comunidades sustentáveis num mundo em integração

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Comunidade Internacional Bahá'í

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Declaração preparada pela Comunidade Internacional Bahá'í para a Conferência de Assentamentos Humanos da ONU (Habitat II), em 1996, Istambul, Turquia. Tendo como base que progresso material deve refletir os princípios e prioridades espirituais em toda suas formas.

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Comunidade Internacional Bahá'í

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Esta declaração foi preparada pela Comunidade Internacional Bahá'í para a Conferência de Assentamentos

Humanos da ONU (Habitat II), 3-14 de junho de 1996, Istambul, Turquia.

Comunidade Bahá'í do Brasil Caixa Postal 7035

71619-970 BRASÍLIA-DF Fone: 061-248-4718 Fax: 061-248-4321

Novembro, 1996

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COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS NUM MUNDO EM INTEGRAÇÃO

Aof|proxirnar-sè o século 21, ôs governos Jprganizações e povos estão despendendo imensas energias pajf desenvolver comunidades que sejam socialmente vibrantes, unidas e prósperas. A Conferência de Assentamentos Humanos da Or­ganização das Nações Unidas (Habitat II), que tem como ponto de partida as principais conferências globais desta década, é um marco nesses esforços e pressagia importantes avanços no desenvolvimento comunitário.

A longo prazo, contudo, os esforços de construção co­munitária só terão sucesso na medida em que unirem o j|gpgresso material às aspirações espirituais básicas, respon«rem à crescente interdependência dos povos e nações da planeta, e estabelecerem ú%a estrutura na qual todo1! os povos possam tornar-se participantes ativos riâ governança de suas sociedades.

É desses três elementos fundamentais das comunidades sustentáveis que tratam os seguintes comentários.

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O progresso material deve refletir os princípios e prioridades espirituais

As comunidades devem promover uma cultura na qual o desenvolvimento moral, ético, emo­cional e intelectual do indivíduo seja a preocupação pri­mordial.

A natureza humana é fundamentalmente espiritual. Por isso, é improvável que as comunidades se mostrem prósperas e sustentáveis a menos que levem em conta a dimensão espiritual da realidade humana e busquem promover uma cultura na qual o desenvolvimento moral, ético, emocional e intelectual do indivíduo seja a preocupação principal. É em tal ambiente que o indivíduo tem mais probabilidades de tornar-se um cidadão orientado para o serviço e construtivamente engajado, traba­lhando pelo bem-estar material e espiritual da comunidade; é em tal ambiente que uma visão comum e um senso comparti­lhado de propósito podem desenvolver-se de maneira eficaz.

Segue-se que os aspectos materiais do desenvolvimento comunitário — políticas ambientais, econômicas e sociais; sistemas de produção, distribuição, comunicação e transporte; e processos políticos, legais e científicos — devem ser impulsionados por princípios e prioridades espirituais. Hoje, no entanto, a substância e a direção do desenvolvimento comu­nitário são em grande parte determinadas por considerações de ordem material.

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Em toda comunidade, a liberdade religiosa deve ser assegurada, incluindo o direito de estabelecer centros de culto.

Nosso desafio, portanto, é reprojetar e desenvolver nossas comunidades em torno daqueles princípios universais — incluindo o amor, a honestidade, a moderação, a humildade, a hospitalidade, a justiça e a unidade — que promovem a coesão social e sem os quais nenhuma comunidade, não importa quão próspera economicamente, quão dotada intelectualmente ou quão avançada tecnologicamente, pode subsistir por muito tempo.

Entre as considerações e princípios que devem guiar esse empreendimento estão os seguintes:

* A proteção da família e a promoção de seu bem-estar devem tornar-se o centro dos processos comunitários. A família é a instituição primária da sociedade e a principal incubadora de valores, atitudes, crenças e comportamentos. Quando é espiritualmente saudável, ela contribui de modo significativo para o desenvolvimento de cidadãos felizes e responsáveis.

* Os projetos físicos, sociais, econômicos, legais e políticos de nossas comunidades devem servir a todos os membros da sociedade e não apenas aos privilegiados. Uma sociedade verdadeiramente justa e eqüitativa precisará de ci­dadãos que compreendam que os interesses do indivíduo e os da comunidade estão inextricavelmente ligados; que o avanço dos direitos humanos requer pleno compromisso para com as responsabilidades correspondentes; e que quando as mulheres são acolhidas em plena parceria com os homens em todos os campos do empreendimento humano, as famílias, comunidades e nações irão prosperar e avançar.

* O trabalho é, além de um meio de sustento para o indivíduo, sua maneira de contribuir para a prosperidade da comunidade como um todo. Nesse sentido, o planejamento ajuda a dar sentido à vida de uma pessoa. Portanto, o projeto comuni­tário deve assegurar que as energias criativas do indivíduo tenham um canal de aplicação útil no qual possam expressar-se. Por sua parte, o indivíduo deve assumir a responsabilidade de levar em frente este encargo. O progresso nesta área dará grande impulso à eliminação dos extremos de riqueza e pobreza no mundo.

* "A religião", afirmam as Escrituras Bahá'ís, "é o maior

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A unidade na diversidade é ao mesmo tempo uma visão para o futuro e um princípio que guiará a comu­nidade mundial em sua resposta aos de­safios da interde­pendência e inte­gração.

de todos os meios para o estabelecimento da ordem no mundo e para o contentamento pacífico de todos os que nele habitam." (1) Em toda comunidade, portanto, a liberdade religiosa deve ser assegurada, incluindo o direito de estabelecer casas de adoração. (2) Estes locais proporcionam um ambiente para a prece e a meditação — atos de devoção através dos quais o indivíduo pode aproximar-se ao Criador e assim fortalecer suas capacidades espirituais para o sacrifício e o serviço. Enquanto monumentos físicos, esses prédios também servem freqüentemente para expressar o gênio cultural da sociedade.

* A promoção da beleza, seja ela natural ou nascida da mão humana, deve tornar-se um princípio orientador no planejamento comunitário, pois a beleza pode tocar o coração e inspirar a alma aos mais nobres sentimentos e ações.

* O desenvolvimento comunitário terá que incorporar princípios de preservação e recuperação ambientais, não só para levar nossa civilização atual a um padrão sustentável de desen­volvimento, mas também para responder à grande necessidade do espírito humano de manter um contato íntimo com o mundo da natureza. O papel fundamental do agricultor na segurança alimentar e econômica também precisa ser cuidadosamente avaliado no planejamento de todos os assentamentos humanos.

* As imensas forças da ciência e tecnologia devem ser aproveitadas para servirem às necessidades materiais, intelectuais, emocionais e espirituais de toda a família humana. Isso vai exigir que todos os povos se envolvam na geração de conhecimentos científicos e na determinação de suas aplica-ções. A medida que a participação aumenta, as tecnologias que tendem a insensibilizar e alienar, a tornar supérfluos o trabalho e os ofícios prazerosos, a destruir o meio ambiente e a causar doenças, enfermidades ou morte, irão sem dúvida ser reavaliadas, restruturadas ou abandonadas.

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A interdependência entre os povos e nações do mundo só irá aumentar nos anos vindouros

Os povos e nações do planeta estão sendo aproximados à medida que se tomam mais e mais dependentes uns dos outros. Os assentamentos do mundo todo — desde vilarejos, aldeias e cidades, até as metrópoles e megalópoles — estão se tornando o lar de populações cada vez mais diversas. Essa crescente interdependência e a interação intensificada entre povos diver­sos coloca desafios fundamentais aos antigos modos de pensar e agir. O modo como nós, enquanto indivíduos e comunidades, respondemos a esses desafios irá, em grande medida, determi­nar se nossas comunidades se tomarão nutridoras, coesivas e progressivas, ou inóspitas, divididas e insustentáveis.

A unidade na diversidade é ao mesmo tempo uma visão para o futuro e um princípio que guiará a comunidade mundial em sua resposta a esses desafios. Este princípio deve não somente animar as relações entre as nações do planeta, como também ser aplicado no seio das comunidades locais e nacionais, se quizermos que elas prosperem e perdurem. Os efeitos unificadores e salutares da aplicação desse princípio à restruturação e desenvolvimento das comunidades de todo o mundo seriam incalculáveis, enquanto que as conseqüências do fracasso em responder apropriadamente aos desafios de um mundo em constante contração mostrar-se-iam por certo de­sastrosas.

E óbvio que a humanidade deve estar preparada para as oportunidades e responsabilidades que estão emergindo como resultado dessa crescente interdependência. Os povos devem desenvolver o conhecimento, os valores, as atitudes e as habilidades necessárias para participar confiante e construtiva­mente na moldagem da comunidade mundial, em todos os níveis, de modo que ela possa refletir princípios de justiça, eqüidade e unidade. A educação desempenhará aqui um papel indispensável; ela deve ajudar o indivíduo a desenvolver um senso de espaço e comunidade — não limitado ao nível local ou nacional, mas ampliando-se e abrangendo o mundo todo. (3) Ela deve cultivar a virtude como o alicerce para o bem-estar pessoal e coletivo, e deve nutrir nas pessoas um profundo com­promisso para com o bem-estar de suas famílias, de suas

Nosso conceito de liderança precisará ser revisto para incluir a capacidade de promover a toma­da coletiva de deci­sões e a ação cole­tiva.

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comunidades, de seus países, enfim, de toda a humanidade. (4) A educação deve também encorajar o pensamento em termos de processo histórico, vendo na História um movimento inexorável rumo a uma civilização mundial, um movimento cujos sucessos são o patrimônio de todos os povos e cujos desafios precisamos agora, como uma raça única, enfrentar.

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A humanidade deve mover-se rumo a processos de governança mais participativos, baseados no

conhecimento e impulsionados por valores

Os modelos "de cima para baixo" de desenvolvimen­to comunitário não podem mais responder adequadamente às necessidades e aspirações dos dias de hoje. A comunidade mundial precisa mover-se na direção de sistemas de governança mais participativos, baseados no conhecimento e impulsionados por valores, nos quais os povos possam assumir a responsabilidade pelos processos e instituições que afetam suas vidas. Esses sistemas devem ser democráticos em espírito e método, e devem emergir em todos os níveis da sociedade mundial, incluindo o nível global. A consulta w) — expressão operante da justiça nos assuntos humanos — deve tornar-se o modo básico de tomada de decisões dos povos.

Naturalmente, os velhos modos de exercício do poder e da autoridade precisam dar lugar a novas formas de liderança. Nosso conceito de liderança terá de ser revisto para incluir a capacidade de promover a tomada coletiva de decisões e a ação coletiva. Ele encontrará sua mais alta ex­pressão no serviço à comunidade como um todo.

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Rumo a uma comunidade comum, a um destino comum

A afirmação de Bahá'u'lláh de que todas as pessoas "foram criadas para levar adiante uma civilização que sempre evolua" implica que cada pessoa tem o direito e a responsabilidade de contribuir para esse empreendimen­to coletivo histórico e de longo alcance.

Concluindo, as comunidades que florescerem e prosperarem no novo milênio o farão por terem reconhecido a dimensão espiritual da natureza humana e feito do desenvolvimento moral, emocional e intelectual do indivíduo uma prioridade central. Elas garantirão liberdade religiosa e encorajarão o estabelecimento de locais de culto. Seus centros de estudo buscarão cultivar as ilimitadas potencialidades laten­tes na consciência humana e perseguirão como principal obje­tivo a participação de todos os povos no processo de gerar e aplicar o conhecimento. Lembrando sempre que os interesses do indivíduo e os da sociedade são inseparáveis, essas comunidades irão promover o respeito pelos direitos e respon­sabilidades, encorajar a igualdade e parceria de mulheres e homens, e proteger e nutrir as famílias. Elas incentivarão a beleza, tanto a natural como a criada pelo homem, e incorpora­rão em seu projeto os princípios de preservação e recuperação ambiental. Guiadas pelo conceito de unidade na diversidade, elas irão apoiar uma ampla participação nos assuntos da sociedade, e cada vez mais voltar-se para líderes que sejam motivados pelo desejo de servir. Nessas comunidades, os frutos da ciência e tecnologia irão beneficiar toda a sociedade, e o trabalho estará disponível para todos.

Comunidades tais como essas provarão ser os pilares de uma civilização mundial — uma civilização que será o ápice lógico dos esforços humanos para construir comunidades ao longo dos tempos e em todos os quadrantes geográficos. A afirmação de BaháVlláh de que todas as pessoas "foram criadas para levar adiante uma civilização que sempre evolua" implica que cada pessoa tem o direito e a responsabilidade de contribuir para esse empreendimento coletivo histórico e de longo alcance, cuja meta é nada menos que a paz, a prosperidade e a unidade de toda a família humana. (")

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Notas

(1) Embora flagrantes injustiças tenham sido cometidas, ao longo da História, em nome da religião, é impossível negar o papel básico que a fé desempenha no progresso social, motivando os indivíduos a desenvolverem qualidades espirituais e dando-lhes a força para se sacrificarem por seus semelhantes e contribuí­rem para o aperfeiçoamento de suas comunidades.

(2) As casas de adoração, bem como as instituições e atividades às quais dão origem, devem tornar-se uma parte fundamental de todo vilarejo, aldeia, cidade e metrópole — na verdade, de todos os tipos de assentamentos humanos em todas as nações — mas é preciso que contribuam para a harmonia, paz, bem-estar, compreensão e tolerância da comunidade como um todo. Caso contrário, servirão apenas para retardar o desenvolvimento de comunidades sustentáveis e prósperas, e as pessoas acabarão por abandoná-los à medida que forem percebendo o papel divisor e paroquial que eles desempenham na sociedade.

Está claro que quase todo lugar pode servir como uma casa de adoração. Uma das preces reveladas por Bahá'u'lláh enfatiza esse ponto: "Bem-aventurado é o lugar, a casa,e o coração, e bem-aventurado a cidade, a montanha, o refúgio, a caverna, e o vale, a Terra, e o mar, o prado, e a ilha, onde se haja feito menção de Deus e celebrado Seu louvor." Contudo, não se pode negar a importância de centros físicos, localizados na comunidade, para o desenvolvimento e expressão da fé.

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O Mashriqu 'l-Adhkár (local do Alvorecer do Louvor de Deus) da Fé Bahá'í é uma dessas casas que, por seu próprio projeto, integra a adoração e o serviço, ou, em outras palavras, expressa o espiritual de maneiras práticas. No núcleo desse complexo fica a Casa de Adoração, que está aberta a todas as pessoas, independentemente de sua fé. Ao redor da Casa de Adoração, e animadas por elas, deve haver nove dependências — ou instituições — dedicadas a assuntos sociais, administrativos, humanitários, educacionais e científicos. A medida que cada complexo Mashriqu 'l-Adhkár se desenvolve, essas dependências irão incluir "um hospital, um dispensário, um albergue de peregrinos, uma escola para órfãos e uma universidade para estudos avançados." Esse modelo prático para harmonizar os aspectos morais, éticos, físicos, ambientais, econômicos e sociais dos assentamentos humanos é digno de estudo pelas pessoas envolvidas nos processos de construção comunitária.

(3) Nesse sentido, a comunidade pode ser concebida como um conjunto de círculos concêntricos, sendo a comunidade local o menor deles e a comunidade global, o maior.

(4) O conceito de cidadania mundial ajuda a integrar todos os níveis da comunidade: ser um cidadão responsável aos níveis local e nacional não está em desacordo com o amor por toda a humanidade; pelo contrário, essas múltiplas camadas de deveres e obrigações formam uma teia estreitamente entrelaçada, um todo inseparável.

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(5) Na consulta, todos os participantes se empenham para transcender seus respectivos pontos de vista, a fim de funcionarem como membros de um corpo com seus próprios interesses e objetivos. Numa atmosfera caracterizada pela franqueza e cortesia, as idéias não pertencem ao indivíduo que as apresenta, mas ao grupo como um todo, que irá aceitá-las, descartá-las ou revisá-las como melhor parecer servir ao objetivo em vista. A consulta é bem-sucedida na medida em que todos os participantes apoiam as decisões acordadas, independentemente das opiniões individuais que tinham de iní­cio. Sob tais circunstâncias, uma decisão anterior pode ser rapidamente reconsiderada se a experiência mostrar alguma falha.

(6) E interessante notar que muitos dos conceitos expostos neste documento já estavam presentes na declaração feita pela Comunidade Internacional Bahá'í na primeira Conferência de Assentamentos Humanos da ONU, realizada em 1976. Decla­rações Bahá'ís mais recentes que lançam luz sobre o tema das comunidades sustentáveis incluem A Prosperidade da Huma­nidade; A Cidadania Mundial: Uma ética global para o Desenvolvimento Sustentável; e Momento Decisivo para To­das as Nações.

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