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A RELAÇÃO DESIGNER DE INTERIORES | CLIENTE
O design de interiores surge normalmente associado a imagens de designers a elaborarem
desenhos, jogando com cor e textura, ou percorrendo lojas da especialidade para
encontrarem peças únicas de mobiliário, objectos decorativos ou detalhes que
personalizem os seus projectos.
Sem dúvida que estes são aspectos comuns no quotidiano profissional de um designer de
interiores mas, antes de iniciar qualquer processo criativo, o seu trabalho envolve muita
recolha de informação e algumas metodologias, em torno das quais se desenvolverá o
projecto. Este processo inicia-se na relação com o cliente.
Nos Estados Unidos, é prática normal contratar os serviços de um designer de interiores,
da mesma forma que se contrata qualquer outro profissional para orientar o cliente numa
área que ele não domine.
No entanto, em muitos países europeus existe ainda alguma resistência à ideia de
contratar um designer de interiores, talvez porque o recurso aos seus serviços ainda seja
visto como um luxo, que aumenta consideravelmente os custos de uma obra.
Por outro lado, na área comercial, o valor e a importância do design de interiores são, há
muito, reconhecidos internacionalmente.
É claro que a capacidade do designer para entender e interpretar os requisitos impostos
pelo cliente é fundamental para o sucesso de um projecto, quer esteja a trabalhar para
uma empresa ou para um cliente particular.
Muitos clientes têm ideias confusas sobre o que querem e, por vezes, têm dificuldades em
transmitir as suas ideias de forma clara. O mais frequente é o cliente elaborar uma lista de
problemas e apresentar uma colecção aleatória de ideias, em vez de um briefing sucinto e
organizado.
Neste sentido, é tarefa do designer ir escrevendo o briefing, à medida que vai
desenvolvendo a sua relação com o cliente. No entanto, uma boa solução não tem que
estar necessáriamente relacionada com a qualidade da relação designer/cliente.
Alguns excelentes designers de interiores não têm boas capacidades de articulação e
conversação com o cliente, baseando-se na confiança que inspiram, enquanto outros se
preocupam muito em fazer com que todo o processo seja agradável para o cliente.
A relação com o cliente funciona a diferentes níveis e não se pode dizer que exista uma
abordagem certa ou errada. Essencialmente é uma parceria que vive do contributo de
ambas as partes.
Nos últimos anos têm sido notadas algumas mudanças subtis nesta relação entre designer
e cliente, com o designer a assumir um papel mais de consultor do que de prescritor.
O designer de interiores deve entender as necessidades do cliente, a sua personalidade e
estilo e, numa perspectiva comercial, entender estes aspectos num contexto económico
mais abrangente.
A confiança mútua é fundamental para que o processo decorra sem problemas e, para que
isto aconteça, o designer deve saber falar na linguagem do cliente e, acima de tudo, ouvi-
lo e saber interpretar as suas ideias.
Esta capacidade para ouvir e observar é de grande importância quando trabalhamos, por
exemplo, para casais, pois o elemento do casal que parece ser mais dominante nas
reuniões de trabalho poderá não ser o que toma as decisões e a situação poderá ainda
complicar-se com o envolvimento de familiares e/ou amigos.
Um bom projecto de design de interiores dependerá, sempre, de um bom sentido de
equilíbrio e de conseguir ganhar a confiança e respeito do cliente. O designer deverá
trabalhar de forma cooperativa, adaptando-se às prioridades e circunstâncias do cliente,
respondendo rapidamente às suas preocupações e mantendo-o informado em cada fase.
Em situações de âmbito comercial, apesar do designer poder estar em contacto directo
com a direcção ou administração, costuma ser vantajoso reservar algum tempo para
consultar os trabalhadores directamente envolvidos, para assegurar que as suas
necessidades são satisfeitas, sempre que possível. As camareiras de hotel, por exemplo,
podem providenciar informações práticas muito úteis, bem como o staff dos restaurantes e
os gerentes.
Quando se trabalha com estabelecimentos de ensino, os designers podem também
recolher informações úteis, junto dos professores, do pessoal administrativo, dos alunos e
dos seus pais.
Todos estes aspectos requerem uma abordagem flexível por parte do designer.
Colaborar com outros colegas e profissionais contratados pelo cliente e igualmente
envolvidos no projecto é outro aspecto importante.
Nenhum dos elementos envolvidos quererá enfrentar uma situação de rejeição do trabalho,
em que o cliente fica desapontado, pelo que o papel do designer é fundamental para
assegurar que isto não acontece.
A comunicação é a chave para uma relação de trabalho produtiva com o cliente e, neste
sentido, programar e fasear um projecto são acções vitais.
Sistemas de informática, bem como câmaras fotográficas digitais e acesso à internet para
transmissão de dados, facilitam esta área de trabalho do designer de interiores, permitindo
a toda a equipa envolvida ter acesso ao progresso do trabalho, bem como à sua
calendarização e aos agendamentos efectuados.
Contratar um designer de interiores não significa que os clientes não tenham ideias
próprias – nos dias que corre, toda a gente está muito mais consciente e sensibilizada para
questões relacionadas com design – mas o designer é quem melhor pode interpretar essas
ideias e desenvolve-las para atingir um resultado profissional.
O esquema decorativo que um cliente possa ter visto numa revista terá sempre uma
aparência agradável, reproduzido em belas fotografias e impresso em papel de boa
qualidade, mas o mais provável é que não resulte se for simplesmente copiado para um
contexto arquitectónico diferente, com outra orientação e luminosidade.
Faz parte do papel do designer de interiores interpretar correctamente as necessidades e
ideias do cliente, de forma a poder orienta-lo para soluções espaciais que correspondam
às suas espectativas, de forma esteticamente agradável e satisfatória.
The interior designer who creates a truly harmonious environment helps the client to be and
feel different. The designer has an extremely responsible role, creating other people’s
homes and, in a way, making an impact on their destinies.
Tatiana Rogova – Russian interior designer
O BRIEFING
O processo de recolha e compilação de informação a partir dos requisitos e estilo de vida
do cliente é geralmente conhecido por briefing.
É uma fase extremamente importante do processo pois, sem uma correcta compreensão
das necessidades do cliente, é muito provável que não se consiga concluir o projecto com
sucesso.
Ter em consideração o estilo de vida do cliente é essencial para percebermos de que
forma é que ele usufrui do espaço e como é que o podemos potenciar. É importante, por
exemplo, sabermos se um determinado cliente usa a sala de jantar frequentemente ou se,
pelo contrário, a usa duas ou três vezes por ano e prefere receber e confraternizar na
cozinha.
O designer deve reservar algum tempo para, conjuntamente com o cliente, estabelecer
quais os objectivos do projecto e construir uma imagem detalhada do seu estilo de vida.
Em alguns casos, estabelecer as limitações existentes pode ser tão importante quanto
definir quais são as aspirações do cliente e o que ele idealiza como resultado final.
A atenção ao detalhe contribuirá para garantir uma solução satisfatória, que corresponda
às necessidades do cliente em termos de arrumação, espaço de trabalho, conforto e
tecnologia, num estilo que lhe agrade.
A elaboração do briefing é um processo lógico e alguns designers de interiores trabalham
com um questionário predefinido, que os ajuda a recolher informações básicas como o
número de pessoas que vai usufruir do(s) espaço(s) a intervencionar, quanto tempo
passam em casa, onde e como gostam de descansar, comer, trabalhar, ver televisão, ouvir
música, cozinhar e receber os amigos. Por vezes há familiares mais idosos, o que obriga a
ter em consideração questões de acessibilidade e segurança. Outras vezes existem
animais de estimação, que implicam um cuidado especial com o lado prático dos materiais
de revestimento e acabamentos que vamos escolher.
A reunião inicial com o cliente proporciona a ambas as partes a oportunidade de se
conhecerem melhor e terem uma perspectiva sobre as possibilidades de sucesso da
parceria a que pretendem dar início. Se o cliente não está familiarizado com o trabalho do
designer, esta reunião inicial é também uma boa oportunidade para este lhe dar a
conhecer o seu portfolio.
O designer pode também aproveitar a reunião inicial para fazer uma primeira visita ao
espaço que terá de transformar e tomar algumas notas sobre a decoração existente, o que
pode dar referências importantes sobre o gosto do cliente, estilo e forma de vida.
Ocasionalmente, o designer pode ter algumas reservas em trabalhar com um cliente ou um
espaço em particular. Nesses casos, a melhor solução será recusar educadamente o
trabalho e, eventualmente, recomendar outro designer.
Muitos designers de interiores optam por efectuar uma visita preliminar, pela qual não
cobram honorários, mesmo antes da reunião inicial para elaboração do briefing. Desta
forma podem avaliar melhor se estão em condições de aceitar o trabalho.
O briefing de um projecto comercial terá de ter em consideração factores como marketing,
branding e aspectos particulares relativos ao cliente em questão. Este tipo de projectos
requer também que o designer reserve algum tempo para falar com as pessoas que
trabalham nessa área comercial específica, de forma a entender exactamente como é que
o negócio funciona e quais são as particularidades, requisitos, constrangimentos e
aspectos práticos a ter em consideração.
Apesar de não ser o tema mais fácil de discutir, é muito importante que o designer tenha
uma noção do orçamento que o cliente está disposto a disponibilizar para um determinado
projecto, de forma a conseguir desenvolver posposta(s) adequada(s).
Alguns clientes têm ideias muito rígidas sobre o que pretendem como resultado final, o que
pode não ser compatível com o orçamento de que dispõem, enquanto outros se
manifestam extremamente preocupados na fixação prévia de um budget, com o qual o
designer terá de trabalhar e respeitar. Qualquer que seja o caso, esta é, obviamente, uma
matéria que deverá ser discutida logo na fase inicial do trabalho, de forma a que o projecto
tenha uma conclusão satisfatória.
PESQUISA PRELIMINAR
Existem, quase sempre, elementos de pesquisa necessários ao desenvolvimento de um
projecto de design de interiores. No caso de um hotel ou de um restaurante, por exemplo,
uma parte importante no processo de formulação de ideias e conceitos será visitar
espaços similares, para observar o espaço, o layout, o estilo, a imagem de marca. Até
mesmo para um projecto de habitação privada, pode ser necessária alguma pesquisa
sobre algum elemento arquitectónico ou pormenor que o cliente solicite.
Quase todos os projectos requerem alguma pesquisa de materiais e acabamentos e, para
tal, é importante ir construindo uma biblioteca que inclua catálogos de iluminação,
mobiliário, vidros e espelhos, equipamentos de casa de banho e cozinha, tectos falsos,
revestimentos de parede, revestimentos de pavimento, acessórios, etc.
Adicionalmente é aconselhável também ter algumas colecções de amostras e padrões.
Um exemplo de amostras de papel de parede,
mostrando uma gama de padrões coordenados,
que podem ser aplicados em conjunto ou
combinados com cores e padrões de outras
colecções.
Uma parte importante do trabalho do designer de interiores é visitar feiras e exposições, de forma a
estar sempre a par das últimas tendências, estilos e produtos.
Uma vez que as tendências e estilos estão em constante mudança, muitos designers
apoiam-se em publicações e seminários e feiras da especialidade, que acontecem
regularmente, oferecendo as últimas tecnologias, novas colecções, materiais,
acabamentos, acessórios e ambientes inspiradores.
Actualmente é possível visitar estes espaços e ficar com uma clara noção de quais serão
as tendências para os próximos meses.
Muitos fornecedores actualizam as suas colecções com frequência e os designers de
interiores visitam regularmente os seus showrooms, para ver os últimos produtos e discutir
com os representantes de vendas quais as melhores formas de aplicação.
Outra fonte de novas ideias e estilos podem ser as casas e apartamentos modelo.
As moradias e apartamentos modelo tendem a exibir as mais
recentes colecções de mobiliário, materiais e acessórios,
oferecendo aos designers de interiores uma perspectiva dos
estilos e tendências mais actuais.
CONSIDERAÇÕES DE ESTILO
Pode ser difícil identificar o estilo que o cliente tem em mente, uma vez que o estilo pode
ser interpretado de várias formas ou até mesmo, por vezes, mal interpretado. O cliente e o
designer podem ter visões muito distintas sobre o que constitui um estilo clássico ou
moderno, por exemplo. Por esta razão, alguns designers de interiores pedem ao cliente
que traga para a reunião de briefing alguns recortes de revistas que apresentem ambientes
elucidativos do resultado final que pretendem obter. Em alguns casos, os clientes dão
indicações muito precisas sobre o estilo que pretendem. No entanto, quando os clientes
são muito receptivos ou não têm nenhuma ideia específica sobre o que pretendem, abre-
se um leque de opções para o designer. Uma ideia, por exemplo, será basear o projecto no
estilo arquitectónico da propriedade ou, em casos em que a arquitectura não é
particularmente marcante, existe sempre a oportunidade de introduzir uma interpretação
de um estilo histórico. Outra abordagem possível ser, por exemplo, trabalhar com um tema
específico – oriental, colonial, industrial, romântico, retro, minimalista…
Projecto de remodelação
de um apartamento em
Barcelona | Enric Miralles
e Benedetta Tagliabue.
Combinação de mobiliário
contemporâneo com
materiais e acabamentos
requintados.
FORMULAR UM CONCEITO
Todos os designers de interiores têm os seus métodos pessoais de estimular e
desenvolver a criatividade, de forma a criar uma resposta adequada e imaginativa ao
briefing do cliente. Para alguns, a abordagem passa por basear o processo criativo no
espaço existente e trabalhar sobretudo com a análise de design. Por exemplo, um
designer pode pedir ao cliente que indique três ou quatro palavras que decrevam o efeito
que pretende obter num determinado espaço – leve, elegante, acolhedor, por exemplo.
Outros podem procurar inspiração em elementos naturais, nativos de um determinado
local, talvez colhendo uma mão-cheia de folhas, terra ou pedras do jardim e espalhando-as
na sua mesa de trabalho, para observar as cores e texturas obtidas.
Em alternativa, o ponto de partida poderá vir directamente dos factos recolhidos do briefing
com o cliente, ou de certas cores, formas ou acabamentos de um compartimento, ou de
um tecido particular, de uma tinta ou um objecto decorativo do cliente.
Quando se busca um conceito, o designer terá que, obviamente, ter em consideração
limitações como o orçamento, o espaço em si ou factores relacionados com o estilo de
vida do cliente.
Alguns designers de interiores optam por uma abordagem mais abrangente ao processo
criativo, adoptando uma atitude muito open-minded e estando atentos a tudo em seu redor.
Esta estratégia pode resultar num conceito mais oblíquo, muitas vezes mais cerebral, que
está de alguma forma ligado ao briefing do cliente e que proporciona parâmetros segundo
os quais o designer pode desenvolver ideias confortavelmente, levando-as mais longe.
Em trabalhos comerciais, o nome da empresa pode ser um ponto de partida para o
conceito a desenvolver.
Alguns designers formalizam o seu conceito numa paleta (board) que mostram ao cliente,
evocando uma sensação inicial sobre a projecto a desenvolver. As paletas de conceitos ou
concept boards podem transmitir, com sucesso, a essência de um esquema decorativo, de
uma forma que, por vezes, as apresentações convencionais de materiais não conseguem.
Concept Board
A qualidade dinâmica deste concept
board reflecte o gosto diversificado
do cliente.
Uma imagem urbana surge
combinada com uma cena num
deserto, enquanto um forte
sentimento industrial contrasta com
sugestões de elementos artesanais.
São normalmente montadas como uma colagem de recortes de brochuras, jornais,
revistas, fotografias e desenhos, que ilustram o estilo ou ou tema que o designer tem em
mente. As imagens e combinações de diferentes cores podem ser obtidas de diversas
fontes, com imagens de jardins, moda ou gastronomia a serem tão inspiradoras quanto as
obviamente relacionadas com ambientes e decorações interiores.
Ir buscar inspiração a outras fontes alheias às revistas e brochuras de decoração de
interiores tem a vantagem de “forçar” o designer a expandir a sua imaginação.
Uma simples combinação de formas ou cores, ou até mesmo a linha de um vestido podem
plantar a semente de uma ideia que tem boas possibilidades de originar algo mais
inspirador e original do que a simples réplica de um design interior já existente. Estes
concept boards podem também incorporar texturas interessantes como as do papel,
amostras têxteis ou folhas.
DESENHAR IDEIAS
Depois de conseguirmos chegar a um conceito base, será necessário desenvolvê-lo e
apurá-lo. Para dar forma às ideias preliminares, o melhor método é o desenho ou o
esboço. Ainda que um designer de interiores não tenha que ser necessariamente um
excelente desenhador, um esboço, por muito rudimentar que seja, ajudará sempre na
visualização de uma ideia no espaço, permitindo ter uma noção sobre as suas
possibilidades de resultar ou não. Estes desenhos preliminares podem ser perspectivas
realizadas à mão levantada, ou layouts trabalhados em transparência sobre o
levantamento original.
Um dos factores que distingue o designer de interiores profissional do curioso ou do
amador é a capacidade de trabalhar tridimensionalmente e de visualizar uma ideia
particular no espaço.
DESENVOLVER UMA SOLUÇÃO DE DESIGN
Flexibilidade e uma mente aberta são essenciais para o desenvolvimento de espaços,
maximizando os seus aspectos funcionais e estéticos.
O processo criativo e de projecto pode, por vezes, ser tortuoso e pode parecer tentador
optar por desenvolver a primeira solução que encontramos.
No entanto, é importante para um designer seguir em frente e continuar a procurar
alternativas, das quais poderá emergir uma solução de design mais adequada.
Para além de factores básicos como o estilo, a escala e a proporção, existem muitos
outros factores a ter em conta quando projectamos um espaço que acomodará
determinadas actividades.
Os designers de interiores devem também preocupar-se com questões ambientais, por
exemplo, trabalhando com os clientes no sentido de projectar espaços saudáveis e onde
as futuras adaptações, que venham eventualmente a ser necessárias, possam ser feitas
da forma mais fácil e económica possível – adaptabilidade e reversibilidade.
Designers will always be needed for the perspective, balance and resources that they bring
to each project.
Eric Cohler – American designer