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COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA SOCIAL: CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO COM PROTAGONISMO COMUNITÁRIO Andréa Moreira Gonçalves de Albuquerque [email protected] Universidade Federal de Alagoas ICHCA-COS-GEPUR Simone Rachel Lopes Romão [email protected] Universidade Federal de Alagoas FAU-DEHA-GEPUR Augusto Aragão de Albuquerque [email protected] Universidade Federal de Alagoas FAU-DEHA-GEPUR

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COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA SOCIAL: CAMINHOS PARA O

DESENVOLVIMENTO COM PROTAGONISMO COMUNITÁRIO

Andréa Moreira Gonçalves de Albuquerque

[email protected]

Universidade Federal de Alagoas – ICHCA-COS-GEPUR

Simone Rachel Lopes Romão

[email protected]

Universidade Federal de Alagoas – FAU-DEHA-GEPUR

Augusto Aragão de Albuquerque

[email protected]

Universidade Federal de Alagoas – FAU-DEHA-GEPUR

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COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA SOCIAL: CAMINHOS PARA O

DESENVOLVIMENTO COM PROTAGONISMO COMUNITÁRIO

RESUMO: Este artigo aborda a relação entre dois elementos essenciais no processo de

desenvolvimento socioeconômico e político na perspectiva das comunidades habitacionais

periféricas: as tecnologias sociais e a comunicação. Trata-se do resultado das primeiras discussões

travadas pelo Grupo de Estudos dos Problemas Urbanos da Universidade Federal de Alagoas no

desenvolvimento de uma pesquisa sobre Tecnologia Social (TS) para a habitação. A referida

pesquisa é realizada com a participação de 8 instituições brasileiras e tem, como objetivo central, o

empoderamento das populações do processo da produção social do habitat. Nessa etapa, o GEPUR

partiu da reflexão sobre o conceito de TS e sua fundamentação, de modo a construir as bases

teóricas para compartilhar o conhecimento nesse campo com as comunidades com as quais deverá

interagir. E iniciou um diálogo sobre o papel da comunicação nesse contexto, analisando a

experiência realizada por alguns de seus membros junto a uma comunidade com características

emblemáticas de enfrentamento da pobreza e da exclusão social.

PALAVRAS CHAVE: Desenvolvimento, tecnologia social, comunicação, protagonismo,

comunidades.

ABSTRACT: This article discusses the relationship between two essential elements in the

process of socioeconomic and political development from the perspective of peripheral housing

communities: social technologies and communication. It is the result of the former discussions held

by the Group for the Study of Urban Problems, of the Federal University of Alagoas in the

development of a research on Social Technology (ST) for housing. Such research is conducted with

the participation of eight institutions in Brazil and has, as its main objective, the empowerment of

the people in the process of social production of habitat. At this stage, the GEPUR is focusing its

reflection on the concept of TS and its grounds, in order to build the theoretical basis to share

knowledge in this field with the communities with which the researchers must interact. And also

started a dialogue on the role of communication in this context, analyzing the experiment conducted

by some of its members at a community with emblematic characteristics of the struggle against

poverty and social exclusion.

KEY WORDS: development, social technology, communication, leadership, communities.

EIXO TEMÁTICO 9. COMUNICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento sustentável hoje é um dos temas centrais em discussão na sociedade,

especialmente nos fóruns acadêmicos e governamentais. Um dos aspectos que ganha destaque nesse

debate é a inovação tecnológica vinculada ao protagonismo e à autonomia das comunidades locais,

dentro do contexto de uma sociedade em acelerada globalização. Trata-se das assim chamadas

“tecnologias sociais”, cujo conceito necessita de aprofundamento considerando que o seu avanço e

consolidação dependem, em grande parte, da clareza no seu entendimento, além da coerência na sua

prática. Nesse processo, a comunicação assume particular importância; afinal, ela está presente em

todas as etapas da elaboração conceitual ao emprego da tecnologia, em qualquer campo da atividade

humana. Que características, que parâmetros se devem adotar de forma que a ação comunicativa

possa contribuir com as tecnologias sociais com vistas ao desenvolvimento sustentável? Este artigo

pretende promover essa reflexão, a partir da compreensão do que vêm a ser as tecnologias sociais e

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de uma aproximação dos valores de uma comunicação capaz de produzi-las de forma coletiva e

emancipadora.

Tecnologia como Instrumento de Desenvolvimento

Este artigo se insere no desenvolvimento de uma pesquisa sobre Tecnologia Social (TS) para

a habitação. A referida pesquisa é desenvolvida em rede, com 8 instituições no Brasil.

A Tecnologia, por muito tempo considerada a “prima pobre” da Ciência já não pode ser

vista como desvinculada dos processos sociais. Para Bourdieu (1983) o “campo científico” é um

verdadeiro espaço de lutas em busca de poder. Ellul (2006) acrescenta que, no caso de um conflito,

o sucesso da Tecnologia sobre a Política é inevitável.

Na perspectiva do empoderamento das populações do processo da produção social do

habitat, a tecnologia tem, portanto, importância capital. Em que mãos esta se encontra? Para que

fim e para quem se destinam seus avanços? Estas são algumas das questões determinantes. Como

promover o seu compartilhamento de forma a fortalecer a autonomia, a dignidade das

comunidades?

Iniciamos por uma revisão crítica da bibliografia e, em seguida, a análise de casos empíricos

para submetermos às diversas comunidades (científicas ou não) uma proposta de um marco teórico

da TS e pistas de uma ação comunicativa exemplar e aplicável às políticas de habitação, na

perspectiva dos cidadãos que se fortalecem no processo de conquista da própria moradia.

TECNOLOGIA SOCIAL: FUNDAMENTAÇÃO DO CONCEITO

A Tecnologia Social é um movimento contemporâneo, resultante de um longo processo de

discussões iniciadas em fins do século XIX, fortalecendo-se no século XX, através de uma trajetória

de definições e conceitos diversos surgidos entre iniciativas pioneiras e na comunidade acadêmica

na Ásia e na Europa.

Uma breve contextualização da Tecnologia Convencional (TC) e da Tecnologia Apropriada

(TA), Tecnologia Intermediária (TI) que juntamente com a Adequação Sociotécnica, mais tarde vai

impulsionar a geração do conceito de Tecnologia Social (TS).

A Tecnologia Convencional, de uma forma geral, é aquela produzida pela grande

corporação, pela empresa, pela indústria, também identificada como a tecnologia capitalista ou

tradicional. Já a Tecnologia Social, se difere por apontar para uma produção que visa o coletivo e

não mercadológica (DAGNINO, 2010).

A Tecnologia Apropriada teve seu berço na Índia do final do século XIX, tendo como

expoente, Gandhi, que dedicou-se a construir o primeiro produto chamado Charkha, equipamento

tecnologicamente apropriado, desenvolvido entre 1924-1927, que visava a popularização da fiação

manual realizada numa roca, como forma de lutar contra o monopólio britânico na indústria têxtil.

Sua postura despertou a consciência política de milhões de habitantes das vilas indianas

(DAGNINO, 2010).

As ideias de Gandhi influenciaram o economista alemão Schumacher, que criou o termo

Tecnologia Intermediária para designar uma tecnologia que, em função de seu baixo custo de

capital, pequena escala, simplicidade e respeito à dimensão ambiental, seria mais adequada aos

países pobres. Ele, juntamente com o Grupo de Desenvolvimento da Tecnologia Apropriada, em

1973, publicou o livro “Small is beautiful: economics as if people mattered”, que foi traduzido para

mais de quinze idiomas, causando grande impacto, tornando-se conhecido como o “introdutor do

conceito de TA no mundo ocidental” (DAGNINO, 2010).

Na década de 1960, a preocupação geral dos pesquisadores de países avançados, num

universo mais teórico, estava voltada para as relações entre a tecnologia e a sociedade, pois já

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estavam conscientes de que a Tecnologia Convencional não se adequava à realidade dos países

pobres.

Na década de 1970, esta preocupação cresceu para outras profissões, e o termo Tecnologia

Intermediária se desenvolveu e passou a se chamar Tecnologia Apropriada, por incorporar

aspectos culturais, sociais e políticos à discussão e propor uma mudança no estilo de

desenvolvimento.

Entre as décadas de 1970 e 1980, multiplicaram-se os estudos sobre Tecnologia Apropriada

nos países centrais, tendo como objetivo principal minimizar a pobreza nos países periféricos,

aliados às preocupações ambientais e fontes de energia.

Todas as expressões que foram surgindo, buscava diferenciar-se da Tecnologia

Convencional, por esta agravar os problemas sociais, econômicos, culturais e ambientais. A

variedade de termos criados como um manifesto dos pesquisadores críticos deste tempo determina

com clareza a forte aderência ao movimento de resistência às tecnologias consideradas de uso

intensivo de capital e poupadoras de mão-de-obra. estes movimentos de opunham ao processo de

transferência massiva de tecnologia de grande escala, provenientes dos países desenvolvidos, para

os países em desenvolvimento, que, além de aumentar a dependência, tendiam a criar novos

problemas (DAGNINO, 2010).

Tecnologia Social e a Habitação das Comunidades em Vulnerabilidade Social

Quando o Brasil se encontra com a economia estável e com fortes investimentos financeiros

para políticas públicas urbanas, a exemplo do Programa Aceleração de Crescimento – PAC e do

Programa Minha Casa e Minha Vida – PMCMV, momento em que o Governo Federal tem

promovido esforços para integrar políticas urbanas com inclusão social, refletir sobre o cenário

habitacional no país, e a participação cidadã neste processo toma novo significado.

Jacobs (2000) diz que o dinheiro tem o poder de contribuir tanto para a decadência quanto

para a revitalização das cidades. É preciso entender que o mais importante não é a simples

disponibilidade do dinheiro, mas sim como ele se torna disponível e para quê.

Trazendo esta reflexão para a questão da habitação no Brasil, não basta tão somente ter

recursos financeiros para construir uma elevada quantidade de casas em série. Promover uma ampla

produção quantitativa de habitação de interesse social é importante para minimizar o déficit, mas

não é tudo.

Em muitas ações de políticas de habitação “ditas” de interesse social, passou a se construir

habitações impessoais, seriadas, desterritorializadas. Tem-se transferido famílias para “depósito de

gente”. São regiões longínquas da cidade, sem considerar os anseios e necessidades da população,

que venha a possibilitar um melhor nível na qualidade da moradia e a efetiva apropriação dos

moradores pela habitação.

A idéia de protagonismo social inerente ao conceito de TS pode ser associada à noção de

comunidade e sua relação com os assentamentos habitacionais que, como vimos, subjazem a muitos

instrumentos balizadores de políticas e planos sociais de habitação.

Segundo De La Mora (2007) na construção de uma sociedade mais justa que busque

eliminar as manifestações da exclusão, todos os setores sociais – empresários, governantes e

membros de comunidades – devem esforçar-se em transformar as energias desses conflitos em força

motriz de mudança. Não se trata de negar a existência dos conflitos na sociedade, mas, de forma

estratégica, transformá-los em propulsores de novos arranjos sociais e institucionais, com novos

formatos de tecnologia social.

Na Cartilha Produção Social do Habitat (HPH, 2011), se estabelece com clareza a relação

entre a Habitação de Interesse Social e a Tecnologia Social na produção da moradia. Esta Cartilha

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se comporta como um manifesto pelo direito à cidade e por melhores condições de habitação e

propõe a modalidade de produção do habitat pela comunidade, por meio do protagonismo social,

sendo este o elemento central. Comporta-se como uma alternativa que pode ser replicada no país,

buscando aumentar as possibilidades de inserção social e a conquista da cidadania pela população

historicamente excluída.

A Participação como um Meio de Comunicação Social das Comunidades Habitacionais

Sempre foi marcante a difusão de tecnologias como uma forma de superar o

subdesenvolvimento do Brasil. Nos anos 1950, o Estado chegou a institucionalizar serviços de

extensão rural, nos quais a comunicação tornou-se ferramenta essencial enquanto metodologia de

trabalho especificamente junto aos agricultores. Durante mais de 30 anos, a extensão rural utilizou,

como um de seus referenciais maiores, a abordagem teórica de Everett Rogers em seus estudos

sobre difusionismo.

Para Rogers, “o desenvolvimento é um tipo de mudança social, no qual novas idéias são

introduzidas em um sistema social como objetivo de produzir o aumento das remunerações per

capita e a elevação dos níveis de vida através de métodos mais modernos de produção e de uma

organização social aperfeiçoada. (ROGERS apud MATTELART, 1994, p. 185)

Com o início da redemocratização do País, a partir do final dos anos 1970 e, em particular

na década de 1980, a avaliação dos resultados da extensão rural brasileira demonstrou que sua ação

contribuiu para a exclusão social e a concentração de renda. Diversos autores indicam o

estabelecimento de processos de natureza dialógico-participativa como condição emancipadora na

difusão/construção do conhecimento: [...] o que a rigor se postula é que a comunicação [...] deva

transformar-se num verdadeiro processo de interação social ou diálogo tanto a nível individual e de

grande público. Um processo pelo qual produtores e técnicos desenvolvam suas características e

suas vocações criadoras e transformadoras da natureza, e do mundo físico e social no qual se

encontram. (FRIEDERICH, 1988 p. 46)

Entre os críticos da postura difusionista, destaca-se o educador Paulo Freire. Sua obra

“Comunicação ou Extensão” é um marco para as reflexões sobre esse tema. Ele assinala que “o

papel do educador não é o de ‘encher’ o educando de ‘conhecimento’, de ordem técnica ou não,

mas sim o de proporcionar através da relação dialógica educador – educando, educando – educador,

a organização de um pensamento correto em ambos (FREIRE, 1977, p.53)

As palavras de Freire ecoaram no próprio movimento extensionista. Tornou-se quase um

consenso o entendimento de que o difusionismo, calcado numa relação comunicacional

verticalizada, não valoriza o conhecimento popular, ignora o agricultor como sujeito capaz de

construir a sua própria história.

É indiscutível que o meio rural necessite de um trabalho de comunicação, no sentido de

comunhão de ideias dado por Freire, no qual extensionistas , respeitando (e valorizando) a cultura

do trabalhador rural, junto com ele (no seu grupo) problematizam a situação (com suas injustiças e

contradições), buscando (sempre juntos e comprometidos integralmente) soluções alternativas aos

problemas evidenciados (soluções que podem ser técnicas, políticas, econômicas, sociais ou

culturais) (MUSSOI, 1985, p. 18).

No âmbito das comunidades rurais nordestinas (com ênfase no Estado de Pernambuco), a

disseminação de ideais de igualdade, justiça social fez surgir movimentos reivindicatórios e

libertários como as Ligas Camponesas, com forte atuação no campo. E nas cidades, seguindo

inspiração semelhante e com o apoio da Igreja Católica, na época, surgiram as comunidades

eclesiais de base, cuja capacidade de mobilização e articulação foi ampliada por meio da educação

de base e da comunicação participativa.

Encontram-se justamente na já citada Cartilha da Produção Social do Habitat (HPH, 2011),

algumas pistas importantes para uma ação comunicativa emancipadora na apropriação das

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tecnologias das comunidades. E essa publicação já pode ser considerada um veículo representativo

de comunicação para o desenvolvimento harmônico e sustentável das cidades. No texto, consta,

entre outras definições, uma muito útil ao trabalho comunitário. Trata-se de uma escala de

participação segundo a qual, existem graus crescentes de participação, os quais serão

relacionados a seguir:

Omissão. As pessoas não participam porque não têm interesse ou não lhes foi permitida a

participação. Esse grau não tem a menor utilidade.

Presença passiva. Ocorre quando as pessoas estão presentes, mas não se manifestam, não

expressam suas idéias, nada propõem e muito menos decidem. Apenas ficam observando o

que os outros fazem, falam ou decidem. Esse grau de participação é bastante comum,

principalmente entre grupos mais desorganizados. E é muito perigoso, uma vez que o

promotor do processo pode afirmar que o projeto é democrático porque muitas pessoas

assistiram a determinada reunião, mas, na realidade, o único que falou e decidiu foi ele.

Informação. O participante pede ou oferece uma informação. É o primeiro grau da

participação ativa, mas é ainda insuficiente para fundamentar um verdadeiro processo de

Produção Social do Habitat.

Opinião. Este é um grau superior ao anterior, porque demonstra que a pessoa está

informada e tem capacidade de expressar seu pensamento.

Proposição. Grau ainda mais alto de participação, porque o participante, ao possuir uma

informação mais segura, se anima a fazer uma proposta concreta.

Exigência. Quando alguém tem certeza de que sua proposta tem fundamentos legais,

científicos, políticos ou de qualquer outra ordem, estará em condições de exigir o seu

acatamento.

Decisão. Quando aquilo que é encaminhado pelo participante é acatado pelo grupo e pelos

interlocutores, pode-se dizer que foi atingido o mais alto grau de participação.(HPH,

2011)

Figura 1 - Níveis crescentes de participação.

A partir dessa escala, é possível diagnosticar o grau de participação das comunidades

habitacionais envolvidas em um processo de compartilhamento de conhecimentos e tecnologia e em

uma dada ação comunicativa. E a Cartilha também oferece diretrizes claras para promover a

participação comunitária. Em síntese, são elas:

Os processos de participação podem ser consultivos e deliberativos. Os consultivos

atingem apenas os graus inferiores de participação, ao passo que os deliberativos atingem

o topo: a possibilidade de participar das decisões.

Há de se observar, portanto, que a Produção Social do Habitat não pode se basear na

participação consultiva. Ela deve ser deliberativa e atingir altos graus e níveis de

participação dos interessados em todas as fases do processo.

Há que se considerar também o nível de participação. Esse critério considera a

importância dos assuntos que são discutidos, podendo variar dos níveis mais baixos e sem

importância até os níveis mais altos. (HPH, 2011)

A Cartilha Produção Social do Habitat (HPH, 2011) elucida a distinção entre esses níveis de

uma forma muito clara, com exemplos:

Se alguém tem uma proposta aprovada, pode-se dizer que ele atingiu um alto grau de

participação. Mas se essa proposta se refere apenas à decisão de mudar a hora da próxima

reunião, diz-se que o nível é muito baixo.

Ao passo que, se a proposta consiste em definir a taxa de juros a ser aplicada num projeto,

ou sobre o número de unidades habitacionais a serem construídas, ou temas similares,

pode-se afirmar que o processo está atingindo altos níveis de participação (HPH, 2011).

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A partir da leitura da Cartilha (HPH, 2011), emerge um percurso metodológico para

identificar o nível de organização da comunidade que começa com o levantamento dos documentos:

atas, portarias, estatutos. Feito esse trabalho, é possível identificar, por exemplo, os processos com

elevado nível de participação que exigiriam:

Universalidade: devem participar todos os setores envolvidos, ninguém deve ficar de fora.

Famílias, lideranças, ONGs, prefeitura, agentes financeiros, etc.

Representatividade: como é muito difícil contar com a presença de todos os membros de

um determinado setor, os ausentes deverão estar representados por substitutos que

efetivamente reflitam seus interesses, uma vez que serão portadores daquilo que os

representados encaminharam previamente através de processos específicos.

Transparência: as discussões devem ser abertas, e as informações disponíveis para todos

os participantes.

Eqüidade. Os resultados do processo de participação devem ser benéficos para todos os

interessados. Se um determinado grupo é reiteradamente deixado de lado e seus membros

não são atendidos em seus interesses, esse grupo, frustrado, tenderá a abandonar o

processo de participação.(HPH, 2011)

Esses atributos permitiriam que os processos de Produção Social do Habitat sejam

efetivamente participativos e articulados. Mas não só. A Cartilha (HPH, 2011) desce aos detalhes

quando propõe, por exemplo, o protagonismo das famílias ao longo do processo “assegurando o

caráter deliberativo, com altos graus e níveis de participação”. Faz, contudo uma ressalva, ao

antecipar que nem tudo o que se propõe ou se defende será acatado:

“Processos de discussão e negociação baseados em critérios legais, políticos,

administrativos, técnicos, operacionais, sociais e culturais deverão ser estabelecidos com

os parceiros de forma a atingir resultados que venham a ser efetivamente produzidos e

assumidos coletivamente, isto é, socialmente” (HPH, 2011).

O Papel da Comunicação no Empoderamento de uma Comunidade Habitacional

A título de aproximação do que poderia ser o papel da comunicação no desenvolvimento de

tecnologias sociais para o desenvolvimento, tomamos o exemplo de uma experiência realizada no

Recife, diante de uma problemática muito frequente no cotidiano das nossas cidades: a violência; e

não apenas aquela, mais evidente, quantificada nas estatísticas policiais e registrada diuturnamente

pela mídia.

Há também um tipo de violência – simbólica – que vitima especialmente a população

excluída no acesso aos bens, às informações e à renda. São preconceitos e estereótipos,

freqüentemente transmitidos pelos meios de comunicação social (em especial, a televisão), que

acabam abalando a imagem pública, a identidade e a auto-estima da própria comunidade. Munir

esses cidadãos de instrumentos que os tornem capazes de analisar e fazer face aos conteúdos da

mídia é, acima de tudo, um gesto de responsabilidade e inclusão social. E fazê-lo, de modo eficaz,

requer conhecimento e articulação.

O nosso exemplo emerge da intercessão entre dois olhares: duas pesquisas parcialmente

desenvolvidas na Ilha de Santa Terezinha, no bairro de Santo Amaro, na área conhecida como

Centro Expandido da Cidade do Recife, capital do Estado de Pernambuco, na Região Nordeste do

Brasil. Respectivamente, as pesquisas visavam compreender o processo de transformação espacial

que a comunidade promoveu em seu território (A Produção do Espaço e o Paradigma da Cultura

Religiosa: o caso da Ilha de Santa Terezinha, no Recife, de 1964 a 2007) e intervir no quadro de

violência simbólica em que se encontravam os moradores da comunidade (Pesquisa-Ação contra a

Violência Simbólica na Ilha de Santa Terezinha – em confluência com as teorias do comunicólogo

pernambucano Luiz Beltrão). Ambas as pesquisas tiveram, como premissa, a participação da

comunidade no processo de construção do conhecimento, preservando a sua autonomia.

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Para combater a violência simbólica e seguindo esse critério, utilizou-se a metodologia da

pesquisa-ação, construída por Michel Thiollent, que prevê uma interação entre pesquisadores e

pessoas implicadas na situação investigada, da qual resulta a ordem dos problemas a serem

pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob forma de ações concretas. O saber

comunicacional adquirido durante o processo ficaria, portanto, nas mãos do grupo focal que

expressa sua aprendizagem tanto na sua tomada de consciência como no seu comprometimento com

a ação coletiva de combate ao problema identificado.

A influência do paradigma religioso na produção do espaço na Ilha foi investigada

recorrendo à metodologia da História Oral, para a revisão e construção de uma narrativa

epistemologicamente aceitável assim como para a identificação dos elementos chave na formação

das lideranças com ênfase no aspecto dos valores religiosos cujos indícios são fortes nas

manifestações da comunidade. Aos elementos encontrados agregou-se a análise espacial de usos e

formas para compreender se as posturas sociais implicaram em um rebatimento espacial na área.

A Ilha de Santa Terezinha

Segundo o relato dos moradores mais antigos, a Ilha de Santa Terezinha começou seu

processo de ocupação no fim da década de 1950, quando recebeu das autoridades policiais a

alcunha de “Ilha do Inferno” em função da presença, na área, de um suposto delinqüente apelidado

de “Cão”, em referência à figura do demônio. A área era considerada periférica e enquadrava-se à

margem da ocupação dos bairros “oficiais” da capital pernambucana naqueles anos. Hoje, integra-se

no conjunto das comunidades localizadas entre o Canal Derby-Tacaruna e a foz do rio Beberibe,

entre o Recife e Olinda.

Figura 2 - Imagem de satélite da Ilha de Santa Terezinha, com o centro comercial ao lado. Fonte Google. 2007.

No início dos anos de 1960, voluntários de um movimento eclesial de matriz católica (o

Movimento dos Focolaresi) iniciaram trabalhos de promoção humana que se desdobram ali, até

hoje. Entre 1964 e 1968, um jesuíta canadense, o Padre Bernard Bourrassa, também exerceu um

papel importante na formação social e política da comunidade, que hoje conta com escola, posto e

agentes comunitários de saúde, entidades de assistência à infância, eletrificação, saneamento, casas

de alvenaria, ruas pavimentadas e uma Associação de Moradores (com estrutura colegiada e mais

de 27 anos de atuação)ii. Apesar de tantas conquistas, a Ilha de Santa Terezinha enfrenta grandes

desafios como a disseminação da droga entre os jovens, a desagregação familiar, e a prostituição

infanto-juvenil.

Além disso, a comunidade resiste à constante ameaça de expulsão “branca” daquela área que

foi valorizada com a dinâmica urbana, mas também – e especialmente – com o esforço e o trabalho

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de seus ocupantes. Hoje, a Ilha é protegida por uma lei municipal que delimita as Zonas Especiais

de Interesse Social (ZEIS), mas se torna cada vez mais cobiçada pelos empresários da construção

civil. Afinal, fica ao lado de um centro comercial, em um bairro central do Recife, margeia o eixo

metropolitano de maior fluxo viário e se insere em uma região para a qual existe um projeto

urbanoiii

nos moldes estratégicos que prevê a valorização da área, com o conseqüente aumento da

pressão do mercado imobiliário.

O desafio do muro

Ao norte da Ilha de Santa Terezinha, existe um muro. São cerca de 3,5m de altura de um

muro de tijolos de cimento. Um paredão, cinza coroado com aspirais de arame farpado, construído

pelo Shopping Tacaruna, com a autorização do Poder Público, numa decisão resguardada pela Lei

das Edificações e Instalações na Cidade do Recife, a Lei nº 16.292 /97 que, em seu Artigo 28 diz:

Os muros divisórios, quando houver, deverão ter uma altura máxima de 3,50m (três metros e

cinqüenta centímetros), medidos a partir do nível do meio-fio, e serão feitos em alvenaria ou outro

material, a critério do órgão competente da Prefeitura.

Genérica e restrita ao aspecto físico, a lei não considera o contexto espacial: o traçado, a

ambiência, que mudam todo o significado desse elemento urbano. De fato, o muro delimita o

terreno seguindo à risca o estabelecido pela lei, mas o “encadeamento dos significantes”

(BAUDRILLARD, 2005, P.17) que compõe o contexto urbano faz do muro, não apenas um limite

entre terrenos. Como diria Jane Jacobs (2000: 285) “as fronteiras são vistas quase sempre como

passivas, ou pura e simplesmente, como limites. No entanto, as fronteiras exercem uma influência

ativa”. Cabe aqui, portanto, perguntar: Que influência teria a construção do muro que delimita uma

fronteira entre um grande equipamento urbano e uma comunidade?

Figura 3 - Posto da Polícia Militar do Estado de Pernambuco com emblema do centro comercial na fachada.

Acervo dos autores.

No caso da Ilha de Santa Terezinha, o muro materializa a violência que a sociedade permite

que se pratique contra uma parcela de seus membros. Sua construção constitui uma fronteira

vigiada entre o centro comercial e a comunidade, configurada pela implantação de um posto policial

do Estado que exibe, em sua fachada, o emblema do mencionado centro comercial e é responsável

pelo policiamento ostensivo na área. E a fronteira se torna ainda mais robusta pela existência de, no

mínimo, outras três barreiras físicas: a primeira é o conjunto jardins e circulações, internas ao

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gradil; a segunda é o próprio gradil, com os acessos de veículos e pedestres; a terceira barreira é

uma via, com faixa de rolamento e calçada.

Figura 4 - Conjunto “muro-rua” no terreno do centro comercial. Acervo dos autores.

A inexistência de portões, as dimensões, a calçada, a pavimentação e a sinalização dão a

impressão de que aquele é um espaço público. Com o conjunto “muro-rua”, o centro comercial

reafirma seu modo de atuação, privatizadora da vida pública. (Neste caso, com referência à

circulação, assim como o faz no aspecto das relações de troca, características dos centros urbanos).

E nesse contexto de “rua”, o muro – divisor entre a Ilha e o centro comercial – acaba assumindo o

sentido de “exclusão” pela reação de alguns transeuntes que afirmam: “Se for pessoas que só tenha

bandidos, quanto maior o muro melhor.” (Uma homem de meia idade).

“Eu acho que o motivo deles fazerem esse muro, deles terem feito esse muro. Foi uma

maneira para diferenciar o shopping, assim, as pessoas do shopping, o ambiente que

freqüenta e tem um certo público, um público A da classe C. Que realmente a gente não

pode negar que aí é a classe C, são pessoas diferenciadas das pessoas que freqüentam o

shopping.” (Uma jovem senhora)

Figura 5 - Entrevista dos estudantes Gabriel Marquim e Rute Pajeú ao ator e apresentador Roger de Renor no

programa Sopa Diário. Fonte: Boletim Unicap 2007.

Essas declarações estão registradas no vídeo intitulado “Ilha de Santa Terezinha”, produzido

por estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco, e exibido

parcialmente no programa Sopa Diário, da TV Universitária, em 14 de junho deste ano (2007). Na

reportagem (de dois minutos e onze segundos) sobre o tema, o estudante Gabriel Marquim explica

que o muro cortou a ventilação, diminuiu a iluminação e a visibilidade das casas, além de criar um

corredor estreito, por onde quase não se consegue passar.

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Em entrevista a Marquim, a dona de casa Joelma da Silva descreve os incômodos sofridos

pelos moradores: “Tudo é quente, a gente toca na mesa, tudo quente. É uma quentura tão grande

que é três ventiladores na sala”. E a dona de casa Maria França protesta: “Acho que isso aí é uma

discriminação na cara da gente, né? Nós somos honestos, cidadãos. Aqui não mora nenhum

ladrão, é tudo cidadão. Eles pegam um muro desse e jogam na cara da gente. Então, a gente tá [...]

lutando pra vê se tira[...]. Isso é um presídio na cara da gente.”

Entre os transeuntes, há quem denuncie o caráter segregador da construção:

“Tá errado, tá. Querendo ou não, tem casas ali e gente que, hoje, vive nesse aperto todo

por causa desse muro”.(Um jovem senhor)

“É isso que eu queria saber: se é alguma discriminação que eles querem fazer, não é? Eles

são gente como qualquer pessoa”. (Uma senhora)

Ainda segundo a reportagem, os moradores reagem à construção do muro, abrindo

passagens que garantem o acesso à rua e ao shopping. Um adolescente (C. F.) explica como são

abertas essas passagens: “Pega uma bomba rojão, bota onde tem um buraco [..] Aí, quando a

bomba estoura,[...] faz esse buraco aqui. (Quando) [...] os caras do shopping vêm, pega(m)

cimento e tampa(m). Aí, a gente faz de novo”.

Marquim pergunta: “Por que vocês quebram?” E o garoto responde: “Porque tá

escondendo a comunidade”.

No “Sopa Diário”, uma das lideranças mais expressivas da comunidade, Edejohnson da

Silva Pinto, afirmou que o muro é, de fato, uma violência contra a comunidade, mas acrescentou

que eles gostariam de enfrentá-la não com a violência que gera mais violência, mas com “a nossa

dignidade, mostrando que, na comunidade, vivem trabalhadores, estudantes, artistas, cidadãos que

merecem ser tratados com respeito e igualdade”.

Edejohnson explicou que a consciência dos direitos de cidadania e o ambiente cultural da

comunidade nesses seus quase 50 anos de luta levam os moradores a superar o estágio de pagar as

desfeitas com a mesma moeda. “Nós vamos derrubar esse muro com a nossa arte, com a nossa

luta, com a nossa história”, afirma o líder que vem representando o bairro de Santo Amaro junto no

Orçamento Participativo Municipal.

Conceito fundamental

Descrita pela primeira vez pelo sociólogo francês Pierre BOURDIEU (1989 e 1998), a

violência simbólica é uma forma invisível de coação que se apóia, muitas vezes, em preconceitos

coletivos. Funda-se na fabricação contínua de crenças no processo de socialização, que induzem os

agentes sociais a se enxergarem e a avaliarem o mundo seguindo critérios e padrões do discurso

dominante. É conseqüência, portanto, do emprego de um tipo de poder invisível que, segundo

BOURDIEU, “só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não que lhe estão sujeitos ou

mesmo que o exercem” (1989: p.7-8).

Trata-se de um poder apoiado sobre sistemas simbólicos, instrumentos de conhecimento e

comunicação estruturados, que tornam possível o consenso acerca do sentido do mundo e das

coisas. Citando Durkheim, BOURDIEU afirma que esses sistemas contribuem fundamentalmente

para o “conformismo lógico, quer dizer, uma concepção homogênea do tempo, do espaço, do

número da causa, que torna possível a concordância entre as inteligências” (1989, p. 9-10).

Essa concordância se torna, por sua vez, condição para a integração moral e para a

reprodução da ordem social, cumprindo a sua função política de instrumentos de imposição e

legitimação da “dominação de uma classe sobre a outra (violência simbólica), dando o reforço de

sua própria força às relações de força que as fundamentam e contribuindo assim, segundo a

expressão de Weber, para a ‘domesticação dos dominados’” (BOURDIEU: 1989, p. 11).

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Para Bordieu, a violência simbólica se caracteriza toda vez que se exerce o poder de “impor

– e mesmo inculcar – instrumentos de conhecimento e de expressão (taxinomias) arbitrários –

embora ignorados como tais – da realidade social” (1989, p. 12). Faz ver e faz crer, confirma ou

transforma uma tal visão de mundo e, conseqüentemente, a ação dos indivíduos sobre o mesmo e o

faz de forma mágica, que “permite obter o equivalente ao que é obtido pela força (física ou

econômica) graças ao efeito de mobilização”, a qual só se exerce se o poder exercido for

reconhecido, isto é, ignorado como arbitrário. (BOURDIEU: 1989, p.14).

Na Ilha de Santa Terezinha, multiplicam-se os sinais de enfrentamento da postura violenta

que discrimina seus moradores, seja de forma individual, como vimos na fala da moradora

indignada, seja na atitude do líder que, não apenas repudia a imagem construída em torno da

comunidade como procura resignificá-la, reafirmando a identidade da mesma. E esta atitude, que

exprime independência, liberdade, é ratificada pelo discurso e pela produção dos artistas locais

também registrado no programa jornalístico sobre a Ilha de Santa Terezinha.

Ivanildo Albuquerque é poeta e músico. Ele conta que suas letras retratam a evolução da

Ilha de favela para vila:

“Eu retratei mais em minhas músicas o que se passava na Ilha,[...] caranguejo, siri-mole,

ostra, unha-de-velho, marisco, enchente, tudo que era Ilha[...]. Hoje, na nossa favela, [...]

nossa ‘favila’, temos grupos de dança, músicos formados. Lane, que é uma artista já

pronta, já tá formada... e outros e outros.” (Ivanildo Albuquerque)

Lane Cardoso é atriz, bailarina e afirma que foi em contato com os artistas da comunidade

que descobriu sua vocação:

“Eu me formei em artes cênicas na Federal(UFPE [...] nesse período, eu conheci várias

pessoas e fiz alguns trabalhos,[...] comecei a trabalhar com dança, com corpo [...] foi uma

das áreas que mais me atraiu nas artes cênicas[...] porque me fez entrar em contato

comigo mesma, me conhecer corporalmente e, também, me abrir sensivelmente para a

relação com o outro.” (Lane Cardoso)

Ewerton Marinho é multi-instrumentista e resume o sentimento de todos os artistas daquela

área:

“A Ilha é a minha identidade, né (não é)? Para qualquer lugar que eu vá, eu vou sempre

mostrar as características da minha origem que é aqui da Ilha. Por isso, eu sempre

costumo dizer que quero tocar o céu, tocar as nuvens, mas, sem tirar os pés da lama, da

origem que é aqui, na Ilha de Santa Terezinha” (Ewerton Marinho).

A própria participação da comunidade na realização do programa jornalístico, em parceria

com estudantes universitários, com a apresentação de Lane Cardoso, denota a capacidade de seus

moradores se apropriarem dos meios e tomarem a palavra para contar a sua própria história,

revertendo os estigmas e crenças produzidos pelo discurso e as forças dominantes. Dessa forma,

eles subvertem a ordem perversa de uma sociedade marcada pela opressão, pondo-se em condições

de dizer a sua própria palavra, como defende Paulo Freire.

E isso, mantendo-se na dimensão “dialógica”, o que significa em permanente empenho para

transformar a realidade, mas superando toda e qualquer forma de antagonismo, de modo a

humanizar o que foi desumanizado. Afinal, “o diálogo é o encontro amoroso dos homens que,

mediatizados pelo mundo, o ‘pronunciam’, isto é, o transformam, e, transformando-o, o humanizam

para a humanização de todos” (FREIRE: 1977, p.43).

No Brasil, além de Paulo Freire, no campo da Pedagogia, Luiz Beltrão, no campo da

Comunicação Social, é pioneiro na elaboração de teorias que demonstram a necessidade, a

possibilidade e a viabilidade de resgatar ou fortalecer o protagonismo e a auto-estima das

comunidades periféricas. Beltrão antecipou observações empíricas do que mais tarde viria a se

constituir como a “Teoria das Mediações Culturais”, cujos expoentes, na América Latina, são

Néstor García Canclini e Jesús Martín-Barbero. Para esses dois pensadores, assim como para

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Beltrão, os grupos sociais – sintonizados com o seu ambiente cultural mais próximo - fazem uma

leitura diferenciada dos conteúdos da mídia, numa atitude típica das sociedades que necessitam se

transformar para sobreviver.

[...] há ocasiões em que, não obstante a estrita censura imposta aos meios convencionais

de comunicação, não obstante todas as barreiras levantadas à divulgação de fatos e idéias,

seja pelo poder político, seja pelo poder econômico monopolizador, as classes populares se

valem dos seus próprios canais (mímicos, orais, gráficos e plásticos) para impor sua

vontade soberana (BELTRÃO: 1974, p. 37-43).

Segundo José Marques de Melo, o argumento implícito do comunicólogo pernambucano era

e o de que as manifestações populares, acionadas por agentes comunitários de “informação de fatos

e expressão de idéias”, tinham tanta importância comunicacional quanto aquelas difundidas pelos

mass media.

“Tais veículos de comunicação popular ou de folkcomunicação, como ele preferiu

denominar, mesmo primitivos ou artesanais, atuavam como [...] decodificadores de

mensagens desencadeadas pela indústria da comunicação de massa (jornais, revistas,

rádio, televisão)”. (MARQUES MELO: 2007)

Em estudos publicados já nos anos 1960, Luiz Beltrão defendia a comunicação como

requisito básico e universal no processo de participação; “A participação reclama comunicação: se

não ponho em comum as idéias, sentimentos e informações de que disponho e não recebo de volta a

reação do outro, jamais estabelecerei um elo entre mim e minha audiência” (BELTRÃO: 1974, 37-

47). E Beltrão identificou as lideranças populares como os formadores de opinião mais eficazes

posto que conhecem o mundo, isto é, recebem e decodificam as mensagens dos meios, interpretam-

nas de acordo com os padrões de conduta dos seus liderados, julgam-nas e, com grande habilidade,

empregam outros meios para transmiti-las, adequadas ao interesse coletivo e em linguagens de

domínio e compreensão geral, aos seus iguais (BELTRÃO: 1974, 37-47).

Já naquela época, Beltrão preconizava a urgência de se valorizar esse savoir faire

comunicação, extraindo-lhes as lições e, no diálogo entre cientistas e comunicadores populares,

ampliar o patrimônio dessa área de saber. Incitava seus coetêneos a pesquisar “aquilo que crê o

homem marginalizado da sociedade urbana e rural, surpreendendo o processo mediante o qual

essas populações se informam e cristalizam as suas opiniões para uma ação próxima ou remota”

(BELTRÃO: 1974, 37-47).

Para o precursor dos estudos brasileiros da comunicação, “é nosso dever perscrutar os

horizontes, recolher e analisar os dados, a fim de levarmos ao povo a nossa mensagem, ajudando-o

a expressar a sua opinião e manifestar os seus anseios de libertação material e espiritual” (Idem).

Avanços e aquisições na Ilha e na Academia

A reação à violência simbólica na Ilha de Santa Terezinha passa por um processo de

comunicação, no qual as lideranças da comunidade, assim como seus artistas, exercem um papel de

destaque quando fundado no protagonismo cultural e na alteridade. Caso contrário, não se

estabelece. Afinal, a postura libertadora e dialógica, que não dispensa a paridade, é um meio que

contém, em si, o seu fim. Na sua prática, a comunidade não se vitima; antes, posiciona-se acima da

imagem que dela é feita e se estabelece como um tu ou como um outro-eu na comunicação e na

ação transformadora da realidade.

É esta postura “dialógica” que vem se destacando na ação dos moradores da Ilha de Santa

Terezinha ao longo de seus mais de 40 anos de presença no cenário social, político e cultural da

cidade. E o que se constitui como motivação para este comportamento já se revela, pouco a pouco,

nas pesquisas em curso, naquela localidade: os sentidos de protagonismo, autonomia e

emancipação, explícitos ou implícitos no discurso e na prática das lideranças, elemento que

merecem ser melhor investigados.

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As perspectivas abertas com as duas pesquisas, em parceria com comunidade, são de uma

maior conscientização dos seus moradores quanto ao valor da sua história e de suas raízes culturais

coletivas, no enfrentamento dos desafios que se impõem no caminho acidentado da superação da

violência – seja ela física ou simbólica – bem como das conquistas sociais e políticas, de um modo

geral. Os próximos passos previstos nesse processo seriam o estudo da ocupação da Ilha de Santa

Terezinha, em suas formas e funções, e a formação de um grupo de moradores que tenham interesse

em aprofundar o fenômeno da violência simbólica, ligado à atuação dos meios de comunicação de

massa, e construir estratégias para enfrentá-la no cotidiano da comunidade.

Nesse meio tempo, outras apresentações do programa ocorreram num lançamento de um

livro sobre Comunicação Pública (na universidade); numa mesa no Intercom, em um Grupo de

Trabalho do Encontro de Escolas de Comunicação, e na própria comunidade. Todos momentos nos

quais a opinião pública passou a perceber o absurdo e questionar a existência do muro.

Um artigo sobre a superação da violência simbólica na Ilha de Santa Terezinha foi

apresentado em um Seminário Internacional e na Semana de Integração Católica-Sociedade,

sempre na universidade, e outro publicado pela revista mexicana Razón y Palabra. O relato sobre

aquela experiência de comunicação fraterna ganhou espaço também no primeiro congresso

nacional de NetOne, uma rede mundial de comunicadores comprometidos com a fraternidade na

comunicação. Mais recentemente, foi conhecido pelos pesquisadores participantes do XIV

Congresso de Ciências Sociais do Norte e Nordeste, do XIII Encontro Nacional de Professores de

Jornalismo e do IX Ciclo Nacional de Pesquisa em Ensino de Jornalismo.

Os artigos científicos, que se juntaram ao vídeo produzido na disciplina, passaram a ser

instrumentos de pressão junto ao poder público. Por sua vez, a comunidade, que já vinha se

mobilizando para resolver o impasse com o shopping tomou novo fôlego, realizou algumas

manifestações (cultos, passeatas, caminhadas) e retomou o diálogo com o shopping e com o poder

público municipal sobre o problema.

Passados três anos do início do processo, houve um avanço significativo também na

configuração do espaço urbano naquela área: parte do muro, hoje, é feito de combogós, o que

permite uma maior permeabilidade seja visual seja de ventilação para as casas lindeiras, além de

suavizar a aparência anterior de muralha quase intrasponível. Mas ainda há muito a ser mudado no

contexto de exclusão que fisicamente está demarcado no limite entre o shopping e a comunidade.

Para a comunidade e os estudantes, no entanto, caiu de uma vez por todas a barreira que

divide as classes sociais na nossa sociedade e a aproximação entre as duas partes ficou inclusive

demonstrada na co-produção das pautas, realizadas por três representantes da comunidade, e na

apresentação do programa, protagonizada por uma jovem atriz moradora da Ilha.

Essa “co-operação” na diversidade, fragmento de fraternidade, foi também um estímulo a

um maior engajamento social na vida de alguns dos envolvidos na experiência de ensino-

aprendizado realizada na disciplina de Telejornalismo II. A começar pela professora e uma aluna

que, depois do semestre, engajaram-se nos trabalhos da escola de formação política para jovens,

chamada Civitas, aberta para toda a cidade e promovida na comunidade pelo Movimento Político

pela Unidade o qual se descreve como:

Uma rede mundial aberta composta de cidadãos ativos, políticos eleitos em todos os níveis

institucionais, militantes dos mais diversos partidos políticos, funcionários públicos,

estudiosos e cientistas políticos, jovens interessados pelas grandes questões mundiais e

pela vida da própria cidade, estado e país.(MPPU, 2011)

No texto de apresentação, a equipe de produção deixou claro que produziu o DVD para

“ajudar na mobilização da comunidade” e “derrubar os muros do preconceito e da exclusão que

discriminam uma grande parcela dos recifenses”. Uma declaração que revela o compromisso e a

solidariedade dos futuros de jornalistas, fraternos cidadãos.

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Outro aspecto singular que demonstra a magnitude dessa experiência foi o esforço de todos

da turma para superar as condições adversas para realizar o projeto (os estudantes e a professora

tinham de usar os próprios carros ou alugar taxis para ir e vir da Ilha de Santa Terezinha; as aulas

eram curtas demais e sempre no início da tarde, quando muitos moradores estavam em horário de

expediente, fora da comunidade, dificultando a produção das reportagens; as ilhas de edição

quebravam com tanta freqüência que o grupo decidiu dar uma gratificação ao editor da universidade

para garantir a finalização do trabalho em outro local).

E embora a universidade não tenha oferecido as condições ideais para a realização do

projeto (equipamento digital, transporte e monitores para a disciplina), a professora desdobrou-se

para multiplicar sua presença, de modo a acompanhar e orientar de perto a produção das

reportagens na comunidade, bem como a edição do material produzido mesmo fora dos horários e

do local das aulas. Esse acompanhamento permitiu trocas e aquisições mais intensas e significativas

durante o processo, do ponto de vista técnico e relacional.

Um capítulo à parte foi a execução da vinheta do programa: uma animação feita com

bonecos de massa, madrugadas a dentro, na casa de dois estudantes e editada por um técnico da

universidade em horário de folga... um “trabalhão” que só se justifica com a motivação e o

envolvimento do grupo e desse profissional no projeto. Outro capítulo digno de nota foi a mudança

de rumo de um dos estudantes que, em contato com aquela realidade, descobriu sua vocação de

médico. Ou seja: perdeu-se um futuro jornalista, mas ganhou-se uma pessoa mais feliz com a sua

escolha e mais fraterna porque sensibilizada pelas lutas do povo pelos direitos de cidadania.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do exposto podemos concluir, ainda que provisoriamente, que o direito à cidade passa

também pelo direito à comunicação. O exercício de comunicação emancipadora durante e depois da

elaboração do documentário “Ilha de Santa Terezinha” traz à luz alguns aspectos valiosos para a

compreensão da TS como fator de desenvolvimento.

O protagonismo dos moradores da Ilha e a parceria com o grupo estudantes-professora

implicou em um aporte de saber formal e acadêmico o qual, por sua vez, propiciou inclusive uma

mais ampla veiculação, na mídia, da realidade daquela comunidade, segundo um olhar privilegiado.

Essa experiência fez também com que aqueles cidadãos enxergassem os seus próprios

valores soterrados na esfera pública pela avalanche midiática e saíssem do processo fortalecidos ao

ponto de ganhar novo fôlego em suas lutas e conquistas. E a possibilidade de amadurecer uma visão

mais crítica dos meios de comunicação veio acompanhada também do contato com uma tecnologia

até então pouco conhecida e utilizada para o amadurecimento da comunidade nos diversos aspetos

de sua atuação na sociedade.

Entender que o espaço urbano se constitui em um conjunto de significados foi outra

aquisição de peso para aqueles cidadãos na sua “militância” pelo direito à cidade. A reforma do

“muro” não veio apenas em defesa da ventilação – que de fato ficou muito sacrificada e melhorou

com a abertura dos combogós – mas do direito ao espaço público, do direito de ver e de ser visto.

Do direito de significar a si mesmo no conjunto de significantes que compõe o mosaico da

diversidade urbana.

E ainda: o processo de empoderamento da comunidade e sua relação com o grupo

acadêmico foi de equidade. Os dois grupos não perderam suas identidades e puderam empreender

uma troca de saberes em uma relação onde os ganhos foram obtidos em franca reciprocidade. E

para tanto, foi essencial o estabelecimento de um relacionamento transparente, dialógico, aberto e

solidário entre as partes e os indivíduos envolvidos.

Essas e seguramente muitas outras características do processo de apropriação social da

tecnologia, com o aporte de uma ação comunicativa e dialógica, merecem e necessitam de novos e

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mais aprofundados estudos e práticas de modo a favorecer as mudança e melhorias desejáveis no

espaço urbano, elementos retroalimentadores no exercício da cidadania.

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i O Movimento dos Focolares se auto-define como movimento eclesial originado do Carisma da Unidade de

sua fundadora, Chiara Lubich. Atuando no mundo desde 1942, os Focolares estão empenhados, com outras forças, em

“compor na unidade a família humana, enriquecida pela diversidade” (Movimento dos Focolares, 2007). ii A história dos primeiros anos de formação da comunidade é objeto do artigo de (SOUZA, 2007).

iii O projeto Recife-Olina se apresenta como uma operação urbana que articula iniciativa privada e poder

público e “propõe uma intervenção urbanística, de gestão e de apropriação do território [... que ] desenvolve um

processo de requalificação urbana e valorização cultural, com o objetivo de induzir o desenvolvimento do potencial

turístico-cultural em nível metropolitano”. (Projeto Urbanístico Recife-Olinda, 2006: 06). O projeto tem forte

inspiração nas reformas urbanas do final do século XX, como as que ocorreram em Barcelona, a partir das Olimpíadas

de 1992, e em Lisboa, com a Expo de 1998 e corre riscos de repetir a“expulsão branca” tão criticada nos modelos

europeus.