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hermelindo fiaminghi CONEXÃO ARTES VISUAIS APRESENTA

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hermelindo fiaminghi

CONEXÃO ARTES VISUAIS APRESENTA

hermelindo fiaminghi

Guilherme Bueno

fundação de ar te de niterói / fan /mac de niterói1ª edição, 2010

O Conexão Artes Visuais possibilita a artistas, curadores, pesquisadores e especta-

dores participar de uma grande rede de troca de ideias e experiências no campo das

artes visuais. O programa – realizado pela Funarte com patrocínio da Petrobras, por

meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – já se disseminou por todo o Brasil, al-

cançando grandes centros urbanos e municípios menores.

Em 2010, os trinta projetos viabilizados pela segunda edição do programa amplia-

ram esse intercâmbio. Dois dos proponentes contemplados publicaram seu próprio

edital para convocar propostas de todo o país, uma novidade que torna o Conexão

ainda mais democrático. Quarenta cidades brasileiras recebem exposições, inter-

venções, oficinas e debates. Além disso, livros e websites reúnem textos críticos e

acervos artísticos, de forma a fomentar a documentação e a reflexão.

Esse conjunto reflete a diversidade de linguagens hoje presente nas artes visuais,

da fotografia ao grafite, da videoarte à instalação. Os artistas e produtores contem-

plados promovem eventos de caráter performático, ações de difusão da cultura digi-

tal, pesquisas que integram arte e ciência, além de atividades que fazem circular bens

culturais e seus criadores por diversas regiões do país. As ações são registradas pelos

proponentes em textos, fotos e vídeos. O material abastece o site do Conexão e servirá

de base para a produção de um catálogo, o que garante a difusão dos resultados para

um público ainda mais abrangente.

A primeira edição do programa viabilizou, em 2008, cerca de 300 atividades, ofe-

recidas gratuitamente a mais de 80 mil pessoas, em 42 cidades. Para nós é um grato

prazer saber que muitos desses projetos continuam a evoluir, incentivando o trabalho

de outros artistas e atraindo novos públicos para as artes. Esperamos que o Artistas

Brasileiros – Monografias de Bolso siga essa trilha de sucesso, propiciando cada vez

mais olhares diversos para as artes visuais no Brasil.

Rio de Janeiro, 10 de agosto de 2010

Sérgio Mamberti (presidente da Funarte)

Virtual 55/78, circa 1970têmpera sobre tela79 x 79 cm

D i s t R i bu i ç ão g R at u i ta , p Ro i b i Da a v en Da .

Bueno, Guilherme. Hermelindo Fiaminghi / Guilherme Bueno; revisão e tradução Renato Rezende. – 1. ed. – Niterói : Museu de Arte Contemporânea de Niterói, 2010. 32 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-63334-02-2

1. Artes plásticas. 2. Escultura. I. Título.

CDD 730.981

Catalogação na publicação : alan Luiz e silva Ramos

bibliotecário CRb /7 nº 5718

Quando Hermelindo Fiaminghi (São Paulo, 1920-2004) inicia-se na

pintura, a modernidade brasileira já podia ser considerada um fato

consumado. É claro que o academicismo ainda ocupava uma posição

capaz de empatar o caminho dela. Contudo, deve se ressaltar desde tal

momento a possibilidade de um artista dispor da chance de, mesmo

de modo empírico e, em parte precário, ter uma formação completa-

mente moderna. Na metade final dos anos 1930, época em que Fia-

minghi divide seu tempo entre o trabalho como artista gráfico e as

aulas com Waldemar da Costa, o Brasil estava em sua, no mínimo, se-

gunda geração modernista.

De certo modo, esta experiência profissional dupla se manifesta

naqueles trabalhos realizados pelo artista a partir dos anos 1950,

constituintes de sua obra madura. Nesta década Fiaminghi participará

do grupo concretista Ruptura, de São Paulo (liderado por Waldemar

Cordeiro), um dos responsáveis pela afirmação definitiva da arte abs-

trata no país e dínamo transformador da poesia. Fiaminghi, além de

partir para uma pintura baseada em formas geométricas e cores cha-

padas, irá colaborar com os poetas Décio Pignatri, Augusto e Heroldo

de Campos, desenhando uma das capas da revista Noigandres (difu-

sora das ideias e obras poéticas concretistas), parceira esta que perdu-

rará anos após a dissolução do movimento na década seguinte.

hermelindo fiaminghi nas coleções joão sattamini e mac-niterói

Guilherme Bueno

cor luz nº 1, circa 1980têmpera sobre tela100 x 100 cm

propagandista mundial da arte concreta), com seu valor, assim

como o das formas geométricas, absolutamente autônomo – isto é,

não mais derivado ou adaptado de nenhuma referência figurativa

da natureza – mas também em deixa de sugerir uma estrutura de

claro-escuro , de uma cor submetida a uma escala de cinzas e de

passagens graduais de tom pensadas para organizar a sensação de

retícula – luz nº 3, 1961óleo sobre tela85,5 x 85,5 cm

Sem título, Sem datatêmpera sobre tela79 x 79 cm

concreto nº 1, 1960óleo sobre tela54 x 64,9 cm

concreto nº 2, 1960óleo sobre tela58,3 x 60 cm

Quando dissemos que Fiaminghi traz para sua obra elementos de

sua vivência como artista gráfico para a pintura, podemos identificar

isto da seguinte maneira: em conformidade com outros de seus

colegas, ele promove uma transformação decisiva no significado na

cor na pintura moderna brasileira. A cor moderna ali explorada toma

por referência não apenas as ideias de Max Bill (patrono e grande

formação de um novo conceito de espaço na pintura. Ao aplainar

as já bidimensionais formas geométricas, sua pintura, seguindo uma

via aberta na primeira metade do século por artistas como Mondrian

(por exemplo), praticamente cancelavam a relação figura-fundo, ao

menos no que ela servia como eixo para distribuir os planos hierar-

quicamente entre aqueles mais próximos e os mais “distantes” da

superfície. Seus Virtuais deixam isto claro, não só por fazer o es-

quema modular inspirado no triângulo igualar as partes de cima e

baixo e as laterais (fazendo, no entanto, com que percebamos for-

mas iguais como assimétricas e diferentes), como obrigando o es-

pectador a reorganizar a cada vista sua percepção, no momento

em que ela oscila entre as silhuetas planas e a sugestão de um cubo

vazado. Tal organização compositiva difere substantivamente da-

particularidade é não sabermos quando

estão em pé ou de cabeça para baixo (to-

mando, mais uma vez o losango central

como uma de suas superfícies). Aqui resi-

de um dos valores centrais da pintura mo-

derna: um objeto será percebido de modos

diferentes conforme o olhamos, quebran-

do assim uma visão estática em prol de

outra cujo ponto de vista é sempre dinâ-

mico. Mas nisso se patenteia outra ques-

tão: a de uma pintura que, exatamente no

oscilar de percepções de sua composição,

quebra a unidade seqüencial de figura e

fundo que organizara a pintura desde o

Renascimento e vinha passo a passo sen-

do reinventada pela pintura moderna.

Virtual i, circa 1958tinta esmalte sobre aglomerado (eucatex)53,5 x 54 cm

profundidade. Em Fiaminghi a cor segue o mesmo sentido de seus

antecessores modernistas, procurando colocar-se da superfície da

tela para fora (direção contrária àquela da janela renascentista).

Porém, ao menos no que diz respeito aos trabalhos dos anos 1950,

ela deixa de lado aquela “pictorialidade”, em outras palavras, a

presença da fatura, da “mão do artista”, a favor de um tratamento

uniforme afim àquele ao qual ela era submetida na indústria gráfica.

Vale notar, entrementes, como ao longo do tempo, o artista execu-

tará a manobra recíproca, levando para sua produção de designer,

gravador e artista gráfico uma série de recursos extraídos da pintura,

motivados, sobretudo por sua teoria da corluz.

Um outro ponto notado em suas obras concretistas é, partindo

de sua estrutura compositiva, o modo como elas participam da

Virtual é exemplar do compromisso da

arte concreta em simplificar as formas,

crendo nisso explicitar sua potência. A es-

trutura da obra é a mais sucinta possível:

contraste entre duas cores opostas (preto

e branco), uma figura exercendo a função

de módulo (o triângulo eqüilá tero). O que

Fiaminghi demonstra a partir disso, con-

tudo, é a capacidade destes elementos

acionarem uma percepção bem mais com-

plexa do que a simples interpretação lite-

rária da pintura. O problema da arte

abstrata sempre passou menos pelo o quê

se vê, do que por como ver. As formas ele-

mentares são decisivas nisto, pois indica-

riam o instrumental fundador de nossa

concepção de espaço; seria através delas

que conseguiríamos discernir as coisas,

elas são o esquele to da percepção. Virtu-

al tira partido exatamente do processo de

organizar planos e a relação entre as for-

mas. De início os triângulos e losangos

despontam para todos os lados. Uma sim-

ples rotação ou inversão das formas (como

entre os losangos pretos e o branco ao

centro) produzem significados visuais di-

ferentes, não os vemos como idênticos à

primeira vista, tudo por conta de uma mera

rotação. Tal como só em uma segunda e

terceira visadas percebemos que estas for-

mas planas sugerem cubos vazados, de

uma profundidade ironicamente nula, cuja

boa parte dos desdobramentos da obra dos principais artistas de

origem concretista no Brasil trilhara o caminho da experimentação

de novas linguagens. Não menos importante foi sua receptividade

a técnicas tão diversas como o esmalte industrial e a têmpera (uma

das técnicas das mais tradicionais, cujo interesse era alimentado por

sua amizade com Volpi), o que, ao invés de significar um “retorno à

ordem” ou mero atavismo da pintura, pode antes ser visto como

uma pesquisa sistemática da cor, examinando sua força comunica-

tiva e seus recursos quando submetida a diferentes situações, como,

por exemplo, a construção de uma veladura em óleo, em têmpera

ou na gravura, a divisão da cor em partículas, seu comportamento

quando submetida a gestuais diversos. Neste sentido, não deixa de

ser significativo pensar o que é este pintor moderno que precisa

“reaprender” a pintar depois do novo sentido da cor aberto justa-

mente por ele, assim como em lembrar que esta mesma relação

Virtual Vi, circa 1958esmalte sintético sobre aglomerado (eucatex)50,1 x 50,1 cm

Virtual nº 7, 1958esmalte sobre aglomerado (eucatex)49,9 x 35,1 cm

Virtual XXi, circa 1970têmpera sobre tela70,5 x 70,5 cm

quela de nossa pintura anterior aos anos 1950, na qual, apesar de

tudo, ainda predominava na apresentação de motivos figurativos

tanto uma ordem de importância do tema representado quanto de

seu “enclaustro” nos limites da moldura. Dito de outro modo, esta

nova pintura moderna traz na determinação de seu espaço dois

novos elementos: uma continuidade e coincidência entre espaços

interno e externo da obra e o anúncio de uma presença “objetual”

da mesma, a saber, sua tendência senão a sair (pelo menos no caso

de Fiaminghi), de ficar à beira de transbordar do plano virtual da

tela para aquele do “real”, algo que pode ser constatado, seja na

sua pintura ou na de colegas como Lothar Charoux, mais do que na

supressão da moldura, no prosseguimento da pintura pelas suas

laterais e/ou no avanço do suporte, que incorpora uma espessura

do chassi que a faz literalmente sair da parede.

A particularidade de Fiaminghi em seus trabalhos feitos dos anos

1960 em diante foi sua opção em prosseguir com a pintura, quando

corporeidade tão viva quanto as tintas

industriais. Não se pode ainda deixar de

imaginar seu fascínio com uma técnica

que rememorava suas origens italianas.

Porém, se quisermos nos ater ao que ela

significa plasticamente, podemos teste-

munhar em Virtual: logo de início há o

problema pictórico de produzir veladu-

ras com uma tinta hostil a dissolução e

sobreposições. E aqui Fiaminghi realiza

uma solução dupla. Se a têmpera pre-

serva sua solidez (além de ser tratada de

forma lisa, sem marcas de pincel, quase

como se testando como é aplicar o tra-

tamento de uma tinta mais rija – como o

óleo – em outra mais líquida), os vários

planos justapostos criam a sensação visual

de transparências, com uma estrutura de

quadrados que parece avançar do “fun-

do” claro para a frente. Mais uma vez o

jogo das figuras geométricas, tanto pela

progressão dos quadrados quanto pelos

triângulos apontando para fora, sugerem

a sensação de um quadro que avança per-

manecendo, contudo, em si mesmo, ou

seja, no seu plano extenso e uniforme da

superfície da tela, valendo-se agora, no

caso, deste uso da cor que, no conjun-

to, indica uma passagem tonal, mas, na

sua materialidade, ratifica a individuali-

dade de cada uma de suas partes, afora

explorar a luminosidade não apenas da

cor saturada, mas também de seus “cin-

zas”, fazendo com que estes deixem de

funcionar tão somente como zonas in-

termediárias, subalternas, secundárias.

Virtual, 1955/ 1978 A parte da série

Virtual feita a têmpera aponta para uma

outra abordagem pictórica das questões

relativas à profundidade do espaço com-

positivo e pictórico examinado pela arte

concreta. Apesar de parecer contraditó-

rio trazer para a pintura do segundo pós-

guerra, ao menos no Brasil tão afeita a

novos materiais, uma das técnicas mais

antigas (Volpi, nos anos 1950, já certifi-

cara não haver problema nenhum nisso),

Fiaminghi – para além do valor artesanal

propriamente ditos – atesta nela uma

qualidade especial: a têmpera é tão “su-

perficial”, tão direta e tão sólida quanto,

por exemplo, o esmalte industrial. Com

a diferença de ser uma tinta mais opaca,

mas por conta disto, de ser dotada de uma

Virtual nº 11, circa 1970têmpera sobre tela79,5 x 79,5 cm

Virtual nº 12, circa 1970têmpera sobre tela79 x 79 cm

Virtual nº 13, circa 1970têmpera sobre tela79 x 79 cm

Virtual nº 14, circa 1970têmpera sobre tecido70,3 x 70,3 cm

tografia e a serigrafia. Quanto a isto, podemos traçar a mesma

conclusão acima apresentada quanto ao vínculo entre cor, valor

formal e técnica. Igualmente no que diz respeito à investida em

trazer para o universo da arte técnicas industriais. O que podemos

acrescentar a isto são duas coisas: a primeira é perceber que algu-

mas destas gravuras são como “duplos” de suas pinturas. Não

exata ou necessariamente réplicas, mas indicações de como a cor

“acontece” de maneira própria em diferentes meios, não obstante

respeitar às vezes a mesma composição. Ou seja, o artista a um só

tempo expõe o quanto, por um lado, a cor e a forma se interdepen-

em título (azul, Verde, laranja), década de 90litograFia40 x 61 cm

corluz (azul, Verde, laranja), década de 90litograFia43 x 65 cm

Sem título (azul, Verde, laranja), década de 90litograFia40 x 61 cm

corluz (azul, Verde, laranja), década de 90litograFia43 x 65 cm

entre cor, vibração, forma e movimento seria patente em outras de

suas realizações como designer, como na capa que desenha para o

livro Xadrez de Estrelas, de Haroldo de Campos ou em uma coleção

de vestidos criada nos anos 1960.

Nas coleções do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, além

do conjunto de pinturas feitas entre os anos 1950 e 1970 (perten-

centes à Coleção João Sattamini), uma série de gravuras dos anos

1970 em diante complementam o perfil do artista. Do mesmo modo

como Fiaminghi na pintura lançou mão de diferentes técnicas, algo

similar se testemunha em sua produção gráfica, que emprega a li-

dem para existir, mas também o quanto elas têm propriedades e

identidades próprias, ao mudarem suas coordenadas. Quando o

artista lançara a corluz, retornava a um problema percorrido pela

arte moderna desde o Impressionismo (o fim do conceito de “cor

local”, a saber, da cor como um atributo inato do objeto e, por

extensão, imutável), acrescentando-lhe, porém, a visão própria de

que a cor está intimamente ligada a sua consistência material (um

vermelho, apesar de seu pigmento de base, não é o mesmo no óleo,

na têmpera, na tinta litográfica ou sergiráfica), ela tem um “corpo”.

tamento parecendo semelhante, quan-

do se mudam a escala a o domínio do

gesto da mão, que reage a seu modo na

tela e no papel.

Em ambos há uma afinidade com o

interesse do artista por retículas (presen-

te em outras obras), que condizem com

a duplicidade da cor ser ela, ser transpa-

rência e, com isso, gerar outras cores.

Mas o que a retícula tem de “neutra”

em sua padronização, o grafismo de

Fiaminghi tem de marcante. Não tan-

to por ele constituir um grafismo, uma

“assinatura”, e sim, por criar mais uma

vez um plano que, na sua transparência/

veladura, confere a composição uma es-

trutura de planos na qual todos eles se

fundem, ainda que conservando a pecu-

liar duplicidade de terem valor próprio

e pertencerem a um conjunto maior.

cor luz nº 6, circa 1970têmpera sobre tela69,5 x 69,5 cm

Sem título (cinza, laranja, Vermelho), década de 90litograFia40 x 61 cm

Corluz. Temos dois exemplos que, vis-

tos lado a lado, indicam como Fiaminghi

examinou a cor dissecando sua estrutu-

ra material e constitutiva. Em um caso

ela acontece na pintura. Digno de nota

é como o artista conseguiu obter um

“gestual” na têmpera contrastante com

os pontos de cor ou os planos mais ex-

tensos, obtendo dele uma transparência.

Simetricamente, como a mesma estrutu-

ra responde na litografia. Tal diferença

de “reações” da cor e da forma indicam

como o valor ativo destas ultrapassa uma

mera configuração da figura para indi-

car que sua diferença de presença em

cada uma desta situações equivale a uma

diferença de valor comunicativo. Resu-

midamente, uma coisa é o vermelho grá-

fico e outra é o pictórico, sem esquecer

do quanto eles se diferem, mesmo o tra-

retícula corluz, circa 1985têmpera sobre tela70 x 70 cm

now tree (co-autoria com décio Pignatari), 1996litograFia46 x 68 cm

From iSSa (co-autoria com décio Pignatari), 1976litograFia40 x 60 cm

elementares. Ainda que só possamos falar por suposição, é como

se nestes trabalhos observássemos simultaneamente o nascimento

conjunto e cúmplice entre palavra e imagem, ambas brotando fra-

ternas no papel. Now tree. Now sun. Agorarte, como aliás sempre

foi na obra de Fiaminghi.

interessa aqui dirimir se ele é poesia ou

artes plásticas – mais interessante vê-lo

como as duas coisas ao mesmo tempo –

e sim notar como a forma visual e a forma

escrita nascem conjuntas como experiên-

cias de invenção poética, ou seja, mo-

mento em que a forma e a palavra passam

a significar, a conferir sentido às coisas.

O agorasol da cor (perdoada esta “tra-

dução” simplista) parece falar da mesma

luminosidade solar trazida pela poesia e

pela arte, que encontra seu correspon-

dente no intenso branco irradiado do pa-

pel. O branco aqui não é fundo. Ele é

assumido como cor, parelho aos azuis e

verdes, parecendo mesmo irromper e abrir

espaço entre elas, tirando-a da morosi-

dade de simples “suporte” do desenho.

Nowsun (Hermelindo Fiaminghi e Décio Pignatari). Nos anos 1950

a arte e a poesia concreta colocaram à

prova os limites entre texto e imagem.

Ao contrário de antes, quando um mui-

tas vezes se postava como ilustração do

outro (não só na arte acadêmica, mas

mesmo no primeiro modernismo brasi-

leiro), o concretismo percebeu o sentido

visual da palavra, ao assumir a diagrama-

ção como um fator substancial do texto.

O mesmo se pode dizer, no campo das

artes gráficas, com o uso plástico da pala-

vra como uma forma, transformando de-

finitivamente a história de nosso design.

Este trabalho, fruto da parceira entre

Fiaminghi e Pignatari partilha do mesmo

espírito animador do concretismo. Pouco

A segunda observação relativa à obra gráfica concerne os traba-

lhos em parceria com Décio Pignatari. Neles o jogo entre cor e forma

se junta à poesia, de modo que, no melhor espírito das correspondên-

cias, as partes se alimentam reciprocamente. Aqui poderíamos rever

a motivação desde sempre presente na arte concreta pelas formas

now Sun (co-autoria com décio Pignatari), 1996litograFia46 x 57 cm

O controle dos equipamentos e materiais gráficos não só permitiram bem como conduziram-me ao controle sensível dos acasos ali produzidos, — era o fenômeno da percepção livre e mutável e com uma freqüência de comunicação intermitente.

A transparência das cores, a fusão e difusão da retícula pela incidência de luz, são para mim coisas com percepção ótica, sensíveis, — comunicam-se.A obra assim realizadas evolui em si e pertence a si mesma, sua comunicação visual, — é ótica assim como o é as mutações intermitentes da luz do sol que incide sobre os corpos da paisagem.

Hermelindo Fiaminghi, 1966

(in: Pesquisadores de Artes Visuais. São Paulo: Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo)

Ser moderno ou antigo,

não é minha preocupação.

Ser novo também.Como pertencer ao meu tempo:

— SimÉ um drama que evolui, propõe-se

dramatiza-se.A percepção das coisas, e as coisas

com percepção, envolvem-me:

— desenvolvem-me.Estar atualizado

não é o principal, não é importante

quando comunicar-se é o sensível.

As artes gráficas ofereceram-se e influíram-me

quando pesquisava efeitos de retícula,

cor-luz artesanalmente (6ª Bienal 1961).

corluz (roSa), 1974oFF-set41 x 41 cm

corluz (laranja), década de 90oFF-set41 x 41 cm

ras levando em seu rastro o nosso olhar,

distendendo seu horizonte, fazendo-o es-

capar da concentricidade das pinceladas.

Este, por exemplo, é o caso do jogo dos

pequenos círculos regulares que, não bas-

tassem estarem cindidos ao meio, foram

remontados em posições desencontradas

com outros semicírculos. Dois fatores con-

correm para a ampliação da sensação de

movimento, heranças do tempo em que

o nosso artista afinava-se com o concre-

tismo: o impulso inútil do nosso olho em

recompor a unidade da figura geométrica,

e o fato de que cada cor, face a sua natu-

reza mais ou menos expansiva, ocupa com

a luz que ela despeja para fora de si uma

porção de espaço diferenciada.

Pela luz, cor forma e pincelada, tudo

nessas pinturas é uma incitação ao de-

vaneio e à instabilidade, ainda que seja

uma incitação feita em tom lírico, como se

fora soprado. Os olhos deambulam soltos

da direita para a esquerda, de cima para

baixo, pelas bordas das figuras geométri-

cas ou das árvores e linhas do horizonte

vagamente sugeridas ou mesmo ao sa-

bor das linhas de força que atravessam

as telas em inclinações variáveis. Eventu-

almente o percurso dos olhos pode ser

mais intimista, retraído: deslizando so-

bre ranhuras de uma pincelada ou desa-

celerando vagar até beirar a imobilidade

sugerida por uma forma enrodilhada. E,

não bastassem todas essas demandas,

existem outras, quase sussurradas, pro-

venientes de camadas de tintas veladas

pelas camadas que estão à superfície. O

movimento, portanto, ocorre também em

profundidade, como uma topografia cuja

irregularidade se devesse, sobretudo, à

variação de temperatura das suas cores.

Se cada pintura de Fiaminghi possui uma

coerência plástico-formal surpreendente,

é preciso atentar para o fato de que essa

coerência, tal como confirma o cuidadoso

estudo de Isabella Cabral e A.M. Amaral

Rezende1, é resultado que o artista obtém

pelo rigor do processo por ele utilizado.

Processo que se revela somente ao olhar

atento, capaz de ultrapassar o patamar

em que toda contemplação é superficial.

Além da aparência, a pintura de Fiamin-

ghi se revela como um jogo de gestos,

um permanente esforço de construção de

uma malha faturada e quase intangível,

não obstante de ser tão real quanto tudo

que há no mundo. Algo que se constrói

pela conjura entre o desejo que se conver-

te em ação e os elementos que ele reúne

para ganhar existência física. Sendo tudo

isso, além da aparência, a pintura de Fia-

minghi não é apenas um deleite para os

olhos, mas um alimento para o espírito.

1 CABRAL, Isabella, REZENDE, A.M. Amaral. Her-melindo Fiaminghi. São Paulo: Edusp, 1998 (n.e.)

De início o que essas pinturas do mestre

Hermelindo Fiaminghi oferecem aos olhos

é a pura delícia das cores e das luzes que

elas trazem aprisionadas, luzes que, como

nos informa a predominância de atmos-

feras suaves, elas só com parcimônia libe-

ram, posto que, como logo em seguida

se nota, a delícia da aparência é só um

convite para uma viagem a estratos mais

profundos, para o âmago da pintura, onde

ela se apresenta, não como um simples

fato físico, mas como uma ideia que se

encarna pela ação de pinceladas sobre a

matéria cromática. Assim, se elas chegam

aos nossos olhos como luz e cor, com o

correr do tempo e despojado o encanto

inicial, elas se mostrarão forma e pincelada

e, por trás de tudo, a presença do pintor,

Sísifo por ofício, a desafiar o branco da

tela, incansavelmente a construir sobre

ela sua rede de fios de luzes coloridas.

Deixemo-nos levar então pela melo-

dia ininterrupta das delicadas variações

tonais de cada uma dessas pinturas, no-

temos como nelas todos os detalhes con-

tam, tem a mesma hierarquia, como se

o som se nivelasse ao silêncio, como se

nos espaços por onde passamos cotidia-

namente as coisas tivessem o mesmo va-

lor dos intervalos que existem entre elas.

Tudo conta nessas pinturas, não há um

só ponto onde o olhar repouse, pois mes-

mo quando saturado da irisdescência de

amarelo, ou da crepitação de um verme-

lho, ele busque na natureza calma de um

verde ou azul, ainda assim esses não lhe

servirão de chão estável, um porto onde

ele possa decantar e assimilar o estímulo

recebido para então voltar a sua pervaga-

ção. Em Fiaminghi, mesmo as cores mais

frias e calmas desfibram-se sob o ritmo

sincopado dos pincéis desenhando linhas

curtas e grossas, linhas que na medida em

que se vão fazendo, vão se entretecendo,

compondo uma trama que é movimenta-

da seja pelo detalhe, pela irregularidade

de cada linha, as diferenças de largura ou

mesmo da espessura da camada de tinta

utilizada, seja pelo fato do artista pensar

cada pintura como um mosaico dinâmico.

Em função das cores e pinceladas, uma

pintura pode sugerir desde os seus limites

quadrangulares um movimento de contra-

ção, voltada ao centro da tela, enquanto

dessa mesma região central pode haver uma

forma capaz de definir um vetor de senti-

do contrário, um vetor da expansão que

faz do resultado final de um jogo de forças.

Uma estratégia recorrente do artista

é a maneira de preencher a tela de tal

modo a sugerir que ela seja o resultado

da recomposição e embaralhamento de

uma outra tela executada anteriormente

e que foi recortada em tiras.

Linhas verticais e diagonais atravessam

o campo pictórico criando prismas e fissu-

Agnaldo Farias, 1998(in: Hermelindo Fiaminghi. São Paulo: Galeria Nara Roesler)

only for making the modular scheme inspired in a

triangle to equal the upper and bottom parts and

the sides (making us, however, to perceive equal

forms as asymmetric and different), but oblig-

ing the spectator to reorganize his perception at

each glance, at the moment in which it oscillates

between flat silhouettes and the suggestion of a

hollowed cube. such compositional organization

is substantially different from that of our paint-

ing previous than 1950, in which, in spite of all,

the predominance was still in the presentation of

figurative motifs both in order of importance of

represented themes and in its “cloistering” within

the limits of the frame. in other words, this new

modern painting brings in the determination of

its space two new elements: a continuity and

coincidence between the work’s inner and outer

spaces and the announcement of an “objectual”

presence, that is, it tendency if not to leave (at

least in Fiaminghi’s case), to overflow from the

canvas’s virtual surface to the “real” one, some-

thing that can be contrasted, whether in his paint-

ing or in the paintings of colleagues like lothar

charoux, more than in the suppression of frame,

in the continuity of the paintings in their laterals

and/or in the advancement of the support, which

incorporates such a thickness of chassis that lit-

erarily makes them leave the wall.

Fiaminghi’s particularity in his works from the

1960’s on was his option to remain with paint-

ing, when a great deal of the unfolding of the

works of the main artists from a concretist ori-

gin in brazil chose the path of the experimenta-

tion of new languages. not less important was

his receptivity to such diversified techniques as

industrial enamel and tempera (one of the most

traditional techniques, whose interest was nur-

tured by his friendship with Volpi), which, instead

to mean a “return to order” or mere atavism of

painting, may be seen as a systematic research of

color, examining its communicative strength and

resources when submitted to different situations,

as, for instance, the construction of a sealing in

oil, tempera or in a print, the division of color into

particles, its behavior when submitted to diver-

sified gestures. in this sense, it’s meaningful to

ponder about the nature of this modern painter

who needs to “relearn” how to paint after a new

meaning of color he himself opened, as well as to

recall that this very relation between color, vibra-

tion, form and movement would be patent in other

of his works as designer, like the cover he made

for Haroldo de campos’ book xadrez de estrelas,

or in a collection of dresses created in the 1960’s.

in the collection of the museum of contemporary

art of niterói, besides the collection of paintings

made between the 1950’s and the 1970’s (which

belong to the João sattamini collection), a series

of prints from the 1970’s on complement the art-

ist’s profile. in the same way that in painting Fi-

aminghi employed different techniques, a similar

phenomenon takes place in his graphic produc-

tion, which employs lithography and serigraphy.

in relation to this, we can draw the same conclu-

sion above mentioned about the connections

between color, formal value and technique. the

same for the project of bringing industrial tech-

niques to this universe. We may add two things to

this: first is to notice that some of these prints are

“doubles” of his paintings. not exactly or neces-

sarily replicas, but indications on how color “hap-

pens” in a singular way in different mediums, in

spite of obeying at times the same composition.

that is, the artist at once exhibits how much, on

one hand, color and shape are interlaced in order

to exist, but also how much they have their own

proprieties and identities, by changing their coor-

dinates. When the artist released the lightcolor, he

resumed a problem explored by modern art since

impressionism (the end of the concept of “local

color”, that is, of color as an inmate attribute of

the object and, therefore, immutable), adding to

Hermelindo Fiaminghi in the João Sattamini and MAC-Niterói Collectionsguilherme bueno

When Hermelindo Fiaminghi (são paulo, 1920-

2004) begins his painting career, brazilian moder-

nity could already be considered an accomplished

reality. surely academicism was still occupying a

place able to obstruct its path. nevertheless, we

must identify since that moment the possibility of an

artist enjoying the possibility of, even in an empirical

and partially precarious way, having a completely

modern training. in mid-1930’s, when Fiaminghi is

dividing his time between a job as graphic designer

and classes with Waldemar da costa, brazil was

already in its at least second modernist generation.

in a way, this double professional experience

is manifested in those works accomplished by the

artist from the decade of 1950 on, and constituent

of his mature work. in that decade Fiaminghi is a

member of the são paulo concretist group rupture

(led by Waldemar cordeiro), one of the groups re-

sponsible for the definitive affirmation of abstract

art in the country and a transforming dynamo of

poetry. Fiaminghi, besides choosing a painting

based on geometrical shapes and flat colors, col-

laborates with the poets décio pignatri, augusto

and Heroldo de campos, drawing one of the cov-

ers of the magazine noigandres (disseminator of

concretist ideas and poetical works), a partnership

that will remain for years even after the dissolu-

tion of the movement in the following decade.

When we say that Fiaminghi brings to his paint-

ing elements from his experience as a graphic

artist, we can identify this in the following way: in

alignment with his other colleagues, he promotes

a decisive transformation of the meaning of color

in brazilian modern painting. the modern color

takes as reference not only the ideas of max bill

(patron and great advertiser of concrete art in

the world), with, along with geometric shapes,

the value the absolutely autonomous – that is,

no longer derived or adapted from any figura-

tive reference of nature – but also suggesting a

certain chiaroscuro structure, color submitted

to a scale of grays and gradual tonal passages

thought in order to organize a sensation of depth.

in Fiaminghi, color follows the same direction of

his modernist antecessors, aiming to be placed

from the canvas’ surface out (contrary to the di-

rection of the renascence window). However, at

least in relation to the works of the 1950’s, he

leaves that “pictoriality” behind, in other words,

the presence of craftsmanship, of the “artist’s

hand”, in pro of a uniform treatment similar to

the one used in graphic industry. it’s worthwhile

to notice, nevertheless, how throughout time the

artist performs the reverse maneuver, carrying to

his production as a designer, printer and graphic

artist a series of resources taken from painting,

motivated, above all, by his lightcolor theory.

another mentionable point in his concretist

works is, departing from its compositional struc-

ture, how they participate of the formation of

new concept of space in painting. by flattening

the already bi-dimensional geometric shapes, his

painting, following a path opened in the first half

of the century by artists like mondrian (for exam-

ple), practically cancelled the figure-background

relation, at least in its function as an axle for the

hierarchical distribution of planes between the

closer and the more “distant” from the surface.

His Virtuais [Virtuals] are an evidence of it, not

english version

aligned to the duplicity of color being itself, being

transparency and, because of this, generate other

colors. but what a reticule has of “neutrality” in

its standardization, Fiaminghi’s graphic art has

of striking. not so much because he produces a

graphic signature, but because he creates once

again a plane that, in its transparency/conceal-

ment, grants to the composition a structure of

planes in which they are all mixed, even when

keeping the peculiar duplicity of having their

own value and belonging to a larger collection.

Virtual, 1955/ 1978. the part of the series

Virtual made with tempera points to another

pictorial approach for the themes related to

the profundity of the compositional and picto-

rial space examined by concrete art. despite it

may seem contradictory to bring to the painting

of the second post-war period, at least in brazil,

so open to new materials, one of the most tra-

ditional techniques (Volpi in the 1950’s made

it clear there was no problem in it), Fiaminghi

– beyond the artisanal value per se – finds in

it a special quality: tempera is as “superficial”,

as direct and solid as, for instance, industrial

enamel. With the difference of being a more

opaque paint and, due to this, gifted with a

corporeity as alive as industrial paint. We can

also imagine his fascination for a technique that

remembered his italian origins. However, if we

wish to restrict ourselves to its plastic meaning,

we can witness in Virtual: from the beginning

there is the pictorial problem of producing glaze

with a paint that is hostile to dissolution and su-

perposition. and here Fiaminghi accomplishes

a double solution. if tempera preserves its so-

lidity (besides being treated in a flat way, with

no brushstroke marks, almost as if testing how

is to apply the treatment of a denser paint – as

oil – in another, more liquid one), the several

juxtaposed planes create the visual sensation of

transparencies, with a structure of squares that

seem to advance from the clear “background”

to the front. once again, the play of geometric

figure, both with the progression of the squares

and the triangles pointing out, suggesting the

sensation of a canvas that advances remaining

in place, nevertheless, within itself, that is, in

its extensive and uniform plan of the canvas’

surface, now employing, in this case, the color

that, in the whole, indicates a tonal passage, but,

in its materiality, ratifies the materiality of each

one of its parts, besides exploring the luminos-

ity not only of the saturated color, but also of

its “grays”, not allowing them to function only

as intermediate, subaltern or secondary zones.

nowsun (hermelindo Fiaminghi and décio

Pignatari). in the 1950’s, concrete art and poet-

ry challenged the limits between text and image.

contrary to what happened before, when often

one was employed as illustration of the other (not

only in academic art, but also in the first wave of

brazilian modernism), concretism perceived the

visual connotation of the word, by taking the

page setup as a substantial factor of the text.

the same may be said, in the field of the graphic

art, about the plastic use of the word as a form,

definitely transforming the history of our design.

this work, the fruit of a partnership between

Fiaminghi and pignatari shares the same ani-

mating spirit of concretism. the matter here is

not to define whether it’s poetry or visual arts

– it’s more interesting to understand it as both

at the same time – but to notice how the visual

and the written form are born together as expe-

riences of poetic invention, that is, the moment

when form and word begin to signify, to grant

meaning to things. the nowsun of color seem

to speak of the same solar luminosity brought

by poetry and art, which finds its correspondent

in the intense white irradiated from the paper.

it, however, the unique view that color is intimately

tied to its material consistency (a red, in spite of

its base pigment, is not the same in oil, tempera

or lithographic or serigraphic ink); it has a “body”.

the second observation related to the graphic

work concerns the works in partnership with

décio pignatari. in them, the play of color and

shape is united to poetry, in such a way that,

in the best spirit of correspondence, the parts

mutually feed each other. Here we could review

the ever present motivation of concrete art for

elementary shapes. even if we could only sup-

pose, it is as if in these works we observed si-

multaneously the united and partaking birth

of image and poetry, both brotherly emerging

from the paper. now tree. now sun. now-art,

as actually Fiaminghi’s work always has been.

Virtual, 1957. Virtual is exemplary of the com-

mitment of concrete art in simplifying forms,

believing to make its potency explicit with it.

the work’s structure couldn’t be more succinct:

contrast between two opposite colors (black and

white), a figure exercising the function of module

(the equilateral triangle). What Fiaminghi dem-

onstrates with it, nevertheless, is the capacity of

these elements to activate a much more complex

perception than the simple literary interpreta-

tion of the painting. the issue of abstract art

has always been less what is seen than how to

see. elemental forms are decisive in this, for they

would indicate the founding instrumental of our

conception of space; through them we are able

to discriminate things; they are the skeleton of

perception. Virtual takes advantage precisely of

the process of organizing planes and the relation-

ship between forms. in the beginning triangles

and lozenges emerge everywhere. a simple rota-

tion or inversion of forms (as between the black

lozenges and the white in the center) produces

different visual meanings; we don’t see them as

identical at first glance, all due to a mere rotation.

as only after a second or third glance we perceive

that these flat shapes suggest hollowed cubes,

of an ironically null depth, whose particularity

is that we don’t know when they are standing or

upside down (taking, once again, the central loz-

enge as one of its surfaces). Here resides one of

the central values of modern painting: an object

will be perceived in different ways according to

how we look at it, thus breaking a static regard

in pro of another one, whose point of view is al-

ways dynamic. but this brings up another issue:

the one of a painting that – exactly because the

oscillation of perceptions of its composition –

breaks the sequential unity between figure and

background that had organized painting since

the renascence and that was little by little been

reinvented by modern painting.

lightcolor. We have two examples that, seen

side by side, indicate how Fiaminghi examined

color dissecting its material and constitutive

structure. in a case it happens in painting. it’s

worthwhile to mention how the artist was able

to obtain a “gesture” in tempera that contrasts

with the points of color or the most extensive

planes, obtaining a transparency from it. sym-

metrically, how the same structure answers in

lithography. such difference of “reactions” of

color and form indicate how their active value

goes beyond a mere configuration of the figure

to indicate that the difference of presence in each

one of these situations equal to a difference of

communicative value. in short, one thing is the

graphic red and the other is the pictorial red,

not forgetting how much they differ, even under

similar treatment, when they change scale and

the control of the hand gesture, each reacting

in its own way to the canvas or to the paper.

in both there is an affinity with the interest of

the artist for reticules (present in other works),

composing a mesh set in movement whether

by detail, by the irregularity of each line, the

differences of thickness or depth of the layer

of paint; or whether by the fact that the artist

conceives each painting as a dynamic mosaic.

according to its colors and brushstrokes, a

painting may suggest within its quadrangular

limits a movement of contraction, turned to the

center of the canvas, while from this very same

central area may be a shape able to define a vec-

tor in the contrary direction, a vector of expan-

sion that turns the end result in a power play.

a recurrent strategy of the artist is the man-

ner of filling the canvas in such a way to sug-

gest that it is the result of the re-composition

and jumbling of a previously produced canvas

that was cut into stripes.

Vertical and diagonal lines cross the picto-

rial field creating prisms and fissures carrying

our regard with them, expanding its horizon,

allowing it to escape from the concentricity

of the brushstrokes. this, for instance, it the

case of the game of the small regular circles

that, not only are cut in half, are reassembled

in unmatching positions with other half-cir-

cles. two factors contribute for the expansion

of the sensation of movement, an inheritance

from the time when our artist was aligned with

concretism: the worthless impulse of our eye

in reshaping the unity of the geometric figure,

and the fact that each color, before its more or

less expansive nature, occupies with the light

it pours out a differentiated portion of space.

through light, form and brushstroke, ev-

erything in these paintings is an incitation to

reverie and instability, even if it is an incitation

done in a lyrical tone, as if softly blown. the

eyes travel freely from right to left, from top to

bottom, through the borders or the geometric

shapes or trees and horizon lines which are just

vaguely suggested… or even aimlessly follow-

ing the lines of force that cross the canvas in

variable inclinations. eventually the journey of

the eyes may be more intimate and introspec-

tive: gliding over the grooves of a brushstroke

or softly slowing down until reaching the immo-

bility suggested by a curly shape. and beyond

all these demands, as if they weren’t enough,

there are others, almost murmured, emerging

from the layers of paint hidden by the layers

on the surface. the movement, therefore, also

happens in depth, as a topography whose ir-

regularity was above all due to the variation

in temperature of its colors. if each Fiaminghi

painting possesses a surprising plastic-formal

coherence, it’s necessary to notice the fact that

such coherence, as confirmed by the careful

study carried out by isabella cabral and a.m.

amaral rezende1, is the result obtained by the

artist from the rigor of the process he employs.

a process only revealed to the attentive eye,

able to go beyond the level in which every con-

templation is superficial. besides appearance,

Fiaminghi’s painting is revealed as a game of

gestures, an ongoing effort of building an al-

most unreachable network, despite being as

real as anything else in this world. something

built by the conjuration between desire con-

verted into action and the elements gathered

to gain a physical existence. being all this, be-

yond appearance, Fiaminghi painting is not only

a delight for the eyes, but food for the spirit.

1 cabral, isabella, reZende, a.m. amaral. Hermelindo Fiaminghi. são paulo: edusp, 1998 (n.e.)

the white here is not background. it is treated

as color, equal to the blues and greens, indeed

seemingly emerging and opening spaces be-

tween them, awaking the page from the slug-

gishness of being a mere “support” for drawing.

Hermelindo Fiaminghi, 1966 (in: pesquisadores de artes Visuais. são paulo: museu de arte contemporânea da universidade de são paulo)

to be modern or old-fashioned,

it’s not my concern.

neither to be new.

like belonging to my time; — Yes

it’s a drama that evolves,

proposes dramatizes.

the perception of things,

and things with perception,

envelop me: — develop me.

to be updated is not the most important,

it’s not important

when communication is sensitive.

graphic art offered themselves and influenced me

when i in an artisanal fashion researched effects

of reticule and light-color (6th biennial, 1961).

the control of graphic equipment

and materials not only allowed well

but also conducted me to the sensitive

control of the changes produced,

— it was the phenomenon of free

and mutable perception and with an

intermittent frequency of communication.

the transparency of colors, the fusion and

diffusion of the reticule by the incidence of

light, are for me things like optical perception,

sensitive, — they communicate.

the work thus done evolves per se

and belongs to itself, its visual communication,

— it’s optical as the intermittent mutations

of sunlight falling upon the bodies of the

landscape are.

Agnaldo Farias, 1998(in: Hermelindo Fiaminghi. são paulo: galeria nara roesler)

to begin with what these paintings by the mas-

ter Hermelindo Fiaminghi offer to our eyes is

the pure delight of the colors and lights they

carry imprisoned; lights that, as the predomi-

nance of suave atmospheres inform us, they

liberated only austerely, since, as one notices

soon later, the delight of apprehension is only

an invitation for a journey into deeper layers,

the core of painting, where it is presented, not

as a mere physical fact, but as an idea incar-

nated by the action of brushstrokes over the

chromatic matter. in this way, if they reach our

eyes as light and color, with the passage of time

and once over the initial enchantment, they re-

veal themselves as form and brushstroke and,

behind all, the presence of the painter, sisy-

phus challenging the whiteness of the canvas,

tirelessly building over the canvas his network

of colored light.

let’s allow ourselves then to be carried out by

the uninterrupted melody of the delicate tonal

variations of each one of these paintings, let’s

observe how in them every detail counts, shar-

ing the same hierarchy, as if sound was equal

to silence, as if in the spaces we pass through

every day things had the same value as the in-

tervals between them. everything counts in

these paintings, there isn’t a single spot where

the regard rests, for even when saturated of

yellow iridescence or red crepitation, it seeks

in the calmer nature of a green or a blue – and

yet neither these will be safe ground – a port

where it could decante and assimilate the stim-

ulus received and then resume its journey. in

Fiaminghi, even the coldest and calmest colors

are dismembered under the syncope rhythm of

the brushstrokes drawing short and thick lines,

lines that, as they are produced, interlace,

Zeladores

alessandro santosalexsandro rosaandré luiz de souzaeduardo pereseliseu Ferreiragelvan alexandreisrael barretoleandro nascimentoluís damásiomarcelo barbalhorobson de mouraseverino rômulo de oliveiraubirajara cordeiro

técnico em ediFicações

charles santos

encarregado de manutenção

pôncio pereira

manutenção

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assistente administratiVo

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administratiVo

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mirante da boa Viagem, s /nº boa Viagem niterói, rJ tel /fax [55 21] 2620 2400 / [55 21] 2620 [email protected]

Horário de Visitação

de terça a domingo, das 10 às 18h

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agendamento pelos telefones[55 21] 2620 2400 / 2620 2481 ramal 29 [divisão de arte educação]

catálogo

autor /organiZador

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produção

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assistência

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proJeto gráFico

dupla design

reVisão e tradução

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FotograFia

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agradecimento

agnaldo Fariasdécio pignatarimaria lydia Fiaminghi

A PONTE GALERIA DE ARTE. Hermelindo Fiaminghi. São Paulo, 1977 (catálogo de exposição)

ARAÚJO, Olívio Tavares de. Fiaminghi: a alegria de pintar. In: Montessanti Galeria. Hermelindo Fiamin-ghi; pintura. São Paulo, 1988.

FARIAS, Agnaldo. Hermelindo Fiaminghi. In: Galeria Nara Roesler. Corluz. São Paulo, 1998.

GALERIA DE ARTE DE SÃO PAULO. Hermelindo Fia-minghi. São Paulo, 1986.

MUSEU DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO. Fiamin-ghi; décadas 50/60/70. São Paulo, 1980

CABRAL, Isabella, REZENDE, A.M. Amaral. Hermelin-do Fiaminghi. São Paulo: Edusp, 1998.

CABRAL, Isabella, REZENDE, A.M. Amaral. A gênen-se da pintura. São Paulo: MASP / Edusp, 1992.

COUTINHO, Wilson. Fiaminghi e as cores da natureza. Folha de São Paulo, 08 maio 1986.

PIGNATARI, Décio. In: Galeria Aremar. Fiaminghi. Campinas, 1961.

. Depois da verdade. In: Galeria de Artes São Paulo. Hermelindo Fiaminghi. São Paulo, 1986.

. Fialuz. In: Galeria Montessanti Roesler. Fiaminghi cor-luz, 1990.

ZANINI, Ivo. O geométrico de Fiaminghi. Folha de São Paulo, 15 setembro 1977

Uma relação extensiva da bibliografia sobre o artista pode ser encontrada no site www.fiaminghi.com.br[an extensive bibliographical list about the artist may be found at the site www.fiaminghi.com.br]

referências bibliográficas[bibliographical references]

Fundação de arte de niterói

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superintendente administratiVo

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ESTE LIVRO FOI PUBLICADO COM RECURSOS DO EDITAL CONEXÃO ARTE VISUAIS MINC FUNARTE PETROBRAS 2010.

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