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Introdução à Obra de Bion Profa. Dra. Laura Carmilo Granado

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Introdução à Obra de Bion

Profa. Dra. Laura Carmilo Granado

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WILFRED RUPRECHT BION(1897-1979)

• Nasceu na Índia em 8 de setembro de 1897 .

• Pai: engenheiro Mãe: pessoa simples de temperamentoinstável, mostrava-se frequentemente triste e o garoto sofriamuito com estas características da mãe. Irmã: Edna.

• Bion viveu na Índia até os sete anos sob os cuidados de umaama indiana (Ayah), senhora que exerceu sobre ele marcanteinfluência.

• Por volta dos oito anos Wilfred foi enviado para Londres e lámorou sem a família, interno em um colégio onde recebiaescassas visitas dos pais.

• Entre o final da infância e a adolescência, Bion encontroudificuldades em se adaptar, pois sentia aguda solidão.

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• Aos 19 anos ingressou nas Forças Armadas, onde se destacou devido às suas competências intelectuais e desportivas.

• Atuou na I Grande Guerra com distinção, chegando aser condecorado em função de seu desempenho emuma arriscada ação bélica. Na carreira militar atingiua patente de capitão.

• Ao término da Guerra foi para a Universidade deOxford, onde estudou História Moderna, Filosofia eTeologia, licenciando-se em Letras.

• Ao ler Freud ficou fascinado e resolveu fazermedicina e tornar-se psicanalista.

• Aos 33 anos: condecorações como cirurgião.

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• Em seguida, envolveu-se com a práticapsiquiátrica e empregou-se na Tavistock Clinic.Analisou-se por dois anos com J. Rickmann,quando a II Guerra provocou a interrupção doprocesso analítico.

• Bion continuava a trabalhar na Tavistock quandovoltou ao exército, em 1940, em plena 2ª GuerraMundial; neste período-se dedicou à reabilitaçãodos pilotos do exército. Com o final da Guerra,voltou a trabalhar na Tavistock com grupos. Essasexperiências foram relevantes para suasconcepções sobre trabalho com grupos.

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• Bion conhece Betty Jardine, famosa atriz deteatro e com ela se casa.

• Em 1945, então com 48 anos, seu casamentotermina com a morte prematura de Bettydurante o parto de sua filha Partenope.

• Este fato o deixa profundamente consternado,levando-o reiniciar sua análise, desta vez comMelanie Klein, processo que durou oito anos.

• Casou-se pela segunda vez com Francesca, queera pesquisadora e sua assistente na Tavistock.

• Tiveram um casal de filhos, Julian e Nicola.

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• Partenope se tornou psicanalista na Itália, vindo afalecer, prematuramente, em um acidente deautomóvel no final da década de 1990.

• Bion Residiu na Califórnia, onde permaneceu por11 anos.

• Em agosto de 1979 decide voltar para aInglaterra; parece que desejava se reaproximardos filhos e se preparava para voltar a clinicarquando foi acometido cronicamente porleucemia mielóide aguda.

• W.R. Bion morreu em questão de dias, com 82anos, em 08 de novembro de 1979 na cidade deOxford, na Inglaterra.

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Referências às suas principais obras• 1948. Experiências com grupos – Fundamentos da Psicoterapia de Grupo. Imago. Rio de

janeiro, Janeiro, 1970.

• 1950/1960. Estudos psicanalíticos revisados. (Second thougts). Imago, Rio de Janeiro, 1967.

• 1962. O Aprender com a experiência. Imago, Rio de Janeiro, 1991.

• 1963. Elementos de psicanálise. 2ª. Ed. Imago, Rio de Janeiro, 2004.

• 1965. Transformações. Do aprendizado ao crescimento. 2ª. Ed. Imago, Rio de Janeiro, 2004.

• 1970. Atenção e interpretação. 2ª. Ed. Imago, Rio de Janeiro, 2006.

• 1973. Conferências brasileiras 1. Ed. Imago, Rio de Janeiro, 1975.

• 1975. Uma memória do futuro I. O sonho. Imago, Rio de Janeiro, 1979.

• 1977. Uma memória do futuro II. O passado apresentado. Imago, Rio de Janeiro, 1996.

• 1979. Uma memória do futuro III. A aurora do esquecimento. Imago, Rio de Janeiro, 1996.

• 1958/1979. Cogitações. Ed. Imago. Rio de Janeiro, 2000.

(http://febrapsi.org.br/biografias/wilfred-ruprecht-bion/#)

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PRÉ-CONCEPÇÃO E REALIZAÇÃO POSITIVA

• Pré-concepções inatas - a criança “conhece” oseio porque já nasceu preparada para isso –expectativa desse conhecimento

• Quando a pré-concepção é posta em contatocom a realização positiva, o resultado mentalé a concepção (um contido mental) com umaqualidade sensório-perceptiva.

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PRÉ-CONCEPÇÃO E FRUSTRAÇÃO(realização negativa)

• Pré-concepção do seio e ausência do seio - frustração

• Presença dolorosa (aumento da necessidade)

1. Evacuar presença má. Cindi-la, etc.

2. Enfrentar objeto mau

• abdicação à certeza alucinatória e passagem à incerteza doconhecimento

• Capacidade do ego do lactente de tolerar ódio decorrente destasfrustrações.

• Quando reconhecido como ausência ele é reconhecido comopensamento: descolamento da experiência sensória. Sadia solução do“problema a resolver” que surge com a primeira noção da ausência doobjeto necessitado.

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PRÉ-CONCEPÇÃO E FRUSTRAÇÃO(realização negativa)

Desenvolvimento de aparelho para pensar –instrumentalização para enfrentar frustração

Torna possível:

• Ação efetiva – leva-se em conta condiçõesexternas

• Lembrança do objeto “bom”

• Admissão de que técnicas anteriores falharam

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APRENDER DA EXPERIÊNCIA

1. Só se consegue chegar à noção de ausência doobjeto após tê-lo usufruído.

2. Capacidade de tolerância a frustração: conservarobjeto ausente e explicitar-lhe a ausência

• Capacidade de rêverie de outrem pode ajudarnessa luta-aprendizagem permitindo aprender daexperiência

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PENSAMENTO

• Primeiro pensamento útil (alfa) surge quandose aceita a dor da frustração, em vez desimplesmente evacuar a presença interna do“não-seio” sob a forma de elementos beta.

• Pensamento: só ele é capaz de transformar aexperiência emocional intolerável em algotolerável (ZIMERMAN, 2011).

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REPRESENTAÇÃO

• Representação: tornar presente de novo.

• Tornar presente o ausente – presença boa nopassado, tornada presente de novo.

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NO INÍCIO

• Impressões sensoriais (visão, audição, tato, etc.)

• Emoções (prazer ou dor)

Em estado original

• Pré-verbal, não-simbólico

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No início da vida mental

os estímulos se apresentam:

• De forma caótica

• Avassaladora

• Estão dispersos

• Fragmentados

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Função alfa

• Caso ela seja bem-sucedida vai transformar asimpressões sensoriais (visão, audição, tato,etc.) e as primeiras experiências emocionais(prazer ou dor) em elementos alfa.

• Elemento alfa: tudo que foi digerido etornado apto a ser usado pelo psiquismo.

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FUNÇÃO ALFA

• Concreto → psíquico (abstrato)

• Transformação do estímulo concreto num significado

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CONTINENTE CONTIDO

• Vínculo assume feições definidas que podemrepresentar tomando a relação de umcontinente com o seu contido.

• Indivíduo primeiro é contido: feto no útero,bebê pela maternagem.

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CONTINENTE E CONTIDO Relação interpsíquica

Alguém (mãe) compreende o que foi expelido

• Volta melhor.• Torna-se suportável pela mediação materna.• Aquilo passa a possuir um sentido.

Rêverie e a identificação projetiva

• Continente –lugar onde um objeto é projetado.

• Contido – objeto que pode ser projetado no interior do continente.

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CONTINENTE E CONTIDO

• Mãe capaz de conter as angústias do bebê e aomesmo tempo prover as necessidades de leite,calor, amor, paz.

• Tanto a realizações positivas quanto as negativassão utilizadas para o “aprender com aexperiência”.

• O qual requer o enfrentamento e a modificaçãoda dor – e para promover o crescimento mental.

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CONTINENTE E CONTIDO Relação intra-psíquica

• Introjeção da continência.

• Relação do continente com seu contido éingerida e passa a integrar indivíduo.

• Mente e seus contidos.

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Função alfa• Conversão da matéria bruta em “alimento”,

em abstração.

• Essa função modifica o que há de concreto naexperiência em direção à formação do pensamentosimbólico.

• Abstração – articulação de elementos alfa

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Após ter sido processado pela função alfa:

Impressões sensoriais e emoções → elementoscapazes de ser acumulados para serempregados para as seguintes finalidades:

• Pensamentos oníricos

• Pensamentos inconscientes da vigília

• Produção de sonhos

• Memórias e funções intelectivas

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POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE

• Posição esquizo-paranóide: desintegração.

• Contidos: caoticamente dispersos

• Vivência persecutória

• A qual exige elaboração

• Ausência de satisfação → pensamento: tarefagigantesca

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PASSAGEM DA POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE PARA DEPRESSIVA

• Ausência do objeto: através da palavra, do símbolo supera-se atécerto grau a dependência da presença das coisas.

• nome possibilita invocar o ausente tornando-o presente até certograu

• Seio mau presente → seio ausente

• Formação de símbolos substituem e representam todas as perdasinevitáveis no curso do desenvolvimento.

• Permite capacidade de generalização, abstração e criatividade.

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Ex. - “mamãe”- chocolate acabou

Ambas compreenderam diálogo apesar de não haverchocolate presente

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Presença sincrônica e interativa de etapas no curso de qualquer indivíduo.

Princípio do prazer e realidade

EP ↔D

Possibilitou dividir o psiquismo em uma parteprotomental (não-simbólica) e uma mental(simbólica). Parte psicótica e não-psicótica dapersonalidade.

Posição intermediária entre ambas.

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Barreira de contato

• Função alfa: transforma impressões sensoriais ligadas a uma experiência emocional em elementos-alfa.

• Estes se agrupam à medida que se proliferam para formar uma barreira de contato.

Barreira de contato demarca tanto um contato com a separação entre:

• Consciente e inconsciente

• Entre o mundo real externo e interno

➢Impedindo que um invada o outro.

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RÊVERIE

• Capacidade da mãe de acolher afetivamente aemissão do bebê.

• Capacidade do bebê de acatar de volta oelemento assim transformado que passa acomeçar a ter um sentido.

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RÊVERIE

• “rêverie”: capacidade de sonhar

• “Hoje voltei a suspeitar que os eventos reais da sessãocom X estejam sendo transformados em um sonho,quando, num certo ponto, suspeitei que minhainterpretação estivesse sendo convertida em um sonho.[...] Tenho a impressão de que o deslocamento etc. deFreud seja relevante; mas ele levou em conta apenas aatitude negativa, o sonho ‘escondendo’ algo, e não omodo pelo qual o sonho necessário é construído” (Bion- COGITAÇÕES)

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RÊVERIE

“...o que Freud queria dizer com ‘trabalho onírico’ era que omaterial inconsciente, que de outro modo seria perfeitamentecompreensível, estava sendo transformado em um sonho, e que otrabalho onírico precisava ser desfeito para fazer com que o sonho,então incompreensível, fosse compreensível. [...] O que eu entendoé que o material consciente tem que ser submetido ao trabalhoonírico para tornar-se adequado ao armazenamento e à seleção;portanto, passível de sofrer transformação da posição esquizo-paranóide para a posição depressiva...”

• O sonho sonhado pelo analista durante a sessão ganhará o statusde conceito e será denominado de rêverie – um dos fatores dafunção-alfa.

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Mãe - bebê

• Capacidade de transformar os contidos que“capta” do filho ou que se expressam na mãecomo referindo-se ao bebê.

• Sustentação psíquica e emocional de um“outro”.

• Os próprios contidos maternos importammuito: amor.

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Não-continência

• Cargas emocionais resultantes das realizaçõesnegativas, e que foram projetadas na mãe, senão encontrarem um continente adequadoserão reintrojetadas pela criança sob a formade um “terror sem nome” que leva a umaevitação da dor depressiva, que seria umimportante fator do crescimento psíquico.

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BION E AS PSICOSES

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FRUSTRAÇÃO E PSICOSES

Modificação da frustração ou FUGA COM RELAÇÃOA ELA.

• Capacidade de pensar é substituída pelaonipotência.

• Aprendizado com a experiência é substituído pelaonisciência (crença de que tudo sabe).

• Reconhecimento da dependência e fragilidade ésubstituído pela prepotência.

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FRUSTRAÇÃO E PSICOSES

➢ Impedimento do desenvolvimento de aparelhopara pensar.

➢Desenvolvimento hipertrofiado do aparelho paraidentificação projetiva.

➢Paciente parte da ideia de que tudo sabe, pode econtrola.

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Personalidade psicótica:

• Baixíssimo limiar de tolerância às frustrações.

• Por isso evitam frustrações no lugar demodificá-las.

• Enorme dificuldade em ingressar na posiçãodepressiva.

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Não- continência

• Amor materno se expressa pela reverie, é afunção alfa da mãe que permite desfazerangústias que lhe foram projetadas.

• Introjeção da função alfa da mãe - que permiteperceber e pensar a ausência do objeto – quetorna possível a capacidade de simbolizar e,portanto , sonhar.

(Zimerman, 2011)

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Não-continência

• Psicótico – falta de introjeção de um bom rêveriematerno não desenvolveu a capacidade desimbolizar e seus sonhos não são elaborativos.

• Se não houver continente adequado, criançareintrojetará ansiedades projetadas, as quais,muitas vezes acrescidas com angústias própriasda mãe, se constituem sob a forma de um “terrorsem nome”.

(Zimerman, 2011)

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TELA BETA

Elementos beta se proliferam sob a forma de umaaglomeração – sem integração e vinculação entre si.

• Não possibilita distinção entre consciente e inconsciente,entre fantasia e realidade, nem permite elaboração dossonhos

➢ Estados confusionais.

➢ Tela beta tem a propriedade de suscitar no outrojustamente o tipo de resposta emocional que o pacientedeseja.

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Função alfa perturbada:

• Representação coisa- representação palavra(Freud).

• Pensamento verbal: elemento essencial paraentrar em contato com realidade.

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Impressões sensoriais ou emocionais não modificadas: elementos beta

• Impressões sensoriais não trabalhadas pela função alfa, permanecem sem modificações.

• Permanecem sem modificações, me seu estado nascente, bruto:

• Matéria não digerida – tóxica• Resíduos• Eventos que pedem compreensão

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Impressões sensoriais ou emocionais não modificadas: elementos beta

Intensidade – pode tornar inevitável expelir estímulos para diminuir-lhes a pressão:

evacuação (desprazer):

• Identificação projetiva

• Atuação

• Pensamento concreto

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Esquizofrenia• Impossibilidade de colocar experiências em

pensamentos sob a forma de palavras, aglomeração esuperposição dos elementos beta – “salada depalavras”.

• “Pensamento vazio” que predomina nos psicóticosrelaciona-se ao fato de que os primórdiosprotomentais do pensamento ainda não adquiriramum significado, uma simbolização, um sentido e, muitomenos, um nome.

• Angústia: terror sem nome

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“REVERSÃO DA FUNÇÃO ALFA”

Elementos beta resultantes da reversão da função alfa tem três destinos:

• Descarregam no corpo (somatizações, sintomas das crianças hiperativas)

• Pelos órgãos dos sentidos (alucinações)• Ação (actings ou conversas sem sentido, por

exemplo)(ZIMERMAN, 2011)

Função alfa já teve início, mas enfrenta tal dor psíquica querecua e produz elementos beta, diferentes dos elementos betaoriginais, pois guardam vestígios do superego e do ego e, porisso, estão mais relacionados ao conceito de “objetosbizarros”.

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OBJETOS BIZARROS NA PSICOSE

• Objeto é percebido como sendo dividido em pedaçosdiminutos, cada um contendo uma parte violentamentehostil do ego. (Fragmentação não é divisão coerente oudivisão limpa - “tidy split”) .

• Provocam pensamentos e sentimentos persecutórios.

Aumento da percepção penosa

• “Objetos bizarros” (resultado da identificação projetiva)• Mutilação penosa do aparelho perceptual

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Identificação Projetiva

Excessiva e Realista

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Identificação projetiva

• Mecanismo para lidar com elementos beta

• Comunicação de ansiedades, de elementos pré-verbais e não simbólicos tratados como sefossem coisas, não transformáveis

• Porém podem ser atiradas, “projetadas”.

➢Com a possibilidade de reintrojeção.

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Identificação Projetiva: Anormal (excessiva):

• Evacuar com violência e ódio um estado mental penoso.

• Ingresso forçado em um objeto, na fantasia, para alcançaralívio imediato e, amiúde, com o objetivo de controleintimidador do objeto.

• Há violência também na cisão (sensação de estar empedaços).

• Excessiva - excesso de crença na onipotência – e portando defusão do self com o objeto – defesa contra separação,necessidade e inveja.

• Quantidade de ego perdida.

• Prejuízo à capacidade de pensar os pensamentos.

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Identificação Projetiva:

Normal (realista):

• Introduzir no objeto um estado mental como meio de comunicar-se com ele a respeito desse estado.

• estruturante

• Empatia

• Criança: pode reintrojetar função contenedora da mãe e função alfa da mesma.

Evacuação X Comunicação – pode haver mistura delas.

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Estados psicóticos

• Elementos beta atuados por identificação projetiva: reaçãoemocional ou reação concreta de alguém no ambienteparece confirmar a formulação em questão.

• Psicótico usa excessivas identificações projetivas não sócomo descarga de sentimentos e ideias intoleráveis, mastambém como primitiva linguagem não-verbal, paraproduzir no analista os efeitos daquilo que o paciente nãoconsegue verbalizar, uma vez que é portador de angústiasque ainda não têm nome nem significação.

• Parece que o psicótico provoca reações, mesmo sem terfeito nada pra isso confirmando a articulação delirante.

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Identificação Projetiva

• A contra-transferência deveria capacitar o analista adiferenciar a ocasião em que é objeto de umaidentificação projetiva daquela em que ele não é.

• O analista sente estar sendo manipulado de maneira aestar desempenhando um papel na fantasia de outrapessoa.

• Com falta de insight do analista, os sentimentosintensos são reconhecidos como inteiramente esatisfatoriamente justificados por uma experiênciaobjetiva.

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Identificação Projetiva

Duas fases: • Sensação de que, seja o que for que tenha feito,

certamente não se deu uma interpretaçãocorreta.

• Sensação de ser-se um tipo particular de pessoa,em uma situação emocional particular.

Requisito primordial : capacidade de livrar-se dosentimento de realidade

Bion (1961, p. 149).

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Identificação projetiva

• O outro é aquilo que se lhe atribui

Condição emocional do analista:

• tolerar e acolher elementos primitivos ecaóticos sem rejeitá-los – modificandoidentificações projetivas:

➢Possibilidade de gerar significados

• Paciente pode introjetar uma função.

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Parte psicótica da personalidade

• Núcleos primitivos enquistados napersonalidade de qualquer indivíduo, semnenhuma conotação psiquiátrica.

• Todo psicótico também tem uma parte denatureza neurótica.

• Aspecto quantitativo (também com relação àseveridade da psicose).

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Ensinar a pensar

• Consiste em auxiliar o paciente a mudar anecessidade de “evacuar o seio mau” pelapresença de um “seio bom pensante”, isto é,mudar a identificação projetiva excessiva pelacapacidade de conter e pensar.

• Psicanalista: tarefa mais importante dele talvezseja capacitar seu paciente a não evadirfrustrações, mas sim tentar modifica-las.

(Zimerman, 2011)

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Identificação Projetiva

Ex. jogo

Aceitei

Resultado do jogo: você é …

caixa fechada

Interpretação

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TODA A RESPONSABILIDADE É DA MÃE?

PSICOSE:

• Disposição inata à destrutividade , ao ódio e à invejaexcessivas. (demandas pulsionais INATAS excessivas)

• Meio ambiente que nega ao paciente o emprego demecanismos de cisão e identificação projetiva (BION,1959, p. 106) (mãe externa real).

• Continente-contido.

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TODA A RESPONSABILIDADE É DA MÃE?

Assim,

• Bebê com alta capacidade de tolerância à frustração poderá sobreviver à penosa prova de ter uma mãe incapaz de rêverie.

• Lactente incapaz de tolerar a frustração não pode sobreviver sem uma crise, apesar da experiência de identificação projetiva com uma mãe capaz de rêverie.

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Bibliografia:

• Biografias: WILFRED RUPRECHT BION. In: http://febrapsi.org.br/biografias/wilfred-ruprecht-bion/#

• Bion, W. (1961) Experiências em Grupos. Trad. J. Salomão. Rio: Imago, 1970.

• Bion, W. (1959) Ataque ao elo. In: Estudos Psicanalíticos Revisados. Trad. P. D. Corrêa.Rio:Imago,1988.

• BLÉANDONU, G. Wilfred R. Bion: a vida e a obra. Trad: Laurice Levy Hoory e Marcela Mortara. Rio de janeiro, Imago, 1993.

• FERRO, A. Marcella: da sensorialidade explosiva à capacidade de pensar. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul; V. 24 n. 3, p. 241-249, 2002.

• SALVITTI, A. Função-alfa e estilo de pensamento em Bion: uma aproximação por meio da experiência da alteridade Percurso, v. 37, 2006.

• SILVA, M. E. Pensando o pensar – uma introdução a W. R. Bion. Campinas, SP: Flama Editora, São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

• Imagens: http://www.insideweb.it/wallpaper/index.htm