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CONDIÇÕES DE POSICIONAMENTO E PROXÊMICA NOS DISCURSOS DA CIDADE: ENTRE OBSERVAÇÃO E EXPERIÊNCIA1
GT14: Discurso e Comunicação
Ana Claudia de Oliveira 2
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo:
FAFICLA: PEPG em Comunicação e Semiótica
Resumo
Esse artigo considera as condições de posicionamento dos sujeitos que habitam
espaços de São Paulo, situando-se espacial e temporalmente em toda e qualquer
interação, quer essa seja entre sujeitos, quer com a cidade, quer com objetos nela
situados. Uma escolha de locais em fragmentos de filme nos permite tratar como a
cidade é tomada pela câmera sujeito de apreensão, em grafites, pichações e
publicidades de moda que, com seus distintos modos de inscrição na urbes,
defrontam os habitantes e os implicam na produção do sentido. Esse corpus
diversificado é convocado para definir os tipos de interação do corpo do habitante
com o corpo da cidade, em variações das relações proxêmicas e dos
posicionamentos entre corpos que determinam tipos de interação e diferentes
modos de construção do sentido. A abordagem adotada é a da sociossemiótica
desenvolvida por E. Landowski junto ao grupo formado entorno da semiótica de
1 Artigo apresentado ao Grupo Temático 14, Discurso y Comunicación, do XII Congresso da Associación Latinoamericana de Investigadores de las Ciencias de la Comunicación, a ser realizado de 6 a 8 de agosto de 2014, em Lima, Peru. 2 Professora titular da PUC‐SP, atua no Programa de Estudos Pós‐Graduados em Comunicação e Semiótica.
A.J. Greimas que embasa a análise das práticas de vida na metrópole na qual a
interação faz ser o sentido.
Palavras-Chave: Interação. Sentido. Corpo. Linguagens. Semiótica das práticas.
Cidade e modernidade Desde que foram criadas as cidades sediam a modernidade, e ambas são
constituídas na e pela relação entre as espacialidades, temporalidades e os atores
que vivem nos seus enunciados e enunciam os distintos jogos relacionais das
suas corporeidades situadas. Esse situar enunciativo dos atores é definidor de
tipos de articulação caracterizados no processo contínuo da dinâmica
transformacional que os definem. O estar em movimento no movimento da cidade
é o próprio desta interação em que o cinetismo e a proxêmica são apreendidos
enquanto elementos chaves.
Os aglomerados urbanos são definidos então pelas redes de articulação de seus
modos de presença e esses se organizam pelos modos de interação. Tanto a
cidade com os seus pontos constitutivos, quanto os seus habitantes, objetos,
coisas que nela assumem uma posição, enquanto sujeitos interagentes, enredam
sentidos da cidade, de sua gente com as suas respectivas práticas de vida que
constituem modos do social se estruturar. Determinar os modos de articulação das
presenças em dada temporalidade e espacialidade exige que se trabalhe sobre o
que é produzido na e pela interação a nível de apreensões e associações dos
sujeitos que experimentam, vivem os acontecimentos. Exige-se pois enfrentar a
dinamicidade pulsante de rede das relações de sentido que podem encaminhar a
categorizações e tipologias.
No quadro de uma semiótica da ação, por prática entende-se encadeamentos de
comportamentos somáticos, sensíveis e simbólicos, que são organizados como
discursos sociais. Neste âmbito sua acepção é mais abrangente do que a de texto
que tanta confusão restritiva ainda hoje acarreta por seu uso consagrado para as
totalidades de sentido verbal. Podendo abarcar as práticas gestuais, proxêmicas
(Greimas e Courtès, 1984), mas também as visuais, espaciais, em relação às
verbais, as práticas são processos de ações manifestas por todo o corpo por meio
do seu transito entre movimento e repouso que significam todo e qualquer sujeito
da ação. Como tais elas são passíveis de descrição, análise e interpretação a
partir dos diferentes tipos de relações que estabelecem. As suas sequências são
programas narrativos, segundo a sintaxe da junção (Greimas, 1979) e a da união
(Landowski, 2004), essa última teorizada como complementação à gramática
narrativa de Greimas sistematizada no modelo de Landowski (2005). O
correlacionar entre interação e sentido permite determinar os tipos de
processamento que formam sistema, daí esses ser tratados como regimes de
interação e de sentido que se encadeiam na rede constituitiva. O grande ganho é
que essas duas lógicas, ao por em correlação os processamentos da sintaxe
narrativa, permite estudar os tipos de narrativa nas dinâmicas de suas montagens
que não se fecham, ao contrário, estão continuadamente abertas aos
processamentos requeridos. Assim, a semiótica das práticas de vida repousa a
sua análise nos processos interativos que fazem emergir o sentido do que se
configura entre cidade e sujeitos e entre sujeitos.
Artistas e cientistas aperceberam-se de como as práticas da vida moderna erigiam
os diferenciais distintivos das urbes em transformações, que foram pintados,
filmados e construídas reflexões a partir da vida em mutações que situavam
homens, mulheres e crianças na rua, com os novos espaços de sociabilidade
tanto as calçadas mesmas, como os locais de venda, de alimentação, os parques,
as diversões. Esses registros, obras de arte ou obras de reflexão, são o que nos
permitem, na passagem do século XIX ao século XX, adentrar Paris, Londres,
Berlim, Nova York ou Tóquio, de modo a participar sentindo as mudanças de sua
vida pública, das casas comerciais, enfim, da relação de sociabilidade, visibilidade,
travadas nos aglomerados urbanos deixando-nos assim apreender como a
população transita entre o dentro dos imóveis e o fora. Neste âmbito do espaço do
dentro, concebido como privado, e do espaço do fora, tratado como púbico, além
dos muitos arranjos entre o privado que é público e o público que se privatiza, é
que esse conjunto de modos de estar recortam significativamente a vida urbana,
por meio dos modos de presença da população na rua, praça, feira, exposição,
shoppings center, supermercados, escolas, cinemas, nos meios de transportes,
enfim, nas práticas de vida diversas que fazem o sentido da cidade e da gente.
Sobretudo, mostra-se assim como esses lugares não são palcos de encenações
fixadas mas o que fazem ser as interações, definindo o coletivo e o individual, os
comportamentos, que configuram o próprio social.
Interação como experiência
Observar a vida da metrópole exige do estudioso sair do seu canto de trabalho e
embrear-se na urbanidade onde ela borbulha e da qual não pode mais só ser um
observador, ao contrário, ele assume uma dada posição na sua espacialidade e
temporalidade. Como sujeito ele participa do cotidiano e põe-se a viver as práticas
da cidade, estamos no ato mesmo da interação realizando o ato da produção de
sentido. Em uma transitividade que é direta ou indireta, e que pode ser mais ou
menos reflexível, a interação faz ser o sentido. Mecanismo de funcionamento
então que define o nosso pesquisar urbanidade, sociabilidade, visibilidade
correlatamente por seus processos significantes de configuração do sentido. Sem
ser uma etnógrafa, uma antropóloga, uma socióloga, mas mantendo-me
semioticista que estuda a experiência, as práticas de vida na São Paulo atual, eis
um interagir de distintos modos de presença da e na cidade, que é pleno de
captação de emoções, sentimentos, afetos.
Em primeiro lugar essa abordagem dá uma panorâmica situacional do sujeito
analista, localizando-o, uma vez que quem enuncia é sempre um sujeito
posicionado em dado aqui e agora, alocado na rua, em relação às edificações.
Depois, a topologia do território se concretiza não quando olhamos a sua
totalidade no mapa, mas somente quando o nosso corpo, locomovendo na
tridimensionalidade, opera cortes nos planos, enquadramentos, a fim de incidir na
totalidade por meio dos pontos, linhas e figuras geométricas distribuídas
significantes na topologia planar. Ainda, tudo que aí existe e distribui-se na
superfície assumindo um lugar, mostra-se em um jogo de cor. Ao ser iluminado
torna-se visível e, na falta luz , permanece obscurecido. O cromatismo e a forma
são distribuídos na superfície que, ao ser explorada pelos passos de um sujeito,
tem a sua topologia.
Desde que foram criadas as cidades sediam a modernidade, também constituída
na e pela relação entre as espacialidades, temporalidades e os atores que vivem
nos seus enunciados e enunciam os distintos jogos relacionais das corporeidades
situadas. Essa situação define a identidade caracterizada no processo contínuo
das transformações intersubjetivas em um processamento sem acabamento uma
vez que é caracterizado pela dinâmica transformacional. Os aglomerados urbanos
são definidos então pela dinâmica dos seus modos de presença. Tanto a cidade
com os seus pontos constitutivos, quanto os seus habitantes, objetos, coisas,
enquanto sujeitos que inter-agem, enredam os sentidos da cidade, de sua gente
com as respectivas práticas de vida.
Nas topologias, o sentido
De uma vista do alto, somos colocados em uma altura acima da selva vertical de
arranhas céus, e são os limites da cidade nas encostas da serra que nos mostram
a territorialidade do planalto toda densamente ocupada. Nas cenas iniciais do filme
A cidade cinza (2013) de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, os
enquadramentos nos mostram uma vista aérea de São Paulo a qual percorremos
a sua sucessão de torres verticais maiores e menores, cá e lá horizontalidades
que resistem à verticalidade e ainda nos mostram outros tipos de moradia, de
zonas verdes, de vazios das praças, das ruas. Do alto e à distância, a São Paulo
tomada em sua imensidão deixa saliente que nenhuma visão pode ser
completamente homogeneizada. Para algo ser apreendido no espalhado
excessivo das construções urbanísticas, arquitetônicas exige-se demarcações na
topologia para, em enquadramentos diversos, captar planos e linhas. Assim, uma
vista de um plano começa em dado ponto, ou linha e acaba em um outro.
Figura 1. As duas são vistas aéreas de São Paulo, extraídas do filme A cidade cinza. Enquanto a primeira mostra os limites da serra que barraram o seu crescimento, a outra
salienta a massiva verticalidade construída no horizonte sem fim Fonte: A cidade cinza (2013) de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo
Com essas zonas demarcadas pelo que a cidade mostra do seu aglomerado de
construções que ora esbarram no verde da mata, ora no azul dos reservatórios de
água, ora no cinza de outras edificações da própria cidade ou de cidades vizinhas
que se emendam, ora no azulado verde das ondulações serranas como outros
limítrofes da cidade. Massiva, mas não indistinta, é como uma totalidade formada
de partes que São Paulo assevera que cada parte tem em uma esfera de ação na
formação do todo cidade que se mostra para ser vista a um sujeito que a quer ver.
A interação com essa São Paulo é sem o corpo entrar nas suas estranhas, mas
pairando sobre o corpo da cidade em um sobrevoo à distância e impessoal. Nas
tomadas aéreas, São Paulo é uma massa de extensão de grande proporção,
massas verticalizadas cruzadas de massas horizontalizadas.
De uma vista das alturas das verticais formadas pelas construções, de cima para
baixo, a vista é toda irregular e só podemos ver mais e melhor com o nosso corpo
movente, pondo-se não mais distante, mas inserido no corpo da cidade, o que se
dá por entradas em determinados pontos. No alto da zona central do Centro
Antigo, tendo à direita um dos tantos edifícios que delineiam a muralha impeditiva
de concreto armado, o corpo-câmera de A cidade cinza esgueira-se à esquerda e,
atravessa por um vazio, um respiro sem edificação. Desta altura média, o Vale do
Anhangabaú descortina-se. Da massa informe à distância, com o recorte do Vale
e a descida do corpo das alturas, a localização assumida é mediana, mostrando
uma paisagem do Vale com mais detalhes que permitem distinguir as suas partes
componentes. O corpo planador guarda portanto uma certa distância das práticas
de vida da cidade e os dois atores da interação se correlacionam na espacialidade
e temporalidade da distância média.
Além da visão aproximada também entra em ação a sonoridade da cidade.
Chegam aos sentidos uma das centralidades da metrópole. Do mesmo modo que
a visão, a audição é igualmente compósita de uma sobreposição de camadas que
se intercruzam fazendo adentrar o exterior no interior do corpo pelo canal auditivo:
o sonoro longínquo de fundo, aquele à meia distância que aproxima os sons, o
sonoro de proximidade em que o som ganha nitidez.
Nas distintas espacialidades com as distintas localizações, os modos de ver e de
escutar a cidade se correlacionam: à grande distância, a indistinção sonora e
visual produz uma homogenização; à distância média, as figuras visuais e sonoras
compõem blocos e, menos uniformizados já se separa figura e fundo, sons
distantes e sons próximos; à proximidade visual e sonora ocorre o detalhamento e
a distinção mais ou menos nítida da visualidade e da sonoridade são
interpenetradas pelos cheiros da cidade. Todavia é somente com o cinetismo do
corpo que se sente a ritmicidade da cidade. O corpo do sujeito é tocado pelo corpo
todo em ação da cidade, quando essa é absorvida pela boca abaixo, ou seja
entrando nas vísceras do sujeito em um encontro mútuo. Tanto o sujeito cidade
quanto o sujeito da experiência caminham do encontro mútuo à devoração de um
pelo outro que produz um excedente de sentido.
Figura 2. A verticalidade barra a vista do Vale do Anhangabaú. Para contemplá-lo é preciso desviar o corpo e os olhos da barreira para atravessá-lo no vazio Fonte: A cidade cinza (2013) de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo
Figura 3. Quando adentra o vale, grande e poderoso, a figura humana pintada na verticalidade da parede nos defronta em um corpo a corpo.
Fonte: A cidade cinza (2013) de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo.
Os dois corpos, o da cidade e o da pessoa, na distância guardada entre eles, dá-
se passagens da temporalidade que, com a aproximação, advém a de um agora.
O cheio que veda a passagem pela direita, justamente o prédio na ribanceira do
alto, está nos colocando na região em declive do Vale do Anhangabaú. Ao não
nos estacionar na edificação, A cidade cinza faz o público experimentar pela
mediação da câmera o possível encontro de um vazio de entrada para justamente
o filme começar aí, o que não é da menor importância em termos de o Vale no
todo da urbanidade de São Paulo ter assumido a visibilidade de ser um lócus de
sociabilidade das festas, mas também das grandes manifestações políticas da
cidade. Somos postos em uma ágora da cidade ou mesmo no sentir uma
agoracidade que clama modos de escuta.
À esquerda, dá-se então nossa entrada situacional no Vale. O corpo descende
mais e, ainda de certa altura, esse galga patamares sobre as coisas, objetos,
sujeitos, que permitem nesta certa aproximação vê-los e ouvi-los com mais
precisão enquanto o corpo passeia por toda a zona enquadrada até chegar mais
longe à frente, em que vislumbra outras saídas/entradas, todavia sem tocar o solo.
Ainda suspenso, acompanhando calçadas, vegetações, escadarias, aclives,
elevações com os prédios de alturas e larguras várias, pedestres circulando e, no
todo, a visualização de que tudo ali (re)desenha o leito de uma corrente que
impulsiona a passagem pelas águas canalizadas do Rio Anhangabaú. O território
demarcado é rodeado por construções de outros tempos, que rodeiam a extensa
laje coberta de pedras portuguesas que o cromatismo bitonal do ocre na
colocação desse material histórico da fundação da paulicéia, aí estão
intencionalmente para marcar tanto os tempos do lugar como as suas várias
temporalidades quanto para seguir os fluxos do lugar. O Anhangabaú tornou-se
um calçadão tanto do fluxo de pessoas que circulam na área central de São Paulo
nas interligações entre o Largo São Bento, a Praça Ramos de Azevedo, a Praça
da Bandeira, todas com terminais de ônibus e saídas do metropolitano paulista;
dos pontos emblemáticos como os viadutos do Chá e Santa Ifigênia, os Edifícios
Martinelli, Altino Arantes (Banespa), Matarazzo, o Shopping Light e o Teatro
Municipal. Enquanto que no subterrâneo, é onde circula o fluxo rodoviário no
chamado Complexo Papa João Paulo II.
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Quem aí figura? A nomeação do painel é O estrangeiro, pintado pelos grafiteiros
Osgêmeos, na lateral da sede do Sindicato dos Comerciários, no Anhangabaú, um
prédio condenado que já na época sabia-se que a arte era temporária. A
Administração Pública consentiu com a realização da obra que aí perdurou até o
destino do prédio terminar seus dias e ele ser demolido. Morte de O Estrangeiro
também. E no Vale quem não é Estrangeiro? Se o estrangeiro somos todos nós,
não teríamos todos morrido enquanto vida vivida com os pés no chão da maior
praça pública da metrópole São Paulo?
Figura 9. Na parede branca do prédio o painel grafitado por Osgêmeos em evento no ano de 2009 e que figurou no Vale do Anhangabaú até o prédio ser demolido e a obra tornar-
se destroços na administração do prefeito Kassab. De pé no chão, O Estrangeiro caminha no Vale. Calça de cor terrácea, remendada nos joelhos e camisa colorida. Na face, figura
um semblante sério e triste. Fonte: <http://www.flickr.com/photos/rafagushi/5977038109/in/photostream>
Os pés amarelos de O Estrangeiro descalço nos põem sentindo na nossa carne
caminhante a continuidade do Vale. Descendo das paredes, a cada olhar nosso
esse sujeito incorporasse nos corpos que aí circulam e transformasse em um
deles. Ele é mais um dos integrantes da população da megalópole São Paulo,
uma totalidade carregada nele mesmo.
Além do traçado do leito encoberto de um rio de outros tempos, as pedras
portuguesas da via calçada nos levam à continuidade do recorte do Vale pelas
aberturas que permitem um galgar para além da circularidade recortada. A cidade
só é experienciada quando estamos de corpo e alma vivendo-a: no corpo de um
tateando o corpo do outro.
Depois de toda essa trajetória de cima para baixo, o sujeito está apto a estar na
cidade, com a cidade, interagindo corpo a corpo com ela. O homogêneo recortado
mostra-se particularizado e a heterogeneidade citadina aparece. As partes
invisíveis e as visíveis do todo ganham contornos e são elas que abrigam as
interações corpo a corpo.
O corpo situado insere o sujeito nas narrativas, permitindo que esse relacione os
planos, toque os pontos que o compõem tateando as suas particularidades,
articule as partes na configuração da totalidade significante e, ao fazê-lo,
distinguia as figuras e categorize-as.
De um bloqueio parietal compacto, pesado e estático, que engloba em si vazios,
esse englobado que se abre mostra o ser mutante e proporcionador de
deslocamentos de um vir a ser. Somos todos O Estrangeiro de nós mesmos e da
cidade. Um habitante que se descobre e re(descobre) nos e pelos seus
deslocamentos. Situado no corpo a corpo, demarcando distâncias e
posicionamentos o sujeito segue rotas desbravando sempre o seu próprio ser ao
desbravar o da cidade pelas vias expressas Norte-Sul e Leste-Oeste no ritmo dos
fluxos dos carros, dos ônibus, pelos subterrâneos do metrô, pelos seus passos
caminhantes fazendo o seu caminhar. No mais das vezes lentamente seguindo e
parando, de novo e de novo. Entre o fluir da cidade e a sua coagulação, o sujeito
é impedido de seguir pelas vias públicas que não são mais para a locomoção, ao
menos as rápidas. Na prolongação dos deslocamentos, o carro com o seu
conforto do privado, no mais das vezes contando com refrigeração comporta
ações múltiplas: fala-se ao telefone no viva voz, assiste-se um filme de rabo de
olho, ouve-se música, cantando e ritmando com o corpo sentado, tenta
explicações do estar parado nas rádios de trânsito, responde-se aos e-mails,
socializando-se com sua rede de amigos e vê a rua passar, fixando aqui e ali a
visão e vence-se assim mais um trecho até rodar todos e chegar no ponto final. De
carro, São Paulo está cada dia mais lenta, quase parada e é assim que as
paredes com as suas inscrições do grafite e também aquelas da pichação
funcionam captando a atenção dos que circulando proporcionando uma rede de
translações do sujeito. Do mesmo modo funcionam as fachadas das lojas, dos
edifícios, as pessoas andando, tudo isso entrando nas angulações do olhar para
não poder não ser visto.
Por essa orientação do olhar cara a cara, confrontando as paredes e as vidas que
aí vivem entrevistas na frontalidade e na diagonalidade do olhar, elas constituem-
se objeto de valor pela visibilidade que proporcionam ao que são expostos nessas
paredes, muros e vazios. Captadas como fonte de exibição, os muros e paredes
foram usadas na semana de moda do São Paulo Fashion Week, nos últimos dias
de janeiro de 2012. Um modo de presença da moda para situá-la no lugar mesmo
em que as pessoas vivem. Nas calçadas, os anúncios são vistos com uma
viradinha do corpo para as laterais. Os passos diminuem o ritmo da circulação em
conformidade com o câmbio do interesse. O foco de atenção é então captado por
armadilhas interpostas intencionalmente ao longo da rota de locomoção a pé. A
manipulação dos destinadores sempre à espreita dos destinatários para
surpreendê-los na armação do fazer querer. De dentro dos carros também se olha
pela transparência dos vidros as paredes e muros pintados. No caso, as pinturas
dos lançamentos de moda de grandes expoentes da criação brasileira que
estrategicamente vão se posicionar onde estão os corpos da população. Exploram
o contexto, a situação proxêmica para assumir determinados posicionamentos e,
assim, estilistas e suas marcas interpõem o olhar para ganhar visibilidade no
corpo a corpo com a população.
Figura 10. O casaco da marca Maria Bonita é usado em várias poses que mostram um andar na paisagem urbana. A cor rosácea dá destaque ao muro, enquanto o preto da porta metálica com o fundo amarelo destaca o corpo vestido que é flagrado em várias passsada até virar-se e ir em direção àquele que a olha. O estado precário do lugar
assinala que essas inscrições buscam lugares de passagens daqueles com quem querem travar diálogo e fazer querer saber que mulher bem vestida é essa que cruza o seu
circular pela urbes. Foto de Debby Gram e Felipe Morozini.
Fonte: Folhapress.
A edificação da cidade é mostrada que também ela tem individuações próprias
que a particularizam e a arte do ferro esculpido no acesso do edifício nas ruas do
centro antigo, faz ver um outro quadro retangular, o plasmado no granito do
revestimento do imóvel. Vê-se admirativamente aí a arte do ferro e a modelo
vestida, não sem estranhamento com esse modo de exibição que desperta no
mínimo questionamento de uma figura feminina circulando pela região central de
São Paulo ao lançar o look da moda e atrair a atenção sobre si. Em paralelo à arte
do ferro da porta do imóvel à arte de vestir-se com uma elegância para ser vista
da sombrinha azul aos pés.
Figura 11. Na retomada das cores azuladas da porta e das placas que ressaltam do
assentamento das pedras brancas o look assinado por Alexandre Herchcovitch faz sua saída do prédio no grito da moda para a sua expedição urbana.
Foto: Debby Gram e Felipe Morozini.
Fonte: Folhapress.
Figura 12. O uniforme de rua do estilista Osklen indica um sair da calçada com os desenhos do estado de São Paulo realizado com as pedras branco e preto para os
pés que aí pisam assumir um modo alegre de estar no mundo. Da rua da paulicéia, no branco e preto do cromatismo do fundo de um jornal, eis a nova do diário e uma jovem se inscreve no passo a passo urbano uniformizada como os
jovens trabalhadores de sua geração. O estar na moda é valor para todos. Foto: Debby Gram e Felipe Morozini.
Fonte: Folhapress.
Para além da calçada, na rua, corpos ocupam o corpo vital da cidade: a rua. O
local do carro é transformado no local de pessoas: um homem caminhando, uma
criança andando de bicicleta e, na diagonal entre homem e criança, a mulher
modelo da moda olhando para fora, para quem a olha. Com o corpo todo em
movimentação, na roda dos babados da saia há o rodopio do estar vivendo os
rodopias da rua. A emoção está nos passos e no compasso que forma a rítmica
do mover-se na cidade.
Figura 13. No meio da rua delimitada pelas faixas pintadas de um branco meio apagado, o look flamenguista de André Lima é da cor asfáltica como se a figura feminina brotasse da rua e aí, nos passos volteados das camadas de babados, seus volteios estivessem
rodando o melodrama da mulher rua. Foto: Debby Gram e Felipe Morozini.
Fonte: Folhapress.
Esse recorte configurou apenas alguns exemplos de modos de estar na rua no
corpo a corpo experiencial que se trava entre cidade e população. Em uma outra
parede como para esvair do estar na cidade vivendo-a, um conjunto de balões tira
o habitante da rua, da calçada e esse é posto aos ares, colado na parede, de
novo, em sobrevoo pela cidade, o que permite que encerramos essa reflexão
sobre os modos de interação na cidade. A partir de um outro painel desta semana
de moda de 2012, o sujeito volta a deixar a rua, o face a face, para ganhar uma
distância mediana, ir perdendo a nitidez da escuta e voltar às panorâmicas de
vistas de São Paulo.
Figura 14. Em contraposição ao look anterior, o da modelo Laís Ribeiro alça voo da rua,
da calçada e mostra a sua elegância na magia de sua levitação vestindo um look da
coleção de João Pimenta. Ela vai sendo levada pelos balões em um distanciamento do
aqui e agora da cidade. Ao ganhar altura perde-se o face a face, o corpo a corpo
interagente que faz ser o habitante e a cidade. Das alturas, longe do alcance do olhar, do
sentir pela experiência, a cidade volta a ser vista de cenas do alto. Toda a distinção das
partes vai ser perdida pela generalidade do sobrevoo. Foto: Debby Gram e Felipe Morozini.
Fonte: Folhapress.
Todo esse nosso percurso visou abordar as posições e os enquadramentos do
corpo no seu postar-se no corpo da cidade em que ele é levado a postar-se em
um ponto e assumir na localização as condições para a interação significante. Na
posição elevada em que o corpo se volta para baixo resulta um sentido de ênfase
à inferioridade da figura humana e com o corpo embaixo voltado para cima é o
contrário que é passado, ou seja, a superioridade. Do mostrar de cima todos os
elementos, passamos a vê-los em uma homogeneidade geral totalizante, à
distância tudo é indistinto. Quanto mais aproximação mais nitidez e as partes
ganham precisão e são detalhadas. Perde-se a totalidade e ganha-se a
parcialidade com a proximidade. No jogo entre esses modos de aproximação e
distanciamento é que o cinetismo do encadeamento é montado e tem-se distintas
relações proxêmicas entre o observador e o que é observado. A constituição do
sentido depende dos tipos de interação que constroem o espaço com o aproximar-
se e o afastar-se que faz as interações mudarem do ser observadas. De longe, ou
de perto, tem-se os distintos modos de viver e de experienciar a cidade.
O homem é um ser que faz distinções, isto é, sua apreensão opera a partir de sua
competência de operar distinções entre as impressões. Momentâneas ou
persistentes, as impressões dependem da significância das diferenciações entre
as práticas sociais, as relacionadas às “vivências” que se inscrevem na
experiência do vivido e àquelas relacionadas à observação da cotidianidade em
que nos inserimos. De perto, o que produz intervenção, contato, experiência, de
longe o que é objetivizado pelo olhar distanciado. Depende das condições de
posição e do assumir proxêmico do posicionamento o fato de construir observação
ou experiência que permitem cada uma de modo diverso a apreensão. Essas são
passíveis de compor tipos que nos permitem a formação de categorias. Assim o
que é ponto final desse estudo ainda prossegue em novos desdobramentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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