#comunica!a revolução dos bichos não compre, adote superação, amor incondicional e gratidão...

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novembro de 2020 / EDIÇÃO #03 #COMUNICA! Clube de luta A revolução dos bichos Não compre, adote Superação, amor incondicional e gratidão fazem parte de algumas lições destes nossos amigos-irmãos merecedores de muito mais que o nosso respeito Animais: o que eles têm a nos ensinar?

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novembro de 2020 / EDIÇÃO #03

#COMUNICA!

Clube de luta

A revolução dos bichos

Não compre,adote

Superação, amor incondicional e gratidão fazem parte de algumas lições destes nossos amigos-irmãos merecedores de muito mais que o nosso respeito

Animais: o que eles têm a nos ensinar?

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novembro de 2020 / EDIÇÃO #03

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Unidade Bueno – Av.T-10 n.1047 Setor Bueno, Goiânia-GO

www.faculdadearaguaia.edu.br

DIRETOR GERAL: Prof. Me. Arnaldo Cardoso Freire

DIRETORA PEDAGÓGICA: Profª. Ma. Rita de Cássia Rodrigues Del Bianco

VICE-DIRETOR PEDAGÓGICO: Prof. Me. Hamilcar Pereira e Costa

DIRETORA ACADÊMICA: Profª. Angélica Cardoso Freire

DIRETORA FINANCEIRA: Profª. Adriana Cardoso Freire

DIRETOR ADMINISTRATIVO: Hernalde Menezes

COORDENADORA DOS CURSOS DE JORNALISMO E DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA: Profª. Ma. Viviane Cristina Maia Gomes

#COMUNICA!novembro de 2020 / EDIÇÃO #03

Editora Geral: Viviane MaiaEditora Executiva: Patrícia Drummond

Designer: Fábio SalazarProjeto Gráfico: Eduardo de Ávila

Equipe de ReportagemBeatriz BorgesBrunno Moreira

Camila AlvesCamila NogueiraCharles Teixeira

Déborah TomaselliDiego AraújoEduardo MeloÉrlytha CruzEuler MoraesGabriel Vieira

Geovanna VerônicaGiovana BatistaIélledy Lavínia

Jonatham GarilelJuliano Moreira

Júnior KamenachKethllen AlvesLaylla Gontijo

Leonardo CalazençoLeidy Mabel Quiñones

Letícia RenataLuana Castro

Luiz Felipe FernandesMarcos Ferreira

Maria Júlia PradoMarta DelmondesMarjorie SecklerMateus MarquesMatheus Pessoa

Milva SiqueiraNayú Fernandes

Pedro LeitePlínia FerreiraRaquel GulloSalma AtaídeSamara VeigaSanmari Melo

Telma Renata SobreiraThomas Sales

Tiago dos AnjosWilli BeckerWillian Alves

Williane Ludogério

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novembro de 2020 / EDIÇÃO #03

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No meio de um projeto tão bonito teve uma pandemia. E não foi fácil, nada fácil. O Novo Coronavírus chegou e nos testou

a todos: professores, estudantes, fontes, entrevistados, o modo de buscar, captar e selecionar informações, de produzir uma boa matéria, de fazer jornalismo – ainda que apenas como um exercício prático, como laboratório. Aprendemos a fazer dife-rente, com os recursos disponíveis. E – desculpem a modéstia – acho que fizemos bonito. Porque fizemos com o coração.

Não tinha como ser diferente. Para falar de maus-tratos, abandono e exploração de animais, ou da difícil rotina de quem abriga e protege esses seres tão especiais, só mesmo se dei-xando levar pela sensibilidade – o que, aqui, nestas páginas, o leitor ou a leitora vão encontrar de sobra!

A escolha do tema desta Revista vem da causa que a UniA-raguaia abraçou em seu projeto de responsabilidade social neste mundialmente diferente 2020, por meio dos cursos de Comunicação Social: a causa animal. Esta Edição 3 da #Co-munica! é apenas uma das nossas ações, em prol de dois abri-gos que escolhemos como parceiros: o Abrigo dos Animais Refugados e o Santuário São Francisco de Assis – ambos es-tarão retratados ao longo das reportagens.

Definitivamente, não foi fácil – quem disse que seria? Houve um momento em que até pensamos que não conseguiríamos. Principalmente lá atrás, quando, em março, nem bem acabá-vamos de distribuir as pautas e a tal Covid19 se mostrou, tão impiedosa. O sobressalto tomou conta; dúvidas pairaram so-bre nossas cabeças. Mas a UniAraguaia

adotou – com sucesso! – o Regime Especial de Aulas Não Presenciais, e as reportagens foram sendo produzidas den-tro desse ‘novo normal’, assim como os textos de opinião aqui apresentados. Nada como períodos de adversidade para tes-tar a nossa capacidade ... É quando mostramos o nosso me-lhor! Ainda bem que não desistimos.

POR PATRÍCIA DRUMMOND

Sensibilidade a cada página

EDITORIAL

A escolha do tema desta Revista vem

da causa que a UniAraguaia

abraçou em seu projeto de

responsabilidade social neste

mundialmente diferente 2020, por

meio dos cursos de Comunicação

Social: a causa animal

Patrícia Drummond é jornalista, especialista em Assessoria de Comu-nicação e professora do curso de Jornalismo da UniAraguaia

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#sumário!

Lívia Denise Borges

ENTREVISTA

20

A revolução dos bichos

INTERNET

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Quando elessão as estrelas

CINEMA

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Maus tratos aos animais

COMPORTAMENTO

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Aves de estimação ou crime ambiental?64

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Na boca dos famosos

Carta aos leitores

À quatro mãos

Artigo/Leite

Artigo/Pets

Crônica/Malu

Direito e Justiça: por dentro da Lei

Abandono: você tembém pe responsável

Não compre, adote um pet

Entrevista: vida de proetetora

Anjos protetores

Olha eles modelando

Adoção contra depressão

Causa animal em pauta na política

PLC 27/2018 em pauta

Depressão e ansiedade

Próteses: uma nova chance

Seres sencientes

Quatro história de amor

Terapets: cães como agentes de cura

Clube de luta

Diga não às injeções anticoncepcionais

Preferências pelos exóticos

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“Por favor, castrem seus animais e

jamais abandonem uma fêmea recém-parida. Tem outros

jeitos de resolver esse problema:

Entregue para um protetor, ONG ou

veterinário”.

“O prazer da gula não pode ser maior do que o seu coração. Não faço parte desta humanidade que explora, mata e judia seres indefesos. Faço parte de uma minoria sensível, que sabe que compaixão não se restringe a seres da mesma espécie”.

Fiorella Mattheis, atriz e modelo

Luisa Mell , ativista e defensora dos animais

Na Boca dosFamosos

POR

ÉRLYTHA CRUZ

“Eu cresci convivendo com bichos. Meu pai tirava todos da rua e os levava para casa, então aprendi o que era amor sem pedir nada em troca. Meu sonho nem é ter minha própria ONG. Quero ter um pedaço bom de terra para tirá-los da rua. Se Deus quiser, isso vai acontecer”.

Thaila Ayala, atriz

Reprodução/ Instagram (Arquivo pessoal) / Disponível em: https://www.instagram.com/luisamell/ Re

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”O maior objetivo é conscientizar as pessoas para que façam suas escolhas de forma consciente. E que estas escolhas sejam preservar os animais”.

Cléo Pires , atriz

“É uma causa muito nobre. Eu admiro o trabalho de quem olha para quem precisa, para quem não tem nada e que está em situação de completo abandono”.

Fernanda Gentil, jornalista

Reprodução/ Instagram (Arquivo pessoal). Disponível em: https://www.instagram.com/gentilfernanda/

Reprodução Instagram (Arquivo pessoal) Disponível em: https://www.instagram.com/cleo/

“Comemore a vida sem morte na sua

mesa (você não precisa ser vegano,

vegetariano ... precisa ser mais

humano”.

Xuxa Meneghel, militante do

veganismo para proteção dos

animais

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POR

LEONARDO CALAZENÇO e WILLIAN ALVES

carta dos leitores

Abandono

Eu sou contra o abandono e maus tratos de animais de

qualquer espécie. Considero uma das piores atrocidades que o ser humano pode cometer. Sabemos que existem leis vigentes e canais de denúncias, mas os mesmos têm sido poucos utilizados e conhecidos pela sociedade. Faltam punições para quem comete esses crimes e conscientização das pessoas. Quem abandona ou maltrata qualquer espécie de animal, podemos considerar como criminoso, sem amor e sem coração. Ricardo Florêncio Alves, Setor Bueno. Setor Bueno.

RespostaDe acordo com o delegado Luziano Severino de Carvalho, da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema), a Lei de Crimes Ambientais, no Artigo 32, aborda o ato de abusar, maltratar, ferir e mutilar. Essas quatro condutas caracterizam crimes contra animais. A pena é de até um ano de detenção e a multa pode chegar a R$ 5 mil por animal. As denúncias podem ser feitas pelo telefone 197, da Polícia Civil, ou na delegacia que fica na Rua T-48, nº 666, Setor Bueno, em Goiânia. O delegado lembra a importância de apresentar materiais que comprovem os maus tratos, como fotos e vídeos.

Punição

A cada dia que passa, vemos, tanto na mídia, quanto no dia a dia, casos de

abandono e maus tratos de animais. As autoridades deveriam tomar medidas mais drásticas com quem pratica esses atos criminosos. Deveria existir uma espécie de prisão ou leis específicas para estes casos e que fossem mais eficazes, afinal, os animais sofrem tanto nas mãos de certas pessoas e não têm como se defenderem sozinhos. Adrielly Naiany da Silva . Setor Forteville.

RespostaPara o delegado Luziano Severino de Carvalho, da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema), a Lei de Crimes Ambientais é excelente. “A lei não é ruim. Ruins são os homens que maltratam os animais”, desabafa. A diretora de Gestão Ambiente da Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), Flaviana Esteves, explica que é necessário o laudo de um veterinário, que explica a gravidade da agressão, para definir a punição, se criminal ou administrativa. “A fiscalização sempre foi uma dificuldade para a Amma. O fiscal não tem o poder de autuar uma pessoa sem o laudo do veterinário”, relata.

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Salvem os abrigos

Falta amor nas pessoas que abandonam e

maltratam suas criações. Para mim, significa que o indivíduo não tem capacidade de amar alguém. Se você não ama ou não tem condições de criar, dê para quem ama e cuidará com todo amor do mundo, pois eles merecem respeito, afeto, carinho e cuidado. E caso não queira o animal, entregue a alguma ONG. Existem várias que prestam um excelente trabalho salvando à vida desses animais. Thaynara Painha Gonçalves, Vila Abajá.

RespostaO psicólogo e presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP GO), Wadson Arantes, explica que o ato de maltratar um animal está ligado à personalidade de uma pessoa sem empatia, de perfil sociopata, já que não sente culpa pelo que faz. “São sujeitos que precisam ser julgados e punidos, pois estão cometendo um crime”, afirma o psicólogo, que demostrou seu amor por animais ao adotar o Pedrão, um cachorro de 11 anos, cego dos dois olhos.

Atitudes repugnantes

O abandono e os maus tratos contra os animais são repugnantes dentro da sociedade. Felizmente, nunca

presenciei nenhuma situação do tipo, todavia sempre estou atento às atitudes das pessoas, principalmente dos meus familiares. Penso que deveria haver mais apoio do governo nessa causa tão necessária para a humanidade. Os animais, em sua grande maioria, são indefesos e merecem receber carinho e amor, pois nos trazem alegria e são companheiros do dia a dia. Frederico Coelho, Jardim Novo Mundo. Jardim Novo Mundo.

RespostaA Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) é o órgão da prefeitura de Goiânia responsável pelas tratativas ambientais da capital, dentre elas os maus tratos contra animais. De acordo com a Diretora de Gestão Ambiental da Amma, Flaviana Esteves, o antigo Centro de Zoonoses, localizado no Jardim Guanabara, será reformado e transformado em uma clínica para receber animais de pequeno porte, de pessoas consideradas de baixa renda e cadastradas em programas sociais. “A licitação da reforma já foi homologada. A nossa expectativa é que no segundo semestre a gente inaugure essa primeira fase”, explica. Foi ainda inaugurado neste mês, o primeiro hospital público veterinário de Goiânia, localizado no bairro Balneário Meia Ponte.

Adoção

Na minha visão, é de extrema crueldade quem maltrata ou abandona os animais. Eu e minha família, há cerca de

dois anos, adotamos um shih-tzu que, hoje, é a alegria da casa. Quando ele chegou aqui estava todo machucado, com o rosto e ossos quebrados. Havia sido resgatado por uma ONG e obteve os primeiros cuidados com uma veterinária. Tainá Santos Rocha, Setor Central.

RespostaSegundo o veterinário Pedro Henrique da Silva Meira, ao receber em sua clínica um animal nessa situação, rapidamente ele é internado e é feita a limpeza das feridas, além da aplicação de analgésicos. Em seguida, o veterinário aciona os órgãos de defesa, como a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma). Ele enxerga com bons olhos as ações de ONGs que atuam em defesa desses animais. “Elas têm um papel importante, pois, infelizmente, a gente não consegue abraçar o mundo todo”, afirma.

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Cada vez mais pessoas buscam um animal de es-timação para dar e receber afeto. Com base em dados do Instituto Brasileiro de Ge-ografia e Estatística (IBGE), o Brasil já é o segundo país na quantidade desses animais, perde apenas para os Esta-dos Unidos. Os números de 2018 indicam a presença de 139,3 milhões de pets. São 54,2 milhões de cães, 39,8

milhões de aves, 23,9 mi-lhões de gatos, 19,1 milhões de peixes e 2,3 milhões de outras espécies. O levan-tamento também mapeou onde estão os pets por es-tado e regiões, a maior con-centração estáeve na região Sudeste, com 47,4%; Em se-guida está o Nordeste com 21,4%; Sul 17,6%; Centro-O-este com 7,2% e Norte com 6,3%.

Animais de estimação

Em Hong Kong, um cão testou positivo para o coronaví-rus e precisou ser enviado para a quarentena. De acordo com o porta-voz do Departamento de Agricultura, Pesca e Conservação do território semiautônomo da China, o ani-mal é de uma paciente e foi detectado com baixos níveis de coronavírus. O porta-voz informa, ainda, que não há evidências de que animais possam estar infectados com o vírus ou ser uma fonte de infecção para as pessoas. A recomendação é que usem máscaras e lave as mãos com água e sabão ou álcool desinfetante logo depois de entrar em contato com os animais.

Positivo para Covid-19

O conceito multiespécie é a inserção dos animais como parte do ambiente familiar. Tendência cres-cente no resto do mun-

do, também se verifica no Brasil. Cerca de 60% dos lares brasileiros têm

como moradores pessoas e animais de companhia,

especialmente cães de acordo com site Psico-logia Animal. Mas, essa

inclusão do animal é feita por viagens, gastos em

pets shops ou acessórios. Podemos observar que

os animais que os donos são parte de classes mais

baixas, essa visão de inserir o animal é limitada

apenas pela companhia e pelo básico para ele

sobreviver.

Multiespécie

/A Quatro Mãos

POR

BEATRIZ BORGES e MATHEUS PESSOA

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Já parou para pensar que os nomes dos cachorros são bem parecidos? Agora para famílias de baixa renda, a escolha do nome pet é sempre acompa-nhada de muita criatividade e até nomes de coisas que usa-mos no coitado. Quem nunca viu um companheiro chamado de Bolinha? Pipoca? Floquinho? Amora? Isso, claro, sem citar os nomes de jogadores de fute-bol e personagens de filme. De acordo com o Portal dos ani-mais, o momento de escolher o nome do animal de estimação do brasileiro pode ser resumido em muita criatividade e bastan-te inspiração.

Nome do bicho

Diferente dos cães com pou-cos privilégios e nomes de co-mida, nas famílias de alta ren-da, os cães, além de ser bem cuidados e usar roupas de gri-fe, são batizados com nomes de pessoas. Aqui o processo de escolha é mais demorado, nor-malmente é algo que combine com a personalidade do cão e a sonoridade que o nome traz com sua pronuncia refinada. Observem alguns exemplos: Lord é uma palavra de origem inglesa e significa “senhor”; Sebastian, esse nome tem ori-gem grega e significa adorado ou venerável; e Duquesa, outro título nobre muito usado até hoje em algumas monarquias ao redor do mundo.

Nome do bicho2

1Banho em casa Já viu um cachorro saindo do pet shop? Gravatinhas,

lacinhos, os pelos cheirosos. Mas, e quem não tem con-dições de pagar em média R$40 reais em um banho? Em um breve passeio por bairros menos favorecidos de Goiânia no domingo, é possível ver vários donos dan-do banhos em seus animais no quintal de casa. A apo-sentada Geise Gomes sempre lavou seu cachorro Apolo (foto) com sabão de barra “Temos que cuidar deles, sei que não é o melhor mais dentro das condições é o que consigo oferecer”. Apolo não parece estar preocupado, ao deitar no chão para levar jatos de água de sua dona.

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POR

BEATRIZ BORGES e MATHEUS PESSOA

/A Quatro Mãos

Cachorros especializados em detecção de doenças de-vem ser treinados para conseguerem detectar o coronaví-rus. Para isso, os pesquisadores precisarão descobrir como capturar o odor do vírus dos pacientes com segurança. A entidade Medical Detection Dogs já treinou cães para de-tectar o cheiro da malária, de câncer de próstata e da do-ença de Parkinson. A instituição planeja fazer testes com a Universidade de Durham e a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM), ambas no Reino Unido. Se isso for mesmo comprovado, os cães podem ser usados para rastrear qualquer pessoa, incluindo aquelas sem sintomas.

Farejadores de Covid-19

Sabemos que os cães são capazes de aprender

e memorizar seus nomes. No entanto, é possível estimular mais ainda a

inteligência dos pets. Foi comprovado que a

inteligência média de um cão é semelhante à de

uma criança de dois anos e eles podem aprender

sinais, gestos e uma média de 165 palavras. De acordo com Tanley Coren, famoso

pesquisador conhecido por classificar as raças

pelo seu QI, os cães têm uma compreensão muito básica da aritmética. Para

estimular é preciso praticar algumas atividades, como

jogos de inteligência para cães, brinquedos

para esconder comida e treinamento.

Inteligência dos cães

Quando ligamos a televisão ou acessamos a internet, en-contramos uma infinidade de propagandas de rações dos mais derivados tipos e preços. Mas, uma realidade diferente pode encontrar na população mais carente. A dona de casa Vilma Albernaz informa que desde o nascimento das cadelas Kate e Pandora (foto) , as alimenta com a mesma comida que a família consome. “A ração é muito cara, o arroz com qual-quer outra mistura fica mais barato”. E como Vilma, muitas fa-mílias que fazem o possível para alimentar seus pets, mas, de acordo com veterinários consultados, o alimentado em longo prazo pode causar problemas à saúde do animal.

Arroz pode?

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O Instituto Pet Brasil em um levantamento apurou a existência de 3,9 milhões de animais vivendo em estado de vulnerabilidade, ou seja, ou estão abrigados em ONGS ou estão abandonados nas ruas. Outro fator importante é a vacinação desses animais, o Brasil tem cerca de 140 milhões de animais de estimação, esses dados incluem peixes, gatos, cachorros entre outros. Deste número, 69% são cães e 31% são gatos. Nos dados é possível verificar que foram vacinados 59 milhões desses animais contra raiva, ou seja, 19 milhões deles não tiveram acesso.

3,9 milhões abandonados

Willi Becker.

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C om base nos dados disponibilizados pela Inter-national Dairy Federation (IDF), o Brasil é o sexto

maior produtor de leite do mundo. Muitas pessoas sabem que é muito complexa a produção do leite, mas poucos sabem o quão doloroso é ser uma fá-brica de alimentos viva. Muitos pensam que a vaca dá leite por ser um processo natural do animal, mas não! A vaca precisa engravidar para que o leite che-gue até a sua mesa.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as vacas leiteiras come-çam a engravidar com 2 anos de idade, pois elas precisam estar prenhas para que assim como nos humanos, o leite possa ser produzido. Nesse pro-cesso o boi é masturbado, é retirado o esperma e logo em seguida é inserido na vaca. Depois de ficar grávida, a vaca produz leite por cerca de 300 dias (ou seja, quase um ano).

A duração da gestação de um bezerro dura o mes-mo tempo que a de humanos: nove meses. Quando o bezerro completa dois meses, ele é tirado da vaca à força para que a mesma possa ser ordenhada. E de acordo com especialistas o ideal para que haja lucro, é que a cada 12 meses a vaca engravide, ou seja: engravidar, parir, ter seu filhote arrancado à força todos os anos.

Mesmo que você não saiba, por mais que acon-teça nas fazendas, não é o leiteiro que é espreme o leite da vaca sentado em um banquinho. Nas in-dústrias de leite, uma máquina é colocada em cada teta de cada vaca, que suga aquele leite. Por con-ta de ser um processo doloroso, por vezes, as tetas

POR LAYLLA GONTIJO

Como o leite chega até a sua mesa

ARTIGO

Sim, você toma pus e sangue

quando você vai tomar seu leite com

café toda manhã. E, o pior de tudo: isso é permitido,

existe um padrão de qualidade

mundialmente usados pelas

indústrias para monitorar a

quantidade dessas substâncias

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das vacas ficam doentes e com mastite, o animal pode ter febre, perda de apetite, queda de pro-dução e morte em casos mais graves.

De acordo com o Embrapa, as paredes dos vasos sanguíneos se tornam dilatadas e outras substâncias do sangue também passam para o leite. Essas substâncias são chamadas de célu-las somáticas.

Sim, você toma pus e sangue quando você vai tomar seu leite com café toda manhã. E, o pior de tudo: isso é permitido, existe um padrão de qua-lidade mundialmente usados pelas indústrias para monitorar a quantidade dessas substân-cias. Foi definido um valor máximo Contagem de Células Somáticas (CSC) e Contagem Bacteriana Total (CBT). No Brasil, o limite de células somáti-cas é de 400 mil/ml. E o limite de bactérias é de 100 mil/ml.

E o melhor de tudo: você não precisa tomar leite para sobreviver. Um estudo feito na Univer-sidade de Harvard, nos Estados Unidos, sondou que não há como provar cientificamente que a

ingestão de leite seja essencial aos humanos. E o cálcio, que é uma das maiores razões para a in-gestão de leite, pode ser encontrados em outros alimentos, como castanha do Pará, quiabo cozi-do, brócolis cozido, folhas de mostarda cozidas, ameixas secas, espinafre e outros.

O leite da vaca é essencial para os bezerros, assim como o leite da sua mãe foi essencial para você. A não ser que você tenha nascido de uma vaca, polpe o sofrimento de um animal, que sen-te, de um animal que também tem amor pela sua cria e que não quer obrigada a ficar prenhe todos os anos por um capricho do ser humano, que só pensa no dinheiro.

Na minha opinião, o leite é um alimento que fizemos ser necesário, pois nos primordios da existência humana não era e nem no futuro de-veria ser, pois é mais fácil tirar o leite da dieta dos humanos, do que ter que sacrificar milhões de animais para satisfar um capricho nosso. Ani-mais não são feitos para nos servir, eles foram criados para viver, assim como os humanos.

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O convívio com os “animaizinhos” tem como ob-jetivo entreter afetivamente crianças, adultos

e pessoas solitárias, fazendo com que a venda de cães e gatos se torne algo normal e sem restrições. Não importa onde você vá, sempre terá um pet-shop e, nesse local, sempre terá aquele bichinho te olhando pela vitrine, quase implorando para que o leve, e muitos vem caindo nessa “estratégia” invo-luntária desses animais.

Usando essa queda que o brasileiro tem por pets, donos de petshops vem vendo o comércio de ani-mais um mercado produtivo, fazendo uma fábrica de ganhar dinheiro, usando esses cães e gatos de forma irregulares, não se importando com as condi-ções físicas e muito menos biológicas.

Essa forma de exploração animal, que também pode ser chamada de fábrica de filhotes, traz muitas consequências ruins, como por exemplo, nas raças shih-tzu, pug e yorkshire terrier, que apresentam problemas congênitos como dificuldades respirató-rias, infecções nos ouvidos, doenças oculares e de pele, patologia recorrente do cruzamento realizado irregularmente para obter uma “raça pura”.

A fomentação desse mercado revela algumas atrocidades. Como o caso que aconteceu em 2016, onde um cão macho da raça pinscher foi mutilado e vendido como fêmea na internet, fato que causou espanto nas pessoas. Vemos outros vários exem-plos de animais que vem sofrendo nas mãos desses comerciantes, que transformam os pets em produ-tos descartáveis.

Atitudes que devem ser tomadas por autoridades

POR LUIZ FELIPE FERNANDES

PETS:Não compre, adote!

ARTIGO

Essa forma de exploração animal, que também pode

ser chamada de fábrica de filhotes,

traz muitas consequências ruins, como por

exemplo, nas raças shih-tzu, pug e

yorkshire terrier, que apresentam

problemas congênitos como

dificuldades respiratórias,

infecções nos ouvidos, doenças

oculares e de pele

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é como a do vereador Marcos Paulo, que apre-sentou na Câmara Municipal do Rio de Janeiro o projeto “Diga não à venda de Animais”, projeto no qual ganhou força em suas redes sociais e tem por objetivo acabar com a exploração co-mercial de bichos, partindo do entendimento de que animais não são coisas, e impedir que eles continuem sendo tratados como mercadorias.

E a da Câmara de Santos, litoral de São Pau-lo, que aprovou o Projeto de Lei Complementar 14/2019, que acabou com a concessão e reno-vação de alvará de licença de estabelecimentos que vendam animais na cidade.

Mas essas ações não podem ser tomadas somente pelas autoridades, mas também por

você! Sim, você mesmo, que descarta um ani-mal de adoção e prefere comprar de locais in-competentes, alimentando ainda mais esse co-mércio sujo.

De acordo com a Associação Brasileira da In-dústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), em 2018, a indústria pet no Brasil fa-turou 20,3 bilhões de reais, um número bem alto olhando em consideração aos casos de irregu-laridades e explorações no comércio de animais. Em 2013, o Brasil ocupava o 4°lugar em núme-ros de animais de estimação, tendo quase 80 mil cães e gatos espalhados pelas residências brasileiras, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas.

“Diga não à venda de Animais”, projeto no qual ganhou força em suas redes sociais e tem por objetivo acabar com a exploração comercial de bichos, partindo do entendimento de que animais não são coisas, e impedir sejam tratados como mercadorias

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/Crônica

Que amor, sou bisavó! Seu nome

foi mudado de Tom para Malu, adivinhem por quê? Fiz uma

homenagem a ela, à guardiã, Maria

Luísa. Então como num passe de

mágica, Tom virou Malu, a princesinha

da minha casa

A convivência com os animais nos ensina muito e, a cada dia, acontece uma história diferente, e são tantas, que tornam o

meu, o seu, o nosso cotidiano mais alegre. Falarei da Malu! Quem é Malu? Ah, ela é a minha gatinha! Malu viveu uma situação de abandono na sua primeira infância.

Foi minha neta, que é protetora inata de animais, quem a desco-briu miando em um telhado vizinho, num dia de chuva rala.

A vizinha e ex-dona da gatinha, talvez por falta de adaptação, de paciência ou de amor mesmo, a maltratava e em desespero o bichinho subiu em seu telhado, numa fuga pela sobrevivência e miou...miou...

Maria, a protetora, foi até lá e conseguiu uma escada, mas foi a proprietária quem subiu e pasmem: lá de cima a derrubou no chão...os gatos têm realmente sete vidas.

A benevolente Maria deu um alto grito: “coitadinho!” E o aco-lheu. Mas em sua casa já moravam três pinscheres minúsculos, ciumentos e movidos na força do instinto. Não a aceitaram! Daí o meu telefone convencional toca:

- Alô - logo reconheço a voz amada dizendo aflitíssima: - Oh vovó, eu tenho um gatinho de presente para você, é tão

lindo, vó! Adota ele, vai te trazer muitas alegrias! Pensei...pensei...e disse: - É macho? - Sim, vovó, é macho, lindo, não vai te dar trabalho, só alegrias. Foi assim que ele chegou, ou melhor, ela! Só fui descobrir quan-

do sua barriga começou a distender e vieram à luz seis filhotinhos de várias cores.

Que amor, sou bisavó! Seu nome foi mudado de Tom para Malu, adivinhem por quê? Fiz uma homenagem a ela, à guardiã, Maria Luísa. Então como num passe de mágica, Tom virou Malu, a prin-cesinha da minha casa.

Lembrei-me do poema de Bukowski: “seus olhos [dos gatos] são mais belos que os nossos olhos”, ganhei uma companheirinha que vem me receber quando chego da rua, se esfrega para lá e para cá, até eu dizer:

- Mas é muito linda esta menina, muito charmosa! Então, se deita de barriga para cima, esperando meus afagos.

Querem um palpite? Adotem um animalzinho, a nossa vida fica mais alegre e colorida com a presença desses seres de luz.

POR SALMA ATAÍDE

Malu e a mudança de gênero

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Salma Ataíde.

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/ENTREVISTA Lívia Denise Borges dos Passos

“Apesar das dores de cabeça, eu não arrependo de nada. Poderia ter feito melhor”

POR

JÚNIOR KAMENACH e JULIANO MOREIRA

Lívia Denise Borges dos Passos tem sob sua responsabilidade mais de 200 cães e gatos no Abrigo dos Animais Refugados, que funciona em dois locais, na Região Metropolitana de Goiânia. Há 25 anos envolvida na causa, a protetora dedica sua vida aos

cuidados dos animais - a maioria vítima de abandono, de maus-tratos, e alguns especiais. A ONG depende integralmente de doações e de ajuda voluntária. Com 20,9 mil seguidores, tem um perfil no Instagram (@abrigodosanimaisrefugados) bastante ativo, tanto na prestação de contas, quanto nas campanhas de adoção e apadrinhamento dos bichinhos, além de um trabalho contínuo de conscientização e denúncia. Nesta entrevista, Lívia conta como é o dia a dia do Abrigo, fala sobre as dificuldades que enfrenta – inclusive pessoais – para seguir com sua missão e declara publicamente o seu amor pela causa. Apesar dos pesares. Confira:

Como teve início a sua histó-ria como protetora, respon-sável por abrigar animais abandonados?

Antigamente, eu corria atrás de gato na rua, escondida. Aí, levava para a casa, tran-cava no quarto e ninguém via. Quando meus pais des-cobriam, me davam bronca. Com o passar do tempo, co-mecei a trabalhar, e continuei

levando os animais, já que o quintal era grande para com-portá-los. Entretanto, fui en-contrando dificuldades para encontrar adotantes e os ani-mais foram aumentando.

Atualmente, como você apresenta seu abrigo?

Eu apresento meu abrigo como um abrigo de animais refugados. Isso mesmo, re-

fugados, não refugiados. Por quê? Porque são animais que as pessoas “refugam”, ou seja, não os querem mais. Eles são desprezados pe-las pessoas. Elas até dizem que, se alguém não buscar, vai colocá-lo na rua. Assim, a pessoa tira o peso das costas e joga no outro. Às vezes, di-zem que não podem ter mais animal, mas, depois de um ou

WILLI BECKER

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“Se as pessoas soubessem o quanto os animais são mais verdadeiros, sempre do seu lado, elas nunca abandonariam um bicho”

dois meses, arrumam outro. Por isso, temos esse tanto de animais nas ruas.

Você mantém mais de um abrigo, não é?

Eu tenho dois abrigos, um no Novo Mundo, com cachor-ros e gatos, e um no Vitória, somente com cães. Tive que

alugar uma casa com meus próprios recursos, fazer em-préstimo e montar esse outro, no Vitória, porque o abrigo do Novo Mundo não comportava mais os animais.

São quantos animais nos dois abrigos?

São muitos animais: ao todo,

são cerca de 250, cães e gatos.

Como esses animais aban-donados chegam aqui?

Chegam em um estado bem crítico. Tanto cães, como ga-tos, chegam com necessida-de de passar pelo veterinário. Todos que chegam aqui pre-cisam de algum tratamento.

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Além dos maus-tratos, se-quelas, ferimentos, os ani-mais apresentam tristeza quando chegam? Quem cui-da desses animais?

A gente leva no veterinário para tentar salvar, porque eles param de comer e até de beber água. E ficam assim até morrer. No veterinário é que vem a medicação, soro e outros métodos para tentar salvar o animal. Gato é muito mais difícil que cachorro.

E a sua saúde, pessoa res-ponsável por eles, como fica em meio a isso tudo?

A minha eu esqueço. Eu pen-so na saúde dos animais. Às vezes, quando sinto uma dor, admito que não dá para re-levar e vou ao médico. Mas priorizo os animais.

Depois de tratados, como os animais são encaminhados para adoção?

Para as adoções, três pes-soas fazem a triagem. Nesse procedimento, eu pergunto tudo: onde o animal vai ficar? É casa? É apartamento? Peço fotos do local. Enfim, procu-ro saber de tudo para ver se o animal vai se adaptar. Se real-mente ficou legal, bom. Mas, às vezes, vejo que não vai fi-car legal e eu trago o animal de volta.

Existem voluntários nos dois abrigos? Quantos? E qual é a rotina, no dia a dia?

São cerca de 30 ou 40 vo-luntários. A rotina é limpeza, medicação, banho e ração. Basicamente isso.

/ENTREVISTA Lívia Denise Borges dos Passos

E quais são as maiores difi-culdades cotidianas de to-mar conta de um abrigo para animais abandonados?

Limpeza e pedir ajuda para as pessoas. Dói muito. Eu não gosto de pedir esmola. Acho difícil. A gente sabe da condi-ção de muita gente, que não está boa, então fica difícil pe-dir. Faço alguns vídeos, mas é muito raro eu pedir. A limpeza é estressante e, o tempo, cur-to. Às vezes, não dá tempo de limpar tudo e tem que só pas-sar algo por cima. Também existe denúncia. Muita gente abandona os animais aqui e ainda me denuncia. Tem de-núncia por mau cheiro, por barulho, dizendo que vizinhos

não conseguem dormir. En-frentei problema, inclusive, com o escoamento da água que sai aqui do abrigo. E o Estado finge que não vê, por-que, se o poder público for tomar providência, vai gastar dinheiro. Então, deixam com os outros.

Falando em poder público, você recebe algum tipo de ajuda para manter as des-pesas? Conta com o apoio de alguma instituição públi-ca ou privada para isso? Usa de seus recursos próprios, como salário, nos abrigos?

Noventa por cento do que ga-nho vai embora. E os abrigos não recebem ajuda; nada, nenhum centavo. Tenho que

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WILLI BECKER

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pedir ajuda e ter cara de pau. É humilhante.

Você deve algum veterinário ou clínica?

Sim, devo. Muito. Eu nego-cio para pagar. Levo cheque, pago prestação, passo cartão, um pouco em dinheiro. Costu-mo deixar cerca de R$ 400 por mês para essas dívidas.

Em algum momento, precisou se separar da sua família para continuar com os abrigos?

Não. Foi minha família que me excluiu. Tive um AVC (Aciden-te Vascular Cerebral), levaram minha filha achando que eu iria morrer e eu fui excluída.

Por que você abraçou essa

causa em meio a esses pro-blemas todos?

Dó, pena e por gostar demais dos animais. Você tem que gostar muito, senão você não consegue.

Com todos os seus proble-mas de saúde e empenho nos abrigos, quando você descansa?

Em qualquer lugar. Às vezes em uma cadeira da cozinha, porque meu quarto mesmo está cheio de gatos. E quan-do desabo, tenho que tirar forças para o outro dia.

Se você pudesse deixar uma mensagem por tudo o que você vive no abrigo, qual se-ria?

Olha, se as pessoas soubes-sem o quanto os animais são mais verdadeiros, sempre do seu lado, elas nunca abando-nariam nenhum bicho. Se elas pudessem aproveitar a pure-za dos animais ... É melhor do que lutar por uma pessoa que não gosta de você, ou que está ali só porque precisa de você. Os animais não. Eles possuem a decência de gos-tar realmente de você, estão ao seu lado para o que der e vier.

Você faria tudo novo? Valeu a pena?

Sim, faria. Vale a pena. Apesar das dores de cabeça, eu não arrependo de nada. Poderia ter feito melhor. Penso assim.

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/DIREITO & JUSTIÇA

A função das leis em uma sociedade é controlar o

comportamento e as ações dos indivíduos, de acordo com os princípios de deter-minada Federação. E quando se trata do Direito, a lei é uma regra que se torna obrigatória pela força coercitiva do poder legislativo, ou de autoridade legítima. Após compreender-mos isso, notamos que a au-sência de leis para a proteção dos animais é inadmissível, entretanto, é importante des-tacar que há, sim, leis exis-tentes para esta causa.

Muito ainda, porém, há por se fazer e, nos Estados e Municípios, que também podem dispor de legislações específicas, é importante acompanhar a elaboração e apresentação de projetos e

cobrar, do poder público, a execução das leis aprovadas em Assembleias Legislativas e nas Câmaras Municipais. Da nossa fiscalização e cobran-ça permanentes depende o bem-estar dos animais.

Na esfera das leis fede-rais, há diversas leis em vigor, e outras, ainda, em tramitação, visto que a causa animal já é citada na Constituição, no pa-rágrafo VII do Art. 225: “prote-ger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extin-ção de espécies ou submetam os animais a crueldade.”

Uma das leis mais anti-gas em vigor é o Decreto lei N° 24.645, de julho de 1934. Este decreto prevê pena para todo aquele que incorrer em

POR

LUANA CASTRO e RAQUEL GULLO

Por dentro

da Lei Aqui, você

irá encontrar uma rápida

compilação da atual legislação

federal existente na

proteção aos direitos dos

animais. Saiba mais

Faixa, em parque da Capital, alerta para a prática criminosa do abandono de animais

Juliano Moreira

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seu artigo 3º, item V: “aban-donar animal doente, ferido, extenuado ou mutilado, bem como deixar de ministrar-lhe tudo que humanitariamente se lhe possa prover, inclusive assistência veterinária”. Outra lei muito importante é a Lei N° 9.605 de 1998 - Lei Federal de crimes ambientais, Art. 32 “Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou do-mesticados, nativos ou exóti-cos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.” § 1º Incorre nas mesmas pe-nas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins di-dáticos ou científicos, quando existirem recursos alternati-vos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se

ocorre morte do animal. Há, ainda, uma lei do ano de

1967, que é a LEI N° 5.197 - Lei Federal de proteção à fauna, Art. 1° “Os animais de quais-quer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimen-to e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e cria-douros naturais são proprieda-des do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha.”

Novo regime jurídico para os animais

Uma lei muito importan-te e também uma das mais recentes, é o PLC 27/18, que foi aprovado pelo Plenário do Senado Federal em agosto de 2019. A lei foi de iniciativa do

deputado federal Ricardo Izar (PP/SP) com o intuito de criar o regime jurídico sui generis de sujeitos de direitos desper-sonalizados para os animais que, até então, pela legislação vigente nos crimes ambientais (lei 9.605/98), recebiam a con-sideração civil de bens móveis e eram considerados coisas. Por meio desse novo status, os animais ficam assemelhados aos homens, porém, cada um carregando as diferenças es-pecíficas relacionadas a seus interesses e necessidades.

De acordo com a assessoria de imprensa do parlamentar – que respondeu à Revista Co-munica! - o PL 27/18 foi discu-tido em 2015, e contemplava todos os animais. Com a apro-vação da proposta, os animais não serão considerados ‘coisa’ e, sim, seres sencientes.

“O projeto visa estender di-reitos que eles ainda não pos-suem. Hoje, seus direitos são mínimos e não dão garantias de bem-estar e nem de com-bate à crueldade. Essa mu-dança é uma corajosa inicia-tiva de afirmação dos direitos dos animais; essa lei garantirá a eles tratamento com digni-dade, respeito e proteção”, diz a nota enviada pela assesso-ria do deputado Ricardo Izar.

Atualmente, os crimes pra-ticados contra os animais possuem uma pena branda. O projeto em tramitação no Congresso propõe mudanças significativas no âmbito cri-minal; passa a contemplar os animais de forma especial, e pode possibilitar ao legislador criar novas leis e trazer uma proteção real aos animais.

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/CIBERCULTURA

Internet:Na web, prospera o movimento em defesa dos animais, principalmente por meio das redes sociais, onde até os próprios bichinhos viram celebridades

a revolução dos bichos

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A evolução tecnológica tem transformado não so-

mente a forma de interação humana quanto também a forma que nos relacionamos com os animais. As redes so-ciais são exemplos de como a internet tem sido útil tan-to como base para divulga-ção e conscientização sobre maus-tratos, quanto como para postagens divertidas so-bre o universo animal. O po-der de compartilhamento nas redes sociais transformou os movimentos que apoiam as causas animais, com gran-de destaque para a adoção, já que, ao divulgar fotos e a história dos animais resgata-dos, as chances de encontrar, para eles, um adotante são ampliadas. Quando se divulga um pedido de adoção, forma-se uma imensa rede de apoio, com centenas de comparti-lhamentos. Esse fator tam-bém se torna importante para conscientizar sobre a adoção de animais em situação de vulnerabilidade, vítimas de abandono, violência e maus-tratos.

Com perfil bem frequentado nas mídias digitais, o Delega-do Bruno Lima é um exemplo de como a Internet pode con-tribuir com a causa. Atuando na Polícia Civil de São Paulo, Bruno ganhou bastante visi-bilidade no caso do cãozinho Manchinha, que acabou mor-to após as agressões de um segurança da rede de super-

POR

IÉLLEDY LAVÍNIA e MARTA DELMONDES

mercados Carrefour – a his-tória de Manchinha mobilizou entidades civis e organizadas, simpatizantes e protetores in-dependentes em todo o País.

Antes da ‘fama’, Bruno des-tacou-se na polícia no com-bate a maus-tratos e tráfico de animais, tendo participa-do da criação de um aplicati-vo que auxilia em denúncias. O currículo como policial, na área, o levou à Assembleia Le-gislativa de São Paulo, onde, atualmente, ocupa o cargo de deputado estadual. Por meio da Internet, está sempre fa-zendo postagens acerca da causa animal em suas redes

sociais – só o perfil no Insta-gram conta com mais de 300 mil seguidores.

Engajado, o delegado Bru-no Lima virou referência na luta contra os maus-tratos aos animais e todos os dias recebe denúncias, às quais procura dar encaminhamen-to. Para ele, não há barreiras para resgatar os bichinhos em situações de vulnerabilidade: “Não interessa o tamanho do desafio, o que importa é salvar a vida dos nossos animais. Se tiver que pular muro, derrubar portão ou quebrar parede, não hesitarei jamais”, escreveu ele em uma das postagens.

Publicação do resultado de mais um resgate feito pelo delegado Bruno Lima, após receber denúncia de maus-tratos, em São Paulo. Segundo ele escreveu no post, o animal estava acorrentado, mal alimentado, não tinha água à disposição e vivia em meio a sucatas

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Fama a favor da causa

Muitas celebridades utili-zam sua visibilidade para dar voz aos animais e alertar sobre os maus-tratos por eles sofri-dos diariamente. Uma delas é a atriz Paolla Oliveira, que faz questão de sempre tornar pú-blico o seu amor pelos bichos e já participou de diversas campanhas pró-animais. Com frequência, ela divulga a causa em suas redes sociais.

Em um post recente, no Instagram, a atriz falou sobre os maus-tratos

aos gatos pretos. “Toda sexta-feira 13 a gente ainda ouve casos de pessoas

associando o gato preto a azar, a mau agouro, a coisas negativas. Gato preto é

LINDO em qualquer dia do ano. Todos os animais são lindos e nenhum deles é res-ponsável pelos problemas e superstições do ser humano”, afirmou Paolla na publicação.

A estrela global também alertou: “Caso você presencie ou saiba de algum ato de vio-lência contra animais, qual-quer tipo de animal, ligue para a polícia 190, Ibama ou algum outro órgão ambiental em sua cidade”.

A atriz Paolla Oliveira posa ao lado de seu gato preto no Instagram e alerta sobre o preconceito enfrentado pelos bichanos dessa cor

MilitantesAs atrizes Paula Burlama-

qui e Alexia Dechamps são outras a engrossarem o time das apaixonadas pela causa animal. Ativistas declaradas, acompanham tramitação de projetos no Congresso Na-cional, cobram fiscalização do poder público e não hesitam em falar sobre os mais varia-dos tipos de violência sofridos pelos bichos. Em suas redes, estão sempre divulgando ini-ciativas de adoção e denún-cias de maus-tratos e explo-ração aos animais.

Além da militância ativa,

Alexia também adora postar fotos e vídeos divertidos em seu perfil do Instagram, seja com os seus animais de es-timação ou com os bichinhos que ficam em sua casa como lar temporário, já que ela apoia essa iniciativa. Paula Burla-maqui, por sua vez, sempre posta os resultados de suas ações no resgate de animais abandonados ou que sofre-ram agressões. As duas têm voz ativa na causa e, sempre que podem, usam a visibilida-de para conscientizar e insti-gar debates sobre a violação dos direitos dos animais.

/CIBERCULTURA

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Quando eles são as estrelas das redes

A trupe de ratinhos Gael, Duda, Bianca, Alice e Cacau fazem o maior sucesso com os seus seguidores no perfil do Instagram Esquadrão do Mijo

Uma rápida navegada pe-las diferentes redes sociais e pronto. Eles estão lá: perfis exclusivos de animais – cria-dos por seus respectivos do-nos, é lógico -, com fotos e vídeos divertidos, alcançan-do milhares de likes e com-partilhamentos e tornando os bichinhos famosos. Uma dessas ‘celebridades’ é o ga-tinho Chico, do Cansei de ser Gato, que tem meio milhão de seguidores apenas no Insta-gram.

Todo o sucesso de Chico é porque sua dona, a publicitá-ria Amanda Nori, está sempre publicando fotos do gatinho fantasiado, vestido de perso-nalidades do momento e em situações que encantam os internautas. As fotos de

Chico já até viraram livro e ele também tem uma biogra-fia. Amanda explica de onde surgiu a ideia de criar o per-fil: “Ele sempre foi muito fo-togênico e, desde pequeno, muito preguiçoso. Sempre posou pra foto, sempre enca-rou a câmera, nunca ligou pra nada.”

Outra que ganhou desta-que imenso nas redes sociais foi a gatinha norte-americana Tardar Sauce (em português, Molho Tártaro), vulgarmente

conhecida como Grumpy Cat (em português, Gata Rabu-genta). Grumpy tornou-se ce-lebridade da Internet em 2012, conhecida por sua aparência facial permanentemente “ra-bugenta”, causada por um na-nismo felino. Em 2019, a gati-nha - que se transformou em uma verdadeira lenda da web, com direito a muitos memes – faleceu, em decorrência de

complicações por conta de uma infecção urinária. Des-de o seu falecimento, mui-tas de suas fotos publicadas vêm acompanhadas com a hashtag #GrumpyCatForever, como uma homenagem de sua dona, Tabatha Bundesen.

Perfis de animais de esti-mação menos comuns, como ratinhos, também geram grande engajamento nas re

O apresentador Luiz Bacci com o cachorrinho Toy: o animalzinho faz sucesso quando aparece nas publicações do seu dono

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Bruno Gagliasso também ama demonstrar seu amor pelos seus animais. Na legenda da foto publicada em seu Instagram, com a cachorrinha Lasanha, o ator escreveu: “Como explicar esse amor…? #Lasanha Ela chegou e a vida ficou ainda mais linda…”

Giovanna Ewbank com sua cachorrinha Alice Fernanda: a atriz adora fazer postagens com seus animaizinhos nas redes sociais e também é ativista dos direitos dos animais

to nas redes sociais. É o caso do perfil Esquadrão do Mijo, que conta com mais de 30 mil seguidores. A dona dos animais, Letty Andrade, criou a conta para publicar a roti-na dos bichinhos, e, devido o sucesso, ela também dá dicas de cuidados para quem dese-ja ter um animalzinho como esse em casa. Os ratinhos do esquadrão se chamam Gael, Duda, Bianca, Alice e Cacau, e têm uma linguagem pró-pria para se comunicar com seus seguidores. O jeito de escrever demonstra como a dona dos animais imagina ser o idioma dos seus bichinhos, o que acaba proporcionan-do uma interação maior dos internautas, que se divertem com as postagens!

CelebsOs animaizinhos dos famo-

sos também fazem muito su-cesso quando aparecem ao lado de seus donos, como os do casal de atores Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, que têm cinco cachorros e um gato e sempre fazem posts com os bichinhos nas suas redes. Os dois são muito engajados na luta pelos direitos dos animais. Um dos seus animaizinhos, a cadela Lasanha, foi encontra-da à beira de uma estrada, toda machucada, e foi resgatada pelo casal. A cachorrinha se re-cuperou totalmente e sua his-tória foi contada por Giovanna no canal da atriz, no YouTube, gerando grande repercussão.

Alguns animais fazem tanto sucesso que acabam ficando

mais famosos que os donos. É o caso de Toy, cachorro do apresentador Luiz Bacci, do Cidade Alerta, da Rede Re-cord. O bichinho conquistou o estrelato com tanto carisma que já é até reconhecido nas ruas e tem vários fãs clubes, chegando, inclusive, a ganhar mimos de presente.

A modelo Ellen Jabour tirou o cachorrinho Pluft do abandono das ruas e, agora, usa o per-fil do cãozinho como forma de divulgar a adoção de animais. Ela sempre levanta a bandeira da adoção e não da compra. A fama repentina de Pluft deixa os paparazzis ouriçados: sem-pre há fotos do animalzinho espalhadas por revistas e si-tes de famosos. Tente dar uma busca aí, no Google, para ver ...

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Grumpy Cat acumula mais de 2 milhões de seguidores no Instagram e, mesmo após sua morte, seus donos continuam publicando fotos da “gatinha rabugenta”. Na legenda do anúncio do seu falecimento, a dona de Grumpy Cat escreveu: “Alguns dias são mais rabugentos que os outros…”

Agências de notícias especializadas: os animais em pauta

Não há dúvidas de que a Internet funciona como um potente instrumento para os defensores da causa e para todos aqueles que amam os animais. Quando, por meio da web, se discute e se expõe os problemas

relacionados à causa, a em-patia é sempre muito grande e as publicações

costumam sensibilizar os internautas, que se transfor-mam em multiplicadores de informações e conscientiza-ção.

Um bom exemplo disso é a ONG Olhar Animal, que sur-giu em 2006 em um site on-line, mas que já vinha traba-lhando na defesa dos animais desde 2001. A ONG atua na divulgação de informações, organização de eventos, campanhas, mobilizações, proposições legislativas, den-tre outras ações e atividades de conscientização relacio-nadas aos animais.

No site Olhar Animal (ht-tps://olharanimal.org) são di-vulgadas inúmeras notícias que envolvem os maus-tra-tos e a exploração dos bichos, mas na plataforma também são disponibilizadas infor-mações para quem deseja entender mais sobre temas correlatos ou contribuir com a causa. Boletins diários são encaminhados por e-mail para quem se cadastra. Como a maioria das ONGs, o Olhar

Animal também depende de doações para continuar seu trabalho.

Outra importante aliada na propagação dos direitos dos animais é a ANDA - Agência de Notícias de Direitos Animais, que tem o princípio de infor-mar através de diversos se-tores da sociedade. Para isso, conta com um time de profis-sionais de várias áreas, como Educação, Filosofia, Biologia, Nutrição, dentre outros, com

temas sempre voltados para o direito dos animais e propor-cionando debates ainda mais profundos sobre a causa e a relevância da sua discussão. O site (https://catracalivre.com.br/author/anda/) disponibili-za não apenas notícias sobre as violências sofridas pelos animais, mas também o reco-nhecimento de seus direitos socialmente e a luta individual e coletiva na busca dos mes-mos.

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Os homens e os animais compartilham uma relação

amistosa, mas, apesar desta união, é crescente o número de casos de maus-tratos con-tra os animais pelos seres hu-manos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, no Brasil, exista cerca de meio milhão de animais em situação de vulnerabilidade, dentre cães e gatos. Na Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra

o Meio Ambiente (DEMA) as principais ocorrências registra-das referem-se a exploração, abandono, tráfico de bichos e rinhas, além de fábricas de fi-lhotes, em que animais são ex-postos à reprodução exaustiva para fins lucrativos.

Levantamento feito pelo Ins-tituto Pet Brasil apurou a exis-tência de 370 Organizações Não Governamentais (ONGs) atuando na proteção de ani-

mais no Brasil; dessas, apenas 7% está no Centro-Oeste. Em Goiânia, tornou-se recorren-te - e crescente -, nos últimos anos, o número de animais nas ruas da Capital, e as poucas ONGs existentes funcionam com superlotação, abrigan-do cachorros e gatos que são abandonados em decorrência de idade avançada e doenças, principalmente. Muitos desses animais chegam às entidades

POR

WILLIANE LUDOGERIO e JHONATAM GARILEL

Já parou para pensar nisso? Descartar um animal idoso ou doente, comprar em vez de adotar e explorar determinados tipos de raças podem ter consequências irreversíveis na vida dos bichos

Abandono, comércio e exploração de animais:

Você também é responsável

/CONSCIÊNCIA SOCIAL

Pit Bull resgatado em 2010 foi atropelado duas vezes e se arrastava pelas ruas; cadelinha Vitória foi aban-donada por causa de uma doença de pele

Arquivo pessoalArquivo pessoal

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com ferimentos, lesões às ve-zes muito graves e sinais de maus-tratos.

Para a protetora indepen-dente e voluntária do Santuário São Francisco de Assis, Bruna Teixeira - que atua há anos no resgate e cuidados de animais vulneráveis -, “animais são como crianças”. Com a experi-ência que a habilita, ela ressal-ta: “Eles têm sentimentos, sim, e também podem sofrer de de-pressão, infelizmente! O aban-dono configura maus-tratos, e é crime previsto em lei. Animais idosos têm o direito de receber cuidados especiais e proteção até o final de sua vida! Se al-guém não quiser mais manter um idosinho sob a sua respon-sabilidade, precisa, ao menos, ter a consciência de encami-nhá-lo para uma boa adoção, e não simplesmente abandonar ou maltratar”.

Resgate Bruna cita, como exemplo,

o caso da cachorrinha Vitória, abandonada por estar doente. Diferente da maioria dos ani-mais, ela conseguiu ter um final feliz, com ajuda da protetora. “Vitória foi abandonada com caso sério de sarna demodé-cica (doença parasitária que atinge a pele). Uma menina de Trindade me pediu ajuda pelas redes sociais para resgatá-la; ela estava morrendo à míngua”, relata, lembrando que foram seis meses de internação em clínica veterinária e mais de R$ 4 mil dispendidos com o trata-mento.

“Depois de tratada e com a sarna controlada (a sarna

demodécica não tem cura), também castramos a Vitó-ria”, continua Bruna. “Depois de castrada, após dois meses, conseguimos uma adotante especial para ela. Hoje, a Vitória está maravilhosa e sendo mui-to amada, ao lado da sua famí-lia. Com um pequeno detalhe: ganhou o nome de Sarninha”, acrescenta, entusiasmada.

De acordo com a Co-missão Especial de Proteção e Defesa Animal (CEPDA) da Or-dem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB-GO) a prática do abandono de animais é cri-me no Brasil, previsto no artigo 32 da Lei Federal n° 9.605/98 ( Lei de Crimes Ambientais). Em sua página oficial na Internet,

CEPDA da OAB-Goiás é clara: repudia “veementemente” a tortura e a agressão que levem à morte os animais, “tendo em vista que esta é uma prática cruel, desrespeitosa”.

Em entrevista à Revista Comunica!, o delegado Luziano Severino de Carvalho, titular da DEMA há 20 anos, destacou a importância de fiscalizar e denunciar quaisquer tipos de abusos contra animais. “Todo crime ambiental tem a sua relevância, mas a prática de maus-tratos, de ferir ou mutilar animais tem uma sensibilidade grande por parte da população e os grupos de protetores es-tão sempre denunciando”, sus-tenta.

A protetora Bruna buscou ajuda nas redes sociais para custear o tratamento de Vitória

Arquivo pessoal

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Comércio de vidas que pode levar ao abandono e à morte

Um dos principais pontos de atenção dos protetores indepen-dentes e das ONGs de proteção e defesa dos direitos dos animais é a comercialização de bichos, dentre eles, animais domésticos e silves-tres, que, em sua maioria, vivem em cativeiros clandestinos, e são usados para fins lucrativos, expos-tos à reprodução sem limites e sem assistência e ao tráfico.

Na opinião da protetora Bruna Teixeira, o comércio de ani-mais fomenta esee tipo de situa-ção. “Vida não se vende e nem se compra. Abomino qualquer comér-cio de vida”, declara. “Quem compra animais, muitas vezes não tem a mínima ideia do que está financian-do, porque esse assunto não é mui-to discutido nem comentado entre as pessoas. Pensam que é algo normal; que é melhor comprar ao invés de adotar, dar uma segunda chance a um animal abandonado”, completa.

Não há dúvidas de que existe um grande comércio de animais de raça na Região Metropolitana de Goiânia. Boa parte funciona em fei-ras ao ar livre e, com o avanço dos aplicativos de vendas, negociar a vida de bichos ficou ainda mais fá-cil. Uma compradora que não quis se identificar contou à reportagem como adquiriu o seu cãozinho da raça pinscher: “Primeiro, comprei a fêmea em uma feira aqui perto de casa; aí, procurei na Olx um ma-chinho. Tinha muita opção, escolhi

esse, que é mais parecido com ela”. Questionada se seria para procria-ção e “revenda”, ela não se intimi-dou: “Custa cem reais cada filhote; vende tudo! Dá pra fazer dinheiro”.

A proprietária de um canil loca-lizado na Região Leste da Capital – que também manteve o anoni-mato - diz acreditar que a comer-cialização seja a melhor forma de “garantir o bem-estar” do animal. “Comercializar um cachorro ou gato não faz com que eles sejam trata-dos como mercadoria. Nós faze-mos o que podemos para eles, que vão ganhar um lar, e também para o cliente, que quer o animal”, consi-dera. No canil, alguns cachorros de raças famosas estariam avaliados em R$ 2 mil. Questionada sobre a origem dos animais, a proprietária do local preferiu não responder.

ClandestinosMédica veterinária com pós-

graduação em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, Lorena Souza Alves Domingues atesta: mesmo que o animal ve-nha de canil que pareça confiável, é muito importante saber como são tratados, in loco. “Tenho vários casos de bichos que vêm desses canis, às vezes clandestinos, apre-sentando inúmeras síndromes.

Esses ambientes, hostis, podem levá-los à morte, porque os animais não foram tratados corretamente”, sustenta.

O médico veterinário Danniel Cunha Barros completa: nesses casos, é necessário que os animais tenham um amparo médico, desde o início da gestação das fêmeas até o nascimento dos filhotes. “Cães e gatos precisam e necessitam de cuidados especializados. Falta de higiene, de cuidados adequados; tudo isso é prejudicial para a saú-de animal”, afirma. “Más condições ambientais e de cuidados podem gerar doenças virais, como parvovi-rose e giárdia, por exemplo, poden-do levar à morte se não for tratado com urgência”, pontua.

Na avaliação da protetora Meibel Veríssimo, do Recanto dos Pit Bulls, o comércio “de fundo de quintal” é o maior problema a se combater atualmente, não com o objetivo de proteção animal, mas também por questão de saúde pública. “A falta de punição e fiscalização produz problemas no controle populacio-nal de animais domésticos”, diz ela. Segundo aponta, a última estatísti-ca foi de 6 mil animais eutanasiados por ano e 40 mil errantes, vagando pelas ruas, gerando sucessivos abandonos e disseminando zoo-noses. “Cada vez que um animal é comprado, outro, que já foi abando-nado, perde chance de reintegra-ção. Talvez esse, adquirido dessa criação, também seja abandonado”, alerta a protetora.

“As consequências são terríveis: sede, fome, atropelamento, cruel-dades como queimaduras, tiro, facadas, pauladas e tantas outras torturas impostas a esses seres in-defesos. Na melhor das hipóteses, quem vai pagar a conta dos cui-dados para que esse animal tenha alguma chance de vida digna são os protetores, justamente os que pregam a não comercialização”, la-menta Meibel.

A cachorrinha Vitória, depois do abandono, conseguiu um final feliz

/CONSCIÊNCIA SOCIAL

Arquivo pessoal

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Pit Bulls: Raça não pode ser uma sentença

Fundadora da ONG Recanto dos Pit Bulls, Meibel Veríssimo trabalha há mais de oito anos em defesa dessa raça de cães. Ela relata que começou a es-tudar e entender melhor sobre a raça e, então, iniciou a sua luta em defesa e proteção dos mesmos, retirando pit bulls do Centro de Zoonoses que eram entregues para eutanásia.

O Recanto dos Pit Bulls tem uma página nas redes sociais com mais de 33 mil seguidores. A página é dedicada à vida de pit bulls resgatados, vítimas de maus-tratos e rinhas. Também é disponibilizado um link de do-ação, por meio de uma vaqui-nha online, que visa levantar o valor de R$ 60 mil. O montante será revertido para o cumpri-mento das necessidades de 70 cães no abrigo, além de débi-tos em aberto com veterinários, mais aluguel - o que implica na ameaça de fechamento do Re-canto. “É impossível enumerar os casos que o Recanto dos Pit Bulls ajudou ao longo destes sete anos”, diz Meibel.

Em um relato emociona-do, ela recorda a história do seu próprio cão, que encontrou atro-pelado em 2010. “Naquela épo-ca, até os protetores eram mui-to temerosos com cães da raça pit bull. Tudo que aparecia, me procuravam. Recebi o pedido de acolhimento por outro grupo de proteção. O cão tinha sido atro-pelado duas vezes. A pessoa que o encontrou na rua, disse que viu a caminhonete que o atropelou e que ele já estava se arrastando antes”, conta.

“Pedi, então, para que o le-vassem para a clínica, onde já deixei autorizado para cirurgia. Ele tinha anemia, doença do carrapato, e havia se arrastado em sol escaldante por horas se-guidas. Teve prolapso anal, per-deu os coxins das patas e toda a sua traseira estava em carne viva de queimaduras do asfal-to. Lesionou duas vértebras da coluna e, apesar da cirurgia, o veterinário disse que ele não andaria mais”, lembra a proteto-ra, que afirma não ter acatado o diagnóstico.

Meibel relata ter “sacrificado tudo o que ganhava” em sessões

A ativista Luisa Mell, reconhecida nacionalmente, já saiu várias vezes em defesa dos pit bulls

O cão resgatado e adotado por Meibel Veríssimo: mesmo diante de um péssimo diagnóstico, há dez anos, ela não desistiu dele

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

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A raça pit bull desperta amor e preconceito na sociedade. De um lado, donos e protetores de animais e, do outro, grupos de pessoas que temem a raça

Meibel Veríssimo, fundadora do Recanto dos Pit Bulls: “Na melhor das hipóteses, quem vai pagar a conta dos cuidados para que o animal tenha alguma chance de vida digna são os protetores, justamente os que pregam a não comercialização”

Arquivo pessoal

de fisioterapia e hidroterapia, por quase um ano, na tentativa de recuperar o pit bull resgatado. Resultado: o animal, segundo ela, voltou a andar com marcha reflexiva e, assim, pode ter quali-dade de vida por mais uma déca-da. “Esse ano ele parou de andar novamente; passeia em cadeira de rodas para cães. Quando nós o encontramos, ele já era adulto, devia ter uns três aninhos. Dos meus sete netos, cinco ele viu nascer e crescer, os outros dois eram novinhos e cresceram com ele. É uma espécie de ‘tiozão’”, brinca Meibel. “Aos 13 anos, acho que ele cumpriu bem a sua mis-são”, completa, em tom nostálgi-co, sublinhando que o pit bull e os “sobrinhos” se adoram.

PolêmicaA raça pit bull – paixão da pro-

tetora Meibel Veríssimo - des-perta amor e preconceito na sociedade. De um lado, donos e protetores de animais e, do ou-tro, grupos de pessoas que te-mem a raça. Engajada e conhe-cida nacionalmente, a ativista e defensora da causa animal Luisa Mell analisa o preconceito como leviano em resposta a uma leito-ra em seu blog na internet.

“Sempre que o assunto é pit bull, é polêmica na certa! É im-portante esclarecer para a po-pulação e especialmente para donos de cães grandes e/ou fortes que só amor e carinho não bastam. É preciso educar corretamente, recompensando os comportamentos corretos e mostrando que há limites. A sociabilização é extremamente importante”, escreveu a ativista.

Em outa resposta, Luisa Mell destaca: “Vários donos que valo-rizam a agressividade ou a fama de ‘mau’ do pit: propositalmente, ou sem querer, acabam reforçan-

ção nos abrigos. Por outro lado, a triagem também é mais rigorosa para o futuro tutor, uma que vez que há quadrilhas especializadas em rinhas de pit bulls. Diante de tudo isso – somado ao contexto de negligência, omissão e aban-dono sofrido pela maioria dos ani-mais - é árdua a luta para sociali-zar e garantir que cães dessa raça também tenham o direito a um lar. O Recanto dos Pit Bulls reitera a adoção responsável em post publicado em sua página oficial: “O futuro tutor deve passar por todo o nosso processo de ado-ção, que consiste em triagens e visitas técnicas nossas em suas casas. Todo este processo é registrado em cartório, para resguardar os cães de qualquer problema futuro”.

do comportamentos agressivos de seus animais, aumentando a chance de ocorrer acidentes”.

A propagação dos conceitos equivocados sobre cães de gran-de porte gera baixo índice de ado-

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/ADOÇÃO

A ssim como as pessoas, os animais necessitam

de bons tratos e cuidados especiais, além do mais, eles podem nos surpreender com suas habilidades, em alegrar e melhorar o ambiente de casa. Na hora de escolher um bicho de estimação, que tal adotar ao invés de comprar? Assim, além de oferecer um lar para um animal abandonado, é uma forma de se posicionar contra a comercialização de cachorros e gatos.

Além dos vários animais que vivem nas ruas em condições precárias, existem também outros lugares para se ado-tar um amigo, como as duas instituições atendidas pelo projeto de responsabilidade social dos cursos de Comuni-cação da UniAraguaia, Abrace uma Causa – Abrigo dos Ani-mais Refugados e Santuário São Francisco.

POR

CAMILA ALVES e EDUARDO MELO Não

compre, adote!

Organização Mundial da Saúde estima que no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados

O Abrigo dos Animais Re-fugados existe há 25 anos e hoje conta com dois espaços, no total são 140 cachorros e 105 gatos. De acordo com a presidenta desta organização não governamental, a volun-tária Lívia Denise Passos, o abrigo recebe em média dez animais por mês. Entretanto, atualmente, não seria possí-vel receber mais animais, pois a instituição já está atenden-do dentro de seu limite.

Para quem tem interesse em adotar, Lívia Passos dá algumas orientações. “O pro-cesso preparatório para ado-ção é longo, pois há animais que precisam engordar e tem alguns que não engordam, então deve ter um acompa-nhamento do veterinário e até isso ser descoberto, pode levar um bom tempo”, escla-rece. A voluntária orienta que a castração só é feita após os seis meses, para que não dê problemas.

A responsável pelo Abrigo dos Animais Refugados revela que os animais que mais são adotados de primeira são os filhotinhos. Ela lamenta que

Animais de rua e o risco à saúdeB

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no caso de animais adultos, existe uma recusa maior para a adoção. Isso porque, se-gundo Lívia, “as pessoas pre-ferem os ‘bonitos’ e de ‘raça’. Animais doentes e com algu-ma sequela encontram mais dificuldades para acharem um lar”.

A outra instituição atendi-da pelo projeto Abrace uma Causa é o Santuário São Francisco, fundado e coor-denado pelo artista plástico Arivaldo Ferreira, que é pro-tetor de animais há mais de 15 anos. Atualmente, a insti-tuição atende em média 110 cachorros e 40 gatos. Bruna Teixeira, que é voluntaria des-ta ONG acredita que existam tantos animais abandonados e em situação de maus tratos por falta de conscientização por parte da população. “Fal-

Cachorros compartilhando o espaço da ONG Santuário São Francisco

Bruna (Voluntária)

ta conscientização de que a vida animal também merece respeito, merece amor e cui-dados especiais. Essa educa-ção vem de berço. Além dis-so, é essencial ter nas escolas projetos, palestras, que visam à importância da vida animal”, destaca.

Existe legislação que defina o que significa maus tratos aos animais. A lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 e sua resolução nº 1236, de 26 de outubro de 2018, ca-racterizam maus tratos como: “Qualquer ato, direto ou indi-reto, comissivo ou omissivo, que intencionalmente ou por negligência, imperícia ou im-prudência provoque dor ou sofrimento desnecessário aos animais”. A pena é deten-ção de três meses a um ano, e multa.

Cães para adoção na Associação de Proteção aos Animais Miau Auau

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Prazer de adotar um bichinho abandonado

Com um ato de amor aos animais, a adoção preserva a vida e evita possíveis maus tratos. Para Helder da Silva, o seu cãozinho virou mem-bro da família. Ele conta que o cachorro da raça Golden Retriever é muito brinca-lhão e dócil. “Só tem tama-nho, é mole e grudento igual geléia”. O dono do animal in-forma que gastou cerca de R$ 1,2 mil por mês quando o adotou. Remédios, mudan-ça na alimentação e outros quesitos foram alterados.

O cãozinho estava des-nutrido e doente quando foi adotado por Helder. “Eu pe-guei o Thor com 15 kg, ossos e dorso aparentes, falhas na sua pelagem. Na hora pen-sei em desistir”, conta. “No primeiro momento, pega-mos ele e deixamos em um pet shop de nossa confian-ça, decidimos investir nele”, completa. Foram feitos exa-mes, vacinação e medica-ção, além de um bom banho. O dono do cão comenta que pediu ao veterinário uma dieta para o animal e que foram 45 dias com ração e suplementação. Hoje Thor pesa 36 quilos.

Já Amanda de Sousa tem quatro cachorros resgata-

Arquivo pessoal (Helder da Silva)

Amanda de Sousa com seu novo amiguinho

Thor passeando na rua do seu novo lar

dos da rua e acaba de ado-tar mais um em uma feira de adoção. ‘’Sou totalmente contra a compra de animais,

tenho uma sensação de or-gulho próprio a cada resga-te, de ter a capacidade de dar um novo lar, um lar dig

Camila Alves

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Mercado pets movimenta a economia

Os animais domésticos estão cada dia mais pró-ximos das famílias brasi-leiras. Os novos ‘filhos’ têm conquistado espaço nos lares e na economia. Da-dos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que mais de 54,2 milhões de cães vivem como animais de estimação. O segundo lu-gar fica com as aves, que alcançam quase 40 mi-lhões. O mercado movi-mentou mais de 36 bilhões no ano de 2019, segundo o Instituto Pet Brasil (IPB)

Levantamento IPB aponta que a região Cen-tro-Oeste concentra 7,2% da população de animais de estimação no País. Em números correspondem a mais de oito milhões entre gatos, cães, aves e pei-xes, sozinho. Goiás tem 3% desse total. São mais de 2,2 milhões de cães, 693 mil gatos e 1,1 milhões de peixes e aves canoras. O Estado conta com 2 mil lojas que vendem ração e acessórios para pets e 206 clínicas especializadas

A Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estima-ção (Abinpet) relata que o segmento de alimenta-ção para pets tem a maior

representatividade no mercado, no qual é res-ponsável por 70% do fa-turamento do setor. Ramo está atrelado às produ-ções de forma industrial e artesanal.

De acordo com a Abinpet, não se tem pro-jeção de mercado para o ano de 2020 e estão em fases de estudos para sa-ber os efeitos que da pan-deimia Covid-19 pode cau-sar no curto e longe prazo. Nos últimos estudos, o Brasil cresceu 4,3% e hoje é o segundo colocado no faturamento mundial, com 5,2% o país está atrás so-mente dos Estados Unidos que somam 40,2% do seg-mento. Até 2016 o mer-cado nacional não estava nem no top 10. No quesito carga tributária, o Brasil é o primeiro colocado com 51,2% de encargos bem a frente da Europa com 18,5% e Estados Unidos com 7%.

Vários são os motivos que levam ao crescimento do mercado pet. O aumen-to de animais domésticos, que somado a cultura dos cuidados que os brasileiros vêm adotando nos últimos anos, além das novidades na diversificação de pro-dutos e nos serviços.

Sônia apaixonada por seu novo cãozinho de estimação

no que esse ser maravilho-so merece. Eles só nos dão amor e carinho, independen-te de raça, é o mesmo amor. Quando me perguntam qual é a raça do meu cachorro, da vontade responder; qual é a sua raça?’’, relata.

Sônia Rosa também gosta muito de animais. É a primei-ra vez que adota um. Ela teve interesse e começou a pro-curar na internet a próxima feira de adoção até encon-trar o evento. ‘’Minha família é só de adulto, a gente sente falta de barulho, de bagunça e o cachorro será como nos-sa criança, nosso filho. Che-guei aqui e bati o olho nesse cachorro, foi amor à primeira vista, senti mais motivada ainda em cuidar e dar uma vida melhor para ele”, conta com satisfação.

Camila Alves

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Castração para evitar animais indesejados

Outro grande motivo por haver tantos animais abando-nados e em situação de maus tratos é a falta de castração. Mesmo com ONGs e proteto-res se empenhando em con-seguir um lar para os bichos, os esforços parecem em vão, porque eles se multiplicam em uma velocidade espantosa. A maneira mais eficaz de se evi-tar este problema é a castra-ção.

‘’A castração é extremamen-te importante, porque ela evita muitas ninhadas indesejadas. Seria bacana o poder publico desenvolver campanhas de castração. Algumas pessoas não têm condições financeiras de pagar pela castração. Por isso, o ideal é que poder públi-co assumisse esta responsa-bilidade. Com certeza seria um grande avanço para diminui-ção de animais abandonados’’, defende Bruna Teixeira.

A castração é apontada como a solução para evitar a procriação e reduzir o risco de doenças nas vias uterinas e órgãos genitais do animal. O veterinário Lucas Teixeira fala sobre o assunto. ‘’Há estudos que comprovam que a castra-ção aumenta a expectativa de vida do animal em até 14%. O procedimento deve ser feito

Becker Fotos

por um profissional, podendo ser executada a partir de 90 dias de idade nos cães e 60 nos gatos. Isso é o que está previsto em lei”.

O profissional destaca que se sendo realizada de forma correta não há nenhum risco para o animal, somente be-nefícios. “Dentre os benefícios

da castração, destacamos que é possível reduzir a gravidez psicológica, também chama de pseudociese que é mui-to comum nos animais. Mas, com certeza, um dos princi-pais benefícios é a diminuição dos animais abandonados’’, esclarece.

Segundo dados divulgados pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZs) das cida-des, em seis anos, uma cade-la não castrada pode gerar 64 mil descendentes e uma gata, 420 mil em apenas sete anos. Outro beneficio é a diminuição do câncer de mama. E, quan-to mais cedo, melhor. Os nú-meros apontam que 99% das cadelas castradas antes do primeiro cio não desenvolvem a doença. Já em gatas, a cas-tração reduz as chances de câncer de mama entre 40% a 60%.

Cuidado com o pet é essencial

A castração é apontada como a solução para evitar a procriação e reduzir o risco de doenças nas vias uterinas e órgãos genitais do animal

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/ENTREVISTA

Para poder contribuir com o Santuário São Francisco, Bruna realiza rifas e outras ações beneficentes nas redes sociais

BRUNA TEIXEIRA

Vida de protetora

POR

MILVA SIQUEIRA

Uma das entidades assistida pelo projeto Abrace uma Causa de 2020 é

o Santuário São Francisco, uma organização não-governamental que cuida de animais abandonados e em situação de maus tratos. Sob a batuta de seu fundador, o artista plástico Arivaldo Ferreira Arraes Júnior, atualmente conta com aproximadamente 150 bichos resgatados, entre cães e gatos. Para saber mais sobre a entidade, a revista #Comunica! entrevistou a voluntária Bruna Teixeira da Silva, que ajuda o Santuário São Francisco desde que o abrigo foi aberto. Mas, antes mesmo de ser voluntária desta entidade, Bruna já atuava como protetora independente de animais. “Sempre que vejo um animal abandonado nas ruas, eu pego e levo para castrar. Depois cuido e levo para serem adotados. Acompanho os bichos adotados para ver se são bem cuidados”, relata. E, para poder contribuir com o Santuário São Francisco, Bruna realiza rifas e outras ações beneficentes nas redes sociais. A renda obtida é toda revertida para ajudar os bichos abandonados. “Os animais chegam no abrigo através de denúncias. Às vezes, jogam os animais em cima do muro para a gente, dentro do nosso portão com uma ninhada para nos cuidarmos”, revelou.

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Como você conheceu o San-tuário São Francisco?

Conheci o Arivaldo começou quando ele morava no bairro Residencial Cidade Verde em Goiânia. Sua casa estava em obras e um dos cachorros fugiu pelo buraco do muro. Em busca do cachorro desa-parecido, ele começou a ver a quantidade de cachorros abandonados que tinham ao seu setor, então, começou a resgatar. Como ele tinha uma casa grande, foi resgatando, curando necessitados e do-ando vários. Chegou a ter quase 100 animais na casa. Um dos irmãos do Arivaldo doou um terreno em Cam-pestre, a 40 quilômetros de Goiânia, para ele construir seu tão sonhado Santuário São Francisco de Assis. Com muito custo ele conseguiu. Tem menos de 2 anos. E é a partir de doações e de seu trabalho como artista plás-tico que ele mantém o San-tuário São Francisco em fun-cionamento.

Como vocês lidam com os animais que chegam ma-chucados ou em estado mais grave?

Arivaldo tem uma parce-ria com uma veterinária que sempre o ajuda quando tem resgatados em estado grave. Dependente do caso segue em internação

A instituição trabalha com recursos próprios ou de do-ações? Vocês fazem campa-nhas para receber doações?

Apenas por doações, pelo

Facebook, perfil pessoal do Arivaldo fazendo campanhas de pedidos, doações de ra-ções de cachorros e gatos, castrações, vacinas, moveis, material de construção, ca-sinhas de cachorros, cober-tores e produtos de limpeza

etc. E fazendo campanhas de doações de animais.

Quando uma pessoa adota um animal, quais os cuida-dos ela deve ter no período de adaptação ao novo lar?

Conversamos com o adotan-te sobre isso. A mudanças que a chegada de um ani-mal acarretará na sua vida e em seu lar. Procure com calma por um animal com um temperamento que se encaixe ao seu e de sua fa-mília. Um animal que se en-caixe no seu orçamento e no espaço que tem a oferecer. É preciso que ele seja bem-vindo por todos os membros da família. É preciso que a casa esteja segura para ele. Retire do alcance matérias de limpeza ou que ofereçam riscos ao animal, tenha gra-des ou murros para que não fuja e abrigo para o frio, sol ou chuva. É preciso dispor de tempo para passear e brin-cadeiras, que fundamentais para a saúde e bem-estar do animal. E o mais importante: ter plena consciência de que é uma vida que dependera de você pelos próximos 10 a 15 anos.

Quais procedimentos que uma pessoa que quer adotar um animal deve seguir? Qual a forma que vocês utilizam para ver que aquela pessoa e apta a cuidar de um ani-mal?

Ela deve entrar em contato com a Santuário. Poderá vi-sitar ou enviamos fotos dos animais para que possa vê

“[Arivaldo] chegou a ter quase 100 animais na casa. Um dos irmãos do Arivaldo doou um terreno em Campestre, a 40 quilômetros de Goiânia, para ele construir seu tão sonhado Santuário São Francisco de Assis”

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/ENTREVISTA BRUNA TEIXEIRA

Sobre os trabalhos, resumimos assim, é um santuário para animais necessitados. Após castrados, vacinados e vermifugados, todos estarão disponíveis para adoção.

para repercutir o caso.

Há quando tempo a insti-tuição atua na sociedade e quais outros trabalhos vo-cês realizam?

O Arivaldo é protetor de ani-mais há muitos anos, antes de ter a chácara, ele tinha um abrigo na sua casa mesmo. Sobre os trabalhos, resumi-mos assim, é um santuário para animais necessitados. Após castrados, vacinados e vermifugados, todos esta-rão disponíveis para adoção. Fazemos bazar online e rifas para levantarmos recursos financeiros.

-los. Enquanto a pessoa vai fazendo a escolha, irá pas-sar por uma triagem rigo-rosa para sabermos se está apta ou não para adoção. A triagem é feita por meio de perguntas sobre o dia a dia do adotante, sobre sua vida familiar, sua casa ou apar-tamento. Ambiente, vida fi-nanceira. Se tem tempo para cuidar do adotado, se tem paciência. E sempre deixa-mos claro isso.

Ainda há muitos animais em situação de extremo aban-dono em Goiânia? O que fa-zer quando encontramos animais nestas situações?

Primeira coisa. Nunca en-trar em contato com algum abrigo ou ONG para resga-tar. Esse animal só precisa da disposição desta mesma pessoa que o encontrou para conseguir um lar temporário até conseguir uma adoção responsável, ou caso for uma situação grave como um atropelamento, é preciso le-var em um hospital ou clinica pet. A pessoa pode fazer rifas ou vaquinhas para conseguir efetuar o pagamento.

Na instituição existe um ca-nal onde possa estar denun-ciando situação de abando-no e violência?

Não. Sempre quando nos perguntam orientamos a pessoa a fazer a denúncia na Delegacia de Meio Am-biente. Ir pessoalmente, ligar e mandar e-mail com fotos das provas da violência. Aju-damos também divulgando a denúncia nas redes sociais

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/PROTETORES

Quem já não se deparou com cães ou gatos de-

ambulando nas ruas de seu bairro. Pessoas observam e não dão moral. Entretanto, esses animais possivelmente moram na rua ou foram aban-donados. Mas, com a sensibi-lidade de algumas pessoas, foram criadas organizações não governamentais (ONGs) de proteção de animais para resgatar e encontrar um lar para eles. Os voluntários des-tas instituições agem como verdadeiros anjos na vida destes animais abandonados e/ou situação de maus tratos.

Um levantamento reali-zado no ano passado pelo Instituto Pet Brasil estima que a população de ani-mais domésticos é de cerca de 140 milhões, entre cães, gatos, peixes, aves, répteis e pequenos mamíferos. A maioria é de cachorros (54,2 milhões) e felinos (23,9 mi-lhões). Desses animais, 3,9 milhões são Animais em Condição de Vulnerabilida-de (ACV). Os ACV são aque-les que vivem com famílias classificadas abaixo da linha da pobreza, ou que vivem nas ruas, mas recebem cui-dados de pessoas.

Esse levantamento não in-clui animais abandonados que, em sua maioria, ficam sob a responsabilidade de ONGs. O Instituto Pet Brasil

POR

WILLI BECKER

Anjos protetoresA luta de pessoas que largam tudo da vida para salvar e ajudar animais que são largados para própria sorte nas ruas

Arivaldo com seus cachorros resgatados

também apurou a existência de 370 ONGs atuando na pro-teção animal em todo o País, das quais 7% ficam no Cen-tro-Oeste. O Centro de Zoo-noses de Goiânia estima que a população de cães e gatos na capital é de 270 mil; sendo 200 mil cães, 30 mil gatos e mais de 40 mil abandonados, entre cães e gatos.

Abrigo de Animais RefugadosQuase todos os sábados

pela manhã, Lívia Denise Ca-margo Borges dos Passos e os voluntários do Abrigo dos Animais Refugados, em par-ceria com alguns pets shops, realizam nos seus estabeleci-mentos uma feira de doação de animais. A maioria dos

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animais são cães e gatos que foram abandonados nas ruas. A feira tem como finalidade dar um lar para esses animais e, ao mesmo tempo, ajudar a desafogar o abrigo, que está no limite de sua capacidade.

A ONG tem 25 anos e fre-quentemente recebe ligações ou pessoas que vão ao abri-go para deixar os animais. “Eu troquei o número do telefo-ne porque não estava dando conta mais. As pessoas não têm limite. Vão trazendo, vão abandonando”, desabafa Lívia Passos. Ela conta que a ins-tituição está acima do limite: ao todo são 140 cães e 105 gatos distribuídos entre o se-tor Novo Mundo e nas Cháca-ras Alto da Glória, em Goiânia. “Quanto mais eu tenho dó, mas tenho pena, mais eu me prejudico, porque não consi-go atender a todos”, lamenta.

Animais aguardando no abrigo para serem adotados

Lívia e sua assistente aplicando medicamento em um gatinho

Além da lotação de animais, o Abrigo dos Animais Refuga-dos enfrenta a dificuldade em obter um CNPJ, devido à bu-rocracia dos órgãos respon-sáveis, o que impede a ONG de receber patrocínio. O gasto mensal do abrigo é de aproxi-madamente R$ 18 mil por mês,

incluindo funcionários, alimen-tação, material de limpeza, me-dicação, veterinário e outros.

Santuário São FranciscoEm Campestre, a aproxi-

madamente 68 km de Goiâ-nia, fica o Santuário São Fran-cisco de Assis, fundado pelo artista plástico Arivaldo Ar-raes Júnior. A ONG funciona há dois anos nesse local. An-tes, a sede do abrigo era em Goiânia, mas devido a recla-mações dos vizinhos e pou-co espaço para os animais, o protetor se mudou para uma chácara, que está reforman-do aos poucos como auxílio de doações de amigos e vo-luntários, para melhor receber os animais. Hoje a entidade conta com cerca de 80 cães e 30 gatos; a maioria destes animais é resgatada na cida-de de Goiânia.

Ariovaldo conta que recebe ligações praticamente todos os dias, com pedidos de res-gates de animais. “Alguns dos animais que resgatamos esta-vam perdidos ou foram atro-pelados. Como as pessoas não podem levar para casa, elas li-gam e às vezes até oferecem ajuda com ração, mas logo as doações param”, explica.

Um fato importante sobre essas ONGs que os animais chegam neles por meio das redes sociais ou de pessoas que já doaram. Os animais chegam nesses abrigos total-mente debilitados com sinais de atropelamento e maus tra-tos. “Os animais resgatados estão com sequelas de maus tratos e isso dificulta a doa-ção”, comenta Lívia Passos.

Willi Becker

Willi Becker

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Do abandono ao salvamentoSegundo Lívia Passos, mui-

tas pessoas acabam abando-nando os animais por motivos de mudança. “Às vezes são pessoas que vêm de outras cidades em busca de oportu-nidades e resolvem voltar, mas não querem levar o animal de volta. Aí é mais um cão na rua”, explica.

A maior luta dessas ONGs é conscientizar a população da importância da adoção res-ponsável. “Algumas pessoas agem por impulso, mas a do-ação precisa ser amadureci-da. é preciso ver o espaço, as condições financeiras para ali-mentação, veterinárias. Deve ser como adotar uma criança”, esclarece Ariovaldo Arraes. Se-gundo ele, outra medida que poderia auxiliar seria a criação de um hospital público, com castração dos animais de rua.

Tanto Lívia quanto Arivaldo contam que já foram chan-tageados várias vezes por pessoas que querem se livrar dos animais, com ameaças de que, caso não sejam adota-dos, os bichinhos serão joga-dos na rua ou serão mortos. Além disso, há as ocasiões em que os filhotes são adotados e, depois, ao crescerem mais do que o esperado, são devolvi-dos aos abrigos ou abandona-dos novamente.

Todos animais que são res-gatados por essas ONGs são encaminhados para clínicas veterinárias, onde passam por uma bateria de exames de sangue para verificar o esta-do de saúde e, dependendo

A protetora Lívia Passos com o veterinário Ronaldo Medeiros

Jonh sendo tratado na clinica veterinária

da situação, passam até por cirurgia. “Os animais chegam aqui e fazemos vários exames, verificamos quanto às doen-ças de pele, carrapatos, mas a maioria vem com fraturas devido a atropelamento”, co-menta o veterinário Ronaldo Medeiros de Azevedo.

O trabalho dessas ONGs e voluntários e são sem fins lu-crativos e todos os dias essas pessoas passam por dificulda-

des tanto financeiras como por lotação. Mas, o que realmente acontece, é a falta de infor-mação e conscientização das pessoas, que acreditam que o animal é um bem material que, quando defeituoso ou velho, deve ser descartado e substi-tuído por um novo. Eles estão o tempo todo ao seu lado. A força maior dessas ONGs e a dedicação e principalmente o amor a esses animais.

Willi Becker

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Histórias de adoção

Afonso é um cachorro de dois anos, de porte médio pe-los grisalhos, que foi adotado pelo autônomo e músico Leo-nardo Aguero, após um amigo que é veterinário enviar uma publicação de um abrigo que o estava doando. O que chamou a atenção foi o nome, porque três dias antes tinha perdido um cachorro da raça shih--tzu cujo o nome era o mes-mo. Essa coincidência fez com que o músico imediatamente entrasse em contato com o abrigo.

O que motivou Leonardo a ver o Afonso, além do nome, foi o gasto que teve com o cachorro anterior, que sobrou muita ração e medicamento, e se por acaso não desse certo adotar, pelo menos doaria o que sobrou. Leonardo com-pareceu à feira de adoção que o abrigo estava realizando no Parque Flamboyant e aprovei-tou para passear com o Afon-so para conhecer ele melhor e acabou tendo afinidade entre os dois.

Porém, teve que aguar-dar um mês para levá-lo para apartamento, porque teria que desinfetar o local onde viveu o outro cachorro. Atualmente, o cachorro Afonso vive tran-quilamente com o Leonardo e sua esposa, Jaqueline, em um apartamento onde tam-bém vive a cadela Alice, a mais nova moradora da casa.

Dick e Simba foram

adotados pela a estudante de veterinária e voluntária do Abrigo dos Animais Refuga-dos Daniela Gomes de Olivei-ra, que não é a primeira vez adota animais, porque sempre

teve o costume tanto indire-tamente ou diretamente. Ela decidiu adotar os dois, porque uma das duas cachorras havia sumido, então resolver adotar para fazer companhia para ela.

Tody foi adotado através de um status do whatsapp de uma amiga de trabalho de Sabrina

A voluntaria Daniela acabou

adotando o Dick e Simba

Willi Becker

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O que chamou a atenção dela foi imaginar o tamanho que eles iriam ficar, o que seria ideal para eles, também pelo olhar e jeito deles se comporta-rem e com isso criou uma co-nexão entre eles. Ela aconselha que toda a pessoa que queira adotar um animal deve fazer um planejamento desses gas-tos com alimentação, medica-mentos, o local em que ele vai ficar e principalmente fornecer bem estar, amor e proteção. Todos esses fatores são muito importantes para que se evite os abandonos.

Tody foi entregue para o abrigo pela sua antiga dona, por conta de não ter espaço na república em que ela vivia. Um

A primeira vez que adota um cachorro de um abrigo foi uma experiência muito boa que mudou a sua vida

dia a coordenadora de enfer-magem Sabrina Lima estava observando o status do what-sapp de uma amiga de traba-lho, quando viu a foto do Tody e logo se apaixonou por ele.

Sabrina entrou em contato com abrigo, para obter infor-mações dele, todavia seria a primeira vez que adotava um animal de um abrigo. No início o esposo ficou com um pouco de receio, mas acabou gos-tando do Tody. Quem mais se encantou com o cachorro foi a filha do casal, Ana Liz, de seis anos, que não larga dele para nada. “Ele é super tranquilo e se adaptou à nossa rotina. É inexplicável a gratidão dele conosco”, disse Sabrina.

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/ ENTRETIMENTO

Quando eles são as estrelas do espetáculoHá tempos o entretenimento e o audiovisual

usam animais como atrações, entretanto existem relatos de maus tratos e até morte

de animais neste tipo de situação

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O uso de animais no au-diovisual e no entreteni-

mento é um assunto que não é muito discutido, mas que deve ser colocado em pauta, afinal há muitos maus tratos de animais em filmes, séries e no entretenimento, durante as gravações, propositalmen-te ou não, a fim de garantir a tão sonhada “cena perfeita”. Entre alguns casos estão os filmes Jesse James (1939), onde um cavalo foi jogado de um penhasco para a filma-gem de uma cena, Ben-Hur (1959), em que quase 100 ca-valos morreram durante as fil-magens, Holocausto Canibal (1980), em que foram mortos uma tarântula, uma cobra, um quati, um porco, uma tartaru-ga e um macaco-de-cheiro em cenas horrendas.

O Hobbit: uma Jornada Inesperada (2012) foi lança-do mesmo após a denúncia sobre a morte de 27 animais, entre galinhas, ovelhas, ca-bras e cavalos e ainda fez mais de um bilhão de dólares em bilheteria, Quatro Vidas de um cachorro (2017), onde um cachorro foi obrigado a en-

POR

DÉBORAH TOMASELLI e MABEL QUINONES

trar em uma água turbulenta para uma determinada cena e morreu afogado e, ainda, a série Luck (2011), da HBO, que tratava sobre corrida de cava-los e foi cancelada após a in-formação de que quatro deles morreram durante a produ-ção. Isso só para citar alguns,

dentre centenas de outros.Há ainda os filmes que

além de terem animais em seus elencos, falam sobre os maus tratos de animais, como Dumbo, tanto a anima-ção quanto o live action, Água para Elefantes (2011), as fran-quias de Planeta dos Maca-cos, entre outros. Mas mes-mo sendo para conscientizar sobre a causa, como garantir a segurança dos animais em set, e como realmente fazer a tão famosa frase “nenhum animal foi maltratado ou feri-do durante as gravações” ser verdadeira? Existem cineas-tas que são contra e também especialistas que acham o uso de animais no audiovisual bastante temeroso. A seguir, depoimentos de veterinários, ONGs, órgãos fiscalizadores e cineastas sobre esta questão.

No filme Ben-Hur (1959), quase 100 cavalos morreram durante as filmagens

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Na visão dos órgãos responsáveis e especialistas

O veterinário reikiano Ricar-do Garé, que é especialista no tema e posta diversas maté-rias em seu site Reiki Veteriná-rio (www.reikiveterinario.com.br), afirma que é contra o uso de animais em obras audiovi-suais. “Eu discordo quando a gente tem o uso de uma outra espécie para uso nosso, sendo que a gente pode fazer isso de diversas formas, inclusive com computação gráfica. Tem óti-mos filmes com computações gráficas maravilhosas com ani-mais selvagens. O que eu con-cordaria é que um profissional de comunicação animal intui-tiva ou telepática comunicasse com esse animal não-humano específico se ele quer ou não fazer aquilo e o que ele precisa para isso acontecer da melhor forma”.

A veterinária Déborah Cris-tina Fogaça conta como pode ser feito o preparo do animal da melhor maneira possível an-tes de entrar em set. “De ma-neira geral, o adestramento de qualquer espécie animal e para qualquer finalidade é basea-do na técnica de reforço po-sitivo, na qual não é admitido punições ou qualquer tipo de agressão ao animal. No entan-to, pensando no âmbito cine-matográfico, é muito difícil afir-mar que são utilizadas apenas as técnicas adequadas que

Veterinária Déborah Cristina Fogaça Veterinário Reikiano Ricardo Garé

Arquivo pessoalArquivo pessoal

respeitem o bem-estar ani-mal, visto que não existe uma regulamentação ou fiscaliza-ção adequadas nesse sentido. Além disso, já foram denuncia-dos inúmeros casos de maus-tratos durante filmagens, in-clusive de renomados filmes”.

A médica veterinária finali-za com dicas do que pode ser feito durante a preparação do animal para que evite de acon-tecer algum acidente em set. “Além da escolha de profissio-nais especializados em com-portamento animal, tanto para o treinamento quanto para o acompanhamento das filma-gens, deve-se sempre consi-derar o respeito às liberdades

e necessidades do animal. Isso requer muito mais empenho, em relação a tempo, estrutura física e profissional. É preciso ter em mente que, da mesma forma que se garante a segu-rança das pessoas, a segu-rança dos animais necessita ser ainda mais reforçada, pois os mesmos têm instintos que, muitas vezes, mesmo com treinamento, não podem ser controlados”.

E como Déborah Cristina Fogaça afirmou, as leis para o uso de animais no audiovisual e no entretenimento são bem fracas. A delegada Lara Me-nezes, da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra

/ ENTRETIMENTO

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Na visão dos órgãos responsáveis e especialistas

Bruna Teixeira, voluntária da ONG Santuário São Francisco

Lívia Borges, voluntário da ONG Abrigo dos Animais Refugados

o Meio Ambiente (Dema), in-forma como funciona o pro-cesso. “Antes de ter um animal em cena ou em um circo, por exemplo, é preciso ter uma au-torização/licença do Ibama. Só aí então você pode ter o animal na produção”.

A delegada de meio ambien-te acrescenta ainda que “geral-mente, quando vai produzir um filme, um produtor vai procurar cativeiros que são autorizados. Antigamente, tinha mais ocor-rência de maus tratos de ani-mais nessas situações, princi-palmente em circos. Hoje, a lei está mais ativa, principalmente para animais exóticos, que são mais complicados, como ele-fantes, tigres, girafas”.

Lara Menezes lembra, inclu-sive, que “muitos animais de circos foram resgatados em Goiás e levados para o zoológi-co de Goiânia, mas ainda assim morreram em massa, visto que esse tipo de situação priva um animal do seu habitat natural, então adoecem muito rápido. Agora com animais domésti-cos já é outra história. Há muito mais dificuldade de fiscalização e quebra de leis”.

Sobre quais animais po-dem atuar no audiovisual e no entretenimento, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Re-nováveis (Ibama) esclarece que não há norma específica que regule o uso de animais silvestres nesses casos. No entanto, o artigo 29 da Lei nº 9.605/98 de crimes ambien-tais informa que é crime o uso de espécimes silvestres em cativeiro ou semiliberdade sem autorização específica do

órgão ambiental competente, sendo estadual se for veicu-lação local e federal caso seja nacional.

Nesse contexto, também é exigido que o animal utili-zado tenha origem legal, ou seja, tenha sido adquirido de criadouro autorizado pela secretaria estadual de meio ambiente, possua anilha ou microchip e esteja acompa-

nhado de nota fiscal. Vale des-tacar que o uso de espécies silvestres deve ocorrer sob a ótica da educação ambiental não formal, com transmis-são de mensagem ambiental adequada ao telespectador, conforme previsto no artigo 13 da Lei n° 9.795/1999.

Além disso, deve ser ob-servado criteriosamente o bem-estar do animal durante sua utilização. Maus-tratos, seja em relação à espécimes silvestres ou domésticos, é conduta tipificada no artigo 32 da Lei de Crimes Ambien-tais. Não há restrição para uso da imagem de animais em vida livre exceto em apologia à crimes como caça ou tráfi-co, por exemplo.

É aí que entra o importan-te trabalho das organizações não governamentais (ONGs) de animais, principalmente no resgate de animais maltra-tados, por meio de denúncias. Bruna Teixeira, voluntária da ONG Santuário São Francis-co, afirma que as denúncias podem ser feitas pelas redes sociais ou WhatsApp. A partir da denúncia é feito o resgate.

Lívia Passos, presidenta e voluntária da ONG Abrigo dos Animais Refugados, acres-centa que o tratamento para recuperação de animais que sofrem esse tipo de trauma é bem complexo. Tem animais que não gostam nem que coloquem a mão neles, eles gritam de medo e desespe-ro. É difícil ganhar a confiança deles, por isso fazem um tra-balho para tirar o trauma que tiveram, com muito carinho e muita paciência.

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

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O que pensam cineastas sobre o assunto

Trazendo para o âmbito de quem realmente trabalha com cinema e audiovisual, o cine-asta Carlos Daniel Vallada, ve-gano e defensor dos direitos dos animais, reitera que o uso de animais em set pode ser substituído de diversas for-mas. “Computação gráfica é uma delas. Porém, é uma so-lução viável apenas para pro-duções com maior orçamento. Dependendo, bonecos anima-trônicos, o que também não é uma solução barata, podem funcionar perfeitamente. Pro-duções de menor orçamento podem ir para um caminho mais lúdico, com bonecos re-presentando os animais. Uma outra possibilidade, ainda, em muitos casos, é exclui-los do roteiro, mesmo”.

O cineasta Diogo Gomes também chama a atenção para este tipo de situação. “Parto do princípio de que tudo que acontece num set de filmagem, deve estar sob o controle do diretor, no sentido que é ele o responsável pelo resultado final da obra. Neste sentido, qualquer animal num set, deverá ser tomadas to-das as precações, para que no momento solicitado a do ani-mal, sua participação possa ser cumprida como foi pré-es-tabelecido. O princípio básico é ter um especialista só para o animal. Este profissional deve

expor para a produção as ne-cessidades que ele julgar im-portantes para que o animal não seja maltratado e propor-cione o resultado desejado”.

Mas, como é feito este tra-balho. “A posição do diretor é mais técnica do que criativa. Esta função o diretor deve de-legar ao amestrador do animal, é ele quem deve indicar o que o animal deve fazer. O diretor pode até pedir para repetir uma cena com a participa-ção do animal, mas em mui-tas situações, filma-se mais do que o necessário, muitas

vezes sem critérios. Evidente que um animal domestica-do, como um cachorro, gato, a princípio, é bem mais fácil, mas quando um ator/atriz tem que lidar com um réptil peço-nhento, tipo cobra ou escor-pião, mesmo que deles foram extraídas as presas ou o vene-no), os riscos de um incidente se elevam”, explica o cineasta Diogo Gomes.

Para evitar acidentes e maus tratos em uma produ-ção, Diogo Gomes alerta que é necessário considerar estas situações. “Tudo deve ser pre-visto, planejado ao ponto de os riscos diminuírem ao máxi-mo suportável. A questão dos maus tratos é muito delicada e, no meu caso, a melhor so-lução é não os incluir nas his-

Douglas Oliveira gravando com animais na África

Arquivo pessoal

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Cineasta Diogo Gomes

tórias a serem filmadas. Tem gente que dopa os animais para que os maus tratos não sejam percebidos pela crítica ou pelo público”, alerta o cine-asta.

E, para finalizar, Diogo Go-mes refuta a ideia de que computação gráfica substi-tui o resultado final em uma cena com um animal. “Do meu ponto de vista, as cenas por computação gráfica são frias, sem atmosfera. O clima e os sentidos se perdem nos detalhes, nos jeitos e trejeitos dos humanos, no ser diferente de cada um e nesta diferença, eles são iguais, coisa que o di-gital, em quase nada contribui com isso”.

Douglas Oliveira, diretor de fotografia e cineasta, que já trabalhou em documentários

com animais na África, en-tre eles leões, zebras e gnus, também concorda que não dá para substituir o animal por computação gráfica. “Em uma cena ou outra, até que dá, mas o animal passa o real. Embora a computação gráfi-ca tenha evoluído demais nos últimos cinco anos, ainda não se compara com o resultado de filmar com o animal de ver-dade. E ainda vão levar muitos anos até que realmente con-siga substituir o resultado final do uso de animais em filmes”. Douglas filmou vários docu-mentários com os animais em seu habitat natural, respeitan-do o espaço e sem exigir uma atuação deles. Foi de forma documental, e ele finaliza di-zendo que foi uma verdadeira aventura.

Arquivo pessoal Arquivo pessoal

Cineasta Carlos Daniel Vallada

Dez filmes com protagonistas animais

1. Meu Cachorro Skip (2000)2. Lassie (tem várias versões)3. Marley & Eu (2008)4. Sempre ao seu Lado (2009)5. 101 Dálmatas (1996)6. Babe – O Porquinho

Atrapalhado (1995)7. Beethoven, o Magnífico (1992)8. Free Willy (1993)9. Um Gato de Rua Chamado

Bob (2016)10. Cavalo de Guerra (2011)

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/MAUS TRATOS

Não é raro acompanhar no noticiário ou mesmo

nas mídias sociais relatos de animais que foram vítimas de maus. Em 2018 ocorreu em uma loja do Carrefour na cidade de Osasco (SP), um caso de agressão que cha-mou atenção de milhares de pessoas no Brasil. Um se-

gurança da rede teria se in-comodado com a presença de um cachorro na porta do estabelecimento e o golpea-do diversas vezes com uma vassoura.

De acordo com informa-ções do Portal R7, foi relatado que o Departamento de Fau-na e Bem-Estar Animal, do município de Osasco (SP), foi chamado para prestar aten-

dimento ao cachorro ferido. O animal foi resgatado meio hora depois, encaminhado para atendimento emergen-cial, chegou consciente no local, mas não resistiu aos fe-rimentos e morreu.

Muitos estudos são realiza-dos na tentativa de identificar traços da personalidade das pessoas que cometem maus tratos aos animais. A psicó-

POR

GABRIEL VIEIRA e TIAGO DOS ANJOS

Maus tratos aos animais“É triste ver a situação em que esses animais chegam até nós, extremamente machucados, por conta dos maus tratos” Psicóloga Rebeca Andrade Costa

Fotos divulgadas na internet mostram cachorro sangrando após agressões

Reprodução: Facebook

Reprodução: Rebeca

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Punição para os agressores

Para acompanhar as de-núncias de maus tratos e in-vestigar os supostos agresso-res, a Delegacia Estadual do Meio Ambiente (Dema) mon-tou uma equipe técnica com oito pessoas, entre delegados, peritos e veterinários, que vão verificar denúncias de maus-tratos. O objetivo atender as denúncias em um prazo máxi-mo de 12 horas. Em dois me-ses foram registradas cerca de 120 denúncias de maus tratos. O titular da Dema, o delegado Luziano Carvalho, orienta para que as pessoas encaminhem fotos do animal diretamente para a Dema, para que a equi-pe pudesse verificar a situação do caso e definir se de fato se-ria um tipo de maus tratos.

As denúncias também po-dem ser feitas por meio do disque denúncias 190 da Po-licia Militar. Nos primeiros três meses de 2020, foram feitas 224 denúncias de maus tratos aos animais. Dados mostram um crescente aumento signi-ficativo, sendo nos meses de janeiro e fevereiro de 2014 e de janeiro a março de 2020.

A advogada Stela Paiva Gui-marães explica quais as con-sequências previstas para os agressores de animais. “Como a detenção é considerada uma pena branda, os ofenso-res estão sujeitos ao cumpri-mento em regime aberto ou semiaberto, a depender da

Advogada Stela Paiva Guimarães

loga Ilda de Fátima Morais Caldas destaca alguns deles. “São muitos os fatores que podem caracterizar uma pes-soa com tal comportamento, um deles, é bem possível que esteja relacionado a alguma doença psicológica, ligada diretamente à falta de senti-mentos, como por exemplo, o psicopatia – quando a pessoa tem dificuldade em entender a dor, o sofrimento do outro e, por isso tendem a maltra-tar os animais –, assim como uma pessoa que apresenta um comportamento mais im-pulsivo ou agressivo”, explica.

Para a psicóloga Rebeca Andrade Costa, este compor-tamento humano geralmente são atitudes realmente inten-cionais, devido a um desvio de personalidade. “O indiví-duo que maltrata animal pro-jeta no animal todo ódio e rai-va que ele sente dele mesmo e do mundo, gerando assim sua satisfação em cometer esse ato”, relata a psicóloga.

gravidade do fato. Porém, tais regimes na prática se-quer são aplicados. Por ser considerado crime de “me-nor potencial ofensivo” aos ofensores geralmente é ofertada transação penal: em que esse, ao aceitar, passa a cumprir pena res-tritiva de direitos ou multa”, relata.

“No entanto, pretende aumentar a pena para maus tratos a cães e gatos – não todos os animais – para re-clusão de 2 a 5 anos. Não é consenso que o aumento de pena poderá frear os ca-sos de maus tratos e morte aos animais. Práticas como as campanhas de cons-cientização e ajuda aos ani-mais vem tendo resultados expressivos, inclusive nas redes sociais”, destaca a advogada.

O animal foi resgatado meio hora depois, encaminhado para atendimento emergencial, chegou consciente no local, mas não resistiu aos ferimentos e morreu

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Como agir quando encontrar uma situação de maus tratos

Diante essa situação, o veteri-nário Raphael Souza relata a ma-neira correta de como se portar perante este acontecimento. “O resgate deve ser de forma muito responsável, pois não se sabe o quadro que o animal foi encon-trado, então alguns traumas, lesões ou perfurações podem ocorrer durante a coleta do ani-mal na rua, devido à situação que ele se encontra”.

O veterinário informa que o ide-al seria acionar um especialista para que faça a retirada e, caso não obtiver resultado, ele explica os procedimentos a serem adota-dos. “Leve o animal agredido a um médico veterinário pois abrange muito o fato de um profissional estar atendendo este animal, por conta de muitas zoonoses po-dem ser transmitidas de acordo na hora da coleta”, recomenda.

A professora de medicina ve-terinária do Centro Universitário Anhanguera Lidiana Cândida,

atuante da área clínica e cirurgiã de pequenos animais, também dá algumas orientações. “A pri-meira coisa que devemos tomar cuidado é como se aproximar deste animal ferido. O animal que está machucado sente dor, sen-te desconforto, então devemos ter cautela nessa aproximação para que a gente não seja mor-dido e atacado por ele. E pensar que o animal está ferido, ele pode ter tido lesões graves no sistema nervoso central e na parte da coluna, então é importante que tomem cuidado na abordagem”.

A veterinária explica como deve ser feita esta abordagem. “É identificar se conseguimos ver a região do corpo desse animal que foi lesionado. É válido sem-pre ter equipamentos de pro-teção individual (EPI), uma luva de couro, focinheira, cambão ou até mesmo uma toalha, um pano grosso, para que você consiga imobilizar de maneira adequada”.

“Leve o animal agredido a um médico veterinário”, alerta Raphael Souza

Histórias de adoção e cuidados

A jornalista e pesquisado-ra Mariana Reis relata que ti-nha o desejo em adotar um outro gatinho, quando soube por meio de publicações nas redes sociais sobre o caso do Pudim. Ela se comoveu e quis adotá-lo, mas diante a situ-ação delicada dele ficou um pouco preocupada com a re-ação dos seus outros animais. Seu marido estava resistente à adoção, mas após receber as imagens do gatinho, foi amor à primeira vista e onde decidi-ram que ficariam com ele.

Quando ela o recebeu já sa-bia sobre sua situação, o ga-tinho tinha as patas traseiras um pouco comprometidas e fracas, mas que não seria algo sério. Após três meses de convivência, o gatinho Pudim parou de andar e começou a arrastar as patinhas. Diante deste ocorrido, Mariana o le-vou para fazer exames, na ve-terinária e fisioterapeuta.

Pelo fato da fisioterapia ter um valor alto para realização das seções, Mariana e Dani-lo começaram a realizar os exercícios em casa, três vezes ao dia. “Com os exercícios em casa ele melhorou bastante, a gente trocou a ração para uma especial e depois que começou a usar essa ração ele ganhou massa, ficou mais

Reprodução: Raphael

/MAUS TRATOS

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A cadela Lua também precisa de auxílio para locomoção

Mariana Reis: jornalistae professora universitária

Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, hoje a cadela Princesa está bem e com saúde

Pudim sendo cuidado e acariciado

Reprodução: Mariana Reis

fortinho e parou de arrastar as pernas. Hoje caminha nor-malmente, corre como se não tivesse problema nenhum”, destaca a jornalista.

Para muitas pessoas os ani-mais são como um membro importante da família, para Mariana não seria diferente, ela destaca como é sua rela-ção com eles. “Nossa relação com ele e com os outros bichi-nhos é como se fossem nos-sos filhos, dormem na cama com a gente”.

De acordo com Ana Caroli-na de Moura, proprietária do Abrigo Lar Doce Lar, Princesa é uma cachorrinha deficiente de três anos. Aos cinco me-ses de vida ela foi atropelada, teve sua coluna fraturada e fi-cou paralitica. “O quadril dela é baixo, ela anda se arrastando e tem cadeira de rodas que au-xilia um pouco, mas a cadeira é utilizada por volta de uma a duas horas por dia, o animal

não pode ficar o tempo todo nela porque causa dores na coluna e força muito as pati-nhas da frente”.

Ana Carolina relata que a maior dificuldade enfrentada no cuidado de um animal de-ficiente é durante o dia a dia,

pois ele necessita de uma atenção redobrada. “A Prince-sa necessita usar fraldas, len-ços umedecidos, usar poma-das por conta de assaduras”. Segundo a dona da cadela, os animais deficientes costumam dar infecções de urina, pois a urina é mais ácida e forte, en-tão precisa de idas constante ao veterinário e de ração es-pecial.

Princesa enfrentou mui-tas dificuldades, mas, algo de bom aconteceu: recebeu o seu apadrinhamento. O apa-drinhamento ao animal con-ta com pessoas disponíveis a arcar com todos os gastos deste animal. Por conta disso, a cachorrinha Princesa tem em torno de cinco madrinhas, que em todos os meses se re-únem com o intuito para pa-gar todos os custos e mantê--la. “Hoje ela é muito feliz, não sente mais dores, se recupe-rou, brinca, é esperta e leva uma vida saudável. Há alguns probleminhas, mas isto é de-corrente a deficiência dela. Te-mos o cuidado devido o tempo todo com ela e não pode pa-rar”, destaca Ana Carolina.

Reprodução: Ana Carolina de Moura

Reprodução: Mariana Reis

Reprodução: Ana Carolina de Moura

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/COMPORTAMENTO

Olha eles modelando!

Uma nova mania entre os criados de animais de estimação é a

fotografia especializada de pets, mercado que vem crescendo

Regina Célia Silva Oliveira

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O mercado pet anda bas-tante concorrido e inova-

dor. Pet shops vêm buscan-do constantemente novas estratégias para atrair mais clientes, sendo oferecidos os produtos de consumo diário, como petiscos, rações, aces-sórios personalizados para cada animal.

O mercado vem ganhan-

do mais uma novidade, a fo-tografia especializada, que vem entrando para o rol das novas modalidades, gerando cerca de 3 milhões de em-pregos e 14 milhões de reais anualmente, de acordo com informações repassadas pela Associação Brasileira da In-dústria de Produtos para Ani-mais (Abinpet).

Qual dono não deseja ter uma foto profissional do seu bichinho de estimação? Foi com essa ideia que nasceu a

modalidade da fotografia pet. Ao entrar nas casas especia-lizadas, olhar é logo atraído por books e cartazes expos-tos de forma estratégica para atrair a atenção dos clientes.

O investimento por parte das casas especializadas é considerado um pouco alto, de acordo com a empresá-ria Célia Regina Silva Oliveira, proprietária do Estrela Pet, localizado no Centro de Apa-recida de Goiânia, revela que realizou um investimento de

POR

BRUNNO MOREIRA e GIOVANA BATISTA

Registro realizado por Regina Célia durante período de entretenimento e diversão em piscina de bolinhas de shopping de Goiânia

Regina Célia Silva Oliveira

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aproximadamente R$ 25 mil. É necessário adquirir vários itens, como lentes, máquinas apropriadas e um ambiente em que o animal fique à von-tade, para facilitar a realização das sessões.

Além de cuidar de toda a área administrativa da loja, Re-gina Célia acumulou mais uma função no seu dia a dia, fazer os ajustes do cenário, das rou-pas personalizadas dos ani-maizinhos modelos. É preciso conhecer um pouco da rotina do bichinho de estimação, sua personalidade e desejos, além de ajudar a cativar o cliente, saber as informações neces-sárias do animal, irá ajudar na estrutura do ensaio.

“Se o bichinho é mais ner-voso, faça a foto em locais mais reservado, longe de de-mais animais e pessoas. Se é tranquilo, é possível fazer em parques e bosques, locais em que o animal se sinta mais à vontade”, aconselha a empre-

sária. Ela conta com a ajuda da auxiliar e também fotógrafa Patrícia Cintra. “É necessário ter duas ou mais pessoas para conseguir obter bons resulta-dos”, completa Célia Regina.

Já a fotógrafa Daniela Si-queira, proprietária do estúdio Retratinhos Pet, situado em Goiânia, é considerada uma das pioneiras no segmento na capital, atendendo a domicílio

e empresas, a profissional de-dica seu tempo somente para a fotografia de animais. De acordo com Daniela, no início as coisas foram bastante di-fíceis, sendo que ela disponi-biliza seus materiais em suas plataformas e até mesmo em casas especializadas, mas as pessoas não adquiriam por se tratar de animais, sendo difícil se manter na profissão ape-

Fotógrafa Daniela Siqueira tendendo a cliente Adriana Santos em sessão de fotos a domicílio Fotógrafa Daniela Siqueira tendendo a cliente Adriana Santos em sessão de fotos a domicílio

Gato fotografado por Célia Regina

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nas com fotos de animais.A fotógrafa observa que

houve uma evolução e a de-manda pelo serviço, hoje a modalidade já é considerada

ampla, sendo realizada por profissionais especializados, por estúdios e até mesmo por agências que trabalham exclusivamente com a ima-

gem pet, criando certa con-corrência, em que se desta-ca mais, aqueles que usam mais da criatividade nos re-gistros.

Jaqueline Santos Sendo fotografada junto com o seu pet, em comemoração ao aniversário de seu animalzinho

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/ANIMAIS SILVESTRES

Close de uma arara

silvestre

Andrew Pons

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Você gostaria de ter uma arara azul como animal de

estimação? E um tucano ou até mesmo um periquito ou papagaio? No Brasil, criar es-pécies da fauna silvestre sem a devida autorização se con-figura como crime ambiental, conforme o Artigo 29 da Lei de Crimes Ambientais. Claro, vi-sando pelo lado do bem-estar e não extinção da nossa fau-na, a questão de criar animais silvestres em casa invade mais o lado egoísta praticado em sociedade. Nenhum deles foi domesticado. Eles evoluem para viver em seus ambientes naturais e não habitações hu-manas, além de que, o comér-cio de animais exóticos de es-timação é conhecido por seu tratamento cruel e normal-mente abastecido pela caça ilegal.

Segundo dados divulgados em 2019 pela World Animal

POR

MARCOS FERREIRA

Aves de estimação ou crime ambiental?Animais de estimação exóticos podem parecer fofos e serem a busca de muitos para pets, mas não se enganem, criá-los pode configurar crime ambiental

Dois periquitos trocando carícias

Jonah Pettrich

Protection (WAP), no Bra-sil há 37.937.619 aves criadas em cativeiro. 573 é o núme-ro de criadouros comerciais e lojas que vendem animais silvestres como bichos de estimação. 406.790 é o nú-mero de criadores amadores legalizados de passeriformes (passarinhos e aves cano-ras). 3.265.973 passarinhos vivem nas gaiolas dos criado-

res amadores legalizados. 45 Centros de Triagem (Cetas) e de Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) es-tão em funcionamento. 1% do orçamento destinado à fisca-lização pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) foi aplica-do em ações voltadas à fauna silvestre entre 2010 e 2015.

Passarinho na gaiola e o pa

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pagaio no poleiro, essas são cenas comuns em cidades do Brasil. Não há localidade no país sem animais silvestre em cativeiro, seja em grandes cidades como Goiânia ou em recantos mais bucólicos no interior. Para a dona de casa Osmarina de Siqueira, mora-dora de Sanclerlândia, interior de Goiás, a não retirada de ani-mais silvestres dos seus habi-tats se deu há pouco tempo. “Lembro quando era pequena e o pessoal achava bem nor-mal pegar um periquito do ni-nho para criar. Eu mesma já tive um papagaio e era muito apegada a ele. Mas hoje em dia, vejo como os bichinhos sofrem caso a gente tire eles da natureza.”

Divina Nunes, costureira autônoma, tem um casal de periquitos-australianos em casa. Os animais são regula-mentados de acordo com a lei estadual e foram compra-dos seguindo toda uma regra ambiental. “Eu sempre gos-tei de animais. Tenho um ca-sal de cachorrinhos e um dia andando pela cidade, dei de cara com dois lindos periqui-to-australianos. Comprei em uma casa rural, conhecida por vender suprimentos para fazendas e meio rural, en-tão tudo lá é regulamentado. Sei que ter alguns animais é proibido, mas estes em ques-tão são bem tratados aqui em casa, cantam o dia inteiro e adoram receber carinho”.

Em uma pesquisa feita pelo Instituto de Proteção Animal

O estudante Inácio Neto afirma ter consciência sobre o crime ambiental

A protetora de animais Nathália Sorelly afirma nunca ter resgatado animal silvestre

Osmarina de Siqueira lembra que na infância achava normal criar animais silvestres

/ANIMAIS SILVESTRES

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Mundial, realizada em 2018, 26% dos donos de animais sil-vestres criados como bichos de estimação no Brasil, des-conhecem que seus pets são de espécies não domésticas. De toda a variedade de espé-cies da fauna, o brasileiro tem predileção pelas aves. Muitos desses animais, mesmo lega-lizados por órgãos municipais, estaduais ou nacionais, são de espécies que não passaram pelo processo de domestica-ção, portanto tem seu compor-tamento e instinto extirpado, uma vez que as condições ofe-recidas pelo cativeiro não con-seguem satisfazer as necessi-dades de bem-estar deles.

Inácio Neto, estudante, tem uma visão já consciente do que é o crime ambiental. “Eu não teria coragem de tirar ne-nhum animal da natureza para criá-lo. Sei que era algo bas-tante praticado antigamente. Mas hoje, acho que o pessoal tem mais essa mentalidade de não poder judiar dos animais. Eles estão na natureza, livres e felizes. Vamos deixar assim!”.

A estudante de Publicidade e Propaganda da UniAraguaia Nathália Sorelly – que atua

como protetora na organiza-ção não governamental Do-g&Cat, que resgata, trata e faz toda a readaptação de animais aos lares adotivos – relata que até hoje não recebeu nenhum chamado para aves, mas já soube de histórias. “No tem-po que estou ajudando a ONG, nunca recebemos um chama-do para resgate de aves. Ge-ralmente os resgates são de cachorros e gatos. Mas, pelas conversas que temos com a comunidade, vez ou outra as pessoas se arrependem de pegar alguma ave e a solta, ou

como é pequena, consegue escondê-la durante o resgate ou após a morte.”

Mesmo assim, com essas e outras visões sobre nossa fauna e cultura, a demanda por animais silvestres de es-timação está cada vez mais crescente na sociedade. Es-timulada em parte por víde-os da Internet que mostram como podem ser adoráveis, os animais sofrem ao serem domesticados e receberem maus-tratos de forma não condizente caso vivessem em seu habitat natural.

Divina Nunes e seus periquitos-australianos

Animal silvestre: Espécies silvestres têm funções ecoló-gicas no ambiente natural que as do-mésticas não têm. Além disso, é pos-sível manter indivíduos de espécies silvestres em ambiente doméstico, contudo, apesar de serem indivíduos amansados, continuam a ser espécies silvestres.

Animal doméstico: Espécies domésticas foram seleciona-das pelos humanos, privilegiando ca-racterísticas específicas, ao longo de muitas gerações, fazendo com que se diferenciassem das espécies que de-ram origem a elas, tanto em sua apa-rência (fenótipo) quanto nos genes (genótipo). Fonte: World Animal Protection

A diferença entre animais silvestres e domésticos

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Tráfico e maus-tratos de animais

Animais silvestres não são domésticos. O doméstico já está acostumado a viver per-to das pessoas, como os gatos cachorros, galinhas e porcos, entre outros. Já o animal silves-tre foi tirado da natureza e reage à presença do ser humano. Por essa e outras razões, os animais têm dificuldades para crescer e se reproduzir em cativeiro, se-gundo estudos da World Animal Protection.

“Os motivos que levam as pessoas pegarem animais sil-vestres geralmente é pela be-leza que, em alguns casos, são exóticos e as pessoas gostam disso. Outro fator é que a maio-ria tem que ficar preso em um ambiente. Isso facilita muito os cuidados com limpeza e tam-bém não precisa levar para passear”, ressalta a bióloga e funcionária da Agência Munici-pal do Meio Ambiente (Amma), Ivanice Lima.

Segundo a bióloga Ivanice Lima, as grandes denúncias da região do Centro-Oeste goiano se dão pelos maus-tratos refe-rentes a animais domésticos. “É muito grande o número de de-núncias contra pessoas que es-tão maltratando seus animais de estimação. Já para os animais silvestres, as denúncias têm

uma porcentagem baixa. Às ve-zes acontece de a fiscalização ir atender uma denúncia de maus-tratos e encontrar um ou outro animal silvestre na residência sendo criado como bicho de esti-mação. Os mais encontrados são aves, como exemplo papagaios, periquitos, dentro outros.”

Tráfico é o comércio ilegal de animais. Traficar significa cap-turá-los na natureza, prendê--los e vendê-los como objetivo de ganhar dinheiro. Acredita-se que o comércio ilegal de ani-mais movimente cerca de 10 bilhões de dólares por ano em todo o mundo, segundo dados da World Wide Fund For Nature – Brasil (WWF-Br).

“Uma observação que acho relevante, é que grande parte das pessoas que possuem ani-mais silvestres em casa, acos-tumam abandoná-los quando eles se tornam adultos. E isso, além de se configurar como maus-tratos, para o animal se torna um problemão. As enti-dades públicas são obrigadas a recolher e fazer a readapta-ção, daqueles, claro, capazes de voltar ao seu ambiente na-tural”, sustenta Ivanice Lima.

Seja para pesquisas científi-cas ilegais, para colecionadores particulares ou para aquisição de animais de companhia, o tráfico atua como as mais diver-sas espécies brasileiras. A maior parte de animais traficados no Brasil são aves, seja pelo canto ou pela plumagem. Em dados recolhidos pela ONG Renctas, que luta pela conservação da biodiversidade, situada em Bra-sília-DF, as aves são os animais mais encontrados no comércio ilegal, chegando a dois milhões de espécies envolvidas no mer-cado anualmente.

“Entre outros tráficos existe ainda a venda ilegal de pro-dutos da fauna como o couro, peles, penas, garras e presas, destinados ao mercado da moda ou para colecionadores exclusivos. Os números pioram quando os bichos são comer-cializados vivos. Estima-se que de 10 animais traficados ape-nas um sobreviva”, afirma o bi-ólogo e professor Jeferson de Oliveira.

O alto índice de mortalidade é resultado dos maus-tratos e das precariedades durante a captura e transporte das es-

/ANIMAIS SILVESTRES

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O que diz a legislação

O advogado Lucas Brito alerta: se presenciou crime contra os animais, denuncie

Hoje, no Brasil, temos leis que visam garantir o con-trole social e meio ambiente equilibrado, para que atos desagradáveis não aconte-çam. A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente (Dema) pode aplicar multa de até R$ 3 mil, o dobro em caso de morte, e, em casos graves, conduzir o infrator para abertura de in-quérito policial, com base na Lei de Crimes Ambientais, caso alguém maltrate um animal.

“Segundo a interpretação do artigo 136 do Código Pe-nal Brasileiro, maus-tratos a animais podem ser defi-nidos como a exposição ao perigo de vida e à saúde, pela submissão ao trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando dos meios de correção, quer privando--os de alimentação ou cui-dados. Abatimentos de pets para consumo, sacrifício de animais como métodos não humanitários e abandono do bichinho em vias ou logra-douros públicos são atos in-fracionais e devem ser sem-pre denunciados”, afirma o advogado Lucas Brito.

Quando o assunto é de-núncia de maus-tratos ou crueldade contra animais, o Brasil conta com legisla-ção pertinente e autoridades competentes que são res-ponsáveis pela manutenção da lei e punição de crimes. “A denúncia de maus-tratos

pécies. “Os animais se ferem ao fugir, sofrem com estresse emocional ou são descartados quando apresentam proble-mas na pele”, acrescenta o bi-ólogo.

Uma decisão baseada numa falsa expectativa pode com-prometer o bem-estar do ani-mal e gerar sofrimento. 46% dos donos de animais silvestres no Brasil compraram seus pets por impulso, segundo pesquisa da Proteção Animal Mundial.

“O comércio legalizado não combate o tráfico de animais silvestres. Muito pelo contrário, o mercado legal incentiva uma prática cruel, aumenta a de-manda por animais de estima-ção e coloca em risco as popu-lações presentes na natureza. Legal ou ilegal, não compre!” é o que afirma o biólogo Jeferson.

Em um comparativo de da-dos feito pelo Ibama entre criadores e lojas comerciais e criadores amadores e os cen-tros de triagem e reabilitação de animais silvestres, apenas na região do Centro-Oeste há taxas de 9,20% de criadores e lojas comerciais de animais silvestres para pets, 4,60% de criadores amadores legaliza-dos de pássaros e quatro cen-tros de triagem e reabilitação de animais silvestres em fun-cionamento, com relação ao resto do Brasil.

Os dados do Ibama mostram que não é possível afirmar que a criação legalizada supre a de-manda por animais silvestres, portanto, a atividade não pare-ce ajudar a combater o tráfico de fauna e sim implementar ainda mais o ciclo vicioso.

é legitimada pelo Artigo 32, da Lei Federal nº 9.605 (Lei de Crimes Ambientais) e pela Constituição Federal Brasi-leira”, reitera o advogado.

“Caso presencie maus-tra-tos a animais de quaisquer espécies, sejam domésticos, domesticados, silvestres ou exóticos, vá à delegacia de polícia mais próxima para la-vrar o boletim de ocorrência ou compareça à Promotoria de Justiça do Meio Ambiente. É possível denunciar também ao órgão público competente de seu município, para o se-tor que responde ao trabalho de vigilância sanitária” com-plementa o advogado Lucas Brito.

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N ão é de hoje que se ouve falar que o cachorro é o

melhor amigo do homem. Atu-almente essa verdade está sendo ainda mais confirmada, pelo grande benefício de se ter um animal de estimação em casa. Foram realizados vários estudos ao longo dos anos que concluem a eficácia no trata-mento de pessoas com doen-ças psicológicas e cardíacas.

Um estudo sobre Terapia As-sistida por Animais (TAA), pro-duzido pelos alunos da Facul-dade de Medicina Veterinária de Garças em São Paulo, Ju-liane Machado, Jessé Rocha, Luana Santos juntamente com a professora Adriana Piccinin, foi publicado na revista cientí-fica eletrônica de medicina ve-terinária.

Neste trabalho foi discutido

como é feita a TAA e quais os benefícios para pessoas com doenças e de várias idades. O estudo revela que “A TAA pode ser aplicada em áreas relacio-nadas ao desenvolvimento psicomotor e sensorial, no tra-tamento de distúrbios físicos, mentais e emocionais, em pro-gramas destinados a melhorar a capacidade de socialização ou na recuperação da auto--estima”.

Recentemente alguns hos-pitais de Goiânia adotaram a prática de receber cachorros como forma de alegrar pacien-tes em estágios terminais, as-sim como a visita de palhaços, os animais são sinônimo de felicidade e levam ânimo aos pacientes.

Para o veterinário Felipe Cambruzzi, que é especialista

POR

CAMILA NOGUEIRA

Adoção de animal de

estimação auxilia no

tratamento de doenças

psicológicas, os pets sabem fazer pessoas

felizes, de acordo com

especialistas

Adoção contra

depressão

/SAÚDE

Felipe Cambruzzi, veterinário, especialista em comportamento animal e adestrador

Felipe Cambruzzi

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Victória Pádua

em comportamento animal “o amor puro que eles (cachorros) trazem para essas pessoas, fazem com que elas percam a capacidade de pensar em coisas ruins, coisas negativas”. Essa relação é boa para ambos os lados, já que um animal ne-cessita de atenção e carinho.

A depressão é um distúrbio mental que causa falta de in-teresse em viver e realizar ta-refas simples do dia a dia. Po-dendo atingir crianças, jovens e idosos, apesar de ter o maior números de casos em mulhe-res. Ao se falar desse distúr-bio é necessário ressaltar que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa é a segunda principal causa de suicídios no mundo.

Existem vários quadros de-pressivos, sendo leves ou gra-

ves. Essa tristeza profunda e mudança no humor, é tratável e conta com profissionais da saúde para ajudar.

E o que pode ser um auxílio durante todo esse tratamento é a convivência com um pet.

Entretanto, o veterinário Fe-lipe Cambruzz alerta que “ja-mais deve se usar ‘cãozinho’ como uma maneira de cura específica, o cão nesse caso vai atuar como um coadjuvan-te”, afirmando a importância do acompanhamento com os profissionais da saúde. O ani-mal não pode ter uma carga de responsabilidade sobre a cura, a pessoa não pode pro-curar por um pet, com o intui-to de se curar rapidamente, e perceber resultados positivos logo que se adota.

Segunda a psicóloga Victó-

ria Pádua, “os pacientes que fazem a TAA falam mais livre-mente sobre os afetos, facili-tando o tratamento”. A profis-sional conta com a ajuda de sua cadela Nina, que vem apre-sentando ótimos resultados, deixando a psicóloga satisfeita, além de trazer grandes bene-fícios aos pacientes. “A Nina é dócil e sua presença “desarma e serve como um quebra gelo.” Victória Pádua ainda ressalta que “o adolescente se interes-sa em saber sobre o cãozinho e acaba tendo muitas histórias para contar”.

A psicóloga Victória Pádua afirma que “pessoas deprimi-das apresentam grandes me-lhoras ao adotar um ‘amigo’. A rotina dessa pessoa muda muito. O foco da sua rotina sai do estado deprimido para as

Cadela Nina no consultório de sua tutora, a psicóloga Victória Pádua, aguardando por uma sessão de TAA

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Thiary Thais Silva, psicóloga clínica, especialista em terapia cognitivo-comportamental

Victória Pádua, psicóloga cognitivo-comportamental

atividades e responsabili-dades que ele terá com o cão. Sair pra passear, a facilidade na socialização, dar atenção (e até falar com o cãozinho), brincar, pentear o pêlo.

Essas situações que pare-cem pequenas, são grandes passos para uma pessoa com depressão”. A forma de cuidar e dar carinho ao animal, eleva a vontade de viver e de se tornar útil, já que pessoas com de-pressão perdem essa vontade de viver e poder fazer tarefas diárias.

Estudos sobre Zooterapia concluem que o animal é um estímulo para a pessoa que tem depressão e perdeu a von-tade de viver, pois o cão tem necessidades físicas de comer, beber e passear e o dono pre-cisa fazer isso.

Essa ligação entre ser hu-mano e animal é realmente algo que não se pode ques-tionar, onde um indivíduo pode totalmente viver e sentir que ele faz parte e é alguém tão importante em sua vida, quanto qualquer outro ser humano.

O psicanalista Harley-Te-nessee Busby, afirma que essa ligação sentimental “é praticamente indiscutível” já tem uma responsabilidade igual de um para com o outro. Harley ainda ressalta a frase de Leonardo da Vinci que diz “chegará o dia em que todo homem conhecerá o íntimo dos animais. Nesse dia, um crime contra um animal será

considerado um crime contra a própria humanidade”. Essa citação mostra o quanto um animal é importante para o ser humano.

E quando se fala sobre essa ligação em conjunto com a escolha de um pet e em como ele pode auxiliar na cura de um transtorno psicológi-co, é possível imaginar que um animal que foi vítima de maus tratos e rejeição tenha conexão com pessoas que em algum momento da vida sofreram abusos e traumas, dentre outras situações e que isso pode ter levado a tristeza, chegando a desenvolver um quadro de depressão.

Quando questionado sobre esse elo entre pessoas com problemas emocionais e os animais, se essa vivência com o pet pode trazer clareza de necessidade emocional, o psi-canalista Busby destaca que o ato de salvar um animal e res-gatá-lo, pode ser um meio de esconder situações traumáti-

cas e assim dizer com as ações “vou proteger você (animal res-gatado) porque não fui protegi-do”.

A psicóloga Thiary Andrade defende, a afirmação de que um pet faz que o seu dono te-nha disposição, segundo ela “os pets principalmente os ca-chorros forçam de forma natu-ralmente o exercício físico e a saída de casa pela necessida-de dos passeios fazendo que de certa forma força”.

O que ajuda o “paciente neutralizar um hormônio cha-mado Anedonia, esse hormô-nio quando a pessoa está com depressão neutraliza a capa-cidade das pessoas sentirem prazer em coisas que eram agradáveis”.

Então, como comprovado por meio de estudos e espe-cialista, o melhor é que com a ajuda de um profissional, bus-car como auxílio a companhia de um animal que vai retribuir com carinho e trazer benefícios à saúde e alegria ao lar.

Thiary Thais SilvaVictória Pádua

/SAÚDE

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Vida após adoção

Existem inúmeras histórias de superação. Diariamente, um ser humano em algum lugar do mundo está realizado um sonho, outro superou o fim de um rela-cionamento e tem os que pas-saram por doenças como cân-cer e estão saindo do hospital felizes por ter vencido uma luta.

Em cada caso de superação se encontra alguém que esteve lá ao lado dessa pessoas para ajudá-lo a passar pelo obstáculo. Agora, já pensou que diferente seria se o encarregado de ajudar uma pessoa a superar algo difícil fosse um animal? Pois, sim! Isso existe.

O animal é capaz de mudar a vida e rotina de uma família, dar alegria e promover o retorno da vontade de viver isso. Foi o que aconteceu com a família da Oe-nes Alves, designer de moda, que recentemente passou por essa reviravolta em sua casa.

Oenes tem o pai que foi diag-nosticado com mal de alzheimer. Ele se chama José Sebastião e que teve a vida transformada após adotar dois filhotes. O ido-so, que antes era muito calado, agitado e triste, passou a ser sor-ridente. Segundo a filha, “voltou a viver, conversar, sorrir e brincar. Além de melhoras na saúde, ele ficou mais ágil e calmo”.

A designer ainda relata que a adoção foi indicação do geriatra de seu pai, mas que ela não ti-nha “conhecimento da eficácia da ajuda” e que “amava a ideia, mas tinha medo de conseguir cuidar”. Os filhotes Beethoven e Lassie mudaram a rotina e a vivência en-tre pai e filha. Oenes ainda afirma que “a casa ficou mais alegre, com mais sorrisos” e que “é um verda-

Idoso José Sebastião com Beethoven

O técnico de futebol Reidner de Holanda teve sua vida modificada com a chegada do cão Bob

Reidner de Holanda

deiro remédio na forma de um ser maravilhoso que só sabe dar amor e carinho”.

Nesse caso, houve uma mu-dança no quadro depressivo que causa essa falta de vontade de viver e a mudança de humor para um comportamento de interação entre família e felicidade.

O técnico de futebol Reidner de Holanda teve sua vida modificada com a chegada do Bob, seu animal de estimação, que para ele tem o significado de “grande amigo”. Reidner estava em um momento difícil da vida, após uma decep-ção amorosa e ser tomado pelo sentimento de solidão e tristeza. Ele conta que de início não esta-

va ciente dessa escolha de ter um animal, mas que logo percebeu a importância dessa relação e fez até um pacto com o cão de que eles serão amigos para sempre.

O técnico afirma que toda sua rotina mudou. “Temos duas ativi-dades de passeio por dia. E interior-mente porque temos uma ótima relação e o fato de estar ao lado de alguém que vc tem a certeza que ele o ama e o respeita é prazeroso”. Uma vez que se cria um laço com um pet é para a vida toda. O animal gera em humanos um sentimento bom de alegria e satisfação. O que é valoroso para uma pessoa que está passando por ansiedade, so-lidão e depressão.

Oenes Alves Oenes Alves

Oenes Alves com a cadela Lassie

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Cuidados na hora de adotar

Para quem quer ter um ani-mal de estimação, uma boa dica é procurar uma entidade que cuida de animais em si-tuação de abandono e maus tratos. Existem centenas de-las espalhadas pelo Brasil. Um exemplo é o Abrigo dos Ani-mais Refugados – uma organi-zação não-governamental que foi adotada pelo Abrace uma Causa, projeto de responsabili-dade social dos cursos de Co-municação na UniAraguaia.

Estas entidades geralmente vivem de doações de pesso-as que se sensibilizam com a causa. Também é comum que elas realizem ações para le-vantar recursos. Estas ONGs vivem em prol dos bichos que são maltratados e abandona-dos. Além de resgatar e cuidar de animais, eles agem para que os animais resgatados sejam adotados por pessoas que es-tão em busca de um pet.

De acordo com a presidenta da ONG, Lívia Denise Camargo, a maioria das pessoas que pro-cura a instituição para adotar um animal é por motivos de so-lidão e depressão, ela também explica que essas pessoas não falam abertamente sobre es-ses motivos.

A presidenta do Abrigo de Animais Refugados fez um levantamento sobre os prin-cipais motivos que levam as pessoas a procurarem a enti-dade em busca de um animal

Daniel Strozzi, alergista e imunologista,especialista da Clínica Ymune

Bárbara Britto, Alergista e imunologista

para adoção. A pesquisa reve-lou que 60% são pessoas com problemas emocionais; 20% são pessoas que realmente querem tem um pet e 20% que querem o animal para brincar enquanto está filhote e depois abandoná-lo.

Para se adotar um pet na ONG primeiro é necessário se cadastrar e passar por uma tria-gem. Também é cobrada uma taxa de 40 reais que é para aju-

dar no próximo animal que for resgatado. Portanto, a adoção não é apenas uma iniciativa de ajudar um cão ou gato, mas um benefício também a sociedade. E como foi dito o ato de acolher um animal em casa gera senti-mentos de alegria e satisfação, os mesmos que a endorfina que é responsável por manter uma pessoa feliz, livrando da depressão, ansiedade e outros distúrbios mentais.

Logo, se tem em mente que a adoção de um pet é uma iniciativa incrível e que traz o sentimento de ter feito algo bom para o outro. E é verdade. Essa ação gera sentimentos positivos em uma pessoa com quadro de depressão e pode ser altamente benéfico para o adotante.

Entretanto, não basta ape-nas adotar um bicho sem pen-sar nas consequências, porque senão o animal pode ser nova-mente abandonado. Ao pensar em adotar um pet e ter alegria

Clínica Ymune Bárbara Britto

O psicanalista Harley-Tenessee Busby destaca a forte ligação emocional entre humanos e animais de estimação

Harley-Tenessee Busby

/SAÚDE

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em casa e na vida é importante analisar, que essa é uma deci-são que precisa ser feita com consciência e responsabilida-de. Dar o cuidado necessário ao animal é primordial.

Então, quando se preza por adotar, também é essencial en-contrar um animal que tenha características compatíveis com o dono. Por exemplo, se a pes-soa é calma e não pratica exer-cícios físicos, não é legal acolher um cachorro que é acelerado e cheio de energia, o ideal é que seja uma relação equilibrada.

Outra importante situação a se pensar, quando se procura por um pet é o espaço. Esco-

lher um gato seria mais viável para uma pessoa que mora em apartamento pequeno, do que um cachorro que com o pas-sar do tempo poderá crescer. É interessante que os dois sejam compatíveis.

A escolha de um animal que pode auxiliar nesse processo, não é tão fácil, pois ao pensar em trazer um bicho para casa, primeiro é necessário estudar toda a situação. Tanto de espa-ço, rotina e condição financeira. Outra questão relevante que é citado no estudo sobre TAA, é sobre expor pessoas alérgi-cas ao contato com animais. O alergista Daniel Strozzi afirma

que “o cachorro pode piorar uma alergia”.

Uma curiosidade é que al-gumas pessoas podem pensar que por conta do psicológico abalado, esteja apresentando sintomas de alergia e por isso não querer adotar um pet, com medo de piorar. Porém, como alergista e imunologista, Bárba-ra Britto explica “não existe uma doença emocional, que desen-cadeia uma doença alérgica”.

Ao pensar em quem já tem uma doença alérgica, Daniel Stro-zzi e Bárbara Britto tem a mesma opinião, que devido a alergia é melhor procurar um especialista antes de adotar um animal.

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/ENTREVISTA

Revista #Comunica! conversou com o vereador Zander Fábio que tem como prioridade a luta por animais em situação de abandono e maus tratos “É uma questão de saúde pública!”, dispara

ZANDER FÁBIO

Causa animal em pauta na política

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POR

DIEGO ARAÚJO e RENATA SOBREIRA

A terceira edição da revista #Comunica! traz a discussão sobre a causa animal, com enfoque nos animais abandonados e em situação de maus-tratos. A causa é defendida pela Comissão de Proteção, Direitos e Defesa dos Animais, criada em 27 de agosto de 2019, em Goiânia.

Ela busca conscientizar a sociedade sobre o bem-estar dos bichos. Também fiscaliza leis de proteção aos animais e promove campanhas para proteção e amparo. A iniciativa partiu do vereador Zander Fábio Alves da Costa, eleito em 2016, e presidente da Comissão. Dentre os membros também estão os vereadores Álvaro da Universo, Divino Rodrigues, Alfredo Bambu, Carlin Café e Emilson Pereira. Em entrevista, Zander Fábio falou sobre a importância do órgão parlamentar e sua atuação em parceria com a comunidade goiana. Também ressaltou a necessidade da posse responsável e de políticas públicas. “As dificuldades são tamanhas. Não existem políticas públicas ainda voltadas para a questão animal”, enfatizou. Dentre as prioridades do geólogo por formação, estão projetos que envolvem acessibilidade aos portadores de necessidades especiais, sustentabilidade e habitação. Além disso, ele também é autor de 40 projetos de lei na Câmara Municipal em prol da causa animal. O primeiro deles foi o hospital veterinário municipal de Goiânia, destinado aos animais domésticos, domesticados, nativos ou exóticos abandonados. A criação da Unidade de Bem-Estar Animal foi aprovada há quase dois anos, mas a reforma do local está em fase de licitação. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

/ENTREVISTA ZANDER FÁBIO

Como surgiu a Comissão?A Comissão de Defesa de Bem-Estar e Direito dos Animais surgiu depois de uma propositura minha, em virtude do meu envolvimento com a causa animal. Desde o primeiro dia, o meu mandato tem um percentual muito grande de tratativas com relação à causa animal. Então a comissão surgiu a partir desse momento, eu achei que nós deveríamos ter uma comissão permanente para discutir esse assunto e não ficar discutindo dentro da Comissão do Meio Ambiente.

De que forma o senhor se envolveu com essa causa e por que ela é uma prioridade do seu mandato?

Eu sou geógrafo de formação. O meu envolvi-

mento é um envolvimento antigo, sempre tra-balhei com a questão da proteção animal, por entender também que é um caso de saúde pú-blica e é prioridade no meu mandato. É claro que defendemos outras bandeiras, não deixa-mos de lutar, não deixamos de fazer o papel de vereador que é fiscalizar os atos do Executivo e também legislar.

O senhor é autor do projeto pelo primeiro hospital veterinário municipal de Goiânia, destinado aos animais domésticos, domes-ticados, nativos ou exóticos abandonados, aprovado há quase dois anos na Câmara Mu-nicipal. Qual a atual situação da unidade?

Sim, é o primeiro projeto apresentado por mim no dia 15 de fevereiro de 2013. A Unidade de

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/ENTREVISTA ZANDER FÁBIO

Bem-Estar Animal é um projeto amplo, já foi assinada inclusive a ordem de serviço, nós já passamos por todos os procedimentos técni-cos e administrativos e o hospital já é uma re-alidade, uma novidade aqui para o nosso Cen-tro-Oeste. Em breve, o hospital já estará com certeza iniciando as obras de reforma dessa primeira etapa.

Sobre os direitos e a legislação que prevê atos de abuso, maus-tratos ou mutilação de animais, é eficaz ou este ainda é um tema pouco explorado?

Com relação às leis que tratam de maus-tra-tos, abusos e de todas as formas de abuso, nós temos várias formas de abuso: desde quando você tranca, sai para viajar e deixa o animal dentro de casa fechado, mesmo que com co-mida e água; quando você está na sua casa, mas deixa o animal amarrado numa corrente pequena ou qualquer tipo de fio ou corda. Exis-tem vários tipos de maus-tratos. Infelizmente as leis ainda são muito brandas. Em meados deste ano, o Senado Federal aprovou que o animal não é coisa. Então passou a criminalizar de uma forma mais dura e severa. Nós espera-mos mais pessoas envolvidas. Hoje nós temos grandes lideranças no Brasil e em todos os Es-tados que fazem essa defesa e que tem tra-balhado diuturnamente para poder endurecer essas leis. Então, a gente vai tentando endu-recer até que a legislação criminalize de uma forma que seja digna e que possa atender aos anseios da sociedade e daquele que defende os animais.

Os direitos assegurados são fiscalizados na prática? Como a comissão tem atuado nesse sentido com a cobrança dessa fiscalização ou com a conscientização sobre os direitos?

Esse trabalho de fiscalização desses direitos funciona muito com denúncia, porque não tem como eu saber que um animal está sendo mo-lestado ou está sendo mal tratado dentro do muro, até porque eu não posso entrar lá. Por isso precisamos da denúncia. A criação da Co-missão Permanente na Câmara de Defesa e Direito dos Animais foi muito importante por isso, porque ela me dá condições de ser mais

um canal de denúncia para que a população possa fazer essa denúncia. E hoje com as mí-dias sociais isso ampliou muito. Mas eu sempre fiz esse trabalho aqui usando o meu telefone mesmo e as minhas mídias sociais e eu posso te garantir que eu atendo aí por dia mais de 20 denúncias todos os dias. E aquela que eu não consigo fazer no dia, eu no outro dia estou lá para ver se a gente consegue mitigar e mini-mizar ou até mesmo evitar que um mal maior aconteça.

Como a sociedade pode ter acesso ou con-tribuir com os trabalhos desenvolvidos pela comissão?

A sociedade pode contribuir muito. Hoje, como eu te disse, com as mídias sociais. E lá tem to-dos os canais, tanto os da Comissão de Defe-sa e Direitos dos Animais, da Proteção Animal, quanto meu número pessoal. É denunciando, é não aceitando, é denunciando também nas au-toridades. É claro que existe a Delegacia Esta-dual de Repressão a Crimes Contra o Meio Am-biente (Dema), que também atua nesse caso, a própria Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) que tem uma diretoria criada por nós lá. Eu criei um fundo para proteção animal, que parte dos recursos arrecadados com as mul-tas aqui de construções, são destinadas para o trabalho de proteção animal. Mas o trabalho mais forte mesmo é o trabalho individual que a gente faz lá na Câmara, atendendo no nosso celular, nas nossas mídias sociais. E junto com isso nós criamos um canal direto também para que quando essa denúncia for feita a gente já aciona a Guarda Civil Metropolitana (GCM) jun-to com a Ronda Ostensiva Municipal (Romu) e aqueles casos que são graves a gente tem agido de forma bem severa, para que o infrator não volte a cometer esse crime. Então existem várias maneiras.

Sobre a posse responsável e consciente de um animal de estimação, que garante aten-dimento as necessidades do animal e seu bem-estar. Há algum trabalho de conscien-tização voltado para isso na cidade?

Muitas vezes acha que está ajudando: você junta lá trinta, quarenta, cinquenta cachorros,

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“Não existem políticas públicas voltadas para a questão animal. Nós destinamos R$1 milhão para o hospital público veterinário e R$345 mil para a construção de um abrigo público. Porque nós temos mais de 150 mil animais em situação de rua em Goiânia”

/ENTREVISTA ZANDER FÁBIO

não dá comida, você está sendo um acumula-dor e está colocando a vida desses animais em risco. Então o trabalho é feito dessa maneira. Acho que a sociedade pode contribuir demais. Qualquer pessoa pode fazer uma denúncia. Se necessário for, uma outra autoridade fará essa visita in loco, para acompanhar essas ques-tões: se elas estão verdadeiramente aconte-cendo.

Como é o cenário de políticas públicas para a causa animal no município?

As dificuldades são tamanhas. Não existem políticas públicas ainda voltadas para a ques-tão animal. Nós destinamos R$1 milhão para o hospital público veterinário e R$345 mil para a construção de um abrigo público. Porque nós temos mais de 150 mil animais em situação de rua em Goiânia. É enxugar gelo. A gente vai fa-zendo a nossa parte, mas é enxugar gelo. As dificuldades são muitas e falta de conscienti-zação também. A gente tem um projeto de lei meu, já votado em primeira votação pela apro-vação, que proíbe a venda de animais em pet shops e similares, para que a gente possa esti-mular, para que a pessoa faça uma adoção. Ao invés de você comprar você adotar um animal que está em situação de rua. O hospital já é bem social, a pessoa não vai levar o hospital lá mesmo que tenha condições e pagar, ou pa-gar mais barato. Ele só vai ter condição de ter o seu animal atendido lá se ele tiver tido a ado-ção responsável e a posse responsável, com microchipagem, para não ter o risco também da pessoa adotar e depois abandonar.

A Organização Mundial da Saúde estima que só no Brasil exista mais de 30 milhões de animais abandonados, em sua opinião de que forma poderíamos reverter essa reali-dade? Há uma forma de a sociedade contri-buir ativamente nesse sentido?

Sim, esse número da Organização Mundial ele já caducou. Então nós temos hoje mais de 50 milhões de animais em situação de peregri-nação aí pelas ruas das cidades. Muitas cida-des já entenderam que só através do controle populacional, que é a castração, e essa é uma coisa que a gente tem trabalhado muito, e, na

minha opinião, é o que o hospital tem que fa-zer: o controle populacional, através da cas-tração, e a conscientização das pessoas, de não pegar o animal e depois só porque é bo-nitinho, passou uns dias, soltar o animal; não dar de presente, porque acha que é fofinho, e depois soltar o animal. Então, o principal foco é a castração e o controle populacional. Eu acho que a partir do momento que a gente fi-zer isso, a gente vai conseguir diminuir muito o número de animais na rua.

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/LEGISLAÇÃO

PLC 27/2018 em pauta

Entenda mais sobre o projeto que cria uma nova natureza

jurídica para os animais. A Revista Comunica! ouviu o autor da

proposta e o presidente da CPDA da OAB Nacional

Divulgação

O O Projeto de Lei da Câ-mara nº 27 de 2018 (PLC

27/2018), recentemente aprovado pelo Senado Fede-ral, criou uma natureza jurí-dica para os animais. Desse modo, eles deixariam de ser tratados como ‘coisas’, isto é, apenas um ser movente, e ganhariam o reconheci-mento jurídico como seres sencientes, ou seja, dotados de natureza biológica e emo-cional e, com isso, passíveis de sofrimento. Ainda que en-volto entre prós e contras – e não entraremos, aqui, em questões de mérito -, a ma-téria é considerada por am-bientalistas e defensores da causa uma conquista na pro-teção e defesa dos direitos

O deputado federal Ricardo Izar (PP/SP), autor do PLC 27/2018

POR

JÚNIOR KAMENACH e JULIANO MOREIRA

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dos animais. A reportagem da Revista

Comunica! ouviu o deputado federal por São Paulo Ricar-do Izar (PP), autor da propos-ta, sobre o tema. De acordo com ele, o texto original do PLC 27/2018 foi discutido amplamente com advogados que lutam pelos direitos dos animais em 2015, e instituía a proteção a todos os ani-mais domésticos ou silves-tres, sem exceção. Eles iriam possuir natureza jurídica sui generis, como sujeitos de direitos despersonificados, que podem gozar e obter tu-tela jurisdicional em caso de violação, sendo vedado seu tratamento como coisa. Con-tudo, conforme o deputado, por conta de a bancada ser ruralista, o texto foi alterado e preferiu se ter algum avan-ço nesse sentido do que em nada avançar.

“Mesmo com algumas de-cisões favoráveis aos ani-mais, é importante ter, no texto da lei, modificações para dar embasamento jurídi-co nos pedidos quando o di-reito dos animais for violado. Se não aceitarmos um proje-to especifista, não sabemos quando outro projeto favo-rável aos animais será apre-sentado, e tudo tem que ter um começo”, sustenta Ricar-do Izar. “Às vezes, achamos que estamos perdendo, mas, na realidade, estamos avan-çando, e, se o projeto não for aprovado, quem perde, infe-lizmente, são os animais, não os humanos”, acrescenta o parlamentar, lembrando que

o PLC 27/2018 segue em tra-mitação no Congresso.

DificuldadesAdvogado, biólogo e am-

bientalista, Reynaldo Velloso, presidente das Comissões de Proteção e Defesa dos Ani-mais (CPDA) da OAB-RJ e da OAB Nacional, também con-versou com a reportagem e disse compactuar com a opinião do deputado Ricardo Izar. Na avaliação de Velloso, na causa animal, cada passo deve ser dado de uma vez,

por conta da motivação polí-tica. O advogado acredita ser importante aprovar o que é possível e deixar um legado para as futuras gerações.

“A causa animal encontra muita dificuldade em todos os poderes, principalmente no Legislativo, porque, infe-lizmente, a população não sabe votar. O brasileiro sem-pre tem a mania de procurar um Jesus Cristo, tudo em última hora”, lamenta. “Re-comendo olhar quem está na causa animal no mínimo há cinco anos. Sem diálogo não aprova nada; no Plenário são cinco ou sete parlamentares a favor e 500 contra”, argu-menta Velloso.

Atualmente, o ambientalis-ta afirma que há três nichos de animais difíceis de serem incluídos em medidas de pro-teção: o primeiro, destinado às pesquisas, regulados pela Lei Sérgio Arouca; o segun-do, usado em corte, em que a interessada é a bancada ru-ralista no Congresso Nacio-nal; e, por último, os animais usados em rituais religiosos.

Segundo Reynaldo Vello-so, a existência de Comis-sões de Proteção e Defesa dos Animais é importante como forma de articulação, para facilitar o diálogo com o poder público e também com empresários, seja para conseguir alimentos e outros benefícios para as ONGs ou para dialogar sobre a legisla-ção. Por conta disso, ressalta, é de suma importância que cada Estado mantenha uma Comissão Especializada na área.

“Mesmo com algumas decisões favoráveis aos animais, é importante ter, no texto da lei, modificações para dar embasamento jurídico nos pedidos quando o direito dos animais for violado. Se não aceitarmos um projeto especifista, não sabemos quando outro projeto favorável aos animais será apresentado, e tudo tem que ter um começo”

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Foto: Bruno Marins

Garantia de direitos, facilidade de defesa e penas maiores para infratores

Ativistas dos direitos dos animais, que são contra a co-mercialização dos mesmos, elaboraram e publicaram Carta Aberta, na qual criticam diver-sos pontos do PLC 27/2018. Dentre eles, apontam que, “com a sanção do projeto, os cães e os gatos não adquirem absolutamente nenhum direito e proteção adicional, além dos já existentes (vedação à cruel-dade e proteção legal quando sofrem maus-tratos), perma-necendo na condição de ‘coi-sas’ comercializáveis, refor-çando exatamente aquilo que intenciona combater em sua justificação: a ideia utilitarista”.

Para o deputado Ricar-do Izar, autor da matéria, o pro-jeto não é contraditório, pois visa estender direitos que eles ainda não possuem. Ele justifica que, atualmente, os direitos são mínimos e não dão garantias de bem-estar e nem de combate à

crueldade. O parlamentar refor-ça, ainda, que os crimes prati-cados contra os animais pos-suem uma pena branda, mas o projeto propõe mudanças sig-nificativas no âmbito criminal.

“Todos os dias, animais são mortos, espancados, aban-donados e nada acontece. Não temos garantias reais de pro-teção, e, sim, mera suposição. São inúmeros os relatos de maus-tratos e agressões que os animais sofrem. Com a apro-vação do projeto, os animais te-rão reconhecidos sentimentos, serão legalmente vistos como seres passíveis de sofrimento e emoção, o que dará a eles mais defesa jurídica nos casos de maus-tratos, já que não serão mais considerados ‘coisas’”, de-fende Izar.

“Tirar o animal da condição de ‘coisa’, como o artigo 82 do Código Civil prevê, facilitará a defesa dele. É mais fácil defen-

der um ser vivente e sensível do que defender uma cadeira ou uma mesa, por exemplo”, concorda o advogado e am-bientalista Reynaldo Velloso, presidente da Comissão de Proteção e Defesa dos Animais da OAB Nacional. Para ele, outra vitória da causa, com a aprova-ção do PLC 27/2018, é o fato de o projeto tirar os maus-tratos do Juizado Especial, que tipifica o crime em menor grau, para a Vara Criminal, que dá a chance de aplicar maiores penas ao in-frator.

O texto do PLC 27/2018 já foi aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, mas retornou à Câmara por conta de novas emendas. Portanto, segue em tramitação no Con-gresso Nacional. Só depois irá para sanção ou veto do Poder Executivo, do presidente da República, antes de, enfim, se transformar em lei.

Reynaldo Velloso, presidente da CPDA da OAB Nacional: “Tirar o animal da condição de ‘coisa’ facilitará a defesa dele. É mais fácil defender um ser vivente e sensível do que defender uma cadeira ou uma mesa, por exemplo”

/LEGISLAÇÃO

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/SAÚDE

Lambedura excessiva, com-portamento agitado, irrita-

ção e até mesmo automutila-ção – morder o próprio corpo – são alguns dos sintomas da ansiedade ou depressão cani-na. Atualmente, o número de animais de estimação em resi-dências cresceu muito. Muitas famílias brasileiras têm um pet em casa. Segundo os núme-ros apresentados pelo Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2019, cerca de 54,2 milhões de cães já faziam parte de alguma fa-mília em todo o País.

Muitas vezes, os pets são tratados como filhos e nem

POR

KETHLLEN BIANCA eEULER MORAES

Depressão e ansiedade ameaçam saúde de petsAssim como os humanos, os animais de estimação também podem sofrer distribuídos mentais

sempre como cães de guarda. Existe uma grande humani-zação dos pets e eles passam a ter dependência emocional cada vez maior de seu tutor. Isto faz com que o animal fi-

que cada vez mais apegado ao dono e qualquer situação que abale ou altere sua rotina, desencadeando essas altera-ções no seu comportamento.

A depressão e a ansiedade

1

Fernando Boeira com seu pet Bolota, que sofre de ansiedade

Fernando Boeira

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• Lambedura excessiva das patas.• Comportamento eufórico. • Necessidade de urinar em lugares que não pode.• Perda de apetite.• Automutilação com as patas.• Perda ou ganho de peso.

2

nos cães e gatos podem ocorrer assim como nos hu-manos. São transtornos de ordem psíquica que levam a uma alteração do estado emo-cional dos pets, tornando os mais vulneráveis e sensíveis. Segundo a veterinária Liliane de Oliveira, uma das causas da ansiedade e/ou depressão pode ser mudança na rotina ou até mesmo a chegada de no-vos membros na família. “Uma mudança brusca na rotina dos animais, falta de passeio ou caminhadas pode ser um dos motivos, em alguns a chega-da de uma bebê na família ou até de outro pet faz com que o animal se sinta abandonado. ”

O veterinário Thiago Augus-to Lourenço explica como de-vem ser os cuidados para evi-tar com que os pets tenham ansiedade. “Basicamente os mesmos para o ser huma-no, alimentação boa, exercí-cios físicos e brincadeiras. E, se notar um comportamento diferente chamar um espe-cialista em comportamento animal.”

Mas, como identificar se meu pet sofre depressão ou ansiedade? “Os pets podem apresentar sinais e sintomas de ansiedade de diversas for-mas. Assim como humanos, eles podem aumentar ou di-minuir o consumo alimentar, latir mais, arranhar portas e outros objetos, ficar se lam-bendo, fazer automutilação, se tornar agressivos e etc. Já observamos animais ansiosos por conta do tutor que tam-bém é ansioso”, esclarece o veterinário.

O veterinário Thiago Lourenço alerta: pets deprimidos apresentam os sintomas

Thiago Augusto

Sintomas da doença

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Quando o animal apresenta depressão

A estudante e fotógrafa Mil-lene Rocha, de 18 anos, conta que não tinha muito conhe-cimento desse distúrbio e por conta disso não procurou um especialista para tirar suas dú-vidas sobre o que estava acon-tecendo. “Nunca tinha escu-tado falar, só me liguei depois que não tinha mais jeito, que eu descobri que isso existia”. Millene relata que o cachorro começou a ficar agitado, mu-dar de atitudes em um curto espaço de tempo, como por exemplo dormir demais e de-pois não querer dormir.

“Os sintomas do meu ca-chorro foram destruir tudo, fi-car só querendo dormir, depois ao contrário, não queria dormir. Começou a fazer xixi em luga-res que não fazia antes, comia tudo que via pela frente e sol-tava muita saliva”, descreve. Com o passar do tempo, o ca-chorro passou a se alimentar pouco, estava quieto demais, dormindo bastante e não in-teragia mais com os familiares como de costume. Apresentou os sintomas mais acentuados por uma semana e morreu.

O museólogo e estudante de Jornalismo Fernando Bo-eira conhece bem o problema.

Ele conta que seu cão chama-do Bolota, de 8 anos, estava lambendo muito as patas e ficando ofegante com facili-dade. “Pela manhã, ele corria pelo apartamento sem parar e o coração ficava muito ace-lerado ”. Ao perceber as mu-danças no comportamento de Bolota, Fernando levou o cão à veterinária para averiguar a si-tuação para saber os motivos de tais mudanças. “Ela o diag-nosticou com ansiedade. Des-de então dou o floral pet a ele, de modo que ele fique mais calmo e não fique tão sedento por comer fruta o tempo todo.”

Além de ministrar o floral pet para o cão, o que o acalma, o estudante de Jornalismo mu-

dou a rotina e agora passa mais tempo com o animal do que antes. “Tenho que passear com o Bolota em um horário que não haja muitos cães na praça, pois com a presença deles, meu cachorro fica Irrita-do, mas cuido disso da melhor maneira que posso ”.

Assim como os humanos os animais também precisam de distração e a veterinária Lilia-ne de Oliveira sugeriu algumas delas. “Passear com o seu cão e procurar ter uma rotina dife-rente com ele, brinque e faça atividades que estimule no seu comportamento. O uso de medicamento só pode ser uti-lizado com a orientação de um profissional”, alerta.

A veterinária Liliane de Oliveira orienta: os pets precisam de distração

Viviane de Oliveira

/SAÚDE

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/BEM-ESTAR

Reciclando Patas. Esse é o nome do projeto que nas-

ceu no final de 2016, quando o seu idealizador, o servidor público André Gondim, com seu coração solidário, come-çou a mudar a vida de ani-mais e tutores em Goiânia.

André viu, em uma rede so-cial, uma protetora pedindo ajuda para comprar uma ca-deirinha de rodas para uma cadelinha atropelada, e, ao saber o preço do produto, resolveu, ele mesmo, fazer a cadeirinha.

Na virada de 2017, André decidiu que faria mais cinco cadeirinhas por mês e que elas seriam doadas. Em um mês, porém, não foram ape-nas cinco, mas 31 pedidos; e, todos, atendidos. “Em três anos, atendemos exatamen-

POR

GEOVANNA VERÔNICA e PEDRO LEITE

Próteses: Projeto beneficente fabrica e doa cadeirinhas de rodas em Goiânia; animais especiais têm adoção mais difícil

uma nova chance para animais que não conseguem andar

Divulgação/Reciclando

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Projetos como o Reciclando Patas e outros, semelhantes, são mais do que necessários, pois as próteses são, em geral, caras e, quando doadas, elas chegam a animais necessita-dos, proporcionando-lhes uma nova possibilidade de viver uma vida normal.

Lívia Denise Passos, uma das responsáveis pelo Abrigo dos Animais Refugados, conta que, no local, alguns cães que não se locomovem e outros, com AVC (Acidente Vascular Cerebral), precisam de banhos recorrentes, fraldas e tapetes higiênicos para o seu bem-es-tar.

Quando perguntamos se há dificuldade na adoção desses animais, a resposta é positi-va, infelizmente. “As pessoas vêem dificuldades porque eles não andam”, afirma, citando, como exemplo, uma cadeli-nha cega, que encontra-se no abrigo desde filhote e nunca foi adotada por causa da ne-cessidade especial. “Um único caso que deu certo foi de uma voluntária que adotou um ca-chorro atropelado que ficou

sem andar. Já tem três meses que eles estão juntos, mas ne-nhum dos outros teve a mes-ma sorte”, lamenta Lívia.

“Geralmente eles ficam em lugares com piso, pois, ao se arrastarem em lugares de ter-ra, eles acabam se ferindo”, acrescenta Bruna Teixeira, vo-luntária do Santuário São Fran-cisco de Assis. Segundo ela, o acompanhamento com mé-dico veterinário é quase sem-pre necessário, principalmente quando os animais estão em tratamento. Muitas vezes, po-rém, o abrigo não tem condi-ções de arcar com os custos e acaba prevalecendo a expe-riência que os próprios volun-tários e protetores tiveram nos cuidados com outros animais.

“Ninguém quer adotar um bicho que dá trabalho e gera custos, como fraldas e tapete higiênico, acompanhamen-to com veterinário ... A maioria das pessoas não quer ter gas-tos. Nem trabalho”, arremata Bruna.

Para ajudar, de alguma for-ma, a ONG Reciclando Patas, ligue (62) 9 9312-1350.

Animais com deficiência encontram dificuldades no processo de adoção

te 989 animais. Nosso desafio, agora, é atender outros 600 pedidos, mas ainda precisamos de aju-da na mão de obra, afir-ma.

O projeto – que ficou na-cionalmente conhecido durante participação no quadro The Wall, do pro-grama Caldeirão do Huck, exibido pela Rede Globo (foto) – consultou vete-rinários para saber como os animais se adaptam às próteses. A adaptação, assim como nos huma-nos, deve ocorrer desde o processo cirúrgico, com a amputação, e o prepa-ro cirúrgico do membro residual (coto), além de fisioterapia e exercícios controlados.

A introdução da próte-se é lenta e gradual, ini-ciando com uma hora por dia. A função da prótese é mimetizar a porção am-putada do membro mini-mizando as chances de o animal ter alterações posturais e machucados na base do seu coto, den-tre outras comorbidades.

Em todo esse proces-so, as inquietudes dos animais são normais, por isso são necessárias ava-liações periódicas para avaliar tanto a prótese quanto o animal. Com o passar do tempo e com os ajustes na prótese, o animal vai se adequando, daí o fato de a dessensi-bilizarão do coto e a fisio-terapia serem tão impor-tantes.

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O Plenário do Senado apro-vou, em agosto de 2019,

projeto de lei que cria um re-gime jurídico especial para os animais. Pelo texto (PLC 27/2018), os animais não po-derão mais ser considerados objetos. Criado pelo deputado Ricardo Izar (PP-SP), o proje-to estabelece que os animais passam a ser sujeitos de direi-tos despersonificados, passan-do a serem reconhecidos como seres sencientes, ou seja: con-templados de natureza bio-lógica e emocional e também passíveis de sofrimento. Com isso, os animais ganham uma defesa jurídica maior em caso de maus-tratos, já que não são mais considerados como coisa e, sim, seres passíveis de sen-timentos. Relator do projeto na Comissão do Meio Ambiente (CMA), o senador Randolfe Ro-drigues (Rede-AP) destacou, em seu parecer, que outros países já adotam uma posição parecida, como Portugal, Es-panha, Nova Zelândia e França.

E você, o que pensa a res-peito? Se tem um animal ou já teve contato com algum, deve

POR

LETÍCIA RENATA e MATEUS MARQUES

Projeto aprovado pelo Senado estabelece que animais não poderão mais ser considerados objetos; tutores acreditam em demonstração de sentimentos

Seres sencientes/xxxxxxxxxxxxx

Claire, a cadelinha da professora Josenilda: quem vai dizer que ela não está pedindo carinho?

/COMPORTAMENTO

Arquivo pessoal

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O cãozinho Piti, da protetora Bruna Teixeira, chegou a enfrentar um processo depressivo quando ela perdeu o pai, de quem o bichinho era muito próximo

saber que o comportamento pode ser uma das formas de os bichinhos demonstrarem os seus sentimentos. No geral, os sinais não verbais usados por cães são os mesmos entre to-das as raças, mas podem variar de acordo com cada animal. O rabo, por exemplo, é o principal aspecto de como eles expres-sam emoções, como medo e alegria. A diferença está na in-tensidade e na forma do mo-vimento. Se o rabo inteiro se movimenta de um lado para o outro, é um sinal de muita ale-gria. Já as lambidas expressam amor e gratidão. Os cachor-ros só irão lamber quem eles gostam muito. Outra demons-tração é quando o cão segue seu dono: isso indica que ele o vê como seu líder e que adora muito a sua companhia.

Os cérebros dos chimpanzés, golfinhos e baleias possuem cé-lulas fusiformes. Esses animais podem agir como seres huma-nos, mas não significa que eles têm sentimentos. Experimen-tos com macacos mostraram um comportamento que são parecidos com o dos humanos. Os chimpanzés confirmaram o que parecia ser altruísmo, aju-dando a própria espécie e até mesmo outras espécies, sem a espera de uma retribuição.

Josenilda Leite da Silva, pro-fessora de 45 anos, relata que percebe perfeitamente a de-monstração de sentimentos de sua cadelinha Claire. Ela diz identificar como o animalzinho se sente por causa da convi-vência. “Ela é uma cadela muito elétrica; os dias que ela fica mais na dela já é de se perceber que algo não está certo. Quando

sentamos no sofá, ela costuma colocar a patinha na nossa per-na para nos chamar a atenção, e muitas vezes fica esfregando na gente pedindo carinho”. Ana Carolina Lima de Oliveira, uni-versitária, de 19 anos, acredi-ta que os animais são, de fato, seres sencientes. Ela é dona de Princesa e Floquinha, uma ca-chorrinha e uma gatinha, res-pectivamente. De acordo com Ana Carolina, sua cadela expõe seus sentimentos pelo carinho e pela brincadeira; já a gatinha expõe sentimentos com maior expressividade quando fica chateada com alguma atitude dela que a desagrade.

Os animais ganham uma defesa jurídica maior em caso de maus-tratos, já que não são mais considerados como coisa e, sim, seres passíveis de sentimentos

Arquivo pessoal

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Ana Carolina e sua cachorra Princesa. A estudante também é tutora da gatinha Floquinha

Com a palavra, os protetores

Lívia Denise Camargo Pas-sos dirige o Abrigo dos Ani-mais Refugados e, com toda a sua vivência, de duas déca-das lutando pela causa ani-mal, confirma que os animais possuem sentimentos, sim, mas há exceções na forma com que se expressam. Na avaliação dela, alguns podem não demonstrar sentimentos porque já sofreram muito e não têm a mesma confiança que outros. “Os animais têm sentimento até a mais, o ser humano é que não percebe isso”, sentencia. “Tudo vai de-pender da personalidade de cada animal”.

Bruna Teixeira é voluntá-ria da causa animal e relata a forma como o cãozinho Pití demonstra a falta que sente do pai dela, falecido há qua-se 12 anos. “Na época em que meu pai estava vivo, o Pití era um filhote dócil. Eles viveram juntos por seis meses. Após a morte do meu pai, o Pití fica-va só embaixo da cama dele e não queria comer; emagreceu muito pela falta de apetite”, lembra Bruna. Após ser levado ao veterinário, o bichinho foi diagnosticado com depressão. Com tratamento adequado e uma nova rotina, Pití foi me-lhorando e se recuperou.

Também ativista da causa e protetora independente, Tânia Maria Nunes Padilha não ape-

/xxxxxxxxxxxxx/COMPORTAMENTO

nas confirma os sentimentos dos animais, mas os declara como seres inteligentes, levan-do em consideração as limita-

ções de cada raça. Na opinião dela, se não forem os mesmos sentimentos experimentados por seres humanos - de amor, tristeza, alegria, dor, depressão, estresse e outros – são, no mí-nimo, semelhantes.

“Os animais não devem ser tratados como coisas, a exemplo do que, infelizmen-te, ocorre nas mais diversas e diferentes situações de injus-tiça contra os bichos”, avalia Tânia, destacando que, para ela, animais não deveriam ser usados como cobaias em pesquisas e experimentos. A protetora faz uma ressalva quanto ao PLC 27/2018: nem todos os animais foram con-templados pela proposta. “Os animais destinados à produ-ção agropecuária ficaram de fora dessa medida protetiva”, lamenta.

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

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Ainda existem pessoas dis-postas a fazer o bem. É

com essa frase que iniciamos nossa matéria. Fomos em busca de protetores e também donos de animais que dedi-cam parte de suas vidas aos cuidados desses seres tão ino-centes e frágeis. Contaremos quatro histórias emocionantes para mostrar como existem pessoas que, mesmo diante de diversas dificuldades, re-servam parte de suas vidas à proteção de animais indefesos e desabrigados; conhecemos também donos de animais que deles cuidam com muito amor e carinho e recebem de volta, em dobro, por parte dos bichinhos, tudo o que empe-nham nesses cuidados. Em nossa busca, ouvimos quase que de todas as fontes que a sensação de gratidão no olhar

desses animais é imensa e, sem dúvida, trata-se de amor verdadeiro, incondicional.

Nossa primeira personagem é Emanuelle Amorim Elias, de 35 anos, dez dos quais dedi-cados à proteção de animais em situação de abandono. Ela diz já ter perdido as contas de quantos foram os resgatados até hoje. Geralmente, quando os animais chegam até ela, estão debilitados e doentes, e, com todo amor, carinho e mui-to esforço, a protetora conse-gue recuperar a maioria. “Faço tudo de forma independente, não há ajuda financeira gover-namental, por exemplo. Por já ser conhecida nesse meio e ter contato com vários médicos veterinários, consigo algum desconto no atendimento dos animais, mas isso nem sempre acontece”, relata.

POR

NAYÚ FERNANDES e PLÍNIA FERREIRA

A convivência com animais deixa marcas profundas na

vida dos seres humanos. É

impossível não se emocionar

com os relatos de quem, de alguma

forma, escolheu amá-los

Quatro histórias

de amor

/COTIDIANO

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Animais resgatados (como a cadelinha desta foto) são capazes de demonstrar imensa gratidão por seus donos, dizem os tutores

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Emanuelle lembra um dos ca-sos que chegou até o seu co-nhecimento por meio de uma rede social: uma cadelinha com histórico de câncer, um tumor já em estágio avançado. A proteto-ra afirma que foi necessário fazer rifas para cobrir toda a despesa hospitalar e os exames da ca-chorrinha. “Ela estava bem de-bilitada, tinha o olhar triste, sofria bastante com o tumor no abdô-men”, recorda. Na maior parte dos casos, logo após a recuperação, Emanuelle disponibiliza o animal-zinho para adoção, mas nesse, em específico, ela fez diferente: preferiu manter a cadelinha aos seus cuidados, já que a saúde dela estava bem fragilizada.

“Hoje ela está recuperada e mais feliz do que nunca”, conta Emanuelle, mostrando fotos da cadelinha, que, além de adorar uma câmera, brinca com os filhos da cuidadora, alegra a casa e é um dos xodós da família - realidade bem diferente de quando chegou.

Sem ajuda do poder público ou de instituições privadas, os pro-tetores de animais contam com a solidariedade para seguir na sua missão. Além das rifas e leilões feitos frequentemente pelas re-des sociais, protetores e simpati-zantes da causa estão sempre se ajudando com relação à comida e medicamentos, de forma inde-pendente, e acabam se ampa-rando mutuamente.

AbandonoEmanuelle Elias lamenta que,

infelizmente, ainda existam pes-soas que se disponham a adotar animais para abandoná-los mais

Solidariedade

A cadelinha com um tumor, com saúde frágil, resgatada pela prote-tora Emanuelle Elias, acabou permanecendo com ela e sua família. Recuperada, virou o ‘xodó’ da casa

tarde ou, então, para não ofere-cer os devidos cuidados que eles precisam - uma prática, segundo a protetora, cada vez mais co-mum, e que atrapalha o trabalho de quem faz os resgastes e aco-lhe os animais. “Esses animais acabam voltando para os abrigos muitas vezes mais debilitados que antes. As pessoas devem ser conscientizadas para não te-rem isso como prática. Afinal, um animal não é como um brinque-do descartável, não é uma coisa, que, quando não queremos mais, simplesmente jogamos fora”, ar-gumenta.

“Na realidade, muita gente, ao adotar alguns desses animais dos abrigos, vendo como estão bem cuidados e bonitos, não imaginam o trabalho que podem ter para mantê-los da melhor for-ma possível. Com isso, acabam cometendo o crime de abando-no de animais previsto no artigo 32 da lei 9.605/98, cuja pena vai de 3 meses a 1 ano de detenção e cabe multa. Ainda assim, acho que a pena é branda e pouco aplicada nesses casos”, completa Emanuelle, pincelando detalhes importantes da atual legislação.

EspeciaisEm sua trajetória como pro-

tetora, ela conta, ainda, ser fre-quente receber animais com necessidades especiais. Atual-mente, por exemplo, mantém, sob seus cuidados, um cachorro com deficiência visual. Se enga-na, porém, quem acredita que isso o limita a fazer alguma coisa: o cãozinho tem o faro muito agu-çado, uma vida agitada, é esper-to, animado e brincalhão. Adora brincar com bolinhas. “Sempre que jogamos uma bolinha ele consegue encontrá-la rapida-mente e quer brincadeira! É um grande exemplo de superação e lição de vida para nós; a cada dia aprendemos mais com esses se-res de luz”, derrete-se a protetora.

Com o aumento do número de animais abrigados, Emanuelle Elias precisou alugar outro imóvel para acolher melhor os bichinhos e abriu mão de morar em uma casa própria, que dividia com os pais. Mas diz não se arrepender, porque, assim, consegue manter a missão que escolheu para si, de proteger e salvar animais desa-brigados.

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Humana de estimação

Gatos. Essa é a grande pai-xão da universitária Sanmari Ferreira. Com uma boa quanti-dade de mascotes no currículo, hoje em dia ela é a “humana de estimação” de Ariel e Mafal-da, com os quais afirma man-ter uma relação muito feliz em casa, “principalmente se eles estão de bom humor”.

A tutora dos bichanos lem-bra que, logo na chegada de Ariel, chegou a fazer o papel de “mãe felina” para manter o gatinho – ainda bem pequeno – confortável. “Todos os dias eu passava gaze umedecido em água morna nos olhinhos do Ariel, para ele abri-los, e sobre o seu corpinho, para simular as lambidas da mãe”, recorda, nostálgica.

Sanmari garante que cada um de seus gatinhos possui sua personalidade e suas ca-racterísticas, únicas; e que demonstram temperamento e humor diferentes. Segundo ela, apesar de, hoje, os dois animais conviverem em harmonia, as-sim que Mafalda chegou, Ariel sentiu-se enciumado. “Anali-sando bem, ele deve ter pensa-do que iria perder seu posto de filho único”, avalia a estudante. “Demorou alguns meses, mas, no fim, ele acabou entendendo que precisaria aceitar a irmã”, acrescenta, ensinando que, “como gatos são territorialistas, o ciúme de seus donos com

Mafalda e Ariel, segundo a “humana de estimação”, têm personalidades e características diferentes, únicas

A universitária Sanmari Ferreira e o seu ‘filhote’ preto, Ariel: ela conta que chegou a bancar uma “mãe felina” para manter o gatinho confortável

/ COTIDIANO

outros animais, e até mesmo a presença de outros gatos no mesmo ambiente, podem cau-sar comportamentos rebeldes, até que haja uma compreensão da nova rotina”.

Ariel e Mafalda não são dois “anjinhos comportados” – como ressalta a tutora Sanmari. “Nos dias em que os dois estão mais agitados, coloco algumas táticas em prática para fazer com que entendam que o que estão fa-zendo é errado. E eles entendem”, assegura. “De qualquer forma, sou muito grata por tê-los. É um amor imenso”, sublinha.

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Seis anos de entrega

Tânia Maria Nunes Padilha, advogada, dedica-se à causa animal há seis anos. Começou abrigando animais resgatados em sua casa, mas percebeu que, por problemas particula-res, e por esse tipo de frente, na luta e na proteção aos animais, exigir muito mais do que pode-ria dar, buscou outras formas de seguir adiante. De forma independente, passou a reunir grupos de amigos e conheci-dos e viabilizar ajudar financeira para abrigos e protetores para a compra de ração, medica-mentos, material de limpeza e pagamento de consultas e internações em clínicas vete-rinárias.

Sozinha, ela recolhe as doa-ções, faz as compras e realiza os pagamentos necessários, sempre com a preocupação de fotografar e fazer vídeos para prestar contas aos colaborado-res. “Infelizmente, as doações têm diminuído e, com isso, hoje, só consigo ajudar um único abrigo em Goiânia, com doa-ções de cestas básicas men-sais, rações, vacinas e vermífu-gos”, lamenta a voluntária.

BobEm sua trajetória de apoio à

causa, Tânia tem muitas histó-rias para contar. E algumas ain-da a fazem chorar – como a do cãozinho Bob. “Ele foi atrope-lado no dia 9 de dezembro de

Tânia e o cãozinho Bob em de-zembro de 2018, quando ela o resgatou, vítima de um atrope-lamento

Bob ainda em recuperação, na clínica veterinária: sem socorro, o animalzinho precisou amputar uma das patas da frente

2018. A pessoa que o atropelou parou o carro e foi até o animal. Pensei que fosse dar socorro, já que o cachorro gritava de-mais pela dor que sentia. Mas, pelas câmeras, vi que a pessoa responsável pelo atropelamen-to evadiu do local sem prestar nenhum socorro. Ou seja: esse cão ficou aos gritos na calça-da! Não suportei: fui até o local, resgatei e levei para a clínica veterinária onde meus cães são tratados”, recorda.

Segundo Tânia, pelos feri-mentos sofridos com o atro-pelamento, foi “praticamente um milagre” o animalzinho ter sobrevivido. Bob teve toda a

assistência na clínica, sofreu dias de muita dor, e, infeliz-mente o quadro evoluiu para a amputação da pata dianteira esquerda – isso, além de uma fratura da pata dianteira direi-ta e vários cortes profundos pelo corpo. “Mas ele sobre-viveu, tem uma vida limitada com três patas, sim, porém, foi adotado por uma senhora de 78 anos, é amado e tem um lar onde recebe todo o carinho necessário para viver feliz e protegido”, relata a advogada, que acabou adotando Bob, de certa forma: “Minha mãe ficou com ele e eu cuido dele para ela”.

/ COTIDIANO

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Para sempre Moby

O primeiro cachorro da vida de Iris Pereira, de 20 anos, se chamava Moby. O cão, da raça Golden Retriever, foi se tor-nando seu maior companhei-ro e, com o passar do tempo, tornou-se também parte de sua família. De porte grande, de pelos dourados e com uma cara de quem sempre estava aprontando, Moby com certeza era o animal mais atrapalhado do mundo. Apesar de ‘bagun-ceiro’, somou grande impor-tância na vida de sua irmã, que sofria com depressão.

“Era visível o quanto minha irmã melhorava e esse proces-so de recuperação aproximou--a também do Moby. As crises de ansiedade e de pânico dela foram sendo amenizadas pelo carinho e atenção que ela dis-pensava ao Moby e pelo ao amor dele por ela”, conta Iris.

Dias se passaram e as duas irmãs decidiram presentear o cão com o primeiro banho em um pet shop. No estabeleci-mento, no ato do banho, Moby - que nunca havia sido acostu-mado a pet shops - sofreu um ataque cardíaco e não resistiu. Iris e a irmã ficaram desoladas ao saberem que o companhei-ro querido não voltaria mais para a casa ... Mas ele perma-nece – e permanecerá eterna-mente – vivo, fazendo festa no coração das meninas.

O Golden Retriever Moby

foi o primeiro companheiro de quatro patas da vida de Iris e de

sua irmã

Iris Pereira e Moby em um dos inesquecíveis passeios antes de o cão sofrer um ataque cardíaco durante o banho em um pet shop. Ele não resistiu

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/ SAÚDE

Segundo a Organização Mun-dial de Saúde (OMS), cerca de

300 milhões de pessoas sofrem do transtorno de depressão no planeta e afeta 11,5 milhões de brasileiros. Com base nos dados da OMS a quantidade de casos de depressão aumentou em 18% em 10 anos. O Brasil é campeão de casos de depressão na América Latina, com quase 6% da popula-ção país e tem a maior prevalên-cia de ansiedade no mundo: 9,3%. A depressão é um fruto de uma complexa inter-relação de fato-res sociais, psicológicos e bioló-gicos. Pessoas que passam por eventos adversos durante a vida, como desemprego, luto, trauma psicológico, são mais suscetíveis a desenvolver depressão.

Diante dos números alarman-

POR

SAMARA VEIGA e THOMAS SALES

Terapets: cães como agentes de cura

Cinoterapia ou TAA: pets auxiliam no tratamento à depressão

Ana Carolina Marega: “Deixemos de lado o capacitismo e conside-remos o potencial de expressão da subjetividade humana.”

Parceria das doutoras Kellen Oliveira e Alessandra Naghettini no projeto TAA/UFG

tes, a Cinoterapia, também cha-mada de Terapia Assistida por Animais (TAA), surge como um tratamento auxiliar para diversos tipos de doenças e comprovada-mente desencadeadora de “bem--estar, saúde emocional, física, social e cognitiva” em pacientes psiquiátricos, hospitalizados e idosos moradores de instituições.

“Globalmente, apenas meta-de dos que necessitam de tra-tamento psiquiátrico recebem ajuda”, afirma Nadége Herdy, psi-quiatra da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo. As princi-pais causas de suicídio no mun-

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do são quadros depressivos.De acordo com a psicóloga Ana

Carolina Marega: “Não somente a depressão, mas outras doenças e traumas são tratáveis com a TAA. A mesma é um complemento importante associado aos trata-mentos tradicionais, essa forma de intervir tem por objetivo o de-senvolvimento físico, psíquico social de quem faz o tratamento”.

Popularmente conhecida como pet terapia, atualmente, em Goiás a terapia é feita pela Faculdade de Medicina junta-mente com a Escola de Veteriná-ria e Zootecnia (EVZ), ambas da Universidade Federal de Goiás, como parte da implantação do Programa de Atividade Terapia Assistida por Animais em Goiás. O projeto teve início em 2017, no Hospital das Clínicas da UFG.

As coordenadoras do projeto são as médicas veterinárias Kel-len Oliveira, doutora pela Univer-sidade Estadual Paulista (Unesp), e Alessandra Naghettini, doutora pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), do núcleo de TAA (EVZ/UFG). Elas contam que o projeto surgiu da iniciativa de uma estudante do curso de me-dicina veterinária.

“Como tenho amigos na Fa-culdade de Medicina da UFG, procurei uma que é docente na pediatria, conversamos sobre o projeto, se havia possibilidade de implantar dentro da ala pediátri-ca do HC. Então, escrevemos o projeto, cadastramos como uma ação de extensão da Escola de Veterinária e Zootecnia da UFG. Fizemos muitas reuniões com a equipe do HC para autorização. E, como não sabíamos a aceitação do projeto, indicamos somente a ala pediátrica do hospital. Hoje

realizamos as visitas em vários hospitais em Goiânia em alas tanto pediátricas quanto adulta”, comemoram.

Elas ainda explicam que os procedimentos padrões para adaptar a presença dos pets den-tro do hospital parte inicialmente da aceitação da equipe médica, assistência social, psicólogos e demais colaboradores dos hospi-tais, juntamente com a comissão de infecção hospitalar.

A coordenação do projeto faz visitas e reuniões prévias nas dependências do hospital, expli-cando o objetivo e procurando saber as expectativas da equipe. As profissionais explicam que a inclusão dos pets no tratamento pode ser feita em diversos casos clínicos e cirúrgicos. Em alguns casos em específicos, como imu-nidade baixa, os médicos não permitem a visita, por isso essa interação entre a equipe hospita-lar e a coordenação do projeto é importante.

As médicas veterinárias ex-plicam como é feita a pré-sele-ção dos pets. “Todos os cães do

projeto têm donos. Eles passam por duas seletivas. A primeira é a comportamental, onde alunos da EVZ realizam testes de obediên-cia, socialização, temperamen-to, entre outros. Passando desta fase, ele deve ser consultado com o médico veterinário para realiza-ção de exames de rotina, atualiza-ção da carteira sanitária – vacina, vermífugo e ectoparasitas. E, es-tando apto pelo médico veteriná-rio, os documentos são enviados para a equipe do projeto e animal estará apto à entrar na escala das visitas aos hospitais”.

BenefíciosA pet terapia traz benefícios

para todas as idades que en-frentam problemas com autismo, esquizofrenia, psicoses, paralisia cerebral, distúrbios de atenção e aprendizagem, depressão e luto. Ao realizar um carinho no pet, o contato efetua uma descarga de neurotransmissores ligados ao bem-estar, elevando os níveis de serotonina e dopamina, dimi-nuindo a ansiedade e estresse que de forma natural reduz o uso de antidepressivos.

O contato com o animal diminui o sofrimento no tratamento do paciente e o torna mais tranquilo, com estímulo da produção de en-dorfina e adrenalina, propõe ener-gia ao paciente e companheirismo àqueles que se sentem sozinhos. As atividades relacionadas à TAA consistem em interagir com o cão de diversas formas, como passear, brincar, acariciar, pentear os pêlos, gerando no paciente a autocon-fiança, movimentação corporal, alongamento muscular, contato emocional, senso de responsabi-lidade, autoestima, autocontrole e diversão.

“O contato com o animal diminui o sofrimento no tratamento do paciente e o torna mais tranquilo, com estímulo da produção de endorfina e adrenalina”

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Um pet me curou

A cadela Joy foi adotada após perda do marido

A bióloga Jhenifer Renner conta que decidiu iniciar o tratamento com o pet após o término de um relacionamen-to muito conturbado em sua adolescência, quando entrou em depressão e logo parou de se alimentar e comunicar com as pessoas à sua volta. Ela conta que já tinha uma cade-la e antes de entrar no período depressivo ela era apenas um “pet normal”, mas que durante a luta contra a depressão, ti-veram uma aproximação e foi o que a salvou. “Ela pode não ter feito muita coisa, mas só de estar ao meu lado no mo-mento das minhas crises, foi essencial para que eu conse-guisse superar”, explica

Hoje, sete anos depois, ela está totalmente recuperada. “Sou grata à Deus e a minha Pretinha, que me mostraram que toda perda gera dor, mas isso faz parte do crescimento. E se faz de extrema importân-cia ter alguém, mesmo que seja um pet, que te auxilie nos seus processos de cura”, de-sabafa a bióloga.

Já de acordo com a mas-soterapeuta Paula Sena que após ter perdido seu espo-so, com o qual foi casada 28 anos, teve a sensação que es-tava faltando alguém em casa, e logo pensou em adotar um cachorro alegre que gostas-

A bióloga Jhenifer Renner iniciou o tratamento com o pet após o término de um relacionamento conturbado

se de brincar e pudesse pre-encher esse vazio. A paciente relata que entrou em contato com uma ONG resgatadora de cães pedindo um pet ativo e agitado que pudesse trazer alegria à sua casa e lhe deram uma vira-lata, a qual colocou o nome de “Joy”, que em inglês significa alegria.

“Optei pela pet terapia por-que é algo natural, que não en-volve medicamentos que po-

dem me gerar dependência. É como se a Joy trouxesse uma substituição emocional, como uma reedição dos arquivos mentais me mostrando que é possível sorrir novamente no meu processo de luto”, relata Paula. Ela ainda diz que sua rotina mudou, que o ambiente ficou mais animado. “É como se ela fosse minha filha e fi-zesse parte da nossa família. A Joy preencheu o vazio”.

/ SAÚDE

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Hospital de Urgências de Goiânia oferece pet terapia

O Hospital de Urgências de Goiâinia (Hugo) conta com a TAA. Inaugurado em 1991, é o segundo hospital de urgência e emergência de Goiás, além de ser uma instituição de as-sistência à população. É vol-tado ao processo de ensino, o qual dispõe de um espaço de extensão universitária e pes-quisa. A grande maioria dos seus pacientes sofre algum tipo de acidente e necessita de cirurgias delicadas e de emer-gência. Em alguns casos os mesmos ficam com a estrutura emocional abalada e em seus acompanhantes também são despertados sentimentos de insegurança, ansiedade, es-tresse e insônia.

A experiência exitosa no Hugo inspirou vereadores de

Goiânia. Em 2019, foi aprovado na Câmara Municipal de Goiâ-nia, o projeto de lei que permite a pet terapia. O objetivo é que o procedimento seja estendido a diversos hospitais, pois a TAA é reconhecida em outros paí-ses do mundo e é sucesso no Hugo. A assessoria de Comu-nicação do hospital informou que é gratificante ser citada como uma pequena inspiração a esse remédio que vem em forma de um abraço na alma nos pacientes feridos e que, às vezes, a presença pet cura as feridas da alma.

As visitas dos cães amigos ocorrem sempre nas áreas de circulação do hospital, sendo que seu planejamento é feito com o aval do Serviço de Con-trole de infecção Relacionada

à Assistência à Saúde (Sci-RAS) da unidade, tendo como objetivo garantir a seguran-ça de todos os envolvidos. Os animais alegram os pacientes, além da equipe de profissionais que atua no hospital.

“A presença dos pets tam-bém pode reduzir de forma significativa à intensidade do estresse que surge pela in-ternação, alivia a sensação do isolamento e sofrimento além de prevenir um surgimento de um quadro depressivo. Esse contato tira o foco do pacien-te e de quem o acompanha em observar somente a doença, fazendo assim um exercício de troca afetiva”, pontua Ana Carolina Marega, coordenado-ra do projeto de pet terapia do Hugo.

Hospital das Clínicas da UFG foi pioneiro na cinoterapia

Isabella Messias, médica vete-rinária formada pela UFG, explica que a TAA é uma vertente das in-tervenções assistidas por animais. É uma prática interdisciplinar que abrange diversas áreas do conhe-cimento como a medicina, enfer-magem, psicologia, fisioterapia, pedagogia entre outras. Ela diz ter acompanhando diversos casos no Hospital das Clínicas da UFG que a emocionou muito, e com apenas uma visita já podia perceber a mu-dança de humor das crianças e a felicidade delas ao ver os animais.

A veterinária conta que a ex-periência que mais a marcou foi de um menino que era autista e não andava, nem falava. “Quando fomos visitá-lo e ele viu a Teresa,

que era uma cadela voluntária à altura, ele começou a tentar andar e a falar. A mãe ficou muito emo-cionada e nós também. Ela nos disse que não conseguia fazer com que ele ficasse nem dez mi-nutos em pé, mas só com a pre-sença da Teresa ele não só ficou em pé, mas como também estava tentando andar. Foi o momento mais lindo da minha vida e o que me fez ver que tudo isso valia a pena”, emociona-se.

Isabella conta ainda que em uma sessão de atividade assistida por animais na EVZ/UFG, no mês de saúde mental promovido pela Liga Acadêmica de Bem-estar Animal (Labec), uma jovem foi até a ação e ao interagir com os ani-

mais ela começou a chorar mui-to. “Conversamos um pouco com ela. A garota nos disse que tinha depressão e que aquele momento com os animais, sendo só o ato de tocar e abraçá-los, já tinha muda-do muito o dia dela”.

Com relação ao tempo de re-cuperação, a profissional diz que é muito relativo, “alguns vão pre-cisar fazer a terapia a vida toda e outros só algumas sessões. Cada caso é um caso e isso deve ser decidido entre a equipe interdis-ciplinar, seja ela formada pelo mé-dico, psicólogo ou fisioterapeuta. Daí a importância de documentar todos os passos para verificar a evolução do paciente durante as sessões da TAA”, explica.

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/VIOLÊNCIA

Cena do filme Figth Club (1999)

Galos eram mantidos aprisionados em Rio Verde (GO)

Divulgação

Divulgação/Polícia Civil

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Pra quem já assistiu ao filme Fight Club (1999) – Clube da Luta, título em

português –, dirigido pelo diretor David Fincher e estrelado pelos atores Brad Pitt e Edward Norton, é fácil fazer uma analogia com o tema que esta reporta-gem abordará: a violência imposta aos animais, pelos homens, por meio das ri-nhas.

Se você não viu o longa, fique tran-quilo que não haverá nenhum spoiler no texto. Para estabelecer a comparação, é necessário lembrar do que se trata o filme. No drama de Fincher, os perso-nagens principais do enredo criam uma espécie de clube em que os integrantes trocam agressões como forma de en-tretenimento e terapia.

Relacionando com o tema em ques-tão – as rinhas -, há que se refletir muito sobre esse tipo de violência que ‘diverte’, sobretudo quando organizadores e fre-quentadores desses ‘clubes’ não se en-volvem diretamente no processo, mas expõem outros seres ao sofrimento – independentemente de sua vontade -, em lutas que só terminam quando che-ga a morte. Nem na ficção os protago-nistas de Fight Club conseguem ser tão

sádicos ou cruéis. De acordo com dados da Delegacia

Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (DEMA), somente até o primeiro semestre de 2020 a Espe-cializada recebeu cerca de 200 denún-cias de maus-tratos a animais. A mais comum dentre as queixas, segundo o titular do órgão, Luziano Severino de Carvalho, diz respeito a rinhas de galo. A Polícia Civil (PC) de Goiás desarticulou uma delas no dia 13 de março, em Rio Verde, cidade do Sudoeste do Estado.

Na ocasião, um homem, que não teve a identidade revelada, foi preso suspeito de organizar a rinha de galos, em uma casa. Na residência, a polícia apreendeu 98 galos aprisionados em gaiolas. Com os animais, foram encontrados também remédios, que eram utilizados como analgésicos, e inclusive reguladores de metabolismo. Objetos, como agulhas e máscaras, que eram utilizadas nos ani-mais, também foram apreendidos. O suspeito foi encaminhado à Delegacia de Polícia da cidade, assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e foi liberado posteriormente para res-ponder o processo.

POR

JUNIOR KAMENACH e JULIANO MOREIRA

Prática frequente, as rinhas são a máxima expressão da crueldade contra os animais. Alguns casos chegam a ser chocantes

Clube de luta

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A Chácara dos Horrores

Um caso de rinha repercu-tiu nacionalmente em 2019, no final do ano, dessa vez envol-vendo cachorros da raça pibull – uma das mais exploradas nesse tipo de crime. Também houve goiano envolvido. As imagens registradas e divulga-das durante o registro da ocor-rência chocaram internautas e telespectadores de noticiários.

A rinha de cães foi desco-berta pela Polícia Civil em uma chácara na cidade de Mairipo-rã (SP), no dia 14 de dezembro de 2019. Ao todo, 19 cachorros foram encontrados vivos, bem debilitados, além de um outro, já morto. A carcaça de um ani-

mal assado, que era servida aos participantes, também foi des-coberta pela polícia no local.

Na oportunidade, 41 pessoas foram presas, dentre elas um médico goiano, de 40 anos. A PC apontou que ele e um outro suspeito, médico veterinário, seriam os responsáveis por re-animar os cães após as lutas. O médico foi liberado após pagar fiança de R$ 60 mil. A defesa do suspeito alegou que ele es-tava no local apenas “acom-panhando um evento” - cha-mado game dog, cujo objetivo é realizar provas de condicio-namento físico dos cães em exercício.

Após investigações da po-lícia, foi descoberto que os cachorros usados na rinha de Mairiporã, em São Paulo,

eram criados em uma cháca-ra em Goiás, no município de Anápolis. Os mesmos animais também lutavam em diversos outros lugares do Brasil e até no Exterior. A PC apurou que os apostadores embolsavam até R$ 50 mil por cada briga que o seu cachorro ‘favorito’ ganhasse.

Segundo o delegado res-ponsável por esse caso, Eder Martins, um dos homens pre-sos em São Paulo, juntamen-te com um peruano, eram responsáveis por criarem os animais em Anápolis. A polí-cia acredita que cerca de 100 cachorros eram mantidos na chácara. Todos os presos vão responder por maus-tratos a animais e organização crimi-nosa.

Local que era usado como ringue para os cães lutarem

/VIOLÊNCIA

Divulgação/Polícia Civil

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Conscientização e respeito

Quando se fala em maus-tra-tos a animais, o titular da DEMA, Luziano Carvalho, destaca que a lista é extensa e vai além da mu-tilação provocada pelas rinhas. Segundo ele, quaisquer atos que causem dano ao animal – in-cluindo a falta de cuidados bá-sicos, como deixá-lo sem água, ou obrigá-lo a carregar algo com peso excessivo – podem ser configurados como maus-tra-tos. O delegado também lembra que esse crime é considerado apenas quando existe dolo; não existe na versão culposa.

“É preciso respeitar os ani-mais. Eles também sentem dor, são seres vivos, não são obje-tos”, frisou Luziano, em conver-sa com a reportagem da Re-vista Comunica! Questionado sobre o crime de maus-tratos mais chocante já presencia-do por ele, o titular da DEMA contou que, há alguns anos, a polícia recebeu a denúncia de que uma égua estaria puxando uma carroça com excesso de

peso na Marginal Botafogo, em Goiânia.

Ao chegar no local com sua equipe, o delegado presen-ciou o animal cair na pista, por não suportar a carga. Ao sofrer a queda, a égua teve parte do intestino rompido, chegando

a sair pelo ânus. Os dois ho-mens envolvidos foram presos em flagrante. “Vamos educar, conscientizar. O ser humano precisa ter mais noção sobre a vida do próximo, incluindo a dos animais. Não há solução sem conscientização”, arremata.

Luziano de Carvalho, titular da DEMA: “O ser humano precisa ter mais noção sobre a vida do próximo, incluindo a dos animais. Não há solução sem conscientização”

Cachorro machucado encontrado na chácara usada para rinhas, em Mairiporã

Pitbull participava das rinhas em SP

Cães encontrados em chácara de Anápolis

Divulgação

Divulgação

DivulgaçãoDivulgação

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/ANTICONCEPCIONAIS

O comportamento dos ani-mais durante o período em

que estão no cio não são mui-to agradáveis. As manchas pelo chão, latidos, odores e a atração dos machos podem gerar incômodo e esses fato-res conduzem os proprietá-rios de muitas cadelas e ga-tas a buscarem uma solução imediata para esse transtor-no. É nessa hora que muitos optam pela vacina anti-cio. O preço acessível e a facilidade de ser encontrada, são fato-res que contribuem para que esse método contraceptivo seja procurado. O que muitos não sabem é que o uso des-se medicamento, em grande parte dos casos, pode trazer consequências graves para os pets.

A vacina tem em sua com-posição um hormômio cha-mado progesterona, indicado para cadelas e gatas durante o estro – período reprodu-tivo conhecido como cio –, inibindo assim, a ovulação,

funcionando como um anti-concepcional. É o que afirma a especialista em medicina veterinária Helena Felga. “O problema é que esse hormô-nio se acumula no organismo e pode, dentro de semanas ou anos, pré-dispôr a formação de tumores mamários, infec-ções de útero e cistos ovaria-nos”, explica.

Em um estudo de caso re-alizado pelas acadêmicas Amanda Custódio, Beatriz Carneiro e Marcelle Rocha, da Faculdade Objetivo, foi rela-tado o caso de uma gata que apresentou um quadro de maceração fetal – degenera-ção do feto retido no útero – , devido ao uso de contracepti-vos. Segundo o estudo, a gata fazia o uso de anticoncepci-nais e apresentou aumento de volume abdominal e secreção vaginal. Após exames ultras-sonográficos, foram detecta-dos anexos embrionários sem vitalidade.

Em alguns casos, devi-do à falta de conhecimento dos proprietários, a injeção anticoncepcional é aplicada

quando a fêmea já está pre-nhe. Nessas circuntâncias, o ideal é suspender imediata-mente a vacinação. “Além dis-so, é indicado levar o animal ao médico veterinário para que ele veja como está a saú-de da ninhada e acompanhe seu desenvolvimento”, reco-menda a e acadêmica Beatriz Carneiro.

“Para que se tenha filho-tes saudáveis, é importante manter a nutrição e outros cuidados especiais que a ca-dela ou gata gestante neces-sita. Mesmo que o animal não apresente nenhum problema de saúde no momento que o tutor a vacinou, ela poderá sofrer aborto ou má formação dos fetos e também terá pre-disposição à formação de tu-mores”, alerta a pesquisadora.

A pesquisadora Helena Fel-ga não recomenda o uso das vacinas e afirma que o melhor é adotar um método mais se-guro “O ideal é realizar a cas-tração das fêmeas, principal-mente antes do primeiro cio, pois toda vez que elas entram nesse período, os hormônios

POR

MARJORIE SECKLER e CHARLES TEIXEIRA

Diga não às injeções anticoncepcionais para petsEstudo aponta que o uso da vacina anti-cio como método contraceptivo é prejudicial à saúde de cadelas e gatas

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liberados no organismo tam-bém podem desencadear do-enças”, informa.

CastraçãoO método contraceptivo

mais indicado pelos especia-listas é a castração que, além de não prejudicar a saúde dos pets, oferece muitos benefí-cios. “A castração aumenta a longevidade do animal em até

dois anos, diminui o risco de ter infecção uterina e oferece uma vida tranquila e saudável para as fêmeas”, recomenda a vererinária Luísa Nogueira da Clínica Veterinária Hope.

Para os tutores que não têm condições de pagar pelo pro-cedimento, existem campa-nhas promovidas por clínicas veterinárias e profissionais que podem ajudar. “Existem

algumas campanhas que via-bilizam a castração para quem não tem condições de pagar pela cirurgia. Eu mesmo rea-lizo uma campanha uma vez por mês. Uso anestesia inala-tória, com um profissional para o procedimento cirúrgico e outro especializado em anes-tesia”, afirma o médico veteri-nário João Vitor Martins, que atende na Clínica dos Animais.

Por conta da ausência de controle de natalidade entre cães e gato, existe uma grande quantidade de animais nas ruas. Muitas vezes estes animais acabam indo parar nos abrigos.

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ONGs auxiliam tutores carentes

Com a finalidade de ajudar tutores que não têm condições de pagar por uma cirurgia de castração, existem organiza-ções não governamentais que podem auxiliar nesse proces-so. Este é o caso do Abrigo de Animais Refugados, que faz a mediação entre tutores e clíni-cas parceiras. “Buscamos aju-dar de diversas formas. Quando conseguimos, pagamos todo o tratamento, mas quando a situ-ação está mais apertada, tenta-mos ajudar o máximo possível, dividimos o valor meio a meio, tentamos parcelar ou até con-seguir um preço melhor”, expli-ca a presidenta da ONG, a vo-luntária Livia dos Passos.

A pandemia da Covid-19 tam-bém afetou o trabalho das ONG. “A dificuldade é financeira. Infeliz-mente não estamos conseguin-do ajudar muitos animais, pois com o contexto em que vivemos, de isolamento social e quarente-na, as pessoas estão reduzindo gastos e deixaram de ajudar”, la-menta Lívia dos Passos.

Diante desta situação, perce-be-se a importância de contri-buir com as ONGs, seja atuando como voluntário ou por meio de doações. “A ajuda das pessoas

é muito importante para nós. Além de possibilitar a aquisição de materiais de limpeza, ração e medicação, conseguimos aten-der não somente os animais da ONG, mas somos capazes de atender os animais que já têm dono, mas que não tem condi-ções de cuidar”, explica.

Há 2 anos, o artista plásti-co Arivaldo Ferreira conseguiu viabilizar seu sonho de ter um espaço maior para abrigar ani-mais abandonados e vítimas de maus tratos. Desde então, o Santuário São Franscisco, ONG que ele fundou e preside, foi transferido para uma chácara, que abriga cerca de 80 cães, 35 gatos, um cavalo e duas cabras.

“Buscamos ajudar de diversas formas. Quando conseguimos, pagamos todo o tratamento, mas quando a situação está mais apertada, tentamos ajudar o máximo possível, dividimos o valor meio a meio, tentamos parcelar ou até conseguir um preço melhor”

Arivaldo Ferreira cuida de mais de 100 animais no Santuário São Francisco, entidade que ele criou

/ANTICONCEPCIONAIS

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O barato pode sair muito caro

O uso injetável de hor-mônios para evitar a gra-videz de cadelas e gatas, popularmente conhecido como vacina anti-cio, tem sido a primeira opção de muitos tutores devido ao baixo custo do medica-mento. A experiência do engenheiro civil Guilherme Maranesi, que adotou esse método por falta de conhe-cimento das possíveis con-sequências, não foi positiva

“Na época, era o método mais prático e barato. Não sabíamos que a Pituca já tinha entrado no processo de gestação”, relata. Se-gundo Guilherme, a cadela apresentou complicações e as consequências, nesse caso, foram irreversíveis. “Infelizmente ela abortou, desenvolveu câncer no útero e tempo depois não resistiu”, lamenta.

O empresário Cleverson Ferreira conta que fez o uso da vacina em sua gata pelo fato de ser um metódo mais acessível e com custo inferior ao de uma castra-ção. “Tenho uma vida muito corrida, nunca tinha estu-dado sobre o assunto. Por ser o método mais barato, apliquei a vacina em minha gata. Logo em seguida, ela desenvolveu câncer. Nes-sa ocasião, o investimento financeiro que fiz foi bem maior do que o cobrado em

uma cirurgia de castração”, declara.

Segundo a pesquisado-ra Beatriz Carneiro, o risco de complicações depende muito do estado do pa-ciente. “Se o tutor obser-var com rapidez e agilida-de que há um problema, o manejo do médico ve-terinário será facilitado. A cirurgia em si não é com-plicada, porém se o animal estiver debilitado, com al-guma infecção já instalada devido a algum problema, como a maceração fetal, por exemplo, os riscos de complicações durante o procedimento cirúrgico são altos”, esclarece.

No caso da manicure e designer de sobrancelha Geovana Marques, os sin-tomas presentes em sua pet indicaram a formação de um câncer. Sem ter condições de pagar pelo tratamento, a manicure perdeu sua gata de esti-mação e, hoje, afirma ter transformado esse episó-dio em uma grande lição. “Decidi seguir a indicação da minha prima e aplicar a vacina na minha gata. Quando percebi já era tar-de, ela foi diagnosticada com câncer e não resis-tiu. Me arrependo muito, castrei minha nova gata quando ainda era filhote”, revela.

Como todo início, a situação é complicada. O abrigo ainda não foi completamente construído e para oferecer uma estrutura confortável para os animais. Ainda faltam algumas etapas. Com a pandemia da Covid-19, Arivaldo enfrenta uma crise: conseguir recursos para con-cluir a obra afim de oferecer um ambiente confortável para os animais e alimentá-los.

“A pandemia nos afetou di-retamente. Antes, o Arivaldo conseguia manter as coisas funcionando através das aulas e cursos que ministrava para seus alunos, hoje não pode-mos mais contar com isso. Tí-nhamos alguns padrinhos e madrinhas que nos ajudavam mensalmente com doações, mas por conta do impacto da pandemia na economia, eles já não possuem mais condições.” explica Bruna Teixeira, voluntá-ria do Santuário São Francisco.

Uma das soluções encontra-das foi misturar ração com fubá para conseguir de fato alimen-tar seus animais. Em tempos de crise, toda ajuda é bem-vinda. “Precisamos de doações, sejam em materiais de construção, ra-ção e medicamentos, parcerias com clínicas, ou em dinheiro, para conseguirmos pagar as dispesas do Santuário”, afirma.

Através do e-mail [email protected] é possível ajudar a ONG Refugados por meio de doações e receber informa-ções sobre adoção e tratamen-to dos animais. Pelo número (62) 9 8266-2919, poderão ser feitas doações e obter mais in-formações sobre o Santuário São Francisco.

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/COMPORTAMENTO

T er bichinhos de estima-ção é um hábito cultu-

ral no Brasil. Existem no País cerca de 139,3 milhões de animais de estimação; des-tes, a quantidade de gatos e cachorros ultrapassam 78,1 milhões, segundo dados o último censo realizado pelo Instituto Pet Brasil no ano de 2019. Entretanto, existem aqueles com gosto peculiares que escolhem animaizinhos diferentes como companhia diária, como roedores, pássa-ros e até répteis. Já pensou em ter uma iguana ou mesmo uma serpente? A adoção des-ses animais teve um aumento é de 5,2% em relação ao ano de 2013.

Uma das protetoras do Abrigo São Francisco de As-sis, Bruna Teixeira que esta em contato constante com

POR

MARIA JÚLIA PRADO e SANMARI MELO

Preferência pelos exóticosPaixão não convencional, um novo olhar para os animais de estimação

animais em estado de aban-dono, fala que todo tipo de adoção requer responsabili-dade e estruturação do am-biente, mas este tipo de ado-ção exige ainda mais de seus futuros criadores, pois cabe saber mais sobre o bicho e ter alguns cuidados adicionais em comparação a um gato ou cachorro.

Mas, que não é um pro-blema esta escolha, é uma ajuda em alguns momentos, pois nem sempre os órgãos conseguem achar um des-tino saudável para os bichos resgatados, porém, o criador deve estar disposto. “Adoção nesse caso, só se realmente a pessoa tiver estrutura física e estrutura no ambiente para

Periquitos e calopsitas estão na lista de animais de estimação exóticos

arquivo pessoal

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O que dizem os especialistasOs animais exóticos es-

tão se tornando cada vez mais populares na hora de escolher um pet, entretan-to essa escolha ‘peculiar’ é bem mais complicada do que simplesmente adotar um cãozinho. As principais preocupações de especia-listas são a falta de cuida-dos específicos. Segundo uma pesquisa realizada em 2018, pelo Instituto de Pro-teção Animal Mundial, 26% dos donos sequer sabem que seus pets são animais silvestres, e o tráfico de animais silvestres é prática criminosa que movimenta cerca de 10 a 20 bilhões de dólares em todo o mundo, com uma fauna rica o Brasil tem cerca de 15% de parti-cipação desse valor.

A bióloga Renata Ultra re-força a importância de uma avaliação profunda que al-guém deve fazer antes de adotar um animal exótico. “É preciso estudar a ideia, pen-sar muito e se fazer pergun-tas como: por que eu quero adotar essa espécie de ani-mal? Eu tenho condições de cuidar desse animal? Eu conheço as necessidades dele? Eu tenho o ambiente que esse animal necessita? Será que vale a pena retirar esse animal de seu habitat natural?”.

Sobre o tráfico de animais silvestres o professor e bi-ólogo Jefferson de Oliveira expõe: “Estima-se que de 10 animais traficados apenas

um sobreviva”. O alto índice de mortalidade é resultado dos maus-tratos e das pre-cariedades durante a captu-ra e transporte das espécies. “Os animais se ferem ao fugir, sofrem com estresse emo-cional ou são descartados quando apresentam proble-mas na pele”, acrescente o biólogo. O comércio legaliza-do não combate o tráfico de animais silvestres. Muito pelo contrário, o mercado legal incentiva uma prática cruel, aumenta a demanda por animais de estimação e co-loca em risco as populações presentes na natureza. Legal ou ilegal, não compre.

receber um animal desse por-te”, ressalta Bruna Teixeira.

Esta opinião é também compartilhada pela estudan-te de medicina veterinária Ly-zandra Rodrigues. Para ela, os cuidados devem ser maiores, pois são animais diferentes em fisiologia, alimentação, tratamentos básicos e ha-bitat, que precisam ser bem assistidos por profissionais que conhecem suas particu-laridades, o que pode gerar maiores gastos e uma maior adaptação da casa que ele residirá.

Hoje em dia não são tão comuns médicos veterinários que fazem esses atendimen-tos. “Vejo uma área promisso-ra para daqui 5 anos, estamos vendo um crescimento de profissionais com interesse na área, antes não tínhamos especializações. Hoje em dia, as pessoas criam cobras, chinchilas, coelhos, e a pro-cura por estes bichos vem crescendo, as pessoas estão se abrindo para mais possibi-lidades.”

Existem aqueles com gosto peculiares que escolhem animaizinhos diferentes como companhia diária, como roedores, pássaros e até répteis

A bióloga Renata Ultra divide com a gente sua opinião sobre adoção de animais silvestres

arquivo pessoal

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Roedores – coelhos, camundongos, porquinhos da índia – têm muitos fãs

A vivência com os animais

Márcio Goromaru, que tem atualmente 17 aves – sendo eles quatro periquitos australianos, quatro argaponis, duas calopsi-tas, seis manons e um periquito rico –, antes de ter seu primeiro casal, adotado em 2018, o artista plástico já trabalhava em parce-rias com abrigos para resgates de aves perdidas e abandonadas na cidade de São Paulo. Dono tam-bém de um cachorro, ele conta que teve que adaptar a casa em algumas áreas por serem muitas aves.

Teve que dividir viveiro em que as aves ficam e criar um sistema de revezamento para alimenta-ção de todos eles, para que não haja briga entre eles, principal-mente entre os machos, logo, e a atenção dada demanda maior tempo. Apesar do trabalho que tem com eles, Márcio se sente recompensado, “Eles são muito carinhosos, cada um demonstra de uma forma, já alimentei um manon com o uso de seringas e hoje, depois de mais velho, ele tenta me alimentar. Eles retri-buem estes carinhos e cuidado da forma deles”.

Os roedores têm muitos fãs. Coelhos, camundongos, porqui-nhos da índia. A autônoma Thais Souza, há 4 anos se apaixonou por chinchilas e adotou seu pri-meiro casal, depois disso chegou

arquivo pessoal

a ter outros da mesma espécie e hoje está com três roedores. Re-sidente em Salvador, na Bahia, teve que adaptar a casa para dar comodidade para seus animais. As chinchilas são muito sensíveis ao calor e não gostam do vento, logo, a casa tem que ser climati-zada para eles.

A autônoma conta que é difícil achar veterinários que conheçam bem esses roedores e que busca informações em grupos mon-tados entre criadores nas redes

sociais. Ela fala que é muito apai-xonada por seus bichinhos. “As chinchilas costumam demons-trar afeto, apesar de não ficarem sempre por perto por não gosta-rem do calor. Então, eu aproveito para fazer carinho quando vou dar petiscos e paro sempre que elas demonstram irritação.”

Gabriel Paranista sempre gos-tou de animais em geral e já tinha um cachorro quando uma coe-lhinha, por meio de um grupo de adoção responsável nas redes sociais. Com experiência em ro-edores, por já ter tido outras es-pécies, o estudante, que gosta de criar a sua pequena Sofia livre, precisa limitar seu espaço. “Eu tenho um cuidado maior com ela aqui em casa, pois é uma coelha grande e não pode ficar fechada sempre por ficar com estresse, mas se ficar solta pode roer tudo e acabar se machucando”.

Os coelhos têm hábitos dife-rentes, com os horários, a ali-mentação, a higiene, e demanda maior dedicação. Todo esse cui-dado para com ela, é retribuído com demonstrações de carinho e amor. Sofia está sempre perto de seu criador, assim como o ca-chorrinho, com quem ela divide seu espaço.

Biólogo Jefferson de Oliveira alerta sobre perigo do tráfico animais silvestres

/COMPORTAMENTO

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Abrigo dos Animais RefugadosConheça o trabalho da ONG e

ajude a mitigar o problema dos animais abandonados

e maltratados!

instagram.com/abrigodosanimaisrefugados