conceito de paisagem numa perspectiva geossistêmica

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  • Revista Ambientale UNEAL ISSN: 1984-9915

    Ano 4, Vol. 1, 2013

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    Conceito de Paisagem numa Perspectiva Geossistmica

    Vinicius da Silva SEABRA1, Raul Snchez VICENS2 &Carla Bernadete Madureira CRUZ3 1UERJ-FFP - Prof. Adjunto Depto. Geografia. [email protected]

    2UFF - Prof. Adjunto Depto.Geografia - 3UFRJ - Profa. Adjunta Depto. Geografia. [email protected]

    Resumo O presente trabalho tem como objetivo principal apresentar uma reflexo sobre o conceito de paisagem dentro de uma perspectiva geossistmica, resgatando principalmente as teorias discutidas pelas escolas russo-sovitica e alem de Geoecologia da Paisagem, que teve como principais precursores Passarge (1919); Solntsev (1948); Troll (1950); Ribchicov (1976) e Sotchava (1978). Sero ainda conceituadas as diferentes propriedades dos geossistemas, que dentro da abordagem utilizada, so consideradas as propriedades que caracterizam e individualizam os geossistemas, representando seu comportamento diante de presses que sofrem ou possam vir sofrer. Alm disso sero discutidas as estruturas da paisagem segundo a proposta de Rodriguez (2007) e a importncia da escala e outros conceitos espaciais para a anlise geoecolgica. Cabe ressaltar que esta proposta est vinculada ao projeto de cooperao intergovernamental CAPES BRASIL/MS CUBA intitulada Problemas ambientais e gesto ambiental de sistemas costeiros urbanizados atravs de uma anlise conjunta comparativa em litorais da provncia cidade de Havana-Cuba e Regio Norte Fluminense, RJ-Brasil. Palavras-Chave: Paisagem, Geoecologia, Geossistemas, Escala, Anlise Ambiental. Abstract The present study has as main objective to present a reflection on the concept of landscape from a geosystems perspective, rescuing the theories discussed mainly by schools and German-Russian Soviet of Geoecology Landscape that had as main precursors Passarge (1919); Solntsev (1948); Troll (1950); Ribchicov (1976) and Sotchava (1978). Will also be respected the different properties of geosystems, that within the approach used, are considered the properties that characterize and individualise the geosystems, representing his behavior before or pressures that might suffer. Furthermore we discuss the structures of the landscape as proposed by Rodriguez (2007) and the importance of scale and other spatial concepts for the geoecology analysis. It should be noted that this proposal is linked to intergovernmental cooperation project CAPES BRASIL/MS CUBA entitled "Environmental problems and environmental management of coastal systems through an urbanized joint comparative analysis of the coastal province of Havana City, Cuba and North Fluminense, RJ-Brazil. Keywords: Landscape, Geoecology, Geosystems, Scale, Environmental Analysis

    Evoluo do Conceito de Paisagem A Geografia configura-se como a cincia do espao, ou espacial, preocupando-se essencialmente como o estudo da ocorrncia e distribuio de feies, fenmenos e processos na superfcie terrestre. Explicar as razes que condicionam a localizao espacial de objetos e eventos na esfera terrestre um dos principais objetivos da Geografia, que desta maneira assume a responsabilidade de apresentar a razo lgica para a ocorrncia dos elementos que compem a superfcie do planeta, suas inter-relaes, e sua organizao no espao (GOMES, 1997). Neste sentido, podemos afirmar que o termo paisagem assume uma considervel importncia dentro da anlise espacial, constituindo-se como um conceito fundamental da Geografia. Significa afirmar que o estudo da paisagem configura-se, em sua essncia, em um estudo genuinamente geogrfico, possuindo um papel relevante para a evoluo desta cincia. Segundo Rodriguez et al. (2007) o estudo da paisagem tem incio no sculo XIX, j que as obras de Humboldt e Dokuchaev serviram de inspirao para diversos estudos geogrficos desenvolvidos posteriormente, servindo como referenciais tericos, principalmente, para a escola russo-sovitica e alem. Estas escolas concebiam a paisagem como um complexo natural integral formada por diferentes elementos biticos e abiticos presentes na biosfera terrestre, e tiveram como

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    importantes precursores autores como: Passarge (1919); Solntsev (1948); Troll (1950); Ribchicov (1976); Sotchava (1978); dentre outros. Dentro desta concepo, as paisagens podem ser consideradas como produto da interao entre seus elementos naturais formadores e suas permanentes modificaes condicionadas, ou no, pelas intervenes do homem. Ribchicov (1976), por exemplo, aponta que a tarefa da Geografia o estudo das paisagens naturais da superfcie terrestre, considerando: suas leis zonais e condies geoestruturais de surgimento; seu desenvolvimento; sua ciclagem de substncias e energia; e por fim, as intervenes do homem nesta paisagem (paisagem antroponatural). O autor aponta ainda que a diversidade de paisagens depende essencialmente das interaes entre: calor e umidade; as peculiaridades das morfoestruturas e litologias do terreno; assim como a crescente influncia do homem na paisagem. Significa afirmar que esta diversidade est estreitamente relacionada com a histria de desenvolvimento da esfera geogrfica em seu conjunto, e de suas distintas partes e componentes (RIBCHICOV, 1976). Baseando-se nas ideias de Troll (1950), que props a criao da Geoecologia da Paisagem como uma cincia que se basearia no estudo dos aspectos espao-funcionais dos elementos que compem e interagem na superfcie terrestre, Sotchava (1978) aponta como necessria a integrao da perspectiva espacial (geogrfica) e funcional (ecolgica) para compreenso da dinmica dos processos que ocorrem no planeta. Para realizao desta tarefa, Sotchava (1978) acabou incorporando o conceito de geossistemas dentro da anlise da paisagem. Suas ideias fundamentaram a Escola Siberiana de Paisagem, que defendia a possibilidade de estudarmos a paisagem dentro de uma concepo geossistmica, permitindo a interpretao da mesma em seu todo sistmico e, ainda, tornando possvel a compreenso de suas funes, inter-relaes, distribuies, formaes, estruturas e funcionamentos. Segundo Ross (2006) a escola russo-sovitico, atravs de Sotchava (1978), conceituava os geossistemas como sistemas dinmicos abertos e hierarquicamente organizados. Para compreenso destes sistemas em seus diferentes nveis hierrquicos, torna-se necessria a representao cartogrfica em diferentes escalas (multiescalaridade) exigindo ainda anlises geogrficas tambm em diferentes escalas e categorias (nveis de complexidade). Desta maneira estabeleceram-se como categorias de geossistema: os gemeros, que definem classes de geossistemas como estruturas homogneas; e os gecoros que definem classes de geossistemas como estruturas heterogneas. Estas unidades se dividem ainda em trs nveis taxonmicos, segundo sua escala de investigao, em: nvel topolgico, nvel regional e nvel planetrio. Segundo Rodriguez (2004; 2007) as escolas francesa e anglo-saxnica tm a gnese do conceito de paisagem baseada nas concepes de Sauer e Vidal de La Blanche, que concebiam a paisagem como um espao social, ou uma entidade perceptiva. A paisagem natural se traduzia acima de tudo como uma viso fragmentada dos componentes naturais. Casseti (2005) aponta que um dos maiores expoentes desta corrente, o gegrafo francs Jean Tricart (1977), resgata a discusso realizada por Deffontaine (1973), afirmando que a paisagem uma poro do espao perceptvel a um observador onde se inscreve uma combinao de fatos visveis e de aes das quais, num dado momento, s percebemos o resultado global. Divergindo da proposio anterior, Ross (2006), em EcoGeografia do Brasil, afirma que os pesquisadores franceses Tricart e Bertrand, tiveram sua inspirao nas obras e concepes geoecolgicas de Troll para desenvolverem suas prprias proposies terico-metodolgicas. Ross (2006) ainda destaca que a concepo de geossistema chega ao Brasil quando a obra original francesa de Bertrand (1968), Paysage et geographie physique globale: esquisse methodologique, traduzida para o portugus em 1971. Seguindo esta discusso, importante destacar que Bertrand (1971) enfatiza que a paisagem no uma simples adio de elementos geogrficos disparatados. Ela compreende determinada poro do espao resultante da combinao dinmica, portanto instvel, de elementos fsicos, biolgicos e antrpicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto nico e indissocivel, em perptua evoluo. O autor afirma ainda que a definio de uma determinada unidade de paisagem constituda em funo da escala de tratamento das informaes. Desta maneira, Bertrand (1971) aponta que a classificao das paisagens terrestres deve ser elaborada a partir de

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    nveis taxonmicos espao-temporais: zona, domnio, regio como unidades superiores; e como unidades inferiores, teramos: geossistema; geofceis e getopo. Portanto, nos anos 70, ainda que em diferentes concepes, e sobre forte questionamento da Geografia Crtica (que focou suas interpretaes geogrficas priorizando o conceito de espao, em detrimento da concepo de paisagem), os estudos de paisagem dentro de uma perspectiva geossistmica seguiram como uma importante ferramenta para uma investigao geogrfica integrada e funcional, em diferentes escolas de todo o mundo. Christofoletti (1998), por exemplo, baseava-se na concepo de que a paisagem se configura no conceito chave da Geografia que possibilita a compreenso do espao como um sistema ambiental, fsico e socioeconmico, com estruturao, funcionamento e dinmica dos elementos fsicos, biogeogrficos, sociais e econmicos. Turner et al. (2001) destacam que as paisagens so definidas como formaes caracterizadas pela estrutura e heterogeneidade na composio dos elementos que a integram (componentes geoecolgicos); pelas mltiplas relaes, tanto internas como externas; pela variao dos estados e pela diversidade hierrquica, tipolgica e individual. Ainda segundo o autor, a Ecologia de Paisagem analisa a interao entre os padres espaciais e os processos ecolgicos existentes; ou seja, as diferenciaes existentes da superfcie geogrfica ocorrem na forma dos sistemas naturais espaciais complexos (as paisagens), que se formam no processo de seu desenvolvimento, e que se manifestam ininterruptamente pela influncia dos fatores naturais e antropognicos. Sendo assim, os estudos que envolvem a Ecologia da Paisagem podem fornecer subsdios necessrios para uma melhor caracterizao ambiental, j que se baseiam na premissa de que os padres dos elementos da paisagem influenciam significativamente os processos ecolgicos. Assim, a capacidade de quantificar a estrutura da paisagem torna-se um pr-requisito para o estudo da funo e mudana da mesma. de considervel importncia demarcarmos conceitualmente bem a diferena entre a Ecologia da Paisagem e a Geoecologia da Paisagem. A Ecologia fundamentada na noo de ecossistema, dirigindo sua ateno maior aos seres vivos, organismos biolgicos, que so o centro do sistema. Porm, a necessidade de analisar os resultados das investigaes espaciais, dentro de uma perspectiva territorial, fez com que a Ecologia incorporasse sua base conceitual o componente espacial, fazendo uso do conceito de paisagem a partir deste momento (RODRIGUEZ, 2007). Assim, surge a Ecologia da Paisagem, que se dedica ao estudo das relaes entre os organismos vivos e os fatores ambientais presentes no espao, e entorno, de onde ocorrem estas relaes. A partir dos anos 60, como j foi mencionado anteriormente, Sotchava (1978) prope ir alm, considerando a integrao entre a dimenso espacial e a funcional para a compreenso da dinmica da paisagem, fundando neste momento a Escola Siberiana e a escola europia-oriental da Paisagem. A anlise complexa dos elementos que compem o espao geogrfico, e de suas interaes e funes ecolgicas, do origem Geoecologia da Paisagem.

    Para Pereira et al. (2001), a Ecologia da Paisagem baseia-se na premissa de que os padres dos elementos da paisagem influenciam significativamente os processos ecolgicos. Assim, a capacidade de quantificar a estrutura da paisagem um pr-requisito para o estudo de sua funo e mudana. Buscando uma relao entre os estudos geoecolgicos e as novas geotecnologias, Frohn (1998) afirma que os indicadores da paisagem so empregados para gerar dados quantitativos de padres espaciais, relativos a reas, observados em um mapa ou imagem de sensoriamento remoto. Podemos observar um mapa ou imagem e notar a existncia de diversos padres, que variam segundo a sua escala, ou resoluo, de representao. Segundo Rodriguez (2004) a paisagem um sistema espao-temporal, uma organizao espacial complexa e aberta formada pela interao entre componentes ou elementos fsicos (estrutura geolgica, relevo, clima, solos, guas superficiais e subterrneas, vegetao e fauna) que podem em diferentes graus, ser transformados ou modificados pelas atividades humanas. Sendo assim, o autor considera como o estudo da paisagem o conjunto de mtodos e procedimentos tcnicos e analticos, que permitem conhecer e explicar as regularidades da estrutura e funcionamento das paisagens, estudar suas propriedades, e determinar os ndices e os parmetros sobre a dinmica, a histria do desenvolvimento, os estados, os processos de formao e transformao, assim como os aspectos relacionados com a autoregulao e integrao das paisagens.

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    A partir destas reflexes premissas, podemos considerar que as paisagens so formadas por diferentes fatores geoecolgicos, e definidas como formaes complexas caracterizadas pela estrutura e heterogeneidade na composio destes elementos que a integram (seres vivos e no vivos); pelas mltiplas relaes, tanto internas como externas; pela variao dos estados; e pela diversidade hierrquica, tipolgica e individual. Devemos ainda considerar ainda as sucessivas transformaes e intervenes efetuadas pelo componente antrpico, que agindo sobre estas paisagens, alteram seu estado e funcionamento. Propriedades de um Geossistema Geossistema uma dimenso do espao terrestre onde os diversos componentes naturais apresentam-se em conexes sistmicas uns com os outros, possuindo uma integridade definida, interagindo com a esfera csmica e com a sociedade humana (fig. 1). As propriedades de um geossistema so aquelas que os caracterizam, que os individualizam, e que representam seu comportamento diante de presses que sofrem ou possam vir sofrer. As presses exercidas sobre os geossistemas podem ser de origem externa ou interna, e sob estas presses, os sistemas podem vir a sofrer mudanas, adquirindo novas propriedades, perdendo suas caractersticas iniciais (RODRIGUEZ, 2007). Podemos considerar como propriedades de um geossistema os seguintes aspectos: 1- Gnese; 2- Funcionamento; 3- Estrutura; 4- Estado; 5- Estabilidade; 6- Autorregulao; 7- Capacidade Adaptativa; 8- Resistncia; 9- Resilincia. A gnese da paisagem est relacionada aos processos e interaes responsveis pela formao da paisagem, ao longo do espao e do tempo. Para compreender a gnese de uma paisagem torna-se importante, portanto, estudar no s os processos atuais, como tambm as principais mudanas ocorridas no seu passado.

    Figura 1. Propriedades de um Geossistema

    O funcionamento do geossistema constitui-se no cumprimento das funes, aes e trabalho de uma determinada paisagem. Neste processo ocorrem intercmbios de substncias e energia, decorrentes das interaes existentes entre seus componentes e tambm do geossistema com o

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    exterior. A paisagem, como um geossistema em funcionamento, cria biomassa, solo, hmus, sais e etc. e tambm pode armazenar e conservar energia (RODRIGUEZ, 2007). J a estrutura da paisagem representa a forma pelo qual os componentes do geossistema se organizam espacialmente, e em como, em razo desta espacializao, se do suas inter-relaes e interaes com o meio exterior. Segundo Beroutchachvili e Panareda (1977), a estrutura e o funcionamento do geossistema mudam ao longo do ano. Estas mudanas apresentam-se em uma sucesso de perodos mais ou menos curtos, durante os quais a estrutura e o funcionamento possuem caractersticas comuns. Podemos assim, definir o estado do geossistema como as caractersticas de estrutura e funcionamento da paisagem, em intervalos de tempo onde a energia exterior de entrada e de sada do geossistema sejam as mesmas. O estado de um determinado geossistema pode, por exemplo, se alterar da estao mida para a estao seca, e retornar ao seu estado inicial na prxima estao mida (estados de mdia durao). Ou estas mudanas podem ocorrem ao longo de um nico dia, em reas, por exemplo, sobre constante efeito da mar (estados de curta durao). Ou at mesmo situaes em que as mudanas podem ocorrer ao longo de centenas de anos, como, por exemplo, aqueles sujeitos s mudanas geolgicas ou climticas. No entanto, se alguma interveno altera o funcionamento e a estrutura de um geossistema, provocando uma cadeia de mudanas que desarticule e debilite a integridade entre os seus componentes, podemos dizer que o seu estado foi perturbado, assim como a sua estabilidade foi comprometida. O sistema instvel, ou sem estabilidade, aquele que perdeu os seus mecanismos de autorregulao. Quando a autorregulao afetada, as entradas e sadas do geossistema ocorrem desproporcionalmente, perdendo ainda a capacidade de retornar ao seu estado inicial no tempo previsto. Nesta situao, manifestam-se problemas ambientais de diferentes intensidades, e percebe-se ainda a incapacidade do sistema de cumprir plenamente os seus servios ou funes ambientais (Fig. 2).

    Figura 2. Estabilidade e desequilbrio do sistema.

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    Tomemos como exemplo hipottico uma paisagem formada por um grande fragmento de floresta estacional decidual sub-montana. Seu funcionamento e estruturas so caracterizados por dois importantes momentos, que variam ao longo de todo ano. O primeiro momento ocorre no perodo de chuvas, em que podemos dizer que as espcies vegetais arbreas possuem quase que todas as suas folhas, os nveis de evapotranspirao mantm-se altos, a eroso dos solos baixa, a umidade do ambiente alta, etc. O segundo momento caracterizado pela perda parcial das folhas, aumento (ainda que pequeno) dos nveis de eroso, menor evapotranspirao, menor umidade no ambiente, etc. As mudanas climticas desta regio condicionam estas alteraes de estado, e o geossistema, a partir dos seus mecanismos de autorregulao (ex: perda das folhas), funciona nessa estrutura ao longo de todo ano. No entanto, se por algum motivo esta floresta for desmatada, teremos a estabilidade da paisagem comprometida. Sem floresta, todos os aspectos podem mudar nos dois momentos, onde, por exemplo, a eroso pode aumentar e se tornar mais significativa no perodo mido que no perodo seco. Aquela antiga paisagem que era uma importante fonte de gua, que mantinha um determinado microclima, e que servia como habitat de inmeras espcies, pode ter perdido todas das suas mais importantes funes ambientais (RODRIGUEZ, 2007). Algumas outras intervenes, no to expressivas como a do exemplo anterior, podem provocar mudanas que forcem o geossistema a buscar uma nova organizao interna, ou uma readaptao quele novo cenrio ambiental. Se neste caso, o sistema conseguir manter algumas de suas importantes funes ambientais, podemos dizer que possui uma considervel capacidade adaptativa. A resistncia de um geossistema a capacidade do mesmo em absorver determinadas perturbaes e permanecer inalterado, sem experimentar mudanas irreversveis (fig. 3). J a resilincia, ou tolerncia, a capacidade das paisagens de suportar impactos internos e externos, passando de um estado de estabilidade a outro (fig. 4). Perante uma perturbao, a resilincia permite que o geossistema conserve as relaes estruturais internas, absorvendo as mudanas e flutuando dentro de certos limites para voltar a seu estado original. Quanto mais adaptada seja a paisagem s condies abiticas externas, maior ser sua capacidade de responder s presses desestabilizadoras (RODRIGUEZ, 2007).

    Figura 3. Capacidade adaptativa e resistncia dos geossistemas.

    Scarano e Esteves (1998) definiram resilincia como a rapidez com que as variveis de um

    sistema retornam ao equilbrio aps um distrbio, ou como a capacidade com que um ecossistema lida com flutuaes internas provocadas por distrbios naturais ou antrpicos. A resilincia medida em quantidade de tempo, e quanto menos resiliente, mais frgil o ecossistema. Desse modo, a velocidade de regenerao de uma floresta tropical depender da intensidade e do tipo de perturbao sofrida (fig. 4).

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    Figura 4. Resilincia dos geossistemas.

    Seguindo estas concepes, podemos afirmar que quanto maior a resilincia de um sistema, maior ser a sua capacidade de recuperao. Os sistemas com alta resilincia recuperam-se sem a necessidade de intervenes, desde que as presses que afetaram seu equilbrio sejam mitigadas e no ultrapassem seu limiar de estabilidade. Os sistemas que apresentam baixa resilincia necessitam de intervenes para se recuperar, mesmo depois da mitigao das presses e perturbaes que causaram seu desequilbrio. Neste caso, o tempo para esta recuperao depender do nvel de degradao (ou desequilbrio) do sistema, e tambm da intensidade da interveno (fig. 5).

    Figura 5. Alta Resilincia dos geossistemas.

    Estruturas da Paisagem De acordo com Rodriguez et al. (2004), a superfcie geogrfica constituda por paisagens de diversas ordens, complexidades e tamanhos, que se agrupam nos nveis globais, regionais e locais. As paisagens de nvel local tm em sua formao a relevncia no somente das diferenciaes antes encontradas nos nveis regional e global, mas tambm os resultados do autodesenvolvimento interno prprio dos geossistemas, ou seja, a interao complexa entre os diversos geocomponentes. As paisagens de nvel regional abrangem desde continentes, at regies geogrficas. So geossistemas de estruturas complexas, interiormente heterogneas, formadas pela associao, no s de unidades ou locais elementares, como tambm regionais (as diversas partes constituintes tm diferentes idades e estgios de desenvolvimento). Por fim, o nvel global representado por toda Biosfera Terrestre, ou seja, por todos os espaos do planeta Terra onde possvel a ocorrncia de vida. A estrutura vai alm da composio dos elementos existentes no sistema, incorporando tambm as relaes estabelecidas entre tais elementos. A estrutura espacial define a organizao da distribuio dos componentes e formas presentes na paisagem buscando, portanto, as relaes espaciais que explicam o arranjo dos objetos geogrficos que a compe. Este conhecimento pode ser til para a avaliao quantitativa do grau de complexidade da estrutura paisagstica para diversos estudos de natureza cientfica.

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    Segundo Rodriguez et al. (2004), a estrutura da paisagem, fundamentada no sistema de relaes inferiores entre suas partes componentes, podem ser diferenciadas (qualificadas e quantificadas) a partir de sua organizao horizontal (estrutura horizontal), por sua organizao vertical (estrutura vertical), ou ainda a partir de sua estrutura vetorial. A anlise da estrutura horizontal da paisagem d uma ateno especial s suas particularidades geomtricas (mtricas), que so o conjunto de propriedades que incluem apenas as caractersticas geomtricas dos elementos que formam a paisagem. Inclui-se nesta anlise a composio da estrutura da paisagem (nmero e rea de componentes e contornos); peculiaridades das formas do contorno (anlise da forma dos contornos); peculiaridades da orientao dos contornos, peculiaridades da situao dos contornos, relaes de posio e de contrastes (carter de vizinhana, topologias).

    A estrutura vertical da paisagem formada pela composio e inter-relaes entre os elementos e componentes da paisagem. O carter das relaes entre os componentes da paisagem pode ser caracterizado por medies da frequncia de relaes, analisada a partir de uma matriz de relaes que indica a porcentagem de ocorrncia para cada tipo de componente e as frequncias de inter-relaes entre estes componentes. Esta anlise pode nos dizer, por exemplo, o tipo de relevo que condiciona a formao de um solo, e por consequncia permite a fixao de um tipo de vegetao, ou ainda apontar os fatores limitantes, como uma formao litolgica que impossibilita a formao de determinado tipo de solo, que limita a fixao de um determinado tipo de vegetao.

    O componente atmosfrico de uma paisagem, ainda que seja muito instvel, pode ser determinado a partir de propriedades e associaes particulares, caracterizados por seu microclima. Os elementos da hidrosfera (guas superficiais e subterrneas, atmosfricas e do interior de solo), tero seu carter de distribuio, acumulao, regime, circulao, composio qumica e outros fatores, dependentes das condies biticas, sociais e fsicas presentes no interior de cada paisagem. O solo de uma determinada paisagem produto das interaes existentes entre a litologia, relevo, clima, vegetao e fauna. O mesmo pode ser dito em relao fauna e flora de outras reas. Rodriguez (1984) aponta ainda a existncia de um terceiro tipo de estrutura da paisagem, denominada como estrutura funcional (vetorial). Esta estrutura consiste no intercmbio (fluxos) de energia e substncias que ocorre entre os diversos elementos que compem esta paisagem, e desta paisagem com o exterior. So processos em que se cumprem funes, aes e determinado trabalho. A concepo da estrutura vetorial preocupa-se em descrever o funcionamento da paisagem. Nela podemos considerar, por exemplo, os fluxos hidrolgicos, fluxos hidrogeolgicos, a sucesso ecolgica, e at mesmo as aes humanas voltadas para a preservao e/ou conservao do funcionamento do geossistema, como por exemplo, a criao de unidades de conservao. Odum (1971) define a como sucesso ecolgica, como um processo ordenado de desenvolvimento da comunidade que envolve alteraes na estrutura especfica e nos processos da comunidade com o tempo, sendo razoavelmente dirigido e, portanto, previsvel. Alm disso, este resulta da modificao do ambiente fsico pela comunidade, isto , a sucesso controlada pela comunidade, embora o ambiente fsico determine o padro e o ritmo de alterao e imponha com frequncia limites possibilidade de desenvolvimento. Por fim, a sucesso culmina num ecossistema estabilizado, no qual so mantidos, por unidade de corrente e de energia disponvel, a mxima biomassa (ou elevado contedo de informao) e a funo simbitica entre os organismos importante, portanto, compreender que as estruturas das paisagens dependem dos processos causadores das mudanas de seus componentes e tambm do tempo e histria de formao da paisagem. medida que estes complexos naturais (paisagens) se tornam mais antigos, e na medida em que menor a influncia dos processos antrpicos negativos em suas diferentes partes, mais complexas sero suas estruturas.

    Na paisagem constantemente se acumulam e surgem novos elementos, novas combinaes, que gradativamente conduzem formao de novas paisagens ou a converso de uma paisagem em outra. Naturalmente ocorre o processo de autodesenvolvimento, que se concebe de maneira relativamente lenta, e muitas vezes cclica, geralmente provocada por fatores externos. As influncias externas podem, no s desviar o desenvolvimento de uma paisagem em outra direo, como pode

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    provocar a completa transformao de todo complexo natural. Temos como exemplo os perodos glaciais, que cobriram extensas paisagens com enormes camadas de gelo.

    Podemos afirmar, portanto, que as estruturas so mveis, em curso numa longa histria, e dependente de diversos processos naturais. Os deslizamentos podem, por exemplo, alterar parcialmente ou destruir por completo a estrutura dos complexos naturais. Os furaces, inundaes, erupes vulcnicas tambm podem provocar significativas mudanas na estrutura vertical de uma dada paisagem. A atividade humana pode alterar profundamente as caractersticas de uma paisagem em todas as suas estruturas. Estas intervenes ocorrem e causam alteraes em todas as escalas (locais, regionais, globais) e em diversas intensidades. Sem dvida, as mudanas mais visveis ocorrem nas escalas locais, ou seja, nos nveis inferiores. As mudanas graduais das paisagens so dificilmente compreendidas graas a ocorrncia de diferentes alteraes cclicas, dando ao processo de desenvolvimento da paisagem um carter repetitivo (reversvel). No entanto, atualmente, a evoluo natural das paisagens tem sido diretamente alterada, principalmente em funo da influncia das atividades humanas, e suas mudanas na ocupao e uso do espao geogrfico. Escalas, resolues, hierarquizaes e anlise da paisagem

    Huggett (1995) destaca que mltiplos processos ocorrem nos geossistemas, em diferentes abrangncias e temporalidades. Desta maneira, os estudos da paisagem devem utilizar diferentes abordagens, considerando a escala geogrfica de anlise, a escala cartogrfica de representao, as diferentes resolues de imagens e os diferentes nveis de organizao das paisagens. Lang & Blaschke (2009) apontam como importantes para a operacionalizao dos estudos em paisagem, tanto na sua delimitao como categorizao, a considerao de aspectos relacionados escala, resoluo, preciso e agregao. Bertrand (1971) destaca que a representao cartogrfica das paisagens exige um inventrio geogrfico completo e relativamente detalhado. O autor destaca a importncia da considerao das escalas temporais e espaciais para os estudos geogrficos, correlacionando-as a distintas etapas de anlise e diferentes processos de hierarquizao da paisagem. Portanto, entende-se que fundamental a discusso dos conceitos de: generalizao; escala geogrfica; escala cartogrfica; escala temporal; resolues; e hierarquizaes, dentro de estudos voltados para a anlise da paisagem.

    A escala cartogrfica, indicada nos mapas graficamente (escala grfica) ou por nmeros fracionados (escala numrica), dada pela razo entre uma medida efetuada sobre o mapa e sua medida real na superfcie terrestre. Significa portanto, que as medidas de comprimento e de reas efetuadas no mapa tero representatividade direta sobre seus valores reais no terreno (PINA & CRUZ, 2000). A viso humana limitada pela identificao de representaes lineares de aproximadamente 0,2mm. No entando, os pontos sero somente perceptveis se possurem dimetros iguais ou maiores a aproximadamente 0,2 mm de dimetro. Com isso, adota-se o valor de 0,2mm como o menor detalhe percebido, ou seja, o menor objeto representvel ter no mnimo este tamanho. Logo, a escolha da escala cartogrfica deve, entre outras coisas, considerar as dimenses dos objetos que sero representados. Escalas cartograficamente maiores representam um nvel de detalhamento maior que em escalas menores, abrangendo, por sua vez, reas menores da superfcie terrestre. Reduzir uma escala significa aplicar o principal fator de generalizao cartogrfica. Isto implicar no estabelecimento de um nvel de detalhamento da prpria informao que estiver sendo representada. Com isso a informao poder ser analisada segundo diferentes nveis de detalhamento, ocasionando distintas possibilidades de interpretaes (MENEZES & COELHO NETTO, 1997).

    Segundo Goodchild & Quattrochi (1997) o conceito de escala no se prende somente idia de abrangncia (extenso geogrfica) ou nvel de detalhamento da representao (nvel de resoluo da informao geogrfica), como tambm contextualizada de outra forma pela Geografia (escala geogrfica) e ainda em outras dimenses, como a que tratada a escala temporal.

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    Em Geografia, e tambm para os estudos de paisagem, a escala discutida como uma estratgia de apreenso da realidade, que define o campo emprico da pesquisa, ou seja, os fenmenos que do sentido ao recorte espacial objetivado. Mesmo sendo passvel de representao cartogrfica, os nveis de abstrao para a representao que confere visibilidade ao real so completamente diferentes da objetividade da representao grfica (mapa) deste mesmo real, que pode ser o lugar, a regio, o territrio nacional, o mundo (CASTRO, 2002).

    Neste caso, a escala tambm uma medida escolhida para melhor observar, dimensionar e mensurar o fenmeno. O que visvel no fenmeno e que possibilita sua mensurao, anlise e explicao dependem da escala de observao, alm da projeo e do datum da representao. Assim, a anlise geogrfica dos fenmenos requer objetivar os espaos na escala em que eles so percebidos. O fenmeno observado, articulado a uma determinada escala, ganha um sentido particular. To importante como saber que as coisas mudam com o tamanho, saber exatamente o que mudou e como. O surgimento de novas tecnologias relacionadas aquisio e manipulao de dados e/ou informaes geogrficas, destacadamente os sistemas de informaes geogrficas (SIGs), o sensoriamento remoto (SR) em base orbital e o GPS (Global Position System), introduziram outras interpretaes para o conceito de escala, envolvendo questes de multiescalaridade, resoluo e generalizao cartogrfica, alm de outros significativos incrementos em percepo de detalhes e abrangncia. Goodchild & Quattrochi (1997) destacam que os SIGs abriram a possibilidade de trabalharmos a paisagem dentro de uma perspectiva multiescalar, j que tornou possvel a incorporao, manipulao e visualizao de informaes em diferentes escalas dentro de um mesmo banco de dados geogrficos (BDGs). Menezes & Coelho Netto (1997) destacam que em relao a multiescalaridade, deve-se verificar o nvel de alterao que cada base de informao deve sofrer para a criao de uma base nica, compatvel com todas as informaes analisadas. A integrao de dados em diferentes escalas sob essa base nica acarretar em erros e perdas de informaes de diferentes nveis, que gera a necessidade de conhecimento preciso do quanto se erra neste processo de compatibilizao. O uso de novos produtos de sensoriamento remoto, sobretudo os de base orbital, tambm gera interessantes discusses em torno do conceito de escala. Esta discusso inicia-se com as imagens produzidas pelos sensores existentes, que nos diversos satlites so caracterizadas por suas resolues. A resoluo espacial definida pela capacidade do sensor em distinguir os objetos ou feies na superfcie terrestre de acordo com seus tamanhos, ou seja, quanto menor o objeto que pode ser detectado na superfcie, dizemos que melhor a resoluo espacial do sensor. Esta resoluo expressa em funo do tamanho do pixel em unidades do terreno (INPE, 2006).

    Deste forma, o conceito de resoluo espacial se aproxima muito do conceito de escala cartogrfica, apesar de seus significados serem diferentes. A capacidade apresentada pelo sensor1 em detectar feies ou objetos na superfcie terrestre impe uma discusso sobre seus limites ou erros, no que se refere a sua preciso na representao da forma e de localizao, que devero enquadrar-se dentro do que se considera aceitvel.

    O uso dos produtos de SR leva ainda em considerao um novo aspecto dimensional, que o temporal. A resoluo temporal de um sensor, ou o tempo de revisita de um satlite, facilita, e em alguns casos torna possvel, a execuo de estudos em intervalos de tempo pr-definidos (aspecto de durao ou tempo de anlise). Quando consorciados, as ferramentas de anlise e geoprocessamento, permitem a construo de cenrios futuros, trazendo para pauta a discusso sobre a escala temporal.

    A Geoecologia baseia-se na premissa de que os padres dos elementos da paisagem influenciam significativamente os processos ecolgicos. Assim, a capacidade de quantificar a estrutura da paisagem um pr-requisito para o estudo da funo e mudana de paisagem. Segundo Carro et al. (2001), as muitas medidas quantitativas de composio da paisagem, conhecidas como mtricas ou

    1 A capacidade do sensor depende ainda de sua acurcia, ou seja, de aspectos relacionados geometria de aquisio, estabilidade, etc.

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    indicadores de paisagem, ganham cada vez mais ateno, na medida em que ajudam a compreender sua estrutura complexa e a forma como esta influencia determinadas relaes ecolgicas.

    Esta estrutura caracteriza a forma de sua organizao interior, as relaes entre os componentes que a formam e das subunidades de paisagens de categoria inferior (nveis regionais e locais). Rodriguez et al. (2004) afirmam a importncia da representao das estruturas da paisagem em mapas, servindo como resultado das investigaes e ao mesmo tempo como ponto de partida para anlises futuras. Neste contexto o autor aponta a importncia destes estudos para o planejamento ecolgico e define as estratgias de investigao de acordo com os diferentes nveis espaciais (escalas cartogrficas) e sistemas territoriais administrativos (quadro 1).

    Segundo o autor, o processo de classificao tipolgica da paisagem serve como estratgia de hierarquizao, e apresenta-se como um mtodo de distino de classes a partir de semelhanas entre os elementos abiticos existentes em um dado recorte espacial, seguindo padres de homogeneidade previamente definidos. Neste processo de classificao teremos a distino da paisagem em diferentes nveis, do nvel de maior a de menor complexidade.

    Quadro 1: Nveis espaciais e estgios de estudo do planejamento ecolgico2

    Sistema Territorial

    Administrativo

    Estgio e Estudo

    Escala de Nvel Espacial

    Informao Geoecolgica Necessria

    Pas Esquema Geral 1:5.000.000

    Regionalizao geogrfica (unidades superiores). Mapa de paisagens em pequena escala (nvel regional). Investigaes setoriais e de reconhecimento.

    Estado Esquema Regional

    1:1.000.000 1:500.000

    Regionalizao geoecolgica (unidades intermedirias e maiores). Mapa de paisagens em escala mdia (nvel localidade). Levantamentos gerais: distino e cartografia das unidades. Critrio e propriedade ecogeogrficas. Estimativa do estado.

    Municpio Projeto de Planejamento Municipal

    1:250.000 1:100.000

    Mapa de paisagens em escala mdia (nvel localidade). Levantamentos das propriedades das paisagens (estrutura, funcionamento, dinmica, evoluo). Avaliao do Potencial (capacidade de uso)

    Distrito Projeto de Planejamento

    1:50.000 1:10.000

    Mapas de paisagem em grande escala, prognstico de mudanas, determinao de indicadores geoecolgicos integrais. Investigaes semi-estacionrias. Anlise de susceptibilidade ambiental. Avaliao de Ambientes alternativos.

    Localidade Projetos Microregionais

    1:5000 1:1000

    Mapas de paisagens em escala detalhada. Intercmbio horizontal de fluxos EMI. Investigaes estacionais e semi-estacionais.

    Fonte: Rodriguez et al. (2004)

    No mapeamento tipolgico das paisagens do Cear, por exemplo, Rodriguez (2004) classificou a paisagem em: tipo, subtipo, classe, grupo, subgrupo e espcie. Para a classificao dos nveis superiores, so considerados aspectos relacionados ao clima e estrutura geolgica. Nos nveis seguintes, passam a ser considerados aspectos geomorfolgicos, pedolgicos e outros aspectos abiticos. Por fim, no nvel mais detalhado, so considerados os usos presentes em cada uma das

    2 O quadro 1 traz sugestes de escalas de anlise considerando as particularidades do territrio cubano. Estas escalas podem ou no atender s necessidades da realidade brasileira, sendo recomendvel a adoo de adaptaes para seu uso.

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    tipologias encontradas. A partir deste mapa, foram classificadas as vulnerabilidades das diversas tipologias desertificao, em todo estado do Cear.

    Segundo Bertrand (1971) o sistema de classificao da paisagem comporta seis nveis espao-temporais; de uma parte a zona, o domnio e a regio natural; de outra parte, o geossistema, o geofcies e o gotopo. Zona corresponde primeira ordem de grandeza, e definida, primeiramente por sua zonalidade climtica e secundariamente pelas megaestruturas geolgicas. O Domnio corresponde segunda ordem de grandeza e representa divises dentro de uma mesma zona. A Regio Natural compreende a terceira e a quarta ordens de grandeza, estando ela bem delimitada no interior de um domnio.

    Ainda segundo Bertrand (1971), o Geossistema "resulta da combinao local e nica de uma srie de fatores (sistema de declive, clima, rocha, manto de decomposio, hidrologia das vertentes) e de uma dinmica comum (mesma geomorfognese, pedognese idntica, mesma degradao antrpica da vegetao que chega ao paraclimax lande podzol ou turfeira)". O geofceis, que ocorre no interior de um geossistema, e corresponde a um setor fisionomicamente homogneo onde se desenvolve uma mesma fase de evoluo geral do geossistema. O getopo, pode ser definido como a menor unidade geogrfica homognea diretamente discernvel no terreno. Sendo assim, considera-se de grande importncia a discusso sobre o emprego correto dos conceitos de escala cartogrfica, escala geogrfica, escala temporal, erro cartogrfico, generalizao geomtrica, generalizao semntica e resoluo espacial. A desconsiderao destes importantes fatores, ou o emprego indevido destes conceitos, pode levar a anlises incorretas sobre a distribuio espacial de importantes elementos da paisagem e, por conseguinte, a decises equivocadas sobre o gerenciamento e gesto do territrio. Alteraes de escala, e consequentemente de generalizao cartogrfica, promovem mudanas no somente nos clculos de rea dos elementos analisados, como tambm alteraes na rea da matriz de uso e dos principais fatores relacionados mtrica da paisagem, ou de anlise da sua estrutura horizontal, como de nmero e rea total dos fragmentos, permetro total, rea mdia, forma ou circularidade (rea/permetro), aspectos de vizinhana, e outros. Esta proposta est vinculada ao projeto de cooperao intergovernamental CAPES BRASIL/MS CUBA intitulada Problemas ambientais e gesto ambiental de sistemas costeiros urbanizados atravs de uma anlise conjunta comparativa em litorais da provncia cidade de Havana-Cuba e Regio Norte Fluminense, RJ-Brasil. Referencias BEROUTCHACHVILI, e PANAREDA, J.M. Tendencia actual de la ciencia del paisaje en la Unin Sovitica: El estudio de los geosistemas en la estacin de Martkopi (Georgia). Revista de Geografia, Barcelona. vol. 11, n. 1-2, pp. 23-36. 1977. BERTRAND, G. Paysage et gographie physique globale: esquisse mthodologique. Revue gographique des Pyrnes et sud-ouest, v. 39, fasc. 3, p. 249-272, 3 fig., 2 pol. Phot.h.t. 1968. BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Fsica Global Esboo Metodolgico.in: Cadernos de Cincias da Terra, n 13 IG/USP. So Paulo. 1971. CARRO, H.; CAETANO, M.; NEVES, N. LANDIC: Clculo de indicadores de paisagem em ambiente SIG. In: Encontro de Utilizadores de Informao Geogrfica - ESIG 2001, 6., Oeiras, Portugal, 28-30 nov., 2001. Anais. Lisboa: Associao dos Utilizadores de Sistemas de Informao Geogrfica - USIG, 2001. Acessvel em http://esig2001.tripod.com. Consultado em 2/10/2007. 2001. CASSETI, Valter. Geomorfologia. : Disponvel em: . Acesso em: Abril de 2011. 2005. CASTRO, In Elias. O Problema da Escala. In: Geografia Conceitos e Temas. 4 Ed. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 2002. CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de sistemas ambientais. So Paulo: Edgar Blcher, 1998. DEFFONTAINE, J.P. Analyse du paysage et etude rgionale des systmes de production agricole. Economie Rurale. n. 98, p. 3-13, 1973.

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