competição e cooperação na educação física escolar · comparação aos esforços coletivos...

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COMPETIÇÃO E COOPERAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

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Competição e Cooperaçãona eduCação FísiCa esColar

Competição e Cooperação na eduCação FísiCa esColar

José roberto Calçada Carvalho

São Paulo - 2013

1ª Edição

Copyright José Roberto Calçada Carvalho, 2013

Projeto Gráfico: Karlen Ricke

Revisão:

Margarida Revisões e Traduções

Impressão: PerSe Publicações

Todos os direitos reservados ao Autor. Proibida a reprodução parcial ou total,

através de quaisquer meios.

ISBN: 000-00-0000-000-0

1) Agradecimentos................................................................................... 7

2) Apresentação ........................................................................................ 9

3) Introdução........................................................................................... 11

4) O que é Competição? ....................................................................... 154.1 - Auto Competição....................................................................... 17

5) O que é Cooperação?......................................................................... 195.1 - Auto Cooperação....................................................................... 20

6) Atividades Físicas Competitivas em ambientes escolares............. 236.1 - Valores Educacionais Encontrados......................................... 316.2 - Objetivos.................................................................................... 356.3 - Situações que não devem ocorrer em ambientes competitivos............................................................................. 36

7) Atividades Físicas Cooperativas em ambientes escolares............. 457.1 - Valores Educacionais Encontrados........................................ 587.2 - Objetivos.................................................................................... 617.3 - Situações que não devem ocorrer em ambientes cooperativos.............................................................................. 61

8) Iniciativa junto aos alunos com necessidades educativas especiais: competição e cooperação no processo de inclusão.................................................................... 65

conteúdo

9) Uma Nova Pesquisa........................................................................... 73

10) Limites da Pesquisa......................................................................... 89

11) Competir e Cooperar através das atividades físicas.................... 91

12) Apêndice: atividades físicas competitivas e a devida contrapartida em termos cooperativos....................................... 109

13) Livros recomendados.................................................................... 123

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1agradeCimentos

Inicialmente não poderia deixar de citar aqui e agradecer a in-dispensável contribuição de professores, coordenadores, superviso-res, diretores, responsáveis e alunos de escolas públicas e particulares. Agradecer igualmente a minha esposa e minha irmã que gentilmente auxiliaram-me na realização deste trabalho.

Todos eles ajudaram-me facilitando o acesso às escolas, no con-vite à participação dos alunos e responsáveis, e sobretudo no preen-chimento das tabelas e análise dos dados coletados de uma das pes-quisas presentes neste livro. Pesquisa esta, que juntamente com duas outras, deram o toque de equilíbrio a este trabalho, através da união do conteúdo e da linguagem das aulas de educação física, com o con-teúdo e a linguagem mais acadêmica.

Começo com um fraternal agradecimento aos professores Fábio Otuzi Brotto e indiretamente a Terry Orlick, aos quais devo os meus primeiros passos no campo da cooperação através das atividades fí-sicas, quando da leitura de seus livros. Leitura esta em minhas idas à Biblioteca Nacional há 15 anos atrás aproximadamente. Inclusive, o professor Fábio Brotto aceitou gentilmente o meu convite para fazer a apresentação deste livro.

Cito em seguida os nomes de outros colaboradores ou a função destes vinculada à escola. Colaboradores estes que estavam ligados a duas escolas públicas e duas particulares. As escolas públicas vin-culadas à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, uma das escolas particulares pertencente à uma fundação beneficente e a outra, de caráter confessional, também filantrópica. Todas as escolas situadas na Cidade do Rio de Janeiro.

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Se, porventura, eu vier a esquecer o nome de alguém ou indire-tamente deixar de lembrá-lo por meio da função desempenhada na escola, por favor aceitem de antemão as minhas desculpas.

Portanto, retomo os agradecimentos mencionando o professor de Ciências Cezar Correia Marques lotado em uma das escolas públi-cas, que, com toda boa vontade, abriu espaço em suas aulas para que eu coletasse os dados, aplicando também as tabelas por conta própria.

Os professores “Edinho” de Educação Física e Kátia Piffer, Su-pervisora do Ensino Médio, educadores da escola confessional, que fizeram o encaminhamento do material junto à Direção do Colégio ou coletaram os dados por si mesmos.

À Diretora Fátima. e a Adjunta Mariza que dirigem a outra esco-la pública onde tive o prazer e a alegria de estudar em parte da minha infância, colocando-me diretamente em contato com os alunos.

À responsável pelo programa de ação social do colégio particu-lar vinculado à fundação beneficente, que disponibilizou as tabelas para o preenchimento ou fez o encaminhamento das mesmas.

Um especial agradecimento à minha esposa Maria Cristina da Silva Moraes que, além do suporte técnico na área da informática, esteve sempre ao meu lado fortalecendo-me, sobretudo na fase final, quando o cansaço e uma certa ânsia para concluir o livro se fizeram presentes. À minha irmã Anna Cristina Calçada Carvalho, esta na qualidade de pesquisadora do Instituto Osvaldo Cruz, que me ajudou nos aspectos ligados à pesquisa.

E por fim agradeço igualmente aos responsáveis e alunos pela disponibilidade em participar da pesquisa, e ao tempo destinado no preenchimento do material.

A todos o meu muito obrigado !

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apresentação

JR do RJ

Uma vez, quando soubemos que uma pessoa viria do Rio de Ja-neiro para participar do Curso de Jogos Cooperativos em Brasília, fi-camos eufóricos e ao mesmo tempo curiosos. Afinal de contas, que maluco faria isso? Sair do Rio para passar um final de semana conosco em Brasília... só mesmo o JR do RJ!

Foi assim que nos conhecemos pessoalmente.Durante aqueles dias, descobrimos que além de “maluco”, o JR era

uma pessoa muito sensível, generosa e com um coração fraterno.De lá para cá nos reencontramos algumas vezes, e em todas elas en-

xerguei nele pra além do homem grande e maduro, a alma leve e espon-tânea sempre presentes. Em um desses encontros... eu estava na Escola de Educação Física do Exército na Cidade do Rio de Janeiro, quando ele apareceu só para trocar um abraço e matar um pouco da saudade, depois partiu... o calor daquele gesto permanece vivo em mim até hoje. O tempo circulou e tratou de nos manter ligados de um jeito ou de outro.

Irmanados assim, pude acompanhar as andanças do JR do RJ pelos campos do mundo, em especial, sua passagem pela Catholic Univerity of Leuven, na Bélgica e Palacký University in Olomouc, na República Checa, onde apresentou a dissertação de mestrado “The at-titudes of brazilian students toward inclusion of children with disabilities in Physical Education Classes”.

Agora, como uma síntese evolutiva das experiências convividas e dos conhecimentos compartilhados, ele nos presenteia com esta belís-sima e importante obra.

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De um jeito claro, direto e suave, a escrita de JR nos convida a refletir sobre a dinâmica da competição e da cooperação, coexistindo mais ou menos harmonicamente no âmbito da Educação Física Esco-lar, e nos “arremessa” para além das linhas da quadra e dos muros da escola, para descobrirmos suas raízes e influências na e da cultura.

O autor do mesmo modo nos conduz com maestria pelo universo das “Atividades Físicas Competitivas e Cooperativas”, e o processo de inclusão escolar à luz desse conjunto de atividades. Deste modo, faz redespertar em nós in-quieta-ações fundamentais sobre que arranjos pedagógicos serão necessários para tornar a Educação Física um am-biente de coaprendizagem, capaz de inspirar conscientemente práticas para o bem da coletividade.

Ao mesmo tempo, ele nos re-une em torno de suas conclusões para dialogar investigativamente, por exemplo, sobre como “a socieda-de democrática e o modelo capitalista no qual vivemos privilegia bem mais a livre iniciativa e o sucesso individual nas mais diferentes áreas, em comparação aos esforços coletivos com vistas ao bem comum”

Desse modo, o trabalho apresentado aqui pelo querido José Ro-berto Calçada Carvalho é, dentre muitos atributos, uma valiosa provo-cação para observarmos, com ainda mais atenção, o papel da Educação Física Escolar e de cada um de nós no Grande Jogo que começa a ser praticado neste novo tempo.

Um tempo não só de grandes eventos esportivos - Copa do Mun-do e Jogos Olímpicos, mas um tempo extraordinário para cultivar Phy-sis e restaurar a Comum-Unidade Humana onde cada pessoa é valori-zada em sua singularidade e amada por sua capacidade de comparti-lhar o seu melhor para beneficiar a todos sem exceção.

Sinto-me agraciado e agradecido pelo privilégio de vislumbrar esse novo mundo, através deste olhar renovado lançado aqui pelo JR do RJ... para todo o mundo.

Desfrutemos juntos!

Fábio Otuzi BrottoCo-fundador do Projeto CooperaçãoIlha da Magia outono 2013

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introdução

“Sport does not simply build character, in other words; it builds exactly the kind of character that is most useful for the social system” Alfie Kohn (1992, pág 85).

“Os Esportes não moldam o caráter simplesmente, em outras palavras, eles moldam o caráter mais conveniente para o sistema social”.

Não somente na introdução mas igualmente em outros capítulos, começo com uma citação em inglês acompanhada da devida tradução. Assim o faço em virtude da obra original citada ser neste idioma e o inglês ser um dos mais falados internacionalmente.

Em relação ao conteúdo do livro propriamente, a capa dá uma ideia do possível caminho que o leitor irá percorrer durante a leitura deste trabalho. Nesta vem expressa à direita do leitor, o grande dese-quilíbrio em favor da competição que vem ocorrendo em nossas aulas de educação física na escola, a despeito das discussões e iniciativas em favor das atividades físicas cooperativas implementadas por nós pro-fessores, psicólogos, pelos recursos humanos de empresas,..., o que vem acontecendo nas últimas duas / três décadas.

Portanto, o objetivo do livro é buscar o equilíbrio possível, talvez o desejável, entre a competição e a cooperação vivenciados em nos-sas aulas de educação física escolar principalmente. Assim sendo, au-mentar o peso do valor cooperação, capa do livro à esquerda do leitor, torna-se necessário, com as saudáveis contribuições na formação do caráter do aluno e do futuro cidadão. Cidadãos estes melhores no sen-tido de saberem equilibrar mais adequadamente os próprios interesses, com aqueles da coletividade e do contexto social.

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Dentro desta realidade, contrabalançar a competição com a coo-peração deve ser buscada deste o início da vida escolar e no tocante a este livro, através das aulas de educação física. É provável que, com o desenrolar das aulas, os alunos compreendam melhor que competir e cooperar são “as duas faces de uma mesma moeda”, do mesmo modo que o “Eu” e o “Nós”

É igualmente importante acrescentar que em momento algum deste livro, haverá uma crítica contumaz, moral e irrestrita a um com-portamento mais competitivo. A busca de um comportamento mais cooperativo não significa que possamos ou tenhamos condições de prescindir da competição, até porque também existem valores educa-cionais assimilados nesta prática.

Sejamos honestos com nós mesmos, na história da humanidade somente “uma meia dúzia” conseguiu viver em cooperação plena ou próxima a isto com o seu semelhante, entre estes cito aqui três: Jesus Cristo, Madre Tereza de Calcutá e Mahatma Gandhi. Noventa e nove por cento dos indivíduos, percentual este no qual me incluo, não têm ainda a devida grandeza para viver em níveis elevados de prática co-operativa e tão pouco prescindir da competição. Todavia, repito, um melhor equilíbrio deverá ser sempre buscado.

Competimos nas mais variadas situações, por exemplo: na busca de um “lugar ao sol” no mundo do trabalho, por uma vaga para nosso filho em uma boa escola e por um assento no ônibus cheio. Porém, apesar de competitivos, podemos nos tornar mais cooperativos e, deste modo. pessoas melhores. Como um contraponto ao exemplo apresen-tado podemos também: lutar por mais e melhores oportunidades de trabalho, por mais e melhores escolas e igualmente sermos mais educa-dos e gentis deixando o assento do ônibus livre para uma outra pessoa.

Isto posto, passo agora à dinâmica do livro. Esta se inicia com as definições do que vem a ser a competição e a cooperação segundo alguns autores. No campo das atividades físicas exemplifico a competi-ção por meio do futebol e a cooperação por intermédio de uma corrida de mãos dadas.

Comento igualmente a respeito da autocompetição e da autocoo-peração, isto é, formas dos alunos fazerem uma saudável cobrança so-

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bre o próprio desempenho, buscando uma melhoria, e, paralelamente, cooperando consigo mesmos na busca das condições materiais, da dis-ciplina, perseverança e autocontrole necessários para que a melhoria no desempenho esportivo de fato ocorra.

Ao escrever sobre as atividades físicas competitivas e coopera-tivas em ambientes escolares, destaquei valores educacionais como a autoconfiança, a criatividade, a autoestima,..., e como estes podem ser estimulados por estas duas formas de prática. Do mesmo modo, incluí os objetivos almejados e os cuidados que devemos ter para que uma competição saudável e o engajamento de todos em uma atividade física cooperativa realmente aconteçam.

Considerei importante também acrescentar algumas pesquisas no livro; inclusive a pesquisa realizada pelo professor Lovisolo e outros colegas de educação física (1995). Estas pesquisas auxiliaram-me a ter clareza sobre a necessidade de uma maior ênfase nas atividades físicas cooperativas no ambiente escolar.

Achei também interessante citar as pesquisas, ao menos em parte, não que elas fossem imprescindíveis para a compreensão do binômio competição / cooperação presente neste livro, mas com o intuito de enriquecê-lo. Além do mais, assim como a bola está para o jogador de futebol, a pesquisa está para o professor; um sem o outro não faz sentido.

Assim sendo, cito uma experiência com alunos sob necessidades educativas especiais, onde competição e cooperação são trabalhadas, a fim de se criar um ambiente favorável à inclusão. Experiência esta que resultou em uma pesquisa (2005 / 2006) onde procurei destacar alguns resultados que avalio serem importantes no tocante à discussão da temática.

Embora algumas vezes os resultados não tenham apontado para uma diferença estatística significativa, a média dos escores foi favorável ao grupo de estudo (GE) em relação ao grupo controle (GC), sinalizan-do uma tendência favorável à prática equilibrada de atividades físicas competitivas e cooperativas, ao invés de apenas a competição.

Menciono também uma pesquisa apresentada na Cidade de Ga-vle, Suécia, no ano de 2009, onde as atividades físicas competitivas e cooperativas são utilizadas no sentido de ampliar o conceito de inclu-

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são, ou seja, envolvendo alunos de escolas públicas e particulares de realidades sócio econômicas bem diferentes, tanto do ensino regular quanto do especial..

Baseando-me no trabalho do professor Lovisolo e colegas (1995), realizei uma nova pesquisa em 2011 / 2012, onde constatei igualmente uma preponderância do valor competição nas aulas de educação física no ambiente escolar. Provavelmente indicando que ainda há muito a se avançar na busca de um melhor equilíbrio entre competição e coope-ração .

Face aos resultados das pesquisas, ousei advogar a prática da “edu-cação física escolar desejada”, isto é, uma prática mais igualitária de ati-vidades físicas competitivas e cooperativas durante as aulas. Até porque o individualismo, a exacerbação do ”Eu” construído por meio de uma competição desmedida, com suas consequências ruins em termos da convivência humana, vem salientada nesta parte do livro.

Por fim, proponho algumas práticas competitivas e as devidas contrapartidas cooperativas, principalmente na educação física esco-lar, com o intuito de contribuir efetivamente na formação de alunos e futuros cidadãos que busquem valorizar igualmente os próprios in-teresses com as devidas responsabilidades sociais. O “Eu” e o “Nós” como valores recíprocos, isto é, que este livro venha a ser uma pequena contribuição para que nos tornemos pessoas melhores.

Encerro, colocando que, além da difícil tarefa de tentar interligar os assuntos presentes neste livro, buscando fazer da leitura algo coe-rente e atraente, também não foi fácil encontrar as melhores palavras de modo a expressar a ideia central deste trabalho. Contudo, chega o momento depois de um saudável esforço para pesquisar, criar, recriar e formatar que, mesmo sem se ter a certeza do resultado, o livro deve ser publicado e exposto à crítica.

É como bem coloca Lynch (2006, pág 34):

“Se eu esperasse até conseguir ter as palavras absolutamente perfeitas para escrever este livro, você não estaria lendo-o agora.”

Boa leitura!

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o que é Competição?

Em uma definição abrangente competição é caracterizada pela

situação em que duas ou mais pessoas, em algum setor da atividade humana, buscam atingir um determinado objetivo que não poderá ser atingido por todos. O sucesso necessariamente estará restrito a alguns. Um exemplo muito comum é a competição por um “lugar ao sol” na busca de um emprego ou a disputa pela ascensão profissional no ambiente de trabalho.

Segundo Robert Zajonc (1973) uma atitude é competitiva quando o que “A” faz é em próprio benefício, mas em detrimento de “B”, e quan-do o que “B” faz é em próprio benefício, mas em detrimento de “A”.

Mais uma definição para competição pode ser citada:

“quando uma pessoa ou grupo tem como objetivo um melhor resul-tado em relação a outra pessoa ou grupo, é gerada a oposição. Esta oposição poderá resultar em competição ou conflito” Tani, e outros (1988,pág129).

O conflito seria uma exacerbação da competição, onde a vitória à qualquer “preço” norteia a disputa. Mas esta situação será abordada mais adiante.

Um dos maiores defensores da competição como algo natural no processo da gênese da vida e um dos mais renomados cientistas, foi o evolucionista inglês Charles Darwin (1809 à 1882). Darwin de-fendia que a seleção natural entre os seres vivos era algo do cotidiano destes, onde existiria uma eterna competição. Os mais aptos sobrevi-veram e os menos aptos sucumbiram.

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