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ENCONTRO REGIONAL SUL DE ENSINO DE BIOLOGIA 3ª Jornada de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFSC Florianópolis, 02 a 04 de Novembro de 2006. 1 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE BIOLOGIA: UMA EXPERIÊNCIA COMPARTILHADA Eva Regina Carrazoni Chagas PUCRS [email protected] Luiza Ester Camargo PUCRS [email protected] Regina Maria Rabello Borges PUCRS [email protected] Mariana Goldim Alice Teixeira, Bruna Rocha Liene Medeiros PUCRS Resumo Este texto apresenta uma proposta inovadora numa disciplina implementada no Curso de Ciências Biológicas da PUCRS – Metodologia e Prática do Ensino de Biologia, modalidade licenciatura, compartilhada por três professoras, em conjunto com os licenciandos, em busca de alternativas aos desafios atuais para a formação e atuação de professores de Ciências e Biologia. Palavras-chave: Formação Inicial de Professores – Ensino de Biologia – Metodologia de Ensino – Prática de Ensino ; Introdução As disciplinas de muitos cursos da PUCRS, neste momento histórico, estão sendo estruturadas e realizadas de modo compartilhado por professores/as com especializações diversas que buscam reduzir as distâncias entre muitos aspectos de um tema central, fazendo articulações, destacando complexidades e ampliando visões. Buscam ainda compartilhar experiências, permitindo aos/às envolvidos/as novas aprendizagens, tanto no que diz respeito a aspectos cognitivos como a afetivos. Práticas individuais e coletivas de identificar problemas, construir soluções, definir projetos de ação, avaliá-los, perceber erros e acertos, constituem, afirma Guarnieri (2000), oportunidades formativas valiosas. É no dia a dia, ressalta Silva (2000, p.37), “que o professor aprende, desaprende, estrutura o aprendizado, faz descobertas, estrutura formas de pensamento e constrói crenças”.

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2º ENCONTRO REGIONAL SUL DE ENSINO DE BIOLOGIA

3ª Jornada de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFSC Florianópolis, 02 a 04 de Novembro de 2006.

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METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE BIOLOGIA: UMA EXPERIÊNCIA COMPARTILHADA

Eva Regina Carrazoni Chagas PUCRS

[email protected]

Luiza Ester Camargo PUCRS

[email protected]

Regina Maria Rabello Borges PUCRS

[email protected]

Mariana Goldim Alice Teixeira, Bruna Rocha

Liene Medeiros PUCRS

Resumo

Este texto apresenta uma proposta inovadora numa disciplina implementada no Curso de Ciências Biológicas da PUCRS – Metodologia e Prática do Ensino de Biologia, modalidade licenciatura, compartilhada por três professoras, em conjunto com os licenciandos, em busca de alternativas aos desafios atuais para a formação e atuação de professores de Ciências e Biologia.

Palavras-chave: Formação Inicial de Professores – Ensino de Biologia – Metodologia de Ensino – Prática de Ensino

; Introdução

As disciplinas de muitos cursos da PUCRS, neste momento histórico, estão sendo

estruturadas e realizadas de modo compartilhado por professores/as com especializações diversas que buscam reduzir as distâncias entre muitos aspectos de um tema central, fazendo articulações, destacando complexidades e ampliando visões. Buscam ainda compartilhar experiências, permitindo aos/às envolvidos/as novas aprendizagens, tanto no que diz respeito a aspectos cognitivos como a afetivos. Práticas individuais e coletivas de identificar problemas, construir soluções, definir projetos de ação, avaliá-los, perceber erros e acertos, constituem, afirma Guarnieri (2000), oportunidades formativas valiosas. É no dia a dia, ressalta Silva (2000, p.37), “que o professor aprende, desaprende, estrutura o aprendizado, faz descobertas, estrutura formas de pensamento e constrói crenças”.

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3ª Jornada de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFSC Florianópolis, 02 a 04 de Novembro de 2006.

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Um trabalho com esta marca possibilita, além de tudo, um processo de autoconhecimento, não deixando esquecer que somos eternos/as aprendizes. E no caso da docência, a condição de eterno aprendiz consolida o processo de tornar-se professor/a, pois “o professor se constrói como profissional à medida que vai efetivando a articulação entre o conhecimento teórico-acadêmico e o contexto escolar com a pratica docente.” (Guarnieri, 2000, p.5).

Nesta linha enquadra-se a disciplina Metodologia e Prática do Ensino de Biologia, que é parte do currículo novo do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da PUCRS e aconteceu, pela primeira vez, no segundo semestre de 2006. Nas disciplinas pedagógicas este caráter está sendo bem atendido e valorizado. A disciplina de Metodologia e Prática do Ensino de Biologia envolve três professoras de Biologia que desenvolvem suas atividades com focos variados e preferências por temas diversos e complementares. Isto nos permite complementar, articular, discutir e refletir de modo mais amplo, explorando os muitos e diferentes aspectos de temas que são abarcados pela Biologia. E neste enfoque podemos dizer que oportuniza o enriquecimento pessoal e profissional que os/as autores que se dedicam a estudar sobre formação de professores/as vêm salientando ao evidenciar que na instituição também ocorre a formação continuada.

Fundamentação Novos tempos exigem mudanças e, às vezes, é preciso ousar e propor alterações que

possam representar inovações. E se quisermos inovações no ensino com vistas a melhor aprendizagem, cada uma/a dos/as envolvidos/as nesta tarefa e cada instituição de ensino, especialmente as formadoras de formadores/as, são desafiadas a assumirem o encargo de detectar, estudar e vivenciar estratégias e recursos que possibilitem o enfrentamento e a superação de situações que merecem e exigem novas abordagens.

Nesta perspectiva, diante das exigências da sociedade atual, tendo cada um/a que desenvolver novas capacidades e habilidades que lhes possibilite enfrentar o cotidiano usufruindo dos avanços das Ciências e da Tecnologia com responsabilidade, participação e solidariedade é que, há algum tempo, vem sendo discutida, de modo intensivo, a articulação e o compartilhamento nas disciplinas entre docentes. A proposta de compartilhamento que envolve os/as educadores/as, muitas vezes com focos e especializações diferentes, vem ganhando força e todos/as têm se dedicado a discutir e refletir, juntamente com os/as educandos/as, os resultados obtidos, constituindo-se num verdadeiro exercício de ação-reflexão-ação. É importante lembrar que, de acordo com Guarnieri (2000, p. 55), “as instituições escolares não formam apenas os alunos, mas principalmente, os profissionais que nela atuam.” E mais, acrescenta Giovanni (2000, p.2 ), o exercício da indagação e reflexão passa a constituir estratégias e conteúdos básicos para o processo de aprendizagem da profissão docente. O compartilhamento permite romper a solidão pedagógica, substituindo-a pelo trabalho coletivo e solidário.

A oportunidade de realizar um trabalho conjunto exige que se intensifique o diálogo, a troca de opiniões e a negociação, cada vez que os conteúdos são propostos e que são pensadas estratégias e recursos para atingir os objetivos previstos. Esta vivência foi amplamente valorizada e foi estendida ao grupo de alunas que integraram a disciplina e que se dispôs a registrar os muitos momentos vividos acompanhados de muito diálogo e de retomadas, neste movimento de ir e vir, típico do aprender e do ensinar.

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A educação, ressalta Freire (2003), é uma experiência especificamente humana e uma forma de intervenção no mundo que requer ética e respeito a histórias dos que nele e com ele se envolvem. Destacamos a relevância desses momentos, que oferecem oportunidades para que aspectos da vivência dos/as envolvidos/as na tarefa educativa aproximem todos/as, fazendo surgir o sentimento de pertença ao grupo, elemento indispensável nos processos de ensinar e de aprender. Conhecer cada um/a e a turma é indispensável, pois como salienta Cavalcante (2005), cada turma é única e no começo de um trabalho é fundamental conhecê-la bem, para poder definir com clareza as melhores estratégias e os métodos e materiais a serem usados. Nestes encontros também foi feito o contrato de trabalho, combinações importantes no percurso dos caminhos escolhidos, por meio de uma metodologia que favoreceu a aprendizagem autônoma, conforme Hernández (2002, p. 52), enfrentando situações e decisões reais e o desenvolvimento de estratégias para aprender a aprender, como: busca de informações, estabelecimento de problemas e explicações em um trabalho de equipe.

Contextualização A proposta de trabalho nesta disciplina procurou seguir o modelo adotado pela

Metodologia e Prática do Ensino de Ciências, que também é compartilhada entre educadoras das áreas da Biologia, da Química e da Física. Essa última já havia estreado com sucesso no currículo novo. Assim, como era de esperar, já havia alguns parâmetros que auxiliaram na sua elaboração e realização. É importante destacar, no entanto, que houve abertura suficiente para incorporar novas possibilidades, tanto que a idéia de escrever este artigo e inscrevê-lo no 2º EREBIO-Sul surgiu durante o trabalho em sala de aula. Professores/as e alunos/as precisam ser parceiros/as igualmente responsáveis por processo de busca e construção do conhecimento na sala de aula, destaca Guarnieri (2000).

No cotidiano da sala de aula, o planejamento é fundamental, pois permite a flexibilidade necessária que leva em conta as demandas momentâneas dos/as educandos/as e pode dar novos rumos ao trabalho, fazendo da prática pedagógica uma atividade artesanal e única.

O diálogo e a possibilidade de rever aspectos e reorientar ações foram traços marcantes na disciplina. Os primeiros contatos foram momentos em que todas as participantes, educadoras e educandas, puderam conhecer um pouco mais sobre suas histórias e seus envolvimentos com a docência. Neles procuramos nos apresentar e nos conhecermos melhor. Foi um momento que resgatou histórias de vida com influência, direta ou indireta, sobre as razões que nos levaram a escolher a licenciatura. Depois apresentamos a proposta de trabalho e a discutimos, procurando adequar o trabalho às necessidades e exigências que as alunas relataram. Organizamos o trabalho e fizemos as devidas combinações. Retomamos e combinamos a utilização do caderno de registro das tarefas e salientamos sua importância como instrumento de avaliação.

Uma das combinações foi o registro das atividades em cada aula numa espécie de diário. O registro é uma forma interessante de acompanhamento do trabalho e, ao mesmo tempo, um documento para a avaliação.

A disciplina em questão tem 4 créditos, com 100 horas de trabalho, sendo 40 na escola de Ensino Médio e 60 nas aulas na Faculdade de Biociências, no Núcleo de Educação em Ciências e Biologia - NECBio, recentemente estruturado nessa unidade acadêmica. Este pretende ser um espaço privilegiado, com muitos recursos e possibilidades, e os encontros

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ganham um tom de reunião de trabalho mais nitidamente do que a sala de aula com costuma ser concebida.

Caracterização da disciplina A ementa da disciplina foi elaborada em equipe, discutida e legitimada com as alunas e

se propõe a fazer a fundamentação teórica e prática da atividade docente, envolvendo as relações entre a natureza das ciências e o ensino de Biologia, transposição didática de temas básicos e atuais, análise de livros didáticos e paradidáticos, planejamento, seleção e elaboração de recursos didáticos, estratégias e instrumentos de avaliação para a Biologia no Ensino Médio. Projetos integrados junto a escolas, buscando a interdisciplinaridade, destacando os temas transversais, Educação Ambiental, Saúde e Orientação Sexual, previstos pela LDB/96 e pelos PCNs.

Seus objetivos são, de modo geral, oportunizar vivências das realidades das escolas aos licenciandos no papel de futuros professores de Biologia do Ensino Médio, com vistas a, como bem destaca Zeichner (apud Guarnieri, 2000, p. 13), “ajudar os futuros professores a interiorizarem, durante a formação inicial, a disposição e a capacidade de estudarem a maneira como ensinam e a de melhorar com o tempo, responsabilizando-se pelo seu próprio desenvolvimento profissional” especificamente, por meio das atividades. Nesta disciplina pretende-se:

- Discutir as relações entre a natureza das ciências e o ensino de Biologia;

- Observar a realidade de escolas, em especial, a sala de aula de Biologia;

- Entrevistar alunos e professores sobre o ensino de Biologia desenvolvido nas escolas;

- Transpor didaticamente conteúdos básicos e atuais de Biologia;

- Analisar livros didáticos e paradidáticos de Biologia;

- Selecionar e elaborar recursos didáticos;

- Discutir modalidades de planejamento;

- Planejar, executar e relatar um projeto de ensino e pesquisa envolvendo alunos e professores da escola;

- Debater as ações desenvolvidas, na perspectiva ação – reflexão – ação;

- Organizar um diário de classe para o acompanhamento das atividades da escola.

Os conteúdos previstos procuraram fundamentar o trabalho proposto de modo a

permitir que desde a formação inicial teoria e prática pudessem ser articuladas. Os conteúdos elencados foram:

-Relações entre a natureza das Ciências Biológicas e o seu ensino

- Temas estruturantes para o ensino de Biologia

- Temas transversais

- Livros didáticos e paradidáticos para o ensino de Biologia

- Modalidades de planejamento

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- Projetos de ensino e pesquisa

- Estratégias de ensino

- Recursos didáticos

- Instrumentos de avaliação

Os procedimentos pedagógicos pensados e continuamente redimensionados envolveram leituras e discussões, projeção de filmes, observações e registros, entrevistas com alunos/as e professores/as de escola de Ensino Médio, seleção e elaboração de recursos didáticos e estratégias de ensino, análise de livros didáticos e paradidáticos e elaboração, execução e relatório de projetos e de instrumentos de avaliação, visitas e palestras. Avaliação A avaliação prevista se propôs a ser contínua, progressiva e sistemática, envolvendo todas as atividades implementadas ao longo do semestre, considerando participação nas aulas (na faculdade e na escola), clareza e precisão em trabalhos orais e escritos e auto-avaliação.

A auto-avaliação teve um papel de destaque no processo. As falas abaixo refletem um pouco do que foi vivenciado no percurso do trabalho. Das reflexões e escutas atenciosas do que dizem as alunas e as colegas podemos dizer que nesta disciplina, no contexto da mudança permanente há: • enriquecimento teórico-prático (três professoras);

• trabalho em espaço adequado – com caráter de reunião de trabalho;

• registro em diário para reflexões como um dos instrumentos de avaliação;

• compartilhamento de idéias e ações entre professoras e alunas;

• saídas ou atividades extra-classe pertinentes;

• clareza das propostas;

• preocupação com aspectos da inclusão social e possibilidades de efetivação

• aceitação do risco e do novo, sem contudo, rejeitar “o velho” preservando o que é bom e que continua válido;

• convicção de que a mudança é possível e exige esforço, abertura e coragem

• aceitação da incompletude e busca de completude.

Salientamos, no entanto, que o trabalho nesta disciplina nos trouxe algumas

preocupações:

• Trabalho coletivo que requer maior integração e encontros, em horários extras, não remunerados.

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• Pouca prática das alunas nas escolas.

• Oficinas no último mês de trabalho, justamente quando alunos/as e professores/as – na escola e na faculdade – estão finalizando tarefas do ano letivo.

• Algumas resistências por parte das alunas a fazer registros e reflexões – (novidade???)

• Preocupação com as escolas em que serão desenvolvidas as atividades.

Alguns relatos que foram registrados pelas alunas em seus cadernos e que foram

transcritos abaixo nos fazem pensar que há um longo percurso a ser feito mas que os primeiros passos apontam para o sucesso da proposta que ainda vai exigir novos questionamentos, reavaliações e ajustes num processo constante de construção e reconstrução. • Conversamos sobre as propostas da disciplina ...

• Juntamos nossas idéias para criar ... Discutimos...

• Essa aula foi bem legal...Vimos mensagens com animais que nos levaram a reflexões ...

• Foi interessante... Nos apresentamos... Contamos e ouvimos histórias de vida...

• Entraram duas colegas...Elas estão perdidas bem como eu estava no semestre passado. Quando iniciei, pensava que nunca iria entender porque as professoras falavam sobre ensino com tanta emoção. Agora, entendo como é legal compartilhar com os alunos experiências em aula e até fora, como encontrá-los nas ruas e cumprimentá-los.

• O fato de compartilhar com três professoras ... É interessante e inovador.

• Observar e depois dar aula, me deixa mais tranqüila.

Considerações finais A disciplina foi sendo organizada a partir de alguns pressupostos teóricos e buscamos

oportunizar um espaço para a discussão / reflexão sobre vivências e experiências relativas à docência, ora sob a óptica do/a aluno/a ora do/a professor/a. É importante ressaltar que freqüentemente resgatamos lembranças de nossas vidas escolares. Registramos algumas das idéias que nos acompanham e orientam a tarefa cotidiana na disciplina, realizada com a parceria das alunas que são co-autoras deste trabalho. Deste modo, lembramos Freire (1998) quando diz que “ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo, ou seja, é preciso uma prática testemunhal que valide as idéias pregadas.”

Ao longo do desenvolvimento do trabalho, fomos discutindo / refletindo sobre a realidade na escola, suas limitações, seus problemas e suas possibilidades e destacamos sempre a importância das parcerias. Fizemos isto em vários momentos como ao discutirmos sobre o filme “Nenhum a menos” , textos e situações relatadas a partir de convivências nas escolas. Temos saído da universidade e buscado fora das salas de aulas, recursos e

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possibilidades a fim de organizar e criar situações de aprendizagem mais ricas que possibilitem a co-autoria , a co-responsabilidade pelo processo de ensinar e de aprender.

Salientamos, ao final deste relato, que esta tem sido uma experiência bastante

interessante e muito intensa pois estamos sempre revendo, reavaliando, repensando e assim reafirmando a indagação e a reflexão como marcas da profissão docente que se efetiva sempre na relação com os demais envolvidos no processo de ensinar e aprender. Assim, como bem salienta Giovanini (2000, p. 48):

Em qualquer grau de ensino, a relação ensinar-aprender é [...] uma relação em que está em jogo o processo de comunicar pensamentos. É uma “via de mão dupla” porque comunicar pensamentos implica, por parte de quem ensina, intenção, esforço, preparo, sair de si, caminhar em direção ao outro, (pré)ver o outro (o que aprende); da mesma forma que implica, por parte de quem aprende: intenção, esforço, preparo, sair de si, caminhar em direção ao outro (o que ensina) e às idéias, às relações e aos valores, expressos nos pensamento comunicados.

Deste modo, ser professor/a, da mesma forma como ser aluno/a, implica cumplicidade no que se refere ao compromisso com o ato aprender e ensinar, o que nos coloca a todos/as na tarefa de aprender sempre.

Depois do relato que foi tecido ao longo do semestre, em parceria ora com as alunas, ora com as professoras responsáveis pela disciplina, para finalizar, não poderíamos deixar de lembrar Freire (2003), quando fala sobre a tarefa docente e ressalta que o/a professor/a aprende ao ensinar e que o/a aluno/a, ao aprender, também ensina.

O mesmo autor segue dizendo que “quem ensina, ensina alguma coisa a alguém”. O verbo ensinar é transitivo, enfatiza ele, e pede um objeto direto e um indireto. Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa. Foi assim que mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. Aprender precedeu o ensinar.

È assim que continuamos a buscar melhores formas de aprender e ensinar, na educação inicial e continuada de professores/as de Ciências e Biologia, de forma compartilhada e integrada a saberes e vivências dos/as participantes, abrindo-nos a críticas e sugestões. Referências CAÑAL de Leon, Pedro. La innovación educativa. Madrid: Akal, 2002. CAVALCANTE, Meire. 20 dicas para dominar as modernas práticas pedagógicas. Nova

Escola, maio de 2005. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 27.

ed. São Paulo : Paz e Terra, 2003. GIOVANNI, Luciana Maria. Indagação e reflexão como marcas da profissão docente. In:

GUARNIERI, Maria Regina. Aprendendo a Ensinar: o caminho nada suave da docência.

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Campinas: Autores Associados; Araraquara: programa de Pós-graduação em educação da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, 2000.

GUARNIERI, Maria Regina. Aprendendo a Ensinar: o caminho nada suave da docência. Campinas: Autores Associados; Araraquara: programa de Pós-graduação em educação da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, 2000.

HERNÁNDEZ, Inmaculada Serrano. El aprendizaje autônomo: los contratos de trabajo. In: CAÑAL de Leon, Pedro. La innovación educativa. Madrid: Akal, 2002.

SILVA, Rita de Cássia. O professor, seus saberes e suas crenças. In: GUARNIERI, Maria Regina. Aprendendo a Ensinar: o caminho nada suave da docência. Campinas: Autores Associados; Araraquara: programa de Pós-graduação em educação da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, 2000.