por exemplo, eliminar as

fontes de multas por interrupcao do fornecimento.

A manutencao preventiva tem como objetivo principal a conservacao do es-

tado de operacao e disponibilidade de um equipamento ou sistema, por meio da pre-

vencao da ocorrencia de defeitos ou falhas. Sua atividade esta baseada em tarefas

sistematicas, como inspecoes, reformas, servicos de limpeza, lubrificacao, calibracao

etc. e, principalmente, trocas de pecas. Vale ressaltar que e fundamental a presenca

de tecnicas de deteccao, prevencao e correcao de defeitos e falhas em estagios iniciais

na implementacao de um ecossistema preventivo.

Segundo Nemesio Sousa (2017) [3], “manutencao preventiva e o conjunto das

acoes desenvolvidas sobre um equipamento ou um sistema, com programacao an-

tecipada, dentro de uma periodicidade adequada, atraves de inspecao sistematica,

deteccao e de medidas necessarias para evitar defeitos e falhas, com objetivo de

mante-lo operando, ou em condicoes de operar, dentro das conformidades, isto e,

especificacoes. Pode ser organizada com base no tempo de operacao, tempo ca-

lendario, condicoes fısicas do equipamento, quando estas podem ser monitoradas

etc.”

De acordo com a NBR 5462:1994 [4], manutencao preventiva e aquela que

e “efetuada em intervalos predeterminados, ou de acordo com criterios prescritos,

destinada a reduzir a probabilidade de falha ou a degradacao do funcionamento de

um item”.

De forma semelhante a manutencao corretiva, a manutencao preventiva tambem

apresenta seus pros e contras. Se comparada a manutencao corretiva, a manutencao

10TMEF: Para um perıodo estabelecido de tempo, e o valor medio do espaco de tempo entrefalhas consecutivas

11TMPR: Para um perıodo estabelecido de tempo, e o valor medio do tempo necessario parareparo do defeito ou falha.

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preventiva tem custo mais elevado, pois para sua execucao e necessaria a dispo-

nibilidade de pecas de reposicao, reparos de componentes antes de atingirem seu

tempo de vida etc. Em compensacao, a frequencia de falhas diminui, aumentam-

se as disponibilidades e confiabilidade dos equipamentos e reduzem-se as paradas

inesperadas na producao.

Considerando uma visao geral sobre os dois tipos de manutencao ja aborda-

dos, Xenos (2014) [11] diz:

“[...], se considerarmos o custo total, em varias situacoes a ma-

nutencao preventiva acaba sendo mais barata que a manutencao

corretiva, porque se tem domınio das paradas dos equipamentos,

em vez de ficar sujeito as paradas inesperadas por falhas nos equi-

pamentos”.

2.6.2.3 bManutencao Preditiva

Na secao 2.6.2.2 foi mencionado que o custo da manutencao preventiva e,

normalmente, mais elevado em relacao a manutencao corretiva, isso quando se leva

em consideracao apenas o custo da atividade de manutencao em si, visto que pecas e

componentes sao substituıdos e reformados antes de alcancarem seu tempo de vida

util.

Aperfeicoar as tecnicas de deteccao e acompanhamento do desgaste de uma

ou mais pecas (ou componentes), visando determinar o exato momento de intervir

para troca ou reparo. Observar o equipamento para para-lo no momento certo; mi-

nimizar as intervencoes; elaborar planos de troca e reforma de pecas e componentes;

estender os intervalos de manutencao; aumentar a disponibilidade; reduzir custos e

determinar parametros preventivos adequados e pertinentes.

E nesse cenario, que permite prever quando um determinado item estara se

aproximando do fim de sua vida util, que a ‘manutencao preditiva’ tem seu campo

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de atuacao.

Em outras palavras, a ‘manutencao preditiva’ e um meio de otimizacao da

manutencao preventiva. Devido a este perfil, a expressao ‘tecnicas preditivas de

manutencao’ e a certa a ser utilizada, em detrimento ao termo ‘manutencao predi-

tiva’. Isso se da justamente porque sua vertente de atuacao esta inserida no contexto

da obtencao de parametros adequados para realizar a manutencao preventiva. Pode

ser considerada como uma das atividades necessarias para o estabelecimento de uma

solida gestao da manutencao.

As definicoes de ‘manutencao preditiva’, segundo Mirshawka (1991) [12],

estao associadas a duas ‘filosofias’: manutencao condicional, que sao as ativida-

des de “manutencao preventiva, subordinadas a acontecimentos pre-determinados

revelador do estado de degradacao do material - acompanhamento da especificacao

- filosofia europeia”; e ‘manutencao preditiva’ (previsiva), que e o “tipo de

manutencao condicional que permite reajustar as previsoes de manutencao atraves

da analise da tendencia evolutiva do funcionamento nao adequado detectado no

equipamento e da estimativa do tempo possıvel de continuar a utiliza-lo antes da

falha - filosofia americana”. Essa estimativa ocorre a partir da analise periodica

do estado do equipamento pelas tecnicas preditivas de manutencao.

Portanto a ‘manutencao preditiva’ e efetuada em funcao do estado do material

e reveste-se totalmente de caracterısticas preventiva - intervir no equipamento antes

que a falha ocorra e provoque uma avaria. Pode ser organizada com base no tempo

de operacao, tempo calendario, condicoes fısicas do equipamento etc. As tecnicas

preditivas de manutencao tambem estao associadas a gestao da prevencao de falhas,

isto e, sao atividades que visam entender a falha e buscar solucoes para as suas causas

basicas. Implicam em solucoes de engenharia para correcao de projetos, materiais,

metodos de manutencao e/ou operacao etc.

O uso de tecnicas preditivas de manutencao tem como grande vantagem a

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possibilidade de se ter o maximo proveito da vida util de componentes, programando-

se a substituicao e reparo somente das pecas comprometidas do equipamento ou

sistema. Por outro lado, para sua aplicacao se faz necessario o acompanhamento

rotineiro de itens, uso de recursos computacionais com instrumentos especıficos e

profissionais especializados, acarretando o aumento nos custos.

A Tabela 2.3 mostra os principais tipos de manutencao.

Tabela 2.3: Principais Tipos de Manutencao [3]

2.6.2.4 Visao Estrategica

Ao se levar em consideracao a distribuicao do tempo para falha dos itens que

estao sob manutencao e o comportamento da taxa de falhas do sistema, a eficacia

e economia das atividades de manutencao podem ser maximizadas, como mostrado

nesse item.

Se o item apresenta como caracterıstica uma taxa de falhas decrescente com

o tempo, ao se fazer uma substituicao, a probabilidade de falha sera aumentada,

conforme pode ser visto na figura 2.8.

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Figura 2.8: Substituicao em taxa de falhas decrescente [1]

Para uma taxa de falhas constate no tempo, a substituicao nao influenciara a

taxa de falhas, considerando uma substituicao bem executada e com caracterısticas

que se enquadram nas especificacoes necessarias. A figura 2.9 ilustra essa situacao.

Figura 2.9: Substituicao em taxa de falhas constante [1]

Ja, se a taxa de falhas tiver comportamento de crescimento ao longo do

tempo, a substituicao, podera, teoricamente, melhorar a confiabilidade do sistema,

mesmo que executada a qualquer tempo (ver figura 2.10).

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Figura 2.10: Substituicao em taxa de falhas crescente [1]

Segundo Lafraia (2014) [1] esse processo de otimizacao das substituicoes em

acoes de manutencao preventiva deve ser pautado no conhecimento de parametros

bem definidos, estes sao:

1. Tempo para falha dos principais modos de falha;

2. Efeitos de todos os modos de falha;

3. Custo da falha;

4. Custo da substituicao programada;

5. Efeito da manutencao sobre a confiabilidade;

Para os casos onde os defeitos ou falhas necessitam de ensaios, testes ou

inspecoes para sua deteccao, ha de se considerar ainda:

1. Taxa de propagacao de defeitos capaz de causas a falha;

2. Custo do ensaio, teste ou inspecao.

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E importante tambem se conhecer a curva de desgaste do equipamento a

fim de se determinar o tempo otimo para as acoes de manutencao, caso contrario

pode haver as implicacoes ilustradas na figura 2.11.

Figura 2.11: Tempo otimo de substituicoes [1]

Utilizando-se do entendimento e da visao estrategica que se pode obter das

figuras 2.8, 2.9 e 2.10 para fazer a analise da figura 2.11, tem-se que, se a manu-

tencao preventiva for executada no intervalo [t1, t′], vai ocorrer o aumento da taxa

de falhas. Pode-se concluir que a acao foi prematura, ou seja, foi executada antes

que houvesse real necessidade de intervencao. Ja para o tempo [t2, t3], a taxa de

falhas ja se encontrava muito elevada, indicando que a manutencao preventiva se

deu tardiamente. Por fim, tem-se o intervalo [t′, t2], que e considerado ideal para a

execucao da manutencao preventiva, uma vez que nao se observa o aumento da taxa

de falhas, e ela ainda nao se encontra com grande elevacao.

Lafraia (2014) [1] diz que este enfoque sistematico para o planejamento da

manutencao - levando-se em conta aspectos de confiabilidade - e denominado Manu-

tencao Centrada em Confiabilidade (MCC). Este tema sera abordado para melhor

detalhamento na secao 2.7.

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2.7 Manutencao Centrada em Confiabilidade - MCC

Nos ultimos 30 anos, a gestao da manutencao tem sofrido muitas mudancas.

Estas mudancas tem sido causadas pelo grande aumento na variedade de equipa-

mentos, plantas e empreendimentos, com designs mais complexos e que necessitam

da aplicacao de novas tecnicas para seu gerenciamento, bem como mudancas de

pensamento no planejamento, programacao e controle da manutencao.

E nesse cenario de enfrentamento de tantas mudancas no ramo da manu-

tencao que a MCC faz sua atuacao, transformando o relacionamento entre as em-

presas, os equipamentos, os operadores e mantenedores.

Nessa secao sera apresentada a filosofia por de tras da MCC. Inicialmente,

sera feita uma rapida retomada historica sobre o desenvolvimento da manutencao

a fim de tornar clara a sua evolucao e as diferencas entre o passado e o presente.

A seguir, serao discutidos, brevemente, os passos necessarios para a implantacao da

MCC.

2.7.1 As Geracoes da Manutencao

Com o proposito de definir solidamente a Manutencao Centrada em Confia-

bilidade e necessario, antes, saber em qual cenario ela esta inserida a fim de facilitar

a fixacao de seu conceito.

Moubray (1997) [13] diz que:

“Desde a decada de 1930, a evolucao da manutencao pode ser

tracada atraves de tres geracoes. A Manutencao Centrada em

Confiabilidade esta rapidamente se tornando o pilar da Terceira

Geracao, mas essa geracao pode apenas ser enxergada em pers-

pectiva a luz da Primeira e Segunda Geracao”.

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2.7.1.1 A Primeira Geracao

A primeira geracao corresponde ao perıodo antes da Segunda Guerra Mun-

dial. Naquele tempo, a industria ainda nao era altamente mecanizada, baseava-se

muito na forca de trabalho humana e os tempos de parada nao eram vistos com

grande relevancia. A cultura de prevencao de falhas nao era presente e tambem nao

era a prioridade dos gestores da epoca.

Ao mesmo tempo, a maioria dos equipamentos era muito simples e super-

dimensionado. Essas caracterısticas faziam destes equipamentos confiaveis e faceis

de consertar, (Moubray ,1997). Como resultado dessas caracterısticas, nao havia

a necessidade de se manter uma manutencao sistematica, bastando apenas rotinas

simples de manutencao, limpeza, lubrificacao etc.

2.7.1.2 Segunda Geracao

Com o advento da Segunda Guerra Mundial, a demanda por alimentos e

suprimentos dos mais variados tipos elevou-se dramaticamente ao passo que a dis-

ponibilidade de mao de obra assistiu a uma queda vertiginosa. Este panorama fez a

mecanizacao crescer e, a partir dos anos 1950, maquinas dos mais variados tipos e

finalidades comecaram a despontar no setor industrial, tornando-o dependente delas.

A medida que essa dependencia crescia, a atencao aos tempos de parada de

maquina comecou a entrar em foco, o que conduziu a ideia de que as falhas dos

equipamentos deveriam ser prevenidas. Surge, entao, o conceito de Manutencao

Preventiva.

Com o estabelecimento da manutencao preventiva, os custos comecaram a se

elevar em relacao aos outros custos de operacao, dando luz, entao, ao Planejamento

e Controle de Manutencao (PCM) que, hoje, e parte integrante dos sistemas de

gestao da manutencao.

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Por fim, a quantidade de capital aplicado em equipamentos e o forte aumento

dos custos fizeram com que a visao da manutencao comecasse a seguir caminhos nos

quais o tempo de vida dos equipamentos pudesse ser maximizado.

2.7.1.3 Terceira Geracao

A partir dos anos 1970 e 1980, a industria se desenvolveu e se transformou

atraves de um impulso ainda maior. Nestas condicoes, para facilitar o entendimento

da Terceira Geracao, vamos separar sua construcao em tres topicos: Novas Expec-

tativas, Novas Investigacoes e Novas Tecnicas, (Moubray, 1997). E nesta geracao

que a Manutencao Centrada em Confiabilidade se situa.

1 Novas Expectativas

Nos dias atuais, o crescimento da mecanizacao e automacao se traduziu na

grande necessidade de a confiabilidade e a disponibilidade de equipamentos e sis-

temas se tornarem um ponto chave nas industrias dos mais variados seguimentos.

A ampla automacao tambem se traduz no fato de que, cada vez mais, as falhas

influenciam negativamente na capacidade de se garantir os padroes de qualidade.

Cada vez mais, as falhas tem tido serias consequencias de seguranca operaci-

onal, humana e ambiental, e isso esta ocorrendo num momento global onde padroes

e normatizacoes tem crescido rapidamente. Isso aumenta ainda mais a dependencia

na seguranca e integridade fısica de equipamentos e sistemas.

A medida que as industrias dependem cada vez mais de equipamentos para

suas atividades, os custos associados a isso tambem aumentam, tanto para adquiri-

los, quanto manter e opera-los. Com isso, e necessario encontrar caminhos para

assegurar o maximo retorno do investimento, fazendo com que estes equipamentos

trabalhem com eficiencia enquanto forem solicitados.

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2 Novas Investigacoes

A visao primitiva de defeito ou falha, correspondente a Primeira Geracao,

mostra que, a medida que o equipamento envelhece, ele fica mais suscetıvel a fa-

lhar. A consciencia da existencia da fase de mortalidade infantil nos equipamentos,

direcionou a Segunda Geracao a acreditar cegamente no padrao dado na Curva da

Banheira (figura 2.4).

Hoje, o pensamento de que a confiabilidade esta diretamente associada ao

tempo de atividade de um equipamento caiu por terra, salvo em casos especıficos e

com modos de falha predominantemente dependentes do tempo, nao ha uma relacao

direta entre a idade do equipamento e a sua confiabilidade associada.

Sendo assim, norteando a Terceira Geracao, pesquisas e investigacoes reve-

laram que nao apenas tres padroes de falhas existem, como na Curva da Banheira,

mas sim, seis padroes de falha na pratica. Estes padroes (A, B, C, D, E e F) foram

discutidos na secao 2.5.

3 Novas Tecnicas

Com as mudancas e caracterısticas que foram tratadas nos itens 1 e 2, muitas

novas tecnicas e conceitos de manutencao se desenvolveram e se estabeleceram nos

ultimos tempos, e mais ainda estao a caminho e em projecao.

Um dos principais desafios que os gestores de manutencao enfrentam atual-

mente nao se refere apenas a aprender o que as novas tecnicas sao e suas finalidades,

mas saber decidir quais valem a pena ser implementadas e quais ainda nao estao

estabelecidas em seu trabalho.

Ao se fazer a escolha assertiva e possıvel melhorar a performance dos equi-

pamentos e sistemas e, ao mesmo tempo, controlar e reduzir os custos associados a

manutencao. Segundo Moubray (1997) [13], as novas tecnicas incluem:

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• Ferramentas de apoio a decisao como, por exemplo analise de riscos, analise

de modos e efeitos de falha e sistemas especialistas.

• Novas tecnicas de manutencao que incluam o monitoramento de condicoes.

• Projeto de equipamentos com foco ainda maior em confiabilidade e disponibi-

lidade.

• Mudancas organizacionais que fomentem a participacao da equipe, sua flexi-

bilizacao e o trabalho em conjunto.

A tabela 2.4 traz um resumo do que foi discutido em 1 a 3, a fim de tornar mais

clara a compreensao e comparacao das diferencas entre as geracoes e as perspectivas

atuais das atividades de manutencao.

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Tabela 2.4: Resumo da MCC

A tabela 2.4 facilita principalmente a compreensao da Terceira Geracao com

relacao as outras. Sendo esse o cenario para a Manutencao Centrada em Confiabi-

lidade, temos, assim, a conjuntura na qual ela se insere.

2.7.2 Definicao da MCC

Para definir a MCC tivemos que, inicialmente, entender o contexto no qual

ela se insere a fim de compreender sua filosofia. Agora, para, definir a MCC, vamos

retomar o conceito de Manutencao que ja foi introduzido.

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Na secao 2.6 foi trazido o conceito de que a manutencao e o conjunto das

acoes necessarias para que um item seja conservado ou restaurado de modo a poder

permanecer de acordo com uma condicao especificada. Isto e, para garantir que

um equipamento ou sistema continue desempenhando as funcoes para as quais foi

projetado.

Do ponto de vista do usuario isso se traduz na necessidade de a manutencao

fazer com que o equipamento permaneca desempenhando a atividade que o cliente

necessita.

A necessidade do usuario ira depender exatamente de onde e como o equi-

pamento estiver sendo utilizado. Em outras palavras, a manutencao ira depender

exatamente da pretensao que se tem sob o equipamento e a maneira como ele esta

sendo operado.

Isso direciona a seguinte definicao completa para a Manutencao Centrada em

Confiabilidade, segundo Moubray (1997) [13]: processo utilizado para determinar o

que deve ser feito para garantir que um item continue a desempenhar a funcao que

seu usuario requer em seu contexto operacional.

2.7.3 Implementacao

Conforme Moubray (1997) [13] o processo de implementacao da MCC implica

no em sete questoes:

1. Quais as funcoes e padroes de performance esperados do equipamento no seu

contexto operacional atual?

2. De que modo os equipamentos podem falhar em cumprir suas funcoes?

3. O que causa cada falha funcional?

4. O que acontece quando cada falha ocorre?

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5. De que forma cada falha interessa?

6. O que pode ser feito para prevenir ou impedir cada falha?

7. O que deve ser feito quando uma atividade proativa cabıvel nao pode ser

encontrada?

Cada uma destas perguntas e capaz de render uma ampla dissertacao, com

varios detalhamentos e explicacoes para responde-las e embasa-las, mas, como este

trabalho nao tem como objetivo detalhar o processo de implementacao da MCC,

serao discutidos apenas os pontos das perguntas que se referem as falhas, para isso,

a secao 2.8, sera dedicada as falhas, mais especificamente, trazendo a tecnica da

FMEA12 para a discussao.

Por ora, com o intuito de nao fugir do foco central deste trabalho, sera consi-

derada apenas a tabela proposta por Lafraia (2014) [1] que da uma posicao de forma

basica e objetiva as perguntas anteriores.

Tabela 2.5: Tabela de implementacao da MCC

RequisitosOperacionais

AnaliseFuncional

ElaborarFMEA

Diagrama deDecisoes

Programa deManutencao

- Montar equipede analise

- Identificardados

- Coletar dados- Descrever

sistema

- Identificarelementos

- Definir fronteirase interfaces

- Identificarfuncoes

- Definirfuncoes

- Definir falhasfuncionais

- Definir os modosde falha

- Definir as causasdas falhas

- Definir efeitosdas falhas

- Classificarconsequencia

- Identificar sistemascrıticos

- Aplicar diagramade decisoes

- Identificar tarefasde manutencao

preditiva

- Selecionar tarefasefetivas

- Estabelecerintervalos

- Identificar mudancasde projeto

- Compararcom atividades

existentes- Detalharinstrucoes

- Revisar planos

- Conduzirauditorias

- Conduzir mudancasde projeto

12FMEA: Failure Mode and Effects Analysis - Analise dos Modos de Falha e seus Efeitos -Metodo qualitativo de analise de confiabilidade que envolve o estudo dos modos de panes quepodem existir para cada subitem, e a determinacao dos efeitos de cada modo de pane sobre osoutros subitens e sobre a funcao requerida do item. [3]

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2.8 FMEA

FMEA, uma sigla que significa Failure Modes and Effect Analysis - Analise

de Modo e Efeito de Falhas, e uma importante e eficaz ferramenta de projetos em

confiabilidade designada para analisar sistemas de engenharia.

A norma brasileira NBR 5462:1994 [4] considera a sigla original FMEA e a

traduz como Analise dos Modos de Falha e seus Efeitos. Esta norma caracteriza

a FMEA como um metodo qualitativo de analise de confiabilidade que envolve o

estudo dos modos de falha e a identificacao dos efeitos que estes podem ter sobre

outros itens e sobre o desempenho da funcao do sistema.

Lafraia (2014) [1] diz que a FMEA e uma tecnica indutiva, estruturada e

logica para identificar e/ou antecipar as causas e efeitos de cada modo de falha de

um sistema.

De forma simplificada, ela pode ser descrita como uma tecnica que busca

identificar todos os possıveis modos de falha e seus efeitos para que sejam analisadas

e tomadas acoes a fim de garantir o nıvel de confiabilidade do sistema.

Antes da apresentacao dos detalhes que compoem a elaboracao da FMEA,

e necessaria a introducao de alguns termos e definicoes que costumam compor sua

execucao.

2.8.1 Alguns Termos e Definicoes

• Causa da Falha: sao os fatores que levam a falha, tais como defeitos de projeto,

problemas na qualidade, defeitos fısicos ou quımicos, ma utilizacao do objeto

etc., sao as razoes primarias para a ocorrencia de falhas.

• Modo de Falha: e a maneira pela qual a falha e percebida. Em outras palavras,

modo de falha e a descricao da maneira pela qual um item pode deixar de

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executar a sua funcao.

• Efeito da Falha: A consequencia ou conjunto de consequencias que o modo de

falha tem sobre a funcao do item ou sistema.

Em resumo, apesar de as definicoes serem bem simples, muitas discussoes

podem surgir das mesmas. Em virtude disso, e fundamental ter em mente que o

modo de falha e um desvio (problema) que ocorre em nıvel de componente e o seu

efeito ocorrem ao nıvel do sistema. A Figura 2.12 ilustra o que foi dito.

Figura 2.12: Modo de falha e seu efeito [2]

2.8.2 Tipos de FMEA e suas Vantagens

Moubray (1997) [13] divide a tecnica da FMEA em tres tipos principais: de

Projeto, de Sistema e de Processo.

2.8.2.1 FMEA de Projeto

A intencao de implementar a FMEA de Projeto e auxiliar a identificacao e

impedir as falhas dos itens que estejam relacionadas a sua etapa de projeto. Este

perfil de FMEA pode ser executado desde para o projeto de componentes isolados de

um sistema ate para o projeto do sistema como um todo e tem o objetivo de analisar

e ratificar os parametros de um projeto antes que ele seja entregue ao cliente.

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2.8.2.2 FMEA de Sistema

Semelhante a de Projeto, a FMEA de Sistema tambem e utilizada para ana-

lisar sistemas e subsistemas em sua fase inicial de projeto. O foco esta nos modos

de falha presentes entre as interfaces do sistema, integrando a interacao entre os

sistemas e os elementos do sistema.

2.8.2.3 FMEA de Processo

A FMEA de processo identifica e previne falhas que estao relacionadas dire-

tamente com processos de producao e confeccao de um determinado item. Como

benefıcios da FMEA de processo tem-se a identificacao de potenciais modos de falha

de processo em sistemas e subsistemas, identificacao de pontos importantes do pro-

cesso, deteccao de possıveis encurtamentos no processo produtivo e documentacao

de possıveis mudancas e ajustes que ajudem a estabelecer o processo produtivo.

2.8.2.4 As Vantagens da FMEA

Aplicar a tecnica da FMEA tem inumeros benefıcios, indo desde financeiros

a melhoramentos do ponto de vista da engenharia. Dentre alguns dos principais

benefıcios associados a FMEA, estao: reducao no tempo e custo de projeto, au-

mento da satisfacao do cliente, reducao dos custos de manutencao, ampliacao dos

conhecimentos sobre os sistemas que sao alvos do estudo.

Mais especificamente, cada tipo de FMEA possui as suas particularidades

e, por consequencia, possui tambem as suas proprias ‘vantagens’. A Tabela 2.6,

produzida por Sakurada (2001) [14] com informacoes colhidas na obra de Stamatis

(1995) [2], sintetiza as vantagens dos tres tipos de FMEA.

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Tabela 2.6: Vantagens da FMEA

Sistema Projeto Processo

Ajuda a selecionar a melhoralternativa de projeto de sistema.

Ajuda a determinar redundancia.

Ajuda na definicao da basepara os procedimentos de

diagnostico em nıvel de sistema.

Aumenta a probabilidade de queos problemas potenciais

sejam considerados.

Identificam as falhas potenciaisdo sistema e sua interacao

com outros sistemas ou subsistemas.

Estabelece uma prioridade deacoes de melhoria de projeto.

Ajuda a selecionar a melhoralternativa de projeto de sistema.

Ajuda a determinar redundancia.

Ajuda na definicao da basepara os procedimentos de

diagnostico em nıvel de sistema.

Aumenta a probabilidade deque os problemas potenciais

sejam considerados.

Identificam as falhas potenciaisdo sistema e sua interacao comoutros sistemas ou subsistemas.

Fornece informacoes paraajudar atraves da verificacao

do projeto do produto e testes

Ajuda a identificar as caracterısticascrıticas ou significativas.

Auxilia na avaliacao dosrequerimentos de projet

e alternativas.

Ajuda a identificar e eliminaros problemas potenciais de seguranca.

Ajuda a identificar, antecipadamenteas falhas,

nas fases de desenvolvimento do produto.

Identifica as deficiencias noprocesso e oferece um plano

de acoes corretivas.

Identifica as caracterısticas crıticase/ou significativas e ajuda o

desenvolvimento dosplanos de controle.

Estabelece uma prioridadede acoes corretivas.

Auxilia na analise dosprocessos de manufatura e

montagem.

2.9 Transformador

Este trabalho tem como objetivo, alem de formar uma base teorica em confi-

abilidade e manutencao, mostrar a elaboracao da FMEA - apresentada na secao 2.8

- como uma ferramenta da confiabilidade.

Para atender a esse objetivo, alem das etapas para elaborar uma FMEA, o

Capıtulo 4 deste trabalho trara um exemplo de FMEA aplicada a um transformador

de distribuicao de energia eletrica.

Tendo isso em vista, nesta secao sera elaborado um quadro para informar

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sobre as partes construtivas dos transformadores e suas respectivas funcoes.

2.9.1 O que e um transformador?

Um transformador e uma maquina eletrica estatica que converte, atraves da

acao de um campo magnetico, a energia eletrica CA a uma dada frequencia e nıvel de

tensao em energia eletrica CA de mesma frequencia, mas em outro nıvel de tensao.

Ele consiste basicamente em duas ou mais bobinas de fio enroladas em torno

de um nucleo ferromagnetico. Essas bobinas – usualmente - nao estao conectadas

diretamente entre si e se relacionam atraves do fluxo magnetico encapsulado no

interior do nucleo ferromagnetico.

Nos transformadores, um dos enrolamentos e ligado a uma fonte de energia

eletrica CA e o segundo (e, caso exista, o terceiro) enrolamento e ligado a carga,

fornecendo energia. O enrolamento que esta ligado diretamente a fonte de energia

denomina-se enrolamento primario, ja o ligado a carga, e chamado de secundario;

caso haja um terceiro, terciario.

A Figura 2.13 ilustra um esquema basico de um transformador.

Figura 2.13: Esquema basico de um transformador

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2.9.2 Partes Construtivas e Acessorios

Sera considerado para este trabalho um transformador generico com as se-

guintes caracterısticas nominais fundamentais:

• Transformador trifasico de distribuicao

• Isolamento a oleo mineral

• Frequencia: 60Hz

• Potencia: 1000kVA

• Relacao de transformacao: 13,8kV/220-127V (∆-Y)

Como a finalidade deste trabalho nao e se aprofundar no detalhamento dos

transformadores, os utilizando apenas como um exemplo de estudo, a Tabela 2.7

apresenta as principais partes construtivas e acessorios de um transformador com

essas caracterısticas e as suas respectivas funcoes para que sirva de apoio na ela-

boracao da FMEA no Capıtulo 4.

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Tabela 2.7: Principais partes construtivas e acessorios de um transformador

Funcao Caracterıstica

Nucleo

- Confinar o campo magneticoproduzido por um dos enrolamentos

- Proporcionar a inducao decorrente entre os enrolamentos

- Formado por laminas de materialferromagnetico empilhadas

- As laminas tem a finalidade dereduzir os efeitos dascorrentes parasitas

Enrolamentos- Os enrolamentos tem a funcao

basica de conducao de corrente eletrica- Condutores isolados e enrolados

no nucleo do transformador

Isolacao solida- Fornecer isolamento eletrico

entre os condutores

- O uso de papel isolante celulosicoe a principal forma de isolacao

solida em transformadores

Lıquido isolante

- Fornecer isolamento eletricoentre os enrolamentos e a carcaca

- Refrigeracao/Dissipacao termica do calorproduzido pela operacao do transformador

- Proteger a parte interna dacarcaca contra oxidacao

- O principal lıquido isolantee o oleo mineral

Isoladores deporcelana

- Fornecer isolamento entre oscondutores e a carcaca do transformador

- Sao partes componentesdas buchas

Tanque- Armazenar o oleo isolante- Proteger o oleo isolante

contra contaminacao

Radiador- Aumentar a area de dissipacao de

calor para auxiliar no controlede temperatura

- Constituıdo de aletas posicionadasna parte externa do transformador,

por onde o oleo isolante circulaIndicadormagnetico

de nıvel de oleo

- Indicar nıvel de oleo no tanque,conservador e outros compartimentos

do transformador

Buchas

- Interligar os componentes ativosinternos e os sistemas eletricos

externos a um transformador / fornecerum caminho condutivo de uma

extremidade a outra

- Em transformadores de ate 25 kVsao utilizadas buchas do tipo solido

Secador de Ar(Tubo de

Silica-Gel)

- Secar o ar aspirado que fluiao transformador

- Em condicoes normais,possui coloracao azul

- Apos a saturacao, pela absorcaode umidade, adquire coloracao rosada

Rele de GasTipo Buchholz

- Aprisionar os gases- Detectar falhas internas

que causam producao de gases

Alguns itens dessa lista merecem uma descricao um pouco mais detalhada,

estes sao:

• Deposito de sılica-gel: Sılica-gel ou gel de sılica e um material usado para

absorver umidade. E um produto sintetico, produzido pela reacao de silicato

de sodio e acido sulfurico. Assim que misturados, formam um hidrosol, que,

lentamente, se contrai para formar uma estrutura solida de sılica-gel, cha-

mada hidrogel. O gel solido e quebrado e lavado para remover o subproduto

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da reacao, o sulfato de sodio, e criar sua estrutura porosa.

A seguir, o gel e processado para chegar a diferentes produtos, como a Sılica-gel

dessecante.

A sılica-gel retem a umidade do ar por adsorcao fısica, nao por absorcao. E um

processo fısico, pelo qual as moleculas de agua ficam retidas na superfıcie dos

poros do dessecante, no caso, a sılica-gel. A capacidade de adsorcao de agua

da sılica-gel e de, no maximo, 30% do seu proprio peso, aproximadamente.

A sılica-gel pode ser regenerada quando submetida a temperaturas superiores

a 100oC e inferiores a 200oC, por um perıodo mınimo de 40 minutos. Este

procedimento deve ser realizado sempre com a sılica-gel nao embalada em

saquetas e nunca com o produto dentro das saquetas, pois os materiais utili-

zados nos saches sao normalmente fibras termoplasticas que derreteriam antes

que a sılica-gel fosse totalmente regenerada, podendo ate causar acidentes ou

queimaduras.

Em geral, nos processos de regeneracao, verifica-se uma perda de 10 a 20%

em funcao da fragmentacao dos granulos, o que diminui sua capacidade de

adsorcao.

• Rele de gas Buchholz: Tambem chamado de Rele de Gas ou Rele de

Pressao Subita, no domınio da distribuicao e transporte de energia eletrica,

e um acessorio instalado em transformadores de potencia e reatancias que

possuem oleo como meio dieletrico e de arrefecimento, equipados com uma

reserva superior chamada de ”conservador”. O Rele Buchholz e um disposi-

tivo de protecao propria contra falta de oleo, acumulacao de gases e falhas

dieletricas catastroficas dentro do equipamento.

O rele tem duas formas de deteccao. No caso de uma pequena sobrecarga, o

gas produzido pela decomposicao do oleo acumula no topo do rele e forca o

nıvel superior a cair. Um interruptor de boia no rele e utilizado para ativar um

alarme. Essa opcao tambem funciona mesmo quando o nıvel de oleo estiver

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baixo, como no caso de uma pequena fuga de oleo.

No caso de um arco eletrico, a acumulacao de gas e subita e o oleo flui rapida-

mente para o conservador. Este fluxo de oleo opera no interruptor conectado a

uma segunda boia localizada no caminho do oleo em movimento. Essa opcao

e utilizada para ativar um disparo ao disjuntor de protecao da unidade antes

que a falha provoque mais danos.

O Rele Buchholz tem uma valvula de purga, que permite recolher o gas acu-

mulado para ensaio. Se o gas e inflamavel no revezamento, e um sinal de

que houve falhas internas, como o sobreaquecimento ou a producao de arco

interno. Se for ar, pode significar que o nıvel do oleo esta baixo, ou que ha

uma pequena perda.

• Indicador de temperatura do oleo: O termometro e utilizado para in-

dicacao da temperatura do oleo. Existem dois tipos: o termometro com haste

rıgida, usado com mais frequencia nos transformadores de meia-forca; e o

termometro com capilar, utilizado em transformadores de meia-forca e forca.

O termometro possui na extremidade um bulbo que e colocado no ponto mais

quente do oleo, logo abaixo da tampa.

O termometro possui, alem do ponteiro de indicacao de temperatura ins-

tantanea, dois ou tres ponteiros controlaveis externamente para ligacao do

sistema de protecao e ventilacao forcada (VF, alarme e desligamento) e um

ponteiro de arraste para indicacao de temperatura maxima do perıodo.

• Indicador magnetico de nıvel de oleo: Os indicadores magneticos de

nıvel tem a finalidade de indicar com precisao o nıvel do lıquido isolante e,

ainda, quando providos de contatos para alarme ou desligamento, servirem

como dispositivos de protecao do transformador.

O indicador magnetico de nıvel possui carcaca em alumınio fundido, sendo que

a indicacao de nıvel e feita por ponteiro acoplado a um ıma permanente de

grande sensibilidade, garantindo sua alta precisao.

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Capıtulo 3

Metodologia da Pesquisa

Esse capıtulo apresenta as etapas da pesquisa realizada ao longo do desenvol-

vimento deste trabalho, descrevendo os aspectos metodologicos utilizados e classifi-

cando a pesquisa quanto aos fins e aos meios de investigacao. O fluxograma abaixo

apresenta o processo de pesquisa realizado.

Figura 3.1: Processo de pesquisa

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3.1 Definicao de Pesquisa

Antes de continuar, importante e definir o que se entende por pesquisa. De

forma geral, os dicionarios encontraram pesquisa definida como acao de busca, in-

dagacao e investigacao minuciosa para averiguacao da realidade, com o fim de esta-

belecer fatos ou princıpios relativos a um campo qualquer do conhecimento.

Alem disso, a definicao do verbete ‘pesquisa’ ainda e dada como levantamento,

registro, analise ou coleta dos fatores relacionados com os problemas de prestacao

de servicos.

A pesquisa pode buscar o conhecimento pelo proprio desejo de investigar de-

terminada area por motivacao de ordem intelectual ou ainda a aspiracao de descobrir

uma aplicacao pratica para a solucao de um problema.

3.2 Classificacao e Tipos de Pesquisa

Existem diversas sistematicas dos tipos de pesquisa e muitas sao as formas

de classificar as pesquisas. Dentre estas, destacam-se algumas tradicionais, focando

somente os pontos relacionados com o objetivo de posicionamento metodologico

deste estudo.

Quanto a natureza, as pesquisas podem ser classificadas, em basicas e apli-

cadas; quanto a forma de abordagem, em quantitativa e qualitativa; quanto aos

seus objetivos, em exploratoria, descritiva e explicativa e quanto aos procedimentos

tecnicos, em bibliografica, documental, experimental, levantamento, estudo de caso,

ex post facto, pesquisa acao e participante. Silva e Menezes (2005) [15] explicam

que a pesquisa objetiva e aquela que gera conhecimentos novos, uteis para o avanco

da ciencia sem aplicacao pratica prevista. Envolve verdades e interesses universais;

e a aplicada e a que tem como objetivo gerar conhecimentos dirigidos a aplicacao

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pratica e solucao de problemas especıficos, envolvendo verdades e interesses locais.

Conforme Gil (1999) [16], do ponto de vista dos seus objetivos a pesquisa

pode ser:

• Exploratoria: visa proporcionar maior familiaridade com o problema com

vistas a torna-lo explıcito. Envolve levantamento bibliografico. Assume, em

geral, as formas de Pesquisas Bibliograficas e Estudos de Caso.

• Descritiva: visa descrever as caracterısticas de determinada populacao ou

fenomeno. Assume, em geral, a forma de Levantamento.

• Explicativa: visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para

a ocorrencia dos fenomenos. Aprofunda o conhecimento da realidade porque

explica a razao, ’o porque’ das coisas. Quando realizada nas ciencias sociais

requer o uso do metodo observacional. Assume, em geral, as formas de pesquisa

Experimental e Ex post facto.

Silva e Menezes (2005) [15] afirmam que, do ponto de vista da forma de

abordagem dos problemas, a pesquisa pode ser:

• Quantitativa: significa traduzir em numeros, opinioes e informacoes para

classifica-las e analisa-las. Requer o uso de recursos e de tecnicas estatısticas.

• Qualitativa: ha uma relacao dinamica entre o mundo real e o sujeito nao

traduzido em numeros, o ambiente natural e a fonte direta para coleta de

dados e o pesquisador e o instrumento-chave. A interpretacao dos fenomenos

e a atribuicao de significados sao basicas no processo de pesquisa qualitativa.

E descritiva e nao requer metodos e tecnicas estatısticas. Do ponto de vista

dos procedimentos teoricos (Gil, 1999), pode ser:

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• Bibliografica: quando elaborada a partir de material ja publicado, cons-

tituıdo principalmente de livros, artigos de periodicos e atualmente com ma-

terial disponibilizado na internet.

• Documental: quando elaborada a partir de materiais que nao receberam

tratamento analıtico.

• Experimental: quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as

variaveis de influencia, definem-se as formas de controle e de observacao dos

efeitos que a variavel produz no objeto.

• Levantamento: quando a pesquisa envolve a interrogacao direta das pessoas

cujo comportamento se deseja conhecer.

• Estudo de Caso: quando envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou

poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conheci-

mento.

• Ex Post Facto: quando o experimento se realiza depois dos fatos.

• Acao: realizada em estreita associacao com a resolucao de um problema co-

letivo. Os pesquisadores e participantes representativos da situacao ou de

problemas estao envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

• Participante: quando se desenvolve a partir da interacao entre pesquisadores

e membros das situacoes investigadas.

Por sua vez, Vergara (2003) [17], apresenta dois criterios basicos para definir

e classificar as pesquisas: quanto aos fins e quanto aos meios. Segundo a autora,

sob esses aspectos os diversos tipos de pesquisa nao sao mutuamente excludentes,

podendo ser, ao mesmo tempo, de tipos e finalidades diversas.

Quanto a sua finalidade, uma pesquisa pode ser:

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• Exploratoria: aquela que possui uma natureza de sondagem em uma area

com pouco conhecimento acumulado.

• Descritiva: a pesquisa que expoe caracterısticas de determinada populacao ou

fenomeno, nao possuindo compromisso de explicar os fenomenos que descreve.

• Explicativa: tem como objetivo principal tornar um fato ou fenomeno com-

preensıvel, justificando os motivos e esclarecendo quais fatores contribuem para

a sua ocorrencia.

• Metodologica: e aquele que se refere aos instrumentos de captacao ou de

manipulacao da realidade e esta, portanto, associada a caminhos, formas e

maneiras para se atingir um determinado fim.

• Aplicada: a que e motivada pela necessidade de resolver problemas concretos

e existentes no ambiente da pesquisa. A pesquisa aplicada tem, portanto, fina-

lidades praticas, diferentes da pesquisa pura, a qual e basicamente motivada

pela curiosidade e desejo de pesquisar.

• Intervencionista: tem como principal objetivo interpor e interferir na reali-

dade estudada, de forma a modifica-la.

No caso do presente estudo, e com base na taxionomia apresentada por Ver-

gara (2003) [17] apud. Nemesio Sousa (2017) [3] e Gil (1999) [16], quanto a sua

finalidade esta pesquisa e classificada como exploratoria.

Quanto aos meios de investigacao, a pesquisa pode ser:

• de Campo: pesquisa de investigacao empırica, realizada no local onde ocorreu

um fenomeno ou que dispoe de elementos para explica-lo.

• de Laboratorio: e aquela realizada em local circunscrito, normalmente en-

volvendo simulacoes.

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• Documental: aquela na qual a investigacao e realizada com base no conteudo

dos documentos.

• Bibliografica: e o estudo sistematizado desenvolvido mais fortemente com

base nos materias publicados por outros pesquisadores.

• Experimental: investigacao empırica na qual o pesquisador manipula e con-

trola as variaveis independentes e observa as mudancas nas variaveis depen-

dentes.

• Ex post facto: pesquisa referente a um fato ja ocorrido, o qual o pesquisador

nao pode controlar ou manipular as variaveis.

• Participante: pesquisa que nao se esgota na figura do pesquisador e da qual

tomam parte pessoas implicadas no problema.

• Pesquisa acao: e um tipo especıfico de pesquisa participante que supoe in-

tervencao participativa na realidade social.

• Estudo de caso: e o circunscrito a uma ou poucas unidades, com carater de

profundidade e detalhamento.

Quanto aos meios de investigacao, classifica-se esta pesquisa como bibli-

ografica.

Conforme Vergara (2003) [17], a pesquisa bibliografica e desenvolvida com

base em material acessıvel ao publico em geral, isto e, publicado em livros, revistas,

relatorios tecnicos e mıdia eletronica.

Resumindo, pode-se afirmar que este estudo foi desenvolvido por meio de

pesquisa exploratoria, com metodologia investigativa de carater bibliografico, sendo

seu estudo baseado na literatura pertinente.

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Capıtulo 4

Elaboracao da FMEA

Neste capıtulo sera contemplado o objetivo final do trabalho, que e discorrer

sobre a tecnica da FMEA. Ele esta dividido basicamente em duas partes: as etapas

necessarias para organizar e preparar a FMEA e a sua elaboracao propriamente dita.

4.1 Etapas de Organizacao e Preparo da FMEA

A FMEA pode ser executada em seis passos principais, segundo Moubray

(1997), estes sao:

1. Definir o sistema

2. Estabelecer regras basicas

3. Descrever o sistema e seus blocos funcionais

4. Identificar os modos de falha e seus efeitos

5. Elaborar lista de itens crıticos

6. Documentar a analise

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Sendo estes os seis passos basicos para a implementacao da tecnica da FMEA,

eles serao descritos a seguir, nessa mesma secao 4.1.

4.1.1 Definir o Sistema

Essa e a etapa inicial da implementacao da FMEA e consiste em fazer uma

definicao precisa e realista do sistema que sera objeto de estudo da FMEA. E normal

que, para facilitar a definicao do sistema, seja necessario dividi-lo em blocos, grupos

de funcoes e a interface entre eles.

Moubray (1997) diz sobre a etapa inicial da FMEA que:

“Geralmente, neste inıcio do programa, uma boa definicao do sis-

tema nao existe e o seu responsavel deve desenvolver o proprio

metodo de definicao usando documentos como relatorios de es-

tudo, desenhos e planos de desenvolvimento e especificacoes”.

4.1.2 Estabelecer Regras Basicas

As regras basicas sao estabelecidas de acordo com a conducao que a FMEA

esta tendo. Geralmente, desenvolver as regras basicas e quase que um processo

direto a partir do momento que a definicao dada ao sistema e seus requisitos de

operacao estao razoavelmente completos.

A fim de tornar claro que formas essas regras poderiam tomar, tem-se, aqui,

alguns exemplos de regras aplicaveis em uma implementacao de FMEA: limites

operacionais, limites de estresse de equipamentos, limites de seguranca, objetivos

primarios e secundarios da operacao e, principalmente e de enorme importancia,

uma precisa definicao do que seria uma falha do sistema ou de item em analise.

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4.1.3 Descrever o Sistema e Seus Blocos Funcionais

Para a descricao do sistema e necessario o desmembramento em duas partes:

uma descricao funcional e um diagrama de blocos.

4.1.3.1 Descricao Funcional

Deve ser preparada para cada subsistema e cada item, assim como para todo o

sistema em estudo. Sua finalidade e basicamente fornecer uma narrativa descritiva

do modo de operacao. O nıvel de detalhamento requerido deve variar de acordo

com a especificidade de aplicacao do sistema ou item e sua complexidade inerente.

A descricao funcional tem muita importancia uma vez que e uma grande referencia

para os modos de falha.

4.1.3.2 Diagrama de Blocos

Tem como proposito determinar as relacoes de falha e sucesso de operacao

entre os componentes do sistema. Desta forma, mostra, graficamente, o conjunto

total de componentes que devem ser analisados, assim como as relacoes em serie e de

redundancia entre os componentes. De forma complementar, o diagrama de blocos

deve mostrar todos os inputs e outputs de cada elemento do sistema e do proprio

sistema.

Desenvolver um diagrama de blocos para aplicacao da FMEA e especialmente

util em casos onde o sistema que esta sendo alvo de estudo e composto por mui-

tos processos, do contrario, o diagrama de blocos pode ser dispensado sem onus a

qualidade da FMEA.

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4.1.4 Identificar os Modos de Falha e Seus Efeitos

Como vimos em 2.8.1, modo de falha e a maneira pela qual a falha e percebida,

em outras palavras, e a descricao da maneira pela qual um item pode deixar de

executar a sua funcao, isto e, um estado de trabalho anormal para o sistema. Os

componentes do sistema devem ser analisados, levando-se em consideracao todos os

seus modos de falha.

Identificar os modos de falha e descobrir as maneiras pelas quais um compo-

nente pode se apresentar com defeito. Uma forma didatica de a equipe responsavel

pela FMEA identificar os modos de falha e atraves da pergunta: como o item pode

deixar de desempenhar a sua funcao?

Identificar os efeitos dos modos de falha no sistema e fundamental na

implementacao da FMEA. E nesta etapa que a FMEA mostra o seu enquadramento

como uma tecnica e ferramenta para a Manutencao Centrada em Confiabilidade.

Uma vez tendo os efeitos dos modos de falha identificados, e possıvel analisar de que

forma estes efeitos podem impedir o sistema de desempenhar sua funcao e, assim,

implementar formas de controle para que o sistema se mantenha desempenhando o

seu papel requerido.

Nesta etapa, e necessario fazer o levantamento e documentacao para cada

item, de todos os modos de falhas consideraveis e seus respectivos efeitos no sistema.

Alem de identificar os modos de falha, e fundamental prioriza-los atraves de

seus efeitos durante a analise do sistema pela tecnica da FMEA. Esta priorizacao

se da atraves de uma parametrizacao dos efeitos e da probabilidade de ocorrencia,

chamada de Avaliacao de Criticidade.

A forma mais pratica e eficaz de documentar os modos de falha para cada

item e por meio de uma tabela que deve ser elaborada e utilizada como uma planilha

que garanta uma cobertura sistematica e completa para cada modo de falha.

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E imprescindıvel que nesta planilha hajam tres colunas fundamentais: uma

para a identificacao do item; outra que possa ser utilizada para listar os modos de

falhas correspondentes a funcao de cada item; e uma terceira coluna que liste os

efeitos para cada modo de falha.

Esta planilha sugerida tera sua construcao descrita na secao 4.2.

4.1.5 Avaliacao de Criticidade

O objetivo de uma avaliacao de criticidade ao se aplicar tecnica da FMEA

e priorizar os modos de falha que foram elencados tomando como parametros seus

efeitos e probabilidade de ocorrencia.

Nestas condicoes, para fazer essa avaliacao de criticidade da falha de um item,

e aplicada o metodo chamado Risk Priority Number (RPN), traduzindo do ingles,

Numero de Prioridade de Risco. Este metodo e tambem conhecido como Tecnica

RPN.

4.1.5.1 A Tecnica RPN

A Tecnica RPN e utilizada para calcular o Risk Priority Number para cada

falha de forma individual. Este calculo e feito atraves de tres fatores: Severidade,

Probabilidade de Ocorrencia e Probabilidade de Deteccao.

Tratando de forma mais especıfica, o Risk Priority Number e calculado pela

multiplicacao do valor numerico que e atribuıdo a cada um dos tres fatores (S, O e

D). Isto e, matematicamente, o RPN e dado pela seguinte relacao:

RPN = S ×O ×D (4.1)

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Os fatores S, O e D representam, respectivamente, Severidade, Probabilidade

de Ocorrencia e Probabilidade de Deteccao, estes dois ultimos, sao, costumeira-

mente, chamados apenas de Ocorrencia e Deteccao.

Severidade (S)

No fator Severidade e feita uma avaliacao qualitativa da severidade dos efeitos

correspondentes aos modos de falha listados, onde, para cada efeito de cada modo

de falha listado, deve haver um grau de severidade correspondente.

A severidade e medida por uma escala com amplitude que varia de 1 a 10,

em que o grau 1 representa um efeito pouco severo e o grau 10 indica efeito de

alta severidade. A escala de severidade varia a passos unitarios de acordo com os

criterios expressos pela tabela 4.1 proposta por Lafraia (2014).

Tabela 4.1: Tabela de severidade

Como a escala utilizada para a FMEA utiliza avaliacoes qualitativas, o es-

tudo, os valores atribuıdos e as classificacoes dadas podem variar de acordo com a

necessidade do segmento de aplicacao, assim, tornando a implementacao da FMEA

muito versatil.

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Ocorrencia (O)

Ocorrencia ou Probabilidade de Ocorrencia (O) se refere a estimativa da

probabilidade de ocorrencia de uma causa de falha e, dela resultar no modo de falha

listado.

Para se avaliar a ocorrencia de falha tambem e utilizada uma escala qualita-

tiva graduada de 1 ate 10, variando a passos unitarios em acordo com criterios bem

definidos e consistente como os dados na tabela 4.2.

Tabela 4.2: Tabela de ocorrencia

Atribuir esses graus para a ocorrencia depende do momento em que se esta

executando a FMEA. Em casos de etapas pre-projeto a analise deve ser baseada

em dados de componentes similares, dados do fabricante e informacoes presentes

em literaturas tecnicas; caso a FMEA esteja sendo executada num sistema que ja

operante, sendo apenas uma ocasiao de revisao de projeto, a analise deve ser baseada

no historico de falhas, historico de manutencao, conhecimento adquirido pela equipe

etc.

Para o caso especıfico da ocorrencia de falhas, podem existir dados quantita-

tivos disponıveis e habeis a serem aplicados, para este caso em especıfico e necessario

fazer uma equivalencia entre esses dados e os valores da escala dada pela Tabela 4.2.

Para isto, a equacao 4.2 parametriza – de forma aproximada - a taxa de falhas de

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acordo com a escala de 1 a 10 da Tabela 4.2.

O =

(Taxa

0, 000001

)0,2

(4.2)

Ex.: Vamos supor que se deseja aplicar a tecnica da FMEA para um

item que apresenta taxa de falhas na proporcao 20/1000. Desta forma,

para se determinar qualitativamente o fator Ocorrencia (O) a fim de se

calcular o RPN, sera necessario utilizar a formula 4.2. Sendo assim,

O =

(20/1000

0, 000001

)0,2

∼= 7, 25

O valor calculado para a Ocorrencia (O) e de aproximadamente 7,25,

estando compreendido entre os graus 7 e 8 da escala, que, pela Tabela

4.2, indica uma ocorrencia de falhas alta. Portanto, para o calculo do

RPN e seguro fazer a escolha tanto do grau 7 quanto do grau 8.

Deteccao (D)

Deteccao ou Probabilidade de Deteccao (D) e o fator que avalia a probabili-

dade de a falha ser detectada antes de ter efeito no sistema, este fator e atribuıdo

ao se olhar para o conjunto ‘modo de fala + efeito’.

O grau atribuıdo a Deteccao (D), assim como os fatores S e O, segue uma

escala qualitativa que varia de 1 a 10, onde o grau 1 indica uma situacao onde o

modo de falha sera detectado e, o grau 10 indica uma situacao onde o modo de falha

nao sera detectado, seguindo os criterios dados na Tabela 4.3.

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Tabela 4.3: Tabela de deteccao

4.1.5.2 Consideracoes Sobre A Tecnica RPN

O RPN, calculado pela equacao 4.1, e utilizado para priorizar melhorias de

projeto e acoes corretivas, isto e, falhas com RPN mais elevado devem ser priorizadas

em detrimento das de menor RPN.

Como pode ser visto pela equacao 4.1, o RPN cresce a medida que a severi-

dade, a probabilidade de ocorrencia e a probabilidade de nao deteccao do modo de

falha crescem. Desta forma, desde que cada fator varie na faixa de 1 a 10, o RPN

pode variar entre os valores 1 ate 1000.

A evolucao de crescimento do RPN mostra que este nao obedece a um com-

portamento linear. Sendo assim, e importante notar que o valor medio do RPN, que

corresponde a uma situacao intermediaria de cada um dos fatores S, O e D, e 125 e

nao 500, esse valor corresponde ao produto S ×O ×D = 5× 5× 5 = 125.

Esta particularidade do RPN faz com que modos de falha com RPN compre-

endido no intervalo de valores 125 < RPN ≤ 1000 ja sejam considerados de alta

criticidade e que necessitam de acoes mais severas e prioritarias.

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4.2 Elaboracao da Planilha de FMEA

Uma vez tendo uma equipe direcionada a execucao da FMEA, disponibilidade

de documentos tecnicos e de suporte, o sistema alvo definido e seu diagrama de blocos

elaborado, a analise da FMEA ja dispoe de elementos suficientes para sua execucao.

A analise de FMEA se da pelo preenchimento da planilha que auxilia a es-

truturar e documentar o processo.

A planilha de FMEA e dividida em campos que contemplam cada uma das

etapas descritas na secao 4.1.3. Quaisquer outros campos a serem inseridos serao

norteados por esses.

Nesta secao sera elaborada uma planilha generica de FMEA de acordo com

as caracterısticas descritas nas etapas da Secao 4.1.3, contemplando, inclusive, a

analise de criticidade.

4.2.1 Cabecalho

O cabecalho da planilha de FMEA e particular a cada empresa que a imple-

mentar. Fundamentalmente, o cabecalho e composto da identificacao da empresa,

seu logotipo, listagem da equipe que participou do preenchimento da planilha, nome

do responsavel pela equipe, espaco para assinatura de aprovacao.

Para registro da planilha, e importante haver lacunas para preenchimento de

data de execucao, data em que foi feita a ultima revisao da planilha e um espaco

para indicacao da pagina.

Informacoes e conteudos adicionais podem ser inseridos de acordo com o perfil

e necessidade da empresa na qual a FMEA esta sendo executada.

Um cabecalho generico que contem esses itens basicos e como o mostrado na

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Tabela 4.4.

Tabela 4.4: Cabecalho da planilha

4.2.2 Definicao do Sistema

Juntamente ao cabecalho, deve haver um local na planilha dedicado a iden-

tificacao do sistema que sera alvo da FMEA.

Para complementar a definicao do sistema que sera objeto da analise de

FMEA, e importante tambem alocar um espaco na planilha onde possa ser indicada

a localizacao fısica do item a fim de ter uma identificacao mais rica e precisa.

Para finalizar, e com o objetivo de facilitar na futura identificacao dos modos

de falha especıficos das atividades do item, e preciso reservar um campo onde se

possa fazer a descricao funcional que, por sua vez, deve trazer uma narrativa sobre

o modo de operacao, sua funcao, grau de importancia e qualquer outra caracterıstica

que ajude a definir o sistema.

Para o preenchimento dessas informacoes na planilha, um modelo de campos

e dado na Tabela 4.5.

Tabela 4.5: Definicao do sistema na planilha

Subsistema: Localização:

Descrição:

LOGOÚltimaRevisão:

__/__/__Equipe: Responsável: Aprovadopor:

Sistema:

E importante que o preenchimento desses campos seja feito numa linguagem

simples, de facil entendimento e uso comum entre todos os membros da equipe. E

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valido o uso de jargoes e de outros termos difundidos do meio organizacional do

sistema.

4.2.3 Listagem dos Modos de Falha e Seus Efeitos

Para listar os modos de falha e necessario, antes, separar os itens que compoem

o sistema indicando seu nome e funcao, e a que parte do sistema este item pertence.

Desta forma, o sistema e divido em ‘pedacos’, facilitando a identificacao dos possıveis

modos de falha de acordo com cada item.

De acordo com o descrito na secao 4.1.3.4, para listar os modos de falha, seus

respectivos efeitos e as causas que lhes deram origem, sao necessarios tres campos

na planilha para segrega-los e lista-los individualmente.

Desta forma, a Tabela 4.6 mostra como seria a estrutura desses campos em

uma planilha de FMEA.

Tabela 4.6: Modos de falha na planilha

NomedoItem

FunçãodoItem Subsistema Falha MododeFalha EfeitodaFalha MeiosdeDetecção

1

2

3

Descrição:

IdentificaçãodasPossíveisFalhaseModosdeFalhaIdentificação

Na proposta generica da tabela 4.6 ha, ainda, o campo Meios de Deteccao.

Este campo tem a funcao de fazer com que a equipe liste os meios que ela dispoe para

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poder identificar a ocorrencia modo de falha. Caso nao existam meios de deteccao

a disposicao, este campo pode ser suprimido.

4.2.4 Calculo do RPN

Seguindo as escalas de analise de criticidade propostas na secao 4.1.5, para

cada item listado na FMEA, juntamente de seu respectivo modo de falha, deve ser

atribuıdo um valor de RPN que e formado atraves dos graus de Severidade (S),

Ocorrencia (O) e Deteccao (D) que lhes sao atribuıdos.

Seguindo essas necessidades, os campos para S, O e D e para o valor resultante

de RPN podem ser colocados na planilha da maneira como mostrada na Tabela 4.7.

Tabela 4.7: RPN na planilha

MeiosdeDetecção S O D RPN

ÍndicesIdentificaçãodasPossíveisFalhaseModosdeFalha

Descrição:

4.2.5 Tomada de Acao

Por fim, no preenchimento da planilha de FMEA e necessaria a colocacao

de um campo dedicado a tomada de acao para cada modo de falha elencado nos

campos anteriores. O campo de tomada de acao e conforme mostrado na Tabela

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4.8.

Tabela 4.8: Tomada de acao na planilha

RPN

Índices AçõesCorretivas

e/ouPreventivas

Descrição:

4.2.6 A Planilha de FMEA

Unindo-se as Tabelas 4.4 a 4.8, e formada a planilha completa da FMEA,

mostrada na Tabela 4.9.

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Tabela 4.9: A planilha de FMEA

Nomedo

Item

FunçãodoIte

mSubsistema

Falha

MododeFalha

Efeito

daFalha

MeiosdeDetecção

SO

DRPN

12345

Subsistema:

Localização:

Descrição:

Página__de__.

Data:__/__/__

Últim

aRevisão:

__/__/__

NomedaEmpresa

Equipe:

Responsável:

Aprovadopor:

Sistema:

PlanilhadeFMEA

LOGO

ÍndicesAções

Corre

tivas

e/ou

Preventiv

as

IdentificaçãodasPossíveisFalhaseModosdeFalha

Identificação

80

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4.3 Exemplo de Aplicacao da FMEA

Tabela 4.10: FMEA de um Transformador - Parte 1

Nom

e do Item

Função do ItemSubsistem

aFalha

Modo de Falha

Efeito do Modo de Falha

Meios de Detecção

SO

DRPN

Excesso de umidade no

óleo isolanteR

edução das características dielétricas

Ensaios físico-quím

icos7

39

189

Realização periódica de ensaios físicos para

acompanhar o estado de

degradação do óleo

Óleo contam

inadoElevado fator de potência

Ensaio de fator de potência

56

9270

Realização periodica de

ensaio de contaminação do

óleo isolante/ensaio de fator de potenência

Partículas em suspensão

no óleo

Redução das características

dielétricas/partículas suspensas favorecem

a condução elétrica

Ensaios laboratoriais5

37

105R

ealização periódica de exam

es laboratoriais

Dissipar o calor gerado pela

operação do trafoR

efrigeração

Redução da capacidade

de refrigeração/dissipação

de calor

Baixo índice de

viscosidade/fluidez do óleo isolante

Refrigeração insuficiente,

consequente sobreaquecim

ento

Ensaios de viscosidade

35

7105

Ensaios de viscosidade do instalação de term

ômetro

Curto-circuito dos contatos do relé

Os contatos do relé se

fecham no m

omento errado,

indicando o alarme

indevidamente

Não é detectado

82

9144

Verificar o circuito elétrico

nas rotinas de manutenção

Contatos inoperantes

Os contatos do bulbo de

mercúrio não se fecham

, não indicando o alarm

e de falha

Não é detectado

92

9162

Ensaior de funcionalidade nas rotinas de m

anutenção

Curto-circuito dos contatos do relé

Os contatos do relé se

fecham no m

omento errado,

indicando o alarme

indevidamente

Não é detectado

82

9144

Verificar o circuito elétrico

nas rotinas de manutenção

Subsistema: considerando todo o equipam

entoLocalização: Subestação 220V do Sub-solo

Descrição: Transformador de potência destinado a abaixar nível de tensão de 13,8kV para 220V.

Página __ de __.

Data: __/__/__

Últim

a Revisão: __/__/__

Nom

e da Empresa

Equipe: Responsável:

Aprovado por:

Sistema: Transform

ador de Potência 1000kVA

Planilha de FMEA

LOGO

ÍndicesAções Corretivas e/ou

Preventivas

Identificação das Possíveis Falhas e Modos de Falha

Identificação

Não detecta a falha

Detectar falhas internas que

formem

gases

Relé de G

ás Tipo B

uchholz2

Detectar falhas internas que

causam elevação do fluxo de óleo

Não detecta a falha

Monitoração

IsolaçãoR

edução da capacidade de isolam

ento elétricoIsolam

ento entre elementos

condutores

leo isolante

81

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Tabela 4.11: FMEA de um Transformador - Parte 2

Nom

e do Item

Função do ItemSubsistem

aFalha

Modo de Falha

Efeito do Modo de Falha

Meios de Detecção

SO

DRPN

Contatos inoperantes

Não desligam

ento do transform

ador em caso de

vazamento.

Não é detectado

83

9216

Ensaios de resistenica de isolam

ento dos contatos

Problema no

funcionamento do

indicador

As variações no nível de

óleo não são percebidasN

ão é detectado5

39

135Ensaio de funcionalidade

do indicador com im

ã

Oxidação interna da

buchaA

quecimento local

Não é detectado

63

9162

Inspeção termográfica

Sobrecarga contínuaSobreaquecim

ento e desgaste m

ecânico (redução do tem

po de vida)

Não há controle de carga atualm

ente4

59

180Inspeção term

ográfica

5Tanque

/Conservador

Arm

azenar o óleo isolante e a parte ativa

xIncapacidade de m

anter o arm

azenamento do

óleo isolanteC

orrosão nas paredesV

azamentos

Visualizações

eventuais pelo corpo de m

anutenção8

23

48Inserir inspeções visuais

mais detalhadas nas rotinas

de operação e manutenção

Sobrecarga contínuaSobreaquecim

ento e desgaste m

ecânico (redução do tem

po de vida)

Não há controle de carga atualm

ente9

75

315M

onitoramento da carga e

monitoram

ento termográfico

Curto-circuito entre os

espirasPerda de potência

Redução no nível de

potência transferida pelo trafo

64

372

Realização de teste de

resistência estática do enrolam

ento

Redução do isolam

ento elétrico

Poluição excessiva na supercície

Reduz isolam

ento/favorece ocorrência de arco elétrico

Visualizações

eventuais pelo corpo de m

anutenção5

73

105Inserir inspeções visuais

mais detalhadas nas rotinas

de operação e manutenção

Perda do isolamento

elétricoIsolador com

estrutura danificada (quebrado)

Perda do isolamento/arco

elétrico

Visualizações

eventuais pelo corpo de m

anutenção9

23

54Inserir inspeções visuais

mais detalhadas nas rotinas

de operação e manutenção

Isoladores de porcelana

7Isolação

Fornecer isolamento elétrico para

a carcaça

Alterações na condução

de corrente/características

da corrente

Com

ponentes condutores

Interligar os componentes ativos

internos e os sistemas elétricos

externos a um

transformador/conduzir corrente

elétrica

Buchas

46Enrolam

entosC

onduzir corrente elétrica no nível desejado

Com

ponentes condutores

internos

Alterações na condução

de corrente/características

da corrente

ÍndicesAções Corretivas e/ou

Preventivas

Identificação das Possíveis Falhas e Modos de Falha

Identificação

Indicador M

agnético de N

ível de Óleo

Indicar o nível de líquido no tanque, conservador e outros

compartim

entos do transform

ador.

Monitoração

Indica o nível errado3

82

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Tabela 4.12: FMEA de um Transformador - Parte 3

Nom

e do Item

Função do ItemSubsistem

aFalha

Modo de Falha

Efeito do Modo de Falha

Meios de Detecção

SO

DRPN

Oxidação das lâm

inasSobreaquecim

ento no local (redução do tem

po de vida)N

ão é detectado9

29

162

Curto-circuito nas

lâminas do núcleo

Perda de eficiência devido a correntes parasitas

Não é detectado

92

9162

10R

adiadorA

umentar a área de dissipação de

calor para auxiliar no controle de tem

peraturaR

efrigeraçãoA

temperatura não está

sendo controlada com

eficiência

Aletas

obstruídas/válvulas obstruídas

Elevação da temperatura

Inspeção termográfica

51

630

Não necessário

Excesso de umidade

Favorece a ocorrência de arco elétrico

Não há atualm

ente8

48

256Execução de testes de um

idade nas rotinas de m

anutenção

Degradação pelo

envelhecimento do

papel

Favorece a ocorrência de arco elétrico

Não há atualm

ente8

48

256

Medição e o

acompanham

ento do GP

(grau de polimerização) do

papel isolante

Oxidação do papel

Favorece a ocorrência de arco elétrico

Não há atualm

ente8

48

256

Determ

inação das concentrações dos óxidos de

carbono dissolvidos no líquido dielétrico

Não é m

ais capaz de secar o ar

A Silica-G

el adquire coloração rosada

9Secador de ar

(tubo de Silica-G

el)

Secar o ar aspirado que flui ao transform

adorx

A Silica-G

el saturada (já está im

pregnada de um

idade)

Favorece acúmulo de

umidade no interior do transform

ador

Indução abaixo do nível requerido (perda de

eficiencia)

Monitoram

ento de condição através de crom

atografia gasosa e análise de furano

8N

úcleo m

agnético

Indução de corrente entre os term

inais do trafo, confinar o fluxo m

agnético (não favorecendo correntes parasitas,

dispersão de campo)

Com

ponentes m

agnéticos

ÍndicesAções Corretivas e/ou

Preventivas

Identificação das Possíveis Falhas e Modos de Falha

Identificação

11Papel isolante

Isolamento interno de

componentes

IsolaçãoR

edução da capacidade de isolam

ento elétrico

12

Termôm

etro indicador de

temperatura do

óleo isolante

Erro de aferição

Não dispara alarm

e

Aferir/acom

panhar a temperatura

do óleo isolanteR

efrigeração/monitoração

Nível de alarm

e desajustado

Transformador operar em

tem

peratura elevado por longo tem

po/redução do tem

po de vida

Não há atualm

ente7

38

168V

erificar nível de alarme nas

mantenção/se necessário,

ajustá-lo

Executar ensaio de aferição96

43

8N

ão há atualmente

Transformador operar em

tem

peratura elevado por longo tem

po/redução do tem

po de vida

Erro de parametrização

54

120

Recuperação da Silica-G

el

83

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Capıtulo 5

Conclusao

Este trabalho apresentou os principais e mais importantes conceitos de ma-

nutencao e confiabilidade. No decorrer do capıtulo 2, Revisao Bibliografica e Base

Teorica, discorreu-se desde o conceito basico da confiabilidade ate as principais

equacoes matematicas que regem os estudos quantitativos de confiabilidade. Di-

recionando, assim, ao tema do qual a confiabilidade se deriva, a manutencao.

Para isso, foram apresentados os principais conceitos que englobam o assunto

manutencao e fazem o link com a teoria da confiabilidade, estes sao: o conceito de

manutencao em si, a manutencao corretiva, preventiva e ‘preditiva’, as falhas e seus

tipos e a Manutencao Centrada em Confiabilidade.

A secao 2.7, ao tratar da MCC, indicou - atraves da tabela 2.5 - a ela-

boracao da FMEA como metodo para identificacao dos modos de falha, seus efeitos

e consequencias. Para aprofundar esse desenvolvimento, o capıtulo 4 tratou especi-

ficamente da FMEA, dissertando sobre sua finalidade e seus benefıcios juntamente

dos conceitos e etapas fundamentais para elaborar, organizar, prepara-la e tambem

um exemplo de FMEA aplicada a um transformador.

Todo o texto produzido, podera servir como referencia basica para futuros

trabalhos academicos, trabalhos de fim de curso e disciplinas de graduacao pois

84

Page 98: CONFIABILIDADE E MANUTENC˘AO: UM ESTUDO SOBRE A~ … · confiabilidade e manutenc˘ao: um estudo sobre a~ tecnica da fmea renan lombardo ferreira garrido projeto de graduac˘ao submetido

trouxe os conceitos de confiabilidade e manutencao embasados na principal literatura

disponıvel.

Alem disso, este trabalho apresentou a nıvel de graduacao conhecimentos

de manutencao e de confiabilidade que, atualmente, nao estao inseridos na quase

totalidade das disciplinas ofertadas pelo Departamento de Engenharia Eletrica da

UFRJ.

85

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[5] The Oxford English Dictionary, Oxford University Press, 1933.

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temas eletricos: uma proposta para uso de analise de risco no diagrama de

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86

Page 100: CONFIABILIDADE E MANUTENC˘AO: UM ESTUDO SOBRE A~ … · confiabilidade e manutenc˘ao: um estudo sobre a~ tecnica da fmea renan lombardo ferreira garrido projeto de graduac˘ao submetido

[10] TAVARES, L. A., Administracao Moderna da Manutencao, Rio de Janeiro:

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[11] XENOS, H. G., Gerenciando a Manutencao Produtiva, Belo Horizonte: Editora

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[12] MIRSHAWKA, V., Manutencao Preditiva - Caminho para Zero Defeitos, Sao

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[15] SILVA, E. L. D. et al., Metodologia da pesquisa e elaboracao de dissertacao, 3.

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[16] GIL, A. C., Como elaborar projetos de pesquisa, volume 5, 1999.

[17] VERGARA, S. C., Metodos de pesquisa em administracao, Atlas, 2003.

[18] Military Standard, MIL-STD-785: Reliability Programs for Systems and Equip-

ment Development and Production.

87