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CONCEITUAL #01 O sentido de transformar MARÇO/ABRIL 2012

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CONCEITUAL#01

O sentido de transformar

MAR

ÇO/A

BRIL

201

2

AL. GABRIEL MONTEIRO DA SILVA, 1487

JARDIM PAULISTANO - SÃO PAULO - SP

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AL. GABRIEL MONTEIRO DA SILVA, 1522

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Uma vida mais bonita começa com você. Você

pode mudar tudo com pequenos gestos.

Do mesmo jeito que uma nova sala transforma

a casa, um sorriso transforma o dia, um novo

espelho muda o olhar e uma fl or transforma os

sentimentos. Decoração faz a vida mais bonita,

porque de um jeito ou de outro, tudo é decoração.

ABERTO DE SEGUNDA A SEXTA DAS 10H ÀS 22H, SÁBADOS DAS 10H ÀS 20H E DOMINGOS DAS 14H ÀS 19H | PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO, AOS DOMINGOS DAS 12H ÀS 19H AV. DAS NAÇÕES UNIDAS, 12.555 | BROOKLIN | SÃO PAULO | WWW.DEDSHOPPING.COM.BR | DDSHOPPING | @DEDSHOPPING

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Uma vida mais bonita começa com você. Você

pode mudar tudo com pequenos gestos.

Do mesmo jeito que uma nova sala transforma

a casa, um sorriso transforma o dia, um novo

espelho muda o olhar e uma fl or transforma os

sentimentos. Decoração faz a vida mais bonita,

porque de um jeito ou de outro, tudo é decoração.

ABERTO DE SEGUNDA A SEXTA DAS 10H ÀS 22H, SÁBADOS DAS 10H ÀS 20H E DOMINGOS DAS 14H ÀS 19H | PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO, AOS DOMINGOS DAS 12H ÀS 19H AV. DAS NAÇÕES UNIDAS, 12.555 | BROOKLIN | SÃO PAULO | WWW.DEDSHOPPING.COM.BR | DDSHOPPING | @DEDSHOPPING

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CONCEITUAL#01

O sentido de transformar

CAPA A revista ABD Conceitual terá seis edições em 2012. A cada número, a publicação vai abordar uma cor e as incontáveis possibili-dades que ela oferece. Na edição 01, o tema é o branco.

*

Publishers André Poli e Roberta Queiroz

Consultoria Editorial Eduardo Logullo | Marcos Guinoza

Conselho editorial Carolina Szabó, Renata Amaral, Jéthero Cardoso

e Maria Cecília Giacaglia

Colaboradores João Antonio Lourenço, Gilberto Elkis, Jéthero Cardoso,

Lívia Maturana, Marcella Áquila, Marcelo Pinheiro, Roberto Negrete,

Mariângela Corsini, Daniela Poli, Renato Elkis, Daiane Domingues,

Fernando Figueiredo

Projeto Gráfico Cinthia Berh

Arte Roberto Andrade Pereira

Jornalista Responsável Marcos Guinoza MTB 31683

Revisão Ana Cecilia Chiesi

Pesquisa de Imagens Charly Ho

Analista de Conteúdo Lívia Maturana

Agradecimentos Tuca Reinés, Fábio Cimino, Zipper Galeria

FirmaCasa, FirmaCasa Conceito, Pedras Mármores e Granitos,

Scandinavia Designs

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Para anunciar [email protected]

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www.velveteditora.com.br

ABD Associação Brasileira dos Designers de Interiores

www.abd.org.br

Sugestões

[email protected]

MARÇO/ABRIL 2012

CONCEITUAL#01

Amigos, parceiros e colaboradores:Surge uma plataforma desafiadora e que nos confirma um

fato: a ABD se renova. Quase trinta e dois anos depois de sua fundação (outubro de 1980), a primeira associação de profissionais do design de interiores propõe metas que se articulam com as mudanças da era digital e com a necessida-de crescente da troca de informações.

Assim, dentro de nossas estratégias de gestão, desponta a primeira edição da ABD Conceitual, revista bimestral que, além de discutir o exercício profissional de uma categoria cada vez mais relevante, avançará por temas, pautas e ideias transformadoras. E mais: além do objetivo de alterar e mudar, vamos valorizar projetos, resgates culturais e estilos autorais.

Como aprovamos em reuniões preliminares, a ABD Conceitual será mais um recurso para estabelecer processos de relacionamento entre profissionais, empresas e serviços que compõem o design de interiores. Um esforço coletivo para formar uma estrutura mais atuante sobre competências artísticas e técnicas.

Sabemos que hoje compomos um importante segmento profissional, em atividades que envolvem somas conside-ráveis, especialização de serviços, geração de empregos e variedade de conhecimentos. Nosso trabalho se volta à escala humana. Este é um detalhe muito importante.

Para celebrar tantas constatações, a nossa publicação trará editoriais temáticos a cada número. Em 2012, cada edição abordará uma cor e as incontáveis possibilidades que os cromatismos oferecem. Por vivermos cercados de referências cromáticas, queremos discutir e enaltecer tons, matizes, nu-ances, intensidades e escolhas. Voltamos assim àquela antiga questão: o que seria do azul se todos gostassem do verde?

O número 1 de ABD Conceitual é voltado ao princípio da cor: o branco. Sobretudo pelos aspectos e desdobramentos que se inserem na ideia do “branco” como base de criação, linguagem e experimentação. O branco é a cor da lumino-sidade, do clarão, da calma, do tracejado dos projetos, das ficções, dos sonhos.

Entre agora em nossa plataforma do design de interio-res. Estamos apenas decolando. A meta, daqui em diante, será diversificar a produção e a abordagem conceitual do nosso trabalho, apresentando infinitas possibilidades, altas

performances, ações de conforto, acessibilidade, saúde, preservação ambiental e sustentabilidade do planeta. Está tudo em branco, como convém aos augúrios de boa sorte. Bem-vindos!

Carolina Szabó

TUDO em branco

Qual o significado desses

ambientes modernos de um prédio

situado na cidade finlandesa de Rova-

niemi, no Círculo Polar Ártico? É nesse

local que está a sede do Pilke, instituto

que defende florestas “em pé”, porém

com surpreendentes resultados ex-

trativistas a partir do manejo florestal.

E, evidentemente, sem a presença de

setores comerciais predatórios, como

ocorre no Brasil.

Essa história começou longe. No

final do século XVIII, as florestas finlan-

desas eram terrivelmente exploradas.

Além das atividades comuns de devas-

tação, existia a queima de alcatrão de

madeira, um importante produto de

exportação daquele período.

Em 1859, apreensivo com o desapa-

recimento daquela vegetação original,

o Czar Alexandre II (a Finlândia na época

era um território dominado pela Rússia)

criou um órgão de gestão florestal. Cha-

mada Metsähallitus – administração de

florestas, em tradução literal – a institui-

ção veio monitorar o cumprimento de

leis e resoluções normativas relaciona-

das às terras do Estado.

Na década de 1990, o conceito de

sustentabilidade ganhou mais espaço

e surgiu uma nova consciência am-

biental. Em 1994, a Metsähallitus se

torna estatal. Hoje, suas tarefas são: gerir

áreas protegidas e fornecer madeira para a

indústria florestal. Emprega cerca de 3.000

pessoas e administra 120.000 km² de ter-

ras (35% da Finlândia).

A Metsähallitus também gerencia atra-

ções naturais e fornece serviços ambien-

tais. Por meio de interatividade com o

público, conecta as pessoas à natureza e

coopera no segmento de silvicultura, com

organizações florestais da Suécia, Noruega,

Estônia, Irlanda, França, Áustria e Escócia.

Para valorizar as vantagens de materiais

sustentáveis em construções modernas, a

Metsähallitus mantém sua base oficial na

Pilke House, em Rovaniemi. Projeto dos

arquitetos Teemu Palo e Juhani Suikki, o

prédio ressalta elementos do entorno, luz

natural, vista das paisagens montanhosas

e dos rios Kemijoki e Ounasjoki. As áreas

internas são redimensionadas com parti-

ções adaptáveis, enquanto a estrutura da

construção usa madeira laminada colada

(material de espécies cultivadas).

No mesmo local, há um centro de ciên-

cias. Entre jogos, músicas, vídeos, simula-

dores e instalações, o Pilke Science Centre

proporciona experiências de educação e

reflexão sobre o meio ambiente. Isso tudo,

apenas para provar que o uso inteligente

da madeira e ideias avançadas represen-

tam os princípios da construção sustentá-

vel e da proteção da biodiversidade.

Os ambientes da Pilke House

valorizam os materiais sustentáveis

com inteligência: madeiras de

espécies cultivadas de diferentes

texturas, detalhes em tons de verde e

amarelo, luz natural vinda das janelas

com cinco metros de altura com vista

para os rios Ounasjoki e Kemijoki

www.metsa.fi | www.sciencecentrepilke.fi

A Finlândia torna suas

florestas inteligentes

e produtivas

PILKE HOUSE

POR João antonio lourenço

22

09 O SENTIDO DE TRANSFORMARUma visão poética-metafísica sobre o design de interiores, o espaço vazio, a importância de mudar, o branco

018 TONS DO TOMStudio Rock, Love & Peace: o am-biente branco do designer de interiores Roberto Migotto

022 BRANCOS SÓLIDOSO branco em estado bruto: papel de arroz, mármore, linho, porcelana e cal

026 UM PASSADO BRANCORoberto Negrette redescobre Syrie Mau-gham, a designer de interiores inglesa que criou o “The first all-white room”

027 FLOWER POWERUm Passeio pelo Jardim Branco do castelo de Sissinghurst, na Inglaterra. Por Gilberto Elkis

028 LUZ X EQUILÍBRIOSegundo o fotógrafo Tuca Reinés, “o bran-co é um grande cenário para a decoração”

030 PILKE HOUSEA inteligência sustentável de uma institui-ção que reverteu o processo de devasta-ção das florestas da Finlândia

032 “O BRANCO NUNCA É VAZIO”Fabio Cimino, marchand da galeria Zipper, fala sobre a relação da arte com o branco

034 CINE-BRANCORO branco em dois filmes de Stanley Kubri-ck: 2001 – Uma Odisseia no Espaço e Laranja Mecânica

037 PESSOAL E INSTRANSFERÍVEL“Compreender o outro é essencial para o designer de interiores”, ensina o profes-sor Jéthero Cardoso

038 O PODER DA TRANSFORMAÇÃODesigner e poeta, Mana Bernardes atua em diferentes projetos sociais com um único objetivo: mudar o mundo

042 LEVEZA SUSTENTÁVELO drywall surgiu da combinação do gesso com papel e revolucionou a construção civil

048 ESTÁ CLARO?A versatilidade e o minimalismo do bran-co em três peças vindas da Escandinávia

18

42

48

1.investigações metafísicas sobre o design de interiores POR EDUARDO LOGULLO

CADERNOINSIDE

a importância de mudar. a vontade de alterar. o sentido de transformar. a intenção de fazer. imaginar. mirar. riscar. desenhar. visualizar.

saber que do branco jorra quase tudo.

no branco, o começo. no branco, o caos da criação. no branco: a luz, a fenestra, o facho, a irradiação, o prisma, o rasgo, o claro. rota-ções, imaginações, riscos, cortes, desenhos, desejos. listras, estampas, texturas, cromatis-mos, relevos, partições? no papel, o branco. e tudo começa naquele ato. hiato. o ato de con-tornar o incontornável. o ato do ambiente que é o receptáculo, o palco, a plataforma, o salto, a concretude, o muito tudo, o quase nada. in-ventar é bom. completudes. o espaço vazio, a enormidade, a redução, os quatro cantos do verbo calcular. ali, sim. aqui, não. lá, pode. adiante, não pode. o farol dos projetos.

girar a maçaneta. vedar o tampo. visar o tem-po. antever movimentos, corpos, cores, nomes. o braço do sofá, a perna da mesa, o olho da ma-deira, a asa da xícara, o gemido da ferramen-ta. e se tudo aquilo tivesse cor? e se tudo fosse marrom? e se cada coisa se revestisse de azul? por que os objetos podem ter tantas cores? tontu-ras. subitamente, a ordem se torna clara:

clareza, claridade, clarão. brancura, alvura, nervura. costura, soltura, ruptura. nivelamento, cinzelamen-to, entalhamento. prego, estopa, mola. crescimen-to, dúvida, pavimento, cimento. os procedimentos e os instrumentos cumprem suas missões. a per-feição é uma meta? o que se faz para se mudar a parte de dentro de uma habitação, de um abrigo, de um espaço físico? a noção espacial sempre é percebida por noções individuais. o fato, o ato, o falho. o faro, o raro, o mero. condições físicas, aprimoramentos da física, milagres da física. am-bientes: espaços físicos. áreas: superfícies pla-nas. extensões (in)definidas.

campos para se praticar atividades. medidas de superfícies limitadas. figuras geométricas planas por isso tudo, romper, derrubar as pra-teleiras, portais e umbrais. penetrar em labirin-tos, salas, corredores, átrios, galpões, alturas, lateralidades, comprimentos, angulações. terri-tórios, regiões internas, edificações. extensões percorridas pelos raios vetores de um astro que não se explica. mas que hoje, aqui e agora, se aplica em branco. e o branco se faz. e o branco se desfaz. e o branco se esvai.

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Seu estilo elegante faz referência ao formato das cortinas tradicionais, com a funcionalidade da persiana.

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THE ART OF WINDOW DRESSING

SÓLIDOS5 X branco: papel de arroz, mármore, linho, porcelana e cal

FOTOS I RENATO ELKIS

CAL

PORCELANA

Substância das mais importantes para a indústria. Na construção civil é usada em argamassas e em misturas para pintura; na agricultura, vira hi-dróxido de cálcio, aplicado para controlar a acidez do solo; na indústria farmacêutica, entra como agente branqueador ou desodorizador. A cal – também chamada cal viva ou cal virgem – é obtida por decomposição térmica do calcário. No Brasil, onde existem cerca de 200 empresas pro-dutoras, em 2009 foi criado um selo de responsabilidade socioambiental (Programa Selo ABPC), para fabricantes compromissados com boas prá-ticas de produção, gestão ambiental e saúde do trabalhador.

Não se sabe com precisão quando surgiram os primeiros objetos de porcelana. O certo é que sua origem é chinesa. Caracterizada por brancura, translucidez e resistência, a porce-lana é composta de feldspato, caulim, argila e quartzo, com uso aplicado em peças utilitá-rias e decorativas. Marco Polo trouxe a ‘novi-dade’ para a Europa, no século XIII. Encanta-dos com o “ouro branco” (como a porcelana ficou conhecida na época), os europeus ten-taram reproduzir a massa. Falharam. Faltava o fundamental caulim. Cinco séculos depois, numa escavação em Meissen, Alemanha, descobriram argila branca com alto teor de caulim. A cidade virou referência em porcela-na, como é a China até hoje.

PAPEL

Essa rocha apresenta imensa variedade de cores e desenhos. É formada pela transformação do calcário a altas temperatu-ras. Por esse motivo, as maiores jazidas estão em regiões de atividade vulcânica. Na antiguidade, foi a pedra mais usada em esculturas e construções. Cinco das sete maravilhas do mundo antigo e boa parte dos monumentos gregos e romanos, como o Parthenon e a Vênus de Millus, têm mármore em suas com-posições. Ainda hoje, os brancos são extraídos da Itália (Carrara) e da Grécia (Paros e Pentelikon), considerados os melhores do mundo. O mármore tem várias aplicações e é ideal para dar ares clássicos ao ambiente.

DE

AR

ROZ

MÁRMORENo passado, era conhecido como “tecido dos reis” e sua produção vem desde o Egito Antigo. No século XIX, foi utilizado apenas na confecção de roupas íntimas. Depois, passa-ria a ser aplicado em outras peças do vestu-ário. Para produzir a fibra do linho, o demo-rado processo passa por várias etapas, o que eleva o valor do produto final. Para diminuir esses custos, sem modificar as características do tecido, a indústria têxtil mistura a fibra de linho com algodão, viscose e lã. Trata-se de material com outras aplicações: há empresas que apostam na substituição da fibra de vidro (ou de carbono) por fio de linho na produção de mobiliário. Resistente e leve, essa fibra na-tural traduz conforto e elegância.

LIN

HO

De origem japonesa, o washi é produzido por feixes de fo-lhas de arroz. Tem textura agradável e alta durabilidade. É fabricado manualmente no Japão desde 702 e, no início, era utilizado para a impressão de sutras budistas e docu-mentos. Hoje, é matéria-prima para caixas, papel de pre-sente, cestas, biombos, divisórias, luminárias e outras peças decorativas. O processo de fabricação pode demorar de 7 a 23 dias e começa com a fervura dos feixes de folhas de arroz que, depois, passam por lavagem, branqueamento, remoção das impurezas, batida e vaporização. Por ser tra-balho braçal, a maioria dos artesãos são homens. Washi é bem mais que papel. É arte.

Ela pintava móveis, criava designs próprios e comercializava tudo a preços exorbitantes. Muitos diziam que não cobrava pelo que ven-dia, mas por seu talento. Uma postura invejável. O mais admirável é que Syrie Maughan nunca se dobrou ao estilo do momento e sempre buscou o que traduzisse o seu gosto. O perigo da tendência sempre existiu e as ovelhas segui-doras também.

Mas ninguém é perfeito, como prova, a se-guir, uma engraçada anedota sobre essa figura: ícone da decoração nesses tempos, a norte-americana Elsie de Wolfe comprava peças com frequência nas lojas de Maugham. Quando Maugham recebeu a notícia da visita de Wolfe em Londres, mandou esconder no porão gran-de parte do acervo da loja. Só que nunca sabe-remos se ela temia que a designer americana a copiasse ou se temia ser descoberta por ela mesma ter copiado.

O tempo – e a sua própria evolução como profissional – afastou Maugham dos brancos absolutos. Mais ainda, quando tantos passaram a reproduzir o seu estilo, e ela precisou nova-mente se sentir independente e inovadora.

O legado de Syrie Maugham permanece. E quem pensa que o primeiro ambiente branco remete a algo futurista, pois bem: foi uma in-glesa de baixa estatura, magra e vestida com elegância por Molyneux quem se deixou levar por sua criatividade, tão distante dos interiores vitorianos da sua infância.

UM PASSADO BRANCOImpossível pensar branco e não pensar Syrie Maugham

* Roberto Negrete é designer de interiores. Nasceu em Buenos Aires. Desde 1982,

vive em São Paulo. É conselheiro da ABD. www.robertonegrete.com.br

POR ROBERTO NEGRETE*

COm UmA vIDA bEm AGITADA E ALvO DOS COmENTáRIOS mAIS DIvERSOS, A designer inglesa nascida em 1879 deixou um legado enorme para todos. Foi dessas mulhe-res que não aceitaram o status quo.

No início da década de 1910, Syrie Mau-gham se empregou em uma empresa de de-coração como aprendiz e, em 1922, aos 42 anos, montou a sua própria loja.

Em 1927, abriu as portas da sua casa com a proposta que ficaria conhecida como “The first all-white room”. Biombos de espelho, tapetes de pele,

seda, veludo, couro e cetim, palmeiras de gesso, mesas cobertas de pergaminho: tudo branco.

Antenada com a sua época, Maugham era fiel ao seu gosto pessoal. Mimetizava mobiliário de estilo e o pintava de branco, usando uma técnica adquirida nos tempos de aprendiz, de acabamen-to craquelê. Tudo o que passava por suas mãos, nessa época do all White, era pintado dessa cor.

Designer de talento extravagante e mulher com força incomum, levou o seu estilo além-mar e abriu lojas nos Estados Unidos. E, pode-se apostar que deixou a sua marca na Hollywood.

Por entre as flores brancas de um jardim inglês

FLOWERpower

EM KEnT, cOndAdO nO SudESTE DA INGLA-

TERRA, o castelo de Sissinghurst preserva uma obra-

prima do paisagismo. Idealizado pela escritora Vita

Sackville-West e por seu marido, Harold Nicolson, o

jardim é um dos mais conhecidos e visitados daquele

país. Seu segredo? A harmonia apurada entre flores e

folhagens e o delicado equilíbrio de cores.

Sackville-West, poeta e autora (inclusive de livros

sobre jardinagem), e Nicolson, também escritor,

compraram a propriedade em 1930. Na época, o lu-

gar estava em ruínas. Eles não apenas recuperaram

o castelo como planejaram um jardim dividido em

uma série de espaços independentes. Em um desses

espaços, criaram o Jardim Branco, o mais célebre de

Sissinghurst. E, entre as flores que compõem esse

jardim, destacam-se as rosas brancas.

Rosas têm tradição na Inglaterra. Houve até um

conflito, chamado Guerra das duas Rosas, em que os

descendentes do rei Eduardo III lutaram ao longo de

trinta anos (1455-1485) pelo trono. De um lado esta-

va a Casa de York, simbolizada por uma rosa branca,

do outro, a rosa vermelha da Casa de Lancaster. Ao

fim do enfretamento, foi criada a Rosa de Tudor.

Mas o que interessa aqui é o branco. E as flores

brancas – de espécies, formatos, tamanhos, texturas

e perfumes diferentes – proporcionam uma ilumina-

ção única para o jardim. Em contraste com o verde das

folhagens, provocam um efeito quase mágico. E é esse

visual de encantamento que fascina as pessoas que

visitam o Jardim Branco do castelo de Sissinghurst.

www.nationaltrust.org.uk/sissinghurst-castle

Gilberto Elkis é um dos paisagistas mais

requisitados do país e está na profissão há

quase vinte anos

POR GILbERTO ELKIS

27ABD CONCEITUAL

Ele tem mais de 30 anos de profissão. Autor de vários livros, é fotógrafo de arquitetura, de ambientes internos, de moda, de publicidade, de mil e uma paisagens. “Gosto de registrar arquiteturas e interiores brancos”.

LUZ X EQUILÍbRIO:O bRancO, POR Tuca ReinéS

POR MARCOS GUINOZA FOTOS TUCA REINÉS

bRANCO COmO ELEmENTO DIRECIONADORO branco é uma cor que se destaca muito e se multiplica na visão humana por sua capacidade de refletir os raios da luz. Por essa razão, ambientes brancos parecem maiores, mais amplos. Os raios mascaram os cantos e as juntas de teto e piso.

REVESTIMENTOS BRANCOSQuando as paredes e pisos são brancos, o mobiliário fica em evidência, destaca-se no fundo branco. Devido a esse contraste, é preciso atenção com a escolha das peças, pois o recorte delas no visual vai ser muito notado. Estofados mal feitos, por exemplo, vão aparecer mais contra o branco da parede. Então, cuidado para não colocar peças tortas e fora de lugar. FOTOGRAFAR AMBIENTES BRANCOSPor irradiar muita luz, o branco é a cor que mais dá trabalho na fotografia. É, sem dúvida, a cor mais reflexiva da escala. Ao contrário da cor prata, que se parece com um espelho e o fotógrafo está sempre se escondendo, com o branco, o fotógrafo tem que estar resolvendo. Eu gosto muito de fo-tografar arquiteturas e interiores brancos. É sempre preciso fazer um estudo e ter uma grande pitada de sorte para a luz estar na intensidade ideal para o que se quer clicar. O BRANCO COMO CENÁRIOBranco é um grande cenário para a decoração. É com o branco que se demonstra a qualidade do projeto e a es-colha das peças, porque tudo aparece muito e tem que ficar em equilíbrio. Acho que é por essa razão que o branco sempre acompanhou o minimalismo. BRANCO NEVE OU BRANCO DESERTOPrefiro o deserto. É o branco com uso, com vida, onde você vê o tempo. A neve se renova todo ano, é sempre nova.

Acima, sala de jantare detalhe de apartamento emIpanema, no Rio. Ná página ao lado, sala de apartamento em Na-tal (RN). Projetos de David Bastos