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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba, PR – 4 a 7 de setembro de 2009 1 A saúde nas mídias impressas: uma análise do contrato de leitura de Veja e Istoé 1 Janete de Páscoa RODRIGUES 2 Aline Alves LEAL 3 Iury Parente ARAGÃO 4 Universidade Federal do Piauí – UFPI Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Piauí – FAPEPI Resumo Este estudo foi desenvolvido a partir de uma análise comparativa entre os discursos de saúde nas revistas “Veja” e “Istoé” editadas no periodo de janeiro a junho de 2007. O suporte teórico foi constituido sobre os conceitos de contrato de leitura, polifônia, e heterogeneidade enunciativa formulados por Eliseo Verón, Mikail Bahktin, Cremilda Medina e outros. Verificamos que “Veja” priorizou sentidos de prevenção de patologias e “Istoé” de terapia; “Veja” não apresenta seção e periodocidade nas publicações sobre saúde, permanentes; “Istoé” matém uma seção de saúde e periodicidade constante; “Veja” se dirige ao leitor que busca mater-se saudável; “Istoé” ao leitor em busca de informação sobre doenças. Ambas utilizam com frequência as vozes dos médicos e dos usuários de produtos e serviços de saúde, sendo que “Istoé” recorre mais as vozes dos últimos que “Veja”. Palavras-chave Contrato de leitura; mídias impressas; saúde. 1 Introdução Dentre os vários tipos de publicações que compõem o atual mercado de periódicos, muitos abordam temáticas comuns usando diferentes formas de enunciar tais conteúdos. Os segmentos discursivos – revista de celebridades, moda, atualidades, automóveis, saúde e outros, apresentam inúmeras opções de publicações para a livre escolha dos consumidores midiáticos. Com isso, podemos nos perguntar como cada suporte seduz seus leitores e os mantêm fieis aos seus respectivos contratos de leitura. 1 Trabalho apresentado no GP Jornalismo Impresso, IX Encontro dos Grupos/Núcleos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Professora adjunto da UFPI, pesquisadora CNPq/FAPEPI, Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Estratégias de Comunicação da UFPI, doutora em Ciências da Comunicação pela UNISINOS. E-mail: [email protected] 3 Aluna do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Piauí, Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisa em estratégias de Comunicação da UFPI (NEPEC), pesquisadora PIBIC da UFPI. 4 Aluno do curso de Educação Física da Universidade Federal do Piauí e do curso de Comunicação Social do Centro de Ensino Unificado de Teresina, Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisa em estratégias de Comunicação da UFPI (NEPEC) pesquisador PIBIC da UFPI.

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicação

XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba, PR – 4 a 7 desetembro de 2009

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A saúde nas mídias impressas: uma análise docontrato de leitura de Veja e Istoé 1

Janete de Páscoa RODRIGUES2

Aline Alves LEAL3

Iury Parente ARAGÃO4

Universidade Federal do Piauí – UFPIFundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Piauí – FAPEPI

Resumo

Este estudo foi desenvolvido a partir de uma análise comparativa entre os discursos desaúde nas revistas “Veja” e “Istoé” editadas no periodo de janeiro a junho de 2007. Osuporte teórico foi constituido sobre os conceitos de contrato de leitura, polifônia, eheterogeneidade enunciativa formulados por Eliseo Verón, Mikail Bahktin, CremildaMedina e outros. Verificamos que “Veja” priorizou sentidos de prevenção de patologiase “Istoé” de terapia; “Veja” não apresenta seção e periodocidade nas publicações sobresaúde, permanentes; “Istoé” matém uma seção de saúde e periodicidade constante;“Veja” se dirige ao leitor que busca mater-se saudável; “Istoé” ao leitor em busca deinformação sobre doenças. Ambas utilizam com frequência as vozes dos médicos e dosusuários de produtos e serviços de saúde, sendo que “Istoé” recorre mais as vozes dosúltimos que “Veja”.

Palavras-chaveContrato de leitura; mídias impressas; saúde.

1 Introdução

Dentre os vários tipos de publicações que compõem o atual mercado de

periódicos, muitos abordam temáticas comuns usando diferentes formas de enunciar tais

conteúdos. Os segmentos discursivos – revista de celebridades, moda, atualidades,

automóveis, saúde e outros, apresentam inúmeras opções de publicações para a livre

escolha dos consumidores midiáticos. Com isso, podemos nos perguntar como cada

suporte seduz seus leitores e os mantêm fieis aos seus respectivos contratos de leitura.

1Trabalho apresentado no GP Jornalismo Impresso, IX Encontro dos Grupos/Núcleos de Pesquisas em Comunicação,evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.2 Professora adjunto da UFPI, pesquisadora CNPq/FAPEPI, Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Estratégiasde Comunicação da UFPI, doutora em Ciências da Comunicação pela UNISINOS. E-mail: [email protected] Aluna do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Piauí, Membro do Núcleo de Estudos ePesquisa em estratégias de Comunicação da UFPI (NEPEC), pesquisadora PIBIC da UFPI.4 Aluno do curso de Educação Física da Universidade Federal do Piauí e do curso de Comunicação Social do Centrode Ensino Unificado de Teresina, Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisa em estratégias de Comunicação da UFPI(NEPEC) pesquisador PIBIC da UFPI.

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Sabemos que o surgimento das pautas sobre saúde nas mídias é um fenômeno

relativamente recente tanto no Brasil como no mundo. No Brasil, a saúde começou a

integrar as editorias das empresas jornalísticas no inicio da década de 1960 do século

XX. Editorias jornalísticas nacionais tentam a partir disso abarcar o maior número de

destinatários que procuram por notícias de saúde, seguindo formatos que contemplam o

as necessidades desses receptores.

Verón (2004) refere-se a questão da enunciação dos conteúdos, lembrando que

um mesmo tema pode ser enquadrado por modalidades de enunciação muito diferentes.

Nas mídias impressas, o que o enunciador diz constitui uma dimensão importante do

contrato de leitura de cada suporte de imprensa. Para o mesmo autor, o contrato de

leitura pode ser coerente ou incoerente, estável ou instável, adaptado a seus leitores ou

apenas um pouco adaptado. Assim, revistas que cobrem um mesmo tema, podem

revelar-se muito diferentes quanto ao contrato de leitura.

O sucesso ou o fracasso da construção de um contrato de leitura depende

somente das modalidades de dizer o conteúdo e não daquilo que é dito (do conteúdo). É

o contrato que cria o vinculo entre o suporte e o leitor.

Milton Pinto (1999) refere-se à “análise de discursos” como um método que

procura descrever, explicar e avaliar criticamente os processos de produção, circulação

e consumo dos sentidos vinculados a produtos culturais, tais como anúncios

publicitários, capas de periódicos, programas televisivos e de rádio, textos jornalísticos

entre outros. Portanto, a análise de discurso mostra-se como método capaz de apontar

aspectos constituintes do contrato de leitura das revistas Veja e Istoé, objeto de estudo

desta investigação.

Esta pesquisa foi realizada mediante a aplicação do método da análise de

discurso, seguindo uma comparação entre os elementos constituintes dos contratos de

leitura das revistas “Veja” e “Istoé” em seus respectivos textos sobre saúde. A amostra

foi composta pelas seções de ambos os periódicos publicados no período de janeiro a

junho de 2007. Foram investigadas 25 edições de “Veja” e 25 edições de Istoé. Na

amostra composta por “Veja”, 21 revistas apresentaram matérias tratando sobre a saúde

e quatro não apresentaram qualquer matéria dentro do tema. Já na amostra composta

pelas 25 edições de Istoé, todas publicaram matérias dentro dessa temática, em sua

seção denominada de “Medicina e bem estar”.

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Embora os dois suportes tenham apresentado essa raiz temática comum – a

saúde –, cada publicação possui suas formas de abordar o leitor, seus dispositivos de

sedução, seus diferenciais, sua linguagem específica, o seu “contrato de leitura”. E é

dentro deste entendimento de contrato de leitura, que buscamos localizar e discutir

algumas diferenças e semelhanças marcantes nos discursos de “Veja” e de “Istoé”.

2 Temas apresentados nos discursos de saúde de “Veja” e “Istoé”

A revista Veja escolheu temas dentro da área da saúde voltados para segmentos

diversos, tais como: anticoncepcionais, família de pacientes de UTIs, menstruação e

TPM, medicamentos para redução da gordura corporal, saúde cardíaca, exercícios

físicos, dietas alimentares, dependências químicas, colesterol, resfriados, relação entre

patologias e gênero, pesquisas recentes sobre o cérebro humano, vacinas, técnicas de

combate ao envelhecimento e saúde dos olhos. Totalizando 20 temas diferentes sobre a

saúde focadas nas edições de “Veja”. Em ordem decrescente, os temas relacionados ao

combate do envelhecimento humano e as dietas alimentares foram as mais recorrentes,

três matérias publicadas. Em seguida estão os temas sobre saúde do coração e saúde dos

olhos, com duas matérias sobre cada um destes. Os demais temas discutidos nas seções

de “Veja” foram focados apenas uma vez nas matérias investigadas.

Uma constatação acerca do contrato de leitura da revista “Veja”, diz respeito ao

fato desta apresentar suas reportagens sobre saúde de maneira inconstante e em seções

variadas como, “Medicina”, “Saúde”, “Guia Veja”, “Especial”, “Comportamento” e

outras. Importante destacar que a perspectiva de discussão feita por “Veja”, na maior

parte de suas publicações, possui caráter preventivo, ou seja, a revista oferece

informações que orientem o leitor para assumir atitudes que evitem futuros problemas

de saúde.

Nas edições de “Istoé”, verificamos um maior número de temas abordados

quando comparados com “Veja”. Assim, localizamos 28 temas nas 25 edições de Istoé,

os quais são: familiares de pacientes de UTI, menstruação e TPM, saúde do coração,

atividade física, colesterol, cérebro humano, combate ao envelhecimento, depressão,

maternidade novas técnicas cirurgicas, dengue, câncer, estrutura dos hospitais,

menopausa, miomas, brozeamento da pele, andropausa e calvice. Em “Istoé”, o tema

atividade física foi o mais frequênte, com três matérias editadas sobre o assunto; em

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segundo lugar estão temas sobre colesterol, técnicas de combate ao envelhecimento,

maternidade, técnicas cirurgicas, câncer, estrutura dos hospitais e brozeamento da pele,

com duas materias publicadas em sobre cada um desses assuntos. Câncer, doenças do

coração, depressão, familia de pacientes de UTI, dengue, menopausa, andropausa,

descobertas sobre o cerebro humano e miomas, localizamos somente uma matéria para

cada tema.

Diferentemente de “Veja”, as dicurssões sobre saúde discutidas em “Istoé”

apontam, em sua maioria, para perspectivas terapêuticas acerca das patologias

tematizadas nas matérias.

Quadro 1 - Temas presentes nos discursos de saúde de “Veja” e “IstoéJaneiro a junho de 2007

QuantidadeTemas Veja IstoéAnticoncepcionais 1 -Familia na UTI 1 1Menstruação e TPM 1 1Comprimido antibarriga 1 -Saúde do coração 2 1Atividade física 3 3Dependencia quimica 1 -Colesterol e dieta alimantar 1 3Resfriado 1 -Fisiológia masculina e feminina e patologias 1 -Cérebro humano 1 1Vacinas 1 -Técnicas de combate ao envelhecimento 3 2Saúde dos olhos 2 -Depressão - 1Maternidade - 2Novas técnicas cirurgicas - 2Dengue - 1Câncer - 2Estrutura dos hospitais - 2Menopausa - 1Miomas - 1Brozeamento da pele - 2Andropausa - 1Calvice 1TOTAL 20 28

Fonte: dados da pesquisa

3 As múltiplas vozes presentes nos discursos de “Veja” e “Istoé”

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Milton Pinto (1999) alega que todo texto é hibrido ou heterogêneo quanto à sua

enunciação, no sentido de que ele é sempre um tecido de “vozes” ou citações, cuja

autoria fica marcada ou não por outros textos preexistentes, contemporâneos ou do

passado. Portanto, concluímos que todo texto é um objeto heterogêneo no que diz

respeito a sua constituição, e, por isso presta-se a múltiplas leituras, colocado no

cruzamento de uma pluralidade de causalidades diferentes, que de acordo com Verón

(2004) é lugar de manifestação de uma pluralidade de ordens de determinação.

Em se tratando das vozes participantes nas produções dos suportes imprensa,

entendemos que estas podem estar explícitas através de aspas, discurso indireto ou

direto e também podem estar implícitas no texto. Bakhtin (1981) diz que em cada

palavra há vozes, vozes que podem ser infinitamente longínquas, anônimas quase

despersonalizadas, inapreensíveis, e vozes próximas que soam simultaneamente. Esta

bagagem que cada discurso tem é denominada de Polifonia. O mesmo autor afirma que

é da natureza de um discurso construir-se a partir do discurso do outro e que toda fala é

atravessada por uma outra fala, antes dita por alguém.

Authier-Revuz (1982), a partir das teorias de Mikail Bahktin acerca da polifonia,

propôs a expressão “heterogeneidade enunciativa”, sob duas formas de sua

manifestação: a mostrada ou constituinte, onde as vozes aparecem de forma implícita,

possibilitando analisar o discurso através de formas não-marcadas (discurso indireto

livre, alusões, ironia etc.) ou formas marcadas (através de aspas); e a constitutiva, na

qual o discurso tem a interferência de diversas vozes sem que o sujeito tenha

consciência desta interferência oriunda de diversos segmentos sociais.

Quadro 2 - Vozes presentes nos discursos de “Veja” e “Istoé”Janeiro a junho 2007

FreqüênciaVozesVeja Istoé

Representantes de Instituições deSaúde

35 53

Pacientes e/ou usuários de serviçosou produtos de saude

24 42

Cardiologistas 11 11Endocrinologistas 11 7Neurologista 5 13Dermatologista 5 11Ginecologistas e obstetras 3 9Idustrias farmaceuticas 7 4Nutricionistas 5 5

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Psiquiatra 3 5Psicologos 3 4Oftalmologistas 4 1Pediatras 3 2Oncologista 1 3Educador fisico 1 3Ortopedista 1 2Fisioterapeutas 1 2Geriatras 7 -Geneticistas - 6Cirurgião plástico 4 -Pneumologistas 1 -Assistente social - 1

Fonte: dados da pesquisa

A multiplicidade de vozes encontradas nos textos tanto de “Veja” como de

“Istoé”, mostra o caráter híbrido dos discursos das duas revistas tanto no que se refere

aos diversos profissionais do campo médico como de outros campos sociais que se

mostram nos textos estudados. Observamos nos textos de ambos os periódicos, uma

coerência entre os temas focados com e falas dos diferentes especialistas da área

médica. Dentre as vozes localizadas nas duas revistas, os representantes de instituições

de saúde tanto brasileiras como internacionais, foram os mais presentes nos discursos

das duas revistas, 35 citações em Veja e 53 em Istoé são oriundas desse segmento. Tais

profissionais falam em nome de centros de pesquisas, universidades, laboratórios ou

outros órgãos. Estes recursos discursivos são utilizados pelas revistas como forma de

oferecer maior credibilidade das informações junto ao seu leitor. Esses profissionais

são, geralmente, identificados nas reportagens pelo nome, pela especialidade e pela

empresa, instituição pública ou particular na qual atua o entrevistado.

A revista “Veja”, compôs seus discursos com falas de especialistas de

Instituições brasileiras e estrangeiras, especialmente, dos Estados Unidos e da Europa.

Também, em algumas matérias de “Veja”, o texto ressalta que as declarações dos

especialistas foram concedidas diretamente à revista “Veja”.

Para ajudar na escolha do melhor produto para tratamento dacelulite, Veja pesquisou quais são as empresas que maisvendem cremes do gênero. (Veja, 17 de janeiro 2007, edição1991, p. 91)

‘Pessoas saudáveis que apelam para o GH com intuito deemagrecer ou rejuvenescer acreditam em uma mentirapropagada em academias de ginástica e por médicos charlatães’.

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Diz o endocrinologista Alfredo Halpern, professor daUniversidade de São Paulo e autor de um trabalho sobre oassunto”. (Veja, 07.02.2007, edição 1994, p.68)

Em segundo lugar dentre as fontes mais citadas nas revistas “Veja” e “Istoé”,

estão falas dos pacientes ou usuários de produtos ou serviços de saúde – 24 pessoas

mencionadas por Veja e 42 por Istoé. Essas pessoas fazem declarações sobre suas

experiências pessoais acerca dos temas tratados, como forma de inserir o leitor no

debate e fazer com que o mesmo se identifique com os pacientes ou usuários

entrevistados. Nessa perspectiva, tanto “Veja” quanto “Istoé” entrevistou pessoas

apenas no contexto brasileiro.

‘Meu tormento era nunca ter certeza de que estava fazendo tudoque podia por minha filha’, diz Maria Júlia, sobre a internaçãode Sofía. A menina nasceu com um problema cardíaco e morreucom um ano e três meses. (Veja, 27 de junho, 2007, 2014, p.71)

O carioca Ismar Brasil, 52 anos, por exemplo, nunca maissentiu as dores lombar e ciática que o atormentavam após umapartida de golfe. A mudança ocorreu depois que ele passou aturbinar seu abdômen lateral com o pilates, ênfase dada parafacilitar o movimento de rotação dos quadris. (Istoé, 02 demaio, 2007, p. 56-57).

A estudante Anne Coimbra, de 10 anos, freqüentemente vaipara a escola de manha sem colocar nada na boca. ‘Para queperder tempo comendo em casa? Prefiro dormir até um poucomais tarde e comer um lanche no recreio’, diz ela. (Veja, 30 demaio, 2007, edição 2010, p.52).

Em terceiro lugar, em ordem decrescente de vozes presentes nos discursos de

Veja e Istoé, aparecem os especialistas da área médica. Onde os mais citados como

fonte de informação dentro deste segmento foram os cardiologistas, 11 profissionais

consultados igualmente em cada revista, totalizando 22 cardiologistas mencionados nas

duas revistas.

Uma pesquisa da universidade americana de Harvard, lideradapelo médico Norman Hollenberg, identificou nas sementes dofruto um novo nutriente que pode ser um ótimo protetor docoração. A substância, a epicatequina, responsável pelo amargorno chocolate, eleva os níveis de óxido nítrico no sangue. Isso

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leva ao relaxamento dos vasos sanguíneos, melhorando acirculação e protegendo de agressões a parede das artérias.(Istoé, 21.03.2007, edição 1951, p. 79)

As falas dos endocrinologistas e dos neurologistas são as quartas vozes mais

presentes nos dois suportes analisados. Endocrinologistas tiveram suas falas publicadas

em “Veja” 11 vezes e em Istoé sete vezes, totalizando 18 profissionais dessa área nas

duas revistas. Também os neurologistas foram citados nas duas revistas 18 vezes, sendo

que em Veja eles são mencionados cinco vezes e em Istoé 13 vezes. Os dermatologistas

foram mencionados nas edições de Veja cinco vezes e nas de Istoé é 11 vezes, ficando

em quinto lugar entre as vozes mais recorrentes nas duas revistas estudadas.

Ginecologistas e obstetras foram mencionados, igualmente, três vezes em “Veja”

e nove vezes “Istoé”. Os representantes das indústrias farmacêuticas foram enunciados,

em “Veja”, sete vezes e em “Istoé” quatro vezes. Já os profissionais de nutrição tiveram

suas falas publicadas nas matérias tanto de “Veja” como de “Istoé”, cinco vezes em

cada revista. Psiquiatras e psicólogos foram equitativamente citados três vezes em

“Veja”, enquanto em Istoé foram mencionadas as falas de cinco psiquiatras e quatro

psicólogos; oftalmologistas foram enunciados quatro vezes em “Veja” e uma vez em

“Istoé”. Os pediatras foram enunciados em “Veja” três vezes e em Istoé duas. Já os

oncologistas aparecem igualmente nos discursos de “Veja” e “Istoé” apenas uma vez,

enquanto os educadores físicos aparecem três vezes em cada revista. Ortopedista,

fisioterapeuta e pneumologista são citados apenas uma vez na revista “Veja” e duas

vezes em “Istoé”.

Dentre as áreas tematizadas somente por “Veja”, podemos destacar sete geriatras

e quatro cirurgiões plásticos. Já nas áreas abordadas apenas por “Istoé”, verificamos seis

geneticistas e um assistente social.

Assim, constatamos uma pluralidade de vozes na emissão das mensagens de

saúde enunciadas por ambas as revistas, contemplando o que Mikail Bahktin denominou

de polifônia, e que Magalhães corrobora ao afirmar que:

Polifônia é um todo constituído por uma multiplicidade devozes, em diálogo permanente, internamente (entre si), eexternamente, articulando-se com outros discursos, anteriores eposteriores, através da possibilidade de réplica, da característicaativa, aberta a qualquer palavra articulada na relação dialógica.(Magalhães, 2003, p. 43)

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Nessa perspectiva verificamos que tanto “Veja” como “Istoé” buscam legitimar

seus discursos através das vozes de autoridades das áreas escolhidas para compor as

matérias. Observamos que ambas as revistas recorreram às falas de médicos

especialistas que, além disso, representem alguma instituição pública ou particular do

campo da saúde. Contudo, constatamos que Istoé apresenta um número bem maior de

citações dessa categoria quando comparada com “Veja”. Também atentamos para o

grande número de vozes oriundas dos diversos tipos de usuários de saúde nas duas

editorias, assim constatamos que a freqüência dessas vozes em Istoé é o dobro de

“Veja”.

Para Cremilda Medina (2006), o processo de comunicação de sentidos de saúde

pode ser visualizado como um triângulo que tem na base dois pólos compostos pela

fonte e pelo jornalista, de cuja interação resultará a mensagem que vai atingir, no ápice

do triângulo, o destinatário. Poderíamos dizer aqui que essas bases do triângulo a que se

refere Medina, se constitui numa das pontas, por médicos, pacientes, instituições,

empresas etc., na segunda ponta ela se compõe por jornalistas e na terceira pelos seus

destinatários. O que colocaria esses leitores expostos a uma pluralidade de vozes que

participam desse processo de produção e circulação de mensagens, que ofertam

também, sentidos múltiplos de saúde.

Não podemos desconsiderar, no entanto, o processo de negociação de sentidos

dessas mensagens no âmbito da recepção, que ocorre, segundo Martín-Barbero (2002),

de forma não passiva e linear, uma vez que o destinatário enquanto sujeito ativo no

processo comunicacional possui suas próprias subjetividades e contextos diferentes de

recepção.

4 Sentidos ofertados nos discursos de Veja e Istoé

Conforme demonstra o Quadro 3, há prevalência de matérias com sentidos de

prevenção de doenças na revista “Veja”, 21 matérias localizadas ofertando esses

sentidos, enquanto em “Istoé” percebemos a prevalescência de sentidos de terapia, com

27 matérias propondo tais sentidos. Contudo, constatamos que embora “Veja” priorize a

prevenção e “Istoé” a terapia, ambas as revistas oferecem grande destaque para os dois

sentidos supracitados.

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‘A população precisa ser alertada sobre os perigos dessastoxinas e controlar seu consumo, assim como já controla o desal e de gorduras trans’, diz a geriatra americana HelenVlassara, principal autora do estudo. (Veja, 30 maio 2007,edição 2010, p. 84)

Os sentidos de terapia foram identificados em 18 matérias de “Veja”, sendo que

estes estavam associados a temas como: menstruação e TPM, colesterol, resfriado,

saúde dos olhos, famílias de pacientes de UTIs e saúde do coração

Já o sentido mercadológico foi verificado em 12 matérias de “Veja”, sendo que

muitos desses estavam fundidos com outros sentidos como o terapêutico, o preventivo e

o estético. Conforme demonstra a matéria publicada em “Veja” sobre o tratamento da

depressão e o consumo dos medicamentos “Prozac” e “Zoloft”. “Outra frente

importante (esta, sim, comprovada cientificamente) são os antidepressivos da classe

dos SSRIs, da qual fazem parte o Prozac e o Zoloft”. (Veja, 6 de junho de 2007, edição

2001). Os temas contendo esses sentidos em “Veja” foram: anticoncepcionais,

menstruação e TPM, comprimido antibarriga, dependência química, doenças cardíacas e

técnicas de combate ao envelhecimento, conforme exemplo da revista Veja: “Pela

primeira vez, um medicamento contra pressão alta chega ao topo do ranking de remédios que

mais faturam no Brasil”. (veja 02 de abril, 2007, p. 107).

Sentidos de estética foram encontrados em três matérias de Veja. Esses sentidos

se encontraram nas matérias com temas voltados para o rejuvenescimento do corpo,

atividades físicas e medicamentos contra a barriga.

Entre as áreas em que já há resultados práticos, desponta umtratamento inovador para o rejuvenescimento da pele. Oprocedimento começa com uma pequena cirurgia para a retiradada pele de uma região rica em bulbos capilares, em volta dosquais existem muitas células-tronco – aquelas que levam achave biológica para se transformar em outros tipos de célula docorpo humano. Com tecido e sangue colhidos do paciente, olaboratório prepara uma solução para ser injetada em rugas,cicatrizes ou marcas de acne. (veja, 9 de maio, 2007, edição2007, p. 80).

Sentido sociológico foi encontrado em apenas uma matéria de “Veja”, conforme

sugere a matéria publicada na revista sobre o comercio de órgãos humanos. “Para

evitar que o desespero seja um combustível poderoso nas mãos dos traficantes de

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órgãos, o governo precisa agir rápido” Não dá para esperar’. (Veja, 23 de maio,

edição 209, 2007, p. 74). Neste trecho percebemos a revista denunciar o comércio ilegal

de órgãos humanos e reclama por providências por parte dos setores responsáveis por

essas questões, o que confirma o caráter social assumido pela edição.

Diferente daquilo que observamos em “Istoé”, não encontramos qualquer

matéria em “Veja” ofertando sentidos pedagógicos, os quais são enunciados geralmente

com objetivos de apenas informar o leitor sobre alguma questão relativa ao

conhecimento cientifico oriundo de pesquisas recentes sobre o organismo humano e seu

funcionamento. Essas matérias se assemelham aos textos didáticos próprios das

ciências biológicas.

Quadro 3 – Sentidos presentes nas narrativas de “Veja” e “Istoé”Janeiro a junho, 2007

FreqüênciaSentidos presentes nasmatérias de saúde Veja Istoé

Preventivo 21 16Terapêutico 18 27Mercadológico 12 15Estético 3 6Pedagógico - 5Sociológico 1 2

Fonte: dados da pesquisa

Na revista “Istoé”, o sentido terapêutico, localizado com mais freqüência, foi

verificado em matérias oriundas de entrevistas com profissionais do setor médico e, às

vezes, reproduzindo matérias publicadas em revistas científicas nacionais ou

internacionais como Time, Science e outras mencionadas diversas vezes nos textos de

“Istoé”. Assim como em “Veja”, as matérias com sentidos de terapia verificadas em

Istoé, às vezes apareceram de maneira simultânea e entrecruzada aos sentidos

mercadológicos, uma vez que o tratamento de diversas patologias está condicionado ao

consumo de medicamentos e/ou serviços médicos que são devidamente identificados

seus nomes de mercado. As matérias ofertando sentidos de terapia estão vinculadas, em

sua maior parte, a temas como: Famílias de pacientes de UTIs, atividade física,

colesterol, saúde do coração, depressão, envelhecimento, câncer, menstruação e TPM,

miomas e andropausa.

Na prática ele pode ser a esperada solução para pessoas queestão realmente muito acima do peso e para aqueles que

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convivem com alguns quilinhos, situados especialmente noabdome, e convivem com vilões cardiovasculares. Os maiscomuns são a diabete tipo dois, adquirida ao longo da vida, ealterações nos níveis de colesterol e triglicérides, outra dasgorduras circulantes no organismo. (Istoé, 02.05.2007, edição1957, p. 70)

Já o segundo sentido midiático mais recorrente em “Istoé”, foi de prevenção,

presente em 16 matérias. Este sentido foi detectado nas matérias com temas sobre o

envelhecimento humano, saúde do coração, atividades físicas, vacina e saúde dos olhos.

(Istoé, 23 de maio, 2007. edição 1960, p. 52)

O terceiro sentido mais presente em Istoé foi o mercadológico, localizado em 15

matérias. Os temas que mais ofertaram este sentido foram: bronzeamento da pele,

câncer, maternidade, menstruação e TPM, menopausa, andropausa, depressão e

envelhecimento humano.

‘As moléculas de gordura seriam oxidadas e eliminadas emmaior volume’. Explica Débora Molcelin coordenadora depesquisa suplementos esportivos da Nutrilatina, uma dasempresas que oferecem o produto. (Istoé, 7 de fev. 2007, edição1945 p.100)

A mais recente alternativa para tratar os sintomas da tensão pré-menstrual (TPM) é o novo contraceptivo oral, chamado Yaz,que será lançado no Brasil até o final deste mês. Trata-se daprimeira pílula anticoncepcional que cumpre a função deprevenir a gravidez e, ao mesmo tempo, aliviar o inchaço, que éuma das principais queixas das mulheres que sofrem com aTPM. (Istoé, 25 de abril, 2007, p. 77)

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Quanto ao sentido estético, este foi verificado em seis matérias de Istoé, os quais

estavam relacionados a temas como, bronzeamento da pele, atividade física,

envelhecimento humano e calvície.

Em experimentos com camundongos, Cotsarelis detectou que,ao remover uma pequena área da epiderme (a camada maissuperficial da pele), é possível ‘despertar células-tronco’ quetêm a capacidade de gerar novos folículos – célulasresponsáveis pelo nascimento de cabelo. A leve ‘descamação’feita no rato ativou um gene chamado Wnt, essencial para que ocabelo cresça naturalmente, e, uma vez identificado esse gene-chave, bastou ‘alimentá-lo’ com mais proteínas. (Istoé, 30 demaio de 2007, edição 1961, p. 60-61)

Também encontramos cinco matérias ofertando sentidos pedagógicos, que

estavam presentes em temas sobre funcionamento de cérebro humano, maternidade e

novas técnicas cirúrgicas. Conforme demonstra a matéria de “Istoé” sobre maternidade

aos 40 anos. “Aos 27 anos, a probabilidade de engravidar naturalmente em uma

relação sexual começa a cair. E, a partir dos 40, essa chance cai para 5%”. (Istoé, 18

de abril, 2007, edição 1955, Pág. 70).

(Istoé, 18 de abril, 2007, edição 1955, Pág. 71)

Por fim detectamos em Istoé duas matérias ofertando sentidos sociológicos, uma

tematizando as estruturas dos hospitais brasileiros e a outra falando sobre o drama das

famílias de pacientes internados em UTIs. Nessas matérias de sentido sociológico,

“Istoé” denuncia situações e problemas estruturais no sistema de saúde e cobra soluções

dos poderes públicos e outros segmentos envolvidos no setor.

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É fundamental haver instrumentos de fiscalização e incentivo’,afirma Susi Martineli, coordenadora de um levantamentoconcluído recentemente sobre o panorama internacional dosegmento feito para o ministério do turismo. (Istoé, 14 defevereiro, 2007, edição 1946, p. 65)

5 Considerações finais

Encerraremos nossas discussões afirmando que a maior parte das matérias de

“Veja” se destina aos leitores que buscam informações sobre a manutenção da saúde e

prevenção de patologias. “Veja”, não editou matérias sobre saúde de maneira constante

tanto no que diz respeito às denominações das seções, como na periodicidade das

publicações. As informações sobre saúde em “Veja” foram encontradas em seções

denominadas de “Comportamento”, “Saúde”, “Medicina”, “Guia veja”. Também,

“Veja” excluiu esta temática de algumas edições constituintes da amostra, o que não

ocorreu em “Istoé”, já que esta revista mantem uma seção permanente para noticiar as

questões da saúde. Além disso, vimos que Istoé dedicou na maioria de suas edições, um

número maior de paginas para o tratamento dos temas em relação a Veja;

“Veja” demonstrou se dirigir a um leitor com considerável grau de escolaridade,

com hábitos urbanos, que possui conhecimentos gerais abrangentes e que busca

qualidade de vida e longevidade. Já Istoé parece construir uma imagem de seu leitor,

também com hábitos urbanos, que procura se prevenir de doenças, mas que antes de

tudo busca informações acerca de medicamentos e recursos de combate a diversas

patologias. Assim, doenças como dengue, depressão, câncer e colesterol são tratados

com maior freqüência por “Istoé”.

“Veja” buscou ouvir diretamente autoridades internacionais do setor da saúde,

deixando isto explícito em seus textos. Enquanto “Istoé”, às vezes, recorre a artigos

científicos publicados em revistas internacionais conceituadas, ao mesmo tempo em que

realiza entrevistas com autoridades e especialistas brasileiros. Porém, tanto “Veja”

como “Istoé” priorizam vozes oriundas do campo institucional nacional e mundial e

vozes de pacientes que relatam suas experiências pessoais para falar das questões da

saúde. Neste aspecto, “Istoé” apresentou quase o dobro do número de vozes de

representantes de instituições e de pacientes/usuários que o enunciado nos discursos de

Veja. Também, Istoé apresentou o dobro do número de vozes de médicos neurologistas

e dermatologistas presentes em “Veja”.

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Contextualizando aquilo que Cremilda Medina fala sobre as pautas de saúde nas

mídias, quando diz que os avanços da medicina também chamam a atenção do leitor

preocupado com saúde, e não com doença. Para a autora, há um grupo de doentes (reais

ou imaginários) que querem saber “tudo” a respeito de uma condição patológica

qualquer, seja por serem portadores dela ou por temerem vir a sofrer dela. Para a autora,

contrariando as aparências, este é o menor contingente dos potenciais consumidores de

informação médica.

Frente a isso, resta-nos buscar respostas mais consistentes e próximas da

instância dos leitores ou destinatários dessas mídias acerca de suas necessidades e

interesses dentro das pautas de saúde nas mídias impressas. Considerar suas

subjetividades, realidades e contextos de vida são elementos importantes para podermos

fazer uma leitura menos imaginária e mais concreta desses sujeitos participantes do

processo de comunicação que está cada vez presente nesses novos espaços de prevenir,

de curar, de vender, de comprar, de ensinar e aprender e de socializar as questões da

saúde.

Referências bibliográficas

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PINTO, Milton José. Comunicação & discurso. Introdução à análise de discursos. São Paulo:Hacker, 1999. 105 p.

RODRIGUES, Janete de P. Estratégias midiáticas na construção de sentidos de Saúde:enunciações sobre exercícios físicos na Revista “Istoé”. Comsaúde. Unisinos, S Leopoldo/RS.2005.

VERÓN, Eliseo. Fragmentos de um tecido. São Leopoldo: UNISINOS, 2004. 286p.