comportamento estratÉgico organizacional de uma indÚstria

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Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO ORGANIZACIONAL DE UMA INDÚSTRIA PRETENCENTE AO PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS (PIM) . JOSÉ BENTES COUTINHO NETO Dissertação apresentada ao Programa de Pós– Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção. MANAUS - 2004

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Universidade Federal de Santa Catarina

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção

COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO ORGANIZACIONAL

DE UMA INDÚSTRIA PRETENCENTE AO PÓLO

INDUSTRIAL DE MANAUS (PIM) .

JOSÉ BENTES COUTINHO NETO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós–

Graduação em Engenharia de Produção da

Universidade Federal de Santa Catarina como

requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Engenharia de Produção.

MANAUS - 2004

JOSÉ BENTES COUTINHO NETO

COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO ORGANIZACIONAL

DE UMA INDÚSTRIA PRETENCENTE AO PÓLO

INDUSTRIAL DE MANAUS (PIM) .

Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Mestre em Engenharia

de Produção no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade

Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 04 de maio de 2004.

____________________________________ Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr. Enga. Coordenador do curso

BANCA EXAMINADORA

_____________________________ Prof. Carlos Ricardo Rossetto, Dr.

Orientador

_____________________________ Prof. Ivan de Azevedo Tribuzy, Dr.

_____________________________ Prof. José Waldemar Gonçalves Souza, Dr.

Dedico este trabalho a minha esposa, Sandra, aos meus

filhos Thiago e Fernanda, aos meus país, José Bentes

Coutinho Filho (in memorian) e Lourdes Coutinho e ao

meu avô José Bentes Coutinho (in memorian), que sempre

foi a referência da minha vida. Que Deus nos abençoe.

Agradecimentos

Agradeço à Deus por sempre se fazer presente em todos

momentos de minha vida dando-me forças, orientação e

proteção, para enfrentar os desafios que a vida impõe;

Ao Prof. Carlos Ricardo Rossetto, pelo acompanhamento

oportuno e competente;

A diretoria da empresa EVI, pela valiosa colaboração prestada,

sem a qual, não teria sido possível a realização deste trabalho;

À minha família pelo apoio que sempre me dedicou;

À todos que direta ou indiretamente contribuíram para a

realização desta pesquisa.

SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS, QUADROS, TABELAS E GRÁFICOS 07 RESUMO

08

ABSTRACT 09 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO

10 1.1 PROBLEMA DA PESQUISA 12 1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO

1.2.1 Objetivo Geral 1.2.2 Objetivos Específicos

13 13 13

1.3 JUSTIFICATIVA 13 1.4 LIMITAÇÕES DO ESTUDO 14 CAPÍTULO II METODOLOGIA

16 2.1 A Natureza Da Pesquisa 16 2.2 Delineamento da Pesquisa 19 2.3 Coleta e Análise de Dados 2.3.1 Coleta e Tipos de Dados Utilizados

20 21

2.4 A Estrutura do Trabalho 22 2.5 Operacionalização da Pesquisa 23 2.6 Limitações da Pesquisa 24 CAPÍTULO III REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

26 3.1. Organizações 26 3.2. Ambiente Organizacional 28 3.3. Adaptação Organizacional 31

3.3.1 Perspectivas teóricas de adaptação organizacional 32

3.3.2 O ciclo de adaptação e tipos de adaptação estratégica. 38

3.4. Estratégia 44

3.5.Mudança Estratégica 47

3.5.1 O Processo, o Contexto e o Conteúdo da Mudança

48

CAPÍTULO IV AS CONDIÇÕES OBJETIVAS DO SETOR DA EVI

55

4.1. Ambiente Geral : Condições Macroeconômicas e políticas do Brasil nas décadas de 70, 80 e 90

57

4.1.1. A Situação Política e Econômica do Brasil nos anos 70 57 4.1.2 A Situação Política e Econômica do Brasil nos Anos 80 63 4.1.3 A Situação Política e Econômica do Brasil nos Anos 90 73 4.1.3.1 O Governo Collor e a Estratégia Neoliberal (1990-1992) 74 4.1.3.2 O Plano Real e a Situação Político-Econômica do Brasil (1993-2000)

76

4.2 Ambiente específico: a Industria Eletroeletrônica do Pólo Industrial de Manaus

79

4.2.1 Início da Zona Franca de Manaus (ZFM) 79 4.2.2 Dinâmica da Zona Franca de Manaus (ZFM) na Década de 70 – Liberdade Plena de Importação

81

4.2.3 Dinâmica da Zona Franca de Manaus (ZFM) na Década de 80 –Contingenciamento de Importação

82

4.2.4 Dinâmica da Zona franca de Manaus (ZFM) na Década de 90 – Nova Política Industrial

83

CAPÍTULO V O ESTUDO DO COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO ORGANIZACIONAL

94

5.1 Situação Atual da Empresa 94 5.2 Fases do Comportamento Estratégico Organizacional 95 CAPÍTULO VI CONCLUSÔES E RECOMENDAÇÕES

128 6.1 Conclusão 128 6.2 Recomendações 132 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

133

LISTA DE FIGURAS, QUADROS, TABELAS E GRÁFICOS

Figura 1: Elementos de Ação Direta e Ação Indireta de uma Organização............. 29 Figura 2 : O Ciclo Adaptativo.................................................................................. 40 Figura 3: Estratégias Deliberadas e Emergentes...................................................... 46 Figura 4 : Modelo de estudo do processo da mudança estratégica.......................... 48 TABELA 4.1 : Crescimento do PIB e dos principais Setores da Economia (1970-1973).........................................................................................................................

57

TABELA 4.2 : Taxa de Inflação e Contas Externas do Brasil (1974-1979)............ 59 TABELA 4.3 : Crescimento do PIB e dos Principais setores da Economia (1974-1979)..................................................................................................

61

TABELA 4.4 : Evolução do PIB, da Dívida Externa e da Inflação (1980-1984).. 64

TABELA 4.5 : Evolução anual do crescimento do PIB e da Inflação (1985-

1989).........................................................................................................................

71

TABELA 4.6 : Evolução anual do crescimento do PIB e da Inflação (1990-1992).........................................................................................................................

75

TABELA 4.7 : Principais Indicadores Macroeconômicos (1993-1999)................. 77 Figura 5.1 : Mudanças Estratégicas.......................................................................... 92 Figura 5.2: Fases Estratégicas …………………………………………………….. 93 Figura 5.3 : Mudanças Estratégicas e Posturas do Comportamento Organizacional da EVI / ANOS – 70.......................................................................

103

Figura 5.4 : Mudanças Estratégicas e Posturas do Comportamento Organizacional da EVI / ANOS – 80.......................................................................

115

Figura 5.5 - Mudanças Estratégicas e Posturas do Comportamento Organizacional da EVI / ANOS – 90......................................................................

123

Resumo

O objetivo do presente trabalho é estudar os comportamentos estratégicos organizacional de

uma empresa eletroeletrônica do Pólo Industrial de Manaus (PIM) no estado do Amazonas,

Brasil, nas décadas de 70, 80 e 90, baseado na tipologia de Miles & Snow (1978), utilizando-

se o modelo teórico de Pettigrew (1987), estudando os processos de mudanças históricas

longitudinais, em termo de conteúdo, contexto e processo, almejando os seguintes objetivos

específicos: descrever o ambiente geral e específico em que a empresa esteve inserida e

agrupando-os por períodos; determinar quais foram às mudanças estratégicas ocorridas nestes

períodos; e identificar e classificar dentro das quatros perspectivas de Miles e Snow (1978), os

comportamentos estratégicos da empresa em cada período. Como resultado, identificou-se

que, a empresa tem a como posturas predominantes a analítica e a prospectora. Entretanto, na

análise particular de cada uma das dezoito estratégias do comportamento organizacional,

podemos notar um gerenciamento eficiente das interdependências internas e uma excelente

adaptação organizacional da empresa num efetivo alinhamento com os ambientes.

PALAVRAS-CHAVE: Estratégia organizacional, comportamento estratégico, pólo

eletroeletrônico, tipologia de Miles e Snow .

Abstract

The objective of the present work is to study the strategic organizational behaviors of a

company in the Industrial Pole of Manaus (PIM), State of Amazonas, Brazil, manufacturing

electro-electronic goods. The period surveyed were the decades of the 70s, 80s and 90s, based

on the typology of Miles & Snow (1978), the theoretical model of Pettigrew (1987) was used

in studying the processes of longitudinal historical changes, in terms of content, context and

process, aiming at the following specific objectives: to describe the general and specific

environment in which the company was inserted tabled by period; to determine which were

the strategic changes occurred in these periods; and to identify and classify within the four

perspectives of Miles & Snow (1978), the strategic behavior patterns of the company in each

period. As a result, the predominant postures of the company were identified as being the

analytical and the prospecting one. However, the individual analysis of each one of the

eighteen strategies of organizational behavior, we can notice an efficient administration of the

internal interdependences and an excellent organizational adaptation of the company in an

effective alignment with the environment.

KEYWORDS: Strategic behaviors, typology of Miles & Snow.

10

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

As mudanças nos panoramas político, econômico, social, tecnológico, cultural,

demográfico e ecológico (HALL, 1984) têm inspirado grandes transformações nas estratégias

empresariais das organizações. Para enfrentar tal conjuntura, as novas formas organizacionais

devem ser flexíveis, adaptativas e responsivas às necessidades dos clientes e dos requisitos do

mercado (CRAVES, SHIPP & CRAVES, 1994), haja vista que as organizações também estão

em contínuas mudanças.

Deste modo, como afirma Theobald (1994), vive-se em tempos turbulentos, onde

mudanças ambientais estão ocorrendo por toda parte. As mudanças são tão intensas que

alguns estudiosos classificam a presente era como a da mudança da mudança (FERGUSON,

1980).

Theobald (1994) e Drucker (1995) afirmam que nenhum século da história da

humanidade passou por tantas transformações radicais quanto o século XX. A mudança é um

processo pelo qual invade a vida das pessoas, bem como o contexto das organizações. O

conceito de “Choque do Futuro” introduzido na década de 70 por Toffler (1970) para

descrever a tensão e a grande desorientação sofridas pelas pessoas quando sujeitas a uma

carga de mudança muito grande num espaço de tempo curto, serve muito bem para explicar o

momento de angústia que a maioria das organizações passam hoje em dia.

Como argumentam Dunphy e Stace (1988), tempos radicais podem requerer remédios

radicais, ou seja, em momentos de crise a organização deve mudar e se adaptar rapidamente.

No entanto, Pettigrew (1985) lembra que é clara a associação entre distúrbios ambientais e

períodos de importantes mudanças. Contudo, não se deve esquecer que geralmente uma crise

pode acelerar o processo de mudança. Entretanto, mudanças radicais não são as ideais, pois

uma organização muito grande não consegue alterar suas estratégias e estrutura no momento

exato em que ocorrem as pressões e instabilidades ambientais (PETERS, 1993).

11

Por isso, tanto flexibilidade quanto objetividade são essenciais para o êxito de um

processo de mudança (JUDSON, 1980) e adaptação estratégica, a fim de que ao término do

curso possa haver um aumento de produtividade (KIRKPATRICK, 1988) e uma melhora nos

níveis de performance (GRONHAUG & FALKENBERG, 1989).

Mudança organizacional é um processo multinível e interativo, tendo seus resultados

moldados por interesses e compromissos, tanto em nível do indivíduo como em nível dos

grupos de dentro da organização. Ela resulta da escolha e do determinismo, e da interação de

várias forças políticas e econômicas.

Diante disso, é sabido que as organizações não possuem controle das condições

necessárias para sua própria sobrevivência, sendo elas importadoras de recursos externos,

logo, dependem do ambiente. Por ambiente, se entende o elemento em que a organização não

pode controlar, embora ela possa ser capaz de influenciar o seu ambiente local de algum

modo. Assim, a sobrevivência organizacional depende não apenas de ajustes internos, mas

principalmente, de ajustes e lutas com o ambiente externo.

Abordar as organizações como sistemas abertos - os quais consideram que as

organizações mantêm um relacionamento de interdependência com seus ambientes -, tem

ajudado aos teóricos organizacionais durante as últimas décadas, a desenvolver conceitos,

teorias e modelos que incorporam as novas tendências. Nesse sentido, foram surgindo

diferentes abordagens para estudar o inter-relacionamento organização - ambiente.

Vários autores oferecem abordagens diferenciadas para a adaptação organizacional, na

tentativa de melhor conhecer e retratar as mudanças realizadas pelas organizações a fim de

articular suas capacidades com as contingências do ambiente. Hrebiniak e Joyce (1985), como

também Weick (1973), afirmam que adaptação organizacional deve ser entendida como

conseqüência do comportamento organizacional, seja ele proativo ou reativo, criando seus

próprios ambientes, por meio de escolhas voltadas para o mercado, como produtos,

tecnologias, etc.

No estudo de teoria das organizações, distinguem-se duas perspectivas gerais básicas

de adaptação organizacional: a primeira sugere que as contingências ambientais são

determinantes no desenvolvimento organizacional (determinismo ambiental); já a segunda

posiciona-se do lado oposto e vê as organizações como sendo capazes de exercer escolhas

decisivas no seu desenvolvimento organizacional, assim como, de manipular o próprio

ambiente externo no seu proveito (voluntarismo). Hrebiniak e Joyce (1985) consideram

importante realizar uma análise conjunta das duas perspectivas, sendo determinismo e

12voluntarismo independentes mas não excludentes.

Miles e Snow (1978), apresentam dois referenciais teóricos para o melhor

entendimento da adaptação organizacional; o primeiro, o modelo do ciclo de adaptação, vem

auxiliar no desenvolvimento e na compreensão do processo pelo o qual as organizações se

ajustam continuamente aos seus ambientes, e ; o segundo, os tipos estratégicos, que

configuram os diversos padrões de comportamentos estratégicos usados nas organizações,

quando a organização procura responder às demandas do ambiente.

Neste contexto, a presente pesquisa tem como foco central, verificar por meio de

estudo de caso, o comportamento estratégico organizacional em uma organização pertencente

ao Pólo Industrial de Manaus (PIM), na cidade de Manaus – Am -, fundamentada na tipologia

de Miles & Snow (1978), as quais classificam as empresas em 04 categorias de

comportamento estratégico distintas, a saber: prospectoras; defensivas; analíticas e reativas.

1.1 – PROBLEMA DE PESQUISA

A Indústria Eletroeletrônico do Pólo Industrial de Manaus (PIM), está inserida em um

ambiente extremamente complexo e dinâmico. De um lado há a forte presença do Estado

agindo para o cumprimento de políticas públicas, de outro, agentes econômicos internacionais

e o próprio mercado globalizado com novas tecnologias, métodos e políticas de marketing,

fazendo com que este ambiente seja de competitividade crescente. A sustentabilidade e

sobrevivência dessas organizações dão-se em sua capacidade de adaptação e reação aos

agentes deste universo.

Baseado nesta realidade, este trabalho procurará dar resposta ao seguinte problema de

pesquisa:

Quais foram os comportamentos estratégicos organizacionais segundo a tipologia de

Miles e Snow (1978), de uma indústria pertencente ao Pólo Industrial de Manaus (PIM) nas

decádas, 70, 80 e 90, por meio da percepção da coalisão dominante da organização?

13

1.2 - OBJETIVOS DO TRABALHO

1.2.1 – Objetivo Geral

O objetivo do presente trabalho é estudar os comportamentos estratégicos

organizacionais de uma empresa eletroeletrônica do Pólo Industrial de Manaus (PIM), nas

décadas de 70, 80 e 90, baseado na tipologia de Miles & Snow (1978).

1.2.2 – Objetivos Específicos

Na busca de se atingir o objetivo geral, são almejados os seguintes objetivos

específicos:

• Descrever o ambiente geral e específico em que a empresa esteve

inserida e agrupando-os por períodos;

• Determinar quais foram às mudanças estratégicas ocorridas nestes

períodos;

• Identificar e classificar dentro das quatro perspectivas de Miles e Snow

(1978) os comportamentos estratégicos da empresa estuda em cada

período.

1.3 – JUSTIFICATIVA

Diante da realidade empresarial com qual se defrontam as organizações, todos os

estudos que descrevem como as organizações se posicionam frente aos seus ambientes, com o

intuito de manterem-se competitivas, são oportunos. Está importância salienta-se na medida

em que não existem evidências que este tipo de análise está sendo feita no Pólo Industrial de

Manaus (PIM). Portanto, este estudo dos comportamentos estratégicos organizacional de uma

empresa do Pólo Industrial de Manaus, é inédito e de uma contribuição relevante para o

campo do conhecimento.

Pettigrew (1992), tem afirmado que grandes partes das pesquisas sobre esse assunto

são ahistóricas, aprocessuais e desenvolvidas sem o exame mais aprofundado do contexto em

que as organizações estão inseridas e outras de que se tem conhecimento, realizadas em outros

tipos de organizações, são, na sua maioria, cross-sectorial, ou seja, se limitam a modos de

análise que consideram simples eventos ou conjuntos de episódios discretos, separados de

acontecimentos mais distantes, fornecendo pouco detalhes quanto à natureza ou ao contexto

14

Em contraposição a essa abordagem que Pettigrew (1992) e Miller e Friesen apud

Rosseto (1998) fazem referência, a presente pesquisa apresenta-se como histórica, pois estuda

as décadas de 70, 80 e 90 da organização; leva em conta como as mudanças acontecem ao

longo destes anos. Considera, portanto, a dinâmica processual ocorrida. E contempla os

antecedentes que deram forma, significado e substância às mudanças estratégicas na análise

do contexto externo e interno da empresa, no período objeto do estudo.

Destaca-se também o caráter relevante e original da pesquisa em relação à

investigação do tema “comportamento estratégico organizacional” em empresa do setor

eletroeletrônico do Pólo Industrial de Manaus. Conhecer a história, as mudanças e os inter-

relacionamentos que configuraram a evolução organizacional de uma organização – a EVI1-

bem como as especificidades da sua atuação no setor – eletroeletrônico – que contribui

fortemente na agregação de valor da produção da região, permite uma melhor compreensão

dos fatores e contingências que influenciam as ações dos agentes no processo de

desenvolvimento desta região.

Relevante e original também é a contribuição do presente trabalho para os

administradores atuais e futuros da EVI. Possibilitar a compreensão teórica do processo de

adaptação estratégica da empresa, numa análise longitudinal, proporciona aos seus gestores,

por certo, uma importante reflexão e avaliação do comportamento estratégico adotado, como

também das possibilidades e perspectivas futuras na condução dos negócios. Greiner (1975)

tem afirmado que o passado de uma organização, quando bem analisado e interpretado, pode

levar a seus dirigentes a direção dos êxitos futuros.

1.4 – LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Os limites do presente trabalho estão relacionados à natureza do estudo. Em se

tratando de um estudo que procura identificar os comportamentos estratégicos

organizacionais, as limitações são impostas em termos do escopo e delineamento da pesquisa.

1 Nome fictício, respeitando a decisão da diretoria da Empresa em não revelar o nome original.

15

No que tange ao escopo da pesquisa, o foco se restringe ao tema comportamento

estratégico. Abordagens teóricas e referências bibliográficas estão restritas a este limite.

Em relação ao delineamento da pesquisa é necessário considerar as características da abordagem qualitativa na opção metodológica, sobretudo nos aspectos ligados às inferências e suposições que foram produzidas e desenvolvidas durante o processo de pesquisa. Esta abordagem, pela sua natureza, não elimina a subjetividade do pesquisador no processo de coleta e interpretação dos dados. Cuidados especiais foram tomados para diminuir o efeito deste fator, mas isso deve ser considerado na análise dos resultados finais.

Embora se tenha buscado todo rigor nas análises e procedimentos utilizados neste

estudo, é importante que sejam salientados alguns aspectos referentes às suas limitações. Em

primeiro lugar, o método utilizado nesta pesquisa – o estudo de caso - embora tenha permitido

uma verificação completa e profunda das variáveis escolhidas dentro da organização

analisada, caracteriza-se por estar limitado à situação estudada, não permitindo a

generalização plena de seus resultados e conclusões para outras organizações (Yin, 2000;

Triviños; 1987). Entretanto, a generalização do que foi apreendido neste contexto para outros

semelhantes vai depender do tipo de usuário do estudo.

Finalmente, é fundamental que se ressalte que, apesar de as tipologias pesquisadas

serem significativas de acordo com o referencial teórico apresentado, não esgotam as

possibilidades do tema em estudo. Assim sendo, outras também poderiam ser trabalhadas a

fim de verificar os comportamentos estratégicos ocorridos. Entretanto, em função dos

objetivos propostos, as tipologias de Miles e Snow (1978) foram as mais adequadas.

1.5 A Estrutura do Trabalho

No Capítulo I, apresenta-se o problema de pesquisa, objetivos, justificativa, o limites

do estudo e a estrutura do trabalho.

No Capítulo II, apresenta-se o referencial metodológico que guiará o desenvolvimento

do estudo.

No Capítulo III, apresenta-se o referencial teórico contendo conceitos, teorias e

modelos relacionados com organização, ambiente organizacional, mudança estratégica e

estratégia.

16

No Capítulo IV, apresenta-se a descrição do ambiente geral e específico, os eventos

históricos, políticos e econômicos relevantes para o setor eletroeletrônico que, no conjunto,

formaram o cenário para o estudo do comportamento estratégico da empresa.

No Capítulo V, apresentam-se as adaptações estratégicas organizacional da empresa

EVI – organização escolhida para o estudo de caso – e as identificações com as teorias do

comportamento estratégico organizacional baseado na tipologias de Miles e Snow (1978).

No Capítulo VI, apresentam-se as conclusões e recomendações da pesquisa.

Finalmente são apresentadas as referências.

17

CAPÍTULO II

METODOLOGIA

Esta seção apresentará os procedimentos metodológicos adotados na presente

pesquisa, que teve por objetivo central identificar os comportamentos estratégicos da empresa

EVI, baseada na tipologia de Miles e Snow (1978), no período compreendido entre as décadas

de 70, 80 e 90. Trata-se de um estudo de caso, de caráter qualitativo, que resgatou dados

históricos da organização, identificando as influências do ambiente e analisou as estratégias

desenvolvidas no período pesquisado, objetivando identificar as posturas estratégias utilizadas

pela organização.

2.1. A Natureza da Pesquisa

Pode-se afirmar que sempre existiu interesse do homem pelo conhecimento da

realidade. Em sua constante busca da verdade a ciência tem a função de aprimorar a relação

entre o homem e seu mundo. Na abordagem qualitativa utiliza-se de técnicas interpretativas

que buscam descrever, decodificar, traduzir e expressar o sentido dos fenômenos, que

ocorrem naturalmente no mundo social (MAANEN apud NEVES, 1996).

Martins (1994), afirma que mudança de concepções implicam, necessariamente, em

nova forma de ver e compreender a realidade e, também, outros modos de atuação para

obtenção de conhecimento. Para o autor, as diferentes concepções ocorrem no mesmo

momento e numa mesma sociedade, decorrendo, então, alternativas metodológicas,

especialmente para a investigação de fenômenos da administração. Considera o autor, que a

metodologias convencionais têm suas bases no positivismo.

Existe uma histórica influência dos métodos de pesquisa das ciências naturais

conhecidos como métodos quantitativos positivistas nas outras áreas do conhecimento, entre

elas as ciências sociais. Neste sentido Hughes (1980) observa que as conquistas das ciências

naturais influenciaram as formas através das quais concebemos e estudamos a sociedade. O

mesmo autor considera que tal fato não significa que essas disciplinas foram forçadas a adotar

os métodos das ciências naturais, mas assinala apenas que esses métodos constituem um

aspecto importante de seu embasamento intelectual.

18

A partir da década de 1960, iniciou-se um processo de contestação da abordagem

positivista no âmbito das ciências sociais, começou a duvidar-se da eficácia desses métodos

nessas áreas de estudo. Nesse sentido, Hughes (1980, p.11) escreve a seguinte reflexão:

Desde que se desenvolveram como disciplinas autônomas, as ciências sociais só têm

procurado reexaminar seus fundamentos filosóficos em períodos de crise: períodos em que

os métodos conhecidos e dignos de confiança não mais parecem justificar a fé que neles se

deposita, em que os pesquisadores perdem a confiança em seus achados e em que princípios

óbvios e garantidos não mais parecem indiscutíveis.

Richardson et al.(1989) apontam que, de um modo geral, se pode classificar a pesquisa

em dois grandes métodos; o quantitativo e o qualitativo. A principal diferença destes métodos

radica na forma de abordar o problema de pesquisa, dizem eles. A escolha do método precisa

ser apropriado ao tipo de estudo que se deseja realizar, onde a natureza do problema e o nível

de aprofundamento desejado são fatores determinantes na escolha do método.

Nesse sentido, Morgan e Smircich (1980) consideram que a dicotomia estabelecida

entre métodos quantitativos e qualitativos é uma simplificação pouco apropriada. Eles

também consideram que a definição do tipo de pesquisa é definida principalmente pela

natureza do fenômeno a ser estudado. Nesse sentido, consideram que a pesquisa qualitativa

tem uma caracterização básica de enfoque, antes que, um conjunto particular de técnicas. A

natureza do enfoque adotado deriva da natureza do fenômeno social a ser explorado.

Nas ciências sociais existe uma tendência crescente pela utilização de métodos

qualitativos de pesquisa. Um dos princípios básicos desta abordagem é que as ciências

humanas são específicas e possuem metodologia própria, a qual busca os dados no contexto

onde ocorrem; considera que existe uma relação dinâmica entre o mundo real observado e o

observador-pesquisador, ele faz parte do processo de cognição e interpreta os fenômenos de

acordo com seus valores e crenças, dando-lhes significado.

Taylor e Bogdan (1984) apontam algumas características gerais das pesquisas

qualitativas:

- Pesquisa qualitativa é indutiva. Pesquisadores desenvolvem conceitos, inferências e

identificam padrões nos dados.

- Visão holística. Pessoas, ambientes, ou grupos não são reduzidos a variáveis, mas

são vistos como um todo.

19

- A pesquisa qualitativa coleta seus dados no ambiente natural. Merriam (1998)

considera que a preocupação básica é entender o fenômeno sobre a perspectiva dos

participantes, onde o pesquisador é o instrumento primário para a coleta e análise dos dados.

- Os dados utilizados são na sua maioria de natureza descritiva. A pesquisa qualitativa

focaliza seu interesse em processos, significados e conhecimentos. Assim, seus resultados são

eminentemente descritivos (MERRIAM, 1998).

- Os pesquisadores qualitativos preocupam-se muito com o processo e não apenas com

os resultados e o produto.

- O significado que as pessoas dão às coisas e a suas vivências é uma questão

fundamental na abordagem qualitativa.

Nesse sentido, Merriam (1998) considera que os pesquisadores que utilizam métodos

qualitativos, deveriam possuir três características importantes:

- Enorme tolerância para a ambigüidade. Através do processo de pesquisa, desde

determinar o estudo, coleta e análise de dados, não existe um conjunto de procedimentos que

possam ser seguidos passo a passo. O pesquisador deverá ser hábil para reconhecer o melhor

caminho a seguir, o qual nem sempre é óbvio. Primeiro tudo é importante, tudo é suspeito,

toma tempo e paciência identificar, coletar, ordenar e interpretar as peças desse quebra-

cabeças.

- Sensibilidade. O pesquisador deverá ser altamente intuitivo, sensível para a

informação que está sendo colhida, de outro lado deverá estar atento a qualquer preconceito

pessoal que poderia influenciar na investigação.

- Comunicador. Um bom pesquisador deverá desenvolver empatia com os

entrevistados, realizar perguntas apropriadas, ouvir atentamente. Deverá também possuir

habilidade para escrever, a pesquisa qualitativa é essencialmente descritiva.

Richardson et al. (1989) consideram que, de um modo geral, as investigações que

utilizam a abordagem qualitativa são as que têm por objeto de estudo situações complexas ou

estritamente particulares. Compreender processos dinâmicos vividos por grupos sociais é uma

das possibilidades de estudo consideradas pelo referido autor. De outro lado, Merriam (1998)

considera que a pesquisa qualitativa é um conceito guarda chuva, cobrindo diversas formas

de investigação que nos ajudam a compreender e descrever o significado dos fenômenos

sociais com a menor distorção possível do ambiente natural onde acontecem. Considera-se

que a natureza do estudo proposto se enquadra dentro das características consideradas pelos

autores citados acima. Assim, o conjunto do estudo proposto deverá seguir uma orientação

global de pesquisa qualitativa.

20

2.2. Delineamento da Pesquisa

Delineamento da pesquisa refere-se ao planejamento da pesquisa em sua dimensão

mais ampla (GIL, 1989). O delineamento da pesquisa nos indica como os dados serão

coletados, analisados e interpretados. Através dele são estabelecidos os relacionamentos entre

às questões iniciais de pesquisa, os dados coletados e as respectivas conclusões finais do

estudo (YIN, 1990).

Gil (1989) considera que cada pesquisa possui um delineamento próprio, determinado

pelo objeto de estudo, pela dificuldade na obtenção de dados, pelo nível de precisão exigido,

pelas limitações próprias do pesquisador.

Merriam (1998) observa que na literatura existente, pode ser identificada uma enorme

variedade de tipos de pesquisa qualitativa, as quais são apresentadas como: orientações,

tradições teóricas, estratégias de indagação, gêneros ou tradições importantes. A referida

autora considera que na área de educação, destacam-se cinco tipos de pesquisa qualitativa,

pela sua relevância e utilização: estudo qualitativo básico ou genérico; etnografia;

fenomenologia; ground theory; e estudo de caso.

O presente estudo pretende utilizar como técnica de pesquisa o estudo de caso simples,

tendo como unidade de análise uma única organização. A seguir são abordadas algumas

considerações relevantes referidas ao estudo de caso.

Yin (1990) conceitua o estudo de caso como uma investigação empírica que estuda um

fenômeno contemporâneo dentro do contexto da vida real, especialmente quando as fronteiras

entre o fenômeno e o contexto não são evidentes. Merriam (1998) define o estudo de caso

como uma intensiva descrição holística e análise de um fenômeno ou unidade social.

O estudo de caso é uma técnica de pesquisa particularmente apropriada quando se

deseja estudar situações complexas nas quais resulta praticamente impossível separar as

variáveis do fenômeno do seu contexto (YIN, 1990). O estudo de caso resulta conveniente

quando a pesquisa tem interesse na evolução do processo do fenômeno em estudo

(MERRIAM, 1998).

21

Merriam (1998) considera que de um modo geral, os estudos de caso podem ser

classificados como descritivos, interpretativos e avaliativos.

1. Estudos de caso descritivos. São estudos que apresentam uma detalhada descrição

do fenômeno sob estudo, não são guiados por questões estabelecidas ou generalizações, nem

motivadas pelo desejo de estabelecer hipóteses amplas.

2. Estudos de caso interpretativos ou analíticos. São estudos que ademais de

contemplar uma ampla descrição do fenômeno, utilizam de uma análise indutiva, para

desenvolver categorias conceituais ou desenvolver explicações de questões formuladas antes

da coleta de dados.

3. Estudos de caso avaliativos. São estudos que contemplam as características das duas

anteriores (descritivo e interpretativo), adicionando uma etapa final de julgamento dos

resultados.

Assim, a presente pesquisa adotará uma orientação global de pesquisa qualitativa,

porém, de natureza descritiva, configurada como um estudo de caso interpretativo simples.

2.3. Coleta e Análise de Dados

A pesquisa qualitativa não segue uma seqüência rígida de etapas. A coleta e a análise

dos dados não constituem divisões rígidas. As informações recolhidas são interpretadas,

podendo gerar uma exigência de novas coleta de dados (TRIVIÑOS, 1992).

No estudo de caso histórico-organizacional, o pesquisador deve iniciar a coleta de

dados buscando todo tipo de material disponível referente à vida da instituição, tais como

publicações oficiais e não oficiais, estudos pessoais, entre outros. O conjunto dessa

informação permitirá realizar o delineamento e classificação prévia da coleta de dados

(BOGDAN apud TRIVIÑOS, 1992)

22

Conforme Triviños (1987), no estudo de caso, a coleta e a análise dos dados ocorrem

concomitantemente, buscando novas descobertas no decorrer da pesquisa. Os dados são

coletados e analisados, procurando-se exercer uma crítica necessária para garantir

confiabilidade e consistência.

Nessa seção, mostra-se os procedimentos metodológicos utilizados para coleta,

verificação de confiabilidade e análise dos dados.

2.3.1 Coleta e Tipo de Dados Utilizados

Inicialmente realizou-se uma revisão dos materiais informativos disponíveis para

orientar o estudo. Este levantamento exploratório foi necessário para nortear muitos dos

passos desenvolvidos.

Neste levantamento exploratório identificou-se e obteve-se cópias de informações das

atividades da organização, formando um arcabouço empírico do que foi a mesma ao longo do

período que se pretendeu estudar. Através do levantamento exploratório também foram

levantadas informações para descrição do ambiente objetivo, que serviu para relacioná-lo com

o ambiente subjetivo, descrito a partir das entrevistas feitas na organização. Este ambiente

serviu para a empresa desenvolver suas estratégias, ou seja, a arena cognitiva da coalizão

dominante (CHILD e SMITH, 1987).

Portanto, os dados utilizados originaram-se de várias fontes e de maneira sistemática,

de modo que se pode descrevê-los da seguinte forma:

a) Dados primários: obtidos em estudo de campo através de entrevistas semi-

estruturadas (MINAYO, 1993), que possibilitaram ao entrevistado discorrer sobre o tema

proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador;

b) Dados secundários: obtidos em órgãos oficiais da Zona Franca de Manaus como

Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), Secretária do Desenvolvimento

Econômico do Estado (SEDEC), entidades de classes, jornais, revistas especializadas do setor,

revistas gerais sobre negócios, periódicos, livros, dissertações e publicações da própria

23organização.

Na coleta e análise de dados, utilizaram-se alguns aspectos da abordagem proposta por

Mintzberg (1979), Mintzberg e McHugh (1985) denominada Direct Research, a qual propõe

uma perspectiva de análise indutiva e longitudinal. Esta metodologia sugere a adoção de

quatro estágios:

1. coleta de dados secundários, priorizando a busca de informações

em arquivos, relatórios anuais, etc., deixando a participação do pesquisador,

com a utilização de entrevistas, apenas nos pontos que não fiquem bem

definidos;

2. inferência de estratégias e períodos, onde os dados são

arranjados em ordem cronológica, quando possível plotados em uma escala de

tempo comum, e analisados para inferir padrões ou consistências através do

tempo;

3. análise de cada período determinado no passo (2). Neste

momento o estudo deixa a coleta de dados secundários para apoiar-se nas

entrevistas, buscando, nas pessoas chaves, explicação para as principais

mudanças no fenômeno estudado; e

4. análise teórica. O pesquisador tenta interpretar cada período

histórico, bem como todo o processo, em termos conceituais.

2.4 A Operacionalização da Pesquisa

Pelo interesse no assunto, a partir das grandes e rápidas transformações estratégicas na

indústria eletroeletrônica no Pólo Industrial de Manaus (PIM), realizou-se uma pesquisa

bibliográfica, referente a publicações de assuntos correlacionados com o tema proposto.

Analisou-se a possibilidade da existência de algum trabalho semelhante sobre o tema.

Para a fundamentação teórica do estudo do comportamento estratégico, em sua

maioria, foi utilizada a literatura estudada no desenvolvimento da disciplina de Planejamento

24

Estratégico no curso de mestrado; para o estudo da indústria eletroeletrônica, recorreu-se a

textos especializados da base de dados de associações de classe e sindicatos da indústria.

Todos os materiais relacionados ao breve histórico da indústria eletroeletrônico foram obtidos

nessas publicações que permitiram uma primeira informação para o entendimento do contexto

da pesquisa.

A seguir, foram realizadas entrevistas semi - estruturadas com seis diretores da

empresa de um total de oito, no estudo representada como coalizão dominante (CHILD e

SMITH, 1978), com duração média de cada entrevista de uma hora. Todas as entrevistas

foram gravadas em áudio.

Dentro dos dados fornecidos, procurou-se seguir, uma ordem cronológica,

relacionando-se o período sob investigação levantando-se, passo a passo, a história da

organização, as influências observadas no ambiente externo, seu contexto e o

desenvolvimento de ações estratégicas, em cada período declinado nas entrevistas. Após as

entrevistas identificaram-se os principais eventos que, permitiram separar o período de

investigação em períodos estratégicos, segundo orientação da Direct Research de Mintzberg

(1979).

A medida que os dados foram sendo coletados, o pesquisador procurou identificar

temas e relações, construindo interpretações e gerando novas questões e/ou aperfeiçoamento

as anteriores, o que, por sua vez, o levaram a buscar novos dados, complementares ou mais

específicos, que testassem suas interpretações, num processo de sintonia fina que foi até a

análise final. Isto provocou o retorno a novas entrevistas para que o pesquisados pudesse

validar alguns relatos pelos entrevistados.

A partir desse momento, a dedicação do pesquisador se concentrou nas análises do

referencial teórico, dando base acadêmica ao estudo e no ajustamento da história da

organização e eventos do ambiente geral. Estes trabalhos realizados demonstraram a

flexibilidade e a importância da pesquisa qualitativa para o desenvolvimento de estudos de

adaptação estratégica.

25

CAPÍTULO III

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo são tratadas as questões relacionadas com o estudo do comportamento

estratégico organizacional e delineia-se o arcabouço conceitual da dissertação, organizado de

maneira que os conceitos subjacentes sejam descritos à medida em que se avança na

apresentação dos fundamentos teóricos necessários para compreender, explicar e dar

significado ao fenômeno estudado.

Antes de iniciar a revisão de literatura, é importante esclarecer que este trabalho segue

a linha de outros trabalhos realizados no Núcleo de Estudos Organizacionais (NEO) – ligado

ao Mestrado em Administração da UNIVALI – SC, Universidade do Vale do Itajaí –

(Biguaçu) e no Núcleo de Estudos Estratégicos (NEST), do programa de pós-graduação em

Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

3.1 – ORGANIZAÇÕES

No pensamento da administração clássica, as organizações eram vistas como sistemas

relativamente fechados. O sucesso empresarial, nesta visão, dependia da eficiência das

operações internas. Pouca, ou nenhuma atenção era dedicada à adaptação da organização às

mudanças no ambiente externo. A teoria organizacional contemporânea toma uma perspectiva

muito mais ampla das organizações e sua administração. As organizações são vistas como

sistemas abertos, que precisam se adaptar a condições externas mutantes, para terem sucesso

no desempenho das suas atividades (BOWDITCH e BUONO, 1997).

As organizações passam a ser inseridas em um meio social, econômico e político

denominado ambiente (HAMPTON, 1992; HALL, 1984). Desta maneira, uma infinidade de

pressões pode ser confrontada devido a isto: a) concorrência crescente na arena mundial; b)

26

regulamentações governamentais que, cada vez mais, têm tratado de controvérsias sociais

(tais como, discriminação, segurança no local de trabalho, proteção do meio ambiente); c)

escassez de recursos; d) maior diversidade da força de trabalho; e) normas culturais em

mudança e; f) pressões empresariais mais tradicionais, por parte dos concorrentes,

fornecedores, etc.

Parece natural aceitar as organizações como sistemas abertos, no entanto, retrocedendo

um pouco na história encontra-se que nem sempre foi assim. Morgan (1996) tem uma maneira

particular de perceber e analisar organizações. Ele desenvolve teorias e explicações da vida

organizacional baseadas em metáforas. Usar metáforas implica um modo de pensar e uma

forma de ver que permeia a maneira pela qual se vê o mundo. O autor mostrou que a metáfora

exerce influência formadora sobre a ciência, sobre a nossa linguagem e sobre a forma de

pensar, ele destacou duas metáforas marcantes nas diversas abordagens sobre teoria das

organizações: a da máquina e a do organismo vivo.

A metáfora da máquina remonta a vários séculos atrás, mas foi no início do século XX

que suas idéias e desenvolvimentos foram sintetizados numa teoria de organização. Morgan

(1996, p.26) descreve que a mais importante contribuição a essa teoria foi feita pelo sociólogo

alemão Max Weber que observou os paralelos entre a mecanização da indústria e a

proliferação de formas burocráticas de organização. Concluiu que as formas burocráticas

rotinizam os processos de administração como a máquina rotiniza a produção.

Quando se fala de organização, habitualmente se pensa num estado de relações

ordenadas entre partes claramente definidas que possuem alguma ordem determinada. Fala-se

de organizações como se fossem máquinas e, conseqüentemente, existe uma tendência em

esperar que operem como máquinas: de maneira rotinizada, eficiente, confiável e previsível.

A passagem da teorização em estudos organizacionais da metáfora da máquina para a

metáfora do organismo vivo e sua aplicabilidade na realidade organizacional, foi induzida por

deficiências dos princípios da metáfora da máquina, principalmente quanto à velocidade de

resposta das organizações às mudanças acontecidas no seu ambiente e a importância do seu

relacionamento.

A metáfora do organismo vivo considera as organizações como sistemas abertos e que

mantêm um relacionamento de interdependência com seu ambiente o qual se encontra em

constante mutação. Da mesma forma que os organismos vivos biológicos dependem do

relacionamento com o meio externo para suprir suas necessidades e subsistir, as organizações

também precisam relacionar-se apropriadamente com seu ambiente externo, a fim de garantir

os recursos necessários para seu desenvolvimento e sobrevivência (KATZ e KHAN, 1987;

STONER e FREEMAN, 1995; MORGAN, 1996).

27

Portanto, as organizações são vistas como sistemas abertos, que precisam se adaptar às

condições externas, em constante mudança, e necessitam realizar trocas com o ambiente,

através de inputs e outputs. A principal característica dos sistemas abertos é sua

adaptabilidade, ou seja, o seu processo contínuo de aprendizagem e de auto-organização em

face das condições do ambiente.

3.2 – AMBIENTE ORGANIZACIONAL

Com a ênfase na organização como sistema aberto, o ambiente passou a ser definido

como todos os fenômenos que são externos à população em estudo, e que a influenciam

potencial ou realmente (HAWLEY apud HALL, 1984); ou como partes do meio que são

relevantes ou potencialmente relevantes para que a organização estabeleça e atinja seus

objetivos (DILL apud THOMPSON, 1967).

As empresas como sistemas abertos, são as que estão em permanente intercâmbio com

o seu ambiente e caracterizam-se por equilíbrio dinâmico. Esse intercâmbio é constituído de

fluxos contínuos de entradas e saídas de matérias, energia e/ou informações, caracterizando,

desta forma, o equilíbrio dinâmico, a partir de uma adaptação da empresa em relação a seu

ambiente (KELLY e ALLISON, 1999).

Duas dificuldades, pelo menos, surgem nesta maneira de ver as organizações,

inseridas em um contexto mais amplo. A primeira refere-se a como, conceituar o ambiente e,

a segunda reside no que constituí este ambiente.

Em um sentido geral, o ambiente consiste de tudo que está do lado de fora da

organização. Esta definição assume que uma fronteira clara separa a organização de seu

ambiente. Contudo, o problema de distinguir esta fronteira tem sido descrito como mais difícil

do que localizar as fronteiras de uma nuvem (MILES e SNOW, 1978). Muitos teóricos têm

visto esta definição do ambiente como bastante ampla e nebulosa para prognosticar as

respostas da organização às forças externas.

Miles (1980) afirma que, talvez, a mais óbvia definição de ambiente organizacional

seja qualquer coisa que não faça parte dela própria.

28

Diante da necessidade de simplificar o assunto, Bowditch e Buono (1992), Stoner e

Freeman (1995) consideram que o ambiente organizacional pode ser entendido e analisado

através de duas perspectivas:

1. levando em consideração o nível de interação, distingue-se um

ambiente geral e um ambiente específico (ver Figura 1);

2. partindo de uma perspectiva diferente, se considera necessário

fazer a distinção entre ambiente real e ambiente percebido.

Legenda:

Internos Ambiente ação direta

Externos

Ação indireta

Figura 1: Elementos de Ação Direta e Ação Indireta de uma Organização

Fonte: Stoner e Freeman, 1995.

Ambiente Geral, também denominado de ambiente de ação indireta (STONER e

FREEMAN, 1995; BOWDICH e BUONO, 1992), refere-se ao conjunto de fatores, tendências

e condições gerais que afetam a todas as organizações. Inclui elementos tais como fatores

tecnológicos, sócio-culturais, político-legais, econômicos, demográficos, ecológicos e

mercadológicos. Em suma, são todos aqueles fatores que podem induzir mudanças que

finalmente afetem as condições gerais onde são realizadas as atividades da organização.

29

Ambiente Específico, também denominado de ambiente de ação direta (STONER e

FREEMAN 1995; BOWDICH e BUONO, 1992), refere-se ao conjunto de fatores e condições

externas que tenham relevância imediata para uma organização. São elementos relacionados

principalmente a clientes (distribuidores e usuários); fornecedores (de materiais, mão de obra,

capital, equipamento e espaço de trabalho); concorrentes (de mercado e recursos); e grupos

regulamentadores (órgãos do governo, sindicatos, associações). O conjunto destes fatores é

específicos para cada organização em função do seu domínio, podendo sua composição mudar

com o tempo.

Ocorre porém que, nem tudo que acontece no ambiente, seja ele geral ou específico, é

significativo, ou sequer chega a ser conhecido pelos membros das organizações. Este é um

fenômeno ligado aos processos de atenção e percepção do homem, isto é, nenhum indivíduo é

capaz de captar toda gama de informações que está ao seu redor, mesmo que o fizesse, nada

garante que a percepção do que ele captou seja correta, ou mesmo útil para suas atividades

(WEICK, 1973). Neste ponto, em que intervêm o fator humano – identificando as condições

do ambiente – é que surge a necessidade de abordar o ambiente organizacional, a partir da

segunda perspectiva colocada acima, fazendo a distinção entre ambiente real e ambiente

percebido.

Ambiente Real, denominado também de ambiente objetivo ou realidade objetiva

(CHILD e SMITH, 1987), conformado por entidades, objetos e condições que existem fora da

empresa. Concentra-se nos ambientes geral e específico de uma dada organização. Essa

realidade objetiva impõe limitações ao modo de operar da empresa (BOWDITCH e BUONO,

1992; CHILD e SMITH, 1987).

Ambiente Percebido, ao contrário, corresponde a uma interpretação subjetiva do

ambiente real. Embora essas percepções também sejam eventos reais do ponto de vista de

suas conseqüências, elas ocorrem dentro da organização. Isso é importante, pois as pessoas

agem de acordo com o que percebem e não com os fatos reais (BOWDITCH e BUONO,

1992).

30

Dependendo da complexidade do ambiente organizacional, pode não existir um

apropriado grau de correlação entre o ambiente real e o ambiente percebido. Weick (1973)

denota que ninguém é capaz de captar toda a gama de informações que está a seu redor.

Assim, as percepções se tornam variáveis importantes, pois as pessoas agem em função das

suas percepções, e não dos fatos reais. Do mesmo modo, os processos decisórios são baseadas

em percepções sobre o ambiente e não em fatos reais (CHILD, 1972; WEICK 1973).

Este tipo de consideração, faz surgir uma distinção analítica do ambiente, de grande

interesse para o desenvolvimento deste estudo. Esta distinção reside no fato de que, muito

embora o ambiente possa ser distinguido de diferentes maneiras, ele só existirá para a

organização na extensão em que for percebido pelos seus integrantes.

Neste estudo, o ambiente, percebido, constitui o contexto onde as escolhas estratégicas

foram formuladas e implementadas para a adaptação da organização ao ambiente.

3.3 – ADAPTAÇÃO ORGANIZACIONAL

Para um melhor entendimento do comportamento estratégico organizacional é

importante descrever sobre adaptação organizacional, pois ela refere-se às atividades

desenvolvidas pelas organizações para que possam se adaptar às mudanças ocorridas no

ambiente no qual se inserem. Quanto maiores e mais velozes forem às mudanças no ambiente,

maior capacidade de adaptação será exigida de cada empresa.

Como o relacionamento entre a organização e seu ambiente ocorre através das

estratégias que a organização adota, o conceito de adaptação organizacional é essencial para o

entendimento do comportamento estratégico. A natureza da definição pode expandir ou

restringir a interpretação do comportamento estratégico.

Child e Smith (1987) consideram adaptação organizacional como o processo no qual

os tomadores de decisão identificam, interpretam e implementam estratégias, de acordo com

as necessidades e mudanças percebidas no seu ambiente de forma a assegurar, em última

instância, a sobrevivência da organização.

Hrebiniak e Joyce (1985) consideram a adaptação organizacional como um processo

dinâmico que resulta da relativa força e tipo de poder ou dependência existente entre a

organização e o ambiente.

31

3.3.1 Perspectivas teóricas de adaptação organizacional

Miles (1982), em sua pesquisa que relata como as organizações complexas se adaptam

sob condições impostas pelo ambiente externo, procura explicar como as empresas adaptam-

se ao ambiente por meio de duas perspectivas distintas quanto ao poder de influência das

organizações e do ambiente. Há a determinista que considera o ambiente com forte poder de

influência sobre a organização, sendo, então, o único responsável pela definição das

estratégias e a voluntarista que considera a organização com forte poder de influência sobre o

ambiente, com capacidade de manipulá-lo em função de seus interesses estratégicos.

São apresentados a seguir cinco modelos teóricos de adaptação organizacional, os

quais foram agrupados seguindo as considerações acima colocadas:

1. Determinísticos - Ecologia das Populações e Institucional;

2. Voluntaristas - Dependência de Recursos, Racional de

Contingências e Escolha Estratégica.

Modelo da ecologia das populações. Este modelo foi desenvolvido com base no

modelo da seleção natural da ecologia, na biologia, que por sua vez tem suas raízes na teoria

evolutiva de Darwin (ALDRICH, 1979). Os desenvolvimentos desta perspectiva está

relacionado aos trabalhos de Aldrich e Pfeffer, Hannan e Freeman, Kasarda e Bidwell e

Mckelvey e Aldrich (HALL, 1990).

Na opinião desses autores, a adaptação da organização ao ambiente é essencialmente

determinada por fatores ambientais através da seleção de características organizacionais que

melhor se adaptem ao ambiente. O processo de seleção é realizado em três estágios. Primeiro

acontecem as variações nas formas organizacionais podendo ser planificadas ou não; em

seguida é realizada a seleção daquelas formas organizacionais que melhor se adaptem ao

ambiente; e finalmente acontece a retenção das formas selecionadas, as quais são preservadas,

duplicadas e reproduzidas (ALDRICH e PFEFFER apud HALL, 1990). Numa exemplificação

ilustrativa, Morgan (1996) afirma que as organizações dependem para sobreviver da sua

habilidade de adquirir adequado suprimento de recursos. Nesse esforço, enfrentam a

competição de outras organizações e, uma vez que exista escassez de recursos, somente os

mais adequados ao ambiente sobrevivem.

32

O processo de seleção descrito acima ocorre entre diferentes variações de formas

organizacionais, assim, o modelo centra seu interesse na dinâmica evolutiva de populações

organizacionais não lidando com unidades organizacionais individuais (MORGAN, 1996).

Duas suposições são assumidas como verdades para sustentar a validade da dinâmica

populacional proposta no modelo: a) as organizações se caracterizam basicamente pela

inércia; b) as organizações são cativas de seu ambiente. Assim, as variações de formas

organizacionais não surgem e se materializam dentro das organizações, mas sim através do

surgimento ou entrada de novas formas organizacionais diferenciadas na população existente -

ambiente -, onde é realizada a seleção, preservação, duplicação e reprodução das formas

organizacionais que tiveram melhor adequação ao ambiente (MILES, 1982).

Assim, a adaptação organizacional neste modelo vai no sentido de uma melhor

adequação da organização ao ambiente, onde as formas organizacionais com melhor êxitos

são as que sobrevivem no longo prazo. A crítica ao modelo é que os processos pelos quais é

alcançada essa melhor adequação são desconsiderados (HALL, 1990).

Modelo institucional. Este modelo sugere que as pressões do ambiente em

combinação com as pressões internas, conduzem as organizações com o tempo a adotar

formas e estruturas similares - isomorfismo institucional -. (DIMAGGIO e POWELL apud

HALL, 1990), mentores deste modelo, consideram que o isomorfismo se produz quando as

organizações apresentam similar campo organizacional - fornecedores, clientes, agências

reguladoras, outras organizações que produzem produtos similares -, resultando em

organizações cada vez mais homogêneas.

Os mesmos autores apresentam três razões que explicariam o isomorfismo das

organizações dentro de um mesmo campo organizacional: a) as forças coercitivas do

ambiente, tais como regulamentações dos governos, pressões culturais podem impor

uniformidade às organizações; b) as organizações imitam ou moldam umas a outras, quando

enfrentando situações de incerteza procuram imitar as linhas de ação seguidas por outras

organizações no mesmo campo organizacional; c) as pressões normativas que surgem da

crescente profissionalização da força de trabalho, principalmente quanto aos gestores das

organizações, os quais possuem formações semelhantes, participam das mesmas associações

profissionais e de negócios, conseqüentemente suas idéias tendem a ser homogêneas.

33

Assim, como no modelo da ecologia das populações, os processos pelos quais é

alcançada a adaptação organização-ambiente são subestimados. O modelo considera que as

mudanças se originam e se materializam na ordem institucional em que uma organização se

encontra imersa, desconsiderando as escolhas de organizações individuais.

Modelo da dependência de recursos. Este modelo parte da suposição de que

nenhuma organização dispõe de todos os recursos que necessita, assim como, nem todas as

atividades que lhe são necessárias podem ser realizadas dentro da organização. O modelo

sugere que os recursos e atividades complementares necessárias de uma dada organização

encontram-se em outras organizações, e os recursos necessários dessas encontram-se em

outras distintas, existindo uma rede inter-organizacional de dependência de recursos (HALL,

1990).

Assim, o relacionamento entre as organizações (ambiente) se torna crítico para

assegurar a obtenção contínua dos recursos necessários. Nesse sentido, as organizações que

controlam os recursos passam a deter poder sobre as que deles necessitam, particularmente

quando os recursos são escassos, podendo ser problemática e incerta a aquisição desses

recursos. O modelo considera que a sobrevivência da organização depende em parte da

habilidade dos atores dentro da organização de lidar com contingências ambientais desse tipo

(PFEFFER e SALANCIK, 1978).

O modelo considera que o processo de tomada de decisões acontece em um contexto

político decorrente da combinação de arranjos de poder internos bem como de arranjos de

poder externos onde as organizações que conseguem lidar melhor com as restrições,

incertezas e contingências ambientais detêm maior poder na hora das interações (HALL,

1990).

34

Hall (1990) considera que o valor do modelo da dependência de recursos se encontra

na maneira como as organizações lidam com as contingências ambientais, de outro lado,

aponta como desvantagem do modelo não ter incluído a idéia de objetivos como parte do

processo de tomada de decisões.

Modelo racional de contingências. Hall (1990) observa que este modelo consegue

combinar elementos importantes das perspectivas de objetivos múltiplos e conflitantes e das

restrições ambientais. O mesmo autor coloca que o modelo tem sua raiz na teoria da

contingência, surgida em trabalho pioneiro de Lawrence e Lorsch e aperfeiçoada

posteriormente por diversos autores, tais como Galbraith, Becker e Neuhauser, Negandhi e

Raimann. Essa teoria pode ser resumida da seguinte maneira: a maneira ótima de organizar

depende da natureza do ambiente com o qual a organização deve relacionar-se. Segundo o

mesmo autor a principal crítica à teoria da contingência é que não explica como e por que se

desenvolve uma maneira ótima de organizar.

Quando à idéia de contingência se soma a noção de racionalidade surge o modelo

racional de contingência, em que as organizações são concebidas como buscando alcançar

objetivos e interagindo com seus ambientes, mas com a consciência de que não há uma

maneira ótima de fazê-lo (HALL, 1990).

A introdução de objetivos como componente racional no modelo sugere a existência

de um processo no qual eles são definidos. Hall (1990) considera que a idéia de Penning e

Goodman de existir uma coalizão dominante definindo critérios de efetividade organizacional

- objetivos organizacionais - é a mais apropriada ao modelo (o conceito da coalizão

dominante será abordado no modelo seguinte).

Assim, o modelo considera que as ações organizacionais são resultantes das opções

feitas pela coalizão dominante da organização de um conjunto de alternativas, num

determinado contexto ambiental de restrições e oportunidades, utilizando os objetivos

organizacionais como direcionadores das decisões adotadas (HALL, 1990; MILES, 1982). As

ações adotadas pela coalizão dominante podem ser vistas como solucionadoras de problemas

(posição reativa), porém, restrita à limitada racionalidade e disponibilidade de informação da

coalizão dominante.

35

Modelo da escolha estratégica. Child (1997) observa que a perspectiva da escolha

estratégica, originalmente apresentada em 1972 pelo referido autor, surgiu trazendo a

discussão que as abordagens deterministas até então dominantes - na medida que

consideravam as contingências ambientais como determinantes no desenvolvimento das

organizações -, não levaram em consideração ou abordaram de forma imprópria, a

importância da agência da escolha (atores) no processo de desenvolvimento organizacional.

A adaptação organizacional era vista como o processo pelo qual as organizações se

ajustavam às imposições do ambiente. Os processos através dos quais a adaptação

organizacional ocorria eram ignorados (MILES, 1982).

Child (1997) aponta que a perspectiva da escolha estratégica é definida como o

processo no qual os detentores do poder dentro das organizações - coalizão dominante -

decidem os cursos da ação estratégica direcionada a diferentes alvos dentro e fora da

organização. O modelo considera que as contingências ambientais formam parte desse

processo, mas que não são totalmente determinantes nas escolhas e formas estruturais

adotadas pela organização.

Child (1997) considera que o exercício da escolha estratégica pela coalizão dominante

acontece através de um processo circular que tem três estágios: a) avaliação da posição da

organização. São avaliadas as condições existentes no ambiente dentro do qual a organização

opera (oportunidades e restrições), assim como são recolhidas informações do desempenho

global da organização.

O conjunto dessas informações é confrontado com as condições internas (estrutura,

escala, tecnologia, recursos humanos); b) realização das escolhas estratégicas. As escolhas são

feitas por meio de iniciativas dentro da rede de relações internas e externas da organização, as

iniciativas destinadas à escola podem ser de natureza reativa – em resposta a condições dadas

-, tanto quanto de natureza proativa - gerando novas condições -. A efetiva definição das

escolhas estratégicas requer o exercício do poder - o que sugere a existência de uma coalizão

dominante - e constitui um fenômeno essencialmente político; c)aplicação das estratégias

escolhidas. Child (1997). Observa que o monitoramento da confrontação da eficiência interna

com a demanda externa irá determinar o nível de desempenho global da organização, que por

sua vez é uma entrada de informação importante para a coalizão dominante para próximas

avaliações de posição da organização. Assim, é estabelecido um processo circular e

potencialmente evolucionário.

36

Miles e Snow (1978) consideram que a perspectiva da escolha estratégica, quanto ao

relacionamento organização-ambiente, apresenta cinco características básicas: coalizão

dominante, percepções, segmentação, monitoramento de atividades, coações dinâmicas. As

quatro últimas surgem em função da configuração da primeira.

Coalizão Dominante. As organizações têm um grupo de tomadores de decisão cuja

influência é predominante na organização, cabendo-lhe a responsabilidade de identificar e

solucionar os problemas organizacionais. O conceito da coalizão dominante não está

necessariamente ligado aos detentores de autoridade formalmente constituída dentro de uma

organização, mas sim refere-se aos que exercem a maior parte do poder dentro da organização

em um período determinado, podendo inclusive (em determinados momentos) existir mais de

uma coalizão exercendo poder considerável. O conceito também não exclui a possibilidade de

grupos ou indivíduos, fora da coalizão dominante, exercer poder capaz de realizar mudanças

no desenvolvimento organizacional. O conceito da coalizão dominante, pela sua amplitude,

apresenta uma visão que relaciona a distribuição de poder na estrutura organizacional e o

processo de tomada de decisões, o qual constitui um fenômeno essencialmente político que se

estende por toda a organização (CHILD, 1972).

Percepções. O ambiente organizacional é “decretado” ou criado pelas percepções da

coalizão dominante. Desse modo as escolhas estratégicas organizacionais são adotadas em

função da percepção que a coalizão dominante tem do seu ambiente. Condições ambientais

deficientemente, ou não, percebidas têm pouca influência nas ações adotadas. Quanto maior

for a correspondência entre o ambiente percebido pela coalizão dominante e as condições

objetivas do ambiente real, a princípio maiores serão as chances de sucesso das decisões

adotadas. O primeiro passo para uma organização ser efetiva é que sua coalizão dominante

perceba adequadamente o ambiente (PFEFFER e SALANCIK, 1978).

Nesse sentido, Weick (1973) considera que o relacionamento organização-ambiente

não acontece da forma em que as organizações respondem a condições existentes no

ambiente. Ele considera que são os atores dentro das organizações os que criam os ambientes

organizacionais através de diversas escolhas voltadas a alvos tais como mercado, produtos,

tecnologias, escala. Esta afirmação é sustentada na teoria que sugere que o ser humano

constrói seu ambiente através de interpretações subjetivas das condições objetivas percebidas

através de seus sentidos.

37

Segmentação. A coalizão dominante é responsável pela divisão do ambiente e pela

alocação de seus componentes às subunidades da organização. Recursos são alocados a essas

subunidades de acordo com sua importância estratégica.

Monitoramento de atividades. A coalizão dominante é responsável pela identificação

daqueles elementos ambientais, julgados como críticos para a organização. As respostas

podem adotar a forma reativa - esperando que os eventos ambientais se definam mais

claramente -, ou a forma proativa - antecipando-se à conformação final dos eventos e atuando

rapidamente .

Restrições dinâmicas - As decisões adaptativas da coalizão dominante são limitadas

pela estratégia organizacional passada e atual, pela estrutura e pelo desempenho. As restrições

existentes podem ser relaxadas ou removidas por grandes alterações na estratégia, mas

qualquer nova direção escolhida terá seu próprio conjunto de restrições.

Child, citado por Miles e Snow (1978, p.20), afirma que a maneira mais precisa de se

conceituar esse processo é a Abordagem da Escolha Estratégica. Essa abordagem, segundo os

mesmo autores, argumenta que os administradores estão em uma posição para não somente

ajustar a estrutura e processos organizacionais, mas também para tentar manipular o próprio

ambiente para trazê-lo em conformidade com o que a organização realiza.

Miles e Snow (1978) afirmam que a abordagem da escolha estratégica argumenta que

a eficácia organizacional depende das percepções da direção ou, como defende (CHILD apud

MILES e SNOW, 1978) coalizão dominante, sobre condições ambientais, e das decisões que

38

ela toma relacionadas à maneira pela qual a organização enfrentará essas condições.

Com o objetivo de melhor compreensão do processo de escolha estratégica ou de

adaptação organizacional, Miles e Snow (1978) propõem a análise do ciclo adaptativo.

Explicam os autores que esse ciclo, auxiliam na compreensão pela qual as organizações se

adaptam continuamente seus ambientes.

3.4 O ciclo de adaptação e padrões de comportamento estratégico de Miles e Snow

(1978).

Para identificar os comportamentos estratégicos da empresa estudada, foram utilizados

os padrões de comportamento estratégicos de Miles e Snow (1978), portanto seus conceitos

constituem parte significativa da estrutura conceitual que orientou o desenvolvimento deste

trabalho.

Miles e Snow (1978) sustentaram uma estrutura teórica para retratar o processo de

ajustamento ou adaptativo nas organizações. O processo dinâmico de ajustamento às

mudanças e incertezas ambientais é bastante complexo, envolvendo inúmeras decisões e

condutas em vários níveis organizacionais. Sustentam os autores que a complexidade desse

processo de ajustamento pode ser melhor compreendida e reduzida por meio da busca de

padrões no comportamento das organizações, já que estes padrões podem descrever e até

mesmo prever o processo de adaptação organizacional. A visão dos autores insere-se na

abordagem da escolha estratégica, ao reconhecer que as principais decisões tomadas pelos

administradores servem para definir o relacionamento da organização com o macro ambiente

(CHILD,1972).

A estruturas da pesquisa de Miles e Snow (1978) apresentam um instrumental teórico

composto por dois elementos principais: o primeiro, um modelo geral de processo de

adaptação que descreve as decisões necessárias à organização, para que ela mantenha um

alinhamento eficaz com o seu ambiente, configurado na pesquisa pelos autores como ciclo de

adaptação, e o segundo, uma tipologia organizacional que contemple os diferentes padrões de

comportamento adaptativo usados pelas organizações, dentro de uma determinada indústria

39

ou outro agrupamento, ou, como definiram os autores, os tipos estratégicos.

Segundo Miles e Snow, o modelo do ciclo de adaptação vem auxiliar no

desenvolvimento e na compreensão do processo pelo qual as organizações se ajustam

continuamente aos seus ambientes e têm a finalidade de apresentar a natureza das inter-

relações dos problemas que as organizações precisam resolver, a fim de obter uma posição

efetiva dentro do seu ambiente. Nesse processo de ajustamento, três problemas básicos são

vistos como parte do ciclo de adaptação: o empresarial, o de engenharia e o administrativo,

representados na Figura 2.

Figura 2 – O Ciclo Adaptativo

Fonte: Miles & Snow, (1978: pg. 24)

O Problema Empresarial: tanto em novas quanto em já existentes organizações, a

solução para o problema empresarial é indicada pela aceitação gerencial de um particular

domínio de produto-mercado. Essa aceitação se torna evidente quando o administrador decide

comprometer recursos para atingir objetivos relativos à solução empresarial.

O Problema de Engenharia: esse problema envolve a criação de um sistema que

ponha em operação a solução administrativa para o problema empresarial. A criação de cada

sistema requer gerenciamento para selecionar uma tecnologia apropriada para produção e

distribuição dos produtos/serviços escolhidos.

40

O Problema Administrativo: abrange a racionalização e a estabilização das soluções

ligadas aos dois problemas anteriores. A solução do problema administrativo, contudo,

envolve mais do que uma simples racionalização do sistema já desenvolvido (redução da

incerteza); ela envolve também a formulação e implementação dos processos que permitirão

que a organização continue a crescer (inovação), ou seja, posiciona a organização quanto à

contínua adaptação aos desafios subseqüentes.

A adaptação organizacional pode ser conceituada como sendo um ciclo de ajustamento

que requer a solução simultânea de três problemas principais: empresarial (definição de

domínio), de engenharia (tecnologia) e administrativo (estrutura-processo e inovação). Os

problemas se inter-relacionam e a adaptação ocorre freqüentemente através de modelos

seqüenciais ao longo da fase empresarial, de engenharia e administrativa, mas o ciclo pode ser

iniciado em qualquer um desses pontos.

Além desse ciclo adaptativo apresentado, Miles e Snow apresentaram um conjunto de

tipologia de comportamento estratégico que configuram padrões de comportamento

estratégico que emergem quando a organização procura responder às demandas do ambiente,

possuindo cada um deles uma configuração particular de tecnologia, estrutura e processo,

consistentes com sua estratégia. São os tipos: Prospectoras, Defensivas, Analíticas e Reativas

(MILES e SNOW, 1978, p.29).

Prospectoras

Empresas prospectoras adotam uma postura agressiva em busca de novas

oportunidades. São empresas que investem alto em pesquisa e desenvolvimento ou adquirem

empresas menores com novos negócios ou produtos; são empresas que geralmente iniciam

mudanças na indústria na qual atuam. Estas empresas solucionam o problema empresarial

ampliando continuamente o domínio produto-mercado, através da diferenciação ou do baixo

custo.

A tecnologia é diversificada, flexível e pouco padronizada. A solução para o problema

administrativo se dá com um controle não centralizado, departamentos fortes de Pesquisa &

Desenvolvimento e Marketing, amplo planejamento e maiores custos e menor eficiência

devido à ausência da curva de experiência. O desempenho é avaliado em função de market

share e volume de vendas, entre outros. O risco desta estratégia é alto pois a não aceitação de

um novo produto pode significar prejuízos significativos.

41

Defensivas

Adotam a postura quase que oposta aos prospectoras, pois procuram defender e

garantir a posição em que se encontram. Tendem a não introduzir inovações tecnológicas,

competindo nas dimensões de preço e qualidade dos seus produtos já comercializados no

mercado.

Normalmente adotam uma linha de produtos limitada, segmentada e mais lucrativa

(ZAHRA & PEARCE II, 1990 in CAVALCANTI, 1997). Alcançam a solução do problema

de engenharia com a utilização de uma tecnologia principal, gerando baixo custo na produção.

Para tanto, investimentos significativos em Pesquisa & Desenvolvimento são fundamentais. A

integração vertical pode ser uma alternativa para o aumento da eficiência. A administração

tende a ser rigorosa, controlada e centralizada, voltada para custos e resultados, sempre

comparando indicadores financeiros e produtivos do ano atual com os anos anteriores.

Ainda que esta estratégia possa ser aplicada a diversas indústrias, os autores concluem

que são nas indústrias estáveis que este tipo de organização se dá com maior probabilidade.

Esta estratégia se depara com o risco de ser incapaz de se adaptar a mudanças mais

drásticas no ambiente competitivo, pois o foco impede que haja a diversificação, fundamental

para acompanhar mudanças.

Analíticas

As empresas analíticas adotam uma postura intermediária entre as prospectoras e as

defensivas. Ou seja, buscam novos produtos e mercados, mas garantem seus produtos e

mercados atuais. Estas empresas são também chamadas de “imitadores criativos” (SLATER

& NARVER, 1993), por absorverem e melhorarem inovações dos concorrentes. Esta

estratégia permite que a empresa garanta a viabilidade dos produtos antes de lançá-los,

evitando altos investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento.

42

Para tanto as empresas precisam manter um monitoramento constante dos sucessos e

fracassos das empresas prospectoras concorrentes. A tecnologia adotada é estável e

padronizada, ainda que apresente algum grau de flexibilidade. Esta combinação gera uma

certa ambigüidade que acaba resultando numa ausência de eficiência por parte das analíticas,

que, por sua vez, tendem a adotar a diferenciação como vantagem competitiva.

As analíticas geralmente organizam sua estrutura de forma matricial e tem nos

departamentos de engenharia de produto e marketing os principais focos de atenção e

investimento. O maior risco destas empresas é o de não alcançar a eficiência e eficácia

necessária, sendo estes indicadores os utilizados para medir o desempenho destas empresas.

Reativas

Estas empresas não adotam uma postura pró-ativa, apenas reagem às ações das outras

empresas quando são forçadas. Estão geralmente em desvantagem, pois sofrem os ataques das

prospectoras e não conseguem atingir o mercado protegido pelas empresas defensivas e

analíticas.

Geralmente, as reativas chegam a esta situação por não conseguirem definir uma

estratégia específica em função de um líder centralizador, ou pela contradição entre a

estratégia escolhida e a estrutura organizacional adotada ou pela não adaptação da estratégia

ao novo ambiente competitivo.

Uma vez escolhida a postura que irá adotar frente ao ambiente competitivo, a empresa

deve adequar seu processo produtivo, a rede de distribuição e logística, a política de preço, os

esforços de promoção e marketing e demais processos envolvidos de forma a apoiar a postura

selecionada.

Os tipos estratégicos configuram os diversos padrões de comportamento adaptativo

usado nas organizações, quando a organização procura responder às demandas do ambiente,

possuindo cada um deles uma configuração particular de tecnologia, estrutura e processo,

consistentes com suas estratégias. Esses tipos estratégicos foram utilizados na presente

pesquisa para descrever e diagnosticar os comportamentos organizacionais identificados nos

diversos períodos estratégicos do trabalho.

43

A preocupação até agora foi a de analisar a relação organização-ambiente e,

conseqüentemente, o processo de adaptação estratégica com sua diversas perspectiva e o

comportamento estratégico organizacional da empresa pois esta e a base do trabalho.

Portanto, em todas as caracterizações de comportamento estratégico, se deixa transparecer a

importância da relação entre organização, ambiente, mudança e estratégia. As organizações

usam das estratégias principalmente para adapta-se às mudanças no ambiente

3.5 – MUDANÇA ESTRATÉGICA

Quando a mudança é estudada como uma unidade isolada de análise, freqüentemente

focaliza-se num único evento, ou num conjunto de episódios descontínuos, desconsiderando

antecedentes importantes, imediatos ou mais distantes, desses eventos. De outro lado,

freqüentemente assumem que as mudanças possuem um início e um final bem definidos,

assim como uma área específica onde aconteceram. Essa forma de abordar a mudança

freqüentemente está preocupada com a complexidade de mudanças pontuais, ao invés de com

a análise holística e dinâmica de mudar (PETTIGREW et al., 1992).

Pettigrew (1987) sugere um modelo para estudar a mudança de uma forma dinâmica e

holística em termos de conteúdo, contexto e processo. A presente pesquisa adotará esse

modelo para analisar o processo de adaptação organizacional da empresa em estudo. O

referido autor representa a análise da mudança através de uma figura em que transparece a

indivisível relação entre conteúdo, contexto e processo.

3.5.1 – O Processo, o Contexto e o Conteúdo da Mudança

Esta seção apresenta uma revisão das dimensões da estratégia relacionado ao modelo

de Pettigrew (1987): conteúdo, processo e contexto (ver Figura 3).

44

CONTEXTO

Externo

Interno

CONTEÚDO

PROCESSO

Figura 3 - Modelo de estudo do processo da mudança estratégica

Fonte: Pettigrew (1987)

O processo da mudança – O como? a mudança acontece.

A adoção do conceito de processo como uma seqüência de eventos que descrevem

como as coisas mudam através do tempo e a adoção da teoria de processo teleológico2,

permite que sejam analisados os dados através do tempo e a realização de uma análise

holística e dinâmica do processo de mudança não se preocupando com mudança episódicas

(PETTIGREW et al., 1988). No presente trabalho, o processo será considerado como dito

acima, ou seja, uma descrição da história da empresa estudada, possibilitando que se permita

estudar, posteriormente o contexto e o conteúdo das mudanças.

2A teoria do processo teleológico é baseada na suposição de que o desenvolvimento do ser é proposital e adaptativo. Ele mesmo constrói um estado final desejado e seleciona, das alternativas, um curso de ação para alcançar o estado final. Quando alcança este fim, não significa que esteja em equilíbrio, influências do meio externo ou interno devem criar instabilidade que o colocam em uma nova trajetória. Teorias que dependem do processo teleológico não podem especificar que trajetória o desenvolvimento irá seguir. Dentro de uma lista dos melhores caminhos, e através de normas de racionalidade escolher-se-á um certo caminho.

Greenwood e Hinings (1988) têm tratado a questão da mudança macro organizacional

com o conceito de caminhos. Um caminho é uma seqüência que envolve a alteração de

elementos da estrutura de um esquema interpretativo vigente, o surgimento de novos

esquemas interpretativos e seu rearranjo com apropriados elementos da estrutura. Esta deve

ser de reorientações transformacionais, movimentos que iniciam um processo de

transformação seguido pela estabilidade onde ocorrem mudanças incrementais.

45

Mintzberg (1973) caracteriza mudança incremental ou adaptativa como uma série de

pequenos passos onde novas estratégias são formadas gradualmente.

Contrariamente, mudança revolucionária é caracterizada como passos dramáticos para

frente, normalmente devido à incerteza ambiental (MINTZBERG, 1978). Miller e Friesen

(1980) abordam a mudança revolucionária como uma mudança drástica de um grande número

de variáveis da estratégia e da estrutura.

Os cenários de adaptação podem ter vários formatos. Nos sistemas mais complexos,

biológicos ou comerciais, os cenários têm muitos picos e vales (analogia com o ambiente

físico), porém as alturas dos diversos pontos se correlacionam de modo que as estratégias,

ligeiramente diferentes, estejam próximas umas das outras e tenham níveis de adequação

semelhantes.

A formulação de estratégias de negócios é uma busca evolutiva para alcançar os

pontos altos de um cenário de adaptação, o estrategista como o alpinista, tem como objetivo

alcançar e permanecer nos picos mais altos que puder, após enfrentar diversos desafios.

Aponta quatro elementos vitais para chegar aos altos picos nos cenários de adaptação:

a) não parar nunca; b) colocar alpinistas em todo o território; c) misturar saltos curtos e longos

e; d) criar populações de estratégias.

Os estrategistas devem criar e administrar uma população de estratégias em

evolução,pois novas idéias e inovações criam novas estratégias e observar seu desempenho ao

longo do tempo, para que se possa decidir quais merecem um compromisso e quais devem ser

abandonadas. Afirma que não é fácil reorientar uma organização nesse sentido.

Os processos organizacionais, os parâmetros de medição e os incentivos respondem

freqüentemente a uma visão linear da estratégia, insustentável diante do novo padrão mental.

Apresenta seis medidas capazes de reforçar a postura mental favorável à adaptação: a) investir

na diversificação; b) ver as estratégias como opções reais; c) fazer um mapa dos saltos no

cenário; d) testar a população de estratégias; e) incorporar-se ao mercado e; f) usar medidas de

desempenho do investimento de risco.

46

O contexto da mudança – O Por Que? da mudança.

Para Giddens (1979), a natureza da explicação nas ciências sociais e, portanto, a

explicação do processo de adaptação organizacional, é contextual. O processo de adaptação

organizacional não ocorre no vácuo. Para explicá-lo, é necessário entender o contexto, isto é,

aquele conjunto de fatores externos e internos à organização que influem no processo. Apesar

de vários autores concordarem sobre a necessidade de uma abordagem contextual, não existe

muito consenso sobre o que é o contexto.

Para Pettigrew e Whipp (1991), o contexto pode ser dividido em contexto externo e

interno. O contexto externo é formado pelas condições econômicas, competitivas, políticas e

sociais do ambiente; o contexto interno é o espaço no qual vão surgir as idéias de mudança.

Ele é constituído pela estratégia atual, recursos, cultura, competências e processo político.

Whipp et al. (1989) afirmam que existem poucas dúvidas e que a adaptação para mudanças

competitivas no contexto tem sido um fator chave para o sucesso das organizações

Mesmo sabendo que o contexto externo ou interno é quem desencadeia o processo de

mudança, conhece-se muito pouco a respeito de como a mudança estratégica toma lugar nas

organizações. Javidan et al. (1990) afirmam que existe limitada informação descritiva de

como realmente a mudança estratégica é implementada em uma organização.

Muito do debate existente é uma conseqüência de quatro perspectivas teóricas,

divergentes, concernentes às organizações, já discutidas anteriormente.

Primeiro, teóricos da perspectiva da seleção natural acreditam que as estratégias

mudam muito pouco porque as organizações são restringidas em sua habilidade para adaptar-

se (HANNAN e FREEMAN, 1984). Segundo, a perspectiva da dependência de recursos

pressupõe que o ambiente, através do controle dos recursos críticos, determina a mudança

estratégica (PFEFFER e SALANCICK, 1978).

Terceiro, existem aqueles que acreditam que os gerentes têm um papel chave no

monitoramento da mudança ambiental e mudam as estratégias para ajustar suas organizações

àquelas mudanças (CHILD, 1972). Devido à perspectiva da escolha estratégica, o

relacionamento ambiente-organização muda através do tempo.

47

Por último, tem-se a perspectiva institucional, esta trata de como e por que as

estruturas e processos organizacionais tornam-se legitimados e as conseqüências deste

processo de institucionalização (MEYER e ROWAN, 1977; ZUCKER, 1987).

A perspectiva institucional propõe que uma organização tem mais probabilidade de

sobreviver se ela obter legitimidade, suporte social e aprovação dos constituintes de seu

ambiente institucional (MEYER e ROWAN, 1977; DIMAGGIO e POWEL, 1983).

As forças que fazem com que as organizações mudem podem ser compreendidas da

perspectiva teórica. Contudo, a natureza apropriada da mudança pode ser determinada

somente em relação a um conjunto específico de condições externas e internas (FRIESEN e

MILLER, 1986).

O foco torna-se a descrição e identificação destas variáveis chaves internas e externas.

Fazendo isto, as forças que assinalam o desequilíbrio no comportamento de uma organização

ou que estimulam movimentos através de um comportamento mais efetivo e eficiente podem

ser identificadas (GINSBERG, 1988).

Para resumir, os estudos encontrados nesta área parecem suportar a afirmação que a

mudança estratégica, para ser entendida, deve ser examinada considerando não somente as

mudanças ambientais, mas também certos fatores contextuais internos à organização.

a) Contexto externo

O contexto externo, no qual as organizações operam está sujeito à reestruturação

rápida e radical. Os ambientes técnico-econômico e institucional pressionam a organização e,

se ela quiser sobreviver, deverá ajustar-se a um deles ou a ambos.

As organizações têm um leque diverso de respostas às mudanças no ambiente social,

político, econômico. Em alguns casos, algum fato deve levar a organização a mudar, para

melhor alinhar-se com o ambiente (MILLER e FRIESEN, 1980). Em outras situações, um

“momentum” de inércia deve fazer com que a organização resista à mudança (MINTZBERG,

1978). As diferentes respostas são originadas, dependendo de como as mudanças ou questões

ambientais são interpretadas dentro da organização (DUTTON e DUNCAN, 1987).

48

Acredita-se que as forças ambientais sejam um dos mais importantes desencadeadores

de mudanças estratégicas (MILES e CAMERON, 1982; MILLER e FRIESEN, 1980).

Muitos estudos têm descoberto que mudanças ambientais produzem mudanças na

configuração ou direção estratégica (MILLER e FRIESEN, 1983; MINTZBERG e

MCHUGH, 1985; MIZRUCHI e STEARNS, 1988). Em estradas de ferro (SMITH e GRIMM

1987), em indústrias de minicomputadores, indústria de cimento e empresas de aviação

(TUSHMAN e ANDERSON, 1986), suportam a afirmação que as mudanças estratégicas

ocorrem em resposta a mudanças ambientais.

O grau de incerteza, condições competitivas, traços estruturais e situação regulatória

também influenciam uma organização a aumentar suas experiências e aumenta a pressão para

mudança (GINSBERG, 1988). MILES e SNOW (1978) e PAINE e ANDERSON (1977)

afirmam que gerentes em ambientes incertos tendem a assumir muito mais riscos e

implantarem mudanças do que gerentes em ambientes menos turbulentos.

Em termos de condições de mercado e traços estruturais, as descobertas suportam um

relacionamento entre mudança estratégica e a existência de barreiras de saída e entrada

(HARRIGAN, 1980, 1985), e aumento das condições competitivas (HARRIGAN, 1985).

Além disso, um relacionamento direto tem sido encontrado entre o aumento da regulação e as

estratégias interorganizacionais (BIRNBAUM, 1985), e desregulamentação com estratégias

competitivas (BLEEKE, 1983) e estratégias focalizadas (SMITH e GRIMM, 1987).

Portanto, a pressão do contexto externo faz com que a organização adote uma postura

empreendedora e tente modificar seu ambiente ou adotar uma postura adaptativa e ajustar-se a

ele.

b) Contexto interno

Chakravarthy (1991) afirma que mudanças determinadas pelo contexto interno

ocorrem após períodos de estabilidade. Nestes períodos a organização desenvolve capacidades

organizacionais e materiais que possibilitam à mesma efetivar mudanças.

Uma grande quantidade de estudos tem procurado analisar o efeito das condições

internas, isto é, competências, pessoas, estrutura, política, cultura, sobre a mudança

estratégica. Alguns pesquisadores têm examinado o papel da alta administração na mudança

estratégica. Wiersema e Bantel (1992) encontraram um relacionamento positivo entre a

demografia da alta administração e a mudança estratégica. Os autores identificaram que as

perspectivas cognitivas dos executivos da alta administração, refletidas nas variáveis

demográficas como, idade e treinamento acadêmico, foram diretamente proporcionais à

propensão deles efetivarem mudanças em suas organizações.

49

Pettigrew et al. (1988), quando analisaram o sistema de saúde britânico, destacaram a

importância de se estudar o contexto interno. Eles dirigiram a atenção para o caráter receptivo

e inibitório da cúpula administrativa quanto ao seu estilo e táticas de gerenciamento,

mostrando que isto é fundamental para explicar porque um grupo de organizações, apesar de

estar em um ambiente similar e sofrendo as mesmas pressões políticas, age diferentemente e

alcançam resultados diferentes.

Johnson (1992) ressalta a importância do contexto interno, afirmando que evidências

empíricas demonstram que as decisões gerenciais referentes às mudanças são tomadas dentro

de um contexto político-social, tendo a experiência gerencial como filtro de estímulos internos

e externos.

O ambiente por si só, complementa o autor, não provoca mudanças dentro da

organização, são as pessoas, através de seus paradigmas, que criam novos rumos e cursos

estratégicos.

O conteúdo da mudança – O Que? da mudança.

Topping (1991) salienta que as dimensões apropriadas da estratégia são função do

nível de estratégia, no qual as mudanças tomam lugar, e que a mudança no conteúdo é

definida pelas mudanças nos seguintes níveis estratégicos: corporativo, negócio, cooperativo

(interorganizacional) ou funcional3.

3Como as estratégias em nível funcional ou operacional não envolvem a interação ambiente-estratégia, estudos deste nível geralmente não são considerados ao aplicar-se a estudo da estratégia (Bourgeois, 1980). Por esta razão, eles não serão incluídos na discussão da mudança estratégica.

Portanto, o conteúdo da mudança estratégica, adotando as dimensões sugeridas por

Topping (1991), pode ser definido da seguinte maneira: a) mudança estratégica em nível

corporativo envolve um realinhamento do domínio produto/mercado da organização

(ANSOFF, 1977); b) mudança estratégica em nível de negócios é definida como uma

modificação das decisões competitivas (mudanças de preço ou qualidade) dentro de um

domínio específico de produto/mercado (BOURGEOIS, 1980); c) mudança estratégica em

nível cooperativo envolve uma variação no grau de interdependência ou cooperação entre

uma organização e outras organizações no ambiente (NIELSEN, 1988).

50

De qualquer modo, mudança estratégica e estratégia são conceitos indissociáveis em

qualquer modelo, pois, a mudança estratégica, pressupõe a formação de estratégia para a sua

consecução. Deste modo, conceituar estratégia, bem como conhecer as abordagens de

diversos autores é fundamental para a compreensão do comportamento estratégico.

3.6 – ESTRATÉGIA

A estratégia diz respeito tanto à organização como ao ambiente. Uma premissa básica

para se pensar a respeito de estratégia diz respeito à impossibilidade de separar organização e

ambiente. A organização usa a estratégia para lidar com as mudanças nos ambientes

(MINTZBERG, et al, 2000).

Bourgeois (1980) define estratégia como os meios pelos quais a administração de uma

organização estabelece objetivos e persegue estas propostas através do coalinhamento dos

recursos organizacionais com as oportunidades e ameaças ambientais.

Uma visão similar de estratégia é representada nos trabalhos de Mintzberg (1973),

Miles e Snow (1978), Hambrick et al. (1993) e Andrews (1971). Para estes autores estratégia

é vista como um padrão ou corrente de decisões importantes. Andrews (1971) afirma que

estratégia corporativa é o padrão de decisões em uma organização que determina e revela seus

objetivos, propósitos ou metas, produz as principais políticas e planos para alcançar estas

metas e define o conjunto do negócio que a companhia persegue, o tipo de contribuição

econômica e não econômica que ela intenciona retornar para seus acionistas, empregados,

consumidores e à comunidade.

51

Primeiro, as estratégias podem ser dirigidas para o ambiente externo, isto é, quando

elas buscam posicionar a organização no ambiente. Segundo, as estratégias podem ser

dirigidas para dentro quando se preocupam com o coalinhamento dos recursos

organizacionais às oportunidades e ameaças ambientais.

Hambrick e Schecter (1983) observam que uma estratégia pode ser considerada um

padrão em uma corrente de decisões passadas ou pretendidas que: a) guia o alinhamento

contínuo da organização com seu ambiente, e; B) molda os procedimentos e políticas internas.

Mintzberg et al. (2000) observam como impróprio considerar uma única definição de

estratégia e propõem como válidas cinco caracterizações distintas de estratégia. Uma

estratégia pode ser considerada como um plano, um padrão, uma posição, uma perspectiva ou

uma manobra.

Estratégia como plano é definida por esses autores como um curso ou guia de ação

para o futuro predeterminado, resultante de um processo de deliberação formalizado.

Observa-se, no entanto, que na hora de rever o seu passado as realizações de uma organização

geralmente não guardam muita correlação com o que originalmente fora pretendido.

Estratégia como padrão é definida como um comportamento consistente ao longo do

tempo, que pode ter uma origem deliberado ou não. Mintzbeg et al. (2000) consideram que de

um modo geral a grande maioria das estratégias realizadas (padrão) apresentam componentes

deliberados e não deliberados (emergentes). Mintzberg e McHugh (1985) e Mintzberg (1987)

consideram que a caracterização como padrão permite analisar as estratégias através de

longos períodos de tempo, como elas se formam evoluem e desaparecem no processo de

adaptação organizacional. Mintzberg et al. (2000) apresentam uma representação (Figura 4),

onde estão caracterizadas as estratégias como plano e como padrão.

Planos são estratégias pretendidas, enquanto padrões são estratégias realizadas.

Estratégias deliberadas são estratégias realizadas (padrões) que tiveram uma origem

pretendida, entanto que, estratégias emergentes são estratégias realizadas (padrões) que foram

surgindo ao longo do tempo sem ser expressamente pretendidas. A representação considera

também que algumas estratégias pretendidas não são realizadas.

52

Estratégia deliberada

Estratégia Estratégia

Pretendida realizada

Estratégia Estratégia

Não realizada emergente

Figura 4: Estratégias Deliberadas e Emergentes

Fonte: Mintzberg et al., 2000, p. 19

Algumas estratégias se assemelham a uma ou a outra forma, porém, a maioria se

enquadra no espaço que existe entre as duas formas, podendo ter aspectos deliberativos e

emergentes ao mesmo tempo. Isso depende dos fatos que podem afetar a eficácia das

operações da organização ao longo de sua existência e de cada processo de formulação de

estratégia decorrente: pode ser estratégia parcialmente deliberada e parcialmente emergente,

ou ainda, deliberadamente emergente. A ocasião “faz” a estratégia.

Estratégia como posição significa que a organização busca estabelecer um

posicionamento privilegiado num determinado ambiente. Michael Porter em seu livro

Vantagem Competitiva, considera de vital importância o posicionamento de uma organização

através da construção de vantagens competitivas.

Estratégia como perspectiva significa a maneira fundamental de uma organização

fazer as coisas. Refere-se à orientação gerencial interiorizada no pensamento coletivo da

organização traduzida numa visão da organização. Enquanto a estratégia como posição olha

para fora buscando um posicionamento privilegiado da organização no ambiente, a estratégia

como perspectiva desenvolve dentro da organização uma perspectiva coletiva que se traduz na

grande visão da empresa (MINTZBERG et al., 2000). Estratégia como perspectiva é para a

organização o que a personalidade é para o indivíduo (ALVES FILHO, 1999).

53

Estratégia como manobra tem a conotação de um truque, de uma simulação,

tentando enganar aos competidores, influenciando a tomada de decisões dos mesmos. Pode

considerar-se que as cinco definições de estratégia descritas acima são complementares, na

medida que adicionam importantes elementos para o entendimento da estratégia. Como

colocam Mintzberg et al. (1992) nem todos os planos se transformam em padrões, nem todos

os padrões foram planejados; algumas manobras mais tarde se consolidam como posições,

enquanto outras estratégias são mais posições do que perspectivas.

Este capítulo teve como objetivo fornecer a base teórica para a pesquisa efetuada,

dando sentido acadêmico, aos fatos a serem estudados. Assim enfocou-se conceitos, teorias e

modelos relacionados com organizações, como sistemas abertos, ambiente organizacional,

fazendo-se a distinção entre ambiente geral e especifico, assim como, entre ambiente real e

percebido. Na seqüência, apresentou-se aspectos relacionados a adaptação organizacional,

agrupados em modelos determinísticos e voluntaristas, o ciclo de adaptação e padrões de

comportamentos estratégicos, baseada na tipologia de Miles e Snow (1978), que é objeto

deste estudo, sobre o comportamento organizacional de uma empresa do Polo Indústrial de

Manaus (PIM). Também foram abordados aspectos sobre mudança estratégia e estratégia,

dando fundamentos teóricos necessários para compreender e dar significado ao fenômeno

estudado.

54

CAPÍTULO IV

AS CONDIÇÕES OBJETIVAS DO SETOR DA EVI

A finalidade deste capítulo é descrever as condições objetivas do setor com que se

confrontou a EVI, em seu processo de adaptação estratégica, caracterizando os ambientes

geral e específico da empresa, nas décadas de 70, 80 e 90. Embora o quadro de análise do

processo de adaptação da EVI se restringe nas décadas de 70,80 e 90, julgou-se oportuno

caracterizar as condições objetivas do setor desde o início dos anos 70, uma vez que muitos

aspectos, sobretudo no campo político e econômico, originários do inicio da década de 70,

tiveram repercussão na condução da política econômica do país nos anos subseqüentes.

As condições objetivas do setor, segundo a classificação de Child e Smith (1987), são

traduzidas pelo conjunto de fatores externos que podem criar pressões para a transformação

da organização, na medida em que a viabilidade da empresa depende da extensão para a qual

seu comportamento é apropriado para aquelas condições ambientais. Contrapõe-se à arena

cognitiva, definida como a interpretação que a coalizão dominante fazem do ambiente

externo, fruto da construção mental dos dirigentes a respeito deste ambiente. Esta construção,

por ser inerente a percepção dos dirigentes, será abordada no capítulo que descreve o processo

de adaptação estratégica da empresa, que trata do contexto interno, do conteúdo e do processo

das mudanças estratégicas observadas no âmbito de cada período estratégico da empresa.

O ambiente geral – se refere aos fatores, tendências e condições gerais que afetam a

todas as organizações. Inclui aspectos relacionados às condições tecnológicas, fatores sociais,

interações políticas, condições econômicas, fatores demográficos, além da estrutura legal e

condições culturais (BOWDITCH e BUENO, 1997). Em função das peculiaridades do objeto

de análise – empresa industrial que atua no setor eletroeletrônico do Pólo Industria de Manaus

(PIM), - dar-se-á maior ênfase à descrição das condições econômicas e políticas do ambiente

geral, fazendo referências a outros aspectos, somente quando da abordagem for considerada

relevante para a consecução dos objetivos do estudo.

O ambiente específico – enfoca os fatores e as condições externas que tenham

relevância imediata para a organização. Inclui os clientes, fornecedores, sindicatos,

autoridades regulamentadoras, grupos de interesses e outros segmentos ou entidades

considerados relevantes para a organização. Está relacionado ao espaço de domínio específico

da organização, ou seja, à gama de produtos ou serviços oferecidos ou mercados servidos

(BOWDITCH e BUENO, 1997).

55

Neste estudo, o ambiente específico será abordado o setor eletroeletrônico do Pólo

Industrial de Manaus (PIM), que segundo dados da Superintendência da Zona Franca de

Manaus (SUFRAMA), é o principal pólo, responsável por 55% do faturamento industrial,

formado por indústrias de bens eletrônicos de consumo (áudio, vídeo e fornos de microondas),

informática (computadores e seus periféricos), equipamentos profissionais (fotocopiadoras,

aparelhos telefônicos e de fac-simile e outros aparelhos de telecomunicações) e componentes

eletrônicos. Seguem-se a ele, em ordem de importância, os seguintes setores: duas rodas

(motociclos, ciclomotores e bicicletas com marchas), artigos de cutelaria (aparelhos de

barbear), isqueiro, (canetas e lapiseiras), relojoeiro e ótico (ótica oftálmica, ótica de precisão e

fotografia), dentro deste ambiente que se situa a EVI, desempenhando um papel relevante

para a região.

Com essa análise ambiental, descrição das condições objetivas do setor, através da

caracterização dos ambientes geral e específico, completa-se o exame do contexto externo das

mudanças estratégicas da organização, de acordo com a caracterização de Pettigrew (1987).

A caracterização do ambiente da organização em estudo assume papel importante para

a compreensão de seu processo de adaptação estratégica organizacional. Na teoria

organizacional contemporânea as organizações são vistas como sistemas abertos, que

precisam se adaptar a condições externas mutantes.

Contrariamente ao pensamento da administração clássica, onde as organizações eram

vistas como sistemas relativamente fechados e, portanto, pouca atenção era dedicada à

adaptação da organização às mudanças no ambiente externo.

4.1 – AMBIENTE GERAL: CONDIÇÕES MACRO-ECONÔMICAS E POLÍTICAS

DO BRASIL NAS DÉCADAS DE 70, 80 E 90

56

4.1.1 – A Situação Política e Econômica do Brasil nos Anos 70

A década de 70 é conhecida como um período de anos gloriosos da economia

brasileira. Apesar de algumas contradições no campo social e uma certa desaceleração da

economia no final da década, o período foi marcado pela prosperidade econômica.

Principalmente no início dos anos 70 a economia brasileira beneficiou-se do grande

crescimento do comércio mundial e dos fluxos financeiros internacionais para aumentar sua

abertura comercial e financeira em relação ao exterior, aproveitando um ciclo expansivo e de

resultados positivos em quase todos os setores da economia.

Neste período, é possível destacar dois grandes fatos que têm influência decisiva na

condução dos rumos do país e repercussão no âmbito da ação política e econômica da nação:

a) O “Milagre econômico brasileiro” (1968-1973);

b) O II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND – 1974-1979).

O primeiro, caracterizado por um crescimento acelerado, decorrente em grande parte

das reformas ocorridas nos anos anteriores, que possibilitaram conter a inflação e criaram as

condições favoráveis para o crescimento econômico, associado, ainda às condições

internacionais favoráveis, e o segundo, em que a manutenção do crescimento se deu em

função da vontade política do governo militar (Geisel) de transformar o Brasil em potência

mundial emergente, retirando-o da condição terceiro-mundista e inserindo-o no chamado

primeiro mundo.

O “Milagre Econômico Brasileiro”

Esta fase é caracterizada pelas maiores taxas de crescimento do produto brasileiro na

história recente do país. É um período de vários anos consecutivos em que a economia do

país, favorecida por vários fatores e circunstâncias, teve um crescimento acelerado, com taxas

57

médias anuais superiores a 10%, com destaque para o produto industrial, enquanto a taxa de

inflação apresentava índices relativamente baixos, com média inferior a 20%.

A Tabela 1 apresenta uma melhor visualização da fase áurea da economia brasileira,

no chamado “milagre brasileiro”, ao mostrar a evolução do produto interno bruto e das taxas

de crescimento dos principais setores da economia.

TABELA 1 : CRESCIMENTO DO PIB E DOS PRINCIPAIS SETORES

DA ECONÔMIA (1970-1973)

Ano PIB Indústria Agricultura Serviços

1970 10,4 11,9 5,6 10,5

1971 11,3 11,9 10,2 11,5

1972 12,1 14,0 4,0 12,1

1973 14,0 16,6 0,0 13,4

Fonte: Vasconcelos et al. (1996)

Muitos são os fatores que contribuíram para esta fase de expansão econômica. Havia

um clima favorável aos investimentos econômicos, destaque para o saneamento da economia

e das finanças públicas; a estabilidade sócio-política, embora sob a égide de um regime

autoritário; as perspectivas seguras de expansão e lucratividade dos empreendimentos

econômicos; e a restauração da confiança dos investidores.

O crescimento da economia brasileira foi fortemente beneficiada, também, pela

conjuntura econômica mundial, francamente favorável. Existia uma oferta grande de capital, e

o Brasil, como outros países em desenvolvimento, buscou crédito externo em escala

crescente. O forte controle exercido pelo setor público nas ações de arrecadação interna de

tributos permitiu a recuperação da capacidade do estado de investir em grandes projetos

(BRUM, 1997).

58

A política do governo, em termos de alavacangem da economia, deveria processar-se

com o investimento em diversos setores da economia e com menor participação do Estado,

por conseqüência, maior participação do setor privado. É importante destacar que o

crescimento do país se colocava também como uma necessidade de legitimar o regime militar

e recolocar o país nos trilhos do desenvolvimento (VASCONCELLOS; GREMAUD e

JÚNIOR, 1996).

O extraordinário desempenho econômico do país, no início dos anos 70 até o final de

1973, época do milagre brasileiro (1968-1973), que representou quase que dobrar o tamanho

da economia brasileira em apenas seis anos, pode ser atestado também com outros indicadores

de desempenho da economia nesta fase. As exportações passaram de US $ 2,7 bilhões em

1970 para US $ 6,2 bilhões em 1973, enquanto as importações subiram de US $ 2,8 bilhões

para US $ 7,0 bilhões no mesmo período. As reservas internacionais aumentaram de US $ 656

milhões em1969 para US $ 6,417 bilhões em 1973. Por outro lado, a dívida externa saltou de

US $ 5,3 bilhões em 1970 para US $ 12,6 bilhões em 1973 (BRUM, 1997).

Esse grande incremento do endividamento externo levou alguns autores (LACERDA

et al 2000; CRUZ, 1984), a classificarem o período do milagre econômico como de

crescimento conduzido por financiamento externo, uma vez que o volume de capital externo

que entrou no país sob a forma de empréstimos foi decisivo no financiamento deste

crescimento.

O II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND – 1974-1979)

O rápido crescimento econômico ao longo do milagre brasileiro levou ao aparecimento

de alguns desequilíbrios, que gerariam pressões inflacionárias e problemas na balança

comercial. A continuidade do ciclo expansionista do início dos anos 70, dependeria

fundamentalmente de uma situação externa favorável. Esta situação foi rompida pela crise

internacional desencadeada pelo primeiro choque do petróleo no final de 1973.

Este fato inusitado abalou não só a economia brasileira mas também a economia

mundial. O combustível básico que movimentava a economia mundial desde o início do

século XX deixava de ser barato e abundante.

59

A economia brasileira que vinha de um período de expansão, onde o setor industrial

estava funcionando com o aproveitamento pleno de sua capacidade instalada sofre um

retrocesso pela brusca elevação dos preços de produtos essenciais que o país importava em

grande quantidade, como petróleo, aço, petroquímicos, fertilizantes, bens de capital e

industrializados diversos, provocando um desequilíbrio na balança comercial e no balanço de

pagamentos com o exterior e revelando um alto grau de vulnerabilidade econômica do país.

A elevação dos preços dos produtos importados e a alteração profunda na estrutura de

preços provocam uma aceleração inflacionária, passando do patamar de 15% a.a., no final do

período do milagre brasileiro, para o patamar de 77,2% a.a., em 1979.

A Tabela 2 mostra a evolução das taxas de inflação e os desequilíbrios das contas

externas do Brasil no período de 1974-1979.

TABELA 2 : TAXA DE INFLAÇÃO E CONTAS EXTERNAS DO BRASIL (1974-

1979)

Ano IGP-

DI

Exportações

(US $

milhões)

Importações

(US $

milhões)

Balança

Comercial

(US $ milhões)

Saldo Transações

Correntes

(US $ milhões)

Dívida

Externa

(US $

milhões)

1974 34,5 7.951 12.641 -4.690 -7.122 17.165

1974 29,4 8.669 12.210 -3.540 -6.700 21.171

1976 46,3 10.128 12.383 -2.255 -6.017 25.985

1977 38,6 12.210 12.023 97 -4.037 32.037

1978 40,5 12.659 13.683 -1.024 -6.990 43.510

1979 77,2 15.244 18.083 -2.839 -10.742 49.904

Fonte: Vasconcellos et al. (1996) e Conjuntura Econômica (2000)

O governo Geisel, logo que assumiu, em março de 1974, alterou em parte os rumos da

política externa brasileira em relação à orientação seguida pelos governos do ciclo militar

anteriores, adotando uma linha de maior autonomia e de projeção da personalidade nacional

60

no mundo. No campo das relações externas, priorizou os interesses econômicos em

detrimento dos interesses políticos-ideológicos. No campo econômico, propõe a

transformação do Brasil em potência mundial emergente, com meta de inserir o país no

chamado primeiro mundo, até o final do seu mandato (1979). Para viabilizar tal projeto era

preciso melhorar qualitativamente o desempenho da economia, sobretudo da indústria, e

reconduzir o país aos quadros democráticos (BRUM, 1997).

Neste contexto, surge o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), para dar

continuidade aos esforços de crescimento econômico dos anos anteriores. As grandes metas

governamentais apontavam para :

a) manter a performance do “milagre”, embora com taxas de crescimento

econômico um pouco menores (entre 8% e 10%) do que as fases anteriores;

b) implantar um novo padrão de industrialização, baseado na expansão da

industria de bens de produção ou indústria básica, para buscar a autonomia na área da

indústria de bens de capital e dos insumos básicos e, com isso, formar a base material dos

outros setores produtivos;

c) diminuir as disparidades de renda, através da descentralização do

crescimento econômico, deslocando projetos e programas especiais do eixo São Paulo –

Rio de Janeiro – Belo Horizonte; e corrigir a distorção do setor de transporte, reorientando

o sistema de modo a priorizar os transportes ferroviários e marítimos em vês do transporte

rodoviário, por razões de diminuição de custos.

Os resultados econômicos do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) não

podem ser contabilizados nem como sucesso total, nem como fracasso absoluto. Houve

avanços, embora com elevados custos econômicos, sociais e também algumas distorções.

A economia, de um modo geral, manteve-se em crescimento, embora em taxas bem

inferiores às do milagre econômico (média de 6,7% ao ano), numa fase em que a economia

mundial estava em recessão. A exceção do setor de agricultura, que em 1978 apresentou

resultado negativo, todos os outros setores tiveram crescimento no período, como pode ser

visualizado na Tabela 3.

61

As indústrias de bens de capital (máquinas, equipamentos, aparelhos e ferramentas),

de insumos básicos (aço, alumínio, papel e celulose, petróleo, petroquímica e fertilizantes...) e

da mineração tiveram um crescimento considerável.

Esse avanço determinou a consolidação do processo de industrialização no Brasil e

completou a fase de substituição de importações, uma das metas estratégicas do projeto

Brasil-Potência do governo Geisel, consubstanciado no II PND.

TABELA 3: CRESCIMENTO DO PIB E DOS PRICIPAIS SETORES

DA ECONÔMIA (1974-1979)

Ano PIB Industria Agricultura Serviços

1974 9,0 7,8 1,0 9,7

1975 5,2 3,8 7,2 2,9

1976 9,8 12,1 2,4 8,9

1979 4,6 2,3 12,1 2,6

1978 4,8 6,2 -3,0 4,3

1979 7,2 6,9 4,9 6,7

Fonte: FIBGE

Talvez o resultado mais concreto, do ponto de vista da expressão resultante da

implementação do projeto Brasil-Potência, foi o surgimento de alguns grandes grupos

econômicos nacionais – sobretudo empreiteiras, bancos, redes de lojas e de supermercados, e

indústrias nas áreas de siderurgia, metal-mecânica, cimento, papel e celulose, bens de capital e

agropecuária, dando início à formação de um complexo financeiro-industrial no país.

Entretanto, em meio à expressiva expansão do setor industrial no período, constatou-se

um agravamento das dificuldades econômicas e financeiras do país. Além do descontrole na

balança comercial, ocorreu também o desequilíbrio no balanço de pagamentos com o exterior,

62

passando os déficits em conta corrente a serem cobertos com empréstimos junto aos bancos

estrangeiros, aumentando significativamente a dívida externa, conforme mostra a Tabela 2.

Outro fator significativo deste período foi à ampliação do setor estatal na economia.

Apesar de que na ótica do governo a solidez da economia do país dependeria do equilíbrio do

desenvolvimento formado pelo tripé empresas estatais, empresas estrangeiras e empresas

privadas nacionais, exigindo, portanto, uma política de contenção da estatização e de

fortalecimento do setor privado, a perna mais fraca do tripé, acabou, na prática, ampliando-se

mais do que em qualquer outra época o setor estatal da economia. Grandes investimentos

foram feitos na empresas estatais – Eletrobrás, Petrobrás, Embratel e outras (FAUSTO, 1995).

Também, o governo, não conseguiu implementar a política de expansão do transporte

ferroviário e da navegação. Nem consegui conter a concentração econômica, metas

prioritárias do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND).

Para agravar um pouco mais o quadro das dificuldades econômicas e financeiras do

país, neste final de década, a economia brasileira e mundial se depara com o segundo choque

nos preços do petróleo, em março de 1979. O preço médio do barril de petróleo, que, no início

de 1979, era de 12,37 dólares, atingiu, em dezembro daquele ano, 22,77 dólares, aumentando

84%, em menos de um ano (FURTADO, 1988). Fato que contribuiria na crise dos anos 80.

4.1.2 – A Situação Política e Econômica do Brasil nos Anos 80

Nos anos 80, a economia brasileira foi marcada por graves desequilíbrios externos e

internos. Se a década de 70 pode ser lembrada como a década da prosperidade econômica, a

década de 80 leva o estigma da década perdida. As dificuldades internas da economia

brasileira no final dos anos 70 e início dos anos 80, agravados por um conjunto de mudanças

adversas no cenário econômico internacional, levaram o Brasil ao colapso financeiro e a mais

grave crise econômica de sua história.

A chamada década perdida caracterizou-se pela queda nos investimentos e no

crescimento do PIB, pelo aumento do déficit público, pelo crescimento das dívidas externas e

internas e pela ascensão inflacionária.

A exemplo da descrição dos fatos e acontecimentos da década anterior, também nesse

período é possível identificar dois momentos distintos que marcaram o quadro político e

econômico do país, com repercussão em todos os segmentos e setores da sociedade:

63

a) O III Plano de Desenvolvimento (III PND – 1980-1984); e

b) A constituição da Nova República (1985-1990).

O primeiro momento, da promulgação do III PND, estabelece uma tentativa do novo

governo militar (Figueiredo) de atualizar e adequar o Projeto Brasil-Potência à nova situação

da economia, que apresentava claros sinais de fraqueza no final do período anterior e início

deste novo período.

O segundo momento, de transição de um regime autoritário para um regime

democrático, é conseqüência da desintegração progressiva do sistema de poder implantado no

país desde 1964(regime militar) e da emergência política da sociedade civil, que passou a

ocupar mais espaço no cenário político nacional.

O III Plano Nacional de Desenvolvimento (III PND – 1980-1984)

Os anos 80 iniciam sob égide de um novo governo e de uma nova proposta para

consolidar os êxitos econômicos e políticos auferidos no período anterior. O General

Figueiredo, que assumira a Presidência da República em 15 de março de 1979, promulga o III

Plano Nacional de Desenvolvimento – III PND, que consistia fundamentalmente na idéias de

manter o crescimento acelerado da economia e de combater a inflação, para repetir o sucesso

do milagre brasileiro.

No entanto, as dificuldades econômicas internas e, principalmente, as alterações

profundas no quadro econômico internacional, com o “segundo choque do petróleo”, a

recessão econômica nos países capitalistas industrializados, a elevação da taxa de juros no

mercado internacional e a suspensão de novos empréstimos ao país, impediram a manutenção

de um ritmo de crescimento acelerado e o controle da inflação.

64

A conjuntura das dificuldades internas e das condições desfavoráveis da economia

mundial provocou a deterioração do quadro econômico brasileiro, como pode ser observado

na Tabela 4, através da análise dos indicadores relativos ao desempenho da economia no

período 1980/84 (crescimento do PIB, dívida externa bruta e inflação), em que se destacam a

elevação dos níveis de inflação e o crescimento do endividamento externo.

TABELA 4: EVOLUÇÃO DO PIB, DA DÍVIDA EXTERNA E DA INFLAÇÃO

(1980-1984)

Ano Crescimento do

PIB(%)

Dívida Externa Bruta

(Em bilhões de dólares)

Inflação

(IGP – DI)

1980 9,1 53,9 110,2

1981 -3,1 61,4 95,2

1982 1,1 69,7 99,7

1983 -2,8 81,3 211,0

1984 5,7 91,0 223,8

Fonte: Banco Central e Conjuntura Econômica (2000)

A facilidade de contrair crédito externo, com que o Brasil financiara o crescimento

acelerado da economia da década anterior, havia terminado, restou, em 1983, a alternativa de

socorro ao Fundo Monetário Internacional – FMI, para saldar compromissos. O Brasil, então,

se submetia às exigências dos credores, sob a tutela e a auditoria do FMI. Na prática, era a

falência financeira do país.

Com uma política econômica fortemente recessiva, principalmente no período

1981/83, houve queda na produção e nas atividades econômicas em geral, falência de

empresa, aumento dos índices de desemprego e arrocho salarial dos trabalhadores. Era o fim

da sobrevida do “milagre”, por extensão, da era militar no governo.

65

Os setores mais fortemente atingidos pela recessão foram às indústrias de bens de

consumo, de bens de capital, construção civil, comunicação e transporte, justamente aquelas

que deram suporte ao novo padrão de industrialização desenvolvido no Projeto Brasil-

Potência, do governo Geisel.

No ano de 1984 houve uma retomada do crescimento da economia brasileira,

ocasionada pela recuperação da economia americana e pelo aumento das exportações e

crescimento da renda agrícola, em função de uma forte alta nos preços dos produtos primários

(LACERDA et al., 2000). Este crescimento pode ser observado pela evolução do PIB (Tabela

4.4), que aponta um crescimento de 5,7%, no ano.

Apesar de um crescimento positivo da produção industrial e agrícola neste ano, a taxa

de inflação manteve-se em alta, conforme dados da Tabela 4.4 a relativa estabilidade da taxa

de inflação era reflexo da crescente indexação da economia, que resultava na elevação dos

patamares inflacionários a cada novo choque de oferta, choque cambial ou tentativa de

mudança na estrutura de apropriação da renda. Diante destas constatações, o conceito de

inflação inercial ganha espaço nas análises teóricas da conjuntura econômica (LACERDA et

al., 2000).

A Constituição da Nova República (1985-1990)

A legitimidade dos governos militares que conduziam o país durante os últimos 21

anos (1964-1985) havia sido conquistada por força do desempenho positivo da economia. A

partir do momento em que o desempenho da economia começou a apresentar sinais de

declínio e índices negativos, levando o país ao colapso financeiro e um quadro recessivo sem

precedentes, deteriorou-se rapidamente esse grau de legitimidade.

Diante de um quadro político e econômico de descrédito, ainda em 1984, a sociedade

civil, juntamente com os partidos de oposição ao regime militar e o movimento sindical

organizaram a maior mobilização popular da história do país, em torno da campanha das

“diretas já”, que tinha por finalidade conseguir aprovação, pelo Congresso Nacional, da

Emenda Constitucional que instituía eleições diretas para escolha do Presidente da República.

Apesar de ser uma aclamação geral de todo o povo brasileiro, a referida Emenda não obteve

aprovação na Câmara dos Deputados, inviabilizando a eleição direta. Diante deste fato, o

PMDB, principal partido de oposição na época, no embalo do fervor da mobilização nacional,

articulou uma aliança de compromissos com dissidentes do PDS, partido que dava sustentação

política ao governo militar, denominada Aliança Democrática, tendo Tancredo Neves como

candidato a presidente e José Sarney a vice, que derrotou o candidato Paulo Maluf, do PDS,

no Colégio Eleitoral. Contudo, a doença e a morte inesperada de Tancredo Neves impediram

sua posse. Quem assumiu a Presidência da República, em 1985, foi o vice-presidente José

Sarney (BRUM, 1997).

66

Com a Nova República, inicia-se um novo ciclo histórico no país, agora sob a

coordenação de políticos civis, novos desafios e esperanças surgem a partir da posse do novo

governo. No campo político, impunha-se a necessidade de superar o autoritarismo e implantar

o Estado de Direito Democrático. No campo econômico, era preciso criar condições para um

novo ciclo de expansão econômica, uma vez que a economia brasileira apresentava um

quadro de asfixia generalizada, em função dos resultados negativos dos últimos anos de

governo militar.

Na esfera política várias leis que visavam à restauração de instituições política

democrática, foram votadas e promulgadas em 1985. Destas, é importante destacar: o

restabelecimento de eleições diretas para Presidente da República; a extensão do direito de

voto aos analfabetos; a possibilidade de legalização de todos os partidos políticos que

atendessem a requisitos mínimos de registros; o restabelecimento de eleições diretas para

prefeitos de todos os municípios. Na área sindical foi retirada a intervenção nos sindicatos e

anistiados e reintegrados os lideres punidos pelo regime militar. Este processo de

democratização do país determinou, em 1986, a eleição da Assembléia Nacional Constituinte,

cujos trabalhos, desenvolvidos nos anos de 1987/88, culminaram com a promulgação da nova

Constituição da República Federativa do Brasil, em 05 de outubro de 1988 (BRUM, 1997).

Segundo Vasconcellos et al. (1996), a condução da política econômica da Nova

República elegeu o combate inflacionário como meta principal. Isto foi tentado através da

decretação de diversos planos econômicos que visavam o controle da inflação, alguns de

natureza heterodoxa e outros com componentes de controles ordotoxo. Trata-se de uma fase

marcada por grandes oscilações nas taxas de inflação e do crescimento econômico, e completa

deterioração das contas públicas.

67

Uma das características da Nova República era a heterogeneidade da composição

ministerial, fruto da ampla aliança feito am 1984. Sarney iniciou seu governo com a equipe

ministerial indicada por Tancredo Neves. A área econômica ficou a cargo de Francisco

Dornelles, no Ministério da Fazenda, adepto do gradualismo de cunho ortodoxo no combate à

inflação, e João Sayad, no Ministério do Planejamento, que defendia os “choques

heterodoxos”. Francisco Dornelles, no Ministério da Fazenda, adotou uma linha de

austeridade, implementando uma série de medidas restritivas para reduzir o déficit público,

por conseqüência, a inflação. O Ministro João Sayad, no Planejamento, voltava-se para o

médio e longo prazo. Porém, tais medidas tiveram um impacto pequeno e de curta duração, já

a partir de junho de 1985, observava-se uma aceleração inflacionária, que culminou com a

queda do Ministro Dornelles em agosto e sua substituição por Dilson Funaro, que assumiu a

Pasta da Fazenda com o propósito de dar mais unidade e implantar mudanças na política

econômica.

Com a constatação de que os planos de estabilização de inspiração ortodoxa, adotados

na primeira metade da década de 80, não conseguiram evitar a escalada da inflação e que os

grandes estrangulamentos não estavam sendo atacados, fatos que poderiam comprometer o

apoio político e a base de sustentação parlamentar do novo governo, surge à necessidade de

uma ação mais corajosa de parte do governo. Neste contexto, surgem os três grandes

programas de estabilização da economia, que marcaram a segunda metade da década de 80: o

Plano Cruzado (28 de fevereiro de 1986); o Plano Bresser (12 de junho de 1987); e o Plano

Verão (14 de janeiro de 1989).

O Plano Cruzado introduziu uma nova moeda, substituindo o cruzeiro pelo o cruzado,

e definiu regra de conversão de preços e salários de modo a evitar efeitos redistributivos, ou

seja, buscou promover um “choque neutro” que mantivesse sob o cruzado o mesmo padrão de

distribuição de renda do cruzeiro (VASCONCELLOS et al., 1996). As principais medidas do

plano, em síntese, foram as seguintes:

a) extinção da indexação, pela eliminação da correção monetária;

b) congelamento dos contratos, das hipotecas e dos alugueis por

um ano e dos preços por prazo indeterminado;

68

c) reajuste dos salários pelo seu valor médio dos últimos seis

meses anteriores, mais um abono de 15% para o salário mínimo e 8% para os

demais salários. Os reajustes posteriores seriam automáticos (“gatilhos”)

sempre que a inflação atingisse 20%;

d) livre negociação entre empregadores e empregado na data do

dissídio coletivo de cada categoria, para aumentos de salários, porém, sem

repasse aos preços dos produtos e serviços;

e) criação do seguro-desemprego.

O plano atacava basicamente o aspecto inercial da inflação. Ao extinguir a correção

monetária, cortava a corrente alimentadora da inflação inercial e das expectativas

inflacionárias. Desestimulava a especulação financeira, por conseqüência, estimulava os

investimentos produtivos.

A princípio, o plano foi considerado um sucesso, pois as taxas de inflação

efetivamente caíram no curto prazo. Enquanto funcionou, consegui sacudir o consumidor,

carrear investimentos para a produção, impulsionar o número de microempresas e de

pequenas e médias empresas, expandir as atividades econômicas, ampliar emprego, aumentar

o poder aquisitivo da população, promover sensível redistribuição de renda, aumentar o

consumo e recuperar a confiança da sociedade em si própria e no país. Obteve, com isso,

grande apoio popular, o que se podia constatar pelo trabalho de fiscalização, pela a população

– os chamados fiscais do Sarney -, dos preços congelados.

O Plano Cruzado, no entanto, mostrou-se ser um plano com objetivos limitados e com

prazo curto de duração. No final de 1986 e início de 1987 os sinais do desaquecimento da

economia já eram percebidos, com a queda da demanda e profunda desestruturação das

condições de ofertas devida à longa permanência do congelamento. Tem-se um movimento de

perda de reservas em razão dos saldos negativos na balança comercial, o que levou ao anúncio

da moratória em fevereiro de 1987 para estancar a perda de reservas e reiniciar as negociações

da dívida externa (VASCONCELLOS et al., 1996).

Na tentativa de reverter o quadro de descrédito por força do fracasso do Plano

Cruzado, o governo substitui a equipe econômica (Ministérios da Fazenda, do

Planejamento e Banco Central), em abril de 1987. O novo ministro da fazenda, Luiz Carlos

Bresser Pereira, passou a centralizar o comando da política econômica.

69

Um novo conjunto de medidas com vistas à estabilização econômica foi lançado em

12 de junho de 1987, o chamado Plano Bresser, numa tentativa de deter a aceleração

inflacionária e evitar a hiperinflação. Ao contrário do que supunha no Cruzado, o Plano

Bresser era considerado um plano emergencial. As principais medidas do plano foram:

a)congelamento de salários por três meses, no nível de 12/06, com o

resíduo inflacionário sendo pago em seis parcelas a partir de setembro;

b)congelamento de preços por três meses, sendo que vários preços,

em especial os públicos, foram aumentados antes do plano;

c) mudança na base do IPC (índice de preço ao consumidor);

d)desvalorização cambial de 9,5%, minidesvalorização diária;

e)congelamento de alugueis, sem nenhuma compensação;

f)introdução de uma “Tablita”, com desvalorização de 15% a.m., para os

contratos prefixados;

g)criação da URP (unidade de referência de preços), para correção de

salários, com base na média geométrica da inflação dos três meses

anteriores.

Apesar de ser tecnicamente mais consistente que o Plano Cruzado, o Plano Bresser

encontrou pouca ressonância nos agentes econômicos e na sociedade, e obteve poucos

resultados concretos. Quando se iniciou a descompressão de preços, voltou a aceleração

inflacionária e as pressões por reposições salariais, acabando com o plano. Com a demissão

do ministro Bresser Pereira, em dezembro de 1987, decorrente do fracasso do plano, assumiu

a pasta da economia o Ministro Maílson da Nóbrega e novas medidas foram anunciadas pelo

governo.

Com o Ministro Maílson da Nóbrega o governo optou por administrar o dia-a-dia da

economia, com medidas de curto alcance, contrariamente às tentativas de combate drástico ao

processo inflacionário, dos planos anteriores. Essa opção, conhecida como “política-do-

feijão-com-arroz”, tinha como metas principais à retenção da inflação ao redor de 15% ao

mês e redução gradual do déficit público, projetado em torno de 7 a 8% do PIB para 1988.

70

A “política do feijão-com-arroz” também se mostrou incapaz de reter a inflação e

reduzir o déficit público. Em julho de 1988 a inflação já ultrapassava a marca de 24% ao mês

e os preços públicos sofriam reajustes (LACERDA et. Al, 2000).

Em novembro de 1988, o governo fez a última tentativa de negociar um pacto social,

que envolvia governo, empresários e trabalhadores, para impedir a hiperinflação e um

desastre econômico. Apesar de toda a discussão anterior ao pacto, este não trouxe os

resultados esperados e causou descontentamento de todas as partes envolvidas. O fracasso

desse esforço e a persistência de taxas inflacionárias ascendentes obrigaram o governo a

lançar um novo conjunto de medidas antiinflacionárias – o Plano Verão -, em 14 de janeiro de

1989. Tratava-se de medidas de caráter emergencial, de curta duração, com o propósito de

conseguir chegar ao fim do mandato em 15 de março de 1990.

O Plano Verão foi terceiro choque econômico e a segunda reforma monetária do

governo Sarney, cuja credibilidade já se encontrava bastante frágil nesse momento, procurava,

no curto prazo, contrair a demanda agregada e, no médio prazo, promover a queda das taxas

de inflação.

O Plano Verão foi de curta duração. O governo não conseguiu realizar nenhum

ajuste fiscal, o que mantinha os elevados e crescentes déficits públicos. O descontrole fiscal,

em conseqüência, levava ao descontrole monetário. O imobilismo da política econômica

contribuía para um quadro de hiperinflação. O Presidente Sarney encerrava seu mandato em

meio a um verdadeiro caos político e econômico. Encerrava-se, também, de forma

melancólica, a antes esperançosa Nova República.

A Tabela 5 apresenta a evolução da inflação no período da Nova República,

mostrando o fraco desempenho da economia e a escalada explosiva da inflação.

TABELA 5: EVOLUÇÃO ANUAL DO CRESCIMENTO DO PIB E DA

INFLAÇÃO (1985-1989)

71

Ano Crescimento do PIB % Inflação (IGP – DI)

1985 7,8 235,1

1986 7,5 65,0

1987 3,5 415,8

1988 -0,1 1.037,5

1989 3,2 1.782,9

Fonte: Brum (1997)

Brum (1997) afirma que a crise brasileira dos anos 1980 foi certamente a mais longa,

profunda e complexa da nossa história e conseqüentemente, de mais difícil superação. Em

face do fraco desempenho econômico e da ineficácia das medidas e planos econômicos para a

superação da crise, neste período, estes anos são lembrados como a “década perdida”.

4.1.3 – A Situação Política e Econômica do Brasil nos Anos 90

Os anos de 1990 foram marcados pelo grande desafio de viabilizar novamente o país,

que se encontrava abalada pela crise profunda dos anos 80. Para além das exigências

decorrentes da necessidade de superação da crise, impunha-se, também, a inserção do país

numa nova etapa de desenvolvimento, provocada pelas profundas mudanças em que estavam

em curso no cenário mundial no século XX.

As principais mudanças que se processavam no mundo e que configuravam uma nova

ordem mundial, com reflexos nas economias das nações neste final de século, podem ser

resumidas na seguinte ordem:

a)desideologização das relações internacionais, reforçando a democracia

e estabelecendo o fim dos antagonismos entre regimes políticos;

72

b)abertura das economias e liberalização do comércio, que estabelece um

processo de globalização (financeiro, da produção, dos mercados, do

consumo, da cultura...);

c)acirramento na concorrência comercial que determina novas relações

na disputa de mercados pelas corporações transnacionais;

d)nova fase de expansão e ramificação do capital, proliferando novos

investimentos no mundo todo;

e)a revolução tecnológica liderada pela eletrônica e pela informática,

acompanhadas da biotecnologia, da física, da química e de outros

avanços científicos e tecnológicos;

f)a emergência de novos conceitos de qualidade, produtividade,

modernização e competitividade, que revolucionam as estruturas e

processos produtivos das empresas;

g)formação de grandes estruturas transnacionais que influenciam as

grandes decisões no mundo e em cada país;

Diante deste contexto, destacam-se dois grandes fatos que marcam o quadro político

econômico do Brasil, nos anos 90. O primeiro, diz respeito ao Governo Collor e a sua

estratégia de desenvolvimento baseada nos postulados neoliberal, que compreendeu o período

de 1990 – 1992. Neste período, o país passa por uma profunda reestruturação produtiva, essa

reestruturação, designada por alguns autores (LACERDA et. Al., 2000; BATISTA , 1994) de

modernização conservadora5 , provocou aceleração no processo de privatização de empresas

estatais, abertura da economia e desregulamentação dos mercados. O segundo momento

caracteriza-se pela adoção do Plano Real, anunciado em 7 de dezembro de 1993, considerado

um dos mais bem-sucedidos planos de estabilização da economia brasileira. Ao desindexar a

economia e reduzir substancialmente os níveis inflacionários, o Plano Real criou condições

5 Trata-se de uma expressão cunhada pelo historiador Barrington Moore para qualificar o modelo autoritário de desenvolvimento de capitalismo retardatário do séc. XIX, especialmente da Alemanha e do Japão.

efetivas para uma nova etapa de desenvolvimento econômico e social, em base mais

sustentáveis e duradouras do que os planos de estabilização anteriores.

73

4.1.3.1 – O Governo Collor e a Estratégia Neoliberal (1990-1992)

Depois de um longo período sem eleição direta para presidente da República (29

anos) o povo brasileiro elegeu um novo presidente. Em 1989 foram eleitos Fernando Collor

de Mello e Itamar Franco como presidente e vice-presidente da República, para um mandato

de cinco anos (1990-1995). Porém, o envolvimento do Presidente Collor em um esquema de

corrupção, determinaria o seu afastamento da Presidência da República já no final do terceiro

ano de seu mandato.

Enquanto esteve no governo, Fernando Collor imprimiu uma política econômica

embasada no pensamento neoliberal, influenciada pelos postulados do Consenso de

Washigton6 a exemplo do que ocorria em toda a América Latina. Os principais alvos eram o

controle da inflação e o equacionamento da dívida externa.

Tratava-se de promover a passagem de um capitalismo tutelado pelo Estado para um

capitalismo moderno, baseado na eficiência e na competitividade. A função do motor de

desenvolvimento econômico deixava de ser do Estado e passava a ser exercida pelo setor

privado-nacional e multinacional (BRUM, 1997).

As principais medidas no seu governo, consubstanciadas nos Planos Collor I e II,

tinham por objetivos:

a) desregulamentar a economia para facilitar as operações de negócios por

parte das empresas;

b) promover o processo de abertura da economia, expondo as empresas

brasileiras à concorrência internacional e forçando a sua modernização;

c) tornar o país atrativo aos investimentos do capital estrangeiro;

6 Expressão usada pelo economista norte-americano John Williamson. Tratava-se de um decálogo de medidas liberalizantes e de ajustes sugerido para reformas nos países em desenvolvimento, concebidas no âmbito de organizações sediadas ou vinculadas a Washington, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.

d) reduzir o tamanho e a presença do Estado na economia, através da

privatização de empresas estatais;

74

e) tornar mais competitivas as exportações brasileiras, através da reforma

dos portos;

f) promover o equilíbrio das contas públicas, através de uma reforma

tributária e do ajuste fiscal.

De uma pretensão heróica a um resultado desastroso, assim pode ser interpretado o

Governo Collor. A intenção de viabilizar uma política macroeconômica capaz de projetar o

país a um novo patamar de desenvolvimento acabou resultando, de concreto, uma forte

recessão com brutal elevação das taxas de juros, queda no PIB e descontrole da inflação,

como pode ser observado na Tabela 6. Os resultados negativos na economia, aliado ao

desgaste do governo com as crescentes denúncias de corrupção, acabaram por determinar o

impeachment de Collor, em outubro de 1992.

TABELA 6: EVOLUÇÃO ANUAL DO CRESCIMENTO DO PIB E

DA INFLAÇÃO (1990-1992)

Ano Crescimento do PIB % Inflação(IGP – DI)

1990 -4,3 1.476,6

1991 0,3 480,2

1992 -0,8 1.158,0

Fonte: Banco Central do Brasil

4.1.3.2 – O Plano Real e a Situação Político-Econômica do Brasil (1993-2000)

Com a deposição de Collor, assumiu seu vice, Itamar Franco, que mais tarde

convidaria Fernando Henrique para ser, inicialmente, seu Ministro das Relações Exteriores e,

posteriormente, Ministro da Fazenda. Dois compromissos principais marcaram a orientação

do seu curto e convertido governo: resgatar a ética na administração pública (e na política),

enfraquecida pelos últimos acontecimentos que envolveram o ex-presidente Collor, e

preparar o país para a implantação de um novo plano de estabilização econômica, com

possibilidade de sucesso.

75

As possibilidades de sucesso de um novo plano de estabilização econômica

dependeriam fundamentalmente da preparação para a sustentabilidade deste novo projeto de

combate à inflação. Para tanto, eram exigidas ações no âmbito do governo, de modo a reduzir

o déficit público, o que foi feito através da reorganização financeira e administrativa do setor

público, e ações com vistas à preparação da opinião pública, cujo apoio era fundamental na

fase da sua implantação.

A fase preparatória estendeu-se especialmente ao longo do segundo semestre de

1993, com continuidade no ano seguinte. Criadas as condições mínimas exigidas, surge o

Plano Real, anunciado em 07 de dezembro de 1993, com o objetivo de estabilizar a moeda,

resgatar a confiança da população e combater definitivamente a inflação, atacando as suas

causas básicas.

Segundo Lacerda (2000), o Plano Real foi concebido e implementado em três etapas.

Na primeira etapa procurou estabelecer o equilíbrio das contas do governo, objetivando

eliminar a principal causa da inflação. A segunda etapa constitui na criação de um padrão

estável de valor a Unidade Real de Valor (URV), um índice-moeda que neutralizava a inércia

inflacionária, na medida em que se constituiu num instrumento que serviu de indexador

único da economia, num período de quatro meses. A terceira etapa do plano foi à emissão de

uma nova moeda nacional com poder aquisitivo estável – o Real (01/07/94), eliminando a

URV. A taxa de inflação teve uma redução imediata, muito próxima de zero.

Considerando tecnicamente consistente, o Plano Real proporcionou de uma maneira

geral, melhora do poder aquisitivo das camadas mais pobres da população e ganhos para as

grandes empresas que se reestruturaram, enquanto penalizou quem tentou especular com o

dólar apostando no fracasso do plano.

O sucesso do Plano Real constitui-se num dos principais trunfos de Fernando

Henrique Cardoso em sua campanha política para a Presidência da República. Foi eleito,

ainda no primeiro turno das eleições de 03 de outubro de 1994, assumindo o cargo de

Presidente em 01 de janeiro de 1995, para o período de 1995-1998.

Para Brum (1997), a administração do Plano Real acabou sendo, para o Presidente

Fernando Henrique, não só a âncora política que o levou ao poder, como também se constitui,

na prática, sua política macroeconômica de governo.

76

Este fato também teria influência nas eleições presidenciais de 1998. Apesar da

economia brasileira apresentar alguns sinais de debilidade, por conseqüência, dos reflexos das

crises mexicana, asiática e russa, cuja absorção destes choques teve que ser feita através da

elevação das taxas de juros reais, Fernando Henrique não encontrou dificuldade para

conseguir a sua reeleição à Presidência da República. Em 01 de janeiro de 1999, é

reconduzido ao cargo, para mais um mandato de quatro anos (1999-2002).

O balanço do Plano Real, destes últimos seis anos (1994-2000), pode ser contabilizado

como favorável. A inflação declinou de uma média de 1.440% ao ano, no período de 1988-

1993, para apenas 13,3% ao ano, entre o segundo semestre de 1994 e 1999 (Tabela 7). Trata-

se de um efeito considerável, uma vez que foi obtido sem que a economia resvalasse para

uma forte recessão. Entre 1994 e 1999, também se observa que o PIB real apresentou uma

taxa de crescimento médio de 2,8% ao ano, o que se compara favoravelmente aos 0,7% do

período 1988-1993 (Tabela 7).

De outra parte, o plano não sofreu grandes arranhões da dura prova da mudança do

regime cambial, em janeiro de 1999. O impacto da desvalorização do câmbio (45%) sobre a

inflação foi pequeno, a economia apresentou um crescimento pequeno, mas teve crescimento

de 0,8% no ano (Tabela 7), a balança comercial melhorou, as metas fiscais acertadas com o

FMI foram alcançadas, ao contrário do que ocorreu no México, no Sudeste da Ásia e na

Rússia, não houve falência de instituições financeiras de porte. A desvalorização do câmbio,

em síntese criou a condição necessária para retomada do crescimento sustentado e para a

estabilidade sólida e duradoura de preços.

Alguns autores (LACERDA et.,2000; GONÇALVES, 1998) têm entendido que o

Plano Real é um programa de estabilização financeira que centrou alvo no combate da

inflação tão somente, e que a aceleração do crescimento econômico, a redução do desemprego

e o fim da pobreza exigem maior esforço e fazem parte de uma agenda muito mais ampla.

TABELA 7: PRINCIPAIS INDICADORES MACROECONÔMICOS (1993-1999)

77

Ano

Inflação (%

a. a)

PIBReal

(% a.a)

Taxas de

Juros Reais

(% a .a)

Desemprego

Aberto

(% PEA)

Investimento

(% PIB)

Déficit Fiscal

(% PIB)

Déficit Conta

Corrente

(% PIB)

1993 2.708,0 4,9 12,5 5,3 19,3 -0,2 0,8

Média 87-93 1.440,0 0,7 11,3 4,6 21,2 1,9 0,1

1994* 26,5 5,8 24,6 5.1 20,7 -1,3 0,9

1995 14,8 4,2 33,4 4,6 20,5 4,9 2,8

1996 9,3 2,7 16,5 5,4 19,3 3,7 3,4

1997 7,5 3,6 12,2 5,7 19,9 4,3 4,4

1998 1,7 - 0,1 27,3 7,6 19,9 7,5 4,6

1999 20,0 0,8 5,0 7,6 19,8 3,9 4,5

Média 94-99 13,3 2,8 19,8 6,0 20,0 3,8 3,4

Fonte: Conjuntura Econômica (Junho, 2000)

*Inflação do segundo semestre.

4.2– AMBIENTE ESPECÍFICO: A INDUSTRIA ELETROELETRÔNICA DO POLO

INDUSTRIAL DE MANAUS

4.2.1 – Início da Zona Franca de Manaus (ZFM)

A implantação da industria eletroeletrônica no Brasil teve início pouco antes da 2ª

Guerra Mundial. Sua consolidação se deu na década de 50, em conseqüência da reorientação

da política econômica nacional de substituição das importações. Esse ramo da indústria

apresentou crescimento contínuo até os anos 70, com a elevada taxa de crescimento produtivo

anual sempre superior a 15%, constituindo-se em um dos segmentos prioritários na política

econômica brasileira entre os anos de 1968 a 1973, no período do chamado milagre

econômico (MELO, 1987).

78

A Zona Franca de Manaus (ZFM), teve seu início no período do milagre econômico

onde o país apresentava um grande desenvolvimento industrial e as industrias hoje do Pólo

Eletroeletrônico, que foram as primeiras empresas a iniciar suas atividades na Zona Franca de

Manaus – ZFM , apresentavam um grande crescimento, fazendo com que as empresas que

estavam com suas fábricas no sudeste do Brasil mudassem suas atividades industriais para

Manaus, e as que ainda não possuíam industrias no Brasil, vieram abrir suas fábricas em

Manaus.

A Zona Franca de Manaus – ZFM foi idealizada pelo deputado federal Francisco

Pereira da Silva e criada pela Lei 3.173 de 6 de junho de 1957, como Porto Livre. Dez anos

depois, o governo federal, através do Decreto-Lei 288, de 28 de fevereiro de 1967, ampliou e

regulamentou essa legislação, estabelecendo incentivos fiscais por 30 anos para implantação

de um pólo industrial, comercial e agropecuário, instituindo, assim, o atual modelo de

desenvolvimento. O pólo engloba uma área física de 10 mil km², tendo como centro a cidade

de Manaus (Publicação da Coordenadoria de Comunicação Social da Suframa - CODEC).

Visando integrar a Amazônia à economia do país, bem como promover sua ocupação e

elevar o nível de segurança para manutenção de sua integridade, o governo federal, através do

Decreto-Lei 291 de 28 de fevereiro de 1967, define a Amazônia Ocidental tal como ela é hoje

conhecida, abrangendo os estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima.

A dinâmica da Zona Franca de Manaus – ZFM pode ser configurada em 3 fases

distintas:

a) a primeira fase, de 1967 a 1976, constituiu o período de liberdade plena

de importações;

b) a segunda fase estendeu-se até o final de 1990 e teve início com a

edição dos Decretos-Lei 1435/75 e 1455/76, que introduziram o

contingenciamento para as importações;

c) a terceira fase iniciou-se em 1991, com a chamada Nova Política

Industrial e de Comércio Exterior do governo federal.

79

Todas essas fases foram em decorrências de adaptações necessárias ao modelo Zona

Franca, devido às condições políticas e econômicas do país.

4.2.2 – Dinâmica da Zona Franca de Manaus (ZFM) na Década de 70 – Liberdade Plena

de Importação

A primeira fase da ZFM, de 1967 a 1976 foi caracterizada pela:

a) predominância da atividade comercial;

b) crescimento do fluxo turístico doméstico;

c) expansão do setor terciário; e

d) início da atividade industrial.

No início, a Zona Franca de Manaus – ZFM criada como Porto Livre mudou o

comércio de produtos importados que antes tinha o Panamá como centro distribuidor para o

Brasil fosse transferido para Manaus, fazendo com que vários comerciantes e importadores

sediados em outras regiões do Brasil viessem a Zona Franca de Manaus – ZFM.

O setor comercial, principalmente de produtos importados, foi o primeiro a se

desenvolver na Zona Franca de Manaus – ZFM, estimulando o turismo de compras e a

criação de uma infra-estrutura de hotelaria e serviços, incluindo a construção de um dos mais

modernos aeroportos do país. Devido ao grande fluxo do turismo de compras, foram

estabelecidos limites para saída de bagagem de passageiro acompanhada, limitando com isso

a saída de produtos via passageiro para abastecer o comercio de outras cidades do Brasil.

Este período coincide com o grande aumento nas importações brasileiras que subiram

de US $ 2,8 bilhões para US $ 7,0 bilhões no período do milagre econômico de 1968 – 1973

(BRUM, 1997). Nesta mesma época, devido a problemas na Balança Comercial, o governo

incentivou a implantação do Distrito Industrial que até então só existia a sua pedra

fundamental cujo lançamento foi em 30/09/68 (Conjuntura Econômica, 2000).

80

Com o incentivo do governo para a atividade industrial, alguns empresários do ramo

comercial passaram a trabalhar também na atividade industrial na Zona Franca de Manaus –

ZFM, dando início ao que hoje é o grande PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS (PIM), onde

concentra mais de 400 empresas (CODEC,2002).

O comercio manteve a hegemonia das atividades econômicas da Zona franca de

Manaus – ZFM até 1975, quando o Pólo Industrial de Manaus (PIM) assumiu posição de

liderança. Mas, até hoje, Manaus abriga o mais importante pólo de comercio e serviços da

Amazônia Ocidental.

4.2.3– Dinâmica da Zona Franca de Manaus (ZFM) na Década de 80 –

Contingenciamento de Importação

A segunda fase da ZFM, estendeu-se até o final de 1990 e teve seu início com a edição

dos Decretos-Leis 1435/75 e 1455/76, que introduziram as seguintes modificações no modelo

da Zona Franca de Manaus – ZFM:

a) estabelecimento de índices mínimos de nacionalização para os produtos

Industrializados na Zona Franca de Manaus – ZFM e comercializados nas

demais localidades do território nacional;

b) estabelecimento de limites máximos globais anuais de importação

(contingenciamento).

Essa fase, apesar das limitações impostas, registrou um acentuado crescimento do

setor industrial que obteve seu melhor desempenho em 1990, quando atingiu um faturamento

de US$ 8,4 bilhões e geração de 80 mil empregos diretos (Conjuntura Econômica, 2000). Tal

desempenho caracterizou-se pelos os seguintes fatores: acesso a modernas tecnologias;

substituição de importações – uma vez que, na oportunidade, cerca de 2 mil produtos estavam

proibidos de ingressar no país; contribuição para o desenvolvimento de uma indústria

81

nacional de componentes e outros insumos, localizada no Centro-Sul do país, especialmente

em São Paulo.

Devido às limitações impostas como o índice de nacionalização para os produtos

industrializados através do Decreto-Lei 1435/75 que estipulava um índice mínimo de

nacionalização para cada produto e que conforme este indicador era calculado o imposto de

saída do Produto Acabado da Zona Franca de Manaus – ZFM muitas empresas procuraram

nacionalizar suas matérias-primas, surgindo com isso uma nova industria na Zona Franca de

Manaus – ZFM que foi a Industria de Componentes.

Essas indústrias ajudavam na redução no imposto na saída do produto acabado da

ZFM e conseqüentemente evitava-se a importação de matérias-primas, com isso diminuindo o

volume de importação e a melhoria no Saldo da Balança Comercial brasileira. Essa industria

de componentes também contribuiu com o aumento de empregos diretos e indiretos na Zona

Franca de Manaus –ZFM.

Outro fator limitante nesta fase foi o Contingenciamento de Importação, onde o

governo estipulava através de cotas o que cada empresa comercial e industrial poderia

importar por ano. Todas as limitações impostas sempre tiveram o objetivo de limitar as

importações devido à preocupação com o Saldo da Balança Comercial.

4.2.4– Dinâmica da Zona franca de Manaus (ZFM) na Década de 90 – Nova Política

Industrial

A terceira fase da Zona Franca de Manaus – ZFM iniciou-se em 1991, com a

chamada Nova Política Industrial e de Comércio Exterior do governo federal, promovendo a

abertura do mercado brasileiro às importações. A nova ordem econômica fixou como

paradigma a busca da “qualidade e da produtividade”. A exposição do modelo da Zona Franca

de Manaus – ZFM à nova ordem, especialmente por conta de produtos estrangeiros que

passaram a entrar no mercado nacional e a forte recessão que assolou a economia brasileira,

82

agravando-se em nível local, exigiu profundas modificações na legislação, o que ocorreu

através da edição da Lei 8.387, de 30 de dezembro de 1991.

A lei estabeleceu algumas medidas, visando sua salvaguarda:

a) criação de regimes de Áreas de Livre Comércio (ALC), priorizando

faixas de fronteiras, visando irradiar o modelo da Zona Franca de Manaus –

ZFM;

b) eliminação dos limites máximos globais anuais de importação;

c) substituição do critério dos índices mínimos de nacionalização pela

prática de Processo Produtivo Básico (PPB);

d) desregulamentação de procedimentos; e , criação do Entreposto

Internacional da Zona Franca de Manaus (EIZOF).

As medidas adotadas ensejaram, a partir de 1993, o início da recuperação da Zona

Franca de Manaus – ZFM, constatando-se progressiva adequação do seu setor industrial,

caracterizada por significativa reconversão industrial com a redução de custos que

propiciaram maior competitividade de seus produtos, a elevação dos padrões de qualidade a

partir da adoção das normas técnicas da série ISO 9000, de cumprimento obrigatório pelo

Decreto-Lei 783, de 25 de março de 1983. O resultado mais expressivo decorrente da

reestruturação efetivada no parque industrial, traduziu-se pelo seu faturamento, que em 1996

foi de US$ 13,2 bilhões (CODEC, 2000).

Os desafios consistem na capacidade de aproveitamento da dinâmica que o modelo da

Zona Franca de Manaus – ZFM imprimiu, visando buscar elementos que possibilitem a auto-

sustentabilidade da região a Suframa desenvolveu um planejamento estratégico para

atendimento deste objetivo. As linhas estratégicas que norteiam este planejamento estratégico,

serão observadas abaixo, conforme publicação do CODEC:

LINHAS ESTRATÉGICAS:

a) Tecnologia;

b) Inserção Internacional Competitiva;

c) Atração de Investimentos

83

d) Logística

e) Interiorização do desenvolvimento;

f) Desenvolvimento Institucional.

a) Tecnologia

A Suframa apóia o desenvolvimento técnico-científico para desenvolver massa crítica

capaz de gerar base tecnológica eficiente e atender às demandas atuais e futuras à

consolidação do Pólo Industrial de Manaus (PIM). Isso implica na criação de mecanismos de

suporte aos projetos nas áreas de biotecnologia e agroindústria, cujo potencial regional é

incontestável.

É importante fortalecer o Pólo Industrial de Manaus – PIM com ações de incremento

às exportações e outras que viabilizem a formação de uma rede local de fornecedores que

atenda à demanda progressiva de bens intermediários e evite importações, o que deverá

diminuir os custos de produção e abrir vagas no mercado de trabalho.

Como estratégia, é fundamental a adoção de alguns programas e procedimentos:

1. Programa prioritário de P&D (para absorção de investimentos da Lei nº

8.387/91) para alavancar o desenvolvimento tecnológico, a formação e a

capacitação de recursos humanos na região.

2. Fixação do Processo Produtivo Básico (PPB) verticalizando as cadeias de

produção do Pólo Industrial de Manaus – PIM.

3. Formação de uma Aliança Estratégica de Inteligência Competitiva a partir

da reunião e integração de competências e organizações de base científica e

tecnológica.

Estão previstas alianças entre o núcleo técnico que será criado na Suframa ou em

outro órgão a definir, e empresas privadas para desenvolverem processos que possibilitem

ganhos de competitividade em determinados produtos do Pólo Industrial de Manaus – PIM.

A Suframa está incentivando projetos de formação e especialização de recursos

humanos em áreas já definidas:

84

• Curso Multi-Institucional de Doutorado em Biotecnologia (UA)

• Curso de Doutorado em Engenharia da Produção (UA)

• Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (UA)

• Mestrado em Automação (Utam)

• Mestrado em Telecomunicações (Utam)

4. Estudos para identificação das necessidades de qualificação e requalificação

profissional dos trabalhadores do Pólo Industrial de Manaus – PIM.

5. Apoio tecnológico às empresas de produção regional com potencial

exportador, sobretudo às de pequeno e micro portes , para a adequação de

produtos ao mercado internacional.

6. Implantação na Zona Franca de Manaus – ZFM do pólo produtor de

software “AmazonSoft”, como alternativa de atração de investimentos e

geração de empregos.

b) Inserção Internacional Competitiva

O aumento da presença do produto do Pólo Industrial de Manaus – PIM no mercado

externo, é fruto do esforço conjugado do Governo com a iniciativa privada. A Suframa vai

promover missões internacionais e atrair à região grandes atacadistas, prospectar novos

mercados e identificar demandas insatisfeitas de produtos similares aos que são produzidos no

Pólo Industrial de Manaus – PIM. A contrapartida das empresas é perseguir a modernização,

as tecnologias de ponta, a alta qualidade e a prática de preços de mercado de forma a competir

em igualdade de condições no comércio exterior.

85

Estratégias:

1. Organização de Missões Comerciais Internacionais para promover o intercâmbio

entre os Estados da Amazônia Ocidental e os países de destino das missões, proporcionando

aproximação entre empreendedores da região com empresas estrangeiras para atração de

investimentos e geração de negócios.

2. Realização da Feira Internacional da Amazônia, em Manaus, de 10 a 13 de

setembro de 2002, para divulgar a política de sucesso e os produtos regionais e industriais

como também atrair importadores e investidores estrangeiros. Estima-se a presença de

representantes de mais de 40 países.

3. Apoiar o Programa Especial de Exportação – PEE do Governo do Estado do

Amazonas, contribuindo para a apresentação de projetos por temáticas setoriais, tendo em

vista a exportação por pequenas e médias empresas.

4. Ampliação das Exportações da Amazônia Ocidental e do Pólo Industrial de

Manaus – PIM com acompanhamento sistemático da aprovação dos Programas Especiais de

Exportação concedidos aos empreendimentos industriais em toda a Amazônia Ocidental.

5. Integração da Suframa na formulação das Políticas Industrial e de Comércio

Exterior com acompanhamento das negociações internacionais efetuadas pelo Brasil e/ou

Mercosul, resguardando os interesses do modelo da Zona Franca de Manaus – ZFM.

c) Atração de Investimentos

A atração de investimentos é parte da missão institucional da Suframa que definiu

estratégias para atingir os potenciais investidores, dimensionando as perspectivas, exigências

e acesso dos mercados regional, nacional e internacional, a partir da definição das cadeias e

agrupamentos produtivos, e do fornecimento de subsídios para elaboração de políticas de

desenvolvimento para a Região. Os estudos feitos fornecem a base técnica necessária a quem

deseja investir como também aos Governos dos Estados da Amazônia Ocidental e do Amapá,

na formulação de seus programas de trabalho.

86

Estratégias:

1. Desenvolvimento das oportunidades de investimentos divulgando projetos

economicamente viáveis (como oportunidades de negócios para o Pólo Industrial de Manaus

– PIM) de forma intensiva, com a realização de missões internacionais, feiras e exposições,

participação em eventos de negócios dentro e fora do País, visitas a potenciais investidores,

realização de seminários e encontros de empresas produtoras e fornecedoras.

2. Captação de investimentos com ênfase na atração de produtores de componentes

para adensar a cadeia produtiva e diversificar a linha de produtos exportáveis;

3. Elaboração de diagnóstico dos impactos da Zona Franca de Manaus – ZFM sobre a

economia regional.

4. Participação em programas de desenvolvimento do turismo/ecoturismo e em

programas, políticas e propostas voltadas para a gestão ambiental, estimulando a captação de

investimentos e a melhoria na infra-estrutura básica e turística.

Na prática, a Suframa fornece apoio técnico, logístico e financeiro a Programas de

Turismo/Ecoturismo como:

• Realização de Oficinas no âmbito do Programa Nacional de

Municipalização do Turismo (PNMT);

• Participação e apoio técnico-financeiro em eventos nacionais (PNMT);

• Disponibilização do espaço físico e de equipamentos para escritório de

representação do Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia

Legal – Proecotur;

• Recuperação de estradas, urbanização de áreas portuárias e

aeroportuárias.

5. Concessão de incentivos fiscais para projetos industriais – aprovar projetos de

implantação, ampliação e diversificação, visando à consolidação do Pólo Industrial de

Manaus (PIM). Paralelamente, a Suframa estimula as empresas do Pólo Industrial de Manaus

(PIM), a atraírem seus fornecedores para Manaus a fim de formar um pólo de componentes,

solidificando a cadeia produtiva e permitindo a diversificação da linha de produtos

exportáveis.

87

6. Disponibilização de lotes de terras no Distrito industrial, como forma de reforçar os

fatores de atração de investimentos para a Zona Franca de Manaus – ZFM.

d) Logística

Visa proporcionar infra-estrutura necessária ao desenvolvimento de projetos voltados

aos setores industrial, comercial e agropecuário, propiciando a consolidação e fortalecimento

do Pólo Industrial de Manaus – PIM, além de induzir à interiorização do desenvolvimento na

Amazônia Ocidental.

O programa pretende:

• Melhorar a cadeia de suprimentos de insumos;

• Fomentar o surgimento de operadores logísticos com concessão de

terrenos, organização de seminários para disseminar o potencial de

movimentação de cargas, e outros recursos.

• Estimular a criação de centros de distribuição da produção;

• Estimular a criação de pool de empresas operando logisticamente para

indústrias e varejistas.

• Dar infra-estrutura às saídas de Manaus:

• Hidrovia do rio Amazonas, ligando Manaus a Belém – Brasília com

ligação para o Sul e Sudeste;

• Rodovia BR-174- saída para o Caribe, passando por Boa Vista/RR;

• Rodovia Br-319/364, ligando Manaus ao Sul e Sudeste, passando por

Porto Velho e Cuiabá.

88

Estratégias:

1.Identificação das necessidades de infra-estrutura vinculada aos fatores limitantes das

potencialidades regionais e a dinamização do Pólo Industrial de Manaus – PIM.

2. Manutenção, ampliação e modernização da infra-estrutura das áreas pioneira e de

expansão do Distrito Industrial destinadas a atender à implantação de novos empreendimentos

industriais.

3. Manutenção dos limites territoriais dos Distritos Industrial e Agropecuário dotando-

os de guarda e vigilância que assegurem a proteção do patrimônio da autarquia.

4. Implantação, ampliação e conservação da infra-estrutura rural do Distrito

Agropecuário viabilizando a expansão das atividades agroindustriais naquela área.

5. Implementação de complexo de armazenagem e comercialização de mercadorias na

Zona Franca de Manaus – ZFM capazes de fortalecer as atividades econômicas do setor

comercial, melhorar a competitividade das indústrias do Pólo Industrial de Manaus – PIM e

incrementar o nível de negócios na Região.

6. Construção e implantação física do CBA/Probem (Centro de Biotecnologia da

Amazônia) em articulação com os Ministérios do Meio Ambiente dos Recursos Hídricos e da

Amazônia Legal (MMA) e, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e

Governo do Estado do Amazonas.

7. Interação com os fiscos estaduais da Amazônia Ocidental e Macapá/Santan/AP,

através de um sistema próprio (SINTEGRA) que possibilite o controle das mercadorias

ingressadas nas áreas incentivadas e administradas pela Suframa.

e) Interiorização do Desenvolvimento da Amazônia Ocidental

Interiorização do Desenvolvimento é a forma que a Suframa encontrou a partir dos

últimos quatro anos, de distribuir parte da riqueza gerada no Pólo Industrial para o interior da

Amazônia Ocidental. É um programa executado em parcerias com outros órgãos e mediante a

assinatura de convênios de com participação financeira com os Governos Estaduais e

Municipais da região, para obras de infra-estrutura, saneamento, estímulo à produção rural.

89

Uma das diretrizes para interiorizar o desenvolvimento é promover o aproveitamento

das potencialidades regionais, apoiando programas que assegurem a continuidade deste

processo e a atração de novos investimentos para a Amazônia Ocidental, a partir da

divulgação de estudos e implementação de ações que tornem possíveis à auto-

sustentabilidade, a geração de emprego e renda e a melhor distribuição de riqueza na região.

Outra diretriz desse programa é a promoção do desenvolvimento sustentável local com

a adoção de um modelo para a Amazônia capaz de, ao mesmo tempo, preservar a capacidade

produtiva dos recursos naturais, viabilizar economicamente o uso, e dar qualidade de vida aos

habitantes da região.

Estratégias:

1. Ampliação e manutenção do banco de dados do projeto de potencialidades regionais

identificadas em estudos anteriores, para orientar empreendedores nacionais e internacionais

que desejem investir na Região. Em meados da década de 90, a Suframa em parceria com o

Instituto Superior de Administração e Economia da Amazônia – ISAE, da Fundação Getúlio

Vargas, fez o levantamento dos produtos da região com potencial econômico, viabilidade de

exploração e fontes do financiamento. Os resultados foram reunidos num estudo detalhado

das potencialidades regionais que tem sido posto à disposição dos Governos Estaduais e

Municipais da Amazônia Ocidental e de Macapá e Santana, no Amapá, para que sejam

parceiros da Suframa na atração de investidores.

2.Articulação para elaboração de sistema contábil para gestão ambiental , que

possibilite a inserção de dados e registros sobre o patrimônio ambiental, observando preceitos

fundamentais de ciências contábeis, econômicas, jurídicas e naturais.

3.Atuação estratégica integrada para áreas de fronteira buscando convergir

mecanismos disponíveis na Suframa, cabíveis a Áreas de Livre Comércio, às ações de outros

órgãos governamentais, especialmente do Projeto Calha Norte, a fim de promover atividades

conjuntas direcionadas ao desenvolvimento sócio-econômico das regiões de fronteira.

4. Apoio à elaboração das Contas Regionais dos Estados da Amazônia Ocidental e

Amapá, prosseguindo no trabalho desenvolvido pela Suframa, em parceria com o IBGE, para

promover a capacitação técnica das Secretarias de Planejamento e Órgãos de Estatística da

Amazônia Ocidental e Amapá, visando à construção das Contas Regionais Anuais.

90

5. Treinamento e reciclagem das associações e Cooperativas da Amazônia Ocidental

para aprimorar as gestões administrativas dos projetos de produção financiados a título de

gestão, emprego e renda, possibilitando a emancipação.

6. Fomento a projetos de infra-estrutura econômica e social na Amazônia Ocidental e

Amapá, que promovam o desenvolvimento da Região.

7. Elaboração de estudos econômicos agropecuários e agroindustriais capazes refletir a

situação do setor agropecuário e agroindustrial, para subsidiar investidores interessados nos

diferentes segmentos do setor.

8. Zoneamento econômico-ecológico do Distrito Agropecuário de Manaus indicando

os potenciais e as áreas aproveitáveis sob os pontos de vista técnico, econômico e ambiental,

com ênfase nas atividades previstas para aquela área.

9. Ações de apoio à implantação do Projeto Piloto de Colonização em Grupo, no

Distrito Agropecuário, que prevê o assentamento de famílias de produtores rurais em áreas

previamente preparadas, dotadas da infra-estrutura necessária ao suporte dos colonos,

inclusive escolas, postos de saúde, etc.

10. Programa de desenvolvimento de Design Tropical de a Amazônia Ocidental

desenvolver um design próprio da Região e possilibilitar a elevação econômica e social das

comunidades amazônicas, com o aproveitamento da criatividade da população na

transformação de restos de madeira, sementes, cascas, fibras, e outros depósitos naturais em

peças de arte, bijuterias e utensílios domésticos.

11. Programa de desenvolvimento com base nas potencialidades regionais existentes

ou que venham a ser identificadas, para apoiar a implantação dos projetos econômicos

elaborados pelos Estados da Amazônia Ocidental e Amapá.

91

f) Desenvolvimento Institucional

Na execução das suas atividades e cumprimento da Missão Institucional a Suframa

procura manter e aprimorar sua máquina administrativa, buscando de forma contínua o

desenvolvimento organizacional. O procedimento se aplica aos seus recursos humanos como

aos logísticos, isto é, a sede física, os equipamentos, as instalações, as condições de trabalho.

No desenvolvimento dos seus recursos humanos a Suframa assegura:

1. Funcionamento das atividades de recursos humanos;

2. Capacitação e formação de recursos humanos, em nível técnico,

administrativo e gerencial promovendo o aperfeiçoamento e a reciclagem de

conhecimentos;

3. Manutenção de um Programa de estágio de estudantes, propiciando a

complementação do ensino e aprendizagem a estudantes, em termos de

treinamento prático de aperfeiçoamento técnico, cultural, científico e de

relacionamento humano.

4. Implantação de um Programa Qualidade de Vida no Trabalho ,

promovendo a melhoria do inter-relacionamento profissional e pessoal dos

servidores, dando estímulo à vida saudável, melhoria do ambiente de trabalho,

bem como a prevenção de doenças.

5. Compartilhamento de informações gerenciais, difundindo as estratégias

da Instituição e do projeto Zona Franca de Manaus junto aos servidores e

colaboradores, nivelando consciência e discurso das políticas e diretrizes da

Administração.

O Brasil experimentou um rápido crescimento industrial e tornou-se uma economia

moderna e diversificada. A Zona Franca de Manaus, objetivando a auto-sustentabilidade,

alicerçada em incentivos fiscais e com o desenvolvimento de novas políticas industriais

continua fazendo a diferença na história econômica do país e é nesse cenário que o Amazonas

segue seu desenvolvimento industrial.

92

CAPÍTULO V

O ESTUDO DO COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO

ORGANIZACIONAL Neste capítulo descrever-se-á o comportamento estratégico organizacional da EVI,

empresa eletroeletrônica localizada no Pólo Industrial de Manaus (PIM).

Organizado da seguinte forma: primeiro, caracterizou-se a empresa na atualidade, em

seguida, a partir das entrevistas realizadas com a coalizão dominante da empresa, descreveu-

se as adaptações estratégicas organizacionais, localizando-as nas datas que ocorreram e

identificando seus comportamentos estratégicos baseada na tipologia de Miles & Snow,

(1978)

5.2 – SITUAÇÃO ATUAL DA EMPRESA

A EVI é uma empresa moderna, comprometida com a satisfação de seus clientes

através da eficácia de sua administração e melhoria contínua de sua política interna. Busca,

em todos os seus processos, a máxima qualidade de seus produtos, gerando recursos

necessários para conseguir desempenhar suas atividades, identificando oportunidades de

melhorias para maior produtividade e competitividade.

A administração da empresa é executada por dois filhos do fundador, possuindo uma

fábrica com área de 50.000 m², produzindo aparelhos eletrônicos, tais como: Televisores,

Monitores para micro computadores, Micro computadores, Aparelhos de som para

automóveis, Sistemas Conjugados de Áudio e Acessórios para telefones celulares.

Em São Paulo, numa área de 25.000 m², está localizado o prédio da administração

central, como também seu centro de distribuição, cuja logística atinge no território brasileiro

seus mais de 6.000 pontos de vendas, possuindo também, nos mais diversos lugares 470

serviços autorizados de Assistência Técnica.

A EVI está localizada no PIM desde o início, desempenhando papel relevante na

economia, contribuindo fortemente na agregação de valor da produção da região. Por muitos

anos a empresa utilizou-se apenas do mercado do varejo com produtos da sua própria marca

na área de entretenimento e atualmente possui parceiros globalizados como Motorola,

Siemens/VDO, Pioneer e AOC, trabalhando em sistema de Order Manufactor (O&M),

atingindo com isso outros segmentos de mercados e diversificando sua linha de produtos nas

áreas: automotiva, informática e telecomunicação.

5.2 – FASES

DO COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO ORGANIZACIONAL

Para explicar este processo, foram identificadas as mudanças estratégicas conforme as

Figuras 5, 6 e 7, que mais influenciaram na organização. A partir destas mudanças

estratégicas, definiu-se as datas que ocorreram. Descreveu-se o processo destas mudanças

ocorridas durante sua história, segundo a percepção dos informantes (coalizão dominante).

Fez-se uma análise teórica das fases, relacionando os fatos relatados com a fundamentação

teórica (Cap. II), e com a descrição das condições objetivas do setor (Cap. IV).

MUDANÇAS ESTRATÉGICAS – DÉCADA 70 ANO

1. Atuação como exportadora no Panamá, criação da marca AIKO. 1965

2. Abertura da importadora em S. Paulo. 1967

3. Introdução da importadora em Manaus no início da ZFM. 1967

4. Organização da atividade Industrial. 1971

5. Realização da parceria com a Mitsubishi. 1974

6. Execução da produção de Televisores a cores. 1979

7. Divulgação da marca Mitsubishi no Brasil. 1979

Figura 5: Mudanças Estratégicas Fonte: Entrevistas do autor (2002/2003)

93

MUDANÇAS ESTRATÉGICAS – DÉCADA 80 ANO

8. Elaboração da campanha “Garantia de copa a copa”. 1982

9. Produção de Televisores com Controle Remoto. 1984

10. Instalação da Fábrica de Componentes. 1986

11. Fabricação de Televisor com ZOOM. 1986

12. Realização da produção do VCR. 1987

13. Criação de TV´s de 26" e 40" a maior tela do mundo. 1988

14. Eliminação da linha de Áudio. 1989

Figura 6 : Mudanças Estratégicas Fonte: Entrevistas do autor (2002/2003)

MUDANÇAS ESTRATÉGICAS – DÉCADA 90 ANO

15. Aquisição de máquinas automáticas para inserção de componentes. 1993

16. Implementação da Certificação ISO 9002 1995

17. Consolidação da Parceria Order Manufactor (O&M). 1995

18. Unificação das fábricas de componentes e produtos em uma única planta. 1997

94

Figura 7 : Mudanças Estratégicas Fonte: Entrevistas do autor (2002/2003) Foram definidas três fases das mudanças estratégicas da empresa EVI. Estas fases,

caracterizadas pelos conjuntos de decisões tomadas pela empresa que estabeleceram um

padrão de comportamento estratégico e foram identificadas utilizando-se como referencial a

base teórica que norteia a pesquisa.

FASES ESTRATÉGICAS Fases

1. Início da empresa e início da atividade industrial ANOS 70

2. Inicio do avanço tecnológico em televisores e fabricação de componentes ANOS 80

3. Crescimento tecnológico e Diversificação da Linha de Produtos. ANOS 90

Figura 8: Fases Estratégicas Fonte: Pesquisa do Autor (2002/2003)

FASE ESTRATÉGICA ANOS 70: Criação da empresa e início da atividade industrial.

95

Esta fase contempla a criação da empresa, a mudança da condição de comércio para

indústria, a primeira diversificação na produção de produtos com o início da fabricação de

televisores a cores e a consolidação da marca Mitsubishi no mercado brasileiro.

MUDANÇA ESTRATÉGICA 1: Atuação como exportadora no Panamá

e criação da marca AIKO – (1965).

A empresa, antes de se mudar para o Brasil, desenvolvia atividades de exportação.

Atuando na Zona Franca no Panamá, centro de distribuição para a América do Sul, onde

surgiu a marca AIKO, conforme explica o Gerente da Área Administrativa e Financeira de

Manaus.

“No Panamá, a empresa já era conhecida como

exportadora de vários produtos como: televisão

preto e branco, ventiladores e rádios portáteis.

Criou a marca AIKO e mandava fabricar seus

produtos e os exportava para o Brasil, Argentina,

Chile e outros países."

Nesse momento, a empresa desenvolve atividades de exportação de produtos e

visando novas oportunidades de mercados resolve criar sua própria marca, a AIKO, produto

de áudio que fica conhecido no mercado brasileiro, sendo mais tarde fabricado pela EVI no

início da sua atividade industrial. Adotando uma postura agressiva, se muda para o Brasil,

exercendo atividades de importação de produtos. MUDANÇA ESTRATÉGICA – 2: Abertura da Importadora em São Paulo - (1967).

A economia brasileira, beneficiando-se do grande crescimento do comércio mundial e

dos fluxos financeiros internacionais para aumentar sua abertura comercial e financeira em

relação ao exterior, apresenta um ciclo expansivo e de resultados positivos em quase todos os

setores da economia, com uma elevada taxa anual sempre superior a 15%, no período

chamado “milagre econômico brasileiro – 1968/1973 (MELO, 1987).

96

Grande parte das reformas ocorridas nos anos anteriores possibilitaram conter a

inflação e criar condições favoráveis para o crescimento econômico. É nessa hora que a

administração da EVI resolve se instalar no Brasil e decide montar uma importadora na

cidade de São Paulo, utilizando-se do canal de distribuição que tinham via Panamá,

facilitando, com isso, o escoamento de seus produtos e obtendo mais lucros e menor preço,

como diz o Gerente da Área de Marketing.

“A economia brasileira, em anos consecutivos,

apresentava estabilidade. O Governo brasileiro

oferecia uma política favorável a investimentos em

seu mercado interno, transformando o Brasil em um

bom lugar para investimentos em diversos setores da

economia. O fundador da empresa, de olhos nesse

mercado, resolve mudar-se para o Brasil e abre

uma importadora em São Paulo com a vantagem

competitiva em relação a concorrência, por

importar seus próprios produtos vindos do Panamá,

obtendo maior rentabilidade na sua operação

comercial”.

Com a visão voltada para novos mercados, observou-se a possibilidade de elaborar

nova linha de atividade, ou seja, a empresa apostou no mercado brasileiro se tornando

importadora de seus próprios produtos. O Governo brasileiro, com seu programa

expansionista e visando integrar a Amazônia a economia do país, bem como, promover sua

ocupação e elevar o nível de segurança para manutenção de sua integridade resolve, através

do Decreto-Lei 291 de 28 de fevereiro de 1967 criar a Zona Franca de Manaus como área de

livre comércio, oferecendo a seus investidores vantagens competitivas em relação a outros

Estados como incentivos fiscais e liberdade plena de importação. Diante desses benefícios, a

EVI muda-se para Manaus mantendo-se como empresa comercial no mercado de importação.

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 3: Introdução da Importadora em Manaus no início

97

da Zona Franca - (1967).

Criada como porto livre, a Zona Franca de Manaus mudou o comércio de produtos

importados que antes tinha o Panamá como centro distribuidor para o Brasil, fazendo com que

vários comerciantes e importadores sediados em outras regiões do Brasil viessem para a Zona

Franca de Manaus. Devido a esse fato, muitas empresas comerciais e importadoras

transferiram suas atividades para Manaus, por exemplo: Lojas Alvorada, Top Internacional,

Três Elefantes, entre outras. A EVI como empresa comercial, chamava-se Três Diamantes,

localizada no centro da cidade (chamado de comércio da Zona Franca) onde vendiam

produtos eletroeletrônicos das marcas Aiko e Mitsubishi. Mais tarde a EVI tornou-se

representante oficial da marca Mitsubishi no Brasil. De acordo com o comentário do Gerente

da Área Administrativa e Financeira de Manaus.

“A Zona Franca de Manaus oferecia vantagens

para importações, destacando as atividades

comerciais e o aumento do turismo doméstico. Os

produtos importados foram os primeiros a

desenvolver o comércio da ZFM, principalmente os

eletroeletrônicos que sustentaram a área comercial

por um longo período. A EVI, utilizando-se da

mesma estratégia quando sediada no Panamá e São

Paulo, importava produtos com a sua própria

marca, AIKO e também produtos Mitsubishi, que

mais tarde passaram a ser fabricados, com o início

do Pólo Industrial de Manaus - PIM”.

O milagre econômico brasileiro (1968-1973) ajudou muito o setor comercial da Zona

Franca de Manaus, principalmente os produtos importados, os primeiros a se desenvolverem,

estimulando o turismo de compras. Este crescimento coincide com o aumento nas

importações brasileiras que subiram de US$ 2,8 bilhões para US$ 7 bilhões (BRUM, 1997). A

EVI, mantendo-se no mercado como importadora no comércio de Manaus, adota uma

diferenciação como vantagem competitiva, vislumbrando a possibilidade de importar, em vez

de produtos prontos, componentes para fabricação de seus próprios produtos, diminuindo seu

volume de importações e iniciando suas atividades industriais.

98

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 4: Organização da Atividade Industrial - (1971).

A dívida externa brasileira saltou de US$ 5,3 bilhões em 1970 para US$ 12,6 bilhões

em 1973 (BRUM, 1977) isto levou alguns autores (LACERDA et al 2000; CRUZ 1984), a

classificarem o período do milagre econômico como de crescimento conduzido por

financiamentos externos, uma vez que o volume de capital externo que entrou no país sobre a

forma de empréstimos foi decisivo no financiamento deste crescimento.

O rápido crescimento econômico, ao longo do milagre econômico brasileiro, levou ao

aparecimento de alguns desequilíbrios que gerariam pressões inflacionárias e problemas na

balança comercial. Prevendo tais problemas, o fundador da EVI tomou a decisão de iniciar a

atividade industrial em Manaus, conforme informação do atual Vice-Presidente da empresa.

“Meu pai, prevendo futuros problemas com a

Balança Comercial do Brasil, devido ao alto volume

de importação de produtos acabados, resolve criar a

industria, sendo a única empresa, na época, a

acrescentar nova atividade fora do comércio

importador, além de acompanhar a chegada de

outras empresas no ramo industrial que estavam se

instalando em Manaus, entre elas a Sharp, a Philips,

a Philco. Em 1971, inicia as atividades no Pólo

Industrial de Manaus – PIM com a vantagem de

poder fabricar produtos da marca AIKO,

conhecidos no mercado já comercializados em sua

importadora que eram o carro chefe na venda

comercial, como rádios portáteis e sistemas

Conjugados de Áudio, chamados de 3 em 1(que

possuíam um amplificador com sintonizador para as

freqüências de rádios, toca-disco de vinil e o tape

deck)”.

99

A EVI, empresa eminentemente comercial, torna-se pioneira ao acrescentar em suas

atividades, a industrial, mantendo as atividades anteriores. Uma vez iniciada as atividades

industriais, com o crescimento da produção e a aceitação no mercado eletroeletrônico, houve

a necessidade de expansão, fazendo com que a EVI mudasse para um outro prédio, conforme

comenta o Gerente da Área Administrativa e Financeira de Manaus.

“A primeira fábrica da EVI começou em um

prédio alugado próximo ao Distrito Industrial de

Manaus e devido à necessidade de expansão a EVI

adquiriu um terreno dentro da área do Distrito

Industrial de 40.000 m² onde construiu sua fábrica e

se mantém até hoje”.

A continuidade do ciclo expansionista do início dos anos 70, dependeria

fundamentalmente de uma situação externa favorável. Esta situação foi rompida pela crise

internacional desencadeada pelo primeiro choque do petróleo no final de 1973. Este fato

inusitado abalou não só a economia brasileira, mas também a mundial. Diante desta crise, a

administração da empresa investe em novas instalações para dinamizar e ampliar o espaço de

trabalho, passando de locatário para proprietário de uma área dentro do Distrito Industrial.

Nesta fábrica a EVI continuou a produzir os produtos de áudio da marca AIKO, e também o

toca-fita para carro, iniciando a parceria industrial com a Mitsubishi.

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 5: Realização da parceria com a Mitsubishi - (1974).

O Brasil, que vinha de um período de expansão, onde o setor industrial estava

funcionando com aproveitamento pleno de sua capacidade instalada, sofre um retrocesso pela

brusca elevação dos preços e produtos essenciais que o país importava em grande quantidade,

como petróleo, aço, fertilizante, bens de capital e industrializados diversos, provocando um

desequilíbrio na balança comercial e no balanço de pagamento com o exterior e revelando um

alto grau de vulnerabilidade econômica do país.

100

O governo Geisel ao assumir a administração do Brasil, em março 1974, prioriza

interesses econômicos em detrimento dos interesses políticos-ideológicos. Propõe a

transformação do Brasil em potência mundial emergente com meta de inserir o país no

chamado primeiro mundo, até o final de seu mandato.

Para viabilizar tal projeto era preciso melhorar qualitativamente o desempenho da

economia, sobretudo da indústria e reconduzir o país aos quadros democráticos (BRUM

1997). É nesse momento que a EVI ganha também nova direção, pois o fundador da Empresa

falece logo após a mudança para as novas instalações, e quem assume a empresa é o filho

primogênito do fundador , conforme explica o Gerente da Área de Vendas.

“O atual presidente que assumiu a empresa, após

o falecimento do fundador, é uma pessoa que vive

acima do seu tempo, dos mais competentes que

conheci, além de ter uma visão empresarial acima

do comum, é, sem dúvidas, um vencedor e

persistente em seus objetivos. Para tornar-se

tecnologicamente mais competitivo e melhor

rentabilidade em seus produtos, investe em

parcerias. Um dos resultados de sua atuação como

empresário é o início da parceria com a Mitsubishi

para a fabricação de toca-fitas e mais tarde

televisores coloridos, causando reações positivistas

a todos nós.”

Ao realizar a parceria com a Mitsubishi, na busca de novos desafios, a administração

da empresa entra na fase de avaliação de qual seria o melhor produto para fabricação, de

acordo com comentários do Gerente da Área de Marketing da empresa:

O primeiro produto estudado para ser

montado foi o ventilador, que já era um produto

importado. Entretanto e devido à localização

geográfica de Manaus, este produto tornou-se

inviável devido a matéria-prima utilizada e o

produto acabado ocuparem um grande volume e o

custo de transporte ser muito alto. Com esta

posição, verificou-se que produtos a serem

fabricados em Manaus, deveriam ser compactos e

com alto valor agregado devido ao custo de

transporte e o baixo valor da mão-de-obra, por esta

razão o produto escolhido para o início da produção

com a marca Mitsubishi foi o toca-fita para carro.

101

A EVI, ao investir em parcerias, encontra na Mitsubishi a rentabilidade e a melhora

qualitativa industrial desejada, resultando em novos produtos e inovações tecnológicas. O

sucesso da copa mundial de futebol, no ano de 1978, desperta, na empresa, o interesse pela

fabricação de televisores a cores dando início as negociações com a Mitsubishi, para a

produção de televisores no Brasil.

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 6: Execução da produção de Televisores a cores-(1979).

Em 1978, o Governo Geisel apresenta o II Plano Nacional de Desenvolvimento

(II PND), para dar continuidade aos esforços de crescimento dos anos anteriores. As grandes

metas governamentais eram: a) manter a performance do “milagre econômico” embora com

taxas de crescimento um pouco menores das ocorridas anteriormente; b) descentralização do

crescimento econômico do eixo São Paulo - Rio de Janeiro - Belo Horizonte para diminuir a

disparidade de renda com o resto do Brasil; c) implantar um novo padrão de industrialização,

baseado na expansão da indústria de bens de produção ou indústria básica.

Diante das ações governamentais implantadas e o sucesso alcançado com os

televisores a cores na copa de 1978, a EVI, na busca de novos produtos e mercados, inicia

negociação com a Mitsubishi para fabricar televisores coloridos, como diz o Gerente da Área

de Suprimentos:

“Alguns fatores foram significativos para a

realização da parceria com a Mitsubishi para

fabricação de televisores a cores como: a relação

comercial para venda de seus produtos no Brasil e o

sucesso na fabricação dos rádios toca-fitas para

carro. Um fato importante para citar é que na época

do fechamento do contrato, a fábrica da EVI seria a

única no mundo fora do Japão que produziria

produtos Mitsubishi sem a sua participação

societária.”

102

Com a realização da parceria a empresa fez um novo investimento na compra de

equipamentos totalmente importados do Japão para montagem da sua fábrica de televisores.

Para instalação e dar treinamento aos funcionários da EVI os técnicos também vieram do

Japão, conforme o comentário do Gerente da Área Administrativa e Financeira de Manaus:

“A fábrica de Televisores foi totalmente importada

e montada por técnicos japoneses, tornando-se a

fábrica com a mais moderna tecnologia de processo

da América Latina”.

Esse investimento em busca de novos produtos e mercado concretiza o processo de

industrialização dos televisores Mitsubishi no Brasil, resultando na implantação da fábrica e

consolidando a parceria entre a EVI e a Mitsubishi. Com a fábrica implantada e visando

tornar conhecida a televisão da marca Mitsubishi no Brasil, começa uma ampla divulgação,

através de campanhas de marketing.

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 7: Divulgação da marca Mitsubishi no Brasil - (1979).

O final da década de setenta ficou caracterizado por dificuldades no quadro econômico

e financeiro do país. Para o Governo Federal, a economia dependia do equilíbrio do

desenvolvimento formado pelo tripé empresas estatais, empresas estrangeiras e empresas

privadas nacionais, exigindo, portanto, uma política de contenção da estatização e de

fortalecimento do setor privado.

103

Grandes investimentos foram feitos nas empresas estatais como na Petrobrás,

Eletrobrás Embratel e outras. O setor estatal, a perna mais fraca do tripé, acabou, na prática,

ampliando-se mais do que em qualquer época, descaracterizando o princípio anteriormente

estabelecido como meta governamental (FAUSTO, 1995) e para agravar ainda mais a

situação, houve o segundo choque nos preços do petróleo em março de 1979.

A EVI, para enfrentar mais uma crise financeira e diante do preço elevado do petróleo,

apresenta ousada campanha de divulgação de seus produtos com o objetivo de manter seu

market-share pois sempre se preocupou com a qualidade e com a satisfação de seus clientes

como pode ser notado na colocação do seu Gerente da Área de Vendas:

“A EVI, preocupada com a qualidade de seus

produtos e a satisfação de seus clientes e em busca

de um market share na faixa de 10%, investiu em

amplas campanhas publicitárias através dos meios

de comunicação de massa, concretizando a

comercialização dos televisores coloridos de sua

própria fabricação. Uma das campanhas inovadoras

de divulgação da marca foi o acompanhamento

personalizado para os primeiros 5.000 aparelhos

vendidos, ou seja, o cliente era visitado ou a

empresa entrava em contato com o mesmo para

ajudá-lo na instalação ou orientá-lo no manuseio e

saber o nível de satisfação com a aquisição do seu

novo bem”.

Tendo como objetivo a divulgação de seus produtos com qualidade e tecnologia

Mitsubishi e encontrando nos meios de comunicação de massa essa possibilidade, a EVI

torna-se a pioneira no relacionamento direto com seus clientes e consegue projetar-se no

mercado e firmar-se como fabricante, fazendo com que seus produtos ficassem conhecidos

como de tecnologia moderna e excelente qualidade.

ANÁLISE TEÓRICA DA FASE – 1

Identifica-se, na fase inicial da empresa, as mudanças estratégicas relacionadas a

várias posturas utilizadas pela EVI, nos anos 70, que marcaram seu início como importadora e

fabricante de produtos de acordo com a Figura 9.

Figura 9 - Mudanças Estratégicas e Posturas do Comportamento Organizacional

MUDANÇA ESTRATÉGICA POSTURA

Mudança Estratégica – 1:

Atuação como exportadora no Panamá, criação da marca

AIKO – (1965).

Prospectora

Mudança Estratégica – 2:

Abertura da importadora em São Paulo – (1967). Analítica

Mudança Estratégica – 3:

Introdução da importadora em Manaus no início da ZFM –

(1967).

Analítica

Mudança Estratégica – 4:

Organização da atividade Industrial – (1971). Prospectora

Mudança Estratégica – 5:

Realização da parceria com a Mitsubishi – (1974). Defensiva

Mudança Estratégica – 6:

Execução da produção de Televisores a cores – (1979). Analítica

Mudança Estratégica – 7:

Divulgação da marca Mitsubishi no Brasil – (1979). Prospectora

104

da EVI / ANOS – 70

Fonte: Pesquisa do Autor (2002/2003)

As mudanças estratégicas ocorridas nos anos setenta apresentam várias posturas, entre

elas, a Prospectora (MILES e SNOW, 1978), identificada em vários momentos como por

exemplo na ação de seu fundador quando cria a marca AIKO, visando novas oportunidades de

negócios, tornando-a conhecida no mercado e mais tarde usando-a na fabricação de seus

próprios produtos. Identificada também no momento em se transforma em industria e se torna

a primeira empresa eminentemente comercial da Zona Franca de Manaus a tornar-se

industrial.

105

Outra mudança com a mesma postura é a divulgação da marca Mitsubishi no Brasil

encontrada nas ousadas campanhas publicitárias, transformando a empresa em pioneira no

relacionamento direto com seus clientes.

Outra postura identificada é a Defensiva (MILES e SNOW, 1978) que aparece na

mudança estratégica em que a empresa, na busca por novos produtos e inovações

tecnológicas, firma parceria com a Mitsubishi, ocorrida após a morte do fundador e

conquistada por seu sucessor e filho primogênito que tem como característica a ousadia

administrativa.

A postura Analítica (MILES e SNOW, 1978) é utilizada, nesta primeira fase, no

momento em que a administração da empresa inicia suas atividades no Brasil como

importadora em São Paulo, com o propósito de investir em novos mercados, mantendo as

atividades desenvolvidas no mercado anterior como exportadora no Panamá.

Essa mesma postura é identificada quando a empresa resolve mudar-se para Manaus,

aproveitando-se do advento da Zona Franca, que oferecia vantagens para as importações,

viabilizando e garantindo novos produtos e mercados. Outro evento caracterizado pela postura

analítica é quando a administração da empresa resolve aproveitar-se do sucesso dos

televisores a cores conquistados a partir da copa de 1978 e acrescenta em seus produtos a sua

fabricação, concretizando, assim, a parceria com a Mitsubishi.

FASE ESTRATÉGICA ANOS 80: Inicio do Avanço Tecnológico em televisores e

fabricação de componentes.

Nos anos 80, a economia brasileira foi marcada por graves desequilíbrios externos e

internos. Essas dificuldades internas no final dos anos 70 e início dos anos 80, agravados por

um conjunto de mudanças adversas no contexto econômico internacional, levaram o Brasil ao

colapso financeiro e a mais grave crise econômica de sua história, estigmatizando a década de

80 como “a década perdida”.

É neste cenário que assume o novo governo militar (Figueiredo), estabelecendo novas

políticas governamentais como III Plano de Desenvolvimento (III PND). Mesmo diante de

toda essa crise, a administração da EVI, com sua ousadia, investe em avanço tecnológico de

produto, criando televisores como os de controle remoto, com imagem ZOOM e com telas

grandes de até 40 polegadas, além da criação da fábrica de componentes, a produção de VCR

e a saída da Linha de Áudio.

106

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 8: Elaboração da campanha

“Garantia de copa a copa” - (1982).

Os anos 80 iniciam sob a égide de um novo governo militar que estabelece nova

tentativa de adequar o projeto “Brasil Potência” do governo Geisel a nova situação da

economia, criando o III Plano de Desenvolvimento (III PND) que consistia fundamentalmente

na idéia de manter o crescimento acelerado da economia e de combater a inflação, para repetir

o sucesso do milagre econômico brasileiro.

A conjuntura das dificuldades internas e das condições desfavoráveis da economia

mundial, provocou uma política econômica interna fortemente recessiva, onde houveram

falência de empresas, aumento dos índices de desemprego e arrocho salarial de trabalhadores.

Os setores mais atingidos pela recessão foram as industrias de bens de consumo, de

bens de capital, construção civil, comunicação e transporte, justamente aquelas que deram

suporte ao novo padrão de industrialização desenvolvido no projeto Brasil Potência do

Governo Geisel. Para manter sua estabilidade econômica, a EVI investe em campanhas de

marketing. Em 1982, com o advento de mais uma copa mundial de futebol, a empresa

resolveu fazer um trabalho de divulgação através dos meios de comunicação de massa,

lançando a campanha com o slogan: garantia de copa a copa, entre outras, conforme afirma o

Gerente da Área de Marketing da empresa:

“A EVI decidiu implantar uma fábrica de televisores

e investiu alto nesse projeto, transformando-a na

mais moderna da América Latina, tendo como

resultado e devido a essas condições, excelentes

produtos de tecnologia Mitsubishi como o 1º

televisor com seletor de canal eletrônico, dando

maior confiabilidade para seu produto, com isso,

permitindo que em 1982 pudesse lançar campanha

nacional, oferecendo garantia de 4 anos, ou seja,

garantia de copa a copa, sendo a pioneira a

oferecer valores intangíveis a seus clientes. Outra

campanha de grande sucesso, foi a que se utilizava

de clientes de produtos Mitsubishi, como o técnico

Zagalo, da seleção brasileira, que os recomendava.

Neste período, a empresa adotava postura de

marketing agressiva, em busca de novas

oportunidades através da diferenciação de seus

produtos”.

107

Com essa inovação a EVI proporciona a seus clientes condições para adquirirem

produtos de qualidade, oferecendo também suporte técnico sem ônus durante todo o período

da garantia.

Com o objetivo de manter sua estabilidade financeira, a empresa, apresentando atitude

agressiva, promove campanhas de marketing verificadas no comentário do Gerente da Área

de Marketing. Perseguindo os objetivos acima citados, oferece, a seus clientes, mais uma

diferenciação de produtos, ou seja, todos os televisores com controle remoto.

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 9: Produção de televisores com Controle Remoto –

(1984).

No ano de 1984 houve uma retomada do crescimento da economia brasileira,

ocasionada pela recuperação da economia americana e pelo aumento das exportações, em

função de uma forte alta nos preços dos produtos primários (LACERDA et al.,2000). Apesar

de um crescimento positivo da produção industrial e agrícola neste ano a taxa de inflação

manteve-se alta (conforme dados da Tabela 4 do Cap. IV). A relativa estabilidade desta taxa

era reflexo da crescente indexação da economia, que resultava na elevação dos patamares

108

inflacionários e altas taxas de juros a cada novo choque de oferta, choque cambial ou tentativa

de mudança na estrutura de apropriação da renda (LARCERDA et al, 2000).

No meio das mudanças e dificuldades econômicas, A EVI, mais uma vez, avança a seu

tempo e lança no mercado produtos de ultima geração, como aparelhos de televisão com

controle remoto. E para torná-los acessíveis a seus clientes, realiza campanhas promocionais

conforme descreve o seu Gerente da Área de Marketing.

“A empresa, em períodos, esteve continuamente

preocupada em adaptar-se ao tripé: câmbio,

inflação e taxa de juros pois era sabedora que suas

variações poderiam influenciar em suas atividades.

O câmbio influenciava na dívida externa com

fornecedores e na formação dos preços de vendas

devido ao custo de reposição. A inflação e taxas de

juros estavam diretamente ligadas ao crediário que

representava 80% nas estatísticas de vendas da

empresa. Além dessa situação e com o momento

econômico que o país atravessava, a empresa tinha

que ser inovadora e agressiva em suas atitudes, por

essa razão, decidiu fazer uma campanha,

aproveitando do momento de alta tecnologia de seus

produtos e ofereceu toda a linha de televisores com

controle remoto pelo preço de um televisor comum

(sem controle remoto), permitindo que nossos

clientes tivesses acesso a esses produtos,

considerados, naquele momento, como os de última

geração. Uma outra campanha inovadora, nesta

época, foi a de garantir a devolução do dinheiro

empregado na compra de um televisor após 24

meses. A empresa, aproveitando-se das altas taxas

inflacionárias e da característica nata de jogador do

povo brasileiro, inovou mais uma vez no mercado,

criando um diferencial a mais para ser usado pelo

departamento de vendas”.

109

A EVI surpreende mais uma vez e mostra que é capaz de oferecer um produto de

qualidade e tecnologia avançada a um custo competitivo oferecendo todos os seus televisores

com controle remoto aos seus clientes sendo seguido mais tarde por todos os fabricantes de

televisores no Brasil.

Apresentando campanhas publicitárias com criatividade acima do comum, demonstra

a mesma ousadia anteriormente observada em seus dirigentes, denotando, ainda, adaptação a

controles de custos e resultados, através de indicadores financeiros e industriais, quando

necessário.

Com essas características e visando outros investimentos, a EVI, intensificando nova

adaptação ao mercado, proporcionando garantia, qualidade, conforto e ampliando sua

competitividade, constitui sua fábrica de componentes.

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 10: Instalação da Fábrica de Componentes - (1986).

O Plano Cruzado introduziu uma nova moeda, substituindo o cruzeiro pelo cruzado, e

definiu regra de conversão de preços, ou seja, buscou promover um “choque neutro” que

mantivesse, sob o cruzado, o mesmo padrão de distribuição de renda do cruzeiro

(VASCONCELLOS et al., 1996).

A principio, o plano foi considerado um sucesso, pois as taxas de inflação

efetivamente caíram no curto prazo, desestimulando a especulação financeira, por

conseqüência, estimulava os investimentos produtivos. Enquanto funcionou, conseguiu

sacudir o consumidor, carrear investimentos para a produção, impulsionar o número de micro,

pequenas e médias empresas, expandir as atividades econômicas, aumentar o consumo e

recuperar a confiança da sociedade em si própria e no país.

Visando a consolidação do Pólo Industrial de Manaus (PIM), a Suframa incentiva a

formação de uma rede local de fornecedores para atender à demanda progressiva de bens

intermediários e evitar importações, bem como diminuir os custos de produção e abrir vagas

no mercado de trabalho. Aproveitando esse momento, a EVI inaugura a Fábrica de

Componentes, verticalizando sua produção, garantindo, com isso, melhor qualidade,

produtividade, e flexibilidade, conforme comentário do Gerente da Área Industrial.

110

“A EVI, sentindo necessidade de ampliação da sua

área industrial, devido a euforia do mercado,

provocado pelo Plano Cruzado e aproveitando a

estratégia da Suframa em consolidar o Pólo

Industrial de Manaus, resolve montar sua própria

fábrica de componentes, tendo como conseqüência o

aumento de sua capacidade produtiva, a melhora da

qualidade em seus produtos e a flexibilidade em seu

planejamento logístico (aquisição, produção e

entrega), pois, alguns sub-conjuntos, antes

importados da Ásia, pela sua fábrica de produtos

acabados, não apresentavam qualidade satisfatória

e com um tempo de resposta de solução acima de

três meses. Este novo investimento proporcionou, a

empresa, novos mercados e produtos.”

Com os incentivos da Suframa, objetivando redução nas importações e geração de

novos empregos, A empresa inaugura sua fábrica de componentes. Com mais essa estratégia,

amplia seu campo de atuação, mantendo os anteriores e passa a produzir seus próprios sub-

conjuntos. Cria novas condições de investimentos em outros produtos, por exemplo:

televisores com zoom, garantindo qualidade de sua linha de produção.

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 11: Fabricação de Televisor com ZOOM - (1986).

Durante o ano de 1986 a economia brasileira entrou em um processo clássico de

desajustamento, provocado pelo excesso de demanda e pelo desequilíbrio de preços relativos.

O Plano Cruzado mostrou ser um plano com objetivos limitados e com prazo curto de

duração, os sinais do desaquecimento da economia já eram percebidos, com a queda da

demanda e profunda desestruturação das condições de ofertas devida à longa permanência do

congelamento. Tem-se um movimento de perda de reservas em razão dos saldos negativos na

balança comercial, o que levou ao anúncio da moratória em fevereiro de 1987 para estancar a

perda de reservas e reiniciar as negociações da dívida externa (VASCONCELLOS et al.,

1996).

111

Na tentativa de reverter o quadro de descrédito por força do fracasso do Plano

Cruzado, o governo substitui a equipe econômica (Ministérios da Fazenda, do Planejamento e

Banco Central), em abril de 1987. O novo ministro da fazenda, Luiz Carlos Bresser Pereira,

passou a centralizar o comando da política econômica.

Um novo conjunto de medidas com vistas à estabilização econômica foi lançado em

12 de junho de 1987, o chamado Plano Bresser, numa tentativa de deter a aceleração

inflacionária e evitar a hiperinflação. Ao contrário do que supunha no Cruzado, o Plano

Bresser era considerado um plano emergencial.

Com a economia brasileira desajustada, havendo, no mercado, excessos de demanda

de consumo, a EVI, aproveitando-se desse momento, lança o televisor com zoom, aparelho

que ampliava a imagem em vários níveis de tamanho, de acordo com a vontade do espectador,

mais um dos investimentos inovadores da empresa e de tecnologia de ponta registrados, a

seguir, no comentário do Gerente da Área de Marketing:

“A bolha de consumo, devido ao Plano Cruzado, fez

a EVI lançar um produto novo, a televisão com

ZOOM, mais uma ousadia da equipe administrativa

que investe em novo aparelho de televisão com

tecnologia de ponta, trazendo uma excelente

novidade: ampliação de imagem. Com mais essa

inovação, prova ser uma empresa tecnologicamente

atualizada e com alto grau de confiabilidade na

qualidade dos produtos perante seus clientes”.

A EVI, revelando visão ampliada de produtos-mercados, encontra, no comportamento

dos consumidores brasileiros, possibilidade de investimento e não mede esforços ao lançar o

televisor com ZOOM. Comprovando, mais uma vez, sua preocupação em manter-se no

mercado, introduz, em sua produção, vídeos cassetes, aparelhos complementares da televisão,

dando continuidade em sua política de atualização tecnológica, apresentando, sempre que

possível, novidades em produtos para a satisfação de seus clientes.

112

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 12: Realização da produção do VCR - (1987).

Apesar de ser tecnicamente mais consistente que o Plano Cruzado, o Plano Bresser

encontrou pouca ressonância nos agentes econômicos e na sociedade, e obteve poucos

resultados concretos. Quando se iniciou a descompressão de preços, voltou a aceleração

inflacionária e as pressões por reposições salariais, acabando com o plano

(VASCONCELLOS et al., 1996)..

Preso, entretanto, pelo próprio êxito do Cruzado, o Governo não teve condições de

corrigir os preços relativos e manter o equilíbrio da demanda agregada. Os desequilíbrios de

preços relativos que se congelaram no dia 28 de fevereiro foram agravados por novos

desequilíbrios provocados por setores de difícil controle, que, apoiados na explosão de

consumo, aumentaram seus preços usando dos mais diversos artifícios. Quando o

desequilíbrio dos preços relativos tornou-se insustentável, ao mesmo tempo que continuava o

excesso de demanda, o congelamento foi rompido - e a inflação voltou a se acelerar. A

inflação, que estava em 2 por cento ao mês subiu para um patamar de 15 por cento - em

função, fundamentalmente, da necessidade de recomposição dos preços, o excesso da

demanda está na base da aceleração da inflação - mas só a necessidade de realinhamento de

preços ou de recomposição de preços relativos explica que a inflação tenha saltado para o

patamar de 15 por cento (BRESSER-PEREIRA, 1987).

Para enfrentar mais um momento de crise econômica brasileira e para garantir a

satisfação de seus clientes, a EVI inicia a produção do VCR - vídeo cassete, produto já

lançado no mercado por empresas concorrentes e recebido com muito sucesso, motivada por

seus clientes que o solicitavam de acordo com os comentários e informações complementares

do Gerente da Área de Vendas, como segue:

“Os televisores da EVI já haviam conquistado

seu espaço e com o surgimento do VCR (um

complemento da televisão), a EVI também passou a

fabricá-los devido a necessidades de seus clientes

que solicitavam aparelhos de marca conhecida tanto

quanto seus televisores. Mais uma prova da

evolução tecnológica da EVI que permitiu a sua

clientela, além de assistir a programações da

televisão, também poderia assistir filmes de sua

preferência sem sair de casa”.

113

Objetivando manter seu mercado de televisores, a EVI atende a necessidade de seus

clientes, iniciando a produção do Vídeo Cassete, pois é considerado complemento da

televisão. Este novo segmento do mercado estava sendo oferecido pelos concorrentes e a

empresa, utilizando-se desta abertura, viabiliza a sua produção, esta estratégia é chamada por

Slater & Narver de “ imitadores criativos”. Partindo para novos desafios tecnológicos, torna-

se a pioneira no lançamento dos televisores de tela grande.

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 13: Criação de Televisores de 26 e 40 polegadas

(a maior do mundo) - (1988).

Devido ao fracasso do Plano Bresser, o ministro é demitido em dezembro de 1987,

assumindo a pasta da economia o Ministro Maílson da Nóbrega e novas medidas foram

anunciadas pelo governo.

Com o Ministro Maílson da Nóbrega o governo optou por administrar o dia-a-dia da

economia, com medidas de curto alcance, contrariamente às tentativas de combate drástico ao

processo inflacionário, dos planos anteriores. Essa opção, conhecida como “política-do-

feijão-com-arroz”, tinha como metas principais à retenção da inflação ao redor de 15% ao

mês e redução gradual do déficit público, projetado em torno de 7 a 8% do PIB para 1988.

Esta política também se mostrou incapaz de reter a inflação e reduzir o déficit público. Em

julho de 1988 a inflação já ultrapassava a marca de 24% ao mês e os preços públicos sofriam

reajustes (LACERDA et. al., 2000).

Em novembro de 1988, o governo fez a última tentativa de negociar um pacto social,

que envolvia governo, empresários e trabalhadores, para impedir a hiperinflação e um

desastre econômico. Apesar de toda a discussão anterior ao pacto, este não trouxe os

resultados esperados e causou descontentamento de todas as partes envolvidas.

114

Enfrentando as crises financeiras que o país vinha sofrendo desde o início dos anos

oitenta, a EVI, contando com a ousadia de sua administração no domínio produtos-mercados,

através da diferenciação, investe e lança, em 1988, novos produtos, como os televisores de 26

e 40 polegadas, considerados os maiores televisores de tela grande daquele momento, de

acordo com depoimento do Gerente da Área de Vendas:

“O Brasil vinha passando por inúmeras crises

econômicas, as taxas inflacionárias eram cada vez

maiores, a cada novo governo, novas tentativas de

estabilizar a economia do país. A EVI, seguindo os

parâmetros anteriores de tentar se manter como

uma empresa inovadora, torna-se pioneira no

mercado brasileiro, lançando, simultaneamente com

a Mitsubishi do Japão, aparelhos de televisão de 26

e 40 polegadas, na época as maiores telas do

mundo, produtos que se destacaram em ousadia

tecnológica, comprovando, mais uma vez, sua

capacidade de investimentos na área de

eletroeletrônicos. Esses produtos foram bem aceitos

no mercado que sua propaganda era veiculados

como “compre um aparelho e tenha um cinema em

casa”. Este produto impulsionou a empresa a novos

investimentos na área de televisores”.

Ainda não havia, no mercado, desde então, aparelhos desse porte, que pudessem imitar

as telas de cinema. A EVI, desde o início de suas atividades, apresentou inovações no setor de

televisão e essa foi, entre outras, uma das mais audaciosas, alcançando sucesso imediato no

comércio nacional que acabou exigindo, da empresa, maiores investimentos nessa área, em

detrimento da linha de produção dos aparelhos de áudio.

115

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 14: Eliminação da linha de Áudio - (1989).

O fracasso de tentativas de conter as elevadas taxas da inflação no ano de 1988, que

caminhava para uma hiperinflação, fez com que o governo lançasse um novo plano de

conjunto de medidas antiinflacionárias chamado de “Plano Verão”, em 14 de janeiro de 1989.

Trata-se de medidas de caráter emergencial, de curta duração, com o propósito de conseguir

chegar ao fim do seu mandato em 15 de março de 1990.

O Plano Verão foi o terceiro choque econômico e a segunda reforma monetária do

governo Sarney, cuja credibilidade já se encontrava bastante frágil nesse momento, procurava,

no curto prazo, contrair a demanda agregada e, no médio prazo, promover a queda das taxas

de inflação, porém, o governo não conseguiu realizar nenhum ajuste fiscal, o que mantinha os

elevados e crescentes déficits públicos. O descontrole fiscal, em conseqüência, levava ao

descontrole monetário, o que acabou contribuindo para um quadro de hiperinflação

(LACERDA et. al., 2000). É nesse contexto que a EVI decide, em 1989, parar a fabricação de

áudio, priorizando os investimentos em outros produtos, como os televisores e VCRs,

verificados no depoimento do seu Gerente da Área de Marketing:

“O áudio foi um dos “carros chefes” na linha de

produtos da empresa que ficou de fora desse

mercado desde 1989, mesmo conservando a marca

AIKO. A empresa resolveu retirar-se deste nicho,

quando verificou um grande investimento das

empresas concorrentes, com isso, aumentando a

competitividade e conseqüentemente reduzindo a

rentabilidade, entretanto, neste momento, os

produtos de televisão e VCR, apresentavam, para a

empresa, boa rentabilidade, fazendo com que a

empresa investisse mais nesses produtos e

desativasse a linha de áudio que deixaram de ser

rentáveis.”

Os aparelhos de áudio se tornaram inviáveis para serem mantidos na linha de produtos

da EVI por serem aparelhos com alto valor agregado e baixa rentabilidade, além disso, o

mercado se tornou muito competitivo, exigindo novos investimentos e por essa razão os

áudios deixaram de ser interessantes para a empresa que revolveu desativa-lo.

ANÁLISE TEÓRICA DA FASE – 2

O inicio do avanço tecnológico em televisores e a fabricação de componentes

efetuados pela empresa, nos anos 80, impulsionou a empresa a desenvolver várias posturas e

mudanças estratégicas utilizadas na continuidade do seu desenvolvimento, através de

investimentos em lançamentos de produtos, bem como campanhas publicitárias, conforme a

Figura 10.

MUDANÇA ESTRATÉGICA POSTURA

Mudança Estratégica – 8:

Elaboração da campanha “Garantia de copa a copa” – (1982). Prospectora

Mudança Estratégica – 9:

Produção de Televisores com Controle Remoto – (1984). Prospectora

Mudança Estratégica – 10:

Instalação da Fábrica de Componentes – (1986). Analítica

Mudança Estratégica – 11:

Fabricação de Televisor com ZOOM – (1986). Prospectora

Mudança Estratégica – 12:

Realização da produção do VCR – (1987). Analítica

Mudança Estratégica – 13:

Criação de TV’s de 26” e 40” a maior tela do mundo – (1988). Prospectora

Mudança Estratégica – 14:

Eliminação da linha de Áudio – (1989). Defensiva

116

Figura 10 - Mudanças Estratégicas e Posturas do Comportamento Organizacional

da EVI / ANOS – 80

Fonte: Pesquisa do Autor (2002/2003)

Brum (1997) afirma que a crise brasileira dos anos 80 foi certamente a mais longa,

profunda e complexa da nossa história e conseqüentemente, de difícil superação. Em face do

fraco desempenho dos planos econômicos e da ineficácia das medidas aplicadas para a

conquista do equilíbrio financeiro. Este período é lembrado como a “década perdida”.

117

A empresa apresenta a postura Prospectora (MILES e SNOW, 1978), quando resolve

numa atitude agressiva e pioneira, promover campanhas publicitárias, entre elas, a garantia de

seus produtos por quatro anos consecutivos, conhecidos como “garantia de copa a copa”,

sendo a primeira empresa a oferecer valores intangíveis a seus clientes. Continuando com a

mesma postura e revelando visão ampliada de produtos-mercados (ANSOFF, 1977), ousadia

tecnológica e sua capacidade de investimentos na área de eletroeletrônicos, decide acrescentar

controle remoto em todos os televisores de sua produção, no lançamento de aparelhos de

televisão com ZOOM e aparelhos de televisão de 26 e 40 polegadas com a mesma ousadia e

pioneirismo, anteriormente observados.

Em outro momento, a empresa decide por uma linha de produtos limitada e mais

rentáveis em detrimento de outros, caracterizando assim a postura Defensiva (MILES e

SNOW, 1978) por decidir investir mais em determinado produtos e desativa a linha de áudio

que deixaram de ser rentáveis

Ao inaugurar a fábrica de componentes, buscando novos produtos e garantindo os

anteriormente produzidos, caracteriza-se a postura Analítica (MILES e SNOW, 1978)

encontrada também no momento em que a empresa decide introduzir, em sua linha, produto já

lançado por seus concorrentes, os vídeos cassetes. Essa ação é chamada de “imitadores

criativos” (SLATER & NARVER, 1993), permitindo que a empresa faça lançamento de

produtos evitando altos investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento.

Mesmo tendo enfrentado, no decorrer dos anos 80, várias crises econômicas, que

trouxeram conseqüências desagradáveis a muitas empresas, a EVI, nessa década, pôde

mostrar, através de suas posturas e mudanças estratégicas que foram utilizadas, a

concretização de seu avanço tecnológico, bem como sua adequação no ciclo adaptativo no

domínio produto-mercado chamado por Miles & Snow (entrepreneurial problem).

FASE ESTRATÉGICA ANOS – 90: Crescimento tecnológico e Diversificação da Linha

de Produtos.

118

O maior desafio para os anos 90 era de viabilizar novamente o país, que se encontrava

abalado pela crise profunda dos anos 80. Além das exigências decorrentes da necessidade de

superação da crise, impunha-se, também, a inserção do país numa nova etapa de

desenvolvimento, provocada pelas profundas mudanças em que estavam em curso no cenário

mundial no século XX.

As principais mudanças que se processavam, configuravam uma nova ordem mundial

com reflexos nas economias das nações neste final de século, podem ser resumidas na

seguinte ordem: abertura das economias e liberação do comércio que estabelece um processo

de globalização; a revolução tecnológica liderada pela eletrônica e pela informática; a

emergência de novos conceitos de qualidade, produtividade, modernização e competitividade

que revolucionaram o processo evolutivo das empresas.

A EVI, alinhada com os objetivos do país e tendo como característica a ousadia de sua

administração, investiu em parcerias com outras empresas, fez grandes aquisições em

equipamentos, como por exemplo: máquinas automáticas para inserção de componentes

eletrônicos, diversificou a sua linha de produtos, como: os de informática, de telefonia e

automotivos, certificou seu sistema da qualidade nas normas ISO, também unificou a fábrica

de componentes com a de produtos em uma única planta. Assim sendo pode-se dizer que a

fase estratégica dos anos 90 foi, sem dúvida, o maior processo evolutivo da empresa em

termos de crescimento tecnológico e diversificação da linha de produtos.

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 15: Aquisição de máquinas automáticas para inserção

de Componentes - (1993).

Com o início nos anos 90, o país passa por uma profunda reestruturação produtiva

designada por alguns autores (LACERDA el. al., 2000; BATISTA, 1994) de modernização

conservadora que provocou abertura da economia e desregulamentação dos mercados. Devido

a este fato, várias empresas revolucionaram as estruturas de seus processos produtivos,

modernizando-os em busca de maior produtividade e maior competitividade.

A EVI adapta-se a essa nova tendência, investindo em automação, adquirindo

máquinas para inserção de componentes e diversificando seu processo produtivo. De acordo

com a declaração do Gerente da Engenharia de Produtos, a EVI evolui tecnologicamente com

essas aquisições e declara:

119

“Na década de 90, com a abertura do mercado

realizada pelo Governo Collor, as empresas, para

serem competitivas, tinham que capacitar-se

tecnologicamente e a EVI resolveu investir em

máquinas de inserção automática de componentes,

mudando sua forma de trabalho, antes feitos

manualmente e depois realizados por máquinas com

alta produtividade e excelente qualidade. Essa

mudança resultou em ganhos de aproximadamente

30% em produtividade e garantiu melhor qualidade

e conseqüentemente o aumento da competitividade.

Outro aspecto importante, também neste período, foi

o investimento feito pela empresa em capacitação da

mão-de-obra, ou seja, foi oferecido, aos

funcionários, cursos de capacitação para operação

em máquinas daquele porte, bem como, para

garantir sua manutenção, pois, uma vez

implantadas, as máquinas trouxeram maior

dinamismo no processo produtivo, assegurando a

competitividade da empresa”.

A empresa se moderniza frente ao ambiente competitivo que se apresentava no

momento, adequando seu processo produtivo e iniciando a era da automação em sua

produção. Esse período ficou marcado na história da EVI pela extensão do progresso

ocorrido: a maior produtividade e flexibilidade na fabricação de seus produtos. Essa

modificação tecnológica permitiu sua preparação para um novo desafio que estava se

apresentando naquele momento, os novos conceitos de qualidade aos requisitos das Normas

ISO.

120

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 16: Implementação da Certificação ISO 9002 - (1995).

Com o aparecimento da Nova Política Industrial e de Comércio Exterior, em 1991, e

com a dinamização da Zona Franca de Manaus (ZFM), o governo federal promoveu a

abertura do mercado brasileiro às importações, permitindo a entrada de produtos estrangeiros,

impulsionando, a indústria, na busca de qualidade e produtividade, bem como, maior

competitividade de seus produtos.

Com a elevação dos padrões de qualidade a partir da adoção das normas técnicas da

série ISO 9000, de cumprimento obrigatório pelo Decreto-Lei 783, de 25 de março 1983, a

EVI, visando entrar em um mercado mais competitivo, certifica seu Sistema da Qualidade e

seus processos a Norma ISO 9002, conforme informação do Gerente da Área Industrial.

“Vislumbrando novas parcerias, a EVI adequa seu

Sistema da Qualidade e seus processos aos

requisitos da Norma ISO 9002, fazendo

investimentos em equipamentos e na qualificação de

pessoal, certificando-se, em setembro de 1995. Esta

qualificação fez com que a empresa obtivesse mais

uma vantagem competitiva em relação a seus

concorrentes, diante de seus clientes, e permitiu

ainda, o cumprimento de uma legislação que estava

sendo exigida na ZFM.

Outro benefício recebido pela adequação às Normas

ISO foi proporcionado pelo controle dos seus

processos que passaram a ser documentados de

forma sistematizada, permitindo que a empresa

fizesse parte de um sistema globalizado, facilitando

sua relação com empresas mundiais”.

Objetivando a competitividade para manter seu mercado, a empresa se adequa às

Normas ISO 9000, fazendo investimentos em desenvolvimento nas diversas áreas de atuação,

como em equipamentos e qualificação de pessoal, revolucionando as estruturas e seus

processos produtivos, permitindo parcerias de caráter internacional, de acordo com as

estratégias traçadas por sua administração.

121

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 17: Consolidação das Parcerias em Order Manufactor

(O&M) - (1995).

O governo Collor imprime uma política econômica embasada no pensamento

neoliberal, influenciada pelos postulados no Consenso de Washington (tratava-se de decálogo

de medidas liberalizantes e de ajustes sugeridos para reformas nos países em

desenvolvimento), onde os principais alvos eram o controle da inflação e o equacionamento

da dívida externa. Tratava-se de promover a passagem de um capitalismo tutelado pelo Estado

para um capitalismo moderno, baseado na eficiência e na competitividade. A função do motor

de desenvolvimento econômico deixava de ser do Estado e passava a ser exercida pelo setor

privado-nacional e multinacional (BRUM, 1997).

Com a mudança da abertura da economia e liberalização do comércio que estabelece

um processo de globalização (financeiro, da produção, dos mercados, do consumo e da

cultura), há uma acirrada concorrência comercial que determina novas relações na disputa

pelas corporações transnacionais. Objetivando novas formas de atuação, a EVI, por sentir a

necessidade de diversificar sua linha de produtos, investe em parcerias e firma contrato em

Order Manufactor (O&M) com empresas de outros segmentos conforme depoimento do Vice-

Presidente, como segue:

“Nossa meta, para os anos 90, era diversificar, pois,

a nossa linha de produtos encontrava-se centrada

em aparelhos de entretenimento de tv e vídeo e com

um canal de distribuição, no varejo, bastante

concorrido. A estratégia escolhida para a

diversificação da linha de produtos foi a de

parcerias, acompanhando a tendência da

globalização e com objetivo de participação de

outros seguimentos de mercados como informática,

telefonia, automotivo, proporcionados através das

parceria em O&M. Com a Motorola (telefones,

baterias e recarregadores de baterias) permitindo

que a empresa fabricasse os primeiros aparelhos

celulares no ano de 1995, com a AOC (monitores

para informática) em 1999, com a Pioneer (sistemas

de áudio) em 2001, e com a Siemens/VDO

(aparelhos de cd para carros) em 2000, fugindo do

varejo e entrando em diferentes canais de

distribuição”.

122

As mudanças que vinham ocorrendo no mercado mundial, refletidas nas economias

das nações que estabeleciam um processo de globalização, bem como a revolução tecnológica

impulsionava as empresas a buscarem novas formas de atuação comercial e a EVI, planejando

novas oportunidades, alcançou a sua meta no momento em que diversificou sua linha de

produtos e mercados mantendo, porém, os produtos de entretenimentos e o varejo. Com os

contratos de parcerias em O&M ocorridos gradativamente com empresas globalizadas

consegue fugir do varejo e entra em diferentes canais de distribuição. Com o novo governo

brasileiro e o surgimento do plano real, as empresas sentem necessidade de se reestruturarem,

bem como a EVI que, em 1997, unifica as suas fábricas, adequando sua estrutura

administrativa.

MUDANÇA ESTRATÉGICA – 18: Unificação das fabricas de componentes e produtos

em uma única planta - (1997).

Com a deposição de Collor, assumiu seu vice, Itamar Franco, com o compromisso de

resgatar a ética na administração pública e na política, enfraquecidas pelos últimos

acontecimentos que envolveram o ex-presidente Collor e preparar o país para a implantação

de um novo plano de estabilização econômica, com possibilidade de sucesso. Para coordenar

esse projeto, foi convidado o então ministro das relações exteriores, Fernando Henrique

Cardoso, o qual assumiu a pasta da fazenda e sendo mais tarde eleito o Presidente da

República.

123

O plano real, considerado tecnicamente consistente, proporcionou de uma maneira

geral, melhora do poder aquisitivo das camadas mais pobres da população e ganhos para as

grandes empresas que se reestruturaram, enquanto penalizou quem tentou especular com o

dólar apostando no fracasso do plano (LACERDA, 2000).

Por mais que o plano real tenha conseguido uma certa estabilidade econômica no país,

foi abalado fortemente pelas crises mexicana, asiática e russa, fazendo com que a economia

brasileira apresentasse sinais de debilidade. Diante dessa situação a EVI que decide unificar

as fábricas de componentes com a de produtos em um único espaço físico, dando

continuidade na sua produção de televisores com tecnologia Mitsubishi e adentrando no

mercado da informatização, telefonia e automotiva, garantindo seu lugar entre as empresas

que apostaram e investiram no futuro tecnológico. Comenta o Gerente da Área Industrial:

“As diversas crises ocorridas no mercado como a do

México, da Ásia e da Rússia, resultaram em choques

econômicos e elevação das taxas de juros, abalando

o tripé que sempre norteou a EVI, que são: câmbio,

inflação e taxa de juros, a empresa sentiu

necessidade de uma adequação em sua estrutura e

mais uma vez investindo na melhoria do seu parque

industrial, adquiriu novos equipamentos de

processo, permitindo com isso que a fábrica de

componentes que antes funcionando em outra área,

fosse incorporada na fábrica de Produto Acabado

sem perder sua capacidade produtiva.”

A ousadia dos administradores da EVI, ao decidirem fundir duas fábricas,

transformando-as em uma unidade industrial com a mesma capacidade produtiva

anteriormente encontrada, garantindo, com isso, seu mercado atual e adequando sua estrutura

organizacional a uma nova realidade econômico-financeira, demonstra, nessa estratégia, um

dos ciclos de Miles e Snow (administrativ problem), ou seja, posiciona a organização quanto a

contínua adaptação aos desafios subseqüentes.

124

ANALISE TEÓRICA DA FASE - 3

A década de 90 ficou marcada pelas mudanças processadas na empresa através da

aquisição de máquinas automáticas para inserção de componentes, parcerias tecnológicas

realizadas e adequação de sua estrutura econômico-financeira para os novos desafios da

empresa, conforme figura 11.

MUDANÇAS ESTRATÉGICAS POSTURAS

Mudança estratégica – 15:

Aquisição de máquinas automáticas para inserção

de componentes – (1993).

Reativa

Mudança Estratégica – 16:

Implementação da Certificação ISO 9002 – (1995) Analítica

Mudança Estratégica – 17:

Consolidação da Parceria Order Manufactor (O&M) – (1995). Analítica

Mudança Estratégica – 18:

Unificação das Fábricas de Componentes e Produtos em

Uma única planta – (1997)

Analítica

Figura 11 - Mudanças Estratégicas e Posturas do Comportamento Organizacional

da EVI / ANOS – 90

Fonte: Pesquisa do Autor (2002/2003)

Na fase estratégica dos anos 90, vimos a EVI comprovando sua característica de

ousadia, principalmente em eventos que demonstram sua adequação a ambientes

competitivos, buscando inovações e estruturando seus processos produtivos.

Na aquisição de máquinas automáticas para inserção de componentes, a empresa,

numa postura Reativa (MILES e SNOW, 1978), adequa seus processos para defender-se das

crises do mercado, com isso alcançando mais produtividade e garantindo melhor qualidade de

seus produtos e o aumento de sua competitividade.

125

Objetivando a competitividade para manter seu mercado, a empresa, numa postura

Analítica (MILES e SNOW, 1978), se adequa às Normas ISO 9000 que proporcionaram

investimentos em desenvolvimento, em equipamentos e qualificação de pessoal. Ao investir

em parcerias, a empresa utiliza-se também da postura Analítica, diversificando sua linha de

produtos e mercados, mantendo os produtos de entretenimentos e o mercado de varejo

anteriormente verificados.

Essa mesma postura é encontrada na fusão das duas fábricas, transformando-as em

uma unidade industrial com a mesma capacidade produtiva anteriormente encontrada,

garantindo, com isso, seu mercado atual. Esse último evento citado comprova, de forma

transparente a adequação dentro do ciclo adaptativo de Miles & Snow (administrativ

problem).

126

CAPÍTULO VI

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

6.1 - CONCLUSÕES

A presente pesquisa definiu como objetivo geral estudar os comportamentos

estratégicos organizacionais de uma empresa eletroeletrônica do Pólo Industrial de Manaus

(PIM), a EVI, nas décadas de 70, 80 e 90.

Seguindo os objetivos específicos, o estudo descreveu o ambiente geral e específico

em que a empresa esteve inserida e os agrupou por períodos - caracterizados pelos fatos mais

relevantes acontecidos na política e economia mundial, do Brasil e do Estado do Amazonas,

onde se localiza o Pólo Industrial de Manaus (PIM). Indicou as mudanças estratégicas

ocorridas nestes períodos e identificou e classificou, dentro das quatro perspectivas, os

comportamentos estratégicos da empresa estudada em cada período.

O ambiente geral era caracterizado na década de 70, por um crescimento acelerado,

decorrente em grade parte das reformas ocorridas devido ao “Milagre econômico brasileiro”,

que possibilitaram conter a inflação e criaram as condições favoráveis para o crescimento

econômico, associado, ainda às condições internacionais favoráveis. Na década de 80,

podemos caracterizá-la pela promulgação do III Plano de Desenvolvimento, que estabeleceu

uma tentativa do novo governo militar (Figueiredo) de atualizar e adequar o Projeto Brasil-

Potência à nova situação da economia, que apresentava claros sinais de fraqueza. Na década

de 90, foi marcada pelos profundos desafios de viabilizar novamente o país, que se encontrava

abalada pela crise dos anos 80 e pelas profundas mudanças em que estavam em curso no

cenário mundial no século XX. Dentre as mudanças que se processavam no mundo e com

reflexos na economia do Brasil pode-se citar algumas como: abertura das economias e

liberalização do comércio, que estabelecia um novo processo de globalização(financeira, da

produção, dos mercados, do consumo, da cultura....); e revolução tecnológica liderada pela a

eletrônica e pela informática, acompanhada da biotecnologia, da física, da química e de outros

avanços científicos e tecnológicos.

O ambiente específico da empresa estudada apresentava-se na década de 70 com o

127

início da Zona Franca de Manaus (ZFM), um problema na Balança Comercial do país, devido

a liberdade plena de importações, fazendo com que o governo federal incentivasse a atividade

industrial no Amazonas, criando-se o Pólo Industrial de Manaus (PIM). Na década de 80, com

o contingenciamento das importações, a industria nacional de componentes teve sua melhor

fase, devido a nacionalização das suas matérias-primas pela empresas locais e o

desenvolvimento de um pólo de empresas de componentes na Zona Franca de Manaus. A

década de 90, iniciou-se com a chamada Nova Política Industrial e de Comércio Exterior do

governo federal, promovendo a abertura do mercado brasileiro às importações. Com essa

mudança, as empresas sediadas no Pólo Industrial de Manaus, tiveram que adequar-se a nova

ordem econômica, que fixou como paradigma a busca da qualidade e produtividade.

Após caracterizar-se os ambientes, fez-se a análise do processo de adaptação

estratégica da empresa e listaram-se as principais mudanças implementadas. Algumas de

destaque são: início da atividade industrial no Pólo Industrial de Manaus, quando seu

fundador prevendo problemas na Balança Comercial do país, iniciou a fabricação dos

produtos antes importados para venda em sua atividade comercial na Zona Franca de Manaus;

elaboração da campanha “Garantia de Copa a copa”, quando foi a primeira empresa no Brasil

a oferecer um valor intangível para os seus clientes, oferecendo garantia em seus produtos por

quatro anos, enquanto a concorrência oferecia no máximo por 12 meses; criação de TV´s de

26” e 40” as maiores telas do mundo – por ter como parceira em tecnologia a Mitsubishi, a

empresa podia oferecer aos seus clientes, tecnologias de última geração aos mesmo tempo que

estavam sendo lançadas no resto do mundo, criando para si um diferencial competitivo no

mercado local; e consolidação da parceria Order Manufactor (O&M), devido ao mundo

globalizado a empresa adequou-se a economia mundial, buscando novos parceiros para a

diversificação da sua linha de produtos e seus canais de distribuição, fazendo com que a

mesma torna-se um empresa competitiva.

Após definir-se as mudanças, estudou-se os comportamentos organizacionais

segundo a tipologia de Miles e Snow onde pode-se caracterizar a postura da empresa na

maioria das suas adaptações com comportamentos ANALÍTICOS e PROSPECTORES.

Destaca-se a postura analítica nos momentos de investimentos e na abertura de novos

negócios; a postura prospectora nas oportunidades da busca de novos mercados, na

implementação de inéditos avanços tecnológicos e em diversas campanhas publicitárias,

comprovando a notoriedade da coalizão dominante. Destaca-se ainda a postura DEFENSIVA,

quando a empresa decide investir em uma linha de produto mais rentável em detrimento a

128

uma outra linha. Nota-se também que a organização se adapta de acordo com os ambientes,

promovendo mudanças estratégicas sempre que necessário, comprovando a excelente

adaptação organizacional da empresa, num efetivo alinhamento com seus ambientes.

Assim a EVI comprova seus propósitos, metas estabelecidas desde o seu início,

atravessando o tempo, chega no século XXI vislumbrando novos projetos guardados por seus

administradores que até o momento do fechamento deste trabalho, efetuado em 2002, não se

permitiram compartilhar de mais detalhes, que, mesmo diante dos obstáculos, continuaram

nas investidas para um futuro sempre promissor.

6.2 – Recomendações

Recomenda-se que pesquisas relacionadas ao comportamento estratégico

organizacional fossem realizadas em multicasos, comparando, por exemplo, os

comportamentos estratégicos organizacionais das principais empresas do Pólo

Eletroeletrônico da Zona Franca de Manaus, a fim de verificar semelhanças e diferenças na

evolução de seus processos organizacionais, levando-se em consideração que as empresas

estão inseridas dentro do mesmo ambiente geral e específico do setor eletroeletrônico.

Recomenda-se também a realização de uma pesquisa longitudinal que estudasse

especificamente o relacionamento entre as políticas de incentivos fiscais para a Zona Franca

de Manaus versus o comportamento estratégico organizacional das empresas nela inserida,

sabendo-se que as mesmas sofrem forte influência deste ambiente.

129

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