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Edificações Sustentáveis Um estudo sobre a integração entre ambiente, projeto e tecnologia Maio/2012 1 Edificações Sustentáveis Um estudo sobre a integração entre ambiente, projeto e tecnologia Juliana Jardim Soares e Melo - e-mail: [email protected] Master em Arquitetura Resumo Esse artigo dedica-se ao tema da aplicação da arquitetura sustentável dentro de diversas ações e responsabilidades que essa temática apresenta sob a ótica do arquiteto. Diante de todos os aspectos da sustentabilidade, neste trabalho optou-se por ressaltar o papel da eficiência energética e do conforto ambiental em projetos, analisando a qualidade ambiental do ambiente construído, levantando dados de climatização, energia, e também citando alguns processos de certificação de edifícios. Para o desenvolvimento do trabalho, utilizou-se exemplos nacionais e internacional, demonstrando como são tratados os aspectos estudados nos casos bem sucedidos em favor de uma arquitetura de baixo impacto ambiental. Abordou-se também as ferramentas que estão sendo largamente encontradas no cenário internacional e alguns casos recentes, na prática de projeto no cenário nacional. Cabe lembrar que os projetos citados foram baseados, sobretudo por exigências referentes ao conforto ambiental e à eficiência energética, analisando de que modo eles respondem às necessidades locais e às influências globais por soluções de baixo impacto ambiental. Na sequência, o trabalho apresenta algumas experiências de pesquisa, ensino e prática com foco no projeto arquitetônico e em suas relações com a tecnologia e o ambiente. Com a pesquisa desenvolvida, conclui-se que é possível projetar e construir edifícios que causem um menor impacto ambiental quando a prática projetual é resultado de uma reflexão sobre arquitetura sustentável desde que esta arquitetura responda principalmente aos processos de certificações, ás questões de contexto entre edifício e ambiente construído e onde a atuação de profissionais, pesquisadores e estudiosos, desenvolvam propostas inovadoras e mais sustentáveis. Palavras-chave Arquitetura; Ambiente; Sustentabilidade; Educação; Pesquisa; Prática; Tecnologia 1.0 - Introdução Para estabelecer o tema da arquitetura sustentável no cenário internacional é preciso, primeiramente, entender o conceito do tema. Sabe-se que o tema sustentabilidade, pensado na sua totalidade, abrange aspectos ambientais e socioeconômicos, difundindo desafios à pesquisa, à prática e ao ensino. A primeira definição de desenvolvimento sustentável apareceu no Brundtland Report em 1987 (BRUNDTLAND, 1987), afirmando que desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer o atendimento às necessidades das gerações futuras. Tempos depois, grandes conferências mundiais foram realizadas, como a Rio 92, na cidade do Rio de Janeiro em 1992, e a Rio+10, em Johannesburgo no ano 2002. Nessas conferências, foram firmados protocolos, a fim de rever as metas e elaborar mecanismos para o desenvolvimento sustentável. O desafio pleno de melhorar o nível de consumo da população mais pobre; diminuir a pegada ecológica e o impacto ambiental dos assentamentos humanos no planeta foram os grandes temas debatidos. Realizando um balanço dos resultados, essas reuniões foram marcadas por disputas ideológicas e econômicas, as ações seguintes ficaram abaixo das expectativas e muitos problemas ambientais não foram resolvidos. Em 1997 um importante indicador foi revelado, quando o Earth Council divulgou que o uso dos recursos da humanidade já superava em 20% a capacidade de suporte global e que o planeta foi sustentável até a década de 80 (MEADOWS, 2004).

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Edificações Sustentáveis Um estudo sobre a integração entre ambiente, projeto e tecnologia Maio/2012

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Edificações Sustentáveis Um estudo sobre a integração entre ambiente, projeto e

tecnologia Juliana Jardim Soares e Melo - e-mail: [email protected]

Master em Arquitetura

Resumo Esse artigo dedica-se ao tema da aplicação da arquitetura sustentável dentro de diversas ações e responsabilidades que essa temática apresenta sob a ótica do arquiteto. Diante de todos os aspectos da sustentabilidade, neste trabalho optou-se por ressaltar o papel da eficiência energética e do conforto ambiental em projetos, analisando a qualidade ambiental do ambiente construído, levantando dados de climatização, energia, e também citando alguns processos de certificação de edifícios. Para o desenvolvimento do trabalho, utilizou-se exemplos nacionais e internacional, demonstrando como são tratados os aspectos estudados nos casos bem sucedidos em favor de uma arquitetura de baixo impacto ambiental. Abordou-se também as ferramentas que estão sendo largamente encontradas no cenário internacional e alguns casos recentes, na prática de projeto no cenário nacional. Cabe lembrar que os projetos citados foram baseados, sobretudo por exigências referentes ao conforto ambiental e à eficiência energética, analisando de que modo eles respondem às necessidades locais e às influências globais por soluções de baixo impacto ambiental. Na sequência, o trabalho apresenta algumas experiências de pesquisa, ensino e prática com foco no projeto arquitetônico e em suas relações com a tecnologia e o ambiente. Com a pesquisa desenvolvida, conclui-se que é possível projetar e construir edifícios que causem um menor impacto ambiental quando a prática projetual é resultado de uma reflexão sobre arquitetura sustentável desde que esta arquitetura responda principalmente aos processos de certificações, ás questões de contexto entre edifício e ambiente construído e onde a atuação de profissionais, pesquisadores e estudiosos, desenvolvam propostas inovadoras e mais sustentáveis.

Palavras-chave Arquitetura; Ambiente; Sustentabilidade; Educação; Pesquisa; Prática; Tecnologia

1.0 - Introdução Para estabelecer o tema da arquitetura sustentável no cenário internacional é preciso, primeiramente, entender o conceito do tema. Sabe-se que o tema sustentabilidade, pensado na sua totalidade, abrange aspectos ambientais e socioeconômicos, difundindo desafios à pesquisa, à prática e ao ensino. A primeira definição de desenvolvimento sustentável apareceu no Brundtland Report em 1987 (BRUNDTLAND, 1987), afirmando que desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer o atendimento às necessidades das gerações futuras. Tempos depois, grandes conferências mundiais foram realizadas, como a Rio 92, na cidade do Rio de Janeiro em 1992, e a Rio+10, em Johannesburgo no ano 2002. Nessas conferências, foram firmados protocolos, a fim de rever as metas e elaborar mecanismos para o desenvolvimento sustentável. O desafio pleno de melhorar o nível de consumo da população mais pobre; diminuir a pegada ecológica e o impacto ambiental dos assentamentos humanos no planeta foram os grandes temas debatidos. Realizando um balanço dos resultados, essas reuniões foram marcadas por disputas ideológicas e econômicas, as ações seguintes ficaram abaixo das expectativas e muitos problemas ambientais não foram resolvidos. Em 1997 um importante indicador foi revelado, quando o Earth Council divulgou que o uso dos recursos da humanidade já superava em 20% a capacidade de suporte global e que o planeta foi sustentável até a década de 80 (MEADOWS, 2004).

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Cabe lembrar que os pesquisadores canadenses William Rees e Mathis Wackernagel, em 1996, com o objetivo de quantificar o impacto ambiental das cidades desenvolveram o conceito de ecological footprint (pegada ecológica). O “ecological footprint” ou “pegada ecológica” tenta relacionar a cidade ao espaço necessário para a sua sobrevivência. Esta medida relaciona relacionar a área de ocupação de determinada cidade com a área necessária para mantê-la funcionando, ou seja, área para abastecimento de alimentos, energia, água, depósito de lixo, extração de matéria prima, entre outros. (DEMETRIUS,2001). As questões de sustentabilidade chegaram à agenda da arquitetura e do urbanismo internacional de forma penetrante, trazendo novos paradigmas, com destaque para o contexto europeu no final da década de 1980 e início da década de 1990. O tema surgiu com maior destaque na vertente ambiental, como efeito das discussões internacionais na década de 1970. As atenções estavam voltadas tanto para o impacto ambiental gerado pelo consumo da energia de base fóssil como para as consequências de uma crise energética de dimensões mundiais, somados aos alertas e previsões a respeito do crescimento da população mundial e o crescimento inevitável das cidades e de suas necessidades por todos os tipos de recursos.

No âmbito do edifício, estudos anteriores arquitetônicos mostram que a partir da Segunda Guerra Mundial, a banalização da arquitetura do International Style, que acompanhado pela crença de que a tecnologia dos sistemas prediais ofereceria meios para o controle total das condições ambientais de qualquer edifício, levou ao exagerado consumo de energia e à reprodução das caixas de vidro nas décadas seguintes, difundindo-se por cidades de todo o mundo. No entanto, se olharmos para a história da arquitetura e das cidades, pode-se observar que as considerações sobre as premissas fundamentais de projeto e seus impactos no consumo de energia e nas condições de conforto ambiental não eram tidas como determinantes. Por isso, a arquitetura bioclimática ganhou destaque dentro do conceito de sustentabilidade. Isso foi possível pela estreita relação entre o consumo de energia e o conforto ambiental, que estão presentes na utilização dos sistemas de iluminação artificial e de condicionamento ambiental artificial. Nesse sentido vemos que há possibilidade do conforto ambiental retomar sua importância ao projeto arquitetônico, tanto na prática como também em estudos e pesquisas, como é colocado abaixo:

A Arquitetura sustentável é a continuidade mais natural da Bioclimática, considerando também a integração do edifício à totalidade do meio ambiente, de forma a torná-lo parte de um conjunto maior. É a arquitetura que quer criar prédios objetivando o aumento da qualidade de vida do ser humano no ambiente construído e no seu entorno, integrando as características da vida e do clima locais, consumindo a menor quantidade de energia compatível com o conforto ambiental, para legar um mundo

menos poluído para as próximas gerações. (CORBELLA e YANNAS, 2003, p. 17):

A arquitetura modernista brasileira mostrou características bioclimáticas, especialmente no período de 1930 a 1960, das quais podemos destacar o emprego de cobogós e brises de soleil, muito usados por arquitetos desse período. Entre os arquitetos brasileiros atuantes nesse período está Lúcio Costa, que teve maior destaque e foi um dos que cumpriu um papel exemplar na prática arquitetônica, na medida em que destacava a importância da compreensão da geometria solar e das condicionantes climáticas para a concepção de projetos. Além da adequação ao clima, o interesse da arquitetura modernista se deu pelo uso de recursos de projeto como os brises, que estavam vinculados à influência de Le Corbusier e á estética. Através de estudos de algumas obras desse período sobre o desempenho ambiental, podemos perceber, que em muitos casos, elementos como claraboias, brises e aberturas para a ventilação natural foram projetados por

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preocupações formais e não exatamente foram projetados para o conforto ambiental (RUSSO, 2004). Contudo, o fato das considerações sobre a energia consumida nos sistemas de iluminação e climatização artificial terem sido tão importantes na revisão dos princípios arquitetônicas há mais de três décadas, não significa que outras propostas e investigações não estivessem sendo realizadas. Em paralelo vinham sendo buscadas outras tecnologias para a reabilitação ambiental sustentável da arquitetura, incluindo também as técnicas e os materiais construtivos. Foi a partir das preocupações com o exagerado consumo de energia (originadas na década de 1970) que o tema “arquitetura sustentável” evoluiu para o aspecto do impacto ambiental da construção, tal como exemplo, o impacto causado pela busca por sistemas prediais mais eficientes e pelo processo de industrialização dos materiais. O tema sustentabilidade vem influenciando diversos tipos de abordagens de projeto na arquitetura contemporânea e também conta com exemplos e iniciativas das mais diversas condições urbanas e ambientais. Extrapolando as relações com a eficiência energética e as questões de conforto ambiental, fazem parte das variáveis que vêm sendo exploradas através de formulação e propostas de menor impacto ambiental: os recursos para a construção e a operação do edifício, como materiais, energia e água. Historicamente, o tema da arquitetura sustentável teve origem na discussão da arquitetura dos edifícios, sem deixar de lado o ambiente urbano. As discussões e propostas, na escala urbana, vêm sendo atualmente abordadas nas seguintes questões: transporte público, energia, água, estruturas morfológicas compactas, adensamento populacional, resíduos e reciclagem, diversidade e pluralidade cultural, ambiental e socioeconômica. Enfatizando o papel que o edifício tem como elemento de projeto urbano e da sustentabilidade na cidade, cabe ressaltar principalmente os aspectos de infraestrutura e localização, otimização do consumo de recursos como água, energia e materiais, qualidade ambiental dos espaços internos e impacto na qualidade do entorno imediato, com potencial para contribuir para as dinâmicas socioeconômicas do lugar. É nesse contexto que recentes projetos vêm construindo uma nova arquitetura com a geração de edifícios no mundo, incluindo exemplos brasileiros, pensados para atender aos desafios tecnológicos e ambientais da sustentabilidade. São necessárias, nesse momento, discussões sobre tecnologia e projeto que provoquem revisões dos valores ambientais presentes na idealização, projeto e construção dessa arquitetura. A arquitetura sustentável deve sintetizar ambiente, projeto e tecnologia, dentro de um determinado contexto cultural, ambiental e socioeconômico, apoderando-se de uma visão de médio á longo prazos, em que o idealismo e o pragmatismo são fatores essenciais, como destaca o economista Paul Ekins:

“O desenvolvimento sustentável também necessita tanto de pragmatismo como de idealismo. São necessárias pessoas que possam nos mostrar para qual direção nós podemos nos dirigindo, aqueles que possam criar experimentos e projetos pilotos, em certos momentos de pequeno porte e, em outros, de maior porte. [...] projetos e experimentos que nos darão confiança para olhar para frente, para um novo milênio, o qual nós podemos estar certos de que será o milênio da escassez dos recursos naturais. Grande parte do planeta já está poluído, e até a metade deste século que se inicia haverá dez bilhões de habitantes na Terra, habitantes que o planeta terá que sustentar. Isto é apenas concebível com sucesso se nós utilizarmos tanto nosso olhar visionário como nosso pragmatismo”. (The Green Apocalypse, 1997).

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2.0 - Princípios para o desenvolvimento do projeto arquitetônico 2.1 - Projeto Arquitetônico e Qualidade Ambiental

Se considerarmos o desempenho ambiental da arquitetura vinculado à eficiência energética ao conforto dentro do conceito da sustentabilidade, partindo da fase conceitual e da definição do partido arquitetônico de um edifício, o projeto deve incluir o estudo das características, condicionantes ambientais (vegetação, corpos d'água, ruído, etc.) e tratamento do entorno imediato; orientação solar e aos ventos; forma arquitetônica, arranjos espaciais, zoneamento dos usos internos do edifício e geometria dos espaços internos; tratamento das fachadas e coberturas, de acordo com a necessidade de proteção solar; materiais da estrutura, das vedações internas e externas, considerando desempenho térmico e cores; áreas envidraçadas e de abertura, considerando a proporção quanto à área de envoltória, o posicionamento na fachada e o tipo do fechamento, seja ele vazado, transparente ou translúcido; detalhamento das proteções solares considerando tipo e dimensionamento; e detalhamento das esquadrias. Se todos os aspectos do projeto que vimos acima estiverem em conjunto, exercerão um grande impacto no desempenho térmico do edifício, por terem um papel determinante no uso das estratégias de ventilação natural, da reflexão da radiação solar direta, do sombreamento, do resfriamento evaporativo, do isolamento térmico, da inércia térmica e do aquecimento passivo. O uso apropriado do conjunto dessas estratégias ou de uma delas, por sua vez, vai ser determinado pelas condições climáticas, exigências do uso e ocupação, e parâmetros de desempenho. O aproveitamento da iluminação natural também é decisivo a muitos desses aspectos de projeto tais como a orientação solar, a geometria dos espaços internos, as cores, o projeto das aberturas e as proteções solares. É importante lembrar que somado a esses fatores, são os usos e as exigências humanas, além das condições urbanas locais, climáticas e das possibilidades construtivas, que vão determinar o grau de autonomia de um edifício em relação aos sistemas ativos de climatização. Problemas de poluição e ruído urbano podem impedir, por exemplo, o uso de estratégias passivas em um projeto, mesmo que o partido arquitetônico, o clima e o uso sejam favoráveis a elas. Por esse motivo, num caso assim, a iluminação natural é resolvida mais facilmente no projeto do que a ventilação natural. A Arquitetura de Baixo Impacto Humano Ambiental (ABIHA) não implica num estilo ou em um movimento arquitetônico, podemos encontra-la tanto na arquitetura mais recente, rotulada como high-tech ou eco-tech ou ainda na arquitetura vernacular, das mais variadas culturas como em muitos exemplos do modernismo. Independente da vertente tecnológica, as soluções de projeto para conforto ambiental e eficiência energética estão relacionados com os conhecimentos da física aplicada (física ondulatória, ótica, transferência de calor e mecânica dos fluidos), com a tecnologia e os recursos locais apropriados. Contudo, fazendo uma abordagem mais ampla da arquitetura sustentável, veremos que, ela é muito mais do que tratar de conforto ambiental e energia. Pode-se enumerar uma série de outros fatores ambientais, econômicos, sociais e até mesmo urbanos e de infraestrutura. Portanto, as premissas para a sustentabilidade da arquitetura são extraídas do problema ou do programa que é colocado para a proposição do projeto ou do contexto em questão. Dessa maneira, pode-se assegurar que a sustentabilidade de um projeto arquitetônico tem como ponto de partida a leitura e o entendimento do contexto ao qual o edifício está inserido e também nas primeiras decisões de projeto.

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É nesse sentido, que a questão dos materiais é fundamental nas discussões sobre a arquitetura sustentável. No entanto, ela não está necessariamente ligada àquelas classificações tais como “ecologicamente corretos” ou “alternativos”. Seguramente, o desafio está na escolha do melhor material para um determinado fim. Como exemplo, pode ser citado o uso do concreto aparente no interior de ambientes, que contribui para o resfriamento passivo destes, em resultado do efeito de inércia térmica. Mais do que o desempenho térmico, essa escolha deve também incluir uma avaliação quanto às questões de sua energia incorporada e a disponibilidade do material, que são partes integrantes do conceito de ciclo de vida útil do material e/ou componente. Vale lembrar que no processo de trocas térmicas, o calor gerado no ambiente interno durante determinado período de ocupação é absorvido pela massa do concreto (presente nas vigas, lajes, pisos ou paredes) e, depois, pode ser retirado pela ventilação noturna. Obviamente, há limites climáticos e construtivos para que esse processo ocorra com êxito; é fundamental que a temperatura do ar externo seja inferior à interna durante o período de ventilação natural e que o fluxo de ventilação seja suficiente para a retirada do calor acumulado. Cabe dizer que, além do desempenho ambiental, faz-se necessário conhecer o desempenho estrutural, de segurança contra o fogo e todos os demais itens especificados na ISO 6241 Performance standards in building - Principles for their preparation and factors to be considered (Os padrões de desempenho na construção – Princípios para a sua preparação e fatores a serem considerados). Isso porque, se o material não responder a tais exigências, sua utilização deixa de ser viável. Quando se trata de materiais e sistemas construtivos, o desperdício, a agilidade no canteiro de obras, a qualidade de execução e a segurança estão na base da discussão sobre sustentabilidade. Em se tratando de recursos tecnológicos envolvendo os sistemas prediais, são muitas as opções para minimizar o impacto ambiental dos edifícios, como o uso de painéis fotovoltaicos, turbinas eólicas para geração de energia, painéis solares para aquecimento de água, sistemas de reaproveitamento de águas cinzas e outros. Esses adventos da tecnologia, quando apropriados, devem fazer parte das primeiras etapas de concepção do desenvolvimento do projeto do edifício, e não serem inseridos como “complemento” ou “acessórios”, para que possam contribuir efetivamente com o melhor desempenho do conjunto e um bom resultado arquitetônico. Segundo Gonçalves, as considerações gerais do impacto ambiental da arquitetura, a reabilitação tecnológica (retrofit) de edifícios é uma alternativa à demolição e à construção de novos edifícios, nos quais algum impacto ambiental é inerente. Os objetivos do retrofit de edifícios são: adaptar o edifício a novos usos, melhorar a qualidade ambiental dos ambientes internos, otimizar o consumo de energia no médio e longo prazos, aumentar o valor arquitetônico e econômico de um edifício existente, ou mesmo restaurar o seu valor inicial. Para isso, metodologicamente, a reabilitação tecnológica deve incluir o tratamento da estrutura, da envoltória, dos espaços internos e dos sistemas prediais de uma maneira integrada (GONÇALVES, 2006, p. 55).

As metas da reabilitação tecnológica, no que diz respeito ao conforto ambiental e à eficiência energética, contemplam a redução da demanda por iluminação artificial e climatização, suprindo-a quanto possível por meios passivos através da iluminação natural, do aquecimento passivo direto e indireto, ventilação natural, ventilação noturna e demais estratégias, completadas por meio de tecnologias energeticamente eficientes. Não obstante, o trabalho de levar o desempenho ambiental de um edifício aos níveis recomendados pelas normas nacionais e/ou internacionais, pode-se inicialmente incorrer em um aumento do consumo de energia. Isso se dá quando a condição anterior é de baixa qualidade

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ambiental por falta de recursos tecnológicos. Por isso, deve-se destacar que o limite para a economia de energia está nos parâmetros de conforto e qualidade ambiental. O benefício versus as avaliações de custo, nas quais o valor da qualidade ambiental é agregado ao valor total do edifício, definem a realização da reabilitação tecnológica contra a construção de edifícios novos. Notando que a quantidade de edifícios com mais de quarenta ou cinquenta anos nas cidades modernas, como é o caso de São Paulo onde as reabilitações tecnológicas em edifícios subaproveitados e degradados resultariam em ganhos econômicos e ambientais tanto para o edifício como também contribuiriam para a revitalização de áreas urbanas. Atualmente, o maior projeto de retrofit (reabilitação tecnológica de um edifício) se encontra na Europa. É conhecido como complexo habitacional Park Hill, em Sheffield, o maior do Reino Unido, construído de acordo com os princípios do modernismo após a Segunda Guerra Mundial, na década de 1960. É intenção dessa iniciativa, que agrega recursos públicos e privados, melhorar o seu desempenho ambiental, restaurar a integridade física do conjunto e, com isso, promover uma maior diversidade social, valorizando o empreendimento e a área urbana. Com tudo o que foi dito, o produto final da arquitetura para a sustentabilidade ambiental é a junção entre conceitos arquitetônicos, fundamentos das técnicas construtivas e de operação predial, do conforto ambiental e a esperada eficiência energética, seja em um novo projeto de edifício, seja na reabilitação tecnológica de um edifício existente. Todavia, o sucesso do desempenho ambiental e energético do edifício não pode ser garantido em nenhuma das etapas de projeto. Apesar de termos hoje estudos detalhados de simulação das condições ambientais, são as expectativas e comportamentos dos usuários, o gerenciamento dos sistemas prediais, juntamente com o cumprimento dos padrões de ocupação previamente definidos que responderão pelo desempenho final do edifício.

3.0 - Projeto, Climatização e Energia Nos Estados Unidos e na Europa, o consumo de energia em edifícios está intimamente relacionado às emissões de CO2, pela composição de suas matrizes energéticas. Segundo European Union (1999), a redução das emissões globais de CO2 pressupõe a reestruturação da matriz energética, introduzindo e ampliando as bases de fontes limpas de energia, e o aumento da eficiência energética de maneira geral. Em 1997, a demanda de energia em edifícios do setor residencial e comercial na União Europeia correspondia a 40,7% do total. Já segundo Plank (2002), na Inglaterra, esse índice era significativamente maior, chegando aos 72%. Trabalhos de pesquisa realizados por Roméro e outros (1999), sobre a perspectiva do consumo desagregado por usos finais em edifícios do setor comercial na cidade de São Paulo, identificaram que 70% desse consumo eram direcionados à iluminação artificial e aos sistemas de ar-condicionado, enquanto as premissas do projeto arquitetônico eram pouco ou nada, influenciadas por preocupações com a conservação de energia. Com a apresentação das projeções de crescente consumo de energia em âmbito nacional, medidas de conservação de energia se tornaram uma necessidade presente. Na década de 1990, o aumento da demanda por energia elétrica, apenas no setor comercial, foi de 9,8%, enquanto a geração por meio de hidrelétricas foi acrescida em 5,8% (BRASIL, 2000). Essa diferença, entre outras medidas, aponta para a urgência do uso racional de energia em edifícios. Com base nos princípios da arquitetura rumo à sustentabilidade, uma das principais tarefas para que a equipe de projeto deve demonstrar é que, no desenvolvimento de um projeto integrado com as demais áreas envolvidas, o uso intermitente do condicionamento ambiental artificial não é a melhor, ou a única, solução para a adaptação das condições ambientais internas aos desafios do clima urbano.

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Nesse contexto os projetos de arquitetura que apresentem soluções para lidar com as condições ambientais locais envolvendo fatores como a temperatura do ar, temperatura superficial, umidade, radiação solar, ventos, ruído e, ainda, qualidade do ar, aliadas a um bom aproveitamento da luz natural, estão contribuindo para a realização de uma arquitetura de baixo impacto ambiental, no que tange à questão da energia. Todavia, cabe explicar que a inserção de estratégias passivas de climatização implica em uma exposição maior do ambiente interno e de seus usuários às condições ambientais externas. Tendo os parâmetros atuais de conforto térmico em vista, e para que essa interação entre interior e exterior seja possível e aceitável, faz-se necessário rever o índice de conforto de Fanger, de 1970. Esse método é mais amplamente utilizado no cenário internacional da arquitetura contemporânea, por isso, essa revisão é baseada nas expectativas e exigências que os usuários diferirem entre o edifício climatizado por meios artificiais por todo o tempo de ocupação e aquele que tem incorporado meios de climatização natural por todo ou parte do seu tempo de ocupação. Os dados obtidos encontram-se nos índices propostos pela ASHARE 55 (revista em 2004), incorporando o conceito de Modelo Adaptativo para os chamados free running buildings, o que dá suporte aos projetos de edificações que visem à combinação da climatização com condicionamento passivo com o sistema artificial, colocando critérios de projeto e desempenho para as duas estratégias. Como citado anteriormente, a partir da busca por um consumo menor de energia, da importância da satisfação e do bom rendimento dos usuários, o conforto ambiental (acústico, ergonômico, luminoso e térmico) tem um papel importante nas decisões de projeto. Segundo GONÇALVES (2006), em termos de condicionamento ambiental, o projeto de arquitetura pode responder para três diferentes casos de condições ambientais internas. No primeiro caso, tem-se um projeto totalmente passivo, onde o consumo de energia gasto com a climatização é zero. Sendo assim, são as características do projeto arquitetônico e dos padrões de ocupação que, interatuando com as condições ambientais externas, vão determinar as condições ambientais internas. No segundo caso, o edifício depende de um sistema artificial para o controle das condições ambientais internas, por todo o seu tempo de ocupação, podendo ser determinado pelo clima ou mesmo pelas especificidades do uso. Nesse caso, a arquitetura deve ser projetada para minimizar os custos de energia para condicionamento artificial, seja para o aquecimento, seja para o arrefecimento. No terceiro caso, o uso do sistema de climatização artificial é parcial, ocorrendo apenas nos momentos do ano em que as condições ambientais internas estão fora dos padrões de desempenho estabelecidos, passando então a fazer uso do condicionamento ambiental em modo misto. Em cada um dos casos acima citados requer concepções projetuais específicas, englobando forma, organização interna das funções, materiais e outros aspectos, mesmo tomando-se um sítio incomum, ou sítios diferentes, mas com condições ambientais similares. Ou seja, se pensarmos que um edifício foi projetado para a adoção do sistema artificial de climatização por 100% do tempo de ocupação (caso 1) vai apresentar características de projeto distintas de outro edifício, pensado para a adoção do modo misto (caso 2) ou do condicionamento passivo (caso 3). Basicamente, projetar com eficiência energética e para causar o menor impacto ambiental, por parte da climatização, implica em duas etapas de tomada de decisão. A primeira etapa é reduzir a demanda do edifício por energia, concebendo a arquitetura para este fim, com diversos aspectos de projeto. Uma vez que esse processo tenha considerado todas as restrições exigidas e tenha conseguido a otimização, sejam elas decorrentes do terreno, das condições locais, dos recursos

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financeiros, do uso, ou até mesmo de outra ordem, parte-se então para a segunda etapa. Nessa fase, estudam-se as possibilidades de utilização dos sistemas elétricos e mecânicos mais eficientes e compatibilizados com os potenciais do projeto de arquitetura, como por exemplo, no uso da iluminação artificial como complemento da natural. Seja no uso do projeto totalmente passivo ou no modo misto, o uso dos sistemas de climatização que sejam adaptáveis às mudanças ambientais externas, incorporam, para o sucesso da sua operação, o uso de sensores e controles de monitoramento dos ambientes externos e internos. O mesmo acontece no terceiro caso, da iluminação artificial, que pode e deve responder às contribuições da luz natural. Fazendo essa ligação entre exterior e interior, a automação predial é apropriada para a eficiência energética. A fim de aumentar as possibilidades de adaptação do usuário às condições ambientais e, como consequência, sua satisfação com o espaço, torna-se possível introduzir e controlar a sua intervenção no sistema, por meio da automação predial. Encontramos hoje edifícios de grande porte com destaque no cenário internacional que apresentam soluções desse tipo, como nos casos em que o ar-condicionado é automaticamente desligado com a abertura das janelas. Podemos observar interações desse tipo no edifício alto que abriga a sede do Commerzbank, em Frankfurt, concluído em 1998, no qual o acionamento das janelas, mediante uma sinalização de que o condicionamento artificial foi interrompido devido à existência de condições externas favoráveis, fica a cargo dos usuários. Considerando o conjunto de possibilidades para a climatização, os desafios e as metas para que se tenha um edifício de baixo impacto ambiental provam ser distintos, de acordo com as características culturais e socioeconômicas do lugar. Nesse sentido, nos Estados Unidos, a ênfase é dada à continuação do uso das estratégias ativas e ao aumento da eficiência dos sistemas elétricos e mecânicos. A Europa vem investindo no aumento da eficiência dos sistemas mecânicos e elétricos, juntamente com a diminuição da dependência dos edifícios a esses mesmos sistemas, como uma retomada ás estratégias passivas. Além do mais, quando o projeto arquitetônico implica na adoção de estratégias passivas, o resultado formal e espacial é diferente daqueles pensados para uso contínuo da climatização artificial. Se pensarmos na possibilidade de suprir parte da demanda energética com recursos renováveis os ganhos para a sustentabilidade ambiental da arquitetura seriam importantíssimos. Essa maneira de olhar o projeto arquitetônico segue um método que envolve desde detalhamento arquitetônico até a análise do clima, abrindo um leque de possibilidades para as decisões projetuais. Exemplos desse tipo são facilmente encontrados no cenário internacional, principalmente na Europa. Nessa fase da discussão, é importante ressaltar, por exemplo, que a sustentabilidade de um edifício ou do meio urbano, como a eficiência energética aliada à geração de energia, não significa necessariamente a sustentabilidade do conjunto. Pode-se falar que é cabível a sustentabilidade ambiental em função da eficiência energética e do conforto ambiental; porém, é preciso esclarecer que a questão ambiental na arquitetura vai muito além desses fatores.

4.0 - Certificação de Edifícios Destaca-se, dentro do tema Arquitetura Sustentável, a crescente importância que se tem dado ás questões ambientais globais que têm motivado o uso de soluções tecnológicas diferenciadas, testadas e aplicadas para proporcionar uma maior qualidade ambiental e o menor impacto para as edificações. Nessa fase onde novos questionamentos e transformações para a arquitetura estão surgindo, o processo de projeto tem sido afetado diretamente, os chamados indicadores de

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sustentabilidade estão introduzindo mudanças metodológicas e práticas, integrando diversas disciplinas interdependentes que estão atreladas na concepção e na operação dos edifícios. A Europa, os Estados Unidos, o Canadá e alguns países da Ásia, vêm trabalhando e investindo em suas legislações, quanto ao consumo de energia, materiais e impacto ambiental de edificações, além de fazerem uso da certificação de projetos e edifícios que é embasada nos critérios de desempenho. A certificação constitui-se em um sistema de avaliação no qual é quantificado o grau de sustentabilidade de um projeto de acordo com determinados critérios de desempenho, que podem englobar desde consumo de energia até tópicos como o impacto ambiental gerado pelo transporte dos materiais até a obra, por exemplo. Ao contrário da realidade européia, que a mais de três décadas vem trabalhando nesse sentido, a legislação brasileira ainda não contempla o que foi colocado nesse trabalho como conceitos e critérios para uma arquitetura sustentável. Além disso, os códigos de obra e a legislação vigente são muito mais normativos do que de fato direcionados para o desempenho. Se analisarmos em termos de impacto ambiental do edifício em construção ou do edifício em operação, não existe ainda um suporte por parte da legislação brasileira que demonstre uma atitude pública em favor de edificações de menor impacto ambiental; como por exemplo, um indicador de consumo de energia. No entanto, vale destacar o valor científico e metodológico de propostas já feitas e em desenvolvimento para o tema no Brasil, cuja viabilidade para tornar isso possível está na dependência de vontades políticas. Destaca-se o trabalho de Silva (2003), entre um conjunto de iniciativas nesse sentido, com a proposta de avaliação da sustentabilidade de edifícios de escritório e a proposta de Romero e outros para um código energético do Estado de São Paulo. A relação de uma série de critérios de desempenho e a complexidade das avaliações com os indicadores de sustentabilidade pressupõe um processo de projeto amparado por ferramentas de simulação computacional. Em termos de método, a tendência mundial para execução dessas análises é o sistema de pontuação e peso. As propostas envolvem desde questões relacionadas ao uso de materiais até aspectos ambientais, sociais e econômicos de edifícios em operação. Entre os muitos indicadores encontrados atualmente no mundo, os mais conhecidos e utilizados são o BREEAM e LEED, tendo ambos sido desenvolvidos no início da década de 1990. O primeiro sistema de avaliação, LEED, foi desenvolvido pelo United States Green Building Council – USGBC (United States Green Building Council), dos Estados Unidos, destinado exclusivamente a edifícios de escritórios; entretanto hoje, existe uma versão para edifícios residenciais e outras em fase de elaboração. O segundo sistema de avaliação é o BREEAM, desenvolvido pelo Building Research Establisment – BRE, na Inglaterra, também foi destinado inicialmente a edifícios de escritórios (BUILDING RESEARCH ESTABLISHMENT, 2002). Atualmente encontramos suas versões para edifícios escolares, culturais e residenciais. Esses são alguns dos métodos amplamente conhecidos, utilizados e de crescente credibilidade no meio profissional, que deram origem a outros sistemas de indicadores em outros países. Por avaliarem critérios de desempenho, em geral, os sistemas de avaliação são revistos a cada dois anos. Da mesma maneira que os edifícios certificados devem passar pela verificação de desempenho no mesmo período de tempo. Todos os indicadores de sustentabilidade, não possuem um caráter obrigatório, apesar de terem sua aplicação incentivada por órgãos públicos. Todavia, o interesse por parte de muitas entidades privadas de grande e médio porte é crescente, pela influência que exercem na imagem ecológica de um empreendimento, na medida em que são instrumentos de valorização da atitude de projeto em benefício de um menor impacto ambiental. A adoção do BREEAM para empreendimentos fora do Reino Unido é proibida, enquanto que o sistema LEED vem sendo aplicado fora dos Estados Unidos. As preocupações com o uso de sistemas como esses fora de seus contextos de origem são fundamentados no caráter local de suas referências de desempenho, como é o caso das questões ambientais e energéticas. Esse

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feito deveria restringir a aplicação de qualquer sistema de avaliação de desempenho ambiental que não tenha passado pela adaptação de um determinado contexto em termos de critérios e pesos.

Em alguns casos, o projeto e a operação de edifícios proclamados como ícones de uma arquitetura sustentável são marcados por um alto grau de experimentação e complexidade. Por esse motivo, uma investigação criteriosa, vem sendo feita com a finalidade de testar a veracidade desses projetos, aclamadas como inovadores e de baixo impacto ambiental. Essa investigação representa uma importante contribuição para a elaboração de modelos futuros, no entanto, a abrangência e a complexidade do tema têm se refletido no desafio e na dificuldade de estabelecer parâmetros de análise adequados para cada caso.

5.0 - O Cenário Internacional O tema da arquitetura sustentável tem sido relevante nas áreas de pesquisa, prática e crítica em vários centros de excelência no âmbito internacional. Todo o investimento feito inclui desde questões de ordem técnica, como avanços sobre os métodos de ciclo de vida útil de materiais e componentes da construção, como também questões de ordem prática, elucidadas no comprometimento profissional especialistas na arquitetura e na engenharia mecânica sobre a operação de edifícios, visando o baixo impacto ambiental. O reconhecimento crescente do tema também vem sendo reconhecido por parte do poder público, como pode ser visto em obras e instrumentos da legislação, e pela valorização do mercado e da indústria da construção civil, sendo este quadro ainda um pouco distante da realidade brasileira. Instituições de ensino, pesquisa, projeto e planejamento nos países europeus (com destaque para Alemanha, Inglaterra e países nórdicos) em alguns estados norte-americanos (como Illinois e Califórnia), e em outras partes do mundo têm tratado o tema arquitetura sustentável sob diversas perspectivas, com exemplos podemos citar os casos mais abrangentes de planos urbanos para revitalização de bairros inteiros e projetos de novas comunidades; ao mesmo tempo são registrados casos de intervenções pontuais, como sedes de empresas, edifícios públicos e projetos-piloto. Em todo caso, as iniciativas de pesquisa e de projetos envolvem uma diversidade de profissionais de projeto, pesquisadores, agentes da indústria da construção e representantes do poder público e de comunidades locais, atuantes em planejamento, desenvolvimento urbano políticas públicas. Tendo como base o projeto do edifício, são ressaltados os temas de conforto ambiental, energia, materiais construtivos e o de sistemas prediais (como reuso de água, a geração de energia limpa e outros). Contudo, já se ampliaram para o campo do planejamento e do projeto urbano, no qual se trata das dinâmicas socioeconômicas, tecnologia, infraestrutura, densidade, e meio ambiente. De modo paralelo ao universo da inovação e pesquisa, levando-se em conta a realidade da Inglaterra como exemplo, nota-se a existência de um mercado bastante interessado e empenhado em novas propostas. Como consequência, o número de obras construídas aclamadas como modelos de uma arquitetura sustentável vem surgindo exponencialmente desde a década de 1980. Nesse período de discussões e propostas de tecnologia e projeto para a arquitetura, observa-se o surgimento do chamado “edifício inteligente”, focado na no uso da tecnologia e na eficiência energética, para o edifício sustentável, que reforça a finalidade de alcançar o baixo impacto ambiental e uma menor dependência da tecnologia. O projeto do escritório Richard Rogers Partnership da qual a sede da empresa de seguros Lloyds, do início da década de 1980, e a Assembléia Nacional do País de Gales, de 2006, entre muitos outros projetos, mostram e marcam essa evolução. Atualmente, uma grande quantidade de projetos aprovados no Reino Unido apresentam soluções de projeto diversificadas para responder ao desafio de atingir uma arquitetura que possa ser

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realmente denominada como sustentável, destacando-se aqui, como exemplo as obras públicas tais como: escolas, residências, bibliotecas, escritórios e obras em geral.

Após a implementação da regulamentação de conforto térmico e eficiência energética para edificações, o RCCTE - Regulamento das Características do Comportamento Térmico de Edifícios fez uma avaliação de 120 edifícios construídos em Portugal no período de 1994 a 2000, mostrou que as características construtivas, da grande maioria dos edifícios classificados como “bom” e “excelente”, foram bem distintas, o que aponta a possibilidade de diversas soluções construtivas, mesmo com a imposição de critérios de desempenho (GONÇALVES, 2000). Depois de mais de 20 anos de prática, olhando para esse contexto internacional, é notória a inovação na concepção arquitetônica e na engenharia dos sistemas, considerando não apenas o edifício em si, mas principalmente o desenvolvimento do projeto, que se tornou complexo com interação entre os profissionais envolvidos e a inserção de ferramentas avançadas de simulação e modelagem. O papel da engenharia mecânica tem crescido dentro do tema, uma vez que, a arquitetura sozinha (no caso de edifícios nos quais é inerente a complexidade tecnológica) não atende aos padrões de desempenho ambiental, não só pelas imposições climáticas, mas principalmente devido ao aumento da operação dos edifícios e da complexidade dos usos, exigidos atualmente. Tomando por base toda complexidade que compõe um projeto de arquitetura, não há um modelo único para a arquitetura sustentável. Da mesma forma, por mais que sejam estabelecidos critérios e requisitos, não existe um método universal para a elaboração do projeto. Entretendo, existe sim um conjunto de fatores que vêm redefinindo os edifícios na Europa, tais como o aproveitamento de recursos como a energia solar e a luz natural. Isso porque, como já mencionado, para a maioria dos profissionais que pensam a respeito do futuro de edifícios de maior eficiência energética, as ideias estão geralmente relacionadas com o menor consumo de energia nos países industrializados, analisando-se o desempenho do edifício por indicadores como a emissão de CO2 e kWh/m², decorrente do seu consumo energético. Outro fator determinante para as transformações do projeto arquitetônico em favor da sustentabilidade tem sido a relação entre o meio externo e os usuários, Exemplos como esse podem ser encontrados na Alemanha, onde há mais de 10 anos é obrigatório que nos edifícios de escritório as estações de trabalho estejam a uma distância máxima de seis metros da comunicação visual direta com o exterior e das fachadas, o que significa o início do fim dos pavimentos de plantas profundas. A Alemanha tem demonstrado que é possível construir edifícios com melhor qualidade e criatividade arquitetônica. Com isso, acredita-se que muito em breve se tornará bastante difícil a justificativa dos pavimentos-tipo com plantas profundas em todos os países europeus. O número de edifícios que se dizem sustentáveis é crescente, sendo representativo número de novas propostas de edifícios no contexto internacional. Apoiando essa nova geração de projetos, estão os instrumentos legais, seguidos de vantagens ambientais, econômicas e da própria diferenciação da arquitetura. Todavia, cabe lembrar que essa arquitetura sustentável internacional, que é confirmada por muitos especialistas da área (GONÇALVES, 2004); apesar de toda inovação, nem tudo o que se vê em tais projetos tem o desempenho esperado inicialmente. Por esse motivo, uma constante revisão crítica tem sido fundamental para a evolução e o sucesso de novas propostas dentro do tema, enquanto que os experimentos continuam sendo incentivados. Como exemplo, podemos citar algumas obras construídas nos últimos anos no Reino Unido, que representam essa última geração de edifícios conclamados como sustentáveis: BedZed – Beddington Zero Energy Development (Figura 1), Greenwhich Village Millennium (Figura 2), Mossbourn Academy Community (Figura 3), National Assembly of Wales, em Cardiff, País de

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Gales (Figuras 4); Classrooms of the Future, Swiss Re Headquarters, World Classrooms e outros em Londres.

Fig. 01 – BedZed – Beddington Zero Energy Development, Londres: (a) Unidades residenciais unifamiliares seguindo a composição formal linear e compacta da arquitetura residencial inglesa tradicional, o terrace housing (b) Detalhe das torres para a ventilação e a geração de energia limpa (painéis fotovoltaicos), aspectos de diferenciação arquitetônica Fonte: http://www.zedfactory.com/ - visitado em 12/05/1

Fig. 02 – Greenwhich Village Millennium, Londres (a) Edifício habitacional sobre solo descontaminado, trazendo componentes construtivos para a minimização do consumo de energia para a climatização, em que o uso da madeira é incentivado (b) Unidades residenciais unifamiliares, em que a diversidade de materiais é um destaque no projeto arquitetônico

Fonte: http://www.eye4design.com.br/pedia/greenwich-millenium-village - visitado em 12/05/1 Fig. 03 – Greenwhich Village Millennium, Londres (a) Vista da área externa de convivência (b) Pátio interno: espaço entre as salas de aula bem provido de luz natural e tratamento acústico (c) Área de intervenção com a identificação das principais determinantes ambientais do local: insolação, ventos e ruído urbano Fonte: http://www.richardrogers.co.uk/news/news_list/the_mossbourne_community_academy_opens - visitado em 12/05/1

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Fig. 04 – Assembléia Nacional do País de Gales, Cardiff (a) Área de intervenção com a identificação das principais determinantes ambientais do local: insolação, ventos e ruído urbano (b) Hall principal, espaço para exposições e convivência com comunicação entre exterior e interior (c) Corte esquemático do edifício mostrando as áreas públicas, nos pavimentos intermediário e superior, e as áreas privadas, no pavimento inferior (d) Conceito para o condicionamento ambiental combinando ventilação mecânica e efeito chaminé Fonte: http://www.nteditorial.com.br/wp/?p=2840 - visitado em 12/05/11

Também são encontrados inúmeros exemplos na Europa continental, principalmente na Holanda, nos países nórdicos e Alemanha. Com destaque a nova sede do Commerzbank, em Frankfurt (Figura 5), concluída em 1998, que sua tipologia de edifícios altos de escritório, ficou marcada como ícone da aclamada arquitetura sustentável. Deve também ser destacada entre os edifícios públicos, a reabilitação tecnológica da sede do parlamento alemão em Berlim, o Reichstag (Figura 6), concluído em 1990. Dos exemplos de arquitetura de edifícios residenciais, vale ressaltar os edifícios holandeses, entre outros do norte da Europa, nas últimas décadas.

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Fig. 05 – Sede do Commerzbank: Frankfurt, Alemanha O edifício de escritórios foi concebido como uma torre de aço e vidro altíssima e de alta tecnologia, com jardins ao ar livre. Os jardins de inverno proporcionam iluminação natural, uma pele dupla protegendo os espaços de permanência prolongada, melhor ventilação e conexão com a natureza. Fonte: https://www.commerzbank.com/ - visitado em 23/03/11

Fig. 06 – Sede do parlamento alemão em Berlim, o Reichstag A transformação do Reichstag está enraizada em quatro questões: a importância do Bundestag como um fórum democrático, um compromisso com a acessibilidade ao público, uma sensibilidade para a história, e uma rigorosa agenda ambiental. Sublinhando valores de clareza e transparência, a cúpula de vidro é um novo marco para Berlim, e um símbolo do vigor do processo democrático alemão. Fonte http://www.fosterandpartners.com/Projects/0686/Default.aspx - visitado em 23/03/11

6.0 - Edifício e Ambiente Construído As diversas experiências sobre a arquitetura sustentável mostram a importância de um método de inserção do edifício que leve em conta todos os aspectos de caracterização do contexto de intervenção, reunindo fatores ambientais, socioeconômicos e culturais. Nessa avaliação, a cidade deve ser entendida dentro de seu contexto regional, envolvendo fatores como a disponibilidade de recursos naturais e suas relações econômicas com outros centros urbanos próximos, e o clima, no qual tudo isso é adicionado ao desempenho dos edifícios analisados em conjunto. Fazer do edifício sustentável uma solução ambiental, social e economicamente viável no contexto global da sustentabilidade, deveria ser o objetivo maior. Assim, as noções de impacto ambiental não podem ser resumidas às questões de consumo de energia, e sim deveriam ser ampliadas para os contextos local e global.

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Pelo fato do edifício sustentável representar uma parcela do ambiente construído, suas qualidades urbanas e ambientais deveriam também seguir em direção à sustentabilidade. Nesse sentido, que GONÇALVES, 2006 diz que se o objetivo maior for reduzir o impacto ambiental das cidades e alcançar uma melhor qualidade ambiental urbana, em um cenário ideal, a busca pela arquitetura sustentável deve acontecer em três escalas: a do edifício, a do desenho urbano e a do planejamento urbano e regional. Nesse aspecto, os edifícios devem ser planejados de maneira que contribuam para a socialização do espaço público, a eficiência da infra-estrutura urbana e a qualidade ambiental do ambiente construído, múltiplos usos e classes sociais. O tema da densidade, nas discussões globais sobre sustentabilidade urbana, assume um papel central, visando as vantagens e benefícios ambientais e socioeconômicos para a otimização da infra-estrutura. Diferentes formas urbanas e arquitetônicas podem responder a um mesmo padrão de densidade, quanto aos modelos para a densidade populacional e construída, com diferentes configurações de espaços abertos, distribuições de uso e condições microclimáticas. Todavia, a verticalização e adensamento das cidades podem causar efeitos climáticos contrários, resultando no comprometimento do desempenho energético e ambiental das construções e da qualidade dos espaços urbanos, caso critérios ambientais não sejam aplicados conforme o clima do lugar em questão. Nesse caso, tais critérios devem contemplar um equilíbrio entre as condições de compacidade requeridas para atingir certas metas de economia de energia e racionalização do uso de recursos naturais, materiais construtivos, e de manutenção ou à melhoria da qualidade do ambiente externo. No entanto, esse ponto de equilíbrio ainda está em discussão, e tudo nos faz crer que não existe um modelo universal para resolução dessa questão, mesmo que sejam possíveis, metodologias comum de abordagem estão sendo desenvolvidas através de diversas pesquisas que estão em andamento no cenário global. Experiências isoladas de edifícios projetados para reduzir o impacto ambiental da arquitetura vêm sendo feitas em paralelo e continuam sendo válidas para o avanço do tema, porém deve-se ressaltar que a transformação do ambiente construído em direção à sustentabilidade ambiental urbana depende de uma abordagem mais ampla e complexa, englobando diversas escalas de atuação. Com isso, faz-se necessário responder à seguinte pergunta: que cidades queremos construir? De acordo com a resposta podem ser definidas tipologias arquitetônicas, desenho urbano, tecnologias adequadas para a cidade e para o edifício, características ambientais dos espaços abertos entre outros aspectos do ambiente construído. Frankfurt, Londres e Roterdã são exemplos de cidades que estão se esforçando para responder a essa pergunta com seus planos atuais de desenvolvimento urbano, inclusive com uma abordagem de questões do desempenho ambiental das edificações. Em resumo, a cidade deve ser planejada e gerenciada para que o conjunto dos edifícios, tenha sua eficiência e desempenho otimizados, agregando impactos positivos. Dessa maneira, intervenções urbanas que atendam os diversos sistemas que compõem as cidades, compreendendo espaços abertos, infra-estrutura e edifícios, cumprem o potencial de uma transformação positiva sobre o impacto gerado pelo próprio meio urbano e das cidades sobre o meio natural. É na resposta à pergunta, feita acima, que aparecem os primeiros princípios para uma intervenção na cidade. Em Jacobs (2000), a autora explica que as premissas do planejamento urbano devem ocorrer com a compreensão de que as cidades funcionam como um sistema orgânico. Nesse sentido, Girardet (1999) coloca a necessidade da redefinição do modelo urbano convencional onde o consumo acontece com mais variados recursos. Também nesse contexto, definem que o funcionamento das cidades, como metabolismo urbano, uma composição de seis ciclos, em que cada um contém características distintas, porém com influências mútuas. São elas: água, energia, transporte, resíduos, paisagem natural e ecologia, microclima, materiais, construções e edifícios.

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Battle e McCarthy (2001) destacam que as decisões de transformação de cada um desses ciclos, têm o objetivo de reduzir os aspectos de impacto ambiental que são específicos da localidade, porém têm influências nas questões de âmbito regional, nacional e mesmo globais e também nas sociais, econômicas e culturais. Nesse sentido, devem ser estabelecidas as metas para o consumo e a origem de recursos como água e energia em primeiro lugar; definições para a escolha da tecnologia e a determinação da eficiência dos processos de consumo dos recursos na operação dos edifícios ficariam em segundo lugar e por fim, o estabelecimento de metas e tecnologias de gerenciamento da geração de resíduos, incluindo a poluição do ar. A quantidade desses recursos que serão gerados, reutilizados e reciclados dentro dos limites físicos da cidade, vão demonstrar o compromisso da sociedade com as questões imediatas de impacto ambiental, em última instância. Em outras palavras, o olhar sobre o ambiente construído e a busca pela sustentabilidade vem ao encontro de metas simples como a preservação e liberação de áreas naturais pelos efeitos e vantagens da compacidade urbana; proximidade, diversidade, uso misto e socialização do espaço público; maior eficiência energética e menor poluição pelo sistema de transporte; microclimas urbanos mais favoráveis ao uso do espaço público e ao desempenho ambiental das construções; edifícios ambientalmente conscientes; consumo consciente dos recursos em geral; e reuso, reciclagem e diminuição do impacto ambiental proveniente da geração de resíduos em geral. Se olharmos para a discussão de sustentabilidade urbana, a revitalização de áreas urbanas de diferentes configurações e usos são uma boa opção de ocupação das áreas degradadas e desvalorizadas, em oposição à expansão urbana, com a ocupação de áreas verdes. Em síntese, os principais objetivos de planos como podem ser observados com atitudes como: ocupar áreas degradadas inseridas na cidade, otimizando o uso da infra-estrutura disponível com base em parâmetros de densidade e uso misto; conectar áreas da cidade, superando os obstáculos físicos existentes; melhorar a qualidade ambiental da área como um todo; otimizar o consumo de energia nos edifícios e na cidade; e aumentar o valor ambiental e socioeconômico de uma área existente, ou restaurar o seu valor inicial. Considerando os benefícios socioeconômicos, o desenvolvimento da arquitetura e do ambiente construído em direção à sustentabilidade ambiental, implica uma reformulação da maneira de projetar, onde métodos de pesquisa pró-projeto direcionam para uma maior interação entre proposição e pesquisa, com a inserção de novas variáveis, associando arquitetura, desenho urbano e planejamento em suas diversas escalas.

7.0 - Considerações finais É nítido que o tema da sustentabilidade, com destaque para as questões ambientais, vem ganhando abrangência no contexto global e tem um peso certamente crescente e determinante para a concepção da arquitetura e do ambiente construído como um todo. No entanto, uma série de perguntas sobre o futuro desse tema permanece, unindo possibilidades, métodos, definições e metas, especialmente quanto aos indicadores. Nesse caso fica a questão sobre a capacidade dos checklists determinarem sustentabilidade. Em outras palavras, pode-se dizer que, enquanto o desempenho ambiental da construção puder ser medido pelos sistemas de avaliação, a composição que deve ser realizada pela compreensão da arquitetura sustentável não tem como ser integralmente observada por esses mesmos métodos. No âmbito do ensino, com destaque para o panorama nacional, a grande maioria das instituições de ensino de arquitetura ainda apresenta uma separação entre os ateliês de projeto e o bom emprego dos conhecimentos básicos da sustentabilidade, conforto ambiental e eficiência energética. Porém, pressões e tendências pelas soluções de projeto que visem uma arquitetura mais sustentável e de baixo impacto ambiental. A evolução de técnicas e métodos para

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intercomunicação entre o projeto somada as variáveis ambientais, tendem transformar esse panorama a médio e longo prazos. Ferramentas computacionais e as avaliações de desempenho existentes são exemplos disso. Certamente, cada vez mais, a criação de certos paradigmas da arquitetura sustentável, exige uma conexão maior entre pesquisa, prática e ensino. Para que essa interação aconteça, é necessário que todos os profissionais ligados ao projeto de arquitetura estejam cientes das questões de conforto ambiental, ainda que na teoria; por outro lado, é essencial que professores e pesquisadores de conforto ambiental tenham intimidade e certo domínio com as questões da prática do projeto. Pode-se dizer que a simulação computacional, tanto na prática como no ensino, ainda é um ponto crítico, já que os programas de simulação computacional com resultados gráficos avançados são complexos no ingresso dos dados e na modelagem. Sem uma noção consistente de mecânica de fluidos e de trocas de calor, especialmente, o usuário não tem como interpretar os resultados corretamente. Nessas circunstâncias, a segurança na representação dos dados é ainda mais importante do que a representação formal. Já os softwares mais simples, adotados pelos cursos de arquitetura, implicam numa simplificação formal que não atende às concepções de projeto. A pertinência da arquitetura para o tema de sustentabilidade não tem porte nem lugar, ou seja, cabe a qualquer tipologia, função e contexto, assim como também ela não define tecnologia ou partido arquitetônico. Os resultados, na prática de projeto, mostraram uma diversidade de propostas tecnológicas e arquitetônicas que em parte trata o tema sob uma ótica em que questões vernaculares predominam, outras associam abordagens mais industriais e racionalizadas, visando uma imagem mais contemporânea do objeto arquitetônico, aonde alguns casos, nas relações com o ambiente natural, vão além do conforto e da energia, na medida em que agregam aspectos estéticos inspirados em formas orgânicas pouco convencionais. Um grupo de arquitetos em conjunto com suas equipes de projeto e consultoria, focados na arquitetura brasileira contemporânea, aproxima-se da temática da sustentabilidade na arquitetura. Essa aproximação pode se dar por um ou mais aspectos do projeto, ou até pelo processo de síntese, mostrando assim uma diversidade nas soluções arquitetônicas, que, entre outros fatores, é resultado das condicionantes climáticas. Nesse grupo encontram-se os projetos de Sigbert Zanettini e Sidônio Porto, ressaltando aqui aqueles desenvolvidos para a Petrobras nos últimos anos, o modernismo de Acácio Gil Borsói e Roberto Loeb e Botti Rubin, com princípios de conforto ambiental que primam pela valorização do conforto e da eficiência energética em edifícios-marco da arquitetura contemporânea, a arquitetura de técnicas e materiais vernaculares de João Castro Filho e Severiano Porto, na exploração do uso de materiais, como elementos cerâmicos, madeira, concreto e aço, destacam-se os trabalhos de Marcos Acayaba. Do grupo de arquitetos atualmente em cena no cenário nacional, vale destacar especialmente todos os projetos de João Filgueiras Lima, mais conhecido como Lelé, em que fatores como o conforto ambiental, a eficiência energética, a economia, a racionalização e a industrialização serviram de inspiração para o refinamento de sua arquitetura, presente em quase todo o país.

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