comunicação niep-prék 1014_estado, sociedade e classe no egito faraônico

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Fábio Frizzo UNESA/IUPERJ/NIEP-Marx-PréK “A abstração do Estado como tal pertence somente aos tempos modernos porque a abstração da vida privada pertence somente aos tempos modernos. A abstração do Estado Político é um produto moderno”. Karl Marx (1843)

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Page 1: Comunicação NIEP-Prék 1014_Estado, Sociedade e Classe No Egito Faraônico

Fábio Frizzo

UNESA/IUPERJ/NIEP-Marx-PréK

“A abstração do Estado como tal pertence somente aos tempos modernos porque a abstração da vida privada pertence somente aos tempos modernos. A abstração do Estado Político é um produto moderno”.

Karl Marx (1843)

Page 2: Comunicação NIEP-Prék 1014_Estado, Sociedade e Classe No Egito Faraônico

A) ESTADO A) ESTADO X X ELITES LOCAIS/ELITES LOCAIS/

FAMÍLIAS NOBRESFAMÍLIAS NOBRESCentralidade X DescentralidadeEstado X Sociedade

B) ESTADO X TEMPLOS

C) ESTADO =MONARQUIA

(Poder Centralizado)

D) ESTADO = BUROCRACIA

(Funcionarismo ADM)

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“...uma primeira concepção desenvolveria sua explicação sobre uma base totalmente idealista (... ) tais ‘essências do homem’ seriam os principais elementos motores para comprometer aos indivíduos em uma sociedade civil. (...) Estas posturas formariam parte de um humanismo que buscava o bem comum, na busca da concordância e tolerância universais”.

(TANTALEÁN, 2008. p. 36)Estado de Natureza; Contrato Social; Direito Natural (jusnaturalismo)Defesa da propriedade privada Teorias individualizadoras (indivíduos como promotores do Estado)

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“Enquanto refletindo uma premissa leninista e marxista do Estado como um instrumento de opressão de classe, [a visão de HAAS] falha em levar em conta o pressuposto básico de que Estados surgem num território geográfico com populações etnicamente homogêneas, e assume que o antagonismo social na sociedade supera a competição étnica entre duas sociedades vizinhas, um postulado que foi refutado pelo comportamento da classe trabalhadora na eclosão da Primeira Guerra Mundial e para o qual não há mais evidências para os tempos pré-históricos.” (WARBURTON, 1997. p .47)

"É lógico que o surgimento da riqueza combinado com a presença da força e a habilidade de empregar a força para expressar superioridade pode resultar na aquisição de riqueza por meio da coerção, mas isso não indica que as desigualdades sociais são devidas à existência de uma distribuição desigual da riqueza ou que isso identifica o papel do Estado como uma elemento da sociedade humana.“ (Idem. p .47)

[Anatomia do macaco como chave para analisar a anatomia humana!!!]

"... integração e conflito sempre desempenharam um papel na sociedade humana, mas o maior conflito de qualquer significado sempre se dará entre duas sociedades ou Estados, em vez de dentro de qualquer sociedade". (Idem. p. 48)

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“...a conclusão lógica [é] de que a existência do Estado foi concebida pelo compromisso, a população dando soberania a um único indivíduo em retorno de, por exemplo, segurança. Segurança pessoal e segurança patrimonial (lit. da riqueza) do governante como um resultado de que sua vitória deveria de fato negar efetivamente o valor da participação voluntária na nova estrutura de governo”. (Idem. p. 56)"A segurança derivava do governo legítimo e contribuía para o crescimento econômico e a legitimidade derivava do mando e do reconhecimento dos direitos de propriedades individuais que também autorizava os governantes legítimos a 'expropriar' bens e trabalho 'compulsório'. (...) era a atividade estatal que gerava o crescimento da demanda e, consequentemente, da produção, da riqueza e da prosperidade”. (Idem. p. 64)

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PISTA 1 – Estado como relação social e MdP “Asiático”“...aparecimento de uma aristocracia que dispõe de um poder de Estado e que assegura as bases de sua exploração de classe pela apropriação de uma parte do produto das comunidades (em trabalho ou em espécie)”. (GODELIER, 1982)

PISTA 2 – Um Fetiche do Estado?“Um organismo coletivo é constituído de indivíduos, os quais

formam o organismo na medida em que se deram, e aceitam ativamente, uma hierarquia e uma direção determinada. Se cada um dos componentes pensa o organismo coletivo como uma entidade estranha a si mesmo, é evidente que este organismo não existe mais de fato, mas se transforma num fantasma do intelecto, num fetiche”.

(GRAMSCI. Cardernos Miscelâneos. Vol. III. p. 332)

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PISTA 2 – Um Fetiche do Estado?Se Hegel tivesse partido dos sujeitos reais como a base do Estado, ele não precisaria deixar o Estado subjetivar-se de uma maneira mística. (...) A Substância mística se torna sujeito real e o sujeito real aparece como um outro, como um momento da Substância mística. (...) Como se o povo não fosse o ESTADO REAL*. O Estado é um abstractum. Somente o povo é o concretum”.

(MARX, 2005. pp. 44-48)

“Não é mais nada que determinada relação social entre os próprios homens que para eles aqui assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. Por (...) analogia, temos de nos deslocar à vida nebulosa do mundo da religião. Aqui, os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, figuras autônomas, que mantém relações entre si e com os homens. (MARX, 1983. p. 71)

* Posteriormente, Marx usa também, como sinônimo, Estado Material.

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PISTA 2 – Um Fetiche do Estado?“...as esferas particulares não tem consciência de que seu ser privado coincide com o ser transcendente da constituição ou do ESTADO POLÍTICO e de que a existência transcendente do Estado não é outra coisa senão a afirmação de sua própria alienação. A constituição política foi reduzida à esfera religiosa, à religião da vida do povo, o céu de sua universalidade em contraposição à existência terrena de sua realidade”. (MARX, 2005. p. 50)Relações sociais tomando formas de coisas/pessoas – fetichismo de Estado.Despotismo no MdP Asiático

Fetichismo de Estado + Fetichismo Religioso = Estado teocrático

Estado, então, é apenas uma relação entre grupos sociais objetificada e, até mesmo, subjetificada?

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PISTA 3 – Estado político em Marx“A propriedade, o contrato, o matrimônio, a sociedade civil aparecem, aqui (...) como modos de existência particulares ao lado do ESTADO POLÍTICO, como o conteúdo com o qual o Estado político se relaciona como forma organizadora, como entendimento que determina, limita, ora afirma, ora nega, sem ter em si nenhum conteúdo”. (MARX, 2005. p. 50)

PISTA 4 – A encarnação do interesse coletivoEstado surge como representante das necessidades coletivas.“...é precisamente dessa contradição do interesse particular com o interesse coletivo que o interesse coletivo assume, como Estado, uma forma autônoma, separada dos reais interesses singulares e gerais e, ao mesmo tempo, como comunidade ilusória, mas sempre fundada sobre a base real dos laços existentes em cada conglomerado familiar, tribal, tais como laços de sangue...”. (MARX, 2007. p. 37).

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PISTA 4 – A encarnação do interesse coletivo“O Estado é certamente concebido como organismo próprio de um grupo, destinado a criar as condições favoráveis à expansão máxima desse grupo, mas este desenvolvimento e esta expansão são concebidos e apresentados como força motriz de uma expansão universal, de um desenvolvimento de todas as energias ‘nacionais’ (…) o grupo dominante é coordenado concretamente com os interesses gerais dos grupos subordinados e a vida estatal é concebida como uma contínua formação e superação de equilíbrio instáveis (no âmbito da lei) entre os interesses do grupo fundamental e os interesses dos grupos subordinados, equilíbrios em que os interesses do grupo dominante prevalecem, mas até um determinado ponto, ou seja, não até o estreito interesse econômico”. (GRAMSCI. Caderno 13. Vol. III. pp. 41-42)

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PISTA 1 – O Modo de Produção Asiático – Característica

1) ausência de propriedade privada da terra, que, em última instância, pertence somente ao Estado;

2) base social constituída pelas comunidades aldeãs auto-suficientes que mesclam em seu interior a agricultura e o artesanato;

3) o papel fundamental do poder central, derivado de um contexto ecológico que impunha a necessidade da realização de obras hidráulicas;

4) uma classe dominante mais ou menos idêntica ao poder de Estado, que explorava as comunidades aldeãs através da renda das terras e do trabalho compulsório

Page 12: Comunicação NIEP-Prék 1014_Estado, Sociedade e Classe No Egito Faraônico

PISTA 2 – O Marxismo Político de Ellen Wood“Parece razoável supor então que, não importa como esse ‘complexo de instituições’ tenha passado a existir, o Estado surgiu como um meio de apropriação do produto excedente (...) e, de uma forma ou de outra, como modo de redistribuição. (...) Mesmo que não haja um representante perfeito desse tipo social [“formação asiática”], (...) o Estado como apropriador principal e direto de mais-valia com certeza existiu; e há uma certa evidência de que esse modo de apropriação de excedentes tenha sido um padrão dominante, se não universal, do desenvolvimento social”. (WOOD, 2005. p. 37)

“Como outros impérios governados por burocracias centrais, o Estado imperial chinês sempre confrontou um dilema: o alcance direto do Estado central era necessariamente limitado, enquanto os meios pelos quais tal alcance poderia ser estendido – uma proliferação de funcionários com poderes fiscais e administrativos locais – sempre ameaçava criar centros de poderes locais e dinastias que poderiam desafiar o centro de poder imperial”. (WOOD, 2012. p. 63)

Page 13: Comunicação NIEP-Prék 1014_Estado, Sociedade e Classe No Egito Faraônico

PISTA 3 – Estado e Expropriação Não devemos entender o Estado apenas como expropriando o

sobretrabalho dos produtores. Expropriação de diferentes elementos:

1) Expropriação de formas de solidariedade coletiva, já que o pagamento de trabalho compulsório mediava as obras coletivas;

2) Expropriação da mediação com o sagrado e, portanto, de determinadas forças produtivas imateriais;

3) Expropriação da lógica de organização coletiva com uma classe que reclama para si a representação de todo coletivo;

4) Expropriação de formas de organização social pré-estatais como o patronato e o parentesco*.

* A mim parece, inclusive, que a expropriação e utilização da lógica de parentesco pelo Estado, como demonstrou CAMPAGNO (2006), é elemento central para entender a confusão que leva a definição (repetição acrítica das fontes) do Estado egípcio como patrimonial ou família extensa do monarca, para o que também contribui a utilização e a interpretação da ideia egípcia de pr .

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PISTA 4 – Estado Político, Frações de Classe e Luta pela Hegemonia Se o ESTADO POLÍTICO é a “Instituição”, “Meio”,

“Organismo” ou “Aparelho” utilizado para a manutenção das relações de classe presentes no ESTADO MATERIAL, ele deve ser dominado pela classe dominante, heterogênea e com interesses distintos.

Tal visão propõe, portanto, o Estado Político como a arena da luta das diferentes frações da classe dominante pelo exercício da hegemonia sobre as demais frações de classe (e, por extensão, pelo domínio e direção das classes subalternas).

Este modelo permite explicar as aparentes contradições tanto entre poderes locais/centrais quanto entre templos/monarquia sem criar dicotomias excludentes e possibilitando crises de hegemonia.

Por outro lado, a presença dos produtores diretos não se dá largamente na disputa imediata por este Estado político: sua ação se concentra na ocupação das estruturas locais de classe (que podem exercer funções do aparelho estatal) e, principalmente, determina – por meio da luta de classes – as forças das diferentes frações das classes dominantes na luta pela hegemonia; enquanto o palco de ação mais direta do subalternos seria o Estado Material, contra a classe dominante.

A participação nos conselhos é uma ocupação de uma instituição própria dos grupos subalternos que às vezes funciona como Estado Político, o que me parece é que a participação de produtores na disputa pelo Estado Político é muito reduzida e totalmente dependente da força de sua ação coletiva no Estado Material.

Page 15: Comunicação NIEP-Prék 1014_Estado, Sociedade e Classe No Egito Faraônico

Definições: ESTADO MATERIAL – relação social de dominação de

classe e extração de excedente, palco da luta de classes;

ESTADO POLÍTICO – aparelho administrativo disputado pela classe dominante, palco da luta entre as frações da classe dominante pela hegemonia;

ELITE ou NOBREZA – classe dominante composta por frações heterogêneas e com interesses distintos e, por vezes, conflitantes;

MONARQUIA/CORTE REAL – autoridade central, i.e., fração da classe dominante que exerce hegemonia sobre as outras frações da elite e, consequentemente, domina e dirige as classes subalternas.

Page 16: Comunicação NIEP-Prék 1014_Estado, Sociedade e Classe No Egito Faraônico

Definições: ELITE ou NOBREZA – classe dominante composta

por frações heterogêneas e com interesses distintos e, por vezes, conflitantes;

Spss

MONARQUIA/CORTE REAL – autoridade central, i.e., fração da classe dominante que exerce hegemonia sobre as outras frações da elite e, consequentemente, domina e dirige as classes subalternas.

nsw(y)t pr-aA

ESTADO POLÍTICO – aparelho administrativo disputado pela classe dominante, palco da luta entre as frações da classe dominante pela hegemonia (Monarquia ou Palácio Real para JANSSSEN)

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Sobre o Estado Pré-Capitalista“… no Estado antigo e no medieval, a centralização,

seja político-territorial, seja social (de resto, uma é tão somente função da outra), era mínima. Num certo sentido, o Estado era um bloco mecânico de grupos sociais [diversos]: dentro do círculo da pressão político-militar, que se exercia em forma aguda só em certos momentos, os grupos subalternos tinham uma vida própria, à parte, instituições próprias, etc., e estas instituições, às vezes, tinham funções estatais, que faziam do Estado uma federação de grupos sociais com funções diversas e não subordinadas, (…) que nos períodos de crise dava evidência (…) ao fenômeno do “duplo governo”.

(GRAMSCI. Caderno 25. Vol. V, pp. 138-139)

Page 18: Comunicação NIEP-Prék 1014_Estado, Sociedade e Classe No Egito Faraônico

Conselhos de Locais* como “Instituições Próprias dos Grupos Subalternos” expropriadas para terem “às vezes, funções estatais”: DADAt – com jurisdição alcançando de uma aldeia , a uma

cidade ou até uma província, tinha funções de corpo consultivo, administrativo e de tribunal auxiliar local para causas cíveis e criminais.

qnbt – tinha funções administrativas quando parentemente, no Reino Médio, houve uma especialização do DADAt em questões judiciárias . No Reino Novo, com o desaparecimento do DADAt, o qnbt assumiu todas suas funções.

Os conselhos eram ocupados pelos wrw, anciãos, ou srw, (que inicialmente devia se referir a “notáveis” locais, mas que se tornou uma categoria de funcionário da administração central.

Os “Duplos Governos”.* Tais designações, traduzidas genericamente como

“magistrados” por FAULKNER (1976, p. 319), também aparecem em contextos palacais centrais.

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Uso político do Estado no Pré-Capitalismo Pensar na persistência do Estado Material (estrutura coletiva

atravessada por relações de exploração de classe) na história com Estados Políticos (aparelhos administrativos) com formas distintas não me parece estadocentrismo. Pelo contrário, parece fortelecer uma perspectiva política de necessidade de superação do Estado Material de exploração de classe , indicando a tomada e o fortalecimento do Estado Político como caminho para isto.

Confusão entre Estado Material e Estado Político ou por que tratar as duas coisas como distintos e complementares? Para não separar economia de política (estrutura e superestrutura) Porque o uso confuso dos dois conceitos, que tende a torná-los uma

coisa só, parece fortalecer uma perspectiva liberar por representar o Estado Político como representante da coletividade do Estado Material e não como elemento que permite as operações de expropriação de uma classe sobre a outra.