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Tribunal Judicial de Gondomar 2º Juízo Criminal Rua Padre Augusto Maia - 4420-245 Gondomar Telef: 224664330 Fax: 224664337 Mail: [email protected] 4976897 510/06.6TAFUN CONCLUSÃO - 21-10-2008 (Termo electrónico elaborado por Escrivão Auxiliar Alexandra Alão Pereira) =CLS= DECISÃO INSTRUTÓRIA Declaro encerrada a Instrução. * Por requerimento de fls. 1935 dos autos, e na sequência da decisão de fls. 1863 e seguintes proferida pelo Tribunal de Instrução Criminal da Comarca do Funchal, que declarou a sua incompetência territorial e ordenou a remessa dos presentes autos para este Tribunal, veio o arguido Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa reiterar a questão prévia da incompetência territorial , porquanto entende que o tribunal territorialmente competente será o Tribunal de Instrução Criminal da Comarca de Braga. Alega, para tanto e em síntese, que os factos de oferecimento de “promessa” ou “vantagem patrimonial ou não patrimonial” terão ocorrido em Braga, mesmo de acordo com a tese defendida pela acusação. Termina, requerendo a declaração da incompetência territorial deste tribunal e a consequente remessa dos autos à Comarca de Braga, por ser esta a competente. Cumpre apreciar e decidir . Nos termos do disposto no art. 32.º, n.º 1, do Código de Processo Penal, a incompetência do tribunal é por este conhecida e declarada oficiosamente, e pode ser deduzida pelo Ministério Público, pelo arguido e pelo assistente até ao trânsito em julgado da decisão final. Documento assinado electronicamente. Esta assinatura electrónica substitui a assinatura autógrafa. Dr(a). Pedro Miguel Vieira

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4976897

510/06.6TAFUN

CONCLUSÃO - 21-10-2008

(Termo electrónico elaborado por Escrivão Auxiliar Alexandra Alão Pereira)

=CLS=

DECISÃO INSTRUTÓRIA

Declaro encerrada a Instrução.

*

Por requerimento de fls. 1935 dos autos, e na sequência da decisão

de fls. 1863 e seguintes proferida pelo Tribunal de Instrução Criminal da

Comarca do Funchal, que declarou a sua incompetência territorial e ordenou a

remessa dos presentes autos para este Tribunal, veio o arguido Jorge Nuno

de Lima Pinto da Costa reiterar a questão prévia da incompetência territorial,

porquanto entende que o tribunal territorialmente competente será o Tribunal

de Instrução Criminal da Comarca de Braga.

Alega, para tanto e em síntese, que os factos de oferecimento de

“promessa” ou “vantagem patrimonial ou não patrimonial” terão ocorrido em

Braga, mesmo de acordo com a tese defendida pela acusação.

Termina, requerendo a declaração da incompetência territorial deste

tribunal e a consequente remessa dos autos à Comarca de Braga, por ser esta

a competente.

Cumpre apreciar e decidir.

Nos termos do disposto no art. 32.º, n.º 1, do Código de Processo

Penal, a incompetência do tribunal é por este conhecida e declarada

oficiosamente, e pode ser deduzida pelo Ministério Público, pelo arguido e

pelo assistente até ao trânsito em julgado da decisão final.

Documento assinado electronicamente. Esta assinaturaelectrónica substitui a assinatura autógrafa.Dr(a). Pedro Miguel Vieira

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Tratando-se, porém, de incompetência territorial, e no que para o

caso dos autos interessa, ela somente pode ser deduzida e declarada até ao

início do debate instrutório, tratando-se de juiz de instrução (alínea a) do n.º 2 do

preceito legal supra referido).

A incompetência do tribunal é, em regra, uma nulidade insanável, de

conhecimento oficioso e a todo o tempo até ao trânsito em julgado da decisão

final (cfr. art. 119.º, alínea e), do Código de Processo Penal). Só assim não é no que

concerne à incompetência territorial, que é uma nulidade sanável.

Os presentes autos resultam de uma certidão extraída do “processo

mãe”, vulgarmente conhecido como “apito dourado” (Processo n.º 220/03.6TAGDM,

que ainda corre termos neste Tribunal Judicial), certidão que na sequência do despacho

de encerramento do inquérito foi remetida para os Serviços do Ministério

Público junto do Tribunal Judicial da Comarca do Funchal, por terem sido

esses os considerados territorialmente competentes.

Assumida pelos referidos Serviços do Ministério Público a sua

competência territorial, foi efectuado o inquérito e deduzida a acusação que

agora é objecto da presente instrução.

No requerimento de abertura da instrução que apresentou no

Tribunal de Instrução Criminal da Comarca do Funchal, o arguido Jorge Nuno

de Lima Pinto da Costa suscita, para além do mais e como questão prévia, a

questão da incompetência territorial do Juiz de Instrução Criminal, invocando

já ali os mesmos argumentos que agora volta a invocar e concluindo que havia

de ser competente para a Instrução outro Tribunal que não aquele da

Comarca do Funchal.

Conforme referimos supra, a esta questão suscitada pelo arguido

Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa respondeu a Exma. Juíza de Instrução

Criminal do Tribunal Judicial da Comarca do Funchal, através do citado

despacho de fls. 1863 e seguintes, onde foi declarada, repete-se,

incompetência territorial daquele Tribunal e ordenada a remessa dos

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presentes autos para este Tribunal.

Quer o Ministério Público, quer os arguidos, foram notificados do

despacho em causa, que transitou em julgado sem que algum desses sujeitos

processuais tivesse reagido.

Dito de outra forma, notificados que foram da posição assumida pela

Exma. Senhora Juíza de Instrução Criminal da Comarca do Funchal os

arguidos, nomeadamente o arguido Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa,

conformaram-se com a mesma, não tendo recorrido, como podiam e deviam,

se com ela estavam em desacordo.

Cremos, por conseguinte, que suscitada a questão da incompetência

territorial em sede de instrução e tendo essa questão sido decidida, por

despacho transitado em julgado, não poderá aquela mesma questão, pelo

menos dentro da mesma fase processual, voltar a ser suscitada. Ou seja,

decidida que foi a questão da incompetência territorial por despacho transitado

em julgado, não se nos afigura que possa um dos arguidos (o mesmo ou outro) ou

inclusive o Ministério Público suscitar novamente a questão dentro da mesma

fase processual.

Ainda assim, sempre diremos que, atenta a prova recolhidos nos

presentes autos, os fundamentos vertidos no douto despacho de fls. 1863 e

seguintes mantém acuidade, pelo que, com a devida vénia, se convocam para

a presente decisão.

Ora, e a ser como se deixou dito, não resta outra alternativa senão

considerar o Tribunal Judicial da Comarca de Gondomar territorial competente

para a instrução criminal dos presentes autos, indeferindo-se a final a

suscitada incompetência territorial.

*

O Tribunal é, assim, o competente.

*

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Não há ilegitimidades, outras excepções, questões prévias ou

incidentais que obstem a uma decisão de mérito, sendo certo que as nulidades

relativas à prova e arguidas nos vários requerimentos de abertura da instrução

apresentados em juízo serão apreciadas no corpo da presente decisão.

*

Na sequência do despacho de acusação de fls. 1059 e seguintes

deduzido pelo Ministério Público contra os arguidos António Fernando Peixoto

de Araújo, Rui António Macedo Alves, Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa e

Augusto José Bastos Duarte, imputando aos três primeiros arguidos a prática, em

co-autoria, de um crime de corrupção activa no fenómeno desportivo, previsto e punido pelos arts. 4.º,

n.º 1 e 2, 3.º, n.º 1, e 6.º, do Decreto-Lei n.º 390/91 de 10/10, e ao quarto arguido a prática, como

autor, de um crime de corrupção passiva no fenómeno desportivo, previsto e punido pelos arts. 3.º, n.º

1, 2.º, n.º 1, e 6.º, do mesmo diploma legal, vieram todo eles requerer a abertura da

instrução, no sentido do arquivamento dos autos.

Suscitam, para tanto, várias questões de direito, nomeadamente a

inconstitucionalidade da Lei n.º 49/91, de 3 de Agosto, e do Decreto-Lei n.º

390/91, de 10 de Outubro (“lei da corrupção desportiva”), e a nulidade das escutas

telefónicas efectuadas nos autos principais.

Referem ainda que a prova recolhida em sede de inquérito não

permite, como não permitia, a dedução de acusação em apreço.

*

Com utilidade para a decisão a proferir nesta fase entendeu o

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Tribunal proceder à inquirição das testemunhas arroladas nos requerimentos

de abertura da instrução, bem como solicitar as informações requeridas pelos

arguidos.

*

Não se vislumbrando qualquer outro acto instrutório cuja prática

revestisse interesse para a descoberta da verdade, nem tendo sido requerida

a realização de mais algum, efectuou-se o debate instrutório, que decorreu na

presença apenas do arguido Rui Alves (os demais prescindiram do direito de estar

presente) e com observância do formalismo legal, conforme se alcança da

respectiva acta, tudo em conformidade com o disposto nos arts. 298.º, 301.º e

302.º, todos do Código de Processo Penal.

Cumpre agora, nos termos do art. 308.º, do mesmo diploma legal,

proferir decisão instrutória.

*

A Instrução visa, segundo o que nos diz o art. 286.º, n.º 1, do Código

de Processo Penal, “a comprovação judicial da decisão de acusar ou de

arquivar o inquérito em ordem a submeter ou não a causa a julgamento”.

Configura-se assim como fase processual sempre facultativa – cfr. n.º 2 do mesmo

dispositivo – destinada a questionar a decisão de arquivamento ou de acusação

deduzida.

Como facilmente se depreende do citado dispositivo legal, a

instrução configura-se no Código de Processo Penal como actividade de

averiguação processual complementar da que foi levada a cabo durante o

inquérito e que tendencialmente se destina a um apuramento mais

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aprofundado dos factos, da sua imputação ao agente e do respectivo

enquadramento jurídico-penal.

Com efeito, realizadas as diligências tidas por convenientes em

ordem ao apuramento da verdade material, conforme dispõe do art. 308.º, n.º

1, do Código de Processo Penal, “se, até ao encerramento da instrução,

tiverem sido recolhidos indícios suficientes de se terem verificado os

pressupostos de que depende a aplicação ao arguido de uma pena ou de uma

medida de segurança, o juiz, por despacho, pronuncia o arguido pelos factos

respectivos; caso contrário, profere despacho de não pronúncia”.

Na base da não pronúncia do arguido, para além da insuficiência de

indícios necessariamente consubstanciada na inexistência de factos, na sua

não punibilidade, na ausência de responsabilidade ou na insuficiência da

prova para a pronúncia, poderão estar ainda motivos de ordem processual, ou

seja, a inadmissibilidade legal do procedimento ou vício de acto processual.

Já no que toca ao despacho de pronúncia, a sustentação deverá

buscar-se, como deixei dito, na suficiência de indícios, tidos estes como as

causas ou consequências, morais ou materiais, recordações e sinais de um

crime e/ou do seu agente que sejam captadas durante a investigação.

Depois, no n.º 2 deste mesmo dispositivo legal, remete-se, entre

outros, para o n.º 2 do art. 283.º, nos termos do qual “consideram-se

suficientes os indícios sempre que deles resultar uma possibilidade razoável

de ao arguido vir a ser aplicada, por força deles, em julgamento, uma pena ou

uma medida de segurança”.

Isto posto, para que surja uma decisão de pronúncia a lei não exige

a prova no sentido da certeza-convicção da existência do crime; antes se

basta com a existência de indícios, de sinais dessa ocorrência, tanto mais que

a prova recolhida na fase instrutória não constitui pressuposto da decisão de

mérito final. Trata-se de uma mera decisão processual relativa ao

prosseguimento do processo até à fase do julgamento.

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Todavia, como a simples sujeição de alguém a julgamento não é um

acto em si mesmo neutro, acarretando sempre, além dos incómodos e

independentemente de a decisão final ser de absolvição, consequências, quer

do ponto de vista moral, quer do ponto de vista jurídico, entendeu o legislador

que tal só deveria ocorrer quando existissem indícios suficientes da prática

pelo arguido do crime que lhe é imputado.

Assim sendo, para fundar uma decisão de pronúncia não é

necessária uma certeza da infracção, mas serem bastantes os factos

indiciários, por forma a que da sua lógica conjugação e relacionação se

conclua pela culpabilidade do arguido, formando-se um juízo de probabilidade

da ocorrência dos factos que lhe são imputados e bem assim da sua

integração jurídico-criminal.

Os indícios são pois suficientes quando haja uma alta probabilidade

de futura condenação do arguido ou, pelo menos, quando se verifique uma

probabilidade mais forte de condenação do que de absolvição.

Neste sentido, veja-se Castanheira Neves, in “Sumários de Processo Criminal”,

págs. 38 e 39, onde aquele professor perfilha a tese segundo a qual na

suficiência de indícios está contida “a mesma exigência de verdade requerida

pelo julgamento final” apenas com a limitação inerente à fase instrutória, no

âmbito da qual não são naturalmente mobilizados “os mesmos elementos

probatórios e de esclarecimento, e portanto de convicção, que estarão ao

dispor do juiz na fase de julgamento, e por isso, mas só por isso, o que seria

insuficiente para a sentença pode ser bastante ou suficiente para a acusação”.

Fixadas as directrizes que de acordo com a lei nos devem orientar

na prolação da decisão instrutória, de pronúncia ou não pronúncia, interessa

agora apurar, por um lado, se em face da prova recolhida até ao momento se

indicia suficientemente a prática pelos arguidos dos factos que lhes são

imputados na douta acusação pública e, por outro lado, concluindo-se

afirmativamente, se tais factos sustentam a imputação jurídico-criminal

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efectuada na referida peça processual.

Vejamos o caso sub judice e o que dos autos dimana.

Conforme foi referido supra, os presentes autos resultam de uma

certidão extraída do “processo mãe”, vulgarmente conhecido como “processo

apito dourado” (Processo n.º 220/03.6TAGDM, que ainda corre termos neste Tribunal Judicial).

Foi no âmbito desse processo que se procedeu durante a fase do

inquérito às intercepções telefónicas agora colocadas (uma vez mais) em causa e

a que dizem respeito as transcrições indicadas pelo Ministério Público como

fundamento probatório da acusação deduzida contra os arguidos.

O referido processo n.º 220/03.6TAGDM, de onde derivam os

presentes autos, foi também ele objecto de instrução, tendo sido o signatário

quem presidiu à referida fase processual e quem naquele processo proferiu

decisão instrutória.

As questões jurídicas agora suscitadas pelos arguidos nos

respectivos requerimentos de abertura da instrução (ou pelo menos grande parte

delas) foram igualmente suscitadas naquele referido processo, tendo sido

tomada posição pelo signatário quanto a todas elas.

O estudo que então fizemos das referidas questões e o facto de a

decisão por nós proferida ter sido integralmente confirmada quer pelo Tribunal

da Relação do Porto, nos diversos acórdãos proferidos na sequência dos

vários recursos da decisão instrutória interpostos pelos arguidos, quer mais

recentemente pelo Tribunal Constitucional (cfr. Acórdão n.º 378/2008, disponível em

http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos), leva-nos, como é óbvio, a manter aquela

posição, reafirmando-a naquilo que for de reafirmar.

Por uma questão de sistematização da presente decisão, tendo até

em vista uma melhor compreensão da mesma, analisaremos em primeiro

lugar as diversas questões jurídicas invocadas, nomeadamente a alegada

inconstitucionalidade da Lei n.º 49/91, de 3 de Agosto, e do Decreto-Lei n.º

390/91, de 10 de Outubro (lei da corrupção desportiva), e a alegada nulidade das

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escutas telefónicas.

Depois, analisaremos os indícios ou a falta deles e, se for caso

disso, a qualificação jurídica dos factos descritos na acusação pública.

*

1. Inconstitucionalidade do Decreto-Lei n.º 390/91, de 10 de Outubro.

Reafirmamos a este propósito aquilo que já escrevemos no âmbito

do processo principal.

A Lei cuja constitucionalidade é em primeira linha questionada é a

Lei n.º 49/91, de 3 de Agosto.

De acordo com o art. 1º deste diploma legal “fica o Governo

autorizado a legislar no sentido de qualificar como crime comportamentos que

afectem a verdade e a lealdade da competição desportiva e seu resultado”. O

art. 2º acrescenta depois que “o diploma a publicar ao abrigo da presente

autorização legislativa estabelecerá a definição dos comportamentos, acções

ou omissões, contrários aos princípios da ética desportiva, com o fim de alterar

a verdade, lealdade e correcção da competição desportiva ou o seu resultado,

fixará as respectivas sanções, até ao limite de quatro anos de prisão, com ou

sem multa, podendo igualmente prever penas acessórias de suspensão da

actividade desportiva e de privação de receber subsídios oficiais”.

Foi com base no diploma citado que foi publicado o Decreto-Lei n.º

390/91, de 10 de Outubro, e cuja constitucionalidade também é, por

consequência, questionada.

Radicando o cerne da questão em apreço na

legalidade/constitucionalidade da Lei de Autorização (Lei n.º 49/91, de 3 de Agosto),

é nesta que centraremos as atenções.

Seguindo de perto os ensinamentos de Jorge Miranda e Rui

Medeiros, in “Constituição Portuguesa Anotada”, Tomo II, págs. 537-543, Coimbra Editora,

Janeiro de 2006, diremos que o instituto das autorizações legislativas tem de ser

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apercebido tendo em conta, simultaneamente, as vicissitudes dos modos de

produção das leis nos últimos 150 anos e o principio fundamental da fixação

da competência pela norma jurídica.

Não admira que, despontado já no século XIX, tenha alcançado um

incremento extraordinário, independentemente dos sistemas de governo –

presidenciais e parlamentares, directoriais e semipresidenciais – e que apareça

tanto a partir do costume nos países anglo-saxónicos e na Suíça, quanto em

Constituições como a italiana, a alemã, a francesa, a espanhola ou a

brasileira.

As autorizações legislativas, por um lado, manifestam a superação

do exclusivo de competência legislativa do Parlamento. Por outro, porém, as

autorizações legislativas levam consigo o essencial do constitucionalismo e do

Estado de Direito, não só por apenas serem consentidas em áreas mais ou

menos circunscritas como sobretudo por estarem sujeitas a um

enquadramento mais ou menos limitativo e rigoroso.

Na opinião dos citados autores, nenhuma das concepções clássicas

propostas pelos administrativistas – a da transferência de poderes, a da

autorização ou ainda a do mandato e a da substituição – se revela adequada a

explicar o fenómeno das autorizações legislativas. A sua construção jurídica

tem de se promover na específica perspectiva constitucional de divisão de

poderes e de colaboração dos órgãos de soberania.

Não há transferência ou alienação de poderes. A Assembleia da

República, votando a autorização, não cede faculdades atribuídas pela

Constituição, nem renúncia ao seu exercício. Apenas chama o Governo a

também exercê-las. A titularidade e o exercício continuam na “Câmara”; mas o

Governo vai participar duma e doutro, por virtude da lei de autorização.

Tão pouco a autorização legislativa se traduz numa imposição ao

Governo para legislar. Por sua iniciativa, o Governo recebe um poder, não um

dever.

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Órgão de soberania distinto do Parlamento, exercerá quando

entender (no âmbito temporal da autorização) ou não exercerá esse poder, com a

liberdade inerente à função legislativa; tal como, querendo aproveitá-la, não é

obrigado a usá-la em toda a sua extensão.

Ao legislar precedendo autorização, o Governo, sem dúvida, exerce

uma competência sua, não exerce uma competência alheia (ou uma competência

alheia em nome próprio); não é um mandatário ou um representante do Parlamento

para esse fim. No entanto, não se trata de um poder que o Governo já

possuísse, um poder como qualquer outro, um poder equivalente ao de fazer

Decretos-Leis simplesmente: a Constituição distingue com toda a nitidez

(alíneas a) e b) do n.º 1 do art. 198°). É no âmbito complexo da Constituição e da lei

de autorização que esse poder do Governo surge – e que surge como poder,

por consequência, condicionado, derivado e mediato.

Norma de reserva relativa significa isto: que no planeamento

constitucional dos órgãos há um, a Assembleia, considerado mais idóneo para

regular certa matéria; mas que se admite que esse órgão, por sua vez, quando

e como entender, possa abrir-se à colaboração de outro órgão, o Governo, na

regulamentação da mesma matéria. A autorização legislativa não equivale,

portanto, a inverter a competência, passando-a para o Governo no assunto e

na circunstância em causa; equivale, simplesmente, a alargar o seu âmbito

subjectivo, dentro da elasticidade criada pela Constituição.

Mas a lei de autorização não se reconduz a lei meramente formal.

Ela possui o conteúdo correspondente ao sentido a que fica adstrito o ulterior

decreto (arts. 112°, n.º 2 e 165°, n.º 2).

Não se trata só de uma vicissitude de competência; trata-se também

de acto que se manifesta na dinâmica global do ordenamento. E, embora não

atinja só por si os cidadãos, nem regule as situações da vida, os seus efeitos

não são apenas instrumentais; são, desde logo, efeitos substantivos, até

porque a função do sentido não se esgota com a emanação do Decreto-Lei

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autorizado, perdura como parâmetro da validade deste.

A autorização legislativa incide sobre objecto individualizado, com

sentido prefixado, por certo tempo, de utilização única quanto a cada matéria.

E parece mesmo plausível, como referem os citados autores e em face do

princípio preferencial constante da Constituição, que a Assembleia só a deva

conceder quando ela não possa fazer, por si, a lei e esta seja necessária (ou

estritamente necessária).

Qualquer autorização legislativa está sujeita a quatro ordens de

limites – limites substanciais, formais, subjectivos e temporais – que decorrem

da própria lógica do instituto. Estes limites incidem sobre a lei e sobre o

decreto autorizado.

Limites substanciais são:

I. Só pode haver autorizações legislativas sobre matérias do art.

165°, não sobre quaisquer outras matérias de competência legislativa

(designadamente, arts. 161° e 164°) ou não legislativa da Assembleia da

República (arts. 161°, alínea i), 162° e 163°);

II. Só pode haver autorizações legislativas sobre estas ou aquelas

matérias do art. 165°; não sobre todas as suas matérias ou alíneas;

III. Consequentemente, a lei de autorização tem de definir tanto

o objecto como a extensão da autorização; autorizações em branco ou globais

subverteriam a distribuição constitucional de competências;

IV.IV. A cada matéria ou segmento de matéria objecto de

autorização não pode corresponder mais que um acto legislativo do Governo

ou da Assembleia Legislativa (art. 165°, n.º 3) e, por conseguinte, durante o

período da autorização, não pode haver dois Decretos-Leis ou Decretos

Legislativos Regionais sobre a mesma matéria (nem que seja para o segundo

revogar o primeiro).

Limite substantivo especialíssimo é ainda a prescrição de sentido.

A lei de autorização tem de definir o sentido da autorização, quer

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dizer o objectivo e o critério da disciplina legislativa a estabelecer, a

condensação dos princípios ou a orientação fundamental a seguir pelo

Decreto-Lei ou pelo Decreto Legislativo a emitir de seguida. O sentido é limite

interno da autorização legislativa – limite quer para o Parlamento, quer para o

destinatário, e elemento prospectivo para os cidadãos em geral.

Como limites formais ou procedimentais indicam-se em regra:

I. A autorização legislativa tem de ser explícita e autónoma; tem de

constar de uma lei de autorização, com a sua peculiar tramitação;

II. O acto autorizado tem de revestir a forma de Decreto-Lei ou de

Decreto Legislativo Regional [art. 198°, n.º 1, alínea b)], nunca a de Decreto

Regulamentar;

III. O acto autorizado tem de se reportar a determinada lei de

autorização, expressamente invocada (art. 198°, n.º 3).

Como limites subjectivos:

I. Só pode haver autorização legislativa da Assembleia da República

ao Governo ou à Assembleia Legislativa, não a qualquer outro órgão ou entre

quaisquer outros órgãos;

II. A autorização legislativa – pela gravidade da vicissitude de

competência que provoca – só pode ser concedida por uma Assembleia na

plenitude de funções, não por uma Assembleia dissolvida (art. 172°);

III. Não pode ser exercida, e pedida, por um Governo demitido

(art. 195°), nem por uma Assembleia Legislativa dissolvida (art. 227°, n.º 3);

IV. A autorização legislativa implica uma relação fiduciária entre

a Assembleia e o Governo, ou entre a Assembleia e qualquer das

Assembleias Legislativas Regionais; dá-se intuitu personae; é de certa

Assembleia a certo Governo ou a certa Assembleia Legislativa. Por isso, não

apenas cessa com o termo da legislatura, a dissolução e a demissão, como

não se transmite ou renova automaticamente com a nomeação de novo

Governo ou a eleição de nova Assembleia Legislativa. E, no concernente ao

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Governo, tal fica mais reforçado por ele responder politicamente perante a

Assembleia (arts. 190° e 191º).

V. O Governo ou a Assembleia Legislativa não pode autorizar outro

órgão a servir-se da autorização legislativa, porque não há subdelegação,

senão quando a norma a preveja.

Finalmente, são limites temporais:

I. A autorização legislativa não pode ser para todo o tempo ou por

tempo indeterminado, sob pena de se destruir a regra da reserva de

competência; tem de ser a termo certo final, e não para esta ou aquela

circunstância ou sob condição;

II. A autorização tem de ser, pelo mesmo motivo, por um tempo

relativamente curto, pelo tempo adequado e necessário (não, por exemplo, por

toda a duração da legislatura); e se esse tempo não for suficiente poderá ser

prorrogada (art. 165°, n.º 2, in fine), por meio de nova lei;

III. Não há autorizações legislativas retroactivas – pela natureza

das coisas autorização é para futuro e só assim pode o Parlamento definir o

seu sentido e a sua duração, tal como só assim se compreende a caducidade

com a demissão do Governo (art. 165°, n.º 2 e 4).

Se a lei de autorização não observar os limites a que se encontra

adstrita, será inconstitucional – por inconstitucionalidade orgânica, formal ou

material, consoante as hipóteses. Inconstitucionalidade orgânica no caso de

preterição de limites substantivos, subjectivos e temporais;

inconstitucionalidade formal, na hipótese de preterição de limites formais;

inconstitucionalidade material, por desvio de poder legislativo, na falta ou

insuficiência de sentido. E o Decreto-Lei ou o Decreto Legislativo autorizado

que então for emanado será também, consequentemente, inconstitucional.

Se o acto autorizado exceder a autorização, quanto ao objecto ou

quanto ao tempo será organicamente inconstitucional. Se desrespeitar os seus

limites formais, será formalmente inconstitucional. Se, porém, o seu sentido

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contradisser o da lei de autorização será ilegal – por ilegalidade material – e

não inconstitucional, como decorre do art. 112°, n.º 2.

À prioridade da reserva de competência legislativa do Parlamento

prendem-se três importantíssimos corolários.

Em primeiro lugar, esgotada ou cessada a autorização (por ter sido

utilizada ou por ter caducado por qualquer das causas do art. 165.°, n.º 4), volta a Assembleia,

e só ela, a poder dispor livremente sobre a matéria de Decretos-Leis e

Decretos Legislativos Regionais autorizados.

Em segundo lugar, pode a Assembleia interpretar, modificar,

suspender ou revogar, no todo ou em parte, a lei de autorização, quando ainda

esteja em vigor. E, se tal acontecer, não ficará, só por isso, prejudicado, o

decreto autorizado (porque tempus regit actus).

Todavia, se o próprio sentido vier a ser alterado, necessariamente o

decreto que com ele se tornar desconforme, ficará nessa medida inquinado de

ilegalidade superveniente – pois que o Decreto-Lei ou o Decreto Legislativo

Regional autorizado tem de se subordinar constantemente ao sentido da

autorização (ao sentido actual, e não ao sentido pretérito).

Em terceiro lugar, no nosso Direito Constitucional não está mesmo o

Parlamento inibido de legislar, na vigência da autorização, sobre matérias seu

objecto, sem necessidade de qualquer avocação de competência. Não está

impedido de interpretar ou modificar o Decreto-Lei ou o Decreto Legislativo

autorizado em processo legislativo ou em processo de apreciação (art. 169. °, n.º

2). E tudo dependerá do alcance e da extensão das normas que fizer: em

princípio (ou no limite, doutro prisma), será de entender que ficará então tacitamente

revogada a autorização legislativa (se, quanto a certo segmento da matéria, ainda não

estiver esgotada).

Feitas todas estas considerações teórico-doutrinais, essenciais para

enquadrar a questão a decidir, importa referir, até no seguimento, que é vasta

a jurisprudência do Tribunal Constitucional sobre os condicionamentos das leis

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de autorização legislativa (cfr., entre outros, os Acórdãos n.º 358/92, publicado no Diário da

República, I Série, de 26 de Janeiro de 1993, 959/96, 257/97, 385/97 e 477/98, publicados no Diário

da República II Série, respectivamente, de 19/12/1996, 2/10/1998, 11/7/1997 e 24/11/1999).

Escreveu-se no primeiro aresto, que invocamos pela profundidade

da sua análise, até em termos de direito comparado: “Quanto ao objecto da

autorização, ele consiste na enunciação da matéria sobre a qual a autorização

vai incidir, enunciação essa que, sem prejuízo das garantias de segurança do

sistema jurídico, pode ser feita por remissão e abranger inclusive mais do que

um tema ou assunto. Como já se escreveu, «a determinação do objecto

definido pode ser feita de forma indirecta ou até implícita, quer por referência a

actos legislativos preexistentes (que a delegação pretenda coordenar, refundir

ou pôr em execução), quer por natural decorrência dos princípios e critérios

directivos aplicados a uma matéria genericamente enunciada ou a matérias

complexas (cfr. António Vitorino, As Autorizações Legislativas na Constituição Portuguesa,

ed. pol.; Lisboa, 1985, pág. 231). E continuando: «Por seu turno, a extensão da

autorização especifica quais os aspectos da disciplina jurídica da matéria em

causa sobre que vão incidir as alterações a introduzir por força do exercício

dos poderes delegados». E sobre o que deve ter-se pelo sentido da

autorização, afirmou-se aí, por remissão para o Autor citado: «O sentido da

autorização legislativa, sendo algo mais do que a mera conjugação dos

elementos objecto (matéria ou matérias da reserva relativa de competência

legislativa da Assembleia da República sobre que incidirão os poderes

delegados) e extensão (aspectos da disciplina jurídica daquelas matérias que

integram o objecto da autorização que vão ser modificados), não constitui,

contudo, exigência especificada de princípios e critérios orientadores [...], mas

algo mais modesto ou de âmbito mais restrito, que deve constituir

essencialmente um pano de fundo orientador da acção do Governo numa

tripla vertente: Por um lado, o sentido de uma autorização deve permitir a

expressão pelo Parlamento da finalidade da concessão dos poderes

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delegados na perspectiva dinâmica da intenção das transformações a

introduzir na ordem jurídica vigente (é o sentido na óptica do delegante); por

outro lado, o sentido deve constituir indicação genérica dos fins que o Governo

deve prosseguir no uso dos poderes delegados, conformando, assim, a lei

delegada aos ditames do órgão delegante (e o sentido na óptica do delegado);

e, finalmente, o sentido da autorização deverá permitir dar a conhecer aos

cidadãos, em termos públicos, qual a perspectiva genérica das transformações

que vão ser introduzidas no ordenamento jurídico em função da outorga da

autorização (é o sentido da óptica dos direitos dos particulares, numa zona

revestida de especiais cuidados no texto constitucional – as matérias que

incluem a reserva relativa de competência legislativa da Assembleia da

República)”.

Como nos parece evidente, a determinação da extensão e do

sentido das leis de autorização não dispensa (ou não pode dispensar) a utilização

dos instrumentos de pesquisa do pensamento legislativo. Se existem casos

em que eles serão patentes, outros haverá em que a sua determinação exigirá

maior esforço heurístico.

No caso em apreço constata-se que a amplitude do diploma

autorizado ou os aspectos da disciplina jurídica da matéria em causa sobre

que incidiram as alterações introduzidas por força do exercício dos poderes

legislativos delegados (extensão da autorização), bem como os princípios base, as

directivas gerais ou os critérios a observar pelo legislador delegado (sentido da

autorização) foram enunciados pela Lei n.º 49/91, de 3 de Agosto, embora de

forma genérica, mas com coerência interna e suficientemente explícitos para

operarem como elementos do “conteúdo mínimo exigível” da lei de

autorização.

Na verdade, daqueles princípios base, directivas gerais ou critérios a

observar decorre o essencial dos critérios que preenchem o valor paramétrico

da lei de delegação, que permitirão aferir da conformidade da lei delegada

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face à lei de autorização e que indiciam junto dos contribuintes qual o “sentido

geral” (ou “programa normativo”) do regime a emitir ao abrigo desta autorização.

Assim, verifica-se do art. 1.º, da Lei n.º 49/91, de 3 de Agosto, que o

legislador parlamentar autorizou o legislador delegado a qualificar como crime

comportamentos que afectem a verdade e a lealdade da competição

desportiva e seu resultado.

Resulta deste preceito uma evidente intenção legislativa, na linha, de

resto, do que em termos bem claros se afirma na exposição de motivos da

Proposta de Lei n.º 174/V, que deu lugar à lei de autorização, de proteger a

lealdade, a correcção da competição e do seu resultado, o respeito pela ética

na actividade desportiva, na medida em que “(segundo aquela exposição de motivos) é

um interesse que se revela e manifesta na supra-individualidade dos

interesses de todos quantos (adeptos, simpatizantes, espectadores) esperam

que a prática desportiva pública e os resultados das competições desportivas

não sejam afectados e falseados por comportamentos fraudulentos dos

respectivos agentes visando precisamente alterar a verdade desportiva”.

É pois por tudo isto que não conseguimos vislumbrar qualquer

necessidade, ou imposição constitucional, de a lei de autorização definir o que

deve entender-se por verdade, lealdade, competição desportiva, praticante

desportivo, sobre as pessoas cujos comportamentos devem ficar abrangidos

pela lei de autorização, se está abrangido o desporto profissional e o amador,

o desporto federado, ou não federado, e o desporto escolar.

Com efeito, sempre se poderá afirmar que, por um lado, no silêncio

da lei rege o já estabelecido no Código Penal, relativamente ao âmbito

subjectivo da responsabilidade, ou seja, só as pessoas singulares são

susceptíveis de responsabilidade criminal – art. 11.º, do Código Penal – e, por outro

lado, porque no que diz respeito ao que deve entender-se por competição

desportiva e praticante desportivo, a necessidade de haver autorização

legislativa da Assembleia da República ao Governo para que este, por

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Decreto-Lei, defina tais conceitos, não resulta da Lei Fundamental, já que o

art. 165.º, n.º 1 da Constituição da República Portuguesa, não prevê que tal

matéria a legislar careça de uma autorização, sendo a mesma da competência

legislativa do Governo – art. 198.º, n.º 1, alínea a), da Constituição da

República Portuguesa.

Mas ainda que assim se não entendesse, sempre se teria de levar

em conta o que relativamente a tais conceitos se encontrava já previamente

definido pela Lei n.º 1/90, de 13 de Janeiro (Lei de Bases do Sistema Desportivo), Lei

emanada pela Assembleia da República e que sempre teria a virtualidade de

integrar e definir os supra mencionados conceitos, dessa forma suprindo,

ainda que de forma implícita, a invocada inconstitucionalidade.

Acresce ainda que o facto de se saber se estariam abrangidos o

desporto profissional e o amador, o desporto federado ou não federado, o

desporto escolar, etc., resulta apenas da definição do que se deve entender

por competição desportiva, para onde, claramente, remete a definição do

objecto e extensão da autorização.

Ou seja, definido que está pela Assembleia da República, na Lei de

Autorização Legislativa, que esta tem como extensão e objecto o referido no

seu art. 1.º (qualificar como crime comportamentos que afectem a verdade e a lealdade da

competição desportiva e seu resultado), e sendo certo que a definição do que é

competição desportiva não compete à Assembleia da República, desde logo

fica perfeitamente definido o objecto e extensão da autorização nos termos em

que o foi.

Significa isto que, seja que desporto for (desporto profissional ou amador,

desporto federado ou não federado, desporto escolar), sempre terá que se tratar de

desporto inserido numa competição desportiva para se conter no objecto da

autorização e na sua extensão.

Também quanto ao sentido da autorização, e no seguimento do

exposto, verificamos que o constante do art. 2.º da Lei de Autorização em

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apreço é de molde a permitir concluir pela sua suficiente definição.

Com efeito, ao referir-se que a lei delegada “…estabelecerá a

definição dos comportamentos, acções ou omissões, contrários aos princípios

da ética desportiva, com o fim de alterar a verdade, lealdade e correcção da

competição desportiva ou o seu resultado, fixará as respectivas sanções, até

ao limite de quatro anos de prisão, com ou sem multa, podendo igualmente

prever penas acessórias de suspensão da actividade desportiva e de privação

de receber subsídios oficiais”, introduziu-se também um limite interno à

actividade legislativa do Governo, fixando-se as orientações e tendências

normativas que permitam compreender que política deverá ser prosseguida

pelo legislador delegado.

Um sentido da autorização assim definido permite perfeitamente dar

a conhecer a qualquer cidadão, em termos públicos, qual a perspectiva

genérica das transformações a introduzir no ordenamento jurídico, em

cumprimento da lei de autorização.

De referir ainda que a Lei de Autorização em questão tem plasmado

os bens jurídicos tutelados – a verdade, lealdade e correcção da competição

desportiva ou o seu resultado – e estabelece limites para as penas – 4 anos de

prisão no máximo.

Mais, em tal diploma legal as condutas também se encontram

definidas – são elas os comportamentos, acções ou omissões, contrários aos

princípios da ética desportiva, com o fim de alterar a verdade, lealdade e

correcção da competição desportiva ou o seu resultado.

Respeita, por conseguinte, a Lei de Autorização Legislativa em

causa a predefinição parlamentar exigida pelo legislador constitucional.

Por outro lado, do diploma em questão resulta claro que a opção foi

definir os comportamentos descritos como crimes e não também como

contra-ordenações, pelo que a questão da relevância axiológica daqueles

comportamentos e o peso diferenciado da ilicitude dos mesmos, por

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contraposição com os ilícitos de mera ordenação social, nem sequer se

coloca.

Daí que a conclusão a retirar seja, também, que o sentido da

autorização está claramente definido e, por via disso, é perfeitamente

inteligível.

Exigir mais do que isto seria como que praticar um acto inútil, uma

vez que a lei de autorização legislativa esgotaria o articulado a levar a cabo no

Decreto-Lei autorizado, e por isso deveria, desde logo, regular-se a matéria

em causa apenas na lei, dispensando-se a publicação de Decreto-Lei, por

inutilidade do mesmo.

Aliás, a este propósito é de chamar à colação a pacífica ideia de que

se é certo que a lei de autorização legislativa não pode ser um cheque em

branco (o que existiria se a Assembleia da República se limitasse a autorizar o governo a legislar,

v.g. nos seguintes termos: fica o governo autorizado a legislar em matéria de corrupção no âmbito do

desporto), também é incontestado que não é obrigatório que esta contenha um

verdadeiro projecto do futuro Decreto-Lei (muito menos o futuro Decreto-Lei).

O que interessa, essencialmente, é que a lei delegante seja

suficientemente inteligível, de molde a que o legislador delegado lhe possa

obedecer, impedindo-se (ou, pelo menos, facilitando-se a detecção das violações)

desta forma a invasão pela lei delegada da reserva do legislador delegante.

Daí que não vislumbremos na Lei n.º 49/91, de 3 de Agosto (e,

consequentemente, no Decreto-Lei n.º 390/91, de 10 de Outubro).

De referir por fim, quanto a esta questão e como já adiantamos

supra, que a posição expressa mereceu acolhimento do Tribunal

Constitucional, que através do citado Acórdão n.º 378/2008, de 15/07/2008,

decidiu não julgar inconstitucional a Lei e o Decreto-Lei em causa.

*

2. Da alegada nulidade das escutas telefónicas e das questões com ela

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conexas.

Diremos, antes de mais e por se nos afigurar pertinente, atentas as

últimas alterações legislativas no âmbito do processo penal, que a análise da

questão agora em apreço – (in)validade das escutas realizadas no âmbito do

processo principal – tomará como critério de avaliação a lei vigente à data da

sua recolha – é, naturalmente, a solução que linearmente resulta do princípio

consagrado na parte final do n.º 1 do art. 5.º, do Código de Processo Penal.

E quanto à questão em apreço cumpre referir que repetiremos as

considerações jurídicas vertidas na decisão instrutória por nós proferida no

âmbito do processo principal, considerações que foram acolhidas, como se

disse supra, quer pelo Tribunal da Relação do Porto (todos os recursos interpostos da

decisão instrutória foram julgados não procedentes), quer pelo Tribunal Constitucional (o

citado Acórdão 378/2008 decidiu, para além do mais, não julgar inconstitucional a norma do art. 188.º,

n.º 3, do Código de Processo Penal, na redacção anterior à Lei n.º 48/2007, de 29 de Agosto, quando

interpretada no sentido de que o juiz de instrução pode destruir o material coligido através de escutas

telefónicas, quando considerado não relevante, sem que antes o arguido dele tenha conhecimento e

possa pronunciar-se sobre o eventual interesse para a sua defesa).

Tecidos estes considerandos iniciais, importa, então, apreciar as

questões suscitadas nos presentes autos quanto à validade das escutas

telefónicas.

Da evolução legislativa referente à matéria em apreço resulta uma

oscilação quanto ao número e conteúdo do “auto de intercepção e gravação”.

A circunstância de a versão originária do art. 188.º, do Código de Processo

Penal, aludir a um único auto e de ser o exame desse auto pelo arguido, pelo

assistente e pelas pessoas escutadas que lhes possibilitaria inteirarem-se da

conformidade das gravações e obterem cópia dos elementos referidos no

auto, levou a que se entendesse, designadamente no parecer n.º 92/91

(complementar), de 17 de Setembro de 1992, do Conselho Consultivo da

Procuradoria-Geral da República, que esse auto não devia conter apenas o

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registo do acto de intercepção, mas inclusivamente o conteúdo das

conversações interceptadas, por transcrição das tidas por relevantes e

menção genérica das consideradas destituídas de interesse.

A intervenção legislativa consumada pela Lei n.º 59/98 visou afastar

esse entendimento, tornando clara a existência de dois autos – um relativo ao

acto de intercepção e gravação e outro de transcrições –, sendo ao auto de

transcrição que é facultado o acesso por parte do arguido, do assistente e das

pessoas escutadas, para efeitos de controlo da fidelidade das mesmas.

Simultaneamente veio prever-se, de forma expressa, a possibilidade de

conhecimento, a título excepcional, do conteúdo das comunicações por parte

do órgão de polícia criminal antes do seu conhecimento pelo juiz, e a

possibilidade de o juiz, na sua tarefa de selecção dos elementos que, por

considerados relevantes para a prova, deviam ser transcritos, ser coadjuvado

por órgão de polícia criminal.

Finalmente, a alteração operada pelo Decreto-Lei n.º 320-C/2000

veio de novo alterar o conteúdo do auto de intercepção e de gravação. Ele

deixou de ser mero auto de registo da efectivação da operação, para dever

sempre conter, não a transcrição das passagens que o órgão de polícia

criminal reputasse relevantes (como entendera o parecer n.º 92/91 da Procuradoria-Geral da

República), mas a indicação dessas passagens, com o objectivo, que resulta do

artigo 4.º, da Lei n.º 27-A/2000, de limitar o dever de o juiz ouvir as gravações

às passagens indicadas. Desta alteração resultou, por outro lado, que, para

poder fornecer a indicação das passagens das gravações ou elementos

análogos considerados relevantes para a prova, o órgão de polícia criminal

tem de passar a por sistema tomar conhecimento do conteúdo das

comunicações interceptadas, o que obviamente posterga o carácter

excepcional de que na redacção anterior esse conhecimento tinha (unicamente

destinado a prevenir a prática de actos cautelares necessários e urgentes para assegurar meios de

prova). Por outro ainda, deixando de ser um mero acto de registo de ocorrência,

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para passar a implicar o prévio desenvolvimento de actividades,

necessariamente morosas, de audição de gravações (por vezes em língua

estrangeira), identificação dos intervenientes e ponderação da sua relevância

para a investigação, é óbvio que a exigência de “imediatividade” da

apresentação do auto tem de ser vista à luz de outros critérios, diversos dos

que estavam presentes quando foram proferidos os Acórdão n.º 407/97,

347/2001 e 528/2003, todos do Tribunal Constitucional. Disso mesmo deu

conta o referido Tribunal logo no Acórdão n.º 699/2004, quando ao analisar a

admissibilidade de recurso interposto ao abrigo do art. 70.º, n.º 1, alínea g), da

Lei do Tribunal Constitucional (LTC), por a decisão então recorrida ter

pretensamente feito aplicação da norma do n.º 1 do art. 188.º, do Código de

Processo Penal, em contradição com os juízos de inconstitucionalidade

contidos nos Acórdãos n.º 407/97, 347/2001 e 528/2003 (os dois primeiros incidindo

sobre a redacção anterior à Lei n.º 59/98 e o terceiro sobre a redacção desta Lei, mas anterior à do

Decreto-Lei n.º 320-C/2000), contestou a identidade entre a dimensão normativa

aplicada na decisão recorrida (enquanto posterior a este Decreto-Lei) e a anteriormente

julgada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional, afirmando: “ao

acrescentar a este texto [o do n.º 1 do artigo 188º do CPP] «com a indicação

das passagens das gravações ou elementos análogos considerados

relevantes para a prova», o Decreto-Lei n.º 320-C/2000 introduziu uma

alteração relevante para a interpretação da norma de que se trata no presente

recurso, e que não permite a respectiva apreciação ao abrigo de um recurso

interposto ao abrigo do disposto na alínea g) do n.º 1 do artigo 70º da Lei n.º

28/82, se baseado em acórdãos relativos à anterior versão da lei”. Também a

Decisão Sumária n.º 252/2005 não conheceu de recurso interposto ao abrigo

da alínea g) do n.º 1 do artigo 70º da LTC, tendo por objecto a norma do n.º 1

do artigo 188º do CPP, na redacção do Decreto-Lei n.º 320-C/2000, aplicada

na decisão recorrida alegadamente em desconformidade com os juízos de

inconstitucionalidade proferidos nos Acórdãos n.º 407/97, 347/2001 e

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528/2003 (todos eles reportados a redacções anteriores), por falta de

coincidência normativa, dado que a alteração de redacção ocorrida em 2000

“assume (...) claro relevo na apreciação da questão de constitucionalidade

apreciada”, pois “introduzindo-se pela nova redacção um formalismo até então

inexistente, o mesmo é susceptível de condicionar o critério da imediatividade

a que se refere o artigo”.

Conforme é actualmente entendido pela Jurisprudência do Tribunal

Constitucional, importa salientar, a propósito do agora referido, que os

inconvenientes derivados da maior complexidade e consequente morosidade

da elaboração do auto em causa serão, no todo ou em grande parte,

compensados com a maior rapidez e precisão que o novo sistema permite no

que respeita ao acto judicial de controlo da relevância das gravações e de

selecção das que devem ser transcritas, pelo que não se trata de fazer recair

única e exclusivamente sobre o arguido o ónus da alteração legislativa

assinalada enquanto determina uma alteração do critério da imediatividade

anteriormente seguido.

A segunda nota que também é salientada pela actual Jurisprudência

do Tribunal Constitucional consiste em afirmar que, independentemente da

interpretação do direito ordinário vigente que se considere mais correcta, não

é legítimo transformar o regime legal em regime constitucional. Isto é: não é

lícito considerar toda e qualquer violação ao regime legal como uma violação

da Constituição. Como inicialmente se salientou, o n.º 4 do art. 34.º, da

Constituição da República Portuguesa, permite, embora com carácter de

excepcionalidade, a ingerência das autoridades públicas nas

telecomunicações, impondo directamente como limitação tratar-se de matéria

de processo criminal e submetendo-a a reserva de lei (mas não a sujeitando

explicitamente a reserva de decisão judicial, como fizera no precedente n.º 2 quanto à entrada no

domicílio dos cidadãos), requisitos estes que se mostram no caso preenchidos: as

intercepções foram determinadas no âmbito de um processo criminal visando

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a investigação de ilícitos que constam da enumeração legal dos crimes

relativamente aos quais é lícito o uso deste meio de obtenção de prova (art.

187.º, n.º 1, alínea a), do Código de Processo Penal) – quer se trate de crimes de corrupção activa,

previsto e punido pelo art. 374.º, n.º 1, do Código Penal, quer se trate de crimes de corrupção

desportiva, previsto e punido pelos arts. 2.º, 3.º e 4.º, do Decreto-Lei n.º 390/91, de 10 de Outubro –,

ao que acresce que todas elas foram previamente objecto de autorização

judicial e que, em todas elas, o juiz de instrução procedeu à audição pessoal

das gravações, antes de proceder à selecção das que considerava relevantes

e determinar a sua transcrição e aquisição processual.

Assim, a eventual nulidade das escutas telefónicas e

inconstitucionalidade das interpretações normativas impugnadas, todas elas

reportadas no essencial aos termos em que se terá processado o

acompanhamento judicial da execução da operação, apenas pode assentar na

violação do princípio da proporcionalidade aplicável às restrições dos direitos,

liberdades e garantias (art. 18.º, n.º 2 e 3, da Constituição da República Portuguesa).

No citado Acórdão n.º 407/97, e posterior jurisprudência do Tribunal

Constitucional que reiterou a doutrina nele definida, sustentou-se que a

especial danosidade social desta intromissão nas comunicações implicava,

não apenas um controlo judicial do desencadear da operação, mas um

acompanhamento judicial da própria execução da operação.

Acompanhamento que deve ser contínuo e próximo temporal e materialmente

da fonte, mas que não implica necessariamente “que toda a operação de

escuta tenha de ser materialmente executada pelo juiz”, como uma “visão

maximalista” exigiria.

Há que fazer uma interpretação desse requisito jurisprudencial

funcionalmente adequada à sua razão de ser. E os propósitos visados

consistem, como deixei dito, em propiciar que seja determinada a interrupção

da intercepção logo que a mesma se revele desnecessária, desadequada ou

inútil e, por outro lado, fazer depender a aquisição processual da prova assim

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obtida a um “crivo” judicial quanto ao seu carácter não proibido e à sua

relevância.

Definido o parâmetro constitucional tido por relevante, que se centra

no princípio da proporcionalidade na restrição de direitos, liberdades e

garantias, é lícito agrupar as questões suscitadas e a apreciar em torno de três

núcleos, correspondentes a outros tantos momentos relevantes do processo

de obtenção deste meio de prova: (i) o início da intercepção; (ii) o controlo

judicial das gravações; e (iii) a destruição (ou não destruição) das gravações tidas

sem interesse.

*

No que ao despacho inicial concerne (despacho de fls. 98 dos autos).

O Código de Processo Penal Português permite (hoje e de igual forma à

data dos factos) que se realizem escutas telefónicas se houver razões para crer

que a diligência se revelará de grande interesse para a descoberta da verdade

ou para a prova (cfr. art. 187.º, do referido diploma legal). Ou seja, a lei exige não um

mero interesse para a descoberta da verdade ou para a prova, mas que esse

interesse seja grande, não sendo por conseguinte legítimo ordenar a

realização de escutas telefónicas nos casos em que os resultados probatórios

almejados possam, sem dificuldades particulares acrescidas, ser alcançados

por meio mais benigno de afronta aos direitos fundamentais.

Trata-se de aplicação à limitação da inviolabilidade de comunicação

privada do princípio da proporcionalidade.

Para além disto, a admissibilidade das escutas, para o que aqui

interessa, exige os seguintes pressupostos: a) que sejam ordenadas ou

autorizadas pelo juiz; e b) quanto a crimes (...) puníveis com pena de prisão,

no seu máximo, superior a três anos.

A lei portuguesa basta-se com estes pressupostos. Nada diz quanto

aos limiares qualificados de “seriedade da suspeita”. E parece-nos que

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acertada e realisticamente.

O grande interesse para a obtenção de prova quanto ao crime

normalmente só ocorre quando o procedimento está no seu início. Se há

apenas suspeitas, não se entenderia então uma maior exigência sob pena de

se inviabilizar a investigação. Mas essa aparente maior permissividade do

legislador português, conforme observam Germano Marques da Silva e Costa

Andrade nas obras infra citadas em rodapé (pág. 174 e 288, respectivamente), resulta

contrariada pela disciplina reservada a aspectos parcelares e significativos do

regime, como sucede com a proibição expressa da intercepção e gravação

das conversas telefónicas entre arguido e defensor, quer a nível dos requisitos

formais fazendo intervir o juiz, o que não ocorre em outros ordenamentos

legislativos.

Sendo este o nosso sistema, realisticamente não se pode exigir num

primeiro despacho abundante fundamentação a nível fáctico, quando nos

autos apenas se lida ainda com suspeitas.

Depois, o despacho judicial a autorizar as escutas tem que ser

perspectivado e analisado no contexto processual em que é proferido,

insere-se numa sequência, com antecedentes: uma informação policial, a

abertura de inquérito pelo Ministério Público, a respectiva promoção. Por isso

esta decisão não pode ser vista desgarrada e descontextualizada, como

autêntico epifenómeno, mas tem que ser apreciada como a resposta ao

requerimento do Ministério Público, que por sua vez veicula o ponto de vista

policial.

Haverá, com certeza, neste despacho um pressupor de uma

realidade processual pré-existente, uma remissão não expressa mas

pressuposta. E o processo penal não proíbe este modo de procedimento, em

homenagem ao princípio da economia processual, com várias manifestações

(v.g. arts. 307º, n.º 1 “in fine” e art. 425º, n.º 5 do Código Processo Penal; cfr. ainda neste sentido o

Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 189/99 DR II série, de 17 de Setembro de 2000).

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Referem os arguidos, directa ou indirectamente, que o despacho inicial de

autorização das escutas telefónicas viola o princípio da subsidiariedade e não

se mostra fundamentado.

Tendo em consideração o que deixamos dito supra, impõe-se antes

de mais analisar a promoção do Ministério Público que esteve na origem do

despacho em apreço.

Refere-se na promoção de fls. 95 e 95 verso dos autos principais

que “Nos presentes autos investiga-se a prática, por José Luís da Silva

Oliveira, de um crime de corrupção activa, p. e p. pelo art. 374.º/1 do Cód.

Penal Revisto, a que cabe uma pena de prisão de 6 meses a 5 anos.

Como resulta dos autos (fls. 4 a 8 e 11 a 13), o suspeito é Presidente

da Direcção do “Gondomar Sport Clube”, Clube de Futebol da II Divisão B, do

Campeonato Nacional de Futebol, e praticará junto dos árbitros que exercem

funções naquele campeonato actos destinados a alterar o resultado das

competições desportivas em que é interveniente o clube de cuja direcção é

presidente.

Para o efeito, o suspeito utiliza vários contactos com diversos

indivíduos, sobretudo dirigentes desportivos e árbitros de futebol, o que faz,

nomeadamente, com recurso ao telefone móvel com o n.º 939589649, da

operadora Optimus, e ao telefone fixo da sua residência com o n.º 224541851

da Portugal Telecom.

Tendo em conta esta particular forma de actuação do arguido, a

complexidade da investigação que lhe é inerente, e ponderando a moldura

penal e a natureza do crime em causa é admissível e imprescindível para a

descoberta da verdade material e prova dos factos em investigação o acesso

às conversações telefónicas mantidas pelo suspeito”.

Esta promoção do Ministério Público é feita na sequência de uma

informação do órgão de polícia criminal e segue as sugestões por este

efectuadas quanto à estratégia investigatória a desenvolver, sendo certo que o

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referido órgão de polícia criminal já vinha investigando os factos em apreço.

Do conjunto da informação prestada pelo órgão de polícia criminal e

da promoção lavrada pelo Digno Procurador Adjunto do Ministério Público

resulta claro que em causa nos autos estava a prática de factos susceptíveis

de configurarem um dos chamados “crimes do catálogo” (e isto quer se tratasse(m)

de crime(s) de corrupção activa, previsto e punido pelo art. 374.º, n.º 1, do Código Penal, quer se

tratasse(m) de crime(s) de corrupção desportiva, previsto e punido pelos arts. 2.º, 3.º e 4.º, do

Decreto-Lei n.º 390/91, de 10 de Outubro), atenta a moldura penal abstractamente

prevista.

Por seu lado, o despacho judicial que autorizou em primeiro lugar a

realização das escutas telefónicas em questão, apesar de não o afirmar

expressa e claramente, não só ponderou a relevância e o interesse da

diligência em causa para a descoberta da verdade, como também procedeu a

uma análise dos fundamentos de facto e de direito que presidiram à sua

prolação.

É o que resulta claramente da expressa referência à antecedente

promoção.

Ora, retomando aqui a ideia supra vertida de que o despacho judicial

a autorizar as escutas tem que ser perspectivado e analisado no contexto

processual em que é proferido, não podendo ser visto desgarrado e

descontextualizado, como autêntico epifenómeno, mas sim como a resposta

ao requerimento do Ministério Público, que por sua vez veicula o ponto de

vista policial, e tendo presente o que acabo de deixar dito, dúvidas não se nos

suscitam quanto à improcedência do argumento em análise.

Dito de outra maneira, da prova antecedentemente produzida

resultava claramente que o arguido José Luís da Silva Oliveira utilizava o(s)

telefone(s) para contactar dirigentes desportivos (Pinto de Sousa, cfr. fls. 12 dos autos

principais) e árbitros de futebol (Rui Mendes, cfr. fls. 7 dos autos principais).

Resultava ainda (pelo menos de forma implícita e com suficiente credibilidade e

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probabilidade) que a sua actuação iria continuar no futuro para além da data em

que os factos relatados nas declarações de Rui Mendes tinham ocorrido. É o

que ressalta do facto de que logo quando o arguido José Luís da Silva Oliveira

pediu para que o arguido Rui Mendes fosse nomeado para o jogo Trofense –

Gondomar, que iria ter lugar no dia 8/04/2001, pediu também que para o jogo

subsequente a esse fosse nomeado o árbitro Vasco Vilela (cfr. fls. 12 dos autos

principais).

A facilidade com que José Luís da Silva Oliveira conseguiu via

telefone, necessariamente com um dirigente da arbitragem, árbitros para os

dois jogos seguintes do Gondomar (Rui Mendes e Vasco Vilela), e tendo em conta

que tal suspeito continuava a ser Presidente da Comissão Administrativa do

Gondomar Sport Clube e que tal Clube de Futebol continuava a militar na 2.ª

Divisão-B Zona Norte, tal como em 2001, fazia legitimamente pressupor e

concluir que havia, não meras suspeitas, não também fortes indícios, mas

seguramente fortes razões para crer que cerca de dois anos depois a

actividade criminosa em causa continuasse, e que se poderia provar também

uma particular forma de actuação a esse nível do referido José Luís da Silva

Oliveira, que servisse ainda de facto circunstancial para confirmar os factos

relativos a Abril de 2001.

Daí que mesmo em 25 de Março de 2003, ou seja 1 ano e quase 12

meses após a ocorrência dos factos contidos nas declarações do mencionado

Rui Mendes, houvesse razões para crer que havia grande interesse para a

descoberta da verdade material e para a prova na intercepção e gravação de

conversações telefónicas, tanto mais que essa era a forma pela qual José Luís

da Silva Oliveira actuava, como claramente resultava das declarações de Rui

Mendes.

Acresce a tudo isto, aliás como resulta do que acabamos de deixar

escrito, que a actuação criminosa em investigação revelava-se reiterada, isto

é, o suspeito José Luís Oliveira continuava a ser Presidente da Comissão

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Administrativa do Gondomar Sport Clube, este Clube de Futebol continuava a

militar na 2.ª Divisão – B, Zona Norte, tal como em 2001, e quando aquele

telefonou para que Rui Mendes fosse nomeado para o jogo Trofense –

Gondomar, que iria ter lugar no dia 8/04/2001, desde logo pediu que para o

jogo subsequente a esse fosse nomeado o árbitro Vasco Vilela (cfr. declarações de

Rui Mendes a fls. 12 dos autos principais), pelo que havia desde logo a forte suspeita de

continuação de futuros crimes de igual natureza.

E o recurso às escutas telefónicas teve como objectivo, nem mais

nem menos, comprovar, através da obtenção de meios de prova, aquelas

fortes suspeitas (o que pelo menos na opinião do Ministério Público veio mesmo a acontecer; daí

a dedução da acusação agora em comprovação judicial).

Queremos com isto dizer que o recurso às escutas telefónicas, para

além de devidamente ponderado, visou obter a necessária prova para

confirmar a actividade criminosa que tudo indicava manter-se em execução e

permitir terminar com a mesma.

Mas mais ainda.

O art. 205.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa, dispõe

que as decisões dos tribunais que não sejam de mero expediente são

fundamentadas na forma prevista na lei.

Por seu lado, o art. 97.º, n.º 4, do Código de Processo Penal, refere

que os actos decisórios são sempre fundamentados, devendo ser

especificados os motivos de facto e de direito da decisão. De acordo com o

disposto no art. 97.º, n.º 1, alínea b), do referido diploma legal, são actos

decisórios dos juízes, entre outros, os despachos, quando conhecerem de

qualquer questão interlocutória.

Como parece claro, o despacho em questão (despacho de fls. 98 dos autos

iniciais) insere-se precisamente neste tipo de despachos (aqueles que conhecem de

uma qualquer questão interlocutória) e, como tal, tinha obrigatoriamente que ser

fundamentado, especificando os motivos de facto e de direito que presidiram à

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decisão.

Na verdade, a intercepção de comunicações é um instrumento que

se caracteriza pela surpresa e pela sua natureza oculta, e que tem enorme

eficácia para a investigação. Simultaneamente é também um instrumento

particularmente intrusivo para as pessoas que a ela estão sujeitas porque,

inevitavelmente, atinge no coração os direitos fundamentais da liberdade, da

reserva da vida privada e do segredo próprios de todas as formas de

comunicação entre os indivíduos, direitos fundamentais esses que não

pertencem apenas ao escutado mas a todos aqueles que com ele contactam,

o que incrementa enormemente a danosidade social deste meio de obtenção

de prova.

Daí que os legisladores constitucional e ordinário tenham tido o

particular cuidado supra referido na regulamentação do seu âmbito de

aplicação e das condições da sua realização para que assim se possa

alcançar um equilíbrio entre, por um lado, as necessidades comunitárias de

perseguir eficazmente os criminosos e, por outro, a tutela dos direitos dos

visados.

É também por isto que o nosso legislador apenas admitiu a

realização de escutas telefónicas nos moldes descritos e previstos no já

repetidamente mencionado art. 187.º, n.º 1, do Código de Processo Penal.

Temos pois que a fundamentação das decisões judiciais permite o

controlo da legalidade do acto e serve para convencer os interessados e os

cidadãos em geral acerca da sua correcção e justiça, mas é ainda um

importante meio para obrigar a autoridade decidente a ponderar os motivos de

facto e de direito da sua decisão, actuando, por isso, como meio de

autocontrolo.

Sucede porém que, e na linha do decidido por exemplo nos Acórdão da Relação de

Lisboa de 22/03/1994 (CJ, Tomo II, pág. 144) e de 24/11/2004 (processo n.º 7166/2004-3,

www.dgsi.pt), uma vez que não existe na lei processual preceito idêntico ao do

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consagrado para a sentença, na fundamentação do despacho que autorize

escutas telefónicas é suficiente qualquer fórmula, resumida ou sumária, da

qual em conjugação lógica e cronológica com outros actos processuais

anteriores se possa concluir que o julgador ponderou os motivos de facto e de

direito da decisão, isto é não agiu discricionariamente, a decisão tem

virtualidade para convencer interessados e os cidadãos em geral das

correcção e justiça e o controlo da legalidade não é prejudicado pela forma

como foi proferida.

Mas mais. No nosso sistema processual penal a falta de

fundamentação de um despacho não gera a sua nulidade, mas antes a mera

irregularidade (art. 118.º, do Código de Processo Penal), irregularidade essa que

deveria ter sido arguida nos termos e nos prazos estabelecidos no art. 123.º,

do mesmo diploma legal.

No caso em apreço temos que na promoção de fls. 95 dos autos

principais (acto processual imediatamente anterior ao despacho em causa) se remete para a

prova de onde resultava a verificação dos requisitos exigidos pelo art. 187.º,

n.º 1, do Código de Processo Penal. O despacho agora em questão, por seu

lado, teve em conta, ainda que tacitamente, o que foi dito na mencionada

promoção em termos de fundamentação do pedido [“No que toca à antecedente

promoção…” (…) “1.º) e (2.º) da promoção)”].

Tanto assim é (e foi) que apesar de no despacho colocado em crise

nada ser dito quanto ao prazo de duração das escutas autorizadas, nos ofícios

destinados às operadoras de telecomunicações e assinados pela Juíza de

Instrução Criminal consta o solicitado na promoção que antecede o aludido

despacho.

Como deixamos bem vincado atrás, o despacho judicial a autorizar

as escutas tem que ser perspectivado e analisado no contexto processual em

que é proferido, insere-se numa sequência, com antecedentes: uma

informação policial, a abertura de inquérito pelo Ministério Público, a

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respectiva promoção. Por isso esta decisão não pode ser vista desgarrada e

descontextualizada, como autêntico epifenómeno, mas tem que ser apreciada

como a resposta ao requerimento do Ministério Público, que por sua vez

veicula o ponto de vista policial.

Haverá, com certeza, neste despacho um pressupor de uma

realidade processual pré-existente, uma remissão não expressa mas

pressuposta. E o processo penal não proíbe este modo de procedimento, em

homenagem ao princípio da economia processual, com várias manifestações

(v.g. arts. 307º, n.º 1 “in fine” e art. 425º, n.º 5 do Código Processo Penal; cfr. ainda neste sentido o

Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 189/99 D.R. II série, de 17 de Setembro de 2000).

Resta por fim acrescentar que a entender-se em sentido contrário,

isto é, que o despacho em questão não estaria fundamentado de facto e de

direito, sempre tal circunstancialismo não consubstanciaria uma qualquer

nulidade do referido acto processual, mas apenas uma mera irregularidade

(como já tivemos oportunidade de referir atrás).

Na verdade, repete-se, no nosso sistema processual penal a falta de

fundamentação de um despacho não gera a sua nulidade, mas antes a mera

irregularidade (art. 118.º, do Código de Processo Penal) – cfr., por todos, o já citado Acórdão da

Relação de Lisboa, de 24/11/2004, processo n.º 7166/2004-3, in www.dgsi.pt.

Esta irregularidade, como se sabe, teria que ser arguida nos termos

e nos prazos estabelecidos no art. 123.º, do Código de Processo Penal, sob

pena de se ter a mesma por sanada.

Ora, conforme resulta claro dos autos nenhum dos interessados

arguiu no prazo legalmente prescrito uma tal eventual irregularidade. Assim

sendo, e a existir, tem a mesma que se considerar sanada (até inclusive pelo teor

dos despachos que se seguiram ao despacho agora em questão e que confirmaram os requisitos

exigidos pelo art. 187.º, n.º 1, do Código de Processo Penal).

Diferente seria se apesar disso de facto não se verificassem os

requisitos exigidos pela lei para a intercepção das comunicações telefónicas.

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Neste caso, estaríamos então perante uma nulidade de prova, não

podendo a mesma ser utilizada – art. 126.º, n.º 3, do Código de Processo

Penal.

Com efeito, nos termos legais e constitucionais só haverá nulidade

das intercepções, enquanto nulidade de prova, se não houver despacho

judicial a autorizá-las – o que não é o caso –, e se em concreto não se

verificarem os requisitos legais para a sua autorização, execução e

acompanhamento judicial (o que também não é o caso, pelo menos quanto à questão da

autorização).

Resulta do exposto que o despacho inicial (tal como os posteriores

despachos de prorrogação das intercepções telefónicas e os despachos que determinaram as

restantes intercepções telefónicas a outros números de telefone) ponderou sempre os

requisitos necessários para a autorização das mesmas.

Não vislumbramos, por conseguinte, qualquer nulidade ou

irregularidade nos aludidos despachos, pelo que falecem todos os

argumentos invocados pelos arguidos quanto a esta concreta questão.

Resta apenas acrescentar que o despacho judicial em questão

também não é nulo por não fixar o prazo das escutas.

A não indicação/fixação do aludido prazo no despacho em questão

resulta, parece-me óbvio, de um manifesto lapso de escrita.

É facto que aquando da prolação do despacho em questão a

Meritíssima Juíza de Instrução Criminal não colocou o prazo durante o qual

autorizava a realização das intercepções telefónicas aos números de

telemóvel e telefone fixo em causa. Mas não o fez em virtude daquele

manifesto lapso.

E afirmamos isto com toda esta certeza e convicção, porque nos

ofícios que foram elaborados pela secção e assinados pela Meritíssima Juíza

de Instrução Criminal com o objectivo de comunicar às operadoras de

telecomunicações em causa a autorização para a intercepção dos números

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referidos no despacho consta o prazo de 30 dias (o mesmo que havia sido solicitado na

promoção efectuada pelo Ministério Público e que o despacho inicial tem por reproduzida, ainda que

tacitamente).

*

Quanto à alegada não observância das formalidades legais prescritas no

art. 188.º, n.º 1, 2 e 3, do Código de Processo Penal.

Já escrevemos supra que após a alteração da redacção do art.

188.º, do Código de Processo Penal, efectuada pelo Decreto-Lei n.º

320-C/2000 ficou claro que era legalmente imposta a elaboração de dois

autos: (i) o de intercepção e gravação, que deve conter a indicação das

passagens que o órgão de polícia criminal considera relevantes para a prova e

que deve ser imediatamente (conceito que deve ser interpretado da forma que referimos

atrás) levado ao conhecimento do juiz (n.º 1); e (ii) o auto de transcrição dos

elementos considerados pelo juiz relevantes para a prova (n.º 3), que deve ser

sujeito a exame do arguido, do assistente e das pessoas cujas conversações

tenham sido escutadas (n.º 5).

Não exigia expressamente a lei a elaboração de um “auto de início

de gravação”, que se limite a registar a ocorrência, mas no presente caso eles

até foram sempre elaborados, como se constata do esquema que se segue e

que diz respeito, a título exemplificativo, ao arguido Pinto da Costa:

ALVO

1 A 602

TELEFONE912226642

NOMEJORGE NUNO LIMA PINTO DA COSTA

1

AUTORIZAÇÃO DE INTERCEPÇÃO DESPACHO INICIAL: 15 /10 /2003 FLS. 506 a 513. VOLUME II

DESPACHOS DE RENOVAÇÃO DAS AUTORIZAÇÕESDATA: 12/12/03, 12/01/04, 08/03/04 FOLHAS: 823, 1012, 1267

VOLUME: III, IV

INÍCIO DE INTERCEPÇÃOOFÍCIO PARA AS OPERADORAS: DATA 15/10/2003; VOLUME II; FOLHAS 517

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Rua Padre Augusto Maia - 4420-245 GondomarTelef: 224664330 Fax: 224664337 Mail: [email protected]

AUTO DE INÍCIO DE INTERCEPÇÃO:

DATA: 17/10/2003

FOLHAS 556

VOLUME: II

OFÍCIOS DE RENOVAÇÃO DAS AUTORIZAÇÕES

DATA: 12/12/03, 12/01/04, 08/03/04

FOLHAS: 832, 1013, 1270

VOLUME:III, IV

DESPACHO QUE DECLAROU CESSADA A INTERCEPÇÃO

DATA: 05/05/04

FLS: 4271

VOLUME: XVI

AUTO DE CESSAÇÃO DA INTERCEPÇÃO

DATA: 05/05/04

FLS: 4542

VOLUME: XVII

CD SESSÕES

GRAVADAS

AUTO DE SELECÇÃO

DAS SESSÕES COM

INTERESSE

ORDEM DE

TRANSCRIÇÃO/DE-C

LARAÇÃO DE NÃO

INTERESSAR

AUTO DE

TRANSCRIÇÃO

DESPACHO

CERTIFICAÇÃO

1 1 a 411 SEM INTERESSE

FOLHAS: 630

VOLUME: III

DATA: 12/12/03

FOLHAS: 822

VOLUME: III

2

430

DATA: 29/10/03

HORA: 12.11

DATA: 06/11/03

FOLHAS: 682

VOLUME: III

DATA: 09/01/04

FOLHAS: 844

VOLUME: III

DATA: 02-03/02/04

FOLHAS: 1123

VOLUME: IV

DATA: 08/03/04

FOLHAS: 1266

VOLUME: IV

2

433

DATA: 29/10/03

HORA: 12.57

DATA: 06/11/03

FOLHAS: 682

VOLUME: III

DATA: 09/01/04

FOLHAS: 844

VOLUME: III

DATA: 02-03/02/04

FOLHAS: 1123

VOLUME: IV

DATA: 08/03/04

FOLHAS: 1266

VOLUME: IV

2

459

DATA: 29/10/03

HORA: 19.19

DATA: 06/11/03

FOLHAS: 682

VOLUME: III

DATA: 09/01/04

FOLHAS: 844

VOLUME: III

DATA: 02-03/02/04

FOLHAS: 1123

VOLUME: IV

DATA: 08/03/04

FOLHAS: 1266

VOLUME: IV

2 603

DATA: 01/11/03

HORA: 12.27

DATA: 06/11/03

FOLHAS: 682

VOLUME: III

DATA: 09/01/04

FOLHAS: 844

VOLUME: III

DATA: 02-03/02/04

FOLHAS: 1123

VOLUME: IV

DATA: 08/03/04

FOLHAS: 1266

VOLUME: IV

3 950

DATA: 08/11/03

HORA: 18.20

DATA: 09/11/03

FOLHAS: 688

VOLUME: III

DATA: 09/01/04

FOLHAS: 844

VOLUME: III

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FOLHAS: 1123

VOLUME: IV

DATA: 08/03/04

FOLHAS: 1266

VOLUME: IV

4 961 a 1093 SEM INTERESSE DATA: 09/01/04

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FOLHAS: 718

VOLUME: III

FOLHAS: 844

VOLUME: III

5 1094 a 1492 SEM INTERESSE

FOLHAS: 714

VOLUME: III

DATA: 09/01/04

FOLHAS: 844

VOLUME: III

6 1603

DATA: 21/11/03

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FOLHAS: 764

VOLUME: III

DATA: 09/01/04

FOLHAS: 844

VOLUME: III

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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VOLUME: III

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VOLUME: III

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VOLUME: IV

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VOLUME: III

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VOLUME: III

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VOLUME: III

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VOLUME: IV

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DATA: 28/11/03

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DATA: 03/12/03

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VOLUME: III

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VOLUME: III

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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DATA: 28/11/03

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VOLUME: III

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VOLUME: III

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VOLUME: IV

DATA: 08/03/04

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VOLUME: IV

7 1810

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FOLHAS: 793

VOLUME: III

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FOLHAS: 845

VOLUME: III

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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DATA: 30/11/03

HORA: 21.10

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VOLUME: III

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VOLUME: III

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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HORA: 12.08

DATA: 16/12/03

FOLHAS: 889

VOLUME: III

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FOLHAS: 1112

VOLUME: IV

DATA: 16-17/02/04

FOLHAS: 1205

VOLUME: IV

DATA: 08/03/04

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VOLUME: IV

8 1988

DATA: 05/12/03

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FOLHAS: 889

VOLUME: III

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

8 2008

DATA: 05/12/03

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DATA: 16/12/03

FOLHAS: 889

VOLUME: III

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

8 2011

DATA: 05/12/03

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DATA: 16/12/03

FOLHAS: 889

VOLUME: III

DATA: 11/02/04

FOLHAS: 1112

VOLUME: IV

DATA: 16-17/02/04

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VOLUME: IV

DATA: 08/03/04

FOLHAS: 1267

VOLUME: IV

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8 2067

DATA: 09/12/03

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VOLUME: III

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VOLUME: IV

DATA: 16-17/02/04

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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DATA: 08/03/04

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VOLUME: IV

11A 3690 a 4008 SEM INTERESSE

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VOLUME: IV

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12 4514

DATA: 20/01/04

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VOLUME: IV

DATA: 20/02/04

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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VOLUME: VI

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VOLUME: IV

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VOLUME: XLVII

DATA: 15/03/05

FOLHAS: 13485

VOLUME: L

DATA: 11/04/05

FOLHAS: 15189

VOLUME: LVI

13 4675

DATA: 24/01/04

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DATA: 12-26/01/04

FOLHAS: 1068

VOLUME: IV

DATA: 08/03/05

FOLHAS: 12735

VOLUME: XLVII

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VOLUME: L

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VOLUME: LVI

14 4738

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VOLUME: IV

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VOLUME: L

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VOLUME: LVI

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14 5016

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VOLUME: IV

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14 5046

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VOLUME: IV

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DATA: 26/01-08/02/04

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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HORA: 09.15

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VOLUME: IV

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14 5157

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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VOLUME: IV

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VOLUME: V

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15 5213

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DATA: 26/01-08/02/04

FOLHAS: 1136

VOLUME: IV

DATA: 22/03/04

FOLHAS: 1572

VOLUME: V

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VOLUME: XVI

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VOLUME: XVIII

15 5214

DATA: 04/02/04

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HORA: 20.21 VOLUME: IV VOLUME: V VOLUME: XVI VOLUME: XVIII

15 5277

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FOLHAS: 1136

VOLUME: IV

DATA: 22/03/04

FOLHAS: 1572

VOLUME: V

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FOLHAS: 4187

VOLUME: XVI

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VOLUME: XVIII

16 5559

DATA: 10/02/04

HORA: 16.38

DATA: 09-19/02/04

FOLHAS: 1218

VOLUME: IV

DATA: 22/03/04

FOLHAS: 1572

VOLUME: V

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FOLHAS: 4187

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FOLHAS: 4821

VOLUME: XVIII

16 5561

DATA: 10/02/04

HORA: 16.41

DATA: 09-19/02/04

FOLHAS: 1218

VOLUME: IV

DATA: 22/03/04

FOLHAS: 1572

VOLUME: V

DATA: 26-27/04/04

FOLHAS: 4187

VOLUME: XVI

DATA: 02/06/04

FOLHAS: 4821

VOLUME: XVIII

16 5638

DATA: 11/02/04

HORA: 21.35

DATA: 09-19/02/04

FOLHAS: 1218

VOLUME: IV

DATA: 22/03/04

FOLHAS: 1572

VOLUME: V

DATA: 26-27/04/04

FOLHAS: 4187

VOLUME: XVI

DATA: 02/06/04

FOLHAS: 4821

VOLUME: XVIII

16 5642

DATA: 11/02/04

HORA: 21.48

DATA: 09-19/02/04

FOLHAS: 1218

VOLUME: IV

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HORA: 17.20

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VOLUME: XVI

DATA: 02/06/04

FOLHAS: 4821

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17 5834 a 6119 SEM INTERESSE

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VOLUME: IV

DATA: 22/03/04

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VOLUME: V

18 6120 a 6502 SEM INTERESSE

FOLHAS: 1534

VOLUME: V

DATA: 02/06/04

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VOLUME: XVIII

19 6663

DATA: 01/03/04

HORA: 23.48

DATA:

FOLHAS: 1534

VOLUME: V

DATA: 02/06/04

FOLHAS: 4818

VOLUME: XVIII

DATA: 12/06/04

FOLHAS: 5002

VOLUME: XIX

DATA: 02/07/04

FOLHAS: 5126

VOLUME: XX

20 6907 a 7399 SEM INTERESSE

FOLHAS: 1613

VOLUME: V

DATA: 02/06/04

FOLHAS: 4821

VOLUME: XVIII

21 7400 a 7754 SEM INTERESSE DATA: 02/06/04

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FOLHAS:1613

VOLUME: V

FOLHAS: 4821

VOLUME: XVIII

22 7767

DATA: 22/03/04

HORA: 13.50

DATA: 22/03-11/04/04

FOLHAS: 1843

VOLUME: VI

DATA: 02/06/04

FOLHAS: 4818

VOLUME: XVIII

DATA: 12/06/04

FOLHAS: 5002

VOLUME: XIX

DATA: 02/07/04

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VOLUME: XX

22 7803

DATA: 23/03/04

HORA: 09.43

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23 8138 a 8522 SEM INTERESSE

FOLHAS: 1843

VOLUME: VI

DATA: 02/06/04

FOLHAS: 4820

VOLUME: XVIII

24 8904

DATA: 10/04/04

HORA: 13.44

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DATA: 11/04/04

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HORA: 14.00

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VOLUME: XVIII

DATA: 14/06/04

FOLHAS: 4867

VOLUME: XIX

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DATA: 12-25/04/04

FOLHAS: 4176

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DATA: 19/04/04

HORA: 12.41

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VOLUME: XVI

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FOLHAS: 4867

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VOLUME: XIX

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VOLUME: XX

25 9667

DATA: 22/04/04

HORA: 21.28

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FOLHAS: 4176

VOLUME: XVI

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FOLHAS: 5020

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FOLHAS: 5126

VOLUME: XX

25 9674

DATA: 22/04/04

HORA: 22.17

DATA: 12-25/04/04

FOLHAS: 4176

VOLUME: XVI

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FOLHAS: 4867

VOLUME: XIX

DATA: 17/06/04

FOLHAS: 5020

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DATA: 02/07/04

FOLHAS: 5126

VOLUME: XX

25 9679

DATA: 22/04/04

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FOLHAS: 4176

DATA: 14/06/04

FOLHAS: 4867

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FOLHAS: 5020

DATA: 02/07/04

FOLHAS: 5126

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HORA: 23.30 VOLUME: XVI VOLUME: XIX VOLUME: XIX VOLUME: XX

26 9973

DATA: 25/04/04

HORA: 15.23

DATA: 12-25/04/04

FOLHAS: 4176

VOLUME: XVI

DATA: 14/06/04

FOLHAS: 4867

VOLUME: XIX

DATA: 17/06/04

FOLHAS: 5020

VOLUME: XIX

DATA: 02/07/04

FOLHAS: 5126

VOLUME: XX

27 10012 a 10730 SEM INTERESSE

FOLHAS: 4528

VOLUME: XVII

DATA: 14/06/04

FOLHAS: 4868

VOLUME: XIX

Resulta do exposto, por exemplo, que o auto de início de gravação

foi elaborado 2 dias após a prolação do despacho que autorizou as

intercepções telefónicas.

Não é pois por aqui que se pode afirmar ter perigado a exigência de

acompanhamento judicial da operação, acompanhamento que em rigor

assume decisiva relevância perante o auto referido no n.º 1 do art. 188.º, do

Código de Processo Penal, revestindo-se o “auto de início de gravação” de

uma função meramente instrumental, para controlo futuro do respeito dos

prazos de duração máxima das intercepções.

Passemos agora à análise do mais relevante núcleo de questões

respeitante ao controlo judicial das gravações (saber se as intercepções telefónicas

realizadas nos autos contaram, ou não, com efectivo acompanhamento e controlo judicial atento o já

apontado carácter excepcional do regime legal e constitucional das escutas telefónicas).

Um dos aspectos mais criticados do sistema legal vigente à data

consistia no facto de a lei não prever expressamente um prazo máximo de

duração das escutas (o que ainda hoje não sucede, apesar das recentes alterações

legislativas), nem esclarecer se o auto de gravação só deve ser elaborado no

termo do período autorizado ou se há lugar à apresentação de autos

“intercalares”.

No caso dos autos, os diversos despachos judiciais fixaram prazos

entre 30 e 60 dias, não se referindo nenhum deles às datas de apresentação

dos autos de gravação.

Entendemos, aliás no seguimento da posição sufragada no

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mencionado Acórdão n.º 4/2006 do Tribunal Constitucional (e repetida nos Acórdãos

sobre a mesma matéria que se lhe seguiram), que os apontados prazos de 30 e 60 dias

de duração máxima das escutas não se podem considerar como implicando

um intolerável descontrolo judicial da operação, mesmo que acoplados ao

entendimento de que, se nada for judicialmente determinado em sentido

contrário, é no termo de cada período de escuta, e não logo a seguir a cada

conversação interceptada, que deve ser elaborado o auto de gravação com

indicação pelo órgão de polícia criminal das passagens consideradas

relevantes para a prova.

A este propósito recorde-se que, no processo legislativo que esteve

na base das últimas alterações ao Código de Processo Penal, o Projecto de

Lei n.º 519/IX preconizava que o prazo máximo de duração das escutas fosse

de 30 dias (com dilação de 5 dias após a data da prolação da autorização), prorrogáveis até

5 vezes (art. 187.º, n.º 3), competindo ao juiz fixar o período findo o qual o auto

com as fitas gravadas é levado ao seu conhecimento, acompanhado ou da

indicação das passagens e dos dados considerados relevantes para a prova

ou mesmo da respectiva transcrição provisória (art. 188.º, n.º 1). E a Proposta de

Lei n.º 150/IX previa que a duração máxima fosse de 3 meses, renovável por

períodos idênticos até ao encerramento do inquérito (art. 187.º, n.º 5), devendo os

autos de intercepção e gravação, com as fitas, ser levados ao conhecimento

do juiz, de 15 em 15 dias, com indicação, por parte do Ministério Público, das

passagens consideradas relevantes (art. 188.º, n.º 1).

Relativamente ao espaço de tempo entre o fim da gravação (ou de

fases dela) e a apresentação do respectivo auto, já salientamos que após a

alteração legislativa de 2000 a maior complexidade na elaboração do auto

impõe a adopção de critério mais dilatado quanto ao requisito da

imediatividade da sua elaboração e apresentação, não sendo exigível a

fixação de um prazo máximo rígido, que sempre se poderia mostrar

completamente desadequado ao condicionalismo do caso concreto.

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De qualquer forma, os prazos registados nos presentes autos, quer

entre os períodos de intercepções e as datas de elaboração dos

correspondentes autos, quer entre estas datas e as datas de apresentação à

juíza de instrução criminal, quer entre estas últimas e as audições pessoais a

que esta juíza procedeu em caso algum se mostram de tal forma dilatadas

que se possa questionar o respeito pela exigência do referido

acompanhamento judicial.

Na verdade, apesar das dilações verificadas, que nunca foram

superiores a 75 dias (em períodos de escutas de 30 e 60 dias), parece-nos ser

permitido afirmar que nenhuma delas se evidencia de molde a concluir pela

falta do constitucionalmente exigível acompanhamento judicial da operação.

Antes pelo contrário. Da análise por exemplo do quadro que

antecede e do teor dos despachos judiciais em causa resulta claramente que

houve um efectivo controlo das escutas pela Juíza de Instrução Criminal até

para além do que a Lei prevê após a alteração operada pelo aludido

Decreto-Lei n.º 320-C/2000.

De referir ainda que os lapsos de tempo apontados pelos arguidos

reportam-se não à apresentação do auto à Juíza de Instrução Criminal, mas

apenas ao lapso de tempo que se interpõe entre a elaboração de alguns autos

de gravação e a data do despacho da Meritíssima Juíza que determinou a

transcrição das passagens relevantes para a prova relativas a esses autos, o

que é bem diferente e não se relaciona com o advérbio “imediatamente”

referido no art. 188.º, do Código de Processo Penal.

Tais lapsos de tempo, ao contrário do que referem os arguidos,

evidenciam de forma perfeitamente clara o cuidado que a Juíza de Instrução

Criminal teve em ouvir todas as gravações e não apenas as passagens

indicadas, sem que perdesse de vista, em algum momento, as prioridades da

investigação, como resulta de vários despachos lavrados onde se procurava

responder às prioridades indicadas pelos investigadores na aquisição da prova

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para o prosseguimento da investigação.

Por exemplo, por despacho de 20 de Fevereiro de 2004 (fls. 1172 dos

autos principais) a Meritíssima Juíza pronunciou-se no sentido de “oportunamente

e uma vez escutados os correspondentes registos e verificadas as respectivas

transcrições nos pronunciaremos acerca da promoção de fls. 1167 e

seguintes”. Por despacho de 4 de Março de 2004 (fls. 1266 dos autos principais) não

se pronunciou sobre o ponto 1 da promoção de fls. 1168 e seguintes,

escudando-se em que tal será oportunamente alvo de decisão uma vez

escutados os correspondentes registos. Por despacho de fls. 1267 dos autos

principais, proferido em 8 de Março de 2004, a Meritíssima Juíza salientou o

facto de permanecer ainda por apreciar o ponto 1 da promoção de fls. 1168 e

seguintes dos autos principais, e agora também o ponto 1 da antecedente

promoção (fls. 1263 e seguintes dos autos principais), alegando que oportunamente

serão alvo de decisão uma vez escutados os respectivos registos.

De igual modo, por despacho de 1 de Abril de 2004 (fls. 1648 dos autos

principais) a Meritíssima Juíza referiu “ser neste momento, inviável, atendendo

ao enorme volume de serviço decorrente do elevado número de arguidos

detidos presentes para primeiro interrogatório judicial e demais serviço de

despacho em processo nas 3 comarcas a que a subscritora se encontra

afecta, pronunciarmo-nos sobre a antecedente promoção, pois que para o

efeito necessitamos de tempo disponível para a integral audição de todos os

compact discs relativos às conversações telefónicas interceptadas. Assim, e

por ora, limitar-nos-emos a proferir despacho sobre a promovida prorrogação

dos prazos para algumas das intercepções telefónicas em curso”.

Ainda por despacho de fls. 4269 dos autos principais, proferido em 5

de Maio de 2004, a Meritíssima Juíza de Instrução Criminal referiu o seguinte:

“No que respeita ao promovido sob os pontos 2 e 3, relega-se para ulterior

momento a sua apreciação uma vez que para o efeito temos de despender

tempo incompatível com a urgência da prolação dos despachos que

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antecedem, com vista a escutar registos magnéticos e certificar transcrições

que são naturalmente de grande volume”.

Resulta de tudo isto que foi constante por parte da Meritíssima Juíza

de Instrução Criminal o acompanhamento, escuta e selecção das sessões

telefónicas que deveriam ser transcritas. E este constante acompanhamento

verifica-se desde o início das intercepções, uma vez que lhe foi dado imediato

conhecimento do início da operação, directamente pela Polícia Judiciária, com

o envio do respectivo auto de início de intercepção.

Para além de tudo isto, a Meritíssima Juíza em várias situações não

mandou transcrever a totalidade das conversas das sessões seleccionadas,

mas apenas parte, delimitando-as ao minuto e segundo de cada sessão.

Demonstra isto que não foi o critério de selecção do órgão de polícia

criminal – Polícia Judiciária – que prevaleceu nas transcrições, mas o judicial. E se

dúvidas houvessem quanto a esse aspecto em concreto vejam-se, a título de

exemplo, os despachos de fls. 820 [ponto III – 1.g)], 841 a 846 [ponto II – 1.p), q), s) e

dd)], 1110 a 1113 [ponto II – 1.d)], 1172 e 1173 [ponto I – 1.d), e), i) e j)] e 4815 a 4820

[ponto II – 1.o)], tudo dos autos principais.

Nestes despachos a Meritíssima Juíza de Instrução Criminal vai para

além ou fica aquém do sugerido pelo órgão de polícia criminal e promovido

pelo Ministério Público, mandando transcrever sessões cuja transcrição não

havia sido sugerida, não ordena a transcrição de outras, apesar de tal ter sido

sugerido e promovido, por entender que não têm qualquer interesse para a

investigação em curso ou por estarem repetidas.

Finalmente, e se mesmo assim sobejassem algumas dúvidas sobre

quem foi o autor da selecção das sessões a transcrever, na concretização do

juízo de ponderação entre a pretensão punitiva do Estado e os direitos

fundamentais dos cidadãos, atente-se entre outros, no despacho de fls. 505 a

511 dos autos principais.

Temos assim que todas as exigências legalmente previstas no art.

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188.º, n.º 1, do Código de Processo Penal, se mostram cumpridas no processo

e se evidenciam quer nos autos de intercepção e gravação formalizados, quer

nos despachos exarados, quer nas informações prestadas por escrito pela

Polícia Judiciária, quer finalmente no próprio teor dos ofícios da operadora

telefónica a dar notícia do início e fim de cada intercepção.

Mesmo a respeito da suscitada questão da prorrogação do prazo

das escutas antes da Juíza de Instrução Criminal ter tido acesso aos suportes

magnéticos e aos autos de gravação de anteriores, importa salientar no

específico caso dos autos a circunstância de logo em 10/04/2003, 16 dias

após a prolação do despacho inicial referente às escutas telefónicas, a referida

Juíza ter procedido à audição das gravações até então efectuadas, julgando

relevantes para a prova diversas passagens das mesmas, o que justifica o

interesse na prorrogação das intercepções e não permite dar por verificada,

neste ponto, uma situação de desacompanhamento judicial da operação,

constitucionalmente inadmissível.

Antes pelo contrário. Tal circunstancialismo permite também concluir

que a Meritíssima Juíza de Instrução Criminal procedeu no mais curto espaço

de tempo possível à audição das escutas telefónicas que iam sendo

efectuadas, mandando transcrever aquelas que em seu entender tinham

interesse para a investigação em curso.

É, por conseguinte, por tudo isto que afirmamos (e reafirmamos) que

as escutas telefónicas realizadas nos presentes autos contaram com

supervisão e acompanhamento judicial, tendo em vista assegurar a

salvaguarda dos direitos fundamentais dos cidadãos dentro das

contingências inerentes à complexidade e dimensão do processo.

*

Quanto à alegada nulidade das escutas por prorrogação de prazos sem

audição das anteriores intercepções e por aquela ter sido ordenada após a

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expiração do prazo inicialmente concedido.

A primeira das questões referidas foi já abordada na presente

decisão.

Ainda assim importa acrescentar que as conversações que a

Meritíssima Juíza de Instrução Criminal já tinha ouvido e ordenado a sua

transcrição quando decidiu proferir os despachos de prorrogação agora

colocados em crise permitiram-lhe concluir no sentido do grande interesse

para a descoberta da verdade ou para a prova na continuação da intercepção

do telefone a que diziam respeito as prorrogações. E isto porque a reiteração

das condutas era mais ou menos óbvia, nada havendo nos autos que

indiciasse ou permitisse pressupor a cessação daquela actividade (é pelo menos

a conclusão a que se chega quando analisados os autos de transcrição).

Não se olvide que os campeonatos de futebol em que os escutados

intervinham se prolongavam por toda a época desportiva, sendo que tudo isto,

associado à particular forma de actuação daqueles, conduzia à inevitável

conclusão de que continuava a haver fortes razões para crer que tais condutas

se iriam prolongar pelo menos até ao fim de tais campeonatos de futebol (o que

só iria ocorrer em Maio de 2004).

Por outro lado, dos autos (das sessões efectivamente escutadas, que é certo não

foram todas) resultava já aquando dos despachos de prorrogação que os

utilizadores dos telefones sob intercepção falavam uns com os outros, quer

entre telefones interceptados, quer através de telefones fixos ou móveis não

interceptados, para telefones interceptados, pelo que ao ouvir as sessões

telefónicas referentes a uns facilmente se concluía que havia fortíssimas

razões para crer que a prorrogação das intercepções de uns e outros telefones

era necessária para os efeitos a que alude a parte final do n.º 1 do art. 187º,

do Código de Processo Penal.

Queremos com tudo isto dizer que apesar da Meritíssima Juíza de

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Instrução ter prorrogado prazos de intercepção na ocasião em que ainda não

mandara transcrever todas as sessões que lhe haviam sido no mesmo

momento apresentadas, o certo é que o resultado das sessões anteriormente

escutadas permitia-lhe ter fortes razões para crer que continuava a haver

grande interesse para a descoberta da verdade ou para prova na continuação

da intercepção do telefone a que dizia respeito a prorrogação.

De referir que não colhe também o argumento de que foram

autorizadas prorrogações de escutas apesar de se ter constatado e

reconhecido que as que foram executadas ao abrigo da autorização anterior

se tinham revelado sem interesse.

Na verdade, e para além do arguido Augusto Duarte se limitar a uma

alegação genérica, sem qualquer concretização factual, diremos que após ter

sido reputado por essencial o recurso às intercepções telefónicas, nos termos

já referidos, não é pelo circunstância de as primeiras intercepções terem sido

consideradas irrelevantes para a investigação que aquele juízo de

essencialidade perde validade.

Aliás, conforme vieram a demonstrar os ulteriores termos do

processo, as intercepções telefónicas acabaram por se revelar de facto

essenciais para a investigação, ao ponto de os próprios arguidos, e apesar

das diversas decisões proferidas acerca desta questão pelos Tribunais

Superiores, insistirem, como toda a legitimidade, é certo, na declaração de

nulidade das escutas telefónicas.

Não foram assim, e também por isto, violadas as disposições legais

constantes dos arts 187.º e 188.º, do Código de Processo Penal, tal como

não se verifica qualquer violação do princípio da proporcionalidade,

consagrado no art. 18.º, da Constituição da República Portuguesa, uma vez

que a quantidade de crimes a investigar e a comprovada reiteração das

condutas criminosas dos intervenientes legitimava, de forma não

desproporcional, a compressão do seu direito à palavra, à reserva da

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intimidade da vida privada, da correspondência e das telecomunicações – cfr.

art. 34.º, da Constituição da República Portuguesa.

*

Quanto às alegadas questões da selecção e ordem de transcrição de

escutas mais de um ano depois de terem sido consideradas sem interesse

para a investigação e da ordem de destruição (ou não destruição) imediata

das cessões consideradas sem interesse.

Conforme tem sido assinalado pela jurisprudência do Tribunal

Europeu dos Direitos do Homem e pelo menos desde o Acórdão n.º 426/2005

do Tribunal Constitucional, o que eventualmente se poderia considerar como

constitucionalmente inadmissível a propósito da questão agora em apreço

seria a privação da possibilidade – que a imediata desmagnetização da

gravação logo após a audição pelo juiz acarretaria – de a defesa requerer a

transcrição de passagens das gravações, não seleccionadas pelo juiz, que

repute relevantes para a descoberta da verdade. Foi, presumimos, por isso

mesmo que no citado Acórdão n.º 426/2005 se consignou que “deve ser

facultado à defesa (e também à acusação) a possibilidade de requerer a

transcrição de mais passagens do que as inicialmente seleccionadas pelo juiz,

quer por entenderem que as mesmas assumem relevância própria, quer por

se revelarem úteis para esclarecer ou contextualizar o sentido de passagens

anteriormente seleccionadas”.

De forma semelhante ocorre no direito comparado: na Bélgica, as

gravações são mantidas intactas a fim de as partes as poderem consultar e

requerer a transcrição de passagens inicialmente tidas por irrelevantes; em

França, as gravações só são destruídas no termo do prazo de prescrição do

procedimento criminal; na Alemanha, elas são mantidas e podem ser ouvidas

na própria audiência de julgamento; em Itália, só após audição das gravações

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(cuja guarda compete ao Ministério Público) pela defesa e pronúncia dos diversos

intervenientes é que o juiz manda suprimir os registos cuja utilização é

legalmente vedada e admite os que não são manifestamente irrelevantes (art.

268.º, n.º 6, do Código de Processo Penal), sendo os registos conservados até ao

trânsito em julgado da sentença final, a menos que, a requerimento dos

interessados, com fundamento em tutela da privacidade, o juiz autorize a

destruição antecipada (art. 269.º, n.º 2, do mesmo Código); em Espanha, atenta a

exiguidade da regulamentação legal, a jurisprudência do Tribunal

Constitucional e do Tribunal Supremo têm insistido na necessidade de serem

os originais das fitas de gravação ou elementos análogos a serem remetidos

ao tribunal, ficando à guarda do secretário judicial, que facultará o seu acesso

às partes (e ao Ministério Público) e dirigirá a tarefa de transcrição das partes tidas

por relevantes (cfr. José Luís Rodríguez Lainz, La intervención de las comunicaciones telefónicas

– Su evolución en la jurisprudencia del Tribunal Constitucional y del Tribunal Supremo, Barcelona,

2002, págs. 179-186).

Foi também neste sentido que evoluiu o nosso legislador, quando na

última revisão legislativa alterou o disposto no Código de Processo Penal

acerca daquela matéria.

Nenhuma censura constitucional merece, por conseguinte, o critério

normativo no sentido da não destruição das sessões consideradas

inicialmente sem interesse para a prova, tendo sobretudo em vista o

acautelamento dos interesses do arguido e das pessoas escutadas, sendo

certo que, para concomitante defesa do direito à privacidade destas, se deve

enfatizar o dever de sigilo a que estão obrigados todos os participantes na

operação (art. 188.º, n.º 3, do Código de Processo Penal), dever de sigilo que no que

respeita às passagens das conversações que se consideraram inadmissíveis

ou irrelevantes e que, por isso, não chegaram a ser adquiridas para o

processo, perdura mesmo para além do termo da fase secreta do processo.

Assim sendo, a alegada nulidade das escutas resultante, por um

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lado, do facto de não terem sido destruídas desde logo as sessões

consideradas irrelevantes para a prova e, por outro, do facto de terem sido

seleccionadas sessões telefónicas mais de um ano depois da primeira

selecção, não colhe apoio legal nem constitucional.

Com efeito, o art. 188.º, n.º 3, do Código de Processo Penal, não

impõe que a ordem de destruição seja dada imediatamente após a primeira

selecção, nem resulta da lei que o controlo ou acompanhamento judicial das

operações seja posto em causa pelo facto de se vir a seleccionar mais de um

ano depois outras sessões que anteriormente se considerara irrelevantes.

O que se pretende com o controlo ou acompanhamento judicial das

operações é propiciar que seja determinada a interrupção da intercepção logo

que a mesma se revele desnecessária, desadequada ou inútil e fazer

depender a aquisição processual da prova assim obtida de um “crivo” judicial

quanto ao seu carácter não proibido e à sua relevância. E é este controlo

judicial que não é colocado em causa com a posterior selecção de uma

passagem considerada anteriormente sem interesse.

Também do ponto de vista constitucional a alegada nulidade não

colhe porque não é constitucionalmente imposto que o único modo pelo qual o

juiz pode exercitar a sua função de acompanhamento da operação de

intercepção de telecomunicações seja o da audição, pelo próprio, da

integralidade das gravações efectuadas ou sequer das passagens indicadas

como relevantes pelo órgão de polícia criminal, bastando que com base nas

menções ao conteúdo das gravações, com possibilidade real de acesso

directo às gravações, o juiz emita juízo sobre essa relevância, juízo que

sempre será susceptível de contradição pelas pessoas escutadas quando lhes

for facultado o exame do auto de transcrição.

No caso dos autos a selecção inicial das passagens relevantes para

a prova foi efectuada de facto pela Meritíssima Juíza de Instrução Criminal,

que decidiu não mandar destruir as restantes porque poderiam vir a assumir

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relevância, ainda que em conjugação com outros elementos de prova.

Posteriormente, já depois de ter sido analisada a prova que veio a

ser posteriormente obtida através da apreensão de documentos nas buscas

efectuadas em 20/04/2004 e após terem sido levadas a cabo as perícias

ordenadas, inquirições e interrogatórios, bem como analisado o teor das

transcrições já efectuadas, chegou-se à conclusão de que havia interesse para

a prova na transcrição de outras sessões anteriormente não mandadas

transcrever.

Nada na lei proíbe uma tal actuação, nem tal é sinónimo de falta de

controlo judicial das intercepções telefónicas efectuadas, tanto mais que se

tratou de uma situação excepcional, isto se tivermos em conta o número global

de passagens seleccionadas.

No sentido do que acabo de deixar dito deve ler-se o citado (e seguido

de perto) Acórdão n.º 4/2006 do Tribunal Constitucional, que concluiu de forma

igual ou idêntica à agora exposta.

Sucede porém que nos presentes autos foi de facto ordenada a

destruição de algumas escutas sem que tenha sido dada a possibilidade aos

arguidos de terem acesso ao seu conteúdo. Por via disto, alguns houve que

consideraram existir uma nulidade das escutas telefónicas resultante da

violação do n.º 3 do art. 188.º, do Código de Processo Penal (quando interpretado

no sentido de que só podem ser mandadas destruir sessões das escutas telefónicas depois de ser

facultado aos arguidos o conteúdo das mesmas para, querendo, exercerem o seu direito de defesa) e

que uma interpretação da referida norma com sentido diverso é

inconstitucional, por violar os art. 32.º, n.º 1, 34.º, n.º 1 e 4 e 18.º, n.º 2, da

Constituição da República Portuguesa.

A tese por nós defendida na decisão instrutória proferida nos autos

principais mereceu acolhimento por parte do Tribunal Constitucional, pelo que

a este respeito nos limitamos a remeter para o teor do Acórdão n.º 378/2008,

disponível em http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos, que decidiu, para além do

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mais, não julgar inconstitucional a norma do art. 188.º, n.º 3, do Código de

Processo Penal, na redacção anterior à Lei n.º 48/2007, de 29 de Agosto,

quando interpretada no sentido de que o juiz de instrução pode destruir o

material coligido através de escutas telefónicas, quando considerado não

relevante, sem que antes o arguido dele tenha conhecimento e possa

pronunciar-se sobre o eventual interesse para a sua defesa.

*

Da alegada nulidade das escutas em virtude de se terem prolongado por

mais de treze meses.

Como é por demais sabido, os prazos legalmente fixados para a

duração do inquérito são meramente ordenadores, sob pena de impedirem a

realização e o culminar de inúmeras investigações.

É certo que no caso dos autos houve intercepções que se

prolongaram para além do prazo máximo legalmente fixado para a duração do

inquérito.

Sucede, porém, que nem a lei impõe, pelo menos por agora, prazos

máximos para a duração das intercepções telefónicas, nem tão pouco a

complexidade dos autos permitia que se tivesse actuado de outra forma.

Na verdade, para além do elevado número de suspeitos, também o

número e a diversidade de crimes em investigação era de tal forma que não se

compaginava com o respeito pelo aludido prazo legal.

A tudo isto acresce ainda o facto da actividade desenvolvida pelos

arguidos se estender ao longo do tempo que duravam os campeonatos de

futebol.

Reduzir a possibilidade de utilizar o meio de obtenção da prova em

apreço ao prazo máximo de duração do inquérito seria fazer com que a

investigação ficasse coarctada do principal meio de obtenção da prova (uma vez

que sempre seria física e humanamente impossível proceder à presente investigação naquele prazo

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legal) e imediatamente dotada ao insucesso.

É, por conseguinte, manifestamente improcedente o argumento

avançado pelos arguidos e agora em apreço.

*

Dos autos de gravação e transcrição.

Do texto do art. 188.º, do Código de Processo Penal, na redacção

dada pelo Decreto-Lei n.º 320-C/2000, de 15 de Dezembro, retirava-se o

seguinte formalismo a respeitar, após a autorização de intercepção:

- Elaboração de auto de intercepção e gravação;

- Disponibilização imediata do auto e dos meios onde foram vertidas

as comunicações interceptadas ao juiz de instrução criminal competente;

- Análise dos elementos recolhidos pelo juiz de instrução criminal;

- Transcrição em auto dos elementos julgados relevantes na

sequência da análise feita pelo juiz de instrução criminal.

Todo este formalismo apenas se compreende como instrumento de

controlo do próprio controlo jurisdicional – ou seja, será o respeito pelas

formalidades legalmente impostas que permitirá uma primeira aproximação à

afirmação (ou não) da (in)existência do «crivo» jurisdicional garante da mínima

compressão.

Nos termos do disposto no n.º 1 do art. 99.º, do Código de Processo

Penal, deve entender-se por “auto” o instrumento destinado a fazer fé, quanto

aos termos em que se desenrolaram os actos processuais a cuja

documentação a lei obrigar, a que tiver assistido quem o redige.

Deve conter as menções referidas no n.º 3 do art. 99.º, do Código de

Processo Penal, e, por via da remissão operada pelo corpo desse mesmo n.º

3, as referências indicadas pelo n.º 6 do art. 94.º, do Código de Processo

Penal.

É certo que os arts. 187.º e seguintes, do Código de Processo Penal,

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expressamente não se referem à aplicabilidade dos arts. 94.º e 99.º, do

Código de Processo Penal, aos autos de intercepção e gravação.

Mas a verdade é que não teriam de o fazer.

A simples referência a “auto” constante do n.º 1 do art. 188.º, do

Código de Processo Penal, não pode deixar de significar a remissão para as

regras gerais da sua elaboração (tanto mais que o n.º 6 do art. 94.º, do Código de Processo

Penal, expressamente alude a auto que se reporte a acto constrangedor de liberdades fundamentais

das pessoas, como é o caso, incontestavelmente, da compressão do constitucional direito à não

ingerência abusiva nas comunicações privadas).

Ora, da simples leitura dos diversos autos de início de intercepção

de comunicações juntos ao processo resulta a identificação de quem os

redigiu (por exemplo, o inspector Casimiro Simões ou a inspectora Leonor Brites), a operação

levada a cabo e a data em que teve lugar (mas não a hora do seu início. Tratando-se de

auto de início de intercepção, e sendo a autorização de intercepção concedida por períodos de 30, 60

e 90 dias, naturalmente fica excluída a possibilidade de no auto constar o momento da conclusão da

diligência. Mas para este efeito dispomos dos autos de cessação das intercepções).

Sendo do conhecimento público os meios tecnológicos actualmente

utilizados no estabelecimento das telecomunicações telefónicas, nada no

processo permite sequer suspeitar que em cada uma das ocorrências vertidas

em auto interveio outra pessoa para além do inspector que o lavrou.

É certo que o mesmo inteiramente não se poderá dizer dos inúmeros

autos de gravação e transcrição elaborados, na medida em que em parte

deles não consta a identificação da pessoa que os elaborou (veja-se que no

cabeçalho de cada um destes autos consta a identificação do inspector Casimiro Simões, mas são

manifestamente de diversas pessoas as assinaturas neles apostas – apesar de se afigurar simples de

definir tal identificação).

Nestes consta o dia da diligência e a actividade desenvolvida, mas

não a hora do início e do fim da ocorrência.

Temos por seguro também que em nenhum dos autos (basta lê-los – de

início de intercepção e de gravação) não se indica (pelo menos expressamente) o lugar da

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prática do acto.

Assentamos, pois, que:

- Em parte dos autos de gravação não resulta a identificação da

pessoa que o elaborou, mas apenas a sua assinatura;

- Em qualquer dos autos (de início de intercepção e de gravação) não foi

registada a hora do início e do fim da diligência, nem o lugar em que esta teve

lugar.

De facto, ocorre desconformidade entre, de um lado, o que

prescrevem o n.º 6 do art. 94.º e o n.º 3 do art. 99.º, do Código de Processo

Penal, de outro, o vertido nos diversos autos.

Mas tal divergência nunca acarretaria ou acarretará uma nulidade

processual, desde logo por a norma consagrada no art. 190.º, do Código de

Processo Penal, nem sequer fazer referência aos arts. 94.º e 99.º, do mesmo

diploma.

Cremos que se outra fosse de facto a intenção, deveria fazê-lo.

Não se vislumbra que conclusão diversa se possa retirar do n.º 1 do

art. 118.º, do Código de Processo Penal.

O que o art. 190.º, Código de Processo Penal, fere de nulidade é a

omissão dos requisitos consagrados nos arts. 187.º e 188.º, do Código de

Processo Penal.

Ora, os autos foram lavrados, embora (é certo) com irregularidades.

Mas manifestamente não afastam a sua função de certificação da

verificação de uma determinada e concreta diligência processual (pelo menos, não

se vê de que maneira assim se possa entender), e como tal foram facilmente

compreendidos pelos arguidos.

Ocorreu irregularidade (n.º 1 do art. 118.º, do Código de Processo Penal) que,

no momento da apresentação do requerimento de abertura da instrução

(recorde-se, como acima se referiu, é este o momento que nos interessa para aferir da tempestividade

da invocação), estava sanada (art. 123.º, do Código de Processo Penal), e, de todas as

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formas, sempre seria sanável (n.º 2 do art. 123.º, do Código de Processo Penal) – este

tem sido, aliás, o entendimento uniforme do Supremo Tribunal de Justiça

quanto à definição do alcance da invalidade consagrada no art. 189.º, do

Código de Processo Penal – cfr., por todos, o decidido pelo Supremo Tribunal de Justiça no

seu acórdão de 4 de Outubro de 2006, disponível em www.dgsi.jstj.pt, onde é feita exaustiva resenha

das várias decisões proferidas sobre esta matéria pelos nossos tribunais superiores.

Ainda sobre esta questão, recordamos apenas que o Tribunal da

Relação do Porto, no acórdão proferido no âmbito do recurso da decisão

instrutória por nós proferida nos autos principais (cfr. apenso AP daqueles autos),

sobre esta mesma questão, decidiu nem sequer ocorrer irregularidade

processual, cumprindo os autos elaborados todos os requisitos legais.

Não vislumbramos, por conseguinte, qualquer nulidade a este

propósito.

*

Dos conhecimentos fortuitos.

O arguido Rui Alves suscita a pertinente questão dos conhecimentos

fortuitos.

Alega aquele arguido que as escutas telefónicas utilizadas como

prova dos factos que lhe são imputados resultam da intercepção ao telemóvel

de outro arguido, nomeadamente do arguido António Araújo (alvo 23683).

A decisão judicial de fls. 1095 dos autos principais (cfr. fls. 42 dos

presentes autos), pela qual foi determinada a intercepção do telemóvel 916 199

611 pertencente ao arguido António Araújo, teve em conta os indícios de

prática de crimes de corrupção ou de corrupção desportiva, previstos e

punidos pelos arts. 374.º, n.º 1, do Código Penal, e 3.º, n.º 1 e 2, do

Decreto-Lei n.º 390/91, de 10/10, respectivamente.

Acresce que o crime de corrupção em causa nos autos foi imputado

na acusação ao arguido Rui Alves como co-autor do arguido António Araújo,

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pelo que são ambos comparticipantes e a actividade criminosa foi

desenvolvida na mesma ocasião e lugar.

Existe, por conseguinte, conexão processual na investigação da

actividade criminosa de um e outro arguido, havendo por isso uma unidade em

sentido processual – art. 24.º, n.º 1, alínea d), do Código de Processo Penal.

Estamos, por tudo isto e quando muito, perante conhecimentos de

investigação, valendo as escutas como meio de prova não só para imputar o

crime ao arguido António Araújo, mas também para o imputar ao arguido Rui

Alves, aliás como não poderia deixar de ser.

De referir, por fim, que o crime em questão é o crime de catálogo,

sendo legalmente admissível a utilização das escutas telefónicas como meio

de prova.

Improcedem, por tudo isto, os argumentos avançados quanto a esta

questão em concreto pelo arguido Rui Alves.

*

3. Da (in)suficiência dos indícios.

Conforme referimos supra, encerrado que foi o inquérito decidiu o

Ministério Público deduzir acusação contra os arguidos António Fernando

Peixoto de Araújo, Rui António Macedo Alves, Jorge Nuno de Lima Pinto da

Costa e Augusto José Bastos Duarte, imputando aos três primeiros arguidos a

prática, em co-autoria, de um crime de corrupção activa no fenómeno

desportivo, previsto e punido pelos arts. 4.º, n.º 1 e 2, 3.º, n.º 1, e 6.º, do

Decreto-Lei n.º 390/91 de 10/10, e ao quarto arguido a prática, como autor, de

um crime de corrupção passiva no fenómeno desportivo, previsto e punido

pelos arts. 3.º, n.º 1, 2.º, n.º 1, e 6.º, do mesmo diploma legal.

Escreveu-se, para tanto, na acusação pública:

“1º - O arguido António Fernando Peixoto de Araújo é empresário de futebol, tendo

constituído uma empresa envolvida no negócio do futebol, denominada "On Soccer".

2º - O arguido está há vários anos estreitamente ligado ao arguido Jorge Nuno Pinto da

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Costa por ter encetado com o mesmo negociações para transferência de jogadores, sendo também

sócio do Futebol Clube do Porto.

3º - O arguido tem ainda uma sociedade do ramo imobiliário denominada "Teles, Araújo e

Tiago Lda.", sendo o seu sócio Reinaldo Teles administrador da SAD portista.

4º - O arguido desde o ano de 1990 acompanha o Futebol Clube do Porto nas suas

deslocações ao estrangeiro.

5º - O arguido António Araújo mantém ainda contactos pessoais com vários dirigentes

desportivos, nomeadamente com o arguido Rui Alves.

6º - O arguido Rui António Macedo Alves é o Presidente da Direcção do Clube Desportivo

Nacional há vários anos.

7º - O arguido Jorge Nuno Lima Pinto da Costa é o Presidente do Futebol Clube do Porto

há vários anos.

8º - O arguido Augusto José Bastos Duarte é árbitro de Futebol, da Associação de

Futebol de Braga, pertencendo, na época desportiva 2003/2004 à 1ª categoria Nacional, arbitrando

jogos da 1ª Divisão, denominada, à data, Super Liga Galp Energia.

9º - Os arguidos António Araújo e Augusto José Bastos Duarte mantêm um contacto

muito próximo, sendo ambos da zona de Braga, tratando-se por amigos e colegas.

10º - No dia 22 de Fevereiro de 2004 iria realizar-se nesta cidade do Funchal a partida de

Futebol do campeonato para a Super Liga Galp Energia no campo da Choupana, em que seriam

intervenientes o Clube Desportivo Nacional, oriundo do Funchal, e o Sport Lisboa e Benfica, oriundo

de Lisboa, partida correspondente à 23ª jornada.

11º - Nesta data o Sport Lisboa Benfica ocupava o 3° lugar na classificação do referido

campeonato com 47 pontos, tendo ainda hipóteses de ganhar o campeonato.

12º - O Futebol Clube do Porto ocupava o 1° lugar com 56 pontos.

13º - O Clube Desportivo Nacional, que viria a terminar o campeonato no 4° lugar com 56

pontos, estava a lutar por um lugar no referido campeonato que lhe permitisse participar na taça

UEFA, época 2004-2005, ocupando antes do jogo em causa nos autos o 8° lugar com 34 pontos.

14º - Assim, quer o Futebol Clube do Porto quer o Clube Desportivo o Nacional,

nomeadamente os seus Presidentes, respectivamente os arguidos, Jorge Nuno de Lima Pinto da

Costa e Rui António Macedo Alves, pelas razões acima descritas, tinham interesse na derrota do

Benfica.

15º - Para o jogo Nacional Benfica a realizar em 22 de Fevereiro de 2004 foi designado o

árbitro e ora arguido Augusto José Bastos Duarte, da Associação de Futebol de Braga, auxiliado por

José Carlos Neves Ramalho e Alfredo Augusto Fernandes Braga.

16º - No dia 17 de Fevereiro de 2004, pelas 19.29.39 horas, o arguido Rui Alves informou

o arguido António Araújo que o jogo Nacional Benfica seria arbitrado pelo arguido Augusto Duarte.

(cfr. sessão 764 alvo 23683 a fls. 992),

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17º - Tendo este ficado satisfeito com a notícia. (cfr. sessão 764 alvo 23683 a fls. 992).

18º - Os arguidos Rui Alves e António Araújo combinaram entre si que o árbitro ora

arguido seria contactado pelo arguido António Araújo para que favorecesse a equipa do Nacional no

jogo em causa, violando as regras de jogo, mediante contrapartidas económicas não especificadas a

que não tinha direito, considerando o arguido António Araújo que a solução para ganhar o jogo era

“trabalhar” o árbitro ora arguido.(cfr. sessão 764 do alvo 23683 fls. 992).

19º - Neste contexto, o arguido António Araújo, no dia 18/2/04, a horas e local

indeterminados, encontrou-se com o arguido Jorge Nuno Pinto da Costa, a quem deu conta do acordo

estabelecido com o arguido Rui Alves, para a beneficiação do Nacional em detrimento do Benfica, a

ser realizado pelo árbitro e arguido Augusto Duarte, e para que este levasse a cabo esse intento

mediante o pagamento de contrapartidas económicas não apuradas e a que não tinha direito, (cfr.

sessão 868 do alvo 23683 fls. 991).

20º - Nomeadamente um bilhete de futebol para o jogo Porto Manchester.

21º - Aceitando o arguido Jorge Nuno Pinto da Costa tal proposta. (cfr. sessão 868 do

alvo 23683 fls. 991)

22º - Neste contexto, e em execução do plano acordado, no dia 18/2/04, pelas 11.39.45

horas, através do telemóvel 968025586, o arguido António Araújo estabeleceu contacto com o arguido

Augusto Duarte combinando um encontro para a 5ª feira seguinte. (cfr. sessão 824 do alvo 23683 fls.

994).

23º - Também no dia 18 de Fevereiro de 2004, pelas 12.30.15 horas, o arguido António

Araújo estabeleceu contacto telefónico através do n.º 917542352 com Luís Manuel Beleza de

Vasconcelos Gonçalves, Engenheiro, Director de Gabinete de Prospecção e Observação de

Jogadores da Sociedade Anónima Desportiva Futebol Clube do Porto, Porto, SAD, dando a saber que

no próprio dia esteve reunido com o arguido Jorge Nuno Pinto da Costa, nas Antas onde lhe deu conta

do estado das negociações encetadas para beneficiação do Nacional em detrimento do Benfica.

(sessão 868 alvo 23683 pág. 996).

24º - No dia 18 de Fevereiro de 2004, o arguido Rui Alves, através do telemóvel

969785558 e pelas 17.09.32 horas, manteve contacto telefónico com o arguido António Araújo,

afirmando-lhe este que já tinha contactado o árbitro ora arguido dizendo textualmente "Mas já tratei

do..., do que aquilo que tinha, tinha de tratar...!!!" (sessão 873, alvo 23683 pág. 999).

25º - Também no dia 19 de Fevereiro de 2004, pelas 12.55.43 horas, através do

telemóvel 917542352, o arguido António Araújo estabeleceu contacto com o engenheiro Luís

Gonçalves, da SAD portista, dizendo-lhe ter estado a fazer um serviço muito importante para o

Futebol Clube do Porto. (cfr. sessão n.º 1016, alvo 23683 pág. 1001).

26º - Os arguidos António Araújo e Augusto Duarte encontraram-se no dia 19 de

Fevereiro de 2004, de noite, no Café Ferreira, afim de tratarem de assuntos relacionados com a

beneficiação do Nacional em detrimento do Benfica pelo árbitro e ora arguido Augusto Duarte, nos

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moldes já acima descritos. (cfr. sessão 1128 alvo 23683 pág. 1002; sessão 1137 alvo 23683 pág.

1008; sessão 1144 alvo 23683 pág. 1010; sessão 1145 alvo 23683 pág. 1012).

27º - Nesse encontro o arguido António Araújo, com o acordo dos arguidos Rui Alves e

Jorge Nuno Pinto da Costa, pediu ao árbitro e arguido Augusto Duarte para praticar actos contrários

às leis do jogo necessários a beneficiar a equipe do Nacional ou prejudicar o Benfica, violando as

regras de jogo, recebendo como contrapartida uma quantia monetária não apurada a que não tinha

direito e nomeadamente um bilhete para o jogo Porto Manchester.

28º - O arguido Augusto Duarte aceitou a proposta que lhe foi formulada.

29º - No dia 22 de Fevereiro de 2004, pelas 20 horas e 15 minutos, realizou-se no estádio

da Choupana o jogo entre as equipes do Clube Desportivo o Nacional e o Sport Lisboa e Benfica, a

contar para o campeonato nacional da 1ª divisão, organizado pela Liga Portuguesa de Futebol

Profissional.

30º - A equipe de arbitragem foi, como acima se referiu, constituída pelo arguido Augusto

Duarte, árbitro principal, coadjuvado pelos árbitros assistentes José Carlos Neves Ramalho e Alfredo

Augusto Fernandes Braga a quem competia aplicar as leis do jogo do Futebol.

31º - O resultado do jogo foi a vitória do Nacional por 3-2.

32º - No decurso do jogo, em concretização do acordo celebrado com os demais

arguidos, o arguido Augusto Duarte voluntariamente violou por duas vezes as normas de da Lei de

Futebol, uma em prejuízo do Benfica e outra em prejuízo do Nacional, respectivamente:

"Na primeira parte", aos "8 minutos, jogador n.º 8, do Benfica derruba com os pés um

jogador do Nacional, a bola está já dentro da área de grande penalidade do infractor. No entanto, fica

muita dúvida se a falta foi cometida dentro ou fora dessa área, isto apesar de várias repetições. (Na

sequência da Jogada o Nacional marcou golo).

"33 minutos, jogador do Benfica joga a bola que sai pela sua linha de baliza o que

motivaria um pontapé de canto contra esta equipa .O árbitro assinala um pontapé de baliza. Não se vê

a indicação do árbitro assistente"(confira auto de peritagem do jogo que faz fls. 276)

33º - No dia 23 de Fevereiro de 2004, pelas 12.50.51 horas, pelo telemóvel n.º

968025586, o arguido António Araújo manteve contacto telefónico com o arguido Augusto Duarte

pedindo a entrega do bilhete para o jogo de futebol a realizar na 4ª feira seguinte, dia 25/2/04, (Jogo

Porto - Manchester United no Estádio do Dragão), confirmando as horas do encontro e especificando

que o bilhete deveria dar acesso à zona de “comes e bebes”. (sessão 1176 alvo 23683 fls.1013).

34º - O arguido António Araújo confirmou ter o bilhete e ainda que o mesmo dava acesso

à zona de "comes e bebes". (cfr. mesma sessão).

35º - No dia 23 de Fevereiro de 2004, pelas 17.18.33 horas, do telemóvel 969785558, o

arguido Rui Alves manteve contacto telefónico com o arguido António Araújo no qual aludem à

reacção do arguido Pinto da Costa ao resultado do jogo e à actuação do árbitro, que obedecera ao

que lhe fora determinado, dizendo expressamente “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”

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(sessão n.º 1859 alvo 23683 pág. 1015).

36º - No dia 25/2/04 os arguidos António Araújo e Augusto Duarte assistiram juntos ao

jogo supra descrito realizado no Estádio do Dragão.

37º - No dia 25 de Fevereiro de 2007, pelas 17.16.58 horas, através do telemóvel

968025586, o arguido António Araújo estabeleceu contacto telefónico com o arguido Augusto Duarte

combinando com ele um encontro, devendo o arguido Augusto Duarte entrar no veículo do primeiro.

(cfr. sessão 2049 alvo 23683 pág. 1017).

38º - No dia 27 de Fevereiro de 2004, o arguido António Araújo contactou com o

Administrador do Futebol Clube do Porto Fernando Gomes da Silva para dele recolher as

contrapartidas económicas a entregar ao arguido Augusto Duarte (cfr. sessão 2318 alvo 23683 pág.

1018).

39º - Fernando Silva perguntou se não podia ficar para 2ª feira, o que foi aceite pelo

arguido António Araújo que disse "poder, pode. Eu ligo para ele, ligo para ele, ligo para o..., para o

fiscal, e digo-lhe a ele que pronto, fica a vistoria marcada para, para 2ª feira..."(cfr. sessão 2318 alvo

23683 pág. 1018).

40º - Em data e local não apurados o arguido António Araújo entregou ao arguido

Augusto Duarte a contrapartida económica acordada.

41º - Os arguidos António Fernando Peixoto de Araújo, Rui António Macedo Alves e

Jorge Nuno Lima Pinto da Costa conheciam a qualidade de árbitro do arguido Augusto José Barros

Duarte e bem assim os deveres de isenção e imparcialidade a que estavam sujeitos.

42º - Não obstante isso, ao prometer e dar ao arguido Augusto José Barros Duarte

contrapartidas económicas não apuradas e um bilhete para o jogo Porto Manchester, a que aquele

não tinha direito, agiram concertadamente em execução do plano acordado, com a intenção de

condicionar a sua actuação enquanto árbitro no jogo de futebol em causa nos autos, visando

determinar a prática, por acção ou omissão de actos contrários às normas técnicas e disciplinares

aplicáveis à prática do futebol, destinados a alterar ou falsear o resultado do jogo com benefício

directo para o Nacional e para a equipa do Futebol Clube do Porto e em detrimento do Sport Lisboa e

Benfica, o que conseguiram.

43º - O arguido Augusto Duarte enquanto árbitro, sabia que estava obrigado ao

cumprimento dos deveres de isenção e imparcialidade e obrigado a respeitar as normas técnicas e

disciplinares aplicáveis à prática do futebol.

44º - Apesar disso aceitou a promessa dos referidos bens e os próprios bens como

contrapartida da prática de actos, por acção ou omissão, contrários a tais normas e destinados a

alterar ou falsear o resultado do jogo em questão para benefício do Futebol Clube do Porto e do

Nacional em detrimento do Sport Lisboa e Benfica, o que concretizou.

45º - Os arguidos agiram livre, deliberada e conscientemente, bem sabendo que as suas

condutas eram proibidas por lei”.

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Dispõe o art. 2.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 390/91, de 10 de Outubro

[na parte que para os autos releva. É certo que a recente Lei n.º 50/2007, de 31 de Agosto, veio

expressamente revogar quase na íntegra o Decreto-Lei n.º 390/91. No entanto, a estrutura típica das

condutas manteve-se, no que para os autos releva, em absoluto idêntica (para além dos limites mais

abrangentes que resultam do conceito «agente desportivo», que não possuía equivalente no

Decreto-Lei n.º 390/91. Seja como for, as condutas abrangidas pela lei antiga são integralmente

também abrangidas pela lei nova), pelo que a problemática da sucessão de leis penais não se coloca

nesta fase], que “quem, na qualidade de praticante desportivo, por si ou por

interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação, solicitar ou aceitar,

para si ou para terceiro, vantagem patrimonial ou não patrimonial, ou a sua

promessa, que não lhe sejam devidas, como contrapartida de acto ou omissão

destinados a alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva será

punido com pena de prisão até 2 anos”.

Acrescenta depois o seu n.º 2 que “se o facto não for executado ou,

tendo-o sido, dele não resultar o efeito pretendido pelo agente, a pena será a

de prisão até 1 ano”.

Por seu lado, o art. 3.º, do Decreto-Lei nº 390/91, de 10 de Outubro

(na parte que para os autos releva, reproduzindo-se aqui a referência acima feita à Lei nº 50/2007, de

31 de Agosto), prevê, no seu n.º 1, que “se os factos descritos no artigo anterior

forem praticados por árbitro ou equiparado, cuja função consista em apreciar,

julgar ou decidir a aplicação das regras técnicas e de disciplina próprias da

modalidade desportiva, a pena será de prisão até 4 anos”, acrescentando o

seu n.º 3 que “é correspondentemente aplicável aos números anteriores o

disposto nos n.º 2 e 3 do artigo anterior, mas, no primeiro caso, a pena será de

prisão até 2 anos”.

Por fim, dispõe o art. 4.º, do Decreto-Lei nº 390/91, de 10 de Outubro

(na parte que para os autos releva, reproduzindo-se aqui uma vez mais a referência acima feita à Lei

nº 50/2007, de 31 de Agosto), que (n.º 1) “quem, por si ou por interposta pessoa, com

o seu consentimento ou ratificação, der ou prometer a praticante desportivo

vantagem patrimonial ou não patrimonial, que não lhe seja devida, com o fim

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indicado no artigo 2º, será punido com prisão até 3 anos”; (n.º 2) “se o facto

descrito no número anterior for praticado relativamente a qualquer das

pessoas referidas no artigo 3º, a pena será de prisão até 4 anos”.

Como se viu supra, o fim indicado no art. 2.º é a prática de acto ou

omissão destinados a alterar ou falsear o resultado de uma competição

desportiva. As pessoas referidas no art. 3.º são, para o que aqui interessa,

árbitros ou equiparados, cuja função consista em apreciar, julgar ou decidir a

aplicação das regras técnicas e de disciplina próprias da modalidade

desportiva.

O crime de corrupção desportiva activa consuma-se quando o

agente promete ou dá, neste caso, a árbitro uma vantagem patrimonial ou não

patrimonial, com a finalidade de este praticar um acto ou omissão destinado a

alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva.

A consumação acontece, no caso da promessa, quando esta chega

ao conhecimento do árbitro.

Por seu lado, e tradicionalmente, a corrupção passiva desdobra-se

em três elementos objectivos típicos: primeiro, a qualidade do agente; segundo

a natureza da actividade visada pelo suborno; terceiro, as características que a

peita deve satisfazer para que o crime esteja consumado.

O âmbito dos factos é o da prática desportiva, sendo dever de quem

contribui para o seu desenvolvimento fazê-lo prosseguindo objectivos de

ordem formativa, ética e sócio-individual – art. 4.º, n.º 5, da Lei 1/90 de 13 de

Janeiro (actual art. 40.º, da Lei n.º 30/2004, de 21 de Julho – Lei de Bases do Sistema

Desportivo/Lei de Bases do Desporto).

Soaria pleonástico referir que qualquer prática desportiva, quando

não prossiga estes mesmos fins e quando não seja presidida por tais valores,

perde, em absoluto, o seu sentido e razão de ser.

Foi por referência a tais objectivos que o Estado instituiu medidas

tendentes a prevenir e punir manifestações anti-desportivas como a corrupção,

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tal é a importância que a prática desportiva, e particularmente, o futebol,

assumem no dia-a-dia de milhares de cidadãos, não só pela sua vertente

lúdica, mas ainda, e principalmente, pelos valores que deve transportar e

representar.

O preâmbulo do Decreto-Lei n.º 390/91, de 10 de Outubro,

estabelece como finalidade a protecção “da lealdade, a correcção da

competição e do seu resultado e o respeito pela ética na actividade desportiva”

– neste sentido, cfr. José Manuel Meirim, “Ética Desportiva – A Vertente Sancionatória Pública, in

RPCC, Ano 2, Fasc. 1º, Aequitas – Editorial Notícias, 1992, págs. 85 a 110, e “Corrupção no

Fenómeno Desportivo”, anotação ao Acórdão do STJ de 30/10/1997, in RPCC, Ano 8, Fasc. 1.º,

Aequitas – Coimbra Editora, 1998, pp. 109 a 131.

Foi “considerando a gravidade que em si mesmo encerram perante a

dignidade e o valor social dos interesse que pretendem acautelar”,

caracterizados como verdadeiros interesses públicos, que o referido diploma

legal veio proceder à criminalização das condutas fraudulentas situadas no

âmbito desportivo.

O árbitro é o vértice superior entre as duas equipas em competição.

“Dentro do rectângulo é a autoridade desportiva suprema durante a realização

do jogo, devendo, tanto os jogadores como os dirigentes e o público, acatar as

suas decisões sem discussão ou protesto” – art. 16.º, do Regulamento de Disciplina da

Federação Portuguesa de Futebol.

Por conseguinte, pugnar pela lealdade, pela correcção da

competição e do seu resultado, e pelo respeito pela ética na actividade

desportiva é, para o árbitro, a mais elementar finalidade da respectiva

intervenção no jogo e na prática desportiva.

Responsabilidade que tem no seu âmago a dignificação da prática

desportiva. Pelo que o árbitro se há-de abster de todo e qualquer

comportamento que possa levantar interrogações quanto à integridade dessa

sua actividade.

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O bem jurídico directamente tutelado pelo tipo legal em apreço é a

verdade desportiva, ou, seguindo mutatis mutandis, o que Almeida Costa

refere quanto ao crime base de corrupção, o prestígio e dignidade da prática

desportiva, traduzidos na confiança da colectividade na objectividade e

independência do funcionamento dos seus órgãos (Sobre o Crime de Corrupção,

Coimbra, 1987, pág. 87). Assim, o núcleo do delito esgota-se no mercadejar com o

cargo – Comentário Conimbricense ao Código Penal, Coimbra Editora, 2001, Tomo III, pág. 663.

Relativamente à qualidade do agente, na corrupção activa, resulta

claro do tipo legal incriminador que o mesmo será uma qualquer pessoa.

Quanto à natureza da actividade visada pelo suborno, esta, quer se

trate de acção ou de omissão, encontrar-se-á, ao menos, numa relação

funcional imediata com o desempenho do respectivo cargo, ou seja, a

realização do acto subornado há-de caber no âmbito “fáctico” das

possibilidades de intervenção do subornado – cfr. Comentário Conimbricense ao Código

Penal, Coimbra Editora, 2001, Tomo III, pág. 665.

Ora, a natureza da actividade visada com o suborno na situação

agora em apreço tinha imediata relação com o cargo de árbitro, pois tratava-se

do acto de arbitrar um jogo de futebol.

Finalmente, a consumação do crime dá-se com a promessa da

vantagem, independentemente da sua entrada na esfera de disponibilidade do

agente, embora também possa consumar-se sem promessa e apenas quando

a vantagem é dada. O que bem se entende, pois olhando à tutela desejada

pelo tipo, o que repulsa a ordem jurídico-penal é o transaccionar com o cargo,

verificado com a aceitação da vantagem, e independente do seu efectivo

recebimento (cfr. Jornadas de Direito Criminal Revisão do Código Penal, Vol. II, CEJ, Lisboa,

1998, pág. 391; Ac. STJ de 7 de Junho de 1995, BMJ 448, pág. 127, Ac. STJ de 3 de Maio de 1995,

BMJ 447, pág. 67).

Por isso se diz tratar-se de crime de natureza formal ou de

consumação antecipada – cfr. Acórdão do STJ de 30 de Outubro de 1997 (Caso Guímaro), in

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CJ (Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça), 1997, Tomo III, págs. 215 a 222.

Qualitativamente, a vantagem tanto poderá ter carácter patrimonial

como não patrimonial.

Quantitativamente, a vantagem é delimitada pela negativa, ou seja,

excluem-se do domínio do tipo legal as situações que cabem na esfera da

adequação social, tais como pequenas lembranças de cortesia ou de

publicidade, gratificações em épocas festivas, em suma, tudo o que se

contenha dentro dos padrões de normalidade da consciência jurídica

comunitária – cfr. Comentário Conimbricense ao Código Penal, Coimbra Editora, Tomo III, pág.

668 e 669.

Ainda quanto à vantagem, esta há-de representar uma contrapartida

pelo acto, ou omissão, do agente – por isso se fala em mercadejar com o

cargo.

De referir ainda que o acordo que está subjacente a este mercadejar

não tem de ser expresso, podendo formar-se de modo silencioso, tácito, como

seja “a aceitação de uma dádiva com o conhecimento de que a mesma se

destina a compensar a infracção de um dever, da qual se espera que resulte

algum benefício para o terceiro” – cfr. Ac. Relação de Lisboa de 10 de Janeiro de 1990, CJ,

1990, I, 178.

Relativamente ao elemento subjectivo típico, o dolo do agente

esgota-se no conhecimento e vontade de obtenção de uma vantagem ilegítima

como contrapartida de um comportamento violador dos deveres do cargo –

Comentário Conimbricense ao Código Penal, Coimbra Editora, Tomo III, pág. 672.

Por outro lado, o agente é punido pela prática de tal crime mesmo

que tenha sido praticado por interposta pessoa, com o seu consentimento ou

ratificação.

Feitas estas considerações teóricas, a nosso ver indispensáveis

para melhor compreensão da presente decisão e daquilo que nela está em

causa, revertamos agora para o caso em apreço, dividindo a análise da

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acusação e dos indícios recolhidos por partes.

Diz-se na acusação que:

“1º - O arguido António Fernando Peixoto de Araújo é empresário de futebol, tendo

constituído uma empresa envolvida no negócio do futebol, denominada "On Soccer".

2º - O arguido está há vários anos estreitamente ligado ao arguido Jorge Nuno Pinto da

Costa por ter encetado com o mesmo negociações para transferência de jogadores, sendo também

sócio do Futebol Clube do Porto.

3º - O arguido tem ainda uma sociedade do ramo imobiliário denominada "Teles, Araújo e

Tiago Lda.", sendo o seu sócio Reinaldo Teles administrador da SAD portista.

4º - O arguido desde o ano de 1990 acompanha o Futebol Clube do Porto nas suas

deslocações ao estrangeiro.

5º - O arguido António Araújo mantém ainda contactos pessoais com vários dirigentes

desportivos, nomeadamente com o arguido Rui Alves.

6º - O arguido Rui António Macedo Alves é o Presidente da Direcção do Clube Desportivo

Nacional há vários anos.

7º - O arguido Jorge Nuno Lima Pinto da Costa é o Presidente do Futebol Clube do Porto

há vários anos.

8º - O arguido Augusto José Bastos Duarte é árbitro de Futebol, da Associação de

Futebol de Braga, pertencendo, na época desportiva 2003/2004 à 1ª categoria Nacional, arbitrando

jogos da 1ª Divisão, denominada, à data, Super Liga Galp Energia.

9º - Os arguidos António Araújo e Augusto José Bastos Duarte mantêm um contacto

muito próximo, sendo ambos da zona de Braga, tratando-se por amigos e colegas.

10º - No dia 22 de Fevereiro de 2004 iria realizar-se nesta cidade do Funchal a partida de

Futebol do campeonato para a Super Liga Galp Energia no campo da Choupana, em que seriam

intervenientes o Clube Desportivo Nacional, oriundo do Funchal, e o Sport Lisboa e Benfica, oriundo

de Lisboa, partida correspondente à 23ª jornada.

11º - Nesta data o Sport Lisboa Benfica ocupava o 3° lugar na classificação do referido

campeonato com 47 pontos, tendo ainda hipóteses de ganhar o campeonato.

12º - O Futebol Clube do Porto ocupava o 1° lugar com 56 pontos.

13º - O Clube Desportivo Nacional, que viria a terminar o campeonato no 4° lugar com 56

pontos, estava a lutar por um lugar no referido campeonato que lhe permitisse participar na taça

UEFA, época 2004-2005, ocupando antes do jogo em causa nos autos o 8° lugar com 34 pontos.

14º - Assim, quer o Futebol Clube do Porto quer o Clube Desportivo o Nacional,

nomeadamente os seus Presidentes, respectivamente os arguidos, Jorge Nuno de Lima Pinto da

Costa e Rui António Macedo Alves, pelas razões acima descritas, tinham interesse na derrota do

Benfica”.

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Da prova recolhida nos autos, nomeadamente da documental e até

das próprias escutas telefónicas, resulta que a matéria de facto agora referida

corresponde efectivamente à realidade.

Na verdade, os arguidos desempenham (ou desempenhavam à data) as

funções que são referidas na acusação e mantinham entre eles as relações

que ali se referem.

No que diz respeito a estas relações parece-nos importante

sublinhar o relacionamento, à data, do arguido António Araújo com os arguidos

Pinto da Costa e Rui Alves, sendo certo que o arguido António Araújo

mantinha com o arguido Pinto da Costa um relacionamento mais próximo do

que com o arguido Rui Alves (com este arguido o relacionamento seria essencialmente

“comercial”, no sentido que aquilo que verdadeiramente interessava era a aquisição e venda dos

direitos desportivos de jogadores de futebol que representavam o Nacional da Madeira e/ou o Futebol

Clube do Porto).

Por outro lado, será também de sublinhar o relacionamento próximo,

aliás conforme é dito na acusação, entre o arguido António Araújo e o arguido

Augusto Duarte, relacionamento que inclusive já viria de trás, por serem

ambos da mesma região do país.

Também dúvidas não se levantam quanto à qualidade de árbitro de

futebol do arguido Augusto Duarte (pelo menos à data dos factos o arguido era arbitro da

primeira categoria) e ao facto de ter sido ele o escolhido para arbitrar o jogo de

futebol em causa – Nacional/Benfica.

Este jogo, pelo estado da classificação à data, interessava

obviamente aos clubes directamente envolvidos – Nacional e Benfica –, mas

também, ainda que de forma mais indirecta, aos clubes que mais de próximo

lutavam com aqueles (no caso do Benfica, o Futebol Clube do Porto, e no caso no Nacional, o

Boavista e o Marítimo).

Dito isto, importa agora analisar a segunda parte da acusação, essa

sim a que realmente levanta mais questões.

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Conforme referido supra, diz-se na acusação que:

“16º - No dia 17 de Fevereiro de 2004, pelas 19.29.39 horas, o arguido Rui Alves

informou o arguido António Araújo que o jogo Nacional Benfica seria arbitrado pelo arguido Augusto

Duarte. (cfr. sessão 764 alvo 23683 a fls. 992),

17º - Tendo este ficado satisfeito com a notícia. (cfr. sessão 764 alvo 23683 a fls. 992).

18º - Os arguidos Rui Alves e António Araújo combinaram entre si que o árbitro ora

arguido seria contactado pelo arguido António Araújo para que favorecesse a equipa do Nacional no

jogo em causa, violando as regras de jogo, mediante contrapartidas económicas não especificadas a

que não tinha direito, considerando o arguido António Araújo que a solução para ganhar o jogo era

“trabalhar” o árbitro ora arguido.(cfr. sessão 764 do alvo 23683 fls. 992).

19º - Neste contexto, o arguido António Araújo, no dia 18/2/04, a horas e local

indeterminados, encontrou-se com o arguido Jorge Nuno Pinto da Costa, a quem deu conta do acordo

estabelecido com o arguido Rui Alves, para a beneficiação do Nacional em detrimento do Benfica, a

ser realizado pelo árbitro e arguido Augusto Duarte, e para que este levasse a cabo esse intento

mediante o pagamento de contrapartidas económicas não apuradas e a que não tinha direito, (cfr.

sessão 868 do alvo 23683 fls. 991).

20º - Nomeadamente um bilhete de futebol para o jogo Porto Manchester.

21º - Aceitando o arguido Jorge Nuno Pinto da Costa tal proposta. (cfr. sessão 868 do

alvo 23683 fls. 991)

22º - Neste contexto, e em execução do plano acordado, no dia 18/2/04, pelas 11.39.45

horas, através do telemóvel 968025586, o arguido António Araújo estabeleceu contacto com o arguido

Augusto Duarte combinando um encontro para a 5ª feira seguinte. (cfr. sessão 824 do alvo 23683 fls.

994).

23º - Também no dia 18 de Fevereiro de 2004, pelas 12.30.15 horas, o arguido António

Araújo estabeleceu contacto telefónico através do n.º 917542352 com Luís Manuel Beleza de

Vasconcelos Gonçalves, Engenheiro, Director de Gabinete de Prospecção e Observação de

Jogadores da Sociedade Anónima Desportiva Futebol Clube do Porto, Porto, SAD, dando a saber que

no próprio dia esteve reunido com o arguido Jorge Nuno Pinto da Costa, nas Antas onde lhe deu conta

do estado das negociações encetadas para beneficiação do Nacional em detrimento do Benfica.

(sessão 868 alvo 23683 pág. 996).

24º - No dia 18 de Fevereiro de 2004, o arguido Rui Alves, através do telemóvel

969785558 e pelas 17.09.32 horas, manteve contacto telefónico com o arguido António Araújo,

afirmando-lhe este que já tinha contactado o árbitro ora arguido dizendo textualmente "Mas já tratei

do..., do que aquilo que tinha, tinha de tratar...!!!" (sessão 873, alvo 23683 pág. 999).

25º - Também no dia 19 de Fevereiro de 2004, pelas 12.55.43 horas, através do

telemóvel 917542352, o arguido António Araújo estabeleceu contacto com o engenheiro Luís

Gonçalves, da SAD portista, dizendo-lhe ter estado a fazer um serviço muito importante para o

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Futebol Clube do Porto. (cfr. sessão n.º 1016, alvo 23683 pág. 1001).

26º - Os arguidos António Araújo e Augusto Duarte encontraram-se no dia 19 de

Fevereiro de 2004, de noite, no Café Ferreira, afim de tratarem de assuntos relacionados com a

beneficiação do Nacional em detrimento do Benfica pelo árbitro e ora arguido Augusto Duarte, nos

moldes já acima descritos. (cfr. sessão 1128 alvo 23683 pág. 1002; sessão 1137 alvo 23683 pág.

1008; sessão 1144 alvo 23683 pág. 1010; sessão 1145 alvo 23683 pág. 1012).

27º - Nesse encontro o arguido António Araújo, com o acordo dos arguidos Rui Alves e

Jorge Nuno Pinto da Costa, pediu ao árbitro e arguido Augusto Duarte para praticar actos contrários

às leis do jogo necessários a beneficiar a equipe do Nacional ou prejudicar o Benfica, violando as

regras de jogo, recebendo como contrapartida uma quantia monetária não apurada a que não tinha

direito e nomeadamente um bilhete para o jogo Porto Manchester.

28º - O arguido Augusto Duarte aceitou a proposta que lhe foi formulada.

29º - No dia 22 de Fevereiro de 2004, pelas 20 horas e 15 minutos, realizou-se no estádio

da Choupana o jogo entre as equipes do Clube Desportivo o Nacional e o Sport Lisboa e Benfica, a

contar para o campeonato nacional da 1ª divisão, organizado pela Liga Portuguesa de Futebol

Profissional.

30º - A equipe de arbitragem foi, como acima se referiu, constituída pelo arguido Augusto

Duarte, árbitro principal, coadjuvado pelos árbitros assistentes José Carlos Neves Ramalho e Alfredo

Augusto Fernandes Braga a quem competia aplicar as leis do jogo do Futebol.

31º - O resultado do jogo foi a vitória do Nacional por 3-2.

32º - No decurso do jogo, em concretização do acordo celebrado com os demais

arguidos, o arguido Augusto Duarte voluntariamente violou por duas vezes as normas de da Lei de

Futebol, uma em prejuízo do Benfica e outra em prejuízo do Nacional, respectivamente:

"Na primeira parte", aos "8 minutos, jogador n.º 8, do Benfica derruba com os pés um

jogador do Nacional, a bola está já dentro da área de grande penalidade do infractor. No entanto, fica

muita dúvida se a falta foi cometida dentro ou fora dessa área, isto apesar de várias repetições. (Na

sequência da Jogada o Nacional marcou golo).

"33 minutos, jogador do Benfica joga a bola que sai pela sua linha de baliza o que

motivaria um pontapé de canto contra esta equipa .O árbitro assinala um pontapé de baliza. Não se vê

a indicação do árbitro assistente"(confira auto de peritagem do jogo que faz fls. 276)

33º - No dia 23 de Fevereiro de 2004, pelas 12.50.51 horas, pelo telemóvel n.º

968025586, o arguido António Araújo manteve contacto telefónico com o arguido Augusto Duarte

pedindo a entrega do bilhete para o jogo de futebol a realizar na 4ª feira seguinte, dia 25/2/04, (Jogo

Porto - Manchester United no Estádio do Dragão), confirmando as horas do encontro e especificando

que o bilhete deveria dar acesso à zona de “comes e bebes”. (sessão 1176 alvo 23683 fls. 1013).

34º - O arguido António Araújo confirmou ter o bilhete e ainda que o mesmo dava acesso

à zona de "comes e bebes". (cfr. mesma sessão).

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35º - No dia 23 de Fevereiro de 2004, pelas 17.18.33 horas, do telemóvel 969785558, o

arguido Rui Alves manteve contacto telefónico com o arguido António Araújo no qual aludem à

reacção do arguido Pinto da Costa ao resultado do jogo e à actuação do árbitro, que obedecera ao

que lhe fora determinado, dizendo expressamente “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”

(sessão n.º 1859 alvo 23683 pág. 1015).

36º - No dia 25/2/04 os arguidos António Araújo e Augusto Duarte assistiram juntos ao

jogo supra descrito realizado no Estádio do Dragão.

37º - No dia 25 de Fevereiro de 2007, pelas 17.16.58 horas, através do telemóvel

968025586, o arguido António Araújo estabeleceu contacto telefónico com o arguido Augusto Duarte

combinando com ele um encontro, devendo o arguido Augusto Duarte entrar no veículo do primeiro.

(cfr. sessão 2049 alvo 23683 pág. 1017).

38º - No dia 27 de Fevereiro de 2004, o arguido António Araújo contactou com o

Administrador do Futebol Clube do Porto Fernando Gomes da Silva para dele recolher as

contrapartidas económicas a entregar ao arguido Augusto Duarte (cfr. sessão 2318 alvo 23683 pág.

1018).

39º - Fernando Silva perguntou se não podia ficar para 2ª feira, o que foi aceite pelo

arguido António Araújo que disse "poder, pode. Eu ligo para ele, ligo para ele, ligo para o..., para o

fiscal, e digo-lhe a ele que pronto, fica a vistoria marcada para, para 2ª feira..."(cfr. sessão 2318 alvo

23683 pág. 1018).

40º - Em data e local não apurados o arguido António Araújo entregou ao arguido

Augusto Duarte a contrapartida económica acordada”.

Conforme resulta do teor da escuta telefónica n.º 764, efectuada ao

alvo 23683 (arguido António Araújo), cuja transcrição se mostra junta a fls. 423 e

424, no dia 17/02/2004, o arguido Rui Alves (Presidente do Nacional da Madeira)

telefonou ao arguido António Araújo, informando-o que o jogo em causa nos

autos iria ser arbitrado pelo arguido Augusto Duarte. A esta informação o

arguido António Araújo reagiu com um “espectáculo, espectáculo”.

A isto retorquiu o arguido Rui Alves, afirmando que com o arguido a

apitar já não ganhava há muito tempo. Ao ouvir isto, o arguido António Araújo

respondeu que só havia um jeito, era “trabalhá-lo”.

Perante isto, o arguido Rui Alves respondeu “toca a andar”, tendo o

arguido António Araújo afirmado “pronto, eu toco a andar mesmo, viu?”.

Resulta, assim, do teor desta conversação telefónica que o arguido

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Rui Alves ligou ao arguido António Araújo aparentemente apenas para lhe dar

conhecimento de que seria o arguido Augusto Duarte quem iria arbitrar o jogo

entre o Nacional e o Benfica.

Apesar da aparente reacção de contentamento por parte do arguido

António Araújo, o arguido Rui Alves lamenta-se em virtude de já não ganhar

um jogo arbitrado pelo arguido há muito tempo.

A esta lamentação o arguido António Araújo responde, sugerindo

que o árbitro fosse “trabalhado”. Aparentemente, o arguido Rui Alves

concordou, referindo “toca a andar”.

A este propósito importa ainda tecer uma breve consideração, em

face do alegado pelo arguido António Araújo no seu requerimento de abertura

da instrução.

Diz este arguido que nos autos não está concretamente identificado

o interlocutor do arguido António Araújo na conversa supra referida.

Cremos, porém, que a realidade é manifestamente diversa.

O arguido faz tal afirmação em virtude de constar no auto de

transcrição a inscrição “voz masculina/presidente do Nacional da Madeira?”.

Sucede, no entanto, que tendo em consideração o conteúdo da

conversa, bem como todas as demais que se seguiram e que estão retratadas

nos autos, dúvidas não ficam quanto à identidade dos dois interlocutores (aliás,

confirmada pelo arguido Rui Alves no seu interrogatório).

Da prova recolhida nos autos, resulta ainda que na sequência do

telefonema supra referido, e no dia seguinte, o arguido António Araújo

contactou o arguido Augusto Duarte com o objectivo de marcar um encontro,

sendo certo que este encontro acabou efectivamente por ocorrer no dia 19 de

Fevereiro (cfr. fls. 425, 433, 439, 441 e 443 – transcrições das sessões 824, 1128, 1137, 1144 e

1145, todas do alvo 23683 – arguido António Araújo – e todas referentes a conversações entre este

arguido e o arguido Augusto Duarte).

Por outro lado, do teor da sessão 868 referente ao alvo 23683 –

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arguido António Araújo – cuja transcrição se mostra junta a fls. 427 a 429,

resulta que aquele arguido esteve reunido com o arguido Pinto da Costa, a

quem tratou por “padre da freguesia das Antas”. E, segundo o Ministério

Público, terá sido desta reunião que saíram as indicações do arguido Pinto da

Costa para o arguido António Araújo abordar o arguido Augusto Duarte, no

sentido deste tudo fazer para que a derrota do Benfica no jogo com o Nacional

fosse uma realidade (terá sido nesta altura que o arguido Pinto da Costa aderiu ao plano

inicialmente delineado pelos arguidos Rui Alves e António Araújo).

Por conseguinte, e ainda de acordo com a tese do Ministério Público,

o arguido António Araújo estaria duplamente mandatado para agir junto do

arguido Augusto Duarte com aquele objectivo. Estaria mandatado pelo arguido

Rui Alves, Presidente do Nacional da Madeira, e pelo arguido Pinto da Costa,

Presidente do Futebol Clube do Porto.

Ainda no dia 18/04/2004, o arguido António Araújo informou o

arguido Rui Alves que já havia tratado do que havia para tratar (cfr. fls. 430 –

transcrição da sessão 873, referente ao alvo 23683 – arguido António Araújo – e respeitante à

conversação entre este arguido e o arguido Rui Alves).

Posteriormente, no dia seguinte, 19/04/2004, o arguido António

Araújo comentou com Luís Gonçalves, Director do Gabinete de Prospecção e

Observação de Jogadores da Sociedade Anónima Desportiva Futebol Clube

do Porto, Porto, SAD, que andava a fazer um “serviço” muito importante para

este clube (cfr. fls. 431 – transcrição da sessão 1016, referente ao alvo 23683 – arguido António

Araújo – e respeitante à conversação entre o arguido e o referido Luís Gonçalves).

Em relação ao jogo de futebol Nacional/Benfica terminou 3-2, com a

vitória do Nacional (cfr. fls. 459 – relatório do jogo).

De acordo com o relatório pericial, e ao contrário do referido na

acusação do Ministério Público, os erros registados ao árbitro, e que são dois,

foram ambos em benefício do Benfica – cfr. fls. 276.

Depois do jogo, já a 23/02/2004, os arguidos Augusto Duarte e

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António Araújo combinaram ver juntos no Estádio o jogo Futebol Clube do

Porto/Manchester United, tendo aquele arguido pedido ao arguido António

Araújo um bilhete, ao que este acedeu, tendo ainda referido “nós na

quarta-feira …, junta-se a fome à vontade de comer” (cfr. fls. 444 – transcrição da

sessão 1776, referente ao alvo 23683 – arguido António Araújo – e respeitante à conversação entre os

arguidos em questão).

Nesse mesmo dia o arguido António Araújo falou com o arguido Rui

Alves, tendo-lhe referido que havia falado com o arguido Pinto da Costa e que

este tinha ficado contente com a derrota do Benfica, referindo “esses já não

nos vão chatear mais”. O arguido António Araújo, por seu lado, referiu ao

arguido Rui Alves que “manda quem pode, obedece quem tem juízo” (cfr. fls. 446

– transcrição da sessão 1859, referente ao alvo 23683 – arguido António Araújo – e respeitante à

conversação entre este arguido e o arguido Rui Alves).

No dia 27/02/2004 o arguido António Araújo contactou o

administrador da Futebol Clube do Porto, SAD, Fernando Gomes, para tratar

da entrega de um envelope e do pagamento de umas facturas (cfr. fls. 449 –

transcrição da sessão 2318, referente ao alvo 23683 – arguido António Araújo – e respeitante à

conversação entre este arguido e o referido administrador).

É, por conseguinte e em traços gerais, este o quadro factual que,

salvo melhor opinião, resulta da prova produzida nos autos, descontando

ainda aquela que foi produzida nesta fase da instrução.

Do que se acaba de deixar escrito resulta, a nosso ver claro

(ressalvada igualmente melhor opinião), que a ligação do arguido Pinto da Costa aos

presentes autos, tal como eles se mostram instruídos e desligados (por opção do

Ministério Público) do demais apurado em sede do processo principal (que acabou

separado em várias certidões, que originaram outros tantos processos), dizíamos, apenas

ocorre por força de presunções ou juízos de valor sem qualquer sustentação

na prova produzida.

Na verdade, ouvidas na íntegra as escutas (sessões) em causa e lidas

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as transcrições juntas aos autos torna-se de difícil compreensão o juízo

efectuado pelo Ministério Público no sentido de imputar os factos em apreço

ao arguido Pinto da Costa.

É que para além das deduções efectuadas pela Polícia Judiciária no

relatório de fls. 294, não conseguimos vislumbrar naquelas escutas telefónicas

qualquer ligação do referido arguido aos factos em investigação nos presentes

autos, nem essa ligação parece, atentas apenas as regras da experiência

comum, provável.

Senão vejamos.

Os telefonemas sob suspeita começam com um primeiro contacto

estabelecido entre os arguidos Rui Alves e António Araújo, por iniciativa

daquele. Ou seja, é o arguido Rui Alves quem liga ao arguido António Araújo

dando conta do nome do árbitro designado para o jogo em questão.

Não resulta claro dos autos qual a ligação existente anteriormente

entre estes dois arguidos, nem tão pouco qual a verdadeira intenção do

referido telefone.

Sabe-se, por resultar dos autos e ser do conhecimento público, que

na altura dos factos existiam negociações entre o Nacional e o Futebol Clube

do Porto, tendo em vista a aquisição por este clube de jogadores que

actuavam naquele, como por exemplo os jogadores Paulo Assunção e

Rossato (que acabaram até por se transferir para o Futebol Clube do Porto).

Sabe-se, também e pelas mesmas razões, que o arguido António

Araújo era à data um empresário de futebol próximo do Futebol Clube do

Porto, sendo ele quem vinham tratando das aludidas transferências.

Admite-se, no entanto, o conteúdo suspeito do telefone supra

referido, que, porém, nada tem que ver com o arguido Pinto da Costa.

Existem depois outros telefonemas, sendo que num deles, e

segundo a tese da acusação, o arguido Pinto da Costa teria sido colocado ao

corrente do acordado entre os arguidos António Araújo e Rui Alves e teria

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dado o seu assentimento à execução do mesmo.

Importa referir a este propósito que a acusação não concretiza

minimamente em que terá consistido a aceitação por parte do arguido Pinto da

Costa da proposta efectuada pelo arguido António Araújo (que, sublinha-se,

consistiria em contactar, por acordo com o arguido Rui Alves, o arguido Augusto Duarte, no sentido

deste favorecer o Nacional da Madeira, em detrimento do Benfica).

Mas mais ainda. Não encontra a acusação qualquer sustentação na

prova produzida nos autos para tal afirmação.

Com efeito, sublinha-se, não existe uma única conversação em que

tenha tido intervenção o arguido Pinto da Costa, como não existe uma

qualquer conversação em que se possa afirmar com a necessária certeza

aquilo que o Ministério Público afirma.

A conversação que serve de fundamento ao Ministério Público foi

estabelecida entre o arguido António Araújo e o Director de Gabinete de

Prospecção e Observação de Jogadores da Sociedade Anónima Desportiva

Futebol Clube do Porto, Porto, SAD, Luís Manuel Beleza de Vasconcelos

Gonçalves.

É uma conversa que gira em torno da influência do arguido António

Araújo, como empresário de futebol, junto do arguido Pinto da Costa e onde

inclusive são feitas referências a outro conhecido empresário de futebol (Jorge

Baidek).

Acrescentaremos ainda o seguinte quanto à pouca sustentabilidade

da tese defendida pelo Ministério Público, no que à intervenção do arguido

Pinto da Costa diz respeito.

Como é sabido, o arguido Pinto da Costa é o representante máximo

do Futebol Clube do Porto, passando por ele todas as decisões de relevo para

o clube.

Conforme também resulta dos autos, nomeadamente da informação constante

de fls. 1056, antes da realização do jogo em questão o Futebol Clube do Porto

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liderava a classificação com 56 pontos, seguindo em segundo lugar o Sporting

Clube de Portugal, com 51, e em terceiro o Benfica, com 47 pontos.

O jogo em causa fazia parte dos jogos da 23ª jornada, faltando

desde a realização desse jogo e até final da época 2003/2004 onze jornadas.

Por seu lado, o Nacional da Madeira encontrava-se em 8º lugar, com

34 pontos, tal como o Boavista e o Marítimo.

Temos, por conseguinte, que à 22ª jornada o Futebol Clube do Porto

seguia isolado no primeiro lugar, com 9 pontos de avanço em relação ao

Benfica (que passaram depois do jogo a ser onze).

Tal distância pontual, que permitia mesmo ter em segundo lugar o

Sporting, faz legitimamente pressupor, salvo melhor opinião, que o interesse

em “comprar” o jogo em questão nos autos era diminuto para o Futebol Clube

do Porto. Mais importante seria o jogo em que tivesse participação o Sporting

Clube de Portugal.

Mas mais ainda. Sabendo o arguido Pinto da Costa do acordo

estabelecido entre os arguidos Rui Alves e António Araújo, no sentido de

corromper o árbitro, fazendo-o actuar em benefício do Nacional da Madeira, só

por estupidez (passe a expressão) se compreenderia que o arguido Pinto da Costa

corresse o risco de se associar a uma tal decisão.

É que a vitória do Nacional servia claramente os interesses do

Futebol Clube do Porto, sendo assim desnecessária, atento o plano já em

curso, qualquer intervenção do arguido Pinto da Costa e do Futebol Clube do

Porto.

Mas se o que se disse não fosse por si só suficiente para concluir de

forma diferente daquela que concluiu o Ministério Público na acusação que

deduziu, sempre a prova produzida nesta fase da instrução permitiria chegar

aquela conclusão.

Na verdade, dos depoimentos recolhidos nesta fase da instrução e

até dos documentos juntos aos autos, resulta claro o que se disse supra: entre

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Nacional e Futebol Clube do Porto decorriam negociações tendo em vista a

transferência mútua de jogadores, nas quais intervinha, como intermediário e

empresário de futebol, o arguido António Araújo.

Sai, por conseguinte, reforçada a versão defendida pelo arguido

Pinto da Costa. O mesmo é dizer que a versão plasmada na acusação

deduzida pelo Ministério Público cai por terra.

Como já referimos supra, para exista corrupção necessário se torna

que alguém, por si ou por interposta pessoa, com o seu consentimento ou

ratificação, der ou prometer a árbitro (no caso em apreço) vantagem patrimonial ou

não patrimonial, que não lhe seja devida, com o objectivo de praticar acto ou

omissão destinados a alterar ou falsear o resultado de uma competição

desportiva.

Da análise global da prova produzida nos autos cremos poder

afirmar-se, salvo melhor opinião, que o telefonema tido entre os arguidos Rui

Alves e António Araújo, atento a forma e o momento como ocorre, o seu

conteúdo e as regras da experiência comum, é, como referimos supra,

manifestamente suspeito, não sendo despiciendo afirmar-se que o arguido Rui

Alves terá acedido à proposta do arguido António Araújo em “trabalhar” o

árbitro, tendo em vista o jogo Nacional/Benfica.

E ao contrário do que pretendem fazer crer os arguidos, aliás de

forma muito pouco perspicaz, a expressão “trabalhar o árbitro” só pode ser

entendida como contactar o árbitro, com quem aliás o arguido António Araújo

mantinha uma relação bastante próxima, no sentido de o condicionar.

Qualquer outra interpretação daquela expressão, nomeadamente as

defendidas pelos arguidos, ou não faz sentido (não se trabalha o árbitro do ponto de

vista dos jogadores, contactando com o árbitro) ou não encontra sustentação na prova

produzida.

Com efeito, e conforme foi referido na decisão proferida pelo

Comissão Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, fica-se,

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porém, ser saber, pelo menos com a certeza legalmente exigida, se aquele contacto

ocorreu de facto e se se consubstanciou num pedido para que o arguido

Augusto Duarte, em troca de vantagem patrimonial ou não patrimonial, que

não lhe seja devida, actuasse de forma parcial, beneficiando o Nacional e

prejudicando o Benfica.

Se é certo que aquela conversa entre os arguidos Rui Alves e

António Araújo ocorreu, bem como que este arguido combinou efectivamente

encontrar-se com o arguido Augusto Duarte, e esteve mesmo com ele antes

do jogo em questão, já não é certo, nem sequer do ponto de vista da suficiente

indiciação, que tenha ocorrido aquela solicitação e aquela oferta.

Repare-se que o contacto entre os arguidos António Araújo e Rui

Alves, no qual o primeiro refere ao segundo “já ter tratado do assunto”, e que é

referido na acusação pública como comprovação da execução do plano

acordado, ocorre antes do encontro entre os arguidos António Araújo e

Augusto Duarte. Ou seja, no momento em que o arguido António Araújo refere

ao arguido Rui Alves já ter tratado do que havia a tratar mais não havia feito

com o arguido Augusto Duarte do que combinar um encontro.

Ora, não sabendo antecipadamente qual seria o resultando desse

encontro, nomeadamente se o arguido Augusto Duarte iria ou não aceder a

uma proposta de suborno (pelo menos nada há nos autos que indicie o contrário), cremos

que aquela conversa apenas poderia dizer respeito a outro assunto, que,

atenta a prova produzida, poderia muito bem ser o estabelecer de contactos

tendo em vista a concretização das negociações entre os dois clubes: Futebol

Clube do Porto e Nacional da Madeira (tanto mais que a conversa com o arguido Rui

Alves surge depois de alegadamente o arguido António Araújo ter estado reunido com o arguido Pinto

da Costa).

Repare-se ainda que é a própria acusação pública a ter dúvidas

quanto à existência da oferta, porquanto se limita a falar em “contrapartidas

económicas não apuradas e a que não tinha direito” e a afirmar que “em data e

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local não apurados o arguido António Araújo entregou ao arguido Augusto

Duarte a contrapartida económica acordada”. Ou seja, tudo aquilo que diz

respeito a uma eventual contrapartida ilegítima aparece na acusação de forma

vaga, genérica, sem qualquer concretização factual e temporal. Mas pior do

que isso, aparece mesmo sem qualquer sustentação probatória.

A propósito da oferta e da contrapartida ilegítima cumpre referir que

a referência feita pela acusação pública ao bilhete para o jogo Porto –

Manchester United, no Estádio do Dragão, não faz, salvo melhor opinião,

qualquer sentido. É que, como reconhece o Ministério Público, o pedido de

entrega ou oferta do bilhete é feito pelo arguido Augusto Duarte ao arguido

António Araújo (repare-se que é aquele a pedir o bilhete, e não este a tomar a iniciativa de o

oferecer) no dia 23/02/2004, ou seja, no dia a seguir ao jogo, sendo certo que

até então nunca tinha existido qualquer referência que fosse ao aludido bilhete

(cfr. fls. 444 – transcrição da sessão 1776, referente ao alvo 23683 – arguido António Araújo – e

respeitante à conversação entre os referidos arguidos).

Ora, se assim é, se a referência ao bilhete ocorre pela primeira vez

depois do jogo e, naturalmente, depois de estabelecido o alegado acordo para

beneficiar o Nacional e prejudicar o Benfica, nunca tal bilhete poderia ser havia

como contrapartida para a actuação parcial do arguido Augusto Duarte no jogo

em questão (já para não falarmos na irrazoabilidade de alguém se deixar corromper em troca de

um bilhete para um jogo de futebol no Estádio do Dragão).

Se a tudo isto juntarmos ainda o facto de o arguido Augusto Duarte

ter feito, segundo a analise dos peritos, uma arbitragem praticamente isenta

de erros, e os que cometeu terem sido em benefício do Benfica, chegamos à conclusão

que a suficiência de indícios defendida pelo Ministério Público não se verifica

também em relação aos demais arguidos, para além do arguido Pinto da

Costa.

Apenas mais duas notas finais.

Nos autos existe apenas uma referência a quantias de dinheiro, a

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pagamentos, referência que ocorre numa conversa mantida entre o arguido

António Araújo e o administrador da SAD do Futebol Clube do Porto, Fernando

Gomes (cfr. fls. 449 – transcrição da sessão 2318, referente ao alvo 23683 – arguido António

Araújo).

Como já deixamos dito nesta decisão, o arguido António Araújo

vinha ganhando progressivamente importância, como empresário de futebol,

junto do Futebol Clube do Porto, e nomeadamente do arguido Pinto da Costa,

isto em detrimento do empresário Jorge Baidek.

Tal circunstância foi objecto de comentário na conversa mantida

entre o arguido António Araújo e o Director de Gabinete de Prospecção e

Observação de Jogadores da Sociedade Anónima Desportiva Futebol Clube

do Porto, Porto, SAD, Luís Manuel Beleza de Vasconcelos Gonçalves (cfr. fls.

427 – transcrição da sessão 868, referente ao alvo 23683 – arguido António Araújo).

Acresce ainda que na conversa mantida entre o arguido António

Araújo e aquele Fernando Gomes é feita também referência a umas “facturas”.

Cremos, por conseguinte e tal como também foi entendido pela

Comissão Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, que atento o

quadro descrito, a prova recolhida e aquilo que são as regras da experiência

comum, as conversas mantidas entre o arguido António Araújo e os vários

dirigentes do Futebol Clube do Porto surgem suficientemente enquadradas no

âmbito das relações negociais e institucionais existentes entre os dois clubes

(Nacional e Porto) e entre estes e o arguido António Araújo, como empresário de

futebol, tanto mais que estavam em curso negociações para a transferência de

jogadores do Futebol Clube do Porto para o Nacional da Madeira e vice-versa

(Serginho Baiano do Porto para o Nacional, e Rossato e Paulo Assunção do Nacional para o Porto).

Por fim, a referência nos autos à utilização por parte do arguido

António Araújo da expressão “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Não querendo o tribunal efectuar qualquer tipo de análise

psicológica à personalidade de quem quer que seja, sempre diremos no

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entanto que ouvidas as intercepções telefónicas em causa nos autos

constata-se com alguma facilidade, salvo melhor opinião, que o arguido

António Araújo demonstra ser alguém que gosta de se afirmar, de se lisonjear

e tudo faz para cair no “goto”, passe a expressão, das pessoas com quem

naturalmente precisa de trabalhar.

Cremos, por conseguinte, que a utilização dessa expressão perante

o arguido Rui Alves é mais uma dessas atitudes “negociais” do arguido

António Araújo, tanto mais que a arbitragem do arguido Augusto Duarte no

jogo em questão foi tida como satisfatória.

Resumindo e concluindo, as provas recolhidas nos autos não

permitem afirmar com um grau de certeza razoável que ao arguido Augusto

Duarte foi prometida uma qualquer contrapartida ilegítima, em troca de uma

actuação fraudulenta no jogo Nacional – Benfica.

Não podem ser interligadas intenções se os factos que se seguem

não demonstram essa convergência de vontades – o desvirtuamento da

verdade desportiva.

Dito isto, falecendo do ponto de vista da prova indiciária o

preenchimento dos elementos, quer objectivo, quer subjectivo, do tipo legal do

crime que vem imputado aos arguidos, e à míngua, por conseguinte, de

elementos que permitam sustentar uma possível condenação em sede de

audiência de julgamento, não se nos afigura outra alternativa senão a sua não

pronuncia.

*

Nestes termos, tendo em atenção tudo quanto acabamos de deixar

dito e sem necessidade de ulteriores considerações, decide-se:

- Não julgar verifica a invocada excepção de incompetência

territorial do presente tribunal para a fase da instrução;

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- Não julgar inconstitucional a Lei n.º 49/91, de 3 de Agosto, nem o

Decreto-Lei n.º 390/91, de 10 de Outubro, emitido ao abrigo da autorização

concedida por essa Lei;

- Não julgar verificada qualquer nulidade ou inconstitucionalidade

respeitante às intercepções telefónicas efectuadas nos autos principais;

- Não pronunciar os arguidos António Fernando Peixoto de Araújo,

Rui António Macedo Alves, Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa e Augusto

José Bastos Duarte pelo crime que lhes vinha imputado na acusação pública

deduzida pelo Ministério Público;

- Em consequência, ordenar o arquivamento dos autos.

*

Sem custas, por não serem devidas – arts. 515.º, n.º 1, alínea a), do Código de

Processo Penal, e 83.º, n.º 2, do Código das Custas Judiciais, ambos por interpretação “a contrario

sensu”.

*

Notifique e, transitado em julgado, arquive.

*

Gondomar, 21 de Outubro de 2008.

Texto elaborado em computador e integralmente revisto pelo(a) signatário(a).

O Juiz de Instrução Criminal,

Dr. Pedro Miguel Vieira