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7/27/2018 1 CONDUTIVIDADE DAS SOLUÇÕES ELETROLÍTICAS Prof. Harley P. Martins Filho Soluções eletrolíticas Eletrólitos: substâncias que quando dissolvidas em água (ou em outros solventes adequados) conduzem corrente elétrica. Eletrólitos fortes: sais inorgânicos, hidróxidos alcalinos e alcalino-terrosos, maioria dos ácidos inorgânicos alta condutividade elétrica em solução. Eletrólitos fracos: ácidos orgânicos, alguns ácidos inorgânicos (ácidos carbônico, sulfídrico, cianídrico, bórico e hipocloroso), algumas bases inorgânicas (hidróxidos de amônio, de zinco e de chumbo) baixa condutividade elétrica em solução.

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7/27/2018

1

CONDUTIVIDADE DAS

SOLUÇÕES ELETROLÍTICAS

Prof. Harley P. Martins Filho

• Soluções eletrolíticas

Eletrólitos: substâncias que quando dissolvidas em água (ou em

outros solventes adequados) conduzem corrente elétrica.

Eletrólitos fortes: sais inorgânicos, hidróxidos alcalinos e

alcalino-terrosos, maioria dos ácidos inorgânicos alta

condutividade elétrica em solução.

Eletrólitos fracos: ácidos orgânicos, alguns ácidos inorgânicos

(ácidos carbônico, sulfídrico, cianídrico, bórico e hipocloroso),

algumas bases inorgânicas (hidróxidos de amônio, de zinco e de

chumbo) baixa condutividade elétrica em solução.

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• Mecanismo da condução iônica

Fatores que determinam a resistência que uma solução

eletrolítica específica terá:

Eletrólitos têm carga e volume diferentes

Solvente tem uma viscosidade intrínseca

Cada eletrólito tem uma camada de solvatação específica,

que aumenta a resistência ao movimento.

Atrações eletrostáticas entre íons de carga oposta, que

aumentam com a concentração.

Fatores que alterariam o sistema durante uma medida de

condutividade em corrente contínua:

Velocidades dos íons de carga oposta podem ser diferentes

aparecimento de gradientes de concentração através da

solução.

Eletrólise nos eletrodos consumo do material da

solução.

Uso de corrente alternada ( 1 kHz) evita alteração do

sistema.

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• Condutividade

Lei de Ohm: R = resistência (V C-1 s = (ohm))

Medida prática: ponte de Wheatstone

RI

Ajustando-se a resistência

variável R3 até que não haja

corrente acusada no

amperímetro, pode-se

mostrar que

1

324

4

3

2

1

R

RRR

R

R

R

R

Condutância: G = 1/R (-1 ou S (Siemen))

A condutância é função do comprimento do corpo condutor

(distância entre os eletrodos) e da área da seção reta do corpo

(área dos eletrodos):

l

AG

= condutividade (S m-1)

A

l

RA

Gl 1

Célula de condutividade

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Na prática não é fácil medir l e A das células mais comuns. Com

uma solução padrão de condutividade conhecida, mede-se a

resistência e calibra-se o fator l/A da célula (constante da célula C):

padrãopadrãoRCA

l

Como a condutividade depende de número de íons em solução,

introduz-se a condutividade molar:

(S m-1/mol m-3 = S m2 mol-1)

onde c é a concentração molar da solução. Unidade mais

conveniente de m: mS m2 mol-1.

cm

Exemplo: Para KCl 0,100 mol L-1 a 25,0oC, m = 12,9 mS m2

mol-1. A resistência medida para esta solução em uma dada célula

foi de 28,44 . Para uma solução de NaOH 0,0500 mol L-1, a

resistência medida foi de 31,60 . Calcular m para o NaOH

0,0500 mol L-1.

Constante da célula: C = padrãoRpadrão = m,padrãocpadrãoRpadrão

= 12,910-30,100103(mol m-3)28,44

= 36,7 m-1

Para o NaOH: = C/R = 36,7/31,60 = 1,16 S m-1

m = 1,16 (S m-1)/0,05103 (mol m-3)

= 0,0232 S m2 mol-1 (23,2 mS m2 mol-1)

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Na verdade a própria condutividade molar varia com a

concentração, e a forma da variação depende do eletrólito.

Aumento da concentração

faz aumentar atrações

interiônicas, que retardam a

movimentação iônica

menor condutividade molar

Aumento da concentração

faz com que dissociação

diminua aumento da

quantidade dos íons é menor

que o aumento da

concentração menor

condutividade molar

o Eletrólitos fortes

Dissociação completa no de íons proporcional à concentração

nominal diminuição da condutividade molar advém apenas das

interações interiônicas.

Lei de Kohlrausch:

o

m é a condutividade molar limite (para c = 0) e K é uma

constante dependente principalmente da estequiometria do

eletrólito.

Kohlrausch também examinou as condutividades molares em

diluição infinita para diversos pares de eletrólitos fortes que

continham íons em comum:

2/1co

mm K

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Eletrólito om Diferença Eletrólito o

m Diferença

KCl 14,986 2,341

KBr 15,192 0,206

NaCl 12,645 KCl 14,986

KBr 15,192 2,341

NaBr 12,851 0,206

NaBr 12,851 NaCl 12,645

KNO3 14,496 2,341

LiBr 11,709 0,206

NaNO3 12,155 LiCl 11,503

o

m

Em diluição infinita, quando a dissociação de um eletrólito é

completa e todos os efeitos interiônicos desaparecem, cada íon

migra independentemente de seu contra-íon e faz uma contribuição

definida para a condutividade molar a diluição infinita do

eletrólito, independente da natureza do outro íon do eletrólito.

Lei de Kohlrausch da migração independente dos íons:

= número de íons por íon-fórmula do eletrólito

= condutividade molar limite de um íon

Exemplo: Ba2+ = 12,72 mS m2 mol-1 e Cl- = 7,63 mS m2 mol-1

om(BaCl2) = 112,72 + 27,63 = 27,98 mS m2 mol-1

Misturas de eletrólitos

Se íons migram independentemente, condutividades de

eletrólitos misturados são aditivas:

Por exemplo, em soluções muito diluídas de eletrólitos a

condutividade da solução tem participação importante dos íons da

água para a determinação da condutividade molar do eletrólito,

deve-se subtrair da condutividade medida a condutividade da água

pura (76 mS m-1).

i

i

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m,diss é a condutividade molar da parte dissociada do eletrólito.

Podemos aproximá-la pelo valor da condutividade molar limite do

eletrólito:

O grau de ionização é função da concentração. Podemos usar a

constante de equilíbrio da ionização para encontrar a relação. Para

a ionização de um ácido fraco, por exemplo:

dissm

dissdiss

mccc

,/

o

mm

o Eletrólitos fracos

Dissociação parcial em solução m depende do grau de

ionização do eletrólito (grau de desprotonação, no caso de

ácidos), que é a fração de íons-fórmula dissociados em solução.

Para uma concentração nominal do eletrólito c, a concentração de

eletrólito dissociado é cdiss = c.

Concentrações em equilíbrio na dissociação de um dado ácido:

Constante de acidez em termos de molaridade:

Resolvendo equação de segundo grau para em função de Ka:

Logo, a dependência de m com a concentração é da forma

o

m

a

ao

mmK

c

c

K

1

41

2

2/1

][

]][[ 3

HA

AOHKa

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Exemplo: determinação do pKa de um ácido fraco, conhecendo-se

as condutividades molares limite dos íons H+ (34,96 mS m2 mol-1)

e do Ac- (4,09 mS m2 mol-1)

A resistência de uma solução 0,0100 mol L-1 de CH3COOH na

mesma célula do exemplo acima foi de 2220 .

Condutividade molar limite: om = 1·34,96 + 1·4,09 = 39,05 mS

m2 mol-1

Condutividade: = C/R = 36,7 m-1/2220 = 1,6510-2 S m-1

Condutividade molar: m = 1,6510-2 S m-1/0,0100103 mol m-3

= 1,6510-3 S m2 mol-1

72,4)109,1log(

109,10423,01

0100,0)0423,0(0423,0

05,39

65,1

5

52

a

ao

m

m

pK

K

A dependência de m com c permite obter a condutividade

limite de um eletrólito fraco. Invertendo a equação para Ka em

termos de :

Usando para a relação com condutividades molares, obtém-

se a Lei da diluição de Ostwald:

aaa K

c

K

c

cK

1

11

11112

m

a

o

m

o

mm

a

o

m

m

m

o

m

cK

K

c

2

111

1

Coeficiente linear dá a condutividade

molar limite do eletrólito.

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• As mobilidades dos íons

o A velocidade de deriva

Força sobre um íon com carga ze em um campo elétrico uniforme (E constante):

Campo elétrico entre dois eletrodos com diferença de

potencial a uma distância l um do outro:

Força friccional de atrito sobre o íon acelerado pelo campo

elétrico, considerado como uma esfera de raio a e velocidade

instantânea s, em líquido de viscosidade (Lei de Stokes):

l

E

asFfric 6

zeEF

À medida em que o íon acelera, Ffric aumenta. Quando as

forças se equilibram, o íon atinge uma velocidade de deriva

constante:

s é linearmente proporcional a E. Definindo a mobilidade

iônica u:

s = uE onde

a

zeEs

6

a

zeu

6

1-

-12

1-

-1-22

1-

-1

1-1-1-

s mm

V

V

s m

s kg

V s m kg

s kg

VJ

s kg)ms m kg(

sE

CCu

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Exemplo: Velocidade de um íon Cs+ entre dois eletrodos

separados por 1 cm com = 1,0 V. z = +1, a = 170 pm H2O =

1,0 cP (1 cP = 110-3 kg m-1 s-1).

Íon passa por 104 moléculas de solvente por segundo.

1-681-

2

-128

123

19

ms 105100105Vm 100101

0,1

V

s m105

10170100,16

106022,11

sE

u

o Mobilidade e condutividade

A condutividade (parâmetro empírico) e a mobilidade

(parâmetro teórico) podem ser relacionadas. Analisando a corrente

I que passa por uma seção de uma solução de área A, do ponto de

vista da condutividade molar limite de um dado íon:

l

Ac

l

A

A

lRI

1

Do ponto de vista da mobilidade,

quantidade de íons que passa pela seção

de área A em 1 segundo é a quantidade

contida em um volume Ad, onde d =

s1 = s n = cV = cAs (em mols). Em

número de íons, nions = nNA = cAsNA.

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Se cada íon carrega uma carga ze, a carga total que passa pela seção por segundo (corrente) é zecAsNA = zcAsF . Sendo a

velocidade do íon definida pela sua mobilidade iônica,

Equiparando as duas equações para a corrente,

l

zcAuuzcAzcAsI

FFEF

l

zcAu

l

Ac F

Fzu

1-22-12

mol Smmol V

A m

mol

C

V

s m

Para íons volumosos (R4N+, RCO2¯, R = cadeia de carbono), u é

inversamente proporcional a a. Para íons pequenos pode ocorrer

o contrário. Exemplo: condutividade aumenta do Li+ ao Cs+.

Na verdade, a é o raio hidrodinâmico, que pode incluir a

esfera de solvatação do íon. Intensidade da solvatação depende

do campo elétrico na superfície do íon, que por sua vez depende

de ze/r2 íons pequenos têm esfera de solvatação rígida com

grande volume hidrodinâmico. As moléculas da esfera são

bastante lábeis em relação ao seio da solução, contudo.

Comparando-se o H+ com o Li+ (mesma carga), o H+ teria

solvatação mais firme, mas sua condutividade é

excepcionalmente alta. Pelo mecanismo de Grotthuss, um

cátion hidrônio perde o próton para uma molécula de água

vizinha, que torna-se hidrônio até perder o próton para outra

vizinha e assim por diante. O movimento do próton acontece sem

que as moléculas de água movam-se.

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Detalhamento do mecanismo de Grotthuss, segundo pesquisas

recentes:

Cátion H9O4+ Quebra de duas ligações

de H e rearranjo das

outras ligações para

formar o cátion H5O2+

Novo cátion

H9O4+

• Números de transporte

Íons de carga diferente se movem em direções opostas, sendo a

corrente total I a soma das correntes individuais I+ e I-. O número

de transporte t de um íon é a fração que a sua corrente

representa na corrente total:

Relação com condutividade:

1

ttI

It

I

It

l

Ac

l

A

A

lRI

1

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De modo análogo, para a corrente total:

O valor de assim obtido corresponde à concentração de eletrólito

usada. O valor válido para a lei da migração independente

dependeria de um número de transporte limite to extrapolado de

vários experimentos.

Relação com mobilidades iônicas:

Uma equação análoga vale para t-. Mas para qualquer eletrólito,

+z+ = -z- e então

l

AcI m

mI

It

mt

uzuz

uzt

m

uu

ut

o Medida experimental do número de transporte

Método da fronteira móvel

Para um cátion M+, são

necessárias soluções de dois sais

MX e NX, uma das quais será mais

densa que a outra. Diferença entre

índices de refração cria fronteira

visível entre as soluções (ou uma

delas pode ser colorida com um

indicador).

Com aplicação de corrente

conhecida, cátions vão para cima e

ânion para baixo fronteira sobe

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Carga transferida durante tempo t: It

Carga transferida pelos cátions M+ no tempo t:

Número de cátions transferidos através da posição final da

fronteira: N+ = +cVNA ,onde V é o volume de solução percorrido

pela fronteira móvel.

Carga positiva transferida: Q+ = z+eN+ = z+e+ cVNA = z++cVF

tI

cVz

Q

Q

tI

tI

I

It

F

aladimensions s C

mol C mm mol1-

-13-3

t